Teoria Platão

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Teoria das Idias de Plato

Trabalho apresentado como produo de texto no curso de filosofia da faculdade Dehoniana de Taubat, na disciplina Histria da Filosofia I

A Teoria das Idias de Plato (tambm chamada de Teoria das Formas) faz um arremate que procura ser coerente com a concepo platnica do universo e da trajetria humana, formando associado a sua Teoria da Reminiscncia toda uma epistemologia e tica no entendimento que esse pensador construiu sobre a realidade. Essa Teoria, assim como todas as outras, encontra-se delimitada ao longo de sua obra e no temos uma obra especfica que fale estritamente dela.

As razes do pensamento platnico original remontam-nos ao Orfismo e ao Pitagorismo, sendo inclusive citados ao longo de sua obra. Na dimenso pitagrica de sua vida e obra, sua recorrente pretenso de atuao poltica encontra-se em sua carta endereada a parentes e amigos de Dion de Siracusa, em 354 a.C., denotando que desde tenra idade seus objetivos eram intervir politicamente na Grcia.[i]

Sua viso tica, humanstica e filosfica, mostra um todo coerente que desemboca num modelo de universo direcionado para a vida prtica e poltica, dentro de certos parmetros que visem tornar o homem um instrumento para se conhecer e revelar a Verdade das coisas como elas so.

Os escritos de Plato so divididos, didaticamente, em trs grupos[i]: Dilogos Iniciais (relacionados com aspectos da excelncia moral, a virtude e qualidades como coragem e piedade), Doutrina Platnica (onde se inclui A Repblica e se desenvolve suas teorias como a Teoria da Forma [Ideia], Teoria do Conhecimento e relatos sobre a alma humana e seu destino) e por fim, Coleo e Diviso (marcado pelas obras As Leis, O Poltico e Filebo, onde explica sobre as relaes entre idias e forma, lgica e dialtica.

Contextualizando

Nascido com o nome de batismo Aristcles, foi chamado Plato em virtude de seu vigor fsico, ombros largos, tendo em grego platos a acepo de amplitude, largueza.[i]

Plato nasceu em Atenas em 428/427 a.C., no entanto sua descendncia espartana/drica, oriunda de uma aristocracia que mais tarde faria parte do poder no governo dos 30 Tiranos aps a Guerra do Peloponeso. Plato teria ficado decepcionado com os resultados do governo ateniense ps-guerra, seus mtodos violentos e autoritrios, no entanto teria atingido o pice de sua desiluso quando os Democratas tomaram o poder e Scrates, seu mestre, condenado morte. Os resultados da Guerra que ele prprio ajudou a vencer tiveram desdobramentos imprevisveis e angustiantes para o jovem Plato.

Revoltado, faria ento uma tentativa de idealizao poltica em A Repblica retomando e melhorando, sob seu ponto de vista, as caractersticas da sociedade espartana original. E , no Livro VII de A Repblica [i] que encontramos o local onde melhor sintetiza sua Teoria das Idias, quando ele desenvolve a Alegoria da Caverna; um de seus mais famosos escritos.

Possveis Origens da Teoria das Idias de Plato

Remonto a duas possveis origens para a Teoria das Idias de Plato. Uma histrica, trazida tradicionalmente por toda uma escola de pensamentos que nos reporta ao Oriente Prximo e ao Egito, e outra filosfica, onde Plato, com base em sua concepo de universo herdada, teria tentado resolver o dilema parmenediano e heraclitiano; o mundo do Ser e das aparncias.

Por consequncia de um, temos o outro. A origem histrica se revela claramente na influncia rfica e pitagrica do pensamento platnico[i]. Entre os rficos e Pitagricos, conceitos como Alma separada do Corpo, o possvel rompimento entre o estatuto divino e humano, a metempsicose (transmigrao das almas) e a prevalncia do esprito sobre o fsico j se encontram consolidados doutrinariamente.

Enquanto que, em Pitgoras, a vida espiritual se d por uma atuao poltica direta e a busca de uma cincia total da natureza; atravs do afastamento asctico de nosso princpio anmico do corpo, no Orfismo a dimenso religiosa mais salientada, orientando seus seguidores a uma experincia mstica com base no Mito de Orfeu e um arrebatamento emocional atravs de posturas ascticas radicais.

Plato inova essa lgica rfico-pitagrica com sua Teoria das Reminiscncias, onde pela razo, o homem incorpora-se do Logos que o permite entrar em contato com as formas puras e, por lembrana (reminiscncia), ser capaz de conhecer tudo aquilo a que se prope.

No necessrio ento, ao contrrio do pitagorismo, conhecer antes. Mas sim ter acesso a todas as fontes do conhecimento, relembr-lo (como fonte e origem da prpria natureza da alma) e voltar pronto para conhecer (re-conhecer) absolutamente tudo, da forma mais ampla e profunda; em seus fundamentos.

Antes, porm, de dar cabo dessa inovao que possibilite um acesso direto fonte do saber e da Verdade, Plato constri sua Teoria das idias como forma de resolver um problema cosmovisionrio instaurado pelas concepes de Parmnides de Elia e Herclito de feso.

At aqui delimito ento as possveis origens da Teoria das idias, a saber: fundo histrico tradicional, herdado por Plato das tradies pitagricas e rficas, e o fundo filosfico, na resoluo da questo do Ser e do Mundo das Aparncias, entre Parmnides e Herclito.

Parmnides nega a existncia real do devir. Credita-o ao No-Ser, e pelo princpio da no- contradio, estabelece que a nica realidade seja o SER; imutvel, imvel, fixa. Herclito atribui a realidade ao devir constante, harmonia dada pela oposio de princpios antagnicos e estabelece que essa harmonia dada pelos opostos em equilbrio o princpio do Ser.

Plato, influenciado e assumindo uma viso rfica pitagrica do mundo e do homem, tenta conciliar filosoficamente as vises diametralmente opostas de Herclito e Parmnides, fazendo a primeira grande sntese da filosofia. Partindo de uma viso dualista da natureza humana (titnica e dionisaca) e de uma viso monista da Origem do Universo (institudas pelas concepes teognicas e antropognicas rficas), Plato concebe um sistema que preconiza a existncia de um plano duplo de existncia, comportando uma parte essencial, das formas ideais, fixas, imutveis (pamenediana), e uma parte aparente, do devir, sempre em mudana (heraclitiana), que seria o reflexo e desdobramento da outra parte. Esse novo mundo platnico integra os princpios doutrinrios em que se baseia, e concilia as vises filosficas que eram aparentemente opostas.

da opinio desse autor, que mesmo conciliando duas vises que se sustentam sob um raciocnio filosfico (mesmo que ainda impregnadas de uma aura rapsdica de dois eminentes pr-socrticos), Plato tenha to somente as utilizadas para dar uma voz racional a uma doutrina religiosa que ele abraou como legitima.

Essa doutrina tem como argamassa as diversas teorias platnicas que se complementam para dar um corpo racional sua filosofia, tendo como liga a Teoria das Reminiscncias. A consolidao da idia de um mundo suprassensvel, que ultrapassa e molda o que presenciamos por nossos sentidos fsicos, pode ser considerado um passo a mais nas alegorias quase mticas que os pr-socrticos nos legaram com seus pensamentos, deslocando o princpio do universo das caractersticas fsicas de certos elementos.

A Teoria das Idias

Como dito anteriormente, A Teoria das Idias de Plato vem compor todo um corpo terico que d coerncia ao seu pensamento. Essa Teoria parte do esforo em estabelecer uma epistemologia, isto , entender e dizer como se d o conhecimento humano, justificando assim a construo poltica idealizada por Plato.

Admitindo que o mundo sensvel, o mundo das aparncias, do devir, est constantemente sujeito s mudanas, Plato infere que qualquer tentativa de um entendimento mais profundo sobre a realidade partindo de nossos sentidos jamais daria segurana o bastante para conhecermos a realidade em si mesma.

Ao mundo das aparncias, reserva-nos o terreno das doxas, das opinies, sejam elas verdadeiras ou falsas, mas sem as justificativas necessrias e suficientes para que se imponham como uma leitura fidedigna daquilo que alm das aparncias, do que muda.

Logo, o conhecimento sensvel no o bastante para se chegar ao Ser de algo, ao seu ontos.

A ele, contrape-se ento o mundo inteligvel, distinto dos fenmenos, do devir, para se basear em Idias Fundamentais, Formas Puras, que se desdobram at que possamos perceber meras aparncias delas atravs dos sentidos fsicos; sombras.

Para ilustrar esse fato, Plato utiliza a Alegoria da Caverna[iv], onde homens amarrados no fundo de uma caverna, virados de costas para sua entrada, tem uma fogueira atrs de si, frente da entrada da caverna. A nica coisa que conseguem ver do mundo l fora so as sombras de outras pessoas e coisas que passam pela entrada da caverna, projetadas pelo fogo. Essas sombras so as nicas informaes que esses homens tm acesso em relao realidade que podem perceber por seus sentidos. E preciso ento um esforo em direo razo para que eles se desvencilhem do que lhes prendem e possam ver a Verdade sobre o que a aparncia apenas dissimula.

Em sua epistemologia, o mundo das aparncias, dos fenmenos, o mundo das doxas, das opinies. E o mundo inteligvel, das Idias, o mundo da episteme, do conhecimento: onde se encontram as justificativas para uma explicao correta e verdadeira daquilo que percebido pelos sentidos. Aps elaborar em A Repblica toda a lgica desse sistema, Plato em sua fase mais tardia, revisita e critica sua prpria teoria, submetendo-a a uma anlise mais detalhada nas obras Parmnides e O Sofista. Neste ltimo, sua crtica em relao aos sofistas centra-se na insistncia dos mesmos em no admitir um princpio necessrio e ordenador de onde se parte o mundo fsico, das aparncias. Logo, segundo Plato, eles se dedicam apenas a vencer debates e no se preocupam com a busca da Verdade.

As verdadeiras causas das coisas esto no Mundo Inteligvel, e no no Mundo Sensvel, no movimento, no devir, na multiplicidade, onde s percebemos a sombra das coisas como elas realmente so e por que so. no Mundo Inteligvel que o princpio de identidade est acima da multiplicidade, onde ao vermos um enxame de abelha podemos conceituar o que uma abelha, extraindo-se da multiplicidade um princpio nico, ordenador, categorizante, inteligvel.

chegamos a o maior princpio de todos: O BEM! Segundo Scrates, em A Repblica:

Subindo-se em nveis hierrquicos que partem do devir, da multiplicidade e do movimento, me ouviste muitas vezes afirmar que a ideia do bem o mais alto dos conhecimentos, aquela de que a justia e as outras virtudes tiram sua utilidade e as suas vantagens.[v]

Resgata-se aqui a cosmogonia rfica, onde tudo o que , na multiplicidade, vem a ser na degenerescncia do princpio mximo supremo. Junto com o BEM temos o BELO. As coisas no existem seno participando do BEM.

Aliado Teoria das Idias, temos a Teoria da Reminiscncia e das Transmigraes das Almas. O Homem j teria participado desse mundo inteligvel, ideal, antes de se encarcerar-se no corpo que o faz ser-no-mundo. Ao incorporar-se no devir, ele perde a memria e a filosofia o confere a possibilidade de relembrar-se de sua existncia anterior, fazendo com que sua mente/alma paire acima das aparncias.

A participao da Ideia do Bem nas coisas empricas que fazem com que percebamos beleza e bonana nas coisas. Todas as coisas, ento, participam, enquanto existentes, fsicas e sujeitas ao devir, de um carter ideal, metafsico, alm do fsico, que lhes do finalidade e causa ltima. O Belo e o Bom, portanto, e seus corolrios (como a Verdade, a Justia e etc.), so transcendentes e no imanentes.[vi] inteligvel)[viii]

No Livro VI da Repblica[vii], um captulo antes da Alegoria da Caverna, Plato nos elucida sobre os estgios da ascenso entre um conhecimento mundano, aparente, para um conhecimento legtimo, alto e iluminado. Ele estabelece uma Linha Dividida entre quatro segmentos: dois inferiores (ligados ao mundo sensvel) e dois superiores (ligados ao mundo

Em seguida traa o caminho paralelo entre as cosias do mundo fsico, visvel, at chegar a sua Forma, sua Ideia, e o conhecimento, da doxa para a episteme, a partir primeiramente de hipteses como pontos de apoio na investigao e, pelo poder da dialtica, chegar aos princpios ltimos, sem precisar de nenhum dado sensvel, explicando assim, em decorrncia dele, como se do as coisas no mundo fsico.[ix] Assim como o Ser parmenediano e eletico, as Idias do Mundo Inteligvel so fixas, incorruptveis, no sujeitas gerao.

A existncia do mundo sensvel a partir do mundo inteligvel se d na ao voluntria de um Artfice, chamado por Plato de Demiurgo (a inteligncia). Segundo Plato, em Timeu[x], os corpos e o mundo sensvel esto sujeitos gerao, e so gerados necessariamente.

Remetendo-nos ao Hilemorfismo platnico; a diferenciao e funo da matria e a forma, o Artfice, para atingir o Bem como princpio mximo, copia do Mundo Inteligvel os princpios ideais e molda a matria que passa a existir como sombra daquele.[xi]

Notas explicativas e referncias

[i] (REALE e ANTISERI 2002, p. 125) [i] (PLATO, A Repblica 1997, p. 225)

[i] (MIRANDA Jr. 2008)

[iv] (PLATO, A Repblica 1997, p. 225) Livro VII

[v] (PLATO, A Repblica 1997, p. 215)

[vi] (LALANDE 1999, p. 496) Verbete IDEIA. Kant utiliza essa palavra no sentido platnico, chamando-a de ideia transcendental, ou da razo pura, onde alm de no derivar dos sentidos, ultrapassa os conceitos de entendimento, na medida em que no se encontra na experincia, nada que fornea uma ilustrao acima da multiplicidade. [vii] (PLATO, A Repblica 1997, p. 191)

[viii] Nesse Livro, aps delimitarem a diferena entre um filsofo e os que no so, Scrates em dilogo com Glauco e Adimanto nos demonstra a necessidade de entregarmos o comando de uma cidade a Filsofos e tece duras crticas aos Sofistas. (Nota do Autor) [ix] (PLATO, A Repblica 1997, p. 223)

[x] (REALE e ANTISERI 2002, p. 143)

[xi] No entrarei aqui na teologia platnica, sendo tema de outros trabalhos a serem realizados. (N.A.)

Referncias Bibliogrficas

BATISTA, Mondin. Curso de Filosofia. 3 Edio. Traduo: Benni Lemos. Vol. I. I vols. So Paulo, SP: Paullus, 2007.

COLLINSON, Dian. Cinquenta Grandes Filsofos - Da Grcia Antiga at o sec. X. 3 Edio. Traduo: Boa Costa Maurcio Wladman. So Paulo, SP: Contexto, 2006.

LALANDE, Andr. Vocabulrio Tcnico e Crtico da Filosofia. 3 Edio. Traduo: Ftima S COrreia. So Paulo, SP: Martins Fontes, 1999.

MIRANDA Jr., Gilberto. O Orfismo e a Filosofia. Seminrio de Histria da Filosofia I. Taubat, SP: Faculdade Dehoniana, 03 de Junho de 2008.

PLATO. A Repblica. Edio: Victor Cvita. Traduo: Enrico Corvisieri. So Paulo, SP: Nova Cultural, 1997. . Dilogos. So Paulo, SP: Nova Cultural - Os Pensadores, 1996.

. Fdon. Traduo: Miguel Ruas. So Paulo, Sp: Martin Claret, 2005.

REALE, Giovanne, e Dario ANTISERI. Histria da Filosofia. 7a. Vol. I. I vols. So Paulo, SP: Paullus, 2002.

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