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Outubro 2012
O desenho e a arquitetura no espaço doméstico reabilitado.
Estudo de casos de iniciativa pública em Lisboa e Oeiras.
ANA PATRÍCIA DE MATOS MENDES MAYMONE
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
ARQUITETURA
Júri
Presidente: Prof. Doutora Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre
Orientador: Prof. Nuno Maria Reis de Matos Silva
Vogal: Prof. Doutor Vítor Manuel de Matos Carvalho Araújo
2 cm
2 cm
I
0.1. RESUMO
O presente trabalho, inscrito no âmbito da arquitectura, investiga sobre as tendências de desenho e
a evolução do espaço doméstico, servindo-se, como campo de estudo, de alguns casos inseridos nos
Programas de Habitação Jovem, situados em Lisboa e Oeiras, num contexto de reabilitação de centros
históricos.
Partindo da análise dos casos de estudo que foram disponibilizados, concretamente, dois projetos
da EPUL Jovem, em Alfama e na Lapa/Campo de Ourique, e sete da CMO (Câmara Municipal de Oeiras),
em Oeiras e Paço de Arcos, esta dissertação baseia-se num ensaio de enquadramento e numa
investigação sobre conceitos associados à perceção do espaço e à sua morfologia, nomeadamente os
abordados no livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem” de Francis D. K. Ching, sabendo, a priori,
que com eles concorrem outros temas do âmbito da habitação e da reabilitação, como sejam as “funções e
exigências dos espaços habitacionais”, exploradas por Nuno Portas, na publicação do LNEC de 1969,
“Funções e exigências das áreas de habitação”, e aspetos construtivos, que aqui serviram mais como
estimulo e “pano de fundo” do que como matéria central da investigação.
Este trabalho está organizado em três partes: a primeira carateriza e analisa os casos de estudo a
partir da sua observação in loco, nos desenhos rigorosos e nas memórias descritivas, sintetizando os seus
aspetos mais relevantes; a segunda, mais teórica, pesquisa sobre conceitos da perceção espacial e da
morfologia através da bibliografia encontrada, procurando compilá-los; e a terceira, mais prática, assume
como referência o livro de Francis Ching, baseando-se nas categorias que o autor estabelece na sua
abordagem à arquitetura e ao espaço, como mote para um ensaio e uma investigação sobre a forma.
Os casos de estudo são descritos e analisados no que diz respeito à sua inserção urbana, na
maneira como se relacionam com a envolvente; à sua situação prévia, o estado em que se encontram, ou
encontravam à data deste trabalho, o porquê da sua reabilitação e quais as suas tipologias e caraterísticas
marcantes; e ao projeto de alteração, referindo-se tanto as modificações propostas no exterior como no
interior, como as novas tipologias e distribuição dos fogos, a relação que se promove, ou não, entre o novo
e o velho, as opções morfológicas de projeto que se destacam, entre outros.
Na discussão de conceitos estuda-se a maneira como os diferentes elementos da arquitectura, da
sua percepção espacial e da sua morfologia (como sejam: a superfície, o plano, os elementos verticais, o
ritmo, a proporção, a cor, etc.) evoluíram na história, e como se expressam e influenciam, ou não, um
projeto de arquitectura.
A pesquisa também aflorou a evolução das exigências funcionais e das necessidades humanas no
espaço doméstico, não como centro do estudo, mas em atenção à interdependência deste aspeto num
projeto habitacional.
Por fim, focado nas matérias de desenho e partindo-se, então, do conteúdo do livro de Francis
Ching, recorre-se ao ensaio escrito e desenhado para investigar e discorrer sobre as diferentes opções de
projeto que surgem pelo estudo da forma (sem pretender por em causa as opções de projeto encontradas
pelos seus arquitetos, nem ter a menor pretensão das alternativas propostas serem melhores),
II
procurando-se demonstrar a sua aplicabilidade, num âmbito espacial e arquitetónico, ensaiando-se, para
isso, um leque de sugestões formais alternativas no condicionado contexto de reabilitação do espaço
doméstico para jovens, procurando assim demonstrar que nem uma nem outra destas condições se
afigura antagónica do exercício de imaginação, pelo contrário.
PALAVRAS-CHAVE: Perceção do Espaço, Morfologia, Reabilitação, Habitação Jovem.
III
0.2. ABSTRACT
The present work, inserted in the field of Architecture, investigates the tendencies of the design and
the evolution of the domestic space, using, as basis, case studies related to the Youth Housing
Programs, situated in Lisbon and Oeiras, in a scenario of rehabilitation of historical centers.
Starting from the analysis of the case studies made available, more precisely the two projects of “EPUL
Jovem”, in Alfama and Lapa/Campo de Ourique, and seven of the Oeiras City Council, in Oeiras and Paço
de Arcos, this dissertation is based on an essay of framing and an investigation of concepts associated with
the perception of space and its morphology, namely the ones mentioned in the book “Arquitectura:
Forma, espaço e ordem” from Francis D. K. Ching, knowing, beforehand, that alongside them run other
themes in the scope of habitation and rehabilitation, like the “functions and demands of the housing
spaces”, explored by Nuno Portas, in the 1969 LNEC’s article, “Funções e exigências das áreas de
habitação”, and constructive aspects, that would serve more as a stimulus and “background” than as the
main subject of the investigation.
This work is divided in three parts: the first characterizes and analyses the case studies from its
observation in loco, through the rigorous drawings and the descriptive memories, synthesizing its most
relevant aspects; the second, more theoretical, investigates about the concepts of space perception and
morphology, in the bibliography searched, aiming to compile them; and the third, more practical, assumes
as reference the book of Francis Ching, basing itself on the categories that the author establishes in its
approach to architecture and to space, as motto for an essay and an investigation about form.
The case studies are described and analyzed about what concerns their urban insertion, in what way
they relate to surroundings; about their previous situation, the shape they are in, or were at the time this
work was developed, the reason for their rehabilitation and what their most relevant typologies and
characteristics are; and about their alteration project, referring to the proposed modifications for the exterior
and interior, like the new typologies and apartments distribution, the relationship promoted, or not, between
new and old, the project’s most relevant morphologic options, among others.
In the concepts discussion, it is studied the manner in which the different elements of the architecture,
its spatial perception and its morphology (such as: the surface, the plan, the vertical elements, the rhythm,
the proportion, the color, etc.) have evolved along the years, and how they express themselves and
influence, or not, an architectural project.
The research also broached, to a lesser extent, the subject of the evolution of the functional demands
and human needs in the domestic space, not as a focal point of this study, but merely highlighting the inter-
dependence of this aspect in a housing project.
Lastly, focusing on the design issues and based, as mentioned, on the book of Francis Ching, the
author of this work resorts to drawing and written essays to investigate and discourse about the different
project options that arise through the study of the form (with no intention, whatsoever, of putting in check
the project options discovered by its architects, nor intending for the proposed alternatives to be seen as
better), trying to demonstrate its applicability, in a spatial and architectonic context, assaying, for that
IV
purpose, a myriad of alternative formal suggestions in the conditioned context of the rehabilitation of youth-
destined domestic space, aiming to demonstrate that neither one of these conditions presents itself as
antagonistic to the exercise of imagination, on the contrary.
KEY-WORDS: Spatial Perception, Morphology, Rehabilitation, Youth Housing.
V
0.3. AGRADECIMENTOS
Agradeço o apoio:
Ao meu orientador, o professor e arquiteto Nuno Matos Silva;
Ao arquiteto João Rego da EPUL Jovem, e à própria EPUL;
À arquiteta Ana Martins, ao arquiteto Pedro Carrilho e ao engenheiro João Freire da Câmara
Municipal de Oeiras, e à própria Câmara Municipal de Oeiras;
À minha família e amigos, nomeadamente à minha mãe, à minha irmã e às minhas avós;
E aos portugueses que, mesmo num cenário de grave crise económica, ajudaram, ainda que
indiretamente, através dos seus impostos, a que eu prosseguisse no meu percurso escolar e realizasse
esta dissertação.
VII
ÍNDICE GERAL
LISTA DE TABELAS E FIGURAS IX
1.0. INTRODUÇÃO
1.1. OBJECTIVOS 1
1.2. PROBLEMÁTICA 1
1.3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 5
1.4. ESTADO DA ARTE 5
2.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR DESCRITIVO E ANALÍTICO
2.1. ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO URBANA DE LISBOA 9
2.2. EPUL: LISBOA A CORES 10
2.2.1. ALFAMA 10
2.2.1.1. CASO AF1: ESCADINHAS DE SANTO ESTEVÃO 17
2.2.2. LAPA A CAMPO DE OURIQUE 25
2.2.2.1. CASO LP1: RUA DOMINGOS SEQUEIRA 27
2.3. PLANO ESTRATÉGICO HABITAR OEIRAS 35
2.4. HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS 36
2.4.1. CENTRO HISTÓRICO DE OEIRAS 37
2.4.1.1. CASO OE1: RUA DAS ALCÁSSIMAS 39
2.4.1.2. CASO OE2: RUA CÂNDIDO DOS REIS 49
2.4.1.3. CASO OE7: RUA CÂNDIDO DOS REIS 55
2.4.1.4. CASO OE8: RUA DA COSTA 67
2.4.2. CENTRO HISTÓRICO DE PAÇO DE ARCOS 69
2.4.2.1. CASO PA1: AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES 71
2.4.2.2. CASO PA2: RUA COSTA PINTO 77
2.4.2.3. CASO PA4: RUA COSTA PINTO 85
3.0. DISCUSSÃO DE CONCEITOS
3.1. ESPAÇO: A ESSÊNCIA DA ARQUITETURA 91
3.2. A MORFOLOGIA E A PERCEÇÃO DO ESPAÇO 92
3.3. NOÇÃO DE “HABITAR” E DE ESPAÇO DOMÉSTICO 112
3.4. NECESSIDADES HUMANAS E EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS 112
3.5. NÍVEIS DE INTERVENÇÃO 115
3.6. CRITÉRIOS PARA A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS INTERIORES 116
VIII
3.7. OS JOVENS 117
3.7.1. ÁREAS MÍNIMAS: TIPOLOGIAS TO E T1 117
3.7.2. ADAPTABILIDADE 117
3.7.3. ACESSIBILIDADE 118
3.7.4. ECONOMIA 118
4.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR SOBRE A FORMA
4.1. FORMA, ESPAÇO E ORDEM: APLICAÇÃO DE CONCEITOS AOS CASOS DE ESTUDO 121
5.0. CONCLUSÕES 149
6.0. BIBLIOGRAFIA 151
IX
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
FIGURA AF.1. LOCALIZAÇÃO DE ALFAMA (MAPAS DO GOOGLE) 11
FIGURA AF.2. ENVOLVENTE DA IGREJA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA;
FERREIRA, V. MATIAS – LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS
CONTEXTO, 1992) 12
FIGURA AF.3. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO EM ALFAMA (MAPAS DO GOOGLE) 15
FIGURA AF.4. RUA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA; FERREIRA, V. MATIAS –
LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 16
FIGURA AF.5. ADRO DA IGREJA DE SANTO ESTEVÃO (IN CALADO, MARIA; FERREIRA, V.
MATIAS – LISBOA: FREGUESIA DE SANTO ESTEVÃO – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 16
FIGURA AF1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 17
FIGURA AF1.2. CONJUNTO DO LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 17
FIGURA AF1.3. LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 17
FIGURA AF1.4. ENFIAMENTO DO LARGO DE SANTO ESTEVÃO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 18
FIGURA AF1.5. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 18
FIGURA AF1.6. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0, 1, 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 19
FIGURA AF1.7. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 20
FIGURA AF1.8. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 20
FIGURA AF1.9. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS
CEDIDAS PELA EPUL) 20
FIGURA AF1.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 21
FIGURA AF1.11. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1, 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA
AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 22
FIGURA AF1.12. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 23
FIGURA AF1.13. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 23
FIGURA LP.1. BASÍLICA DA ESTRELA (IN ALVES, MARIA PAULA; INFANTE, SÉRGIO –
LISBOA: FREGUESIA DA LAPA – LISBOA: GUIAS CONTEXTO, 1992) 25
FIGURA LP.2. LOCALIZAÇÃO DA LAPA (MAPAS DO GOOGLE) 25
X
FIGURA LP.3. LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO (MAPAS DO GOOGLE) 26
FIGURA LP1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 27
FIGURA LP1.2. RUA DOMINGOS SEQUEIRA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 27
FIGURA LP1.3. FACHADA FRONTAL (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 27
FIGURA LP1.4. PORMENOR DA FACHADA FRONTAL (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 28
FIGURA LP1.5. ALÇADO FRONTAL (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS
CEDIDAS PELA EPUL) 28
FIGURA LP1.6. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 28
FIGURA LP1.7. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 29
FIGURA LP1.8. PLANTA PRÉVIA DO PISO TIPO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 29
FIGURA LP1.9. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS
CEDIDAS PELA EPUL) 30
FIGURA LP1.10. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 30
FIGURA LP1.11. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 31
FIGURA LP1.12. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 31
FIGURA LP1.13. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA EPUL) 32
FIGURA OE.1. LARGO 5 DE OUTUBRO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37
FIGURA OE.2. IGREJA MATRIZ (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37
FIGURA OE.3. PALÁCIO DO EGIPTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37
FIGURA OE.4. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 37
FIGURA OE.5. LOCALIZAÇÃO DOS IMÓVEIS DO PROGRAMA HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS
DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS (MAPAS DO GOOGLE) 38
FIGURA OE1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 39
FIGURA OE1.2. CONJUNTO VISTO DA RUA DAS ALCÁSSIMAS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 39
FIGURA OE1.3. FACHADA DE CONJUNTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 40
FIGURA OE1.4. Nº 28/30 VISTO DA RUA DA COSTA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 40
FIGURA OE1.5. DESENHO DA PORTA DO Nº38 (DESENHO DA AUTORA) 42
XI
FIGURA OE1.6. DESENHO DO MOSAICO ROMANO (DESENHO DA AUTORA) 42
FIGURA OE1.7. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO RUA DA COSTA (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 43
FIGURA OE1.8. ALÇADO LATERAL PRÉVIO RUA DAS ALCÁSSIMAS (1:250) (DESENHO DA
AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 43
FIGURA OE1.9. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44
FIGURA OE1.10. PLANTA PRÉVIA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44
FIGURA OE1.11. PLANTA PRÉVIA DO PISO 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 44
FIGURA OE1.12. ESTUDO DE COR: MODELAÇÃO (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO
JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 45
FIGURA OE1.13. ESTUDO DE COR: ALÇADO FRONTAL (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO
JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 45
FIGURA OE1.14. ESTUDO DE COR: ALÇADO DO ANEXO (IN CMO – PROGRAMA DE
HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO,
2008) 45
FIGURA OE1.15. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45
FIGURA OE1.16. ALÇADO LATERAL PROPOSTO DO ANEXO (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45
FIGURA OE1.17. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO DO ANEXO (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 45
FIGURA OE1.18. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 46
FIGURA OE1.19. ALÇADO LATERAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 46
FIGURA OE1.20. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47
FIGURA OE1.21. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47
FIGURA OE1.22. PLANTA PROPOSTA DO PISO 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 47
FIGURA OE2.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 49
FIGURA OE2.2. LARGO 5 DE OUTUBRO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 49
XII
FIGURA OE2.3. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 49
FIGURA OE2.4. FACHADA FRONTAL DEGRADADA (FOTOGRAFIA DA CMO) 50
FIGURA OE2.5. ESBOÇO DA PLANTA TIPO PRÉVIA (SEM ESCALA) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 50
FIGURA OE2.6. ESBOÇO DO ALÇADO LATERAL PRÉVIO (SEM ESCALA) (DESENHO DA
AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 50
FIGURA OE2.7. FACHADA FRONTAL ARRANJADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 51
FIGURA OE2.8. FACHADA LATERAL ARRANJADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 51
FIGURA OE2.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 52
FIGURA OE2.10. CORTES CD E EF PROPOSTOS (SEM ESCALA) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 52
FIGURA OE2.11. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53
FIGURA OE2.12. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53
FIGURA OE2.13. ALÇADO LATERAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 53
FIGURA OE2.14. PÁTIO (FOTOGRAFIA DA CMO) 53
FIGURA OE2.15. ENTRADA (FOTOGRAFIA DA CMO) 54
FIGURA OE2.16. COZINHA (FOTOGRAFIA DA CMO) 54
FIGURA OE2.17. INTERIOR (FOTOGRAFIA DA CMO) 54
FIGURA OE7.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 55
FIGURA OE7.2. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 55
FIGURA OE7.3. CONJUNTO VISTO DA RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56
FIGURA OE7.4. RUA CÂNDIDO DOS REIS (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56
FIGURA OE7.5. PÁTIO INTERIOR (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 56
FIGURA OE7.6. DESENHO DA FACHADA VISTO DA RUA CÂNDIDO DOS REIS (DESENHO DA
CMO) 57
FIGURA OE7.7. PORMENOR DA FACHADA (DESENHO DA CMO) 57
FIGURA OE7.8. FACHADA (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 58
FIGURA OE7.9. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 58
FIGURA OE7.10. PLANTA PRÉVIA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 60
FIGURA OE7.11. PADRÃO DA FACHADA (DESENHO DA AUTORA) 60
XIII
FIGURA OE7.12. DESENHO PRÉVIO DO PÁTIO (DESENHO DA CMO) 61
FIGURA OE7.13. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62
FIGURA OE7.14. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62
FIGURA OE7.15. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 62
FIGURA OE7.16. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 63
FIGURA OE7.17. PLANTA PROPOSTA DO PISO 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 64
FIGURA OE8.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 67
FIGURA OE8.2. FACHADA DE CONJUNTO (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 67
FIGURA OE8.3. PLANTAS (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS
PELA CMO) 68
FIGURA OE8.4. ALÇADOS (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS
PELA CMO) 68
FIGURA PA.1. RUA COSTA PINTO (FOTOGRAFIA DA CMO) 69
FIGURA PA.2. LOCALIZAÇÃO DOS IMÓVEIS DO PROGRAMA HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS
DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS (MAPAS DO GOOGLE) 69
FIGURA PA.3. PALÁCIO DOS ARCOS (FOTOGRAFIA DA CMO) 70
FIGURA PA.4. JARDIM MUNICIPAL (FOTOGRAFIA DA CMO) 70
FIGURA PA.5. CHAFARIZ (FOTOGRAFIA DA CMO) 70
FIGURA PA.6. FORNOS DE CAL (FOTOGRAFIA DA CMO) 70
FIGURA PA1.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 71
FIGURA PA1.2. AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES (FOTOGRAFIA DA AUTORA) 71
FIGURA PA1.3. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (FOTOGRAFIA DA CMO) 72
FIGURA PA1.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 72
FIGURA PA1.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 73
FIGURA PA1.6. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS
CEDIDAS PELA CMO) 73
FIGURA PA1.7. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
XIV
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 73
FIGURA PA1.8. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (FOTOGRAFIA DA CMO) 74
FIGURA PA1.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0, 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 74
FIGURA PA1.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75
FIGURA PA1.11. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75
FIGURA PA1.12. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 75
FIGURA PA1.13. SALA KITCHENETTE (FOTOGRAFIA DA CMO) 76
FIGURA PA1.14. SALA KITCHENETTE (FOTOGRAFIA DA CMO) 76
FIGURA PA1.15. I.S. (FOTOGRAFIA DA CMO) 76
FIGURA PA1.16. INTERIOR DO SÓTÃO (FOTOGRAFIA DA CMO) 76
FIGURA PA2.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 77
FIGURA PA2.2. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO JOVEM
NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 77
FIGURA PA2.3. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 0 E 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 78
FIGURA PA2.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 79
FIGURA PA2.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 80
FIGURA PA2.6. CORTE AB PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS IMAGENS
CEDIDAS PELA CMO) 80
FIGURA PA2.7. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 80
FIGURA PA2.8. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO
JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 81
FIGURA PA2.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 0 E 1 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 82
FIGURA PA2.10. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 2 E 3 (1:250) (DESENHO DA AUTORA,
COM BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 83
FIGURA PA2.11. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 84
FIGURA PA2.12. CORTE AB PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
XV
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 84
FIGURA PA2.13. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO)
84
FIGURA PA4.1. PLANTA DE LOCALIZAÇÃO (1:2500) (DESENHO DA AUTORA) 85
FIGURA PA4.2. FACHADA FRONTAL PRÉVIA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO JOVEM
NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 85
FIGURA PA4.3. PLANTA PRÉVIA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 85
FIGURA PA4.4. PLANTAS PRÉVIAS DOS PISOS 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 86
FIGURA PA4.5. ALÇADO FRONTAL PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 87
FIGURA PA4.6. ALÇADO POSTERIOR PRÉVIO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE NAS
IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 87
FIGURA PA4.7. FACHADA FRONTAL PROPOSTA (IN CMO – PROGRAMA DE HABITAÇÃO
JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS – OEIRAS: CMO, 2008) 88
FIGURA PA4.8. PLANTA PROPOSTA DO PISO 0 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 88
FIGURA PA4.9. PLANTAS PROPOSTAS DOS PISOS 1 E 2 (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM
BASE NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 89
FIGURA PA4.10. ALÇADO FRONTAL PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 90
FIGURA PA4.11. ALÇADO POSTERIOR PROPOSTO (1:250) (DESENHO DA AUTORA, COM BASE
NAS IMAGENS CEDIDAS PELA CMO) 90
FIGURA DC.1. PLANTA DA BASÍLICA DE S. PEDRO, DE MICHELANGELO, E TRÊS DISTINTAS
INTERPRETAÇÕES DELA (IN ZEVI, BRUNO – SABER VER A ARQUITETURA – SÃO PAULO:
MARTINS FONTES, 1984) 91
FIGURA DC.2. INDÍCIOS DE PROFUNDIDADE: VESTÍBULO DA ASSEMBLEIA DE CHANDIGAN (IN
CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II –
LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 98
FIGURA DC.3. IGREJA DE IMATRA, ALVAR AALTO (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA
DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 100
FIGURA DC.4. CASA DA CASCATA, F. L. WRIGHT (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA
DA ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 101
FIGURA DC.5. TALLESIN WEST, F. L. WRIGHT (IN CONSIGLIERI, VICTOR – A MORFOLOGIA DA
XVI
ARQUITETURA. 1920-1970. VOLUMES I E II – LISBOA: EDITORIAL ESTAMPA, 1994) 102
FIGURA DC.6. MESQUITA SULEYMANIYE (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA,
ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 103
FIGURA DC.7. UNIDADE DE HABITAÇÃO, FRANÇA, LE CORBUSIER (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 103
FIGURA DC.8. RESIDÊNCIA GWATHMEY, NOVA IORQUE, GWATHMEY & ASSOCIADOS (IN
CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI,
12ª EDIÇÃO, 2000) 104
FIGURA DC.9. II REDENTOR, VENEZA, ANDREA PALLADIO (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 104
FIGURA DC.10. DETALHE DO SANTUÁRIO IZUMO, JAPÃO (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 105
FIGURA DC.11. EDIFÍCIO EM VINCENT STREET, LONDRES, SIR EDWIN LUTYENS E BANCO
FUKUOSA SOGO, ARATA ISOZAKI (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y
ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 106
FIGURA DC.12. TAJ MAHAL (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y
ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 106
FIGURA DC.13. RUA EM WOODSTOCK, INGLATERRA E CASA DE VIDRO, CONNECTICUT,
PHILIP JOHNSON (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN –
MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 107
FIGURA DC.14. SOFÁ (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN –
MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 107
FIGURA DC.15. CASA NA COSTA DE MASSACHUSETTS, STUBBINS (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 108
FIGURA DC.16. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE TOURETTE, FRANÇA, LE CORBUSIER (IN
CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI,
12ª EDIÇÃO, 2000) 108
FIGURA DC.17. CASA DAS BODAS DE PRATA, POMPEIA (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 109
FIGURA DC.18. PREFEITURA DE SHIMANÉ, JAPÃO (IN CHING, FRANCIS – ARQUITECTURA:
FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 109
FIGURA DC.19. CASA AMÉDÉE OZENFANT, PARIS, LE CORBUSIER (IN CHING, FRANCIS –
ARQUITECTURA: FORMA, ESPACIO Y ORDEN – MÉXICO: GUSTAVO GILI, 12ª EDIÇÃO, 2000) 110
FIGURA DC.20. CASA KAUFMANN (OU DA CASCATA), F. L. WRIGHT 111
QUADRO 1_LISTA DE FUNÇÕES E ATIVIDADES DA HABITAÇÃO (IN PORTAS, NUNO – FUNÇÕES
E EXIGÊNCIAS DE ÁREAS DE HABITAÇÃO – LISBOA: LNEC, 1969) 113
XVII
FIGURA AC.1. (DESENHO DA AUTORA) 122
FIGURA AC.2. (DESENHO DA AUTORA) 123
FIGURA AC.3. (DESENHO DA AUTORA) 123
FIGURA AC.4. (DESENHO DA AUTORA) 124
FIGURA AC.5. (DESENHO DA AUTORA) 125
FIGURA AC.6. (DESENHO DA AUTORA) 125
FIGURA AC.7. (DESENHO DA AUTORA) 125
FIGURA AC.8. (DESENHO DA AUTORA) 125
FIGURA AC.9. (DESENHO DA AUTORA) 126
FIGURA AC.10. (DESENHO DA AUTORA) 127
FIGURA AC.11. (DESENHO DA AUTORA) 127
FIGURA AC.12. (DESENHO DA AUTORA) 128
FIGURA AC.13. (DESENHO DA AUTORA) 128
FIGURA AC.14. (DESENHO DA AUTORA) 129
FIGURA AC.15. (DESENHO DA AUTORA) 131
FIGURA AC.16. (DESENHO DA AUTORA) 132
FIGURA AC.17. (DESENHO DA AUTORA) 132
FIGURA AC.18. (DESENHO DA AUTORA) 133
FIGURA AC.19. (DESENHO DA AUTORA) 135
FIGURA AC.20. (DESENHO DA AUTORA) 135
FIGURA AC.21. (DESENHO DA AUTORA) 136
FIGURA AC.22. (DESENHO DA AUTORA) 136
FIGURA AC.23. (DESENHO DA AUTORA) 137
FIGURA AC.24. (DESENHO DA AUTORA) 137
FIGURA AC.25. (DESENHO DA AUTORA) 138
FIGURA AC.26. (DESENHO DA AUTORA) 138
FIGURA AC.27. (DESENHO DA AUTORA) 139
FIGURA AC.28. (DESENHO DA AUTORA) 139
FIGURA AC.29. (DESENHO DA AUTORA) 139
FIGURA AC.30. (DESENHO DA AUTORA) 140
FIGURA AC.31. (DESENHO DA AUTORA) 141
FIGURA AC.32. (DESENHO DA AUTORA) 141
FIGURA AC.33. (DESENHO DA AUTORA) 141
FIGURA AC.34. (DESENHO DA AUTORA) 142
FIGURA AC.35. (DESENHO DA AUTORA) 142
FIGURA AC.36. (DESENHO DA AUTORA) 142
FIGURA AC.37. (DESENHO DA AUTORA) 143
XVIII
FIGURA AC.38. (DESENHO DA AUTORA) 143
FIGURA AC.39. (DESENHO DA AUTORA) 144
FIGURA AC.40. (DESENHO DA AUTORA) 145
FIGURA AC.41. (DESENHO DA AUTORA) 145
FIGURA AC.42. (DESENHO DA AUTORA) 145
FIGURA AC.43. (DESENHO DA AUTORA) 146
FIGURA AC.44. (DESENHO DA AUTORA) 146
FIGURA AC.45. (DESENHO DA AUTORA) 147
FIGURA AC.46. (DESENHO DA AUTORA) 147
FIGURA AC.47. (DESENHO DA AUTORA) 147
FIGURA AC.48. (DESENHO DA AUTORA) 148
1
1.0. INTRODUÇÃO
1.1. OBJETIVOS
Pretende-se com este trabalho analisar, sob o ponto de vista da arquitectura, alguns casos
inseridos nos Programas de Habitação Jovem, localizados em Lisboa e Oeiras, como campo de
investigação sobre tendências de desenho e evolução do espaço doméstico, num quadro de
reabilitação dos centros históricos.
Como campo de estudo objecto de medidas e práticas arquitectónicas contemporâneas, a
análise destes casos faculta material suficientemente representativo para sobre eles questionar, e
tentar sistematizar, diversos aspectos da problemática envolvida, como sejam a evolução das
exigências funcionais na habitação, as eventuais alterações de paradigmas arquitectónicos
expectáveis considerando a população alvo os jovens, ou o sentido e eficácia dos programas de
habitação a eles destinados, no quadro da reabilitação urbanística e arquitectónica observada.
Considerando a arquitectura uma síntese de aspectos formais, funcionais e construtivos, e
encontrando-se este tema bem munido de todos eles, esta investigação tende porém a centrar-se em
questões porventura menos debatidas em reabilitação, onde predominam preocupações construtivas,
focando o seu objecto de estudo nos aspectos formais e de percepção espacial, identificados e
analisados nos casos de estudo dos Programas de Habitação Jovem, ainda que concomitantemente
estendendo a sua atenção à evolução dos aspectos funcionais.
Pretende-se assim escrutinar os casos seleccionados sob o ponto de vista da morfologia e da
configuração espacial, no quadro das conhecidas reabilitações, questionando sobre os seus princípios
e condicionantes, as alterações de usos e funções, a especificidade e expectativas do seu grupo alvo,
tendo em atenção à interdependência entre estes diversos fatores.
Focando-se, então, numa pesquisa sobre a morfologia e a perceção espacial, este trabalho
procura investigar e discorrer sobre as diversas opções de projeto observáveis num contexto de
investigação formal, e testar o exercício da imaginação num contexto tão condicionado como o da
reabilitação do espaço doméstico para jovens, justamente uma faixa etária e uns destinatários
historicamente abertos à inovação.
1.2. PROBLEMÁTICA
A eleição do campo de estudo, baseado em casos de Programas de Habitação Jovem, decorreu
da curiosidade inicial sobre a evolução arquitectónica do espaço habitacional, à qual se pretendeu
juntar outro tópico contemporâneo de arquitectura, o da reabilitação. Encontrou-se ainda, na eleição
como destinatários os jovens, oportunidade para a isto agregar a análise de eventuais correlações
entre o debate da arquitectura e a dinâmica social desta população alvo, testando percas e ganhos
nestes territórios de contingência, teoricamente favoráveis à inovação e experimentalismo.
Assim, ao abordar temas que reúnem tópicos como a habitação, a reabilitação e os jovens, não
se estará, garantidamente, a centrar-se apenas em problemáticas onde existem motivos de
contemporaneidade, como também em campos significativamente transversais em relação às matérias
abordadas no curso, havendo assim pretexto para o seu questionamento no quadro de aplicações
concretas, supostas bandeiras de iniciativa municipal.
2
De facto, sendo a habitação um dos temas de sempre e de agora, a reabilitação um tema da
maior actualidade, e os jovens a camada social onde a sociedade habitualmente projecta as maiores
expectativas de mudança, ganha alguma pertinência estudar, sobre o ângulo da arquitectura, os casos
que se conhecem na área metropolitana de Lisboa, dirigidos a estes três pontos.
Uma primeira nota que sobre eles pode ser dita é que, embora existindo e envolvendo
consideráveis recursos e alguma divulgação, estes casos não se afiguram tão numerosos quanto se
poderia esperar ou, dito de outra forma, não se apresentam quantitativamente significativos face às
carências observadas, às recomendações estabelecidas e aos objectivos delineados.
Numa segunda nota destacaríamos o facto dos elementos disponíveis sobre estas obras serem
maioritariamente documentos das relações públicas municipais, não se conhecendo estudos de
natureza profissional ou académica sobre os mesmos, ou inserção em revistas da especialidade ou
actas de conferências. Percebe-se assim que as apresentações destes projectos e obras inseridas
nesses documentos de divulgação municipal sejam de natureza sumária e simplificada, e apenas
detalhada quanto a indicadores urbanísticos como o nº de fogos, áreas ou recursos financeiros
investidos, o que sendo sem dúvida relevante, não deixa de ser um pouco lateral ao objecto central
desta investigação.
Pelo contrário, neste trabalho de um curso de arquitectura, julgou-se mais interessante abordar
estes mesmos casos sob pontos de vista específicos da arquitectura, como sejam a morfologia e a
funcionalidade. Se do ponto de vista do programa dificilmente se encontraria desafio mais estimulante,
quais as respostas que a arquitectura soube encontrar face a tais oportunidades? Assim, o centro da
atenção deste trabalho passa por uma investigação no âmbito da morfologia e da perceção espacial,
mantendo-se como “pano de fundo” uma outra, referente às novas exigências funcionais.
Da pesquisa bibliográfica efetuada inicialmente, constatou-se que existem poucos estudos que
abranjam, conjuntamente, a morfologia (associada à percepção e configuração do espaço) e as
exigências funcionais. Ambos os assuntos têm sido investigados, contudo, geralmente em separado,
sendo o mais explorado, e sobre o qual existem mais estudos, o segundo tema.
Porém, conforme sugere Arnheim (1977:208) “… a função física não basta para determinar a
forma…”, pelo que o estudo desta não se esgota na análise da função. Também Consiglieri (1994:33)
refere que a resposta que as exigências funcionais procuram dar à arquitectura “… objectiva as
necessidades do ser humano, mas limita-se a problemas de ordem biológica e fisiológica…”, não
abarcando “… a total resolução das necessidades e dos interesses humanos.”
Já quanto ao pano de fundo subjacente à reabilitação nos centros históricos, tenha-se em linha
de conta que segundo os dados do INE (2001), devido à perda de habitantes que Lisboa sofreu nos
últimos anos, estimam-se cerca de 240.000 pessoas, ficaram, aproximadamente, 40.000 fogos
devolutos, e a população da cidade envelheceu significativamente.
Numa tentativa de travar esta “fuga” de pessoas do centro para a periferia, a reabilitação de
edifícios antigos, classificados ou não, surgiu como uma alternativa à construção nova. Conforme
refere Aguiar (1997), “… por toda a Europa e crescentemente em Portugal, a reabilitação tornou-se
uma prática corrente e um conceito aplicável não só (já) ao património urbano e arquitectónico
tradicional mas também ao parque edificado ainda recente que, pela sua deficiente qualidade
3
construtiva e urbanística, sofre de inesperadas deficiências e rejeição face ao seu curto tempo de
vida.”
A reabilitação revela-se, assim, um forte tema da actualidade, a par da sustentabilidade.
Por sua vez, o tema da habitação emerge com recorrente naturalidade na medida em que, como
relembra Coelho (cit. in Vasconcelos, 2010:5), a casa define-se como um abrigo, pois “… é nela que
nos recompomos, como pessoas isoladas e como grupo familiar, face às pressões, aos problemas e às
contingências da vida exterior (…) ela é o principal local onde se desenvolve, sempre gradualmente a
nossa individualidade e formação pessoal; é nela que podemos encontrar espaço e condições para a
tão necessária privacidade e para todos os grandes e pequenos objectos que constituem o nosso
mundo pessoal.” Assim sendo, e conforme Vasconcelos (2010:5), a casa revela-se como um espaço
de definição pessoal, que deve garantir o conforto, a segurança, e o bem-estar; que influencia o ser
humano, positiva ou negativamente; e que deve ser pensado de modo adequado.
Valente (1984:5) sugere que as maneiras de viver, os hábitos e as necessidades estão em
constante mudança, evoluindo num ritmo acelerado, o que implica um permanente reajustamento entre
os modos de vida e a habitação que os alberga. Segundo a mesma autora, as alterações operam-se
ao nível dos gostos, do estar, e dos valores que definem e regem a vida do dia-a-dia, como por
exemplo nas diferenças da estrutura familiar actual, em que o papel da mulher como dona de casa tem
vindo a desaparecer, com a sua sucessiva independência, o que se reflectiu no modo de pensar e
projectar a casa.
A habitação é um tema pertinente quando associado à reabilitação e à morfologia pois, e de
acordo com Valente (1984:3), “… habitar é um facto antropológico, inerente ao próprio Homem,
permanente, mas dependente na sua organização e forma, nos seus valores simbólicos, da conjuntura
geral de cada época. Habitar é permanente mas a habitação desactualiza-se.”
Por sua vez, a atenção que dentro desta problemática poderá caber à habitação jovem justifica-
se na medida em que, seguindo a tendência do mundo ocidental, e de acordo com os dados do INE
(2001), a estrutura familiar em Portugal está em mudança: o número de famílias de maior dimensão
está a decrescer, dando lugar às famílias com uma ou duas pessoas. Justifica-se ainda pelo facto de
alguns profissionais, como Pedro Carrilho, arquiteto responsável pelo departamento de projetos
especiais da CMO, defenderem que os jovens são um motor de revitalização dos centros históricos,
promovendo paralelamente à reabilitação, o desenvolvimento de novos serviços, como atividades
ligadas ao lazer e ao comércio.
No que respeita aos programas de apoio e financiamento à aquisição ou arrendamento deste
tipo de habitação destaca-se o “Porta 65 jovem”, de âmbito estatal e que visa a atribuição de auxílio
monetário a jovens entre os 18 e os 30 anos (podendo, no caso de um casal, um deles ter até 32
anos), isolados, constituídos em agregado ou em coabitação, que tenham casa arrendada mas não
aufiram das condições necessárias para pagar a renda na sua totalidade.
No entanto, o financiamento à aquisição e arrendamento de habitação jovem não se limita aos
programas de apoio estatais, tendo-se descoberto alguns incentivos por parte de câmaras municipais,
como seja a da Amadora.
Dentro da área metropolitana de Lisboa encontraram-se iniciativas de habitação jovem apenas
de cariz público ou em associação com empresas privadas. No decurso da investigação, para além
4
dos incentivos e apoios financeiros já referidos, surgiram alguns programas de habitação jovem em
que a própria câmara ou empresa pública são os seus promotores.
Quanto a estes programas, de habitação jovem promovida por organismos públicos, existem
projectos de construção nova e outros dedicados à reabilitação. Os terrenos ou edifícios são
geralmente pertença do estado ou das câmaras, e a maioria dos projectos são elaborados por
funcionários desses organismos. São exemplos dessa política a EPUL Jovem, as câmaras municipais
de Loures, de LX, de Odivelas, e de Oeiras, entre outros.
Nos casos da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e em
parte da EPUL Jovem, o investimento realizado tem incidido sobretudo na reabilitação do parque
habitacional, enquanto nas outras câmaras, como a de Loures e a de Odivelas, esse esforço financeiro
tem sido orientado para a construção nova.
Visto esta investigação dedicar-se a situações de reabilitação, seleccionaram-se os casos da
EPUL Jovem e os da câmara municipal de Oeiras, sendo os primeiros habitações para venda e os
segundos para arrendamento.
A escolha destes casos prende-se com o facto de Oeiras ser o município com o maior registo de
população jovem, enquanto Lisboa, sendo a capital do país, enfrenta o problema de uma população
muito envelhecida.
Dentro dos casos de Lisboa, optou-se pelos da EPUL, que tem uma tradição de construção para
jovens, e que por isso mesmo tem nos seus quadros um grande departamento dedicado em exclusivo
ao assunto: a EPUL Jovem. Para além disso, os casos referentes à iniciativa particular da CML eram
principalmente dispersos, correspondendo a fogos soltos e não a edifícios inteiros reabilitados.
Em relação à EPUL Jovem, o seu principal objetivo era a fixação de população jovem em
Lisboa, seduzindo-a com preços apelativos, percebendo a importância de “… outro tipo de ocupantes
cujas necessidades têm muitas vezes sido esquecidas pela oferta corrente no mercado de habitações
novas, como por exemplo os casais jovens (…) que poderão preferir habitações mais pequenas, mais
fáceis de manter e mais económicas.” (Aguiar e al., 1997). Assim, estes jovens poderiam saborear a
vivência da cidade, apaixonarem-se por ela e fixarem-se nos seus centros. Primeiramente, a EPUL
dedicou-se a produzir construção nova, mas rapidamente se apercebeu da importância de investir na
reabilitação.
O Programa Habitação Jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras, levado a cabo pela
Câmara Municipal de Oeiras, consolida assim a importância que têm estes dois factores conjugados
para o desenvolvimento das cidades. E porque “esta tendência relaciona-se com o retomar da ideia do
centro da cidade e das suas áreas históricas como lugar privilegiado para habitar…” (Aguiar e al.,
1997), a Câmara de Oeiras considerou que o melhor elemento para dinamizar estes centros seria os
jovens.
Então, a originalidade deste trabalho prende-se não só na abordagem de temáticas do âmbito da
arquitectura, como a morfologia, a configuração do espaço e a perceção ou as exigências funcionais,
mas também no seu objecto de estudo: os programas de habitação jovem.
Projectar habitações com qualidade é fundamental, e dirigi-las para os jovens parece ser vital
para a reabilitação e revitalização dos centros históricos, daí que se tenha elegido como casos de
estudo desta problemática, os projectos e obras de iniciativa pública que se encontraram na área
5
metropolitana de Lisboa, inseridos em “programas de habitação jovem”, num quadro de reabilitação
dos centros históricos.
1.3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
O presente trabalho segue uma abordagem diferente da tradicional, pois parte primeiro de uma
pesquisa, observação e descrição dos casos de estudo, enquadrados no âmbito pretendido, iniciando
só depois uma investigação mais teórica e refletiva sobre as temáticas envolvidas. Por fim, ensaia,
através dos conhecimentos adquiridos, alternativas formais às opções encontradas nos projetos,
tirando conclusões e apontando caminhos.
Assim sendo, e munido de ferramentas indispensáveis como a observação in loco e a pesquisa
bibliográfica, este trabalho segue a seguinte estrutura:
1. Descrição dos casos de estudo;
2. Enumeração e debate das questões teóricas levantadas pela observação efetuada;
3. Reapreciação dos casos de estudo à luz dos conhecimentos obtidos, ensaiando-se
alternativas formais às opções encontradas nos projetos;
4. Conclusões.
A observação in loco baseia-se no levantamento e recolha de exemplos, e no apontamento de
informação retirada no local, tal como os registos fotográficos.
Nesta investigação, a observação in loco representa uma dificuldade, pois ainda existem poucos
edifícios reabilitados no âmbito dos jovens, visto a maioria se encontrar em fase de construção ou
apenas em projecto. Nestes casos a recolha de informação é realizada junto dos arquitectos e outros
profissionais intervenientes no programa, e baseia-se nas intenções dos projectistas, na sua óptica das
necessidades dos jovens e nas suas memórias descritivas.
A pesquisa bibliográfica tem como fim a identificação e análise de documentos referentes ao
tema em estudo, e ao esclarecimento de conceitos importantes em relação à percepção espacial, ao
desenho e à morfologia, ao habitar e às exigências funcionais, ao estudo dos hábitos e necessidades
dos jovens, ao uso/função do espaço e à sua relação com os hábitos deste público-alvo.
Por outro lado, e mais relacionada com os casos em estudo, a pesquisa incide sobre: Programas
de intervenção e reabilitação dos centros históricos; contexto histórico, socioeconómico e urbanístico
dos locais de intervenção; e peças escritas e desenhadas sobre os projetos em estudo.
Para uma melhor análise dos casos de estudo entre si, houve a necessidade de uniformizar os
métodos de representação, de forma a conseguir obter comparações viáveis.
Por fim, a investigação formal desenvolve-se a partir de um ensaio escrito e desenhado de
alternativas de cariz morfológico e espacial, por aplicação dos conceitos estudados.
1.4. ESTADO DA ARTE
Durante a década de 60 o LNEC, através da investigação de Nuno Portas, iniciou um longo
estudo sobre o habitar residencial, visando encontrar valores físicos, valores de espaço e de projecto,
capazes de reflectir o modo como a população vive e se acomoda à sua residência, tendo em linha de
conta uma forte preocupação com a evolução dos núcleos familiares, dos seus hábitos e gostos. Este
estudo culminou anos depois com a publicação do “Inquérito à habitação urbana” (1984) de Luz
6
Valente Pereira e Mª Amélia Gago. Na base deste estudo esteve um inquérito feito a uma parte
representativa dos moradores dos bairros de Alvalade, Benfica e Olivais.
No que concerne à definição das exigências de desempenho do espaço residencial foram
desenvolvidos diversos estudos tais como “Exigências humanas no âmbito da habitação”
(Blachére, 1966), “Funções e exigências de áreas de habitação” (Portas, 1969), “Exigências
funcionais das habitações” (Gomes, 1971) e “Exigências humanas na construção” (D’Havé,
1976). Nestas publicações exploram-se critérios de apoio ao projecto residencial, partindo da definição
e caracterização das necessidades humanas, nas suas vertentes fisiológica, psicológica e social, e
abordando questões de segurança, conforto e satisfação.
Em “A dinâmica da forma arquitectónica” (Arnheim, 1977), o autor explora a arquitectura
através da análise do espaço, da noção de vazio e dos elementos que o definem. Para tal, interpreta
as dualidades presentes no processo de criação de um espaço, como sejam: vertical/horizontal;
simetria/assimetria; dentro/fora; concavidade/convexidade; ou percepção/realidade.
Em 1979, também Francis D. K. Ching analisa a conceção do espaço e a sua forma, estudando
os seus princípios geradores, a sua organização e circulação, e conceitos como proporção e escala, na
primeira edição do seu livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem”.
Mais tarde, com o livro “Saber ver a arquitectura” (Zevi, 1984), exploraram-se as noções de
arquitectura e de espaço através da análise dos métodos de representação, da evolução ao longo do
tempo, e das suas diversas interpretações.
O “Manual do inquiridor” (CML, 1988), é um suporte fundamental para quem pretende
desenvolver um estudo baseado numa estrutura de inquéritos ou questionários, pois ajuda a definir
variáveis, a elaborar perguntas claras e directas, e apoia na elaboração, preparação e planeamento do
trabalho até à fase de aplicação.
Nos anos 80 foi publicado um estudo que desenvolveu uma nova teoria de análise do espaço, a
análise sintáctica. “The social logic of space” (Hillier, Hanson, 1984) sugere um conjunto de
diferentes formas de representação do espaço, e a partir delas inferir as relações sociais inerentes.
Mais tarde, um dos autores desenvolveu um outro estudo, “Decoding homes and houses”
(Hanson, 1998), onde explora as relações entre os vários espaços/compartimentos da casa e a sua
organização espacial com as actividades/funções que se desenrolam em cada espaço, através da sua
caracterização física e social.
Entretanto foi editado pelo LNEC um conjunto de três volumes intitulado “Análise e avaliação
da qualidade arquitectónica residencial” (Coelho, 1993).
O primeiro volume, “Áreas do estudo e seus antecedentes”, menos interessante para o
estudo a desenvolver, remete-nos para o enquadramento e caracterização do objecto de estudo.
No segundo volume, “Rumos e factores de análise”, o autor define os factores de qualidade
que caracterizam as necessidades humanas já mencionadas: acessibilidade, adaptabilidade,
apropriação, integração, atractividade, comunicabilidade, domesticidade, espaciosidade, capacidade,
privacidade, convivialidade, funcionalidade, agradabilidade, durabilidade e segurança.
Por fim, no terceiro e último volume, reeditado com o nome “Do bairro e da vizinhança à
habitação” (1998), são definidos os diferentes níveis físicos da habitação: envolvente da área
residencial, vizinhança alargada, vizinhança próxima, edifício, habitação e espaços e compartimentos.
7
Baseado em estudos anteriores, “A morfologia da arquitectura” (Consigliere, 1994), consiste
em dois volumes onde o autor explora/estuda diferentes abordagens à evolução da forma e dos seus
elementos, definidores do espaço, desde a forma gestáltica, à forma topológica e à fenomenológica.
Para tal, utiliza como base de análise, projectos realizados entre 1920 e 1970, pertencentes ao
Movimento Moderno, nomeadamente dos seguintes arquitectos: Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e
Alvar Aalto.
O livro “O homem e a casa” (Cabrita, 1996) contribui para o esclarecimento dos conceitos de
habitar e de qualidade, analisando para tal as necessidades, individuais e colectivas, do acto de habitar
e as ligações que se estabelecem entre o indivíduo e a sua família e a casa.
A investigação na área da reabilitação do património habitacional tem-se baseado
essencialmente sobre a renovação urbana e o planeamento, e sobre a reabilitação estrutural. O livro
“Guião de apoio à reabilitação de edifícios habitacionais” (Aguiar, Cabrita, Appleton, 1997),
dividido em dois volumes, explora para além dos tópicos acima referidos outros relacionados com a
reabilitação dos interiores, como a redefinição tipológica e a reorganização espacial.
O tema da habitação evolutiva tem um contributo importante para a compreensão e definição do
conceito de adaptabilidade, nomeadamente o estudo “Habitação evolutiva e adaptável” (2003), de
Baptista Coelho e Reis Cabrita, onde se exploram as ideias de ampliação e subdivisão da residência
como formas de adaptação às novas necessidades, evolutivas, dos seus moradores.
De todos os trabalhos de investigação encontrados poucos tratam a questão da reabilitação e do
espaço doméstico por um dos pontos de vista particulares da arquitectura: a morfologia/desenho do
espaço, a sua percepção espacial e os ambientes interiores, para além das exigências funcionais, de
satisfação e de conforto. Também nos estudos analisados detectou-se uma preocupação com o geral
da população, das famílias, raramente se particularizando num público específico, com características
próprias, como seja os jovens e os idosos.
9
2.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR DESCRITIVO E ANALÍTICO
2.1. ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO URBANA DE LISBOA
Em Abril de 2011, a CML aprovou um projeto de delimitação da área de reabilitação urbana com
a fundamentação constante na “Estratégia de Reabilitação para Lisboa 2011-2024” (CML, 2011).
Deste documento constam: definição de conceitos e de objetivos a atingir; identificação de
entidades participantes; enumeração das medidas, implementadas e por implementar; propostas
legislativas; entre outras.
Várias e diferentes são as matérias abordadas neste documento, mas para o estudo em causa
importa perceber em que medida a habitação para jovens consiste ou não numa prioridade estratégica
da CML, e em que moldes.
Por outro lado, interessa-nos enquadrar e compreender particularmente a ação da EPUL e a sua
participação neste processo.
A CML (2011:13) tem a intenção de “reabitar a cidade” e “rejuvenescer o centro de Lisboa”,
criando para o efeito um Fundo Municipal de fogos para arrendar, em que “os imóveis se destinarão a
alienação e, ou, arrendamento acessível para jovens” (CML, 2011:31).
Segundo este documento da CML (2011:39), na história lisboeta “têm variado as estratégias de
reabilitação urbana e ações levadas a cabo na tentativa de recuperar o seu património arquitetónico”,
sendo que hoje em dia os princípios de intervenção são mais complexos, “não se limitando à
intervenção no edificado ou no seu espaço público, mas procurando dar resposta, para além das
questões culturais, aos problemas sociais, económicos, de mobilidade, numa perspetiva sustentada e
integrada das intervenções com o objetivo de regenerar a cidade”.
Entre 1986 e 1990, a CML criou os Gabinetes Técnicos Locais (GTL), com maior proximidade à
população, criando “uma dinâmica de intervenção local com uma estrutura organizacional própria,
promovendo em consequência uma gestão integrada” (CML, 2011:39).
Os “resultados positivos” obtidos pelos GTL levaram ao alargamento das suas áreas de acção,
pelo que em 1992 criaram-se “instrumentos legislativos especiais para estes bairros, declarando-os
como ACRRU 1 – áreas críticas de reconversão e recuperação urbana” (CML, 2011:39).
Em 2003, a par de uma política de intervenção coerciva, lançaram-se concursos públicos para a
realização de empreitadas no que concerne à consolidação estrutural, conservação e recuperação de
edifícios públicos e/ou privados, nomeadamente nos bairros de Alfama e Madragoa. Neste âmbito,
houve a “transferência de edifícios municipais para a EPUL reabilitar” (CML, 2011:40).
De acordo com o documento da CML (2011:41) a que nos temos vindo a referir, a EPUL deveria
ter criado programas de reabilitação, como o “Lisboa a cores”, com o objetivo de recuperar o conjunto
edificado transferido da CML para a EPUL, através de parcerias com os privados. Dos noventa e dois
edifícios que a EPUL deveria ter reabilitado entre 2002 e 2006, apenas cinco foram reabilitados (CML,
2011:41).
Assim sendo, os resultados da EPUL ficaram aquém do esperado “porque, financeiramente, a
operação de reabilitação não era economicamente viável” (CML, 2011:41), tendo ficado ainda em pior
estado, um edificado por si só já degradado.
10
Nesta altura criaram-se três Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU), apesar de hoje em dia
apenas a SRU Ocidental permanecer em funções.
O documento em questão contempla o Programa de Intervenções Prioritárias de Reabilitação
Urbana (PAPIRU), assim como contrapartidas pela construção do casino de Lisboa e os apoios do
QREN, como meios de financiamento para a reabilitação da cidade.
A leitura deste documento permitiu entender que as limitações económicas são condicionantes
importantes na elaboração dos projetos subjacentes aos programas públicos, e que o arrendamento
jovem constituiu, num dado momento, uma forte aposta da CML para a revitalização dos centros
históricos.
2.2. EPUL: LISBOA A CORES
No final do século passado, mais precisamente em 1996, a CML canalizou para a EPUL, de que
é acionista maioritária, uma anunciada aposta na construção nova dedicada a jovens, procurando
contrariar o efeito de envelhecimento da cidade, através da criação de soluções atractivas do ponto de
vista económico e de localização. Nascia, assim, a EPUL Jovem.
A partir de 2002, a EPUL ficou responsável pela reabilitação de um vasto conjunto de edifícios,
pertencentes à Câmara Municipal de Lisboa, que estavam em avançado estado de degradação.
“Temos que parar com esta Lisboa a preto e branco…” foi o slogan adotado para a criação de
três programas de reabilitação urbana: Lisboa a cores; Repovoar Lisboa; e Alfama - quem ama cuida.
O programa, cujos projetos serão alvo de estudo neste trabalho, é o “Lisboa a cores”.
Segundo a EPUL, que mantém um local de presença na internet em www.epul.pt, o programa
“Lisboa a cores” consiste num investimento público, ou em parceria com o privado, de reabilitação de
edifícios municipais. A EPUL coloca à disposição do promotor um conjunto de cinco/seis edifícios, dos
quais três/quatro se destinam à comercialização e dois, devolvidos à autarquia, ao realojamento. “Dos
edifícios recuperados, os previamente destinados à comercialização são constituídos pela EPUL em
propriedade horizontal e as respetivas frações vendidas preferencialmente a arrendatários, ocupantes
a título precário ou jovens até 35 anos” (www.epul.pt). Apesar da Estratégia de reabilitação urbana de
Lisboa referir agora o arrendamento jovem como prioritário, a EPUL já se tinha anteriormente
dedicado, maioritariamente, à venda dos fogos reabilitados a jovens, através de concurso público.
O conjunto edificado está disperso por diversos bairros históricos da cidade, tais como Ajuda,
Alfama, Bairro Alto, Bica, Campo de Ourique, Lapa, Mouraria, Santa Catarina e São Bento.
Sendo o objeto de estudo desta investigação centrado em projetos de reabilitação, a EPUL
cedeu informação sobre dois casos: um edifício nas Escadinhas de Santo Estevão, em Alfama, e outro
na Rua Domingos Sequeira, na Lapa, ambos da autoria do Arq. João Rego.
2.2.1. Alfama
De acordo com a CML, que mantém outro local de presença na internet em www.revelarlx.cm-
lisboa.pt, Alfama remonta ao tempo dos mouros, sendo por isso o bairro mais antigo de Lisboa.
Através da análise da carta geológica do concelho, constata-se a existência nessa zona de um
grupo de nascentes termais associadas a uma falha geológica, que corta as camadas do Miocénico.
11
A sua toponímia está, por isso, associada à existência no local de fontes termais de água
quente, e deriva do árabe al-hamma, que significa “banhos ou fontes de água boa”.
Segundo Calado (1992:27), entre os séculos II e V a.C., os romanos já aqui tinham criado um
núcleo de lazer ligado ao aproveitamento das águas termais, sendo que “estas águas quentes e
sulfúreas que brotavam naturalmente foram o primeiro elemento agregador de povoamento…” (Calado,
1992:27). Contudo, e apesar de todas as atividades associadas aos banhos termais, os romanos
nunca se fixaram no local como núcleo urbano.
Só no séc. VIII, aquando da conquista da cidade pelos muçulmanos, Alfama conheceu um maior
crescimento. “Os mouros reorganizaram a cidade (…) Lixbuna em função de um novo enquadramento
económico, cultural e social” (Calado, 1992:28), consolidando, naturalmente, a ocupação que se vinha
a assistir entre o Castelo e o rio, mercê da crescente importância desses dois polos de atividade.
José Augusto França (1997:9) refere inclusive que, com a ocupação muçulmana, “… a urbe
romana desapareceu (…) e os restos dela foram empregues como material agora detetado em
fortificações que rodearam as áreas habitadas, protegendo-as das surpresas dos inimigos. Assim,
muito provavelmente nasceu a “cerca velha”, ou “cerca moura.” O autor refere também que “dentro da
cerca e fora dela, (…) uma população já computada (…) dedicava-se ao comércio e à agricultura, em
hortas ou “almoinhas” limítrofes, com casas que se multiplicavam em ruelas estreitas e becos…”
Nesta linha sugere Calado (1992:29), que as famílias aristocratas hospedaram-se na colina de
Alfama, arrabalde da cidade já consolidada dentro da “cerca velha”, que ia do castelo ao rio. Durante o
domínio muçulmano, a Alfama encontrava-se dividida entre Alfama do Alto, situada dentro da “cerca
moura” e onde habitava a aristocracia, e Alfama do Mar, de carácter popular.
A sua ligação à cidade estabelecia-se a sul, ao longo da margem do rio, ou a partir de duas
portas principais: a de S. Pedro e a do Sol. “Como bairro arrabaldino, Alfama era também ponto de
ligação entre a cidade e o campo” (Calado, 1992:29).
Isto encaixa-se com o que Lamas (2004:151) diz sobre a formação das cidades medievais,
prevenindo que poderão ter tido origens distintas, entre elas, “… as antigas cidades romanas que
Alfama
Figura AF.1. Localização de Alfama
12
permaneceram, ou que, tendo sido abandonadas, são posteriormente reocupadas…”, o que aconteceu
no caso de Lisboa, alternando entre os vários domínios bárbaro (visigótico), romano, muçulmano e
cristão.
Este autor (2004:152) esclarece que, nesta época, “gradualmente, novos conceitos de desenho
vão tomando lugar: abandona-se a escala monumental das cidades romanas em favor de uma
morfologia mais intimista, culminando na forma e escala das pequenas cidades medievais, cujo
desenvolvimento se apoia em classes sociais: o artesão e o comerciante …”
Lamas (2004:151) refere também que “o crescimento e a instalação de novas funções, como as
ordens militares e religiosas, conduzem a uma sobreposição de traçados: aos restos do traçado
ortogonal romano vai sobrepor-se o traçado radiocêntrico da Idade Média.”
Em 1147, D. Afonso Henriques acampou com as suas tropas em Alfama, reabastecendo-se com
a sua água, mencionada por Osberno, um cruzado inglês da época, como sendo de grande qualidade
(Calado, 1992:29). Pouco tempo depois o exército do rei reconquistou a cidade.
“Com a integração de Lisboa no reino de Portugal, passou-se à sua reorganização administrativa
e urbanística e processou-se o desenvolvimento económico” (Calado, 1992:30). De acordo com esta
autora (1992:30), “… parte da estrutura religiosa da romanização do período visigótico foi recuperada
na sua dimensão civil e religiosa” e várias freguesias foram criadas, nomeadamente a de S. Miguel,
onde se incluía o bairro de Alfama.
Calado (1992:30) refere que, em 1173,
surgiram as primeiras referências à existência
de uma comunidade cristã, que se dedicava à
exploração de pedra, no local onde
permanece hoje a igreja de Santo Estevão,
tendo-se, aqui construído, na época, uma
outra igreja provisória.
Conforme refere José Augusto França
(1997:10), a Lisboa conquistada por D.
Afonso Henriques delimitava-se pelas
muralhas antigas, tendo sido, um século
depois, ampliada com a construção da nova
muralha, mandada erguer por D. Fernando. A cerca desenvolvia-se num traçado “… irregular,
procurando respeitar a topologia e proteger o tecido existente” (Calado, 1992:33).
No que diz respeito a Alfama, com a reconquista cristã da cidade aos mouros, ela foi-se
desenvolvendo, tendo crescido até aos limites da cerca nova, ou fernandina.
Eram propriedade régia, em Alfama, o Paço das Galés e o Paço Real de Alfama, o que
contribuiu, segundo Calado (1992:31), para a nobilitação desta zona, tendo a freguesia de Santo
Estevão sido criada oficialmente, pelo rei D. Dinis, em 1295. “A igreja paroquial foi então
completamente remodelada e definitivamente construída em 1316. A freguesia era extensa e abrangia
grande parte do território rural de quintas e casais para além do sítio da Cruz e da rua do Paraíso.”
(Calado, 1992:31).
Figura AF.2. Envolvente da Igreja de Santo Estevão
13
Quanto à sua malha urbana, Calado (1992:30) clarifica que “o bairro medieval de Alfama
apresentava já a sua estrutura labiríntica orgânica e irregular recuperando e desenvolvendo os
modelos muçulmanos.” Calado (1992:49) acrescenta ainda que esta malha se dividia em dois tipos: um
a norte da Rua dos Remédios, onde prevaleciam os “… grandes lotes e um traçado orgânico irregular
e espontâneo…” e outro a sul da mesma rua, onde um conjunto ribeirinho se desenvolvia segundo “…
uma estrutura mais fragmentada, mas também mais ordenada em função de uma “rua direita” (…)
paralela à praia…”, ou seja, a Rua dos Remédios. Assim sendo, entre a Rua dos Remédios e a
muralha, Calado (1992:33) caracteriza a malha como um “… traçado irregular e espontâneo de becos,
vielas e escadinhas…”, onde predominam os “… espaços públicos de encruzilhadas e de polarizações,
de que é de destacar, desde logo, o Largo de Santo Estevão” (Calado, 1992:66).
Similarmente, França (1997:12) esclarece que “… as ruas, travessas e becos foram sendo
construídos, multiplicando-se as casas de andares em meados do séc. XIII – mas o desenvolvimento
realizava-se conforme necessidades minimamente locais e obedecendo também a polos de atração
que eram os conventos, as novas paróquias e algumas casas nobres…” Neste sentido, durante os
vários séculos de domínio cristão, Alfama manteve a sua importância na cidade com a construção de
conventos e palácios na sua encosta, o que condicionou a sua malha urbana, onde “… a sobreposição
de traçados e de construções realiza-se sem uma ordem predefinida e com pontos de apoio nos eixos
que ligam as cidades, estradas de passagem, portas das muralhas, …” (Lamas, 2004:151). Por sua
vez, Calado (1992:31) observa que “estes palácios medievais eram grandes construções góticas com
torres e alas residenciais onde se abriam janelas e portas ogivais.”
Por outro lado, a zona ribeirinha da praia manteve o carácter popular, estruturando-se com a
construção de “… pequenas habitações ao longo do caminho (…) para o termo oriental da cidade. A
população ribeirinha era constituída fundamentalmente por calafates e pescadores e por vendedores
fixos e ambulante.” (Calado, 1992:31).
Também nesta época as águas de Alfama valeram-lhe notoriedade, pelo que “os banhos, que
faziam parte do universo da vida medieval em sucessão das velhas termas romanas, eram explorados
por diversos particulares e por instituições” (Calado, 1992:31).
Coincidindo com as partes mais laboriosas da cidade, refere Calado (1992:33) que, “durante o
século XV, tal como em toda a extensão ribeirinha, foram construídos equipamentos diversos ligados
ao comércio interno (com a região interior do país) e externo (com a Europa Atlântica) e sobretudo os
que se destinavam a apoiar o vasto programa dos descobrimentos portugueses…”, como por exemplo
os estaleiros, as fábricas, os armazéns e os terreiros. Assim, para fazer face às necessidades da zona
portuária, deslocaram-se a Alfama vastas populações. As freguesias, nomeadamente a de Santo
estevão, atingiram uma tal dimensão que acabaram por ser subdivididas, dando, no caso de Santo
Estevão, lugar a uma nova, a de Santa Engrácia.
Calado (1992:36) sugere que “a fisionomia arquitetónica mudou-se também no interior da
freguesia durante o século XVII e a primeira metade do século XVIII. As habitações construídas a partir
da segunda metade do século XVI apresentavam frentes estreitas, fachadas simples ou de ressalto, e
empenas. Algumas possuíam varandas e pequenos registos de azulejos. Os edifícios de habitação
mais desenvolvidos localizavam-se ao longo da Rua dos Remédios (…), mas nos pequenos largos e
becos havia simples casas de tipologia rural.”
14
No séc. XVII persistem os vestígios e registos documentados da contínua exploração das águas
termais como banhos públicos ou alcaçarias, renovadas ou construídas de raiz, o que perdurou até ao
séc. XX.
Calado (1992:37) refere também que a igreja paroquial foi reconstruída entre 1733 e 1740,
segundo projeto de cariz barroco do arquiteto Manuel Costa Negreiros.
No terramoto de 1755, a maior parte de Alfama resistiu ao sismo, mas houve uma porção
significativa de edifícios que ficou destruída. “A questão da urbanização da zona oriental da cidade
com base num plano especial chegou a ser colocada mas nunca foi implementada” (Calado, 1992:38).
Durante muitos anos nada foi feito para recuperar esta zona da cidade, à exceção dos grandes
proprietários, que remodelaram ou reconstruíram os seus palácios. De acordo com Calado (1992:38),
“… os edifícios de habitação mais comuns voltaram a ser levantados com fachadas mais sólidas…”
Em 1868, as águas de Alfama, conhecidas por “águas orientais”, foram introduzidas na rede de
abastecimento público de Lisboa, com a construção de uma cisterna de recolha de água e uma
estação elevatória, que fornecia o reservatório da Verónica (1862).
A abundância de água na zona conduziu a que no séc. XIX Alfama fosse qualificada como área
de “águas mineromedicinais”, pela Inspeção das Águas. No entanto, por volta dos anos 60-70, as suas
nascentes foram episodicamente seladas devido a contaminação. Calado (1992:28) sugere, no sentido
de reatar e recuperar as relações anteriormente existentes entre o local e o aproveitamento das águas
termais, a adaptação de um espaço museológico e cultural no Edifício das Águas.
Só na segunda metade do séc. XIX surgiram os primeiros planos para a requalificação do bairro
de Alfama. De acordo com Calado (1992:39), Pedro José Pézerat, arquiteto na CML, chegou a
defender a demolição integral de Alfama, propondo a reconstrução da colina com uma urbanização
mais higienista, ampla e racional. Contudo, o projeto não chegou a ser aplicado, pois o valor cultural,
histórico e patrimonial do local começou a ser considerado importante de preservar. “Esta primeira
defesa de Alfama como conjunto patrimonial, embora estivesse ainda enquadrada por modelos de uma
cultura romântica oitocentista, foi o primeiro alerta para o seu melhor conhecimento e valorização”
(Calado, 1992:42).
Conforme refere Calado (1992:40), a necessidade urgente de obras de reabilitação urbana levou
a que, no início do séc. XX, pela ação do Eng.º Duarte Pacheco, o então presidente da CML e ministro
das obras públicas do Estado Novo, Alfama sofresse algumas obras de saneamento básico e de
arranjo dos espaços exteriores, o que permitiu travar a sua degradação, sem ter, no entanto, resolvido
os seus problemas, nomeadamente os sociais.
Nos anos 80, o antigo gabinete técnico de Alfama, a par da Associação de Moradores e de
outros movimentos da população local, muito contribuíram para a reabilitação da zona, principalmente
no seu aspeto social. Contudo, só a partir dos meados dos anos 90 Alfama tem vindo a ser aos poucos
recuperada, graças a iniciativas da CML, sobretudo nos casos mais difíceis, em parceria com outras
identidades tais como a EPUL, que através de programas como o “Lisboa a Cores” pretendeu ter
agarrado e reabilitado algum edificado e o seu espaço envolvente.
Atualmente repartida entre as freguesias de São Miguel e Santo Estevão, Alfama caracteriza-se
pelas ruas irregulares e estreitas, que proporcionam característicos e sinuosos enfiamentos visuais
sobre o rio, pelos telhados inclinados, pelo fado e até pela roupa estendida à janela. “Ruas amplas com
15
a forma e a função de grandes eixos de circulação urbana são agregadoras de travessas, ruelas e
becos irregulares” (Calado, 1992:27), como é o caso da Rua dos Remédios, que se apresenta “…
como a tradicional “rua direita ribeirinha” com fachadas mais uniformes e de dimensão mais urbana”,
ou as ruas de Santo Estevão e do Vigário, que “… são também pequenos eixos ordenadores remetidos
para o edifício principal que se destaca pela linguagem arquitetónica, pela tipologia funcional e pela
escala – a igreja” (Calado, 1992:49).
Tendo sido sobretudo ocupada e organizada durante a Idade Média e a dos Descobrimentos, e
apesar das adversidades, Alfama tem mantido o seu carácter de vivência popular e aristocrática,
constatável nos palácios nobres que se encontram pelas ruas mais largas, e nas habitações
tradicionais mais modestas, que se abrem para os largos, ruelas e terreiros, que lhe conferem uma
vivência de meio rural.
Neste sentido, Calado (1992:50) reforça que “os edifícios foram praticamente construídos a partir
de meados do século XVI e grande parte são posteriores ao terramoto de 1755. Mas em cada um
deles é visível a memória de outras épocas, expressa na dimensão do lote, na relação com a rua, na
composição das fachadas e até na própria organização do espaço interior. Se algumas fachadas
manuelinas (…) são expressão de uma linguagem arquitetónica erudita, noutras predominam, contudo,
as referências vernáculas com ressaltos, aberturas estreitas, cunhais reforçados, empenas, registos de
azulejos de sabor popular e grades de ferro forjado.”
De grande atratividade turística, à rota de Alfama costumam agregar-se determinados pontos
fortes, como os miradouros das Portas do Sol e de Santa Luzia, o Castelo de S. Jorge, a Sé, a Igreja
de Santo Estevão e a de São Vicente de Fora, e os chafarizes de El-Rei, de Dentro e da Praia.
Dada esta riqueza patrimonial, pois tal como reforça Calado (1992:50) “praticamente todas as
épocas históricas estão representadas na imagem arquitetónica da freguesia em testemunhos mais
diretos ou em vestígios arqueológicos bem identificáveis”, é compreensível que as políticas urbanas se
orientem por estratégias de preservação e reabilitação do edificado, dando prioridade a projetos que
privilegiem a manutenção das fachadas, ou a reposição da original, que mantenham as cérceas, os
Figura AF.3. Localização do caso de estudo em Alfama (AF1)
AF1
16
alinhamentos, os sistemas construtivos e, principalmente, que não descaracterizem o conjunto urbano
e as vivências intimistas e solidárias que aqui se geram.
Tendo em conta as características históricas da ocupação de Alfama, e os dados do INE
(2001:LIV) que registaram em 2001 um envelhecimento médio da população de Lisboa entre os 100 e
os 128%, não consiste numa surpresa nem o envelhecimento e diminuição do número de habitantes
destas freguesias, nem que constitua atualmente uma preocupação urbanística a tentativa de inverter
esta tendência, através de diversos instrumentos políticos, entre os quais o programa “Lisboa a cores”
da EPUL Jovem.
Em Alfama encontra-se o primeiro caso de estudo a ser descrito e analisado, o AF1, pertencente
à CML, mas atualmente em projeto pela equipa da EPUL Jovem, nomeadamente pelo Arq. João Rego.
O AF1 situa-se nas Escadinhas de Santo Estevão, dentro da malha medieval da freguesia de Santo
Estevão.
Figura AF.4. Rua de Santo Estevão
Figura AF.5. Adro da Igreja de Santo Estevão
17
CASO AF1:ESCADINHAS DE SANTO ESTEVÃO
INSERÇÃO URBANA
Conforme já foi anteriormente referido, o AF1
insere-se numa malha cuja génese e consolidação
se remetem ao período medievo-renascentista, como
é o caso de Alfama.
De acordo com Lamas (2004:151), a cidade
medieval desenvolveu-se segundo um crescimento
orgânico, em que o seu aspeto final aparenta uma
certa desordem, em geral favorecida pela topografia
irregular do terreno, que não é propícia aos traçados
mais geométricos.
Neste contexto, a rua converte-se no elemento
base do espaço urbano medieval, dando forma aos
quarteirões, que assim passam a ser determinados
pelos traçados viários (Lamas, 1997:152).
Quanto aos principais eixos de ordenamento,
e como já foi supracitado, as ruas da Regueira e dos
Remédios “… organizam, em grande medida, a
estruturação e a visibilidade do respetivo tecido
social e urbano da freguesia...” de Santo Estevão
(Calado, 1992:66), onde se localiza o AF1.
Assim sendo, o caso em estudo integra-se
num quarteirão do tipo orgânico e irregular, sendo
delimitado em proximidade com as ruas acima
identificadas. Para vencer o declive acentuado, a rua
pela qual se acede a este imóvel é em escadaria e
designa-se por Escadinhas de Santo Estevão.
As Escadinhas de Santo Estevão ligam a Rua
dos Remédios ao Largo de Santo Estevão, que se
caracteriza por ser um espaço de encruzilhada e de
polarizações, conforme descreve Calado (1992:66).
O AF1 situa-se no topo das escadas, estando
já virado para o largo.
Alfama encontra-se bem munida ao nível dos
transportes públicos, pois está servida por uma rede
de autocarros e por uma estação de comboios, e
outra de metro, ambas em Santa Apolónia.
Apesar da facilidade em aceder-se a Alfama, a
acessibilidade ao edifício em estudo é complicada,
Figura AF1.1. Planta de localização
(1:2500)
Figura AF1.2. Conjunto do largo de Santo Estevão
Figura AF1.3. Largo de Santo Estevão
18
pois as escadas consistem numa barreira para quem
tem mobilidade condicionada.
Neste caso em particular, a impossibilidade de
vencer o desnível topográfico através de uma rampa,
não só converteu a rua numa escadaria íngreme e
difícil de transpor, como se tornou num obstáculo ao
acesso via automóvel. Assim, mesmo a passagem
de uma ambulância, ou de um carro de bombeiros, é
impraticável.
Outro problema ao nível das acessibilidades
que se encontra no local reside no facto de não
existirem parques de estacionamento suficientes.
O AF1 integra o conjunto envolvente à Igreja
de Santo Estevão. Confronta a nordeste com as
Escadinhas e a sudoeste com os logradouros dos
edifícios que dão para a Rua dos Remédios.
Alfama fica próxima da Baixa da cidade, de S.
Vicente de Fora e de Santa Apolónia.
O AF1 localiza-se perto de alguns dos pontos
turísticos mais relevantes de Lisboa, como sejam: o
Museu do Fado, o Castelo de S. Jorge, a Sé, a Casa
dos Bicos e os miradouros de Santa Luzia e das
Portas do Sol. No próprio largo de Santo Estevão
encontram-se a igreja, o chafariz e o miradouro com
o mesmo nome.
A EPUL, a par da CML, considerou este imóvel
como interessante pelo facto de corresponder a um
edifício antigo histórico, com génese entre os séculos
XV e XVII. Tratando-se de um raro exemplar pré-
pombalino, e tendo resistido já a um terramoto, o
imóvel é representativo de uma fase relevante do
ponto de vista histórico e cultural. Para além disso,
forma com o restante edificado, um conjunto
coerente e com uma imagem a preservar.
SITUAÇÃO PRÉVIA
O AF1 consiste num edifício com cinco pisos,
que se encontra em avançado estado de degradação
e a necessitar de urgentes obras de recuperação.
Figura AF1.4. Enfiamento do largo de Santo Estevão
Figura AF1.5. Fachada frontal prévia
19
O telhado, bem como o sótão e o piso anterior,
foram demolidos, colocando-se-lhe uma contenção
como resguardo, numa tentativa de evitar a sua ruína
total. Também foi emparedado o piso inferior.
Apesar do mau estado em que este imóvel se
encontra, a EPUL tem o levantamento do que existia
antes da sua demolição parcial.
O edifício está orientado, na fachada principal,
para sudoeste, e para nordeste na fachada posterior,
o que permite que os fogos recebam luz solar todo o
dia e tenham ventilação cruzada.
A fachada principal do imóvel tem uma ligeira
inclinação para cima, pelo que os pisos superiores
são menores do que os inferiores.
Tipicamente, os edifícios em Alfama têm um
pé direito baixo, sendo que este exemplar não é uma
exceção.
O presente caso de estudo é constituído por
quatro habitações, organizadas em uma por piso,
salvo o último fogo, que se transforma num dúplex,
com acesso interior ao sótão.
Das Escadinhas de Santo Estevão acede-se
ao interior do edifício por três portas. A primeira, bem
como a segunda, levam ao R/C e a terceira a um
núcleo de acessos que se liga aos restantes pisos.
Os dois fogos inferiores são semelhantes, pelo
que serão descritos em conjunto. Os outros dois, por
serem diferentes, serão caracterizados em separado.
Nº 0.1 e 1.1
Ambos os apartamentos pertenciam à tipologia
de três assoalhadas, cuja organização, em planta,
era idêntica.
No 0.1, a entrada efetuava-se diretamente
pela rua, enquanto no 1.1 o seu acesso dava-se a
partir da escada comum. Porém, nos dois casos
acedia-se ao interior pelo que parece ter sido a
cozinha, pois tratava-se da única divisão da casa
com espaço de chaminé.
A
B
A
B
A
B
A
B
Figura AF1.6. Plantas prévias dos pisos 0, 1, 2 e 3
(1:250)
0.1
1.1
2.1
3.1
20
Na situação do 0.1, o acesso implicava descer
alguns degraus, para vencer o desnível provocado
pelo declive do terreno.
Os dois fogos tinham dois compartimentos,
que se ligavam com a cozinha.
Nem o 0.1, nem o 1.1, parecem ter tido I.S.
Contudo ambos tinham uma divisão com um outro
pequeno compartimento, instalado por baixo do vão
das escadas comuns do edifício, que poderá ter sido
uma despensa ou uma I.S. mais recentemente
acrescentada.
Não se percebe a partir da leitura da planta,
nem dos cortes, se a sala terá estado integrada com
o espaço da cozinha, devido à sua dimensão, ou se
terá ocupado uma das outras assoalhadas.
Nas traseiras, o apartamento do 0.1 ligava-se
a um quintal.
Nº 2.1
A habitação do 2.1 consistia numa casa com
uma assoalhada apenas, à qual se acedia através do
patamar comum do imóvel.
Entrava-se diretamente para o espaço onde
terá sido a cozinha, pois mais uma vez é a única
divisão da casa com a zona da chaminé.
A partir da cozinha acedia-se a um pequeno
compartimento, que poderá ter sido uma despensa
ou uma I.S., e a uma outra assoalhada.
Não é possível distinguir onde terá sido a sala.
Se terá pertencido à zona da cozinha, formando uma
kitchenette, ou se à outra divisão.
Nº 3.1
A partir do patamar comum do piso anterior,
correspondente ao 2.1, uma rampa, seguida de
escadas, dava acesso ao fogo do último andar,
entretanto já demolido.
Entrava-se para um hall, que se ligava com
dois compartimentos interiores.
O primeiro, logo em frente, tinha uma janela
que dava para o espaço onde poderá ter sido a
Figura AF1.7. Alçado frontal prévio
(1:250)
Figura AF1.8. Alçado posterior prévio
(1:250)
Figura AF1.9. Corte AB prévio
(1:250)
21
cozinha. O segundo, mais comprido, dava acesso à
cozinha e a uma outra assoalhada, a partir do qual
se chegava a umas escadas que ligavam ao sótão,
por um alçapão.
Segundo refere Lima Mayer (2008:14), Alfama
corresponde a uma construção do tipo pré-pombalina
que se caracteriza por ser “… detentor de uma
qualidade construtiva bastante (…) fraca (…), com
alvenarias pobres ou de taipa mal conservada.” Este
autor (2008:14) menciona que este tipo de sistema
construtivo “… não possui qualquer elemento de
travamento…” e que é “… bem visível (…) o elevado
estado de deformação…” em que se encontram os
edifícios, atualmente.
“Os andares têm um pé direito muito reduzido,
uma grande densidade de paredes e escassas
aberturas para o exterior…”, (Lima Mayer, 2008:16),
o que acontece no AF1.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
O projeto, da autoria do Arq. João Rego, teve
como objetivo a conciliação entre o programa de
habitação jovem e a reabilitação do edifício.
Segundo o arquiteto, as fortes condicionantes
de projeto que sentiu foram o controlo de custos e os
regulamentos da CML, que obrigavam, por exemplo,
à reposição da fachada original.
De facto, o projeto contempla a manutenção
da frontaria, com a abertura de um vão na fachada
principal, que se sabia previamente existente e que
tinha sido recentemente fechado.
O alçado de tardoz será alterado, não lhe
sendo imposto o respeito pelo original, pois não
forma conjunto com a rua.
A cor proposta para as fachadas, tanto frontal
como de tardoz, será o branco cru, retomando uma
imagética, quiçá original, de Alfama.
Figura OE1.9. Planta do piso 2
1:250
Figura OE1.8. Planta do piso 1
1:250
Figura OE1.7. Planta do piso 0
1:250
Figura AF1.10. Alçado frontal proposto
(1:250)
22
Os vãos serão alinhados, e onde existia uma
abertura apenas passará a haver duas. O pé direito
passará a ter 2,4 metros.
A cobertura demolida será reconstruída de
acordo com a geometria original.
O logradouro será mantido, pertencendo ao
apartamento de baixo.
Porém, no que diz respeito aos interiores, o
miolo do edifício será todo novo, visto o seu estado
de degradação ser tal que se torna impraticável a
sua recuperação. Assim sendo, concentraram-se as
condições favoráveis a uma solução de projeto livre
e diversa da configuração espacial original.
O arquiteto procurou que os novos interiores
se orientassem segundo uma linha mais racional e
coerente.
A estrutura será reforçada pelo interior e os
pisos serão reconstruídos num sistema novo, de viga
e pilar, com lajes em betão.
O núcleo comum de acessos será mantido no
mesmo sítio, e com a mesma configuração. Mas, no
entanto, será ligeiramente adaptado, de maneira a
permitir uma melhor passagem para os dois fogos,
pois parte das escadas passará a estar integrada no
interior das habitações. As escadas de acesso do
patamar comum passarão a ter, ao fundo e no teto,
uma entrada de luz natural
Sendo assim, refira-se que o imóvel passará a
conter apenas duas casas, sendo ambas em dúplex
e com três assoalhadas.
Os dois apartamentos, apesar de serem muito
idênticos, serão analisados em separado, em virtude
de se destacarem algumas diferenças importantes:
Nº 1
Do patamar das escadas, no 1º piso, aceder-
se-á à sala, que fará a distribuição para a cozinha e
para um corredor, que se ligará à I.S. de serviço e às
escadas internas da habitação. Descendo ao R/C,
distribuir-se-ão, a partir de um pequeno hall, para a
I.S. completa, para os dois quartos e para uma
Figura AF1.11. Plantas propostas dos pisos 0, 1, 2 e 3
(1:250)
A
B
A
B
A
B
A
B
1
1
2
2
23
despensa, conforme se identifica pela consulta da
legenda das plantas cedidas pela EPUL.
Nº 2
Do patamar das escadas do 2º piso, aceder-
se-á a um hall de entrada, a partir do qual se
chegará a um outro corredor, de onde se acederá à
I.S. de serviço e à sala, que por sua vez fará a
distribuição para a cozinha e para as escadas
internas do fogo. Subindo ao último piso, distribuir-
se-ão, a partir de um hall, para os dois quartos, para
a I.S. completa.
SÍNTESE
Valor histórico-cultural, pela sua inserção no
local e pela sua arquitetura;
Reposição da fachada;
Tipologia T2;
Dúplex;
Cozinha separada da sala;
Figura AF1.12. Alçado posterior proposto
(1:250)
Figura AF1.13. Corte AB proposto
(1:250)
25
2.2.2. Campo de Ourique à Lapa
Segundo Alves (1992:9), até ao século XVI toda a área
compreendida entre o atual Palácio de S. Bento e a Estrela era
ocupada por quintas. No entanto, a evolução da freguesia da Lapa
está mais intimamente ligada à construção dos seus conventos. De
acordo com a autora (1992:21) “as fixações conventuais da
Estrelinha, de S. Bento da Saúde e do Quelhas, durante o século
XVI, são as principais referências históricas de implantação na
área...”
Entre 1571 e 1579, foi fundado, “… por frades da Ordem
Religiosa de S. Bento, o Convento de Nossa Senhora da Estrela ou
Convento da Estrelinha…” (Alves, 1992:21), o primeiro a ser erigido
no local. Pouco tempo depois, Alves (1992:23) esclarece que entre
1598 e 1615, os frades beneditinos fundaram, mais a sul, o Convento
de S. Bento da Saúde, de acordo com o projeto do arquiteto Baltazar
Álvares. Por seu lado, o convento do Quelhas foi construído entre 1651 e 1659, completando o
conjunto destes três polos aglutinadores e fixadores de população (Alves, 1992:23).
Após 1834, “… com a extinção das ordens religiosas e início do processo de transformação dos
edifícios conventuais” (Alves, 1992:9), estes recolhimentos foram reconvertidos, passando a albergar
usos mais prosaicos como o Hospital Militar ou o Instituto Superior de Economia e Gestão.
Similarmente, o Convento de S. Bento sofreu obras de reconversão, passando a hospedar as
Cortes. A partir daqui, Alves (1992:23) esclarece que o então Palácio das Cortes foi sendo sujeito a
várias obras e remodelações, particularmente na “… decoração exterior e interior do edifício, em que
sempre se mostraram empenhados os sucessivos governos, quer da Monarquia quer da República…”,
e onde têm colaborado artistas de renome, tornando-se, por isso, num “… importante reportório das
artes das primeiras quatro décadas do século XX.” Atualmente acolhe a Assembleia da República.
Então, pode-se concluir que “as casas conventuais iniciaram assim a ocupação da colina…”,
transformando-se em “… polos geradores de fixação populacional” (Alves, 1992:26) e definindo uma
malha urbana livre, acomodada à encosta e delineada em função dos conventos.
Figura LP.2. Localização da Lapa
Lapa
Figura LP.1. Basílica da Estrela
26
Com o terramoto de 1755, a zona da Lapa foi “organizada em termos urbanísticos (…) com o
estabelecimento duma quadrícula de base reguladora…” (Alves, 1992:26). Alves (1992:26) acrescenta
que “… esta malha orientadora das fixações populacionais vai sendo progressivamente preenchida
sem o rígido controlo arquitectónico da Baixa Pombalina e sem hierarquizar vias de circulação.”
Na lapa, a par do que aconteceu no Bairro Alto, Lamas (2004:188) refere que nem sempre o
quarteirão foi utilizado “… como elemento morfológico-base, gerador do espaço urbano…”, pois em
certas situações adaptou-se às pré-existências e ao terreno, adquirindo “… formas irregulares para
organizar espaços regulares no tecido urbano, como as praças e as vias.” Para além da forma menos
constante dos quarteirões, em que os edifícios se encostam à sua periferia, o seu interior permaneceu
livre ou ocupado por hortas e jardins, enquanto na Baixa Pombalina o espaço reservou-se apenas a
um saguão, em que o edifício quase se confunde com o próprio quarteirão (Lamas, 2004:188).
O cariz aristocrático do local revelou-se desde logo, pois, conforme Alves (1992:26), a área da
Lapa reunia, fora de portas, características físicas e ambientais apelativas, como boa exposição solar e
desafogo de vistas. Assim sendo, a Lapa tornou-se rapidamente numa das zonas residenciais
predilectas pela nobreza e pela burguesia mais abastada, o que se mantém até à actualidade.
Durante os séculos seguintes, a ocupação da malha urbana da Lapa foi sendo adensada, pelo
que entre os séculos XIX e XX já se encontrava praticamente preenchida.
Nos anos 50, a abertura da Av. Infante Santo permitiu uma maior ligação entre o rio (Av. 24 de
Julho) e a Lapa (Praça da Estrela), no entanto, criou uma divisão mais profunda entre uma Lapa a
norte da avenida e uma a sul dela. Inclusivamente, muitas vezes a parte norte é confundida, como
pertencendo à freguesia de Santo Condestável, ou Campo de Ourique, pois, para além da proximidade
física ao local, esta zona também foi alvo de uma apropriação urbana ortogonal com quarteirão, pelo
que a sua malha é idêntica à da Lapa, com a exceção de ser mais regular, por se instalar num planalto,
e partilham a imagem dos edifícios e a sua arquitetura, por ambas as zonas terem sido construídas, e
densificadas, no século XIX.
Não tendo, a Lapa, um carácter turístico tão acentuado como Alfama, podemos, no entanto, nela
encontrar alguns pontos atrativos, tais como a Basílica da Estrela e o jardim e o Palácio de S. Bento.
É neste limite, mais precisamente na Rua Domingos Sequeira, que se encontra o segundo caso
de estudo, o LP1, assim designado, apenas, por pertencer à freguesia da Lapa, também ele com
projeto do arquiteto João Rego, da EPUL Jovem.
Figura LP.3. Localização do caso de estudo
LP1
27
CASO LP1: RUA DOMINGOS SEQUEIRA
INSERÇÃO URBANA
Na zona entre as freguesias de Santo
Condestável (ou Campo de Ourique) e da Lapa, a
Rua Domingos Sequeira faz a transição entre duas
realidades algo similares, apesar de executadas em
épocas distintas.
Enquanto Campo de Ourique adotou um plano
de Ressano Garcia, do final do séc. XIX, que José
Lamas (2004:221) descreve como sendo organizado
segundo uma rígida malha ortogonal, de quarteirões
regulares e vias rasgadas, gosto haussmanniano, a
Lapa seguiu um traçado, de certa maneira, mais
espontâneo, apesar de também se basear em linhas
geométricas e regradas, de pragmática inspiração
iluminista, e implementado logo após o terramoto de
1755.
O quarteirão onde se insere o caso de estudo
tem forma irregular, confrontando com o Jardim da
Estrela, a nascente.
Os edifícios encostam à periferia do quarteirão
deixando o seu interior em solo permeável, ocupado
com jardins e hortas.
O LP1 conforma com outra edificação, um dos
cantos do quarteirão, resolvendo sobre si o ângulo
do edificado, apertado entre edifícios mais largos.
Assim, a sua implantação e forma são trianguladas,
com uma frente mais vasta e umas traseiras mais
apertadas.
A Rua Domingos Sequeira liga-se à Basílica
da Estrela, fazendo parte de uma importante via de
comunicação entre colinas de Lisboa, carreira do
popular elétrico 28, que prosseguindo na direção do
centro, logo encontra, entre outros, o Palácio de S.
Bento.
O LP1, situado no topo desta rua, encontra-se
bem servido de comércio, serviços e de transportes
públicos, nomeadamente autocarros.
Tendo sido construído no século XIX, o LP1
mantém uma imagem e uma estética coerente com o
Figura LP1.3. Fachada frontal
Figura LP1.2. Rua Domingos Sequeira
Figura LP1.1. Planta de localização
(1:2500)
28
restante conjunto da Rua Domingos Sequeira, onde
predominam edifícios da mesma época, que seguem
uma arquitectura idêntica em linguagem, construção
e materiais.
SITUAÇÃO PRÉVIA
O LP1 corresponde a um edifício do séc. XIX,
com cinco pisos de altura, acentuada profundidade e
elevada cobertura em duas águas, que se encontra
em bom estado de conservação.
A fachada principal está orientada para
sudoeste, sobre a Rua Domingos Sequeira, e é
decorada segundo o gosto da época, eclético e
revivalista em estilos, como nos relembra José
Augusto França (1997:80).
A fachada tardoz, orientada a nordeste, é
estreita, tendo apenas uma janela por piso, que dá
acesso a uma pequena varanda, com uma escada
de emergência metálica.
Numa das laterais do imóvel, onde este
confronta com o edifício seguinte, abre-se um
pequeno saguão interior, que então se usava para
permitir a iluminação e ventilação natural dos
compartimentos interiores.
Este pequeno saguão liga-se com um outro,
com uma configuração estreita, e mais alongada,
pertencente ao edifício vizinho.
Tratando-se de um exemplar do séc. XIX, a
sua estrutura é em gaioleiro, que se caracteriza por
ser uma simplificação do sistema pombalino (gaiola).
Ao anular alguns elementos de travamento horizontal
das paredes-mestras, o gaioleiro poupa na
continuidade estrutural, pondo em risco a resistência
tridimensional.
Assim sendo, o gaioleiro consiste num sistema
empobrecido e sem o acerto e rigor da gaiola
pombalina, pelo que não se lhe tem sido reconhecido
qualquer relevância do ponto de vista estrutural ou
histórico.
Figura LP1.4. Pormenor da fachada frontal
Figura LP1.5. Alçado frontal
1:250
Figura LP1.6. Alçado posterior prévio
1:250
29
No piso térreo do caso em estudo, existe uma
loja em funcionamento. Não sendo o comércio o
tema em análise dir-se-á apenas que tem duas
entradas diretas pela rua, que acedem a um espaço
amplo de exposição, e nas traseiras uma casa de
banho de serviço, uma copa e duas arrecadações. A
maior faz ligação com um espaço de logradouro, a
partir do qual começam as escadas de emergência,
pelo que o acesso a estas só se faz através da loja.
A I.S. e a copa têm luz e ventilação natural a partir
do saguão interior.
O acesso aos pisos de habitação faz-se pela
Rua Domingos Sequeira, através de uma entrada
descentrada à esquerda, que se liga com um hall
seguido por uma escada comum, com dois lances
em V.
Subindo, acede-se ao patamar do piso, com
três entradas para o apartamento.
As habitações têm cinco assoalhadas, cada, e
repetem a mesma planta pelos restantes pisos, um
fogo por piso.
À esquerda da escada de acesso encontra-se
a primeira porta, por onde se chega a um corredor
em forma de L. A distribuição no interior do fogo faz-
se através desta passagem, que liga, à direita da
entrada, ao compartimento virado à rua.
Esta divisão, que tem ainda acesso
independente a partir do patamar comum do edifício,
por uma segunda porta, faz ligação com duas
dependências, a cada lado da respetiva frente de
rua, sendo que a da ponta, mais isolada do resto da
casa, beneficia de acesso direto à escada e ao
compartimento adjacente, favorável à sua utilização
como escritório, consultório ou quarto de hóspede.
O compartimento do lado oposto da mesma
fachada, para além de se ligar com a divisão do
meio, com frente de rua, estabelece ainda serventia
com uma nova divisão, neste caso interior, e que
tem, por sua vez, passagem pelo corredor de
distribuição.
Figura LP1.7. Planta prévia do piso 0
1:250
Figura LP1.8. Planta prévia do piso tipo
1:250
A
B
A
B
31
Seguidamente, através deste corredor acede-
se a uma casa de banho de serviço, a uma cozinha e
a uma arrecadação.
A cozinha tem uma entrada, que fica no
segundo tramo do corredor em L, mas com porta
para o último compartimento, presumivelmente a
casa de jantar.
Esta divisão do fim tem uma configuração
irregular devido ao enfiamento do edifício, mas
beneficia da ligação com uma varanda, por onde
passam as escadas de emergência.
Tanto a casa de banho, como a cozinha e no
fim, o corredor, têm abertura para o saguão, pelo que
são ventilados e iluminados naturalmente.
Apesar deste imóvel não se encontrar em mau
estado de conservação, a EPUL considerou-o
elegível e adequado ao programa “EPUL Jovem”,
necessitando de obras de modernização.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
O projeto de alteração proposto pelo arquiteto
João Rego procura harmonizar a reabilitação do
imóvel com os objetivos do programa de habitação
jovem.
Também para este caso de estudo, o arquiteto
refere como condicionantes nas decisões projetuais
o controlo de custos e os regulamentos da CML, que
a par do exemplo de Alfama, obrigam à manutenção
da fachada original.
Assim sendo, são propostos a recuperação e o
arranjo do alçado principal na íntegra, sem nenhuma
alteração no seu desenho.
No alçado de tardoz propõe-se a permanência
dos atuais vãos e das varandas, que aparecem com
um novo traçado, a acompanhar o limite do imóvel.
A escada de saída de emergência é anulada e
os gradeamentos são substituídos por outros mais
modernos.
Figura LP1.11. Planta proposta do piso 0
1:250
Figura LP1.12. Planta proposta do piso tipo
1:250
A
B
A
B
32
O espaço de logradouro é reduzido,
alinhando-se pela lateral do imóvel. Deste modo, o
formato do lote em planta passa a um triângulo
retângulo.
O logradouro permanece pertencente à loja,
que é mantida no piso térreo. O edifício garante o
seu uso misto, comércio e habitação.
Conserva-se a cobertura, mantendo-a com a
mesma geometria.
No que respeita ao interior do imóvel, estamos
perante uma reabilitação em que parte das paredes
será demolida, dando por vezes lugar a outras.
As alterações propostas orientam-se, à luz
atual, segundo uma linha mais racional e coesa,
procurando criar condições de conforto e de
habitabilidade ao nível dos padrões atuais, conforme
relembra o arquiteto João Rego.
Apesar de se tratar de um sistema construtivo
de gaioleiro, após avaliação especializada e
interdisciplinar, considerou-se que a estrutura não
necessita substituição ou reforço pelo interior, pelo
que o projeto contempla apenas o seu arranjo e
reforço pontual e a sua manutenção.
A loja permanecerá, sendo contudo ampliada
pela demolição da zona da atual I.S. e da copa.
A casa de banho passará a estar inserida num
pequeno espaço de arrecadação, já existente.
O acesso aos apartamentos será mantido pelo
mesmo núcleo de escadas.
Também permanecerá uma habitação por piso
que terá quatro assoalhadas.
O arquiteto optou por projetar os
apartamentos todos iguais, com a mesma planta.
De notar que das três entradas anteriormente
existentes, só a primeira será mantida e as restantes
fechadas.
O corredor de circulação será o mesmo com a
sua configuração em L.
As paredes que separavam os três primeiros
compartimentos serão demolidas. Uma nova parede
Figura LP1.13. Alçado posterior proposto
1:250
33
será erguida, dividindo o espaço em duas divisórias,
sendo a maior destinada à sala.
O novo compartimento mais pequeno passará
a ser um quarto, ao qual só se acederá pela sala.
A divisória interior manter-se-á, pois como faz
uma parede com parte do saguão, ser-lhe-á aberta
uma janela. A ligação que existia entre esta divisão e
o compartimento onde se passará a instalar a sala
será cerrada.
A cozinha será ampliada devido à anexação
da casa de banho de serviço, que passará a ocupar
uma pequena arrecadação já existente.
Com esta ampliação, a cozinha integrará uma
zona de refeições.
A entrada para a atual I.S. ficará na mesma,
passando a cozinha a ter duas portas.
No fim da passagem será acrescentada uma
nova I.S., desta vez completa, e que beneficiará da
janela para o saguão.
Para a instalação desta casa de banho, uma
das paredes do último compartimento será demolida,
dando lugar a uma nova, mais interna da divisória, e
que amplia o espaço de corredor para receber a I.S.
Esta divisória continuará a usufruir da varanda
já sem escada de emergência e com uma forma que
acompanha, em prolongamento, a parede lateral do
compartimento.
SÍNTESE
Implantação triangular;
Um fogo por piso;
Tipologia T3;
Cozinha independente;
35
2.3. PLANO ESTRATÉGICO HABITAR OEIRAS
Vários têm sido os programas de promoção e apoio à habitação social no concelho de Oeiras.
Entre 1943 e 1973 delineou-se a primeira fase dos programas de habitação social, caracterizados por
intervenções pontuais, como o “Bairro da Pia-à-Porta” e o Bento Jesus Caraça. Após 1974, iniciou-se
um novo período da habitação social, com três tipos de promoção diferentes: SAAL; Cooperativas; e
Habitação de promoção municipal. Estas iniciativas duraram mais de dez anos, até que em 1993 foi
criado o PER (Programa especial de realojamento). O PER permitiu à CMO erradicar as barracas do
concelho, produzir novos fogos de habitação social, para além de requalificar o espaço urbano (CMO,
2006:41). Actualmente está em vigor o programa habitar Oeiras.
O Plano estratégico habitar Oeiras foi apresentado em 2006 pela CMO. Este documento, entre
outras coisas, define as linhas orientadoras de intervenção e a abrangência do conceito habitar,
alargando-o à comunidade; enquadra o plano no seu contexto socioeconómico e na política social de
habitação promovida ao longo do tempo no concelho; e identifica os instrumentos de implementação
dos objectivos traçados.
Tal como acontece no documento da Estratégia de reabilitação urbana de Lisboa, também no
Plano estratégico habitar Oeiras são abordadas diversas e distintas temáticas ligadas à habitação. O
que nos interessa é perceber se a habitação para jovens é uma prioridade estratégica da CMO, e de
que forma; e enquadrar o programa Habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras e o
seu contributo neste processo.
Segundo este documento, “garantir a preservação, reabilitação e conservação do património
construído” (CMO, 2006:13) é um dos pilares fundamentais da estratégia da CMO. A CMO “pretende
revitalizar e dinamizar os centros históricos e núcleos antigos, com soluções respeitadoras do
património histórico e cultural, incentivando e reforçando soluções urbanísticas que muito dificilmente
nasceriam da lógica pura do mercado imobiliário” (CMO, 2006:21). Estas soluções procuram também
dinamizar outros mercados associados ao de compra e venda, pois “contribuem para o reforço e
aprofundamento do mercado de arrendamento” (CMO, 2006:21).
Para além disso, é também intenção da CMO “colmatar falhas no mercado de habitação,
nomeadamente, habitação jovem…” (CMO, 2006:21). Segundo os dados da CMO (CMO, 2006:50), os
jovens, nomeadamente os grupos etários dos 0 aos 19 anos, e dos 20 aos 39, são os que mais
beneficiam dos programas de habitação social, pelo que se “denota dificuldades socioeconómicas para
aceder ao mercado “comercial” de habitação” por parte destes jovens.
Assim, a CMO definiu novas políticas de habitação, chamadas de segunda geração, e entre elas
temos a “promoção de habitação para jovens a custos controlados e de revitalização dos centros
históricos” e a “participação integrada em programas alargados de reabilitação urbana” (CMO,
2006:56).
Para atingirem os seus objectivos e implementarem as políticas propostas, é pretensão da
câmara a criação de duas empresas municipais: a EMHO (Empresa municipal de habitação de Oeiras),
que tutelará os projectos de habitação jovem, os projetos inovadores, entre outros, e uma SRU, a
quem encarregarão as áreas críticas de reabilitação urbana e centros históricos.
36
A câmara de Oeiras pretende integrar uma rede internacional de cidades, o que permitirá a
partilha de experiências em planeamento e execução de políticas, e possibilitará a aplicação de
conceitos inovadores.
O que importa para este estudo é o programa Promoção de habitação para jovens que, embora
inclua projectos de habitação nova, procura desenvolver na área da reabilitação “projectos destinados
a revitalizar os centros históricos promovendo a fixação de casais jovens nestas áreas” (CMO,
2006:58).
Ao encargo do DPE (Departamento de projectos especiais) está em curso a iniciativa Habitação
jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras.
2.4. HABITAÇÃO JOVEM NOS NÚCLEOS DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DE OEIRAS
Para Carrilho (2011), arquitecto e coordenador do DPE, justifica-se reabilitar a habitação para os
jovens num contexto de revitalização dos centros históricos, pois esta revela-se ser a principal intenção
deste programa: uma “…profunda requalificação dos principais centros históricos do concelho…”,
(CMO, 2008). Através da criação de habitações acessíveis aos jovens, a CMO procura combater a “….
degradação física do seu edificado…” e o “… envelhecimento gradual do seu tecido social…” (CMO,
2008).
Para cumprir esta tarefa, a CMO criou os GTL (Gabinetes Técnicos Locais) instalados nos
núcleos a reabilitar, e que por isso proporcionam uma maior proximidade entre o município e os
residentes.
De acordo com a CMO (2008) esta estratégia divide-se em três vertentes: a reabilitação do
património edificado; a revitalização do tecido social; e a promoção de arquitectura qualificada, que
motive e inspire intervenções futuras, sejam de foro público ou privado.
No que concerne à metodologia adotada, a CMO (2008) refere a promoção da aquisição de
imóveis degradados e devolutos, com algum valor histórico e patrimonial, para que sejam reabilitados e
adaptados aos novos padrões de conforto e habitabilidade.
A CMO (2008) pretende “… dotar o município de um parque edificado com fogos de tipologias
pequenas (T0 e T1) com vista ao seu posterior arrendamento a jovens, e deste modo garantir a
rotatividade e permanência de uma nova população nos centros históricos.”
Carrilho (2011) descreve o processo em cinco passos:
1. Análise de potencial, verificando se os edifícios a reabilitar têm valor: pela existência de
qualidade arquitectónica ou urbana, por estarem desocupados, e pelos custos da operação serem
razoáveis;
2. Os projectos são elaborados pelos GTL;
3. Concurso e realização das obras;
4. Concurso para a atribuição das casas aos jovens com idade até aos 35 anos, que já morem
ou trabalhem no concelho de Oeiras;
5. Os jovens seleccionados podem ocupar as casas mediante o pagamento de uma renda, até
completarem a idade dos 35 anos. Isto é, as casas reabilitadas mediante este programa são
exclusivamente para arrendamento, o que permite, como acrescenta Carrilho (2011), uma maior
37
rotatividade destes jovens nos centros históricos. Para tal, a partir dos 35 anos acaba o contrato de
arrendamento, que pode no entanto ser prolongado por mais cinco anos.
A autarquia estima vir a recuperar cerca de 300 fogos nos centros históricos.
2.4.1. Centro histórico de Oeiras
De acordo com a CMO (2008), a origem da Vila de
Oeiras remonta à pré-história, pois os vestígios romanos
que foram encontrados no sítio sugerem a precedência de
uma vila agrícola local.
Posteriormente foi ocupada por muçulmanos que
influenciaram a sua toponímia e urbanismo, como o tipo de
malha, densa e rica em actividade, que construíam no
interior dos quarteirões.
Até aos meados do século XVIII, a “Aldeia de Hueiras”, como era então designada, teve pouca
importância. Só em 1759, quando o Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I e conde de Oeiras,
eleva a “Aldeia de Hueiras” a vila, ela conhece um forte desenvolvimento e crescimento urbanístico, e
um grande incentivo à agricultura e à indústria. A consequente construção de estradas transforma a
Vila de Oeiras num lugar frequentado pela aristocracia e pela família real.
Mantendo este carácter, no século XIX e princípios do século XX, com o desenvolvimento dos
transportes e a construção da linha de comboio Cascais/Lisboa, a vila assiste à construção de várias
moradias de recreio, tornando-a numa estância balnear de Lisboa.
Hoje em dia, o espaço público mais importante do núcleo é o Largo 5 de Outubro, onde se
localiza a Igreja Matriz e se concentram o comércio e os serviços. Nas proximidades localizam-se o
Mercado Municipal, o Palácio do Egipto, a livraria e galeria Verney e o auditório Eunice Muñoz.
A malha do núcleo é composta por duas tipologias distintas: a Oeste, o quarteirão fechado, que
compõe o núcleo mais antigo e compacto; a Este, a moradia isolada, referente à zona balnear de
Santo Amaro. Os casos em estudo encontram-se todos na malha mais antiga.
Figura OE.1 Largo 5 de Outubro
Figura OE.4. Rua Cândido Reis Figura OE.3. Palácio do Egipto Figura OE.2. Igreja matriz
38
Apesar da evolução que sofreu ao longo do tempo, a vila mantém o seu cariz habitacional e de
comércio tradicional, com edifícios antigos de baixa altura, geralmente com dois pisos. A Vila de Oeiras
é constituída por aproximadamente 351 edifícios, dos quais 151 são anteriores a 1945.
A população residente envelheceu, o comércio tem vindo a fechar e assiste-se à degradação
rápida do edificado. Com intenção de contrariar este curso, a CMO adquiriu então oito imóveis para
reabilitação e arrendamento jovem, que no total serão 40 fogos reabilitados e arrendados.
Destes oito imóveis, designados pela CMO (2008) por OE1, OE2, OE3, OE4, OE5, OE6, OE7 e
OE8, foi-nos cedida informação sobre quatro deles: OE1, OE2, OE7 e OE8, e cuja nomenclatura será
respeitada ao longo do trabalho, mantendo uma maior relação com a publicação da CMO.
OE1
OE8
OE7
OE3 OE2
OE6
OE4
OE5
Figura OE.5. Localização dos imóveis do programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras
39
CASO OE1: RUA DAS ALCÁSSIMAS
INSERÇÃO URBANA
De acordo com os dados fornecidos pela CMO
(2008:20), este caso de estudo insere-se na malha
antiga do CHO. Apesar de ter sido ocupado pelos
romanos, e depois abandonado, a génese do CHO
parece remontar principalmente à sua reocupação na
época medieval, pois apresenta “… características
próprias de um crescimento do tipo orgânico, onde
as diversas intervenções quase se sobrepõem.”
Sendo assim, o OE1 encontra-se próximo do
largo 5 de Outubro, onde se localizam a igreja matriz
e o mercado municipal. Lamas (2004:154) refere que
“… a praça medieval é um largo de geometria
irregular mas com funções importantes de comércio
e reunião social. Assim, as praças medievais
dividem-se geralmente na praça do mercado e na
praça da igreja (adro) …” tal com acontece em
Oeiras.
Pode assim constatar-se que este caso se
implanta num quarteirão do tipo medieval onde,
conforme sugere Lamas (2004:158), “… os edifícios
vão concentrar-se na periferia ou no perímetro do
quarteirão, em contacto direto com a rua, deixando
livre a zona posterior de cada lote…” Segundo o
autor (2004:158), este espaço livre era “… utilizado
para hortas ou jardins privados…”, que serviam
como “… uma área de reserva e salubridade
urbana…”. Apesar do quarteirão onde se localiza o
OE1 já estar no limite do CHO, ainda é possível
observar no seu interior a existência destes espaços
livres.
O conjunto de edifícios em que consiste o OE1
confronta a oriente com a rua da Costa e a sul com a
rua das Alcássimas, formando assim um dos cantos
do quarteirão.
Conforme a CMO (2008:20), este “… projeto
refere-se a um conjunto edificado situado na Rua das
Alcássimas do nº 28 ao 38…”. Estas parcelas
formavam anteriormente uma única casa, que se
Figura OE1.2. Conjunto visto da rua das
Alcássimas
Figura OE1.1. Planta de localização
(pormenor do CHO)
1:2500
40
supõe ter sido construída em cima duma vila
romana, considerando os vestígios encontrados no
seu interior, e que lhe conferem particular interesse.
SITUAÇÃO PRÉVIA
Como já foi acima referido, a CMO (2008:20)
descreve o OE1 como “… um conjunto de volumes
adoçados que enquadram um pátio interior e um
logradouro, que apresentam as características (…)
do tipo orgânico, onde as diversas intervenções
quase se sobrepõem.”
Os edifícios não ultrapassam os dois pisos de
altura, embora estejam justapostos uns sobre os
outros. O logradouro encontra-se a uma cota mais
elevada em relação ao pátio, acompanhando o
declive da rua da Costa.
Tratando-se dum agregado de várias parcelas,
revelou-se mais adequado caracterizá-las primeiro
em separado, e só depois relacioná-las entre si:
Nº28 e Nº30
Estes dois números consistem nas portas de
um só edifício.
O piso superior desta edificação corresponde
ao 28, que se sobrepõe ao 30 e ao edifício do 38.
A sua entrada faz-se diretamente pela rua da
Costa, acedendo-se, depois, ao piso superior através
de umas escadas íngremes, descentradas à direita.
A fachada principal deste piso é virada para a
rua da Costa, virada a nascente. Porém, o piso
superior está orientado segundo várias exposições
solares, permitindo, à habitação que alberga, a
recepção de sol todo o dia e a ventilação cruzada.
O apartamento, com três assoalhadas, está
organizado a partir de um hall de entrada. É formado,
por uma sala, por uma cozinha, ainda com pia de
despejos e com uma varanda, e por dois quartos.
O nº 30 resume-se apenas ao R/C, que fica
por baixo do nº 28, e tem acesso direto pela rua da
Figura OE1.3. Fachada de conjunto
Figura OE1.4. Nº 28/30 visto da rua da Costa
Nº 28
Nº 30
Nº32
Nº34
41
Costa. A sua única fachada é orientada a nascente,
pois de tardoz encosta ao edifício do nº 38.
Albergou uma oficina com uma pequena
instalação sanitária (I.S.).
Nº32 e Nº34
O 32 consiste num edifício de dois pisos cujo
R/C inclui o nº 34.
O acesso ao 32, descentrado para a direita, é
feito por um núcleo de escadas.
Por se tratar de um edifício que se sobrepõe e
passa por baixo de outros, encontram-se fachadas
orientadas a todas as exposições solares.
Este edifício é composto por três habitações:
uma no R/C e duas no piso superior.
Originalmente os apartamentos não tinham um
WC integrado. Neste caso, as casas-de-banho foram
acrescentadas debaixo do vão das escadas comuns,
exterior às habitações.
O apartamento do piso térreo encontra-se ao
nível da rua das Alcássimas, e portanto ligeiramente
rebaixado em relação à rua da Costa, e é composto
por três assoalhadas.
A I.S. do piso térreo está atualmente inserida
na habitação, porque o patamar comum foi também
ele integrado na casa, tendo sido fechado com uma
porta de entrada.
Uma das habitações do piso superior tem duas
assoalhadas e a outra tem quatro.
A de duas assoalhadas ocupa a mesma área
que a habitação do piso debaixo (o 34), à exceção
do patamar, que neste piso é comum aos dois
apartamentos. Por isso, a I.S. está separada da
casa, sendo exterior.
A de quatro assoalhadas estende-se por cima
do apartamento do 36 e do 38, tendo por isso uma
entrada pela rua da Costa e outro acesso pelo pátio
do lote 38, umas escadas e uma varanda viradas a
norte e a poente da casa. Já tem a I.S. integrada na
casa.
Figura OE1.10. Entrada do número 38
Figura OE1.6. Planta do piso 0
1:250
42
Nº36
O 36 consiste apenas num apartamento que
se encaixa por baixo do 1º piso do 32, encostando
ao 34 e à sua habitação do piso térreo.
O apartamento do 36 difere dos anteriores por
o seu acesso ser feito pela Rua das Alcássimas, com
entrada direta para a sala.
A sua fachada tem orientação solar a sul.
A casa tem duas assoalhadas, com um quarto,
uma sala comum que cumpre também a função de
hall de entrada e uma cozinha, onde se localiza uma
pia de despejos, não tendo portanto casa de banho.
Nº38
O nº 38 consiste em dois edifícios separados,
cujas entradas se realizam por um pátio seguido de
um logradouro.
Não encostando aos limites do quarteirão, o
primeiro edifício fica paralelo à rua das Alcássimas e
perpendicular à rua da Costa, dando a forma em L
ao conjunto, e separando o pátio do logradouro.
Este edifício tem uma passagem por baixo,
delimitada pelo muro a poente, sendo aí a entrada
para o R/C.
Este resume-se a quatro salas desocupadas,
onde se encontra um mosaico romano.
Abastado em evidências arqueológicas, o local
tem sofrido trabalhos de prospeção, ao encargo do
CEA (Centro de Estudos Arqueológicos), que tem
dirigido diferentes campanhas arqueológicas in loco.
Os vestígios foram encontrados em 1903 e
datam, de um modo genérico, da idade do bronze ao
período romano (tardio).
Supõe-se que este mosaico pertenceria a uma
vila romana, dedicada à exploração de cereais, do
séc. I a.C. e do séc. I d.C.
O mosaico tem dimensões de 4.7 m por 7.11
m, numa relação de 3:2.
O segundo edifício pertencente ao 38 consiste
num conjunto acrescentado no logradouro, ao qual
se acede pela passagem. O terreno sobe devido ao
Figura OE1.5. Desenho da porta do Nº38
Figura OE1.6. Desenho do mosaico romano
Nº 38
43
declive, pelo que a passagem termina em escada.
Neste anexo está instalado um apartamento com três
assoalhadas.
Todo este conjunto encontra-se num avançado
estado de degradação, necessitando por isso de
urgentes obras de recuperação.
Figura OE1.7. Alçado frontal prévio
Rua da Costa
1:250
Figura OE1.8. Alçado lateral prévio
Rua das Alcássimas
1:250
44
Figura OE1.9. Planta prévia do piso 0
1:250
Figura OE1.10. Planta prévia do piso 1
1:250
Figura OE1.11. Planta prévia do piso 2
1:250
A
B
A
B
A
B
45
PROJETO DE ALTERAÇÃO
A conciliação do interesse histórico do sítio, da
preservação e da musealização dos vários vestígios
arqueológicos encontrados, como seja o caso dos
mosaicos romanos, com a construção de fogos de
habitação dedicada aos jovens, são descritos como
os objetivos do projeto apresentado.
O autor, o Arq. Eduardo Gomes, considerou
que, paralelamente à recuperação dos elementos
construtivos do conjunto, era necessária e possível a
remodelação do seu interior.
A configuração interna dos fogos permite a
sua adaptação à realidade social e às vivências do
“público-alvo” a que se destinam: os jovens.
Para além da recuperação destes edifícios, o
projeto propõe a demolição de construções sitas no
logradouro, por indiferenciadas e deterioradas, e a
sua substituição por dois fogos.
Com esta intervenção espera-se aumentar a
capacidade dos 5 fogos atuais para um total de 8,
sendo 6 T1 e 2 T0.
O Arq. responsável pelo projeto imaginou um
estudo de cor, optando por destacar com cor-de-
laranja a parte museológica, propondo para os
restantes a cor branca.
O apartamento do lote 28 manter-se-á, mas
passará de um T2 para um T1, pela adaptação de
um quarto a I.S.
O nº 30, que albergava a oficina, será usado
para o museu, ampliando o espaço pelas salas do
38, onde se localizam os mosaicos romanos. Este
local, onde estão os achados mais relevantes, terá
entrada independente das frações habitacionais,
mantendo o seu acesso pela rua da Costa.
O museu estará preparado para a recepção de
visitantes, sob marcação prévia, onde poderão
observar os vestígios antigos, e esclarecerem-se
sobre a história do povoamento de Oeiras.
Com a intenção de destacar na rua o museu, é
sugerida a colocação de uma esfera assinalando a
zona da entrada.
Figura OE1.17. Alçado frontal proposto do Anexo
1:250
Figura OE1.15. Corte AB proposto
1:250
Figura OE1.14. Estudo de cor: Alçado proposto do Anexo
Figura OE1.13. Estudo de cor: Alçado frontal proposto
Figura OE1.12. Estudo de cor: Modelação
Figura OE1.16. Alçado lateral proposto do Anexo
1:250
46
O nº 32 consistirá em duas casas T1, uma em
cada piso e a escada de acesso será ampliada e
ficará ao ar livre.
A cozinha dos apartamentos passará a ser
kitchenette, estando por isso integrada na sala.
O nº 34 passará a fazer parte do lote 36.
O piso térreo do nº 36 manterá a sua entrada
direta pela rua das Alcássimas.
A sua tipologia será a mesma, um T1, porém
passará a ter I.S. separada da cozinha.
O piso por cima do 36 será desagregado do 32
e passará a ser um T0, com entrada independente
pelo nº 38, passando pelo pátio e acedendo-lhe
através de uma escadaria e de uma varanda.
O lote 38 manterá o edifico central, que separa
o pátio do logradouro, cujo piso 0 deixará de ser
acedido pela passagem em túnel, pois fará parte do
museu.
O 1º piso, ao qual se acede pelo lado norte, o
logradouro, a seguir ao túnel, consistirá num T1 com
fachada para sul e norte.
No logradouro, a casa anexa será demolida, e
irão ser construídos dois apartamentos, um T1 e um
T2, em duplex, com entradas independentes.
Para além das varandas/pátios expostos a sul
e ligados ao logradouro, os dois imóveis têm um
jardim entre eles, no piso 1, que os separa. Este
espaço garante a iluminação natural para o segundo
quarto do T2. O T1 tem no quarto outra varanda.
Ambas as habitações têm duas I.S., uma no 1º
piso e outra no rés-do-chão. Esta última é um WC de
serviço, portanto sem banheira ou base de duche.
Devido à sua particularidade, os quartos
destes imóveis são suites, pois ficam isoladas no
piso 1.
Pretende-se que o logradouro e o pátio sejam
um espaço comum, de acesso a todos, não só com o
uso de passagem, mas também como zona de estar
e de lazer.
Figura OE1.18. Alçado frontal proposto
1:250
Figura OE1.19. Alçado lateral proposto
1:250
47
Figura OE1.22. Planta proposta do piso 2
1:250
Figura OE1.21. Planta proposta do piso 1
1:250
Figura OE1.20. Planta proposta do piso 0
1:250
B
A
A
A
B
48
SÍNTESE
Mosaicos romanos e sua musealização;
Distinção entre a construção nova, com
uma linguagem mais contemporânea, e a
pré-existente;
Conjunto de volumes adoçados;
Manutenção das fachadas, à exceção de
parte do nº32, que é cortada a meio;
Manutenção dos espaços de logradouro;
Tipologias T0 e T1;
Cozinhas independentes, à exceção dos
fogos acrescentados no logradouro, que
têm uma kitchenette.
B
A
B
49
CASO OE2: RUA CÂNDIDO REIS
INSERÇÃO URBANA
O OE2 também se localiza na malha antiga do
CHO. De cariz medieval, o quarteirão onde o edifício
se inscreve é irregular, correspondendo a uma forma
urbana de crescimento orgânico.
Como referido anteriormente, e de acordo com
a CMO (2008:19), foi através das medidas tomadas
pelo Marquês de Pombal que Oeiras conheceu um
grande desenvolvimento, nomeadamente ao nível do
urbanismo.
Assim sendo, nesta altura, o quarteirão onde
se encontra o OE2 foi alvo de uma requalificação (tal
como parte da colina), que se desenvolveu em torno
do palácio e dos jardins do Marquês de Pombal.
Esta intervenção deu-se sobretudo ao nível do
edificado, que nos vários casos foi reconstruído com
características pombalinas.
Agregando agora dois edifícios anteriormente
separados, o caso OE2 fica virado sobre a Igreja e
sobre o Largo 5 de Outubro. Localiza-se perto do
mercado municipal, dos bombeiros e do Palácio do
Egipto.
A zona onde fica a construção em estudo tem
bastante movimento e animação, com esplanadas,
comércio e cultura, designadamente a proximidade
ao Auditório Eunice Muñoz.
O edifício, inserido na malha medieval, situa-
se na periferia do quarteirão, mais exactamente de
gaveto, estando em contacto directo com a rua, e
deixando livre o seu interior. Este espaço interno,
que era vulgarmente utilizado para hortas ou jardins
privados, não bate no caso em estudo.
O OE2 confronta a norte com a rua Cândido
dos Reis, no nº 51, e a nascente com a Travessa de
Santo António.
Este imóvel é considerado de interesse pelo
facto de ser um exemplar pombalino, apesar de
inserido numa malha anterior, e porque forma com
os restantes edifícios um quarteirão e um conjunto
Figura OE2.1. Planta de localização
1:2500
Figura OE2.3. Rua Cândido dos Reis
Figura OE2.2. Largo 5 de Outubro
50
com uma certa coerência, e uma imagem e estética
própria, e com uma história a preservar.
SITUAÇÃO PRÉVIA
Este imóvel estava separado em dois edifícios:
um pombalino e um outro incaracterístico.
O edifício pombalino encontrava-se já num
avançado estado de degradação, necessitando de
obras de recuperação urgentes. Teve de ser
emparedado e o 1º piso chegou a abater. Assim
sendo, pouco se sabe acerca da organização interior
das habitações.
Mesmo assim, a CMO realizou o levantamento
do que conseguiu resistir à deterioração do tempo, e
a observação e análise possibilitou um esboço da
provável configuração espacial dos pisos, anterior ou
mesmo a original.
Como é de conhecimento geral, aquando do
terramoto de 1755 o Marquês de Pombal mandou
reedificar, com novo plano, toda a zona central de
Lisboa, que tinha sido destruída por esta catástrofe.
Desta iniciativa surgiu um novo tipo de edifício: o
“pombalino”, pelos arquitectos Eugénio dos Santos e
Carlos Mardel, cujo modelo se replicou em muitos
outros locais para além da Baixa de Lisboa, seja nos
aspectos formais, seja nos construtivos.
As suas principais particularidades provêm de
um “… desenvolvimento técnico, sistematizado em
termos de pré-fabricação: vigamentos, cantarias,
ferragens, carpintarias, …” (França, 1997:44). Para
além disso, a sua estrutura em “gaiola” de madeira
torna-se bastante elástica e resistente aos abalos
sísmicos.
Em questões formais e estéticas, o tipo
pombalino caracteriza-se por ter “… lojas de portas
alternadas, mais largas e mais estreitas, 1º andar de
janelas “rasgadas” (ou de sacada), 2º e 3º de janelas
“de peitoril” (ou de peito), 4º piso de águas-furtadas
na prumada dos outros vãos e inserida na 1ª das
Figura OE2.4. Fachada frontal degradada
Figura OE2.5. Esboço da Planta tipo prévia
Sem escala
Figura OE2.6. Esboço do Alçado lateral prévio
Sem escala
51
duas águas (…), cantarias rodeando os vãos e em
pilastra nos cunhais ou nas separações dos prédios,
o resto da fachada em reboco ocre amarelo (“jalde”)
…” (França, 1997:42). O autor acrescenta que no
seu interior havia “… escadas estreitas a partir dum
átrio estrito, divisões articuladas mutuamente,
geralmente sem corredor, sem fogões de
aquecimento nem retretes, e com lambris de azulejo
pobre, não figurativo …”
Encontram-se, deste modo, fundamentos para
sustentar que o OE2 é detentor de características
pombalinas: elementos estruturais, geometria da
cobertura, cantaria, cunhal e guardas.
O edifício é de uso misto, pelo que no piso
térreo estava uma loja, e as habitações T2 nos pisos
1 e 2.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
O projeto, do arquiteto Nuno Couto, consistiu
na anexação de dois lotes: o 51, da Rua Cândido
Reis, e o 9/11, da Travessa de Santo António; com o
objectivo de intervir de forma mais integrada e
sustentável, e por isso, mais viável.
Devido ao estado avançado de degradação
em que o edifico da travessa se encontrava, optou-
se pela sua demolição, abrindo espaço para o núcleo
de acessos verticais.
Por outro lado, como este imóvel estava vazio
do seu miolo, sobrando apenas a fachada exposta a
nascente, os moradores do edifício da rua Cândido
Reis começaram a abrir fenestrações na parede que
separava os dois edifícios.
Assim, com alguma naturalidade, manteve-se
o carácter de espaço aberto, proporcionando aos
novos habitantes, um pátio à entrada da sua casa,
junto ao núcleo de escadas.
Como este imóvel não apresentava qualquer
mais-valia arquitectónica ou construtiva, deu lugar a
um outro, com uma imagem mais contemporânea e
Figura OE2.7. Fachada frontal arranjada
Figura OE2.8. Fachada lateral arranjada
A
A
C E
52
contrastante com a linguagem pombalina da fachada
recuperada do 51.
No caso do edifício pombalino foram mantidas
as fachadas, recuperando os elementos estruturais,
as paredes, as cantarias e o cunhal. A cobertura,
que já tinha entretanto abatido, foi construída de
novo, mas de acordo com a geometria da original.
Por causa do mau estado em que se
encontrava a estrutura antiga e a fachada, foi
necessário proceder a um reforço estrutural pelo
interior. Em relação ao resto da estrutura, visto o
piso já ter abatido, foi utilizado um sistema novo, de
viga e pilar, com lajes novas, de betão.
O próprio miolo do edifício é todo novo, o que
criou condições para que o projecto optasse por uma
solução livre e distinta da configuração original do
espaço interno das habitações.
O programa preliminar previa a criação de
uma loja no piso térreo, contribuindo para a
dinamização do tecido comercial. A entrada directa
para o espaço comercial realiza-se a norte, pela Rua
Cândido dos Reis, tendo porém montras nas duas
fachadas, a norte e a nascente.
O acesso às habitações, feito anteriormente a
norte, passou para nascente, pela Travessa de
Santo António.
Segundo o programa estabelecido, habitação
para jovens, o autor do projecto decidiu pela tipologia
T1, pois considerou ser a que melhor se adaptava ao
pedido. As casas são iguais no piso 1 e no piso2,
excepto o pátio.
Para aceder às habitações sobe-se por umas
escadas exteriores, que ligam a um patamar exterior,
privado a cada fogo. Apesar de serem resguardados
para a rua, a nascente, os pátios são abertos para o
núcleo das escadas, e são a céu aberto, excepto
pela laje do pátio superior. O último patamar é mais
pequeno, para permitir a passagem de luz para o de
baixo.
O patamar faz a transição entre a circulação
comum e a habitação.
Figura OE2.10. Cortes CD e EF propostos
Sem escala
Figura OE2.9. Plantas propostas dos pisos 0, 1 e 2
1:250
A B
E
F
C
D
B
E
F
C
D
B
E
F
C
D
A
A
53
A entrada é feita directamente para a zona da
sala que, devido aos apartamentos serem de
reduzidas dimensões, têm a kitchenette integrada.
As habitações estão organizadas na direcção
norte/nascente, em que o quarto fica virado a norte e
a sala/kitchenette a nascente, embora tenha um
envidraçado a sul, com ligação para o pátio privado.
No que respeita aos acabamentos, optou-se
por aqueles que permitissem a salvaguarda da
memória do edifício, na sua vertente de recuperação.
No que concerne ao exterior mantiveram-se os
mesmos materiais, seguindo pela via da restauração.
No interior prevaleceu a escolha de materiais
contemporâneos, que se adaptam ao público-alvo,
de preferência materiais resistentes, fáceis de limpar
e que naturalmente se integrem na vocação desta
operação.
Os materiais utilizados foram, entre outros:
a) Granito negro, na cozinha;
b) Azulejos cinzentos, na cozinha;
c) Grés negro, no chão da cozinha;
d) Azulejos azuis, na I.S;
e) Gesso cartonado, nos tectos das diversas
divisórias.
SÍNTESE
Manutenção da fachada pombalina;
Demarcação do antigo e do novo, com uma
linguagem mais contemporânea;
Demolição integral do interior;
Utilização de pátios;
Tipologia T1;
Kitchenette.
Figura OE2.12. Alçado frontal proposto
1:250
Figura OE2.13. Alçado lateral proposto
1:250
Figura OE2.11. Corte AB proposto
1:250
Figura OE2.14. Pátio
55
CASO OE7: RUA CÂNDIDO DOS REIS
INSERÇÃO URBANA
Tal como nos casos OE1 e OE2, o quarteirão
onde se insere o OE7 encontra-se no casco velho do
CHO, de cariz medieval. Localiza-se, portanto, perto
do largo 5 de Outubro, da igreja matriz e do mercado
municipal.
O OE7 também se situa nas imediações dos
Paços do Concelho, em grande proximidade com o
palácio e jardins do Marquês de Pombal.
O quarteirão onde se encontra o OE7 foi alvo
de uma requalificação no século XIX (tal como parte
da colina), que se desenvolveu em torno do palácio e
dos jardins do Marquês de Pombal.
Como já foi anteriormente referido, no século
XIX Oeiras conhece um grande desenvolvimento ao
nível económico, nomeadamente na indústria, pois
“… os novos meios de transporte vão permitir a
ligação dos centros urbanos e locais de emprego à
periferia, onde o solo barato permite o subúrbio como
alternativa à concentração urbana…” (Lamas,
2004:206).
Em consequência, “… os interiores de
quarteirão são densificados. Aparecem as “ilhas” e
as “vilas” como aproveitamento do solo, para
construção de casas para as classes operárias…”
(Lamas, 2004:208).
De acordo com o que refere a CMO (2008:32),
este conjunto de unidades habitacionais reporta-se
ao princípio do século passado, e apresenta algumas
características de vila operária.
Segundo a CMO (2008:32), a zona histórica é
de fácil ligação rodoferroviária, embora o acesso ao
edifício do OE7 seja mais complicado, devido a uma
série de vias com sentido único que são necessárias
de atravessar para aceder ao edifício.
A CMO (2008:32) refere também que o maior
problema do CHO em termos de acessibilidades é a
falta de estacionamento, o que é considerado como
Figura OE7.1. Planta de localização
(pormenor do CHO)
1:2500
Figura OE7.2. Rua Cândido dos Reis
56
inconsequente, tendo em conta o público-alvo a que
se destinam estas intervenções.
Este edifício, a par com o OE2, encontra-se na
continuação da rua Cândido Reis.
Estamos novamente perante um quarteirão do
tipo medieval, em que o edifício está encostado ao
seu perímetro. Para além disso, integra-se no centro
do conjunto.
Da observação das plantas pode-se constatar
que, a implantação do OE7 dentro do quarteirão não
tem uma forma regular, visto ser mais estreita na
entrada, alargando depois em V.
Este imóvel é considerado pela CMO um raro
exemplar da tipologia de vilas operárias no CHO e,
apesar de inserido numa malha antiga, forma com os
restantes edifícios um conjunto coerente, com uma
imagem e estética própria, e com uma história a
preservar. Assim, justifica-se a consideração que a
CMO (2008:32) atribui a este conjunto habitacional,
como património de relevante interesse histórico.
SITUAÇÃO PRÉVIA
Segundo Ildefonso (2006:17) existem diversas
tipologias de “vila”, nomeadamente a “vila” formando
pátio. Conforme a autora, estas “… construções,
com um a dois pisos, agrupam-se em volta de um
recinto comum, descoberto, com uma única entrada,
conformando um pátio quadrado ou rectangular.”
Conforme reforça a CMO (2008:32), este pátio
faz lembrar a configuração das “vilas” lisboetas ou
das “ilhas” do Porto.
Ao observar este caso de estudo, constata-se
que ele está dividido em sete ou oito habitações,
distribuídas em torno de um pátio central. Este pátio
interior, pelo qual se acede ao lote, consiste na sua
única entrada e estabelece a ligação/circulação entre
as diferentes habitações. No entanto, o pátio tem
uma forma irregular, ao contrário do que refere
Ildefonso.
Figura OE7.3. Conjunto visto da
Rua Cândido dos Reis
Figura OE7.4. Rua Cândido dos Reis
Figura OE7.5. Pátio interior
57
Para além da existência do pátio, o OE7 exibe
outras características das “vilas”, nomeadamente por
consistir num edifício com dois pisos, cujo “… acesso
ao piso superior (…) é (…) feito pelo exterior através
de escadas e galerias…” (Ildefonso, 2006:17).
Porém, de acordo com esta autora (2006:17),
no caso das “vilas” formando pátio “… a ocupação do
lote é total, predominantemente sem logradouros
para as traseiras…”, o que não se confirma neste
caso, pois conforme refere a CMO (2008:32), a atual
construção resulta de um crescimento anárquico,
que ao longo dos tempos foi ocupando espaços dos
logradouros originais, situados precisamente nas
traseiras.
Assim sendo, pode-se concluir que estamos
perante um exemplar de “vila”, apesar de esta ter
características próprias.
A fachada deste caso de estudo encontra-se
alinhada com as restantes frontarias, acompanhando
o desenvolvimento da estrada, sendo que a própria
fachada adquire a forma curva (côncava) da via. De
ambos os lados continuam as construções com uma
cércea idêntica.
Para além do facto de ser côncava, a fachada
deste edifício tem a particularidade de estar revestida
com azulejo amarelo e azul.
A sua frente, com pequena largura, e a sua
entrada, estreita e demasiadamente em cima de uma
curva pronunciada, tornam o seu acesso ainda mais
difícil.
O acesso ao interior do edifício é feito através
de uma ligeira rampa e de um portão em arco com
dois metros de largura, o que não permite a entrada
de automóveis na “vila”.
Este “… portão em arco, por cima e ao lado do
qual se localizam os (…) fogos com abertura para a
via pública...” (CMO, 2008:32) dá acesso ao pequeno
pátio interior, sobre o qual todos os fogos têm vista.
As habitações que não têm abertura para a rua dão
para o pequeno logradouro nas traseiras.
Figura OE7.7. Pormenor da fachada
Figura OE7.6. Desenho da fachada vista da Rua
Cândido dos Reis
58
“Este conjunto encontra-se em pleno estado
de degradação, não tendo sido possível entrar em
todas as casas, por estarem em ruínas, sobrando
apenas as paredes estruturais…”, (CMO, 2008:32).
Apesar disso, e tal como acontecera no caso do
OE2, a CMO fez o levantamento do que conseguiu
resistir à ação do tempo.
No R/C é possível distinguir cinco conjuntos
espaciais independentes, bastante distintos entre si,
pelo que serão analisados em separado:
Nº 0.1
Logo à entrada, ao lado da rampa de acesso
ao pátio interior, localiza-se o primeiro fogo, que tem
vista para a rua.
A fachada principal está orientada a sudoeste
e a outra a noroeste. Esta última encontra-se, no
entanto, encoberta pelo piso superior.
A habitação parece ter três portas distintas,
com acesso pela rampa comum.
A primeira dessas portas, a par das janelas,
aparenta pertencer a um espaço que seria amplo,
tipo sala. A segunda dá acesso a um corredor, pelo
que se supõe ter sido a entrada principal. A última
porta reporta-se a um compartimento pequeno, tal
como uma provável instalação sanitária.
Não é possível identificar qual a tipologia da
habitação.
Nº 0.2
Imediatamente a seguir ao fogo do 0.1 temos
uma pequena casa, cujo acesso se efetua pelo pátio.
Tem uma fachada com duas portas viradas a
noroeste.
Devido à queda das paredes internas, não é
possível reconhecer nenhum dos compartimentos,
nem a tipologia da habitação.
Há, ainda, a possibilidade de ter sido uma
oficina, de ter feito parte de outra casa ou de ter sido
o espaço para guardar os animais.
0.5 0.4
0.1
0.3
0.2
Figura OE7.8. Fachada
Figura OE7.9. Planta prévia do piso 0
1:250
59
Nº 0.3
No seguimento da casa do 0.2 vem a do 0.3,
cuja entrada se efetua pelo pátio comum.
A fachada desta habitação é reduzida, virada a
sudoeste. A fachada exposta a norte é uma empena
cega. No seu interior, este fogo seria completamente
escuro, sem luz nem ventilação naturais.
A planta da casa tem uma forma irregular e, tal
como no caso do 0.2, não é possível compreender a
sua distribuição interior, devido à queda das paredes.
Também, neste caso, existe a possibilidade de
ter sido uma oficina ou ter feito parte de outra casa.
Nº 0.4
Quase de frente para o vestíbulo, ligeiramente
desviado à direita, encontra-se o fogo do 0.4, com
entrada por um pequeno corredor, ao lado da escada
e em continuação com o átrio.
A sua fachada a sul inclui apenas uma porta,
enquanto a fachada virada a norte tem duas janelas.
Através destas aberturas, acede-se a um logradouro,
maior do que o fogo, e comum à casa do 0.5.
Aparentemente, esta habitação consistiria num
fogo com uma ou duas assoalhadas.
Nos casos do 0.4 e o do 0.5, falta uma parede
divisória entre eles, que terá caído com o tempo. No
piso superior esta parede existe, pelo que se conclui
que, por questões estruturais, no R/C também teria
que existir a mesma parede.
Nº 0.5
Logo de frente para o pátio aparece o fogo do
0.5, cuja entrada é realizada lateralmente, pelo
corredor acima referido.
A fachada a sul tem uma porta que liga direto
ao pátio, com vista para o portão de acesso à “vila”.
A norte do fogo existia um grande logradouro,
atualmente reduzido devido aos acrescentos que lhe
foram sendo feitos. Este espaço, já anteriormente
referido, é comum ao caso do 0.4.
60
A maioria das paredes internas da casa caiu,
pelo que não é possível identificar ao certo a sua
tipologia. Teria à volta de quatro assoalhadas.
No piso de cima existem três fogos, em muito
melhor estado de conservação do que os do R/C.
Também estes são diferentes entre si e serão,
por isso, analisados em separado:
Nº 1.1
Subindo as escadas, logo à esquerda, temos o
fogo do 1.1, que fica na prumada do 0.5.
A fachada a sul tem uma janela com vista para
o pátio, enquanto a fachada a norte está virada para
o logradouro.
A habitação distribui-se a partir de um hall de
entrada, que dá acesso a uma assoalhada, que seria
a sala, e a um corredor largo. A partir deste corredor,
acedia-se à cozinha e a um quarto.
Nº 1.2
Logo ao lado da casa do 1.1 temos o fogo do
1.2, que fica na prumada do 0.4.
A fachada a sul consiste apenas numa porta e
a fachada virada a norte em duas janelas, voltadas
para o logradouro.
Esta habitação é praticamente igual à do 0.4,
com a exceção de uma assoalhada, que tem a mais.
Assim sendo, teria duas ou três assoalhadas.
Esta divisão tem ligação a sul com um outro
pátio, que fica por cima dos casos do 0.2 e do 0.3.
Nº 1.3
Por cima do fogo do 0.1, e de parte do pátio
inferior, temos a habitação do 1.3.
Tem fachadas viradas a sudoeste e a nordeste
e uma janela pequena a sudeste, voltadas para a rua
e para o pátio.
Esta habitação é, de todas, a maior, tendo à
volta de seis ou sete assoalhadas.
1.1
1.3
1.2
Figura OE7.10. Planta prévia do piso 1
1:250
Figura OE7.11. Padrão da fachada
61
Da observação das plantas parece que teria
uma varanda voltada para o pátio, onde terão sido
acrescentados compartimentos.
“O edifício tem paredes estruturais de pedra e
mistas de alvenaria e madeira (estrutura de gaioleiro)
e paredes divisórias em tabique. O telhado é
suportado por vigamentos em madeira que são
depois suportados pelas paredes-mestras” (CMO,
2008:32).
A irregularidade do perímetro não impediu que
as coberturas fossem construídas inclinadas, o que
dificulta o despejo das águas pluviais. De acordo
com a CMO (2008:32), existe mesmo uma situação
de infiltrações, derivada de uma cobertura vizinha, a
nascente, que drena para o interior do 174.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
De acordo com a CMO (2008:32), o projeto da
autoria do Arq. Pedro Cabral reflete a grande
preocupação da CMO em preservar a memória
histórica do local e do próprio edifício, por se tratar
de um raro exemplar de “vila” operária, localizada no
CHO.
A CMO (2008:32) pretendeu, para além da sua
recuperação, a adaptação do edifício às novas
necessidades e vivências do público-alvo deste
programa, os jovens.
Conforme o Arq. Pedro Cabral (2008:32),
assumiram-se como condicionantes a respeitar as
atuais volumetrias, orientações e fenestrações da
fachada principal, que deverão ser mantidas, e não
excedidas.
Segundo a CMO (2008:32), o projeto reflete
uma preocupação com as pessoas de mobilidade
condicionada, “… procurando normalizar cotas de
pisos, larguras de portas e acabamentos, tendo um
Figura OE7.12. Desenho prévio do pátio
62
fogo sido adaptado (…), abolindo todas as barreiras
arquitetónicas (percentagem superior a 10%) …”
Nos espaços exteriores, como o pátio e os
logradouros, “… propõe-se também uma alteração
nas cotas de piso de forma a possibilitar o acesso às
entradas sem barreiras arquitetónicas…” (CMO,
2008:32).
O pátio exterior manterá a atual configuração,
à exceção de “… pequenas adaptações ao novo
perímetro, depois de demolidos os acrescentos
recentes ao conjunto edificado…” (CMO, 2008:32).
Conforme refere o Arq. Pedro Cabral (CMO,
2008:32), “… nos logradouros das traseiras propõe-
se um rebaixamento parcial de forma a possibilitar
mais entrada de luz para os apartamentos térreos a
norte, sendo os espaços reservados para os
mesmos…”
Para além do cuidado em conservar o carácter
do local, assim como as características históricas do
imóvel, o projeto teve igualmente a preocupação de
“… garantir mais do que as condições mínimas de
habitabilidade…” (CMO, 2008:32).
As opções tipológicas incidiram nos T0 e T1,
já anteriormente consideradas ideais para os jovens,
e, apesar de pequenas, procurou-se que não fossem
“… necessariamente reduzidas às áreas mínimas
permitidas, mas que possibilitassem uma utilização
confortável e funcional…” (CMO, 2008:32), seguindo
a linha projectual definida.
No projeto contempla-se o aproveitamento das
paredes exteriores, à exceção das mais fracas, de
construção mais recente.
De acordo com o Arq. Pedro Cabral (2008:32),
a atual divisão em compartimentos não é funcional,
pelo que ele propõe uma intervenção mais profunda
no imóvel, com a demolição integral do seu interior e
reedificação de uma nova compartimentação. Este
arquiteto sustenta a sua proposta no mau estado de
conservação do edifício, sobretudo do seu miolo.
Figura OE7.13. Alçado frontal proposto
1:250
Figura OE7.14. Alçado posterior proposto
1:250
Figura OE7.15. Corte AB proposto
1:250
63
A compartimentação interior racionaliza sete
apartamentos, tendo dois deles, uma assoalhada, e
os cinco restantes, duas assoalhadas.
No R/C existirão duas habitações com uma
assoalhada e duas com duas assoalhadas, enquanto
no piso superior serão três com duas assoalhadas.
Devido às diferenças entre os apartamentos, e
tal como se fez na descrição da situação atual, estes
serão analisados em separado.
No piso térreo, serão recuperadas quatro das
cinco habitações atualmente existentes.
Nº 0.6
Esta casa passará a ter uma assoalhada, com
entrada direta para a sala, alojando-se no espaço do
anterior 0.1.
Na zona da sala encontrar-se-ão igualmente a
cozinha, em forma de kitchenette, e o quarto. Este,
pela configuração em L da sala, ficará ligeiramente
separado do resto.
A I.S. estará à parte e será completa.
Nº 0.7
Este apartamento consistirá na junção do 0.2
com parte do 0.3.
A parede interior que separa estas duas casas
será demolida, e uma outra construída, dividindo em
duas partes o 0.3.
Esta habitação estará adaptada a pessoas de
mobilidade condicionada e será de tipologia com
uma assoalhada.
A entrada far-se-á direta para a sala, onde se
encontrará também a cozinha, em kitchenette.
Apesar do quarto estar integrado no mesmo
espaço da sala, a zona deste ficará relativamente
separada das áreas comuns, pelo volume da I.S. O
U que forma a planta da sala permitirá esta divisão
entre ambas.
0.6
0.7
0.8
0.9
Figura OE7.16. Planta proposta do piso 0
1:250
64
Nº 0.8
A habitação do 0.8 consistirá na junção do 0.4
com parte do 0.3.
Com duas assoalhadas, este apartamento
manterá a estrutura original do 0.4, transformando as
divisórias viradas a norte em cozinha e I.S.
A entrada será direta para a sala, de onde se
terá acesso ao quarto, acrescentado no espaço que
corresponde à parte do 0.3.
Manterá a sua parte de logradouro, que será
ampliada pela demolição dos acrescentos existentes
actualmente.
Nº 0.9
A casa do nº 0.9 corresponderá à do nº 0.5, e
manterá o seu acesso por baixo do vão das escadas.
A entrada neste apartamento com duas
assoalhadas far-se-á directamente para a sala, onde
se localizará também a kitchenette.
O quarto será uma suite, com I.S. completa e
integrada.
O 0.9 passará a ter logradouro, pela
demolição dos acrescentos existentes no local.
No piso superior manter-se-ão as três casas já
existentes.
Nº 1.4
Este apartamento acomodar-se-á ao espaço
do 1.1, mantendo a tipologia de duas assoalhadas,
mas passando a ter sala comum com a cozinha, ou
seja, em kitchenette.
A distribuição interior do nº 1.4 será igual à do
nº 0.9. A sua entrada dar-se-á directamente pela
sala e a I.S. estará integrada no quarto, que será,
por isso, uma suite.
Nº 1.5
A habitação do nº 1.5 será igual à do nº 0.8.
1.4
1.5
1.6
Figura OE7.17. Planta proposta do piso 1
1:250
65
Em relação à casa que lá existe actualmente,
a do 1.2, o apartamento sofrerá poucas alterações,
sendo a principal ao nível da sua tipologia, que será
a de duas assoalhadas.
Na sua distribuição interna, passará a ter uma
sala com kitchenette, tal como acontece no nº 0.8,
enquanto actualmente a cozinha está separada da
sala.
Terá uma I.S. completa.
Nº 1.6
O apartamento do 1.6 passará a ter duas
assoalhadas, com entrada para um corredor ligado à
cozinha.
A partir deste corredor ter-se-á acesso à I.S.
completa, ao quarto, que ficará virado para o pátio
exterior, à sala de estar e à cozinha, que terá espaço
de refeições.
A separação entre a sala de estar e a cozinha
será ténue, pertencendo quase que tudo ao mesmo
espaço. Poder-se-á considerar até que se tratará de
uma kitchenette, pois a sua ligação consistirá num
vão maior do que três portas.
Por outro lado, os acessos à sala de estar e à
cozinha serão independentes.
Devido ao estado avançado de degradação do
imóvel, o Arq. Pedro Cabral (2008:32) propõe uma
“… intervenção profunda (…), em que todos os
elementos constituintes da construção serão
substituídos, ou recuperados, por materiais idênticos
à sua construção original…”
A escada de acesso será toda em madeira e a
gurada metálica.
De acordo com a CMO (2008:32), ao nível dos
revestimentos interiores, renovarão as paredes, que
serão rebocadas, pintadas ou cobertas de azulejo, os
pavimentos, que serão em soalho ou em mosaico, e
os rodapés, que se manterão em madeira.
66
Para além destas alterações, a rede de esgoto
doméstico e pluvial, a de abastecimento de água, a
de gás, a de electricidade e a de telecomunicações
serão renovadas.
SÍNTESE
Vila operária formando pátio;
Mau estado de conservação;
Manutenção da fachada côncava;
Demolição integral do interior;
Preocupação em garantir mais do que as
condições mínimas de habitabilidade;
Casas pensadas para jovens de mobilidade
condicionada;
Tipologias To e T1;
Kitchenette.
67
CASO OE8: RUA DA COSTA
INSERÇÃO URBANA
À semelhança dos outros casos já estudados,
o OE8 insere-se na malha antiga do CHO, de origem
medieval, num quarteirão com configuração irregular
e que se remete a uma forma urbana de crescimento
orgânico.
Assim sendo, o OE8 encontra-se próximo do
Largo 5 de Outubro, e portanto da igreja matriz e do
mercado municipal, dos bombeiros, do Palácio do
Egipto e do Auditório Eunice Muñoz.
O OE8 situa-se no limite do CHO, na Rua da
Costa e no seguimento do OE1, rematando o mesmo
quarteirão.
Confronta apenas a Rua da Costa, a sudeste,
e o interior baldio do quarteirão, a noroeste.
A Rua da Costa constitui um beco sem saída,
cujo fim é determinado pelos nºs 7 e 9.
O interesse destes imóveis baseou-se apenas
no facto de estarem em boas condições, pois tinham
sido alvo de intervenções recentes, necessitando de
poucas obras e estando prontos a habitar.
De acordo com a CMO (2008:34), “ambos os
fogos encontram-se em razoável estado de
conservação e habitabilidade, pelo que serão
utilizados para realojamento temporário de inquilinos
de outros edifícios de habitação jovem”.
SITUAÇÃO PRÉVIA
O caso em estudo consiste em duas moradias
em banda, com um piso apenas, e com dois fogos de
reduzidas dimensões.
Estas construções estão alinhadas uma com a
outra, em relação ao beco, e orientadas a nascente-
poente.
Apesar de terem a mesma altura, a cota dos
dois edifícios não é a mesma, pois a rua da Costa
Figura OE8.1. Planta de localização
(pormenor do CHO)
1:2500
Figura OE8.2. Fachada de conjunto
68
sobe acentuadamente, estando o nº 9 mais acima do
que o nº 7.
A área de implantação do nº 7 é maior, tendo
51 m2, enquanto o nº 9 tem apenas 25 m
2.
Como este caso de estudo compreende dois
imóveis distintos, embora parcialmente semelhantes,
optou-se por caracterizá-los em separado:
Nº7
A entrada nesta casa faz-se directamente pela
rua da Costa, dando para uma sala-kitchenette.
A fachada principal está virada para poente e
a de tardoz, para nascente. Esta consiste apenas em
pequenos rasgos verticais
Esta habitação compreende três assoalhadas.
Tem um quarto e uma sala-kitchenette, ambos com
uma janela para a rua da Costa, e um escritório, de
pequenas dimensões. Possui uma I.S. completa, e
um hall, que faz continuação com a sala-kitchenette,
ligando-se ao escritório e à I.S.
Nº9
O acesso ao seu interior é directo pela rua,
entrando-se imediatamente para a sala-kitchenette.
Tem somente uma fachada, virada a poente e
para a rua da Costa.
Consiste numa assoalhada apenas, com uma
I.S. incompleta.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
Estes fogos encontravam-se em bom estado
de conservação, pelo que a intervenção se limitou a
alguns arranjos pontuais nas infra-estruturas e a uma
pintura no exterior e no interior.
Não existiram alterações na organização do
seu espaço interior, mantendo-se como estava.
Figura OE1.9. Planta do piso 2
1:250
Figura OE1.8. Planta do piso 1
1:250
Figura OE1.7. Planta do piso 0
1:250
Figura OE8.3. Plantas
1:250
Figura OE8.4. Alçados
1:250
69
2.4.2. Centro histórico de Paço de Arcos
Conforme a CMO (2008) constata, a
vila ribeirinha de Paço de Arcos está
limitada entre a via-férrea Cascais/Lisboa e
a Estrada Marginal.
Segundo os registos da CMO (2008),
a povoação de Paço de Arcos não tem uma
origem muito antiga, nem aparenta ter
surgido por decisão administrativa ou por
algum acontecimento histórico. Parece ter
emergido em torno do seu edifício mais
importante e emblemático, o Palácio dos
Arcos, construído no séc. XV.
Pensa-se que foi a partir desta construção que cresceu, definindo-se como um pequeno porto
fluvial, donde se preconizavam actividades como a pesca ou o transporte de produtos. Para além da
pedra, outras matérias locais e das redondezas eram levadas para Lisboa ou Cascais.
A sua localização geográfica especial revelou-se determinante e condicionante do seu
desenvolvimento, em que o seu núcleo urbano mais antigo preservou uma grande parte das suas
características. A enorme pressão imobiliária dos últimos 40 anos não se fez sentir em Paço de Arcos,
pelo que se conseguiu manter intacta a sua essência.
O crescimento comercial desta vila tem-se efectivamente baseado na dicotomia entre as
actividades agrícolas, desenvolvidas nas diversas quintas das redondezas, e as actividades piscatórias
e de transporte fluvial. O rio Tejo foi desde sempre a via natural, e preferencial, para o escoamento de
produtos agrícolas, nomeadamente o vinho e os cereais, e para o transporte de pessoas com destino a
Lisboa.
A atividade industrial com mais presença na vila desde o séc. XVI foi a da transformação de
pedra, pois as circunstâncias naturais de proximidade ao rio e as várias pedreiras existentes no
PA1
PA4 PA2
PA3
Figura PA.2. Localização dos imóveis do programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica de Oeiras
Figura PA.1. Rua Costa Pinto
70
concelho proporcionaram condições para a sua instalação e fixação. É por este motivo que se localiza
dentro da malha urbana de Paço de Arcos a maior estrutura de Fornos de Cal do país.
Com a construção da linha férrea Cascais/Lisboa na segunda metade do séc. XIX, surge a
primeira “barreira” ao crescimento urbano da vila no sentido norte, dificultando também a ligação
directa existente anteriormente entre as quintas e a vila.
Nas décadas de 40/50 construiu-se a Estrada Marginal, que veio fragilizar a ligação que existia
entre a vila e o rio, tendo em conta que este novo eixo viário tornou-se numa “barreira” quase
intransponível, devido às suas características.
Com a quebra desta relação com o rio, e neste contexto geográfico, o centro histórico de Paço
de Arcos foi perdendo a sua atratividade, assistindo-se a seu progressivo declínio. Porém, as suas
particularidades urbanas de núcleo antigo, o seu conjunto edificado e o seu tecido social, fazem com
que a vila mantenha o seu encanto.
Com a intenção de revitalizar e dinamizar este núcleo, a CMO inseriu Paço de Arcos no seu
programa habitação jovem nos núcleos de formação histórica. Assim sendo, a autarquia já adquiriu 4
edifícios, totalizando 23 fogos. Destes fogos, 4 já estão atribuídos, 14 aguardam a conclusão do
projecto de execução e 5 fogos estão ainda em projeto base.
Dos quatro edifícios adquiridos pela CMO apenas se conseguiu obter informação sobre três: o
PA1, o PA2 e o PA4, de acordo com a nomenclatura atribuída pela CMO. Assim sendo, somente o
PA3 não será estudado, nem analisado, neste trabalho.
Figura PA.3. Palácio dos Arcos Figura PA.4. Jardim municipal
Figura PA.5. Chafariz Figura PA.6. Fornos da Cal
71
CASO PA1: AV. PATRÃO JOAQUIM LOPES
INSERÇÃO URBANA
De acordo com os dados fornecidos pela CMO
(2008:38), o caso PA1 insere-se na malha antiga do
Centro histórico de Paço de Arcos (CHPA), que se
remete ao séc. XV.
Apesar de, no séc. XV, já estarmos a entrar no
Renascimento, o CHPA consiste numa malha do tipo
orgânico, onde a geometria irregular desenha a vila e
os seus quarteirões.
As acessibilidades dentro do núcleo histórico
de Paço de Arcos são bastante complexas, no que
diz respeito aos transportes públicos. Apesar da Av.
Patrão Joaquim Lopes ficar próxima da estação de
comboios de Paço de Arcos, o CHPA não tem uma
rede de autocarros eficiente. As acessibilidades por
via automóvel são mais simples, não havendo falta
de parqueamento, pois a avenida fica perto de dois
parques de estacionamento, que servem o CHPA e a
estação de comboios.
O PA1 localiza-se perto do Palácio dos Arcos,
a primeira construção no local e em torno da qual se
desenvolveram as restantes edificações, do auditório
José de Castro e da Praça da República.
O edifício em estudo está implantado num dos
quarteirões de geometria irregular já acima descritos,
confrontando, a poente, com a Av. Patrão Joaquim
Lopes.
A avenida obteve este nome em homenagem
a Joaquim Lopes, funcionário da marinha com cargo
de patrão, que ao longo da sua atividade em Paço de
Arcos salvou centenas de vidas na Barra do Tejo.
O interior do quarteirão é um logradouro, para
o qual o edifício tem acesso de tardoz.
Apesar do edifício ser incaracterístico, forma,
com o resto da rua, um conjunto coerente, e por isso,
importante de manter.
Figura PA1.1. Planta de localização
(pormenor do CHPA)
1:2500
Figura PA1.2. Av. Patrão Joaquim Lopes
72
SITUAÇÃO PRÉVIA
O edifício em estudo encontrava-se em boas
condições de conservação, salvo a exceção do piso
térreo, cujo acesso consistia difícil.
Não existe informação escrita sobre o sótão,
não se sabendo se estaria ou não habitável.
As casas do 1º e 2º piso estavam habitadas
por pessoas que foram, a posteriori, realojadas.
O PA1 tinha dois acessos: uma porta, situada
à direita, e um portão, à esquerda.
Através do portão acedia-se a um espaço de
garagem, embora não exista o levantamento do seu
interior. Anteriormente, poderá ter sido um espaço
comercial.
A entrada para o PA1 fazia-se através da porta
mais à direita, diretamente pela Av. Patrão Joaquim
Lopes, para um corredor, acedendo-se, depois, por
umas escadas comuns, aos restantes pisos.
O PA1 está orientado Nordeste-Sudoeste, pelo
que recebe sol praticamente todo o dia.
O edifício, com quatro pisos de altura, incluía,
no total, três apartamentos, correspondendo um por
cada piso, à exceção do R/C, onde não se sabe o
que existia.
Os apartamentos do 1º e 2º piso eram iguais,
pelo que serão analisados em separado do 3º piso
ou sótão.
1º e 2º piso
O acesso ao fogo, de quatro assoalhadas, era
feito das escadas comuns do edifício para um hall de
entrada. Deste, acedia-se para um quarto/escritório,
para uma sala, logo em frente à porta de entrada, e
para um corredor de distribuição. A sala teria sido
ampliada, pela sua ligação com outro compartimento,
ao qual se acedia através do anterior.
A partir do corredor chegava-se a um quarto
interior, com acesso direto a um outro, no qual só se
entrava pelo primeiro. Tinha-se acesso também a
uma I.S. completa e à cozinha, com uma despensa.
Figura PA1.3. Fachada frontal prévia
Figura PA1.4. Plantas prévias dos pisos 0,1 e 2
1:250
73
Sótão
Sendo este último piso umas águas-furtadas,
com tetos inclinados, a casa era bastante menor,
tendo apenas duas assoalhadas.
Do hall de entrada podia-se aceder a todas as
divisões da casa.
À esquerda, entrava-se para a cozinha, em
frente para a sala, que consistia na junção de dois
compartimentos, e à direita a entrada para uma I.S.
completa e um quarto.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
A CMO (2008:38) considerou o PA1 prioritário,
por a sua recuperação não implicar um investimento
elevado, tanto ao nível económico como de tempo.
Ou seja, apesar do edifício não se encontrar num
avançado estado de degradação, não necessitando,
por isso, de obras urgentes, a CMO (2008:38) achou
que as condições de habitabilidade que possibilitava
representavam pouco investimento e maior rapidez
na colocação imediata de fogos a arrendar.
Assim, o projeto, da autoria do arquiteto Carlos
Pinheiro, teve como principal objetivo manter o
máximo possível do interior, conciliando-o com as
novas exigências e necessidades dos jovens.
O acesso ao edifício manteve-se pela porta à
direita. O corredor de entrada e o núcleo de escadas
foram conservados e arranjados. A ligação com os
logradouros internos foi mantida.
No R/C conservou-se a garagem, permitindo
aos jovens ter automóvel, colmatando assim a falta
de transportes públicos.
Procedeu-se a uma nova compartimentação
dos interiores dos apartamentos, racionalizando a
sua configuração espacial para que, ao todo, as três
habitações do edifício dessem lugar a cinco fogos.
Figura OE1.7. Planta do piso 0
1:250
Figura PA1.5. Alçado frontal prévio
1:250
Figura PA1.6. Corte AB prévio
1:250
Figura PA1.7. Alçado posterior prévio
1:250
74
Então, o apartamento do 1º piso foi dividido
em dois mais pequenos, com uma assoalhada cada,
tal como a habitação do 2º piso.
Os fogos do lado esquerdo são iguais, assim
como os do lado direito. Por isso, serão analisados
separadamente, agrupados entre esquerdo e direito.
1º e 2º esquerdo
Das escadas acede-se a um pequeno patamar
comum, que antes pertencia ao corredor de entrada
da casa. Deste patamar entra-se no hall privativo do
fogo.
A partir daqui chega-se à I.S., logo à esquerda
e que tem zona de lavagem de roupa integrada. Esta
I.S. é completa e encontra-se adaptada no espaço
de um antigo quarto.
À direita fica a sala, onde estão integrados a
cozinha, em forma de kitchenette, e o quarto.
A intenção inicial da CMO era fechar com uma
parede simples de pladur, mas sem porta, o recanto
onde se localiza o quarto, de maneira a torná-lo mais
privado. Porém, e apesar de este ficar separado do
resto, não tem janela direta, o que tornaria a zona de
dormir demasiadamente escura, em caso de ser
fechada.
A atual assoalhada resulta da ampliação de
duas assoalhadas anteriores.
1º e 2º direito
Do patamar comum do edifício acede-se ao
hall de entrada privativo do fogo.
Este hall liga-se, em frente, à I.S., à esquerda,
à cozinha com espaço de refeições, e à direita à sala
com zona de dormir.
A I.S. e a cozinha mantêm-se no mesmo sítio
onde estavam no apartamento original, tendo sofrido
apenas algumas obras de melhoramento, com novos
equipamentos.
Ao contrário do que acontece na maioria dos
apartamentos adaptados a jovens, este não tem a
Figura PA1.8. Fachada frontal proposto
Figura PA1.9. Plantas propostas dos pisos 0,1 e 2
1:250
75
cozinha em forma de kitchenette, sendo, portanto,
separada da sala.
A sala com quarto resulta da junção de parte
de duas assoalhadas do fogo anterior. A parede que
divide as duas habitações foi construída de novo, e a
anterior demolida, de maneira a ampliar os fogos do
lado esquerdo.
Sótão
A configuração e tipologia do apartamento do
último piso mantiveram-se como estavam.
O fogo sofreu pequenas obras de renovação,
com especial incidência nas zonas da cozinha e I.S.
Tratando-se de uma intervenção com pouca
profundidade, procurou-se manter os materiais da
construção original, procedendo-se ao arranjo das
partes mais danificadas.
Ao nível do revestimento interior, as paredes
foram rebocadas, pintadas ou cobertas de azulejo,
nomeadamente na zona da cozinha, ou kitchenette,
e na I.S. O arquiteto optou por azulejos vermelhos na
parte da kitchenette.
Os pavimentos passaram a piso flutuante ou a
mosaico nas zonas húmidas, assim como os rodapés
que ficaram em madeira ou ladrilho.
SÍNTESE
Bom estado de conservação;
Conjunto urbano com o restante edificado;
Reestruturação dos espaços interiores, com
uma configuração mais racional;
Garagem;
Tipologia T0;
Kitchenette.
Figura PA1.10. Alçado frontal proposto
1:250
Figura PA1.11. Corte AB proposto
1:250
Figura PA1.12. Alçado posterior proposto
1:250
76
Figura PA1.13. Sala Kitchenette
Figura PA1.14. Sala Kitchenette
Figura PA1.16. Interior do sótão
Figura PA1.15. I.S.
77
CASO PA2: RUA COSTA PINTO
INSERÇÃO URBANA
O caso de estudo PA2 insere-se na malha
antiga do centro histórico de Paço de Arcos (CHPA),
sendo um dos casos ilustrados na publicação a que
temos vindo a fazer referência (CMO, 2008:38).
Tal como acontecia no PA1, no que respeita
às acessibilidades dentro do CHPA, estas não estão
tão facilitadas quanto se poderia imaginar à primeira
vista, pois apesar de existir uma estação de
comboios próxima, o CHPA não tem uma rede de
autocarros eficaz.
Contudo, via automóvel os acessos são mais
fáceis, não havendo falta de parqueamento. No que
diz respeito ao estacionamento, o PA2 fica perto do
parque associado ao jardim municipal e dos dois
parques adjacentes à Av. Patrão Joaquim Lopes,
que servem não só o CHPA, mas também a estação
de comboios.
O PA2 situa-se próximo do Palácio dos Arcos,
no seguimento da mesma rua, perto dos fornos de
cal, do jardim e do mercado municipais.
O quarteirão onde está inserido o edifício em
estudo é de crescimento tipo orgânico, pelo que a
sua forma é irregular.
Confronta, a sudoeste, com a Rua Costa
Pinto, e, a nordeste, com os logradouros do interior
de quarteirão.
O PA2 situa-se a meio do conjunto de quatro
edifícios, que definem o troço da rua.
Conforme a CMO (2008:38), a reabilitação do
PA2 fundamenta-se no interesse pela “… qualidade
arquitetónica do edifício e o seu significado cultural e
histórico…”, a par da forma coerente como ele se
integra no conjunto urbano.
Figura PA2.1. Planta de localização (pormenor do CHPA)
1:2500
Figura PA2.2. Fachada prévia
78
SITUAÇÃO PRÉVIA
O PA2 consiste num edifício com três pisos,
com mais um de sótão, onde se integram sete fogos
e um espaço comercial, com uso de restauração, no
R/C. O restaurante ocupa, clandestinamente, um dos
espaços de logradouro.
A sua entrada efetua-se diretamente pela rua
Costa Pinto, fazendo-se, depois, a distribuição aos
vários apartamentos por um núcleo de escadas, num
sistema de esquerdo e direito.
A escada, entre os dois primeiros pisos, tem
apenas um lanço a direito, prosseguindo os restantes
lances desviados em relação ao primeiro, mais para
o lado e para o interior. No 2º e 3º piso, o lanço
desdobra-se num U, mantendo-se descentrado em
relação à frontaria.
A fachada principal do edifício está orientada a
sudoeste, enquanto a fachada de tardoz está virada
a nordeste. As habitações recebem sol praticamente
todo o dia e a sua orientação permite a ventilação
cruzada.
As atuais habitações já tinham sofrido obras,
nomeadamente o acrescento das I.S. De acordo com
a CMO (2008:38), as tipologias atribuídas aos fogos,
que variam entre as três e as quatro assoalhadas,
não devem ser consideradas corretas, pois os
apartamentos não podem “… ser efetivamente assim
classificados, uma vez que não existindo à data da
sua construção a prática de prover as habitações
com instalações sanitárias e saneamento básico, as
respetivas instalações executadas posteriormente,
são muito precárias, mal inseridas, do que resultou
uma desorganização na articulação dos espaços e
consequente funcionalidade.”
No que diz respeito ao restaurante, como não
é objeto de estudo neste trabalho, dir-se-á apenas
que consiste num espaço amplo, cuja cozinha, copa,
armazém e I.S. se encontram construídos no espaço
que pertencia ao logradouro.
Apesar da sua distribuição em esquerdo e
direito, as habitações são diferentes entre si, tanto
Figura PA2.3. Plantas prévias dos pisos 0 e 1
1:250
A
B
A
B
0.1
1.1 1.2
79
em planta como na sua organização, pelo que serão
primeiro agrupadas de acordo com estes critérios, e
só depois analisadas, separando-as por grupo:
Nº 0.1 e 1.2
Por terem planta idêntica e pertencerem à
mesma tipologia (três assoalhadas) estes dois casos
são estudados em simultâneo.
A distribuição faz-se por um corredor interno, a
partir do qual se acede à cozinha e a dois
compartimentos, sendo, um deles, interior.
Em ambas as situações, a cozinha liga
diretamente por uma porta a uma terceira divisão,
que funcionará como quarto, sala ou misto.
No caso do 0.1, a sala também está ligada por
uma porta ao quarto interior, podendo-se considerar
o apartamento duas assoalhadas, conforme se
considere o “quarto” integrado na sala, ou não. Nesta
diferenciação poderá residir alguma da confusão na
classificação das tipologias, que se encontra até em
descrições oficiais.
No caso do 0.1, pelo corredor acede-se à I.S.,
que foi acrescentada por baixo do vão das escadas
comuns, enquanto na situação do 1.2, a I.S. está
agora associada à cozinha, ocupando a sua varanda,
transformada em marquise, ficando assim a cozinha
sem janela para a rua.
Outra diferença entre eles refere-se à entrada
na habitação, pois na do 0.1 o acesso é direto pela
sala e na do 1.2 é pelo corredor.
O 0.1 beneficia de um logradouro, na
continuação da cozinha.
Nº 1.1
Esta habitação tem três assoalhadas, e a sua
distribuição interna, centralizada, faz-se através de
um corredor, a partir do qual se acede à cozinha, a
uma divisão e a um outro corredor.
Desta segunda passagem chega-se à I.S. e a
um outro compartimento. A I.S. teria sido um quarto
Figura PA2.4. Plantas prévias dos pisos 2 e 3
1:250
A
B
A
B
2.1 2.2
3.1 3.2
80
interno, que foi transformado e adaptado a casa de
banho, ou parte de um dos compartimentos.
O acesso ao que parece ser a sala é feito pela
cozinha, à qual está unida por uma porta.
Do lado da cozinha, o fogo beneficia de uma
varanda.
Nº 2.1 e 2.2
Tanto o 2.1 como o 2.2 consistem em fogos de
quatro assoalhadas. A sua planta e organização são
praticamente iguais.
Em ambos a distribuição interna é feita a partir
de um corredor, pelo qual se acede à cozinha e a
dois quartos, sendo que um é interior.
Da cozinha existe ligação para a sala e para a
I.S., que foi acrescentada na varanda, que passou a
ser marquise.
A partir do quarto interno chega-se à sala e a
um terceiro quarto, que também tem ligação com o
primeiro deles.
Na situação do 2.1, a varanda é maior e a sua
ocupação como I.S. é total, enquanto no 2.2 a sua
utilização como I.S. se limita a uma parte, com uma
sanita, apenas.
As áreas das duas casas diferem um pouco,
devido à deslocação das escadas comuns para um
dos lados, o do 2.2.
Nº 3.1 e 3.2
No sótão encontram-se dois apartamentos de
três assoalhadas.
A sua distribuição interna faz-se a partir de um
corredor que se liga à cozinha, à sala e a um quarto.
Da cozinha acede-se à I.S., acrescentada na
varanda, tal como acontece no fogo do 2.2.
Da sala, que fica mesmo de frente para a porta
de entrada, acede-se a um segundo quarto, que não
tem nenhuma outra porta.
Parte do primeiro quarto instala-se em metade
da mansarda, formando uma espécie de arrumação.
Figura PA2.6. Corte AB prévio
1:250
Figura PA2.5. Alçado frontal prévio
1:250
Figura PA2.7. Alçado posterior prévio
1:250
81
Tal como observado no 2º piso, um dos fogos
é maior, por as escadas estarem descentradas para
o lado do 3.2.
“O sistema construtivo datado da época do
edifício, aparenta ser uma versão empobrecida do
sistema pombalino de construção em gaiola” (CMO,
2008:38).
De acordo com a CMO (2008:38), considera-
se o estado de conservação do conjunto edificado
como medíocre, estando mesmo sob a ameaça de
ruína, pelo que necessita de urgente intervenção.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
O caso aqui analisado encontra-se em fase de
revisão e coordenação entre os projetos de
arquitetura e das especialidades.
Conforme refere a CMO (2008:38), as opções
de projeto basearam-se no respeito pelo significado
arquitetónico e histórico do edifício. Procurou-se o
“… equilíbrio entre os objetivos da reabilitação e
vivificação dos centros históricos, a par dos objetivos
sociais da realização de habitação jovem, e os
diferentes investimentos inerentes, passíveis ou não,
de quantificação financeira…” (CMO, 2008:38).
A Arq. Maria João Gonçalves (2008:38),
responsável pelo projeto, considerou que a
manutenção da imagem do edifício como um todo,
integrada num espaço urbano requalificado e bem
cuidado, seria o mais importante, pois para ela é isso
que pode tornar o imóvel “… capaz de albergar de
novo jovens famílias, que farão reviver o que
preservamos do nosso passado, da nossa cultura e
da nossa história…” (CMO, 2008:38).
As fachadas serão recuperadas na íntegra, à
exceção do sótão, que não cumpre os regulamentos,
e que por isso sofrerá um alargamento da dimensão
(largura) das fenestrações. Conforme a CMO
Figura OE1.9. Planta do piso 2
1:250
Figura OE1.8. Planta do piso 1
1:250
Figura OE1.7. Planta do piso 0
1:250
Figura PA2.8. Fachada proposta
82
(2008:38), a fachada adquirirá o atual ritmo dos vão
dos pisos inferiores.
Assim, partindo da premissa de recuperação e
manutenção integral das paredes exteriores, adotou-
se também “… o respeito pela base da organização
interior do edifício, quer no plano da distribuição e
circulação comuns, como no que tal implica na
determinação da dimensão e na adequação das
tipologias dos fogos e seus espaços…” (CMO,
2008:38).
Por isso, o núcleo de escadas será mantido no
mesmo sítio e com a mesma configuração.
Como já foi anteriormente referido, o edifício é
atualmente de uso misto, entre habitação e comércio
de restauração. A proposta da CMO mantém estes
usos, procurando, contudo, dar melhores condições
ao restaurante, para que este possa por si só gerar a
qualificação, urbana e comercial, necessária no
local.
Assim sendo, o projeto contempla seis fogos,
de T0 a T2, e um restaurante, que ocupará todo o
piso térreo.
O logradouro, que agora está ocupado pelo
restaurante, será recuperado, regressando à sua
vocação inicial de espaços verdes.
Em relação ao restaurante, dir-se-á apenas
que será ampliado, ocupando todo o piso térreo,
crescendo para o lado, pela anexação do espaço do
nº 0.1, que deixará de existir.
A área correspondente ao 0.1 passará a estar
ocupada pela copa e por parte das I.S., que agora se
encontram no anexo construído clandestinamente no
logradouro.
Analisando o projeto não é difícil perceber a
procura de uma linha mais racional e coerente que a
arquiteta adotou na organização interna dos fogos.
No 1º e 2º piso, as casas serão semelhantes,
só variando entre esquerdo e direito. No sótão, as
duas habitações serão diferentes das outras, embora
idênticas entre si.
Figura PA2.9. Plantas propostas dos pisos 0 e 1
1:250
A
B
A
B
1.3 1.4
83
Assim sendo, os fogos serão analisados em
separado, mas agrupados por parecenças.
Nº 1.3 e 2.3
A partir do patamar comum do edifício aceder-
se-á ao corredor interno dos fogos, que se ligará à
cozinha, à I.S. e aos três compartimentos.
Tratar-se-ão, portanto, de dois apartamentos
com três assoalhadas cada, em que a cozinha será
independente.
Estas habitações diferenciar-se-ão apenas no
tamanho e no facto da do nº 2.3 ter uma pequena
varanda, logo a seguir à cozinha, e uma despensa
integrada no hall.
Nº 1.4 e 2.4
Estes apartamentos consistirão em dois fogos
com duas assoalhadas cada, em que a cozinha será
sob a forma de kitchenette.
Do patamar das escadas aceder-se-á ao hall
de entrada do edifício, a partir do qual se chegará à
sala, com kitchenette, à I.S. e ao quarto.
As duas habitações serão diferentes apenas
nas suas áreas e no facto do nº 2.4 ter uma pequena
varanda, ligada com a kitchenette.
Nº 3.3 e 3.4
Os apartamentos do 3.3 e do 3.4 terão apenas
uma assoalhada.
Do patamar comum do imóvel aceder-se-á à
sala, com zona de dormir. A partir desta, chegar-se-á
à cozinha e à I.S.
A cozinha será independente da sala/quarto e
terá uma pequena varanda.
De acordo com a CMO (2008:38), o sistema
construtivo original parece ser uma “… versão mista
e empobrecida do sistema pombalino de construção
em gaiola…”, como se vê noutras degeneradas
“cópias” dos melhores exemplares. Não se
reconhecendo grande importância no sistema
Figura PA2.10. Plantas propostas dos pisos 2 e 3
1:250
A
B
A
B
2.3 2.4
3.3 3.4
84
construtivo em presença, só se justifica a sua
recuperação se houver vantagem no balanço custo/
benefício. Neste sentido, pesando os vários fatores,
a Arq. Maria João Gonçalves (2008:38) propõe que a
reabilitação aproveite ao máximo a estrutura
existente, complementando-a, no entanto, e sempre
que imprescindível, com novos elementos e
materiais construtivos compatíveis.
Assim sendo, nas partes danificadas, “… a
intervenção adotada prevê a demolição e
substituição da estrutura (…) por uma nova, mista,
constituída por elementos de ferro e madeira, com
recurso a algumas soluções pré-fabricadas…” (CMO,
2008:38).
Como já foi anteriormente referido, as escadas
serão mantidas na sua forma inicial retilínea e depois
em semi-leque ou “de compensação”, como refere
Ferreira da Costa na sua Enciclopédia Prática da
Construção Civil de 1955 (capítulo 5, página 9).
Também será conservada uma claraboia,
substituída por outra mais recente, com o cuidado de
manter o desenho
A escolha dos materiais e a definição dos
detalhes construtivos procurou, conforme se lê na
publicação da CMO (2008:38), a qualificação e
modernização dos ambientes exteriores e interiores.
SÍNTESE
Manutenção da fachada, à exceção dos
azulejos do R/C;
Recuperação dos logradouros como espaços
verdes;
Núcleo de escadas em U;
Manutenção do uso misto, com ampliação do
restaurante e diminuição do número de
fogos (de sete para seis);
Tipologias T0 a T2, com uma organização
interna dos fogos mais racional e coerente;
Uso de kitchenette, exceto no sótão.
Figura PA2.12. Corte AB proposto
1:250
Figura PA2.11. Alçado frontal proposto
1:250
Figura PA2.13. Alçado posterior proposto
1:250
85
CASO PA4: RUA COSTA PINTO
INSERÇÃO URBANA
Tal como acontece nos casos anteriormente
estudados, segundo a CMO (2008:38), o PA4 insere-
se na malha antiga do CHPA.
Como já foi referido, as acessibilidades dentro
do núcleo histórico de Paço de Arcos são bastante
difíceis, no que concerne aos transportes públicos,
pois o CHPA não tem uma eficaz rede de autocarros.
Por via automóvel, os acessos são mais simples, não
havendo falta de parqueamento, pois a rua Costa
Pinto fica perto de dois parques de estacionamento,
que servem o CHPA e a estação de comboios.
O PA4 localiza-se perto do Palácio dos Arcos,
na continuação da mesma rua, do auditório José de
Castro e da Praça da República.
O edifício em estudo está implantado num dos
quarteirões de malha irregular do CHPA, pelo que a
construção acompanha a sua forma, acabando, por
isso, em gaveto.
Confronta, a sul, com a rua Costa Pinto, e, a
norte, com a travessa Caetano Félix. A poente, onde
o edifício termina de gaveto, confina-se um pequeno
largo.
De acordo com a CMO (2008:42), assume-se
como “… importante presença histórica (…) no
centro em que se insere…”, o que levou à sua
consideração de interesse, integrando este processo
de reabilitação.
SITUAÇÃO PRÉVIA
O PA4 diz respeito a um edifício de três pisos,
sendo o último um piso de águas furtadas.
No R/C encontram-se duas lojas, que mantêm-
se atualmente abertas ao público, com comércio de
retalho de pequena dimensão. No 1º piso existem
duas habitações e nas águas furtadas, uma. Apenas
esta última se encontra desocupada.
Figura PA4.1. Planta de localização (pormenor do CHPA)
1:2500
Figura PA4.2. Fachada prévia
Figura PA4.3. Planta prévia do piso 0
1:250
86
Os acessos aos fogos dão-se diretamente pela
rua Costa Pinto e pela travessa Caetano Félix.
A partir da entrada, a distribuição pelos vários
fogos faz-se através de dois núcleos de escadas, um
a sul, para quem chega pela rua Costa Pinto, e outro
por norte, para quem vem da travessa Caetano Félix.
As habitações dispõem-se segundo um esquema de
esquerdo e direito.
Conforme a CMO (2008:42), as fachadas a sul
e a norte têm personalidades diferentes, visto que a
frontaria sul é mais nobremente tratada, com cimalha
e jarrões, janelas de arco e revestimento de azulejos,
enquanto a fachada norte é mais pobre, apenas com
beirado, janelas de guilhotina e rebocos caiados.
Como as fachadas estão orientadas norte-sul,
as casas recebem sol sobretudo ao fim da manhã e
ao princípio da tarde. Esta direção permite também a
ventilação cruzada.
Tendo em conta que o objeto de estudo não
incide sobre espaços comerciais, refere-se apenas
que ambas as lojas têm entrada aberta pela rua
Costa Pinto, com várias montras, zona de armazéns,
copa e I.S.
Como já se sucedeu nos casos anteriores, os
fogos em observação são distintos entre si, pelo que
serão analisados separadamente:
Nº 1.1
Esta habitação compreende seis assoalhadas,
e a sua distribuição interna realiza-se através de um
corredor central e linear, pelo qual se acede à casa.
A partir desta passagem chega-se a todas as
divisórias do fogo, como a cozinha, a I.S., a sala e os
cinco quartos.
No topo do corredor encontra-se ou um quarto,
ou a sala, da qual se acede a uma varanda. Esta fica
de gaveto, com vista para o pequeno largo, e recebe
sol de poente.
Figura PA4.4. Plantas prévias dos pisos 1 e 2
1:250
1.1
1.2
2.1
87
Nº 1.2
O fogo do 1.2 corresponde a seis assoalhadas
com escadas de acesso internas e integradas. Estas
dizem respeito à entrada pela travessa Caetano Félix
e ligam somente ao 1.2. Por isso, este apartamento
acaba por ter uma entrada independente do resto do
edifício.
A sua distribuição interna dá-se através de um
corredor em L, que liga todos os compartimentos do
fogo, ou seja, a cozinha, a sala, a I.S. e os quartos.
Uma das divisórias tem entrada independente
pelo núcleo de escadas comum, podendo funcionar
como um escritório.
Nº 2.1
O sótão consiste numa habitação apenas, com
seis assoalhadas.
Um corredor em forma de L faz a distribuição
interna de todas as divisórias, desde a cozinha, à I.S.
e à sala e quartos.
Ao contrário do R/C e do 1º piso, que tinham a
fachada cega a oriente, o fogo do 2.1 tem aberturas
para este lado, que iluminam a zona da cozinha e de
um quarto.
A par destas janelas só existem outras duas.
Uma que recebe luz de norte, que será uma trapeira,
e que pertence a um quarto em forma de L. A outra
que fica virada a sul e ilumina um compartimento em
forma de T e que também será uma trapeira.
Os outros três quartos são escuros, pois não
têm janelas, assim como a I.S.
Segundo a CMO (2008:42), “… a estrutura é
do tipo gaioleiro, com estruturas de madeira e de
alvenaria mistas e já bastante alteradas e refeitas
integrando vários tipos de inertes (pedra, cantaris,
cerâmicos, …) e argamassas. Nas paredes divisórias
interiores há (de acordo com o levantamento)
situações de tabiques.”
A CMO (2008:42) refere também que o seu “…
estado de conservação é problemático registando-se
Figura PA4.5. Alçado frontal prévio
1:250
Figura PA4.6. Alçado posterior prévio
1:250
88
acentuada degradação tanto a nível estrutural como
em revestimentos e acabamentos…” A CMO
considera que as obras de reabilitação a efetuar no
edifício são de nível A, com características de
intervenção profunda.
PROJETO DE ALTERAÇÃO
Devido à importância que tem como imóvel de
cariz histórico, contempla-se a manutenção da sua
imagem.
Na fachada a sul, pretende-se recuperar e
manter os azulejos existentes e as bandeiras e os
vãos em arco, enquanto os toldos serão substituídos
por outros, articulados com a rítmica e a composição
da frontaria.
Na fachada a norte, substituir-se-ão o beirado
por cimalha e as janelas de guilhotina por outras de
dois batentes. As portadas serão colocadas pelo
interior, semelhantes às da fachada sul.
Por se lado, renovar-se-ão as coberturas ao
nível da estrutura e dos revestimentos, simplificando
a sua configuração, passando a ter uma parte em
curva.
A CMO (2008:42) encara a divisão interior,
previamente existente e resultante de consecutivas
alterações e adaptações ao longo dos seus dois
séculos de vida, complexa e inadaptada à realidade
dos jovens e das novas funcionalidades de um viver
contemporâneo.
No R/C manter-se-ão as duas lojas, que serão
reestruturadas, diminuindo os seus acessos internos,
limitando-se à zona de exposição, a uma I.S. e a
uma sala/armazém, com copa.
A proposta da CMO consiste em aumentar o
número de fogos, de três, atualmente, para cinco,
sendo estes de tipologia pequena, um T0 e três T1
no 1º piso e um T2 nas águas furtadas.
Devido ao mau estado de conservação do
edifício, propõe-se a “… substituição integral das
Figura PA4.7. Fachada proposta
Figura PA4.8. Planta proposta do piso 0
1:250
89
paredes interiores, de forma a possibilitar uma
divisão funcional do espaço existente…” (CMO,
2008:42).
Mais uma vez, os vários fogos são distintos
entre si e, portanto, serão analisados em separado.
Nº 1.3
Virada a norte, esta habitação corresponderá a
um T0, cujo acesso se fará a partir do patamar
comum das escadas para um hall de entrada que
ligará à sala com kitchenette. O espaço de dormir
estará, visualmente, ligeiramente separado por uma
pequena parede em gesso cartonado.
Desta zona aceder-se-á à I.S.
Nº 1.4
Este fogo T1, orientado a sul e a poente, será
acessível através do patamar de acessos comum,
entrando-se diretamente para a sala/kitchenette, que
ficará relativamente separada da entrada por uma
parede.
Esta sala ligar-se-á, ao fundo, a uma I.S. e ao
quarto, que usufrui do terraço.
Nº 1.5
Esta habitação T1, virada a norte, ligará aos
acessos verticais por um hall de entrada, a partir do
qual se chegará à I.S. e a um pequeno hall que ligará
com a sala/kitchenette e com o quarto.
Nº 1.6
Este T1 ficará orientado a sul e será acessível
pelo patamar comum do edifício, por onde se entrará
para um hall. Este ligará com a sala/kitchenette, com
a I.S. e com o quarto.
Nº 2.2
Ao sótão corresponderá o apartamento com a
maior tipologia, sendo um T2.
A
Figura PA4.9. Plantas propostas dos pisos 1 e 2
1:250
1.3 1.4
1.5
1.6
2.2
90
Virado a norte e a sul, a sua entrada far-se-á
pela sala, a partir da qual se chegará à cozinha, que
será independente, e a um hall interior, que separará
as zonas comuns das privadas. Este ligará, então, à
I.S. e aos dois quartos.
No que diz respeito aos acabamentos, nas
zonas comuns será utilizada uma pedra lioz nos
pavimentos e rodapés, e as paredes e tetos serão
rebocados e pintados a tinta de água.
As lojas ficarão com um pavimento em tosco,
as paredes e tetos serão apenas rebocados e levará
um teto falso.
Nos apartamentos, os pavimentos serão em
solho “à inglesa”, em pinho envernizado, assim como
os rodapés. Na I.S. será utilizado um mosaico
porcelânico polido. Pintar-se-ão as paredes tal como
os tetos, embora na I.S. estes sejam tetos falsos em
gesso cartonado.
SÍNTESE
Mau estado de conservação;
Manutenção da fachada, e dos azulejos;
Alteração da configuração da cobertura, que
passa a curva numa parte;
Aumento do número de fogos (de três para
cinco);
Substituição integral das paredes interiores,
com maior racionalização dos espaços;
Tipologias de T0 a T2;
Uso de kitchenette na maioria dos fogos;
Figura PA4.10. Alçado frontal proposto
1:250
Figura PA4.11. Alçado posterior proposto
1:250
91
3.0. DISCUSSÃO DOS CONCEITOS
3.1. ESPAÇO: A ESSÊNCIA DA ARQUITECTURA
“Por sua vez, a arquitectura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o
homem penetra e caminha.” (Zevi, 1984:17)
“Architecture is not produced simply by adding plans and sections to elevations. It is something
else and something more. It is impossible to explain precisely what it is – its limits are by no means
well-defined.” (Rasmussen, 1959). A arquitectura revela-se então uma matéria tão intuitiva, sem
barreiras, e que mexe com tantas outras disciplinas, que muitas têm sido as discussões em torno da
sua definição.
Segundo Zevi (1984:18), “o espaço interior (…) é o protagonista do facto arquitectónico”, e
portanto o que distingue a arquitectura. Por sua vez, Rasmussen (1959:48) defende que a palavra
espaço é demasiadamente neutral e vaga, pelo que a palavra “cavity” (cavidade) é aquela que
melhor ilustra a arquitectura e a diferencia. Para alguns movimentos artísticos, como o ecletismo do
séc. XIX, “as definições da arquitectura como espaço e forma a serviço do programa e da estrutura
não eram suficientes.” (Venturi, 1977:30)
Como “… a arquitectura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos
elementos construtivos que encerram o espaço, mas precisamente do vazio, do espaço encerrado,
do espaço interior em que os homens andam e vivem”, (Zevi, 1984:18), então as formas que definem
o espaço apresentam-se apenas como um instrumento para a concretização e entendimento
espacial, e as alterações que se processam nessas formas servem o propósito de alterar o espaço.
Segundo Zevi (1984:18) “… o espaço (…) não pode ser representado perfeitamente em
nenhuma forma, (…) não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência directa…”. Assim, a
arquitectura não parece fácil de explicar porque o espaço em si revela-se algo de complexo, de difícil
representação e análise.
Mas, embora insuficiente, é através do desenho dos elementos delimitadores do espaço, dos
elementos que o constroem, que os arquitectos conseguem comunicar o seu projecto, analisar o
melhor possível o que estão a idealizar e definir a sua “forma” e a sua “volumetria”. É através deles
que expõem a sua concepção espacial do edifício, da rua, etc.
Figura DC.1. Planta da Basílica de S. Pedro, de Michelangelo, e três distintas interpretações dela
92
Assim, e de acordo com Zevi (1984), vários são os atributos que se podem identificar como
próprios da arquitectura: linha, cor, forma, volume, ritmo, simetria, movimento, força, repouso, escala,
proporção, luz e sombra, cheios e vazios, contraste, etc., porém o autor defende que só serão
válidos quando enquadrados com a noção de espaço, enquanto essência da arquitectura.
Conscientes de todas estas dificuldades, desde a representação à análise comparativa do
espaço, desde a complexidade do estudo à própria subjectividade de alguns conceitos, houve um
esforço de homogeneizar tanto quanto possível a representação dos vários projectos (plantas,
alçados, fotografias e desenhos à mão levantada), assim como procurar identificar, para além de
ideias subjectivas acerca do espaço, outras mensuráveis e mais facilmente comparáveis. No entanto,
sem nunca perder de vista a concepção espacial, pois “se pensarmos um pouco a respeito, o facto
de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitectura é, no fundo, natural, porque a arquitectura
não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é
também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.” (Zevi, 1984:28)
3.2. A MORFOLOGIA E A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO
“Devemos entender, de um modo genérico, que a morfologia se refere ao estudo da forma e
à sua estrutura como complemento da percepção visual.” (Consiglieri, 1994:24)
Se estudamos o entendimento do Homem sobre o espaço, a morfologia, enquanto estudo da
forma, não deve ser dissociada da percepção espacial. Por isso, parece essencial compreender,
para além dos elementos que alteram a forma, os mecanismos que afectam a sua percepção.
Estes elementos revelam-se fundamentais na arquitectura pois é a partir deles, das relações
formais e sintácticas que estabelecem entre si, e com o todo, que surge a composição arquitectónica,
e, através de inúmeras possibilidades de conjugação, permitem diferentes jogos de volumetria, de
profundidade, de luz, etc., conforme as intenções do arquitecto.
Com este capítulo pretende-se definir os conceitos importantes para uma análise do espaço,
percebendo como eles se articulam e se podem representar. Para tal, torna-se também relevante
enquadrar brevemente a evolução de tais conceitos, referindo as principais reflexões/teorias e etapas
do seu desenvolvimento.
A história resulta de uma sucessão contínua de factos, encadeados entre si. Assim, a forma
arquitetónica, e o modo de a trabalhar, foram-se modificando ao longo do tempo, numa sequência
lógica, como seguimento, conveniência ou contraponto, às ideias da época anterior.
Segundo Zevi (1984:53), desde os gregos que a forma arquitetónica tem sido trabalhada,
exprimindo-se de maneiras distintas nas diferentes fases históricas.
Durante a Antiguidade Clássica, “o templo grego caracterizava-se por uma enorme lacuna e
uma supremacia incontestada através de toda a história. A lacuna consiste na ignorância do espaço
interior, a glória na escala humana” (Zevi, 1984:56), enquanto nos templos romanos está patente a
93
escala monumental e o espaço interior, embora menos inspirados ao nível dos pormenores (Zevi,
1984:67). No espaço cristão, os arquitetos “… reuniram (…) na igreja a escala humana dos gregos e
a consciência do espaço interior romano” (Zevi, 1984:71). Enfim, no espaço bizantino procurou-se
uma aceleração direcional, para o altar, e uma dilatação do espaço (Zevi, 1984;74); com os bárbaros,
o ritmo horizontal é interrompido, elevando-se o presbitério e introduzindo-se o ambulacro (Zevi,
1984:78); no românico surge um tratamento mais tridimensional do espaço, com a sua estrutura, a
sua interdependência entre a fachada e o espaço interior, e a sua métrica (Zevi, 1984:89); “os
contrastes dimensionais e a continuidade espacial do gótico” (Zevi, 1984:91); no renascimento
surgem novas leis e medidas do espaço, baseadas numa “… reflexão matemática desenvolvida
sobre a métrica românica e gótica. Busca-se uma ordem, uma lei, uma disciplina contra a
incomensurabilidade, a infinitude e a dispersão do espaço gótico, e a casualidade do românico”
(Zevi, 1984:97); a volumetria e plástica do século XVI, baseada na centralidade e no espaço
simétrico, e nos equilíbrios eurrítmicos de proporção (Zevi, 1984:102); ou “o movimento e a
interpenetração no espaço barroco”, tendencionalmente orgânico, através das ilusões de perspetiva
e da libertação da geometria elementar, da simetria e dos tratados convencionais (Zevi, 1984:114).
No entanto, até ao final do séc. XIX, vários teóricos limitaram-se a estudar a forma/massa,
nomeadamente os elementos comprimento, largura e altura, assinalando o seu carácter corpóreo,
associados a conceitos como simetria, proporção e direcção. Mas, conforme sugere Consiglieri
(1994:28), “estas três medidas não têm o objectivo de estudar o espaço, mas antes a plasticidade e
as características da massa arquitectónica, com as suas paredes e tectos, numa total
homogeneidade.”
No início do séc. XX surge a “teoria da empatia”, que promove uma identificação emocional
entre o sujeito e o objecto arquitectónico, “… em que o espaço passa a ser uma essência, um
diálogo da alma com o meio que nos rodeia numa experimentação tridimensional.” (Consiglieri,
1994:28).
A “teoria da empatia” foi aplicada pelos expressionistas, para quem, de acordo com Consiglieri
(1994:28), “… não havia formas geométricas, nem superfícies, nem volumes euclidianos (…) As
formas resultavam da distorção causada por tensões emocionais, e a sua estética era a percepção
do inconsciente ou da subjectividade do mundo”. Segundo Argan (1988:227), enquanto “… a
impressão é um movimento do exterior para o interior: é a realidade (objecto) que se imprime na
consciência (sujeito), a expressão é um movimento inverso, do interior para o exterior: é o sujeito que
por si imprime o objecto.”
Já Vitrúvio separava os conceitos de beleza, de utilidade e de expressão, que é o “acto ou
efeito de exprimir, revelar, traduzir, representar, significar” (Dic. da Porto Editora, 2004). Consiglieri
(1994:37) refere ainda que, para o Vitrúvio, a expressão representava a “… propriedade inerente a
qualidades materiais da cor, da forma, do espaço e que são utilizadas de acordo com opções de
natureza plástica…”.
Consiglieri (1994:28) esclarece também a influência da “teoria do tempo” nos expressionistas,
em que o movimento do espaço, anteriormente ligado à direcção, passa a estar associado à ideia de
ritmo, e deste modo, “… o espaço e a forma desmembram-se, e a caixa volumétrica perde os limites
94
impostos pelas quatro paredes.” Por conseguinte, as leis da simetria deixam de condicionar a forma,
passando a estar apenas subordinada “… às posições das diversas forças, conforme o objectivo da
expressão e o carácter discordante da composição (…) havendo, todavia, uma harmonia.”
O expressionismo promovia uma certa mística do edifício, com ambientes interiores
carregados de espiritualidade, com a “… entrada coada da luz em pontos estratégicos, conferindo
uma atmosfera sobrenatural” ao espaço (Consiglieri, 1994:28).
Kandinsky (1970) explorou essa espiritualidade na pintura, mas associada a uma linguagem
abstracta, de formas geométricas elementares. Segundo Argan (1988:272), ele “… parece estudar
deliberadamente os infinitos significados que o mesmo signo geométrico pode assumir, conforme se
modifique a cor ou a situação espacial.” Kandinsky (1970) concluiu que o quadrado, vermelho,
representa a parte material do pensamento; o círculo, azul, o movimento; e o triângulo, amarelo, a
lógica e a concentração.
É assim que, para Consiglieri (1994:29), a arquitectura “… passa a ser considerada não como
um volume, mas sim como se fosse unicamente um plano”, sintetizando dois opostos: a empatia e a
abstracção, recorrendo às “… formas elementares, nitidamente geométricas, aos contrastes do claro-
escuro, dando à criatividade uma expressão à volta do mundo das formas…”.
Na década de 20, surge uma forte reacção à empatia, procurando “… abandonar o espiritismo
simbólico, substituindo estes conceitos por uma “ciência” de matérias geométricas: ponto, linha e
superfície. As formas deixam de ser unicamente resultado de uma sensação ou emoção para se
tornarem um pensamento visual…” (Consiglieri, 1994:30), passando a prevalecerem os valores de
claro-escuro e da linha.
Este novo entendimento da arte, da vida e da sociedade designou-se de movimento moderno.
Segundo Zevi (1984:124), distinguem-se duas correntes espaciais no movimento moderno: o
funcionalismo e o movimento orgânico, que “tendo em comum o tema da planta livre, (…) o
entendem de forma diferente; apenas racionalmente a primeira, organicamente e em plena
humanidade a segunda.”
Zevi (1984:123) fundamenta a arquitectura deste movimento no conceito de “… planta livre…”,
possível graças à evolução das técnicas construtivas, que permitem “… um finíssimo esqueleto
estrutural” e as grandes paredes de vidro, que facilitam “… o contacto absoluto entre os espaços
interior e exterior.” Assim, e de acordo com o mesmo autor, “as divisões parietais (…) podem tornar-
se mais finas, curvar-se, mover-se livremente, e isso cria a possibilidade de conjugar os
ambientes…” e de unir entre si espaços e/ou compartimentos, ou seja, a “… planta livre oferece
possibilidades ilimitadas de divisões elásticas e subdivisões internas, dentro de uma malha estrutural
(…) ou em linha reta...” (Zevi, 1984:123).
Consequentemente, “o espaço moderno reassume, portanto, o desejo gótico da continuidade
espacial e do estudo minucioso da arquitetónica, não como sonho final dentro do qual se pode inserir
o elemento dinâmico, mas como consequência de uma reflexão social; retoma toda a experiência
barroca das paredes onduladas e do movimento volumétrico, de novo, não por ideais estéticos
autossuficientes, mas por considerações funcionais que se superam em magníficas imagens
poéticas, nas quais a massa das paredes barrocas é substituída por divisórias muito leves, e
95
suspensas, ora de vidro, ora de delgado material isolante; retoma a métrica espacial da renascença
(…), e da renascença retoma também o gosto pelas divisões modulares, traduzindo-o nos termos do
atual programa arquitetónico. (…) Por antítese polémica à ornamentação aplicada no século XIX,
prefere a simplicidade, a essencialidade dos elementos figurativos…” (Zevi, 1984:123), pelo que “…
muitas conquistas espaciais precedentes encontram assim uma nova fisionomia artística” (Zevi,
1984:123).
Para certos autores, o funcionalismo surgiu com o arquiteto americano Sullivan, ao preconizar
que “a forma seguia a função” (cit. in Consiglieri, 1994), o qual sustentava que “… a beleza de um
objecto relacionando a forma com a função”. Este movimento procurava dar “… ao Homem a
satisfação das necessidades fundamentais dos processos biológicos, oferecendo-se o sol, a
salubridade, o bem-estar…” (Consiglieri, 1994:30).
“… A rigorosa racionalidade das formas arquitectónicas, entendidas como deduções lógicas
(efeitos) a partir de exigências objectivas (causas) …” (Argan, 1988: 264) era um dos princípios
gerais da arquitectura moderna. Conforme explica Consiglieri (1994:30), o conceito de racionalidade,
a par com o processo de estandardização, “… pretendia dar aos materiais, às construções, aos
edifícios, e até aos espaços e formas, uma ciência de signos que demonstrasse os aspectos visuais
científicos e uma lógica dos aspectos do nosso mundo (…) A ideia era dada com clareza, de modo a
que se percebesse as suas analogias e simplicidade…”. Consequentemente, a forma arquitectónica
“… procurou volumes simples, cúbicos, cilíndricos, paralelepipédicos, amplamente envidraçados,
conferindo espaços abertos e agradáveis horizontes…” (Consiglieri, 1994:30).
Por seu lado, Argan (1988:264) distingue seis diferentes orientações: o racionalismo formal,
com Le Corbusier (I); o racionalismo metodológico e didáctico, preconizado por Gropius na Bauhaus
(II); o racionalismo ideológico, presente no construtivismo soviético (III); o racionalismo formalista, do
neoplasticismo holandês (IV); o racionalismo empírico, com Aalto (V); e o racionalismo orgânico
americano, cujo expoente foi F. L. Wright (VI).
I) Le Corbusier (Argan, 1988:266) defendia “… o homem como medida de todas as coisas…”,
pois o edifício e a natureza estabelecem com este, relações de proporção. Da sua experiência com a
pintura cubista surge a “… sua concepção de espaço contínuo, inseparável das coisas que circunda,
atravessa e penetra, sendo também por elas penetrado (…). Não é abstracção nem formalismo: a
construção ideal do espaço torna-se a construção material do edifício.” (Argan, 1988:266).
Consiglieri (1994:31) esclarece que a relação entre o espaço e o tempo, associada a um rigor
da arquitectura, promove a concepção de percursos: uma continuidade espácio-temporal, com uma
sucessão de espaços desde a entrada, à sala, passando pelas escadas, etc. “O tempo é o caminhar
num espaço, é mover-se num percurso ou num esquema espacial”, desenvolve o autor.
Para Le Corbusier (Argan, 1988:266), “… tudo se resolve na clareza da forma, e esta resolve
tudo, pois a forma correcta é, ao mesmo tempo, a forma da realidade e da consciência, da natureza
e da história.”
II) Segundo Gropius (Argan, 1988:273), director da Bauhaus, o espaço “… não é nada em si; é
uma pura, inclassificável e ilimitada extensão. Começa a existir, a se delimitar, a tomar forma quando
é considerado como dimensão virtual do agir ordenado, projectado, formativo de um grupo social.”
96
Gropius vai investigar a forma-padrão, procurando uma certa geometrização das formas, pois
“… a forma geométrica é uma forma pré-padronizada (…) tão familiar que podemos utilizá-la
independentemente de seu significado conceitual originário, como um signo a que se podem atribuir,
conforme as circunstâncias, diferentes significados” (Argan, 1988:272). O método de projecto
seguido na Bauhaus não tinha, porém, o objectivo de encontrar a forma correcta. Gropius defendia
que “… tão importante quanto o problema da forma (Gestalt) é o da formação (Gestaltung).” (Argan,
1988:272)
Segundo Argan (1988:272) o programa da Bauhaus nunca teve a intenção de condicionar a
imaginação. Procurou antes estimulá-la, sem renegar o lado funcional e racional do processo criativo.
Ou seja, pretendia uma forma adequada à sua função, sem que essa forma se limitasse a ela.
Consiglieri (1994:35) considera que o conceito de adequação tem um campo de aplicação
mais lato do que meramente à questão funcional, pois o “… adequado tem um sentido mais formal
quando pensamos em relação a quê e respondemos a relações formais de harmonia, de cores ou
textuais e até à expressão de elementos de arquitectura que, em muitos casos (…) também são de
uso: janelas, portas, …”.
Conforme explica Argan (1988:277), apesar de Mies também estar associado ao racionalismo
da Bauhaus, vai desenvolver uma investigação própria: o ritmo. Mies “… descobriu que a serialidade
não exclui o ritmo…”, projectando “… ritmos seriais”, e que “o ritmo não é determinado apenas por
factores quantitativos…” mas, pelo contrário, “… é a qualidade das formas que desenvolve um ritmo
a partir de sua repetição social.” (Argan, 1988:277). De acordo com o mesmo autor, Mies vai
desprezar o “… ambiente natural, social ou doméstico…”, pois enquanto racionalista, mesmo que
numa vertente idealista, entende que uma obra de arte é absoluta, e portanto não se relativa a nada.
Também ligado ao neoplasticismo, segundo Argan (1988:277), Mies vai admitir apenas “…
dois eixos estruturais, um vertical e outro horizontal, e uma única entidade formal, o plano.”
Mies vai sofrendo alterações ao longo do seu percurso, e com “… o mesmo rigor racionalista
que, no projecto, leva-o a substituir a composição pela repetição serial, acaba por deslocar a
racionalidade para o plano da abstracção…” (Argan, 1988:278).
III) Enquanto se viviam os chamados “loucos anos 20” nos EUA, dava-se uma importante
revolução na Rússia, a revolução bolchevique. Surgiu então um movimento vanguardista, o
construtivismo, que visava “… expressar nas formas arquitectónicas o ímpeto dinâmico da
revolução…”, através duma “… forte componente expressionista”. (Argan, 1988:283). Conforme
Argan (1988:283) sugere “… as construções, com a precisão e os movimentos das suas formas,
constituem o símbolo visível da edificação do socialismo.”
De acordo com este autor, o construtivismo possui igualmente uma qualidade, e um limite. “A
qualidade: a arquitectura é concebida como comunicação em acto. O limite: ainda que em sentido
funcional e não representativo, a arquitectura tende a se tornar cenográfica e formalista, a responder
a funções mais ideais e imaginárias do que reais.” (Argan, 1988:283).
Argan (1988) conta que, apesar de alguma dissonância entre os precursores deste movimento,
o geometrismo acaba por assumir posição pois “… a geometria expressa o espírito racionalista da
revolução…”. Esclarece também que vingaram “… as soluções formais extremamente ousadas (…),
97
pois a técnica (…) reflecte a ética revolucionária”; e o “… dinamismo e simbolismo formais, pois a
construção deve ser a imagem-símbolo da sociedade socialista.” (Argan. 1988:284).
IV) Os arquitectos neoplásticos pesquisaram sobre tipologias, “… a partir da análise dos
esquemas distributivos de espaço correspondentes às diversas situações funcionais…”. (Argan,
1988:288).
Conforme clarifica Argan (1988:288), o neoplasticismo aplicava o princípio da elementaridade
construtiva, pois considerava que, à partida, uma forma não existe em si, sendo antes um resultado
do acto de construir, juntar e compor.
“Linhas, planos, cores são os elementos materiais da construção”, no neoplasticismo (Argan,
1988:289). Para além disso, “… a forma geométrica já não é símbolo espacial; apresenta-se como
perfil, tamanho, cor, espessura, como uma coisa que se pode segurar na mão e manejar. Utiliza-se a
forma geométrica por ser a mais familiar (…) e (…) essa familiaridade psicológica com a forma torna
o espaço arquitectónico “neoplástico” um espaço à medida do homem.” (Argan, 1988:289)
V) Conforme sugere Argan (1988:292), para Aalto, tanto o espaço exterior como o interior,
deviam ser igualmente tratados, pois o espaço externo é também um espaço concreto, constituído
pela luz do sol, pelo ar, pelas árvores, … pelo horizonte. O autor refere também que o mote
projectual de Aalto partia de um objecto, fosse ele uma lareira, uma escada ou um móvel e que a
razão da sua escolha de materiais, preferencialmente locais, se prendia com qualidades de
“elasticidade” e “textura”, e não por uma continuidade entre a casa e a natureza.
VI) Apesar de vários historiadores defenderem que Wright é um naturalista, Argan (1988:296)
discorda, explicando que “… Wright não é naturalista: não (…) no sentido do mimetismo formal…”. O
autor esclarece que o arquitecto acreditava que cada indivíduo tinha a liberdade de escolher, por si
mesmo, como se queria relacionar com o mundo, dando-lhe a possibilidade do contacto directo com
a realidade, com a natureza. Assim, a forma arquitectónica para Wright perscrutava: “eliminação da
“caixa” espacial, redução das determinantes formais às horizontais e verticais e ao cruzamento de
planos, planta livremente articulada, concentração das forças de sustentação num núcleo plástico
interno, anulação das separações nítidas entre espaço interno e externo, união entre o edifício e o
ambiente natural entendido como local determinado…” (Argan, 1988:296).
Wright fascinou-se pela arquitectura japonesa, pois apesar de pertencer ao passado “… não é
intrinsecamente histórica: é o sinal de uma aliança íntima (…) entre homem e natureza…” (Argan,
1988:296). Do seu estudo sobre esta arquitectura, resultaram alterações no pensar de Wright e nos
seus projectos: procura a “… comunhão profunda com a natureza, seus materiais e seus processos
formativos…” (Argan, 1988:296); e passa a apreciar os processos tecnológicos mais modernos, pois
deixa de considerar tanto “… os aspectos exteriores da realidade, e sim os ritmos internos de
agregação e desenvolvimento: o princípio fundamental da arquitectura orgânica é o de que a
construção deve ser natural como um crescimento.” (Argan, 1988:296).
Segundo Consiglieri (1994:36), para Wright, que estudou as formas da natureza, “a beleza (…)
compunha-se de valores formais de equilíbrio, de ordem e harmonia, proporção, módulo, ritmo e
unidade”, enquanto para Vitrúvio, segundo o mesmo autor, a beleza estava, para além da ordem, na
euritmia (regularidade e justa proporção) e na simetria.
98
Resumindo, a “… sua arquitetura centraliza-se na palpitante realidade do espaço interior, e
nega, portanto, formas volumétricas elementares (…) e o sentido de altiva indiferença pela natureza
que se afirma em Le Corbusier. A planta livre não é para ele uma dialética interior do volume
arquitetónico, mas o resultado final de uma conquista que se exprime em termos espaciais, partindo
de um núcleo central e projetando os vazios em todas as direções” (Zevi, 1984:125).
Apesar de o funcionalismo espelhar a lógica e a razão, especificando as necessidades do ser
humano, resume-se a problemas de cariz biológico e fisiológico. “Mas a função puramente física não
é suficiente para ser expressão duma forma de objecto…”, pois “se a resposta a uma necessidade
prática de uso fosse apenas determinada pela ordem única de um uso ou função física, não teríamos
um número tão diversificado de formas destinadas a uma mesma função...” (Consiglieri, 1994:38).
A forma e a função devem concorrer num mesmo sentido, “para conseguir obter um objecto
expressivo (…) que ao mesmo tempo sugere a sua utilização, é necessário que se expressem as
tensões que dão sentido à sua existência e que interactuam na forma, a qual por sua vez é
adequada a determinadas intenções, que incluem a de um uso…”
Este mesmo autor (1994:33) assinala que nos finais do séc. XX, dois novos conceitos de
espaço se desenvolvem: o espaço funcional, e o espaço ambiental.
Enquanto o espaço funcional implica um “… espaço mecanicista, mas acrescido de um
sistema de controlo ambiental, conforme as instalações e as exigências dos percursos humanos…”,
o espaço ambiental é todo aquele “… ocupado pelas pessoas numa vivência existencial e que é
influenciado pelos valores externos e internos”. Estes valores deixam de ser determinados apenas
pela função, mas antes pela vontade dos utilizadores de um certo espaço ou ambiente, o que obriga
os profissionais a lidarem com os problemas da subjectividade e da experiência pessoal de cada um.
Neste processo, descrito por Consiglieri (1994:34) como “… metamorfose, surge uma nova
dimensão da existência humana e da percepção: a deformação, a distorção e (…) o percurso.” O
autor acrescenta que esta “… metamorfose sofre sequências em que a superfície, inicialmente como
matéria opaca, se transfigura em situações de linha e de claro-escuro” e consequentemente “… a
sombra e o vazio eliminam a realidade do objecto, que se expressa por elementos reduzidos ao
mínimo, suspensos no espaço”. Por seu lado, a forma (como a fachada) materializa-se através do
claro-escuro ou da sua própria fragmentação, preconizando uma maior profundidade, através dos
artifícios de luz e de elementos lineares, como os pilares.
Figura DC.2. Vestíbulo da Assembleia de Chandigan
99
Uma vez que a nossa perceção espacial não deriva diretamente do estímulo visual, mas, sim,
da interpretação que fazemos dele (Rocha, 1994:132), as diferentes experiências percecionais da
realidade acumuladas pelo indivíduo ao longo da vida, por influenciarem essa mesma interpretação
dos estímulos visuais, são determinantes no modo como cada um perceciona, entende e vivencia o
espaço.
Consciente de que a sua investigação sobre “… a morfologia encontra-se intimamente ligada
aos princípios das leis perceptivas, mas num grau mais evoluído do que o das simples regras da
visão”, Consiglieri (1994:26) estabelece que foi a partir desta que surgiu a “teoria do campo”, de
Attilio Marcolli, ciência que se baseia em que “o campo representa uma parte do espaço absoluto,
sendo limitado e com características constantes em todos os seus pontos”. Ou seja, “são campos
porque são espaços que no seu interior têm certas características homogéneas...”, como por
exemplo a cor, os materiais, a forma e a função, entre outros (Marcolli, cit. in Rocha, 1998:135). Pelo
efeito da “teoria do campo” na composição nasceram “uma série de conceitos como os de tensão,
movimento e, também, direcções e deformações.” (Consiglieri, 1994:26).
Marcolli (cit. in Rocha, 1998:135) sugere que a definição de campo ficaria incompleta sem a
noção de tempo, pois “… qualquer acção ou operação implica não só um determinado espaço, como
igualmente um certo tempo, pelo que o conceito de campo deve ser considerado de natureza
espácio-temporal.”
Associados à noção de campo surgem outros dois conceitos: a estrutura e a forma. Segundo
Rocha (1998:136) a “estrutura é o conjunto de elos que permite a definição de uma forma
independentemente dos elementos que a compõem”, isto é, “… com os mesmos elementos podem-
se constituir muitas formas por intervenção da estrutura, podendo-se concluir que, formas são zonas
do campo que por atingirem um determinado grau de estruturação se segregam das zonas não
estruturadas.”
Consiglieri (1994:26) refere ainda que “o estudo do campo atravessou três fases distintas: o
gestaltismo, a topologia e a fenomenologia”.
Método gestáltico
Segundo Rocha (1998:126), a teoria de Gestalt, veio pôr em causa as teorias associativas,
que defendiam que “… o conhecimento humano se baseava na experiência adquirida e nas
sensações…” pelo que se opunham a toda a ideia inata. De acordo com o mesmo autor, as teorias
associativas acreditavam que o pensamento “… se desenrola através de três operações: a
continuidade, o contraste e a semelhança.”
Porém, o Gestaltismo defende que “… um conjunto é imediatamente percebido através da sua
estrutura independentemente da memória” e que “uma forma (…) organiza-se num todo mesmo
quando composta de elementos.” (Rocha, 1994:127) Aliás, Gestalt significa, em alemão, forma
global.
100
Resumindo, “a psicologia da Gestalt parte das formas como dados primordiais organizados
espontaneamente segundo certas leis de estrutura, em princípio, com independência relativamente
às significações atribuídas pela experiência anterior.” (Rocha, 1994:128)
Consiglieri (1994:38) esclarece que “… cada objecto é portador de um conjunto de diferentes
qualidades e propriedades que actuam como estímulos.” Rocha (1998:136) explica que o campo
gestáltico, ou campo perceptivo, pode ser definido como o conjunto desses estímulos, que “se
repetem regularmente com a mesma intensidade…” e que a forma só se revela quando há a sua
variação.
Assim, “… para a tendência gestáltica, as sensações não são mais do que estímulos físicos ou
imagens subjectivas do mundo objectivo”.
Segundo Guillaume (cit. in Rocha, 1994:132) os princípios da teoria da Gestalt são:
1) "Uma forma é diferente e mais alguma coisa do que a soma das partes que a compõem.
Uma forma é um todo indissociável que tem qualidades próprias e que não resulta exclusivamente da
soma dos elementos que a compõem.”
2) “Uma parte num todo é diferente da mesma parte isolada ou num outro todo.”
3) “Os factos psíquicos são formas, isto é, unidades orgânicas que se individualizam e se
limitam no campo espacial das percepções e das representações. Por outras palavras, a forma é
fechada e estruturada, é a ela que o contorno parece pertencer.”
4) “A forma resiste melhor à mudança do que o fundo.”
5) “As formas são transponíveis, ou seja, algumas das suas propriedades conservam-se
através de mudanças que afectam de certo modo todas as suas partes.”
Para se poder definir a expressão de um objecto, é necessário perceber em que consiste a “…
“percepção da expressão” revelada no objecto, circunstância que ultrapassa o nível do sensorial, do
sensível e do transcendental, para se focalizar, objectivamente, em dados estruturais perceptivos.”
(Consiglieri, 1994:38)
“A teoria da forma (Gestalt) considera a totalidade da percepção obtida pelos processos
psíquicos como sendo esquemas apriorísticos totais, isto é, estruturas dadas de antemão ao cérebro,
o qual vai criar a imagem integral dos objectos.” (Consiglieri, 1994:38)
Assim, “… as imagens percepcionadas não dependem dos objectos reais mas de esquemas
apriorísticos constituídos por princípios primários.” (Consiglieri, 1994:38)
Figura DC.3. Igreja Imatra, Alvar Aalto
101
“O conceito de ilusão surge, assim, associado ao conceito de sensações, insuficientes para o
conhecimento do real mensurável ou do mundo objectivo.” (Consiglieri, 1994:38)
Método topológico
De acordo com Consiglieri (1994:170), “… a topologia estuda as propriedades das figuras
deformadas, as propriedades intrínsecas de cada configuração geométrica e as propriedades
inalteradas pela deformação, ou seja, as propriedades das superfícies curvas contínuas deformadas
ou deformáveis, e não de superfícies curvas comuns achatadas ou destituídas de ângulos, como é o
caso da esfera.”
Sendo a geometria diferencial, um dos ramos da topologia, investigou as “… teorias dos
espaços de conexão, oferecendo hoje possibilidades de conceber e ver o espaço arquitetónico em
esquemas totalmente diferentes – as regiões” (Consiglieri, 1994:170).
Este novo conceito, a região, refere-se a “… uma zona com determinadas características que
a diferem de outras e com uma fronteira a que se chama limite” (Consiglieri, 1994:171). Conforme
Consiglieri (1994:171), o limite pode ser físico ou visual, e permite criar regiões completamente
fechadas, ilimitadas ou subdivididas em pequenas zonas (sub-regiões).
Para a psicologia topológica, “… o espaço é uma dimensão íntima, sem referências métricas”,
em que se estabelece uma nova estrutura, baseada em princípios de cariz qualitativo, que explora a
relação entre o todo e as partes ou entre a pessoa e o ambiente, não num espaço métrico, mas num
espaço de vivência, sendo, portanto, a curva, um dos elementos base da geometria topológica
(Consiglieri, 1994:170).
Assim, Consiglieri (1994:170) esclarece que a topologia é uma ciência de relações espaciais,
que assenta em dois conceitos: a curva de Jordan e a conexão, que vêm substituir as formas
euclidianas.
A conexão consiste, por seu lado, numa “… linha que liga dois pontos no espaço, podendo ser
externa ou interna”, e que exprime, em arquitetura, a noção de fluidez” (Consiglieri, 1994:170).
Figura DC.4. Casa da cascata, F. L. Wright
102
Método fenomenológico
De acordo com Consiglieri (1994:40), “a fenomenologia é uma teoria humanista, ou um método
de continuação das teorias de Kant…” que “… procura as emoções do Homem nos aspetos
transcendentais, abrangendo a dor, o desespero e, fundamentalmente, a angústia, traduzindo-os
através do vazio, do silêncio e da luz/penumbra.”
Para os percussores do método fenomenológico, “… as sensações são estímulos físicos
associados a juízos-julgamentos críticos que constituem a nossa experiência do real…” (Consiglieri,
1994:41).
Na fenomenologia, “… a perceção constitui uma tentativa de reunificar a sensibilidade e o
julgamento crítico do objeto, a emoção subjetiva e o conceito, numa integridade coerente. Pretendeu-
se, assim, fundir os aspetos estéticos subjetivos com os aspetos da vivência humana.”
Esta “… nova conceção filosófica que alterou os conceitos de vivência do espaço efetuado
pelas relações entre o ambiente e o Homem” traduz-se um espaço que não se limita à sua
funcionalidade, antes pelo contrário, abrange “… outros conceitos como carácter ou relações de
identificação” (Consiglieri, 1994:41).
Estes elementos “… pertencem (…) à experiência do gosto e à relação do lugar e do Homem.
É o habitar que depende do conhecimento do espaço existencial e tem um lugar distinto com o seu
viver quotidiano.”
Apesar da morfologia, e da percepção espacial, terem sido alvo de vários estudos e teorias ao
longo do tempo, e de contemplarem conceitos demasiadamente subjectivos, é possível definir, com
um certo rigor, alguns parâmetros e critérios de análise.
Francis Ching compilou, no seu livro “Arquitetura: Forma, espaço e ordem” (2000), alguns
destes conceitos, acrescentando-lhe outros, que considerou importantes: o perfil, ou silhueta; a
transformação da forma, por processo dimensional, subtrativo ou aditivo; a articulação da forma e da
superfície; a unidade de contrários; o plano base, ou pavimento, seja elevado ou deprimido; o plano
elevado, ou teto; os elementos lineares verticais; o plano vertical, solto, em pares, formando um L ou
paralelos, em triplas, formando um U ou em quádruplas, encerrando o espaço; as aberturas; a
organização e as relações espaciais; entre outros, já referidos, como a luz, a proporção, a escala, a
ordem, a simetria, a hierarquia, a pauta, o ritmo e a repetição.
Figura DC.5. Tallesin West, F. L. Wright
103
De acordo com Francis Ching (2000:36), o perfil consiste na aresta perimetral de um plano, ou
de um volume, o que nos permite identificar a sua forma. A nossa perceção dessa forma depende do
grau de contraste visual entre o objeto e o fundo. O autor (2000:36) define que, em arquitetura, os
contornos que mais lhe interessam são: dos planos que confinam o espaço; das aberturas num
contexto espacial encerrado; e das silhuetas das construções.
Francis Ching (2000:38) remete-se para a teoria da Gestalt, constatando que a nossa mente
simplifica o contorno visual, pelo que temos tendência a reduzir as silhuetas das construções a perfis
mais elementares e regulares, como sejam, os três perfis básicos principais: o círculo, o triângulo e o
quadrado.
Quanto aos processos de transformação da forma, partindo-se da manipulação dos sólidos
platónicos, Francis Ching (2000:48) descreve três: o dimensional; o subtrativo e o aditivo.
A transformação dimensional consiste na modificação das dimensões de uma forma, sem que
ela perca a sua identidade, como pertencente a determinada família geométrica.
A transformação subtrativa implica a diminuição de uma parte da forma original, podendo esta
manter-se, ou não, na sua família geométrica.
Figura DC.7. Unidade de habitação, França, Le Corbusier
Figura DC.6. Mesquita Suleymaniye
104
Este processo pode ser utilizado em arquitetura como modo de criar aberturas (janelas ou
portas), entradas de luz ou pátios privados (Ching, 2000:53). Citando Le Corbusier, Francis Ching
(2000:55) refere que a “forma subtrativa” é mais desprendida, procurando expressar no exterior uma
intencionalidade arquitetónica de que no interior se satisfaçam todas as exigências funcionais, como
sejam a entrada de luz, a continuidade e a circulação.
A transformação aditiva, por seu lado, compreende a junção de elementos ao volume original,
conservando-se a nova forma na sua família geométrica, ou não.
Sendo este processo resultado da relação visual ou união física de uma ou mais formas
secundárias a um volume principal (Ching, 2000:56), Le Corbusier (cit. in Ching, 2000:55) definia a
“forma aditiva” como agradável e cheia de movimento, podendo ordenar o espaço mediante a sua
classificação e hierarquia volumétrica.
Conforme Francis Ching (2000:56), as formas aditivas podem-se classificar segundo o tipo de
relação que estabelecem entre si, por tensão espacial, contacto entre arestas, entre faces, ou como
Figura DC.9. II Redentor, Veneza, Andrea Palladio
Figura DC.8. Residência Gwathmey, Nova Iorque, Gwathmey & Associados
105
volumes geminados, ou de acordo com a natureza dessas relações, criando formas centralizadas,
lineares, radiares, agrupadas ou em trama.
No que concerne à articulação da forma (Ching, 2000:78) e das superfícies (Ching, 2000:86), o
autor esclarece que a articulação se prende com o modo como as superfícies de uma forma se unem
para definir o seu volume e contorno, e que essa articulação se pode desenvolver, por um lado, de
modo a expressar a individualidade visual das superfícies: mediante a diferenciação de superfícies
adjacentes, por mudança de material, cor, textura ou modelação, o uso de vértices como elemento
diferenciador do carácter independente das superfícies, a eliminação dos vértices que separam
fisicamente planos contínuos ou a iluminação da forma a fim de criar, nas esquinas, distintos matizes
de luz e sombra; ou, por outro lado, por uma continuidade das superfícies, estendendo, para além
dos limites da forma, um material, cor, textura ou desenho, diminuindo ou eliminando a sua
individualidade, fazendo sobressair o volume da forma.
Para tal, Francis Ching (2000:81) estudou as esquinas e as arestas, e a perceção do perfil, do
tamanho, da escala, da proporção e do valor visual de um plano (Ching, 2000:86).
Assim, contrapondo o cromatismo de um plano ao do contexto, pode-se articular a sua forma
aumentando ou diminuindo o seu valor visual (Ching, 2000:86). Através da inserção de elementos
com dimensões conhecidas, torna-se mais eficaz a perceção do tamanho e da escala de um plano
(Ching, 2000:86). A textura e a cor de um plano influenciam o seu peso visual, a sua escala e os
seus graus de absorção e reflexão lumínea e acústica (Ching, 2000:86).
Por fim, é possível exagerar ou modificar a forma e a proporção de um plano ao cobri-lo com
um modelo ou pauta ótica (Ching, 2000:86).
Figura DC.10. Detalhe do santuário Izumo, Japão
106
Segundo Francis Ching (2000:94), tendemos a organizar os elementos integrantes do campo
visual em dois grupos: os elementos positivos, que se percebem como figuras, e os negativos, que
lhes proporcionam um fundo. A perceção e compreensão que temos de uma composição dependem
da interação visual entre estes elementos positivos e negativos, não existindo uma sem a outra, pelo
que integram uma realidade inseparável, ou seja, uma unidade de contrários (Ching, 2000:94).
Numa relação entre exterior e interior, conforme cataloga Francis Ching (2000:96), podem-se
definir os seguintes espaços: o exterior positivo, limitado por um muro e as paredes da construção; o
pátio ou átrio interior, rodeado pela construção; o interior e o exterior privado, fundidos num só e
limitados por muros; o espaço exterior privado que rodeia a construção, estando limitado por meio de
muros; o exterior público dominado por uma forma distinta, com destaque, e o que se distingue por
meio de uma fachada extensa, que o define; e o exterior público sem uma forma.
O plano horizontal pode ser de dois tipos: ou é um plano base, ou pavimento, ou é um plano
elevado, ou teto (Ching, 2000:99).
Figura DC.12. Taj Mahal, Índia
Figura DC.11. Edifício em Vincent Street, Londres, Sir Edwin Lutyens e Banco Fukuosa Sogo, Arata Isozaki
107
O plano base pode sobressair do plano envolvente por uma mudança de cor ou textura, ou por
contraste formal (círculo ou quadrado/retângulo rodado), destacando, por exemplo, uma trajetória, ou
circulação, de um espaço de estar (Ching, 2000:100).
Se o plano base for elevado, interrompe-se, ou não, o fluxo espacial que o cruza, dependendo,
o grau de descontinuidade, da sua altura: se for baixo, mantém a continuidade espacial e visual, e o
acesso físico adequa-se com facilidade; se estiver quase ao nível dos olhos, conserva uma certa
continuidade visual, mas rompe-se a espacial, pois o seu acesso depende de escadas ou rampas,
tornando-se num espaço de refúgio e observação; e, por fim, se for mais elevado é interrompida a
continuidade visual e espacial, pelo que esse plano se transforma, ao mesmo tempo, num pavimento
e num teto, protegendo o espaço que lhe fica por baixo (Ching, 2000:103).
De igual maneira, o plano deprimido pode-se destacar pela mudança de cor ou textura, ou por
contraste formal geométrico ou de orientação, e o seu grau de continuidade com o campo envolvente
depende de ser mais ou menos rebaixado, assim como a privacidade e o nível de refúgio e proteção
que proporciona (Ching, 2000:108).
Figura DC.13. Rua em Woodstock, Inglaterra e Casa de vidro, Connecticut, Philip Johnson
Figura DC.14. Sofá
108
O plano elevado delimita espaços, pois abaixo de si mesmo dispõem-se visualmente formas,
campos e ambientes (Ching, 2000:117). Se tratar-se de uma cobertura, varia consoante os materiais,
a dimensão e a geometria do seu sistema construtivo, se for um teto, altera-se, também, por efeito da
forma, da cor, da textura e da sua modelação, que pode cumprir requisitos acústicos. Para modificar
a proporção de um ambiente, destacar uma circulação, direção ou orientação, ou para permitir a
entrada de luz, os tetos podem-se subir ou baixar, conforme o que mais convém (Ching, 2000:118).
Os elementos lineares verticais articulam o espaço envolvente e criam uma série de relações
com o encerramento, ou não, do espaço interno, para além de o dividirem centralmente, em partes
iguais, ou de modo descentrado, com campos hierarquicamente distintos por tamanho, forma ou
situação (Ching, 2000:122).
Duas colunas bastam para definir um plano, transparente, que surge da tensão visual entre
ambas, mas um conjunto de três ou mais pode descrever um ritmo e um volume, e transformar o seu
grau de encerramento (Ching, 2000:123).
Figura DC.16. Mosteiro de Santa Maria de Tourette, França, Le Corbusier
Figura DC.15. Casa na Costa de Massachusetts, Stubbins
109
Para Francis Ching (2000:130), o plano vertical pode aparecer solto, aos pares, formando um
L ou em paralelo, em grupo de três, moldando um U, ou em quatro, encerrando o espaço.
A cor, a textura e o tipo de superfície influencia a perceção que se tem do seu valor visual, da
sua proporção e das suas dimensões (Ching, 2000:131).
As várias conjugações e disposições dos planos verticais vão influenciar na leitura e no grau
de encerramento, de privacidade e proteção de um espaço e no enfase, ou não, de uma determinada
direção ou circulação, principalmente no caso dos planos paralelos ou em L (Ching, 2000:134).
Em qualquer construção convém, de acordo com Francis Ching (2000:158), a existência de
aberturas nas suas superfícies, sejam elas portas ou janelas. Estas aberturas diminuem o grau de
encerramento do espaço, mas permitem o seu acesso e circulação, as vistas, a entrada de luz e a
ventilação natural (Ching, 2000:158).
Francis Ching (2000:159) define algumas modalidades básicas de aberturas: as que ficam
dentro dos planos (centradas, descentradas, agrupadas, embutidas ou claraboias), as que estão nas
Figura DC.18. Prefeitura de Shimané, Japão
Figura DC.17. Casa das bodas de prata, Pompeia
110
esquinas (numa aresta, entre arestas, contornando a esquina, agrupadas ou claraboias) e as que se
encontram entre planos (verticais, horizontais, aberturas a ¾, paredes envidraçadas ou claraboias).
Em relação às aberturas que ficam dentro dos planos, resultam em formas que brilham em
contraste com o fundo, e transmitem a sensação de estabilidade se estiverem centradas, ou criam
tensão visual, se forem descentradas (Ching, 2000:160). Podem ganhar destaque e individualidade
se a sua forma e orientação contrastarem com o plano ou se forem delimitadas por uma moldura
grossa (Ching, 2000:160).
As aberturas em esquinas imprimem à superfície uma orientação em diagonal, servindo para
destacar uma vista com interesse ou iluminar uma esquina obscura (Ching, 2000:162). Reforçar a
identidade dos planos que as albergam e estimulam a modelação, utilização e circulação obliqua, ou
na diagonal, no espaço (Ching, 2000:162).
As aberturas entre planos tornam as superfícies mais soltas e individualizadas, vinculam uma
maior relação com os espaços adjacentes, dando-lhes uma maior continuidade e acentuam uma
direção, seja ela centrada ou descentrada (Ching, 2000:164).
Associada ao estudo das aberturas surge a investigação sobre a luz (Ching, 2000:170). Para
Francis Ching (2000:171), a luz transmite às superfícies e às formas que ilumina as alterações de cor
e de disposição que acontecem no céu e no tempo atmosférico. O autor (2000:171) acrescenta que a
luz, que ilumina as superfícies interiores de uma habitação, aviva as suas cores e as suas texturas e
que as variações entre luz e sombra, que a própria luz comporta, fazem com que a iluminação seja
um fator revivificador do espaço, articulando as formas nele contidas. Estudando a sua intensidade e
a sua distribuição dentro de uma habitação, torna-se evidente que a luz pode clarificar as formas
espaciais ou, pelo contrário, deformá-las, assim como, tanto cria um ambiente agradável, como um
refundido e sombrio (Ching, 2000:171).
Figura DC.19. Casa Amédée Ozenfant, Paris, Le Corbusier
111
Quanto à organização do espaço, Francis Ching (2000:178) define o espaço dentro de outro;
os espaços conexos, quando têm uma área compartilhada; os espaços contínuos; e os espaços
vinculados por outro, comum a ambos.
Enquanto a escala se refere ao tamanho de um objeto, comparado com outro, a proporção
remete-se para a justa e harmoniosa relação da parte com o todo, ou com outras partes (Ching,
2000:278).
São exemplos de proporções, as estruturais e os sistemas de proporcionalidade, como a regra
de ouro, as ordens, o modulador, o ken, as proporções antropomórficas ou a escala visual, dada pela
comparação e contraste de elementos dentro do todo, nomeadamente as janelas com dimensões
iguais, que se repetem numa fachada, estabelecendo com ela uma escala relativa (Ching, 2000:278).
Dentro dos princípios ordenadores da forma encontramos o eixo, a simetria, a hierarquia, a
pauta, o ritmo, a repetição e a transformação (Ching, 2000:321).
O eixo consiste numa reta definida por dois pontos no espaço, em torno da qual se dispõem as
formas e os espaços, essencialmente de maneira simétrica e equilibrada (Ching, 2000:321).
A simetria refere-se à distribuição e organização equilibradas das formas e espaços iguais em
lados opostos a um eixo, reto ou plano (Ching, 2000:321).
A hierarquia é a articulação segundo a relevância ou significado de uma forma ou espaço, pela
sua dimensão, forma ou situação relativa a outros (Ching, 2000:321).
O ritmo constitui um movimento unificador, caracterizado pela repetição ou alternância de
elementos formais idênticos (Ching, 2000:321).
A pauta é uma linha, plano ou volume que, devido à sua continuidade e regularidade, reúne,
acumula e organiza um modelo de formas e espaços (Ching, 2000:321).
A transformação consiste no princípio a partir do qual uma ideia, estrutura ou organização
arquitetónicas se modificam, devido a uma série de manipulações e mudanças descontínuas, em
resposta a um contexto ou enunciado.
Figura DC.20. Casa Kaufmann (ou da cascata), F. L. Wright
112
3.3. NOÇÃO DE “HABITAR” E DE ESPAÇO DOMÉSTICO
“O indivíduo vai investir no seu habitat, ou seja, vai pôr muito em si mesmo para construir “a
sua casa”, o “seu canto”. (…) De um local mais ou menos banal, ele fará um lugar de vida
personalizado: moldá-lo-á, inscreverá as suas marcas, definirá as suas referências. (…) A “sua casa”,
o “seu canto”, torna-se então um espaço apropriado.” (Elian Rjaqui, Informations Soociales, 1992, cit.
in Leitão, 2008:61)
De acordo com Amos Rapoport (1995:30), para alguns arquitetos e autores, “(…) the dwelling
unit is a setting for the family in which maximum control may be exerted allowing self-expression and
leading to feelings of security”, pelo que se depreende que a casa deve ser um espaço flexível, não
se impondo aos seus habitantes de modo rigidamente delimitado e organizado nem condicionando a
sua existência, pelo contrário, permitindo a sua apropriação por parte de quem a habita.
3.4. NECESSIDADES HUMANAS E EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS
“A evolução característica da nossa época altera, a ritmo acelerado, os modelos de vida
recriando hábitos e necessidades, o que implica um reajustamento constante das maneiras de viver.”
(Valente, 1984:3)
Segundo Maria da Luz Valente Pereira (1984), devido à revolução industrial, as cidades
cresceram em número de pessoas, pobres, vindas dos meios rurais, pelo que a “… necessidade de
construir para todos (…) trouxe condicionamentos económicos…”, pretendendo-se, portanto, “…
economia na construção, no uso do solo urbano…”, e nos gastos de equipamentos, utilização e
manutenção que a casa exigia aos seus moradores. De acordo com a mesma autora, as casas
tornaram-se mínimas, condicionantes da vida familiar, onde as funções foram reduzidas ao
estritamente essencial, pois “o arquitecto não precisava de conhecer as necessidades reais dos
futuros utentes das casas (…), ele determinava essas necessidades e exprimia-as no próprio
desenho.” Valente (1984:8) conclui, então, que não só estas medidas não satisfizeram a população,
tornando a sua vida quotidiana difícil, como “… se verificou uma transferência dos antigos hábitos
rurais ou de uso das barracas para casas que exigiam formas de viver mais evoluídas.”
Consequentemente, vários autores elaboraram estudos sobre as funções e as áreas mínimas
no habitar, procurando soluções equilibradas, que garantissem algum conforto e qualidade do
espaço doméstico.
Nuno Portas (1969:20) organizou uma lista de funções e actividades associadas à habitação, à
qual J. Branco Pedro (2002:12) acrescentou outras funções, sistemas e atividades.
113
QUADRO 1_ LISTA DE FUNÇÕES E ATIVIDADES DA HABITAÇÃO
Função Atividade
Dormir/descanso pessoal . Dormir ou descanso 1
. Ler, ver televisão
. Fazer a cama
. Tratar de doentes ou crianças
. Vestir-se/despir-se e arranjar-se
. Arrumar roupas, etc.
. Conversar ao telefone
Preparação de refeições . Guardar e conservar alimentos 2
. Preparar alimentos
. Cozinhar alimentos
. Lavar loiça
. Arrumar loiça
. Eliminar lixo
Refeições correntes . Pôr a mesa e servir alimentos 3
Refeições formais . Comer 4
. Levantar a mesa
Estar/reunir . Descansar 5
. Conversar, jogar, ler, etc.
. Ver televisão
. Ouvir música
. Tocar instrumentos musicais
Estar/receber . Apresentar e acompanhar visitas 6
. Servir aperitivos/bebidas
. Actividades referidas no ponto (5)
Recreio de crianças . Brincar 7
. Vigiar e tratar de crianças
Estudo/recreio dos jovens . Estudar 8
. Utilizar computador pessoal
. Reunir amigos
. Actividades referidas no ponto (5)
Trabalho/recreio dos adultos . Estudar 9
. Trabalhar
. Utilizar computador pessoal
. Actividades referidas no ponto (5)
Tratamento de roupa: . Passar a roupa 10
a) Passar a ferro . Limpar a roupa
b) Costurar . Arrumar a roupa
. Costurar à mão ou à máquina
Lavagem de roupa . Lavar à máquina 11
. Lavar à mão
Secagem da roupa . Secar na máquina 12
. Estender e apanhar roupa
Higiene pessoal . Lavar as mãos e rosto 13
. Tomar banho ou dar banho a crianças
. Vestir-se/despir-se, arranjar-se, fazer a barba
. Excreções
. Proceder a curativos
114
. Lavar roupa pequena à mão
Permanência no exterior privado . Descansar, solário 14
. Reunir
. Cuidar de flores ou animais
. Estar/jogar ao ar livre
Circulação: . Entrar e sair da habitação 15
a) Entrada e saída . Vestir/despir vestuário de exterior
. Atender pessoas estranhas à porta
. Esperar e receber visitas
b) Comunicação/separação . Circular entre zonas/compartimentos
. Separar zonas/compartimentos
Arrumação . Arrumar objectos volumosos e de uso eventual 16
. Arrumar alimentos e produtos de limpeza
. Arrumar roupa de casa
Estacionamento de veículos . Estacionar veículo 17
. Entrar e sair do veículo
. Arrumar utensílios de manutenção do veículo
Apesar do cumprimento das exigências funcionais não implicar apenas a satisfação de áreas
mínimas, pois o conforto também se refere, entre outras coisas, às questões térmicas, da iluminação,
da acústica e da segurança, a investigação desenvolvida incide principalmente sobre os problemas
das funções e das áreas.
Segundo Portas (1969:7), “… as quantidades de espaço ou equipamento são (…) função de
exigências físicas das actividades e estas das características antropométricas e mecânicas das
acções” e que, portanto, existem outras exigências, do tipo psicossomático, às quais nem sempre o
espaço mínimo consegue satisfazer, e que não são de fácil quantificação.
Portas (1969) desenvolveu um estudo sobre as áreas mínimas e as áreas desejáveis numa
habitação, partindo da análise do mobiliário necessário em cada espaço para responder às funções e
tarefas aí realizadas. Pedro (2002) actualizou o quadro de áreas, para os parâmetros e exigências da
actualidade.
Conforme constata Portas (1969:9), o espaço mínimo exigido numa habitação “… não pode
corresponder ao simples somatório das áreas parcelares determinadas para cada função, não só
porque depende do grau de privacidade interna que possibilite a forma de compartimentação do
espaço mas também porque, a este nível global os moradores têm da casa uma imagem ou
representação valorativa…”
Deve no entanto assinalar-se que este estudo não se centra nestes nem noutros interessantes
tópicos do programa habitacional, como seria o caso da noção de espaço mínimo de habitabilidade
ou da relação compartimento/função, apenas os menciona em atenção à inter-relação e
interdependência de todos estes aspetos quando se analisam tipologias habitacionais, ainda que nas
suas vertentes mais formais.
115
3.5. NÍVEIS DE INTERVENÇÃO
Aguiar e alt. (1997:120) classificam quatro níveis de intervenção possíveis na reabilitação de
um edifício, mediante o seu grau de protecção e o seu estado de degradação:
Nível 1: Reabilitação ligeira
Este nível de reabilitação aplica-se em situações em que o estado de conservação geral do
edifício é satisfatório ou razoável, consistindo apenas em pequenas reparações e melhorias das
instalações e equipamentos pré-existentes nos fogos, como sejam a casa de banho e a cozinha.
Estas obras podem compreender: melhoria das condições interiores de iluminação, ventilação e
exaustão; limpeza e reparação geral das coberturas, assim como dos sistemas de condutas de
águas pluviais e esgotos; pequenas reparações nos rebocos e na pintura; reparação das caixilharias
e de elementos metálicos afectados pela corrosão; limpeza dos esconsos e caixas-de-ar; e melhoria
das instalações eléctricas e da iluminação artificial. Cerca de 1/3 do custo de uma obra nova
semelhante;
Nível 2: Reabilitação média
Neste nível temos, para além das alterações referidas no nível 1: reparação ou substituição de
parte dos elementos de carpintaria; reparação e reforço estrutural pontual; reparação de alguns
revestimentos; substituição da instalação eléctrica; melhoria nas partes comuns do edifício;
pequenas transformações na organização do espaço interior, como ampliação de um compartimento
pela junção com outro; e melhoria das condições funcionais e ambientais dos compartimentos,
nomeadamente na casa de banho e na cozinha, que podem ser reestruturadas ou reconstruídas.
Cerca de 2/3 do custo de uma obra nova semelhante;
Nível 3: Reabilitação profunda
Chegamos a este tipo de intervenção se, para além dos trabalhos referidos anteriormente,
forem necessárias modificações que impliquem demolição ou reconstrução significativa de partes do
edifício, tais como: profunda redistribuição e reorganização dos espaços interiores, com possível
aumento ou diminuição no número de fogos; e criação ou adaptação de espaços para introduzir
instalações e/ou equipamentos inexistentes. Custo idêntico ao de uma obra nova semelhante;
Nível 4: Reabilitação excepcional
Inclui intervenções de grande profundidade, geralmente em edifícios com valor patrimonial, tais
como: recurso a técnicas de restauro; reconstrução total do edifico, modernizando algumas partes;
ou reabilitação total do edificado para patamares elevados e bastante superiores aos actuais. Custo
superior ao de uma obra nova semelhante.
116
3.6. CRITÉRIOS PARA A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS INTERIORES
A reconversão de um edifício, conservando a sua função habitacional, pode exigir pequenas
ou grandes alterações na sua organização, de modo a garantir as novas necessidades e exigências
do habitar contemporâneo. Aguiar e alt. (1997:148) catalogam as adaptações interiores dos edifícios
antigos em quatro ordens:
Redefinição tipológica
Com diminuição do número de fogos: Resulta de uma reestruturação interna do edifício,
passando pelo agrupamento de alojamentos demasiado pequenos num só, de maiores dimensões.
Pode optar-se por um reagrupamento horizontal, quando se juntam fogos num mesmo piso; ou por
um reagrupamento vertical, quando se unem fogos em pisos diferentes, criando habitações em
duplex. Opta-se, normalmente, por esta solução quando o reagrupamento horizontal apresenta
problemas estruturais ou de ventilação/iluminação natural;
Com aumento do número de fogos, por subdivisão:
Consiste na transformação do interior do edifício por densificação do número de fogos, o que
pode levar a problemas de sobreocupação. Implica muitas alterações na organização dos espaços,
como por exemplo a reprodução das instalações e equipamentos existentes. Não se deve
comprometer a dupla orientação das fachadas; não se devem criar espaços interiores sem ventilação
e iluminação natural, e deve-se garantir o bom funcionamento das circulações verticais;
Compartimentação de espaços
Em tecidos históricos antigos, onde, por norma, os compartimentos das habitações já são de
dimensões reduzidas, não se aconselha este tipo de intervenção. Exceptuam-se os casos de
transformação de um compartimento em Instalações sanitárias ou em arrumos;
Ligação e/ou articulação entre espaços
Através da conjugação de compartimentos, abrindo vãos e eliminando divisórias, consegue-se
um menor número de fogos, mas de maiores dimensões, capazes de responder às novas exigências,
particularmente: a coexistência da sala de estar com a de refeições; cozinha, ou espaço próximo,
com capacidade para albergar as refeições correntes e o tratamento de roupas; espaço para a
colocação de equipamentos electrodomésticos, assim como locais para trabalho, estudo e/ou
actividades lúdicas. Assim, ainda se promove uma maior conformidade com os regulamentos actuais.
Acrescento de novos espaços ou eliminação de outros
Consiste, comummente, em adicionar à construção já existente novos espaços na fachada de
tardoz, o que deve ser evitado devido à excessiva densidade de ocupação do solo. Excecionalmente,
pode ser aplicada para criar espaços com funções vitais, inexistentes e imprescindíveis, como seja a
I.S., em habitações com reduzida área. O acrescento deve-se resumir ao interior dos logradouros, e,
117
por exemplo, à introdução de varandas, à construção de prumadas sanitárias, à ampliação de
cozinhas ou outros espaços já existentes, ou à criação de arrecadações.
3.7. OS JOVENS
De forma a compreender melhor as necessidades dos jovens, e devido à escassez de estudos
sociológicos sobre o assunto, consultou-se junto de profissionais que desenvolveram projectos neste
âmbito, quais as condicionantes que sentiram no seu trabalho, designadamente as de carácter
espacial.
Apesar do programa que propuseram para a EPUL Jovem em Entrecampos não ter a intenção
de criar uma nova forma de viver para os jovens, os Promontório referem que, numa primeira fase,
realizaram estudos sobre os novos modos de habitar. Contudo, acabaram por abandoná-los, pois
concluíram que “as necessidades dos jovens são iguais às de toda a gente”, pelo que “as casas
resultam até bastante convencionais”.
João Rego, autor dos projetos da EPUL Jovem de Alfama e Lapa/Campo de Ourique, refere
que a principal justificação para a reabilitação vocacionada para os jovens é a questão económica,
pois os jovens “sujeitam-se mais facilmente a piores condições”, como sejam a má acessibilidade,
áreas reduzidas e acabamentos pobres. Rego afirma ainda que os jovens se adaptam com
facilidade, pelo que seria interessante a casa reflectir essa capacidade, mas os custos controlados,
assim como os regulamentos impostos, não permitem “grandes criações”.
3.7.1. ÁREAS MÍNIMAS: TIPOLOGIAS T0 E T1
João Freire, engenheiro civil responsável pelos projetos de estabilidade dos casos de Oeiras e
Paço de Arcos, aponta as tipologias T0 e T1 como as mais apropriadas para os jovens, visto um
casal realizar adequadamente as suas tarefas diárias em pouco espaço, sem que a privacidade de
cada um fique comprometida.
Os Promontório referem as tipologias T0 e T1 como as soluções preferenciais dos programas
da EPUL Jovem, sendo que no projecto de Entrecampos já estava definido o número de habitações
de cada tipologia. “Para rentabilizar o espaço pensámos em áreas mínimas e económicas”, refere
Pedro Torres, arquiteto no atelier.
Rego afirma que os seus projectos têm como “base a ideia das áreas mínimas”, que considera
“o suporte do pensamento gerador de apartamentos para jovens”. Rego explica que as habitações
nos centros históricos têm “divisões por si só pouco espaçosas”, o que torna as casas adequadas ao
contexto da reabilitação para jovens.
3.7.2. ADAPTABILIDADE
Rego é o que mais aprofunda esta questão, sugerindo que “os jovens adaptam-se bastante
bem a espaços flexíveis” e que “seria interessante os apartamentos terem paredes movíveis que
permitissem obter espaços diferentes conforme o pretendido”, nunca desligando das áreas mínimas.
118
Rego refere ainda que os jovens dão “menos importância a pormenores como a cozinha estar
ou não ligada/integrada na sala”, mas que “apreciam a separação do(s) quarto(s) e do WC do resto
da casa”.
Enquanto Freire defende que as kitchenettes são uma opção válida na rentabilização das
áreas e adequadas à vivência dos jovens, os Promontório optam por soluções com cozinha separada
da sala, portanto autónoma, que “conforme a tipologia está mais ou menos integrada na sala”.
Os Promontório referem a preocupação com a adaptabilidade do espaço, pelo que “as paredes
nos interiores dos fogos são em pladur, para que se possa com facilidade passar de um T1 para um
T0, ou então, para que facilmente a cozinha passe a estar dentro da sala, porque a parede que as
separa desaparece”.
3.7.3. ACESSIBILIDADE
Os problemas de acessibilidade afectam principalmente pessoas de mobilidade condicionada,
e reside em dois âmbitos: o urbano e o do próprio edifício.
Ao nível urbano, Rego remete-se para o facto da generalidade dos bairros históricos serem em
ruas estreitas e inclinadas, muitas vezes sem estacionamento, o que dificulta o acesso via carro.
No que concerne aos edifícios, Rego afirma que estes normalmente “não têm condições para
adaptar elevadores” e que “raramente se consegue alterar o tipo de escada íngreme, com degraus
altos e estreitos, e de lanços longos”. Por outro lado, devido às dimensões reduzidas das habitações,
muitas vezes optam-se por soluções em duplex, com os quartos separados do resto da casa, “o que
do ponto de vista das pessoas com mobilidade condicionada não é uma boa opção”.
Assim sendo, Rego considera que as habitações em centros históricos, pelas dificuldades que
têm de acessibilidade, são mais facilmente ocupadas por jovens, que não tenham problemas de
locomoção.
3.7.4. ECONOMIA
A maioria dos profissionais refere as questões económicas como a mais forte condicionante ao
projecto de reabilitação de casas para jovens. Rego menciona que “as opções tomadas nos projectos
estão mais ligadas a questões económicas e não de vivência do espaço”, e que “projectar para os
jovens implica custos controlados”.
Carrilho, arquiteto responsável pelo departamento de projetos especiais da CMO, onde se
desenvolveram os casos de estudo de Oeiras e Paço de Arcos, revela que um dos requisitos para
que a Câmara Municipal de Oeiras adquira um edifício para reabilitação no âmbito do programa
habitação jovem é que os custos da operação sejam razoáveis: desde os valores de aquisição até ao
custo de todo o processo de reabilitação.
Também os Promontório sentiram as condicionantes económicas impostas pela EPUL Jovem.
Como houve um maior investimento na urbanidade dos espaços públicos, “para os fogos/interiores
as maiores preocupações foram as questões económicas… utilizar ao máximo o standard… o que já
existe no mercado”. Utilizaram, para a fachada, elementos em betão pré-fabricado, estandardizados,
de encaixes simples e mais económicos, o que permitiu, por outro lado, conferir uma maior dignidade
119
à imagem do edifício, “sem ficar conectado ao pobrezinho”. Nos interiores optaram por paredes em
pladur, que conjugam a adaptabilidade do espaço à sua economia.
121
4.0. LISBOA E OEIRAS: UM OLHAR SOBRE A FORMA
4.1. UM ENSAIO E UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A FORMA
Tendo esta dissertação como objetivo estudar aspetos da morfologia e da configuração espacial,
reservou-se este capítulo para, servindo-se dos casos anteriormente descritos e analisados e com
base na aplicação de alguns dos conceitos abordados por Francis Ching, em “Arquitetura: Forma,
espaço e ordem” (2000), testar alternativas neste mesmo campo formal às soluções encontradas pelos
vários arquitetos, segundo as próprias categorias estabelecidas por este autor, no seu livro.
Em momento algum foi intenção deste trabalho por em causa as decisões tomadas pelos
projetistas, nos respetivos projetos e obras, nem partir do prossuposto, ou pretensão, de vir a
apresentar propostas melhores, mais interessantes, rigorosas ou consistentes.
Se elaborar um só projeto desta dimensão demora tempo e requer um estudo aprofundado de
todas as suas circunstâncias e condicionantes, não só formais mas também programáticas,
normativas, construtivas, económicas, etc., fazê-lo, numa dissertação, para nove projetos distintos, e
de grande complexidade, seria tarefa inglória e desproporcionada.
Assim, livre destes constrangimentos e focando-se, maioritariamente, nos aspetos inerentes ao
ensaio e à investigação formal a que se propõe, este trabalho ambiciona apenas discorrer nas diversas
possibilidades que o estudo da forma pode abrir, ou não, ao projeto de arquitetura, verificando a sua
aplicabilidade, num âmbito espacial e arquitetónico, ensaiando-se um leque de sugestões formais
alternativas no condicionado contexto de reabilitação do espaço doméstico para jovens, ciente que
nem uma nem outra destas condições se afigura antagónica do exercício de imaginação, pelo
contrário.
Num contexto de intervenção em tecido histórico patrimonial, não se aplica uma grande parte
das rubricas arquitetónicas desenvolvidas por Francis Ching, que incidem maioritariamente sobre obra
nova e construção isolada, bem diferente, portanto, dos casos encontrados e estudados.
Motivado, talvez, pela condição dos destinatários destas operações de reabilitação serem os
jovens, teoricamente mais abertos à novidade, este trabalho procurou testar a persistência de graus de
liberdade compositiva arquitetónica, mesmo em contextos especialmente condicionados em termos
urbanísticos, de malha urbana consolidada, como é o caso da reabilitação em zonas históricas.
Embora deparando-se com todas estas limitações, este trabalho encontrou, abordados no livro
“Arquitetura: Forma, espaço e ordem”, de Francis Ching (2000), conceitos universais à arquitetura, que
poderão encontrar espaço num ensaio e numa investigação sobre a forma, que se debruça sobre
situações de reabilitação.
4.2. FORMA, ESPAÇO E ORDEM: APLICAÇÃO DE CONCEITOS AOS CASOS DE ESTUDO
A propósito do ensaio sobre perfis e silhuetas que Francis Ching (2000:34) elabora no seu livro,
observou-se que a maioria dos casos analisados termina em telhado, pelo que o seu contorno, e a sua
cobertura, adotam uma forma triangular, que se adapta ao cumprimento da sua função: proteger o
interior das intempéries e escoamento das águas da chuva.
Ora apesar de semelhantes, estes perfis permitem grande distinção entre eles, variando, por
exemplo, segundo a inclinação e o número de águas que cada telhado tem.
122
Ao explorar os desenhos de contornos que o autor (2000:37) vai apresentando, investigou-se
igualmente a possibilidade dos telhados destes edifícios terem outra finalização, como por exemplo, a
acentuação das inclinações das águas, procurando um maior aproveitamento do espaço de sótão; o
terminar em terraço ou em cobertura ajardinada; ou, por desistência da forma triangular e retangular,
dar-lhe uma outra, talvez curva, conforme acontece no PA4. Embora não referidas diretamente por
Ching, parece concernente a ele agregar a terminação em forma trapezoidal, como nas mansardas, ou
a de configuração esconsa e/ou deformada.
O contorno do PA4, já de si especial por ter uma parte em escada, adquire, com o projeto de
alteração proposto pela CMO, um novo perfil, onde a forma triangular prévia do telhado dá lugar a uma
nova, arredondada e com uma linguagem mais contemporânea.
Analisando-se o caso do OE2, onde se manteve um edifício pombalino, acoplando-se-lhe uma
construção mais recente de linguagem contemporânea, observa-se que o seu contorno revela a clara
distinção entre o novo e o antigo, pois na continuação do perfil triangular do edifício pombalino emerge
o recorte da estrutura nova, lembrando as ameias de um castelo, e que protege a privacidade dos
pátios que esconde.
Ching (2000:36) menciona que a perceção do perfil de uma forma depende do grau de contraste
visual entre essa forma e o seu fundo, e que pode ser acentuado através de jogos de cor. Aplicando
esta noção ao caso OE2, poder-se-ia acentuar o seu contorno atual escurecendo o azulejo vermelho
da parede do fundo do pátio, aumentando assim o seu contraste, ou, então, pintando-o no mesmo tom
de azul do céu, confundindo num só, estes dois planos de fundo.
Este projeto, também da autoria da CMO, consiste num exemplo do modo diferenciado como se
pode fechar um edifício, debruçando-se sobre o desenho do seu perfil.
Nos projetos de alteração propostos pela CMO para o OE1, OE2 e PA2 aplica-se o conceito da
forma como resultado de uma transformação de outras formas mais simples (Ching, 2000:48), por o
processo de reabilitação não ter imposto a total manutenção do desenho e dos volumes originais,
diferenciando-se, assim, dos outros casos de estudo, onde se compreendem as limitações formais
resultantes deste tipo de procedimento.
Analisando o OE1 à luz dos conceitos mencionados por Francis Ching (2000:56), apercebemo-
nos que a sua forma prévia surgiu da adição de diversos volumes geminados, em que o seu interior se
unia através de sobreposições e penetrações. A proposta da CMO contempla a subtração do miolo e
Figura AC.1.
123
de parte da fachada do edifício que fica ao lado do museu, mantendo apenas as escadas, que passam
a estar destapadas, e a frente do primeiro piso, o que salvaguarda a privacidade do núcleo de acessos
verticais. Seguindo os critérios de transformação da forma, no que respeita ao processo de subtração
(Ching, 2000:52), experimentou-se escavar na totalidade o volume mencionado, conservando também
as escadas.
Cruzando estes conhecimentos com outros sobre elementos verticais lineares (Ching,
2000:122), estudou-se a possibilidade de demarcar o volume pela cércea original, encerrando-o com
palas verticais. O efeito obtido resulta num espaço onde não é necessário um contexto espacial mais
amplo para o definir, sustentando, com ele, uma relação de total liberdade espacial (Ching, 2000:123),
e conjugando a manutenção da privacidade dos acessos, com alguma transparência e abertura à
envolvente.
Ainda no caso do OE1, o edifício do museu resulta da união entre um dos edifícios do lote 38 e o
do 28, formando uma só construção geminada e originada através de uma transformação por adição
de volumes.
Figura AC.2.
Figura AC.3.
124
No que concerne ao caso do OE2, este apresenta uma construção nova, que se adicionou ao
edifício pombalino, relacionando-se com ele por um contacto superficial (Ching, 2000:56), em que os
pátios dão acesso ao interior dos fogos. A nova construção partiu de um volume paralelepipédico, que
foi sendo “escavado” de modo a criar entradas e aberturas de luz, permitindo, de acordo com Francis
Ching (2000:55), desenvolver uma forma desprendida, em que o exterior confirma uma clara intenção
arquitetónica de no interior satisfazer todas as exigências funcionais, como sejam a entrada de luz, a
circulação e a continuidade entre o exterior e o interior.
Também aqui, encontramos um exemplo do modo diferenciado como a transformação da forma
pode influenciar as decisões de projeto, tornando-se numa ferramenta que disponibiliza um variado
leque de opções.
O projeto de alteração do PA2 envolve igualmente duas situações de transformação por adição,
seguida por subtração.
As varandas que existiam inicialmente tinham sido fechadas em marquise pelos moradores, para
acrescentar/adicionar volumes suspensos com as I.S. A proposta da CMO visa retirar as marquises,
subtraindo-as à fachada de tardoz e retomando a ideia das varandas. Escortinando os processos de
transformação por adição (Ching, 2000:57) e, de dentro destes, a forma agrupada (Ching, 2000:66),
experimentou-se manter uns volumes adoçados a esta fachada, substituindo algumas varandas, e
procurando uma linha linguística e esteticamente coerente entre eles. Por aplicação dos conceitos do
livro de Francis Ching (2000:66), estas consolas consistem em formas que podem conter,
hierarquicamente agrupadas ou não, diferentes dimensões, orientações e ritmos.
Juntando a estes, outros conhecimentos obtidos pelo estudo das aberturas (Ching, 2000:158),
exercitaram-se algumas possibilidades de conjugações entre os planos das paredes, do pavimento e
do teto, com as entradas das portas e das janelas.
A primeira experiência consistiu em reproduzir as aberturas já existentes, trazendo-as para o
plano da consola.
O ensaio seguinte procurou aplicar o estudo sobre as aberturas nos planos (Ching, 2000:160),
mantendo a leitura da fachada prévia por uso de um plano transparente, limitado por um aro grosso, e
que conserva a forma intacta e percetível.
Figura AC.4.
125
Aplicando do conceito de aberturas nas esquinas, que Francis Ching explora (2000:162), surgiu
uma forma mais fragmentada, que aumenta a continuidade visual e a vinculação a outros espaços
contínuos, neste caso com o logradouro nas traseiras do edifício, proposto pela CMO como jardim.
Finalmente, por observação e análise das aberturas entre planos, sugeridas por Francis Ching
(2000:164), experimentaram-se duas alternativas. A primeira, com a abertura centralizada, que divide o
plano da parede em dois e que mantém a forma intacta e percetível. A segunda, com uma abertura
descentrada, quase na esquina dos planos, e que cria uma ideia de maior individualidade da forma,
perdendo o sentido de encerramento do espaço, por este ser mais difuso. Ambas criam expetativa e
surpresa, focando-se mais nos planos do que no espaço.
Ainda no caso do PA2, refira-se que o espaço de logradouro está ocupado, por um processo de
adição, com anexos acrescentados, onde se instalaram as áreas de serviço do restaurante. A proposta
Figura AC.8. Figura AC.7.
Figura AC.6.
Figura AC.5.
126
da CMO devolve o espaço aos logradouros, ocupando-os com um jardim, por subtração dos anexos e
procura da satisfação das exigências funcionais, como a entrada de luz, a continuidade e as vistas.
A articulação da forma e das superfícies consiste num conjunto de vários tópicos abordados por
Francis Ching (2000:78), que vão desde o tratamento das fachadas e dos volumes através da cor, das
texturas e da mudança de materiais, à forma e utilização das arestas e das esquinas.
Por representar um vasto leque de opções, foi possível encontrar diversos e distintos exemplos,
para cada um destes tópicos, nos vários projetos estudados, e ensaiar, para cada um deles, diferentes
alternativas.
Observando-se o AF1 à luz dos conhecimentos adquiridos, constata-se que a EPUL propõe para
as fachadas a cor branca, retomando a imagem tradicional do bairro de Alfama. O branco permitia uma
certa luminosidade, num bairro onde a luz penetra com dificuldade. Para além disso, está associado ao
ritual anual de caiar as paredes, pois a cal branca consiste num poderoso desinfetante.
Curiosamente, este retorno, num bairro que foi, entretanto, descaracterizado por uma mescla de
cores vivas, faz sobressair o edifício no conjunto envolvente, dando ao AF1 um destaque não esperado
pelo contraste de uma cor neutral num fundo garrido. Apesar de não se ter experimentado em desenho
outra combinação de cores para além desta, parece ser uma investigação com alguma pertinência, por
exemplo, a aplicação de um laranja ou vermelho no edifício, que poderia criar outro dinamismo e ritmo
na fachada de conjunto, visto as construções do lado serem em tons de azul e verde.
Pegando na sugestão de Francis Ching (2000:79), de diferenciar as superfícies através de uma
mudança de material, cor e/ou textura, explorou-se a possibilidade de demarcar uma divisão horizontal
na fachada principal, por efeito do embasamento aumentar em altura, sendo que a parte de baixo
consiste nos dois primeiros pisos, e a de cima, nos dois últimos. Esta demarcação evidencia, no
exterior, o seu interior, pois coincide com a separação dos dois dúplex. Este embasamento traria uma
sensação de peso visual em baixo, provocando uma maior impressão de leveza e flutuação na parte
superior, pois a diferença de material ou textura influencia o peso visual na superfície (Ching, 2000:86).
Para a fachada de tardoz, a proposta da EPUL é também o branco. Aplicando, aqui, os mesmos
princípios utilizados para a fachada principal, explorou-se a ideia de acentuar a verticalidade da linha
Figura AC.9.
127
sugerida pela colocação das janelas, diferenciando-a pela alteração de texturas entre os planos lisos e
o das aberturas.
Francis Ching (2000:89) refere-se ao trabalho e à configuração da moldura das aberturas como
um estratagema para destacar, ou esconder, os vãos, criando, ou não, jogos de luz e de sombra nas
fachadas.
Sabendo, à partida, que a CML obriga à reposição das fachadas conforme considera terem sido,
embora resista unicamente uma pequena parte do edifício e da sua frente, mas sentindo-se livre desse
constrangimento por se tratar apenas de um ensaio e de uma investigação sobre a forma, explorou-se,
sob a ótica dos conceitos supracitados, a hipótese de engrossar as cantarias das aberturas, dando-
lhes ênfase e expressão, e criando alguns jogos de luz e sombra. Assim, poder-se-iam conjugar estas
cantarias, adensando-as de modo a permitir o sombreamento apenas onde ele seja necessário.
Investigou-se, também, a ideia dessas molduras poderem vir a albergar canteiros, agarrados às
paredes-mestras, o que estabeleceria uma maior relação entre o edifício e a natureza, princípio pouco
explorado por Francis Ching, embora referido nos tópicos sobre a luz e, principalmente, sobre as vistas
(2000:174).
Se devido às condicionantes impostas pela CML, se torna praticamente impossível a aplicação
destas hipóteses na frente do edifício, na fachada de tardoz já não parece consistir em tão difícil tarefa,
pois a câmara não apresenta para esta, as mesmas restrições. Para além disso, a fachada de tardoz
encontra-se virada a sul, pelo que poderia ter mais interesse ao nível do estudo dos sombreamentos.
No projecto de alteração para o LP1, observa-se que o logradouro sofre um corte na diagonal,
pois em planta tinha uma configuração rectangular que passou a triangular, continuando o alinhamento
do edifício. As varandas mantêm-se com o mesmo formato e dimensão.
Figura AC.10.
Figura AC.11.
128
Aplicando não só os conhecimentos adquiridos sobre a articulação da forma e das superfícies
(Ching, 2000:78), mas também os conceitos estudados sobre o processo aditivo de transformação da
forma (Ching, 2000:56), experimentou-se prolongar as varandas, completando o triângulo sobrante, por
cima do logradouro, e alargando a fachada do edifício, ganhando uma vista desafogada para os outros
espaços verdes, de interior de quarteirão, e terraços.
Conjugando esta possibilidade aos princípios contidos no livro de Francis Ching sobre planos
verticais soltos (2000:130), explorou-se o encerramento desta nova fachada com uns painéis isolados
e movíveis, que garantem a privacidade e a flexibilidade no uso das varandas.
Mantendo as varandas como propõe a EPUL, exercitou-se a hipótese de a fachada de tardoz ser
pintada num degradé, começando, de baixo para cima, do mais claro para o mais escuro, explorando
os conteúdos abordados por Francis Ching (2000:79) quanto aos efeitos cromáticos. Este degradé
provoca no utilizador a percepção de maior luminosidade nos pisos mais baixos, por contraste com os
tons mais escuros utilizados no topo do edifício.
Figura AC.13.
Figura AC.12.
129
A diferenciação pela cor (Ching, 2000:79) foi a estratégia escolhida pela CMO para dar destaque
ao museu, no caso do OE1. Para tal, o arquitecto fez um estudo de cor, de onde se escolheu o laranja
para pintar a frente do museu, e o branco, para os restantes edifícios do conjunto em análise. Como a
envolvente ao conjunto segue tons ocres e amarelados, observou-se, no estudo de cor, que as zonas
brancas acabam por se destacar mais do que as laranja. Assim, a fachada principal acaba por ganhar
realce apenas das suas próprias empenas, lendo-se como um plano solto.
Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre a diferenciação por mudança de cor, textura ou
material (Ching, 2000:79), explorou-se a possibilidade de a empena do museu ser da mesma cor que a
fachada, ou num tom próximo, dando-lhe uma leitura de volume, e não só de plano.
A colocação de uma esfera à frente do museu tem a intenção de assinalar a entrada do edifício.
Segundo Francis Ching (2000:86), a inserção de elementos com dimensões conhecidas, como o ser
humano, na fachada ou à frente dela, ajuda à percepção do tamanho e escala da edificação. Ensaiou-
se, então, a possibilidade de substituir a esfera por um grupo escultórico, de dimensões identificáveis.
Quando o visitante se aproxima deste conjunto, vindo do CHO, depara-se com a esquina do nº
34, que se torna numa referência importante para quem chega. Investigando-se o desenho da esquina,
a partir dos estudos elaborados por Francis Ching (2000:81), surgiu a ideia de arredondar a aresta ou
de a realçar através da mudança de cor ou de material.
Do cruzamento entre os conteúdos mencionados e os princípios sobre a luz, agora a abordar
(Ching, 2000:170), testou-se, na passagem entre o jardim e o logradouro do OE1, alternativas, como: o
muro continuar pela passagem com o mesmo material (madeira, azulejo, reboco só de uma cor, …),
Figura AC.14.
130
mas distinto do da outra parede, enfatizando a perspectiva e a ideia de circulação; ou a iluminação de
uma das paredes, parecendo este acesso mais baixo e largo; ou do tecto (no sentido da parede para a
cobertura), dando-lhe um aspecto mais alto e estreito, e menos dramático, pois espalha mais a luz; ou,
então, a iluminação do pavimento a partir do tecto, que cria a ideia de caverna.
Nas construções novas, inseridas no logradouro deste caso de estudo, observa-se a aplicação
de um dos princípios explorados por Francis Ching (2000:123) acerca dos elementos lineares verticais,
em que o autor explica que um volume não necessita dos planos parietais para ficar definido, podendo-
se perceber os limites do seu espaço pela colocação de um elemento linear vertical em cada um dos
seus cantos, o que acontece nas estruturas de sombreamento, à entrada das novas edificações.
Conforme sugere Francis Ching (2000:79), a CMO propõe o laranja para cor destas estruturas,
realçando-as do plano de fundo.
Aplicando os conteúdos sobre sombreamento e pautas ópticas (Ching, 2000:86), desenvolveu-
se a hipótese de, por entre os pilares, colocar-se uma estrutura em linhas horizontais, capaz de criar
um jogo de sombras e luz, com principal incidência no sombreamento a nascente e poente.
No edifício pombalino do caso OE2, por características próprias do tipo construtivo, o cunhal em
pedra, num material diferente do da parede, faz a distinção e articulação entre os dois panos do
imóvel. Assim, observa-se que a esquina já se encontra trabalhada, indo no sentido do que Francis
Ching (2000:81) estudou no seu livro sobre o tema.
Da mesma maneira, os vãos são destacados através de uma cantaria saliente e robusta, e pela
diferença de material (Ching, 2000:79). As caixilharias utilizadas, simples e discretas, contribuem, a par
das cantarias, para um efeito de vazio, de “buraco” na fachada. Esta leitura foi aproveitada e mantida
no novo edifício, mas sob a forma de aberturas e rasgos.
No que alude à construção nova, as suas ameias, numa espécie de sequência de elementos
lineares verticais, distinguem, pela sua linguagem mais contemporânea, o antigo do novo. Aplicando os
conteúdos abordados por Francis Ching (2000:172) sobre a luz e a sombra, investigou-se a hipótese
de estes elementos lineares verticais engrossarem no topo, dando origem a umas linhas horizontais,
capazes de sombreamento no pátio superior.
No seguimento da investigação sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:79),
estudou-se, com o intuito de evidenciar a verticalidade da estrutura, a possibilidade de escurecer as
laterais dos elementos lineares, assim como a espessura das lajes, fazendo sobressair o pano frontal.
No que concerne ao caso do OE7, a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:79) faz-
se pela mudança do padrão do azulejo entre a fachada principal deste conjunto e a sua envolvente. O
revestimento em azulejo, que a CMO propõe recuperar, dá brilho à superfície curva (fictícia, por ser
geometrizada e resultar da junção de dois planos), acentuando a sua forma. Como material brilhante
que é, o azulejo reflecte a luz solar, perdendo-se, muitas vezes, a leitura do seu padrão. Para além
disso, observa-se que o azulejo, de dimensões familiares, funciona como um elemento de escala,
conforme os critérios estabelecidos por Francis Ching (2000:86), dando uma melhor percepção do
tamanho do edifício.
O acesso ao pátio interior é escuro, lembrando um túnel. Partindo dos conceitos estudados
sobre a articulação da forma (Ching, 2000:79) e sobre a luz (Ching, 2000:170), experimentou-se mudar
o portão proposto pela CMO por um com gradeamentos, alterando o material e a textura, conseguindo
131
uma maior entrada de luz natural. A leitura da profundidade aumenta com esta solução, no entanto
perde-se, um pouco, a imagem do topo do vão em curva. Explorou-se, igualmente, a possibilidade de a
parede, que faz muro com o edifício do lado, ser numa cor ou material diferente, o que acentuaria a
ideia de profundidade, e da iluminação artificial, menos abordada e estudada por Francis Ching, ser
colocada no sentido da parede para o tecto, criando um efeito em que a passagem parece mais alta e
estreita, e menos dramática, espalhando mais a luz.
O caso do OE8 consiste num exemplo do modo diferenciado como se pode tratar a fachada de
um edifício, debruçando-se sobre o desenho da sua superfície e jogando com texturas, materiais e
cores, sem descorar o funcionamento dos seus elementos. O embasamento em pedra, que tem por
função evitar o rápido desgaste das paredes devido às águas, sobe até a meio da parede de um dos
edifícios, encostando-se a uma linha de cantaria que faz a ligação entre os dois imóveis, assim como a
pintura em branco, seguida de um para o para o outro, eliminando as arestas “virtuais” que separam
fisicamente os dois planos contínuos (Ching, 2000:79).
Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching,
2000:79), exercitou-se a hipótese da linha de cantaria ter uma cor ou tom diferentes do embasamento,
realçando-se, e/ou da empena, que se destaca em branco entre os dois telhados ocres, poder ser num
material, ou cor, próximos dos das telhas, cooperando na imagem contínua entre os dois.
No projecto de alteração proposto pela CMO para o PA1, alterou-se o cor-de-rosa velho da
fachada, que fazia conjunto com a envolvente, toda ela em tons de rosa, ocres e cremes escuros, por
um azul claro, que se destaca por contraste com as outras frentes.
Na sua memória descritiva, a CMO mencionou que o interesse deste edifício no processo de
reabilitação provinha da sua coerência e continuidade com o conjunto da avenida, pelo que se ensaiou
a manutenção da cor original.
Mediante a possibilidade de alteração da leitura da fachada, e aplicando os conceitos referentes
ao trabalho e à configuração da moldura das aberturas (Ching, 2000:89), investigou-se a hipótese das
cantarias dos vários vãos engrossarem e tornarem-se mais salientes, passando a conter canteiros para
plantas, fomentando a relação do edifício com a natureza.
Figura AC.15.
132
Com estes canteiros a fachada adquire uma maior leitura de quadrícula, fazendo lembrar os
desenhos e ensaios de Francis Ching (2000:87) sobre a articulação das superfícies, com a criação de
um jogo de luz e sombras.
Na fachada de tardoz, pela aplicação dos mesmos princípios, explorou-se a utilização de uma
fila de canteiros por baixo das janelas, assim como uma diferenciação, por textura, de uma linha acima
dos vãos, para acentuar a leitura de horizontalidade do alçado, já dividido em camadas por uma linha
de cantaria.
Outra alternativa que surgiu, no decurso desta experimentação, foi a possibilidade dos canteiros
criarem uma moldura em forma de “pente”, com uma imagem intacta e menos fragmentada.
Em Paço de Arcos é comum o piso térreo da fachada ser revestido com azulejos, o que no caso
do PA2 ajuda a dar destaque ao restaurante. Nos restantes pisos, o edifício é em tons de grená, que a
Figura AC.17.
Figura AC.16.
133
CMO propõe manter, substituindo, inclusive, por um reboco desta cor, os azulejos do piso térreo, que
deixarão de existir.
Estes azulejos funcionam como um segundo embasamento, completando o trabalho dum outro,
mais baixo e em pedra, que separa o pavimento do pano da parede.
Explorando, então, este caso de estudo à luz dos conceitos sobre a articulação da forma e das
superfícies (Ching, 2000:79), exercitaram-se algumas alternativas, como por exemplo: destacar a zona
do restaurante subindo o embasamento em pedra existente até ao primeiro piso; ou distinguir os três
pisos, variando entre um tom mais claro, um intermédio e outro mais escuro, ou de uma textura mais
densa a outra mais lisa. Se colocarmos os tons mais escuros em baixo, ou as texturas mais densas, o
edifício adquirirá uma sensação de maior leveza, pelo deslocamento do peso visual para a base. Se,
pelo contrário, utilizarmos os tons mais claros ou as texturas mais lisas em baixo, a sensação será de
um esmagamento.
A fachada do PA4 também é revestida com azulejos, do séc. XIX, com um desenho de cubos
sobrepostos, que cria uma ilusão de óptica de tridimensionalidade e imprime dinamismo à superfície.
Os cunhais em pedra fazem a distinção entre os diferentes planos, contínuos ou não, e as
cantarias à volta dos vãos destacam a sua forma curva no topo.
As esculturas no cimo do edifício enfatizam as suas arestas (Ching, 2000:83) e permitem uma
melhor percepção da escala.
Aplicando os conceitos referidos por Ching (2000:79) sobre a articulação da forma e das
superfícies, ensaiou-se sobre a eventualidade de o azulejo poder ser retirado das fachadas do último
piso, integrando-se o edifício no contexto de Paço de Arcos, onde a maioria dos imóveis têm azulejo só
na parte do embasamento e piso térreo. A separação horizontal dos dois volumes torna-se mais clara e
evidente.
Tratando-se de um processo de reabilitação, dificilmente esta solução seria utilizada. Cruzando
esta preocupação da reabilitação em querer manter os azulejos, com a intenção de estudar os
mesmos princípios que no exercício anterior, investigou-se a hipótese de a linha de cantaria, que divide
os dois pisos, ser numa cor contrastante e brilhante, diferente das cores dos azulejos, ganhando assim
destaque.
A propósito do estudo sobre a unidade de contrários, e a relação entre os espaços exteriores e
os espaços interiores, de Francis Ching (2000:96), observou-se que os casos OE1, OE2 e OE7 diferem
Figura AC.18.
134
dos outros por conterem pátios privados no seu interior, designados de espaços exteriores positivos,
não se limitando, portanto, aos logradouros e à definição da rua.
Qualquer um destes pátios configura um muro ao longo dos limites do lote, sendo que no OE2,
esse muro é a própria fachada do edifício.
Testando a aplicação dos conhecimentos adquiridos (Ching, 2000:96) ao OE1, investigou-se a
hipótese de abrir o jardim/pátio ao público, retirando o portão e derrubando parte do muro actualmente
existente.
Um ensaio idêntico foi realizado para o caso do OE7, visto a sua situação ser semelhante, no
entanto explorou-se apenas a ideia de retirar o portão e deixar o “túnel”, de entrada para o pátio, aberto
ao público.
A construção nova do OE1 consiste num exemplo do modo distinto como os espaços internos e
externos se podem relacionar, pois a estrutura de sombreamento presente à entrada das habitações
funciona como um prolongamento do interior para o exterior, privado, fundindo-se estes dois espaços
(Ching, 2000:96).
Neste sentido, também o OE2 representa uma alternativa na relação do exterior com o interior,
pois explora uma situação de fusão entre os dois espaços, sendo que o pátio, mais resguardado do
que os anteriormente mencionados funciona como entrada para o fogo, prolongando o seu espaço de
estar.
A partir da investigação sobre o desenho e a configuração do plano base, ou seja, do pavimento
interior, desenvolvida por Francis Ching (2000:100), observou-se que, nalguns dos projectos referentes
à CMO, este plano base já era trabalhado e estudado segundo alguns dos critérios explanados pelo
autor.
Constatou-se, ainda, que, na maioria dos projectos em análise, se podem aplicar alguns desses
princípios, explorando alternativas às propostas realizadas pelos seus arquitectos.
Ao nível da mobilidade refira-se que os acessos à grande parte dos apartamentos já é efectuado
por escadas, não havendo elevadores, pelo que as soluções exercitadas através de desníveis no piso
acabam por não representar um verdadeiro problema ou entrave nas acessibilidades.
Outro dilema estaria na aplicação do REGEU, pois os pés direitos têm que cumprir mínimos de
segurança e conforto. Por isso, nem todos os projectos poderão facilmente enquadrar soluções que
contemplem um jogo de desníveis. Como este trabalho não pretende estudar as questões de natureza
das exigências funcionais ou necessidades humanas, dedicou-se apenas a ensaiar as hipóteses e as
alternativas resultantes de um olhar que incide meramente sobre os aspectos da forma.
Começando por analisar uma das salas do AF1 à luz dos conceitos sobre a definição do plano
base (Ching, 2000:100), experimentaram-se algumas variações na composição dos seus pavimentos,
como por exemplo: a demarcação da zona de estar, da zona de refeições e da zona de passagem,
elevando os seus pavimentos; a delimitação destas zonas por uma mudança de cor ou textura, ou por
uma linha de contorno diferenciada no piso; ou o rebaixamento dos pavimentos para obter a mesma
separação, que pode variar também na forma.
Na primeira situação, onde se apresenta uma solução a partir da elevação dos pavimentos,
ensaiou-se a possibilidade da zona de estar ser a mais elevada, depois a das refeições e por último a
da passagem. O limite dos campos fica bem definido, sem, contudo, quebrar a continuidade espacial e
135
visual entre eles, nem a flexibilidade de acessos dentro da sala (Ching, 2000:103). Conforme Francis
Ching (2000:107), elevar um espaço, dentro de um outro maior, proporciona um lugar de refúgio, de
observação e de sagrado/singular em relação às actividades que se desenrolam à sua volta.
Na segunda situação, exploraram-se as três alternativas de diferenciação sugeridas por Francis
Ching (2000:100), e realizadas através da mudança de cor ou de textura dos pavimentos, ou, ainda, da
separação através de um contorno delineado no piso. Assim, os campos passam a estar delimitados
visualmente da sua envolvente.
Na situação do plano base deprimido (Ching, 2000:108), investigou-se uma possibilidade muito
idêntica à do plano base elevado, rebaixando, agora, em primeiro lugar a zona de estar, depois a zona
de refeições e por fim a de passagem, que é, de facto, a que fica menos afundada. Esta interrupção no
pavimento permite conservar o seu carácter integrante num espaço mais amplo e envolvente, e
adquire uma natureza mais introvertida, com qualidades de refúgio, proteção e privacidade.
Figura AC.19.
Figura AC.20.
136
Se o rebaixamento ensaiado não partisse das linhas já existentes, prosseguindo, antes, formas
soltas como o círculo ou o quadrado/rectângulo rodado, criar-se-ia um contraste formal geométrico ou
de orientação, que tornaria os espaços mais independentes entre si (Ching, 2000:108).
Estes critérios podem ser conjugados entre si, pelo que a separação pode ser feita, por exemplo,
através de um desnível e por mudança do material no pavimento.
Cruzando as soluções estudadas com os conhecimentos adquiridos sobre elementos de escala
(Ching, 2000:86), explorou-se, igualmente, a hipótese de usar canteiros, ou estantes para livros, como
meios de destacar e criar ambientes (com a utilização de plantas seriam mais associados à natureza),
ou como reforço na divisão do espaço.
Como no caso do LP1 o pé direito da sala é mais alto, explorou-se a possibilidade de elevar uma
parte do pavimento, separando a zona de estar da de refeições, de modo a que o desnível fosse
aproveitado como banco, tal como sugerem os desenhos de Francis Ching (2000:109).
Figura AC.21.
Figura AC.22.
137
No museu, pertencente ao OE1, é o próprio pavimento em mosaicos romanos que lhe confere
interesse museológico. No projeto de alteração da CMO, um passadiço, que serpenteia por cima desse
pavimento, faz a distinção entre o antigo e o contemporâneo, como uma linha que se descola e ganha
vida própria, indo ao encontro da conceção de Francis Ching (2000:108), de que um contraste formal
geométrico reforça visualmente a independência do espaço em relação ao seu contexto.
Aplicando os conhecimentos adquiridos sobre os planos base (Ching, 2000:102), investigou-se a
possibilidade de no pátio e no logradouro se diferenciarem as zonas de passagem das de estar através
da utilização de materiais distintos nos pavimentos.
Para além disso, ensaiaram-se as hipóteses da parte do jardim que se encontra mais elevada e
contida por um muro, também conforme os princípios definidos por Francis Ching (2000:102), descer e
separar-se do resto do pavimento apenas pela diferença de material, ou por outro lado, de elevar-se
ainda mais, deixando o seu limite de manter a continuidade espacial e visual, tornando o acesso mais
difícil, mas permitindo uma maior privacidade como lugar de refúgio e de estar.
Nos fogos propostos pela CMO, foi intenção do projetista diferenciar, nas kitchenettes, a zona de
preparação de refeições, com chão em mosaico, das de estar e de refeições, em piso flutuante,
consistindo num exemplo da maneira como o estudo do plano base pode levar a modos diferenciados
no trabalho dos pavimentos e nas decisões de projeto.
Pegando no T0, do piso 1 do lote 36, aplicaram-se-lhe os princípios definidos por Francis Ching
(2000:101), explorando a possibilidade de a sala estar dividida em dois, sendo o piso da zona de
refeições mais elevada em relação à de estar e, por baixo desse pavimento, estar incorporada um sofá
que se transforma em cama.
Figura AC.24.
Figura AC.23.
138
Embora Francis Ching aborde principalmente situações de construção nova, encontrou-se
oportunidade para, partindo do estudo sobre a distinção dos pavimentos pelos materiais ou texturas e
cores (Ching, 2000:101), se exercitar, num cenário de reabilitação, a hipótese de demarcar no plano do
piso o desenho das paredes, por onde elas passavam antes do projeto de alteração, criando uma
relação entre o velho e o novo, e dando a conhecer aos seus ocupantes como se desenvolviam os
espaços interiores prévios. Essa ligação pode continuar de um apartamento para o outro.
No caso do OE2, como o espaço é demasiadamente pequeno e baixo para criar desníveis, a
CMO propôs, para a zona da kitchenette, tal como acontece no caso do OE1, a diferenciação da zona
de confeção de refeições, das de estar e refeições, através da colocação de pisos distintos para cada
uma delas, ou seja, na primeira utilizou-se mosaico e na segunda, piso flutuante. Esta situação adquire
especial interesse, pois para além de aplicar conceitos abordados por Francis Ching (2000:100) acerca
do tema, consiste num exemplo construído, onde as intenções do projetista já passaram do papel para
a realidade. Juntando a estes conhecimentos, outros sobre o plano elevado, ou teto (Ching, 2000:114),
investigou-se a possibilidade desta demarcação não se esgotar no chão e nas paredes, mas passar ao
teto, revestindo-o com os mosaicos pretos aplicados, criando uma maior delimitação do volume, e não
só dos planos.
A mesma hipótese foi ensaiada para os casos do OE7, do OE8 e do PA1.
No OE8, mais concretamente no nº7, existe uma separação por desnível entre a sala/kitchenette
e a zona onde estão a I.S e o escritório. Aproveitando esse desnível, e conjugando com os conceitos
referentes à transformação da forma (Ching, 2000:48), exploraram-se as ideias de esconder a entrada
Figura AC.26.
Figura AC.25.
139
para a I.S. pela adição de uns volumes e planos regulares, que poderiam consistir em armários, e de
derrubar a parede que separa o hall do escritório, agrupando os dois espaços num só.
A configuração da sala de um dos apartamentos T0 do PA1 (esquerdo) permite uma separação
visual entre os espaços de estar, de refeições e de preparação de refeições, e o espaço de dormir. À
luz dos conceitos sobre plano base (Ching, 2000:102), investigou-se a hipótese do recanto ser
elevado, com uma organização em L, onde encaixa o sofá extensível para cama, que imprime uma
maior privacidade a esta zona de dormir.
Quanto à hipótese ensaiada primeiro sobre a kitchenette do PA1, experimentou-se prolongar no
piso, na parede e no teto, a distinção proposta pela CMO, de modo a dividir a janela existente, entre a
zona de estar e de refeições e a de preparação de refeições, ao meio, passando a estar igualmente
integrada nos dois espaços.
No que diz respeito ao T0 do lado direito, a sala está relativamente separada do quarto por uma
meia parede. Conjugando os critérios sobre o plano base (Ching, 2000:48) e sobre a transformação da
forma (Ching, 2000:102), investigou-se a hipótese de integrar a entrada com a sala, pela demolição de
uma parede, e de elevar a zona do quarto, tornando-a mais privada. Ensaiou-se igualmente a ideia do
desnível conter gavetas por baixo para arrumação.
Figura AC.29.
Figura AC.27.
Figura AC.28.
140
Na proposta de alteração da CMO, num dos apartamentos T1 do PA2, existe uma kitchenette
com sala de refeições e de estar, quase do mesmo tamanho que o quarto.
Aplicando os conceitos até agora analisados sob o ponto de vista de Francis Ching (2000),
explorou-se a possibilidade do quarto passar a integrar a sala, libertando algum espaço na kitchenette,
dividindo o atual espaço do quarto em dois. Assim, a sala fica separada do quarto, dando-lhe acesso.
Experimentou-se, assim, na kitchenette sem sala de estar, a separação entre a sala de refeições
e a zona da sua preparação, através da criação de desníveis no piso e no teto. Como a entrada neste
espaço se efetua pela área de preparação dos alimentos exercitou-se a ideia de distinguir as duas
zonas pela cor, sendo a primeira em preto, e a segunda em branco, o que cria um contraste de brilho e
luz, focando o interesse na zona da sala de refeições.
No caso do PA4, pela configuração de um dos fogos, investigou-se a possibilidade de separar,
na sala/kitchenette, as três zonas: de estar, de refeições e de confeção destas por desníveis (Ching,
2000:102), correspondendo a cada espaço, uma altura diferente.
A propósito, novamente, do ensaio sobre o plano elevado, ou teto, realizado por Francis Ching
(2000:114), experimentaram-se alternativas para o AF1, o LP1, o OE1 e o OE8, conjugando-as com
hipóteses já formuladas anteriormente.
Para o AF1, exploraram-se variações no teto a partir da diferenciação por contraste formal, cor,
textura ou modelação (Ching, 2000:114), tais como: descer o teto nas zonas onde sobe o chão,
estudando o seu inverso, ou descer onde ele desce; demarcar a zona de passagem no teto pela
mudança de cor ou material; dar o mesmo tratamento ao teto, e às paredes, que ao pavimento, seja
com o mesmo material, cor ou desnível, fazendo uma maior separação das zonas de estar, de
refeições e de passagem; ou por contraste formal, descendo partes do teto com um formato circular ou
de um quadrado/retângulo rodado, criando espaços mais soltos e independentes da sua envolvente.
Figura AC.30.
141
Como o pé direito desta sala é pequeno, e cruzando estes conceitos com a informação sobre luz
(Ching, 2000:170), investigou-se a possibilidade de esta ser direcionada para o teto, fazendo com que
ele parece mais alto.
Como a sala do LP1 é mais alongada, e aplicando os conhecimentos adquiridos sobre o plano
elevado (Ching, 2000:119), explorou-se a hipótese de o teto ser arredondado num dos topos, criando a
ideia de uma direção, acentuando-a. Esta só se justifica se nessa direção existir algo de especial.
Na construção nova proposta pela CMO para o OE1 existe, no piso de cima, um jardim, que tem
acesso pela I.S. e que fica por cima de uma parte da cozinha. Aplicando os mesmos princípios acima
referidos (Ching, 2000:119) e outros sobre a luz (Ching, 2000:170) e sobre o espaço exterior (Ching,
2000:94), exercitou-se a possibilidade de romper parte do teto e trazer o jardim para o piso de baixo,
permitindo entrada de luz natural na cozinha e uma maior relação desta com a natureza e o exterior.
Já na sala do OE1 estudada anteriormente, praticaram-se combinações de cor, de modo a criar
ambientes distintos pela diferenciação de pavimentos (Ching, 2000:100), tetos (Ching, 2000:114) e
paredes (Ching, 2000:130). Experimentou-se, por exemplo, a deixar, apenas, a parede do fundo em
branco, sobressaindo por entre um teto, um pavimento e as restantes paredes pintadas a preto. Essa
parede ganha destaque, pelo que só faz sentido se for utilizada para ter algo de especial.
Figura AC.31.
Figura AC.32.
Figura AC.33.
142
No nº 9 do caso OE8, explorou-se a possibilidade de criar desníveis no teto (Ching, 2000:118),
abrindo uma parte até à inclinação do telhado, e deixando outra, semiaberta, como se fosse uma
prateleira suspensa, e por onde entra luz, através de um rasgo na cobertura, conjugando a aplicação
de conceitos adquiridos sobre aberturas (Ching, 2000:164).
Refira-se que no caso do AF1, o arquiteto contemplou, na zona dos acessos comuns (escadas),
um rasgo na cobertura, que permite a entrada de luz natural no seu topo, dando-lhe mais dramatismo.
Assim, o AF1 consiste num exemplo dos ambientes diferenciados que podem surgir quando se estuda
o plano elevado, conjugado com as aberturas e a luz. Aplicando-lhe, ainda, os resultados do ensaio de
Francis Ching (2000:140) sobre os planos verticais paralelos, exercitou-se a ideia das paredes laterais
das escadas serem numa cor, textura ou material diferente, de modo a acentuar a direção ao ponto de
luz, enfatizando a inclinação das escadas e o dramatismo do local.
Figura AC.34.
Figura AC.35.
Figura AC.36.
143
Como já foi acima mencionado, Francis Ching (2000:122) compilou no seu livro estudos sobre
elementos lineares verticais.
Analisando à luz destes conhecimentos (Ching, 2000:123) o AF1, ensaiou-se a possibilidade de
integrar no interior da sala elementos lineares verticais em duas situações: a diferenciar a zona de
refeições da zona de estar, não sendo preciso separar por desníveis e permitindo uma continuidade
espacial e visual entre ambas; e a colocação de uma série de colunas estreitas na parede contrária à
porta de entrada, dando ritmo e proporção ao espaço, e que pode ser utilizada para colocar prateleiras
entre elas, numa cor diferente para manter a leitura das verticais.
Aplicando os mesmos princípios (Ching, 2000:123) às alternativas já apresentadas, ensaiou-se,
igualmente, para o OE1, a hipótese de colocar uma fileira de ripas por trás do sofá-cama, de modo a
dividir melhor o espaço e a fazer de encosto.
Também, no jardim, se podem exercitar alternativas a partir do estudo dos elementos lineares
(Ching, 2000:123), como, por exemplo, ele ficar separado da passagem por palas verticais, tornando-
Figura AC.37.
Figura AC.38.
144
se num espaço mais privado, que a certa altura se dobram em palas horizontais, sombreando o acesso
e aumentando-lhe a noção de profundidade e continuidade.
Cruzando esta hipótese com o estudo da transformação da forma (Ching, 2000:48) e dos planos
verticais (Ching, 2000:130), ensaiou-se a possibilidade de o espaço do jardim ser arredondado, dando
um maior enfiamento ao percurso, e da parede lateral ser revestida num material ou pintada numa cor
diferentes, continuando assim depois do túnel, contribuindo para a sensação de enfiamento e direção.
No projeto de alteração para o fogo em análise do caso do OE7, o arquiteto aplica princípios
abordados por Francis Ching (2000:123) sobre elementos lineares verticais, pois optou por separar a
zona da sala de estar da zona de refeições e passagem através de três pilares. Ensaiou-se, para esta
situação, a hipótese de serem quatro pilares, fechando fisicamente um canto da sala, sem o encerrar
visualmente, e, juntando-lhe os conhecimentos adquiridos sobre o plano base elevado (Ching,
2000:103), a possibilidade do pavimento desta sala estar mais elevado, fazendo uma maior distinção
entre as duas zonas.
No pátio superior do OE7, que funciona como um terraço sobre o pátio de baixo e dá acesso a
um dos fogos, experimentou-se a utilização de palas verticais, para o tornarem mais privado, que, tal
como acontece na hipótese formulada para o jardim do OE1, se dobram, transformando-se em palas
horizontais de sombreamento.
Cruzando com este ensaio outros conteúdos explorados sobre as aberturas (Ching, 2000:160) e
sobre a articulação da forma e das superfícies (Ching, 2000:86), investigou-se a ideia das cantarias
dos vãos engrossarem e tornarem-se mais salientes, numa continuidade com o embasamento, que
também pode sobressair da parede, passando a albergar um canteiro com plantas. Para além disso,
testou-se a hipótese de distinguir o piso de baixo do de cima, através da aplicação de dois tons ou
duas texturas diferentes.
Figura AC.39.
145
Também se ensaiou, aplicando os conceitos sobre as aberturas (Ching, 2000:160) e sobre a luz
(Ching, 2000:170), a alternativa de as janelas serem rasgadas até baixo, ou incluírem um elemento de
escala (Ching, 2000:86), como os canteiros.
Na habitação do nº 7, do caso OE8, existem, na parede do fundo, alguns rasgos que dão para o
terreno vizinho. Usando os critérios sobre elementos lineares verticais (Ching, 2000:122) e aplicando-
os ao OE8, testou-se a hipótese de acoplar a esta parede colunas, dando-lhe uma maior expressão e
ritmo e enquadrando as janelas. Por entre as colunas poder-se-ia colocar prateleiras que jogassem
com o ritmo, a posição e o tamanho das janelas.
No exemplo do PA4, também se experimentou utilizar os elementos lineares verticais como
modo de separar a zona da entrada da kitchenette.
Figura AC.40.
Figura AC.41.
Figura AC.42.
146
No que concerne ao estudo do plano vertical (Ching, 2000:131), averiguou-se a possibilidade da
sala do AF1 ser dividida numa zona de estar e noutra de refeições, através de um plano solto, com
espessura e altura suficientes para ser utilizado como banco, canteiro ou estante. Quanto mais baixo
este plano for, maior será a continuidade entre os espaços, e menor o seu encerramento.
Esta solução também foi experimentada nos casos do OE2 e do OE7, mas em vez de um banco,
canteiro ou estante, formulou-se a hipótese de ser uma “ilha”, prolongando o funcionamento da cozinha
e do espaço de refeições, cruzando-os.
Conforme Francis Ching (2000:131), a cor, a textura e o tipo de superfície afetam a perceção
que temos de um plano, o seu valor visual, a sua proporção e as suas dimensões. Assim, explorou-se
para o LP1 a hipótese de as paredes interiores terem uma cor mais clara do que a parede onde se
inserem as janelas, o que dá, por contraste, uma sensação de maior claridade dentro do espaço,
mesmo quando este é baixo e escuro.
No corredor de distribuição interno do LP1 ensaiou-se a aplicação dos princípios acima referidos
acerca dos planos verticais (Ching, 2000:134), com a ideia de pintar apenas as paredes que formam
um L percetível, dando-lhe destaque e acentuando a sua direção e esquina.
Na alternativa testada anteriormente para o jardim sobre a cozinha de uma das construções
novas do OE1, por investigação dos conceitos sobre planos verticais (Ching, 2000:140), experimentou-
se pintar com uma cor diferente, ou revestir com outro material, uma das paredes ao comprimento,
prolongando-a do interior para o exterior, dando uma maior noção de continuidade e de relação entre o
interior e o exterior (Ching, 2000:96).
A propósito do estudo sobre aberturas que Francis Ching (2000:158) elabora no seu livro,
ensaiou-se para o LP1 a possibilidade de as portas da sala em análise parecerem um plano contínuo
Figura AC.43.
Figura AC.44.
147
até ao teto, tornando os planos adjacentes soltos e dando uma maior ideia de continuidade entre os
espaços. Para além disso, conjugando com a abordagem aos conceitos sobre o plano elevado (Ching,
2000:114), testou-se a hipótese de o teto se deslocar ligeiramente para baixo, mas solto da parede,
aumentando a noção de continuidade das aberturas.
Para esta mesma sala formulou-se uma outra alternativa, a de os rodapés avançarem ao longo
das portas, funcionando como elementos de integração e continuidade formal e construtiva (Ching,
2000:160). Com o intuito de destacar este efeito, experimentou-se criar um contraste entre a parede e
o rodapé, através de um estudo de cor ou texturas (Ching, 2000:79).
Partindo do estudo das várias modalidades de aberturas e formas de as finalizar (Ching,
2000:158), estudaram-se variantes sobre as janelas em arco de volta perfeita do caso PA4, vistas do
interior, como por exemplo: o uso de uma textura ou cor diferentes dentro da parede ou a colocação de
uma namoradeira.
Figura AC.47.
Figura AC.45.
Figura AC.46.
148
No seguimento da investigação sobre a organização espacial (Ching, 2000:178), observou-se
que o LP1, ao contrário dos restantes casos, consiste num fogo por piso, com três assoalhadas cada.
Experimentou-se, então, a hipótese das habitações serem divididas em apartamentos mais pequenos
e reorganizadas segundo outros critérios.
A alternativa estudada propõe a divisão em dois apartamentos, um T0 e um T1, com a seguinte
organização:
Das escadas de acesso entra-se, em frente, no T1 e diretamente para a sala/kitchenette. Desta
sala acede-se ao quarto e ao fundo a um pequeno hall antes da I.S. Os espaços estão vinculados por
outro, que é a sala/kitchenette.
Dos acessos verticais segue-se, à esquerda, para o T0. Entra-se para um corredor, que distribui
para a I.S., a cozinha com zona de refeições, uma despensa e para a sala/quarto, com varanda. Os
espaços estão vinculados por outro, que é o corredor.
A partir dos mesmos conceitos (Ching, 2000:184), explorou-se a possibilidade de o jardim do
OE1 se organizar segundo uma espiral, separada por uma diferenciação dos pisos (Ching, 2000:102) e
por uma linha de elementos verticais (Ching, 2000:123). Conjugando, ainda, com os conhecimentos
adquiridos sobre o plano vertical (Ching, 2000:130), ensaiou-se a ideia de o espaço ficar definido por
um plano vertical solto, seguindo a curva da espiral, com espessura e dimensões de um banco, e que
permite uma maior privacidade do espaço.
Figura AC.48.
149
5.0. CONCLUSÕES
Para terminar poderemos referir, por um lado, conclusões resultantes da análise crítica
dos casos de estudo e por outro, conclusões decorrentes do caminho percorrido no próprio
trabalho de investigação.
Da análise dos casos de estudo constata-se que, no geral, os projetistas procuraram
adotar nos seus projetos um partido compositivo articulado não apenas com as numerosas
normas urbanísticas, arquitetónicas e construtivas entretanto estabelecidas, como com novos
princípios de racionalidade e coerência na divisão, compartimentação e organização dos fogos,
mais consentâneos com o nosso tempo, em ordem à obtenção de um maior aproveitamento
das áreas e uma maximização do uso dos espaços.
Em face do observado depreende-se que os projetistas, quando a trabalhar para jovens,
com tipologias baixas e áreas limitadas, tendem a considerar a concentração de funções e
atividades nos mesmos compartimentos, nomeadamente agrupando o estar, as refeições e a
sua preparação e inclusive, o próprio dormir.
Esta tendência, também observável na iniciativa privada e em segundas habitações, é
aqui plenamente assumida num contexto de promoção de iniciativa pública, não se
descartando a liberalidade de soluções arquitetónicas inovadoras, no quadro de políticas de
alojamento dirigidas a jovens ou a jovens casais no início da sua autonomia habitacional.
Ainda relativamente às tipologias encontradas nas propostas de alteração, refira-se que
não é restrito o emprego de tipologias baixas, nomeadamente T0 e T1, pois nos projetos da
EPUL disponibilizam-se apartamentos T2 e T3, o que pode eventualmente ser explicado por
estes serem dirigidos a venda, e não a arrendamento, como acontece com os projetos da
CMO.
Nesta mesma linha, ainda que também fortemente ditado pelas limitações espaciais e
construtivas da zona histórica onde se inserem, registe-se que em nenhum dos projetos de
alteração foi proposta a utilização de elevador, embora um dos projetos tenha em conta
habitações para jovens com mobilidade condicionada (OE7) e um outro disponha de garagem
(PA1).
Em todos os casos mantêm-se as fachadas praticamente iguais, mas o mau estado de
conservação dos seus interiores leva a que a maioria destes seja integralmente demolida, e
construída de novo, já de acordo com o que se definiu como padrões de habitabilidade e
conforto. Excetua-se os casos do LP1, do OE8 e do PA1, em que o bom estado de
conservação permitiu uma reabilitação dos interiores, implicando apenas a demolição de
algumas paredes e a construção de outras.
Também no que respeita ao estudo das fachadas, apenas um dos projetos analisados
tem em conta um ensaio sobre a cor.
Embora fosse intenção desta dissertação explorar e aprofundar mais conteúdos relativos
às exigências funcionais e humanas, a partir de certa altura incidiu-se esta investigação
150
principalmente sobre a análise morfológica, visto esta ser menos estudada do que a primeira,
no âmbito dos casos de estudo disponibilizados, mantendo-se este tema mais como estímulo e
“pano de fundo” do que como matéria central de investigação.
Outros importantes aspetos encontrados nas situações analisadas, como os
constrangimentos normativos e as ”cartilhas” de reabilitação das zonas históricas, ficaram
igualmente, no presente estudo, desproporcionalmente aquém do seu peso real na
implementação de projetos e obras no terreno.
Em relação aos ensaios sobre as formas, os projetos mostraram, no geral, que as
estratégias e os conceitos abordados por Francis Ching (2000), no seu livro, estão explícita, ou
implicitamente, presentes nalgumas das decisões projetuais e no partido compositivo dos seus
autores, incidindo, principalmente: nas kitchenettes, com a demarcação da zona de preparação
de refeições das de estar e de refeições, através da diferenciação pelo material de pavimentos;
no trabalho do perfil dos edifícios, procurando a clara distinção entre o novo e o antigo; na
separação da zona de estar da de refeições através de elementos verticais; e na utilização da
cor para distinguir usos e funções.
Por seu lado, pela investigação formal arquitetónica acrescentada (no capítulo 4.0) o
presente estudo tenta demonstrar, melhor dito, tenta confirmar e concluir que, mesmo num
contexto de fortes condicionantes de todo o tipo que se encontram num projeto de reabilitação,
como as históricas e patrimoniais, as sociológicas, relativas aos destinatários, as tecnológicas,
relativas às construção e as programáticas, relativas às exigências funcionais, há sempre
matéria de estrita conformação e composição arquitetónica nas opções tomadas, assim como
persiste sempre lugar para que outras opções da mesma natureza formal arquitetónica sejam
tomadas; resultando paralelamente confirmado o singular e abrangente papel da arquitetura.
Das várias alternativas ensaiadas, destacam-se as referentes à investigação sobre os
contornos e silhuetas; a transformação da forma; a articulação da forma e das superfícies; a
unidade de contrários e a relação exterior/interior; o plano base e o plano elevado; os
elementos lineares e o plano verticais; as aberturas; e a organização e relações espaciais;
como tópicos de interesse e recomendação para auxílio na tomada de decisões em projeto.
Ao longo do trabalho foi possível descrever e exemplificar como nos casos de estudo e
nas alternativas ensaiadas, se poderão articular os diferentes compromissos e graus de
liberdade, dentro da problemática do desenho de habitação jovem em zona histórica. Seria
assim, no aprofundamento dos temas de compromisso e liberdade arquitetónica que este
estudo encontraria naturais campos de desenvolvimento.
151
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