"Terra de todos os santos, decoração para todas as crenças"

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SALVADOR SÁBADO 29/3/2014 IMOBILIÁRIO 3 Fotos Mila Cordeiro / Ag. A TARDE PAULA MORAIS Na Bahia, há uma igreja para cada dia do ano, como escreveu Dorival Caymmi em sua composição. Não há dados concretos que mostrem a quantidade de templos no estado, mas, segundo a Arquidiocese de Salvador, só na cidade são 372. “Não é à toa que a Bahia é co- nhecida como a terra de todos os santos”, brinca o professor de his- tória Sérgio Guerra. De acordo com ele, o baiano leva a religião para dentro de casa. Essa mistura de crenças, que con- tribuiu para a formação da iden- tidade baiana, também é comum na decoração. “A fé está enraizada no cotidiano baiano. Não é só uma questão de sincretismo religioso, já está intrínseco em nossos costu- mes”, explica Guerra. Em três cômodos, o designer Ri- cardo Ferreira juntou o budismo e o candomblé. As religiões se en- contram nas peças colocadas no chão e em cima da mesa, que aju- dam a compor a decoração das sa- las da sua casa. No entanto, Ferreira pontua que a mescla foi realizada com sensatez para que características das duas religiões tivessem destaques iguais. “Usei cores neutras com uma peça de cada crença em cor mais forte para contrastar. Misturei artefatos de diferentes tamanhos para dar movimento e quebrar o padrão”, conta o designer, que as- sinou o projeto com a sócia Zene Ferreira. O respeito entre religiões dife- rentes deve existir também do la- do de fora da sala de Ferreira. “Infelizmente, há crenças que são excluídas e desrespeitadas por ou- tras. A questão é que cada uma teve e tem seu papel importante na Bahia”, pontua o professor Guerra. Quando se mudou de Brotas pa- ra Ipitanga, o devoto de São José Sóstenes Brito, 52, ganhou mais espaço para organizar as peças sa- cras antes guardadas em caixas. Na mesa, na estante e próximo à porta estão as mais especiais. “É como se fosse o meu santuário”, fala. Quando há uma grande quan- tidade de peças, o morador deve procurar as mais queridas, é o que indica a arquiteta Juciana Freire. “Não desprezamos as outras, mas é interessante trabalhar com fun- cionalidade e estética. Um espaço com muitas peças dá sensação pe- sada de desconforto”. Brito acredita que a exposição é uma forma de adoração e gosta de mostrar às visitas a coleção. “A de- coração da minha casa é mais clás- sica, então, as peças sacras distri- buídas por diferentes espaços, por terem a mesma característica, se encaixam ao ambiente harmonio- samente”, aposta. Adoração e equilíbrio Segundo Ferreira, embora não exis- ta regra para distribuir os objetos que vão decorar a casa, o exagero pode fazer com que o morador en- joe mais rapidamente do espaço. A designer de interiores Laura Santos concorda e prefere ambientes agre- gados. “Quando a decoração se es- palha, ela perde o contexto. Uma dica é criar um cantinho de ado- ração. Não é uma regra, mas, vi- sualmente, o ambiente se torna mais interessante”, diz. O equilíbrio, de acordo com os especialistas, deve ser trabalhado principalmente por meio de cores e iluminação. Laura Santos aposta em luzes diretas para destacar uma imagem ou um quadro, por exem- plo. Cores mais limpas, como o be- ge e branco, servem de base para ressaltar outra mais forte, segundo Ricardo Ferreira. “Mais uma vez sem se compro- meter com o exagero. É a mistura que causa o equilíbrio. O vermelho complementa o verde, o tom azul combina com o laranja. Todas elas apresentadas com pastel ou outras cores mais cleans”, fala Laura. A mescla entre cores mais fortes e fracas, para Santos, quebra o que é padrão e traz um novo conceito ao ambiente. “Prata ou ouro com tons mais vibrantes, por exemplo. É o clássico ganhando destaque com características contemporâneas”. Uma decoração com misturas e sem exageros não custa caro para quem tem um pouco mais de tem- po.AdicaéiràFeiradeSãoJoaquim e aproveitar da religiosidade que o espaço tem. “Tampas de cesto podem fazer referência à mandala, cordas de búzios, uma garrafa de pimenta colorida na cozinha são símbolos representativos de algumas reli- giões e custam barato”, indica o designer de interiores Ricardo Fer- reira. Brincar com as paredes tam- bém é comum. “Pinta um cantinho, coloca uma mesa e sua crença sobre ela”, sugere Ferreira. TENDÊNCIA Usadas com harmonia, peças religiosas reforçam a fé e levam beleza para dentro de casa Terra de todos os santos, decoração para todas as crenças PEÇAS RELIGIOSAS DECORAM COM ESTILO MISTURE Mescle estilos de peças diferentes, pequenas e grandes, para dar mais movimento à decoração. Caso o morador tenha mais de uma religião, a mistura deve ser feita dando destaque às duas crenças AMBIENTE Mantenha o equilíbrio na hora de decorar. Espalhar as peças ou montar um cantinho deve ser feito sem exagero. Procure uma decoração mais clean CORES O equilíbrio deve ser realizado também com as cores. Procure cores mais claras, como bege ou branco, e mescle com outras mais fortes. Use tons que se complementam, como azul e laranja ou vermelho e verde Imagem de Oxum, deusa da água doce, objeto de fé e decoração Ambiente inspirado no Oriente, criado por Ricardo e Zene Fereira Santos católicos decoram a casa de Sóstenes Brito

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Caderno de Imobiliário - Jornal A Tarde

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SALVADOR SÁBADO 29/3/2014 IMOBILIÁRIO 3

Fotos Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

PAULA MORAIS

Na Bahia, há uma igreja para cadadia do ano, como escreveu DorivalCaymmi em sua composição. Nãohá dados concretos que mostrem aquantidade de templos no estado,mas, segundo a Arquidiocese deSalvador, só na cidade são 372.

“Não é à toa que a Bahia é co-nhecida como a terra de todos ossantos”, brinca o professor de his-tória Sérgio Guerra. De acordo comele, o baiano leva a religião paradentro de casa.

Essa mistura de crenças, que con-tribuiu para a formação da iden-tidade baiana, também é comumna decoração. “A fé está enraizadano cotidiano baiano. Não é só umaquestão de sincretismo religioso, jáestá intrínseco em nossos costu-mes”, explica Guerra.

Em três cômodos, o designer Ri-cardo Ferreira juntou o budismo eo candomblé. As religiões se en-contram nas peças colocadas nochão e em cima da mesa, que aju-dam a compor a decoração das sa-las da sua casa.

No entanto, Ferreira pontua quea mescla foi realizada com sensatezpara que características das duasreligiões tivessem destaquesiguais. “Usei cores neutras comuma peça de cada crença em cormais forte para contrastar. Mistureiartefatos de diferentes tamanhospara dar movimento e quebrar opadrão”, conta o designer, que as-sinou o projeto com a sócia ZeneFerreira.

O respeito entre religiões dife-rentes deve existir também do la-do de fora da sala de Ferreira.“Infelizmente, há crenças que sãoexcluídas e desrespeitadas por ou-tras. A questão é que cada umateve e tem seu papel importantena Bahia”, pontua o professorGuerra.

Quando se mudou de Brotas pa-ra Ipitanga, o devoto de São JoséSóstenes Brito, 52, ganhou maisespaço para organizar as peças sa-cras antes guardadas em caixas. Namesa, na estante e próximo à portaestão as mais especiais. “É como sefosse o meu santuário”, fala.

Quando há uma grande quan-tidade de peças, o morador deveprocurar as mais queridas, é o queindica a arquiteta Juciana Freire.“Não desprezamos as outras, masé interessante trabalhar com fun-cionalidade e estética. Um espaçocom muitas peças dá sensação pe-sada de desconforto”.

Brito acredita que a exposição éuma forma de adoração e gosta demostrar às visitas a coleção. “A de-coração da minha casa é mais clás-sica, então, as peças sacras distri-buídas por diferentes espaços, porterem a mesma característica, seencaixam ao ambiente harmonio-samente”, aposta.

Adoração e equilíbrioSegundo Ferreira, embora não exis-ta regra para distribuir os objetosque vão decorar a casa, o exageropode fazer com que o morador en-joe mais rapidamente do espaço. Adesigner de interiores Laura Santosconcorda e prefere ambientes agre-gados. “Quando a decoração se es-palha, ela perde o contexto. Umadica é criar um cantinho de ado-ração. Não é uma regra, mas, vi-sualmente, o ambiente se tornamais interessante”, diz.

O equilíbrio, de acordo com osespecialistas, deve ser trabalhadoprincipalmente por meio de cores eiluminação. Laura Santos apostaem luzes diretas para destacar umaimagem ou um quadro, por exem-plo. Cores mais limpas, como o be-ge e branco, servem de base pararessaltar outra mais forte, segundoRicardo Ferreira.

“Mais uma vez sem se compro-meter com o exagero. É a misturaque causa o equilíbrio. O vermelhocomplementa o verde, o tom azulcombina com o laranja. Todas elasapresentadas com pastel ou outrascores mais cleans”, fala Laura.

A mescla entre cores mais fortese fracas, para Santos, quebra o queé padrão e traz um novo conceito aoambiente. “Prata ou ouro com tonsmais vibrantes, por exemplo. É oclássico ganhando destaque comcaracterísticas contemporâneas”.

Uma decoração com misturas esem exageros não custa caro paraquem tem um pouco mais de tem-po.AdicaéiràFeiradeSãoJoaquime aproveitar da religiosidade que oespaço tem.

“Tampas de cesto podem fazerreferência à mandala, cordas debúzios, uma garrafa de pimentacolorida na cozinha são símbolosrepresentativos de algumas reli-giões e custam barato”, indica odesigner de interiores Ricardo Fer-reira. Brincar com as paredes tam-bém é comum. “Pinta um cantinho,colocaumamesaesuacrençasobreela”, sugere Ferreira.

TENDÊNCIA Usadas com harmonia, peças religiosasreforçam a fé e levam beleza para dentro de casa

Terra de todosos santos,decoraçãopara todasas crenças

PEÇAS RELIGIOSASDECORAM COM ESTILO

MISTURE Mescle estilos depeças diferentes, pequenas egrandes, para dar maismovimento à decoração. Casoo morador tenha mais de umareligião, a mistura deve serfeita dando destaque às duascrenças

AMBIENTE Mantenha oequilíbrio na hora de decorar.Espalhar as peças ou montarum cantinho deve ser feitosem exagero. Procure umadecoração mais clean

CORES O equilíbrio deve serrealizado também com ascores. Procure cores maisclaras, como bege ou branco,e mescle com outras maisfortes. Use tons que secomplementam, como azul elaranja ou vermelho e verde

Imagem deOxum, deusa daágua doce, objetode fé e decoração

Ambienteinspirado noOriente, criadopor Ricardo eZene Fereira

Santoscatólicosdecoram acasa deSóstenes Brito