Tese 15,6 MB

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Outubro 2012 O desenho e a arquitetura no espaço doméstico reabilitado. Estudo de casos de iniciativa pública em Lisboa e Oeiras. ANA PATRÍCIA DE MATOS MENDES MAYMONE Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em ARQUITETURA Júri Presidente: Prof. Doutora Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre Orientador: Prof. Nuno Maria Reis de Matos Silva Vogal: Prof. Doutor Vítor Manuel de Matos Carvalho Araújo

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Outubro 2012

O desenho e a arquitetura no espaço doméstico reabilitado.

Estudo de casos de iniciativa pública em Lisboa e Oeiras.

ANA PATRÍCIA DE MATOS MENDES MAYMONE

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

ARQUITETURA

Júri

Presidente: Prof. Doutora Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre

Orientador: Prof. Nuno Maria Reis de Matos Silva

Vogal: Prof. Doutor Vítor Manuel de Matos Carvalho Araújo

2 cm

2 cm

I

0.1. RESUMO

O presente trabalho, inscrito no âmbito da arquitectura, investiga sobre as tendências de desenho e

a evolução do espaço doméstico, servindo-se, como campo de estudo, de alguns casos inseridos nos

Programas de Habitação Jovem, situados em Lisboa e Oeiras, num contexto de reabilitação de centros

históricos.

Partindo da análise dos casos de estudo que foram disponibilizados, concretamente, dois projetos

da EPUL Jovem, em Alfama e na Lapa/Campo de Ourique, e sete da CMO (Câmara Municipal de Oeiras),

em Oeiras e Paço de Arcos, esta dissertação baseia-se num ensaio de enquadramento e numa

investigação sobre conceitos associados à perceção do espaço e à sua morfologia, nomeadamente os

abordados no livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem” de Francis D. K. Ching, sabendo, a priori,

que com eles concorrem outros temas do âmbito da habitação e da reabilitação, como sejam as “funções e

exigências dos espaços habitacionais”, exploradas por Nuno Portas, na publicação do LNEC de 1969,

“Funções e exigências das áreas de habitação”, e aspetos construtivos, que aqui serviram mais como

estimulo e “pano de fundo” do que como matéria central da investigação.

Este trabalho está organizado em três partes: a primeira carateriza e analisa os casos de estudo a

partir da sua observação in loco, nos desenhos rigorosos e nas memórias descritivas, sintetizando os seus

aspetos mais relevantes; a segunda, mais teórica, pesquisa sobre conceitos da perceção espacial e da

morfologia através da bibliografia encontrada, procurando compilá-los; e a terceira, mais prática, assume

como referência o livro de Francis Ching, baseando-se nas categorias que o autor estabelece na sua

abordagem à arquitetura e ao espaço, como mote para um ensaio e uma investigação sobre a forma.

Os casos de estudo são descritos e analisados no que diz respeito à sua inserção urbana, na

maneira como se relacionam com a envolvente; à sua situação prévia, o estado em que se encontram, ou

encontravam à data deste trabalho, o porquê da sua reabilitação e quais as suas tipologias e caraterísticas

marcantes; e ao projeto de alteração, referindo-se tanto as modificações propostas no exterior como no

interior, como as novas tipologias e distribuição dos fogos, a relação que se promove, ou não, entre o novo

e o velho, as opções morfológicas de projeto que se destacam, entre outros.

Na discussão de conceitos estuda-se a maneira como os diferentes elementos da arquitectura, da

sua percepção espacial e da sua morfologia (como sejam: a superfície, o plano, os elementos verticais, o

ritmo, a proporção, a cor, etc.) evoluíram na história, e como se expressam e influenciam, ou não, um

projeto de arquitectura.

A pesquisa também aflorou a evolução das exigências funcionais e das necessidades humanas no

espaço doméstico, não como centro do estudo, mas em atenção à interdependência deste aspeto num

projeto habitacional.

Por fim, focado nas matérias de desenho e partindo-se, então, do conteúdo do livro de Francis

Ching, recorre-se ao ensaio escrito e desenhado para investigar e discorrer sobre as diferentes opções de

projeto que surgem pelo estudo da forma (sem pretender por em causa as opções de projeto encontradas

pelos seus arquitetos, nem ter a menor pretensão das alternativas propostas serem melhores),

II

procurando-se demonstrar a sua aplicabilidade, num âmbito espacial e arquitetónico, ensaiando-se, para

isso, um leque de sugestões formais alternativas no condicionado contexto de reabilitação do espaço

doméstico para jovens, procurando assim demonstrar que nem uma nem outra destas condições se

afigura antagónica do exercício de imaginação, pelo contrário.

PALAVRAS-CHAVE: Perceção do Espaço, Morfologia, Reabilitação, Habitação Jovem.

III

0.2. ABSTRACT

The present work, inserted in the field of Architecture, investigates the tendencies of the design and

the evolution of the domestic space, using, as basis, case studies related to the Youth Housing

Programs, situated in Lisbon and Oeiras, in a scenario of rehabilitation of historical centers.

Starting from the analysis of the case studies made available, more precisely the two projects of “EPUL

Jovem”, in Alfama and Lapa/Campo de Ourique, and seven of the Oeiras City Council, in Oeiras and Paço

de Arcos, this dissertation is based on an essay of framing and an investigation of concepts associated with

the perception of space and its morphology, namely the ones mentioned in the book “Arquitectura:

Forma, espaço e ordem” from Francis D. K. Ching, knowing, beforehand, that alongside them run other

themes in the scope of habitation and rehabilitation, like the “functions and demands of the housing

spaces”, explored by Nuno Portas, in the 1969 LNEC’s article, “Funções e exigências das áreas de

habitação”, and constructive aspects, that would serve more as a stimulus and “background” than as the

main subject of the investigation.

This work is divided in three parts: the first characterizes and analyses the case studies from its

observation in loco, through the rigorous drawings and the descriptive memories, synthesizing its most

relevant aspects; the second, more theoretical, investigates about the concepts of space perception and

morphology, in the bibliography searched, aiming to compile them; and the third, more practical, assumes

as reference the book of Francis Ching, basing itself on the categories that the author establishes in its

approach to architecture and to space, as motto for an essay and an investigation about form.

The case studies are described and analyzed about what concerns their urban insertion, in what way

they relate to surroundings; about their previous situation, the shape they are in, or were at the time this

work was developed, the reason for their rehabilitation and what their most relevant typologies and

characteristics are; and about their alteration project, referring to the proposed modifications for the exterior

and interior, like the new typologies and apartments distribution, the relationship promoted, or not, between

new and old, the project’s most relevant morphologic options, among others.

In the concepts discussion, it is studied the manner in which the different elements of the architecture,

its spatial perception and its morphology (such as: the surface, the plan, the vertical elements, the rhythm,

the proportion, the color, etc.) have evolved along the years, and how they express themselves and

influence, or not, an architectural project.

The research also broached, to a lesser extent, the subject of the evolution of the functional demands

and human needs in the domestic space, not as a focal point of this study, but merely highlighting the inter-

dependence of this aspect in a housing project.

Lastly, focusing on the design issues and based, as mentioned, on the book of Francis Ching, the

author of this work resorts to drawing and written essays to investigate and discourse about the different

project options that arise through the study of the form (with no intention, whatsoever, of putting in check

the project options discovered by its architects, nor intending for the proposed alternatives to be seen as

better), trying to demonstrate its applicability, in a spatial and architectonic context, assaying, for that

IV

purpose, a myriad of alternative formal suggestions in the conditioned context of the rehabilitation of youth-

destined domestic space, aiming to demonstrate that neither one of these conditions presents itself as

antagonistic to the exercise of imagination, on the contrary.

KEY-WORDS: Spatial Perception, Morphology, Rehabilitation, Youth Housing.

V

0.3. AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio:

Ao meu orientador, o professor e arquiteto Nuno Matos Silva;

Ao arquiteto João Rego da EPUL Jovem, e à própria EPUL;

À arquiteta Ana Martins, ao arquiteto Pedro Carrilho e ao engenheiro João Freire da Câmara

Municipal de Oeiras, e à própria Câmara Municipal de Oeiras;

À minha família e amigos, nomeadamente à minha mãe, à minha irmã e às minhas avós;

E aos portugueses que, mesmo num cenário de grave crise económica, ajudaram, ainda que

indiretamente, através dos seus impostos, a que eu prosseguisse no meu percurso escolar e realizasse

esta dissertação.

VI

VII

ÍNDICE GERAL

LISTA DE TABELAS E FIGURAS IX

1.0. INTRODUÇÃO

1.1. OBJECTIVOS 1

1.2. PROBLEMÁTICA 1

1.3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 5

1.4. ESTADO DA ARTE 5

2.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR DESCRITIVO E ANALÍTICO

2.1. ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO URBANA DE LISBOA 9

2.2. EPUL: LISBOA A CORES 10

2.2.1. ALFAMA 10

2.2.1.1. CASO AF1: ESCADINHAS DE SANTO ESTEVÃO 17

2.2.2. LAPA A CAMPO DE OURIQUE 25

2.2.2.1. CASO LP1: RUA DOMINGOS SEQUEIRA 27

2.3. PLANO ESTRATÉGICO HABITAR OEIRAS 35

2.4. HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS 36

2.4.1. CENTRO HISTÓRICO DE OEIRAS 37

2.4.1.1. CASO OE1: RUA DAS ALCÁSSIMAS 39

2.4.1.2. CASO OE2: RUA CÂNDIDO DOS REIS 49

2.4.1.3. CASO OE7: RUA CÂNDIDO DOS REIS 55

2.4.1.4. CASO OE8: RUA DA COSTA 67

2.4.2. CENTRO HISTÓRICO DE PAÇO DE ARCOS 69

2.4.2.1. CASO PA1: AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES 71

2.4.2.2. CASO PA2: RUA COSTA PINTO 77

2.4.2.3. CASO PA4: RUA COSTA PINTO 85

3.0. DISCUSSÃO DE CONCEITOS

3.1. ESPAÇO: A ESSÊNCIA DA ARQUITETURA 91

3.2. A MORFOLOGIA E A PERCEÇÃO DO ESPAÇO 92

3.3. NOÇÃO DE “HABITAR” E DE ESPAÇO DOMÉSTICO 112

3.4. NECESSIDADES HUMANAS E EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS 112

3.5. NÍVEIS DE INTERVENÇÃO 115

3.6. CRITÉRIOS PARA A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS INTERIORES 116

VIII

3.7. OS JOVENS 117

3.7.1. ÁREAS MÍNIMAS: TIPOLOGIAS TO E T1 117

3.7.2. ADAPTABILIDADE 117

3.7.3. ACESSIBILIDADE 118

3.7.4. ECONOMIA 118

4.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR SOBRE A FORMA

4.1. FORMA, ESPAÇO E ORDEM: APLICAÇÃO DE CONCEITOS AOS CASOS DE ESTUDO 121

5.0. CONCLUSÕES 149

6.0. BIBLIOGRAFIA 151

IX

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

FIGURA AF.1. LOCALIZAÇÃO DE ALFAMA (MAPAS DO GOOGLE) 11

FIGURA AF.2. ENVOLVENTE DA IGREJA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA;

FERREIRA, V. MATIAS – LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS

CONTEXTO, 1992) 12

FIGURA AF.3. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO EM ALFAMA (MAPAS DO GOOGLE) 15

FIGURA AF.4. RUA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA; FERREIRA, V. MATIAS –

LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 16

FIGURA AF.5. ADRO DA IGREJA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA; FERREIRA, V.

MATIAS – LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 16

FIGURA AF1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 17

FIGURA AF1.2. CONJUNTO DO LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 17

FIGURA AF1.3. LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 17

FIGURA AF1.4. ENFIAMENTO DO LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 18

FIGURA AF1.5. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 18

FIGURA AF1.6. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0, 1, 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 19

FIGURA AF1.7. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 20

FIGURA AF1.8. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 20

FIGURA AF1.9. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS

CEDIDAS PELA EPUL) 20

FIGURA AF1.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 21

FIGURA AF1.11. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1, 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA

AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 22

FIGURA AF1.12. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 23

FIGURA AF1.13. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 23

FIGURA LP.1. BASÍLICA DA ESTRELA (IN ALVES, MARIA PAULA; INFANTE, SÉRGIO –

LISBOA: FREGUESIA DA LAPA – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 25

FIGURA LP.2. LOCALIZAÇÃO DA LAPA (MAPAS DO GOOGLE) 25

X

FIGURA LP.3. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO (MAPAS DO GOOGLE) 26

FIGURA LP1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 27

FIGURA LP1.2. RUA DOMINGOS SEQUEIRA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 27

FIGURA LP1.3. FACHADA FRONTAL (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 27

FIGURA LP1.4. PORMENOR DA FACHADA FRONTAL (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 28

FIGURA LP1.5. ALÇADO FRONTAL (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS

CEDIDAS PELA EPUL) 28

FIGURA LP1.6. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 28

FIGURA LP1.7. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 29

FIGURA LP1.8. PLANTA PRÉVIA DO PISO TIPO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 29

FIGURA LP1.9. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS

CEDIDAS PELA EPUL) 30

FIGURA LP1.10. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 30

FIGURA LP1.11. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 31

FIGURA LP1.12. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 31

FIGURA LP1.13. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 32

FIGURA OE.1. LARGO 5 DE OUTUBRO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37

FIGURA OE.2. IGREJA MATRIZ (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37

FIGURA OE.3. PALÁCIO DO EGIPTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37

FIGURA OE.4. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37

FIGURA OE.5. LOCALIZAÇÃO DOS IMÓVEIS DO PROGRAMA HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS

DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS (MAPAS DO GOOGLE) 38

FIGURA OE1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 39

FIGURA OE1.2. CONJUNTO VISTO DA RUA DAS ALCÁSSIMAS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 39

FIGURA OE1.3. FACHADA DE CONJUNTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 40

FIGURA OE1.4. Nº 28/30 VISTO DA RUA DA COSTA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 40

FIGURA OE1.5. DESENHO DA PORTA DO Nº38 (DESENHO DA AUTORA) 42

XI

FIGURA OE1.6. DESENHO DO MOSAICO ROMANO (DESENHO DA AUTORA) 42

FIGURA OE1.7. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO RUA DA COSTA (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 43

FIGURA OE1.8. ALÇADO LATERAL PRÉVIO RUA DAS ALCÁSSIMAS (1:250) (DESENHO DA

AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 43

FIGURA OE1.9. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44

FIGURA OE1.10. PLANTA PRÉVIA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44

FIGURA OE1.11. PLANTA PRÉVIA DO PISO 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44

FIGURA OE1.12. ESTUDO DE COR: MODELAÇÃO (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO

JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 45

FIGURA OE1.13. ESTUDO DE COR: ALÇADO FRONTAL (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO

JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 45

FIGURA OE1.14. ESTUDO DE COR: ALÇADO DO ANEXO (IN CMO – PROGRAMA DE

HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO,

2008) 45

FIGURA OE1.15. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45

FIGURA OE1.16. ALÇADO LATERAL PROPOSTO DO ANEXO (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45

FIGURA OE1.17. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO DO ANEXO (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45

FIGURA OE1.18. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 46

FIGURA OE1.19. ALÇADO LATERAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 46

FIGURA OE1.20. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47

FIGURA OE1.21. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47

FIGURA OE1.22. PLANTA PROPOSTA DO PISO 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47

FIGURA OE2.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 49

FIGURA OE2.2. LARGO 5 DE OUTUBRO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 49

XII

FIGURA OE2.3. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 49

FIGURA OE2.4. FACHADA FRONTAL DEGRADADA (FOTOGRAFIA DA CMO) 50

FIGURA OE2.5. ESBOÇO DA PLANTA TIPO PRÉVIA (SEM ESCALA) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 50

FIGURA OE2.6. ESBOÇO DO ALÇADO LATERAL PRÉVIO (SEM ESCALA) (DESENHO DA

AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 50

FIGURA OE2.7. FACHADA FRONTAL ARRANJADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 51

FIGURA OE2.8. FACHADA LATERAL ARRANJADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 51

FIGURA OE2.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 52

FIGURA OE2.10. CORTES CD E EF PROPOSTOS (SEM ESCALA) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 52

FIGURA OE2.11. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53

FIGURA OE2.12. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53

FIGURA OE2.13. ALÇADO LATERAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53

FIGURA OE2.14. PÁTIO (FOTOGRAFIA DA CMO) 53

FIGURA OE2.15. ENTRADA (FOTOGRAFIA DA CMO) 54

FIGURA OE2.16. COZINHA (FOTOGRAFIA DA CMO) 54

FIGURA OE2.17. INTERIOR (FOTOGRAFIA DA CMO) 54

FIGURA OE7.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 55

FIGURA OE7.2. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 55

FIGURA OE7.3. CONJUNTO VISTO DA RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56

FIGURA OE7.4. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56

FIGURA OE7.5. PÁTIO INTERIOR (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56

FIGURA OE7.6. DESENHO DA FACHADA VISTO DA RUA CÂNDIDO DOS REIS (DESENHO DA

CMO) 57

FIGURA OE7.7. PORMENOR DA FACHADA (DESENHO DA CMO) 57

FIGURA OE7.8. FACHADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 58

FIGURA OE7.9. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 58

FIGURA OE7.10. PLANTA PRÉVIA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 60

FIGURA OE7.11. PADRÃO DA FACHADA (DESENHO DA AUTORA) 60

XIII

FIGURA OE7.12. DESENHO PRÉVIO DO PÁTIO (DESENHO DA CMO) 61

FIGURA OE7.13. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62

FIGURA OE7.14. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62

FIGURA OE7.15. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62

FIGURA OE7.16. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 63

FIGURA OE7.17. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 64

FIGURA OE8.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 67

FIGURA OE8.2. FACHADA DE CONJUNTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 67

FIGURA OE8.3. PLANTAS (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS

PELA CMO) 68

FIGURA OE8.4. ALÇADOS (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS

PELA CMO) 68

FIGURA PA.1. RUA COSTA PINTO (FOTOGRAFIA DA CMO) 69

FIGURA PA.2. LOCALIZAÇÃO DOS IMÓVEIS DO PROGRAMA HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS

DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS (MAPAS DO GOOGLE) 69

FIGURA PA.3. PALÁCIO DOS ARCOS (FOTOGRAFIA DA CMO) 70

FIGURA PA.4. JARDIM MUNICIPAL (FOTOGRAFIA DA CMO) 70

FIGURA PA.5. CHAFARIZ (FOTOGRAFIA DA CMO) 70

FIGURA PA.6. FORNOS DE CAL (FOTOGRAFIA DA CMO) 70

FIGURA PA1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 71

FIGURA PA1.2. AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 71

FIGURA PA1.3. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (FOTOGRAFIA DA CMO) 72

FIGURA PA1.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 72

FIGURA PA1.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 73

FIGURA PA1.6. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS

CEDIDAS PELA CMO) 73

FIGURA PA1.7. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

XIV

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 73

FIGURA PA1.8. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (FOTOGRAFIA DA CMO) 74

FIGURA PA1.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 74

FIGURA PA1.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75

FIGURA PA1.11. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75

FIGURA PA1.12. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75

FIGURA PA1.13. SALA KITCHENETTE (FOTOGRAFIA DA CMO) 76

FIGURA PA1.14. SALA KITCHENETTE (FOTOGRAFIA DA CMO) 76

FIGURA PA1.15. I.S. (FOTOGRAFIA DA CMO) 76

FIGURA PA1.16. INTERIOR DO SÓTÃO (FOTOGRAFIA DA CMO) 76

FIGURA PA2.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 77

FIGURA PA2.2. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO JOVEM

NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 77

FIGURA PA2.3. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0 E 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 78

FIGURA PA2.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 79

FIGURA PA2.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 80

FIGURA PA2.6. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS

CEDIDAS PELA CMO) 80

FIGURA PA2.7. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 80

FIGURA PA2.8. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO

JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 81

FIGURA PA2.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0 E 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 82

FIGURA PA2.10. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,

COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 83

FIGURA PA2.11. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 84

FIGURA PA2.12. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

XV

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 84

FIGURA PA2.13. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO)

84

FIGURA PA4.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 85

FIGURA PA4.2. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO JOVEM

NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 85

FIGURA PA4.3. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 85

FIGURA PA4.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 86

FIGURA PA4.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 87

FIGURA PA4.6. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS

IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 87

FIGURA PA4.7. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO

JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 88

FIGURA PA4.8. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 88

FIGURA PA4.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM

BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 89

FIGURA PA4.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 90

FIGURA PA4.11. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE

NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 90

FIGURA DC.1. PLANTA DA BASÍLICA DE S. PEDRO, DE MICHELANGELO, E TRÊS DISTINTAS

INTERPRETAÇÕES DELA (IN ZEVI, BRUNO – SABER VER A ARQUITETURA – SÃO PAULO:

MARTINS FONTES, 1984) 91

FIGURA DC.2. INDÍCIOS DE PROFUNDIDADE: VESTÍBULO DA ASSEMBLEIA DE CHANDIGAN (IN

CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II –

LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 98

FIGURA DC.3. IGREJA DE IMATRA, ALVAR AALTO (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA

DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 100

FIGURA DC.4. CASA DA CASCATA, F. L. WRIGHT (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA

DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 101

FIGURA DC.5. TALLESIN WEST, F. L. WRIGHT (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA DA

XVI

ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 102

FIGURA DC.6. MESQUITA SULEYMANIYE (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA,

ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 103

FIGURA DC.7. UNIDADE DE HABITAÇÃO, FRANÇA, LE CORBUSIER (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 103

FIGURA DC.8. RESIDÊNCIA GWATHMEY, NOVA IORQUE, GWATHMEY & ASSOCIADOS (IN

CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI,

12ª EDIÇÃO, 2000) 104

FIGURA DC.9. II REDENTOR, VENEZA, ANDREA PALLADIO (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 104

FIGURA DC.10. DETALHE DO SANTUÁRIO IZUMO, JAPÃO (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 105

FIGURA DC.11. EDIFÍCIO EM VINCENT STREET, LONDRES, SIR EDWIN LUTYENS E BANCO

FUKUOSA SOGO, ARATA ISOZAKI (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y

ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 106

FIGURA DC.12. TAJ MAHAL (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y

ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 106

FIGURA DC.13. RUA EM WOODSTOCK, INGLATERRA E CASA DE VIDRO, CONNECTICUT,

PHILIP JOHNSON (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN –

MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 107

FIGURA DC.14. SOFÁ (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN –

MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 107

FIGURA DC.15. CASA NA COSTA DE MASSACHUSETTS, STUBBINS (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 108

FIGURA DC.16. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE TOURETTE, FRANÇA, LE CORBUSIER (IN

CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI,

12ª EDIÇÃO, 2000) 108

FIGURA DC.17. CASA DAS BODAS DE PRATA, POMPEIA (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 109

FIGURA DC.18. PREFEITURA DE SHIMANÉ, JAPÃO (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA:

FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 109

FIGURA DC.19. CASA AMÉDÉE OZENFANT, PARIS, LE CORBUSIER (IN CHING, FRANCIS –

ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 110

FIGURA DC.20. CASA KAUFMANN (OU DA CASCATA), F. L. WRIGHT 111

QUADRO 1_LISTA DE FUNÇÕES E ATIVIDADES DA HABITAÇÃO (IN PORTAS, NUNO – FUNÇÕES

E EXIGÊNCIAS DE ÁREAS DE HABITAÇÃO – LISBOA: LNEC, 1969) 113

XVII

FIGURA AC.1. (DESENHO DA AUTORA) 122

FIGURA AC.2. (DESENHO DA AUTORA) 123

FIGURA AC.3. (DESENHO DA AUTORA) 123

FIGURA AC.4. (DESENHO DA AUTORA) 124

FIGURA AC.5. (DESENHO DA AUTORA) 125

FIGURA AC.6. (DESENHO DA AUTORA) 125

FIGURA AC.7. (DESENHO DA AUTORA) 125

FIGURA AC.8. (DESENHO DA AUTORA) 125

FIGURA AC.9. (DESENHO DA AUTORA) 126

FIGURA AC.10. (DESENHO DA AUTORA) 127

FIGURA AC.11. (DESENHO DA AUTORA) 127

FIGURA AC.12. (DESENHO DA AUTORA) 128

FIGURA AC.13. (DESENHO DA AUTORA) 128

FIGURA AC.14. (DESENHO DA AUTORA) 129

FIGURA AC.15. (DESENHO DA AUTORA) 131

FIGURA AC.16. (DESENHO DA AUTORA) 132

FIGURA AC.17. (DESENHO DA AUTORA) 132

FIGURA AC.18. (DESENHO DA AUTORA) 133

FIGURA AC.19. (DESENHO DA AUTORA) 135

FIGURA AC.20. (DESENHO DA AUTORA) 135

FIGURA AC.21. (DESENHO DA AUTORA) 136

FIGURA AC.22. (DESENHO DA AUTORA) 136

FIGURA AC.23. (DESENHO DA AUTORA) 137

FIGURA AC.24. (DESENHO DA AUTORA) 137

FIGURA AC.25. (DESENHO DA AUTORA) 138

FIGURA AC.26. (DESENHO DA AUTORA) 138

FIGURA AC.27. (DESENHO DA AUTORA) 139

FIGURA AC.28. (DESENHO DA AUTORA) 139

FIGURA AC.29. (DESENHO DA AUTORA) 139

FIGURA AC.30. (DESENHO DA AUTORA) 140

FIGURA AC.31. (DESENHO DA AUTORA) 141

FIGURA AC.32. (DESENHO DA AUTORA) 141

FIGURA AC.33. (DESENHO DA AUTORA) 141

FIGURA AC.34. (DESENHO DA AUTORA) 142

FIGURA AC.35. (DESENHO DA AUTORA) 142

FIGURA AC.36. (DESENHO DA AUTORA) 142

FIGURA AC.37. (DESENHO DA AUTORA) 143

XVIII

FIGURA AC.38. (DESENHO DA AUTORA) 143

FIGURA AC.39. (DESENHO DA AUTORA) 144

FIGURA AC.40. (DESENHO DA AUTORA) 145

FIGURA AC.41. (DESENHO DA AUTORA) 145

FIGURA AC.42. (DESENHO DA AUTORA) 145

FIGURA AC.43. (DESENHO DA AUTORA) 146

FIGURA AC.44. (DESENHO DA AUTORA) 146

FIGURA AC.45. (DESENHO DA AUTORA) 147

FIGURA AC.46. (DESENHO DA AUTORA) 147

FIGURA AC.47. (DESENHO DA AUTORA) 147

FIGURA AC.48. (DESENHO DA AUTORA) 148

1

1.0. INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVOS

Pretende-se com este trabalho analisar, sob o ponto de vista da arquitectura, alguns casos

inseridos nos Programas de Habitação Jovem, localizados em Lisboa e Oeiras, como campo de

investigação sobre tendências de desenho e evolução do espaço doméstico, num quadro de

reabilitação dos centros históricos.

Como campo de estudo objecto de medidas e práticas arquitectónicas contemporâneas, a

análise destes casos faculta material suficientemente representativo para sobre eles questionar, e

tentar sistematizar, diversos aspectos da problemática envolvida, como sejam a evolução das

exigências funcionais na habitação, as eventuais alterações de paradigmas arquitectónicos

expectáveis considerando a população alvo os jovens, ou o sentido e eficácia dos programas de

habitação a eles destinados, no quadro da reabilitação urbanística e arquitectónica observada.

Considerando a arquitectura uma síntese de aspectos formais, funcionais e construtivos, e

encontrando-se este tema bem munido de todos eles, esta investigação tende porém a centrar-se em

questões porventura menos debatidas em reabilitação, onde predominam preocupações construtivas,

focando o seu objecto de estudo nos aspectos formais e de percepção espacial, identificados e

analisados nos casos de estudo dos Programas de Habitação Jovem, ainda que concomitantemente

estendendo a sua atenção à evolução dos aspectos funcionais.

Pretende-se assim escrutinar os casos seleccionados sob o ponto de vista da morfologia e da

configuração espacial, no quadro das conhecidas reabilitações, questionando sobre os seus princípios

e condicionantes, as alterações de usos e funções, a especificidade e expectativas do seu grupo alvo,

tendo em atenção à interdependência entre estes diversos fatores.

Focando-se, então, numa pesquisa sobre a morfologia e a perceção espacial, este trabalho

procura investigar e discorrer sobre as diversas opções de projeto observáveis num contexto de

investigação formal, e testar o exercício da imaginação num contexto tão condicionado como o da

reabilitação do espaço doméstico para jovens, justamente uma faixa etária e uns destinatários

historicamente abertos à inovação.

1.2. PROBLEMÁTICA

A eleição do campo de estudo, baseado em casos de Programas de Habitação Jovem, decorreu

da curiosidade inicial sobre a evolução arquitectónica do espaço habitacional, à qual se pretendeu

juntar outro tópico contemporâneo de arquitectura, o da reabilitação. Encontrou-se ainda, na eleição

como destinatários os jovens, oportunidade para a isto agregar a análise de eventuais correlações

entre o debate da arquitectura e a dinâmica social desta população alvo, testando percas e ganhos

nestes territórios de contingência, teoricamente favoráveis à inovação e experimentalismo.

Assim, ao abordar temas que reúnem tópicos como a habitação, a reabilitação e os jovens, não

se estará, garantidamente, a centrar-se apenas em problemáticas onde existem motivos de

contemporaneidade, como também em campos significativamente transversais em relação às matérias

abordadas no curso, havendo assim pretexto para o seu questionamento no quadro de aplicações

concretas, supostas bandeiras de iniciativa municipal.

2

De facto, sendo a habitação um dos temas de sempre e de agora, a reabilitação um tema da

maior actualidade, e os jovens a camada social onde a sociedade habitualmente projecta as maiores

expectativas de mudança, ganha alguma pertinência estudar, sobre o ângulo da arquitectura, os casos

que se conhecem na área metropolitana de Lisboa, dirigidos a estes três pontos.

Uma primeira nota que sobre eles pode ser dita é que, embora existindo e envolvendo

consideráveis recursos e alguma divulgação, estes casos não se afiguram tão numerosos quanto se

poderia esperar ou, dito de outra forma, não se apresentam quantitativamente significativos face às

carências observadas, às recomendações estabelecidas e aos objectivos delineados.

Numa segunda nota destacaríamos o facto dos elementos disponíveis sobre estas obras serem

maioritariamente documentos das relações públicas municipais, não se conhecendo estudos de

natureza profissional ou académica sobre os mesmos, ou inserção em revistas da especialidade ou

actas de conferências. Percebe-se assim que as apresentações destes projectos e obras inseridas

nesses documentos de divulgação municipal sejam de natureza sumária e simplificada, e apenas

detalhada quanto a indicadores urbanísticos como o nº de fogos, áreas ou recursos financeiros

investidos, o que sendo sem dúvida relevante, não deixa de ser um pouco lateral ao objecto central

desta investigação.

Pelo contrário, neste trabalho de um curso de arquitectura, julgou-se mais interessante abordar

estes mesmos casos sob pontos de vista específicos da arquitectura, como sejam a morfologia e a

funcionalidade. Se do ponto de vista do programa dificilmente se encontraria desafio mais estimulante,

quais as respostas que a arquitectura soube encontrar face a tais oportunidades? Assim, o centro da

atenção deste trabalho passa por uma investigação no âmbito da morfologia e da perceção espacial,

mantendo-se como “pano de fundo” uma outra, referente às novas exigências funcionais.

Da pesquisa bibliográfica efetuada inicialmente, constatou-se que existem poucos estudos que

abranjam, conjuntamente, a morfologia (associada à percepção e configuração do espaço) e as

exigências funcionais. Ambos os assuntos têm sido investigados, contudo, geralmente em separado,

sendo o mais explorado, e sobre o qual existem mais estudos, o segundo tema.

Porém, conforme sugere Arnheim (1977:208) “… a função física não basta para determinar a

forma…”, pelo que o estudo desta não se esgota na análise da função. Também Consiglieri (1994:33)

refere que a resposta que as exigências funcionais procuram dar à arquitectura “… objectiva as

necessidades do ser humano, mas limita-se a problemas de ordem biológica e fisiológica…”, não

abarcando “… a total resolução das necessidades e dos interesses humanos.”

Já quanto ao pano de fundo subjacente à reabilitação nos centros históricos, tenha-se em linha

de conta que segundo os dados do INE (2001), devido à perda de habitantes que Lisboa sofreu nos

últimos anos, estimam-se cerca de 240.000 pessoas, ficaram, aproximadamente, 40.000 fogos

devolutos, e a população da cidade envelheceu significativamente.

Numa tentativa de travar esta “fuga” de pessoas do centro para a periferia, a reabilitação de

edifícios antigos, classificados ou não, surgiu como uma alternativa à construção nova. Conforme

refere Aguiar (1997), “… por toda a Europa e crescentemente em Portugal, a reabilitação tornou-se

uma prática corrente e um conceito aplicável não só (já) ao património urbano e arquitectónico

tradicional mas também ao parque edificado ainda recente que, pela sua deficiente qualidade

3

construtiva e urbanística, sofre de inesperadas deficiências e rejeição face ao seu curto tempo de

vida.”

A reabilitação revela-se, assim, um forte tema da actualidade, a par da sustentabilidade.

Por sua vez, o tema da habitação emerge com recorrente naturalidade na medida em que, como

relembra Coelho (cit. in Vasconcelos, 2010:5), a casa define-se como um abrigo, pois “… é nela que

nos recompomos, como pessoas isoladas e como grupo familiar, face às pressões, aos problemas e às

contingências da vida exterior (…) ela é o principal local onde se desenvolve, sempre gradualmente a

nossa individualidade e formação pessoal; é nela que podemos encontrar espaço e condições para a

tão necessária privacidade e para todos os grandes e pequenos objectos que constituem o nosso

mundo pessoal.” Assim sendo, e conforme Vasconcelos (2010:5), a casa revela-se como um espaço

de definição pessoal, que deve garantir o conforto, a segurança, e o bem-estar; que influencia o ser

humano, positiva ou negativamente; e que deve ser pensado de modo adequado.

Valente (1984:5) sugere que as maneiras de viver, os hábitos e as necessidades estão em

constante mudança, evoluindo num ritmo acelerado, o que implica um permanente reajustamento entre

os modos de vida e a habitação que os alberga. Segundo a mesma autora, as alterações operam-se

ao nível dos gostos, do estar, e dos valores que definem e regem a vida do dia-a-dia, como por

exemplo nas diferenças da estrutura familiar actual, em que o papel da mulher como dona de casa tem

vindo a desaparecer, com a sua sucessiva independência, o que se reflectiu no modo de pensar e

projectar a casa.

A habitação é um tema pertinente quando associado à reabilitação e à morfologia pois, e de

acordo com Valente (1984:3), “… habitar é um facto antropológico, inerente ao próprio Homem,

permanente, mas dependente na sua organização e forma, nos seus valores simbólicos, da conjuntura

geral de cada época. Habitar é permanente mas a habitação desactualiza-se.”

Por sua vez, a atenção que dentro desta problemática poderá caber à habitação jovem justifica-

se na medida em que, seguindo a tendência do mundo ocidental, e de acordo com os dados do INE

(2001), a estrutura familiar em Portugal está em mudança: o número de famílias de maior dimensão

está a decrescer, dando lugar às famílias com uma ou duas pessoas. Justifica-se ainda pelo facto de

alguns profissionais, como Pedro Carrilho, arquiteto responsável pelo departamento de projetos

especiais da CMO, defenderem que os jovens são um motor de revitalização dos centros históricos,

promovendo paralelamente à reabilitação, o desenvolvimento de novos serviços, como atividades

ligadas ao lazer e ao comércio.

No que respeita aos programas de apoio e financiamento à aquisição ou arrendamento deste

tipo de habitação destaca-se o “Porta 65 jovem”, de âmbito estatal e que visa a atribuição de auxílio

monetário a jovens entre os 18 e os 30 anos (podendo, no caso de um casal, um deles ter até 32

anos), isolados, constituídos em agregado ou em coabitação, que tenham casa arrendada mas não

aufiram das condições necessárias para pagar a renda na sua totalidade.

No entanto, o financiamento à aquisição e arrendamento de habitação jovem não se limita aos

programas de apoio estatais, tendo-se descoberto alguns incentivos por parte de câmaras municipais,

como seja a da Amadora.

Dentro da área metropolitana de Lisboa encontraram-se iniciativas de habitação jovem apenas

de cariz público ou em associação com empresas privadas. No decurso da investigação, para além

4

dos incentivos e apoios financeiros já referidos, surgiram alguns programas de habitação jovem em

que a própria câmara ou empresa pública são os seus promotores.

Quanto a estes programas, de habitação jovem promovida por organismos públicos, existem

projectos de construção nova e outros dedicados à reabilitação. Os terrenos ou edifícios são

geralmente pertença do estado ou das câmaras, e a maioria dos projectos são elaborados por

funcionários desses organismos. São exemplos dessa política a EPUL Jovem, as câmaras municipais

de Loures, de LX, de Odivelas, e de Oeiras, entre outros.

Nos casos da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e em

parte da EPUL Jovem, o investimento realizado tem incidido sobretudo na reabilitação do parque

habitacional, enquanto nas outras câmaras, como a de Loures e a de Odivelas, esse esforço financeiro

tem sido orientado para a construção nova.

Visto esta investigação dedicar-se a situações de reabilitação, seleccionaram-se os casos da

EPUL Jovem e os da câmara municipal de Oeiras, sendo os primeiros habitações para venda e os

segundos para arrendamento.

A escolha destes casos prende-se com o facto de Oeiras ser o município com o maior registo de

população jovem, enquanto Lisboa, sendo a capital do país, enfrenta o problema de uma população

muito envelhecida.

Dentro dos casos de Lisboa, optou-se pelos da EPUL, que tem uma tradição de construção para

jovens, e que por isso mesmo tem nos seus quadros um grande departamento dedicado em exclusivo

ao assunto: a EPUL Jovem. Para além disso, os casos referentes à iniciativa particular da CML eram

principalmente dispersos, correspondendo a fogos soltos e não a edifícios inteiros reabilitados.

Em relação à EPUL Jovem, o seu principal objetivo era a fixação de população jovem em

Lisboa, seduzindo-a com preços apelativos, percebendo a importância de “… outro tipo de ocupantes

cujas necessidades têm muitas vezes sido esquecidas pela oferta corrente no mercado de habitações

novas, como por exemplo os casais jovens (…) que poderão preferir habitações mais pequenas, mais

fáceis de manter e mais económicas.” (Aguiar e al., 1997). Assim, estes jovens poderiam saborear a

vivência da cidade, apaixonarem-se por ela e fixarem-se nos seus centros. Primeiramente, a EPUL

dedicou-se a produzir construção nova, mas rapidamente se apercebeu da importância de investir na

reabilitação.

O Programa Habitação Jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras, levado a cabo pela

Câmara Municipal de Oeiras, consolida assim a importância que têm estes dois factores conjugados

para o desenvolvimento das cidades. E porque “esta tendência relaciona-se com o retomar da ideia do

centro da cidade e das suas áreas históricas como lugar privilegiado para habitar…” (Aguiar e al.,

1997), a Câmara de Oeiras considerou que o melhor elemento para dinamizar estes centros seria os

jovens.

Então, a originalidade deste trabalho prende-se não só na abordagem de temáticas do âmbito da

arquitectura, como a morfologia, a configuração do espaço e a perceção ou as exigências funcionais,

mas também no seu objecto de estudo: os programas de habitação jovem.

Projectar habitações com qualidade é fundamental, e dirigi-las para os jovens parece ser vital

para a reabilitação e revitalização dos centros históricos, daí que se tenha elegido como casos de

estudo desta problemática, os projectos e obras de iniciativa pública que se encontraram na área

5

metropolitana de Lisboa, inseridos em “programas de habitação jovem”, num quadro de reabilitação

dos centros históricos.

1.3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

O presente trabalho segue uma abordagem diferente da tradicional, pois parte primeiro de uma

pesquisa, observação e descrição dos casos de estudo, enquadrados no âmbito pretendido, iniciando

só depois uma investigação mais teórica e refletiva sobre as temáticas envolvidas. Por fim, ensaia,

através dos conhecimentos adquiridos, alternativas formais às opções encontradas nos projetos,

tirando conclusões e apontando caminhos.

Assim sendo, e munido de ferramentas indispensáveis como a observação in loco e a pesquisa

bibliográfica, este trabalho segue a seguinte estrutura:

1. Descrição dos casos de estudo;

2. Enumeração e debate das questões teóricas levantadas pela observação efetuada;

3. Reapreciação dos casos de estudo à luz dos conhecimentos obtidos, ensaiando-se

alternativas formais às opções encontradas nos projetos;

4. Conclusões.

A observação in loco baseia-se no levantamento e recolha de exemplos, e no apontamento de

informação retirada no local, tal como os registos fotográficos.

Nesta investigação, a observação in loco representa uma dificuldade, pois ainda existem poucos

edifícios reabilitados no âmbito dos jovens, visto a maioria se encontrar em fase de construção ou

apenas em projecto. Nestes casos a recolha de informação é realizada junto dos arquitectos e outros

profissionais intervenientes no programa, e baseia-se nas intenções dos projectistas, na sua óptica das

necessidades dos jovens e nas suas memórias descritivas.

A pesquisa bibliográfica tem como fim a identificação e análise de documentos referentes ao

tema em estudo, e ao esclarecimento de conceitos importantes em relação à percepção espacial, ao

desenho e à morfologia, ao habitar e às exigências funcionais, ao estudo dos hábitos e necessidades

dos jovens, ao uso/função do espaço e à sua relação com os hábitos deste público-alvo.

Por outro lado, e mais relacionada com os casos em estudo, a pesquisa incide sobre: Programas

de intervenção e reabilitação dos centros históricos; contexto histórico, socioeconómico e urbanístico

dos locais de intervenção; e peças escritas e desenhadas sobre os projetos em estudo.

Para uma melhor análise dos casos de estudo entre si, houve a necessidade de uniformizar os

métodos de representação, de forma a conseguir obter comparações viáveis.

Por fim, a investigação formal desenvolve-se a partir de um ensaio escrito e desenhado de

alternativas de cariz morfológico e espacial, por aplicação dos conceitos estudados.

1.4. ESTADO DA ARTE

Durante a década de 60 o LNEC, através da investigação de Nuno Portas, iniciou um longo

estudo sobre o habitar residencial, visando encontrar valores físicos, valores de espaço e de projecto,

capazes de reflectir o modo como a população vive e se acomoda à sua residência, tendo em linha de

conta uma forte preocupação com a evolução dos núcleos familiares, dos seus hábitos e gostos. Este

estudo culminou anos depois com a publicação do “Inquérito à habitação urbana” (1984) de Luz

6

Valente Pereira e Mª Amélia Gago. Na base deste estudo esteve um inquérito feito a uma parte

representativa dos moradores dos bairros de Alvalade, Benfica e Olivais.

No que concerne à definição das exigências de desempenho do espaço residencial foram

desenvolvidos diversos estudos tais como “Exigências humanas no âmbito da habitação”

(Blachére, 1966), “Funções e exigências de áreas de habitação” (Portas, 1969), “Exigências

funcionais das habitações” (Gomes, 1971) e “Exigências humanas na construção” (D’Havé,

1976). Nestas publicações exploram-se critérios de apoio ao projecto residencial, partindo da definição

e caracterização das necessidades humanas, nas suas vertentes fisiológica, psicológica e social, e

abordando questões de segurança, conforto e satisfação.

Em “A dinâmica da forma arquitectónica” (Arnheim, 1977), o autor explora a arquitectura

através da análise do espaço, da noção de vazio e dos elementos que o definem. Para tal, interpreta

as dualidades presentes no processo de criação de um espaço, como sejam: vertical/horizontal;

simetria/assimetria; dentro/fora; concavidade/convexidade; ou percepção/realidade.

Em 1979, também Francis D. K. Ching analisa a conceção do espaço e a sua forma, estudando

os seus princípios geradores, a sua organização e circulação, e conceitos como proporção e escala, na

primeira edição do seu livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem”.

Mais tarde, com o livro “Saber ver a arquitectura” (Zevi, 1984), exploraram-se as noções de

arquitectura e de espaço através da análise dos métodos de representação, da evolução ao longo do

tempo, e das suas diversas interpretações.

O “Manual do inquiridor” (CML, 1988), é um suporte fundamental para quem pretende

desenvolver um estudo baseado numa estrutura de inquéritos ou questionários, pois ajuda a definir

variáveis, a elaborar perguntas claras e directas, e apoia na elaboração, preparação e planeamento do

trabalho até à fase de aplicação.

Nos anos 80 foi publicado um estudo que desenvolveu uma nova teoria de análise do espaço, a

análise sintáctica. “The social logic of space” (Hillier, Hanson, 1984) sugere um conjunto de

diferentes formas de representação do espaço, e a partir delas inferir as relações sociais inerentes.

Mais tarde, um dos autores desenvolveu um outro estudo, “Decoding homes and houses”

(Hanson, 1998), onde explora as relações entre os vários espaços/compartimentos da casa e a sua

organização espacial com as actividades/funções que se desenrolam em cada espaço, através da sua

caracterização física e social.

Entretanto foi editado pelo LNEC um conjunto de três volumes intitulado “Análise e avaliação

da qualidade arquitectónica residencial” (Coelho, 1993).

O primeiro volume, “Áreas do estudo e seus antecedentes”, menos interessante para o

estudo a desenvolver, remete-nos para o enquadramento e caracterização do objecto de estudo.

No segundo volume, “Rumos e factores de análise”, o autor define os factores de qualidade

que caracterizam as necessidades humanas já mencionadas: acessibilidade, adaptabilidade,

apropriação, integração, atractividade, comunicabilidade, domesticidade, espaciosidade, capacidade,

privacidade, convivialidade, funcionalidade, agradabilidade, durabilidade e segurança.

Por fim, no terceiro e último volume, reeditado com o nome “Do bairro e da vizinhança à

habitação” (1998), são definidos os diferentes níveis físicos da habitação: envolvente da área

residencial, vizinhança alargada, vizinhança próxima, edifício, habitação e espaços e compartimentos.

7

Baseado em estudos anteriores, “A morfologia da arquitectura” (Consigliere, 1994), consiste

em dois volumes onde o autor explora/estuda diferentes abordagens à evolução da forma e dos seus

elementos, definidores do espaço, desde a forma gestáltica, à forma topológica e à fenomenológica.

Para tal, utiliza como base de análise, projectos realizados entre 1920 e 1970, pertencentes ao

Movimento Moderno, nomeadamente dos seguintes arquitectos: Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e

Alvar Aalto.

O livro “O homem e a casa” (Cabrita, 1996) contribui para o esclarecimento dos conceitos de

habitar e de qualidade, analisando para tal as necessidades, individuais e colectivas, do acto de habitar

e as ligações que se estabelecem entre o indivíduo e a sua família e a casa.

A investigação na área da reabilitação do património habitacional tem-se baseado

essencialmente sobre a renovação urbana e o planeamento, e sobre a reabilitação estrutural. O livro

“Guião de apoio à reabilitação de edifícios habitacionais” (Aguiar, Cabrita, Appleton, 1997),

dividido em dois volumes, explora para além dos tópicos acima referidos outros relacionados com a

reabilitação dos interiores, como a redefinição tipológica e a reorganização espacial.

O tema da habitação evolutiva tem um contributo importante para a compreensão e definição do

conceito de adaptabilidade, nomeadamente o estudo “Habitação evolutiva e adaptável” (2003), de

Baptista Coelho e Reis Cabrita, onde se exploram as ideias de ampliação e subdivisão da residência

como formas de adaptação às novas necessidades, evolutivas, dos seus moradores.

De todos os trabalhos de investigação encontrados poucos tratam a questão da reabilitação e do

espaço doméstico por um dos pontos de vista particulares da arquitectura: a morfologia/desenho do

espaço, a sua percepção espacial e os ambientes interiores, para além das exigências funcionais, de

satisfação e de conforto. Também nos estudos analisados detectou-se uma preocupação com o geral

da população, das famílias, raramente se particularizando num público específico, com características

próprias, como seja os jovens e os idosos.

8

9

2.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR DESCRITIVO E ANALÍTICO

2.1. ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO URBANA DE LISBOA

Em Abril de 2011, a CML aprovou um projeto de delimitação da área de reabilitação urbana com

a fundamentação constante na “Estratégia de Reabilitação para Lisboa 2011-2024” (CML, 2011).

Deste documento constam: definição de conceitos e de objetivos a atingir; identificação de

entidades participantes; enumeração das medidas, implementadas e por implementar; propostas

legislativas; entre outras.

Várias e diferentes são as matérias abordadas neste documento, mas para o estudo em causa

importa perceber em que medida a habitação para jovens consiste ou não numa prioridade estratégica

da CML, e em que moldes.

Por outro lado, interessa-nos enquadrar e compreender particularmente a ação da EPUL e a sua

participação neste processo.

A CML (2011:13) tem a intenção de “reabitar a cidade” e “rejuvenescer o centro de Lisboa”,

criando para o efeito um Fundo Municipal de fogos para arrendar, em que “os imóveis se destinarão a

alienação e, ou, arrendamento acessível para jovens” (CML, 2011:31).

Segundo este documento da CML (2011:39), na história lisboeta “têm variado as estratégias de

reabilitação urbana e ações levadas a cabo na tentativa de recuperar o seu património arquitetónico”,

sendo que hoje em dia os princípios de intervenção são mais complexos, “não se limitando à

intervenção no edificado ou no seu espaço público, mas procurando dar resposta, para além das

questões culturais, aos problemas sociais, económicos, de mobilidade, numa perspetiva sustentada e

integrada das intervenções com o objetivo de regenerar a cidade”.

Entre 1986 e 1990, a CML criou os Gabinetes Técnicos Locais (GTL), com maior proximidade à

população, criando “uma dinâmica de intervenção local com uma estrutura organizacional própria,

promovendo em consequência uma gestão integrada” (CML, 2011:39).

Os “resultados positivos” obtidos pelos GTL levaram ao alargamento das suas áreas de acção,

pelo que em 1992 criaram-se “instrumentos legislativos especiais para estes bairros, declarando-os

como ACRRU 1 – áreas críticas de reconversão e recuperação urbana” (CML, 2011:39).

Em 2003, a par de uma política de intervenção coerciva, lançaram-se concursos públicos para a

realização de empreitadas no que concerne à consolidação estrutural, conservação e recuperação de

edifícios públicos e/ou privados, nomeadamente nos bairros de Alfama e Madragoa. Neste âmbito,

houve a “transferência de edifícios municipais para a EPUL reabilitar” (CML, 2011:40).

De acordo com o documento da CML (2011:41) a que nos temos vindo a referir, a EPUL deveria

ter criado programas de reabilitação, como o “Lisboa a cores”, com o objetivo de recuperar o conjunto

edificado transferido da CML para a EPUL, através de parcerias com os privados. Dos noventa e dois

edifícios que a EPUL deveria ter reabilitado entre 2002 e 2006, apenas cinco foram reabilitados (CML,

2011:41).

Assim sendo, os resultados da EPUL ficaram aquém do esperado “porque, financeiramente, a

operação de reabilitação não era economicamente viável” (CML, 2011:41), tendo ficado ainda em pior

estado, um edificado por si só já degradado.

10

Nesta altura criaram-se três Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU), apesar de hoje em dia

apenas a SRU Ocidental permanecer em funções.

O documento em questão contempla o Programa de Intervenções Prioritárias de Reabilitação

Urbana (PAPIRU), assim como contrapartidas pela construção do casino de Lisboa e os apoios do

QREN, como meios de financiamento para a reabilitação da cidade.

A leitura deste documento permitiu entender que as limitações económicas são condicionantes

importantes na elaboração dos projetos subjacentes aos programas públicos, e que o arrendamento

jovem constituiu, num dado momento, uma forte aposta da CML para a revitalização dos centros

históricos.

2.2. EPUL: LISBOA A CORES

No final do século passado, mais precisamente em 1996, a CML canalizou para a EPUL, de que

é acionista maioritária, uma anunciada aposta na construção nova dedicada a jovens, procurando

contrariar o efeito de envelhecimento da cidade, através da criação de soluções atractivas do ponto de

vista económico e de localização. Nascia, assim, a EPUL Jovem.

A partir de 2002, a EPUL ficou responsável pela reabilitação de um vasto conjunto de edifícios,

pertencentes à Câmara Municipal de Lisboa, que estavam em avançado estado de degradação.

“Temos que parar com esta Lisboa a preto e branco…” foi o slogan adotado para a criação de

três programas de reabilitação urbana: Lisboa a cores; Repovoar Lisboa; e Alfama - quem ama cuida.

O programa, cujos projetos serão alvo de estudo neste trabalho, é o “Lisboa a cores”.

Segundo a EPUL, que mantém um local de presença na internet em www.epul.pt, o programa

“Lisboa a cores” consiste num investimento público, ou em parceria com o privado, de reabilitação de

edifícios municipais. A EPUL coloca à disposição do promotor um conjunto de cinco/seis edifícios, dos

quais três/quatro se destinam à comercialização e dois, devolvidos à autarquia, ao realojamento. “Dos

edifícios recuperados, os previamente destinados à comercialização são constituídos pela EPUL em

propriedade horizontal e as respetivas frações vendidas preferencialmente a arrendatários, ocupantes

a título precário ou jovens até 35 anos” (www.epul.pt). Apesar da Estratégia de reabilitação urbana de

Lisboa referir agora o arrendamento jovem como prioritário, a EPUL já se tinha anteriormente

dedicado, maioritariamente, à venda dos fogos reabilitados a jovens, através de concurso público.

O conjunto edificado está disperso por diversos bairros históricos da cidade, tais como Ajuda,

Alfama, Bairro Alto, Bica, Campo de Ourique, Lapa, Mouraria, Santa Catarina e São Bento.

Sendo o objeto de estudo desta investigação centrado em projetos de reabilitação, a EPUL

cedeu informação sobre dois casos: um edifício nas Escadinhas de Santo Estevão, em Alfama, e outro

na Rua Domingos Sequeira, na Lapa, ambos da autoria do Arq. João Rego.

2.2.1. Alfama

De acordo com a CML, que mantém outro local de presença na internet em www.revelarlx.cm-

lisboa.pt, Alfama remonta ao tempo dos mouros, sendo por isso o bairro mais antigo de Lisboa.

Através da análise da carta geológica do concelho, constata-se a existência nessa zona de um

grupo de nascentes termais associadas a uma falha geológica, que corta as camadas do Miocénico.

11

A sua toponímia está, por isso, associada à existência no local de fontes termais de água

quente, e deriva do árabe al-hamma, que significa “banhos ou fontes de água boa”.

Segundo Calado (1992:27), entre os séculos II e V a.C., os romanos já aqui tinham criado um

núcleo de lazer ligado ao aproveitamento das águas termais, sendo que “estas águas quentes e

sulfúreas que brotavam naturalmente foram o primeiro elemento agregador de povoamento…” (Calado,

1992:27). Contudo, e apesar de todas as atividades associadas aos banhos termais, os romanos

nunca se fixaram no local como núcleo urbano.

Só no séc. VIII, aquando da conquista da cidade pelos muçulmanos, Alfama conheceu um maior

crescimento. “Os mouros reorganizaram a cidade (…) Lixbuna em função de um novo enquadramento

económico, cultural e social” (Calado, 1992:28), consolidando, naturalmente, a ocupação que se vinha

a assistir entre o Castelo e o rio, mercê da crescente importância desses dois polos de atividade.

José Augusto França (1997:9) refere inclusive que, com a ocupação muçulmana, “… a urbe

romana desapareceu (…) e os restos dela foram empregues como material agora detetado em

fortificações que rodearam as áreas habitadas, protegendo-as das surpresas dos inimigos. Assim,

muito provavelmente nasceu a “cerca velha”, ou “cerca moura.” O autor refere também que “dentro da

cerca e fora dela, (…) uma população já computada (…) dedicava-se ao comércio e à agricultura, em

hortas ou “almoinhas” limítrofes, com casas que se multiplicavam em ruelas estreitas e becos…”

Nesta linha sugere Calado (1992:29), que as famílias aristocratas hospedaram-se na colina de

Alfama, arrabalde da cidade já consolidada dentro da “cerca velha”, que ia do castelo ao rio. Durante o

domínio muçulmano, a Alfama encontrava-se dividida entre Alfama do Alto, situada dentro da “cerca

moura” e onde habitava a aristocracia, e Alfama do Mar, de carácter popular.

A sua ligação à cidade estabelecia-se a sul, ao longo da margem do rio, ou a partir de duas

portas principais: a de S. Pedro e a do Sol. “Como bairro arrabaldino, Alfama era também ponto de

ligação entre a cidade e o campo” (Calado, 1992:29).

Isto encaixa-se com o que Lamas (2004:151) diz sobre a formação das cidades medievais,

prevenindo que poderão ter tido origens distintas, entre elas, “… as antigas cidades romanas que

Alfama

Figura AF.1. Localização de Alfama

12

permaneceram, ou que, tendo sido abandonadas, são posteriormente reocupadas…”, o que aconteceu

no caso de Lisboa, alternando entre os vários domínios bárbaro (visigótico), romano, muçulmano e

cristão.

Este autor (2004:152) esclarece que, nesta época, “gradualmente, novos conceitos de desenho

vão tomando lugar: abandona-se a escala monumental das cidades romanas em favor de uma

morfologia mais intimista, culminando na forma e escala das pequenas cidades medievais, cujo

desenvolvimento se apoia em classes sociais: o artesão e o comerciante …”

Lamas (2004:151) refere também que “o crescimento e a instalação de novas funções, como as

ordens militares e religiosas, conduzem a uma sobreposição de traçados: aos restos do traçado

ortogonal romano vai sobrepor-se o traçado radiocêntrico da Idade Média.”

Em 1147, D. Afonso Henriques acampou com as suas tropas em Alfama, reabastecendo-se com

a sua água, mencionada por Osberno, um cruzado inglês da época, como sendo de grande qualidade

(Calado, 1992:29). Pouco tempo depois o exército do rei reconquistou a cidade.

“Com a integração de Lisboa no reino de Portugal, passou-se à sua reorganização administrativa

e urbanística e processou-se o desenvolvimento económico” (Calado, 1992:30). De acordo com esta

autora (1992:30), “… parte da estrutura religiosa da romanização do período visigótico foi recuperada

na sua dimensão civil e religiosa” e várias freguesias foram criadas, nomeadamente a de S. Miguel,

onde se incluía o bairro de Alfama.

Calado (1992:30) refere que, em 1173,

surgiram as primeiras referências à existência

de uma comunidade cristã, que se dedicava à

exploração de pedra, no local onde

permanece hoje a igreja de Santo Estevão,

tendo-se, aqui construído, na época, uma

outra igreja provisória.

Conforme refere José Augusto França

(1997:10), a Lisboa conquistada por D.

Afonso Henriques delimitava-se pelas

muralhas antigas, tendo sido, um século

depois, ampliada com a construção da nova

muralha, mandada erguer por D. Fernando. A cerca desenvolvia-se num traçado “… irregular,

procurando respeitar a topologia e proteger o tecido existente” (Calado, 1992:33).

No que diz respeito a Alfama, com a reconquista cristã da cidade aos mouros, ela foi-se

desenvolvendo, tendo crescido até aos limites da cerca nova, ou fernandina.

Eram propriedade régia, em Alfama, o Paço das Galés e o Paço Real de Alfama, o que

contribuiu, segundo Calado (1992:31), para a nobilitação desta zona, tendo a freguesia de Santo

Estevão sido criada oficialmente, pelo rei D. Dinis, em 1295. “A igreja paroquial foi então

completamente remodelada e definitivamente construída em 1316. A freguesia era extensa e abrangia

grande parte do território rural de quintas e casais para além do sítio da Cruz e da rua do Paraíso.”

(Calado, 1992:31).

Figura AF.2. Envolvente da Igreja de Santo Estevão

13

Quanto à sua malha urbana, Calado (1992:30) clarifica que “o bairro medieval de Alfama

apresentava já a sua estrutura labiríntica orgânica e irregular recuperando e desenvolvendo os

modelos muçulmanos.” Calado (1992:49) acrescenta ainda que esta malha se dividia em dois tipos: um

a norte da Rua dos Remédios, onde prevaleciam os “… grandes lotes e um traçado orgânico irregular

e espontâneo…” e outro a sul da mesma rua, onde um conjunto ribeirinho se desenvolvia segundo “…

uma estrutura mais fragmentada, mas também mais ordenada em função de uma “rua direita” (…)

paralela à praia…”, ou seja, a Rua dos Remédios. Assim sendo, entre a Rua dos Remédios e a

muralha, Calado (1992:33) caracteriza a malha como um “… traçado irregular e espontâneo de becos,

vielas e escadinhas…”, onde predominam os “… espaços públicos de encruzilhadas e de polarizações,

de que é de destacar, desde logo, o Largo de Santo Estevão” (Calado, 1992:66).

Similarmente, França (1997:12) esclarece que “… as ruas, travessas e becos foram sendo

construídos, multiplicando-se as casas de andares em meados do séc. XIII – mas o desenvolvimento

realizava-se conforme necessidades minimamente locais e obedecendo também a polos de atração

que eram os conventos, as novas paróquias e algumas casas nobres…” Neste sentido, durante os

vários séculos de domínio cristão, Alfama manteve a sua importância na cidade com a construção de

conventos e palácios na sua encosta, o que condicionou a sua malha urbana, onde “… a sobreposição

de traçados e de construções realiza-se sem uma ordem predefinida e com pontos de apoio nos eixos

que ligam as cidades, estradas de passagem, portas das muralhas, …” (Lamas, 2004:151). Por sua

vez, Calado (1992:31) observa que “estes palácios medievais eram grandes construções góticas com

torres e alas residenciais onde se abriam janelas e portas ogivais.”

Por outro lado, a zona ribeirinha da praia manteve o carácter popular, estruturando-se com a

construção de “… pequenas habitações ao longo do caminho (…) para o termo oriental da cidade. A

população ribeirinha era constituída fundamentalmente por calafates e pescadores e por vendedores

fixos e ambulante.” (Calado, 1992:31).

Também nesta época as águas de Alfama valeram-lhe notoriedade, pelo que “os banhos, que

faziam parte do universo da vida medieval em sucessão das velhas termas romanas, eram explorados

por diversos particulares e por instituições” (Calado, 1992:31).

Coincidindo com as partes mais laboriosas da cidade, refere Calado (1992:33) que, “durante o

século XV, tal como em toda a extensão ribeirinha, foram construídos equipamentos diversos ligados

ao comércio interno (com a região interior do país) e externo (com a Europa Atlântica) e sobretudo os

que se destinavam a apoiar o vasto programa dos descobrimentos portugueses…”, como por exemplo

os estaleiros, as fábricas, os armazéns e os terreiros. Assim, para fazer face às necessidades da zona

portuária, deslocaram-se a Alfama vastas populações. As freguesias, nomeadamente a de Santo

estevão, atingiram uma tal dimensão que acabaram por ser subdivididas, dando, no caso de Santo

Estevão, lugar a uma nova, a de Santa Engrácia.

Calado (1992:36) sugere que “a fisionomia arquitetónica mudou-se também no interior da

freguesia durante o século XVII e a primeira metade do século XVIII. As habitações construídas a partir

da segunda metade do século XVI apresentavam frentes estreitas, fachadas simples ou de ressalto, e

empenas. Algumas possuíam varandas e pequenos registos de azulejos. Os edifícios de habitação

mais desenvolvidos localizavam-se ao longo da Rua dos Remédios (…), mas nos pequenos largos e

becos havia simples casas de tipologia rural.”

14

No séc. XVII persistem os vestígios e registos documentados da contínua exploração das águas

termais como banhos públicos ou alcaçarias, renovadas ou construídas de raiz, o que perdurou até ao

séc. XX.

Calado (1992:37) refere também que a igreja paroquial foi reconstruída entre 1733 e 1740,

segundo projeto de cariz barroco do arquiteto Manuel Costa Negreiros.

No terramoto de 1755, a maior parte de Alfama resistiu ao sismo, mas houve uma porção

significativa de edifícios que ficou destruída. “A questão da urbanização da zona oriental da cidade

com base num plano especial chegou a ser colocada mas nunca foi implementada” (Calado, 1992:38).

Durante muitos anos nada foi feito para recuperar esta zona da cidade, à exceção dos grandes

proprietários, que remodelaram ou reconstruíram os seus palácios. De acordo com Calado (1992:38),

“… os edifícios de habitação mais comuns voltaram a ser levantados com fachadas mais sólidas…”

Em 1868, as águas de Alfama, conhecidas por “águas orientais”, foram introduzidas na rede de

abastecimento público de Lisboa, com a construção de uma cisterna de recolha de água e uma

estação elevatória, que fornecia o reservatório da Verónica (1862).

A abundância de água na zona conduziu a que no séc. XIX Alfama fosse qualificada como área

de “águas mineromedicinais”, pela Inspeção das Águas. No entanto, por volta dos anos 60-70, as suas

nascentes foram episodicamente seladas devido a contaminação. Calado (1992:28) sugere, no sentido

de reatar e recuperar as relações anteriormente existentes entre o local e o aproveitamento das águas

termais, a adaptação de um espaço museológico e cultural no Edifício das Águas.

Só na segunda metade do séc. XIX surgiram os primeiros planos para a requalificação do bairro

de Alfama. De acordo com Calado (1992:39), Pedro José Pézerat, arquiteto na CML, chegou a

defender a demolição integral de Alfama, propondo a reconstrução da colina com uma urbanização

mais higienista, ampla e racional. Contudo, o projeto não chegou a ser aplicado, pois o valor cultural,

histórico e patrimonial do local começou a ser considerado importante de preservar. “Esta primeira

defesa de Alfama como conjunto patrimonial, embora estivesse ainda enquadrada por modelos de uma

cultura romântica oitocentista, foi o primeiro alerta para o seu melhor conhecimento e valorização”

(Calado, 1992:42).

Conforme refere Calado (1992:40), a necessidade urgente de obras de reabilitação urbana levou

a que, no início do séc. XX, pela ação do Eng.º Duarte Pacheco, o então presidente da CML e ministro

das obras públicas do Estado Novo, Alfama sofresse algumas obras de saneamento básico e de

arranjo dos espaços exteriores, o que permitiu travar a sua degradação, sem ter, no entanto, resolvido

os seus problemas, nomeadamente os sociais.

Nos anos 80, o antigo gabinete técnico de Alfama, a par da Associação de Moradores e de

outros movimentos da população local, muito contribuíram para a reabilitação da zona, principalmente

no seu aspeto social. Contudo, só a partir dos meados dos anos 90 Alfama tem vindo a ser aos poucos

recuperada, graças a iniciativas da CML, sobretudo nos casos mais difíceis, em parceria com outras

identidades tais como a EPUL, que através de programas como o “Lisboa a Cores” pretendeu ter

agarrado e reabilitado algum edificado e o seu espaço envolvente.

Atualmente repartida entre as freguesias de São Miguel e Santo Estevão, Alfama caracteriza-se

pelas ruas irregulares e estreitas, que proporcionam característicos e sinuosos enfiamentos visuais

sobre o rio, pelos telhados inclinados, pelo fado e até pela roupa estendida à janela. “Ruas amplas com

15

a forma e a função de grandes eixos de circulação urbana são agregadoras de travessas, ruelas e

becos irregulares” (Calado, 1992:27), como é o caso da Rua dos Remédios, que se apresenta “…

como a tradicional “rua direita ribeirinha” com fachadas mais uniformes e de dimensão mais urbana”,

ou as ruas de Santo Estevão e do Vigário, que “… são também pequenos eixos ordenadores remetidos

para o edifício principal que se destaca pela linguagem arquitetónica, pela tipologia funcional e pela

escala – a igreja” (Calado, 1992:49).

Tendo sido sobretudo ocupada e organizada durante a Idade Média e a dos Descobrimentos, e

apesar das adversidades, Alfama tem mantido o seu carácter de vivência popular e aristocrática,

constatável nos palácios nobres que se encontram pelas ruas mais largas, e nas habitações

tradicionais mais modestas, que se abrem para os largos, ruelas e terreiros, que lhe conferem uma

vivência de meio rural.

Neste sentido, Calado (1992:50) reforça que “os edifícios foram praticamente construídos a partir

de meados do século XVI e grande parte são posteriores ao terramoto de 1755. Mas em cada um

deles é visível a memória de outras épocas, expressa na dimensão do lote, na relação com a rua, na

composição das fachadas e até na própria organização do espaço interior. Se algumas fachadas

manuelinas (…) são expressão de uma linguagem arquitetónica erudita, noutras predominam, contudo,

as referências vernáculas com ressaltos, aberturas estreitas, cunhais reforçados, empenas, registos de

azulejos de sabor popular e grades de ferro forjado.”

De grande atratividade turística, à rota de Alfama costumam agregar-se determinados pontos

fortes, como os miradouros das Portas do Sol e de Santa Luzia, o Castelo de S. Jorge, a Sé, a Igreja

de Santo Estevão e a de São Vicente de Fora, e os chafarizes de El-Rei, de Dentro e da Praia.

Dada esta riqueza patrimonial, pois tal como reforça Calado (1992:50) “praticamente todas as

épocas históricas estão representadas na imagem arquitetónica da freguesia em testemunhos mais

diretos ou em vestígios arqueológicos bem identificáveis”, é compreensível que as políticas urbanas se

orientem por estratégias de preservação e reabilitação do edificado, dando prioridade a projetos que

privilegiem a manutenção das fachadas, ou a reposição da original, que mantenham as cérceas, os

Figura AF.3. Localização do caso de estudo em Alfama (AF1)

AF1

16

alinhamentos, os sistemas construtivos e, principalmente, que não descaracterizem o conjunto urbano

e as vivências intimistas e solidárias que aqui se geram.

Tendo em conta as características históricas da ocupação de Alfama, e os dados do INE

(2001:LIV) que registaram em 2001 um envelhecimento médio da população de Lisboa entre os 100 e

os 128%, não consiste numa surpresa nem o envelhecimento e diminuição do número de habitantes

destas freguesias, nem que constitua atualmente uma preocupação urbanística a tentativa de inverter

esta tendência, através de diversos instrumentos políticos, entre os quais o programa “Lisboa a cores”

da EPUL Jovem.

Em Alfama encontra-se o primeiro caso de estudo a ser descrito e analisado, o AF1, pertencente

à CML, mas atualmente em projeto pela equipa da EPUL Jovem, nomeadamente pelo Arq. João Rego.

O AF1 situa-se nas Escadinhas de Santo Estevão, dentro da malha medieval da freguesia de Santo

Estevão.

Figura AF.4. Rua de Santo Estevão

Figura AF.5. Adro da Igreja de Santo Estevão

17

CASO AF1:ESCADINHAS DE SANTO ESTEVÃO

INSERÇÃO URBANA

Conforme já foi anteriormente referido, o AF1

insere-se numa malha cuja génese e consolidação

se remetem ao período medievo-renascentista, como

é o caso de Alfama.

De acordo com Lamas (2004:151), a cidade

medieval desenvolveu-se segundo um crescimento

orgânico, em que o seu aspeto final aparenta uma

certa desordem, em geral favorecida pela topografia

irregular do terreno, que não é propícia aos traçados

mais geométricos.

Neste contexto, a rua converte-se no elemento

base do espaço urbano medieval, dando forma aos

quarteirões, que assim passam a ser determinados

pelos traçados viários (Lamas, 1997:152).

Quanto aos principais eixos de ordenamento,

e como já foi supracitado, as ruas da Regueira e dos

Remédios “… organizam, em grande medida, a

estruturação e a visibilidade do respetivo tecido

social e urbano da freguesia...” de Santo Estevão

(Calado, 1992:66), onde se localiza o AF1.

Assim sendo, o caso em estudo integra-se

num quarteirão do tipo orgânico e irregular, sendo

delimitado em proximidade com as ruas acima

identificadas. Para vencer o declive acentuado, a rua

pela qual se acede a este imóvel é em escadaria e

designa-se por Escadinhas de Santo Estevão.

As Escadinhas de Santo Estevão ligam a Rua

dos Remédios ao Largo de Santo Estevão, que se

caracteriza por ser um espaço de encruzilhada e de

polarizações, conforme descreve Calado (1992:66).

O AF1 situa-se no topo das escadas, estando

já virado para o largo.

Alfama encontra-se bem munida ao nível dos

transportes públicos, pois está servida por uma rede

de autocarros e por uma estação de comboios, e

outra de metro, ambas em Santa Apolónia.

Apesar da facilidade em aceder-se a Alfama, a

acessibilidade ao edifício em estudo é complicada,

Figura AF1.1. Planta de localização

(1:2500)

Figura AF1.2. Conjunto do largo de Santo Estevão

Figura AF1.3. Largo de Santo Estevão

18

pois as escadas consistem numa barreira para quem

tem mobilidade condicionada.

Neste caso em particular, a impossibilidade de

vencer o desnível topográfico através de uma rampa,

não só converteu a rua numa escadaria íngreme e

difícil de transpor, como se tornou num obstáculo ao

acesso via automóvel. Assim, mesmo a passagem

de uma ambulância, ou de um carro de bombeiros, é

impraticável.

Outro problema ao nível das acessibilidades

que se encontra no local reside no facto de não

existirem parques de estacionamento suficientes.

O AF1 integra o conjunto envolvente à Igreja

de Santo Estevão. Confronta a nordeste com as

Escadinhas e a sudoeste com os logradouros dos

edifícios que dão para a Rua dos Remédios.

Alfama fica próxima da Baixa da cidade, de S.

Vicente de Fora e de Santa Apolónia.

O AF1 localiza-se perto de alguns dos pontos

turísticos mais relevantes de Lisboa, como sejam: o

Museu do Fado, o Castelo de S. Jorge, a Sé, a Casa

dos Bicos e os miradouros de Santa Luzia e das

Portas do Sol. No próprio largo de Santo Estevão

encontram-se a igreja, o chafariz e o miradouro com

o mesmo nome.

A EPUL, a par da CML, considerou este imóvel

como interessante pelo facto de corresponder a um

edifício antigo histórico, com génese entre os séculos

XV e XVII. Tratando-se de um raro exemplar pré-

pombalino, e tendo resistido já a um terramoto, o

imóvel é representativo de uma fase relevante do

ponto de vista histórico e cultural. Para além disso,

forma com o restante edificado, um conjunto

coerente e com uma imagem a preservar.

SITUAÇÃO PRÉVIA

O AF1 consiste num edifício com cinco pisos,

que se encontra em avançado estado de degradação

e a necessitar de urgentes obras de recuperação.

Figura AF1.4. Enfiamento do largo de Santo Estevão

Figura AF1.5. Fachada frontal prévia

19

O telhado, bem como o sótão e o piso anterior,

foram demolidos, colocando-se-lhe uma contenção

como resguardo, numa tentativa de evitar a sua ruína

total. Também foi emparedado o piso inferior.

Apesar do mau estado em que este imóvel se

encontra, a EPUL tem o levantamento do que existia

antes da sua demolição parcial.

O edifício está orientado, na fachada principal,

para sudoeste, e para nordeste na fachada posterior,

o que permite que os fogos recebam luz solar todo o

dia e tenham ventilação cruzada.

A fachada principal do imóvel tem uma ligeira

inclinação para cima, pelo que os pisos superiores

são menores do que os inferiores.

Tipicamente, os edifícios em Alfama têm um

pé direito baixo, sendo que este exemplar não é uma

exceção.

O presente caso de estudo é constituído por

quatro habitações, organizadas em uma por piso,

salvo o último fogo, que se transforma num dúplex,

com acesso interior ao sótão.

Das Escadinhas de Santo Estevão acede-se

ao interior do edifício por três portas. A primeira, bem

como a segunda, levam ao R/C e a terceira a um

núcleo de acessos que se liga aos restantes pisos.

Os dois fogos inferiores são semelhantes, pelo

que serão descritos em conjunto. Os outros dois, por

serem diferentes, serão caracterizados em separado.

Nº 0.1 e 1.1

Ambos os apartamentos pertenciam à tipologia

de três assoalhadas, cuja organização, em planta,

era idêntica.

No 0.1, a entrada efetuava-se diretamente

pela rua, enquanto no 1.1 o seu acesso dava-se a

partir da escada comum. Porém, nos dois casos

acedia-se ao interior pelo que parece ter sido a

cozinha, pois tratava-se da única divisão da casa

com espaço de chaminé.

A

B

A

B

A

B

A

B

Figura AF1.6. Plantas prévias dos pisos 0, 1, 2 e 3

(1:250)

0.1

1.1

2.1

3.1

20

Na situação do 0.1, o acesso implicava descer

alguns degraus, para vencer o desnível provocado

pelo declive do terreno.

Os dois fogos tinham dois compartimentos,

que se ligavam com a cozinha.

Nem o 0.1, nem o 1.1, parecem ter tido I.S.

Contudo ambos tinham uma divisão com um outro

pequeno compartimento, instalado por baixo do vão

das escadas comuns do edifício, que poderá ter sido

uma despensa ou uma I.S. mais recentemente

acrescentada.

Não se percebe a partir da leitura da planta,

nem dos cortes, se a sala terá estado integrada com

o espaço da cozinha, devido à sua dimensão, ou se

terá ocupado uma das outras assoalhadas.

Nas traseiras, o apartamento do 0.1 ligava-se

a um quintal.

Nº 2.1

A habitação do 2.1 consistia numa casa com

uma assoalhada apenas, à qual se acedia através do

patamar comum do imóvel.

Entrava-se diretamente para o espaço onde

terá sido a cozinha, pois mais uma vez é a única

divisão da casa com a zona da chaminé.

A partir da cozinha acedia-se a um pequeno

compartimento, que poderá ter sido uma despensa

ou uma I.S., e a uma outra assoalhada.

Não é possível distinguir onde terá sido a sala.

Se terá pertencido à zona da cozinha, formando uma

kitchenette, ou se à outra divisão.

Nº 3.1

A partir do patamar comum do piso anterior,

correspondente ao 2.1, uma rampa, seguida de

escadas, dava acesso ao fogo do último andar,

entretanto já demolido.

Entrava-se para um hall, que se ligava com

dois compartimentos interiores.

O primeiro, logo em frente, tinha uma janela

que dava para o espaço onde poderá ter sido a

Figura AF1.7. Alçado frontal prévio

(1:250)

Figura AF1.8. Alçado posterior prévio

(1:250)

Figura AF1.9. Corte AB prévio

(1:250)

21

cozinha. O segundo, mais comprido, dava acesso à

cozinha e a uma outra assoalhada, a partir do qual

se chegava a umas escadas que ligavam ao sótão,

por um alçapão.

Segundo refere Lima Mayer (2008:14), Alfama

corresponde a uma construção do tipo pré-pombalina

que se caracteriza por ser “… detentor de uma

qualidade construtiva bastante (…) fraca (…), com

alvenarias pobres ou de taipa mal conservada.” Este

autor (2008:14) menciona que este tipo de sistema

construtivo “… não possui qualquer elemento de

travamento…” e que é “… bem visível (…) o elevado

estado de deformação…” em que se encontram os

edifícios, atualmente.

“Os andares têm um pé direito muito reduzido,

uma grande densidade de paredes e escassas

aberturas para o exterior…”, (Lima Mayer, 2008:16),

o que acontece no AF1.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

O projeto, da autoria do Arq. João Rego, teve

como objetivo a conciliação entre o programa de

habitação jovem e a reabilitação do edifício.

Segundo o arquiteto, as fortes condicionantes

de projeto que sentiu foram o controlo de custos e os

regulamentos da CML, que obrigavam, por exemplo,

à reposição da fachada original.

De facto, o projeto contempla a manutenção

da frontaria, com a abertura de um vão na fachada

principal, que se sabia previamente existente e que

tinha sido recentemente fechado.

O alçado de tardoz será alterado, não lhe

sendo imposto o respeito pelo original, pois não

forma conjunto com a rua.

A cor proposta para as fachadas, tanto frontal

como de tardoz, será o branco cru, retomando uma

imagética, quiçá original, de Alfama.

Figura OE1.9. Planta do piso 2

1:250

Figura OE1.8. Planta do piso 1

1:250

Figura OE1.7. Planta do piso 0

1:250

Figura AF1.10. Alçado frontal proposto

(1:250)

22

Os vãos serão alinhados, e onde existia uma

abertura apenas passará a haver duas. O pé direito

passará a ter 2,4 metros.

A cobertura demolida será reconstruída de

acordo com a geometria original.

O logradouro será mantido, pertencendo ao

apartamento de baixo.

Porém, no que diz respeito aos interiores, o

miolo do edifício será todo novo, visto o seu estado

de degradação ser tal que se torna impraticável a

sua recuperação. Assim sendo, concentraram-se as

condições favoráveis a uma solução de projeto livre

e diversa da configuração espacial original.

O arquiteto procurou que os novos interiores

se orientassem segundo uma linha mais racional e

coerente.

A estrutura será reforçada pelo interior e os

pisos serão reconstruídos num sistema novo, de viga

e pilar, com lajes em betão.

O núcleo comum de acessos será mantido no

mesmo sítio, e com a mesma configuração. Mas, no

entanto, será ligeiramente adaptado, de maneira a

permitir uma melhor passagem para os dois fogos,

pois parte das escadas passará a estar integrada no

interior das habitações. As escadas de acesso do

patamar comum passarão a ter, ao fundo e no teto,

uma entrada de luz natural

Sendo assim, refira-se que o imóvel passará a

conter apenas duas casas, sendo ambas em dúplex

e com três assoalhadas.

Os dois apartamentos, apesar de serem muito

idênticos, serão analisados em separado, em virtude

de se destacarem algumas diferenças importantes:

Nº 1

Do patamar das escadas, no 1º piso, aceder-

se-á à sala, que fará a distribuição para a cozinha e

para um corredor, que se ligará à I.S. de serviço e às

escadas internas da habitação. Descendo ao R/C,

distribuir-se-ão, a partir de um pequeno hall, para a

I.S. completa, para os dois quartos e para uma

Figura AF1.11. Plantas propostas dos pisos 0, 1, 2 e 3

(1:250)

A

B

A

B

A

B

A

B

1

1

2

2

23

despensa, conforme se identifica pela consulta da

legenda das plantas cedidas pela EPUL.

Nº 2

Do patamar das escadas do 2º piso, aceder-

se-á a um hall de entrada, a partir do qual se

chegará a um outro corredor, de onde se acederá à

I.S. de serviço e à sala, que por sua vez fará a

distribuição para a cozinha e para as escadas

internas do fogo. Subindo ao último piso, distribuir-

se-ão, a partir de um hall, para os dois quartos, para

a I.S. completa.

SÍNTESE

Valor histórico-cultural, pela sua inserção no

local e pela sua arquitetura;

Reposição da fachada;

Tipologia T2;

Dúplex;

Cozinha separada da sala;

Figura AF1.12. Alçado posterior proposto

(1:250)

Figura AF1.13. Corte AB proposto

(1:250)

24

25

2.2.2. Campo de Ourique à Lapa

Segundo Alves (1992:9), até ao século XVI toda a área

compreendida entre o atual Palácio de S. Bento e a Estrela era

ocupada por quintas. No entanto, a evolução da freguesia da Lapa

está mais intimamente ligada à construção dos seus conventos. De

acordo com a autora (1992:21) “as fixações conventuais da

Estrelinha, de S. Bento da Saúde e do Quelhas, durante o século

XVI, são as principais referências históricas de implantação na

área...”

Entre 1571 e 1579, foi fundado, “… por frades da Ordem

Religiosa de S. Bento, o Convento de Nossa Senhora da Estrela ou

Convento da Estrelinha…” (Alves, 1992:21), o primeiro a ser erigido

no local. Pouco tempo depois, Alves (1992:23) esclarece que entre

1598 e 1615, os frades beneditinos fundaram, mais a sul, o Convento

de S. Bento da Saúde, de acordo com o projeto do arquiteto Baltazar

Álvares. Por seu lado, o convento do Quelhas foi construído entre 1651 e 1659, completando o

conjunto destes três polos aglutinadores e fixadores de população (Alves, 1992:23).

Após 1834, “… com a extinção das ordens religiosas e início do processo de transformação dos

edifícios conventuais” (Alves, 1992:9), estes recolhimentos foram reconvertidos, passando a albergar

usos mais prosaicos como o Hospital Militar ou o Instituto Superior de Economia e Gestão.

Similarmente, o Convento de S. Bento sofreu obras de reconversão, passando a hospedar as

Cortes. A partir daqui, Alves (1992:23) esclarece que o então Palácio das Cortes foi sendo sujeito a

várias obras e remodelações, particularmente na “… decoração exterior e interior do edifício, em que

sempre se mostraram empenhados os sucessivos governos, quer da Monarquia quer da República…”,

e onde têm colaborado artistas de renome, tornando-se, por isso, num “… importante reportório das

artes das primeiras quatro décadas do século XX.” Atualmente acolhe a Assembleia da República.

Então, pode-se concluir que “as casas conventuais iniciaram assim a ocupação da colina…”,

transformando-se em “… polos geradores de fixação populacional” (Alves, 1992:26) e definindo uma

malha urbana livre, acomodada à encosta e delineada em função dos conventos.

Figura LP.2. Localização da Lapa

Lapa

Figura LP.1. Basílica da Estrela

26

Com o terramoto de 1755, a zona da Lapa foi “organizada em termos urbanísticos (…) com o

estabelecimento duma quadrícula de base reguladora…” (Alves, 1992:26). Alves (1992:26) acrescenta

que “… esta malha orientadora das fixações populacionais vai sendo progressivamente preenchida

sem o rígido controlo arquitectónico da Baixa Pombalina e sem hierarquizar vias de circulação.”

Na lapa, a par do que aconteceu no Bairro Alto, Lamas (2004:188) refere que nem sempre o

quarteirão foi utilizado “… como elemento morfológico-base, gerador do espaço urbano…”, pois em

certas situações adaptou-se às pré-existências e ao terreno, adquirindo “… formas irregulares para

organizar espaços regulares no tecido urbano, como as praças e as vias.” Para além da forma menos

constante dos quarteirões, em que os edifícios se encostam à sua periferia, o seu interior permaneceu

livre ou ocupado por hortas e jardins, enquanto na Baixa Pombalina o espaço reservou-se apenas a

um saguão, em que o edifício quase se confunde com o próprio quarteirão (Lamas, 2004:188).

O cariz aristocrático do local revelou-se desde logo, pois, conforme Alves (1992:26), a área da

Lapa reunia, fora de portas, características físicas e ambientais apelativas, como boa exposição solar e

desafogo de vistas. Assim sendo, a Lapa tornou-se rapidamente numa das zonas residenciais

predilectas pela nobreza e pela burguesia mais abastada, o que se mantém até à actualidade.

Durante os séculos seguintes, a ocupação da malha urbana da Lapa foi sendo adensada, pelo

que entre os séculos XIX e XX já se encontrava praticamente preenchida.

Nos anos 50, a abertura da Av. Infante Santo permitiu uma maior ligação entre o rio (Av. 24 de

Julho) e a Lapa (Praça da Estrela), no entanto, criou uma divisão mais profunda entre uma Lapa a

norte da avenida e uma a sul dela. Inclusivamente, muitas vezes a parte norte é confundida, como

pertencendo à freguesia de Santo Condestável, ou Campo de Ourique, pois, para além da proximidade

física ao local, esta zona também foi alvo de uma apropriação urbana ortogonal com quarteirão, pelo

que a sua malha é idêntica à da Lapa, com a exceção de ser mais regular, por se instalar num planalto,

e partilham a imagem dos edifícios e a sua arquitetura, por ambas as zonas terem sido construídas, e

densificadas, no século XIX.

Não tendo, a Lapa, um carácter turístico tão acentuado como Alfama, podemos, no entanto, nela

encontrar alguns pontos atrativos, tais como a Basílica da Estrela e o jardim e o Palácio de S. Bento.

É neste limite, mais precisamente na Rua Domingos Sequeira, que se encontra o segundo caso

de estudo, o LP1, assim designado, apenas, por pertencer à freguesia da Lapa, também ele com

projeto do arquiteto João Rego, da EPUL Jovem.

Figura LP.3. Localização do caso de estudo

LP1

27

CASO LP1: RUA DOMINGOS SEQUEIRA

INSERÇÃO URBANA

Na zona entre as freguesias de Santo

Condestável (ou Campo de Ourique) e da Lapa, a

Rua Domingos Sequeira faz a transição entre duas

realidades algo similares, apesar de executadas em

épocas distintas.

Enquanto Campo de Ourique adotou um plano

de Ressano Garcia, do final do séc. XIX, que José

Lamas (2004:221) descreve como sendo organizado

segundo uma rígida malha ortogonal, de quarteirões

regulares e vias rasgadas, gosto haussmanniano, a

Lapa seguiu um traçado, de certa maneira, mais

espontâneo, apesar de também se basear em linhas

geométricas e regradas, de pragmática inspiração

iluminista, e implementado logo após o terramoto de

1755.

O quarteirão onde se insere o caso de estudo

tem forma irregular, confrontando com o Jardim da

Estrela, a nascente.

Os edifícios encostam à periferia do quarteirão

deixando o seu interior em solo permeável, ocupado

com jardins e hortas.

O LP1 conforma com outra edificação, um dos

cantos do quarteirão, resolvendo sobre si o ângulo

do edificado, apertado entre edifícios mais largos.

Assim, a sua implantação e forma são trianguladas,

com uma frente mais vasta e umas traseiras mais

apertadas.

A Rua Domingos Sequeira liga-se à Basílica

da Estrela, fazendo parte de uma importante via de

comunicação entre colinas de Lisboa, carreira do

popular elétrico 28, que prosseguindo na direção do

centro, logo encontra, entre outros, o Palácio de S.

Bento.

O LP1, situado no topo desta rua, encontra-se

bem servido de comércio, serviços e de transportes

públicos, nomeadamente autocarros.

Tendo sido construído no século XIX, o LP1

mantém uma imagem e uma estética coerente com o

Figura LP1.3. Fachada frontal

Figura LP1.2. Rua Domingos Sequeira

Figura LP1.1. Planta de localização

(1:2500)

28

restante conjunto da Rua Domingos Sequeira, onde

predominam edifícios da mesma época, que seguem

uma arquitectura idêntica em linguagem, construção

e materiais.

SITUAÇÃO PRÉVIA

O LP1 corresponde a um edifício do séc. XIX,

com cinco pisos de altura, acentuada profundidade e

elevada cobertura em duas águas, que se encontra

em bom estado de conservação.

A fachada principal está orientada para

sudoeste, sobre a Rua Domingos Sequeira, e é

decorada segundo o gosto da época, eclético e

revivalista em estilos, como nos relembra José

Augusto França (1997:80).

A fachada tardoz, orientada a nordeste, é

estreita, tendo apenas uma janela por piso, que dá

acesso a uma pequena varanda, com uma escada

de emergência metálica.

Numa das laterais do imóvel, onde este

confronta com o edifício seguinte, abre-se um

pequeno saguão interior, que então se usava para

permitir a iluminação e ventilação natural dos

compartimentos interiores.

Este pequeno saguão liga-se com um outro,

com uma configuração estreita, e mais alongada,

pertencente ao edifício vizinho.

Tratando-se de um exemplar do séc. XIX, a

sua estrutura é em gaioleiro, que se caracteriza por

ser uma simplificação do sistema pombalino (gaiola).

Ao anular alguns elementos de travamento horizontal

das paredes-mestras, o gaioleiro poupa na

continuidade estrutural, pondo em risco a resistência

tridimensional.

Assim sendo, o gaioleiro consiste num sistema

empobrecido e sem o acerto e rigor da gaiola

pombalina, pelo que não se lhe tem sido reconhecido

qualquer relevância do ponto de vista estrutural ou

histórico.

Figura LP1.4. Pormenor da fachada frontal

Figura LP1.5. Alçado frontal

1:250

Figura LP1.6. Alçado posterior prévio

1:250

29

No piso térreo do caso em estudo, existe uma

loja em funcionamento. Não sendo o comércio o

tema em análise dir-se-á apenas que tem duas

entradas diretas pela rua, que acedem a um espaço

amplo de exposição, e nas traseiras uma casa de

banho de serviço, uma copa e duas arrecadações. A

maior faz ligação com um espaço de logradouro, a

partir do qual começam as escadas de emergência,

pelo que o acesso a estas só se faz através da loja.

A I.S. e a copa têm luz e ventilação natural a partir

do saguão interior.

O acesso aos pisos de habitação faz-se pela

Rua Domingos Sequeira, através de uma entrada

descentrada à esquerda, que se liga com um hall

seguido por uma escada comum, com dois lances

em V.

Subindo, acede-se ao patamar do piso, com

três entradas para o apartamento.

As habitações têm cinco assoalhadas, cada, e

repetem a mesma planta pelos restantes pisos, um

fogo por piso.

À esquerda da escada de acesso encontra-se

a primeira porta, por onde se chega a um corredor

em forma de L. A distribuição no interior do fogo faz-

se através desta passagem, que liga, à direita da

entrada, ao compartimento virado à rua.

Esta divisão, que tem ainda acesso

independente a partir do patamar comum do edifício,

por uma segunda porta, faz ligação com duas

dependências, a cada lado da respetiva frente de

rua, sendo que a da ponta, mais isolada do resto da

casa, beneficia de acesso direto à escada e ao

compartimento adjacente, favorável à sua utilização

como escritório, consultório ou quarto de hóspede.

O compartimento do lado oposto da mesma

fachada, para além de se ligar com a divisão do

meio, com frente de rua, estabelece ainda serventia

com uma nova divisão, neste caso interior, e que

tem, por sua vez, passagem pelo corredor de

distribuição.

Figura LP1.7. Planta prévia do piso 0

1:250

Figura LP1.8. Planta prévia do piso tipo

1:250

A

B

A

B

30

Figura LP1.9. Corte AB prévio

1:250

Figura LP1.10. Corte AB proposto

1:250

31

Seguidamente, através deste corredor acede-

se a uma casa de banho de serviço, a uma cozinha e

a uma arrecadação.

A cozinha tem uma entrada, que fica no

segundo tramo do corredor em L, mas com porta

para o último compartimento, presumivelmente a

casa de jantar.

Esta divisão do fim tem uma configuração

irregular devido ao enfiamento do edifício, mas

beneficia da ligação com uma varanda, por onde

passam as escadas de emergência.

Tanto a casa de banho, como a cozinha e no

fim, o corredor, têm abertura para o saguão, pelo que

são ventilados e iluminados naturalmente.

Apesar deste imóvel não se encontrar em mau

estado de conservação, a EPUL considerou-o

elegível e adequado ao programa “EPUL Jovem”,

necessitando de obras de modernização.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

O projeto de alteração proposto pelo arquiteto

João Rego procura harmonizar a reabilitação do

imóvel com os objetivos do programa de habitação

jovem.

Também para este caso de estudo, o arquiteto

refere como condicionantes nas decisões projetuais

o controlo de custos e os regulamentos da CML, que

a par do exemplo de Alfama, obrigam à manutenção

da fachada original.

Assim sendo, são propostos a recuperação e o

arranjo do alçado principal na íntegra, sem nenhuma

alteração no seu desenho.

No alçado de tardoz propõe-se a permanência

dos atuais vãos e das varandas, que aparecem com

um novo traçado, a acompanhar o limite do imóvel.

A escada de saída de emergência é anulada e

os gradeamentos são substituídos por outros mais

modernos.

Figura LP1.11. Planta proposta do piso 0

1:250

Figura LP1.12. Planta proposta do piso tipo

1:250

A

B

A

B

32

O espaço de logradouro é reduzido,

alinhando-se pela lateral do imóvel. Deste modo, o

formato do lote em planta passa a um triângulo

retângulo.

O logradouro permanece pertencente à loja,

que é mantida no piso térreo. O edifício garante o

seu uso misto, comércio e habitação.

Conserva-se a cobertura, mantendo-a com a

mesma geometria.

No que respeita ao interior do imóvel, estamos

perante uma reabilitação em que parte das paredes

será demolida, dando por vezes lugar a outras.

As alterações propostas orientam-se, à luz

atual, segundo uma linha mais racional e coesa,

procurando criar condições de conforto e de

habitabilidade ao nível dos padrões atuais, conforme

relembra o arquiteto João Rego.

Apesar de se tratar de um sistema construtivo

de gaioleiro, após avaliação especializada e

interdisciplinar, considerou-se que a estrutura não

necessita substituição ou reforço pelo interior, pelo

que o projeto contempla apenas o seu arranjo e

reforço pontual e a sua manutenção.

A loja permanecerá, sendo contudo ampliada

pela demolição da zona da atual I.S. e da copa.

A casa de banho passará a estar inserida num

pequeno espaço de arrecadação, já existente.

O acesso aos apartamentos será mantido pelo

mesmo núcleo de escadas.

Também permanecerá uma habitação por piso

que terá quatro assoalhadas.

O arquiteto optou por projetar os

apartamentos todos iguais, com a mesma planta.

De notar que das três entradas anteriormente

existentes, só a primeira será mantida e as restantes

fechadas.

O corredor de circulação será o mesmo com a

sua configuração em L.

As paredes que separavam os três primeiros

compartimentos serão demolidas. Uma nova parede

Figura LP1.13. Alçado posterior proposto

1:250

33

será erguida, dividindo o espaço em duas divisórias,

sendo a maior destinada à sala.

O novo compartimento mais pequeno passará

a ser um quarto, ao qual só se acederá pela sala.

A divisória interior manter-se-á, pois como faz

uma parede com parte do saguão, ser-lhe-á aberta

uma janela. A ligação que existia entre esta divisão e

o compartimento onde se passará a instalar a sala

será cerrada.

A cozinha será ampliada devido à anexação

da casa de banho de serviço, que passará a ocupar

uma pequena arrecadação já existente.

Com esta ampliação, a cozinha integrará uma

zona de refeições.

A entrada para a atual I.S. ficará na mesma,

passando a cozinha a ter duas portas.

No fim da passagem será acrescentada uma

nova I.S., desta vez completa, e que beneficiará da

janela para o saguão.

Para a instalação desta casa de banho, uma

das paredes do último compartimento será demolida,

dando lugar a uma nova, mais interna da divisória, e

que amplia o espaço de corredor para receber a I.S.

Esta divisória continuará a usufruir da varanda

já sem escada de emergência e com uma forma que

acompanha, em prolongamento, a parede lateral do

compartimento.

SÍNTESE

Implantação triangular;

Um fogo por piso;

Tipologia T3;

Cozinha independente;

34

35

2.3. PLANO ESTRATÉGICO HABITAR OEIRAS

Vários têm sido os programas de promoção e apoio à habitação social no concelho de Oeiras.

Entre 1943 e 1973 delineou-se a primeira fase dos programas de habitação social, caracterizados por

intervenções pontuais, como o “Bairro da Pia-à-Porta” e o Bento Jesus Caraça. Após 1974, iniciou-se

um novo período da habitação social, com três tipos de promoção diferentes: SAAL; Cooperativas; e

Habitação de promoção municipal. Estas iniciativas duraram mais de dez anos, até que em 1993 foi

criado o PER (Programa especial de realojamento). O PER permitiu à CMO erradicar as barracas do

concelho, produzir novos fogos de habitação social, para além de requalificar o espaço urbano (CMO,

2006:41). Actualmente está em vigor o programa habitar Oeiras.

O Plano estratégico habitar Oeiras foi apresentado em 2006 pela CMO. Este documento, entre

outras coisas, define as linhas orientadoras de intervenção e a abrangência do conceito habitar,

alargando-o à comunidade; enquadra o plano no seu contexto socioeconómico e na política social de

habitação promovida ao longo do tempo no concelho; e identifica os instrumentos de implementação

dos objectivos traçados.

Tal como acontece no documento da Estratégia de reabilitação urbana de Lisboa, também no

Plano estratégico habitar Oeiras são abordadas diversas e distintas temáticas ligadas à habitação. O

que nos interessa é perceber se a habitação para jovens é uma prioridade estratégica da CMO, e de

que forma; e enquadrar o programa Habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras e o

seu contributo neste processo.

Segundo este documento, “garantir a preservação, reabilitação e conservação do património

construído” (CMO, 2006:13) é um dos pilares fundamentais da estratégia da CMO. A CMO “pretende

revitalizar e dinamizar os centros históricos e núcleos antigos, com soluções respeitadoras do

património histórico e cultural, incentivando e reforçando soluções urbanísticas que muito dificilmente

nasceriam da lógica pura do mercado imobiliário” (CMO, 2006:21). Estas soluções procuram também

dinamizar outros mercados associados ao de compra e venda, pois “contribuem para o reforço e

aprofundamento do mercado de arrendamento” (CMO, 2006:21).

Para além disso, é também intenção da CMO “colmatar falhas no mercado de habitação,

nomeadamente, habitação jovem…” (CMO, 2006:21). Segundo os dados da CMO (CMO, 2006:50), os

jovens, nomeadamente os grupos etários dos 0 aos 19 anos, e dos 20 aos 39, são os que mais

beneficiam dos programas de habitação social, pelo que se “denota dificuldades socioeconómicas para

aceder ao mercado “comercial” de habitação” por parte destes jovens.

Assim, a CMO definiu novas políticas de habitação, chamadas de segunda geração, e entre elas

temos a “promoção de habitação para jovens a custos controlados e de revitalização dos centros

históricos” e a “participação integrada em programas alargados de reabilitação urbana” (CMO,

2006:56).

Para atingirem os seus objectivos e implementarem as políticas propostas, é pretensão da

câmara a criação de duas empresas municipais: a EMHO (Empresa municipal de habitação de Oeiras),

que tutelará os projectos de habitação jovem, os projetos inovadores, entre outros, e uma SRU, a

quem encarregarão as áreas críticas de reabilitação urbana e centros históricos.

36

A câmara de Oeiras pretende integrar uma rede internacional de cidades, o que permitirá a

partilha de experiências em planeamento e execução de políticas, e possibilitará a aplicação de

conceitos inovadores.

O que importa para este estudo é o programa Promoção de habitação para jovens que, embora

inclua projectos de habitação nova, procura desenvolver na área da reabilitação “projectos destinados

a revitalizar os centros históricos promovendo a fixação de casais jovens nestas áreas” (CMO,

2006:58).

Ao encargo do DPE (Departamento de projectos especiais) está em curso a iniciativa Habitação

jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras.

2.4. HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS

Para Carrilho (2011), arquitecto e coordenador do DPE, justifica-se reabilitar a habitação para os

jovens num contexto de revitalização dos centros históricos, pois esta revela-se ser a principal intenção

deste programa: uma “…profunda requalificação dos principais centros históricos do concelho…”,

(CMO, 2008). Através da criação de habitações acessíveis aos jovens, a CMO procura combater a “….

degradação física do seu edificado…” e o “… envelhecimento gradual do seu tecido social…” (CMO,

2008).

Para cumprir esta tarefa, a CMO criou os GTL (Gabinetes Técnicos Locais) instalados nos

núcleos a reabilitar, e que por isso proporcionam uma maior proximidade entre o município e os

residentes.

De acordo com a CMO (2008) esta estratégia divide-se em três vertentes: a reabilitação do

património edificado; a revitalização do tecido social; e a promoção de arquitectura qualificada, que

motive e inspire intervenções futuras, sejam de foro público ou privado.

No que concerne à metodologia adotada, a CMO (2008) refere a promoção da aquisição de

imóveis degradados e devolutos, com algum valor histórico e patrimonial, para que sejam reabilitados e

adaptados aos novos padrões de conforto e habitabilidade.

A CMO (2008) pretende “… dotar o município de um parque edificado com fogos de tipologias

pequenas (T0 e T1) com vista ao seu posterior arrendamento a jovens, e deste modo garantir a

rotatividade e permanência de uma nova população nos centros históricos.”

Carrilho (2011) descreve o processo em cinco passos:

1. Análise de potencial, verificando se os edifícios a reabilitar têm valor: pela existência de

qualidade arquitectónica ou urbana, por estarem desocupados, e pelos custos da operação serem

razoáveis;

2. Os projectos são elaborados pelos GTL;

3. Concurso e realização das obras;

4. Concurso para a atribuição das casas aos jovens com idade até aos 35 anos, que já morem

ou trabalhem no concelho de Oeiras;

5. Os jovens seleccionados podem ocupar as casas mediante o pagamento de uma renda, até

completarem a idade dos 35 anos. Isto é, as casas reabilitadas mediante este programa são

exclusivamente para arrendamento, o que permite, como acrescenta Carrilho (2011), uma maior

37

rotatividade destes jovens nos centros históricos. Para tal, a partir dos 35 anos acaba o contrato de

arrendamento, que pode no entanto ser prolongado por mais cinco anos.

A autarquia estima vir a recuperar cerca de 300 fogos nos centros históricos.

2.4.1. Centro histórico de Oeiras

De acordo com a CMO (2008), a origem da Vila de

Oeiras remonta à pré-história, pois os vestígios romanos

que foram encontrados no sítio sugerem a precedência de

uma vila agrícola local.

Posteriormente foi ocupada por muçulmanos que

influenciaram a sua toponímia e urbanismo, como o tipo de

malha, densa e rica em actividade, que construíam no

interior dos quarteirões.

Até aos meados do século XVIII, a “Aldeia de Hueiras”, como era então designada, teve pouca

importância. Só em 1759, quando o Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I e conde de Oeiras,

eleva a “Aldeia de Hueiras” a vila, ela conhece um forte desenvolvimento e crescimento urbanístico, e

um grande incentivo à agricultura e à indústria. A consequente construção de estradas transforma a

Vila de Oeiras num lugar frequentado pela aristocracia e pela família real.

Mantendo este carácter, no século XIX e princípios do século XX, com o desenvolvimento dos

transportes e a construção da linha de comboio Cascais/Lisboa, a vila assiste à construção de várias

moradias de recreio, tornando-a numa estância balnear de Lisboa.

Hoje em dia, o espaço público mais importante do núcleo é o Largo 5 de Outubro, onde se

localiza a Igreja Matriz e se concentram o comércio e os serviços. Nas proximidades localizam-se o

Mercado Municipal, o Palácio do Egipto, a livraria e galeria Verney e o auditório Eunice Muñoz.

A malha do núcleo é composta por duas tipologias distintas: a Oeste, o quarteirão fechado, que

compõe o núcleo mais antigo e compacto; a Este, a moradia isolada, referente à zona balnear de

Santo Amaro. Os casos em estudo encontram-se todos na malha mais antiga.

Figura OE.1 Largo 5 de Outubro

Figura OE.4. Rua Cândido Reis Figura OE.3. Palácio do Egipto Figura OE.2. Igreja matriz

38

Apesar da evolução que sofreu ao longo do tempo, a vila mantém o seu cariz habitacional e de

comércio tradicional, com edifícios antigos de baixa altura, geralmente com dois pisos. A Vila de Oeiras

é constituída por aproximadamente 351 edifícios, dos quais 151 são anteriores a 1945.

A população residente envelheceu, o comércio tem vindo a fechar e assiste-se à degradação

rápida do edificado. Com intenção de contrariar este curso, a CMO adquiriu então oito imóveis para

reabilitação e arrendamento jovem, que no total serão 40 fogos reabilitados e arrendados.

Destes oito imóveis, designados pela CMO (2008) por OE1, OE2, OE3, OE4, OE5, OE6, OE7 e

OE8, foi-nos cedida informação sobre quatro deles: OE1, OE2, OE7 e OE8, e cuja nomenclatura será

respeitada ao longo do trabalho, mantendo uma maior relação com a publicação da CMO.

OE1

OE8

OE7

OE3 OE2

OE6

OE4

OE5

Figura OE.5. Localização dos imóveis do programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras

39

CASO OE1: RUA DAS ALCÁSSIMAS

INSERÇÃO URBANA

De acordo com os dados fornecidos pela CMO

(2008:20), este caso de estudo insere-se na malha

antiga do CHO. Apesar de ter sido ocupado pelos

romanos, e depois abandonado, a génese do CHO

parece remontar principalmente à sua reocupação na

época medieval, pois apresenta “… características

próprias de um crescimento do tipo orgânico, onde

as diversas intervenções quase se sobrepõem.”

Sendo assim, o OE1 encontra-se próximo do

largo 5 de Outubro, onde se localizam a igreja matriz

e o mercado municipal. Lamas (2004:154) refere que

“… a praça medieval é um largo de geometria

irregular mas com funções importantes de comércio

e reunião social. Assim, as praças medievais

dividem-se geralmente na praça do mercado e na

praça da igreja (adro) …” tal com acontece em

Oeiras.

Pode assim constatar-se que este caso se

implanta num quarteirão do tipo medieval onde,

conforme sugere Lamas (2004:158), “… os edifícios

vão concentrar-se na periferia ou no perímetro do

quarteirão, em contacto direto com a rua, deixando

livre a zona posterior de cada lote…” Segundo o

autor (2004:158), este espaço livre era “… utilizado

para hortas ou jardins privados…”, que serviam

como “… uma área de reserva e salubridade

urbana…”. Apesar do quarteirão onde se localiza o

OE1 já estar no limite do CHO, ainda é possível

observar no seu interior a existência destes espaços

livres.

O conjunto de edifícios em que consiste o OE1

confronta a oriente com a rua da Costa e a sul com a

rua das Alcássimas, formando assim um dos cantos

do quarteirão.

Conforme a CMO (2008:20), este “… projeto

refere-se a um conjunto edificado situado na Rua das

Alcássimas do nº 28 ao 38…”. Estas parcelas

formavam anteriormente uma única casa, que se

Figura OE1.2. Conjunto visto da rua das

Alcássimas

Figura OE1.1. Planta de localização

(pormenor do CHO)

1:2500

40

supõe ter sido construída em cima duma vila

romana, considerando os vestígios encontrados no

seu interior, e que lhe conferem particular interesse.

SITUAÇÃO PRÉVIA

Como já foi acima referido, a CMO (2008:20)

descreve o OE1 como “… um conjunto de volumes

adoçados que enquadram um pátio interior e um

logradouro, que apresentam as características (…)

do tipo orgânico, onde as diversas intervenções

quase se sobrepõem.”

Os edifícios não ultrapassam os dois pisos de

altura, embora estejam justapostos uns sobre os

outros. O logradouro encontra-se a uma cota mais

elevada em relação ao pátio, acompanhando o

declive da rua da Costa.

Tratando-se dum agregado de várias parcelas,

revelou-se mais adequado caracterizá-las primeiro

em separado, e só depois relacioná-las entre si:

Nº28 e Nº30

Estes dois números consistem nas portas de

um só edifício.

O piso superior desta edificação corresponde

ao 28, que se sobrepõe ao 30 e ao edifício do 38.

A sua entrada faz-se diretamente pela rua da

Costa, acedendo-se, depois, ao piso superior através

de umas escadas íngremes, descentradas à direita.

A fachada principal deste piso é virada para a

rua da Costa, virada a nascente. Porém, o piso

superior está orientado segundo várias exposições

solares, permitindo, à habitação que alberga, a

recepção de sol todo o dia e a ventilação cruzada.

O apartamento, com três assoalhadas, está

organizado a partir de um hall de entrada. É formado,

por uma sala, por uma cozinha, ainda com pia de

despejos e com uma varanda, e por dois quartos.

O nº 30 resume-se apenas ao R/C, que fica

por baixo do nº 28, e tem acesso direto pela rua da

Figura OE1.3. Fachada de conjunto

Figura OE1.4. Nº 28/30 visto da rua da Costa

Nº 28

Nº 30

Nº32

Nº34

41

Costa. A sua única fachada é orientada a nascente,

pois de tardoz encosta ao edifício do nº 38.

Albergou uma oficina com uma pequena

instalação sanitária (I.S.).

Nº32 e Nº34

O 32 consiste num edifício de dois pisos cujo

R/C inclui o nº 34.

O acesso ao 32, descentrado para a direita, é

feito por um núcleo de escadas.

Por se tratar de um edifício que se sobrepõe e

passa por baixo de outros, encontram-se fachadas

orientadas a todas as exposições solares.

Este edifício é composto por três habitações:

uma no R/C e duas no piso superior.

Originalmente os apartamentos não tinham um

WC integrado. Neste caso, as casas-de-banho foram

acrescentadas debaixo do vão das escadas comuns,

exterior às habitações.

O apartamento do piso térreo encontra-se ao

nível da rua das Alcássimas, e portanto ligeiramente

rebaixado em relação à rua da Costa, e é composto

por três assoalhadas.

A I.S. do piso térreo está atualmente inserida

na habitação, porque o patamar comum foi também

ele integrado na casa, tendo sido fechado com uma

porta de entrada.

Uma das habitações do piso superior tem duas

assoalhadas e a outra tem quatro.

A de duas assoalhadas ocupa a mesma área

que a habitação do piso debaixo (o 34), à exceção

do patamar, que neste piso é comum aos dois

apartamentos. Por isso, a I.S. está separada da

casa, sendo exterior.

A de quatro assoalhadas estende-se por cima

do apartamento do 36 e do 38, tendo por isso uma

entrada pela rua da Costa e outro acesso pelo pátio

do lote 38, umas escadas e uma varanda viradas a

norte e a poente da casa. Já tem a I.S. integrada na

casa.

Figura OE1.10. Entrada do número 38

Figura OE1.6. Planta do piso 0

1:250

42

Nº36

O 36 consiste apenas num apartamento que

se encaixa por baixo do 1º piso do 32, encostando

ao 34 e à sua habitação do piso térreo.

O apartamento do 36 difere dos anteriores por

o seu acesso ser feito pela Rua das Alcássimas, com

entrada direta para a sala.

A sua fachada tem orientação solar a sul.

A casa tem duas assoalhadas, com um quarto,

uma sala comum que cumpre também a função de

hall de entrada e uma cozinha, onde se localiza uma

pia de despejos, não tendo portanto casa de banho.

Nº38

O nº 38 consiste em dois edifícios separados,

cujas entradas se realizam por um pátio seguido de

um logradouro.

Não encostando aos limites do quarteirão, o

primeiro edifício fica paralelo à rua das Alcássimas e

perpendicular à rua da Costa, dando a forma em L

ao conjunto, e separando o pátio do logradouro.

Este edifício tem uma passagem por baixo,

delimitada pelo muro a poente, sendo aí a entrada

para o R/C.

Este resume-se a quatro salas desocupadas,

onde se encontra um mosaico romano.

Abastado em evidências arqueológicas, o local

tem sofrido trabalhos de prospeção, ao encargo do

CEA (Centro de Estudos Arqueológicos), que tem

dirigido diferentes campanhas arqueológicas in loco.

Os vestígios foram encontrados em 1903 e

datam, de um modo genérico, da idade do bronze ao

período romano (tardio).

Supõe-se que este mosaico pertenceria a uma

vila romana, dedicada à exploração de cereais, do

séc. I a.C. e do séc. I d.C.

O mosaico tem dimensões de 4.7 m por 7.11

m, numa relação de 3:2.

O segundo edifício pertencente ao 38 consiste

num conjunto acrescentado no logradouro, ao qual

se acede pela passagem. O terreno sobe devido ao

Figura OE1.5. Desenho da porta do Nº38

Figura OE1.6. Desenho do mosaico romano

Nº 38

43

declive, pelo que a passagem termina em escada.

Neste anexo está instalado um apartamento com três

assoalhadas.

Todo este conjunto encontra-se num avançado

estado de degradação, necessitando por isso de

urgentes obras de recuperação.

Figura OE1.7. Alçado frontal prévio

Rua da Costa

1:250

Figura OE1.8. Alçado lateral prévio

Rua das Alcássimas

1:250

44

Figura OE1.9. Planta prévia do piso 0

1:250

Figura OE1.10. Planta prévia do piso 1

1:250

Figura OE1.11. Planta prévia do piso 2

1:250

A

B

A

B

A

B

45

PROJETO DE ALTERAÇÃO

A conciliação do interesse histórico do sítio, da

preservação e da musealização dos vários vestígios

arqueológicos encontrados, como seja o caso dos

mosaicos romanos, com a construção de fogos de

habitação dedicada aos jovens, são descritos como

os objetivos do projeto apresentado.

O autor, o Arq. Eduardo Gomes, considerou

que, paralelamente à recuperação dos elementos

construtivos do conjunto, era necessária e possível a

remodelação do seu interior.

A configuração interna dos fogos permite a

sua adaptação à realidade social e às vivências do

“público-alvo” a que se destinam: os jovens.

Para além da recuperação destes edifícios, o

projeto propõe a demolição de construções sitas no

logradouro, por indiferenciadas e deterioradas, e a

sua substituição por dois fogos.

Com esta intervenção espera-se aumentar a

capacidade dos 5 fogos atuais para um total de 8,

sendo 6 T1 e 2 T0.

O Arq. responsável pelo projeto imaginou um

estudo de cor, optando por destacar com cor-de-

laranja a parte museológica, propondo para os

restantes a cor branca.

O apartamento do lote 28 manter-se-á, mas

passará de um T2 para um T1, pela adaptação de

um quarto a I.S.

O nº 30, que albergava a oficina, será usado

para o museu, ampliando o espaço pelas salas do

38, onde se localizam os mosaicos romanos. Este

local, onde estão os achados mais relevantes, terá

entrada independente das frações habitacionais,

mantendo o seu acesso pela rua da Costa.

O museu estará preparado para a recepção de

visitantes, sob marcação prévia, onde poderão

observar os vestígios antigos, e esclarecerem-se

sobre a história do povoamento de Oeiras.

Com a intenção de destacar na rua o museu, é

sugerida a colocação de uma esfera assinalando a

zona da entrada.

Figura OE1.17. Alçado frontal proposto do Anexo

1:250

Figura OE1.15. Corte AB proposto

1:250

Figura OE1.14. Estudo de cor: Alçado proposto do Anexo

Figura OE1.13. Estudo de cor: Alçado frontal proposto

Figura OE1.12. Estudo de cor: Modelação

Figura OE1.16. Alçado lateral proposto do Anexo

1:250

46

O nº 32 consistirá em duas casas T1, uma em

cada piso e a escada de acesso será ampliada e

ficará ao ar livre.

A cozinha dos apartamentos passará a ser

kitchenette, estando por isso integrada na sala.

O nº 34 passará a fazer parte do lote 36.

O piso térreo do nº 36 manterá a sua entrada

direta pela rua das Alcássimas.

A sua tipologia será a mesma, um T1, porém

passará a ter I.S. separada da cozinha.

O piso por cima do 36 será desagregado do 32

e passará a ser um T0, com entrada independente

pelo nº 38, passando pelo pátio e acedendo-lhe

através de uma escadaria e de uma varanda.

O lote 38 manterá o edifico central, que separa

o pátio do logradouro, cujo piso 0 deixará de ser

acedido pela passagem em túnel, pois fará parte do

museu.

O 1º piso, ao qual se acede pelo lado norte, o

logradouro, a seguir ao túnel, consistirá num T1 com

fachada para sul e norte.

No logradouro, a casa anexa será demolida, e

irão ser construídos dois apartamentos, um T1 e um

T2, em duplex, com entradas independentes.

Para além das varandas/pátios expostos a sul

e ligados ao logradouro, os dois imóveis têm um

jardim entre eles, no piso 1, que os separa. Este

espaço garante a iluminação natural para o segundo

quarto do T2. O T1 tem no quarto outra varanda.

Ambas as habitações têm duas I.S., uma no 1º

piso e outra no rés-do-chão. Esta última é um WC de

serviço, portanto sem banheira ou base de duche.

Devido à sua particularidade, os quartos

destes imóveis são suites, pois ficam isoladas no

piso 1.

Pretende-se que o logradouro e o pátio sejam

um espaço comum, de acesso a todos, não só com o

uso de passagem, mas também como zona de estar

e de lazer.

Figura OE1.18. Alçado frontal proposto

1:250

Figura OE1.19. Alçado lateral proposto

1:250

47

Figura OE1.22. Planta proposta do piso 2

1:250

Figura OE1.21. Planta proposta do piso 1

1:250

Figura OE1.20. Planta proposta do piso 0

1:250

B

A

A

A

B

48

SÍNTESE

Mosaicos romanos e sua musealização;

Distinção entre a construção nova, com

uma linguagem mais contemporânea, e a

pré-existente;

Conjunto de volumes adoçados;

Manutenção das fachadas, à exceção de

parte do nº32, que é cortada a meio;

Manutenção dos espaços de logradouro;

Tipologias T0 e T1;

Cozinhas independentes, à exceção dos

fogos acrescentados no logradouro, que

têm uma kitchenette.

B

A

B

49

CASO OE2: RUA CÂNDIDO REIS

INSERÇÃO URBANA

O OE2 também se localiza na malha antiga do

CHO. De cariz medieval, o quarteirão onde o edifício

se inscreve é irregular, correspondendo a uma forma

urbana de crescimento orgânico.

Como referido anteriormente, e de acordo com

a CMO (2008:19), foi através das medidas tomadas

pelo Marquês de Pombal que Oeiras conheceu um

grande desenvolvimento, nomeadamente ao nível do

urbanismo.

Assim sendo, nesta altura, o quarteirão onde

se encontra o OE2 foi alvo de uma requalificação (tal

como parte da colina), que se desenvolveu em torno

do palácio e dos jardins do Marquês de Pombal.

Esta intervenção deu-se sobretudo ao nível do

edificado, que nos vários casos foi reconstruído com

características pombalinas.

Agregando agora dois edifícios anteriormente

separados, o caso OE2 fica virado sobre a Igreja e

sobre o Largo 5 de Outubro. Localiza-se perto do

mercado municipal, dos bombeiros e do Palácio do

Egipto.

A zona onde fica a construção em estudo tem

bastante movimento e animação, com esplanadas,

comércio e cultura, designadamente a proximidade

ao Auditório Eunice Muñoz.

O edifício, inserido na malha medieval, situa-

se na periferia do quarteirão, mais exactamente de

gaveto, estando em contacto directo com a rua, e

deixando livre o seu interior. Este espaço interno,

que era vulgarmente utilizado para hortas ou jardins

privados, não bate no caso em estudo.

O OE2 confronta a norte com a rua Cândido

dos Reis, no nº 51, e a nascente com a Travessa de

Santo António.

Este imóvel é considerado de interesse pelo

facto de ser um exemplar pombalino, apesar de

inserido numa malha anterior, e porque forma com

os restantes edifícios um quarteirão e um conjunto

Figura OE2.1. Planta de localização

1:2500

Figura OE2.3. Rua Cândido dos Reis

Figura OE2.2. Largo 5 de Outubro

50

com uma certa coerência, e uma imagem e estética

própria, e com uma história a preservar.

SITUAÇÃO PRÉVIA

Este imóvel estava separado em dois edifícios:

um pombalino e um outro incaracterístico.

O edifício pombalino encontrava-se já num

avançado estado de degradação, necessitando de

obras de recuperação urgentes. Teve de ser

emparedado e o 1º piso chegou a abater. Assim

sendo, pouco se sabe acerca da organização interior

das habitações.

Mesmo assim, a CMO realizou o levantamento

do que conseguiu resistir à deterioração do tempo, e

a observação e análise possibilitou um esboço da

provável configuração espacial dos pisos, anterior ou

mesmo a original.

Como é de conhecimento geral, aquando do

terramoto de 1755 o Marquês de Pombal mandou

reedificar, com novo plano, toda a zona central de

Lisboa, que tinha sido destruída por esta catástrofe.

Desta iniciativa surgiu um novo tipo de edifício: o

“pombalino”, pelos arquitectos Eugénio dos Santos e

Carlos Mardel, cujo modelo se replicou em muitos

outros locais para além da Baixa de Lisboa, seja nos

aspectos formais, seja nos construtivos.

As suas principais particularidades provêm de

um “… desenvolvimento técnico, sistematizado em

termos de pré-fabricação: vigamentos, cantarias,

ferragens, carpintarias, …” (França, 1997:44). Para

além disso, a sua estrutura em “gaiola” de madeira

torna-se bastante elástica e resistente aos abalos

sísmicos.

Em questões formais e estéticas, o tipo

pombalino caracteriza-se por ter “… lojas de portas

alternadas, mais largas e mais estreitas, 1º andar de

janelas “rasgadas” (ou de sacada), 2º e 3º de janelas

“de peitoril” (ou de peito), 4º piso de águas-furtadas

na prumada dos outros vãos e inserida na 1ª das

Figura OE2.4. Fachada frontal degradada

Figura OE2.5. Esboço da Planta tipo prévia

Sem escala

Figura OE2.6. Esboço do Alçado lateral prévio

Sem escala

51

duas águas (…), cantarias rodeando os vãos e em

pilastra nos cunhais ou nas separações dos prédios,

o resto da fachada em reboco ocre amarelo (“jalde”)

…” (França, 1997:42). O autor acrescenta que no

seu interior havia “… escadas estreitas a partir dum

átrio estrito, divisões articuladas mutuamente,

geralmente sem corredor, sem fogões de

aquecimento nem retretes, e com lambris de azulejo

pobre, não figurativo …”

Encontram-se, deste modo, fundamentos para

sustentar que o OE2 é detentor de características

pombalinas: elementos estruturais, geometria da

cobertura, cantaria, cunhal e guardas.

O edifício é de uso misto, pelo que no piso

térreo estava uma loja, e as habitações T2 nos pisos

1 e 2.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

O projeto, do arquiteto Nuno Couto, consistiu

na anexação de dois lotes: o 51, da Rua Cândido

Reis, e o 9/11, da Travessa de Santo António; com o

objectivo de intervir de forma mais integrada e

sustentável, e por isso, mais viável.

Devido ao estado avançado de degradação

em que o edifico da travessa se encontrava, optou-

se pela sua demolição, abrindo espaço para o núcleo

de acessos verticais.

Por outro lado, como este imóvel estava vazio

do seu miolo, sobrando apenas a fachada exposta a

nascente, os moradores do edifício da rua Cândido

Reis começaram a abrir fenestrações na parede que

separava os dois edifícios.

Assim, com alguma naturalidade, manteve-se

o carácter de espaço aberto, proporcionando aos

novos habitantes, um pátio à entrada da sua casa,

junto ao núcleo de escadas.

Como este imóvel não apresentava qualquer

mais-valia arquitectónica ou construtiva, deu lugar a

um outro, com uma imagem mais contemporânea e

Figura OE2.7. Fachada frontal arranjada

Figura OE2.8. Fachada lateral arranjada

A

A

C E

52

contrastante com a linguagem pombalina da fachada

recuperada do 51.

No caso do edifício pombalino foram mantidas

as fachadas, recuperando os elementos estruturais,

as paredes, as cantarias e o cunhal. A cobertura,

que já tinha entretanto abatido, foi construída de

novo, mas de acordo com a geometria da original.

Por causa do mau estado em que se

encontrava a estrutura antiga e a fachada, foi

necessário proceder a um reforço estrutural pelo

interior. Em relação ao resto da estrutura, visto o

piso já ter abatido, foi utilizado um sistema novo, de

viga e pilar, com lajes novas, de betão.

O próprio miolo do edifício é todo novo, o que

criou condições para que o projecto optasse por uma

solução livre e distinta da configuração original do

espaço interno das habitações.

O programa preliminar previa a criação de

uma loja no piso térreo, contribuindo para a

dinamização do tecido comercial. A entrada directa

para o espaço comercial realiza-se a norte, pela Rua

Cândido dos Reis, tendo porém montras nas duas

fachadas, a norte e a nascente.

O acesso às habitações, feito anteriormente a

norte, passou para nascente, pela Travessa de

Santo António.

Segundo o programa estabelecido, habitação

para jovens, o autor do projecto decidiu pela tipologia

T1, pois considerou ser a que melhor se adaptava ao

pedido. As casas são iguais no piso 1 e no piso2,

excepto o pátio.

Para aceder às habitações sobe-se por umas

escadas exteriores, que ligam a um patamar exterior,

privado a cada fogo. Apesar de serem resguardados

para a rua, a nascente, os pátios são abertos para o

núcleo das escadas, e são a céu aberto, excepto

pela laje do pátio superior. O último patamar é mais

pequeno, para permitir a passagem de luz para o de

baixo.

O patamar faz a transição entre a circulação

comum e a habitação.

Figura OE2.10. Cortes CD e EF propostos

Sem escala

Figura OE2.9. Plantas propostas dos pisos 0, 1 e 2

1:250

A B

E

F

C

D

B

E

F

C

D

B

E

F

C

D

A

A

53

A entrada é feita directamente para a zona da

sala que, devido aos apartamentos serem de

reduzidas dimensões, têm a kitchenette integrada.

As habitações estão organizadas na direcção

norte/nascente, em que o quarto fica virado a norte e

a sala/kitchenette a nascente, embora tenha um

envidraçado a sul, com ligação para o pátio privado.

No que respeita aos acabamentos, optou-se

por aqueles que permitissem a salvaguarda da

memória do edifício, na sua vertente de recuperação.

No que concerne ao exterior mantiveram-se os

mesmos materiais, seguindo pela via da restauração.

No interior prevaleceu a escolha de materiais

contemporâneos, que se adaptam ao público-alvo,

de preferência materiais resistentes, fáceis de limpar

e que naturalmente se integrem na vocação desta

operação.

Os materiais utilizados foram, entre outros:

a) Granito negro, na cozinha;

b) Azulejos cinzentos, na cozinha;

c) Grés negro, no chão da cozinha;

d) Azulejos azuis, na I.S;

e) Gesso cartonado, nos tectos das diversas

divisórias.

SÍNTESE

Manutenção da fachada pombalina;

Demarcação do antigo e do novo, com uma

linguagem mais contemporânea;

Demolição integral do interior;

Utilização de pátios;

Tipologia T1;

Kitchenette.

Figura OE2.12. Alçado frontal proposto

1:250

Figura OE2.13. Alçado lateral proposto

1:250

Figura OE2.11. Corte AB proposto

1:250

Figura OE2.14. Pátio

54

Figura OE2.16. Cozinha

Figura OE2.17. Interior

Figura OE2.15. Entrada

55

CASO OE7: RUA CÂNDIDO DOS REIS

INSERÇÃO URBANA

Tal como nos casos OE1 e OE2, o quarteirão

onde se insere o OE7 encontra-se no casco velho do

CHO, de cariz medieval. Localiza-se, portanto, perto

do largo 5 de Outubro, da igreja matriz e do mercado

municipal.

O OE7 também se situa nas imediações dos

Paços do Concelho, em grande proximidade com o

palácio e jardins do Marquês de Pombal.

O quarteirão onde se encontra o OE7 foi alvo

de uma requalificação no século XIX (tal como parte

da colina), que se desenvolveu em torno do palácio e

dos jardins do Marquês de Pombal.

Como já foi anteriormente referido, no século

XIX Oeiras conhece um grande desenvolvimento ao

nível económico, nomeadamente na indústria, pois

“… os novos meios de transporte vão permitir a

ligação dos centros urbanos e locais de emprego à

periferia, onde o solo barato permite o subúrbio como

alternativa à concentração urbana…” (Lamas,

2004:206).

Em consequência, “… os interiores de

quarteirão são densificados. Aparecem as “ilhas” e

as “vilas” como aproveitamento do solo, para

construção de casas para as classes operárias…”

(Lamas, 2004:208).

De acordo com o que refere a CMO (2008:32),

este conjunto de unidades habitacionais reporta-se

ao princípio do século passado, e apresenta algumas

características de vila operária.

Segundo a CMO (2008:32), a zona histórica é

de fácil ligação rodoferroviária, embora o acesso ao

edifício do OE7 seja mais complicado, devido a uma

série de vias com sentido único que são necessárias

de atravessar para aceder ao edifício.

A CMO (2008:32) refere também que o maior

problema do CHO em termos de acessibilidades é a

falta de estacionamento, o que é considerado como

Figura OE7.1. Planta de localização

(pormenor do CHO)

1:2500

Figura OE7.2. Rua Cândido dos Reis

56

inconsequente, tendo em conta o público-alvo a que

se destinam estas intervenções.

Este edifício, a par com o OE2, encontra-se na

continuação da rua Cândido Reis.

Estamos novamente perante um quarteirão do

tipo medieval, em que o edifício está encostado ao

seu perímetro. Para além disso, integra-se no centro

do conjunto.

Da observação das plantas pode-se constatar

que, a implantação do OE7 dentro do quarteirão não

tem uma forma regular, visto ser mais estreita na

entrada, alargando depois em V.

Este imóvel é considerado pela CMO um raro

exemplar da tipologia de vilas operárias no CHO e,

apesar de inserido numa malha antiga, forma com os

restantes edifícios um conjunto coerente, com uma

imagem e estética própria, e com uma história a

preservar. Assim, justifica-se a consideração que a

CMO (2008:32) atribui a este conjunto habitacional,

como património de relevante interesse histórico.

SITUAÇÃO PRÉVIA

Segundo Ildefonso (2006:17) existem diversas

tipologias de “vila”, nomeadamente a “vila” formando

pátio. Conforme a autora, estas “… construções,

com um a dois pisos, agrupam-se em volta de um

recinto comum, descoberto, com uma única entrada,

conformando um pátio quadrado ou rectangular.”

Conforme reforça a CMO (2008:32), este pátio

faz lembrar a configuração das “vilas” lisboetas ou

das “ilhas” do Porto.

Ao observar este caso de estudo, constata-se

que ele está dividido em sete ou oito habitações,

distribuídas em torno de um pátio central. Este pátio

interior, pelo qual se acede ao lote, consiste na sua

única entrada e estabelece a ligação/circulação entre

as diferentes habitações. No entanto, o pátio tem

uma forma irregular, ao contrário do que refere

Ildefonso.

Figura OE7.3. Conjunto visto da

Rua Cândido dos Reis

Figura OE7.4. Rua Cândido dos Reis

Figura OE7.5. Pátio interior

57

Para além da existência do pátio, o OE7 exibe

outras características das “vilas”, nomeadamente por

consistir num edifício com dois pisos, cujo “… acesso

ao piso superior (…) é (…) feito pelo exterior através

de escadas e galerias…” (Ildefonso, 2006:17).

Porém, de acordo com esta autora (2006:17),

no caso das “vilas” formando pátio “… a ocupação do

lote é total, predominantemente sem logradouros

para as traseiras…”, o que não se confirma neste

caso, pois conforme refere a CMO (2008:32), a atual

construção resulta de um crescimento anárquico,

que ao longo dos tempos foi ocupando espaços dos

logradouros originais, situados precisamente nas

traseiras.

Assim sendo, pode-se concluir que estamos

perante um exemplar de “vila”, apesar de esta ter

características próprias.

A fachada deste caso de estudo encontra-se

alinhada com as restantes frontarias, acompanhando

o desenvolvimento da estrada, sendo que a própria

fachada adquire a forma curva (côncava) da via. De

ambos os lados continuam as construções com uma

cércea idêntica.

Para além do facto de ser côncava, a fachada

deste edifício tem a particularidade de estar revestida

com azulejo amarelo e azul.

A sua frente, com pequena largura, e a sua

entrada, estreita e demasiadamente em cima de uma

curva pronunciada, tornam o seu acesso ainda mais

difícil.

O acesso ao interior do edifício é feito através

de uma ligeira rampa e de um portão em arco com

dois metros de largura, o que não permite a entrada

de automóveis na “vila”.

Este “… portão em arco, por cima e ao lado do

qual se localizam os (…) fogos com abertura para a

via pública...” (CMO, 2008:32) dá acesso ao pequeno

pátio interior, sobre o qual todos os fogos têm vista.

As habitações que não têm abertura para a rua dão

para o pequeno logradouro nas traseiras.

Figura OE7.7. Pormenor da fachada

Figura OE7.6. Desenho da fachada vista da Rua

Cândido dos Reis

58

“Este conjunto encontra-se em pleno estado

de degradação, não tendo sido possível entrar em

todas as casas, por estarem em ruínas, sobrando

apenas as paredes estruturais…”, (CMO, 2008:32).

Apesar disso, e tal como acontecera no caso do

OE2, a CMO fez o levantamento do que conseguiu

resistir à ação do tempo.

No R/C é possível distinguir cinco conjuntos

espaciais independentes, bastante distintos entre si,

pelo que serão analisados em separado:

Nº 0.1

Logo à entrada, ao lado da rampa de acesso

ao pátio interior, localiza-se o primeiro fogo, que tem

vista para a rua.

A fachada principal está orientada a sudoeste

e a outra a noroeste. Esta última encontra-se, no

entanto, encoberta pelo piso superior.

A habitação parece ter três portas distintas,

com acesso pela rampa comum.

A primeira dessas portas, a par das janelas,

aparenta pertencer a um espaço que seria amplo,

tipo sala. A segunda dá acesso a um corredor, pelo

que se supõe ter sido a entrada principal. A última

porta reporta-se a um compartimento pequeno, tal

como uma provável instalação sanitária.

Não é possível identificar qual a tipologia da

habitação.

Nº 0.2

Imediatamente a seguir ao fogo do 0.1 temos

uma pequena casa, cujo acesso se efetua pelo pátio.

Tem uma fachada com duas portas viradas a

noroeste.

Devido à queda das paredes internas, não é

possível reconhecer nenhum dos compartimentos,

nem a tipologia da habitação.

Há, ainda, a possibilidade de ter sido uma

oficina, de ter feito parte de outra casa ou de ter sido

o espaço para guardar os animais.

0.5 0.4

0.1

0.3

0.2

Figura OE7.8. Fachada

Figura OE7.9. Planta prévia do piso 0

1:250

59

Nº 0.3

No seguimento da casa do 0.2 vem a do 0.3,

cuja entrada se efetua pelo pátio comum.

A fachada desta habitação é reduzida, virada a

sudoeste. A fachada exposta a norte é uma empena

cega. No seu interior, este fogo seria completamente

escuro, sem luz nem ventilação naturais.

A planta da casa tem uma forma irregular e, tal

como no caso do 0.2, não é possível compreender a

sua distribuição interior, devido à queda das paredes.

Também, neste caso, existe a possibilidade de

ter sido uma oficina ou ter feito parte de outra casa.

Nº 0.4

Quase de frente para o vestíbulo, ligeiramente

desviado à direita, encontra-se o fogo do 0.4, com

entrada por um pequeno corredor, ao lado da escada

e em continuação com o átrio.

A sua fachada a sul inclui apenas uma porta,

enquanto a fachada virada a norte tem duas janelas.

Através destas aberturas, acede-se a um logradouro,

maior do que o fogo, e comum à casa do 0.5.

Aparentemente, esta habitação consistiria num

fogo com uma ou duas assoalhadas.

Nos casos do 0.4 e o do 0.5, falta uma parede

divisória entre eles, que terá caído com o tempo. No

piso superior esta parede existe, pelo que se conclui

que, por questões estruturais, no R/C também teria

que existir a mesma parede.

Nº 0.5

Logo de frente para o pátio aparece o fogo do

0.5, cuja entrada é realizada lateralmente, pelo

corredor acima referido.

A fachada a sul tem uma porta que liga direto

ao pátio, com vista para o portão de acesso à “vila”.

A norte do fogo existia um grande logradouro,

atualmente reduzido devido aos acrescentos que lhe

foram sendo feitos. Este espaço, já anteriormente

referido, é comum ao caso do 0.4.

60

A maioria das paredes internas da casa caiu,

pelo que não é possível identificar ao certo a sua

tipologia. Teria à volta de quatro assoalhadas.

No piso de cima existem três fogos, em muito

melhor estado de conservação do que os do R/C.

Também estes são diferentes entre si e serão,

por isso, analisados em separado:

Nº 1.1

Subindo as escadas, logo à esquerda, temos o

fogo do 1.1, que fica na prumada do 0.5.

A fachada a sul tem uma janela com vista para

o pátio, enquanto a fachada a norte está virada para

o logradouro.

A habitação distribui-se a partir de um hall de

entrada, que dá acesso a uma assoalhada, que seria

a sala, e a um corredor largo. A partir deste corredor,

acedia-se à cozinha e a um quarto.

Nº 1.2

Logo ao lado da casa do 1.1 temos o fogo do

1.2, que fica na prumada do 0.4.

A fachada a sul consiste apenas numa porta e

a fachada virada a norte em duas janelas, voltadas

para o logradouro.

Esta habitação é praticamente igual à do 0.4,

com a exceção de uma assoalhada, que tem a mais.

Assim sendo, teria duas ou três assoalhadas.

Esta divisão tem ligação a sul com um outro

pátio, que fica por cima dos casos do 0.2 e do 0.3.

Nº 1.3

Por cima do fogo do 0.1, e de parte do pátio

inferior, temos a habitação do 1.3.

Tem fachadas viradas a sudoeste e a nordeste

e uma janela pequena a sudeste, voltadas para a rua

e para o pátio.

Esta habitação é, de todas, a maior, tendo à

volta de seis ou sete assoalhadas.

1.1

1.3

1.2

Figura OE7.10. Planta prévia do piso 1

1:250

Figura OE7.11. Padrão da fachada

61

Da observação das plantas parece que teria

uma varanda voltada para o pátio, onde terão sido

acrescentados compartimentos.

“O edifício tem paredes estruturais de pedra e

mistas de alvenaria e madeira (estrutura de gaioleiro)

e paredes divisórias em tabique. O telhado é

suportado por vigamentos em madeira que são

depois suportados pelas paredes-mestras” (CMO,

2008:32).

A irregularidade do perímetro não impediu que

as coberturas fossem construídas inclinadas, o que

dificulta o despejo das águas pluviais. De acordo

com a CMO (2008:32), existe mesmo uma situação

de infiltrações, derivada de uma cobertura vizinha, a

nascente, que drena para o interior do 174.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

De acordo com a CMO (2008:32), o projeto da

autoria do Arq. Pedro Cabral reflete a grande

preocupação da CMO em preservar a memória

histórica do local e do próprio edifício, por se tratar

de um raro exemplar de “vila” operária, localizada no

CHO.

A CMO (2008:32) pretendeu, para além da sua

recuperação, a adaptação do edifício às novas

necessidades e vivências do público-alvo deste

programa, os jovens.

Conforme o Arq. Pedro Cabral (2008:32),

assumiram-se como condicionantes a respeitar as

atuais volumetrias, orientações e fenestrações da

fachada principal, que deverão ser mantidas, e não

excedidas.

Segundo a CMO (2008:32), o projeto reflete

uma preocupação com as pessoas de mobilidade

condicionada, “… procurando normalizar cotas de

pisos, larguras de portas e acabamentos, tendo um

Figura OE7.12. Desenho prévio do pátio

62

fogo sido adaptado (…), abolindo todas as barreiras

arquitetónicas (percentagem superior a 10%) …”

Nos espaços exteriores, como o pátio e os

logradouros, “… propõe-se também uma alteração

nas cotas de piso de forma a possibilitar o acesso às

entradas sem barreiras arquitetónicas…” (CMO,

2008:32).

O pátio exterior manterá a atual configuração,

à exceção de “… pequenas adaptações ao novo

perímetro, depois de demolidos os acrescentos

recentes ao conjunto edificado…” (CMO, 2008:32).

Conforme refere o Arq. Pedro Cabral (CMO,

2008:32), “… nos logradouros das traseiras propõe-

se um rebaixamento parcial de forma a possibilitar

mais entrada de luz para os apartamentos térreos a

norte, sendo os espaços reservados para os

mesmos…”

Para além do cuidado em conservar o carácter

do local, assim como as características históricas do

imóvel, o projeto teve igualmente a preocupação de

“… garantir mais do que as condições mínimas de

habitabilidade…” (CMO, 2008:32).

As opções tipológicas incidiram nos T0 e T1,

já anteriormente consideradas ideais para os jovens,

e, apesar de pequenas, procurou-se que não fossem

“… necessariamente reduzidas às áreas mínimas

permitidas, mas que possibilitassem uma utilização

confortável e funcional…” (CMO, 2008:32), seguindo

a linha projectual definida.

No projeto contempla-se o aproveitamento das

paredes exteriores, à exceção das mais fracas, de

construção mais recente.

De acordo com o Arq. Pedro Cabral (2008:32),

a atual divisão em compartimentos não é funcional,

pelo que ele propõe uma intervenção mais profunda

no imóvel, com a demolição integral do seu interior e

reedificação de uma nova compartimentação. Este

arquiteto sustenta a sua proposta no mau estado de

conservação do edifício, sobretudo do seu miolo.

Figura OE7.13. Alçado frontal proposto

1:250

Figura OE7.14. Alçado posterior proposto

1:250

Figura OE7.15. Corte AB proposto

1:250

63

A compartimentação interior racionaliza sete

apartamentos, tendo dois deles, uma assoalhada, e

os cinco restantes, duas assoalhadas.

No R/C existirão duas habitações com uma

assoalhada e duas com duas assoalhadas, enquanto

no piso superior serão três com duas assoalhadas.

Devido às diferenças entre os apartamentos, e

tal como se fez na descrição da situação atual, estes

serão analisados em separado.

No piso térreo, serão recuperadas quatro das

cinco habitações atualmente existentes.

Nº 0.6

Esta casa passará a ter uma assoalhada, com

entrada direta para a sala, alojando-se no espaço do

anterior 0.1.

Na zona da sala encontrar-se-ão igualmente a

cozinha, em forma de kitchenette, e o quarto. Este,

pela configuração em L da sala, ficará ligeiramente

separado do resto.

A I.S. estará à parte e será completa.

Nº 0.7

Este apartamento consistirá na junção do 0.2

com parte do 0.3.

A parede interior que separa estas duas casas

será demolida, e uma outra construída, dividindo em

duas partes o 0.3.

Esta habitação estará adaptada a pessoas de

mobilidade condicionada e será de tipologia com

uma assoalhada.

A entrada far-se-á direta para a sala, onde se

encontrará também a cozinha, em kitchenette.

Apesar do quarto estar integrado no mesmo

espaço da sala, a zona deste ficará relativamente

separada das áreas comuns, pelo volume da I.S. O

U que forma a planta da sala permitirá esta divisão

entre ambas.

0.6

0.7

0.8

0.9

Figura OE7.16. Planta proposta do piso 0

1:250

64

Nº 0.8

A habitação do 0.8 consistirá na junção do 0.4

com parte do 0.3.

Com duas assoalhadas, este apartamento

manterá a estrutura original do 0.4, transformando as

divisórias viradas a norte em cozinha e I.S.

A entrada será direta para a sala, de onde se

terá acesso ao quarto, acrescentado no espaço que

corresponde à parte do 0.3.

Manterá a sua parte de logradouro, que será

ampliada pela demolição dos acrescentos existentes

actualmente.

Nº 0.9

A casa do nº 0.9 corresponderá à do nº 0.5, e

manterá o seu acesso por baixo do vão das escadas.

A entrada neste apartamento com duas

assoalhadas far-se-á directamente para a sala, onde

se localizará também a kitchenette.

O quarto será uma suite, com I.S. completa e

integrada.

O 0.9 passará a ter logradouro, pela

demolição dos acrescentos existentes no local.

No piso superior manter-se-ão as três casas já

existentes.

Nº 1.4

Este apartamento acomodar-se-á ao espaço

do 1.1, mantendo a tipologia de duas assoalhadas,

mas passando a ter sala comum com a cozinha, ou

seja, em kitchenette.

A distribuição interior do nº 1.4 será igual à do

nº 0.9. A sua entrada dar-se-á directamente pela

sala e a I.S. estará integrada no quarto, que será,

por isso, uma suite.

Nº 1.5

A habitação do nº 1.5 será igual à do nº 0.8.

1.4

1.5

1.6

Figura OE7.17. Planta proposta do piso 1

1:250

65

Em relação à casa que lá existe actualmente,

a do 1.2, o apartamento sofrerá poucas alterações,

sendo a principal ao nível da sua tipologia, que será

a de duas assoalhadas.

Na sua distribuição interna, passará a ter uma

sala com kitchenette, tal como acontece no nº 0.8,

enquanto actualmente a cozinha está separada da

sala.

Terá uma I.S. completa.

Nº 1.6

O apartamento do 1.6 passará a ter duas

assoalhadas, com entrada para um corredor ligado à

cozinha.

A partir deste corredor ter-se-á acesso à I.S.

completa, ao quarto, que ficará virado para o pátio

exterior, à sala de estar e à cozinha, que terá espaço

de refeições.

A separação entre a sala de estar e a cozinha

será ténue, pertencendo quase que tudo ao mesmo

espaço. Poder-se-á considerar até que se tratará de

uma kitchenette, pois a sua ligação consistirá num

vão maior do que três portas.

Por outro lado, os acessos à sala de estar e à

cozinha serão independentes.

Devido ao estado avançado de degradação do

imóvel, o Arq. Pedro Cabral (2008:32) propõe uma

“… intervenção profunda (…), em que todos os

elementos constituintes da construção serão

substituídos, ou recuperados, por materiais idênticos

à sua construção original…”

A escada de acesso será toda em madeira e a

gurada metálica.

De acordo com a CMO (2008:32), ao nível dos

revestimentos interiores, renovarão as paredes, que

serão rebocadas, pintadas ou cobertas de azulejo, os

pavimentos, que serão em soalho ou em mosaico, e

os rodapés, que se manterão em madeira.

66

Para além destas alterações, a rede de esgoto

doméstico e pluvial, a de abastecimento de água, a

de gás, a de electricidade e a de telecomunicações

serão renovadas.

SÍNTESE

Vila operária formando pátio;

Mau estado de conservação;

Manutenção da fachada côncava;

Demolição integral do interior;

Preocupação em garantir mais do que as

condições mínimas de habitabilidade;

Casas pensadas para jovens de mobilidade

condicionada;

Tipologias To e T1;

Kitchenette.

67

CASO OE8: RUA DA COSTA

INSERÇÃO URBANA

À semelhança dos outros casos já estudados,

o OE8 insere-se na malha antiga do CHO, de origem

medieval, num quarteirão com configuração irregular

e que se remete a uma forma urbana de crescimento

orgânico.

Assim sendo, o OE8 encontra-se próximo do

Largo 5 de Outubro, e portanto da igreja matriz e do

mercado municipal, dos bombeiros, do Palácio do

Egipto e do Auditório Eunice Muñoz.

O OE8 situa-se no limite do CHO, na Rua da

Costa e no seguimento do OE1, rematando o mesmo

quarteirão.

Confronta apenas a Rua da Costa, a sudeste,

e o interior baldio do quarteirão, a noroeste.

A Rua da Costa constitui um beco sem saída,

cujo fim é determinado pelos nºs 7 e 9.

O interesse destes imóveis baseou-se apenas

no facto de estarem em boas condições, pois tinham

sido alvo de intervenções recentes, necessitando de

poucas obras e estando prontos a habitar.

De acordo com a CMO (2008:34), “ambos os

fogos encontram-se em razoável estado de

conservação e habitabilidade, pelo que serão

utilizados para realojamento temporário de inquilinos

de outros edifícios de habitação jovem”.

SITUAÇÃO PRÉVIA

O caso em estudo consiste em duas moradias

em banda, com um piso apenas, e com dois fogos de

reduzidas dimensões.

Estas construções estão alinhadas uma com a

outra, em relação ao beco, e orientadas a nascente-

poente.

Apesar de terem a mesma altura, a cota dos

dois edifícios não é a mesma, pois a rua da Costa

Figura OE8.1. Planta de localização

(pormenor do CHO)

1:2500

Figura OE8.2. Fachada de conjunto

68

sobe acentuadamente, estando o nº 9 mais acima do

que o nº 7.

A área de implantação do nº 7 é maior, tendo

51 m2, enquanto o nº 9 tem apenas 25 m

2.

Como este caso de estudo compreende dois

imóveis distintos, embora parcialmente semelhantes,

optou-se por caracterizá-los em separado:

Nº7

A entrada nesta casa faz-se directamente pela

rua da Costa, dando para uma sala-kitchenette.

A fachada principal está virada para poente e

a de tardoz, para nascente. Esta consiste apenas em

pequenos rasgos verticais

Esta habitação compreende três assoalhadas.

Tem um quarto e uma sala-kitchenette, ambos com

uma janela para a rua da Costa, e um escritório, de

pequenas dimensões. Possui uma I.S. completa, e

um hall, que faz continuação com a sala-kitchenette,

ligando-se ao escritório e à I.S.

Nº9

O acesso ao seu interior é directo pela rua,

entrando-se imediatamente para a sala-kitchenette.

Tem somente uma fachada, virada a poente e

para a rua da Costa.

Consiste numa assoalhada apenas, com uma

I.S. incompleta.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

Estes fogos encontravam-se em bom estado

de conservação, pelo que a intervenção se limitou a

alguns arranjos pontuais nas infra-estruturas e a uma

pintura no exterior e no interior.

Não existiram alterações na organização do

seu espaço interior, mantendo-se como estava.

Figura OE1.9. Planta do piso 2

1:250

Figura OE1.8. Planta do piso 1

1:250

Figura OE1.7. Planta do piso 0

1:250

Figura OE8.3. Plantas

1:250

Figura OE8.4. Alçados

1:250

69

2.4.2. Centro histórico de Paço de Arcos

Conforme a CMO (2008) constata, a

vila ribeirinha de Paço de Arcos está

limitada entre a via-férrea Cascais/Lisboa e

a Estrada Marginal.

Segundo os registos da CMO (2008),

a povoação de Paço de Arcos não tem uma

origem muito antiga, nem aparenta ter

surgido por decisão administrativa ou por

algum acontecimento histórico. Parece ter

emergido em torno do seu edifício mais

importante e emblemático, o Palácio dos

Arcos, construído no séc. XV.

Pensa-se que foi a partir desta construção que cresceu, definindo-se como um pequeno porto

fluvial, donde se preconizavam actividades como a pesca ou o transporte de produtos. Para além da

pedra, outras matérias locais e das redondezas eram levadas para Lisboa ou Cascais.

A sua localização geográfica especial revelou-se determinante e condicionante do seu

desenvolvimento, em que o seu núcleo urbano mais antigo preservou uma grande parte das suas

características. A enorme pressão imobiliária dos últimos 40 anos não se fez sentir em Paço de Arcos,

pelo que se conseguiu manter intacta a sua essência.

O crescimento comercial desta vila tem-se efectivamente baseado na dicotomia entre as

actividades agrícolas, desenvolvidas nas diversas quintas das redondezas, e as actividades piscatórias

e de transporte fluvial. O rio Tejo foi desde sempre a via natural, e preferencial, para o escoamento de

produtos agrícolas, nomeadamente o vinho e os cereais, e para o transporte de pessoas com destino a

Lisboa.

A atividade industrial com mais presença na vila desde o séc. XVI foi a da transformação de

pedra, pois as circunstâncias naturais de proximidade ao rio e as várias pedreiras existentes no

PA1

PA4 PA2

PA3

Figura PA.2. Localização dos imóveis do programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras

Figura PA.1. Rua Costa Pinto

70

concelho proporcionaram condições para a sua instalação e fixação. É por este motivo que se localiza

dentro da malha urbana de Paço de Arcos a maior estrutura de Fornos de Cal do país.

Com a construção da linha férrea Cascais/Lisboa na segunda metade do séc. XIX, surge a

primeira “barreira” ao crescimento urbano da vila no sentido norte, dificultando também a ligação

directa existente anteriormente entre as quintas e a vila.

Nas décadas de 40/50 construiu-se a Estrada Marginal, que veio fragilizar a ligação que existia

entre a vila e o rio, tendo em conta que este novo eixo viário tornou-se numa “barreira” quase

intransponível, devido às suas características.

Com a quebra desta relação com o rio, e neste contexto geográfico, o centro histórico de Paço

de Arcos foi perdendo a sua atratividade, assistindo-se a seu progressivo declínio. Porém, as suas

particularidades urbanas de núcleo antigo, o seu conjunto edificado e o seu tecido social, fazem com

que a vila mantenha o seu encanto.

Com a intenção de revitalizar e dinamizar este núcleo, a CMO inseriu Paço de Arcos no seu

programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica. Assim sendo, a autarquia já adquiriu 4

edifícios, totalizando 23 fogos. Destes fogos, 4 já estão atribuídos, 14 aguardam a conclusão do

projecto de execução e 5 fogos estão ainda em projeto base.

Dos quatro edifícios adquiridos pela CMO apenas se conseguiu obter informação sobre três: o

PA1, o PA2 e o PA4, de acordo com a nomenclatura atribuída pela CMO. Assim sendo, somente o

PA3 não será estudado, nem analisado, neste trabalho.

Figura PA.3. Palácio dos Arcos Figura PA.4. Jardim municipal

Figura PA.5. Chafariz Figura PA.6. Fornos da Cal

71

CASO PA1: AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES

INSERÇÃO URBANA

De acordo com os dados fornecidos pela CMO

(2008:38), o caso PA1 insere-se na malha antiga do

Centro histórico de Paço de Arcos (CHPA), que se

remete ao séc. XV.

Apesar de, no séc. XV, já estarmos a entrar no

Renascimento, o CHPA consiste numa malha do tipo

orgânico, onde a geometria irregular desenha a vila e

os seus quarteirões.

As acessibilidades dentro do núcleo histórico

de Paço de Arcos são bastante complexas, no que

diz respeito aos transportes públicos. Apesar da Av.

Patrão Joaquim Lopes ficar próxima da estação de

comboios de Paço de Arcos, o CHPA não tem uma

rede de autocarros eficiente. As acessibilidades por

via automóvel são mais simples, não havendo falta

de parqueamento, pois a avenida fica perto de dois

parques de estacionamento, que servem o CHPA e a

estação de comboios.

O PA1 localiza-se perto do Palácio dos Arcos,

a primeira construção no local e em torno da qual se

desenvolveram as restantes edificações, do auditório

José de Castro e da Praça da República.

O edifício em estudo está implantado num dos

quarteirões de geometria irregular já acima descritos,

confrontando, a poente, com a Av. Patrão Joaquim

Lopes.

A avenida obteve este nome em homenagem

a Joaquim Lopes, funcionário da marinha com cargo

de patrão, que ao longo da sua atividade em Paço de

Arcos salvou centenas de vidas na Barra do Tejo.

O interior do quarteirão é um logradouro, para

o qual o edifício tem acesso de tardoz.

Apesar do edifício ser incaracterístico, forma,

com o resto da rua, um conjunto coerente, e por isso,

importante de manter.

Figura PA1.1. Planta de localização

(pormenor do CHPA)

1:2500

Figura PA1.2. Av. Patrão Joaquim Lopes

72

SITUAÇÃO PRÉVIA

O edifício em estudo encontrava-se em boas

condições de conservação, salvo a exceção do piso

térreo, cujo acesso consistia difícil.

Não existe informação escrita sobre o sótão,

não se sabendo se estaria ou não habitável.

As casas do 1º e 2º piso estavam habitadas

por pessoas que foram, a posteriori, realojadas.

O PA1 tinha dois acessos: uma porta, situada

à direita, e um portão, à esquerda.

Através do portão acedia-se a um espaço de

garagem, embora não exista o levantamento do seu

interior. Anteriormente, poderá ter sido um espaço

comercial.

A entrada para o PA1 fazia-se através da porta

mais à direita, diretamente pela Av. Patrão Joaquim

Lopes, para um corredor, acedendo-se, depois, por

umas escadas comuns, aos restantes pisos.

O PA1 está orientado Nordeste-Sudoeste, pelo

que recebe sol praticamente todo o dia.

O edifício, com quatro pisos de altura, incluía,

no total, três apartamentos, correspondendo um por

cada piso, à exceção do R/C, onde não se sabe o

que existia.

Os apartamentos do 1º e 2º piso eram iguais,

pelo que serão analisados em separado do 3º piso

ou sótão.

1º e 2º piso

O acesso ao fogo, de quatro assoalhadas, era

feito das escadas comuns do edifício para um hall de

entrada. Deste, acedia-se para um quarto/escritório,

para uma sala, logo em frente à porta de entrada, e

para um corredor de distribuição. A sala teria sido

ampliada, pela sua ligação com outro compartimento,

ao qual se acedia através do anterior.

A partir do corredor chegava-se a um quarto

interior, com acesso direto a um outro, no qual só se

entrava pelo primeiro. Tinha-se acesso também a

uma I.S. completa e à cozinha, com uma despensa.

Figura PA1.3. Fachada frontal prévia

Figura PA1.4. Plantas prévias dos pisos 0,1 e 2

1:250

73

Sótão

Sendo este último piso umas águas-furtadas,

com tetos inclinados, a casa era bastante menor,

tendo apenas duas assoalhadas.

Do hall de entrada podia-se aceder a todas as

divisões da casa.

À esquerda, entrava-se para a cozinha, em

frente para a sala, que consistia na junção de dois

compartimentos, e à direita a entrada para uma I.S.

completa e um quarto.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

A CMO (2008:38) considerou o PA1 prioritário,

por a sua recuperação não implicar um investimento

elevado, tanto ao nível económico como de tempo.

Ou seja, apesar do edifício não se encontrar num

avançado estado de degradação, não necessitando,

por isso, de obras urgentes, a CMO (2008:38) achou

que as condições de habitabilidade que possibilitava

representavam pouco investimento e maior rapidez

na colocação imediata de fogos a arrendar.

Assim, o projeto, da autoria do arquiteto Carlos

Pinheiro, teve como principal objetivo manter o

máximo possível do interior, conciliando-o com as

novas exigências e necessidades dos jovens.

O acesso ao edifício manteve-se pela porta à

direita. O corredor de entrada e o núcleo de escadas

foram conservados e arranjados. A ligação com os

logradouros internos foi mantida.

No R/C conservou-se a garagem, permitindo

aos jovens ter automóvel, colmatando assim a falta

de transportes públicos.

Procedeu-se a uma nova compartimentação

dos interiores dos apartamentos, racionalizando a

sua configuração espacial para que, ao todo, as três

habitações do edifício dessem lugar a cinco fogos.

Figura OE1.7. Planta do piso 0

1:250

Figura PA1.5. Alçado frontal prévio

1:250

Figura PA1.6. Corte AB prévio

1:250

Figura PA1.7. Alçado posterior prévio

1:250

74

Então, o apartamento do 1º piso foi dividido

em dois mais pequenos, com uma assoalhada cada,

tal como a habitação do 2º piso.

Os fogos do lado esquerdo são iguais, assim

como os do lado direito. Por isso, serão analisados

separadamente, agrupados entre esquerdo e direito.

1º e 2º esquerdo

Das escadas acede-se a um pequeno patamar

comum, que antes pertencia ao corredor de entrada

da casa. Deste patamar entra-se no hall privativo do

fogo.

A partir daqui chega-se à I.S., logo à esquerda

e que tem zona de lavagem de roupa integrada. Esta

I.S. é completa e encontra-se adaptada no espaço

de um antigo quarto.

À direita fica a sala, onde estão integrados a

cozinha, em forma de kitchenette, e o quarto.

A intenção inicial da CMO era fechar com uma

parede simples de pladur, mas sem porta, o recanto

onde se localiza o quarto, de maneira a torná-lo mais

privado. Porém, e apesar de este ficar separado do

resto, não tem janela direta, o que tornaria a zona de

dormir demasiadamente escura, em caso de ser

fechada.

A atual assoalhada resulta da ampliação de

duas assoalhadas anteriores.

1º e 2º direito

Do patamar comum do edifício acede-se ao

hall de entrada privativo do fogo.

Este hall liga-se, em frente, à I.S., à esquerda,

à cozinha com espaço de refeições, e à direita à sala

com zona de dormir.

A I.S. e a cozinha mantêm-se no mesmo sítio

onde estavam no apartamento original, tendo sofrido

apenas algumas obras de melhoramento, com novos

equipamentos.

Ao contrário do que acontece na maioria dos

apartamentos adaptados a jovens, este não tem a

Figura PA1.8. Fachada frontal proposto

Figura PA1.9. Plantas propostas dos pisos 0,1 e 2

1:250

75

cozinha em forma de kitchenette, sendo, portanto,

separada da sala.

A sala com quarto resulta da junção de parte

de duas assoalhadas do fogo anterior. A parede que

divide as duas habitações foi construída de novo, e a

anterior demolida, de maneira a ampliar os fogos do

lado esquerdo.

Sótão

A configuração e tipologia do apartamento do

último piso mantiveram-se como estavam.

O fogo sofreu pequenas obras de renovação,

com especial incidência nas zonas da cozinha e I.S.

Tratando-se de uma intervenção com pouca

profundidade, procurou-se manter os materiais da

construção original, procedendo-se ao arranjo das

partes mais danificadas.

Ao nível do revestimento interior, as paredes

foram rebocadas, pintadas ou cobertas de azulejo,

nomeadamente na zona da cozinha, ou kitchenette,

e na I.S. O arquiteto optou por azulejos vermelhos na

parte da kitchenette.

Os pavimentos passaram a piso flutuante ou a

mosaico nas zonas húmidas, assim como os rodapés

que ficaram em madeira ou ladrilho.

SÍNTESE

Bom estado de conservação;

Conjunto urbano com o restante edificado;

Reestruturação dos espaços interiores, com

uma configuração mais racional;

Garagem;

Tipologia T0;

Kitchenette.

Figura PA1.10. Alçado frontal proposto

1:250

Figura PA1.11. Corte AB proposto

1:250

Figura PA1.12. Alçado posterior proposto

1:250

76

Figura PA1.13. Sala Kitchenette

Figura PA1.14. Sala Kitchenette

Figura PA1.16. Interior do sótão

Figura PA1.15. I.S.

77

CASO PA2: RUA COSTA PINTO

INSERÇÃO URBANA

O caso de estudo PA2 insere-se na malha

antiga do centro histórico de Paço de Arcos (CHPA),

sendo um dos casos ilustrados na publicação a que

temos vindo a fazer referência (CMO, 2008:38).

Tal como acontecia no PA1, no que respeita

às acessibilidades dentro do CHPA, estas não estão

tão facilitadas quanto se poderia imaginar à primeira

vista, pois apesar de existir uma estação de

comboios próxima, o CHPA não tem uma rede de

autocarros eficaz.

Contudo, via automóvel os acessos são mais

fáceis, não havendo falta de parqueamento. No que

diz respeito ao estacionamento, o PA2 fica perto do

parque associado ao jardim municipal e dos dois

parques adjacentes à Av. Patrão Joaquim Lopes,

que servem não só o CHPA, mas também a estação

de comboios.

O PA2 situa-se próximo do Palácio dos Arcos,

no seguimento da mesma rua, perto dos fornos de

cal, do jardim e do mercado municipais.

O quarteirão onde está inserido o edifício em

estudo é de crescimento tipo orgânico, pelo que a

sua forma é irregular.

Confronta, a sudoeste, com a Rua Costa

Pinto, e, a nordeste, com os logradouros do interior

de quarteirão.

O PA2 situa-se a meio do conjunto de quatro

edifícios, que definem o troço da rua.

Conforme a CMO (2008:38), a reabilitação do

PA2 fundamenta-se no interesse pela “… qualidade

arquitetónica do edifício e o seu significado cultural e

histórico…”, a par da forma coerente como ele se

integra no conjunto urbano.

Figura PA2.1. Planta de localização (pormenor do CHPA)

1:2500

Figura PA2.2. Fachada prévia

78

SITUAÇÃO PRÉVIA

O PA2 consiste num edifício com três pisos,

com mais um de sótão, onde se integram sete fogos

e um espaço comercial, com uso de restauração, no

R/C. O restaurante ocupa, clandestinamente, um dos

espaços de logradouro.

A sua entrada efetua-se diretamente pela rua

Costa Pinto, fazendo-se, depois, a distribuição aos

vários apartamentos por um núcleo de escadas, num

sistema de esquerdo e direito.

A escada, entre os dois primeiros pisos, tem

apenas um lanço a direito, prosseguindo os restantes

lances desviados em relação ao primeiro, mais para

o lado e para o interior. No 2º e 3º piso, o lanço

desdobra-se num U, mantendo-se descentrado em

relação à frontaria.

A fachada principal do edifício está orientada a

sudoeste, enquanto a fachada de tardoz está virada

a nordeste. As habitações recebem sol praticamente

todo o dia e a sua orientação permite a ventilação

cruzada.

As atuais habitações já tinham sofrido obras,

nomeadamente o acrescento das I.S. De acordo com

a CMO (2008:38), as tipologias atribuídas aos fogos,

que variam entre as três e as quatro assoalhadas,

não devem ser consideradas corretas, pois os

apartamentos não podem “… ser efetivamente assim

classificados, uma vez que não existindo à data da

sua construção a prática de prover as habitações

com instalações sanitárias e saneamento básico, as

respetivas instalações executadas posteriormente,

são muito precárias, mal inseridas, do que resultou

uma desorganização na articulação dos espaços e

consequente funcionalidade.”

No que diz respeito ao restaurante, como não

é objeto de estudo neste trabalho, dir-se-á apenas

que consiste num espaço amplo, cuja cozinha, copa,

armazém e I.S. se encontram construídos no espaço

que pertencia ao logradouro.

Apesar da sua distribuição em esquerdo e

direito, as habitações são diferentes entre si, tanto

Figura PA2.3. Plantas prévias dos pisos 0 e 1

1:250

A

B

A

B

0.1

1.1 1.2

79

em planta como na sua organização, pelo que serão

primeiro agrupadas de acordo com estes critérios, e

só depois analisadas, separando-as por grupo:

Nº 0.1 e 1.2

Por terem planta idêntica e pertencerem à

mesma tipologia (três assoalhadas) estes dois casos

são estudados em simultâneo.

A distribuição faz-se por um corredor interno, a

partir do qual se acede à cozinha e a dois

compartimentos, sendo, um deles, interior.

Em ambas as situações, a cozinha liga

diretamente por uma porta a uma terceira divisão,

que funcionará como quarto, sala ou misto.

No caso do 0.1, a sala também está ligada por

uma porta ao quarto interior, podendo-se considerar

o apartamento duas assoalhadas, conforme se

considere o “quarto” integrado na sala, ou não. Nesta

diferenciação poderá residir alguma da confusão na

classificação das tipologias, que se encontra até em

descrições oficiais.

No caso do 0.1, pelo corredor acede-se à I.S.,

que foi acrescentada por baixo do vão das escadas

comuns, enquanto na situação do 1.2, a I.S. está

agora associada à cozinha, ocupando a sua varanda,

transformada em marquise, ficando assim a cozinha

sem janela para a rua.

Outra diferença entre eles refere-se à entrada

na habitação, pois na do 0.1 o acesso é direto pela

sala e na do 1.2 é pelo corredor.

O 0.1 beneficia de um logradouro, na

continuação da cozinha.

Nº 1.1

Esta habitação tem três assoalhadas, e a sua

distribuição interna, centralizada, faz-se através de

um corredor, a partir do qual se acede à cozinha, a

uma divisão e a um outro corredor.

Desta segunda passagem chega-se à I.S. e a

um outro compartimento. A I.S. teria sido um quarto

Figura PA2.4. Plantas prévias dos pisos 2 e 3

1:250

A

B

A

B

2.1 2.2

3.1 3.2

80

interno, que foi transformado e adaptado a casa de

banho, ou parte de um dos compartimentos.

O acesso ao que parece ser a sala é feito pela

cozinha, à qual está unida por uma porta.

Do lado da cozinha, o fogo beneficia de uma

varanda.

Nº 2.1 e 2.2

Tanto o 2.1 como o 2.2 consistem em fogos de

quatro assoalhadas. A sua planta e organização são

praticamente iguais.

Em ambos a distribuição interna é feita a partir

de um corredor, pelo qual se acede à cozinha e a

dois quartos, sendo que um é interior.

Da cozinha existe ligação para a sala e para a

I.S., que foi acrescentada na varanda, que passou a

ser marquise.

A partir do quarto interno chega-se à sala e a

um terceiro quarto, que também tem ligação com o

primeiro deles.

Na situação do 2.1, a varanda é maior e a sua

ocupação como I.S. é total, enquanto no 2.2 a sua

utilização como I.S. se limita a uma parte, com uma

sanita, apenas.

As áreas das duas casas diferem um pouco,

devido à deslocação das escadas comuns para um

dos lados, o do 2.2.

Nº 3.1 e 3.2

No sótão encontram-se dois apartamentos de

três assoalhadas.

A sua distribuição interna faz-se a partir de um

corredor que se liga à cozinha, à sala e a um quarto.

Da cozinha acede-se à I.S., acrescentada na

varanda, tal como acontece no fogo do 2.2.

Da sala, que fica mesmo de frente para a porta

de entrada, acede-se a um segundo quarto, que não

tem nenhuma outra porta.

Parte do primeiro quarto instala-se em metade

da mansarda, formando uma espécie de arrumação.

Figura PA2.6. Corte AB prévio

1:250

Figura PA2.5. Alçado frontal prévio

1:250

Figura PA2.7. Alçado posterior prévio

1:250

81

Tal como observado no 2º piso, um dos fogos

é maior, por as escadas estarem descentradas para

o lado do 3.2.

“O sistema construtivo datado da época do

edifício, aparenta ser uma versão empobrecida do

sistema pombalino de construção em gaiola” (CMO,

2008:38).

De acordo com a CMO (2008:38), considera-

se o estado de conservação do conjunto edificado

como medíocre, estando mesmo sob a ameaça de

ruína, pelo que necessita de urgente intervenção.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

O caso aqui analisado encontra-se em fase de

revisão e coordenação entre os projetos de

arquitetura e das especialidades.

Conforme refere a CMO (2008:38), as opções

de projeto basearam-se no respeito pelo significado

arquitetónico e histórico do edifício. Procurou-se o

“… equilíbrio entre os objetivos da reabilitação e

vivificação dos centros históricos, a par dos objetivos

sociais da realização de habitação jovem, e os

diferentes investimentos inerentes, passíveis ou não,

de quantificação financeira…” (CMO, 2008:38).

A Arq. Maria João Gonçalves (2008:38),

responsável pelo projeto, considerou que a

manutenção da imagem do edifício como um todo,

integrada num espaço urbano requalificado e bem

cuidado, seria o mais importante, pois para ela é isso

que pode tornar o imóvel “… capaz de albergar de

novo jovens famílias, que farão reviver o que

preservamos do nosso passado, da nossa cultura e

da nossa história…” (CMO, 2008:38).

As fachadas serão recuperadas na íntegra, à

exceção do sótão, que não cumpre os regulamentos,

e que por isso sofrerá um alargamento da dimensão

(largura) das fenestrações. Conforme a CMO

Figura OE1.9. Planta do piso 2

1:250

Figura OE1.8. Planta do piso 1

1:250

Figura OE1.7. Planta do piso 0

1:250

Figura PA2.8. Fachada proposta

82

(2008:38), a fachada adquirirá o atual ritmo dos vão

dos pisos inferiores.

Assim, partindo da premissa de recuperação e

manutenção integral das paredes exteriores, adotou-

se também “… o respeito pela base da organização

interior do edifício, quer no plano da distribuição e

circulação comuns, como no que tal implica na

determinação da dimensão e na adequação das

tipologias dos fogos e seus espaços…” (CMO,

2008:38).

Por isso, o núcleo de escadas será mantido no

mesmo sítio e com a mesma configuração.

Como já foi anteriormente referido, o edifício é

atualmente de uso misto, entre habitação e comércio

de restauração. A proposta da CMO mantém estes

usos, procurando, contudo, dar melhores condições

ao restaurante, para que este possa por si só gerar a

qualificação, urbana e comercial, necessária no

local.

Assim sendo, o projeto contempla seis fogos,

de T0 a T2, e um restaurante, que ocupará todo o

piso térreo.

O logradouro, que agora está ocupado pelo

restaurante, será recuperado, regressando à sua

vocação inicial de espaços verdes.

Em relação ao restaurante, dir-se-á apenas

que será ampliado, ocupando todo o piso térreo,

crescendo para o lado, pela anexação do espaço do

nº 0.1, que deixará de existir.

A área correspondente ao 0.1 passará a estar

ocupada pela copa e por parte das I.S., que agora se

encontram no anexo construído clandestinamente no

logradouro.

Analisando o projeto não é difícil perceber a

procura de uma linha mais racional e coerente que a

arquiteta adotou na organização interna dos fogos.

No 1º e 2º piso, as casas serão semelhantes,

só variando entre esquerdo e direito. No sótão, as

duas habitações serão diferentes das outras, embora

idênticas entre si.

Figura PA2.9. Plantas propostas dos pisos 0 e 1

1:250

A

B

A

B

1.3 1.4

83

Assim sendo, os fogos serão analisados em

separado, mas agrupados por parecenças.

Nº 1.3 e 2.3

A partir do patamar comum do edifício aceder-

se-á ao corredor interno dos fogos, que se ligará à

cozinha, à I.S. e aos três compartimentos.

Tratar-se-ão, portanto, de dois apartamentos

com três assoalhadas cada, em que a cozinha será

independente.

Estas habitações diferenciar-se-ão apenas no

tamanho e no facto da do nº 2.3 ter uma pequena

varanda, logo a seguir à cozinha, e uma despensa

integrada no hall.

Nº 1.4 e 2.4

Estes apartamentos consistirão em dois fogos

com duas assoalhadas cada, em que a cozinha será

sob a forma de kitchenette.

Do patamar das escadas aceder-se-á ao hall

de entrada do edifício, a partir do qual se chegará à

sala, com kitchenette, à I.S. e ao quarto.

As duas habitações serão diferentes apenas

nas suas áreas e no facto do nº 2.4 ter uma pequena

varanda, ligada com a kitchenette.

Nº 3.3 e 3.4

Os apartamentos do 3.3 e do 3.4 terão apenas

uma assoalhada.

Do patamar comum do imóvel aceder-se-á à

sala, com zona de dormir. A partir desta, chegar-se-á

à cozinha e à I.S.

A cozinha será independente da sala/quarto e

terá uma pequena varanda.

De acordo com a CMO (2008:38), o sistema

construtivo original parece ser uma “… versão mista

e empobrecida do sistema pombalino de construção

em gaiola…”, como se vê noutras degeneradas

“cópias” dos melhores exemplares. Não se

reconhecendo grande importância no sistema

Figura PA2.10. Plantas propostas dos pisos 2 e 3

1:250

A

B

A

B

2.3 2.4

3.3 3.4

84

construtivo em presença, só se justifica a sua

recuperação se houver vantagem no balanço custo/

benefício. Neste sentido, pesando os vários fatores,

a Arq. Maria João Gonçalves (2008:38) propõe que a

reabilitação aproveite ao máximo a estrutura

existente, complementando-a, no entanto, e sempre

que imprescindível, com novos elementos e

materiais construtivos compatíveis.

Assim sendo, nas partes danificadas, “… a

intervenção adotada prevê a demolição e

substituição da estrutura (…) por uma nova, mista,

constituída por elementos de ferro e madeira, com

recurso a algumas soluções pré-fabricadas…” (CMO,

2008:38).

Como já foi anteriormente referido, as escadas

serão mantidas na sua forma inicial retilínea e depois

em semi-leque ou “de compensação”, como refere

Ferreira da Costa na sua Enciclopédia Prática da

Construção Civil de 1955 (capítulo 5, página 9).

Também será conservada uma claraboia,

substituída por outra mais recente, com o cuidado de

manter o desenho

A escolha dos materiais e a definição dos

detalhes construtivos procurou, conforme se lê na

publicação da CMO (2008:38), a qualificação e

modernização dos ambientes exteriores e interiores.

SÍNTESE

Manutenção da fachada, à exceção dos

azulejos do R/C;

Recuperação dos logradouros como espaços

verdes;

Núcleo de escadas em U;

Manutenção do uso misto, com ampliação do

restaurante e diminuição do número de

fogos (de sete para seis);

Tipologias T0 a T2, com uma organização

interna dos fogos mais racional e coerente;

Uso de kitchenette, exceto no sótão.

Figura PA2.12. Corte AB proposto

1:250

Figura PA2.11. Alçado frontal proposto

1:250

Figura PA2.13. Alçado posterior proposto

1:250

85

CASO PA4: RUA COSTA PINTO

INSERÇÃO URBANA

Tal como acontece nos casos anteriormente

estudados, segundo a CMO (2008:38), o PA4 insere-

se na malha antiga do CHPA.

Como já foi referido, as acessibilidades dentro

do núcleo histórico de Paço de Arcos são bastante

difíceis, no que concerne aos transportes públicos,

pois o CHPA não tem uma eficaz rede de autocarros.

Por via automóvel, os acessos são mais simples, não

havendo falta de parqueamento, pois a rua Costa

Pinto fica perto de dois parques de estacionamento,

que servem o CHPA e a estação de comboios.

O PA4 localiza-se perto do Palácio dos Arcos,

na continuação da mesma rua, do auditório José de

Castro e da Praça da República.

O edifício em estudo está implantado num dos

quarteirões de malha irregular do CHPA, pelo que a

construção acompanha a sua forma, acabando, por

isso, em gaveto.

Confronta, a sul, com a rua Costa Pinto, e, a

norte, com a travessa Caetano Félix. A poente, onde

o edifício termina de gaveto, confina-se um pequeno

largo.

De acordo com a CMO (2008:42), assume-se

como “… importante presença histórica (…) no

centro em que se insere…”, o que levou à sua

consideração de interesse, integrando este processo

de reabilitação.

SITUAÇÃO PRÉVIA

O PA4 diz respeito a um edifício de três pisos,

sendo o último um piso de águas furtadas.

No R/C encontram-se duas lojas, que mantêm-

se atualmente abertas ao público, com comércio de

retalho de pequena dimensão. No 1º piso existem

duas habitações e nas águas furtadas, uma. Apenas

esta última se encontra desocupada.

Figura PA4.1. Planta de localização (pormenor do CHPA)

1:2500

Figura PA4.2. Fachada prévia

Figura PA4.3. Planta prévia do piso 0

1:250

86

Os acessos aos fogos dão-se diretamente pela

rua Costa Pinto e pela travessa Caetano Félix.

A partir da entrada, a distribuição pelos vários

fogos faz-se através de dois núcleos de escadas, um

a sul, para quem chega pela rua Costa Pinto, e outro

por norte, para quem vem da travessa Caetano Félix.

As habitações dispõem-se segundo um esquema de

esquerdo e direito.

Conforme a CMO (2008:42), as fachadas a sul

e a norte têm personalidades diferentes, visto que a

frontaria sul é mais nobremente tratada, com cimalha

e jarrões, janelas de arco e revestimento de azulejos,

enquanto a fachada norte é mais pobre, apenas com

beirado, janelas de guilhotina e rebocos caiados.

Como as fachadas estão orientadas norte-sul,

as casas recebem sol sobretudo ao fim da manhã e

ao princípio da tarde. Esta direção permite também a

ventilação cruzada.

Tendo em conta que o objeto de estudo não

incide sobre espaços comerciais, refere-se apenas

que ambas as lojas têm entrada aberta pela rua

Costa Pinto, com várias montras, zona de armazéns,

copa e I.S.

Como já se sucedeu nos casos anteriores, os

fogos em observação são distintos entre si, pelo que

serão analisados separadamente:

Nº 1.1

Esta habitação compreende seis assoalhadas,

e a sua distribuição interna realiza-se através de um

corredor central e linear, pelo qual se acede à casa.

A partir desta passagem chega-se a todas as

divisórias do fogo, como a cozinha, a I.S., a sala e os

cinco quartos.

No topo do corredor encontra-se ou um quarto,

ou a sala, da qual se acede a uma varanda. Esta fica

de gaveto, com vista para o pequeno largo, e recebe

sol de poente.

Figura PA4.4. Plantas prévias dos pisos 1 e 2

1:250

1.1

1.2

2.1

87

Nº 1.2

O fogo do 1.2 corresponde a seis assoalhadas

com escadas de acesso internas e integradas. Estas

dizem respeito à entrada pela travessa Caetano Félix

e ligam somente ao 1.2. Por isso, este apartamento

acaba por ter uma entrada independente do resto do

edifício.

A sua distribuição interna dá-se através de um

corredor em L, que liga todos os compartimentos do

fogo, ou seja, a cozinha, a sala, a I.S. e os quartos.

Uma das divisórias tem entrada independente

pelo núcleo de escadas comum, podendo funcionar

como um escritório.

Nº 2.1

O sótão consiste numa habitação apenas, com

seis assoalhadas.

Um corredor em forma de L faz a distribuição

interna de todas as divisórias, desde a cozinha, à I.S.

e à sala e quartos.

Ao contrário do R/C e do 1º piso, que tinham a

fachada cega a oriente, o fogo do 2.1 tem aberturas

para este lado, que iluminam a zona da cozinha e de

um quarto.

A par destas janelas só existem outras duas.

Uma que recebe luz de norte, que será uma trapeira,

e que pertence a um quarto em forma de L. A outra

que fica virada a sul e ilumina um compartimento em

forma de T e que também será uma trapeira.

Os outros três quartos são escuros, pois não

têm janelas, assim como a I.S.

Segundo a CMO (2008:42), “… a estrutura é

do tipo gaioleiro, com estruturas de madeira e de

alvenaria mistas e já bastante alteradas e refeitas

integrando vários tipos de inertes (pedra, cantaris,

cerâmicos, …) e argamassas. Nas paredes divisórias

interiores há (de acordo com o levantamento)

situações de tabiques.”

A CMO (2008:42) refere também que o seu “…

estado de conservação é problemático registando-se

Figura PA4.5. Alçado frontal prévio

1:250

Figura PA4.6. Alçado posterior prévio

1:250

88

acentuada degradação tanto a nível estrutural como

em revestimentos e acabamentos…” A CMO

considera que as obras de reabilitação a efetuar no

edifício são de nível A, com características de

intervenção profunda.

PROJETO DE ALTERAÇÃO

Devido à importância que tem como imóvel de

cariz histórico, contempla-se a manutenção da sua

imagem.

Na fachada a sul, pretende-se recuperar e

manter os azulejos existentes e as bandeiras e os

vãos em arco, enquanto os toldos serão substituídos

por outros, articulados com a rítmica e a composição

da frontaria.

Na fachada a norte, substituir-se-ão o beirado

por cimalha e as janelas de guilhotina por outras de

dois batentes. As portadas serão colocadas pelo

interior, semelhantes às da fachada sul.

Por se lado, renovar-se-ão as coberturas ao

nível da estrutura e dos revestimentos, simplificando

a sua configuração, passando a ter uma parte em

curva.

A CMO (2008:42) encara a divisão interior,

previamente existente e resultante de consecutivas

alterações e adaptações ao longo dos seus dois

séculos de vida, complexa e inadaptada à realidade

dos jovens e das novas funcionalidades de um viver

contemporâneo.

No R/C manter-se-ão as duas lojas, que serão

reestruturadas, diminuindo os seus acessos internos,

limitando-se à zona de exposição, a uma I.S. e a

uma sala/armazém, com copa.

A proposta da CMO consiste em aumentar o

número de fogos, de três, atualmente, para cinco,

sendo estes de tipologia pequena, um T0 e três T1

no 1º piso e um T2 nas águas furtadas.

Devido ao mau estado de conservação do

edifício, propõe-se a “… substituição integral das

Figura PA4.7. Fachada proposta

Figura PA4.8. Planta proposta do piso 0

1:250

89

paredes interiores, de forma a possibilitar uma

divisão funcional do espaço existente…” (CMO,

2008:42).

Mais uma vez, os vários fogos são distintos

entre si e, portanto, serão analisados em separado.

Nº 1.3

Virada a norte, esta habitação corresponderá a

um T0, cujo acesso se fará a partir do patamar

comum das escadas para um hall de entrada que

ligará à sala com kitchenette. O espaço de dormir

estará, visualmente, ligeiramente separado por uma

pequena parede em gesso cartonado.

Desta zona aceder-se-á à I.S.

Nº 1.4

Este fogo T1, orientado a sul e a poente, será

acessível através do patamar de acessos comum,

entrando-se diretamente para a sala/kitchenette, que

ficará relativamente separada da entrada por uma

parede.

Esta sala ligar-se-á, ao fundo, a uma I.S. e ao

quarto, que usufrui do terraço.

Nº 1.5

Esta habitação T1, virada a norte, ligará aos

acessos verticais por um hall de entrada, a partir do

qual se chegará à I.S. e a um pequeno hall que ligará

com a sala/kitchenette e com o quarto.

Nº 1.6

Este T1 ficará orientado a sul e será acessível

pelo patamar comum do edifício, por onde se entrará

para um hall. Este ligará com a sala/kitchenette, com

a I.S. e com o quarto.

Nº 2.2

Ao sótão corresponderá o apartamento com a

maior tipologia, sendo um T2.

A

Figura PA4.9. Plantas propostas dos pisos 1 e 2

1:250

1.3 1.4

1.5

1.6

2.2

90

Virado a norte e a sul, a sua entrada far-se-á

pela sala, a partir da qual se chegará à cozinha, que

será independente, e a um hall interior, que separará

as zonas comuns das privadas. Este ligará, então, à

I.S. e aos dois quartos.

No que diz respeito aos acabamentos, nas

zonas comuns será utilizada uma pedra lioz nos

pavimentos e rodapés, e as paredes e tetos serão

rebocados e pintados a tinta de água.

As lojas ficarão com um pavimento em tosco,

as paredes e tetos serão apenas rebocados e levará

um teto falso.

Nos apartamentos, os pavimentos serão em

solho “à inglesa”, em pinho envernizado, assim como

os rodapés. Na I.S. será utilizado um mosaico

porcelânico polido. Pintar-se-ão as paredes tal como

os tetos, embora na I.S. estes sejam tetos falsos em

gesso cartonado.

SÍNTESE

Mau estado de conservação;

Manutenção da fachada, e dos azulejos;

Alteração da configuração da cobertura, que

passa a curva numa parte;

Aumento do número de fogos (de três para

cinco);

Substituição integral das paredes interiores,

com maior racionalização dos espaços;

Tipologias de T0 a T2;

Uso de kitchenette na maioria dos fogos;

Figura PA4.10. Alçado frontal proposto

1:250

Figura PA4.11. Alçado posterior proposto

1:250

91

3.0. DISCUSSÃO DOS CONCEITOS

3.1. ESPAÇO: A ESSÊNCIA DA ARQUITECTURA

“Por sua vez, a arquitectura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o

homem penetra e caminha.” (Zevi, 1984:17)

“Architecture is not produced simply by adding plans and sections to elevations. It is something

else and something more. It is impossible to explain precisely what it is – its limits are by no means

well-defined.” (Rasmussen, 1959). A arquitectura revela-se então uma matéria tão intuitiva, sem

barreiras, e que mexe com tantas outras disciplinas, que muitas têm sido as discussões em torno da

sua definição.

Segundo Zevi (1984:18), “o espaço interior (…) é o protagonista do facto arquitectónico”, e

portanto o que distingue a arquitectura. Por sua vez, Rasmussen (1959:48) defende que a palavra

espaço é demasiadamente neutral e vaga, pelo que a palavra “cavity” (cavidade) é aquela que

melhor ilustra a arquitectura e a diferencia. Para alguns movimentos artísticos, como o ecletismo do

séc. XIX, “as definições da arquitectura como espaço e forma a serviço do programa e da estrutura

não eram suficientes.” (Venturi, 1977:30)

Como “… a arquitectura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos

elementos construtivos que encerram o espaço, mas precisamente do vazio, do espaço encerrado,

do espaço interior em que os homens andam e vivem”, (Zevi, 1984:18), então as formas que definem

o espaço apresentam-se apenas como um instrumento para a concretização e entendimento

espacial, e as alterações que se processam nessas formas servem o propósito de alterar o espaço.

Segundo Zevi (1984:18) “… o espaço (…) não pode ser representado perfeitamente em

nenhuma forma, (…) não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência directa…”. Assim, a

arquitectura não parece fácil de explicar porque o espaço em si revela-se algo de complexo, de difícil

representação e análise.

Mas, embora insuficiente, é através do desenho dos elementos delimitadores do espaço, dos

elementos que o constroem, que os arquitectos conseguem comunicar o seu projecto, analisar o

melhor possível o que estão a idealizar e definir a sua “forma” e a sua “volumetria”. É através deles

que expõem a sua concepção espacial do edifício, da rua, etc.

Figura DC.1. Planta da Basílica de S. Pedro, de Michelangelo, e três distintas interpretações dela

92

Assim, e de acordo com Zevi (1984), vários são os atributos que se podem identificar como

próprios da arquitectura: linha, cor, forma, volume, ritmo, simetria, movimento, força, repouso, escala,

proporção, luz e sombra, cheios e vazios, contraste, etc., porém o autor defende que só serão

válidos quando enquadrados com a noção de espaço, enquanto essência da arquitectura.

Conscientes de todas estas dificuldades, desde a representação à análise comparativa do

espaço, desde a complexidade do estudo à própria subjectividade de alguns conceitos, houve um

esforço de homogeneizar tanto quanto possível a representação dos vários projectos (plantas,

alçados, fotografias e desenhos à mão levantada), assim como procurar identificar, para além de

ideias subjectivas acerca do espaço, outras mensuráveis e mais facilmente comparáveis. No entanto,

sem nunca perder de vista a concepção espacial, pois “se pensarmos um pouco a respeito, o facto

de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitectura é, no fundo, natural, porque a arquitectura

não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é

também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.” (Zevi, 1984:28)

3.2. A MORFOLOGIA E A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO

“Devemos entender, de um modo genérico, que a morfologia se refere ao estudo da forma e

à sua estrutura como complemento da percepção visual.” (Consiglieri, 1994:24)

Se estudamos o entendimento do Homem sobre o espaço, a morfologia, enquanto estudo da

forma, não deve ser dissociada da percepção espacial. Por isso, parece essencial compreender,

para além dos elementos que alteram a forma, os mecanismos que afectam a sua percepção.

Estes elementos revelam-se fundamentais na arquitectura pois é a partir deles, das relações

formais e sintácticas que estabelecem entre si, e com o todo, que surge a composição arquitectónica,

e, através de inúmeras possibilidades de conjugação, permitem diferentes jogos de volumetria, de

profundidade, de luz, etc., conforme as intenções do arquitecto.

Com este capítulo pretende-se definir os conceitos importantes para uma análise do espaço,

percebendo como eles se articulam e se podem representar. Para tal, torna-se também relevante

enquadrar brevemente a evolução de tais conceitos, referindo as principais reflexões/teorias e etapas

do seu desenvolvimento.

A história resulta de uma sucessão contínua de factos, encadeados entre si. Assim, a forma

arquitetónica, e o modo de a trabalhar, foram-se modificando ao longo do tempo, numa sequência

lógica, como seguimento, conveniência ou contraponto, às ideias da época anterior.

Segundo Zevi (1984:53), desde os gregos que a forma arquitetónica tem sido trabalhada,

exprimindo-se de maneiras distintas nas diferentes fases históricas.

Durante a Antiguidade Clássica, “o templo grego caracterizava-se por uma enorme lacuna e

uma supremacia incontestada através de toda a história. A lacuna consiste na ignorância do espaço

interior, a glória na escala humana” (Zevi, 1984:56), enquanto nos templos romanos está patente a

93

escala monumental e o espaço interior, embora menos inspirados ao nível dos pormenores (Zevi,

1984:67). No espaço cristão, os arquitetos “… reuniram (…) na igreja a escala humana dos gregos e

a consciência do espaço interior romano” (Zevi, 1984:71). Enfim, no espaço bizantino procurou-se

uma aceleração direcional, para o altar, e uma dilatação do espaço (Zevi, 1984;74); com os bárbaros,

o ritmo horizontal é interrompido, elevando-se o presbitério e introduzindo-se o ambulacro (Zevi,

1984:78); no românico surge um tratamento mais tridimensional do espaço, com a sua estrutura, a

sua interdependência entre a fachada e o espaço interior, e a sua métrica (Zevi, 1984:89); “os

contrastes dimensionais e a continuidade espacial do gótico” (Zevi, 1984:91); no renascimento

surgem novas leis e medidas do espaço, baseadas numa “… reflexão matemática desenvolvida

sobre a métrica românica e gótica. Busca-se uma ordem, uma lei, uma disciplina contra a

incomensurabilidade, a infinitude e a dispersão do espaço gótico, e a casualidade do românico”

(Zevi, 1984:97); a volumetria e plástica do século XVI, baseada na centralidade e no espaço

simétrico, e nos equilíbrios eurrítmicos de proporção (Zevi, 1984:102); ou “o movimento e a

interpenetração no espaço barroco”, tendencionalmente orgânico, através das ilusões de perspetiva

e da libertação da geometria elementar, da simetria e dos tratados convencionais (Zevi, 1984:114).

No entanto, até ao final do séc. XIX, vários teóricos limitaram-se a estudar a forma/massa,

nomeadamente os elementos comprimento, largura e altura, assinalando o seu carácter corpóreo,

associados a conceitos como simetria, proporção e direcção. Mas, conforme sugere Consiglieri

(1994:28), “estas três medidas não têm o objectivo de estudar o espaço, mas antes a plasticidade e

as características da massa arquitectónica, com as suas paredes e tectos, numa total

homogeneidade.”

No início do séc. XX surge a “teoria da empatia”, que promove uma identificação emocional

entre o sujeito e o objecto arquitectónico, “… em que o espaço passa a ser uma essência, um

diálogo da alma com o meio que nos rodeia numa experimentação tridimensional.” (Consiglieri,

1994:28).

A “teoria da empatia” foi aplicada pelos expressionistas, para quem, de acordo com Consiglieri

(1994:28), “… não havia formas geométricas, nem superfícies, nem volumes euclidianos (…) As

formas resultavam da distorção causada por tensões emocionais, e a sua estética era a percepção

do inconsciente ou da subjectividade do mundo”. Segundo Argan (1988:227), enquanto “… a

impressão é um movimento do exterior para o interior: é a realidade (objecto) que se imprime na

consciência (sujeito), a expressão é um movimento inverso, do interior para o exterior: é o sujeito que

por si imprime o objecto.”

Já Vitrúvio separava os conceitos de beleza, de utilidade e de expressão, que é o “acto ou

efeito de exprimir, revelar, traduzir, representar, significar” (Dic. da Porto Editora, 2004). Consiglieri

(1994:37) refere ainda que, para o Vitrúvio, a expressão representava a “… propriedade inerente a

qualidades materiais da cor, da forma, do espaço e que são utilizadas de acordo com opções de

natureza plástica…”.

Consiglieri (1994:28) esclarece também a influência da “teoria do tempo” nos expressionistas,

em que o movimento do espaço, anteriormente ligado à direcção, passa a estar associado à ideia de

ritmo, e deste modo, “… o espaço e a forma desmembram-se, e a caixa volumétrica perde os limites

94

impostos pelas quatro paredes.” Por conseguinte, as leis da simetria deixam de condicionar a forma,

passando a estar apenas subordinada “… às posições das diversas forças, conforme o objectivo da

expressão e o carácter discordante da composição (…) havendo, todavia, uma harmonia.”

O expressionismo promovia uma certa mística do edifício, com ambientes interiores

carregados de espiritualidade, com a “… entrada coada da luz em pontos estratégicos, conferindo

uma atmosfera sobrenatural” ao espaço (Consiglieri, 1994:28).

Kandinsky (1970) explorou essa espiritualidade na pintura, mas associada a uma linguagem

abstracta, de formas geométricas elementares. Segundo Argan (1988:272), ele “… parece estudar

deliberadamente os infinitos significados que o mesmo signo geométrico pode assumir, conforme se

modifique a cor ou a situação espacial.” Kandinsky (1970) concluiu que o quadrado, vermelho,

representa a parte material do pensamento; o círculo, azul, o movimento; e o triângulo, amarelo, a

lógica e a concentração.

É assim que, para Consiglieri (1994:29), a arquitectura “… passa a ser considerada não como

um volume, mas sim como se fosse unicamente um plano”, sintetizando dois opostos: a empatia e a

abstracção, recorrendo às “… formas elementares, nitidamente geométricas, aos contrastes do claro-

escuro, dando à criatividade uma expressão à volta do mundo das formas…”.

Na década de 20, surge uma forte reacção à empatia, procurando “… abandonar o espiritismo

simbólico, substituindo estes conceitos por uma “ciência” de matérias geométricas: ponto, linha e

superfície. As formas deixam de ser unicamente resultado de uma sensação ou emoção para se

tornarem um pensamento visual…” (Consiglieri, 1994:30), passando a prevalecerem os valores de

claro-escuro e da linha.

Este novo entendimento da arte, da vida e da sociedade designou-se de movimento moderno.

Segundo Zevi (1984:124), distinguem-se duas correntes espaciais no movimento moderno: o

funcionalismo e o movimento orgânico, que “tendo em comum o tema da planta livre, (…) o

entendem de forma diferente; apenas racionalmente a primeira, organicamente e em plena

humanidade a segunda.”

Zevi (1984:123) fundamenta a arquitectura deste movimento no conceito de “… planta livre…”,

possível graças à evolução das técnicas construtivas, que permitem “… um finíssimo esqueleto

estrutural” e as grandes paredes de vidro, que facilitam “… o contacto absoluto entre os espaços

interior e exterior.” Assim, e de acordo com o mesmo autor, “as divisões parietais (…) podem tornar-

se mais finas, curvar-se, mover-se livremente, e isso cria a possibilidade de conjugar os

ambientes…” e de unir entre si espaços e/ou compartimentos, ou seja, a “… planta livre oferece

possibilidades ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro de uma malha estrutural

(…) ou em linha reta...” (Zevi, 1984:123).

Consequentemente, “o espaço moderno reassume, portanto, o desejo gótico da continuidade

espacial e do estudo minucioso da arquitetónica, não como sonho final dentro do qual se pode inserir

o elemento dinâmico, mas como consequência de uma reflexão social; retoma toda a experiência

barroca das paredes onduladas e do movimento volumétrico, de novo, não por ideais estéticos

autossuficientes, mas por considerações funcionais que se superam em magníficas imagens

poéticas, nas quais a massa das paredes barrocas é substituída por divisórias muito leves, e

95

suspensas, ora de vidro, ora de delgado material isolante; retoma a métrica espacial da renascença

(…), e da renascença retoma também o gosto pelas divisões modulares, traduzindo-o nos termos do

atual programa arquitetónico. (…) Por antítese polémica à ornamentação aplicada no século XIX,

prefere a simplicidade, a essencialidade dos elementos figurativos…” (Zevi, 1984:123), pelo que “…

muitas conquistas espaciais precedentes encontram assim uma nova fisionomia artística” (Zevi,

1984:123).

Para certos autores, o funcionalismo surgiu com o arquiteto americano Sullivan, ao preconizar

que “a forma seguia a função” (cit. in Consiglieri, 1994), o qual sustentava que “… a beleza de um

objecto relacionando a forma com a função”. Este movimento procurava dar “… ao Homem a

satisfação das necessidades fundamentais dos processos biológicos, oferecendo-se o sol, a

salubridade, o bem-estar…” (Consiglieri, 1994:30).

“… A rigorosa racionalidade das formas arquitectónicas, entendidas como deduções lógicas

(efeitos) a partir de exigências objectivas (causas) …” (Argan, 1988: 264) era um dos princípios

gerais da arquitectura moderna. Conforme explica Consiglieri (1994:30), o conceito de racionalidade,

a par com o processo de estandardização, “… pretendia dar aos materiais, às construções, aos

edifícios, e até aos espaços e formas, uma ciência de signos que demonstrasse os aspectos visuais

científicos e uma lógica dos aspectos do nosso mundo (…) A ideia era dada com clareza, de modo a

que se percebesse as suas analogias e simplicidade…”. Consequentemente, a forma arquitectónica

“… procurou volumes simples, cúbicos, cilíndricos, paralelepipédicos, amplamente envidraçados,

conferindo espaços abertos e agradáveis horizontes…” (Consiglieri, 1994:30).

Por seu lado, Argan (1988:264) distingue seis diferentes orientações: o racionalismo formal,

com Le Corbusier (I); o racionalismo metodológico e didáctico, preconizado por Gropius na Bauhaus

(II); o racionalismo ideológico, presente no construtivismo soviético (III); o racionalismo formalista, do

neoplasticismo holandês (IV); o racionalismo empírico, com Aalto (V); e o racionalismo orgânico

americano, cujo expoente foi F. L. Wright (VI).

I) Le Corbusier (Argan, 1988:266) defendia “… o homem como medida de todas as coisas…”,

pois o edifício e a natureza estabelecem com este, relações de proporção. Da sua experiência com a

pintura cubista surge a “… sua concepção de espaço contínuo, inseparável das coisas que circunda,

atravessa e penetra, sendo também por elas penetrado (…). Não é abstracção nem formalismo: a

construção ideal do espaço torna-se a construção material do edifício.” (Argan, 1988:266).

Consiglieri (1994:31) esclarece que a relação entre o espaço e o tempo, associada a um rigor

da arquitectura, promove a concepção de percursos: uma continuidade espácio-temporal, com uma

sucessão de espaços desde a entrada, à sala, passando pelas escadas, etc. “O tempo é o caminhar

num espaço, é mover-se num percurso ou num esquema espacial”, desenvolve o autor.

Para Le Corbusier (Argan, 1988:266), “… tudo se resolve na clareza da forma, e esta resolve

tudo, pois a forma correcta é, ao mesmo tempo, a forma da realidade e da consciência, da natureza

e da história.”

II) Segundo Gropius (Argan, 1988:273), director da Bauhaus, o espaço “… não é nada em si; é

uma pura, inclassificável e ilimitada extensão. Começa a existir, a se delimitar, a tomar forma quando

é considerado como dimensão virtual do agir ordenado, projectado, formativo de um grupo social.”

96

Gropius vai investigar a forma-padrão, procurando uma certa geometrização das formas, pois

“… a forma geométrica é uma forma pré-padronizada (…) tão familiar que podemos utilizá-la

independentemente de seu significado conceitual originário, como um signo a que se podem atribuir,

conforme as circunstâncias, diferentes significados” (Argan, 1988:272). O método de projecto

seguido na Bauhaus não tinha, porém, o objectivo de encontrar a forma correcta. Gropius defendia

que “… tão importante quanto o problema da forma (Gestalt) é o da formação (Gestaltung).” (Argan,

1988:272)

Segundo Argan (1988:272) o programa da Bauhaus nunca teve a intenção de condicionar a

imaginação. Procurou antes estimulá-la, sem renegar o lado funcional e racional do processo criativo.

Ou seja, pretendia uma forma adequada à sua função, sem que essa forma se limitasse a ela.

Consiglieri (1994:35) considera que o conceito de adequação tem um campo de aplicação

mais lato do que meramente à questão funcional, pois o “… adequado tem um sentido mais formal

quando pensamos em relação a quê e respondemos a relações formais de harmonia, de cores ou

textuais e até à expressão de elementos de arquitectura que, em muitos casos (…) também são de

uso: janelas, portas, …”.

Conforme explica Argan (1988:277), apesar de Mies também estar associado ao racionalismo

da Bauhaus, vai desenvolver uma investigação própria: o ritmo. Mies “… descobriu que a serialidade

não exclui o ritmo…”, projectando “… ritmos seriais”, e que “o ritmo não é determinado apenas por

factores quantitativos…” mas, pelo contrário, “… é a qualidade das formas que desenvolve um ritmo

a partir de sua repetição social.” (Argan, 1988:277). De acordo com o mesmo autor, Mies vai

desprezar o “… ambiente natural, social ou doméstico…”, pois enquanto racionalista, mesmo que

numa vertente idealista, entende que uma obra de arte é absoluta, e portanto não se relativa a nada.

Também ligado ao neoplasticismo, segundo Argan (1988:277), Mies vai admitir apenas “…

dois eixos estruturais, um vertical e outro horizontal, e uma única entidade formal, o plano.”

Mies vai sofrendo alterações ao longo do seu percurso, e com “… o mesmo rigor racionalista

que, no projecto, leva-o a substituir a composição pela repetição serial, acaba por deslocar a

racionalidade para o plano da abstracção…” (Argan, 1988:278).

III) Enquanto se viviam os chamados “loucos anos 20” nos EUA, dava-se uma importante

revolução na Rússia, a revolução bolchevique. Surgiu então um movimento vanguardista, o

construtivismo, que visava “… expressar nas formas arquitectónicas o ímpeto dinâmico da

revolução…”, através duma “… forte componente expressionista”. (Argan, 1988:283). Conforme

Argan (1988:283) sugere “… as construções, com a precisão e os movimentos das suas formas,

constituem o símbolo visível da edificação do socialismo.”

De acordo com este autor, o construtivismo possui igualmente uma qualidade, e um limite. “A

qualidade: a arquitectura é concebida como comunicação em acto. O limite: ainda que em sentido

funcional e não representativo, a arquitectura tende a se tornar cenográfica e formalista, a responder

a funções mais ideais e imaginárias do que reais.” (Argan, 1988:283).

Argan (1988) conta que, apesar de alguma dissonância entre os precursores deste movimento,

o geometrismo acaba por assumir posição pois “… a geometria expressa o espírito racionalista da

revolução…”. Esclarece também que vingaram “… as soluções formais extremamente ousadas (…),

97

pois a técnica (…) reflecte a ética revolucionária”; e o “… dinamismo e simbolismo formais, pois a

construção deve ser a imagem-símbolo da sociedade socialista.” (Argan. 1988:284).

IV) Os arquitectos neoplásticos pesquisaram sobre tipologias, “… a partir da análise dos

esquemas distributivos de espaço correspondentes às diversas situações funcionais…”. (Argan,

1988:288).

Conforme clarifica Argan (1988:288), o neoplasticismo aplicava o princípio da elementaridade

construtiva, pois considerava que, à partida, uma forma não existe em si, sendo antes um resultado

do acto de construir, juntar e compor.

“Linhas, planos, cores são os elementos materiais da construção”, no neoplasticismo (Argan,

1988:289). Para além disso, “… a forma geométrica já não é símbolo espacial; apresenta-se como

perfil, tamanho, cor, espessura, como uma coisa que se pode segurar na mão e manejar. Utiliza-se a

forma geométrica por ser a mais familiar (…) e (…) essa familiaridade psicológica com a forma torna

o espaço arquitectónico “neoplástico” um espaço à medida do homem.” (Argan, 1988:289)

V) Conforme sugere Argan (1988:292), para Aalto, tanto o espaço exterior como o interior,

deviam ser igualmente tratados, pois o espaço externo é também um espaço concreto, constituído

pela luz do sol, pelo ar, pelas árvores, … pelo horizonte. O autor refere também que o mote

projectual de Aalto partia de um objecto, fosse ele uma lareira, uma escada ou um móvel e que a

razão da sua escolha de materiais, preferencialmente locais, se prendia com qualidades de

“elasticidade” e “textura”, e não por uma continuidade entre a casa e a natureza.

VI) Apesar de vários historiadores defenderem que Wright é um naturalista, Argan (1988:296)

discorda, explicando que “… Wright não é naturalista: não (…) no sentido do mimetismo formal…”. O

autor esclarece que o arquitecto acreditava que cada indivíduo tinha a liberdade de escolher, por si

mesmo, como se queria relacionar com o mundo, dando-lhe a possibilidade do contacto directo com

a realidade, com a natureza. Assim, a forma arquitectónica para Wright perscrutava: “eliminação da

“caixa” espacial, redução das determinantes formais às horizontais e verticais e ao cruzamento de

planos, planta livremente articulada, concentração das forças de sustentação num núcleo plástico

interno, anulação das separações nítidas entre espaço interno e externo, união entre o edifício e o

ambiente natural entendido como local determinado…” (Argan, 1988:296).

Wright fascinou-se pela arquitectura japonesa, pois apesar de pertencer ao passado “… não é

intrinsecamente histórica: é o sinal de uma aliança íntima (…) entre homem e natureza…” (Argan,

1988:296). Do seu estudo sobre esta arquitectura, resultaram alterações no pensar de Wright e nos

seus projectos: procura a “… comunhão profunda com a natureza, seus materiais e seus processos

formativos…” (Argan, 1988:296); e passa a apreciar os processos tecnológicos mais modernos, pois

deixa de considerar tanto “… os aspectos exteriores da realidade, e sim os ritmos internos de

agregação e desenvolvimento: o princípio fundamental da arquitectura orgânica é o de que a

construção deve ser natural como um crescimento.” (Argan, 1988:296).

Segundo Consiglieri (1994:36), para Wright, que estudou as formas da natureza, “a beleza (…)

compunha-se de valores formais de equilíbrio, de ordem e harmonia, proporção, módulo, ritmo e

unidade”, enquanto para Vitrúvio, segundo o mesmo autor, a beleza estava, para além da ordem, na

euritmia (regularidade e justa proporção) e na simetria.

98

Resumindo, a “… sua arquitetura centraliza-se na palpitante realidade do espaço interior, e

nega, portanto, formas volumétricas elementares (…) e o sentido de altiva indiferença pela natureza

que se afirma em Le Corbusier. A planta livre não é para ele uma dialética interior do volume

arquitetónico, mas o resultado final de uma conquista que se exprime em termos espaciais, partindo

de um núcleo central e projetando os vazios em todas as direções” (Zevi, 1984:125).

Apesar de o funcionalismo espelhar a lógica e a razão, especificando as necessidades do ser

humano, resume-se a problemas de cariz biológico e fisiológico. “Mas a função puramente física não

é suficiente para ser expressão duma forma de objecto…”, pois “se a resposta a uma necessidade

prática de uso fosse apenas determinada pela ordem única de um uso ou função física, não teríamos

um número tão diversificado de formas destinadas a uma mesma função...” (Consiglieri, 1994:38).

A forma e a função devem concorrer num mesmo sentido, “para conseguir obter um objecto

expressivo (…) que ao mesmo tempo sugere a sua utilização, é necessário que se expressem as

tensões que dão sentido à sua existência e que interactuam na forma, a qual por sua vez é

adequada a determinadas intenções, que incluem a de um uso…”

Este mesmo autor (1994:33) assinala que nos finais do séc. XX, dois novos conceitos de

espaço se desenvolvem: o espaço funcional, e o espaço ambiental.

Enquanto o espaço funcional implica um “… espaço mecanicista, mas acrescido de um

sistema de controlo ambiental, conforme as instalações e as exigências dos percursos humanos…”,

o espaço ambiental é todo aquele “… ocupado pelas pessoas numa vivência existencial e que é

influenciado pelos valores externos e internos”. Estes valores deixam de ser determinados apenas

pela função, mas antes pela vontade dos utilizadores de um certo espaço ou ambiente, o que obriga

os profissionais a lidarem com os problemas da subjectividade e da experiência pessoal de cada um.

Neste processo, descrito por Consiglieri (1994:34) como “… metamorfose, surge uma nova

dimensão da existência humana e da percepção: a deformação, a distorção e (…) o percurso.” O

autor acrescenta que esta “… metamorfose sofre sequências em que a superfície, inicialmente como

matéria opaca, se transfigura em situações de linha e de claro-escuro” e consequentemente “… a

sombra e o vazio eliminam a realidade do objecto, que se expressa por elementos reduzidos ao

mínimo, suspensos no espaço”. Por seu lado, a forma (como a fachada) materializa-se através do

claro-escuro ou da sua própria fragmentação, preconizando uma maior profundidade, através dos

artifícios de luz e de elementos lineares, como os pilares.

Figura DC.2. Vestíbulo da Assembleia de Chandigan

99

Uma vez que a nossa perceção espacial não deriva diretamente do estímulo visual, mas, sim,

da interpretação que fazemos dele (Rocha, 1994:132), as diferentes experiências percecionais da

realidade acumuladas pelo indivíduo ao longo da vida, por influenciarem essa mesma interpretação

dos estímulos visuais, são determinantes no modo como cada um perceciona, entende e vivencia o

espaço.

Consciente de que a sua investigação sobre “… a morfologia encontra-se intimamente ligada

aos princípios das leis perceptivas, mas num grau mais evoluído do que o das simples regras da

visão”, Consiglieri (1994:26) estabelece que foi a partir desta que surgiu a “teoria do campo”, de

Attilio Marcolli, ciência que se baseia em que “o campo representa uma parte do espaço absoluto,

sendo limitado e com características constantes em todos os seus pontos”. Ou seja, “são campos

porque são espaços que no seu interior têm certas características homogéneas...”, como por

exemplo a cor, os materiais, a forma e a função, entre outros (Marcolli, cit. in Rocha, 1998:135). Pelo

efeito da “teoria do campo” na composição nasceram “uma série de conceitos como os de tensão,

movimento e, também, direcções e deformações.” (Consiglieri, 1994:26).

Marcolli (cit. in Rocha, 1998:135) sugere que a definição de campo ficaria incompleta sem a

noção de tempo, pois “… qualquer acção ou operação implica não só um determinado espaço, como

igualmente um certo tempo, pelo que o conceito de campo deve ser considerado de natureza

espácio-temporal.”

Associados à noção de campo surgem outros dois conceitos: a estrutura e a forma. Segundo

Rocha (1998:136) a “estrutura é o conjunto de elos que permite a definição de uma forma

independentemente dos elementos que a compõem”, isto é, “… com os mesmos elementos podem-

se constituir muitas formas por intervenção da estrutura, podendo-se concluir que, formas são zonas

do campo que por atingirem um determinado grau de estruturação se segregam das zonas não

estruturadas.”

Consiglieri (1994:26) refere ainda que “o estudo do campo atravessou três fases distintas: o

gestaltismo, a topologia e a fenomenologia”.

Método gestáltico

Segundo Rocha (1998:126), a teoria de Gestalt, veio pôr em causa as teorias associativas,

que defendiam que “… o conhecimento humano se baseava na experiência adquirida e nas

sensações…” pelo que se opunham a toda a ideia inata. De acordo com o mesmo autor, as teorias

associativas acreditavam que o pensamento “… se desenrola através de três operações: a

continuidade, o contraste e a semelhança.”

Porém, o Gestaltismo defende que “… um conjunto é imediatamente percebido através da sua

estrutura independentemente da memória” e que “uma forma (…) organiza-se num todo mesmo

quando composta de elementos.” (Rocha, 1994:127) Aliás, Gestalt significa, em alemão, forma

global.

100

Resumindo, “a psicologia da Gestalt parte das formas como dados primordiais organizados

espontaneamente segundo certas leis de estrutura, em princípio, com independência relativamente

às significações atribuídas pela experiência anterior.” (Rocha, 1994:128)

Consiglieri (1994:38) esclarece que “… cada objecto é portador de um conjunto de diferentes

qualidades e propriedades que actuam como estímulos.” Rocha (1998:136) explica que o campo

gestáltico, ou campo perceptivo, pode ser definido como o conjunto desses estímulos, que “se

repetem regularmente com a mesma intensidade…” e que a forma só se revela quando há a sua

variação.

Assim, “… para a tendência gestáltica, as sensações não são mais do que estímulos físicos ou

imagens subjectivas do mundo objectivo”.

Segundo Guillaume (cit. in Rocha, 1994:132) os princípios da teoria da Gestalt são:

1) "Uma forma é diferente e mais alguma coisa do que a soma das partes que a compõem.

Uma forma é um todo indissociável que tem qualidades próprias e que não resulta exclusivamente da

soma dos elementos que a compõem.”

2) “Uma parte num todo é diferente da mesma parte isolada ou num outro todo.”

3) “Os factos psíquicos são formas, isto é, unidades orgânicas que se individualizam e se

limitam no campo espacial das percepções e das representações. Por outras palavras, a forma é

fechada e estruturada, é a ela que o contorno parece pertencer.”

4) “A forma resiste melhor à mudança do que o fundo.”

5) “As formas são transponíveis, ou seja, algumas das suas propriedades conservam-se

através de mudanças que afectam de certo modo todas as suas partes.”

Para se poder definir a expressão de um objecto, é necessário perceber em que consiste a “…

“percepção da expressão” revelada no objecto, circunstância que ultrapassa o nível do sensorial, do

sensível e do transcendental, para se focalizar, objectivamente, em dados estruturais perceptivos.”

(Consiglieri, 1994:38)

“A teoria da forma (Gestalt) considera a totalidade da percepção obtida pelos processos

psíquicos como sendo esquemas apriorísticos totais, isto é, estruturas dadas de antemão ao cérebro,

o qual vai criar a imagem integral dos objectos.” (Consiglieri, 1994:38)

Assim, “… as imagens percepcionadas não dependem dos objectos reais mas de esquemas

apriorísticos constituídos por princípios primários.” (Consiglieri, 1994:38)

Figura DC.3. Igreja Imatra, Alvar Aalto

101

“O conceito de ilusão surge, assim, associado ao conceito de sensações, insuficientes para o

conhecimento do real mensurável ou do mundo objectivo.” (Consiglieri, 1994:38)

Método topológico

De acordo com Consiglieri (1994:170), “… a topologia estuda as propriedades das figuras

deformadas, as propriedades intrínsecas de cada configuração geométrica e as propriedades

inalteradas pela deformação, ou seja, as propriedades das superfícies curvas contínuas deformadas

ou deformáveis, e não de superfícies curvas comuns achatadas ou destituídas de ângulos, como é o

caso da esfera.”

Sendo a geometria diferencial, um dos ramos da topologia, investigou as “… teorias dos

espaços de conexão, oferecendo hoje possibilidades de conceber e ver o espaço arquitetónico em

esquemas totalmente diferentes – as regiões” (Consiglieri, 1994:170).

Este novo conceito, a região, refere-se a “… uma zona com determinadas características que

a diferem de outras e com uma fronteira a que se chama limite” (Consiglieri, 1994:171). Conforme

Consiglieri (1994:171), o limite pode ser físico ou visual, e permite criar regiões completamente

fechadas, ilimitadas ou subdivididas em pequenas zonas (sub-regiões).

Para a psicologia topológica, “… o espaço é uma dimensão íntima, sem referências métricas”,

em que se estabelece uma nova estrutura, baseada em princípios de cariz qualitativo, que explora a

relação entre o todo e as partes ou entre a pessoa e o ambiente, não num espaço métrico, mas num

espaço de vivência, sendo, portanto, a curva, um dos elementos base da geometria topológica

(Consiglieri, 1994:170).

Assim, Consiglieri (1994:170) esclarece que a topologia é uma ciência de relações espaciais,

que assenta em dois conceitos: a curva de Jordan e a conexão, que vêm substituir as formas

euclidianas.

A conexão consiste, por seu lado, numa “… linha que liga dois pontos no espaço, podendo ser

externa ou interna”, e que exprime, em arquitetura, a noção de fluidez” (Consiglieri, 1994:170).

Figura DC.4. Casa da cascata, F. L. Wright

102

Método fenomenológico

De acordo com Consiglieri (1994:40), “a fenomenologia é uma teoria humanista, ou um método

de continuação das teorias de Kant…” que “… procura as emoções do Homem nos aspetos

transcendentais, abrangendo a dor, o desespero e, fundamentalmente, a angústia, traduzindo-os

através do vazio, do silêncio e da luz/penumbra.”

Para os percussores do método fenomenológico, “… as sensações são estímulos físicos

associados a juízos-julgamentos críticos que constituem a nossa experiência do real…” (Consiglieri,

1994:41).

Na fenomenologia, “… a perceção constitui uma tentativa de reunificar a sensibilidade e o

julgamento crítico do objeto, a emoção subjetiva e o conceito, numa integridade coerente. Pretendeu-

se, assim, fundir os aspetos estéticos subjetivos com os aspetos da vivência humana.”

Esta “… nova conceção filosófica que alterou os conceitos de vivência do espaço efetuado

pelas relações entre o ambiente e o Homem” traduz-se um espaço que não se limita à sua

funcionalidade, antes pelo contrário, abrange “… outros conceitos como carácter ou relações de

identificação” (Consiglieri, 1994:41).

Estes elementos “… pertencem (…) à experiência do gosto e à relação do lugar e do Homem.

É o habitar que depende do conhecimento do espaço existencial e tem um lugar distinto com o seu

viver quotidiano.”

Apesar da morfologia, e da percepção espacial, terem sido alvo de vários estudos e teorias ao

longo do tempo, e de contemplarem conceitos demasiadamente subjectivos, é possível definir, com

um certo rigor, alguns parâmetros e critérios de análise.

Francis Ching compilou, no seu livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem” (2000), alguns

destes conceitos, acrescentando-lhe outros, que considerou importantes: o perfil, ou silhueta; a

transformação da forma, por processo dimensional, subtrativo ou aditivo; a articulação da forma e da

superfície; a unidade de contrários; o plano base, ou pavimento, seja elevado ou deprimido; o plano

elevado, ou teto; os elementos lineares verticais; o plano vertical, solto, em pares, formando um L ou

paralelos, em triplas, formando um U ou em quádruplas, encerrando o espaço; as aberturas; a

organização e as relações espaciais; entre outros, já referidos, como a luz, a proporção, a escala, a

ordem, a simetria, a hierarquia, a pauta, o ritmo e a repetição.

Figura DC.5. Tallesin West, F. L. Wright

103

De acordo com Francis Ching (2000:36), o perfil consiste na aresta perimetral de um plano, ou

de um volume, o que nos permite identificar a sua forma. A nossa perceção dessa forma depende do

grau de contraste visual entre o objeto e o fundo. O autor (2000:36) define que, em arquitetura, os

contornos que mais lhe interessam são: dos planos que confinam o espaço; das aberturas num

contexto espacial encerrado; e das silhuetas das construções.

Francis Ching (2000:38) remete-se para a teoria da Gestalt, constatando que a nossa mente

simplifica o contorno visual, pelo que temos tendência a reduzir as silhuetas das construções a perfis

mais elementares e regulares, como sejam, os três perfis básicos principais: o círculo, o triângulo e o

quadrado.

Quanto aos processos de transformação da forma, partindo-se da manipulação dos sólidos

platónicos, Francis Ching (2000:48) descreve três: o dimensional; o subtrativo e o aditivo.

A transformação dimensional consiste na modificação das dimensões de uma forma, sem que

ela perca a sua identidade, como pertencente a determinada família geométrica.

A transformação subtrativa implica a diminuição de uma parte da forma original, podendo esta

manter-se, ou não, na sua família geométrica.

Figura DC.7. Unidade de habitação, França, Le Corbusier

Figura DC.6. Mesquita Suleymaniye

104

Este processo pode ser utilizado em arquitetura como modo de criar aberturas (janelas ou

portas), entradas de luz ou pátios privados (Ching, 2000:53). Citando Le Corbusier, Francis Ching

(2000:55) refere que a “forma subtrativa” é mais desprendida, procurando expressar no exterior uma

intencionalidade arquitetónica de que no interior se satisfaçam todas as exigências funcionais, como

sejam a entrada de luz, a continuidade e a circulação.

A transformação aditiva, por seu lado, compreende a junção de elementos ao volume original,

conservando-se a nova forma na sua família geométrica, ou não.

Sendo este processo resultado da relação visual ou união física de uma ou mais formas

secundárias a um volume principal (Ching, 2000:56), Le Corbusier (cit. in Ching, 2000:55) definia a

“forma aditiva” como agradável e cheia de movimento, podendo ordenar o espaço mediante a sua

classificação e hierarquia volumétrica.

Conforme Francis Ching (2000:56), as formas aditivas podem-se classificar segundo o tipo de

relação que estabelecem entre si, por tensão espacial, contacto entre arestas, entre faces, ou como

Figura DC.9. II Redentor, Veneza, Andrea Palladio

Figura DC.8. Residência Gwathmey, Nova Iorque, Gwathmey & Associados

105

volumes geminados, ou de acordo com a natureza dessas relações, criando formas centralizadas,

lineares, radiares, agrupadas ou em trama.

No que concerne à articulação da forma (Ching, 2000:78) e das superfícies (Ching, 2000:86), o

autor esclarece que a articulação se prende com o modo como as superfícies de uma forma se unem

para definir o seu volume e contorno, e que essa articulação se pode desenvolver, por um lado, de

modo a expressar a individualidade visual das superfícies: mediante a diferenciação de superfícies

adjacentes, por mudança de material, cor, textura ou modelação, o uso de vértices como elemento

diferenciador do carácter independente das superfícies, a eliminação dos vértices que separam

fisicamente planos contínuos ou a iluminação da forma a fim de criar, nas esquinas, distintos matizes

de luz e sombra; ou, por outro lado, por uma continuidade das superfícies, estendendo, para além

dos limites da forma, um material, cor, textura ou desenho, diminuindo ou eliminando a sua

individualidade, fazendo sobressair o volume da forma.

Para tal, Francis Ching (2000:81) estudou as esquinas e as arestas, e a perceção do perfil, do

tamanho, da escala, da proporção e do valor visual de um plano (Ching, 2000:86).

Assim, contrapondo o cromatismo de um plano ao do contexto, pode-se articular a sua forma

aumentando ou diminuindo o seu valor visual (Ching, 2000:86). Através da inserção de elementos

com dimensões conhecidas, torna-se mais eficaz a perceção do tamanho e da escala de um plano

(Ching, 2000:86). A textura e a cor de um plano influenciam o seu peso visual, a sua escala e os

seus graus de absorção e reflexão lumínea e acústica (Ching, 2000:86).

Por fim, é possível exagerar ou modificar a forma e a proporção de um plano ao cobri-lo com

um modelo ou pauta ótica (Ching, 2000:86).

Figura DC.10. Detalhe do santuário Izumo, Japão

106

Segundo Francis Ching (2000:94), tendemos a organizar os elementos integrantes do campo

visual em dois grupos: os elementos positivos, que se percebem como figuras, e os negativos, que

lhes proporcionam um fundo. A perceção e compreensão que temos de uma composição dependem

da interação visual entre estes elementos positivos e negativos, não existindo uma sem a outra, pelo

que integram uma realidade inseparável, ou seja, uma unidade de contrários (Ching, 2000:94).

Numa relação entre exterior e interior, conforme cataloga Francis Ching (2000:96), podem-se

definir os seguintes espaços: o exterior positivo, limitado por um muro e as paredes da construção; o

pátio ou átrio interior, rodeado pela construção; o interior e o exterior privado, fundidos num só e

limitados por muros; o espaço exterior privado que rodeia a construção, estando limitado por meio de

muros; o exterior público dominado por uma forma distinta, com destaque, e o que se distingue por

meio de uma fachada extensa, que o define; e o exterior público sem uma forma.

O plano horizontal pode ser de dois tipos: ou é um plano base, ou pavimento, ou é um plano

elevado, ou teto (Ching, 2000:99).

Figura DC.12. Taj Mahal, Índia

Figura DC.11. Edifício em Vincent Street, Londres, Sir Edwin Lutyens e Banco Fukuosa Sogo, Arata Isozaki

107

O plano base pode sobressair do plano envolvente por uma mudança de cor ou textura, ou por

contraste formal (círculo ou quadrado/retângulo rodado), destacando, por exemplo, uma trajetória, ou

circulação, de um espaço de estar (Ching, 2000:100).

Se o plano base for elevado, interrompe-se, ou não, o fluxo espacial que o cruza, dependendo,

o grau de descontinuidade, da sua altura: se for baixo, mantém a continuidade espacial e visual, e o

acesso físico adequa-se com facilidade; se estiver quase ao nível dos olhos, conserva uma certa

continuidade visual, mas rompe-se a espacial, pois o seu acesso depende de escadas ou rampas,

tornando-se num espaço de refúgio e observação; e, por fim, se for mais elevado é interrompida a

continuidade visual e espacial, pelo que esse plano se transforma, ao mesmo tempo, num pavimento

e num teto, protegendo o espaço que lhe fica por baixo (Ching, 2000:103).

De igual maneira, o plano deprimido pode-se destacar pela mudança de cor ou textura, ou por

contraste formal geométrico ou de orientação, e o seu grau de continuidade com o campo envolvente

depende de ser mais ou menos rebaixado, assim como a privacidade e o nível de refúgio e proteção

que proporciona (Ching, 2000:108).

Figura DC.13. Rua em Woodstock, Inglaterra e Casa de vidro, Connecticut, Philip Johnson

Figura DC.14. Sofá

108

O plano elevado delimita espaços, pois abaixo de si mesmo dispõem-se visualmente formas,

campos e ambientes (Ching, 2000:117). Se tratar-se de uma cobertura, varia consoante os materiais,

a dimensão e a geometria do seu sistema construtivo, se for um teto, altera-se, também, por efeito da

forma, da cor, da textura e da sua modelação, que pode cumprir requisitos acústicos. Para modificar

a proporção de um ambiente, destacar uma circulação, direção ou orientação, ou para permitir a

entrada de luz, os tetos podem-se subir ou baixar, conforme o que mais convém (Ching, 2000:118).

Os elementos lineares verticais articulam o espaço envolvente e criam uma série de relações

com o encerramento, ou não, do espaço interno, para além de o dividirem centralmente, em partes

iguais, ou de modo descentrado, com campos hierarquicamente distintos por tamanho, forma ou

situação (Ching, 2000:122).

Duas colunas bastam para definir um plano, transparente, que surge da tensão visual entre

ambas, mas um conjunto de três ou mais pode descrever um ritmo e um volume, e transformar o seu

grau de encerramento (Ching, 2000:123).

Figura DC.16. Mosteiro de Santa Maria de Tourette, França, Le Corbusier

Figura DC.15. Casa na Costa de Massachusetts, Stubbins

109

Para Francis Ching (2000:130), o plano vertical pode aparecer solto, aos pares, formando um

L ou em paralelo, em grupo de três, moldando um U, ou em quatro, encerrando o espaço.

A cor, a textura e o tipo de superfície influencia a perceção que se tem do seu valor visual, da

sua proporção e das suas dimensões (Ching, 2000:131).

As várias conjugações e disposições dos planos verticais vão influenciar na leitura e no grau

de encerramento, de privacidade e proteção de um espaço e no enfase, ou não, de uma determinada

direção ou circulação, principalmente no caso dos planos paralelos ou em L (Ching, 2000:134).

Em qualquer construção convém, de acordo com Francis Ching (2000:158), a existência de

aberturas nas suas superfícies, sejam elas portas ou janelas. Estas aberturas diminuem o grau de

encerramento do espaço, mas permitem o seu acesso e circulação, as vistas, a entrada de luz e a

ventilação natural (Ching, 2000:158).

Francis Ching (2000:159) define algumas modalidades básicas de aberturas: as que ficam

dentro dos planos (centradas, descentradas, agrupadas, embutidas ou claraboias), as que estão nas

Figura DC.18. Prefeitura de Shimané, Japão

Figura DC.17. Casa das bodas de prata, Pompeia

110

esquinas (numa aresta, entre arestas, contornando a esquina, agrupadas ou claraboias) e as que se

encontram entre planos (verticais, horizontais, aberturas a ¾, paredes envidraçadas ou claraboias).

Em relação às aberturas que ficam dentro dos planos, resultam em formas que brilham em

contraste com o fundo, e transmitem a sensação de estabilidade se estiverem centradas, ou criam

tensão visual, se forem descentradas (Ching, 2000:160). Podem ganhar destaque e individualidade

se a sua forma e orientação contrastarem com o plano ou se forem delimitadas por uma moldura

grossa (Ching, 2000:160).

As aberturas em esquinas imprimem à superfície uma orientação em diagonal, servindo para

destacar uma vista com interesse ou iluminar uma esquina obscura (Ching, 2000:162). Reforçar a

identidade dos planos que as albergam e estimulam a modelação, utilização e circulação obliqua, ou

na diagonal, no espaço (Ching, 2000:162).

As aberturas entre planos tornam as superfícies mais soltas e individualizadas, vinculam uma

maior relação com os espaços adjacentes, dando-lhes uma maior continuidade e acentuam uma

direção, seja ela centrada ou descentrada (Ching, 2000:164).

Associada ao estudo das aberturas surge a investigação sobre a luz (Ching, 2000:170). Para

Francis Ching (2000:171), a luz transmite às superfícies e às formas que ilumina as alterações de cor

e de disposição que acontecem no céu e no tempo atmosférico. O autor (2000:171) acrescenta que a

luz, que ilumina as superfícies interiores de uma habitação, aviva as suas cores e as suas texturas e

que as variações entre luz e sombra, que a própria luz comporta, fazem com que a iluminação seja

um fator revivificador do espaço, articulando as formas nele contidas. Estudando a sua intensidade e

a sua distribuição dentro de uma habitação, torna-se evidente que a luz pode clarificar as formas

espaciais ou, pelo contrário, deformá-las, assim como, tanto cria um ambiente agradável, como um

refundido e sombrio (Ching, 2000:171).

Figura DC.19. Casa Amédée Ozenfant, Paris, Le Corbusier

111

Quanto à organização do espaço, Francis Ching (2000:178) define o espaço dentro de outro;

os espaços conexos, quando têm uma área compartilhada; os espaços contínuos; e os espaços

vinculados por outro, comum a ambos.

Enquanto a escala se refere ao tamanho de um objeto, comparado com outro, a proporção

remete-se para a justa e harmoniosa relação da parte com o todo, ou com outras partes (Ching,

2000:278).

São exemplos de proporções, as estruturais e os sistemas de proporcionalidade, como a regra

de ouro, as ordens, o modulador, o ken, as proporções antropomórficas ou a escala visual, dada pela

comparação e contraste de elementos dentro do todo, nomeadamente as janelas com dimensões

iguais, que se repetem numa fachada, estabelecendo com ela uma escala relativa (Ching, 2000:278).

Dentro dos princípios ordenadores da forma encontramos o eixo, a simetria, a hierarquia, a

pauta, o ritmo, a repetição e a transformação (Ching, 2000:321).

O eixo consiste numa reta definida por dois pontos no espaço, em torno da qual se dispõem as

formas e os espaços, essencialmente de maneira simétrica e equilibrada (Ching, 2000:321).

A simetria refere-se à distribuição e organização equilibradas das formas e espaços iguais em

lados opostos a um eixo, reto ou plano (Ching, 2000:321).

A hierarquia é a articulação segundo a relevância ou significado de uma forma ou espaço, pela

sua dimensão, forma ou situação relativa a outros (Ching, 2000:321).

O ritmo constitui um movimento unificador, caracterizado pela repetição ou alternância de

elementos formais idênticos (Ching, 2000:321).

A pauta é uma linha, plano ou volume que, devido à sua continuidade e regularidade, reúne,

acumula e organiza um modelo de formas e espaços (Ching, 2000:321).

A transformação consiste no princípio a partir do qual uma ideia, estrutura ou organização

arquitetónicas se modificam, devido a uma série de manipulações e mudanças descontínuas, em

resposta a um contexto ou enunciado.

Figura DC.20. Casa Kaufmann (ou da cascata), F. L. Wright

112

3.3. NOÇÃO DE “HABITAR” E DE ESPAÇO DOMÉSTICO

“O indivíduo vai investir no seu habitat, ou seja, vai pôr muito em si mesmo para construir “a

sua casa”, o “seu canto”. (…) De um local mais ou menos banal, ele fará um lugar de vida

personalizado: moldá-lo-á, inscreverá as suas marcas, definirá as suas referências. (…) A “sua casa”,

o “seu canto”, torna-se então um espaço apropriado.” (Elian Rjaqui, Informations Soociales, 1992, cit.

in Leitão, 2008:61)

De acordo com Amos Rapoport (1995:30), para alguns arquitetos e autores, “(…) the dwelling

unit is a setting for the family in which maximum control may be exerted allowing self-expression and

leading to feelings of security”, pelo que se depreende que a casa deve ser um espaço flexível, não

se impondo aos seus habitantes de modo rigidamente delimitado e organizado nem condicionando a

sua existência, pelo contrário, permitindo a sua apropriação por parte de quem a habita.

3.4. NECESSIDADES HUMANAS E EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS

“A evolução característica da nossa época altera, a ritmo acelerado, os modelos de vida

recriando hábitos e necessidades, o que implica um reajustamento constante das maneiras de viver.”

(Valente, 1984:3)

Segundo Maria da Luz Valente Pereira (1984), devido à revolução industrial, as cidades

cresceram em número de pessoas, pobres, vindas dos meios rurais, pelo que a “… necessidade de

construir para todos (…) trouxe condicionamentos económicos…”, pretendendo-se, portanto, “…

economia na construção, no uso do solo urbano…”, e nos gastos de equipamentos, utilização e

manutenção que a casa exigia aos seus moradores. De acordo com a mesma autora, as casas

tornaram-se mínimas, condicionantes da vida familiar, onde as funções foram reduzidas ao

estritamente essencial, pois “o arquitecto não precisava de conhecer as necessidades reais dos

futuros utentes das casas (…), ele determinava essas necessidades e exprimia-as no próprio

desenho.” Valente (1984:8) conclui, então, que não só estas medidas não satisfizeram a população,

tornando a sua vida quotidiana difícil, como “… se verificou uma transferência dos antigos hábitos

rurais ou de uso das barracas para casas que exigiam formas de viver mais evoluídas.”

Consequentemente, vários autores elaboraram estudos sobre as funções e as áreas mínimas

no habitar, procurando soluções equilibradas, que garantissem algum conforto e qualidade do

espaço doméstico.

Nuno Portas (1969:20) organizou uma lista de funções e actividades associadas à habitação, à

qual J. Branco Pedro (2002:12) acrescentou outras funções, sistemas e atividades.

113

QUADRO 1_ LISTA DE FUNÇÕES E ATIVIDADES DA HABITAÇÃO

Função Atividade

Dormir/descanso pessoal . Dormir ou descanso 1

. Ler, ver televisão

. Fazer a cama

. Tratar de doentes ou crianças

. Vestir-se/despir-se e arranjar-se

. Arrumar roupas, etc.

. Conversar ao telefone

Preparação de refeições . Guardar e conservar alimentos 2

. Preparar alimentos

. Cozinhar alimentos

. Lavar loiça

. Arrumar loiça

. Eliminar lixo

Refeições correntes . Pôr a mesa e servir alimentos 3

Refeições formais . Comer 4

. Levantar a mesa

Estar/reunir . Descansar 5

. Conversar, jogar, ler, etc.

. Ver televisão

. Ouvir música

. Tocar instrumentos musicais

Estar/receber . Apresentar e acompanhar visitas 6

. Servir aperitivos/bebidas

. Actividades referidas no ponto (5)

Recreio de crianças . Brincar 7

. Vigiar e tratar de crianças

Estudo/recreio dos jovens . Estudar 8

. Utilizar computador pessoal

. Reunir amigos

. Actividades referidas no ponto (5)

Trabalho/recreio dos adultos . Estudar 9

. Trabalhar

. Utilizar computador pessoal

. Actividades referidas no ponto (5)

Tratamento de roupa: . Passar a roupa 10

a) Passar a ferro . Limpar a roupa

b) Costurar . Arrumar a roupa

. Costurar à mão ou à máquina

Lavagem de roupa . Lavar à máquina 11

. Lavar à mão

Secagem da roupa . Secar na máquina 12

. Estender e apanhar roupa

Higiene pessoal . Lavar as mãos e rosto 13

. Tomar banho ou dar banho a crianças

. Vestir-se/despir-se, arranjar-se, fazer a barba

. Excreções

. Proceder a curativos

114

. Lavar roupa pequena à mão

Permanência no exterior privado . Descansar, solário 14

. Reunir

. Cuidar de flores ou animais

. Estar/jogar ao ar livre

Circulação: . Entrar e sair da habitação 15

a) Entrada e saída . Vestir/despir vestuário de exterior

. Atender pessoas estranhas à porta

. Esperar e receber visitas

b) Comunicação/separação . Circular entre zonas/compartimentos

. Separar zonas/compartimentos

Arrumação . Arrumar objectos volumosos e de uso eventual 16

. Arrumar alimentos e produtos de limpeza

. Arrumar roupa de casa

Estacionamento de veículos . Estacionar veículo 17

. Entrar e sair do veículo

. Arrumar utensílios de manutenção do veículo

Apesar do cumprimento das exigências funcionais não implicar apenas a satisfação de áreas

mínimas, pois o conforto também se refere, entre outras coisas, às questões térmicas, da iluminação,

da acústica e da segurança, a investigação desenvolvida incide principalmente sobre os problemas

das funções e das áreas.

Segundo Portas (1969:7), “… as quantidades de espaço ou equipamento são (…) função de

exigências físicas das actividades e estas das características antropométricas e mecânicas das

acções” e que, portanto, existem outras exigências, do tipo psicossomático, às quais nem sempre o

espaço mínimo consegue satisfazer, e que não são de fácil quantificação.

Portas (1969) desenvolveu um estudo sobre as áreas mínimas e as áreas desejáveis numa

habitação, partindo da análise do mobiliário necessário em cada espaço para responder às funções e

tarefas aí realizadas. Pedro (2002) actualizou o quadro de áreas, para os parâmetros e exigências da

actualidade.

Conforme constata Portas (1969:9), o espaço mínimo exigido numa habitação “… não pode

corresponder ao simples somatório das áreas parcelares determinadas para cada função, não só

porque depende do grau de privacidade interna que possibilite a forma de compartimentação do

espaço mas também porque, a este nível global os moradores têm da casa uma imagem ou

representação valorativa…”

Deve no entanto assinalar-se que este estudo não se centra nestes nem noutros interessantes

tópicos do programa habitacional, como seria o caso da noção de espaço mínimo de habitabilidade

ou da relação compartimento/função, apenas os menciona em atenção à inter-relação e

interdependência de todos estes aspetos quando se analisam tipologias habitacionais, ainda que nas

suas vertentes mais formais.

115

3.5. NÍVEIS DE INTERVENÇÃO

Aguiar e alt. (1997:120) classificam quatro níveis de intervenção possíveis na reabilitação de

um edifício, mediante o seu grau de protecção e o seu estado de degradação:

Nível 1: Reabilitação ligeira

Este nível de reabilitação aplica-se em situações em que o estado de conservação geral do

edifício é satisfatório ou razoável, consistindo apenas em pequenas reparações e melhorias das

instalações e equipamentos pré-existentes nos fogos, como sejam a casa de banho e a cozinha.

Estas obras podem compreender: melhoria das condições interiores de iluminação, ventilação e

exaustão; limpeza e reparação geral das coberturas, assim como dos sistemas de condutas de

águas pluviais e esgotos; pequenas reparações nos rebocos e na pintura; reparação das caixilharias

e de elementos metálicos afectados pela corrosão; limpeza dos esconsos e caixas-de-ar; e melhoria

das instalações eléctricas e da iluminação artificial. Cerca de 1/3 do custo de uma obra nova

semelhante;

Nível 2: Reabilitação média

Neste nível temos, para além das alterações referidas no nível 1: reparação ou substituição de

parte dos elementos de carpintaria; reparação e reforço estrutural pontual; reparação de alguns

revestimentos; substituição da instalação eléctrica; melhoria nas partes comuns do edifício;

pequenas transformações na organização do espaço interior, como ampliação de um compartimento

pela junção com outro; e melhoria das condições funcionais e ambientais dos compartimentos,

nomeadamente na casa de banho e na cozinha, que podem ser reestruturadas ou reconstruídas.

Cerca de 2/3 do custo de uma obra nova semelhante;

Nível 3: Reabilitação profunda

Chegamos a este tipo de intervenção se, para além dos trabalhos referidos anteriormente,

forem necessárias modificações que impliquem demolição ou reconstrução significativa de partes do

edifício, tais como: profunda redistribuição e reorganização dos espaços interiores, com possível

aumento ou diminuição no número de fogos; e criação ou adaptação de espaços para introduzir

instalações e/ou equipamentos inexistentes. Custo idêntico ao de uma obra nova semelhante;

Nível 4: Reabilitação excepcional

Inclui intervenções de grande profundidade, geralmente em edifícios com valor patrimonial, tais

como: recurso a técnicas de restauro; reconstrução total do edifico, modernizando algumas partes;

ou reabilitação total do edificado para patamares elevados e bastante superiores aos actuais. Custo

superior ao de uma obra nova semelhante.

116

3.6. CRITÉRIOS PARA A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS INTERIORES

A reconversão de um edifício, conservando a sua função habitacional, pode exigir pequenas

ou grandes alterações na sua organização, de modo a garantir as novas necessidades e exigências

do habitar contemporâneo. Aguiar e alt. (1997:148) catalogam as adaptações interiores dos edifícios

antigos em quatro ordens:

Redefinição tipológica

Com diminuição do número de fogos: Resulta de uma reestruturação interna do edifício,

passando pelo agrupamento de alojamentos demasiado pequenos num só, de maiores dimensões.

Pode optar-se por um reagrupamento horizontal, quando se juntam fogos num mesmo piso; ou por

um reagrupamento vertical, quando se unem fogos em pisos diferentes, criando habitações em

duplex. Opta-se, normalmente, por esta solução quando o reagrupamento horizontal apresenta

problemas estruturais ou de ventilação/iluminação natural;

Com aumento do número de fogos, por subdivisão:

Consiste na transformação do interior do edifício por densificação do número de fogos, o que

pode levar a problemas de sobreocupação. Implica muitas alterações na organização dos espaços,

como por exemplo a reprodução das instalações e equipamentos existentes. Não se deve

comprometer a dupla orientação das fachadas; não se devem criar espaços interiores sem ventilação

e iluminação natural, e deve-se garantir o bom funcionamento das circulações verticais;

Compartimentação de espaços

Em tecidos históricos antigos, onde, por norma, os compartimentos das habitações já são de

dimensões reduzidas, não se aconselha este tipo de intervenção. Exceptuam-se os casos de

transformação de um compartimento em Instalações sanitárias ou em arrumos;

Ligação e/ou articulação entre espaços

Através da conjugação de compartimentos, abrindo vãos e eliminando divisórias, consegue-se

um menor número de fogos, mas de maiores dimensões, capazes de responder às novas exigências,

particularmente: a coexistência da sala de estar com a de refeições; cozinha, ou espaço próximo,

com capacidade para albergar as refeições correntes e o tratamento de roupas; espaço para a

colocação de equipamentos electrodomésticos, assim como locais para trabalho, estudo e/ou

actividades lúdicas. Assim, ainda se promove uma maior conformidade com os regulamentos actuais.

Acrescento de novos espaços ou eliminação de outros

Consiste, comummente, em adicionar à construção já existente novos espaços na fachada de

tardoz, o que deve ser evitado devido à excessiva densidade de ocupação do solo. Excecionalmente,

pode ser aplicada para criar espaços com funções vitais, inexistentes e imprescindíveis, como seja a

I.S., em habitações com reduzida área. O acrescento deve-se resumir ao interior dos logradouros, e,

117

por exemplo, à introdução de varandas, à construção de prumadas sanitárias, à ampliação de

cozinhas ou outros espaços já existentes, ou à criação de arrecadações.

3.7. OS JOVENS

De forma a compreender melhor as necessidades dos jovens, e devido à escassez de estudos

sociológicos sobre o assunto, consultou-se junto de profissionais que desenvolveram projectos neste

âmbito, quais as condicionantes que sentiram no seu trabalho, designadamente as de carácter

espacial.

Apesar do programa que propuseram para a EPUL Jovem em Entrecampos não ter a intenção

de criar uma nova forma de viver para os jovens, os Promontório referem que, numa primeira fase,

realizaram estudos sobre os novos modos de habitar. Contudo, acabaram por abandoná-los, pois

concluíram que “as necessidades dos jovens são iguais às de toda a gente”, pelo que “as casas

resultam até bastante convencionais”.

João Rego, autor dos projetos da EPUL Jovem de Alfama e Lapa/Campo de Ourique, refere

que a principal justificação para a reabilitação vocacionada para os jovens é a questão económica,

pois os jovens “sujeitam-se mais facilmente a piores condições”, como sejam a má acessibilidade,

áreas reduzidas e acabamentos pobres. Rego afirma ainda que os jovens se adaptam com

facilidade, pelo que seria interessante a casa reflectir essa capacidade, mas os custos controlados,

assim como os regulamentos impostos, não permitem “grandes criações”.

3.7.1. ÁREAS MÍNIMAS: TIPOLOGIAS T0 E T1

João Freire, engenheiro civil responsável pelos projetos de estabilidade dos casos de Oeiras e

Paço de Arcos, aponta as tipologias T0 e T1 como as mais apropriadas para os jovens, visto um

casal realizar adequadamente as suas tarefas diárias em pouco espaço, sem que a privacidade de

cada um fique comprometida.

Os Promontório referem as tipologias T0 e T1 como as soluções preferenciais dos programas

da EPUL Jovem, sendo que no projecto de Entrecampos já estava definido o número de habitações

de cada tipologia. “Para rentabilizar o espaço pensámos em áreas mínimas e económicas”, refere

Pedro Torres, arquiteto no atelier.

Rego afirma que os seus projectos têm como “base a ideia das áreas mínimas”, que considera

“o suporte do pensamento gerador de apartamentos para jovens”. Rego explica que as habitações

nos centros históricos têm “divisões por si só pouco espaçosas”, o que torna as casas adequadas ao

contexto da reabilitação para jovens.

3.7.2. ADAPTABILIDADE

Rego é o que mais aprofunda esta questão, sugerindo que “os jovens adaptam-se bastante

bem a espaços flexíveis” e que “seria interessante os apartamentos terem paredes movíveis que

permitissem obter espaços diferentes conforme o pretendido”, nunca desligando das áreas mínimas.

118

Rego refere ainda que os jovens dão “menos importância a pormenores como a cozinha estar

ou não ligada/integrada na sala”, mas que “apreciam a separação do(s) quarto(s) e do WC do resto

da casa”.

Enquanto Freire defende que as kitchenettes são uma opção válida na rentabilização das

áreas e adequadas à vivência dos jovens, os Promontório optam por soluções com cozinha separada

da sala, portanto autónoma, que “conforme a tipologia está mais ou menos integrada na sala”.

Os Promontório referem a preocupação com a adaptabilidade do espaço, pelo que “as paredes

nos interiores dos fogos são em pladur, para que se possa com facilidade passar de um T1 para um

T0, ou então, para que facilmente a cozinha passe a estar dentro da sala, porque a parede que as

separa desaparece”.

3.7.3. ACESSIBILIDADE

Os problemas de acessibilidade afectam principalmente pessoas de mobilidade condicionada,

e reside em dois âmbitos: o urbano e o do próprio edifício.

Ao nível urbano, Rego remete-se para o facto da generalidade dos bairros históricos serem em

ruas estreitas e inclinadas, muitas vezes sem estacionamento, o que dificulta o acesso via carro.

No que concerne aos edifícios, Rego afirma que estes normalmente “não têm condições para

adaptar elevadores” e que “raramente se consegue alterar o tipo de escada íngreme, com degraus

altos e estreitos, e de lanços longos”. Por outro lado, devido às dimensões reduzidas das habitações,

muitas vezes optam-se por soluções em duplex, com os quartos separados do resto da casa, “o que

do ponto de vista das pessoas com mobilidade condicionada não é uma boa opção”.

Assim sendo, Rego considera que as habitações em centros históricos, pelas dificuldades que

têm de acessibilidade, são mais facilmente ocupadas por jovens, que não tenham problemas de

locomoção.

3.7.4. ECONOMIA

A maioria dos profissionais refere as questões económicas como a mais forte condicionante ao

projecto de reabilitação de casas para jovens. Rego menciona que “as opções tomadas nos projectos

estão mais ligadas a questões económicas e não de vivência do espaço”, e que “projectar para os

jovens implica custos controlados”.

Carrilho, arquiteto responsável pelo departamento de projetos especiais da CMO, onde se

desenvolveram os casos de estudo de Oeiras e Paço de Arcos, revela que um dos requisitos para

que a Câmara Municipal de Oeiras adquira um edifício para reabilitação no âmbito do programa

habitação jovem é que os custos da operação sejam razoáveis: desde os valores de aquisição até ao

custo de todo o processo de reabilitação.

Também os Promontório sentiram as condicionantes económicas impostas pela EPUL Jovem.

Como houve um maior investimento na urbanidade dos espaços públicos, “para os fogos/interiores

as maiores preocupações foram as questões económicas… utilizar ao máximo o standard… o que já

existe no mercado”. Utilizaram, para a fachada, elementos em betão pré-fabricado, estandardizados,

de encaixes simples e mais económicos, o que permitiu, por outro lado, conferir uma maior dignidade

119

à imagem do edifício, “sem ficar conectado ao pobrezinho”. Nos interiores optaram por paredes em

pladur, que conjugam a adaptabilidade do espaço à sua economia.

120

121

4.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR SOBRE A FORMA

4.1. UM ENSAIO E UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A FORMA

Tendo esta dissertação como objetivo estudar aspetos da morfologia e da configuração espacial,

reservou-se este capítulo para, servindo-se dos casos anteriormente descritos e analisados e com

base na aplicação de alguns dos conceitos abordados por Francis Ching, em “Arquitetura: Forma,

espaço e ordem” (2000), testar alternativas neste mesmo campo formal às soluções encontradas pelos

vários arquitetos, segundo as próprias categorias estabelecidas por este autor, no seu livro.

Em momento algum foi intenção deste trabalho por em causa as decisões tomadas pelos

projetistas, nos respetivos projetos e obras, nem partir do prossuposto, ou pretensão, de vir a

apresentar propostas melhores, mais interessantes, rigorosas ou consistentes.

Se elaborar um só projeto desta dimensão demora tempo e requer um estudo aprofundado de

todas as suas circunstâncias e condicionantes, não só formais mas também programáticas,

normativas, construtivas, económicas, etc., fazê-lo, numa dissertação, para nove projetos distintos, e

de grande complexidade, seria tarefa inglória e desproporcionada.

Assim, livre destes constrangimentos e focando-se, maioritariamente, nos aspetos inerentes ao

ensaio e à investigação formal a que se propõe, este trabalho ambiciona apenas discorrer nas diversas

possibilidades que o estudo da forma pode abrir, ou não, ao projeto de arquitetura, verificando a sua

aplicabilidade, num âmbito espacial e arquitetónico, ensaiando-se um leque de sugestões formais

alternativas no condicionado contexto de reabilitação do espaço doméstico para jovens, ciente que

nem uma nem outra destas condições se afigura antagónica do exercício de imaginação, pelo

contrário.

Num contexto de intervenção em tecido histórico patrimonial, não se aplica uma grande parte

das rubricas arquitetónicas desenvolvidas por Francis Ching, que incidem maioritariamente sobre obra

nova e construção isolada, bem diferente, portanto, dos casos encontrados e estudados.

Motivado, talvez, pela condição dos destinatários destas operações de reabilitação serem os

jovens, teoricamente mais abertos à novidade, este trabalho procurou testar a persistência de graus de

liberdade compositiva arquitetónica, mesmo em contextos especialmente condicionados em termos

urbanísticos, de malha urbana consolidada, como é o caso da reabilitação em zonas históricas.

Embora deparando-se com todas estas limitações, este trabalho encontrou, abordados no livro

“Arquitetura: Forma, espaço e ordem”, de Francis Ching (2000), conceitos universais à arquitetura, que

poderão encontrar espaço num ensaio e numa investigação sobre a forma, que se debruça sobre

situações de reabilitação.

4.2. FORMA, ESPAÇO E ORDEM: APLICAÇÃO DE CONCEITOS AOS CASOS DE ESTUDO

A propósito do ensaio sobre perfis e silhuetas que Francis Ching (2000:34) elabora no seu livro,

observou-se que a maioria dos casos analisados termina em telhado, pelo que o seu contorno, e a sua

cobertura, adotam uma forma triangular, que se adapta ao cumprimento da sua função: proteger o

interior das intempéries e escoamento das águas da chuva.

Ora apesar de semelhantes, estes perfis permitem grande distinção entre eles, variando, por

exemplo, segundo a inclinação e o número de águas que cada telhado tem.

122

Ao explorar os desenhos de contornos que o autor (2000:37) vai apresentando, investigou-se

igualmente a possibilidade dos telhados destes edifícios terem outra finalização, como por exemplo, a

acentuação das inclinações das águas, procurando um maior aproveitamento do espaço de sótão; o

terminar em terraço ou em cobertura ajardinada; ou, por desistência da forma triangular e retangular,

dar-lhe uma outra, talvez curva, conforme acontece no PA4. Embora não referidas diretamente por

Ching, parece concernente a ele agregar a terminação em forma trapezoidal, como nas mansardas, ou

a de configuração esconsa e/ou deformada.

O contorno do PA4, já de si especial por ter uma parte em escada, adquire, com o projeto de

alteração proposto pela CMO, um novo perfil, onde a forma triangular prévia do telhado dá lugar a uma

nova, arredondada e com uma linguagem mais contemporânea.

Analisando-se o caso do OE2, onde se manteve um edifício pombalino, acoplando-se-lhe uma

construção mais recente de linguagem contemporânea, observa-se que o seu contorno revela a clara

distinção entre o novo e o antigo, pois na continuação do perfil triangular do edifício pombalino emerge

o recorte da estrutura nova, lembrando as ameias de um castelo, e que protege a privacidade dos

pátios que esconde.

Ching (2000:36) menciona que a perceção do perfil de uma forma depende do grau de contraste

visual entre essa forma e o seu fundo, e que pode ser acentuado através de jogos de cor. Aplicando

esta noção ao caso OE2, poder-se-ia acentuar o seu contorno atual escurecendo o azulejo vermelho

da parede do fundo do pátio, aumentando assim o seu contraste, ou, então, pintando-o no mesmo tom

de azul do céu, confundindo num só, estes dois planos de fundo.

Este projeto, também da autoria da CMO, consiste num exemplo do modo diferenciado como se

pode fechar um edifício, debruçando-se sobre o desenho do seu perfil.

Nos projetos de alteração propostos pela CMO para o OE1, OE2 e PA2 aplica-se o conceito da

forma como resultado de uma transformação de outras formas mais simples (Ching, 2000:48), por o

processo de reabilitação não ter imposto a total manutenção do desenho e dos volumes originais,

diferenciando-se, assim, dos outros casos de estudo, onde se compreendem as limitações formais

resultantes deste tipo de procedimento.

Analisando o OE1 à luz dos conceitos mencionados por Francis Ching (2000:56), apercebemo-

nos que a sua forma prévia surgiu da adição de diversos volumes geminados, em que o seu interior se

unia através de sobreposições e penetrações. A proposta da CMO contempla a subtração do miolo e

Figura AC.1.

123

de parte da fachada do edifício que fica ao lado do museu, mantendo apenas as escadas, que passam

a estar destapadas, e a frente do primeiro piso, o que salvaguarda a privacidade do núcleo de acessos

verticais. Seguindo os critérios de transformação da forma, no que respeita ao processo de subtração

(Ching, 2000:52), experimentou-se escavar na totalidade o volume mencionado, conservando também

as escadas.

Cruzando estes conhecimentos com outros sobre elementos verticais lineares (Ching,

2000:122), estudou-se a possibilidade de demarcar o volume pela cércea original, encerrando-o com

palas verticais. O efeito obtido resulta num espaço onde não é necessário um contexto espacial mais

amplo para o definir, sustentando, com ele, uma relação de total liberdade espacial (Ching, 2000:123),

e conjugando a manutenção da privacidade dos acessos, com alguma transparência e abertura à

envolvente.

Ainda no caso do OE1, o edifício do museu resulta da união entre um dos edifícios do lote 38 e o

do 28, formando uma só construção geminada e originada através de uma transformação por adição

de volumes.

Figura AC.2.

Figura AC.3.

124

No que concerne ao caso do OE2, este apresenta uma construção nova, que se adicionou ao

edifício pombalino, relacionando-se com ele por um contacto superficial (Ching, 2000:56), em que os

pátios dão acesso ao interior dos fogos. A nova construção partiu de um volume paralelepipédico, que

foi sendo “escavado” de modo a criar entradas e aberturas de luz, permitindo, de acordo com Francis

Ching (2000:55), desenvolver uma forma desprendida, em que o exterior confirma uma clara intenção

arquitetónica de no interior satisfazer todas as exigências funcionais, como sejam a entrada de luz, a

circulação e a continuidade entre o exterior e o interior.

Também aqui, encontramos um exemplo do modo diferenciado como a transformação da forma

pode influenciar as decisões de projeto, tornando-se numa ferramenta que disponibiliza um variado

leque de opções.

O projeto de alteração do PA2 envolve igualmente duas situações de transformação por adição,

seguida por subtração.

As varandas que existiam inicialmente tinham sido fechadas em marquise pelos moradores, para

acrescentar/adicionar volumes suspensos com as I.S. A proposta da CMO visa retirar as marquises,

subtraindo-as à fachada de tardoz e retomando a ideia das varandas. Escortinando os processos de

transformação por adição (Ching, 2000:57) e, de dentro destes, a forma agrupada (Ching, 2000:66),

experimentou-se manter uns volumes adoçados a esta fachada, substituindo algumas varandas, e

procurando uma linha linguística e esteticamente coerente entre eles. Por aplicação dos conceitos do

livro de Francis Ching (2000:66), estas consolas consistem em formas que podem conter,

hierarquicamente agrupadas ou não, diferentes dimensões, orientações e ritmos.

Juntando a estes, outros conhecimentos obtidos pelo estudo das aberturas (Ching, 2000:158),

exercitaram-se algumas possibilidades de conjugações entre os planos das paredes, do pavimento e

do teto, com as entradas das portas e das janelas.

A primeira experiência consistiu em reproduzir as aberturas já existentes, trazendo-as para o

plano da consola.

O ensaio seguinte procurou aplicar o estudo sobre as aberturas nos planos (Ching, 2000:160),

mantendo a leitura da fachada prévia por uso de um plano transparente, limitado por um aro grosso, e

que conserva a forma intacta e percetível.

Figura AC.4.

125

Aplicando do conceito de aberturas nas esquinas, que Francis Ching explora (2000:162), surgiu

uma forma mais fragmentada, que aumenta a continuidade visual e a vinculação a outros espaços

contínuos, neste caso com o logradouro nas traseiras do edifício, proposto pela CMO como jardim.

Finalmente, por observação e análise das aberturas entre planos, sugeridas por Francis Ching

(2000:164), experimentaram-se duas alternativas. A primeira, com a abertura centralizada, que divide o

plano da parede em dois e que mantém a forma intacta e percetível. A segunda, com uma abertura

descentrada, quase na esquina dos planos, e que cria uma ideia de maior individualidade da forma,

perdendo o sentido de encerramento do espaço, por este ser mais difuso. Ambas criam expetativa e

surpresa, focando-se mais nos planos do que no espaço.

Ainda no caso do PA2, refira-se que o espaço de logradouro está ocupado, por um processo de

adição, com anexos acrescentados, onde se instalaram as áreas de serviço do restaurante. A proposta

Figura AC.8. Figura AC.7.

Figura AC.6.

Figura AC.5.

126

da CMO devolve o espaço aos logradouros, ocupando-os com um jardim, por subtração dos anexos e

procura da satisfação das exigências funcionais, como a entrada de luz, a continuidade e as vistas.

A articulação da forma e das superfícies consiste num conjunto de vários tópicos abordados por

Francis Ching (2000:78), que vão desde o tratamento das fachadas e dos volumes através da cor, das

texturas e da mudança de materiais, à forma e utilização das arestas e das esquinas.

Por representar um vasto leque de opções, foi possível encontrar diversos e distintos exemplos,

para cada um destes tópicos, nos vários projetos estudados, e ensaiar, para cada um deles, diferentes

alternativas.

Observando-se o AF1 à luz dos conhecimentos adquiridos, constata-se que a EPUL propõe para

as fachadas a cor branca, retomando a imagem tradicional do bairro de Alfama. O branco permitia uma

certa luminosidade, num bairro onde a luz penetra com dificuldade. Para além disso, está associado ao

ritual anual de caiar as paredes, pois a cal branca consiste num poderoso desinfetante.

Curiosamente, este retorno, num bairro que foi, entretanto, descaracterizado por uma mescla de

cores vivas, faz sobressair o edifício no conjunto envolvente, dando ao AF1 um destaque não esperado

pelo contraste de uma cor neutral num fundo garrido. Apesar de não se ter experimentado em desenho

outra combinação de cores para além desta, parece ser uma investigação com alguma pertinência, por

exemplo, a aplicação de um laranja ou vermelho no edifício, que poderia criar outro dinamismo e ritmo

na fachada de conjunto, visto as construções do lado serem em tons de azul e verde.

Pegando na sugestão de Francis Ching (2000:79), de diferenciar as superfícies através de uma

mudança de material, cor e/ou textura, explorou-se a possibilidade de demarcar uma divisão horizontal

na fachada principal, por efeito do embasamento aumentar em altura, sendo que a parte de baixo

consiste nos dois primeiros pisos, e a de cima, nos dois últimos. Esta demarcação evidencia, no

exterior, o seu interior, pois coincide com a separação dos dois dúplex. Este embasamento traria uma

sensação de peso visual em baixo, provocando uma maior impressão de leveza e flutuação na parte

superior, pois a diferença de material ou textura influencia o peso visual na superfície (Ching, 2000:86).

Para a fachada de tardoz, a proposta da EPUL é também o branco. Aplicando, aqui, os mesmos

princípios utilizados para a fachada principal, explorou-se a ideia de acentuar a verticalidade da linha

Figura AC.9.

127

sugerida pela colocação das janelas, diferenciando-a pela alteração de texturas entre os planos lisos e

o das aberturas.

Francis Ching (2000:89) refere-se ao trabalho e à configuração da moldura das aberturas como

um estratagema para destacar, ou esconder, os vãos, criando, ou não, jogos de luz e de sombra nas

fachadas.

Sabendo, à partida, que a CML obriga à reposição das fachadas conforme considera terem sido,

embora resista unicamente uma pequena parte do edifício e da sua frente, mas sentindo-se livre desse

constrangimento por se tratar apenas de um ensaio e de uma investigação sobre a forma, explorou-se,

sob a ótica dos conceitos supracitados, a hipótese de engrossar as cantarias das aberturas, dando-

lhes ênfase e expressão, e criando alguns jogos de luz e sombra. Assim, poder-se-iam conjugar estas

cantarias, adensando-as de modo a permitir o sombreamento apenas onde ele seja necessário.

Investigou-se, também, a ideia dessas molduras poderem vir a albergar canteiros, agarrados às

paredes-mestras, o que estabeleceria uma maior relação entre o edifício e a natureza, princípio pouco

explorado por Francis Ching, embora referido nos tópicos sobre a luz e, principalmente, sobre as vistas

(2000:174).

Se devido às condicionantes impostas pela CML, se torna praticamente impossível a aplicação

destas hipóteses na frente do edifício, na fachada de tardoz já não parece consistir em tão difícil tarefa,

pois a câmara não apresenta para esta, as mesmas restrições. Para além disso, a fachada de tardoz

encontra-se virada a sul, pelo que poderia ter mais interesse ao nível do estudo dos sombreamentos.

No projecto de alteração para o LP1, observa-se que o logradouro sofre um corte na diagonal,

pois em planta tinha uma configuração rectangular que passou a triangular, continuando o alinhamento

do edifício. As varandas mantêm-se com o mesmo formato e dimensão.

Figura AC.10.

Figura AC.11.

128

Aplicando não só os conhecimentos adquiridos sobre a articulação da forma e das superfícies

(Ching, 2000:78), mas também os conceitos estudados sobre o processo aditivo de transformação da

forma (Ching, 2000:56), experimentou-se prolongar as varandas, completando o triângulo sobrante, por

cima do logradouro, e alargando a fachada do edifício, ganhando uma vista desafogada para os outros

espaços verdes, de interior de quarteirão, e terraços.

Conjugando esta possibilidade aos princípios contidos no livro de Francis Ching sobre planos

verticais soltos (2000:130), explorou-se o encerramento desta nova fachada com uns painéis isolados

e movíveis, que garantem a privacidade e a flexibilidade no uso das varandas.

Mantendo as varandas como propõe a EPUL, exercitou-se a hipótese de a fachada de tardoz ser

pintada num degradé, começando, de baixo para cima, do mais claro para o mais escuro, explorando

os conteúdos abordados por Francis Ching (2000:79) quanto aos efeitos cromáticos. Este degradé

provoca no utilizador a percepção de maior luminosidade nos pisos mais baixos, por contraste com os

tons mais escuros utilizados no topo do edifício.

Figura AC.13.

Figura AC.12.

129

A diferenciação pela cor (Ching, 2000:79) foi a estratégia escolhida pela CMO para dar destaque

ao museu, no caso do OE1. Para tal, o arquitecto fez um estudo de cor, de onde se escolheu o laranja

para pintar a frente do museu, e o branco, para os restantes edifícios do conjunto em análise. Como a

envolvente ao conjunto segue tons ocres e amarelados, observou-se, no estudo de cor, que as zonas

brancas acabam por se destacar mais do que as laranja. Assim, a fachada principal acaba por ganhar

realce apenas das suas próprias empenas, lendo-se como um plano solto.

Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre a diferenciação por mudança de cor, textura ou

material (Ching, 2000:79), explorou-se a possibilidade de a empena do museu ser da mesma cor que a

fachada, ou num tom próximo, dando-lhe uma leitura de volume, e não só de plano.

A colocação de uma esfera à frente do museu tem a intenção de assinalar a entrada do edifício.

Segundo Francis Ching (2000:86), a inserção de elementos com dimensões conhecidas, como o ser

humano, na fachada ou à frente dela, ajuda à percepção do tamanho e escala da edificação. Ensaiou-

se, então, a possibilidade de substituir a esfera por um grupo escultórico, de dimensões identificáveis.

Quando o visitante se aproxima deste conjunto, vindo do CHO, depara-se com a esquina do nº

34, que se torna numa referência importante para quem chega. Investigando-se o desenho da esquina,

a partir dos estudos elaborados por Francis Ching (2000:81), surgiu a ideia de arredondar a aresta ou

de a realçar através da mudança de cor ou de material.

Do cruzamento entre os conteúdos mencionados e os princípios sobre a luz, agora a abordar

(Ching, 2000:170), testou-se, na passagem entre o jardim e o logradouro do OE1, alternativas, como: o

muro continuar pela passagem com o mesmo material (madeira, azulejo, reboco só de uma cor, …),

Figura AC.14.

130

mas distinto do da outra parede, enfatizando a perspectiva e a ideia de circulação; ou a iluminação de

uma das paredes, parecendo este acesso mais baixo e largo; ou do tecto (no sentido da parede para a

cobertura), dando-lhe um aspecto mais alto e estreito, e menos dramático, pois espalha mais a luz; ou,

então, a iluminação do pavimento a partir do tecto, que cria a ideia de caverna.

Nas construções novas, inseridas no logradouro deste caso de estudo, observa-se a aplicação

de um dos princípios explorados por Francis Ching (2000:123) acerca dos elementos lineares verticais,

em que o autor explica que um volume não necessita dos planos parietais para ficar definido, podendo-

se perceber os limites do seu espaço pela colocação de um elemento linear vertical em cada um dos

seus cantos, o que acontece nas estruturas de sombreamento, à entrada das novas edificações.

Conforme sugere Francis Ching (2000:79), a CMO propõe o laranja para cor destas estruturas,

realçando-as do plano de fundo.

Aplicando os conteúdos sobre sombreamento e pautas ópticas (Ching, 2000:86), desenvolveu-

se a hipótese de, por entre os pilares, colocar-se uma estrutura em linhas horizontais, capaz de criar

um jogo de sombras e luz, com principal incidência no sombreamento a nascente e poente.

No edifício pombalino do caso OE2, por características próprias do tipo construtivo, o cunhal em

pedra, num material diferente do da parede, faz a distinção e articulação entre os dois panos do

imóvel. Assim, observa-se que a esquina já se encontra trabalhada, indo no sentido do que Francis

Ching (2000:81) estudou no seu livro sobre o tema.

Da mesma maneira, os vãos são destacados através de uma cantaria saliente e robusta, e pela

diferença de material (Ching, 2000:79). As caixilharias utilizadas, simples e discretas, contribuem, a par

das cantarias, para um efeito de vazio, de “buraco” na fachada. Esta leitura foi aproveitada e mantida

no novo edifício, mas sob a forma de aberturas e rasgos.

No que alude à construção nova, as suas ameias, numa espécie de sequência de elementos

lineares verticais, distinguem, pela sua linguagem mais contemporânea, o antigo do novo. Aplicando os

conteúdos abordados por Francis Ching (2000:172) sobre a luz e a sombra, investigou-se a hipótese

de estes elementos lineares verticais engrossarem no topo, dando origem a umas linhas horizontais,

capazes de sombreamento no pátio superior.

No seguimento da investigação sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:79),

estudou-se, com o intuito de evidenciar a verticalidade da estrutura, a possibilidade de escurecer as

laterais dos elementos lineares, assim como a espessura das lajes, fazendo sobressair o pano frontal.

No que concerne ao caso do OE7, a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:79) faz-

se pela mudança do padrão do azulejo entre a fachada principal deste conjunto e a sua envolvente. O

revestimento em azulejo, que a CMO propõe recuperar, dá brilho à superfície curva (fictícia, por ser

geometrizada e resultar da junção de dois planos), acentuando a sua forma. Como material brilhante

que é, o azulejo reflecte a luz solar, perdendo-se, muitas vezes, a leitura do seu padrão. Para além

disso, observa-se que o azulejo, de dimensões familiares, funciona como um elemento de escala,

conforme os critérios estabelecidos por Francis Ching (2000:86), dando uma melhor percepção do

tamanho do edifício.

O acesso ao pátio interior é escuro, lembrando um túnel. Partindo dos conceitos estudados

sobre a articulação da forma (Ching, 2000:79) e sobre a luz (Ching, 2000:170), experimentou-se mudar

o portão proposto pela CMO por um com gradeamentos, alterando o material e a textura, conseguindo

131

uma maior entrada de luz natural. A leitura da profundidade aumenta com esta solução, no entanto

perde-se, um pouco, a imagem do topo do vão em curva. Explorou-se, igualmente, a possibilidade de a

parede, que faz muro com o edifício do lado, ser numa cor ou material diferente, o que acentuaria a

ideia de profundidade, e da iluminação artificial, menos abordada e estudada por Francis Ching, ser

colocada no sentido da parede para o tecto, criando um efeito em que a passagem parece mais alta e

estreita, e menos dramática, espalhando mais a luz.

O caso do OE8 consiste num exemplo do modo diferenciado como se pode tratar a fachada de

um edifício, debruçando-se sobre o desenho da sua superfície e jogando com texturas, materiais e

cores, sem descorar o funcionamento dos seus elementos. O embasamento em pedra, que tem por

função evitar o rápido desgaste das paredes devido às águas, sobe até a meio da parede de um dos

edifícios, encostando-se a uma linha de cantaria que faz a ligação entre os dois imóveis, assim como a

pintura em branco, seguida de um para o para o outro, eliminando as arestas “virtuais” que separam

fisicamente os dois planos contínuos (Ching, 2000:79).

Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching,

2000:79), exercitou-se a hipótese da linha de cantaria ter uma cor ou tom diferentes do embasamento,

realçando-se, e/ou da empena, que se destaca em branco entre os dois telhados ocres, poder ser num

material, ou cor, próximos dos das telhas, cooperando na imagem contínua entre os dois.

No projecto de alteração proposto pela CMO para o PA1, alterou-se o cor-de-rosa velho da

fachada, que fazia conjunto com a envolvente, toda ela em tons de rosa, ocres e cremes escuros, por

um azul claro, que se destaca por contraste com as outras frentes.

Na sua memória descritiva, a CMO mencionou que o interesse deste edifício no processo de

reabilitação provinha da sua coerência e continuidade com o conjunto da avenida, pelo que se ensaiou

a manutenção da cor original.

Mediante a possibilidade de alteração da leitura da fachada, e aplicando os conceitos referentes

ao trabalho e à configuração da moldura das aberturas (Ching, 2000:89), investigou-se a hipótese das

cantarias dos vários vãos engrossarem e tornarem-se mais salientes, passando a conter canteiros para

plantas, fomentando a relação do edifício com a natureza.

Figura AC.15.

132

Com estes canteiros a fachada adquire uma maior leitura de quadrícula, fazendo lembrar os

desenhos e ensaios de Francis Ching (2000:87) sobre a articulação das superfícies, com a criação de

um jogo de luz e sombras.

Na fachada de tardoz, pela aplicação dos mesmos princípios, explorou-se a utilização de uma

fila de canteiros por baixo das janelas, assim como uma diferenciação, por textura, de uma linha acima

dos vãos, para acentuar a leitura de horizontalidade do alçado, já dividido em camadas por uma linha

de cantaria.

Outra alternativa que surgiu, no decurso desta experimentação, foi a possibilidade dos canteiros

criarem uma moldura em forma de “pente”, com uma imagem intacta e menos fragmentada.

Em Paço de Arcos é comum o piso térreo da fachada ser revestido com azulejos, o que no caso

do PA2 ajuda a dar destaque ao restaurante. Nos restantes pisos, o edifício é em tons de grená, que a

Figura AC.17.

Figura AC.16.

133

CMO propõe manter, substituindo, inclusive, por um reboco desta cor, os azulejos do piso térreo, que

deixarão de existir.

Estes azulejos funcionam como um segundo embasamento, completando o trabalho dum outro,

mais baixo e em pedra, que separa o pavimento do pano da parede.

Explorando, então, este caso de estudo à luz dos conceitos sobre a articulação da forma e das

superfícies (Ching, 2000:79), exercitaram-se algumas alternativas, como por exemplo: destacar a zona

do restaurante subindo o embasamento em pedra existente até ao primeiro piso; ou distinguir os três

pisos, variando entre um tom mais claro, um intermédio e outro mais escuro, ou de uma textura mais

densa a outra mais lisa. Se colocarmos os tons mais escuros em baixo, ou as texturas mais densas, o

edifício adquirirá uma sensação de maior leveza, pelo deslocamento do peso visual para a base. Se,

pelo contrário, utilizarmos os tons mais claros ou as texturas mais lisas em baixo, a sensação será de

um esmagamento.

A fachada do PA4 também é revestida com azulejos, do séc. XIX, com um desenho de cubos

sobrepostos, que cria uma ilusão de óptica de tridimensionalidade e imprime dinamismo à superfície.

Os cunhais em pedra fazem a distinção entre os diferentes planos, contínuos ou não, e as

cantarias à volta dos vãos destacam a sua forma curva no topo.

As esculturas no cimo do edifício enfatizam as suas arestas (Ching, 2000:83) e permitem uma

melhor percepção da escala.

Aplicando os conceitos referidos por Ching (2000:79) sobre a articulação da forma e das

superfícies, ensaiou-se sobre a eventualidade de o azulejo poder ser retirado das fachadas do último

piso, integrando-se o edifício no contexto de Paço de Arcos, onde a maioria dos imóveis têm azulejo só

na parte do embasamento e piso térreo. A separação horizontal dos dois volumes torna-se mais clara e

evidente.

Tratando-se de um processo de reabilitação, dificilmente esta solução seria utilizada. Cruzando

esta preocupação da reabilitação em querer manter os azulejos, com a intenção de estudar os

mesmos princípios que no exercício anterior, investigou-se a hipótese de a linha de cantaria, que divide

os dois pisos, ser numa cor contrastante e brilhante, diferente das cores dos azulejos, ganhando assim

destaque.

A propósito do estudo sobre a unidade de contrários, e a relação entre os espaços exteriores e

os espaços interiores, de Francis Ching (2000:96), observou-se que os casos OE1, OE2 e OE7 diferem

Figura AC.18.

134

dos outros por conterem pátios privados no seu interior, designados de espaços exteriores positivos,

não se limitando, portanto, aos logradouros e à definição da rua.

Qualquer um destes pátios configura um muro ao longo dos limites do lote, sendo que no OE2,

esse muro é a própria fachada do edifício.

Testando a aplicação dos conhecimentos adquiridos (Ching, 2000:96) ao OE1, investigou-se a

hipótese de abrir o jardim/pátio ao público, retirando o portão e derrubando parte do muro actualmente

existente.

Um ensaio idêntico foi realizado para o caso do OE7, visto a sua situação ser semelhante, no

entanto explorou-se apenas a ideia de retirar o portão e deixar o “túnel”, de entrada para o pátio, aberto

ao público.

A construção nova do OE1 consiste num exemplo do modo distinto como os espaços internos e

externos se podem relacionar, pois a estrutura de sombreamento presente à entrada das habitações

funciona como um prolongamento do interior para o exterior, privado, fundindo-se estes dois espaços

(Ching, 2000:96).

Neste sentido, também o OE2 representa uma alternativa na relação do exterior com o interior,

pois explora uma situação de fusão entre os dois espaços, sendo que o pátio, mais resguardado do

que os anteriormente mencionados funciona como entrada para o fogo, prolongando o seu espaço de

estar.

A partir da investigação sobre o desenho e a configuração do plano base, ou seja, do pavimento

interior, desenvolvida por Francis Ching (2000:100), observou-se que, nalguns dos projectos referentes

à CMO, este plano base já era trabalhado e estudado segundo alguns dos critérios explanados pelo

autor.

Constatou-se, ainda, que, na maioria dos projectos em análise, se podem aplicar alguns desses

princípios, explorando alternativas às propostas realizadas pelos seus arquitectos.

Ao nível da mobilidade refira-se que os acessos à grande parte dos apartamentos já é efectuado

por escadas, não havendo elevadores, pelo que as soluções exercitadas através de desníveis no piso

acabam por não representar um verdadeiro problema ou entrave nas acessibilidades.

Outro dilema estaria na aplicação do REGEU, pois os pés direitos têm que cumprir mínimos de

segurança e conforto. Por isso, nem todos os projectos poderão facilmente enquadrar soluções que

contemplem um jogo de desníveis. Como este trabalho não pretende estudar as questões de natureza

das exigências funcionais ou necessidades humanas, dedicou-se apenas a ensaiar as hipóteses e as

alternativas resultantes de um olhar que incide meramente sobre os aspectos da forma.

Começando por analisar uma das salas do AF1 à luz dos conceitos sobre a definição do plano

base (Ching, 2000:100), experimentaram-se algumas variações na composição dos seus pavimentos,

como por exemplo: a demarcação da zona de estar, da zona de refeições e da zona de passagem,

elevando os seus pavimentos; a delimitação destas zonas por uma mudança de cor ou textura, ou por

uma linha de contorno diferenciada no piso; ou o rebaixamento dos pavimentos para obter a mesma

separação, que pode variar também na forma.

Na primeira situação, onde se apresenta uma solução a partir da elevação dos pavimentos,

ensaiou-se a possibilidade da zona de estar ser a mais elevada, depois a das refeições e por último a

da passagem. O limite dos campos fica bem definido, sem, contudo, quebrar a continuidade espacial e

135

visual entre eles, nem a flexibilidade de acessos dentro da sala (Ching, 2000:103). Conforme Francis

Ching (2000:107), elevar um espaço, dentro de um outro maior, proporciona um lugar de refúgio, de

observação e de sagrado/singular em relação às actividades que se desenrolam à sua volta.

Na segunda situação, exploraram-se as três alternativas de diferenciação sugeridas por Francis

Ching (2000:100), e realizadas através da mudança de cor ou de textura dos pavimentos, ou, ainda, da

separação através de um contorno delineado no piso. Assim, os campos passam a estar delimitados

visualmente da sua envolvente.

Na situação do plano base deprimido (Ching, 2000:108), investigou-se uma possibilidade muito

idêntica à do plano base elevado, rebaixando, agora, em primeiro lugar a zona de estar, depois a zona

de refeições e por fim a de passagem, que é, de facto, a que fica menos afundada. Esta interrupção no

pavimento permite conservar o seu carácter integrante num espaço mais amplo e envolvente, e

adquire uma natureza mais introvertida, com qualidades de refúgio, proteção e privacidade.

Figura AC.19.

Figura AC.20.

136

Se o rebaixamento ensaiado não partisse das linhas já existentes, prosseguindo, antes, formas

soltas como o círculo ou o quadrado/rectângulo rodado, criar-se-ia um contraste formal geométrico ou

de orientação, que tornaria os espaços mais independentes entre si (Ching, 2000:108).

Estes critérios podem ser conjugados entre si, pelo que a separação pode ser feita, por exemplo,

através de um desnível e por mudança do material no pavimento.

Cruzando as soluções estudadas com os conhecimentos adquiridos sobre elementos de escala

(Ching, 2000:86), explorou-se, igualmente, a hipótese de usar canteiros, ou estantes para livros, como

meios de destacar e criar ambientes (com a utilização de plantas seriam mais associados à natureza),

ou como reforço na divisão do espaço.

Como no caso do LP1 o pé direito da sala é mais alto, explorou-se a possibilidade de elevar uma

parte do pavimento, separando a zona de estar da de refeições, de modo a que o desnível fosse

aproveitado como banco, tal como sugerem os desenhos de Francis Ching (2000:109).

Figura AC.21.

Figura AC.22.

137

No museu, pertencente ao OE1, é o próprio pavimento em mosaicos romanos que lhe confere

interesse museológico. No projeto de alteração da CMO, um passadiço, que serpenteia por cima desse

pavimento, faz a distinção entre o antigo e o contemporâneo, como uma linha que se descola e ganha

vida própria, indo ao encontro da conceção de Francis Ching (2000:108), de que um contraste formal

geométrico reforça visualmente a independência do espaço em relação ao seu contexto.

Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre os planos base (Ching, 2000:102), investigou-se a

possibilidade de no pátio e no logradouro se diferenciarem as zonas de passagem das de estar através

da utilização de materiais distintos nos pavimentos.

Para além disso, ensaiaram-se as hipóteses da parte do jardim que se encontra mais elevada e

contida por um muro, também conforme os princípios definidos por Francis Ching (2000:102), descer e

separar-se do resto do pavimento apenas pela diferença de material, ou por outro lado, de elevar-se

ainda mais, deixando o seu limite de manter a continuidade espacial e visual, tornando o acesso mais

difícil, mas permitindo uma maior privacidade como lugar de refúgio e de estar.

Nos fogos propostos pela CMO, foi intenção do projetista diferenciar, nas kitchenettes, a zona de

preparação de refeições, com chão em mosaico, das de estar e de refeições, em piso flutuante,

consistindo num exemplo da maneira como o estudo do plano base pode levar a modos diferenciados

no trabalho dos pavimentos e nas decisões de projeto.

Pegando no T0, do piso 1 do lote 36, aplicaram-se-lhe os princípios definidos por Francis Ching

(2000:101), explorando a possibilidade de a sala estar dividida em dois, sendo o piso da zona de

refeições mais elevada em relação à de estar e, por baixo desse pavimento, estar incorporada um sofá

que se transforma em cama.

Figura AC.24.

Figura AC.23.

138

Embora Francis Ching aborde principalmente situações de construção nova, encontrou-se

oportunidade para, partindo do estudo sobre a distinção dos pavimentos pelos materiais ou texturas e

cores (Ching, 2000:101), se exercitar, num cenário de reabilitação, a hipótese de demarcar no plano do

piso o desenho das paredes, por onde elas passavam antes do projeto de alteração, criando uma

relação entre o velho e o novo, e dando a conhecer aos seus ocupantes como se desenvolviam os

espaços interiores prévios. Essa ligação pode continuar de um apartamento para o outro.

No caso do OE2, como o espaço é demasiadamente pequeno e baixo para criar desníveis, a

CMO propôs, para a zona da kitchenette, tal como acontece no caso do OE1, a diferenciação da zona

de confeção de refeições, das de estar e refeições, através da colocação de pisos distintos para cada

uma delas, ou seja, na primeira utilizou-se mosaico e na segunda, piso flutuante. Esta situação adquire

especial interesse, pois para além de aplicar conceitos abordados por Francis Ching (2000:100) acerca

do tema, consiste num exemplo construído, onde as intenções do projetista já passaram do papel para

a realidade. Juntando a estes conhecimentos, outros sobre o plano elevado, ou teto (Ching, 2000:114),

investigou-se a possibilidade desta demarcação não se esgotar no chão e nas paredes, mas passar ao

teto, revestindo-o com os mosaicos pretos aplicados, criando uma maior delimitação do volume, e não

só dos planos.

A mesma hipótese foi ensaiada para os casos do OE7, do OE8 e do PA1.

No OE8, mais concretamente no nº7, existe uma separação por desnível entre a sala/kitchenette

e a zona onde estão a I.S e o escritório. Aproveitando esse desnível, e conjugando com os conceitos

referentes à transformação da forma (Ching, 2000:48), exploraram-se as ideias de esconder a entrada

Figura AC.26.

Figura AC.25.

139

para a I.S. pela adição de uns volumes e planos regulares, que poderiam consistir em armários, e de

derrubar a parede que separa o hall do escritório, agrupando os dois espaços num só.

A configuração da sala de um dos apartamentos T0 do PA1 (esquerdo) permite uma separação

visual entre os espaços de estar, de refeições e de preparação de refeições, e o espaço de dormir. À

luz dos conceitos sobre plano base (Ching, 2000:102), investigou-se a hipótese do recanto ser

elevado, com uma organização em L, onde encaixa o sofá extensível para cama, que imprime uma

maior privacidade a esta zona de dormir.

Quanto à hipótese ensaiada primeiro sobre a kitchenette do PA1, experimentou-se prolongar no

piso, na parede e no teto, a distinção proposta pela CMO, de modo a dividir a janela existente, entre a

zona de estar e de refeições e a de preparação de refeições, ao meio, passando a estar igualmente

integrada nos dois espaços.

No que diz respeito ao T0 do lado direito, a sala está relativamente separada do quarto por uma

meia parede. Conjugando os critérios sobre o plano base (Ching, 2000:48) e sobre a transformação da

forma (Ching, 2000:102), investigou-se a hipótese de integrar a entrada com a sala, pela demolição de

uma parede, e de elevar a zona do quarto, tornando-a mais privada. Ensaiou-se igualmente a ideia do

desnível conter gavetas por baixo para arrumação.

Figura AC.29.

Figura AC.27.

Figura AC.28.

140

Na proposta de alteração da CMO, num dos apartamentos T1 do PA2, existe uma kitchenette

com sala de refeições e de estar, quase do mesmo tamanho que o quarto.

Aplicando os conceitos até agora analisados sob o ponto de vista de Francis Ching (2000),

explorou-se a possibilidade do quarto passar a integrar a sala, libertando algum espaço na kitchenette,

dividindo o atual espaço do quarto em dois. Assim, a sala fica separada do quarto, dando-lhe acesso.

Experimentou-se, assim, na kitchenette sem sala de estar, a separação entre a sala de refeições

e a zona da sua preparação, através da criação de desníveis no piso e no teto. Como a entrada neste

espaço se efetua pela área de preparação dos alimentos exercitou-se a ideia de distinguir as duas

zonas pela cor, sendo a primeira em preto, e a segunda em branco, o que cria um contraste de brilho e

luz, focando o interesse na zona da sala de refeições.

No caso do PA4, pela configuração de um dos fogos, investigou-se a possibilidade de separar,

na sala/kitchenette, as três zonas: de estar, de refeições e de confeção destas por desníveis (Ching,

2000:102), correspondendo a cada espaço, uma altura diferente.

A propósito, novamente, do ensaio sobre o plano elevado, ou teto, realizado por Francis Ching

(2000:114), experimentaram-se alternativas para o AF1, o LP1, o OE1 e o OE8, conjugando-as com

hipóteses já formuladas anteriormente.

Para o AF1, exploraram-se variações no teto a partir da diferenciação por contraste formal, cor,

textura ou modelação (Ching, 2000:114), tais como: descer o teto nas zonas onde sobe o chão,

estudando o seu inverso, ou descer onde ele desce; demarcar a zona de passagem no teto pela

mudança de cor ou material; dar o mesmo tratamento ao teto, e às paredes, que ao pavimento, seja

com o mesmo material, cor ou desnível, fazendo uma maior separação das zonas de estar, de

refeições e de passagem; ou por contraste formal, descendo partes do teto com um formato circular ou

de um quadrado/retângulo rodado, criando espaços mais soltos e independentes da sua envolvente.

Figura AC.30.

141

Como o pé direito desta sala é pequeno, e cruzando estes conceitos com a informação sobre luz

(Ching, 2000:170), investigou-se a possibilidade de esta ser direcionada para o teto, fazendo com que

ele parece mais alto.

Como a sala do LP1 é mais alongada, e aplicando os conhecimentos adquiridos sobre o plano

elevado (Ching, 2000:119), explorou-se a hipótese de o teto ser arredondado num dos topos, criando a

ideia de uma direção, acentuando-a. Esta só se justifica se nessa direção existir algo de especial.

Na construção nova proposta pela CMO para o OE1 existe, no piso de cima, um jardim, que tem

acesso pela I.S. e que fica por cima de uma parte da cozinha. Aplicando os mesmos princípios acima

referidos (Ching, 2000:119) e outros sobre a luz (Ching, 2000:170) e sobre o espaço exterior (Ching,

2000:94), exercitou-se a possibilidade de romper parte do teto e trazer o jardim para o piso de baixo,

permitindo entrada de luz natural na cozinha e uma maior relação desta com a natureza e o exterior.

Já na sala do OE1 estudada anteriormente, praticaram-se combinações de cor, de modo a criar

ambientes distintos pela diferenciação de pavimentos (Ching, 2000:100), tetos (Ching, 2000:114) e

paredes (Ching, 2000:130). Experimentou-se, por exemplo, a deixar, apenas, a parede do fundo em

branco, sobressaindo por entre um teto, um pavimento e as restantes paredes pintadas a preto. Essa

parede ganha destaque, pelo que só faz sentido se for utilizada para ter algo de especial.

Figura AC.31.

Figura AC.32.

Figura AC.33.

142

No nº 9 do caso OE8, explorou-se a possibilidade de criar desníveis no teto (Ching, 2000:118),

abrindo uma parte até à inclinação do telhado, e deixando outra, semiaberta, como se fosse uma

prateleira suspensa, e por onde entra luz, através de um rasgo na cobertura, conjugando a aplicação

de conceitos adquiridos sobre aberturas (Ching, 2000:164).

Refira-se que no caso do AF1, o arquiteto contemplou, na zona dos acessos comuns (escadas),

um rasgo na cobertura, que permite a entrada de luz natural no seu topo, dando-lhe mais dramatismo.

Assim, o AF1 consiste num exemplo dos ambientes diferenciados que podem surgir quando se estuda

o plano elevado, conjugado com as aberturas e a luz. Aplicando-lhe, ainda, os resultados do ensaio de

Francis Ching (2000:140) sobre os planos verticais paralelos, exercitou-se a ideia das paredes laterais

das escadas serem numa cor, textura ou material diferente, de modo a acentuar a direção ao ponto de

luz, enfatizando a inclinação das escadas e o dramatismo do local.

Figura AC.34.

Figura AC.35.

Figura AC.36.

143

Como já foi acima mencionado, Francis Ching (2000:122) compilou no seu livro estudos sobre

elementos lineares verticais.

Analisando à luz destes conhecimentos (Ching, 2000:123) o AF1, ensaiou-se a possibilidade de

integrar no interior da sala elementos lineares verticais em duas situações: a diferenciar a zona de

refeições da zona de estar, não sendo preciso separar por desníveis e permitindo uma continuidade

espacial e visual entre ambas; e a colocação de uma série de colunas estreitas na parede contrária à

porta de entrada, dando ritmo e proporção ao espaço, e que pode ser utilizada para colocar prateleiras

entre elas, numa cor diferente para manter a leitura das verticais.

Aplicando os mesmos princípios (Ching, 2000:123) às alternativas já apresentadas, ensaiou-se,

igualmente, para o OE1, a hipótese de colocar uma fileira de ripas por trás do sofá-cama, de modo a

dividir melhor o espaço e a fazer de encosto.

Também, no jardim, se podem exercitar alternativas a partir do estudo dos elementos lineares

(Ching, 2000:123), como, por exemplo, ele ficar separado da passagem por palas verticais, tornando-

Figura AC.37.

Figura AC.38.

144

se num espaço mais privado, que a certa altura se dobram em palas horizontais, sombreando o acesso

e aumentando-lhe a noção de profundidade e continuidade.

Cruzando esta hipótese com o estudo da transformação da forma (Ching, 2000:48) e dos planos

verticais (Ching, 2000:130), ensaiou-se a possibilidade de o espaço do jardim ser arredondado, dando

um maior enfiamento ao percurso, e da parede lateral ser revestida num material ou pintada numa cor

diferentes, continuando assim depois do túnel, contribuindo para a sensação de enfiamento e direção.

No projeto de alteração para o fogo em análise do caso do OE7, o arquiteto aplica princípios

abordados por Francis Ching (2000:123) sobre elementos lineares verticais, pois optou por separar a

zona da sala de estar da zona de refeições e passagem através de três pilares. Ensaiou-se, para esta

situação, a hipótese de serem quatro pilares, fechando fisicamente um canto da sala, sem o encerrar

visualmente, e, juntando-lhe os conhecimentos adquiridos sobre o plano base elevado (Ching,

2000:103), a possibilidade do pavimento desta sala estar mais elevado, fazendo uma maior distinção

entre as duas zonas.

No pátio superior do OE7, que funciona como um terraço sobre o pátio de baixo e dá acesso a

um dos fogos, experimentou-se a utilização de palas verticais, para o tornarem mais privado, que, tal

como acontece na hipótese formulada para o jardim do OE1, se dobram, transformando-se em palas

horizontais de sombreamento.

Cruzando com este ensaio outros conteúdos explorados sobre as aberturas (Ching, 2000:160) e

sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:86), investigou-se a ideia das cantarias

dos vãos engrossarem e tornarem-se mais salientes, numa continuidade com o embasamento, que

também pode sobressair da parede, passando a albergar um canteiro com plantas. Para além disso,

testou-se a hipótese de distinguir o piso de baixo do de cima, através da aplicação de dois tons ou

duas texturas diferentes.

Figura AC.39.

145

Também se ensaiou, aplicando os conceitos sobre as aberturas (Ching, 2000:160) e sobre a luz

(Ching, 2000:170), a alternativa de as janelas serem rasgadas até baixo, ou incluírem um elemento de

escala (Ching, 2000:86), como os canteiros.

Na habitação do nº 7, do caso OE8, existem, na parede do fundo, alguns rasgos que dão para o

terreno vizinho. Usando os critérios sobre elementos lineares verticais (Ching, 2000:122) e aplicando-

os ao OE8, testou-se a hipótese de acoplar a esta parede colunas, dando-lhe uma maior expressão e

ritmo e enquadrando as janelas. Por entre as colunas poder-se-ia colocar prateleiras que jogassem

com o ritmo, a posição e o tamanho das janelas.

No exemplo do PA4, também se experimentou utilizar os elementos lineares verticais como

modo de separar a zona da entrada da kitchenette.

Figura AC.40.

Figura AC.41.

Figura AC.42.

146

No que concerne ao estudo do plano vertical (Ching, 2000:131), averiguou-se a possibilidade da

sala do AF1 ser dividida numa zona de estar e noutra de refeições, através de um plano solto, com

espessura e altura suficientes para ser utilizado como banco, canteiro ou estante. Quanto mais baixo

este plano for, maior será a continuidade entre os espaços, e menor o seu encerramento.

Esta solução também foi experimentada nos casos do OE2 e do OE7, mas em vez de um banco,

canteiro ou estante, formulou-se a hipótese de ser uma “ilha”, prolongando o funcionamento da cozinha

e do espaço de refeições, cruzando-os.

Conforme Francis Ching (2000:131), a cor, a textura e o tipo de superfície afetam a perceção

que temos de um plano, o seu valor visual, a sua proporção e as suas dimensões. Assim, explorou-se

para o LP1 a hipótese de as paredes interiores terem uma cor mais clara do que a parede onde se

inserem as janelas, o que dá, por contraste, uma sensação de maior claridade dentro do espaço,

mesmo quando este é baixo e escuro.

No corredor de distribuição interno do LP1 ensaiou-se a aplicação dos princípios acima referidos

acerca dos planos verticais (Ching, 2000:134), com a ideia de pintar apenas as paredes que formam

um L percetível, dando-lhe destaque e acentuando a sua direção e esquina.

Na alternativa testada anteriormente para o jardim sobre a cozinha de uma das construções

novas do OE1, por investigação dos conceitos sobre planos verticais (Ching, 2000:140), experimentou-

se pintar com uma cor diferente, ou revestir com outro material, uma das paredes ao comprimento,

prolongando-a do interior para o exterior, dando uma maior noção de continuidade e de relação entre o

interior e o exterior (Ching, 2000:96).

A propósito do estudo sobre aberturas que Francis Ching (2000:158) elabora no seu livro,

ensaiou-se para o LP1 a possibilidade de as portas da sala em análise parecerem um plano contínuo

Figura AC.43.

Figura AC.44.

147

até ao teto, tornando os planos adjacentes soltos e dando uma maior ideia de continuidade entre os

espaços. Para além disso, conjugando com a abordagem aos conceitos sobre o plano elevado (Ching,

2000:114), testou-se a hipótese de o teto se deslocar ligeiramente para baixo, mas solto da parede,

aumentando a noção de continuidade das aberturas.

Para esta mesma sala formulou-se uma outra alternativa, a de os rodapés avançarem ao longo

das portas, funcionando como elementos de integração e continuidade formal e construtiva (Ching,

2000:160). Com o intuito de destacar este efeito, experimentou-se criar um contraste entre a parede e

o rodapé, através de um estudo de cor ou texturas (Ching, 2000:79).

Partindo do estudo das várias modalidades de aberturas e formas de as finalizar (Ching,

2000:158), estudaram-se variantes sobre as janelas em arco de volta perfeita do caso PA4, vistas do

interior, como por exemplo: o uso de uma textura ou cor diferentes dentro da parede ou a colocação de

uma namoradeira.

Figura AC.47.

Figura AC.45.

Figura AC.46.

148

No seguimento da investigação sobre a organização espacial (Ching, 2000:178), observou-se

que o LP1, ao contrário dos restantes casos, consiste num fogo por piso, com três assoalhadas cada.

Experimentou-se, então, a hipótese das habitações serem divididas em apartamentos mais pequenos

e reorganizadas segundo outros critérios.

A alternativa estudada propõe a divisão em dois apartamentos, um T0 e um T1, com a seguinte

organização:

Das escadas de acesso entra-se, em frente, no T1 e diretamente para a sala/kitchenette. Desta

sala acede-se ao quarto e ao fundo a um pequeno hall antes da I.S. Os espaços estão vinculados por

outro, que é a sala/kitchenette.

Dos acessos verticais segue-se, à esquerda, para o T0. Entra-se para um corredor, que distribui

para a I.S., a cozinha com zona de refeições, uma despensa e para a sala/quarto, com varanda. Os

espaços estão vinculados por outro, que é o corredor.

A partir dos mesmos conceitos (Ching, 2000:184), explorou-se a possibilidade de o jardim do

OE1 se organizar segundo uma espiral, separada por uma diferenciação dos pisos (Ching, 2000:102) e

por uma linha de elementos verticais (Ching, 2000:123). Conjugando, ainda, com os conhecimentos

adquiridos sobre o plano vertical (Ching, 2000:130), ensaiou-se a ideia de o espaço ficar definido por

um plano vertical solto, seguindo a curva da espiral, com espessura e dimensões de um banco, e que

permite uma maior privacidade do espaço.

Figura AC.48.

149

5.0. CONCLUSÕES

Para terminar poderemos referir, por um lado, conclusões resultantes da análise crítica

dos casos de estudo e por outro, conclusões decorrentes do caminho percorrido no próprio

trabalho de investigação.

Da análise dos casos de estudo constata-se que, no geral, os projetistas procuraram

adotar nos seus projetos um partido compositivo articulado não apenas com as numerosas

normas urbanísticas, arquitetónicas e construtivas entretanto estabelecidas, como com novos

princípios de racionalidade e coerência na divisão, compartimentação e organização dos fogos,

mais consentâneos com o nosso tempo, em ordem à obtenção de um maior aproveitamento

das áreas e uma maximização do uso dos espaços.

Em face do observado depreende-se que os projetistas, quando a trabalhar para jovens,

com tipologias baixas e áreas limitadas, tendem a considerar a concentração de funções e

atividades nos mesmos compartimentos, nomeadamente agrupando o estar, as refeições e a

sua preparação e inclusive, o próprio dormir.

Esta tendência, também observável na iniciativa privada e em segundas habitações, é

aqui plenamente assumida num contexto de promoção de iniciativa pública, não se

descartando a liberalidade de soluções arquitetónicas inovadoras, no quadro de políticas de

alojamento dirigidas a jovens ou a jovens casais no início da sua autonomia habitacional.

Ainda relativamente às tipologias encontradas nas propostas de alteração, refira-se que

não é restrito o emprego de tipologias baixas, nomeadamente T0 e T1, pois nos projetos da

EPUL disponibilizam-se apartamentos T2 e T3, o que pode eventualmente ser explicado por

estes serem dirigidos a venda, e não a arrendamento, como acontece com os projetos da

CMO.

Nesta mesma linha, ainda que também fortemente ditado pelas limitações espaciais e

construtivas da zona histórica onde se inserem, registe-se que em nenhum dos projetos de

alteração foi proposta a utilização de elevador, embora um dos projetos tenha em conta

habitações para jovens com mobilidade condicionada (OE7) e um outro disponha de garagem

(PA1).

Em todos os casos mantêm-se as fachadas praticamente iguais, mas o mau estado de

conservação dos seus interiores leva a que a maioria destes seja integralmente demolida, e

construída de novo, já de acordo com o que se definiu como padrões de habitabilidade e

conforto. Excetua-se os casos do LP1, do OE8 e do PA1, em que o bom estado de

conservação permitiu uma reabilitação dos interiores, implicando apenas a demolição de

algumas paredes e a construção de outras.

Também no que respeita ao estudo das fachadas, apenas um dos projetos analisados

tem em conta um ensaio sobre a cor.

Embora fosse intenção desta dissertação explorar e aprofundar mais conteúdos relativos

às exigências funcionais e humanas, a partir de certa altura incidiu-se esta investigação

150

principalmente sobre a análise morfológica, visto esta ser menos estudada do que a primeira,

no âmbito dos casos de estudo disponibilizados, mantendo-se este tema mais como estímulo e

“pano de fundo” do que como matéria central de investigação.

Outros importantes aspetos encontrados nas situações analisadas, como os

constrangimentos normativos e as ”cartilhas” de reabilitação das zonas históricas, ficaram

igualmente, no presente estudo, desproporcionalmente aquém do seu peso real na

implementação de projetos e obras no terreno.

Em relação aos ensaios sobre as formas, os projetos mostraram, no geral, que as

estratégias e os conceitos abordados por Francis Ching (2000), no seu livro, estão explícita, ou

implicitamente, presentes nalgumas das decisões projetuais e no partido compositivo dos seus

autores, incidindo, principalmente: nas kitchenettes, com a demarcação da zona de preparação

de refeições das de estar e de refeições, através da diferenciação pelo material de pavimentos;

no trabalho do perfil dos edifícios, procurando a clara distinção entre o novo e o antigo; na

separação da zona de estar da de refeições através de elementos verticais; e na utilização da

cor para distinguir usos e funções.

Por seu lado, pela investigação formal arquitetónica acrescentada (no capítulo 4.0) o

presente estudo tenta demonstrar, melhor dito, tenta confirmar e concluir que, mesmo num

contexto de fortes condicionantes de todo o tipo que se encontram num projeto de reabilitação,

como as históricas e patrimoniais, as sociológicas, relativas aos destinatários, as tecnológicas,

relativas às construção e as programáticas, relativas às exigências funcionais, há sempre

matéria de estrita conformação e composição arquitetónica nas opções tomadas, assim como

persiste sempre lugar para que outras opções da mesma natureza formal arquitetónica sejam

tomadas; resultando paralelamente confirmado o singular e abrangente papel da arquitetura.

Das várias alternativas ensaiadas, destacam-se as referentes à investigação sobre os

contornos e silhuetas; a transformação da forma; a articulação da forma e das superfícies; a

unidade de contrários e a relação exterior/interior; o plano base e o plano elevado; os

elementos lineares e o plano verticais; as aberturas; e a organização e relações espaciais;

como tópicos de interesse e recomendação para auxílio na tomada de decisões em projeto.

Ao longo do trabalho foi possível descrever e exemplificar como nos casos de estudo e

nas alternativas ensaiadas, se poderão articular os diferentes compromissos e graus de

liberdade, dentro da problemática do desenho de habitação jovem em zona histórica. Seria

assim, no aprofundamento dos temas de compromisso e liberdade arquitetónica que este

estudo encontraria naturais campos de desenvolvimento.

151

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