Terceiro diálogo de górgias, Platão

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Terceiro diálogo de Górgias: acontecimentos

(até à cota 498ª)

Polo cai em contradição (momento de aporia) quando admite que o belo é assim denominado

quando é bom e útil e, por sua vez, o feio quando as coisas são más ou inúteis. Deste modo,

acaba por concordar com a ideia, que tão exaustivamente contradizia, de que “É preferível

sofrer uma injustiça do que cometê-la”.

Assim, Cálicles entra insultando Sócrates – assim começa a terceira parte do diálogo.

Consequentemente, Sócrates crítica Cálicles e os sofistas de se preocuparem apenas com o

superficial e a aparência (a toilette) e não saberem refutar uma teoria pois não têm uma teoria

própria (cota 481c). Em defesa, Cálicles acusa-o de ter manipulado Górgias e Polo a aceitarem

as suas ideias, o primeiro por fê-lo “por vergonha e em obediência aos hábitos estabelecidos”

e o segundo “porque se envergonhou de exprimir o seu pensamento”. Por conseguinte,

entram no discurso dois novos conceitos que, de acordo com Cálicles, são opostos: a natureza

– o instinto - e a convenção – o “politicamente correto”. Deste modo, Cálicles expõe que a

manipulação de Sócrates passa por se servir destes conceitos para fazer o seu “oponente” cair

em contradição – explica então que o erro de Polo foi concordar com a ideia de que o feio é

mau e inútil, quando mau e inútil se refere à natureza e, por sua vez, o feio refere-se à

convenção. Assim, Cálicles retoma a ideia de que “sofrer uma injustiça é pior de que cometê-

la”, expondo que “suportar uma injustiça não é atitude própria de um homem, mas de um

escravo” (discurso de Cálicles, cota 483a – 484b) e que sofrer uma injustiça é

consideravelmente pior no domínio da natureza, de modo que, por sua vez, cometê-la é

apenas pior no domínio da lei. No entanto, as leis foram criadas para proteger os mais fracos e

assustarem os mais fortes, que são aqueles com capacidade de se “superiorizarem” – neste

sentido, a ideia de Cálicles (puramente tirânica) é que a Democracia provém dos interesses

quase egoístas dos mais fracos que, sabendo que não têm possibilidade de serem superiores,

cortam aos mais fortes essa mesma possibilidade, criando um nível que não olha às

capacidades de cada um.

Além disso, aproveita para criticar Sócrates em relação à paixão que nutre pela filosofia,

declarando que esta é bela “na juventude”, mas, no caso de alguém com a idade dele,

“transforma-se numa autêntica calamidade”, é “ridícula”, e o individuo em questão “precisa é

de chicote”, pois perde o contacto com as experiências que o tornam uma pessoa “educada e

digna de consideração” – assim, pode-se notar novamente a importância da aparência que,

anteriormente, Sócrates criticara. Finalmente, termina o seu discurso incentivando-o a

“cultivar a arte dos negócios” e a ganhar alguma “reputação” na sociedade e na política.

A este ataque Sócrates responde com ironia, fazendo Cálicles parecer algo ridículo perante a

plateia. Pede-lhe para concordar com o método de diálogo que realizara com Górgias e com

Polo, no qual um pergunta e o outro simplesmente responde, sempre em falas curtas e

diretas. Finalmente, realça (ideia já anteriormente apresentada) que agradece que Cálicles

corrija os males da sua filosofia e do tema em questão, pois quer ser refutado de modo a

aprender com isso (note-se a humildade do “sábio”).

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Sócrates pede então uma definição do conceito de forte. Chega-se então à conclusão que o

mais forte é necessariamente o mais poderoso e o melhor e que “as leis da maioria são as dos

mais poderosos”, de modo que são belas. No entanto, se as leis fossem ditadas pelos mais

poderosos, de acordo com os ideais de Cálicles, este não poderiam concordar em maioria que

o melhor é a igualdade e o pior é cometer a injustiça do que sofrê-la. Assim, Sócrates admite

que a maioria é mais poderosa que o individuo, mesmo que este seja mais forte.

Consequentemente, Cálicles mantém a sua defesa pessoal com insultos e críticas que saem da

linha de raciocínio do diálogo.

Chega-se à conclusão que um sábio é muito mais poderoso do que “os medíocres” e, deste

modo, deve governá-los. Por conseguinte, Cálicles explica que “os sábios” não são aqueles que

sabem mais sobre algum assunto, mas sim aqueles que além de sabedoria possuem um

trabalho na política, negócios ou algo mais elevado.

Além disso, entra no diálogo a teoria hedonista (indivíduos que primam o prazer e procuram

apenas o agradável) aquando da questão colocada por Sócrates: se Cálicles entende por

poderosos, melhores, mais fortes e sábios, aqueles que governam algo ou aqueles que se

governam a si mesmos. Deste modo, Cálicles conclui que todos os homens são hedonistas por

natureza, mas que apenas alguns têm poder para o ser na sua vida e, como esses não são a

maioria, os mais fracos tornam o hedonismo alvo de censura e vergonha.

No entanto, se primar o agradável e o prazer é o único meio de atingir a felicidade, então um

indivíduo que não tenha quaisquer paixões ou sonhos é totalmente feliz e, no entanto, a sua

vida será desprezível. Assim, segundo Sócrates, a vida hedonista é insatisfeita, dado que o

homem nunca está saciado, porque quererá sempre mais – a vida, segundo Sócrates, deve ser

levada pelo mínimo, pelo básico e os objetivos não devem ser tão elevados, mas sim

equilibrados.

Mais uma vez, ambos os personagens entram em desacordo, pois Sócrates tenta convencer

Cálicles de que a vida moderada é mais feliz que a vida do indivíduo intemperante, mas este

acredita que alguém moderado acaba por “deixar de sentir prazer e a sua vida (…) *torna-se]

semelhante à de uma pedra” (cota 494b), concluindo que o indivíduo intemperante é mais

feliz, pois busca a sua felicidade constantemente, sentido assim mais prazer.

Chega-se então à conclusão que o prazer e o bom são a mesma coisa, de modo que não

existirão prazeres maus, ideia de Cálicles que Sócrates tentará provar errada.

Maria Rebelo, nº8

12ºB