Em busca da autonomia e sustentabilidade das Terras Indígenas do ...
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TERRAS INDÍGENAS NO ACRE
O Brasil tem uma extensão territorial de cerca de 851 milhões de ha, ou seja,
8.547.403,5 km2. As Terras Indígenas do Brasil ocupam uma área de 991.498 km2 de
extensão, maior do que o território da França (543.965 km2) e da Inglaterra (130.423 km2)
juntos (www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/geo/terr_indig.html) ocupando cerca de
11,6% do território nacional (http://www.funai.gov.br/).
A diversidade e especificidade cultural dos índios e o seu direito à preservação dos
hábitos e das diferenças que os caracterizam é reconhecida oficialmente pela
Constituição Brasileira de 1988.
Embora os índios detenham a posse permanente e o "usufruto exclusivo das
riquezas do solo, dos rios e dos lagos" existentes em suas terras, conforme o parágrafo 2º
do Art. 231 da Constituição, elas constituem patrimônio da União. E, como bens públicos
de uso especial, as Terras Indígenas, além de inalienáveis e indisponíveis, não podem ser
objeto de utilização de qualquer espécie por outros que não os próprios índios
(www.funai.gov.br).
As Terras Indígenas são criadas pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e a
ocupação se dá com intuito de preservar o habitat e garantir a sobrevivência físico-cultural
dos grupos indígenas, sendo as terras indígenas legalmente destinadas à posse
permanente das comunidades que as ocupam.
A regularização das Terras Indígenas por meio da demarcação é de fundamental
importância para a sobrevivência física e cultural dos vários povos indígenas que vivem
no Brasil, por isso, esta tem sido a sua principal reivindicação. Outro aspecto a ser
mencionado, e que está em evidência nos dias atuais, é o fato de que a defesa dos
territórios indígenas garante a preservação de um gigantesco patrimônio biológico e do
conhecimento milenar detido pelas populações indígenas a respeito deste patrimônio. Por
exemplo, as sociedades indígenas da Amazônia conhecem mais de 1.300 plantas
portadoras de princípios ativos medicinais e pelo menos 90 delas já são utilizadas
comercialmente. Cerca de 25% dos medicamentos utilizados nos Estados Unidos
possuem substâncias ativas derivadas de plantas nativas das florestas tropicais. Por isso
a preservação dos territórios indígenas é tão importante, tanto do ponto de vista de sua
riqueza biológica quanto da riqueza cultural (www.funai.gov.br).
Vários passos devem ser seguidos até a regularização final de uma Terra Indígena.
É necessário identificar (levantamento ocupacional visando à definição dos limites da
área); registrar no cartório da Secretária de Patrimônio da União (SPU) e nos Cartórios de
Registros de Imóveis dos respectivos municípios sede, finalizando o processo de
regularização fundiária; demarcar a área (identificar através de marcos físico), e
homologar (confirmar oficialmente através da Presidência da República).
As Terras Indígenas do Estado do Acre fazem parte do Sistema Estadual de
Áreas Naturais Protegidas. Sendo que nos últimos 30 anos já foram reconhecidas 34
Terras Indígenas destinadas a quatorze povos. Essas correspondem a 2.390.112 ha
equivalente a 14,55 % da área do Estado (Figura1) com uma população estimada em 18
mil índios.
Figura 1. Terras Indígenas do Estado do Acre. Fonte: Geoprocessamento SEMA/IMAC.
Parte das Terras Indígenas do Acre constituem um mosaico contínuo de áreas
protegidas ao longo da fronteira internacional com o Peru, onde a biodiversidade está
protegida, o que exige atenção redobrada do poder público, bem como a continuidade das
articulações diplomáticas e do diálogo com as organizações Indígenas e de diferentes
movimentos da sociedade civil. A outra parte situa-se em áreas de influência das BRs 317
e 364.
Processos de reorganização territorial, cultural, econômico, político e social vêm
sendo realizados pelos povos Indígenas acreanos nos últimos 20 anos. A partir de 1988,
ocorreu um crescimento no número de associações Indígenas (17 criadas) fruto dos
movimentos Indígenas como fóruns, cursos de formação, inserção nas negociações com
órgãos oficiais, lideranças, professores, agentes de saúde e agentes agroflorestais
Indígenas.
Instrumentos de Gestão do território indígena acreano vêm sendo aplicados pelo
Poder Público Estadual a fim de garantir os direitos dos povos Indígenas. Como exemplo,
podemos citar a criação do Conselho Estadual Indígena – CEI (Lei Ordinária No. 1.492 de
19/02/2003); diversos Cursos de Formação tendo como destaque a formação de Agente
Agroflorestal Indígena; reconhecimento profissional dos Agentes Agroflorestais Indígenas;
Etnomapeamento e Etnozoneamento (estudo detalhado e participativo da Terra Indígena,
identificando áreas de pesca, de caça, e de outras riquezas naturais que podem ser
exploradas de forma sustentável) em Terras Indígenas, que servem como instrumentos
técnicos e políticos fornecendo aportes metodológicos e sociais para contribuir na gestão
territorial das Terras Indígenas. As Terras Indígenas Rio Gregório, Caucho,
Katutkina/Kaxinawa de Feijó, Colônia 27 e Caeté onde estão os povos das etnias
Yawanawa, Katukina, Kaxinawa, Shanenawa e Jaminawa já estão envolvidas com seus
etnozoneamentos, cujos estudos foram executados pela Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) e pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC).
O etnozoneamento consiste das seguintes etapas: articulação política, trabalho de
campo e oficinas, elaboração de diagnóstico, elaboração de prognóstico, confecção de
mapas, validação de documento perante as comunidades, elaboração de documento
síntese e plano de divulgação e recomendações.
Apoios devem ser garantidos quanto às ações de etnozoneamento e
etnomapeamento nas Terras Indígenas, tanto para sua realização como a sistematização
de seus resultados. O etnomapeamento, na forma de “planos de gestão ambiental e
territorial”, deve servir como subsídio às políticas que o governo estadual deverá
implementar nas respectivas Terras Indígenas, em iniciativas protagonizadas pelos
Agentes Agroflorestais, as comunidades e as organizações locais.
Por fim, outro compromisso que deve ser assumido pelo governo estadual diz
respeito à legitimação e à garantia da participação da sociedade civil nas negociações e
acordos que, em torno das temáticas da integração regional e do desenvolvimento
fronteiriço, estão em gestação junto ao Governo Federal Brasileiro e ao governo dos
departamentos vizinhos, no Peru. As demandas e os projetos indígenas devem ser
incorporados nas agendas e nas políticas governamentais. Estas, por sua vez, devem
priorizar investimentos na conservação da biodiversidade e na garantia dos direitos
territoriais, ambientais e sociais dos povos indígenas, tendo como ponto de partida, em
relação a esses povos e a seus territórios a definição, de medidas preventivas,
mitigadoras e/ou compensatórias dos “impactos” da construção de grandes obras de infra-
estrutura (como a Rodovia Transoceânica e a planejada Pucalpa - Cruzeiro do Sul).
Confira a seguir as Fichas Técnicas das Terras Indígenas no Estado do Acre de
acordo com dados da FUNAI (2005) e do ZEE Fase II (2006).
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDÍGENAS DO ESTADO DO ACRE
Terra Indígena Alto Purus
Etnia Kaxinawa/Kulina/Jaminawa Área (ha) 263.129,81
População 1.860
Situação Judicial
Registrada
Município Sede Santa Rosa do Purus/Manoel Urbano
Associação Povo Hunikuin do Alto Purus – APHAP Agroextrativista dos Kaxinawa – Novo Lugar
Terra Indígena Cabeceira do Rio Acre
Etnia Jaminawa
Área (ha) 78.512,58
População 238
Situação Judicial
Registrada
Município Sede Assis Brasil
Terra Indígena Campinas/Katukina
Etnia Katukina
Área (ha) 32.623,64
População 404
Situação Judicial Registrada
Município Sede Cruzeiro do Sul Associação Katukina do Campinas - AKAC
Terra Indígena Jaminawa/Envira
Etnia Kulina/ Ashaninka
Área (ha) 80.618,00
População 111
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Artesanato dos índios Kaxinawa.
Artesanato dos índios Apurinã.
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDÍGENAS DO ESTADO DO ACRE
Terra Indígena Jaminawa/Arara do Rio Bagé
Etnia Jaminawa/Arara
Área (ha) 28.926,00
População 196
Situação Judicial Registrada
Município Sede Marechal Thaumaturgo Associação Povo Jaminawa Arara (Chave do
Futuro)
Terra Indígena Jaminawa do Igarapé Preto
Etnia Jaminawa
Área (ha) 25.651,62
População 210
Situação Judicial Registrada
Município Sede Cruzeiro do Sul Associação Jaminawa e Jaminawa Arara da TI
do Igarapé Preto - AJJAIP
Terra Indígena Kampa Ashaninka/ Isolado do Rio Envira
Etnia Ashaninka/Isolados
Área (ha) 232.795,00
População 483
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Terra Indígena Kampa do Rio Amônia
Etnia Ashaninka
Área (ha) 87.205,40
População 450
Situação Judicial Registrada
Município Sede Marechal Thaumaturgo
Terra Indígena Kampa do Igarapé Primavera
Etnia Ashaninka
Área (ha) 21.987,00
População 21
Situação Judicial Registrada
Município Sede Jordão
Terra Indígena Katukina/Kaxinawa
Etnia Shanenawa/Kaxinawa
Área (ha) 23.474,04
População 708
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Associação Produtores Kaxinawa da Aldeia Paroá - APROKAP
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDÍGENAS DO ESTADO DO ACRE
Terra Indígena Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu
Etnia Ashaninka Kaxinawa
Área (ha) 31.277,00
População 400
Situação Judicial Registrada
Município Sede Marechal Thaumaturgo
Terra Indígena Kaxinawa da Colônia 27
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 105,17
População 70
Situação Judicial Registrada
Município Sede Tarauacá
Associação Organização dos Agricultores Kaxinawa da Terra indígena da Colônia 27 – AOKATI 27
Terra Indígena Kaxinawa/Igarapé do Caucho
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 12.317,89
População 531
Situação Judicial Registrada
Município Sede Tarauacá
Terra Indígena Kaxinawa do Baixo Rio Jordão
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 8.726,00
População 203
Situação Judicial Registrada
Município Sede Jordão
Terra Indígena Kaxinawa da Praia do Carapanã
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 60.698,00
População 485
Situação Judicial Registrada
Município Sede Tarauacá
Terra Indígena Kaxinawa do Rio Humaitá
Etnia Kaxinawa/Kulina
Área (ha) 127.383,56
População 287
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Terra Indígena Kaxinawa do Rio Jordão
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 87.293,80
População 920
Situação Judicial Registrada
Município Sede Jordão
Terra Indígena Kaxinawa Nova Olinda
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 27.533,40
População 247
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDIGENAS DO ESTADO DO ACRE
Terra Indígena Kulina do Rio Envira
Etnia Kulina
Área (ha) 84.364,61
População 257
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Terra Indígena Kulina do Igarapé do Pau
Etnia Kulina
Área (ha) 45.590,00
População 127
Situação Judicial Registrada
Município Sede Feijó
Terra Indígena Mamoadate
Etnia Manchineri/Jaminawa
Área (ha) 313.647,00
População 1105
Situação Judicial Registrada
Município Sede Assis Brasil/Sena Madureira
Terra Indígena Nukini
Etnia Nukini
Área (ha) 27.263,52
População 553
Situação Judicial Registrada
Município Sede Mâncio Lima
Associação Povo Indígena Nukini da República - AIN
Terra Indígena Poyanawa
Etnia Poyanawa
Área (ha) 24.499,00
População 403
Situação Judicial Registrada
Município Sede Mâncio Lima
Terra Indígena Rio Gregório
Etnia Yawanawa/Katukina
Área (ha) 92.859,75
População 574
Situação Judicial Registrada
Município Sede Tarauacá
Terra Indígena Alto Tarauacá
Etnia Isolado
Área (ha) 142.619,00
População 600
Situação Judicial Homologada
Município Sede Jordão/Feijó
Terra Indígena Kaxinawa do Seingal Independência
Etnia Kaxinawa
Área (ha) 11.463,00
População 138
Situação Judicial Área Dominial
Município Sede Jordão
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDIGENAS DO ESTADO DO ACRE
Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá
Etnia Arara
Área (ha) 86.700,00
População 275
Situação Judicial Registrada
Município Sede Porto Walter
Associação Povo Arara do Igarapé Humaitá - APAIH
Terra Indígena Nawa
Etnia Arara/Nukini/Jaminawa/Nawa
Área (ha) 60.000,00
População 258
Situação Judicial Em Identificação
Município Sede Mâncio Lima
Terra Indígena Riozinho do Alto Envira (Xiname velha)
Etnia Isolados/Ashaninka
Área (ha) 260.970,00
População 15
Situação Judicial Área Identificada
Município Sede Feijó
Terra Indígena Jaminawa do Rio Caeté
Etnia Jaminawa
Área (ha) 9.878,48
População 66
Situação Judicial A Identificar
Município Sede Sena Madureira
FICHA TÉCNICA DAS TERRAS INDIGENAS DO ESTADO DO ACRE
A maioria das Terras Indígenas no Brasil sofre invasões relacionadas à
mineradores, garimpeiros, pescadores, extração de areia, caçadores, madeireiras e
posseiros ou são cortadas por estradas, ferrovias, linhas de transmissão ou parte da área
inundadas por usinas hidrelétricas. Todos esses problemas podem levar os índios ao
afastamento de suas terras e até ao extermínio de suas tribos.
Terra Indígena Jaminawa do Guajará
Etnia Jaminawa
Área (ha) -
População 66
Situação Judicial Em Identificação
Município Sede Sena Madureira
Terra Indígena Kaxinawa do Seringal Curralinho
Etnia Kaxinawa
Área (ha) -
População 89
Situação Judicial Em Identificação
Município Sede Feijó
Terra Indígena Manchineri do Seringal Guanabara
Etnia Manchineri
Área (ha) -
População 92
Situação Judicial Em Identificação
Município Sede Assis Brasil
Terra Indígena Arara do Rio Amônia
Etnia Arara (Arara Santa Rosa)/Amawaka, Konibo,
Kampa, Txama, Kaxinawa
Área (ha) -
População 278
Situação Judicial Em Identificação
Município Sede Marechal Thaumaturgo
Existem alguns focos de conflitos e polêmica com Terras Indígenas, tais como:
sobreposição com Unidades de Conservação, desentendimento entre índios e militares,
exploração turística e jornalística, prostituição, entre outros.
É necessário esforços por parte do poder público e da sociedade civil em geral
para a construção efetiva de políticas públicas e de diálogo entre diferentes segmentos
sociais na implementação do desenvolvimento sustentável das Terras Indígenas. Um dos
desafios em torno da questão indígena é a consolidação de políticas sociais e de gestão
ambiental que estejam em harmonia com os saberes e tradições dos povos indígenas,
gerando condições de auto-gestão sobre seus territórios e recursos naturais.
Fotos: Arquivo Memorial dos Autonomistas.