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    teologiavidaparaVolume I- n 1 - Janeiro - Junho 2005

    ISSN 1808-8880

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    TEOLOGIA PARAVIDA VOLUME II NMERO26|

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    TEOLOGIAVIDAPARA

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    TEOLOGIA PARA VIDA2JUNTADEEDUCAOTEOLGICA: Rev. Wilson do Amaral Filho (Presidente), Pb. Adonias Costa daSilveira (Vice-Presidente), Pb. Wagner Winter (Secretrio), Rev. Arival Dias Casimiro (Tesou-reiro), Rev. Paulo Anglada, Rev. Srgio Victalino e Pb. Uziel Gueiros.

    JUNTAREGIONAL DE EDUCAOTEOLGICA: Pb. Amaro Jos Alves (Presidente), Rev. ReginaldoCampanati (Vice-Presidente), Pb. Ivan Edson Ribeiro Gomes (Secretrio), Rev. Marcos

    Martins Dias e Rev. Rubens de Souza Castro.

    DIRETORIADAFUNDAOEDUCACIONALREV. JOSMANOELDACONCEIO: Pb. Dr. Paulo Rangel doNascimento (Presidente), Pb. Jos Paulo Vasconcelos (Vice-Presidente), Pb. Haveraldo FerreiraVargas (Secretrio) e Rev. Jones Carlos Louback (Tesoureiro).

    CONGREGAODOSEMINRIOTEOLGICOPRESBITERIANOREV. JOSMANOELDACONCEIO: Rev. Pau-lo Ribeiro Fontes (Diretor), Rev. Osias Mendes Ribeiro (Deo), Rev. Daniel Piva, Rev. DonizeteRodrigues Ladeia, Rev. George Alberto Canelhas, Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa,Maestro Parcival Mdolo, Rev. Wilson Santana Silva, Rev. Fernando de Almeida, Sem.Wendell Lessa Vilela Xavier, Rev. Alderi Souza de Matos e Rev. Mrcio Coelho.

    CONSELHOEDITORIAL: Rev. Ageu Cirilo de Magalhes Junior, Rev. Daniel Piva, Rev. Donizete RodriguesLadeia, Rev. George Alberto Canelhas, Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, Maestro ParcivalMdolo, Rev. Paulo Ribeiro Fontes e Rev. Wilson Santana Silva.

    EDITOR: Rev. Ageu Cirilo de Magalhes Junior

    REVISO: Sem. Wendell Lessa Vilela Xavier

    CAPAEPROJETOGRFICO: Idia Dois Design

    GRAVURADACAPA:Entretien de Robert Olivtan avec le jeune Calvin[Robert Olivetan em conversa como jovem Calvino] de H. Van Muyden. As outras gravuras da obra so do mesmo artista.

    ENDEREO PARA CORRESPONDNCIASeminrio Teolgico Presbiteriano Rev. Jos Manoel da ConceioRua Pascal, 1165, Campo Belo, So Paulo, SP, CEP04616-004Telefone: 5543-3534 Fax: 5542-5676

    Site: www.seminariojmc.brE-mail: [email protected]

    A revista Teologia para Vida uma publicao semestral do Seminrio Teolgico PresbiterianoRev. Jos Manoel da Conceio. Permite-se a reproduo desde que citados a fonte e o autor.

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    AR T I G O S

    RE S E N H A S

    AR T I G O S E S E R M E S D O S A L U N O S

    S U M R I O

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    QUANDOOPROGRAMADEPs-Graduao deste Seminrio foi trans-formado no que hoje o Centro Presbiteriano de Ps-Graduao

    Andrew Jumper, o JMC deixou de editar a revista teolgica Fides

    Reformata, que passou a ser editada pelo referido Centro de Ps-Graduao. Desde ento, voltar a editar a sua prpria revista teo-lgica passou a ser um sonho acalentado por todos nesta Casa deProfetas. E agora, em meio a muitas dificuldades, mas num mo-mento extremamente oportuno, visto que comemoramos neste anoo Jubileu de Prata do JMC, entregamos Igreja o primeiro nmeroda nova revista teolgica do JMC.

    O nome Teologia Para Vida revela que a revista pretende pri-

    mar pela significativa relao entre a teologia e a vida. O propsitodesta nova revista teolgica relacionar o pensamento correto arespeito de Deus com uma vida correta e de humilde obedincia sua vontade; desafiar tanto os eruditos quanto as pessoas simplesdo povo; ter tanta relevncia acadmica quanto relevncia ecle-sistica; ser to profunda quanto pastoral. Tudo isto na melhortradio reformada calvinista, marca caracterstica do JMC desde oseu nascimento. Assim, Teologia Para Vida se prope a ser um eloentre a academia e a Igreja. Alm disso, servir tambm como opor-tunidade para o exerccio da produo literria, tanto do corpo do-cente, quanto do corpo discente deste Seminrio.

    AP R E S E N T A O

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    TEOLOGIA PARA VIDA6

    O curso superior de Teologia oferecido pelo Seminrio JMC en-contra-se distribudo nos seguintes departamentos de estudo: De-partamento de Teologia Sistemtica, Departamento de TeologiaPastoral, Departamento de Teologia Bblica e Exegtica, Departa-mento de Teologia Histrica e Departamento de Teologia e Cultu-ra, alm do Departamento de Msica, responsvel pelo Curso Livrede Msica Sacra oferecido pelo Seminrio. Portanto, cada artigoda revista est relacionado a um destes departamentos.

    Alm disso, a revista traz sees com resenhas, artigos de alu-

    nos e sermes pregados em nosso Seminrio. Nosso propsito ,com as resenhas, familiarizar o leitor com algumas obras teolgi-cas, ajudando-o a l-las de maneira consciente e esclarecida; comos artigos dos alunos, apresentar ao leitor um pouco da produoliterria de qualidade que nossos seminaristas tm realizado; e comos sermes, compartilhar com o leitor um pouco do rico alimentoespiritual que nossos seminaristas nos trazem, semanalmente, emnossos cultos regulares.

    Registramos aqui o nosso reconhecimento e gratido sincera atodos os colaboradores neste primeiro nmero de Teologia ParaVida, mui especialmente Casa Editora Presbiteriana, cuja parce-ria tornou possvel a realizao de um sonho. Finalmente, tributa-mos ao Senhor nosso Deus toda honra e louvor por esta publicao,porque dele, por meio dele, e para ele so todas as cousas. A ele,pois, a glria eternamente.

    Rev. Paulo Ribeiro FontesDiretor do Seminrio Teolgico Presbiteriano

    Rev. Jos Manoel da Conceio

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    ARTIGOS

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    Bacharel em Teologia pelo SeminrioPresbiteriano do Sul

    Licenciado em Filosofia pela PontifciaUniversidade Catlica de Minas Gerais

    Licenciado em Pedagogia pela UniversidadePresbiteriana Mackenzie

    Ps-graduao: Estudo de Problemas Brasileirospela Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Ps-graduao: Didtica do Ensino Superiorpela Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Mestre em Teologia e Histria pelaUniversidade Metodista de So Paulo

    Doutor em Teologia e Histria pelaUniversidade Metodista de So Paulo

    Pastor da Igreja Presbiteriana Ebenzer, em Osasco

    D e p a r t a m e n t o d e T e o l o g i a S i s t e m t i c a

    REV. HERMISTENMAIAPEREIRADACOSTA

    PRESBTEROSEDICONOS:SERVOSDEDEUS

    NOCORPODECRISTO

    P r i m e i r a P a r t e

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    R e s u m oNeste artigo, o autor comea a expor o que a Palavra de

    Deus nos ensina a respeito dos ofcios da Igreja. Comeandopelo ofcio de dicono, Rev. Hermisten analisa o uso do ter-

    mo na literatura grega, judaica e no Novo Testamento, exa-mina os detalhes da ocasio em que o ofcio foi institudo eexplica, um a um, quais os requisitos que deve ter aqueleque se sente chamado a este trabalho.

    P a l a v r a s - c h a v eEclesiologia; Ofcios; Diaconato.

    A b s t r a c tThe author expounds the teaching of the Word of God

    about church work. Starting with the deacons, Rev.Hermisten analyses the use of the term in the Greek, Hebrewand New Testament literature. He examines the institutionof this office both in Scripture and history. He also deals

    with the requirements for those who feel they are called tobe deacons.

    K e y w o r d sEcclesiology, Work, Deaconate

    PRESBTEROSEDICONOS:

    SERVOSDEDEUSNOCORPODECRISTO

    P r i m e i r a P a r t e

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    INTRODUO

    Quais as caractersticas de um presbtero ideal? Como deve ser asua vida dentro e fora da igreja? Deve o presbtero ser diferentedos demais membros da igreja? E o dicono? Como o perfil deum dicono aprovado por Deus? Como deve ser a sua vida paraque seja reconhecido por todos como um instrumento til do Se-nhor? Responderemos a estas e outras perguntas voltando nossaateno ao que diz a Palavra de Deus sobre estes ofcios da igreja.Comecemos, portanto, definindo o que igreja.

    Igreja a comunidade de pecadores regenerados, que pelo domda f, concedido pelo Esprito Santo, foram justificados, respon-dendo positivamente ao chamado divino, o qual fora decretado naeternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em santificao,proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o evan-gelho da graa de Deus, at que Cristo venha.

    A igreja uma comunidade carismtica, porque todos os seusmembros receberam dons () para o servio de Deus naigreja. Os dons concedidos pelo Esprito, longe de servirem paraconfuso ou vanglria, devem ser utilizados com humildade (1Co4.7),1 para a edificao e aperfeioamento dos santos (1Co 12.1-31/Ef 4.11-14/Rm 12.3-8).2 Calvino, acertadamente, diz que sea igreja edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve

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    Ningum possui coisa alguma, em seus prprios recursos, que o faa superior; portanto, quemquer que se ponha num nvel mais elevado no passa de imbecil e impertinente. A genuna baseda humildade crist consiste, de um lado, em no ser presumido, porque sabemos que nadapossumos de bom em ns mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em ns, que omesmo seja, por esta razo, totalmente debitado conta da divina graa. (CALVINO, Joo.

    Exposio de 1 Corntios. So Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134-135).2 Obviamente, no estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber, que define Carismacomo ...uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (...) e em virtude da qual se atribuema uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianosespecficos ou ento se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como lder.(WEBER, Max.Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva.Braslia: Universidadede Braslia, 1991, Vol. 1, p. 158-159). Como o prprio Weber explica, O conceito de carisma

    (graa) foi tomado da terminologia do Cristianismo primitivo. (Ibidem, p. 141). Weber tomoua palavra emprestada em Rudolph Sohm, da sua obra Direito Eclesistico para a AntigaComunidade Crist. (Cf. Ibidem,p. 141). A anlise das questes relativas ao domnio carismticoest no centro das reflexes de Weber (FREUND, Julien. A Sociologia de Max Weber.Rio deJaneiro: Forense, 1980, p. 184).

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    ser edificada tambm prerrogativa dEle.3 Do mesmo modo,acentua Kuyper (1837-1920): Os carismata ou dons espirituaisso os meios e o poder divinamente ordenados pelos quais o Reihabilita a sua igreja a realizar sua tarefa na terra.4 O Carismatem sempre um fim social: a igreja, a comunho dos santos.5 Etambm, como elemento de ajuda na proclamao do evangelho(Hb 2.3,4).6

    Deus nos concede talentos para servi-lo (Ef 4.7,11/1Co12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humilda-

    de (1Co 4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentospara o servio do Reino: A manifestao do Esprito concedida acada um, visando a um fim proveitoso (1Co 12.7). Paulo conti-nua: Para que no haja diviso no corpo; pelo contrrio, coope-rem os membros, com igual cuidado (= preocupao),em favor uns dos outros (1Co 12.25). O Senhor nos colocoujuntos na igreja e destinou cada um ao seu posto, de tal maneiraque, sob a nica Cabea, venhamos a nos auxiliar uns aos outros.

    Lembremo-nos, tambm, de que to diferentes dons nos tm sidoconcedidos para podermos servir ao Senhor, humilde e despreten-siosamente, e aplicar-nos ao avano da glria daquele que nos temdado tudo quanto temos.7 Deste modo, os talentos recebidos fo-ram-nos concedidos para que os usssemos para a edificao daigreja, no para a disseminao de discrdias ou para usar de nossainfluncia para dividir, denegrir, solapar ou mesmo para a nossaprojeo pessoal: Deus no desperdia os dons por nada e nem os

    destina para que sirvam de espetculo.8 Mas, para a edificao. Oobjetivo claro: Com vistas ao aperfeioamento (= preparar, equipar para o servio)dos santos(Ef 4.12).Ainda

    3 CALVINO, Joo.Efsios.So Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125. A Deus pertence comexclusividade o governo de sua Igreja. (CALVINO, Joo. Glatas.So Paulo: Paracletos, 1998,(Gl 1.1), p. 22).

    4 KUYPER, Abraham. The Work of the Holy Spirit.Chattanooga: AMG Publishers, 1995, p. 196.5 Vd. BRUNER, Frederick D. Teologia do Esprito Santo.So Paulo: Vida Nova, 1983, p. 229.6 Vd. CALVINO, Joo.Exposio de Hebreus.So Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 56.7 CALVINO, Joo.Exposio de 1 Corntios,(1Co 4.7), p. 134.8 CALVINO, Joo.Exposio de 1 Corntios,(1Co 12.7), p. 376.

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    que, de passagem, deve ser acentuado quesempre que os homensso chamados por Deus, os dons so necessariamente conectadoscom os ofcios. Pois Deus no veste homens com mscara aodesign-los apstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, semos quais no tm eles como desincumbir-se adequadamente de seuofcio.9

    Nesta igreja, os pastores,10 presbteros e diconos so consti-tudos por Deus para a preservao do rebanho.11 A eleio feitapela igreja deve ser vista como um reconhecimento pblico de

    que os referidos oficiais foram escolhidos por Deus; a eleio nosfala do processo, no da fonte da autoridade dos eleitos. 12 Destaforma, a autoridade deles derivada de Deus, no do povo queos elegeu;13 por outro lado, eles precisam ter em mente que pres-taro contas dos seus atos a Deus. O Novo Testamento nos cha-ma a ateno para o ministrio universal dos crentes: todos somos

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    CALVINO, Joo.Efsios, (Ef 4.11), p. 119.10 Quanto responsabilidade dos pastores, vd. CALVINO, Joo.As Pastorais.So Paulo: Paracletos,1998, (1Tm 3.15), p. 97-98; CALVINO, Joo.Exposio de 1 Corntios,(1Co 3.5ss), p. 101ss.

    11 Calvino, falando com a autoridade e a experincia de um eficiente pastor, escreve em 1548: Ospastores piedosos e probos tero sempre que manter esta luta de desconsiderar as ofensas daquelesque querem desfrutar de vantagem em tudo. Pois a Igreja ter sempre em seu seio pessoashipcritas e perversas, as quais preferem suas prprias cobias Palavra de Deus. E mesmo aspessoas boas, quer por alguma ignorncia quer por alguma fraqueza, so s vezes tentadas pelodiabo a ficar iradas com as fiis advertncias de seu pastor. nosso dever, pois, no ficar alarmadospor quaisquer gneros de ofensas, contanto, naturalmente, que no desviemos de Cristo nossasdbeis mentes. (CALVINO, Joo. Glatas,(Gl 1.10), p. 36-37). A tarefa dos mestres consisteem preservar e propagar as ss doutrinas para que a pureza da religio permanea na Igreja.

    (CALVINO, Joo.Exposio de 1 Corntios,(1Co 12.28), p. 390).12 O Esprito tambm chama os homens para o ministrio na Igreja e os dota com as qualidadesnecessrias para o exerccio eficaz de suas funes. O ofcio da Igreja, neste assunto, simplesmenteo de determinar e verificar o chamamento do Esprito. Assim, o Esprito Santo o autor imediatode toda a verdade, de toda a santidade, de toda a consolao, de toda a autoridade e de toda aeficincia nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, coletivamente. (HODGE, Charles.Teologia Sistemtica.So Paulo: Hagnos, 2001, p. 396).

    13 Bavinck enfatiza: Os pastores e mestres, os presbteros e diconos, tambm devem seu ofcio esua autoridade a Cristo, que instituiu esses ofcios e que continuamente os sustenta, que d spessoas os seus dons e que os apresenta para o ofcio atravs da Igreja (1Co 12.28; Ef 4.11). Masesses dons e essa autoridade lhes so dados para que sejam empregadas para o benefcio daIgreja e para que sejam teis no aperfeioamento dos santos (Ef 4.12). (BAVINCK, Herman.

    Our Reasonable Faith.4 ed. Michigan: Baker Book House, 1984, p. 537-538). Louis Berkhofacentua que Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e no dos homens, mesmoque a congregao sirva de instrumento para instal-los no ofcio. (BERKHOF, L. TeologiaSistemtica. p. 599). Ver tambm: MILLER, Samuel. O Presbtero Regente: Natureza, Deveres eQualificaes.So Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 15.

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    responsveis pelo desempenho do servio de Deus em sua igreja(Ef 4.11,12).

    Como sabemos, a Igreja Presbiteriana do Brasil comemora oseu aniversrio na data da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton(1833-1867), em 12/08/1859. No entanto, a primeira Igreja Pres-biteriana a ser organizada no Brasil foi no dia 12 de janeiro de1862, na Capital do Imprio, Rio de Janeiro, na Rua Nova doOuvidor n 31, com as duas primeiras profisses de f: um comer-ciante, norte-americano, Henry E. Milford (com cerca de 40 anos),

    natural de Nova York, que veio para o Brasil como agente da SingerSewing Machine Company e Camilo Cardoso de Jesus (com cercade 36 anos),14 que posteriormente mudou o seu nome para CamiloJos Cardoso.15 Ele era natural da cidade do Porto, Portugal, sendopadeiro e ex-foguista em barco de cabotagem.16 Ambos eram ass-duos desde o incio dos trabalhos promovidos por Simonton.17

    Nesta ocasio, foi celebrada a Santa Ceia pela primeira vez,18

    sendo ministrada pelo Rev. F. J. C. Schneider (1832-1910)19 e pelo

    Rev. A. G. Simonton, em ingls e portugus.20No entanto, os primeiros oficiais da Igreja Presbiteriana no Brasil

    s foram eleitos em 1866:os diconos em 02/04/1866 eram trs:Guilherme Ricardo Esher (de origem irlandesa), Camilo Jos Car-doso (de origem portuguesa) e Antonio Pinto de Sousa (brasilei-ro). Os presbteros em 07/07/1866 eram dois: Guilherme R. Esher

    14 SIMONTON, Ashbel G. Dirio: 1852-1867. So Paulo: CEP/O Semeador, 1982, 14/01/1862;TRAJANO, Rev. Antonio.Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: in: REIS, lvaro. ed.

    Almanak Historicode O Puritano. Rio de Janeiro: Casa Editora Presbyteriana, 1902, p. 7-8.15 TRAJANO, Rev. Antonio.Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: in: REIS, lvaro. ed.Almanak Historicode O Puritano, p. 8.

    16 TRAJANO, Rev. Antonio.Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: in: REIS, lvaro. ed.Almanak Historicode O Puritano, p. 7-9; RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira.So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 24; FERREIRA, Jlio A.Histria da Igreja Presbiteriana

    do Brasil.2 ed. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, Vol.I, p. 28.17 Dirio,25/11/61; 31/12/61; RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e Cultura Brasileira,p. 24, vd.

    nota 131.18 Relatrio de Simonton apresentado ao Presbitrio do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 4.19 O Rev. Schneider chegou ao Brasil em 7/12/1861. Foi ele quem traduziu, entre outros, o livro de

    HODGE, Charles. O Caminho da Vida.Nova York: Sociedade Americana de Tractados (s.d.), 300p.,e o de seu filho, HODGE, A. A.Esboos de Theologia.Lisboa: Barata & Sanches, 1895, 620p.

    20 Dirio, 14/01/1862.

    PRESBTEROS E DICONOS : SERVOS DE DEUS NO CORPO DE CRISTO PARTE I

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    e Pedro Perestrello da Cmara primo do futuro Rev. ModestoCarvalhosa (de origem portuguesa).Todos foram ordenados no dia09/07/1866, permanecendo Guilherme R. Esher como presbtero.21

    Assim, temos os primeiros presbteros regentes e diconos do pres-biterianismo nacional.

    I. DICONO

    1. INTRODUOGERAL

    1.1. TerminologiaO termo dicono e suas variantes provm do grego ,

    e , palavras que significam, respectivamente,servo, servio e servir.

    1.2. Dicono na literatura secular

    1.2.1. Na literatura grega

    Essas palavras apresentam trs sentidos especiais, com uma pe-sada conotao depreciativa: a) Servir mesa; b) Cuidar da subsis-tncia;c) Servir, no sentido de servir ao amo.

    Para os gregos, servir era algo indigno. Os sofistas chegavam aafirmar que o homem reto s deve servir aos seus prprios desejos,com coragem e prudncia.

    Plato (427-347 a.C.) e Demstenes (384-322 a.C.), um pou-co mais moderados, admitiam que o servio () s tinhaalgum valor quando prestado ao Estado. Portanto, a idia de queexistimos para servir a outrem no cabe, em absoluto, na mentegrega.22

    21 Vd. Atas da Igreja do Rio de Janeiro; Relatrio de Simonton apresentado ao Presbitrio do Rio deJaneiro no dia 10/07/1866, p. 7-8; LESSA, Vicente T.Annaes da 1 Egreja Presbyteriana de So Paulo.

    So Paulo: Edio da 1 Egreja Presbyteriana Independente, 1938, p. 41; TRAJANO, Rev. Antonio.Esboo Histrico da Egreja Evangelica Presbyteriana.in: REIS, lvaro. ed.Almanak Historicode O Puritano,p. 8; FERREIRA, Jlio A.Histria da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, 28-29.

    22 BEYER, Hermann W. Servir, Servio in KITTEL, G. A Igreja do Novo Testamento.So Paulo:ASTE, 1965, p. 275.

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    1.2.2. Na literatura judaicaNo Judasmo, encontramos a compreenso mais profunda a res-

    peito daquele que serve. O pensamento oriental no consideravaindigno o servio. A grandeza do senhor determinava agrandiosidade do servio. Quanto maior o senhor a quem se serve,mais o servio valorizado.

    O historiador judeu Flvio Josefo usou o termo em trs senti-dos: a) Servir mesa; b)Servir,no sentido de obedecer; c)Prestar serviossacerdotais.

    Posteriormente, a idia de servio foi perdendo a conotao deentrega de si em favor de outrem, assumindo a idia de uma obrameritria perante Deus. Mais tarde, deteriora-se ainda mais, pas-sando a ser considerado indigno o servio, especialmente no quese refere ao servir mesa.

    1.3. Dicono no Novo TestamentoOs substantivos Diaconia (33 vezes)23 e Diconos (30 ve-

    zes)24 e o verbo Diaconar25 (34 vezes)26 so traduzidos porser-vio, ministrio, socorro, assistncia, dicono (neste caso, apenastransliterado),etc.

    Jesus Cristo deu uma grande lio aos seus ouvintes ao verbalizara sua misso: ... O Filho do homem, que no veio para ser servido(), mas para servir ()...(Mt 20.28).

    23 * Lc 10.40; At 1.17,25; 6.1,4; 11.29; 12.25; 20.24; 21.19; Rm 11.13; 12.7; 15.31;1Co 12.5; 16.15; 2Co 3.7,8,9 (2 vezes); 4.1; 5.18; 6.3; 8.4; 9.1,12,13; 11.8; Ef 4.12; Cl 4.17;1Tm 1.12; 2Tm 4.5,11; Hb 1.14; Ap 2.19.

    24 * Mt 20.26; 22.13; 23.11; Mc 9.35; 10.43; Jo 2.5,9; 12.26; Rm 13.4 (2 vezes); 15.8;16.1; 1Co 3.5; 2Co 3.6; 6.4; 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Fp 1.1; Cl 1.7,23,25; 4.7; 1Ts 3.2;1Tm 3.8,12; 4.6.

    25 Na realidade, no existe este verbo em nossa lngua; ele foi apenas transliterado do grego eaportuguesado para dar o mesmo sentido fontico.

    26 *Mt 4.11; 8.15; 20.28; 25.44; 27.55; Mc 1.13,31; 10.45; 15.41; Lc 4.39; 8.3; 10.40;

    12.37; 17.8; 22.26,27 (2 vezes); Jo 12.2,26 (2 vezes); At 6.2; 19.22; Rm 15.25; 2Co 3.3; 8.19,20;1Tm 3.10,13; 2Tm 1.18; Fm 13; Hb 6.10; 1Pe 1.12; 4.10,11.27 Kelly, Smith, Beyer, entre outros.28 Stagg e Latourette.29 Irineu, Calvino, Bavinck, Vincent, Berkhof, Hendriksen, Ladd, Kuiper, Grudem, entre outros.

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    2. ORIGEMDOOFCIODEDICONO

    A origem deste ofcio eclesistico deve ser buscada no texto deAtos 6.1-7. Embora saibamos que nem todos concordem com isso27

    e outros no se decidam,28 ficamos com aqueles que identificam odiaconato com Atos 6.29

    No incio da Igreja do Novo Testamento, competia aos apsto-los a responsabilidade de gerenciar os donativos, distribuindo-osconforme a necessidade dos crentes (At 2.45/At 4.37; 5.2). Com ocrescimento da Igreja, esta atividade tornou-se por demais pesada

    para eles. Nesse contexto que se insere o dicono. O ofcio dedicono teve a sua origem como resultado de uma necessidade: as

    vivas dos helenistas (judeus de fala grega, provenientes da Dis-perso), estavam sendo habitualmente30 esquecidas na distribui-o diria (At 6.1).

    Ao contrrio do que j foi suposto, o esquecimento31 no foideliberado. A questo era mesmo de excesso de trabalho, juntandoa isso a possvel situao de severa pobreza das vivas. 32

    Os apstolos, reconhecendo o problema e ao mesmo tempo notendo como resolver tudo sozinhos, encaminharam comunidade,de forma direta, a eleio de sete homens de boa reputao, cheiosdo Esprito e de sabedoria, os quais se encarregariam deste servio(At 6.3). A eleio foi feita. Os apstolos, ento, se dedicaram maisespecificamente orao e ao ministrio da Palavra(At 6.4), ofciopara o qual foram especialmente chamados: pregar a Palavra de Deus.

    Os diconos devem ser vistos como braos da misericrdia deDeus em favor do seu povo carente; eles exercem, em parte, o so-corro de Deus para com o seu povo (1Co 12.28): Os diconosrepresentam a Cristo em seu ofcio de misericrdia, e o exerccioda misericrdia est vinculado com o consolo dos aflitos.33 Nis-

    30 O verbo no imperfeito sugere a idia de algo freqente e habitual. Este verbo s

    ocorre aqui (At 6.1) no Novo Testamento.31Assim pensa Barclay. (BARCLAY, William. El Nuevo Testamento Comentado. Buenos Aires: LaAurora, 1974, Vol. VII, p. 60).

    32Vd. MARSHALL, I. H.Atos: Introduo e Comentrio.So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova, 1982, p. 123.33 KUIPER, R. B.El Cuerpo Glorioso de Cristo.Michigan: SLC, 1985, p. 141.

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    to consiste o ofcio dos diconos: devem demonstrar solicitudepelos pobres e atender s suas necessidades.34

    Historicamente, este ofcio permaneceu e se expandiu geografi-camente, conforme atestam os documentos histricos.35

    3. DEFINIO

    Os diconos so homens constitudos pela igreja para distribuiras esmolas e cuidar dos pobres, como procuradores seus.36 Ana-

    lisando Atos 6, Calvino diz na primeira edio da Instituio(1536): Vede aqui o ministrio dos diconos: cuidar dos pobrese ajudar-lhes. Daqui lhes vem o nome; e por isso so tidos comoministros.37 O Art. 53 e alneas da CI/IPB apresentam uma de-finio que segue a mesma linha bblica de Calvino; porm, am-plia mais a sua funo, adaptando-a s necessidades da Igreja noBrasil.

    4. REQUISITOSPARAOOFCIODEDICONO

    Devemos observar que os requisitos para o diaconato e para opresbiterato so, em geral, exigncias comuns aos membros daigreja. No entanto, devemos estar atentos para o fato de quetodos esses requisitos so muito mais importantes e exigidosnum grau muito mais elevado daqueles a quem se confiou ainspeo e superviso espirituais da igreja. Assim como ocupam

    lugar de maiorhonra eautoridadeque o dos outros membros daigreja, detm do mesmo modo uma posio de muito maior res-ponsabilidade .38

    34 CALVINO, Joo.As Institutas,(1541), IV.13.35 Vd. ROMA, Clemente de. 1 Corntios,42.4; 44.5; 47.6; 54.2; 57.1; INCIO. Cartas: Aos Efsios,

    2.1;Aos Magnsios,2.1; 3.1; 6.1; 13.1;Aos Tralianos,2.3; 3.1; 7.2; 12.2;Aos Filadlfios,10.2;Aos

    Esmirnenses,8.1; Policarpo,6.1; IRINEU. Contra as Heresias,V.36.1; CESARIA, Eusbio de.Histria Eclesistica,III.39.3-5,7; VI.19.19; 43.2; 43.11; VII.28.1; 30.2.12.36 CALVINO, Joo.Institucin,IV.3.9.37 CALVINO, Joo.Institucin de la Religion Cristiana, (1536), V.5. Vd., tambm,As Institutas, IV.3.9.38 MILLER, Samuel. O Presbtero Regente: Natureza, Deveres e Qualificaes, p. 38.

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    4.1. Ser vocacionadoNa igreja de Cristo, ningum tem autonomia para se autonomear.

    Pastor, presbteros e diconos, todos, sem exceo, precisam servocacionados por Deus para estes ofcios (Hb 5.4). As nicas pes-soas que tm o direito de ser ouvidas so aquelas a quem Deusenviou e que falam a palavra de Sua boca. Portanto, para qualquerhomem exercer autoridade, duas coisas so requeridas: o chama-mento [divino] e o desempenho fiel do ofcio por parte daqueleque foi chamado.39

    A CI/IPB, no Art 108, prescreve isto, com uma perfeita compre-enso bblica:

    Vocao para ofcio na Igreja a chamada de Deus, pelo Esprito

    Santo, mediante o testemunho interno de uma boa conscincia e a

    aprovao do povo de Deus, por intermdio de um conclio. (Vd.

    tambm, Art 109 e ).

    Calvino (1509-1564) comenta:

    O que torna vlido um ofcio a vocao, de modo que nin-

    gum pode exerc-lo correta ou legitimamente sem antes ser

    eleito por Deus (...) Nenhuma forma de governo deve ser esta-

    belecida na Igreja segundo o juzo humano, seno que os ho-

    mens devem atender ordenao divina; e, ainda mais, que

    devemos seguir um procedimento de eleio preestabelecido, para

    que ningum procure satisfazer seus prprios desejos. (...) Se-gundo a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim ele

    reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem eforma

    de sua administrao.40

    A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Por-

    tanto, a vocao no pode ser legtima a menos que proceda

    dele.41

    39 CALVINO, Joo.Exposio de 2 Corntios. So Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.40 CALVINO, Joo.Exposio de Hebreus,(Hb 5.4), p. 127-128.41 CALVINO, Joo. Glatas,(Gl 1.1), p. 22.

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    O servio que prestamos a Deus deve ser visto no como umafonte de lucro ou projeo, mas como resultado de um chamadoirrevogvel de Deus. Paulo, em seu ministrio, tinha esta conscin-cia, de ser apstolo pela vontade de Deus (Vd. Rm 1.1; 1Co 1.1;2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1, etc.).

    O dicono deve ser eleito pela igreja (At 6.5). A eleio umaevidncia de que Deus vocacionou aquele irmo para o respectivoofcio. Por isso, a igreja deve buscar a orientao de Deus com f esubmisso, certa de que Deus tambm manifesta a sua vontade

    atravs da assemblia.O ato da ordenao confirma isso; os apstolos, orando, impu-seram as mos sobre os diconos eleitos, processando assim estasolenidade (At 6.6).42

    4.2. Ser discpulo de Cristo (At 6.1, 3)Os diconos so escolhidos pela igreja, entre os seus membros,

    entre os discpulos de Cristo. O diaconato no pode ser terceirizado.

    Os diconos servem a igreja como, na realidade so, servos deCristo. No segundo sculo, Incio (30-110 d.C.), bispo de Antio-quia da Sria, em carta endereada Igreja de Trales, 43 diz: ... osque so diconos dos mistrios de Jesus Cristo agradem a todosem tudo. Pois no de comidas e bebidas que so diconos, masso servos da Igreja de Deus.44

    4.3. Ter boa reputao (At 6.3)

    O dicono precisava ter o reconhecimento pblico de uma vidadigna. (Vd. comparativamente: At 10.22; 1Tm 5.10; Hb 11.2,4).

    4.4. Ser cheio do Esprito Santo (At 6.3)Eles precisavam ser cheios do Esprito como todo o cristo,

    Ef 5.1845 , para poderem, de modo especial, desempenhar as

    42 Vd. CI/IPB, Art 109 e 43 Cidade que distava uns 50 km de feso.44 INCIO. Carta aos Tralianos, 2 in: Cartas de Santo Incio de Antioquia. Rio de Janeiro: Vozes,

    1970, p. 58.45 Vd. COSTA, Hermisten M. P. Uma Famlia Cheia do Esprito Santo.So Paulo: 2001.

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    suas atividades dignamente, demonstrando amor, alegria, paz,longanimidade, mansido... que so subprodutos do amor, que o fruto do Esprito (Gl 5.22,23).

    4.5. Ser cheio de sabedoria (At 6.3)Esta sabedoria tem pouco ou nada a ver com conhecimento. Os

    diconos precisariam ter a sabedoria concedida pelo Esprito parasaberem como resolver os problemas que j existiam e outros no-

    vos, que no tardariam a aparecer (Tg 1.5,6).

    4.6. Ser respeitvel (1Tm 3.8) (honestidade, dignidade, gravidade). (Fp 4.8; 1Tm

    3.8,11; Tt 2.2). O dicono deve ter um procedimento srio; dignode todo respeito e admirao, como resultado da submisso a Deusdos seus sentimentos e pensamentos. A palavra grega confere osentido de graa, dignidade e honradez. A respeitabilidade aqui

    exigida combina, de forma bela e harmoniosa, a simplicidade coma nobre honradez.46

    Incio (30-110 d.C.), na referida carta aos Tralianos, diz quetodos devero respeitar os diconos como a Jesus Cristo.47 Emoutro lugar, ordena: Acatem os diconos, como lei de Deus.48

    NoDidaqu(c. 120 d.C.),49 lemos: Elegei, ento, para vs mes-mos bispos e diconos dignos do Senhor, vares mansos e noamantes de dinheiro, verdadeiros e aprovados, porque tambm

    eles vos ministram os servios dos profetas e mestres. No osdesprezeis, pois, porque so dignos de igual honra, como os pro-fetas e mestres.50

    46 Ver TRENCH, Richard C. Synonyms of the New Testament,7 ed. rev. enlar. London: Macmillanand Co. 1871, xcii, p. 325-329; BARCLAY, William.Palavras Chaves do Novo Testamento.SoPaulo: Vida Nova, 1988 (reimpresso), p. 178-181.

    47 INCIO. Carta aos Tralianos, 3. in Cartas de Santo Incio de Antioquia, p. 58.48 INCIO. Carta aos Esmirnenses, 8. in Cartas de Santo Incio de Antioquia, p. 81.49 Obra pretensamente escrita pelos apstolos. Amplamente aceito, devido a sua pretenso de ter

    sido redigido pelos apstolos, da o seu nome completo: Didaqu: Ensino do Senhor Atravs dosDoze Apstolos.

    50Didaqu, XV. in SALVADOR, J.G. ed. O Didaqu.So Paulo: Imprensa Metodista, 1957, p. 76.

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    4.7. Ter uma s palavra (1Tm 3.8)A construo negativa, , s ocorrendo aqui. A idia

    de que no deve ter duas palavras.A expresso pode ser entendida de trs formas no excludentes:a) O dicono no deve ser um difamador, levando e trazendo

    casos dos lares onde visita (no deve ser mexeriqueiro);b) No deve ser algum que pense uma coisa e diga outra;c) No deve ser algum que diz uma coisa para uma pessoa e

    algo diferente para outra, falando conforme o interesse do

    seu interlocutor.

    4.8. No ser inclinado a muito vinho (1Tm 3.8)Aqui devem ser observadas algumas questes: a)A questo cul-

    tural; b)A proviso inadequada de gua; c) A atenuao do vinhocom gua. (Cf. 2Mac 15.39);51 d)Essa orientao de Paulo indicao perigo da embriaguez, ao que parece, existente mesmo entre oscrentes (1Co 11.21).

    Sobre o dicono, pesava grande responsabilidade. Ele teria acessoaos lares, tomaria conhecimento de problemas ntimos e, tambm,teria de administrar os bens da igreja dedicados aos necessitados.Como confiar num bbado?

    Notemos que Paulo no exige total abstinncia; ele fala de mo-derao (1Tm 3.3; Tt 1.7); todavia, cremos que a abstinncia sejarecomendvel (Rm 14.21/1Ts 5.22).

    A bebedice uma das caractersticas do modo gentio de viver

    (1Pe 4.3) como obra da carne (Gl 5.21).

    4.9. No ser cobioso de srdida ganncia (1Tm 3.8) 52 (Tt 1.7/1Pe 5.2)53 Cobioso de lucro

    vergonhoso, isto , algum que lucra desonestamente, adaptan-

    51 Como bem sabemos, os livros de Macabeus no so cannicos; isto , no fazem parte dos 66Livros considerados inspirados por Deus. No entanto, eles tm um valor histrico-informativo, nos

    ajudando a entender melhor aspectos da histria dos judeus no segundo sculo a.C.52 = indecoroso, torpe, indecente. * Tt 1.11 = lucro, ganho. No tenhasrdida cobia por lucro. *1Tm 3.8; Tt 1.7.

    53A palavra usada por Pedro s ocorre aqui: , que significa lucro vergonhoso,ambiciosamente. Ela da mesma raiz de .

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    do, modificando o ensinamento aos interesses de seus ouvintes afim de ganhar o dinheiro deles. Tambm pode se referir ao envolvi-mento em negcios escusos. O lucro em si no pecaminoso; con-tudo, ele pode se tornar vergonhoso se a sua obteno passar a sero nosso objetivo primrio, em detrimento da glria de Deus. Pedrocontrape este sentimento boa vontade (em 1Pe 5.2),que denota um zelo e entusiasmo devotados.

    No nos esqueamos do princpio bblico expresso em algunstextos, tais como 1 Timteo 6.10; Salmo 62.10; Eclesiastes 5.10 e

    do exemplo negativo j existente no tempo do apstolo (Tt 1.10,11/Mq 3.5,11).

    4.10. Conservar o mistrio da f com a conscincia limpa(1Tm 3.9)Calvino faz uma parfrase: Conservando pura a doutrina de

    nossa religio, e isso de todo o nosso corao e com sincero temor aDeus, os homens que so ricamente instrudos na f no devem ser

    ignorantes de nada que seja necessrio a um cristo conhecer.54O dicono deve conservar-se firme na revelao graciosa de Deus

    (Rm 16.25,26), a saber, Jesus Cristo, manifestado em carne (1Tm3.16; Cl 4.3) , com a conscincia pura, sem contaminao inte-lectual, moral e espiritual.

    Apenas a conservao do mistrio da f geraria um conheci-mento rido, infrutfero e, por outro lado, apenas a conscincialimpa acarretaria uma superficialidade doutrinria. [Paulo] quer

    que os diconos sejam bem instrudos no mistrio da f, porque,embora no desempenhem o ofcio docente, seria completo absur-do que exercessem um ofcio pblico na igreja e fossem completa-mente ignorantes na f crist, especialmente porque mui amideministram conselhos e conforto a outros, caso no queiram negli-genciar seus deveres. Ele adiciona ainda: numaconscincia ntegra, aqual se estende por toda a sua vida, mas tem especial referncia aoseu conhecimento de como servir a Deus.55

    54 CALVINO, Joo.As Pastorais,(1Tm 3.9), p. 93.55 Idem, ibidem, p. 93.

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    4.11. Ser primeiramente experimentado(1Tm 3.10)= provar, examinar, experimentar. Esta palavra, que

    era aplicada para se referir ao teste dos metais preciosos para ava-liar a sua qualidade, ressalta o aspecto positivo de provar paraaprovar, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8;1Ts 2.4).

    Calvino (1509-1564) comenta:

    Numa palavra, a designao de diconos no deve consistir de

    escolha precipitada e fortuita de algum que se encontra mo,seno que a escolha deve ter por base homens que se recomendem

    por sua anterior maneira de viver, de tal forma que, depois de se-

    rem submetidos a um interrogatrio, sejam investigados profun-

    damente antes que sejam declarados aptos.56

    A conduta do dicono deve ser to boa que ningum tenha doque o acusar; seja irrepreensvel, 57 (1Tm 3.10). Este

    reconhecimento deve ser por parte da igreja e tambm dos defora (Vd. 1Tm 3.7).

    4.12. Ser marido de uma s mulher(1Tm 3.12)Aqui no se estabelece uma regra dizendo que os diconos de-

    vem ser casados; o que se diz que eles, sendo casados, devem sermaridos de uma s mulher. Outra questo: ento quer dizer quena igreja primitiva era possvel haver um homem casado com duas

    mulheres?!Lembremo-nos de que a poligamia, ainda que no fosse co-

    mum, era praticada no primeiro sculo, inclusive entre os judeus.Alm do mais, no devemos nos esquecer de que os pecados se-xuais eram comuns entre os judeus e gentios (Rm 1.27; 7.3; 1Co5.1,8; 6.9-11; 7.2; Gl 5.19; 1Tm 4.3-8). O que Paulo est dizen-do que tanto o bispo (= presbtero 1Tm 3.2) como o dicono

    56 CALVINO, Joo.As Pastorais,(1Tm 3.10), p. 94.57 *1Co 1.8; Cl 1.22; Tt 1.6,7.

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    (1Tm 3.12) deve ser um homem de moralidade inquestionvel,que inteiramente fiel e leal a uma nica e s esposa; que sendocasado, no entre maneira dos pagos, em uma relao imoralcom outra mulher.58

    4.13. Governar bem seus filhos e sua prpria casa(1Tm 3.12/3.4,5)

    A maneira de o presbtero ou de o dicono governar a sua casa um sintoma da sua capacitao ou no para exercer o seu ofcio.

    O dicono, juntamente com sua famlia, deve se constituir numexemplo de vida crist.

    5. RECOMPENSASPORUMADIACONIAFIEL

    1. A honra concedida por Deus (Jo 12.26).Jesus ensina que aqueles que o servem sinceramente, seguindo-

    o, o Pai mesmo o honrar. Ainda que aqui no esteja falando espe-

    cificamente do ofcio de dicono, a verdade que estes, como todosaqueles que servem ao Senhor a palavra no original a mesma() , ainda que nem sempre tenham o reconhecimentodevido da parte dos homens, sero honrados por Deus. Obvia-mente, no devemos encontrar no texto nenhuma desculpa para anossa falta de reconhecimento do servio prestado pelos servos deDeus; antes, um consolo para aqueles que no tm sido honradosdevidamente por ns.

    2. A lembrana graciosa de Deus(Hb 6.10).Esta recompensa complementa a anterior. Deus no se esquece

    dos seus servos, nem dos seus servios. Deus, mesmo parecendo,em algumas circunstncias, ter se esquecido de ns, na realidade,nos acompanha sempre com a sua graa. E, aquele que nos capaci-tou a fazer boas obras, por graa, nos recompensar.

    58 HENDRIKSEN, G. 1 y 2 Timoteo/Tito. Michigan: SLC., 1979, p. 140. Vd. GRUDEM, Wayne A.Teologia Sistemtica.So Paulo: Vida Nova, 1999, p. 769.

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    3. O reconhecimento da Igreja(1Tm 3.13).Paulo diz que aqueles que desempenharem bem o diaconato

    tero o justo reconhecimento da igreja. De fato, justo que assimseja. Ainda que os diconos no trabalhem simplesmente para agra-dar a igreja, visto que servem ao Senhor na igreja, desejvel quehonremos esses servos de Deus que dedicam parte quantitativa equalitativamente importante de seu tempo no servio de Deus emnossa igreja. O reconhecimento da igreja um atestado da sua

    vocao e do desempenho eficiente do diaconato.

    Calvino comenta: Ao expressar-se assim, ele reala quo pro-veitoso para a Igreja que esse ofcio seja desempenhado por ho-mens criteriosamente escolhidos, pois o santo desempenho dessesdeveres granjeia estima e reverncia.59

    4. Maior firmeza na f(1Tm 3.13).Paulo tambm diz que aqueles que desempenham bem o

    diaconato alcanam muita intrepidez() na f em Cris-to(1Tm 3.13). A palavra tem o sentido de destemor, franqueza,ousadia, confiana e sinceridade. O termo indica aquele que falacom ousadia e francamente, exercendo publicamente a sua fun-o com responsabilidade. Os diconos no exerccio de seu ofcioadquirem uma maior ousadia em sua f, amparado na graa deDeus. Isso se manifesta na sua justa confiana em aproximar-sede Deus em orao (Ef 3.12; Hb 4.16; 10.19; 1Jo 5.14) e, ao

    mesmo tempo, na sua intrepidez para falar livre, confiada e ousa-damente de Cristo (At 2.29; 4.13,29,31; 9.27,28; 13.46; 14.3;18.26; 19.8; 28.31; 2Co 3.12; Ef 6.19; 1Ts 2.2). Lembremo-nos,no entanto, que essa intrepidez obra do Esprito Santo (At4.13,29,31/1Ts 2.2). Calvino, por sua vez, analisa a contraparti-da dessa fidelidade, dizendo: Da mesma forma, aqueles que tmfracassado em seus deveres tm tambm sua boca fechada e suasmos atadas, e so incapazes de fazer tudo satisfatoriamente, de

    59 CALVINO, Joo.As Pastorais,(1Tm 3.13), p. 95.

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    modo a no ser possvel injetar-lhes qualquer confiana, nem tam-pouco outorgar-lhes qualquer autoridade.60

    O dicono, como no poderia deixar de ser, no fiel exerccio deseu ofcio, amadurece em sua f, tendo maior comunho com Deuse segurana na proclamao do evangelho. praticamente impos-svel desenvolver qualquer trabalho da Igreja de forma eficientesem, ao mesmo tempo, amadurecer em nossa f.

    No prximo nmero, estudaremos sobre o ofcio de presbtero.

    60 CALVINO, Joo.As Pastorais,(1Tm 3.13), p. 95.

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    Bacharel em Teologia pelo Seminrio TeolgicoPresbiteriano Rev. Jos Manoel da Conceio

    Bacharel em Psicanlise Clnica

    Licenciado em Filosofia Plena pelas FaculdadesAssociadas Ipiranga (FAI)

    Mestrado em Teologia, com rea de concentrao emEducao Crist, pelo Centro Presbiteriano de

    Ps-graduao Andrew Jumper

    Pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco

    D e p a r t a m e n t o d e T e o l o g i a P a s t o r a l

    REV. GILDSIOJESUSBARBOSADOSREIS

    PRINCPIOSNORTEADORES

    PARAUMAEDUCAOCRIST

    REFORMADA

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    R e s u m oEste artigo fala sobre os pressupostos que devem nortear

    uma educao crist reformada. O autor apresenta algunsdistintivos teolgicos de vital importncia para o educadorcristo, bem como os objetivos educacionais que este educa-dor deve almejar atingir.

    P a l a v r a s - c h a v eEducao Crist; Ensino Religioso; Escola Dominical.

    A b s t r a c tThis article deals with the assumptions that must guide

    a Reformed Christian Education. The author indicates sometheological marks which are very important to the christian

    educator, and the educational aims that the educator shouldachieve as well.

    K e y w o r d sChristian Education, Religion Education, Sunday School.

    PRINCPIOS NORTEADORESPARAUMA

    EDUCAOCRISTREFORMADA

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    Introduo

    Vivemos em uma poca de diversidade de conceitos, ideologias eparadigmas, fruto de um ambiente pluralista. Diversidade esta quese faz presente em todos os segmentos da sociedade. Na educao,no diferente. Penso que desejo de todo lder cristo oferecer sua igreja uma educao que seja bblica e eficaz. Sendo assim, parano cair na armadilha das muitas filosofias ps-modernas, precisa-mos estabelecer alguns pressupostos para a Educao Crist.

    1. O QUEEDUCAO(CRIST)?Antes de vermos o que Educao Crist, precisamos, primeira-mente, ver o que educao. A educadora Maria Lcia Aranha nosd uma definio. Escreveu ela:

    A educao um conceito genrico, mais amplo, que supe o de-

    senvolvimento integral do ser humano, quer seja da sua capacida-

    de fsica, intelectual e moral, visando no s a formao de

    habilidades, mas tambm do carter e personalidade social.1

    Este tem sido um conceito de educao quase que universalmenteaceito; ou seja, a educao, pelo menos em tese, visa tambm a desen-

    volver o carter do ser humano. Tendo isso em mente, podemos dizerque a Educao Crist tambm se prope a desenvolver o ser humanode maneira integral, em suas habilidades e carter. No entanto, trata-se de um processo distinto daquela educao, pois a Educao Cris-

    t assim adjetivada, em razo de ter seus fundamentos e princpiosbaseados nos ensinamentos das Escrituras Sagradas.Algumas definies de Educao Crist:

    Educao Crist um processo de educao e aprendizado susten-

    tado pelo Esprito Santo e baseado nas Escrituras. Procura guiar

    indivduos a todos os nveis de crescimento atravs de mtodos do

    ensino em direo ao conhecimento e vivncia do plano e propsi-

    to divinos mediante Cristo em todos os aspectos da vida. Tambm

    equipa as pessoas para o ministrio efetivo com uma nfase geral

    1ARANHA, Maria Lcia de Arruda.Filosofia da Educao. So Paulo: Ed. Moderna, 1989, p.49

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    em Cristo como Mestre Educador por excelncia e seus manda-

    mentos de fazer e treinar discpulos.2

    A Educao Crist o processo Cristocntrico, baseado na B-

    blia e relacionado com o estudante, para comunicar a Palavra de

    Deus atravs do poder do Esprito Santo, com o propsito de levar

    outros a Cristo e edific-los em Cristo.3

    A Educao Crist o esforo divino-humano deliberado, sis-

    temtico e contnuo de comunicar ou apropriar-se do conhecimento,

    valores, atitudes, habilidades, sensibilidades e o comportamento

    que constituem ou so consistentes com a f crist. Apia a trans-formao e a renovao de pessoas, grupos e estruturas pelo poder

    do Esprito Santo para conformar-se vontade de Deus, tal como

    expressa do Velho e Novo Testamentos e preponderantemente na

    pessoa de Jesus Cristo.4

    Educao Crist um processo que ocorre tanto informalmen-

    te como atravs de uma srie de eventos planejada, sistemtica e

    contnua, objetivando levar o crente conformar-se imagem de

    Cristo (maturidade), tendo como base autoritativa as EscriturasSagradas e sustentada pelo Esprito Santo, visando a glria de Deus.

    5

    Desdobrando esta ltima definio, temossete distintivos teolgi-cos importantes:

    1.1. Educao Crist um processoDevemos ver a Educao Crist como um processo de desen-

    volvimento do ser humano. Por processo entendemos uma aoprogressiva que ocorre atravs de uma srie de atos e eventos queproduzem mudanas, e no importa se so rpidas ou lentas, 6des-de que conduza a um progresso, a uma melhora.

    2 GRAENDORF, Werner. Apud PAZMINO in Cuestiones Fundamentais de la educacin Cristiana.Miami: Editorial Caribe, 1995, p. 96

    3PAZMINO, Roberto, Op Cit., p. 96

    4Idem, Ibidem., p. 97

    5

    REIS, Gildasio. Apostila Fundamentos Teolgicos e Filosficos da Educao Crist. So Paulo: JMC,2004. No publicado.6Hoekema, definindo a santificao progressiva, ensina que este processo de crescimento varia depessoa para pessoa e em graus diferentes (veja o captulo 12 do livro Salvos pela Graa.So Paulo:Cultura Crist, 1997, pp. 199-239)

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    Jsus tambm v a Educao Crist como um processo. Ele afir-ma que a educao

    o processo atravs do qual a comunidade de f se conscientiza e se

    transforma, luz de sua relao com Deus em Jesus como o Cristo,

    que o chama a viver em amor, paz e justia consigo mesmo, com

    seu prximo e com o mundo, em obedincia ao Reino de Deus.7

    Ele continua explicando a razo em se ver Educao Crist como

    um processo, usando a natureza como ilustrao:

    Uma forma de entender isto observar os processos da natureza,

    como, por exemplo, uma semente. A semente tem a potencialidade

    de se transformar em uma rvore de onde se colha os frutos, porm,

    isto no ocorre instantaneamente. Ela requer que a semente seja

    plantada em um lugar onde h terra e gua. Atravs do tempo e das

    diferentes mudanas que vo ocorrendo nela, germinar e comear

    seu processo de crescimento e em um dia nos dar os seus frutos. Etudo isso tomar tempo, em alguns casos mais do que outros.

    8

    A Educao Crist entendida como um processo vai nos ajudara planejar uma srie de passos sistemticos para que, aplicados e luz das Escrituras Sagradas, possamos promover mudanas e cresci-mento. E no devemos nos esquecer de que este processo altamen-te pessoal e individualizado. Isto porque cada um de ns recebeu

    uma educao ou formao diferente das dos outros, e cada umtambm se encontra numa fase de desenvolvimento espiritual. Edu-cao Crist um processo, e este no igual para todos.

    7JSUS, Jos Abraham.En Busca de una Definicin de educacin Cristiana, in http://www.receduc.com/educacioncristiana/defincn.html (capturado em 12/08/04)

    8Idem

    9

    Das 14 ocorrncias do substantivo tiposno N.T., metade faz referncia exemplificao. Cf. OExemplo por ZEMEK, George J. in Redescobrindo o Ministrio Pastoral.Rio de Janeiro: CPAD,1995, pp.294-313 (Cf. tambm em HOHLENBERGER III, John R., GOODRICK, Edward W.,SWANSON, James A. The Exhaustive Concordance To The Greek New Testament , Michigan: ZondervanPublishing House, 1995)

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    1.2. A Educao Crist ocorre informalmente (piedade pes-soal do educador)

    Educao informal aquela realizada no intencionalmente (ou,pelo menos, sem a inteno de educar). Freqentemente, o exem-plo de um lder cristo mais educacional do que os contedosque ele ensina, pois seus alunos podem aprender mais contedos

    valiosos em decorrncia da observao de suas atitudes e de seucomportamento do que em conseqncia de seu ensino.

    Um exemplo desta educao informal pode ser visto quando

    pais freqentemente procuram educar seus filhos e, em grande partedas vezes, tentam faz-lo atravs do ensino (via de regra, verbal).As atitudes e o comportamento dos pais podem ensejar a aprendi-zagem e a compreenso de contedos bblicos, sem que os paistenham a inteno de que seus filhos aprendam alguma coisa emdecorrncia da maneira pela qual se comportam.

    Para Timteo no ser desprezado em seu trabalho na Igreja defeso, Paulo orienta-o a ser um modelo, no grego tipos (),9

    para seus ouvintes. Entre outras coisas, Timteo deveria ser pa-dro na conduta (cf. 1Tm 4.12). Ele j havia sido orientado a res-peito da necessidade de os presbteros e diconos seremirrepreensveis (cf. 1Tm 3.2,8). Mas uma conduta irrepreensveltambm era exigida dele. No obstante Timteo ser muito jovem,precisava conquistar o respeito de seus ouvintes atravs de umcomportamento exemplar. Isto porque a influncia do testemu-nho do pregador sobre a aceitao do sermo requer que nossa

    vida esteja posta sob o domnio da Escritura.10

    Entende-se por conduta o modo de vida, maneira de trataras pessoas, nos costumes, hbitos, vida no trabalho, relaciona-mento familiar, modo de lidar com as finanas, etc.11Timteodeveria demonstrar uma conduta educadora que manifestasse a

    vida de Cristo. Uma conduta que estivesse acima da reprovao.A conduta um reflexo do carter, o qual nutrido e alimentado

    10CHAPELL, Bryan.Pregao Cristocntrica. So Paulo: Cultura Crist, 2002, p. 29.

    11HENDRIKSEN, William. Comentrio do Novo Testamento: 1 Timteo, 2 Timteo e Tito. So Paulo:Cultura Crist, 2001, p. 199.

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    num relacionamento crescente, submisso e comprometido comCristo.12

    O educador cristo vai ensinar muito com sua vida, desde queela esteja em harmonia com as Escrituras.

    Paulo, em duas passagens em sua carta aos Filipenses, nos con-vida a olhar para a sua vida e imitar o seu comportamento: Ir-mos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo omodelo que tendes em ns (Fl 3.17) e O que tambm aprendestes,e recebestes e vistes em mim, isso praticai (Fl 4.9). Perry Dows

    chama isto de aprendizado por observao e afirma que a imi-tao dos modelos um conceito bblico para conduzir o povo maturidade.13

    1.3. Educao Crist um processo planejado, sistemticoe contnuo

    A educao formal aquela realizada e organizada com o ob-jetivo de educar. Exige-se um planejamento de temas, com hor-

    rios determinados e uma srie de eventos e atividades de ensinoelaboradas sistematicamente com a inteno clara de educar. Osalunos sabem exatamente quando a educao comea e quandotermina.

    Muitas igrejas possuem um departamento educacional internodenominado de Comisso de Educao CristouReligiosa.Seu objeti-

    vo formular um programa unificado de educao, onde objetivosso fixados e uma srie de esforos so programados e organizados

    para a eficcia do ensino. A educao sistemtica e contnua exige,portanto, um bom programa de Educao Crist, e este normal-mente apresenta os seguintes aspectos:

    a) Um estudo cuidadoso das necessidades da igreja local, quaisos pontos fortes e fracos, qual rea necessita de um investi-mento mais emergente;

    12STOWELL, Joseph M.Pastoreando a Igreja. So Paulo: Vida, 2000, p. 174.

    13DOWS, Perry G.Introduo Educao Crist: Ensino e Crescimento. So Paulo: Cultura Crist,2001, p. 194.

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    b) O contedo bblico a ser estudado, adequado s atuais ne-cessidades. Alm de o estudo ser bblico, o tema adotadodeve ser relevante para a vida da igreja;

    c) Tem objetivos claramente fixados, ou seja, sabe-se onde sepretende chegar;

    d) Tem um programa de recrutamento, treinamento e capacita-o de lderes e professores;

    e) Reunies peridicas para avaliao do que foi realizado atento, com possibilidade de remanejamento.

    1.4. A Educao Crist tem como objetivo levar o crente maturidade

    Paulo, em Colossenses 1.28, diz: o qual ns anunciamos, adver-tindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedo-ria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.

    Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: apre-sentar todo homem perfeito em Cristo. Obviamente que perfeito

    aqui no significa ausncia de pecados, mas maturidade espiritual.O que queremos dizer por maturidade crist o processo de santi-ficao, o caminho progressivo para a conformidade imagem deCristo no crente. A imagem original, desfigurada com a Queda(Gn 1.26,27), porm agora renovada em Cristo quando da conver-so (Cl 1.15; Rm 8.29; 1Jo 3.2, 2Co 9.18).

    Sabemos que a converso apenas d incio a uma nova vida;mas, ao nascer, o novo crente inicia uma longa caminhada na espi-

    ritualidade, a qual necessitar de uma educao que seja crist, afim de proporcionar-lhe crescimento na f e, assim, torn-lo per-feito em Cristo, ou seja, um crente maduro.

    Esta maturidade crist (santificao progressiva) pode ser vistaem passagens como Colossenses 3.9,10, onde o apstolo Paulolembra a seus ouvintes de que eles se despiram do velho homem ese revestiram do novo. Este novo homem descrito como aqueleque se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem da-quele que o criou (v.10).

    A palavra grega (anakainoumenon), traduzidapor que se refaz ou que est sendo refeito, um particpio e

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    encontra-se no tempo presente. Com isto, o significado pretendidopelo autor uma renovao que perdura por toda a vida do crente.14

    Um crente maduro aquele que est crescendo progressiva econtinuamente, sendo transformado imagem de Cristo e, sob aobra graciosa do Esprito Santo, ele prossegue mortificando as pr-ticas pecaminosas a que era inclinado (cf. 2Co 3.18; Cl 3.3; Rm6.6; 8.13; Ef 4.22-24)15

    1.5. A Educao Crist deve se fundamentar nas Escritu-

    ras SagradasCalvino dizia que para algum chegar a Deus, o Criador, ne-cessrio que tenha a Escritura por guia e mestra.16O verdadeiroconhecimento de Deus est na Bblia. Isto porque a Escritura anica regra inerrante de f e prtica da vida da igreja.

    Devemos proclamar a Palavra como medida nica daquilo que justo e verdadeiro, e o evangelho como a nica proclamao da ver-dade salvadora. A verdade bblica indispensvel para a Educao

    Crist na igreja. Alis, sem a Escritura no existe Educao Crist.Todo o processo educativo da igreja deve estar fundamentado naPalavra, e s quando ela estiver sendo estudada e crida como nossoguia e mestra, que cresceremos em direo estatura de Cristo.Creio que uma educao que nos leva em direo maturidade espi-ritual no pode prescindir do conhecimento das Escrituras.

    Argumentando sobre a importncia da Palavra na EducaoCrist, Perry Dows faz a seguinte observao:

    Porque a verdade que santifica e liberta, e porque a Palavra de

    Deus a verdade, uma educao eficaz deve ensinar a Palavra

    de Deus. A interao com a Escritura essencial para a sade

    espiritual da congregao e sem ela o crescimento espiritual

    impossvel17

    14

    ROBERTSON, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Michigan: Baker BookHouse, 1931.15

    HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graa. So Paulo: Cultura Crist, 1997, p. 214.16

    CALVINO, Joo.Institucin de la Religin Cristiana.Apartado. Paises Bajos: Felire, 1986, I.6.17

    DOWNS, Op. Cit., p. 164.

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    fato que vivemos dias confusos, e uma significativa parcelado evangelicalismo moderno est vivenciando uma crise doutrin-ria e teolgica. Num cenrio em que tantas opinies pessoais que-rem ter a primazia, preciso reportar-se s Escrituras, que sempretm a palavra final em qualquer questo. A Confisso de F deWestminster assim se expressa:

    O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvrsias religiosas tm de

    ser determinadas e por quem sero examinados todos os decretos

    de conclios, todas as opinies dos antigos escritores, todas as dou-

    trinas de homens e opinies particulares; o Juiz Supremo, em cuja

    sentena nos devemos firmar, no pode ser outro seno o Esprito

    Santo falando na Escritura.18

    Um dos pressupostos da hermenutica reformada a crena nainspirao e autoridade das Escrituras. Paulo afirma que toda aEscritura inspirada por Deus (2Tm 3.16,17). Toda a Escritura,portanto, o sopro de Deus; a prpria vida e Palavra de Deus.

    Isto significa dizer que as Escrituras, por serem divinamente inspi-radas, no contm erros; sendo absolutamente inerrantes, verdi-cas em todas as suas afirmativas e, portanto, autoritativas quantoa todos os assuntos sobre os quais faz seguras afirmaes. Esta

    verdade permanece inabalvel em tudo o que ela diz sobre a salva-o, valores ticos e morais, bem como tudo aquilo que acontecena histria e no mundo (cf. 2Pe 1.20,21; note tambm a atitudedo salmista para com as Escrituras no Sl 119).

    A Confisso de F de Westminster declara a autoridade da Es-critura:

    A autoridade da Escritura Sagrada, razo pela qual deve ser crida e

    obedecida, no depende do testemunho de qualquer homem ou

    igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que o

    seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque a palavra de

    Deus. (Ref. 2Tm 3.16; 1Jo 5.9, 1Ts 2.13.)19

    18Confisso de F de Westminster, Cap. I, pargrafo X

    19Idem, ibidem, pargrafo IV

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    Uma Educao Crist reformada prima pela relevncia eindispensabilidade da Palavra de Deus. Em dias confusos como osnossos, temos que nos voltar para o Sola Scriptura e resgatar nossaconfiana no seu ensino, o nico que, mediante o seu poder, capaz de transformar vidas.

    1.6. A Educao Crist sustentada pelo Esprito SantoFalando da inspirao das Escrituras, Pedro afirma que ho-

    mens santos falaram ao serem movidos pelo Esprito Santo (2Pe

    1.21). Assim, cremos que as Escrituras so o produto do EspritoSanto, que no apenas no-las d, mas tambm nos capacita aentend-las, iluminando as nossas mentes e aplicando a verdadede Deus no corao da Igreja (2Tm 3.15-17; cf. 1Tm 4.13).

    Vemos a importncia do Esprito Santo na educao no seguin-te texto da nossa Confisso de F:

    Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um

    alto e reverente apreo pela Escritura Sagrada; a suprema exceln-cia do seu contedo, a eficcia da sua doutrina, a majestade do seu

    estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo

    (que dar a Deus toda a glria), a plena revelao que faz do

    nico meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelnci-

    as incomparveis e completa perfeio so argumentos pelos quais

    abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a

    nossa plena persuaso e certeza da sua infalvel verdade e divina

    autoridadeprovm da operao interna do Esprito Santo que, pela Pala-vra e com a Palavra, testifica em nossos coraes.

    20

    Cremos que Deus o autor supremo das Escrituras, e estas nosforam dadas para nos guiar e nos fazer ver a vontade de Deus paraas nossas vidas. Cremos tambm que apenas o Esprito Santo podenos fazer compreender a mente de Deus nas Escrituras. Portanto,devemos ter como pressuposto que ningum pode prescindir do

    20Idem., cap. I, pargrafo V (grifo nosso)

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    Esprito de Deus, caso contrrio, seremos incapazes de conhecer oque Deus quer para ns.21

    Em crculos reformados, h uma ao trplice do Esprito emrelao Escritura. Primeiramente, ele inspirou os autores sagra-dos, colocando em seus coraes aquilo que deveria ser registrado;em segundo lugar, tem preservado22de distores a sua Palavrapura atravs dos sculos; e, em terceiro lugar, ele age sobre os mi-nistros e ouvintes, iluminando suas mentes para que compreen-dam corretamente o significado dos textos e sua aplicao para a

    edificao do povo de Deus.A Confisso de F fala sobre o testemunho interno do EspritoSanto, e sobre isso B. B. Warfield afirma:

    O testemunho interno do Esprito Santo um ato sobrenatural do

    Esprito por meio da Palavra de Deus atentamente lida e ouvida,

    pela qual o corao do homem movido, aberto, iluminado, volta-

    do para a obedincia da f, de tal forma que o homem iluminado,

    verdadeiramente percebe a Palavra que proposta a ele, como ten-do procedido de Deus, e d a ela, portanto, uma aprovao inaba-

    lvel.23

    Como educadores reformados, devemos ensinar a necessidadedeste testemunho interno do Esprito, mesmo porque sabemos quea razo no suficiente para nos convencer de que a Bblia aPalavra de Deus, em razo de nosso intelecto ter sido afetado pela

    Queda, e por isso que Calvino diz que o testemunho do Esprito mais excelente do que toda a razo.24

    Nas Institutas, Calvino assevera que

    21SILVA, Moiss.A Funo do Esprito Santo na Interpretao da Bblia.in Fides Reformata, vol. II -Nmero 2 (Julho-Dezembro 1997), p.91.

    22Falando sobre a preservao das Escrituras, Paulo ANGLADA a define da seguinte forma: Otexto bblico, revelado e inspirado por Deus para garantir seu fiel registro nas Escrituras, foi

    cuidadosamente preservado por Ele no decorrer dos sculos, de modo a garantir que aquilo quefoi revelado e inspirado continue disponvel a todas as geraes subseqentes cf. Sola Scriptura:A Doutrina Reformada das Escrituras. So Paulo: Puritanos, p. 163,164.

    23Citado por WARFIELD Benjamim, Calvin and Calvinism, p. 77.

    24CALVINO, Joo.Institucin de la Religin Cristiana, Livro I, VII. 6.

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    Aqueles a quem o Esprito Santo tem ensinado interiormente ver-

    dadeiramente descansam sobre a Escritura, e que a Escritura de

    fato auto-autenticada. Portanto, no correto sujeit-la prova

    do raciocnio. E a certeza de que ela merece confiana vem do

    Esprito Santo. Mesmo que ela ganhe reverncia por si mesma,

    pela sua prpria majestade, ela nos afeta seriamente somente atra-

    vs do Esprito Santo.25

    O que Calvino est afirmando que a Palavra s ser crida e obe-

    decida como Palavra de Deus, quando confirmada pelo testemunhointerno operado pelo Esprito (cf. 1Co 2.14 ; At 16.14 ; 2Co 4.3,4,6).Paulo diz que o homem natural, no regenerado, no tem condiesde compreender a Bblia. Ele no tem capacidade para isto e necessi-ta, portanto, de que o Esprito Santo lhe abra os olhos para que ele

    venha deslumbrar as maravilhas da Lei do Senhor: Desvenda os meusolhos para que eu veja as maravilhas da tua Lei (Sl 119.18).

    Desta forma, o educador cristo deve insistir que a iluminao

    do Esprito Santo necessria na interpretao, compreenso eaplicao das Escrituras.

    1.7. A Educao Crist visa a glria de Deus.Quais so os objetivos finais do processo de Educao Crist?

    Qual o ponto principal do ensino bblico? Por que ns gastamostempo, esforos e energia no processo educacional dentro da igreja?

    O Catecismo Maior de Westminster, em resposta pergunta n1,

    diz o seguinte: O fim supremo e principal do homem glorificar a Deus egoz-lo plena e eternamente26. Existem muitas passagens bblicas quesustentam esta proposio27. Se concordarmos que este nossoobjetivo ltimo na Educao Crist, ento isso ir mudar a formacomo ensinamos as Escrituras. Iremos ensinar no apenas para queos membros em nossas igrejas aprendam o contedo bblico, mastambm para que eles venham a ter uma relao com o autor da

    25CALVINO, Joo. Op. Cit., I, VII.5.

    26Catecismo Maior de Westminster. So Paulo: Cultura Crist.

    27Apenas para citar algumas: Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22-24.

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    Bblia. Ns no iremos apenas ensinar para que aprendam mais so-bre Deus, mas para crescerem em sua relao com Deus.

    Jesus Cristo disse a seu Pai na orao sacerdotal: Eu te glorifi-quei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer (Jo17.4). Ns glorificamos a Deus com a Educao Crist, fazendoaquilo que ele nos confiou para fazer: levar os crentes maturida-de em Jesus Cristo. Isto glorifica a Deus. Entendemos que o fimltimo da Educao Crist atender ao chamado de Deus parasermos educadores e, assim, colaborar em seu projeto que o de

    transformar os homens, renovando-os imagem de Cristo. A edu-cao da alma a alma da educao.Portanto, o processo de educar (edu cere = trazer para fora) o

    povo de Deus, fazendo-o crescer no conhecimento e na graa doSenhor Jesus, , com toda certeza, algo que glorifica a Deus.28

    2. DISTINTIVOSTEOLGICOSDAEDUCAOCRISTREFORMADA

    Os educadores reformados pressupem quatro distintivos teolgi-cos que orientam sua viso educativa. Afirmamos que a filosofiaeducacional da igreja transformar o Corpo de Cristo atravs deuma formao que seja bblica, confessional, eclesial e contextual.

    2.1. BblicaEntendemos que as Escrituras Sagradas constituem o alicerce

    que deve nortear todas as nossas atividades. A Bblia o manual, o

    livro texto do professor cristo e, sem a Escritura, no haver cresci-mento espiritual. De acordo com Paulo, Toda a Escritura inspira-da por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo,para a educao na justia, a fim de que o homem de Deus sejaperfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2Tm 3.16).

    2.2. ConfessionalValorizamos a historicidade da nossa f. Entendemos que os

    Catecismos e a Confisso de F de Westminster so importantes

    28KISTEMAKER, Simon. Comentrio do Novo Testamento: I Corntios. So Paulo: Cultura Crist,2004, p. 498.

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    TEOLOGIA PARA VIDA44

    para ns que vivemos no terceiro milnio. Isto porque no somosessencialmente diferentes dos crentes que viveram nos primeirossculos da era crist.29A importncia destes smbolos que elesnos ajudam, dando o alicerce para uma teologia sadia. A nossa ftambm tem razes histricas e esta a razo porque julgamosserem to importantes estes documentos para os nossos dias tocheios de confuso teolgica (cf. Sl 44.1,2).

    2.3. EclesialOs membros de nossas igrejas, alunos em nossos seminrios e ins-

    titutos bblicos, foram dotados de dons para o servio, os quais preci-sam ser descobertos e desenvolvidos para o fortalecimento e para obem de toda a igreja. Note que Paulo, em Efsios 4.12, descreve oresultado da educao. Diz ele que os pastores e mestres foram dados igreja com vistas ao aperfeioamento dos santos para o desempe-nho de seu servio, para a edificao do corpo de Cristo.

    Hendriksen, ao comentar esta passagem, diz:

    A idia resultante que Cristo deu alguns homens na qualidade de

    (...) mestres, com o propsito de aperfeioar (cf. 1Ts 3.10; Hb

    13.21; 1Pe 5.10) ou prover o equipamento necessrio para todos

    os santos com vistas obra de ministrar uns aos outros bem como

    edificar o corpo de Cristo.30

    Sabemos que uma Educao Crist no ser adequada se no

    atentar para o fato que no desenvolvimento de relacionamentose num contexto de amor, servio, pacincia, apoio, correo, disci-plina, perdo e aceitao que a f cresce e amadurece.

    2.4. ContextualEstamos inseridos em uma sociedade, em uma cultura, e obri-

    gao nossa como cristos vivermos nesta sociedade ativamente,

    29CAMPOS, Hber Carlos.A Relevncia dos Credos e Confisses. in Fides Reformata, Vol. II Nmero2 (Julho-Dezembro 1997), p. 98.

    30HENDRIKSEN, William.Efsios: Comentrio do Novo Testamento. So Paulo: Cultura Crist, 1992,p. 246.

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    de modo a sermos sal e luz, promovendo uma transformao. tarefa educacional da igreja ajudar as pessoas a terem uma culturacrist em que elas usem a teologia, interagindo com tudo o que hna vida (vd. Mt 9.35-38). Devemos expressar a glria de Deus emtodas as reas da vida: na famlia, na sociedade, na igreja. A educa-o reformada, em sua melhor expresso, visa capacitar as pessoasa lidarem com as implicaes de uma viso crist para toda a vida.31

    Sabemos da importncia de Calvino tambm na educao.32

    Ele foi um grande educador e, nesta qualidade, tinha como objeti-

    vo formar pessoas no apenas para o ministrio, mas tambm paraservirem na sociedade.33

    Wilson Castro Ferreira, ao descrever um pouco da influnciaque Calvino exerceu em Genebra com a sua Academia, afirma:

    Calvino quis fazer da educao um instrumento hbil para produ-

    zir indivduos capazes de servir na vida pblica ou qualquer outra

    funo, com a conscincia do dever e sentido de vocao, tudo

    para a mais alta finalidade a glria de Deus.34

    3. QUEOBJETIVOSEDUCACIONAISAEDUCAOCRISTDEVEPRO-CURARDESENVOLVER?

    Quando falamos em objetivos educacionais, temos em mente umcerto desempenho esperado daqueles a quem ensinamos. Dito emoutras palavras, onde queremos chegar? O que desejamos que nos-

    sos alunos sejam no futuro como fruto de nosso ensino?Para responder a esta questo, formulamos nossos objetivos emtermos comportamentais, considerando a j conhecida trade ex-pressa nos trs aspectos humanos: conhecer-ser-fazer.

    31VAN TIL, Cornelius. Essays On Christian Education. Nueva Jersey: Presbyterian & Reformed,1977, pp. 78-80.

    32Indico a leitura do artigo do Dr. Hber Carlos de Campos intitulado A Filosofia Educacional de

    Calvino e a Fundao da Academia de Genebra, publicado na Revista Fides Reformata 5/1 de 2000.33MOORE, T. M. Some Observations Concerning The Educational Philosophy Of John Calvin. inWestminster Theological Journal 46 1984, p. 140

    34FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influncia e Teologia.Campinas: Luz Para o Caminho,1990, p.189.

    PRINCPIOS NORTEADORES PARA UMA EDUCAO CRIST REFORMADA

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    3.1. ConhecerEste aspecto intelectual (notitia) ou cognitivo se refere a como

    as pessoas reconhecem as coisas e pensam sobre elas. Jesus disse:Amarso Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tuaalma e de todo o teu entendimento... (Mt 22.37).

    A Bblia deixa bem explcito que h uma relao direta entrecomo pensamos e como agimos. Paulo descreve os inimigos da cruzde Cristo como aqueles que s se preocupam com as coisas terrenas(Fp 3.19), em oposio aos crentes, os quais devem pensar nas coi-

    sas l do alto, e no nas que so daqui da terra (Cl 3.2).Podemos ver tambm esta relao feita pelo apstolo, em Ro-manos 12.2: E no vos conformeis com este sculo, mastransformai-vos pela renovao da vossa mente, para que experimenteisqual seja a boa, agradvel e perfeita vontade de Deus.

    Observe bem a relao feita por Paulo. Escreveu ele: renove amente, pois ela moldar o comportamento, fazendo-o experimen-tar a vontade de Deus. Portanto, se a maturidade crist moldada

    pela maneira como pensamos, deve ser um de nossos objetivoseducacionais levar nossos ouvintes a conhecerem corretamente aDeus e a maneira como ele quer que nos comportemos.

    Precisamos trabalhar para o crescimento intelectual (cognitivo)de nossos alunos. Precisamos ensin-los a pensar teologicamente,conhecer as verdades bblicas e refletir nos conceitos (categorias)bblicos e teolgicos.

    Conhecer a verdade conhecer o alicerce sobre o qual se erguer

    o edifcio da f crist. Sem um bom alicerce, o edifcio ser frgil.Sem um bom conhecimento bblico, teremos um crente frgil.

    Se verdade que a mente molda o corao e a vontade, ento

    imperativo que os cristos aprendam a pensar sobre a verdade.

    Uma Educao Crist eficaz molda os alunos a conhecerem a ver-

    dade e a pensarem com a verdade, para que seus comportamentos

    sejam moldados pela verdade.35

    35DOWS, Perry G.Op. Cit., p. 222.

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    Em Cristo, o homem, antes rebelde, encontra sua plena satisfa-

    o em Deus.

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    A Educao Crist deve ser cristocntrica, procu-rando capacitar as pessoas a conhecer, atravs da Palavra, a pessoade Cristo e a crescer nele. Por isso, o educador cristo tem a res-ponsabilidade de ajudar as pessoas a lidar pessoal e corporativa-mente com as implicaes do senhorio de Jesus.

    3.2. Fazer

    tarefa da Educao Crist ajudar as pessoas a pensarem corre-tamente sobre Deus, contudo, no queremos que nossos ouvintes,alunos ou ovelhas tenham uma f meramente intelectual. Fazendomeno de Lucas 6.46, onde Jesus disse: Por que me chamaisSenhor, Senhor, se no fazeis o que vos mando? Observe que Je-sus critica uma f que se limita ao aspecto cognitivo.

    A teologia, ou seja, aquilo que conhecemos a respeito de Deus,no pode estar divorciada das nossas experincias de vida. No

    suficiente conhecer o contedo da verdade, precisamos aplicar estecontedo em nosso dia-a-dia. Jesus, em Joo 13.17, afirmou: Sesabeis [conhecer] estas coisas, bem-aventurados sois se aspraticardes [fazer]. Saber e fazer, um binmio inseparvel.

    Esta uma excelncia educacional que devemos almejar alcan-ar. Devemos ter como objetivo promover uma educao que leveao aprendizado prtico da verdade conhecida.

    Maturidade crist significa viver a verdade nas diversas situa-es da vida. Tiago nos exorta dizendo que a f (conhecer) semobras (fazer) morta. No resta dvida de que a Educao Crist um processo de aprender a viver. Sem prtica, no h aprendiza-gem. E se no h aprendizagem, no h educao. Detesto qual-quer informao que dada, que aumenta minha instruo, masno muda minha atividade.37

    36PIPER, John. Teologia da Alegria: A Plenitude da Satisfao em Deus. So Paulo: Shedd, 2001, p. 9.

    37GOETHE in DIMENSTEIN, Gilberto.Fomos Maus Alunos. So Paulo: Papirus, 2003, p. 33.

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    3.3. SerAfirmamos que o conhecer no pode estar divorciado do fazer,

    seno o saber se transforma numa ortodoxia morta. Mas verdadetambm que o fazer sem o conhecer pode se transformar numamera religiosidade vazia, pois sabemos ser possvel fazer a coisacerta sem ter qualquer relacionamento com Deus. Da a necessida-de de uma terceira excelncia a ser buscada.

    Para uma Educao Crist eficaz imprescindvel educar o alu-no a ser. Nosso desejo e desafio conduzir as pessoas maturidade

    crist, e esta produto de uma experincia prtica que tem comocontedo a Palavra de Deus. Contudo, o fazer no deve ser umamera repetio do conhecimento adquirido, mas fruto de uma trans-formao do corao. Fao (fazer), no apenas porque sei (conhe-cer), mas porque sou (ser) assim.

    Mais uma vez o texto de Mateus 22.37 nos til: Amars oSenhor, teu Deus, de todo o teu corao [ser], de toda a tua alma[fazer] e de todo o teu entendimento [conhecer].

    Quando falamos em educar o aluno para eleser, estamos fazen-do referncia ao conceito bblico de corao. Conforme o ensinodas Escrituras, o corao o rgo central da personalidade huma-na (Pv 27.19), de onde emanam todas as coisas (Mt 15.19). Oprofeta Jeremias disse que o corao desesperadamente corrupto(17.9). O corao do homem entregue a si mesmo sempre estarproduzindo afeies, emoes e aes desordenadas. As nossas aesso resultado daquilo que somos (Pv 4.23). Em razo disso, que,

    em nossa teologia e filosofia educacional, primamos pela educaodo ser, ou melhor, do corao.

    Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus... prega a Palavra, ins-ta, quer seja oportuno quer no, corrige, repreende, exorta comtoda longanimidade e doutrina. Pois haver tempo em que nosuportaro a s doutrina; pelo contrrio cercar-se-o de mestressegundo suas prprias cobias... e se recusaro a dar ouvidos

    verdade, entregando-se s fabulas (2Tm 4.1-4).

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    D e p a r t a m e n t o d e T e o l o g i a

    B b l i c a e E x e g t i c a

    Bacharel em Teologia pelo Seminrio TeolgicoPresbiteriano Rev. Jos Manoel da Conceio

    Mestrando em Antigo Testamento pelo CentroPresbiteriano de Ps-graduao Andrew Jumper

    Pastor da Igreja Presbiteriana da Casa Verde

    REV. DARIODEARAJOCARDOSO

    O CONFRONTODE

    ELIASEACABE:UMAANLISE

    BBLICO-TEOLGICADE1 REIS17-18

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    R e s u m oTomando comoMitte(centro unificador) o Reino, o Pac-to e o Mediador, o autor faz uma anlise bblico-teolgicado confronto entre o profeta Elias e o rei Acabe. Rev. Dariomostra como Acabe, usado por Satans, afrontou delibera-damente a Yahweh e afastou o povo de Deus das estipula-es da Aliana. Mostra tambm como o profeta Elias,mensageiro do Senhor, desafiou o reino parasita, confron-

    tando Acabe e reprovando seus atos pecaminosos.

    P a l a v r a s - c h a v eTeologia Bblica;Mitte; Reino Parasita; Histria de Israel;

    Acabe; Elias.

    A b s t r a c tThe author analyses the Elijah and Ahab confront from a

    biblical and theological approach, which has as unifyingcenter the concept of the Kingdom, the Covenant and theMediator. Rev. Dario shows how Ahab, used by Satan, defied

    Yahweh and put the people of God apart of the Covenantdeterminations. He also shows how the prophet Elijah,messenger of God, defied the parasite kingdom by defying

    Ahab and rebuking his sinful deeds.

    K e y w o r d sBiblical Theology,Mitte, Parasite Kingdom, Israel History,

    Ahab, Elijah.

    O CONFRONTODE

    ELIASEACABEUMAANLISEBBLICO-TEOLGICA

    DE1 REIS17-18

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    INTRODUO

    Faremos aqui uma anlise bblico-teolgica do confronto entre oprofeta Elias e o rei Acabe de Israel (do Norte) registrado nos cap-tulos 17 e 18 de 1 Reis. Esses captulos registram dois clebreseventos bblicos que marcaram esse confronto. O primeiro, quedelimita a narrativa, a seca de cerca de 3 anos, iniciada e termi-nada sob a mediao do profeta. O segundo, que marca o clmaxdo confronto, a descida de fogo sobre o altar construdo no monteCarmelo.

    Procuraremos observar a relao dos eventos relatados entre sie a reflexo teolgica que surge a partir deles, verificando, em espe-cial, a presena do mitte(tema unificador das Escrituras) propostopor Gehard Van Groningen em seu livro Criao e Consumao:o reino, o pacto e o mediador.

    Para isso, necessrio comear nossa pesquisa um pouco antesdo texto bblico proposto, em 1 Reis 16.29-34, para entender comofoi o reinado de Acabe e quais as questes que geraram o confron-

    to com o profeta Elias. Precisaremos compreender o que era e quaisas implicaes teolgicas da adorao a Baal, que Acabe oficial-mente institura em Israel.

    Depois trataremos do confronto em si e como ele se deu. Obser-varemos, alm da histria, implicaes que os diversos momentose movimentos produzem. Por fora de nosso propsito, faremosmeno de outros personagens somente quando for necessrio aoentendimento do relato.

    Na terceira parte, que servir tambm como concluso, verifi-caremos a presena do tema unificador (mitte) no relato, bem comoas contribuies desse relato para a mensagem das Escrituras.

    1. REINADODEACABE, UMDESAFIOAOREINADODEYAHWEH

    1.1. Quem foi Acabe?Acabe, filho de Onri, foi o stimo a reinar sobre Israel aps a

    diviso do reino nos dias de Roboo. Reinou sobre Israel de 874 a853 a.C., 22 anos, conforme o registro bblico. O livro de Reisregistra duas descries de Acabe e seu reino. A primeira em nosso

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    texto (17.29-34), feita pelo narrador e a segunda em 21.25-26,por boca de Elias.

    Em nosso texto, encontramos a seguinte descrio feita pelonarrador:

    Fez o que era mau perante o Senhor,mais do que todos antes dele

    no bastando andar nos caminhos de Jeroboocasou com Jezabel filha de Etbaal rei dos sidniosserviu a Baal e o adorou

    levantou um altar a Baalconstruiu uma casa para Baal

    tambm fez um poste dolofez mais para irritar ao Senhor, Deus de Israel

    do que todos os reis antes dele.

    Podemos observar a nota extremamente negativa que nos fornecida sobre o reinado de Acabe. Ele fez mais para irritar ao

    Senhor do que todos os reis antes dele. Seus atos so descritoscomo uma afronta a Yahweh, Deus de Israel. A lealdade de Israela seu Deus alcana o ponto baixo no rei Acabe (16.30-33) (...) onarrador cita Acabe como o pior rei do Reino do Norte.1

    Devemos notar que o texto o descreve como indo alm dos peca-dos de Jeroboo. Jeroboo foi quem afastou Israel da adorao emJerusalm, construindo bezerros de ouro e ordenando ao povo que osadorasse (1Rs 12.26-29). importante lembrar que os bezerros deouro esto ligados sada de Israel do Egito. So tomados por Yahweh,como se eles tivessem libertado Israel (Ex 32.4,5).2 So, portanto,uma falsa adorao a Yahweh; certamente, um grande pecado.

    Mas Acabe foi alm e props abertamente o abandono total deYahweh e instituiu a adorao a um outro deus, Baal.3Ele quer

    1NELSON, Richard. D.First and Second KingsinInterpretation A Bible Commentary for Teaching and

    Preaching. Louisville: John Knox Press, 1987, p. 101.2cf. HOUSE, Paul R. 1, 2 Kings The New American Commentary. vol. 8. Broadman & HolmanPublishers, 1995, p. 184.

    3cf. RICE, Gene.Nations Under God: A Commentary on the Book of 1 Kings International TheologicalCommentary. Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co, 1990, p. 137.

    O CONFRONTODEELIASEACABE: UMAANLISEBBLICO-TEOLGICADE1 REI S17-18

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    irritar Yahweh. Quer confrontar o seu domnio. Uma clara e deci-dida quebra do mandato espiritual.4Aqui a adorao de Baal, es-pecfica de Tiro, introduzida na estrutura de adorao pblica doReino do Norte, trazendo com ela um panteo completo de deida-des fencias e o ritual para ador-las.5

    A atitude de rebeldia de Acabe para com Yahweh foi imediata-mente vista na forma como ele rompeu o mandato social6casan-do-se com Jezabel, uma estrangeira, filha do rei de Sidom, e ardorosaadoradora de Baal. Em princpio, parece que Jezabel no tem maior

    participao nos pecados de Acabe, mas recebemos uma preciosainformao sobre o casamento de Acabe e Jezabel e sua influnciasobre Acabe no incidente da vinha de Nabote (21.1-16), onde se

    v Acabe quebrando o mandato cultural.7Elias nos esclareceu essaligao quando disse:

    Ningum houve, pois, como Acabeque se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor

    porque Jezabel, sua mulher, o instigavaque fez grandes abominaesseguindo os dolossegundo tudo o que fizeram os amorreus

    os quais o Senhor lanou de diante dos filhos de Israel

    DeVries diz que o escritor explcito, acusando Acabe de qua-tro, at aquele momento, impensveis pecados: (1) casar com umabaalista filha de um rei baalista; (2) adorar Baal e prostrar-se dian-te dele; (3) construir um templo de Baal em Samaria e (4) fazeruma imagem da Me Terra, Aser.8

    O casamento de Acabe tinha total relao com seus pecados e comsua afronta a Yahweh. Ela o instigava e o fez tornar-se semelhante aos

    4Mandato espiritual: estipulaes de Deus para o relacionamento dos homens com ele.

    5DEVRIES, Simon J. 1 Kingsin Word Biblical Commentary, vol. 12. Waco: Word Books Publisher,1985, p. 204; cf. COOK, F. C. (ed.).Barnes Notes The Bible Commentary, I Samuel to Ester. Grand

    Rapids: Baker Books, 1998 reimp., p. 199.6Mandato social: estipulaes de Deus para o relacionamento do homem em famlia.7Mandato cultural: estipulaes de Deus para o relacionamento do homem com a sociedade e anatureza.

    8DEVRIES, ibid., p. 204.

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    amorreus que, por seu pecado, foram destrudos na conquista deCana. Foi Jezabel quem, durante o perodo de seca, exterminou osprofetas de Yahweh (18.4) e os teria matado todos se no fosse apiedade de Obadias, o mordomo do rei, que escondeu e alimentou100 profetas. Ela fez isso, certamente, no intuito de enfraquecer a