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Suplemento Encartado na Edição 1.521 – O Florense – 18 de maio de 2018 Flores da Cunha - 94 anos No início de 1876, um pequeno grupo de imigrantes italianos, fugidos da fome e do desemprego que atingiam o velho continente, desembarcaram na 15ª légua da Colônia Caxias, ou seja, na vila de Nova Trento. El paese de la cucagna fazia sucesso e no ano seguinte mais 30 famílias se estabeleceram na localidade. Em 1878, uma significativa leva de imi- grantes, alguns casados, outros viúvos e muitos com familiares na Itália, povoaram Nova Trento. Aqui, procuraram construir sua trajetória pessoal e profissional. Mais de 140 anos depois, Flores da Cunha continua sendo uma ‘terra de acolhida’. Com uma população estimada em 29.603 pessoas, conforme estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE), o município recebe muitos ‘estrangeiros’. Em 2012, uma leva de imigrantes haitianos aportou por aqui fugindo de um país devastado por terremotos e lembrando a trajetória italiana. Atualmente, do contingente de habitantes, 38,7% não são naturais do município. São com essas pessoas que o Jornal O Florense conversa nessa se- mana de aniversário – para saber sobre a vida e a história que eles construíram na Terra do Galo. Terra para todos CAMILA BAGGIO Eles escolheram Flores da Cunha para viver e construir suas histórias

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Suplemento Encartado na Edição 1.521 – O Florense – 18 de maio de 2018

Flores da Cunha - 94 anos

No início de 1876, um pequeno grupo de imigrantes italianos, fugidos da fome e do desemprego que atingiam o velho continente, desembarcaram na 15ª légua da Colônia Caxias, ou seja, na vila de Nova Trento. El paese de la cucagna fazia sucesso e no ano seguinte mais 30 famílias se estabeleceram na localidade. Em 1878, uma significativa leva de imi-grantes, alguns casados, outros viúvos e muitos com familiares na Itália, povoaram Nova Trento. Aqui, procuraram construir sua trajetória pessoal e profissional.

Mais de 140 anos depois, Flores da Cunha continua sendo uma ‘terra de

acolhida’. Com uma população estimada em 29.603 pessoas, conforme estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), o município recebe muitos ‘estrangeiros’. Em 2012, uma leva de imigrantes haitianos aportou por aqui fugindo de um país devastado por terremotos e lembrando a trajetória italiana. Atualmente, do contingente de habitantes, 38,7% não são naturais do município. São com essas pessoas que o Jornal O Florense conversa nessa se-mana de aniversário – para saber sobre a vida e a história que eles construíram na Terra do Galo.

Terra para todos

CAMILA BAGGIO

Eles escolheram Flores da Cunha para viver e construir suas histórias

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Flores da Cunha - 94 anos18 de maio de 2018 o florense2

expedienteTextos: Camila Baggio, Danúbia Otobelli e Larissa Verdi / Dia-gramação: Larissa Verdi / Comercialização de anúncios: Maria Cláudia Barcellos e Franciane Baseggio / Produção de anúncios: Chariel Rezende e agências / Gerência Comercial: Jean Brandão / Administrativo-Financeiro: Daniela de Vargas Lira / Editor: Fabiano Provin / Direção: Carlos Raimundo Paviani

Acesse: www.jornaloflorense.com.br

Flores da Cunha está em festa. Há 94 anos o município dava adeus a Colônia Caxias e declarava-se independente. Em maio de 1924, cansados das dependências políticas e econômicas do município mãe, os moradores deram início a diversos movi-mentos que clamavam por desmembramento da vila de Nova Trento – lembre-se que a troca de nome para Flores da Cunha ocorreu apenas em 1935. A briga foi tensa, afinal, Caxias não queria que um de seus distritos mais prósperos se emancipasse. Das primeiras tratativas até o grito de liberdade foram 14 anos. Foi em 17 de maio de 1924, após acordos políticos com o go-verno do Estado, que o capitão Joaquim Mascarello anunciou a emancipação política. Sete dias depois, em 24 de maio, era inaugurado oficialmente o município com Mascarello tomando posse como primeiro intendente (equivalente hoje ao cargo de prefeito). É por isso que a Semana do Município é sempre comemorada de 17 a 24 de maio.

O desenvolvimento econômico, movido por empresas dos mais diferentes segmentos, e populacional, garantiu uma Flores da Cunha próspera e detentora de títulos como ‘Maior Produtora de Vinhos do Brasil’. Atualmente tem uma população estimada em 29.603 pessoas, conforme estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para festejar essa trajetória de 94 anos, diversas atividades foram programadas. Na manhã e tarde de ontem, dia 17, uma atividade cívica e apresentações culturais abriram oficialmente a Semana do Mu-nicípio, que se estendem até as celebrações de Corpus Christi e contam com atividades paralelas, como as comemorações do Dia do Vinho.

Sábado, dia 19

9h – Caminhada do Maio Amarelo pelas ruas centrais com o tema Por um Trânsito mais Seguro.O que é: Flores da Cunha realiza o projeto Educação para o Trânsito, que atende aos alunos dos 3º anos das

escolas municipais e estaduais, por meio de palestras e aulas práticas sobre comportamento. Para envolver a comunidade, será realizada a caminhada pela Avenida 25 de Julho, entre as ruas Heitor Curra e Barros Cassal. Os alunos participantes entregarão panfletos e apresentarão os trabalhos desenvolvidos. Na Praça da Bandeira serão instalados os circuitos das escolinhas doados pela empresa Kopp Tecnologia, e também disponibilizados carrinhos eletrônicos para as crianças realizarem o circuito educativo.

10h – Inauguração do Parque Linear, no bairro São Pedro.O que é: a primeira etapa do espaço alternativo para recreação foi construída em mais de 2,7 mil metros qua-

drados de pavimentação em bloquetos de concreto com iluminação, acesso para pedestres e ciclistas, playground, academia ao ar livre, bicicletário, espaços de convivência, arborização e mobiliário urbano. Antes da construção do Parque Linear, residiam no local 80 famílias de forma irregular que passaram a morar nas unidades habita-cionais construídas no bairro União. Essa primeira etapa teve investimento de R$ 600 mil. Na segunda fase será construída uma passarela metálica sobre o Arroio Curuzu e a continuidade da ciclovia e da pista de caminhada.

Nos 94 anos, atrações culturais e gastronômicasFlores da Cunha comemora aniversário de emancipação com inaugurações, música e diversão

Programação multicultural

Hoje, dia 18

16h – Inauguração da nova sede do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), na Rua João XXIII, atrás da prefeitura, no Centro.

O que é: com investimento de R$ 336,4 mil, por meio de recursos do Ministério do De-senvolvimento Social e Agrário com contrapartida da prefeitura, o prédio objetiva melhorar o atendimento, além de reduzir custos com aluguel, pois a antiga sede ficava no bairro Aparecida.

19h – Circuito de Danças pelo Rio Grande, no Parque da Vindima Eloy Kunz, com apresentações dos grupos Tholl e Os Gaudérios. Entrada gratuita.

O que é: o evento reúne apresentações de Os Gaudérios – Grupo de Artes Nativas, com apresentação de dança tradicionalista, e do Tholl, com o espetáculo circense Cirquin. À noite serão comercializadas tábuas de frios, hambúrgueres gourmet, vinhos, sucos, espumantes e água. Haverá 200 cadeiras dispo-níveis, por isso a prefeitura, organizadora do evento, recomenda que o público leve bancos, cadeiras ou almofadas para melhor se acomodar.

thOLL/DIVULGAÇÃO

MAURÍCIO CONCAttO/DIVULGAÇÃO

PREFEItURA DE FC/DIVULGAÇÃO

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18 de maio de 2018o florense 3Flores da Cunha - 94 anos

Quarta-feira, dia 2319h – Ciclo de Palestras, no Espaço Cultural São José, com o tema História

Oral – Fundamentação Teórica, Preservação e Aplicabilidade, com a professora Gissely Lovatto Vailatti.

O que é: até o final de maio ocorre o 12º Ciclo de Palestras com o objetivo de fomentar a história e a cultura local. A taxa de inscrição para o ciclo completo é de R$ 15 para a comunidade e R$ 10 para membros da Associação dos Amigos do Museu. Mais informações no 3292.2777.

Quinta-feira, dia 2519h30min – Notte Vicentina, no restaurante Dolce Italia, na Escola de Gastrono-

mia da UCS. Programação do Circolo Vicentini di Flores da Cunha. Informações pelo telefone 9.9905.4221.

Domingo, dia 27Durante o dia – Festival de Vinhos e Gastronomia, na Praça da Bandeira, com

shows com grupo Ballo D’Italia, Irmãos Manzoni e Juliano, Jeann Brandão e The Beatles no Acordeon. Além de gastronomia, vinhos de empresas dos Altos Montes e Compassos da Mérica, Mérica.

Quarta-feira, dia 3019h – Ciclo de Palestras, no Espaço Cultural São José, com o tema Acervos

Museológicos, Critério de Aquisição, Descarte e Conservação, com frei Celso Bordignon.

Quinta-feira, dia 319h30min – Missa e procissão de Corpus Christi, no largo da Igreja Matriz.13h30min – 30ª Romaria Vocacional Frei Salvador Pinzetta.12h – Compassos do Menarosto, com almoço no restaurante do Parque da Vin-

dima. Ingressos e reservas pelo telefone 3292.1510.

Domingo, dia 3 de junho15h – Curso Básico de Degustação de Vinhos e Espumantes, na Praça da Ban-

deira, com inscrições gratuitas.16h – Show com Maicon e Pontel.

Fonte: Prefeitura de Flores da Cunha.

Domingo, dia 207h30min – Pedal do Vinho, passeio ciclístico pelo interior do município com saída na Praça da Bandeira. As inscrições são gratuitas (leia mais sobre o assunto na página

16 do Jornal O Florense).10h – 28º Magnar di Polenta, na comunidade de Santa Juliana, no distrito de Mato Perso.O que é: o tradicional evento de Mato Perso conta com missa festiva com o coral Santa Juliana e apresentações dos alunos da Escola Estadual Antônio de Souza Neto.

Ao meio-dia, é servido almoço com polenta ao molho, polenta frita, polenta mole, queijo frito, fortaia com salame, costela de porco, galeto, radicci com bacon, salada de batata, pão, sagu e vinho. À tarde tem show com grupo Girotondo e merendim (pinhão, pipoca, batata, vinho, chope e suco de uva). Informações pelos telefones 3026.6880, 9.9995.4536 ou 9.8401.5084.

14h – Ação do Centro de Atendimento ao Migrante de Caxias do Sul (Cam), na Praça da Bandeira, destinada à comunidade haitiana de Flores.14h30min – Tarde Festiva, na Praça da Bandeira, com início da Campanha do Agasalho, espetáculo do humorista e ilusionista Alvin Show, brinquedos infláveis, apresen-

tações musicais, food trucks, participação de empresas e entidades e mateada com erva-mate Ximango. Apoio da rádio Amizade 89,1 FM.16h – Bolo Simbólico pelos 94 anos de emancipação política de Flores da Cunha, na Praça da Bandeira.18h – Missa em talian em comemoração ao aniversário do município, na Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes.

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Flores da Cunha - 94 anos18 de maio de 2018 o florense4

Um apaixonado pelo turismo O carioca Douglas Coelho casou-se com uma florense, constituiu família e não tem pretensão de sair da Terra do Galo

Douglas Eggendorfer Coelho não sabe ao certo se foi o destino ou o acaso, mas

reside em Flores da Cunha há 18 anos.

Ele é paulista, mas foi criado no Rio de Janeiro, conhece todas as regiões do Brasil, já viajou por diversas partes do mundo, e esco-lheu Flores da Cunha para viver. O turismólogo e empresário Douglas Eggendorfer Coelho não sabe ao certo se foi o destino ou o acaso que o trouxe até aqui, mas adotou a cidade e aqui reside há 18 anos.

A história de Douglas tem tudo a ver com o turismo, pois ouviu falar pela primeira vez de Flores da Cunha a partir de uma visita que as soberanas da Fenavindima fizeram ao Rio de Janeiro, no início dos anos 1990. Na época, Andreia Carpeggiani era a rainha da festa, e o guia turístico resolveu que conheceria melhor a cidade assim que pudesse. “Porém, foi só em 1997, enquanto acompanhava um grupo em Caxias do Sul, que tomei coragem de procurar novamente a Andreia. Neste mesmo ano come-çamos a namorar”, conta.

Ele já era apaixonado pela região vitivinícola, mas teve mais mo-

tivos para permanecer, já que foi conquistado por Flores da Cunha de imediato. “Uma das primeiras coisas que fiz aqui foi subir no campanário, depois conheci o vale do Rio das Antas e me encantei ainda mais”, destaca, assumindo a paixão pela natureza.

Durante os três anos de namoro, Douglas morava no Rio enquanto trabalhava como guia turístico, viajando pelo mundo, e Andreia atuava como fisioterapeuta na sua cidade natal. Quando vinha para o Sul, ele rodava a região e fotogra-fava as belezas, já pensando em trazer mais turistas. O casamento ocorreu em 2000 e a decisão de onde iriam residir definitivamente não foi difícil, pois Douglas vis-lumbrava o potencial turístico de Flores. “As peculiaridades como o dialeto (hoje língua), a comida e principalmente as pessoas e seus valores me encantaram. Pensei: que Brasil é esse?”

Quando se estabeleceram, Dou-glas empreendeu e criou a Terra

Bela, agência de viagens com foco em receber turistas para co-nhecer a região. Influenciado por uma viagem que fez à Califórnia (EUA), em uma região de turismo de vinhos, ele projetou a ideia, inicialmente em Bento Gonçalves e depois em Flores da Cunha. “Os roteiros de enoturismo nasceram assim, e trabalho com eles até hoje. A maior inspiração para o meu trabalho é sem dúvida estar aqui.”

Aos 49 anos, Douglas fala com orgulho que o filho Caetano, de cinco anos, nasceu em Flores da Cunha. “Não temos pretensão de sair daqui, é um bom lugar para viver, além de ser uma região próspera”, enfatiza, destacando o crescimento da agência que também trabalha com emissivo, vendendo viagens a destinos do mundo inteiro. Apesar de ter sota-que carioca, Douglas se considera praticamente um florense pela família que aqui formou e pelos amigos que Flores da Cunha lhe proporcionou.

LARISSA VERDI

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18 de maio de 2018o florense 5Flores da Cunha - 94 anos

Flores da Cunha já não tem um único sotaque, não é mais majo-ritariamente formada por pessoas que têm na identidade o nome da cidade. Philipp Alfons Engeldrum, 79 anos, alemão do Vale do Reno, veio apenas para conhecer a região a qual tinha tido o conhecimento que era muito semelhante à Europa – resultado da imigração alemã e italiana. O retorno para casa nunca ocorreu. “Me contaram que o Sul do Brasil se assemelhava com Itália e Alemanha, o que me fez vir conhe-cer antes de voltar para casa. No caminho cruzei com a oportunidade de vir a Flores da Cunha e trabalhar na antiga Granja União. Quando vi a propriedade de mais de 100 hectares de vinhedos, que para um europeu é quase impensável, resolvi encarar o desafio”, conta.

Enólogo e técnico em viticultura formado na Alemanha, Philipp cresceu em uma região vitivinícola tradicional e de certa forma foi sua profissão que o trouxe ao Brasil em 1959, aos 22 anos de idade. “Desco-bri que, pela família da minha mãe, tínhamos descendentes no Brasil. Fiz contato e recebi o convite para visitá-los. No Espírito Santo eles tinham uma indústria de bebidas e como era minha área foi uma proposta e tanto. Contudo, eu não tinha a intenção de permanecer no Brasil, tinha iniciado recentemente um trabalho em uma multinacional de destilados e teria ali uma carreira próspera”, recorda-se Philipp, que embarcou em um navio e, após 18 dias, desembarcou em Vitória. O que ele não imaginava é que o retor-no para a Alemanha seria somente como visita.

Foi depois de uma pequena estadia no Espírito Santo que ele quis conhecer o Sul. O que era para ser apenas um passeio de turista se tornou seu futuro. “Depois da

oportunidade na Granja União e de estar, de certa forma, instalado em Flores da Cunha, recebi uma proposta para atuar na Cooperativa Vitivinícola Forqueta, em Caxias do Sul. Daí por diante foram diversas oportunidades em companhias quí-micas, atuando com a venda de de-fensivos agrícolas para a viticultura e produtos fitossanitários contra as doenças do arroz, trigo e soja. Po-rém, cansei de viajar pelo trabalho, então adquiri terras na comunidade de São Roque. Me orgulho de ter sido o primeiro pomicultor de maior escala de Flores da Cunha”, conta o alemão.

Marca em floresNão foram somente as oportuni-

dades de trabalho que mantiveram o alemão Philipp no Brasil. Em 1967 se casou com a florense Eludy Ignês Pedron, a Dica. “Vi aquela guria pela primeira vez na missa dominical. Ela era professora de inglês e francês e, juntos, fizemos parte dos pioneiros na elaboração dos tapetes de Corpus Christi em Flores. Também tínhamos uma área na propriedade rural dedicada exclusivamente a flores que eram doadas ao frei Salvador. Todas as sextas-feiras ele as recolhia, hábito que manteve até sua morte. Até hoje, muitas das flores do Eremi-tério foram plantadas por mim”, conta Philipp, orgulhoso. Eludy faleceu em 2003, “mas até hoje não me conhecem pelo meu nome, mas pelo alemão da Dica ou o alemão dos cachorros”, brinca.

Philipp atuou ainda na produção de hortifrutigranjeiros na Linha 80, venda de maçãs desidratadas para chá, estufas para secagem de madeiras e se orgulha em ter seu nome ligado a muitos fatores de desenvolvimento do municí-pio. “Doei a área para a praça da

comunidade da Linha 80 e vendi uma parcela da minha propriedade para a prefeitura, onde depois se instalou a Keko. Iniciei a ilumina-ção natalina nas casas e, apesar de ter nascido na Alemanha, sou tão brasileiro que sou o único florense que homenageia o país na Semana da Pátria, hasteando as bandeiras brasileira e alemã. Acredito que isso deveria servir de exemplo para os florenses”, admite ele sobre das zuhause, ou seja, o lar.

Em Flores Philipp estudou ita-liano, muito para se integrar à cultura local, além de participar das primeiras turmas da Escola de Gastronomia da UCS – Panificação e Sommelier. Em 2009 casou-se com Teresinha Panizzon, “una bella ragazza de Nova Pádua”, que deixa saudades, pois ela faleceu em de-zembro do ano passado. Voltar para a Alemanha não está nos planos de Philipp. Em junho tem passagem comprada para visitar os irmãos e parentes que vivem na terra natal, além de comemorar seu aniversá-rio de 80 anos. “Sou nascido na Alemanha; brasileiro de coração; gaúcho de corpo e alma; florense; tudo isso e mais um pouco. Já re-cebi inúmeras visitas da Alemanha que adoraram Flores da Cunha e elogiaram a receptividade, levando as melhores impressões daqui para terras alemãs”, conta.

De todo o orgulho florense, Philipp confessa um desejo: sente falta de ouvir o soar dos sinos da torre. “O campanário é nosso car-tão postal e há muito tempo não ouço todos os cinco respeitáveis sinos badalando. É um verdadeiro desperdício”, admite o alemão, que nutre a paixão pelas flores e pelos cachorros. “Já viu algum alemão que não gosta de flores? Eu vim até morar em Flores e ficarei aqui até morrer”, brinca.

‘Das zuhause’ de PhilippPhilipp Alfons Engeldrum deixou a Alemanha há quase 60 anos e adotou Flores da Cunha como seu ‘lar’

Alemão de naturalidade, mas florense de coração,

Philipp Alfons Engeldrum, 79

anos, com as bandeiras da

Alemanha e do Brasil.

CAMILA BAGGIO

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Flores da Cunha - 94 anos18 de maio de 2018 o florense6

É o sotaque que torna os atendimen-tos da médica Susel Berg Ruiz, 32 anos, diferentes na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Claudino Muraro, no bairro União. O agradável ‘portunhol’, um mesclado de palavras em espanhol e português, não atrapalha de forma alguma o entendimento dos pacientes, mas indica que a clínica-geral é uma florense ‘adotada’. Susel é natural de Santiago de Cuba, capital da província homônima situada no Leste do país e há oito meses se tornou uma moradora de Flores da Cunha. Ela veio ao Brasil por meio do programa Mais Médicos do governo federal e atua no Sistema Único de Saúde (SUS) desde então. Apesar de não ter escolhido o destino brasileiro, ela garante que está sendo muito bem acolhida e que já guarda a cidade no coração.

Susel é formada em Medicina pela Faculdade Nº 1 de Ciências Médicas de Santiago de Cuba, concluindo o curso em 2010. No último ano resol-veu encarar o desafio de integrar o programa brasileiro e, aprovada nas três etapas, desembarcou no Brasil em agosto de 2017. “São três provas, uma delas de português, com compreensão oral, além de relatar um atendimento e fazer um diagnóstico. Aprovada, recebi meu destino: Flores da Cunha. Aqui é tudo muito bom, é tranquilo, tudo está pertinho e as pessoas são muito legais. Está sendo uma experiência única, tan-to pessoal como profissional”, valoriza a médica.

Familiarizada com algumas gírias como gurias, Susel destaca, além do idioma, o clima como um dos aspectos mais deferentes entre os dois países. As temperaturas mais baixas desta semana mostraram que o inverno da cubana será diferente. “Em Cuba é todo o ano quente, minha província é bastante oriental e as temperaturas oscilam na

média dos 30°C de forma contínua. Nosso inverno é no máximo o frio des-ses dias”, conta. Na alimentação Susel disse não ter estranhado tanto, são “as mesmas comidas, mas preparadas de formas diferentes”.

A maior dificuldade está na saudade da família e dos dois filhos, de quatro e sete anos. Em breve ela vai para Cuba de férias e estuda trazer a família para Flores. “Tenho muita saudade deles, então vamos pensar nessa possibili-dade. Procuro falar com eles todos os dias por aplicativos da internet, mas ainda assim é difícil”, admite a mé-dica. O Mais Médicos tem convênio de três anos e Susel ainda não sabe se depois desse período voltará de forma definitiva para Cuba. “Fui muito bem recebida por todos aqui, pela Secretaria da Saúde e pela equipe que trabalha comigo, que nunca mediram esforços para me ajudar”, valoriza.

Antes de vir ao Brasil, a jovem atuou na saúde pública de Cuba, tem experiência em oftalmologia e também trabalhou por um período na Venezuela. Para ela, o acesso à saúde tem algumas diferenças entre Brasil e Cuba, mas de forma macro são semelhantes. “Em Cuba a saúde, bem como a maioria dos serviços, é gratuita. O funcionamento é semelhante ao SUS brasileiro, exis-tem as unidades básicas e, conforme a necessidade do paciente, é feito o encaminhamento. Estar aqui no Brasil é uma experiência profissional única, embora as doenças sejam as mesmas de Cuba, onde não são comuns aquelas patologias infectocontagiosas. O bom é que todos os dias se aprende uma coisa nova”, valoriza Susel.

Atualmente, Flores da Cunha conta com cinco profissionais do programa Mais Médicos, Susel e Marisol Ochoa Tamayo de Cuba, e outros três que são brasileiros.

Crescimento pessoal e profissionalA cubana Susel Berg Ruiz chegou a Flores da Cunha pelo programa ‘Mais Médicos’ e garante sentir-se em casa

A médica Susel Berg Ruiz está no município há oito meses e atua na UBS do bairro União. Ela avalia trazer os dois filhos de Cuba.

CAMILA BAGGIO

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18 de maio de 2018o florense 7Flores da Cunha - 94 anos

Um cantinho bem mineiro no Centro de Flores da Cunha. Na casa de Luciana Helena de Car-valho Carpeggiani, 46 anos, o café é passado na hora, e o bolo de massa delicada é servido sem cerimônia, já que visita se recebe com carinho. Ela mora em Flores da Cunha há três anos, e afirma que “aqui é o paraíso”. “Uma cidade tranquila, gostosa, onde as pessoas são queridas e a cultura é, de certa forma, semelhante com a minha”, destaca a mineira de Belo Horizonte.

Sua história com a cidade tem dois elos: o marido Sérgio Carpeggiani, que é florense, e a Escola de Gastronomia da UCS, onde fez cursos de especialização. “De cara eu adorei a cidade, a família do Sérgio que me recebeu super bem e também as pessoas que fui conhecendo”, conta. Para quem sempre viveu em uma capital, trocar a vida agitada por uma cidade pequena teve suas adaptações, mas as riquezas culturais e naturais ganharam toda a atenção da chef. “Eu gosto de trabalhar com ingredientes frescos, puros e naturais, e aqui encontro muitas coisas maravilhosas. Nada é melhor do que fazer algo para comer cheio de carinho”, enfatiza. Ela sempre trabalhou na área de eventos, música e gastronomia, e atualmente se dedica a ministrar

aulas de receitas selecionadas por ela, para quem quiser aprender.

O projeto ‘Cozinha que te Faz Bem’ vem ao encontro da sua formação e da vontade em com-partilhar conhecimento. Ela criou uma fanpage no Facebook e agenda as aulas com quem a procurar. “Montei um espaço na minha casa, e os florenses estão adorando as minhas misturas mineiras”, conta ela, orgulhosa. Luciana, que é vegetariana, acredita que as escolhas por uma alimentação consciente mudam a própria exis-tência. “Viver com qualidade de vida em uma cidade como esta é encantador. Aqui conheci sabores como o tortéi, que eu amo, e fico im-pressionada em poder fazer tudo o que preciso sem me deslocar de carro.”

Ela compara que residir em uma capital gera um gasto de tempo em deslocamento, citando o exemplo de ir a Caxias do Sul todos os dias para fazer coisas simples, como ir ao supermercado. As idas a Belo Horizonte são frequentes devido à filha, à mãe e irmãos que lá residem, mas sua casa hoje é Flores da Cunha. “Escolhemos viver aqui para termos mais tranquilidade, adoro o clima do Sul e essa cidade que me acolheu tão bem”, elogia.

“Aqui é o paraíso”A mineira Luciana Carpeggiani fez cursos de especialização emGastronomia, casou-se com um florense e diz que ama tortéi

Luciana Helena de Carvalho Carpeggiani elogia a riqueza cultural após trocar a vida agitada de uma capital por uma cidade pequena.

LARISSA VERDI

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Flores da Cunha - 94 anos18 de maio de 2018 o florense8

em flores da Cunha

19/5 – Sábado19h – Vinhos, Aromas e Sabores, no Casarão dos Vero-

nese. Contato: 3279.1092 ou [email protected].

20/5 – Domingo 7h30min – Pedal do Vinho, passeio ciclístico pelo interior

do município com saída na Praça da Bandeira.

Dias 20 e 27/5 e 3/612h às 15h – Almoço Italiano na Vinícola Monte Reale.

Contato: 3292.1011 ou [email protected].

26/5 – Sábado20h – Sequência de Fondue, na Vinícola Monte Reale.

Contato: 3292.1011 ou [email protected].

27/5 – Domingo11h30min às 18h – Festival de Vinhos e Gastronomia,

na Praça da Bandeira. Outras informações: 3279.3600 ou [email protected].

De 31/5 a 3/6– Corpus Christi e Romaria ao Eremitério do Frei Salva-

dor. No dia 31, missa e procissão pelos tapetes às 9h30min e romaria às 13h30min. Durante o dia, na Praça da Bandeira, show musical com o pianista Rodrigo Soltton. No dia 3, show com The Beatles no Acordeon (16h30min). Durante todos os dias, feira de vinhos e artesanato.

31/5 – Quinta-feira12h às 15h – Compassos do Menarosto, no Parque da

Vindima. Almoço com menarosto (assado das carnes de codorna, coelho, porco e frango), macarrão, polenta frita, saladas, sobremesas, vinho e suco de uva. Música, animação e jogos típicos. Contato: Jamur Mascarello – 9.9164.4719, 9.9694.4154 ou [email protected].

12h às 15h – Almoço Italiano na Vinícola Monte Reale (R$ 60). Contato: 3292.1011 ou [email protected].

De hoje, 18 de maio, a 3 de junho, o Dia do Vinho 2018 espalhará mais de 350 atra-ções simultâneas por 250 empreendimentos em cinco polos enoturísticos do país – Ser-ra, Campanha e Vale Central gaúchos, São Roque (SP) e Vale do Rio São Francisco (BA). Com uma ferramenta que permite refinar a busca por o que fazer, quando e onde, o site oficial diadovinho.com.br é o melhor caminho para quem deseja escolher e armar o próprio roteiro.

Entre os destaques deste primeiro fim de semana, em Flores da Cunha está o espetáculo circense do grupo Tholl e um passeio ciclístico que inclui vinícolas (leia nas páginas 2 e 3), além de uma feira de vinhos em Porto Alegre. Nesta 9ª edição do evento ocorrerão oficinas de espumantes da Indicação Geográfica (IG) dos Altos Montes (dia 24), ministrada pelo professor e doutor italiano Roberto Rabachino; e a Introdução ao Mundo do Vinho e Suas Harmonizações, a cargo do presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), o florense Edegar Scortegagna, dia 28, ambas na Escola de Gastronomia da UCS.

Dia do Vinho com programação especialMais de 350 ações ocorrem em quatro regiões do país, incluindo Flores da Cunha, o ‘Maior Produtor do País’

tAtIANA CAVAGNOLLI/DIVULGAÇÃO

Também em Flores da Cunha, município que é o maior produtor de vinhos do país, haverá festival de vinhos e gastronomia na Praça da Bandeira, além do ‘Compassos do Menarosto’, almoço com o Prato Típico da cidade, acompa-nhado de música, animação e jogos italianos (confira ao lado a programação). No dia 9 a secretária de Turismo de Flores, Fátima Ortiz, participou do lançamento oficial do Dia do Vinho em Santa Maria.