Tese de Doutorado Morfo-fisiologia da biodegradação de...

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA – PPG Biotecnologia Industrial Tese de Doutorado Morfo-fisiologia da biodegradação de madeiras por Ceriporiopsis Subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas & Burds. (Fungi, Basidiomycetes) Priscila Brasil de Souza Cruz Lorena – SP – Brasil 2005

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA – PPG Biotecnologia Industrial

Tese de Doutorado

Morfo-fisiologia da biodegradação de madeiras por Ceriporiopsis Subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia

tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas & Burds. (Fungi, Basidiomycetes)

Priscila Brasil de Souza Cruz

Lorena – SP – Brasil 2005

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FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL

Morfo-fisiologia da biodegradação de madeiras por Ceriporiopsis Subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia

tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas & Burds. (Fungi, Basidiomycetes)

Tese de Doutorado apresentada como parte das exigências para a obtenção do título de Doutora em Biotecnologia Industrial.

Banca Examinadora: Dr. André Luis Ferraz – DEBIQ/FAENQUIL

Dra. Adriane Maria Ferreira Milagres – DEBIQ/FAENQUIL

Dra. Maria Eleonora Andrade de Carvalho – DEBIQ/FAENQUIL

Dra. Elisa Esposito - UMC

Dra. Manuela da Silva – FIOCRUZ-RJ

Estudante: Priscila Brasil de Souza Cruz

Lorena - SP - Brasil 2005

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FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL

Morfo-fisiologia da biodegradação de madeiras por Ceriporiopsis Subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia

tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas & Burds. (Fungi, Basidiomycetes)

Este exemplar corresponde à versão final da tese de doutorado aprovada pela banca examinadora.

Dr. André Ferraz Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Lorena - SP - Brasil 2005

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Ficha Catalográfica

Elaborada pela Biblioteca Universitária da FAENQUIL

Souza-Cruz, Priscila Brasil S89m Morfo-Fisiologia da Biodegradação de Madeiras por

Ceriporiopsis subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas. & Burds. (Fungi,Basidiomycetes) / Priscila Brasil de Souza-Cruz.-- Lorena, 2005.

91f.: il.

Tese (doutorado) - Faculdade de Engenharia Química de Lorena. Departamento de Biotecnologia. Orientador: André Ferraz. Co-Orientador: Clarice Loguercio-Leite

1. Biotecnologia 2. Biodegradação de madeira 3. Biopolpação 4. Phlebia tremellosa 5. Ceriporiopsis subvermispora 6. Pinus taeda 7. Eucalyptus grandis I. Ferraz, André, orientador. II. Título.

CDU : 574.6

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo de uma estrutura de lignina de madeiras moles proposta por Adler

11

Figura 2 - Modelo de uma estrutura de lignina de madeira dura proposta por K. Nimz

11

Figura 3 – Vias de colonização da madeira 13

Figura 4 – Ciclo catalítico simplificado de lignina peroxidase (LiP). S representa um substrato aromático não fenólico

16

Figura 5 – Ciclo catalítico simplificado de peroxidase dependente de Manganês (MnP). PhOH representa um substrato fenólico

17

Figura 6 – Ciclo catalítico de lacase. PhOH representa um substrato fenólico. A estequeometria do ciclo envolve 4 Cu2+ (normalmente ligados a uma única proteína ou a 2 cadeias protéicas acopladas), 4 substratos fenólicos, 4 prótons e 1 molécula de O2

17

Figura 7 - Microscopia ótica mostrando o ataque progressivo (erosão) da parede celular de Picea abies por Heterobasidium annosum Note que a célula ao centro apresenta erosões irregulares na parede celular. A escala no canto superior esquerdo da foto indica a magnitude do aumento

18

Figura 8 - Microscopia eletrônica de transmissão mostrando o ataque não erosivo da parede celular de madeira. Notophagus dombeyi degradado por Ganoderma australe. Corte fixado com KMnO4 para contraste da lignina. (A) células intactas, (B) e (C) as setas indicam o avanço do ataque onde as áreas de menor contraste estão livres de lignina. (D) células completamente livres de lamela média.

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Figura 9 – Hifa com clamidosporos (a) intercalar e (b) apical de Ceriporiopsis subvermispora SS3.

28

Figura 10 – Classificação visual da quantidade de clamidósporos em (a) muito (++++), (b) médio (+++), (c) pouco (++) e (d) pouquíssimo (+).

46

Figura 11 – Perdas de massa de E. grandis após 15 dias de biodegradação por C. subvermispora SS-3.

49

Figura 12 – Crescimento fúngico estimado a partir do teor de ergosterol detectado nas amostras de madeira biodegradada (P. taeda e E. grandis) por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa ao longo do período de incubação.

50

Figura 13 – Produção de MnP por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, na biodegradação de P. taeda e E. grandis ao longo do período de incubação.

52

Figura 14 – Produção de lacase por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, na biodegradação de P. taeda e E. grandis ao longo do período de incubação.

55

Figura 15 – Produção de endoglucanase por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, na biodegradação de P. taeda e E. grandis ao longo do período de incubação.

58

Figura 16 – Produção de xilanase por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, na biodegradação de P. taeda e E. grandis ao longo do período de incubação.

59

Figura 17 – pH do meio fermentado por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa ATCC 48745, na biodegradação de P. taeda e E. grandis ao longo do período de incubação.

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Figura 18 – Perda de massa seca da madeira (P. taeda e E. grandis) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa ao longo do período de incubação.

63

Figura 19 – Perda de glucana da madeira (P. taeda e E. grandis) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P.

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tremellosa ao longo do período de incubação. Figura 20 – Perda de polioses da madeira (P. taeda e E. grandis) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa ao longo do período de incubação.

66

Figura 21 – Perda de lignina da madeira (P. taeda e E. grandis) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa ao longo do período de incubação.

67

Figura 22 – Conteúdo de lignina residual nas polpas Kraft obtidas após polpação kraft de alto rendimento. A polpação foi realizada em amostras de madeira P. taeda após biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa por 28 dias.

69

Figura 23 – Conteúdo de lignina residual nas polpas Kraft obtidas após rampa de aquecimento de 30 minutos e determinados tempos de cozimento a temperatura máxima. A polpação foi realizada em amostras de madeira E.grandis após biodegradação por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa por 28 dias.

70

Figura 24 – Rendimento de polpa não classificada em função do número kappa em polpas Kraft obtidas a partir da madeira de P. taeda biotratada durante 28 dias por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa.

70

Figura 25 – Hifas de C. subvermispora SS3 em células de (a) P. taeda - traqueídeos e (b) E. grandis – elementos de vaso.

74

Figura 26 – Curva de crescimento de C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa em meio líquido CB (Batata dextrose) tamponado com acetato de sódio 10 mM.

77

Figura 27 – Curva de crescimento de C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa em meio líquido MS (Milhocina - sacarose).

77

Figura 28 – Microscopia óptica de fragmentos de hifas com clamidósporos, após o micélio cultivado para inóculo ser batido por 10 ciclos de 15 segundos.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição química das madeiras moles e duras 9 Tabela 2 - Atividade celulolítica total encontrada nos extratos obtidos a partir da biodegradação de P. taeda e E. grandis por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, ao longo do período de incubação.

57

Tabela 3 - Taxa de crescimento dos fungos C. subvermispora SS3 e CS1 e P. tremellosa em meio de cultura ágar-batata- dextrose com diferentes valores de pH inicial.

75

Tabela 4 - Taxa de crescimento dos fungos C. subvermispora SS3 e CS1 e P. tremellosa em meio de cultura ágar-milhocina com diferentes valores de pH inicial.

75

Tabela 5 – Quantidade de clamidósporos observadas em P. tremellosa e C. subvermispora SS3 e CS1 ao microscópio óptico ao longo do crescimento em meio de cultura líquido BD tamponado (pH 4)

79

Tabela 6 – Atividade enzimática de manganês peroxidase (MnP) encontrada nos extratos obtidos após 14 dias de cultivo de C. subvermispora SS3 sobre P. taeda e E. grandis, com os inóculos convencional e induzido para a produção de clamidósporos.

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ABSTRACT Morpho-physiology of wood biodegradation by Ceriporiopsissubvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia tremellosa (Sch rad.:Fr.)Nakas. & Burds. (Fungi, Basidiomycetes). Priscila Brasil de Souza Cruz. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial. Departamento de Biotecnologia. Faculdade de Engenharia Química de Lorena. Orientador: Dr. André Luis Ferraz (Departamento de Biotecnologia, FAENQUIL, CP116, 12600-000, Lorena, SP, Brasil). Co-orientador: Dra Clarice Loguercio-Leite (Departamento de botânica, UFSC, CP 476, CEP 88090-400). This work involves the study of enzymatic and morphological aspects related to the wood biodegradation by white rot fungi. Wood samples of Pinus taeda L. and Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden were inoculated with Ceriporiopsis subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. (strains SS3 and CS1) and Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas. & Burds. (strain ATCC 48745) in solid-state fermentation bioreactors for periods from 7 to 28 days. Enzymes of hydrolytic nature, such as total cellulases, endocelulases and xylanases, along with those of oxidative nature, such as lacase, peroxidase and cellobiose dehydrogenase, were studied in extracts recovered from the cultures. From the colonized wood chips, morphological aspects of the wood colonization were observed under optical microscopy. Biodegraded wood samples analysed for chemical composition and weight and component losses were determined. High-yield kraft pulping of biotreated wood samples was performed to evaluate the effect of different fungal preteatments on bio-kraft pulping. The growth ability of the fungi in low-cost culture media was evaluated aiming to increase growth rates. The capacity of these cultures to produce chlamydospores was also evaluated since these spores are suitable for storage and inoculation on a large scale. The two fungal species used in this study displayed extracellular metabolic activity. In the group of hydrolytic enzymes, xylanases were detected throughout the cultivation period, the maximum being observed after 14 days of biodegradation. In contrast, cellulase levels where very low. Most significant oxidative enzyme was MnP, which showed enzymatic activity in both fungal species, the maximal production being detected after 14 days in all culture conditions. LiP and CDH activities were not detected in any of the cultures evaluated, whilst lacase activity was detected only on initial stages of wood decay and in low quantities. Lignin losses were higher in E. grandis cultures than in P. taeda. The 3 fungal strains tested grew well in simple and low-cost media such as corn steep liquor-sucrose medium and produced chlamydospores without any induction, however osmotic shock was efficient to increase the contents of these spores.

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RESUMO

Morfo-fisiologia da biodegradação de madeiras por Ceriporiopsissubvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. e Phlebia tremellosa (Sch rad.:Fr.)Nakas. & Burds. (Fungi, Basidiomyce tes). Priscila Brasil de Souza Cruz. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial. Departamento de Biotecnologia. Faculdade de Engenharia Química de Lorena. Orientador: Dr. André Luis Ferraz (Departamento de Biotecnologia, FAENQUIL, CP116, 12600-000, Lorena, SP, Brasil). Co-orientador: Dra Clarice Loguercio-Leite (Departamento de botânica, UFSC, CP 476, CEP 88090-400).

Este trabalho se propôs a estudar aspectos enzimáticos e morfológicos

envolvidos no processo de biodegradação de madeira por fungos causadores de podridão branca. As madeiras de Pinus taeda L. e Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden foram inoculadas com Ceriporiopsis subvermispora (Pil.) Gilbn. & Ryv. (cepas SS3 e CS1) e Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas. & Burds. (cepa ATCC 48745) em biorreatores de fermentação sólida durante períodos que variaram de 7 a 28 dias. A partir dos extratos obtidos das culturas foram investigadas as enzimas de natureza hidrolítica como celulases, endocelulases e xilanases, bem como as de natureza oxidativa, como lacases, peroxidases e celobiose desidrogenase. A partir dos cavacos colonizados foram analisados aspectos morfológicos da colonização da madeira por microscopia óptica. As madeiras biodegradadas também foram analisadas quanto à perda de massa e de componentes. Observaram-se as modificações que essas cepas provocaram na madeira e quais as conseqüências destas sobre a biopolpação. A comparação do crescimento dessas cepas em meios de cultura de baixo custo foi realizada com o intuito de aumentar a velocidade de crescimento e baratear o custo de produção do micélio, tal comportamento foi avaliado através de curvas de crescimento. Paralelamente também foi avaliada a capacidade dessas culturas produzirem clamidósporos, como possibilidade de serem utilizados para a estocagem e inoculação em escala ampliada. As duas espécies utilizadas neste trabalho apresentaram atividade metabólica extracelular. Dentro do grupo das enzimas hidrolíticas a atividade enzimática de xilanase foi detectada em todos os períodos de cultivo, sendo que o máximo de atividade encontrava-se aos 14 dias de cultivo, ao contrário de celulase da qual não foi detectada atividade significativa. No complexo oxidativo a enzima de destaque foi a MnP, que apresentou atividade enzimática em ambas espécies sendo que o máximo foi detectado aos 14 dias em todas as condições de cultivo. As atividades enzimáticas de LiP e CDH não foram detectadas em nenhum dos cultivos testados, já a atividade de lacase foi baixa em todos as condições avaliadas. Quanto à perda de lignina observou-se que, de forma geral, nos cultivos no qual o substrato era E. grandis a perda foi mais extensa do que nos cultivos em P. taeda. Os fungos testados crescem bem em meio simples como milhocina-sacarose que tem um custo baixo e as duas espécies de fungos utilizadas neste trabalho são capazes de produzir clamidósporos sem qualquer indução, mas pode-se aumentar a quantidade de clamidósporos produzidos através de indução por choque osmótico.

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1. INTRODUÇÃO

O estudo da biodegradação de madeira apresenta grande

importância acadêmica e tecnológica. Do ponto de vista acadêmico,

estudar a processo biodegradativo significa contribuir com o

entendimento do ciclo natural do carbono que tem início na biossíntese

dos componentes da madeira a partir de CO2 atmosférico e termina com

a liberação do mesmo gás, após a mineralização desses componentes

em decorrência da decomposição induzida por fungos degradadores de

madeira. Do ponto de vista tecnológico, a biodegradação de madeira

pode ser utilizada no processo de biopolpação. Este processo consiste

em tratar a madeira sob condições controladas com fungos previamente

selecionados e posteriormente submeter a madeira biotratada a

processos convencionais de polpação destinados a produção de celulose

e papel.

A combinação de um pré-tratamento fúngico com a polpação

mecânica permite reduzir em até 40% o consumo de energia elétrica

durante o desfibramento/refinamento mecânico. Além disso, as

biopolpas apresentam maior resistência mecânica do que as polpas

convencionais. Este processo já vem sendo testado em escala ampliada

(degradação de 50 toneladas de cavacos – planta piloto na empresa

Melhoramentos Ltda., Caieras - SP) e sua implementação industrial

depende de otimizações oriundas dos estudos em escala piloto e do

licenciamento da tecnologia (AKHTAR et al., 1998). No caso do pré-

tratamento fúngico combinado com a polpação química, os resultados

mais promissores indicam reduções expressivas na demanda de álcali

ativo em processos de polpação kraft destinados à produção de polpas

de alto rendimento, usualmente utilizadas na fabricação de papéis de

recobrimento de caixas ou em papéis de embalagem (MENDONÇA et al.,

2002).

Apesar do processo de biopolpação já se encontrar em vias de

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implementação industrial, pouco se sabe sobre os mecanismos químicos

e bioquímicos que poderiam explicar os benefícios observados para o

pré-tratamento da madeira com os fungos ligninolíticos. Os fungos

estudados atualmente foram selecionados com base na habilidade de

crescerem rapidamente, degradarem lignina seletivamente, reduzirem o

consumo de energia durante a polpação mecânica e melhorarem a

resistência das polpas produzidas a partir da madeira biotratada. Várias

espécies têm sido selecionadas por diferentes pesquisadores de forma

empírica, no entanto não se sabe exatamente o que difere as espécies

avaliadas em termos de metabólitos extracelulares responsáveis pelas

transformações que causam os benefícios da biopolpação.

Não há, até o momento, estudos sistematizados que verifiquem

os tipos de transformações, quais diferentes espécies e cepas de fungos

as causam e quais as conseqüências dessas transformações sobre a

eficiência da biopolpação. O presente trabalho contribuiu nesse sentido,

ao abordar o modo de ação de três cepas de duas espécies de

basidiomicetes agindo sobre a madeira de duas espécies arbóreas

(Pinus taeda e Eucalyptus grandis).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA COMENTADA

A biodegradação da madeira é um processo natural de reciclagem

da matéria orgânica e ocorre em todos os ambientes naturais

(terrestres e aquáticos) quando as condições ambientais são favoráveis.

A madeira pode ser colonizada rapidamente por vários organismos, os

quais através do processo de biodegradação solubilizam os

componentes estruturais da madeira (polissacarídeos e lignina)

inicialmente a moléculas simples e finalmente a CO2 e água (DANIEL,

2003). Dentre os vários organismos que podem degradar a madeira, os

basidiomicetes causadores de podridão branca despertam grande

interesse uma vez que podem ser aplicados a processos biotecnológicos

como no caso da biopolpação. Entender melhor os mecanismos

biológicos responsáveis pela degradação da madeira e especialmente da

lignina é um importante pré-requisito para o desenvolvimento e

otimização dos processos de biopolpação (MESSNER, et al., 2003).

2.1. Composição química e ultraestrutura da madeira

A madeira é constituída por celulose, polioses, lignina, pequenas

quantidades de extrativos e sais minerais, e apresenta-se como um

material complexo que deve ser estudado considerando suas

propriedades químicas e morfológicas. Em geral, as madeiras podem

ser classificadas em duras "hardwood" ou moles "softwood". As

madeiras duras são provenientes de árvores produtoras de folhas e

frutos (angiospermas), como, por exemplo, eucalipto, ipê e peroba, já

as madeiras moles são extraídas de árvores não produtoras de flores e

frutos (gimnospermas), tais como, pinheiro e cipreste (FENGEL E

WEGENER, 1989). As características anatômicas e microestruturais da

madeira variam entre as diferentes espécies, sendo que as madeiras

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moles tendem a ter uma estrutura mais simples quando comparadas às

madeiras duras (DANIEL, 2003). As madeiras duras e moles diferem

quanto à proporção de seus componentes, a estrutura química da

lignina e das polioses, ao arranjo e tipos de células e quanto à

susceptibilidade à biodegradação. Em termos ultraestruturais, as

madeiras moles se caracterizam por apresentar de 90 a 95% de

traqueídeos, 5 a 10% de células de raio e 0,5 a 1,0% de canais de

resina. Outra característica importante das madeiras moles, quando se

considera a produção do papel e celulose, é que elas possuem fibras

mais longas que as madeiras duras. Essa característica confere boa

qualidade aos papéis originados de madeiras moles, mesmo aqueles

produzidos com processos mecânicos ou termomecânicos. Já as

madeiras duras têm uma estrutura mais complexa que incluem, 36 a

70% de fibras, 20 a 55% de elementos de vaso, 6 a 20% de células de

raios e 2% de células parenquimáticas (BIERMANN, 1996; DANIEL,

2003).

A composição química das madeiras moles difere das madeiras

duras quando comparadas às proporções dos seus diferentes

componentes como demonstrado na tabela 1.

Tabela 1 - Composição química das madeiras moles e duras (BIERMANN, 1996).

Componentes Madeira dura (%) Madeira mole (%)

Celulose 40-50 45-50

Galactoglucomanana 2-5 20-25

Xilana 15-30 5-10

Lignina 18-25 25-35

Extrativos 1-5 3-8

A celulose é o principal polímero tanto em madeiras duras quanto

em madeiras moles. Trata-se de um polímero linear de anidro-glicose

ligado por ligações β-(1-4)-glicosídicas (FENGEL E WEGENER, 1989).

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As polioses são uma classe de polímeros de açúcar incluindo as

hexoses (glicose, manose, galactose e ácido metilglucurônico) e as

pentoses (xilose e arabinose). As polioses apresentam-se na forma de

polímeros ramificados de menor massa molar que a celulose e podem

ser homopolímeros (exemplo: xilana, formada por xilose) que

tipicamente ocorrem em madeiras duras ou heteropolímeros (exemplo:

glucomanana, formada por glicose e manose), que predominam nas

madeiras moles. As polioses de madeira mole são compostas por

galactoglucomanana, glucomanana, arabinoglucuronoxilana e

arabinogalactana e as de madeira dura por glucuronoxilana e

glucomanana (HON e SHIRAISHI, 2001).

A lignina é uma macromolécula complexa com estrutura

tridimensional amorfa composta por unidades de fenilpropano (guaiacil,

siringil e ρ-hidroxifenil). Os diferentes tipos de acoplamento entre os

precursores dão origem a vários tipos de ligações entre as unidades

fenilpropano como β-O-4 e α-O-4 (50-65%), β-1 (9-15%), β-5 (6-15%),

5-5 (2-9%) e β-β (2-5%). A estrutura da lignina é diferente entre os

dois tipos de madeira, a lignina de madeiras moles é composta de 90%

de unidades guaiacil e a lignina de madeiras duras é composta de

quantidades aproximadamente iguais de siringil e guaiacil. A lignina tem

um papel significante na proteção natural da madeira, pois grandes

quantidades de lignina e a presença de lignina guaiacil promovem uma

maior proteção natural do que baixos níveis de lignina e lignina siringil

(DANIEL, 2003). Estruturas modelo para lignina de madeiras moles e

duras são mostradas nas figuras 1 e 2 (FENGEL E WEGENER, 1989,

BIERMANN, 1996).

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2

5 - 5

- ββ

- 1

- 5

- O - 4β

β

β

3O C H

|

γ

βα

3O C H

H C O H2

_

H C O

12O H

11

|

||

|

|

2H C

O C H

10

H O 9

2H C O H

|

|

|

|

8

__

7

_________

_O C

6______3H C O

5

|

|

| |

|

|

| |

|

____

4

_

__

_ || |

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|

|

|

|

|

| _

_ _

_

16

______

___

___

___

C HC H

15

14

___

H C

H C

H C

H C

H C

H C

3H C O

3

13|

|

|

|

|

|

|

| |

|

|

|

|

|

|

|

|

|______

______

______H C

___

2

___

2C H OHH C = O

1

|

||

|

|

|

|

| |

|

|

|

|

|

|

H O C H H O C H

H O C H

H C O H

H C O H

H C O H

H C O H

H C O H

H C O H

H C O H

2 2

2

2

H C O H2

H C O H

2

2

H C O H

H C O H

2H C O H

H C O H

2 O C H 3

O C H 3

O C H 3

3

3H C O

H C O

3

H C O

3H C O

3

H C O

3

H C O

3

33

H C O

O HO H

H C

H C

H C

H C

H C

C H

C H

C H

C H

C H

C H

C = O

O

O

O

O

O

O

O

O

O

O

O

O

O

OO

H C O H

2H C O H

H C

C H

______

__

H O H2 C C C = O --|

|O

H

___

Figura 1 - Modelo de uma estrutura de lignina de madeiras moles proposta por Adler

(FENGEL e WEGENER, 1989).

0.1

OCH3O

H3CO

CCCOHH2

HH H

OHOCH3

C

H2 COHCH

0.5OOCH3H3CO

CH2

CC

CHCH2

CH2

O

O

OCH3

H2H

0.4H3COO

OOCH3

COCHCOHH2 CH

CHCOHH2

CH

C

H3CO

H OOCH3

COCCOHH2

H

COHH2

CH

H

OH

C

OCH3H3CO

COHH2

OCH3

O CH

H3COOCH CHOHOCH2

CHCOHH2

O

COC OH

CHCH

OCH3O

H2H

H

COHC

C

OCH3O

HOCH2 COCHO

OCH3

H2COH

CCHO

OCH3

H CCOH

H3OC OCH3

CHO

COHH2

COHH2

H

OCH3H3CO

CHC

OCH3

OCH3

O CH

OCH3O

CH O

OCH3H3CO

CCCOH

CH2

OH2

HH

COHH2

COHH2

CHH

OCH3H3COOH

C

O

H3CO

COCH

O

COHH2

COHH2CHCHO

C

OCH3

O CHCH2O

CH

H3COOCH CHOHOCH2

OH3CO OCH3

CCC

HH

H2

O

OCH2

CH

COHH2

CH

H2 COH

H2COHCHCO

OCH3H3COOH

OCH3OHC

CHOH3CO

CH

H3CO OCH3

O CHCH

OHOCH3H3CO

OCOHH2

nach Nimz, H. 1974.Angew. Chem. internat. Edit., 13, 313-321

Figura 2 - Modelo de uma estrutura de lignina de madeira dura proposta por K. Nimz

(FENGEL e WEGENER, 1989).

11

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Existe ainda uma fração menor da madeira, formada basicamente

por compostos fenólicos e resinas, que comumente são chamados de

extrativos (solúveis em solventes orgânicos e água) e compreendem

cerca de 2 a 4% (HIGUCHI, 1985; FENGEL E WEGENER, 1989).

É interessante ressaltar que todos os constituintes da madeira

estão intimamente associados e/ou ligados quimicamente. A lignina

forma um complexo com as polioses encapsulando a celulose, reduzindo

a disponibilidade destes dois componentes na parede celular (READING

et al., 2003). Na parede celular, a lignina está associada às polioses

através de interações físicas e ligações covalentes. O fato de a lignina

envolver as células funcionando como uma “cola” dificulta a

biodegradação, protege a árvore contra o ataque de microrganismos e

confere coesão à estrutura interna além de resistência ao esforço

mecânico (FENGEL E WEGENER, 1989; HOFRICHTER, 2002; READING,

et al., 2003).

2.2. Biodegradação da madeira

Embora a madeira possa ser atacada por vários organismos, no

ecossistema terrestre os fungos são os principais decompositores. As

enzimas extracelulares produzidas pelos fungos degradadores de

madeira e o subseqüente processo de decomposição difere entre os

vários grupos de fungos, resultando em diferentes tipos de degradação

(AKHTAR, et al., 1997). Os fungos degradadores de madeira são

agrupados em três categorias. Os fungos de podridão branda ou “soft-

rot” (Ascomycetes e Deuteromycetes) causam a degradação da lignina

e carboidratos, porém em velocidades muito baixas. Já os causadores

de podridão castanha ou "brown-rot" (Basidiomycetes) degradam

principalmente polissacarídeos. No caso dos de podridão branca ou

"white-rot" (Ascomycetes – Xylariales e Basidiomycetes) todos os

componentes da madeira são degradados (HIGUCHI, 1985; FENGEL E

12

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WEGENER, 1989; DEACON, 1997).

Os fungos causadores de podridão branca são os mais eficientes

degradadores de lignina, podendo degradá-la seletivamente ou

simultaneamente. Os fungos que pertencem a este grupo são de grande

interesse para a indústria de papel e celulose por sua capacidade de

degradar lignina, embora muitos destes fungos também possam

degradar celulose e polioses (BLANCHETTE, 1991; BLANCHETTE et al.,

1992; KIRK E CULLEN, 1998; AKHTAR et al., 1998). Os fungos que

degradam a lignina seletivamente podem ter diferentes aplicações

biotecnológicas, tais como a deslignificação de materiais

ligninocelulósicos (madeira, palha e outros resíduos agrícolas) para

processos de biopolpação, o biobranqueamento de polpas, a

biorremediação de poluentes aromáticos e a produção de ração animal

(BLANCHETTE, 1994; AKHTAR et al., 1998; MESSNER et al., 2003).

As primeiras vias de colonização da madeira por todos os tipos de

fungos são usualmente as células dos raios que são vias anatômicas de

mais fácil acesso e menor resistência (fig. 3). Através das células do

raio as hifas têm acesso aos nutrientes de reserva não estruturais de

fácil assimilação contidos nas células parenquimáticas (não lignificadas).

A partir das células parenquimáticas do raio as hifas se espalham pelo

lúmem das fibras e vasos e avançam através das pontoações (“pits”).

hifas

Figura 3 – Vias de colonização da madeira pelas hifas.

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Por meio da ação do complexo enzimático produzido por essas

hifas dá-se o processo de decomposição da madeira (KIRK E CULLEN,

1998; MESSNER, et al., 2003; DANIEL, 2003). No entanto, a

acessibilidade das enzimas na madeira, e nas fibras é limitado, devido a

fatores como adsorção à superfície, baixa porosidade da fibra e pequeno

tamanho dos poros das fibras. Além do que, a organização molecular e

a associação dos diferentes componentes da parede celular da fibra

(celulose, polioses e lignina) formam uma matriz impenetrável que

também limita o acesso dos microorganismos e suas enzimas (KUHAD

et al., 1997; DANIEL, 2003).

Dessa forma, assume-se que o processo de biodegradação de um

substrato lignocelulósico, como a madeira, ocorre pela ação combinada

de uma variedade de sistemas enzimáticos e alguns agentes não

enzimáticos de baixa massa molar como o ácido oxálico, álcool

veratrílico, ácido antranílico, ácidos graxos insaturados e agentes

redutores de ferro, que são produzidos extracelularmente pelos fungos.

Através destes sistemas lignocelulolíticos, os fungos degradam os

componentes insolúveis da madeira, transformando-os em

componentes menores e solúveis, os quais podem ser incorporados ao

seu metabolismo (FENGEL E WEGENER, 1989; TUOR, et al., 1995;

SETHURAMAN et al., 1998; MESSNER et al., 2003).

A biodegradação da celulose é um tópico bem elucidado do ponto

de vista bioquímico. A degradação do polímero é feita pela ação das

celulases (endo-1,4-β-glicanases, exo-1,4-β-glicanases e 1,4-β-

glicosidases). As enzimas atuam de forma cooperativa, causando a

hidrólise completa da celulose até glicose (HIGUCHI, 1985; ERIKSSON

et al., 1990; EVANS et al., 1994).

A biodegradação das polioses requer um conjunto de enzimas

extracelulares mais complexo devido a sua estrutura de hetero-

polissacarídeo ramificado. As enzimas envolvidas na biodegradação das

polioses são hidrolases específicas que clivam determinados tipos de

ligações existentes no polímero. Assim, as xilanases rompem ligações

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glicosídicas entre unidades de xilose; as mananases atuam sobre

ligações glicosídicas entre moléculas de manose e as glucuronidases

sobre ligações de ácidos urônicos com moléculas de açúcares. As

hemicelulases são divididas em endo-hemicelulases, exo-hemicelulases

e xilosidases e, como as celulases, atuam de forma cooperativa

provocando a hidrólise completa das hemiceluloses até seus

monomêros (HIGUCHI, 1985; ERIKSSON et al., 1990).

A biodegradação da lignina ainda não foi completamente

elucidada devido a sua maior complexidade estrutural, mas supõe-se

que um grupo amplo de enzimas esteja relacionado à sua

biodegradação. No entanto, existem ainda hoje, controvérsias sobre a

real participação de cada grupo de enzimas e a função que cada um

deles exerce no processo global de oxidação que leva a lignina até

dióxido de carbono e água. Essas enzimas podem ser agrupadas em

pelo menos duas classes distintas, as fenoloxidases e as enzimas que

produzem peróxido de hidrogênio (HIGUCHI, 1985; ERIKSSON et al.,

1990; BLANCHETTE, 1991; RUEL et al., 1994). As fenoloxidases podem

ser divididas em dois subgrupos. Um contém as peroxidases, enzimas

dependentes de peróxido, que estão envolvidas na biodegradação da

lignina como: lignina peroxidase (LiP, EC 1.11.1.14) e manganês

peroxidase (MnP, EC 1.11.1.13). O outro subgrupo contém as lacases

(EC 1.10.3.2, benzenediol:oxigênio oxidoredutase) que são enzimas

que não dependem de peróxido para atuarem (HAKALA, et al., 2005).

Essas enzimas oxidativas são comumente produzidas por fungos de

decomposição branca em diferentes combinações. Existem espécies

fúngicas que são eficientes degradadoras de lignina e produzem

somente um ou outro tipo de enzima. Cerca de 60% dos fungos

causadores de podridão branca estudados até agora secretam MnP e

lacase, como combinação mais comum (LI, 2003; HAKALA, et al.,

2005). As enzimas que produzem peróxido de hidrogênio são acessórias

às peroxidases, gerando peróxido de hidrogênio “in situ” e possibilitam

que as peroxidases atuem (KIRK E CULLEN, 1998).

15

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A ação dessas enzimas sobre a lignina leva a reações de oxidação

que progressivamente decompõem a macromolécula até compostos de

baixa massa molar que podem ser susceptíveis ao metabolismo

intracelular do fungo. No caso da ação da LiP (fig. 4), a degradação de

lignina ocorre através da formação inicial de um radical catiônico nos

núcleos aromáticos. A formação do radical catiônico induz à ruptura de

ligações, principalmente entre os carbonos α e β e a conseqüente

degradação química (pela ação do oxigênio e da água) dos

intermediários formados (HIGUCHI, 1985, 1990; FERRAZ E DURÁN,

1995; RODRIGUEZ et al., 1997, KIRK e CULLEN, 1998). Já nos casos da

MnP e da lacase (fig. 5 e 6 respectivamente), sabe-se que as enzimas

possuem baixo potencial de oxidação e podem abstrair elétrons

somente de estruturas fenólicas, não atuando diretamente sobre anéis

aromáticos cujos oxigênios da posição 4 estão eterificados (estruturas

não fenólicas). Isso limitaria a ação dessas enzimas a uma pequena

fração da lignina, já que a macromolécula apresenta somente cerca de

10% dos oxigênios da posição 4 na forma de estruturas fenólicas livres.

Alguns resultados recentes (apresentados no item 2.4) mostram que,

ao menos a MnP, pode atuar sobre estruturas não fenólicas mediada

pela peroxidação de lipídeos insaturados.

C 0 C I

C II

S

S +•

S

S +•

H 2O 2

H 2O

Figura 4 – Ciclo catalítico simplificado de lignina peroxidase (LiP). S representa um substrato aromático não fenólico (FERRAZ, 2004).

16

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H2O

C 0 CI

C II

H2O2

Mn3+ Mn2+

PhOH PhO.

Mn3+ Mn2+ ou

Figura 5 – Ciclo catalítico simplificado de peroxidase dependente de Manganês (MnP). PhOH representa um substrato fenólico (FERRAZ, 2004).

Lacase (Cu2+)

Lacase red. (Cu1+)

O2

H2O PhOH

PhO•

Figura 6 – Ciclo catalítico de lacase. PhOH representa um substrato fenólico. A estequeometria do ciclo envolve 4 Cu2+ (normalmente ligados a uma única proteína ou a 2 cadeias protéicas acopladas), 4 substratos fenólicos, 4 prótons e 1 molécula de O2 (FERRAZ, 2004).

A celobiose desidrogenase (CDH) é uma enzima que faz parte do

sistema enzimático extracelular dos fungos celulolíticos e degradadores

de madeira, sistema no qual a CDH pode estar envolvida tanto na

degradação de celulose como de lignina, apesar de ser uma enzima que

oxida a celobiose e a manobiose que são respectivamente produtos da

degradação de celulose e manana (HENRIKSSON, et al., 2000b;

BAMINGER, et al., 1999). O exato papel biológico da CDH não está

completamente entendido. Foi sugerido que esta enzima atua de

diversas formas: (i) prevenindo a inibição por produto durante a

degradação da celulose através da oxidação da celobiose; (ii)

produzindo radicais hidroxila através da reação do tipo Fenton que pode

ter um papel na degradação dos polissacarídeos e da lignina; (iii)

inibindo a polimerização de radicais aromáticos produzidos pela LiP; e

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(iv) disponibilizando manganês (MnII) para MnP através da redução de

precipitados de óxido de manganês (MnO2) (HILDÉN, et al., 2000). Esta

enzima foi encontrada e purificada em vários basidiomicetes causadores

de podridão branca como Phanerochaete chrysosporium e Trametes

versicolor (L.:Fr.) Pil., e em alguns outros fungos causadores de

podridão mole e em bolores (HENRIKSSON, et al., 2000a).

Outro aspecto importante a ser considerado na biodegradação de

madeira é que apesar dos muitos estudos sobre as enzimas que

estariam envolvidas na biodegradação, ainda não se consegue explicar

muito bem como estas penetrariam na parede das células componentes

da madeira. Desde o ponto de vista microscópico pode-se diferenciar

dois modos principais de degradação da célula vegetal por fungos de

decomposição branca. O primeiro envolve uma “escamação”

progressiva da parede celular no sentido lúmen-lamela média, levando

à diminuição progressiva da espessura da parede celular. Outro modo

de degradação que tem sido observado em fungos seletivos para a

degradação de lignina, envolve a remoção de lignina e polioses sem a

simultânea erosão da parede celular vegetal. Nesses casos, a parede

celular, apesar de degradada, mantém sua forma original (AGOSIN et

al., 1990, BLANCHETTE et al., 1997, KIRK e CULLEN, 1998). Os

mecanismos distintos de degradação envolvidos em cada caso têm sido

objeto de muitos estudos e um aspecto a ser considerado é o modo de

ação das enzimas extracelulares sobre o complexo lignocelulósico.

Figura 7 - Microscopia ótica mostrando o ataque progressivo (erosão) da parede celular de Picea abies por Heterobasidium annosum Note que a célula ao centro apresenta erosões irregulares na parede celular. A escala no canto superior esquerdo da foto indica a magnitude do aumento (FERRAZ, 2004).

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Figura 8 - Microscopia eletrônica de transmissão mostrando o ataque não erosivo da parede celular de madeira. Notophagus dombeyi degradado por Ganoderma australe. Corte fixado com KMnO4 para contraste da lignina. (A) células intactas, (B) e (C) as setas indicam o avanço do ataque onde as áreas de menor contraste estão livres de lignina. (D) células completamente livres de lamela média (FERRAZ, 2004).

Vários trabalhos têm demonstrado que enzimas lignocelulolíticas

não penetram na parede celular intacta (GOODELL, et al., 1997;

FLOUNOY et al., 1993; SREBOTNIK et al., 1988). Com isso, a

degradação enzimática dos componentes da parede celular não poderia

justificar o modelo de ataque não erosivo que descrevemos

anteriormente. Ou seja, se as enzimas responsáveis pela decomposição

dos componentes da madeira não podem penetrar na parede celular

vegetal, somente um processo de “escamação” da parede celular pode

ser efetivo na biodegradação. No entanto, para os fungos de

decomposição branca que degradam lignina seletivamente, esse modelo

não é adequado. Em trabalho bastante esclarecedor, BLANCHETTE et al.

(1997) demonstraram que culturas de C. subvermispora (um dos

fungos mais seletivos já descritos para a degradação de lignina) causam

alterações estruturais significativas na lignina presente na parede

celular e na lamela média, mesmo antes da parede celular vegetal ser

permeável a proteínas do tamanho da insulina (5730 Da). Dessa forma,

vários trabalhos têm proposto que alguns compostos de baixa massa

molar poderiam atuar ao menos nos estágios iniciais de biodegradação

da lignina (KAPICH et al, 2005). Estes compostos deveriam apresentar

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atividade degradativa, mas teriam que ser suficientemente pequenos

para penetrar no complexo celular vegetal, degradar os componentes aí

existentes e com isso desestruturar a parede celular a ponto de permitir

a penetração de enzimas oxidativas e hidrolíticas (EVANS et al, 1994).

2.3. Basidiomicetes causadores de podridão branca com

potencial para a biopolpação

Na biopolpação, a madeira é pré-tratada pelo fungo e

posteriormente submetida à polpação mecânica ou química. Os

benefícios do pré-tratamento biológico incluem a redução de energia

requerida para o desfibramento/refinamento da madeira (no caso de

polpas mecânicas) e a redução da demanda por produtos químicos no

caso das polpações químicas. Adicionalmente, as “biopolpas”

usualmente possuem melhores qualidades mecânicas que os

respectivos controles, o que permite a preparação de papéis de melhor

qualidade (AKHTAR et al., 1998).

Os fungos causadores de podridão branca que podem ser

aplicados na biopolpação foram inicialmente selecionados com base na

habilidade de crescerem rapidamente e degradarem lignina

seletivamente. Esta seletividade é estimada com base em análises

químicas do conteúdo de lignina e açúcares liberados pela hidrólise

ácida da madeira biotratada (AKHTAR et al., 1997). Baseado neste tipo

de seleção, várias espécies têm sido selecionadas por diferentes

pesquisadores, entre elas estão Ceriporiopsis subvermispora (Pil.) Gilbn.

& Ryv., Phanerochaete chrysosporium Burds., Phlebia brevispora

(Nakas.), Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas. & Burds., Phlebia

subserialis (Bourd. & Galz.) Donk, Perenniporia medullapanis (Jacq.:Fr.)

Donk, Dichomitus squalens (Karst.) Reid, Phellinus pini (Thore.:Fr.) A

Ames, Phlebia radiata (Fr), Hyphodontia setulosa (Berkeley & M.A.

Curtis) Maas Geesteranus, e Physisporinus rivulosus (Berk. & M.A.

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Curtis) Ryvarden. Dentre as várias espécies de fungos estudadas C.

subvermispora foi considerada como uma das mais apropriados para ser

utilizada no processo de biopolpação, visto que degrada lignina

seletivamente, reduz o consumo de energia durante o desfibramento e

melhora a resistência do papel obtido a partir das biopolpas (AKHTAR et

al., 1997 E 1998). Entretanto, essa seleção foi feita de forma empírica,

uma vez que, não se sabe exatamente no que diferem as espécies

indicadas, em termos de produção de metabólitos extracelulares

responsáveis pelas transformações químicas que tornam

industrialmente atrativo o processo de biopolpação.

Tais basidiomicetes importantes para a indústria, considerando o

número de espécies existentes na natureza, são estudados em número

reduzidíssimo, apesar do óbvio potencial em aplicações biotecnológicas.

Identificar e escolher as melhores espécies com tal finalidade, é um

problema crítico, que demandará muito tempo e investimento em

pesquisa. Através da taxonomia, que é a ciência que permite classificar

os organismos, via filogenética, pode-se determinar graus de

parentescos entre organismos, selecionando assim organismos

parentes, que podem apresentar habilidades similares em produzir

metabólitos úteis em processos biotecnológicos. Sabendo que uma

espécie de um gênero apresenta características interessantes, como,

por exemplo, produzir metabólitos secundários ou enzimas de interesse

biotecnológico, poder-se-ia supor que outras espécies do gênero ou de

gêneros próximos e relacionados também apresentariam as mesmas

características. Desse modo, quando uma característica desejada é

encontrada em uma espécie em particular, um procedimento

recomendável para encontrar espécies com características similares é

fazer uma seleção entre organismos de um mesmo gênero e/ou família

(BURDSALL, 1998). Com base nesta hipótese foram selecionadas para o

estudo aqui proposto duas cepas de Ceriporiopsis subvermispora (SS-3

e CS-1) e uma de Phlebia tremellosa que é considerada

filogeneticamente próxima a Ceriporiopsis (BURDSALL, 1998).

21

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Ceriporiopsis Dom. é um gênero poróide que pertence à família

Coriolaceae ou Polyporaceae (BURDSALL, 1998). C. subvermispora é

uma espécie rara, encontrada em regiões temperadas, distribui-se no

sul do Canadá, no norte da América do Norte e na Europa Central

(GILBERTSON E RYVARDEN, 1986). Na natureza, coloniza basicamente

madeiras moles, i. e. gimnospermas (BLANCHETTE et al., 1992). Um

consórcio formado por indústrias do setor de celulose e papel, a

Universidade de Wisconsin e o “USDA - Forest Products Laboratory” em

Madison, EUA desenvolveu vários estudos que culminaram na seleção

de C. subvermispora (AKHTAR et al., 1998). Esta espécie se mostrou

excelente para uso em biopolpação, principalmente por degradar a

lignina seletivamente e por manter a celulose praticamente intacta,

após curtos períodos de degradação (AKHTAR et al., 1998). Resultados,

bastante animadores já foram reportados envolvendo a utilização de C.

subvermispora no pré-tratamento de madeira anterior a processos

mecânicos, termomecânicos (SETLIFF et al., 1992; AKHTAR et al.,

1992, 1993; MESSNER E SREBOTNIK, 1994) e de polpação sulfito,

organosolv, Kraft e sulfito/antraquinona (SCOTT et al., 1996, FERRAZ et

al., 1998, MENDONÇA, et al., 2002, MENDONÇA et al., 2004).

Por outro lado, Phlebia Fr. (emend Donk), um gênero da família

Meruliaceae (KIRK et al., 2001), tem certas espécies poróides, sendo

próximo a Phanerochaete Karsten segundo ERIKSSON e seus

colaboradores (1981). Estudos moleculares, que consideram o gênero

Phlebia na família Corticiaceae, o localizam dentro de um grupo

denominado clado poliporóide, i. e., aparentado tanto a Ceriporiopsis,

quanto a Phanerochaete (HIBBETT E THORN, 2001).

Phlebia tremellosa (Schrad.:Fr.) Nakas. et Burds. tem sido citada

como outra espécie promissora para biopolpação e pré-tratamento de

resíduos agrícolas para produção de ração animal, uma vez que degrada

lignina seletivamente (VARES et al.,1994). No entanto, existem poucos

trabalhos na área de biopolpação com esta espécie e pouco se conhece

sobre o seu perfil de produção de enzimas extracelulares. Alguns

22

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autores caracterizam P. tremellosa como produtora de LiP e lacase

(VARES et al., 1994; TUOR et al., 1995). No entanto, HATAKKA (1994)

afirma que esta espécie produz todas as enzimas ligninolíticas (LiP, MnP

e lacase), o que demonstra que são necessários mais trabalhos para

avaliar completamente esta espécie.

2.3.1. Mecanismo de ação sobre a lignina

Apesar da crescente importância de C. subvermispora na

aplicação industrial, o sistema enzimático extracelular deste fungo ainda

não está completamente esclarecido. Um grande problema a ser

elucidado é o diferente comportamento do sistema enzimático frente a

cada tipo de substrato. Muitas publicações têm mostrado que o

crescimento fúngico em substrato sólido é diferente quando comparado

ao meio líquido, e conseqüentemente, os padrões de produção das

enzimas e das isoenzimas são diferentes (MACHUCA e FERRAZ, 2001;

VICUÑA et al., 1996; URZÚA et al., 1995). SETHURAMAN et al. (1998)

acrescentam, ainda, que o padrão de produção das enzimas é

extremamente dependente da fonte de carbono utilizada.

C. subvermispora degrada lignina de um substrato

ligninocelulósico através da ação de manganês peroxidase e lacase. A

não produção da lignina peroxidases (LiP) seria crítica, pois essas

enzimas apresentam a habilidade de atacar estruturas não fenólicas da

lignina (RUTTIMANN-JOHNSON,1993, ENOKI et al., 1999, CÓRDOVA,

1999). No entanto, vários estudos revelaram ser eficiente a degradação

de lignina por C. subvermispora mesmo sem a produção de LiP

(RUTTIMANN-JOHNSON, 1993; SETHURAMAN, 1998). A produção de LiP

não tem sido detectada em cultivos desse fungo mesmo em diversos

meios e formas de cultivo (LOBOS et al., 1994). Um fato intrigante

nesse aspecto é a não detecção de lacases em condições de cultivo

onde o único substrato orgânico é o próprio composto lignocelulósico

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(FERRAZ et al., 2002, SOUZA-CRUZ, 2002). Com isso, a degradação de

lignina por esse fungo deveria, a princípio, ser atribuída principalmente

a ação de MnP. Outro dado intrigante no modo de ação desse

organismo é o fato de que a degradação de lignina ocorre notoriamente

em pontos distantes da hifa fúngica, ou seja, o modelo erosivo de

degradação da parece celular vegetal não se aplica.

Em uma série de trabalhos esclarecedores JENSEN et al.(1996);

SREBOTNIK et al. (1997) e KAPICH et al. (1999) demonstraram que o

mecanismo químico envolvido na decomposição de lignina por C.

subvermispora deve enquadrar-se necessariamente em um modelo

onde um elétron é retirado diretamente de estruturas não fenólicas. Ou

seja, a retirada do elétron é induzida por uma espécie ativa com

elevado potencial de oxidação. Isso tem sido demonstrado pela

verificação dos produtos de degradação de um composto modelo de

lignina, marcado com carbono 14, ligado a uma cadeia polimérica de

polietilenoglicol (PEG). Nesses estudos propõe-se que a degradação

estaria relacionada com a peroxidação de lipídeos iniciada por Mn3+

oriundo da ação de MnP. Essa hipótese poderia, inclusive, explicar a

degradação da lignina no interior da parede celular da madeira através

de um processo não erosivo, uma vez que este é baseado na ação de

um mediador de baixa massa molar. Recentemente, KAPICH et al.

(1999) demonstraram que os radicais peroxila oriundos da peroxidação

de ácido linoléico por MnP de C. subvermispora podem atuar em

modelos de lignina não fenólicos, abstraindo um elétron (e um próton)

do carbono alfa, levando a posterior degradação de um composto

modelo de lignina.

2.4. Aspectos fisiológicos e morfológicos que interferem no

crescimento e na competição dos fungos pelo substrato

Quando falamos em fungos, uma exata definição de crescimento

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depende do método utilizado em sua determinação. A maioria dos

métodos determina, diretamente ou indiretamente, o aumento em

massa de um inóculo após um conhecido tempo de incubação em um

meio de cultura completo. O aumento em massa ou o número de

células pode dessa forma ser usado como uma definição funcional de

crescimento. Em trabalhos experimentais utilizam-se meios sólidos em

placas de Petri e/ou meios líquidos, em culturas agitadas ou estáticas

(GRIFFIN, 1994). Um meio de cultura completo para o crescimento do

fungo deve ter além de água, substâncias orgânicas apropriadas como

fonte de carbono (ex. glicose), fonte de nitrogênio (ex. aminoácidos),

certos íons inorgânicos (ex. K+, SO42-, PO4

3-, íons metálicos) em

quantidades necessárias, e certos fatores orgânicos de crescimento (ex.

vitaminas) em concentrações baixas. Além da composição do meio, um

outro fator que afeta extensamente o desenvolvimento dos fungos na

cultura é o pH. A investigação da relação entre pH e crescimento

apresenta dificuldades. O problema é que o pH não varia sem alterar

outras características do meio de cultura e raramente se mantém

constante durante o crescimento, mesmo se o meio de cultura for

tamponado (INGOLD E HUDSON, 1993). Há uma lacuna na informação

sobre o efeito do pH nos parâmetros de crescimento do fungo, já que

suas atividades metabólicas alteram o pH, aumentando-o através da

absorção de ânions ou produção de amônia a partir de compostos

nitrogenados; ou reduzindo-o pela formação de ácidos orgânicos ou

absorção de cátions. Um tampão efetivo é difícil de ser utilizado em

cultura, já que estes podem ser assimilados pelo fungo ou serem

tóxicos em quantidades necessárias para uma tamponação eficiente. A

concentração de íons hidrogênio pode afetar o crescimento tanto

indiretamente pelo efeito na disponibilidade de nutrientes como

diretamente pela ação nas superfícies celulares e sobre a

permeabilidade da membrana. Quando os nutrientes requeridos são

satisfatórios, a maioria dos fungos cresce bem sobre uma larga faixa de

pH entre 4 e 7. Alguns fungos que produzem ácidos orgânicos são

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capazes de tolerar condições consideravelmente mais ácidas (CARLILE E

WATKINSON, 1996).

Os sapróbios pertencentes à classe Basidiomycetes são

morfologicamente e bioquimicamente adaptados a viver sobre

substratos lignocelulósicos. Uma hipótese de sucessão na madeira

iniciaria com os mitospóricos comuns (mofos) e com os de tingimento

(“staining fungi”), continuando com os causadores de podridão mole e

culminaria com a penetração de micélio dos basidiomicetes causadores

de podridão parda e/ou branca (RAYNER & TODD, 1982). A colonização

de um determinado substrato por uma espécie de fungo depende em

parte pela habilidade competitiva saprofítica intrínseca e em parte pelo

balanço entre o potencial do próprio inóculo e as espécies competidoras.

A habilidade competitiva do fungo é determinada pela velocidade de

germinação dos esporos e a taxa de crescimento da hifa jovem na

presença de nutrientes solúveis do substrato; na habilidade de produzir

enzimas necessárias a decomposição de componentes solúveis e

insolúveis da madeira; na capacidade de lançar substâncias antibióticas

capazes de inibir o crescimento de outro fungo e bactéria; e na

habilidade de tolerar substâncias fungistáticas lançadas pelos outros

organismos. Conhecendo a habilidade competitiva sapróbia do fungo no

substrato é importante ainda considerar a energia para o crescimento

que cada fungo tem quando começa a colonização, isto é chamado

potencial de inóculo. Este depende do nível da população de um fungo

contaminante (número de esporos e unidades de hifa), idade, presença

de nutrientes no substrato e das condições ambientais (EATON E HALE,

1993).

Os basidiomicetes, especialmente aqueles que utilizam a madeira

como substrato tem um comportamento conhecido por ocupar um nicho

“economicamente” e por muito tempo, ou seja, mantém uma população

constante por longos períodos em equilíbrio com seu ambiente, a fim de

não esgotar o substrato. Este tipo de comportamento faz com que

métodos de competição antagonísticos sejam melhores para repelir uma

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invasão de um substrato que ele já ocupa, do que competir pela

colonização de novos substratos. No processo de competição, alguns

basidiomicetes produzem antibióticos tais como substâncias fenólicas

efetivas contra bactérias Gram + (p. ex Ganoderma australe) e fungos

do solo (p. ex. Armillaria mellea), além de substâncias que inibem o

crescimento de outros fungos (p. ex. Oudemansiella), porém as

pesquisas sobre produção de antibióticos são ainda muito recentes

(STAMETS, 2002). Outro tipo de inibição, a interferência hifal, é mais

freqüentemente estudada em basidiomicetes do que a antibiose. Esta

ocorre somente quando existe um contato físico entre as hifas.

(CARLILE E WATKINSON, 1996; GERBER et al., 2000).

O fungo que utiliza a madeira como única fonte de nutrientes

mostra consideráveis adaptações tanto na sua morfologia como na sua

bioquímica. A hifa de uma única espécie pode diferir consideravelmente

em diâmetro, dependendo das condições ambientais e da sua posição

na colônia. Existem também claras diferenças entre as espécies.

Durante um determinado período de tempo de vida de uma colônia de

basidiomicetes, há muitas vezes diferenças consideráveis entre as hifas.

Inicialmente estas diferenças são simples como a taxa de crescimento,

ângulos de ramificação e largura, mais tarde diferem em espessura e

composição da parede, septações, conteúdo, habilidade de se agregar e

fundir com outras, translocar nutrientes e água e em perceber e reagir

a estímulos como a luz e a gravidade (CARLILE E WATKINSON, 1996).

2.5. Produção de inóculo

A palavra esporo define usualmente uma estrutura de reprodução

microscópica com vários atributos e funções. As suas funções mais

importantes são dispersão e sobrevivência, no entanto um mesmo tipo

de esporo normalmente não concilia estas duas funções, geralmente os

esporos dos basidiomicetes (basidiósporos) formados por reprodução

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sexuada são melhores adaptados à dispersão do que a sobrevivência.

Os esporos cuja função primária é a dispersão, apresentam paredes

celulares finas e são pequenos em tamanho, estas características

prejudicam a sobrevivência destes por longos períodos quando as

condições ambientais não são favoráveis para o desenvolvimento de

novas gerações. Já os esporos cuja função primária é garantir a

sobrevivência da espécie durante períodos desfavoráveis para o

crescimento, tendem a ser maiores em tamanho e possuir uma

considerável reserva nutricional. As paredes celulares deste tipo de

esporos são grossas e dependem geralmente de algum fator ambiental

externo favorável para quebrar a condição de dormência (KRAMER,

1982).

Ceriporiopsis subvermispora e Phlebia tremellosa não produzem

esporos (basidiósporos) na fase miceliana dicarióptica. No entanto, têm

a capacidade de produzir assexuadamente esporos de resistência

(parede celular espessa), chamados clamidósporos (figura 9), quando

crescem em condições de estresse ambiental e/ou nutricional. O fato

destes fungos não produzirem basidiósporos na fase miceliana

dicarióptica, apesar de interessante do ponto de vista da aplicação do

fungo em ambientes abertos, pois não criaria problemas no que diz

respeito à dispersão de esporos e conseqüente interferência no

ecossistema local, gera alguns problemas para as etapas de

preparação, estocagem e transporte do inóculo.

a b

Figura 9 – Hifa com clamidosporos (a) terminal e (b) intercalar de Ceriporiopsis subvermispora SS3.

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A capacidade de o fungo produzir clamidósporos, através de

indução (provocando estresse ao fungo), pode minimizar problemas na

produção de inóculo e estocagem como demonstrado por SAXENA e

seus colaboradores (2001), onde os clamidósporos foram separados do

micélio, estocados por longos períodos como um pó seco, à temperatura

ambiente, mantendo-se viáveis. Os clamidósporos se desenvolvem de

um único compartimento hifal, podendo ser intercalares ou terminais e

são bastante resistentes a condições severas do ambiente.

(ALEXOPOULOS et al., 1996).

SAXENA e seus colaboradores (2001) induziram a formação de

clamidósporos em C. subvermispora, através da manipulação de

diferentes parâmetros como estresse nutricional e osmótico. Dentre os

diferentes meios de estresse testados o mais eficiente (CaCl2 1%)

produziu cerca de 308 x 104 esporos/ml em 60 horas. Os clamidósporos

foram separados do micélio por tratamento enzimático, liofilizados e

estocados por até 6 meses à temperatura ambiente depois de

empacotados.

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3. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi estudar o metabolismo extracelular

de Ceriporiopsis subvermispora (Pilát) Gilbn. e Ryv. e Phlebia tremellosa

(Fr.) Nakasone e Burdsall) evolutivamente aparentadas agindo sobre

duas espécies vegetais Pinus taeda L. e Eucalyptus grandis W. Hill ex

Maiden representantes de tipos diferentes de madeira para verificar se

as madeiras biotratadas apresentam respostas diferenciadas frente ao

processo de biopolpação. As espécies fúngicas em estudo foram, ainda,

comparadas quanto a capacidade para crescer em meios de culturas

simples e produzir clamidósporos, com o intuito de facilitar a produção

e armazenamento de inóculo em larga escala.

3.1 Objetivos específicos:

Definir padrões de degradação provocados pelas duas espécies

fúngicas sobre madeira das duas espécies vegetais selecionadas, em

três períodos de tempo pré-definidos, com adição ou não de co-

substrato.

Extrair e determinar as atividades enzimáticas extracelulares

hidrolíticas e oxidativas produzidas durante o processo de

biodegradação.

Caracterizar quimicamente a madeira biodegradada e verificar a

resposta desta à polpação Kraft de alto rendimento.

Avaliar o crescimento das espécies estudadas em meios de cultura

simples e em pH diferentes.

Induzir a produção de clamidósporos nas espécies estudadas e testar

a viabilidade e eficiência na colonização das espécies vegetais.

Analisar morfologicamente a colonização da madeira através de

microscopia óptica

Identificar o gênero dos contaminantes mais freqüentes presentes

nas pilhas de cavacos processados em uma planta piloto de

biopolpação.

Realização de ensaios in vitro de competição antagonística entre

Ceriporiopsis subvermispora e Phlebia e os fungos contaminantes

isolados.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Fungos utilizados e manutenção das culturas

Duas espécies foram utilizadas correspondendo a 3 cepas, duas

delas de Ceriporiopsis subvermispora, uma delas (CS1) cedida pela

Universidad de la República, Montevideo, UY (Prof. M. Speranza), a

outra (SS3) enviada por Forest Products Laboratory, Madison, USA (Dr.

Masood Akhtar). A terceira cepa (ATCC 48745), refere-se a Phlebia

tremellosa e foi adquirida da American Type Culture Colection

As cepas foram mantidas a 4±2ºC, sem iluminação, em tubos de

ensaio com meio ágar extrato de malte (2% de extrato de malte, 0,7%

de extrato de levedura e 2% de ágar). Todo o processo de repicagem e

inoculação foi realizado em câmara de fluxo laminar.

4.2. Meios de cultura

Foram utilizados os seguintes meios de cultura, os quais foram

previamente esterilizados a 121oC por 15 minutos.

Sólidos ou agarizados;

AEML - Ágar extrato de malte (2% de extrato de malte, 0,7% de

extrato de levedura e 2% de ágar).

ABDL - Ágar batata (2,4% de extrato de batata dextrose, 0,7% de

extrato de levedura e 2% de ágar).

AM – ágar-milhocina (3% ágar e 4% milhocina)

Líquidos

CBL - Caldo batata (2,4% de extrato de batata dextrose e 0,7% de

extrato de levedura).

MS - milhocina (3,2%) e sacarose (2%).

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Solução de milhocina (5 g em base seca suspensa em 100 mL de

água)

4.3. Preparação das madeiras para a biodegradação

As madeiras tiveram diferente origem, a de Pinus taeda proveio

de uma única tora oriunda do Parque Estadual de Campos do Jordão

(Campos do Jordão, SP) com aproximadamente 28 anos. Por outro

lado, árvores de cerca de 7-8 anos de Eucalyptus grandis, fornecidas

pela empresa Melhoramentos Ltda. (Caieiras – SP), foram as fontes

desta madeira.

Cavacos dessas madeiras medindo cerca de 3,0 X 1,2 X 0,2 cm

foram secos ao ar e estocados em condições isentas de umidade.

Previamente aos experimentos de biodegradação, os cavacos foram

imersos em água por um período de 16 horas O excesso de água foi

então drenado e os cavacos foram esterilizados no interior de

Erlenmeyers de 2L a 1 atm de pressão, 121oC por 15 minutos.

4.4. Preparação dos inóculos

Em placas de Petri (10 cm de diâmetro) foram adicionados cerca

de 15 mL de meio ABD. Estas placas foram inoculadas com pequenos

fragmentos provenientes de cultivos estoque e incubadas a 27±2oC. O

crescimento do micélio foi monitorado diariamente até que este

atingisse a borda da placa (de 7 a 10 dias), de onde foram extraídos

discos de ±8 mm de diâmetro. Em 200 mL de meio CB foram

introduzidos 20 discos obtidos do cultivo do micélio em meio sólido. Os

frascos permaneceram em incubação estática por 10 dias em estufa a

27±2oC. O micélio que foi obtido do cultivo em meio líquido (CB) foi

filtrado em funil de Buchner estéril e lavado com 300 mL de água

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esterilizada. Em um liquidificador com copo de alumínio (estéril) de 500

mL foram batidos 3 vezes, por 15 segundos (com intervalos para evitar

o aquecimento), 100 mL de água destilada e a massa miceliana obtida

após a filtração. Uma alíquota desta suspensão foi utilizada para

inocular os cavacos nos Erlenmeyers. Para calcular a quantidade de

micélio na suspensão, foi feita a determinação da massa seca de fungo

presente numa alíquota dessa suspensão. Para determinar a massa

seca, 25 mL da suspensão foi filtrada, em papel filtro previamente seco

e tarado. O material retido no filtro, juntamente com o papel, foram

secos, inicialmente a 60°C e posteriormente a 105°C, até atingir massa

constante. Este procedimento foi realizado para cada cepa utilizada.

4.5. Experimentos de biodegradação de madeira

Cada espécie de madeira foi inoculada com os inóculos fúngicos e

cada experimento de biodegradação foi monitorado em três diferentes

períodos de tempo (7, 14 e 28 dias). Para cada cepa o experimento foi

realizado com a ausência ou presença de milhocina (0,5 g de

milhocina/100 g de madeira, ambos em base seca). A carga de inóculo

variou de acordo com a presença ou ausência de milhocina. Para

Eucalyptus grandis foi utilizado 5 mg de micélio/kg de madeira na

presença de milhocina, e 500 mg/kg na ausência do co-substrato; já

para Pinus taeda a carga de inóculo foi de 5 mg/kg na presença de

milhocina e 100 mg/kg na ausência do co-substrato (SOUZA-CRUZ,

2002; FERRAZ e AKHTAR, 1998 - dados não publicados).

Erlenmeyers de 2L foram carregados com 50 g de cavacos (base

seca) e inoculados com uma suspensão de micélio em razões pré-

definidas conforme descrito anteriormente. Nos cultivos onde houve a

adição de milhocina, um volume de 5 mL de solução de milhocina (5 g

em base seca suspensa em 100 mL de água) foi adicionado em cada

frasco. Nos cultivos sem a adição de milhocina, cada Erlenmeyer

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recebeu 5 mL de água. Os cultivos amostrados no 7º dia foram

mantidos em sala termostatizada a 27±2oC. Os cultivos que foram

incubados por períodos superiores a 7 dias ficaram acondicionados em

câmaras de crescimento (27±2oC) com saturação de umidade do ar para

prevenir a perda de água da madeira. Os ensaios foram feitos com 6

repetições que foram amostradas da seguinte maneira: 3 cultivos para

extração e determinação de enzimas (SOUZA-CRUZ, 2002); 2 cultivos

para determinação de biomassa fúngica e 1 cultivo para determinação

do pH.

4.6. Determinação de Ph

Para cada condição e tempo de cultivo, 1 Erlenmeyer foi

reservado para a determinação do pH. O pH da madeira biodegradada

foi medido na água resultante da imersão das 50 g de cavacos em 300

mL de água bidestilada (pH 7,0) por 48 horas a uma temperatura média

de 25°C. O controle para a verificação da alteração do pH após a

biodegradação, foi feito com 50 g de madeira que passaram pelo

mesmo processo de imersão em água e esterilização anterior, mas não

sofreram o processo de inoculação do fungo e posterior biodegradação

(BROWNING,1967).

4.7. Extração das enzimas

A extração das enzimas foi conduzida com tampão acetato de

sódio 50 mM, pH 5,5, adicionado de 0,01% de Tween 60 (MACHUCA E

FERRAZ, 2001; SOUZA-CRUZ, 2002).

Ao término de cada período de incubação foram adicionados 200

mL de solução de extração aos Erlenmeyers. Foi realizada uma extração

de 5 horas, sob agitação (120 rpm) a 14±1oC. Foi utilizado o período de

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5 horas de extração com base no estudo realizado por SOUZA-CRUZ e

colaboradores (2004) que demonstraram que cerca de 50% da

atividade enzimática de manganês-peroxidase contida no cultivo é

extraída nesse período. Os extratos enzimáticos foram recuperados por

filtração através de filtros de vidro sinterizado, de porosidade no 4,

seguida de uma segunda filtração a vácuo utilizando um filtro de

acetato de celulose, com poros de 0,47 μm, para que o extrato ficasse

totalmente translúcido.

As atividades enzimáticas relacionadas à degradação dos

principais componentes da madeira (celulose, hemicelulose e lignina)

foram determinadas em cada extrato enzimático e expressas como

unidades internacionais (UI) por quilograma de madeira inicial.

Atividades enzimáticas relacionadas à degradação de

celulose.

a) Celulase total: a atividade celulolítica total do extrato enzimático foi

determinada utilizando-se papel de filtro Whatman No 1 como substrato,

seguindo o método padrão descrito por MANDELS et al. (1976). Foram

incubados em um tubo de ensaio, 0,5 mL de extrato enzimático, 1,0 mL

de tampão citrato de sódio 50 mM (pH 4,8) e uma tira de papel filtro

correspondente a aproximadamente 50 mg. A mistura foi incubada a

50ºC por 1 hora. Os açúcares redutores liberados do papel de filtro pela

ação do complexo celulolítico, foram determinados pelo método do

ácido 3,5-dinitrosalicílico (DNS) segundo MILLER (1959) e expressos

como μmoles de glicose, com base em uma curva de calibração feita

com o mesmo açúcar. Para isso, à solução anterior, foram adicionados 3

mL de reagente DNS e a mistura foi mantida por 5 minutos em banho-

maria a 100°C. Após resfriamento, foi feita a leitura da absorbância em

540 nm em um aparelho de UV-visível (GBC-CINTRA 20). Um controle

foi obtido pela incubação do papel de filtro em tampão citrato de sódio

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50 mM (pH 4,8), substituindo os 0,5 mL de extrato enzimático por

água. Um segundo controle foi obtido para contabilizar os açúcares

redutores presentes no caldo de cultivo. Nesse caso se omitiu o

substrato do meio reacional.

b) endoglucanase: esta atividade foi determinada pela liberação de

açúcares redutores a partir de carboximetilcelulose (CMC) seguindo o

método padrão descrito por TANAKA et al. (1981). Os açúcares

redutores liberados foram determinados pelo método do DNS e

expressos como μmoles de glicose, com base em uma curva de

calibração feita com o mesmo açúcar. Para este ensaio foi utilizado

como substrato uma solução de CMC 0,44 % (p/v) dissolvida em

tampão acetato de sódio 50 mM, pH 5,5. Em um tubo de ensaio foram

adicionados, 0,1 mL de extrato enzimático e 0,9 mL de solução de CMC.

A mistura foi incubada a 50ºC por 60 min. Após esse período, foram

adicionados 1,5 mL de DNS ao tubo de ensaio e este foi mantido em

banho-maria a 100 °C por 5 minutos. Após o resfriamento, a leitura da

absorbância foi feita no comprimento de onda de 540 nm. A reação

controle dessa determinação foi realizada substituindo os 0,1 mL de

extrato enzimático por água. Um segundo controle foi preparado

substituindo-se o substrato do meio reacional por água.

4.9. Atividades enzimáticas relacionadas à degradação de

hemicelulose

Xilanase total: esta atividade foi determinada pela liberação de

açúcares redutores a partir de xilana de bétula seguindo o método

padrão descrito por BAILEY et al. (1992). Os açúcares redutores

liberados foram determinados pelo método do DNS e expressos como

μmoles de xilose, com base em uma curva de calibração feita com o

mesmo açúcar. Para este ensaio foi utilizado como substrato uma

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solução de xilana 1% (p/v) (“birchwood xylan” - SIGMA X-0502)

dissolvida em tampão acetato de sódio 50 mM, pH 5,5. Em um tubo de

ensaio, foram colocados 0,1 mL de extrato enzimático e 0,9 mL de

solução de xilana. A mistura foi incubada a 50ºC por 5 min. Após esse

período, foram adicionados 1,5 mL de DNS ao tubo de ensaio e este foi

mantido em banho-maria a 100 °C por 5 min. Após o resfriamento, a

leitura da absorbância foi feita no comprimento de onda de 540 nm. A

reação controle dessa determinação foi realizada substituindo os 0,1 mL

de extrato enzimático por água. Um segundo controle foi preparado

substituindo-se o substrato do meio reacional por água.

4.10. Atividades enzimáticas relacionadas à degradação de

lignina

a) Lacase: a atividade foi determinada utilizando-se como substrato

solução etanólica de siringaldazina em concentração de 1 mM. A reação

de oxidação foi conduzida pela mistura de 0,3 mL de tampão citrato-

fosfato 50 mM (pH 5,0), 0,1 mL de água, 0,5 mL de extrato e 0,1 mL

solução de siringaldazina 1 mM. A reação foi monitorada entre 10 s e 5

min através da leitura da absorbância em 525 nm. A atividade

enzimática foi calculada com base na absortividade molar da

siringaldazina oxidada (ε525 = 65.000 M-1.cm-1) segundo SZKLARZ et al.

(1989). Também foi utilizado como substrato para determinar a

atividade de lacase uma solução de ABTS 1mM (2,2'-azinobis (3-

ethylbenzothiazoline-6-sulfonic acid)), utilizando as mesmas condições

de reação descritas anteriormente para siringaldazina. As reações foram

monitoradas em 420 nm para o produto de oxidação do ABTS (ε420 =

36.000 M-1.cm-1). Nesse caso, um controle foi obtido para descontar a

absorção do extrato enzimático em 420 nm. O controle foi feito

substituindo-se o substrato por água.

37

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b) Mn-peroxidase (MnP): foi determinada pela oxidação de vermelho

de fenol 0,1% (a dissolução do vermelho de fenol em água foi feita pelo

ajuste continuado do pH em 7,4). A reação foi conduzida em tubos de

ensaio que continham 1,5 mL de tampão succinato de sódio 20mM (pH

4,5), 1,5 mL de lactato de sódio 50 mM, 0,5 mL de extrato, 0,5 mL de

vermelho de fenol 0,1%, 0,5 mL de MnSO4 1 mM, 0,25 mL de albumina

bovina 2 mM e 0,25 mL de peróxido de hidrogênio 2 mM (LUNDELL et

al.,1990). Em intervalos de tempo definidos entre 1 e 10 minutos, 1 mL

da solução contida no tubo de ensaio foi removida e a esse volume

foram adicionados 30 μL de hidróxido de sódio 6,5 M para interromper a

reação e realizar a leitura no espectrofotômetro. A cinética da reação foi

avaliada medindo-se a absorbância do produto de reação em 610 nm. A

atividade de MnP foi calculada com base na absortividade molar do

vermelho de fenol oxidado (22.000 M-1.cm-1) (KHINDARIA et al., 1994).

c) Lignina peroxidase (LiP): a atividade foi determinada pela

oxidação de Azure B. A reação foi feita com 0,25 mL de Azure B 320

μM, 1,25 mL de tampão tartarato de sódio 50 mM (pH 4,5), 0,5 mL de

extrato e 0,5 mL de H2O2 2 mM. A leitura da absorbância foi feita em

651 nm, onde um extrato ativo induz ao decréscimo de absorção nesse

comprimento de onda (ARCHIBALD, 1992). O controle dessa reação

continha substrato e substituição do extrato enzimático por água. Como

o controle da reação apresenta absorbância em 651 nm, o

espectrofotômetro é zerado com água destilada.

4. 11. Atividade enzimática relacionada à degradação de

celulose e lignina

Celobiose desidrogenase (CDH): a atividade foi determinada

espectrofotometricamente pela diminuição da absorbância do

diclorofenol-indofenol (DCPIP) a 520 nm (ε520 = 6800 M-1 cm-1), pH 4,0

38

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e 37oC. A mistura reacional continha 0,2 mL de DCPIP 3 mM, 0,2 mL de

lactose 300 mM, 0,2 mL de fluoreto de sódio 40 mM, 0,4 mL de extrato

enzimático e 1 mL de tampão acetato de sódio 100 mM (pH 4,0)

(BAMINGER et al., 1999).

4.12. Determinação da biomassa fúngica através da

quantificação de ergosterol

Amostras de madeiras biodegradadas por 28 dias foram secas e

moídas para a determinação do teor de ergosterol de acordo com

metodologia descrita por MONTGOMERY et al. (2000).

Em tubos de ensaio foram adicionados 250 mg de madeira moída,

2 mL de metanol e 1 mL de NaOH 1 M. Os tubos foram vedados e

colocados dentro de um forno de microondas doméstico operando a

2450 MHz e 900 W. O forno foi ligado em potência média e o material

foi irradiado por 18 s. Após o resfriamento (aproximadamente 15 min),

o material foi novamente irradiado por mais 17 s em potência média.

Após resfriamento, os tubos foram abertos e a suspensão resultante foi

neutralizada com 1 mL de HCl 1 M e adicionada de mais 2 mL de

metanol. A suspensão foi então extraída com pentano em agitador

“Vortex” (3 extrações com 2 mL de pentano em cada uma). Os extratos

de pentano foram combinados, filtrados em filtro com membrana de

0,45 μm (Acrodisc Gelman) e evaporados sob fluxo de gás nitrogênio. O

resíduo foi diluído em 2 mL de metanol e analisado por cromatografia

líquida de alta eficiência.

A análise por cromatografia utilizou uma coluna de fase reversa

C18 eluída com metanol a um fluxo de 1 mL/min. Foi utilizado um

detector de UV operando em um comprimento de onda de 282 nm. A

concentração de ergosterol presente na amostra foi determinada

através de uma curva de calibração construída com solução padrão de

ergosterol em metanol.

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4.13. Análise morfológica da colonização da madeira por

microscopia óptica.

As amostras de madeira foram cortadas manualmente nos

sentidos paralelo e transversal às fibras com o auxílio de uma lâmina de

barbear. Uma preparação, que requer duas colorações, foi utilizada para

corar os cortes de madeira dos ensaios de biodegradação facilitando as

observações ao microscópio óptico. Inicialmente foi utilizado o corante

verde malaquita (solução aquosa 0,5% (p/v)) no qual os cortes ficaram

embebidos por 5 minutos, em seguida os cortes foram imersos em água

para retirar o excesso de corante. Após este passo, os cortes ficaram

embebidos em floxina (solução aquosa 1% (p/v)) e posteriormente

foram posicionados entre lâmina e lamínula, para visualização. Os

cortes foram observados em aumentos que variaram de 40X a 1000X.

As microestruturas fúngicas encontradas foram medidas com o auxílio

de uma lente ocular com disco micrometrado. No procedimento de

coloração dos cortes utilizou-se o verde malaquita (coloração verde)

que tem afinidade por células de madeira e a floxina (coloração rosa)

que a apresenta com hifas do fungo, aumentando assim o contraste nas

observações (GILBERTSON E RYVARDEN, 1986). As amostras

analisadas representaram dois cavacos colonizados provenientes dos

mesmos cultivos utilizados para a determinação de ergosterol para os

diferentes períodos de cultivo.

4.14. Determinação da perda de massa seca da madeira

Após a extração dos cavacos com tampão acetato (extração de

enzimas), os mesmos foram lavados com água destilada e secos ao ar.

A umidade desses cavacos foi determinada em balança aquecida com

infravermelho (OHAUS) e a perda de massa foi calculada como massa

seca inicial menos massa seca final dividida pela massa seca inicial.

40

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4.15. Determinação da composiç ão química em amostras de

madeira

Os cavacos foram previamente moídos em um moinho de facas

até passarem por uma malha com perfurações de 0,75 mm e extraídos

por 6 h em Soxhlet com etanol 95%.

O teor de componentes (glucana, polioses e lignina,) foi

determinado a partir da hidrólise do material com H2SO4 72% (FERRAZ

et al., 2000b). Cerca de 300 mg de amostra seca ao ar foram tratados

com 3 mL de H2SO4 72% (peso/peso) por uma hora a 30oC. Em

seguida, o conteúdo do tubo de ensaio foi transferido quantitativamente

para um Erlenmeyer de 250 mL com o auxílio de 79 mL de água. A

mistura foi autoclavada a 121oC/60 min, resfriada e filtrada em filtros

de vidro sinterizado de porosidade número 3, previamente secos a

105oC e pesados. O material retido foi lavado com 2 porções de 5 mL de

água e seco até massa constante. Esse resíduo corresponde à lignina

insolúvel em ácido (Klason). O filtrado foi avolumado a 100 ml e

analisado quanto aos teores de açúcares em um sistema de

cromatografia líquida. A análise cromatográfica foi feita em um

cromatógrafo líquido de alta eficiência utilizando uma coluna BIORAD

HPX-87H, aquecida a 45ºC e H2SO4 5 mM a 0,6 mL/min como eluente e

um detector de índice de refração (SHIMADZU).

A concentração de açúcares foi determinada através de curvas de

calibrações preparadas com padrões de grau analítico, secos sob sílica e

vácuo.

O teor de lignina solúvel em ácido foi determinado através da

leitura em 205 nm de uma diluição (usualmente 2:10) do hidrolisado,

tomando-se como padrão uma absortividade de 105 L/g.cm neste

comprimento de onda.

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4. 16. Determinação da perda de componentes durante a

biodegradação

O cálculo da perda de componentes (glucana, polioses e lignina)

foi feito como segue:

Pc(%) = [(mci – mcf)/mci] x 100

Onde:

Pc : perda de componentes

mci : % de componente na madeira controle x massa de madeira inicial

mcf : % de componente na madeira biodegradada x massa de madeira final

4. 17. Verificação da resposta das amostras biodegradadas

frente à polpação Kraft de alto rendimento

Essa etapa avaliou o comportamento das amostras biotratadas

frente a um processo químico de polpação de alto rendimento.

As reações de polpação pelo processo Kraft foram feitas em

condições pré-otimizadas a fim de preparar polpas com números kappa

entre 40 e 120 (MENDONÇA et al., 2002). A reação foi realizada em

ampolas de aço inox 316 de 80 mL, as quais foram carregadas com 10

g de madeira (base seca) e 60 mL de licor contendo 22,5% de álcali

ativo (como NaOH) e 25% de sulfidez no caso de P. taeda (BIERMANN,

1993) e 17% de álcali ativo (como NaOH) e 25% de sulfidez no caso de

E. grandis. As ampolas foram seladas e imersas num banho de silicone,

que foi aquecido progressivamente, a fim de permitir um tempo de 30

min de aquecimento até atingir a temperatura de cozimento de 170º C

para P. taeda e 150°C para E. grandis. Para cada amostra biotratada

foram realizadas 4 ou 5 polpações simultâneas variando o tempo de

cozimento. Em P. taeda os tempos de cozimento foram 60, 80, 100 e

120 minutos, já em E. grandis os tempos de cozimento foram 40, 60,

80, 100 e 140 minutos. Após as reações, o material residual da digestão

42

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(polpa mais rejeitos) foi lavado com água para eliminação de resíduos

de álcali e lignina solúvel. O material lavado foi seco a 105ºC até massa

constante. O rendimento de polpa não classificada foi determinado com

base nas massas iniciais e finais secas. Todo o material seco foi então

moído e submetido à caracterização química para determinar os teores

de lignina (item 3. 16).

4.18. Comportamento das cepas em meios agarizados ou não,

sem presença da madeira.

4.18.1. Avaliação do crescimento dos basidiomicetes em meio agarizado

com diferentes pHs.

Esta avaliação foi realizada com o intuito de verificar qual seria o

melhor pH para obter um crescimento mais rápido de cada

basidiomicete. O crescimento dos fungos foi monitorado em placas de

Petri contendo os meios de cultura ABD e AM com pH previamente

ajustados entre 3 e 6. O pH foi corrigido com HCl 1 M. As placas

inoculadas foram mantidas em estufa a 27oC e o diâmetro das colônias

foi monitorado diariamente até que chegasse à borda da placa de Petri.

4.18.2. Curva de crescimento dos basidiomicetes em meio líquido

O crescimento das 3 cepas estudadas foi avaliado em meios de

cultivo simples e de baixo custo, com a finalidade de verificar a

capacidade de cada cepa produzir inóculo em escala ampliada. Foram

determinadas as curvas de crescimento de cada cepa sobre meios de

cultura líquidos como CB e MS mantendo a mesma relação C/N do meio

anterior (16 eqC/ 1eqN). O meio líquido CB foi tamponado com acetato

de sódio 10 mM (2,4% de extrato de batata e 0,7% de extrato de

levedura, 0,048% (v/v) de ácido acético glacial, 0,0207% (p/v) de

acetato de sódio) e seu pH inicial foi corrigido para 4,0 com HCl 1 M.

Em Erlenmeyers de 250 mL com 20 mL de meio de cultura, foram

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introduzidos 2 discos de inóculo, obtidos em placas com meio de cultura

CB. Os frascos permaneceram em incubação estática a 27±1oC por

períodos definidos entre 2 e 22 dias. O micélio obtido do cultivo em

meio líquido foi filtrado em papel de filtro (previamente seco e tarado).

Do micélio retido no papel filtro foi retirada uma pequena amostra para

observação em microscópio óptico. Em seguida a massa seca de fungo

foi determinada secando-a inicialmente a 60°C e posteriormente a

105°C até atingir massa constante. O consumo de açúcares redutores

totais durante o crescimento do fungo foi monitorado pelo método do

DNS (item 3.9).

4.19. Análise morfol ógica do micélio por microscopia óptica.

Para as culturas em meio líquido ou sólido, um fragmento do

micélio retirado do cultivo foi colocado sobre um preparado que

continha uma gota de solução aquosa de hidróxido de sódio 5% (p/v) e

uma gota de solução aquosa de floxina 1% (p/v) segundo GILBERTSON

E RYVARDEN (1986). Outro fragmento do micélio foi colocado sobre

uma gota de reagente de Melzer (SINGER, 1975). Os fragmentos foram

observados em aumentos que variaram de 40X a 1000X.

4.20. Isolamento de espécies contaminantes

Fungos contaminantes encontrados sobre os cavacos oriundos de

uma planta piloto de biopolpação localizada na empresa Melhoramentos

Ltda.,Caieiras – SP, foram isolados e identificados. O isolamento iniciou-

se com a retirada de um pouco de micélio do contaminante existente no

cavaco e foi seguido pela inoculação deste em placas de Petri com meio

AEM. As placas inoculadas foram mantidas em estufa a 27±2oC e o

crescimento do micélio foi monitorado diariamente até que este

44

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atingisse a borda da placa (de 7 a 10 dias). Após o período de

crescimento, as placas que não apresentaram mais de uma cultura

tiveram seu micélio repicado novamente e essas culturas foram

observadas ao microscópio para identificação, através de características

morfológicas do micélio, tais como as estruturas de reprodução.

4.21. Confronto de espécies

Os isolados de contaminantes descritos no item 3.20 foram

confrontados com C. subvermispora (cepas SS3 e CS1) e P. tremellosa

(ATCC 48745). Este confronto foi realizado em placa de Petri em meio

de cultura CB. Em placas de Petri colocaram -se, em bordas opostas,

um inóculo de cada contaminante e um inóculo de cada uma das três

cepas (SS3, CS1 e ATCC 48745). As placas inoculadas foram mantidas

em estufa a 27±2oC, sem iluminação, sendo o crescimento dos micélios

monitorado diariamente até que houvesse o encontro de cada par de

micélios confrontado.

4.22. Indução à formação de clamidósporos nas espécies

estudadas

C. subvermispora (SS3 e CS1) e P. tremellosa (ATCC 48745)

foram inicialmente cultivados por 12 dias em CB. Após este período, foi

adicionado ao meio CaCl2 1% (p/v) (concentração final) estéril, para

provocar estresse osmótico e induzir a formação de clamidósporos no

micélio. Este foi analisado em microscópio óptico a cada 24 horas para

verificação de presença de clamidósporos. A observação foi realizada

em lâminas preparadas com soluções aquosas de hidróxido de sódio 5%

e de floxina 1% (GILBERTSON e RYVARDEN, 1986). Uma estimativa da

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quantidade de clamidósporos formados foi feita pela classificação visual

(figura 10) entre muito (++++), médio (+++), pouco (++),

pouquíssimo (+) e ausência (-).

a b

c d

Figura 10 – Classificação visual da quantidade de clamidósporos em (a) muito (++++), (b) médio (+++), (c) pouco (++) e (d) pouquíssimo (+).

4.23. Viabilidade dos clamidósporos na colonização da madeira.

Com os cultivos em que houve a indução da formação de

clamidósporos, foi realizado um teste onde o micélio foi batido em

liquidificador em ciclos subseqüentes de 15 segundos, a fim de verificar

se as hifas presentes no micélio seriam danificadas e os clamidósporos

permaneceriam intactos. Após cada ciclo de 15 segundos, o micélio foi

observado ao microscópio óptico para estabelecer quantos ciclos não

interfeririam na morfologia, mantendo os clamidósporos intactos, i. e.,

visualmente sem rompimentos ou quebras. O padrão estabelecido foi de

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10 ciclos de 15s. Com o micélio batido no padrão estabelecido acima foi

realizado um novo experimento de biodegradação de madeira (em

triplicata) para cada uma das espécies. Os cultivos foram de 14 dias de

incubação e não continham milhocina. As cargas de inóculo utilizadas

foram 500 mg de fungo /kg de madeira para Eucalyptus grandis e de

100 mg de fungo /kg de madeira para Pinus taeda. A atividade

enzimática de MnP, produzida nesses cultivos foi determinada como

descrito no item 4.10.

47

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. ENSAIOS DE BIODEGRADAÇÃO DE MADEIRA

Foram realizados ensaios de biodegradação de madeira utilizando

as cepas de fungo de podridão branca, C. subvermispora (SS3 e CS1) e

P. tremellosa (ATCC 48745). Em cada ensaio foram utilizadas duas

espécies de madeira: P. taeda (Gimnosperma – madeira dura) e E.

grandis (Angiosperma - madeira mole) e para cada uma avaliaram-se

as condições de cultivo onde houve ou não a adição de co-substrato

(milhocina). A milhocina minimiza a demanda por uma elevada carga

inicial de inóculo permitindo um expressivo crescimento de micélio

fúngico a partir da sua metabolização inicial, já que este co-substrato é

de fácil assimilação (AKHTAR et al., 1998). No caso dos ensaios de

biodegradação com adição de milhocina, a carga de inóculo foi de 5 mg

de fungo/ Kg de madeira para ambas as espécies de madeira, enquanto

que nos ensaios sem adição de co-substrato as cargas de inóculo

utilizadas em cada cultivo foram de 100 mg de fungo/ Kg de madeira

para P.taeda (20 vezes maior) e de 500 mg de fungo/ Kg de madeira

para E. grandis (100 vezes maior), independente da cepa de fungo

utilizada.

Está amplamente descrito na literatura que cada espécie de

vegetal apresenta uma resistência própria à biodegradação. De forma

geral, diferenças anatômicas e estruturais dos componentes da madeira

são a causa dessa variabilidade (KIRK E CULLEN, 1998). Outro aspecto

relevante é a presença de compostos inibidores do metabolismo fúngico

em algumas espécies de madeira que a tornam mais resistente à

biodegradação e, com isso, um certo grau de degradação somente pode

ser atingido a partir de determinada carga de inóculo fúngico inicial. Em

estudos prévios foi demosntrado que C. subvermispora é capaz de

degradar P. taeda eficientemente a partir de uma carga de inóculo de

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100 mg/Kg de madeira (ambos em base seca) (SOUZA-CRUZ, 2002).

No caso de E. grandis essa carga é maior, situando-se entre 400 e 500

mg de fungo/Kg de madeira (André Ferraz, dados não publicados,

Figura 11).

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

0 250 500 750 1000

Carga de inóculo (mg/kg de madeira)

Per

da d

e pe

so (%

)

Figura 11 – Perdas de massa de E. grandis após 15 dias de biodegradação por C. subvermispora SS-3.

O crescimento fúngico foi avaliado com base no teor de ergosterol

encontrado nas amostras de madeira biodegradada nas diferentes

condições de cultivo, já que o ergosterol está diretamente

correlacionado com a membrana fúngica (MONTGOMERY et al., 2000).

Utilizando este parâmetro avaliou-se a possibilidade de reduzir as

cargas de inóculo nos experimentos de biodegradação de madeira

através da adição de milhocina como co-substrato.

Na figura 12 estão apresentados os teores de ergosterol

encontrado em função do tempo de cultivo na madeira biodegradada.

49

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Pt/SM

0

1 0

20

30

40

0 7 14 21 28

Pt/CM

0

10

20

30

40

0 7 14 21 28

Eg/SM

0

10

20

30

40

0 7 14 21 28

Eg/CM

0

10

20

30

40

0 7 14 21 28

Erg

ost

ero

l (m

g/

Kg

de m

ad

eir

a)

Período de experimentação da biodegradação (dias)

Figura 12 – Crescimento fúngico estimado a partir do teor de ergosterol detectado nas amostras de madeira biodegradada (P. taeda – Pt e E. grandis - Eg) por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) ao longo do período de incubação. Como inóculo utilizou-se 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

Comparando os teores de ergosterol obtidos nos cultivos sem e

com a adição de milhocina na figura 12, pode-se afirmar que a adição

de milhocina efetivamente permite um crescimento eficiente mesmo

com cargas de inóculo tão baixas quanto 5 mg/kg de madeira e que nos

cultivos onde a milhocina não foi adicionada como co-substrato, as

cargas de inóculo requeridas foram expressivamente maiores como 100

mg/Kg de madeira (20 vezes) e 500 mg/Kg (100 vezes) de madeira,

quando os substratos eram P. taeda e E. grandis, respectivamente.

Estes dados confirmam que em ensaios de biopolpação pode-se reduzir

a carga de inóculo adicionando um co-substrato de fácil assimilação,

como demonstraram AKTHAR et al. (1998), mantendo a eficiência na

biopolpação semelhante tanto para cargas de inóculo de 3 g de

micélio/Kg de madeira sem adição de co-substrato quanto para 5 mg de

50

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micélio/Kg de madeira com adição de 0,5% de milhocina.

5.1.1. Produção de enzimas extracelulares e compostos de

baixa massa molar

Nesse trabalho, as atividades de enzimas oxidativas e hidrolíticas

vinculadas à decomposição de lignina, bem como a de celobiose

desidrogenase (CDH) relacionada tanto com a degradação de celulose

como de lignina, apresentaram padrões diferentes entre as espécies

estudadas. Cada uma delas será abordada e discutida nos itens a

seguir, comparando os dados obtidos.

5.1.1.1. Atividade enzimática de manganês peroxidase

Na figura 13 estão apresentadas as atividades enzimáticas de

manganês peroxidase detectadas nos extratos obtidos a partir dos

ensaios de biodegradação utilizando C. subvermispora SS3, CS1 e P.

tremellosa (ATCC 48745) e as madeiras de P. taeda e E. grandis, em

cultivos com e sem a adição de milhocina.

51

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Pt/SM

0200400600800

1000120014 0 01 6 0 01800

4 1 8

Pt/CM

0200400600800

100012001400160001800

0 7 1 2 2 0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/SM

0200400600800

10001200140016001800

0 7 1 2 2

Eg/CM

0200400600800

10001200140016001800

4 1 8 0 7 1 2 2 4 1 8

Ati

vid

ad

e e

nzi

máti

ca U

I/K

g

Período de experimentação da biodegradação (dias)

Figura 13 – Produção de MnP por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -), na biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

As atividades de MnP apresentaram um pico de atividade

enzimática aos 14 dias de cultivo em ambas as espécies de madeira na

maioria das cepas fúngicas estudadas (fig. 13). No cultivo com a adição

de milhocina sobre E. grandis, C. subvermispora CS1 foi à única cepa a

apresentar uma atividade crescente após 14 dias de cultivo. Quando

comparamos as atividades de MnP entre os cultivos com e sem a adição

de milhocina, nota-se claramente que, para as três cepas, a adição de

milhocina provocou um aumento expressivo e significativo da

quantidade de enzima detectada no meio. Nos cultivos onde não houve

adição de co-substrato, a produção de MnP seguiu a seguinte

seqüência: C. subvermispora SS3 > C. subvermispora CS1 e P.

tremellosa em ambas as espécies de madeira estudadas, sendo que em

E. grandis a quantidade de enzima produzida pelas diferentes cepas foi

maior do que em P. taeda. C. subvermispora CS1 e P. tremellosa

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produziram níveis de atividade de MnP semelhantes entre si tanto nos

cultivos em E. grandis como em P. taeda sem adição de milhocina. Nos

cultivos com adição de milhocina, a produção de MnP foi maior e

diferenciada entre as cepas. C. subvermispora SS3 aparece como a

produtora dos maiores níveis de enzima nos cultivos em ambas

madeiras. No cultivo sobre P. taeda, C. subvermispora CS1 apresentou

maior atividade enzimática que P. tremellosa, o mesmo ocorreu no

cultivo sobre E. grandis, com exceção da atividade de MnP encontrada

aos 14 dias de cultivo, onde Phlebia tremellosa produziu mais enzima

que C. subvermispora CS1.

5.1.1.2. Atividade enzimática de lignina peroxidase

A atividade de LiP foi ensaiada, utilizando como substrato “Azure

B” (ARCHIBALD, 1992), em todos os extratos enzimáticos obtidos a

partir de todas as condições de biodegradação. Esse substrato revela

atividade da enzima pela diminuição da absorção do corante na região

do espectro visível, ficando livre das interferências causadas pelos

compostos que absorvem na região do ultravioleta como os fenóis e as

quinonas. O método “Azure B”, pode ser mais vantajoso para detectar

LiP em fermentação em meio de sólido de compostos lignocelulósicos

onde os extratos enzimáticos são escuros (ARORA E GILL, 2001).

Mesmo utilizando este substrato (“Azure B”), em nenhum extrato

produzido pelas cepas estudadas, sob nenhuma condição de

experimentação, foi detectada atividade de LiP. SOUZA-CRUZ e

colaboradores (2004) também não detectaram atividade de LiP em

cultivos de C. subvermispora sobre P. taeda, por períodos de até 90

dias de incubação. Segundo LOBOS et al. (1994), LiP não tem sido

detectada em culturas de C. subvermispora e isso, provavelmente

ocorre porque esta enzima realmente não é produzida ou sua detecção

é dificultada pela forte adsorção ao substrato ou ainda pela presença de

53

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substâncias interferentes nos extratos enzimáticos (principalmente em

substratos como a madeira). A possibilidade de que a LiP seja produzida

em pequenas quantidades e/ou seja de difícil detecção existe, uma vez

que, segundo RAJAKUMAR et al. (1996), C. subvermispora possui genes

semelhantes aos responsáveis pela expressão de LiP em outros fungos

ligninolíticos.

Existem artigos que apresentam diferentes espécies de Phlebia (P.

radiata, P. brevispora, P. tremellosa) como produtoras de LiP e outros

que afirmam que estas mesmas espécies não produzem esta enzima. As

condições de cultivo descritas nesses trabalhos são bastante distintas,

os métodos de determinação da atividade enzimática são variáveis e

utilizam diferentes substratos de reação, isso dificulta a comparação

entre os resultados obtidos (VARES et al., 1994; TUOR et al., 1995).

HATAKKA (1994) afirma que P. tremellosa tem a capacidade de produzir

LiP (álcool veratrílico como substrato da reação) em culturas submersas

sob agitação em biorreatores. Nessas condições foram encontradas

várias isoenzimas de LiP produzidas por diferentes cepas de P.

tremellosa (VARES et al., 1994).

No presente trabalho, no entanto, pudemos demonstrar que

durante a experimentação de biodegradação com P. taeda e E. grandis,

com e sem adição de milhocina, P. tremellosa não produziu quantidades

detectáveis de LiP.

Outras espécies de Phlebia também apresentam divergências no

que diz respeito à detecção de atividade enzimática de LiP. Em um

trabalho recente, KAPICH e colaboradores (2005) não detectaram

atividade de LiP (com álcool veratrílico como substrato da reação) em P.

radiata quando cultivada em meio contendo palha de trigo. No entanto,

ARORA e colaboradores (2002) afirmam que várias espécies de Phlebia

(P. fascicularia, P. floridensis e P. radiata) produziram LiP em cultivos

que também continham palha de trigo. Neste último trabalho, os

ensaios enzimáticos foram realizados usando Azure B como substrato.

Aparentemente a produção de LiP é característica das espécies de

54

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Phlebia e as dificuldades de detecção da atividade são provavelmente

relacionadas às diferenças nas condições de cultivo e aos diferentes

substratos utilizados para quantificar esta enzima.

5.1.1.3. Atividade enzimática de lacase

As atividades enzimáticas de lacase detectadas (figura 14)

apresentam-se relativamente baixas em todos os cultivos avaliados.

Enquanto os níveis de MnP chegaram a 1556 UI/Kg de madeira, os

níveis de lacase não ultrapassaram 55 UI/Kg de madeira.

Pt/SM

0

10

20

30

40

50

60

0 7 14 21 28

Pt/CM

0

10

20

30

40

50

60

0 7 14 21 28

Eg/SM

0

10

20

30

40

50

60

0 7 14 21 28

Eg/CM

0

10

20

30

40

50

60

70

0 7 14 21 28

Ati

vid

ad

e e

nzi

máti

ca U

I/K

g

Período de experimentação de biodegradação (dias)

Figura 14 – Produção de lacase por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -), na biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

Na figura 14 nota-se que o pico de atividade enzimática de lacase,

ocorre no 7O dia. Os níveis de atividade de lacase detectados para as

três cepas quando o substrato utilizado no ensaio de biodegradação era

55

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P. taeda, foram semelhantes não ultrapassando 20 UI/kg de madeira.

Já nos ensaios com E. grandis, P. tremellosa destacou-se como maior

produtora de lacase principalmente no 7O dia de cultivo, enquanto que

as duas cepas de C. subvermispora produziram níveis de lacase

parecidos entre sí, além de 3 a 4 vezes menores do que os detectados

para P. tremellosa. Nos cultivos com adição de milhocina, as atividades

de lacase praticamente dobraram quando comparadas às atividades

encontradas nos cultivos sem a adição de co-substrato. ENOKI et al.

(1999) e HAKALA et al.(2005) afirmam que C. subvermispora produz

está enzima nos estágios iniciais de biodegradação da madeira e

geralmente isso ocorre quando o cultivo recebe adição de um co-

substrato como a milhocina ou glicose. VARES e colaboradores (1994)

também observaram que em várias espécies do gênero Phlebia o pico

de atividade da lacase aparece nos períodos iniciais de biodegradação e

diminui rapidamente.

Com base nos dados das atividades enzimáticas oxidativas

detectadas nos extratos obtidos a partir de cada condição de cultivo,

pode-se concluir que dentro do complexo enzimático degradador de

lignina, as MnP, são claramente as principais enzimas produzidas pelas

três cepas em estudo.

5.1.1.4. Atividades enzimáticas de celulases totais

Dentro do complexo hidrolítico foram determinadas às atividades

de celulase total, endoglucanase e xilanase total, utilizando como

substratos papel de filtro (Whatman no 1), carboximetilcelulose e xilana

de bétula, respectivamente (MANDELS, et al., 1976; TANAKA et

al.,1981; BAILEY, et al, 1992). A atividade celulolítica total foi pouco

expressiva em todas as condições de cultivo, pois baixas concentrações

de açúcares redutores foram detectadas a partir do tratamento de papel

56

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de filtro com os extratos enzimáticos (Tabela 2).

Tabela 2 - Atividade celulolítica total (UI/Kg de madeira) encontrada nos extratos obtidos a partir da biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) por C. subvermispora SS3, C. subvermispora CS1 e P. tremellosa, ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM).

Condição de cultivo Tempo biodegradação C. subvermispora CS1 C. subvermispora SS3 P. tremellosa

7 11,8±0,3 15±4 57±5

Pt/Sm 14 16±2 28±6 57±6

28 41±3 31±2 42±4

7 23±2 19±5 71±7

Pt/Cm 14 19±5 45±3 66±5

28 33±4 35±1 47±4

7 20±3 21±2 30±3

Eg/Sm 14 36±3 40±4 55±3

28 47±5 36±4 42±2

7 21±3 26±3 35±7

Eg/Cm 14 33±9 54±8 67±4

28 48±7 48±2 42±3

WOOD E BHAT (1984) reportaram que a atividade celulolítica total

medida a partir da hidrólise de papel de filtro representa a ação do

complexo celulolítico completo somente quando a conversão do

substrato atinge níveis de no mínimo 4%. A partir desse nível de

hidrólise, não somente a celulose amorfa, mas também parte

significante da celulose cristalina já sofreu degradação enzimática. As

atividades enzimáticas encontradas em nosso estudo foram inferiores a

2% de conversão do substrato em todas as condições de cultivo

estudadas. Sabendo-se que C. subvermispora produz pequenas

quantidades de exoglucanases e quantidades mais expressivas de

endoglucanases (SETHURAMAN et al., 1998), optou-se então por

determinar a atividade de endoglucanase dos extratos produzidos pelos

basidiomicetes aqui estudados.

57

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5.1.1.5. Atividade enzimá tica de endoglucanase

As atividades de endoglucanase, detectadas nos extratos obtidos

a partir dos cultivos em estudo, estão apresentadas na figura 15.

Pt/SM

0

50100150200

250300

350

4000

0 7 1 2 2 4 1 8

Pt/CM

0

5010 015 0200

250300

350

400

0 7 14 21 28

Eg/SM

0

50100150200

250300

350

400

0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/CM

0

5010 015 0200

250300

350

400

0 7 14 21 28

Ati

vid

ad

e e

nzi

máti

ca U

I/K

g

Período de experimentação de biodegradação (dias) Figura 15 – Produção de endoglucanase por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -), na biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

A figura 15 mostra que as diferentes cepas utilizadas neste estudo

apresentaram um comportamento parecido apesar das diferentes

condições de cultivo. Nos cultivos onde não houve adição de co-

substrato, as atividades de endoglucanases permaneceram

praticamente no mesmo nível desde o 7o até o 28o dia de cultivo,

exceção feita a C. subvermispora SS3, que aos 28 dias de cultivo sobre

E. grandis apresentou um decréscimo acentuado, quando comparado ao

7o dia, nos níveis de endoglucanases. Nos ensaios com adição de

58

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milhocina notou-se um aumento na atividade de endoglucanase,

principalmente em C. subvermispora SS3; já C. subvermispora CS1 e P.

tremellosa mantiveram os níveis de produção semelhantes aos

encontrados nos cultivos sem à adição do co-substrato. Independente

das diferentes condições de cultivo, a produção de endoglucanase

obedeceu a seguinte seqüência: C. subvermispora SS3 > C.

subvermispora CS1 > P. tremellosa.

5.1.1.6. Atividade enzimática de xilanase

As atividades de xilanase detectadas nos extratos obtidos a partir

dos cultivos em estudo estão apresentadas na figura 16.

Pt/SM

0

10 0 020003000

4000500060007000

8000

0 7 14 21 28

Pt/CM

0

10 0 020003000

4000500060007000

8000

0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/SM

010 0 0200030004000

500060007000

8000

0 7 14 21 28

Eg/CM

010 0 0200030004000

500060007000

8000

0 7 1 2 2 4 1 8

Ati

vid

ad

e e

nzi

máti

ca U

I/K

g

Período de experimentação de biodegradação (dias)

Figura 16 – Produção de xilanase por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -), na biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

59

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Observando a figura 16 pode-se notar que C. subvermispora SS3

e CS1 produziram níveis parecidos de xilanase total em todas as

condições de cultivo, não ultrapassando 2000 UI/Kg de madeira. Já P.

tremellosa produziu os maiores níveis de xilanases com um pico de

produção aos 14 dias de cultivo em todas as condições de cultivo. Para

todas as cepas em estudo, a produção desta enzima praticamente

duplicou na presença de co-substrato quando comparada aos níveis

enzimáticos detectados nos cultivos sem adição de milhocina.

A atividade enzimática de xilanase foi muito mais expressiva do

que a de endoglucanase em todas as condições de cultivo (10 a 20

vezes maior). Pode-se afirmar que há uma efetiva diferença na

capacidade dessas cepas produzirem cada tipo de enzima e fica claro

que dentro do complexo hidrolítico predominam as xilanases.

5.1.1.7. Atividades enzimática s de celobiose desidrogenase

(CDH)

A celobiose desidrogenase é uma enzima extracelular envolvida

na biodegradação de lignina e celulose (BAMINGER et al., 1999). P.

tremellosa e P. radiata foram reportadas como possíveis produtoras de

CDH (HENRIKSSON et al., 2000; CAMERON E AUST, 2001), no entanto,

neste estudo não foi detectada atividade de CDH em nenhum dos

ensaios de biodegradação onde P. tremellosa (ATCC 48745) era o

agente degradador. C. subvermispora (CS1 e SS3) também não

apresentou nenhuma atividade enzimática de CDH, sob as diferentes

condições de cultivo estudadas nesta tese.

60

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5.1.2. pH da madeira biodegradada

O pH das culturas (madeira biodegradada + micélio fúngico)

estudadas está mostrado na figura 17.

Pt/SM

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

0 7 14 21 28

Pt/CM

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

0 7 14 21 28

Eg/SM

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

0 7 14 21 28

Eg/CM

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

0 7 14 21 28

pH

Período de experimentação de biodegradação (dias)

Figura 17 – pH do meio fermentado por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa ATCC 48745 (- -), na biodegradação de P. taeda (Pt) e E. grandis (Eg) ao longo do período de incubação. A carga de inóculo usada foi de 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

As três cepas aqui estudadas apresentam atividade metabólica

diferenciada quanto à produção de ácidos orgânicos. A acidificação do

meio (madeira impregnada com água) é mais rápida nos cultivos com

C. subvermispora SS3 e P. tremellosa ATCC 48745 do que nos cultivos

com C. subvermispora CS1, tanto em E. grandis como em P. taeda. Por

outro lado, no 280 dia de cultivo o pH praticamente se iguala em todas

as condições de cultivo nas três cepas. A adição de milhocina aos

cultivos não afetou o pH dos meios ao longo dos períodos de cultivo.

61

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5.1.3. Conclusão parcial dos ensaios de biodegradação

Com base em ensaios de biodegradação descritos anteriormente

foi possível avaliar o crescimento fúngico através do teor de ergosterol

e a produção de enzimas extracelulares.

Sobre madeira de P. taeda, o crescimento miceliano foi

semelhante quando se compara as três cepas estudadas, enquanto que

em E. grandis, P. tremellosa se destacou ao produzir mais biomassa

que as outras cepas. Nos cultivos com adição de milhocina a biomassa

encontrada para cada cepa foi maior que a encontrada nos ensaios sem

a adição de co-substrato. Fica claro que a adição de milhocina

efetivamente permite um crescimento eficiente mesmo com cargas de

inóculo tão baixas quanto 5 mg/kg de madeira.

As três cepas estudadas apresentaram um mesmo perfil

enzimático produzindo MnP, lacase, endoglucanases e xilanases. Dentro

do complexo oxidativo, a enzima que apresentou os maiores níveis de

atividade enzimática foi a manganês peroxidase. O pico de atividade

desta enzima foi aos 14 dias constatando-se que nos cultivos com

adição de milhocina, a atividade encontrada foi maior do que aquela dos

cultivos sem adição do co-substrato. Em todas as condições de cultivo

C. subvermispora SS3 apresentou maior atividade enzimática que as

demais espécies. Apesar disto à atividade de lacase foi

comparativamente baixa e apresentou um pico aos 7 dias de cultivo. As

atividades enzimáticas encontradas para as duas espécies de fungos

nos ensaios sobre P. taeda foram semelhantes, enquanto que com E.

grandis, P. tremellosa foi a que apresentou maior atividade enzimática.

Nenhuma espécie estudada produziu lignina peroxidase e celobiose

desidrogenase em níveis detectáveis nas variadas condições de ensaio

testadas. A xilanase foi a principal enzima detectada dentro do

complexo hidrolítico. P. tremellosa apresentou maior atividade

enzimática de xilanase que as demais espécies em todas as condições

62

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de cultivo. O pico de atividade desta enzima foi aos 14 dias de cultivo e

a atividade enzimática encontrada nos ensaios com adição de milhocina

foi maior do que naqueles sem adição.

5.2. CARACTERIZAÇÃO DA MADEIRA BIODEGRADADA

5.2.1. Perda de massa seca da madeira

A extensão da degradação da madeira pode ser medida como

perda de massa seca. A perda de massa da madeira representa a

mineralização completa (até dióxido de carbono e água) dos seus

componentes, ou a conversão desses componentes a produtos solúveis

em água.

Na figura 18 estão apresentadas as perdas de massa da madeira

(P. taeda e E. grandis) causadas pela ação biodegradativa de C.

subvermispora SS3 e CS1 e P. tremellosa ATCC 48745 nos cultivos,

com e sem a adição de milhocina.

Pt/SM

0,0

3,0

6,0

9,0

12 , 0

15 , 0

0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/SM

0,0

3,0

6,0

9,0

12 , 0

15 , 0

0 7 1 2 2 4 1 8

Pt/CM

0,0

3,0

6,0

9,0

12 , 0

15 , 0

0 7 14 21 28

Eg/CM

0,0

3,0

6,0

9,0

12 , 0

15 , 0

0 7 14 21 28

Perd

a d

e m

ass

a s

eca

(%

)

Período de experimentação biodegradação (dias)

Figura 18 – Perda de massa seca da madeira (P. taeda – Pt e E. grandis - Eg) devido

63

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a biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) ao longo do período de incubação. Como inóculo utilizou-se 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

Comparando os cultivos, com e sem adição de milhocina, na

mesma espécie de madeira, pode-se notar que o comportamento em

relação à perda de massa foi semelhante até os 14 dias de cultivo,

sendo que aos 28 dias de biodegradação nos ensaios com adição de

milhocina, a perda de massa seca foi ligeiramente maior do que nos

cultivos onde o co-substrato não foi adicionado.

Comparando as perdas de massa provocadas pelas diferentes

cepas agindo sobre P. taeda e E. grandis, pode-se afirmar que a maior

perda de massa ocorreu em E. grandis. Essas perdas de massa parecem

estar relacionadas ao crescimento fúngico, pois comparando as figuras

12 e 18 nota-se um comportamento semelhante entre esses dois

parâmetros, como por exemplo, nos cultivos de biodegradação usando

E. grandis como substrato, C. subvermispora CS1 apresentou um

crescimento fúngico menor e também uma perda de massa menor que

as demais espécies de fungo estudadas. A comparação entre as perdas

de massa mostra ainda que P. tremellosa e as duas cepas de C.

subvermispora se equivalem em termos de crescimento fúngico e

extensão de degradação da madeira de P. taeda. Já no caso da madeira

de E. grandis, a cepa CS1 de C. subvermispora claramente se mostra

menos efetiva em crescer e promover a perda de massa. Do ponto de

vista da aplicação tecnológica, nota-se que a cepa CS1 é menos

adequada já que apresenta uma maior especificidade por substrato e

seria mais apropriada somente para o tratamento de madeiras moles

como Pinus.

5.2.2. Perda de componentes

A degradação dos componentes da madeira se dá inicialmente

64

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através da atuação dos complexos enzimáticos e de outros metabólitos

de baixa massa molar que promovem a despolimerização de glucanas,

polioses e lignina, sendo que os produtos desta despolimerização são

posteriormente mineralizados.

Na figura 19 estão apresentadas às perdas de glucana observadas

nos experimentos de biodegradação desta tese.

As perdas de glucana foram baixas, porém crescentes ao longo do

período de cultivo avaliado. P. tremellosa foi a espécie que promoveu

uma maior perda desse componente, principalmente nos cultivos com a

adição de milhocina, em ambas as espécies de madeira. Em geral, a

perda de glucana foi maior nos cultivos com a adição de milhocina. A

menor perda de glucana foi promovida pela cepa CS1 de C.

subvermispora que praticamente não causou perdas até 14 dias para

todas as condições de cultivo, com exceção do ensaio sobre E. grandis

com a adição de milhocina (3% e 6% de perda aos 14 dias e 28 dias de

cultivo, respectivamente).

Pt/SM

0

5

10

15

20

25

30

0 7 14 21 28

Pt/CM

0

5

10

15

20

25

30

0 7 14 21 28

Eg/SM

0

5

10

15

20

25

30

0 7 14 21 28

Eg/CM

0

5

10

15

20

25

30

0 7 14 21 28

Perd

a d

e g

luca

na (

%)

Período de experimentação biodegradação (dias)

Figura 19 – Perda de glucana da madeira (P. taeda – Pt e E. grandis - Eg) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) ao longo do período de incubação. Como inóculo utilizou-se 5 mg de

65

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fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

Na figura 20 estão apresentadas as perdas de polioses observadas

nos mesmos experimentos.

Pt/SM

0

5

10

15

20

25

0 7 14 21 28

Pt/CM

0

5

10

15

20

25

0 7 14 21 28

Eg/SM

0

5

10

15

20

25

0 7 14 21 28

Eg/CM

0

5

10

15

20

25

0 7 14 21 28

Perd

a d

e p

oli

ose

s (%

)

Período de experimentação de biodegradação (dias)

Figura 20 – Perda de polioses da madeira (P. taeda – Pt e E. grandis - Eg) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) ao longo do período de incubação. Como inóculo utilizou-se 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

As perdas de polioses provocadas pelas duas cepas de C.

subvermispora (SS3 e CS1) foram baixas até o 140 dia de cultivo,

aumentando (em torno de 10%) no 280 dia em todas as condições de

cultivo. Em todas as condições estudadas, P. tremellosa provocou as

maiores perdas de polioses e glucana.

A figura 21 apresenta as perdas de lignina causadas pela ação de

C. subvermispora SS3 e CS1 e P. tremellosa ATCC 48745 sobre P. taeda

e E. grandis. Quando comparamos os cultivos sobre P. taeda, nota-se

que perda de lignina produzida pelas cepas em estudo foi muito

66

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semelhante tanto nos cultivos com a adição de milhocina como nos

cultivos sem o co-substrato.

Nos ensaios com E. grandis, nota-se que as perdas de lignina

foram, de modo geral, maior que as perdas encontradas em P. taeda, o

que é amplamente conhecido na literatura, visto que as madeiras moles

são menos susceptíveis à biodegradação devido as características

anatômicas da madeira e as características estruturais da lignina (KIRK

E CULLEN, 1998). Vale ressaltar que nos cultivos onde E. grandis era o

substrato, as atividades enzimáticas de MnP detectadas foram maiores.

Pt/SM

0

5

101520

25

30

35

40

0 7 1 2 2 4 1 8

Pt/CM

0

5

101520

25

30

35

40

0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/SM

0

5

101520

25

30

35

40

0 7 1 2 2 4 1 8

Eg/CM

0

5

101520

25

30

35

40

0 7 1 2 2 4 1 8

Perd

a d

e lig

nin

a (

%)

Período de experimentação de biodegradação (dias)

Figura 21 – Perda de lignina da madeira (P. taeda – Pt e E. grandis - Eg) devido a biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) ao longo do período de incubação. Como inóculo utilizou-se 5 mg de fungo/Kg de ambas espécies de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de P. taeda ou 500 mg de fungo /Kg de E. grandis na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios).

Ainda comparando os cultivos sobre E. grandis, nota-se que C.

subvermispora SS3 e P. tremellosa ATCC 48745 provocaram perdas de

lignina maiores que C. subvermispora CS1. Sendo assim pode-se

afirmar que há uma relação entre o pico de atividade de MnP aos 14

67

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dias e a conseqüente maior degradação de lignina, isto é, mineralização

ou mesmo formação de produtos solúveis em água. Apesar de os níveis

de MnP diminuírem após 14 dias de cultivo, as perdas de lignina

permaneceram crescentes. Isto ocorre porque a degradação de lignina

parece ser precedida por um máximo na produção de enzima que a

partir daquele momento inicia as reações de despolimerização que

culminarão na mineralização da lignina após a absorção e

metabolização intracelular dos fragmentos gerados pela MnP (MACHUCA

E FERRAZ, 2000; SOUZA-CRUZ et al, 2004; KIRK E CULLEN, 1998;

GUERRA et al, 2002; GUERRA et al, 2004).

5.2.3. Resposta à polpação Kraft das madeiras biotratadas

A polpação Kraft foi realizada com o intuito de avaliar o

comportamento das amostras biotratadas frente a um processo químico

de polpação de alto rendimento. As amostras controle e biotratadas em

ensaios com e sem adição de milhocina, após 28 dias de cultivo foram

selecionadas para este estudo.

Quando se comparam as amostras biotratadas com seus

respectivos controles esterilizados (fig. 22 e 23), pode-se observar que,

um menor número Kappa é obtido nas amostras biotratadas num tempo

fixo de polpação ou ainda que um menor tempo de reação é necessário

para preparar polpas com um determinado número Kappa. Esses dois

benefícios oriundos do biotratamento da madeira confirmam dados da

literatura obtidos a partir de processos de polpação iguais (Kraft) ao

usados em nosso trabalho (MENDONÇA et al., 2002), bem como de

outros processos químicos de polpação como o sulfito-

alcalino/antraquinona (MENDONÇA et al., 2004).

Na figura 22 a comparação das curvas obtidas para a polpação de

P. taeda biodegradado pelas diferentes cepas mostra que as duas

espécies proporcionaram benefícios bastante semelhantes, inclusive

68

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entre os cultivos com e sem a adição de milhocina. Em geral, para se

obter um número Kappa de 80 levou-se cerca 80 minutos de cozimento

das amostras biotratadas, contra um tempo aproximado de 110

minutos para o controle autoclavado.

28Pt/Sm

30

40

50

60

70

80

90

10 011012 013 014 0

40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 1406

8

10

12

14

16

18

20 28 Pt/Cm

30

40

50

60

70

80

90

10 011012 013 014 0

40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 1406

8

10

12

14

16

18

20

Lig

nin

a (

%)

Kap

pa

Tempo de cozimento a temperatura máxima (min)

Figura 22 – Conteúdo de lignina residual nas polpas Kraft obtidas após polpação kraft de alto rendimento. A polpação foi realizada em amostras de madeira P. taeda (Pt) após biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) por 28 dias. (-*-) Madeira controle. A carga de inóculo foi de 5 mg de fungo/Kg de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de madeira na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios). Condições de cozimento: tempo de aquecimento até temperatura máxima = 30 min, temperatura máxima =170oC, 25% de sulfidez e 22,5% de álcali ativo (expressos como NaOH em g/100 g de madeira, base seca).

A figura 23 compara as curvas obtidas para a polpação de E.

grandis biotratado pelas diferentes cepas estudadas neste trabalho. A

polpação de E. grandis biodegradado por C. subvermispora SS3 e P.

tremellosa ATCC 48745 apresentou benefícios bastante semelhantes

entre os cultivos com e sem a adição de milhocina, já a polpação da

amostra biodegradada por C. subvermispora CS1 com adição de

milhocina apresentou um benefício maior frente à polpação do que a

amostra biodegradada por esta mesma cepa sem adição de milhocina.

Na condição de ensaio sem milhocina, após 100 minutos de cozimento a

temperatura máxima, apenas a amostra biodegradada por P. tremellosa

se aproximou de um número kappa 100 e na condição com adição de

milhocina as amostras biotratadas por P. tremellosa e C. subvermispora

CS1 levaram cerca de 100 minutos de cozimento para alcançar número

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kappa em torno de 90.

28Eg/Sm

8090

10 011012 013 014 015 016 017 018 019 0200

40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 1406

8

10

12

14

16

18

20 28 Eg/Cm

8090

10 011012 013 014 015 016 017 018 01 90200

40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 1406

8

10

12

14

16

18

20

Lig

nin

a (

%)

Kap

pa

Tempo de cozimento a temperatura máxima (min)

Figura 23 – Conteúdo de lignina residual nas polpas Kraft obtidas após rampa de aquecimento de 30 minutos e determinados tempos de cozimento a temperatura máxima. A polpação foi realizada em amostras de madeira E.grandis (Eg) após biodegradação por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) por 28 dias. (-*-) Madeira controle. A carga de inóculo foi de 5 mg de fungo/Kg de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 500 mg de fungo/Kg de madeira na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios). Condições de cozimento: temperatura máxima =150oC, 25% de sulfidez e 17% de álcali ativo.

A figura 24 mostra a relação entre rendimento de polpação e o

número kappa das polpas Kraft de P. taeda. Esse tipo de gráfico

permite avaliar a seletividade do processo de polpação, sendo que

quanto mais elevada à curva nesse gráfico, maior a seletividade da

polpação.

28 Pt/SM

40

45

50

55

60

65

70

30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

28 Pt/CM

40

45

50

55

60

65

70

30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

Ren

dim

en

to (

%)

Kappa

Figura 24 – Rendimento de polpa não classificada em função do número kappa em polpas Kraft obtidas a partir da madeira de P. taeda (Pt) biotratada durante 28 dias por C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -). (-

70

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*-) Madeira controle. A carga de inóculo foi de 5 mg de fungo/Kg de madeira na presença de 0,5% de milhocina (CM - símbolos cheios) e 100 mg de fungo/Kg de madeira na ausência de milhocina (SM - símbolos vazios). Condições de cozimento: tempo de aquecimento até temperatura máxima = 30 min, temperatura máxima =170oC, 25% de sulfidez e 22,5% de álcali ativo (expressos como NaOH em g/100 g de madeira, base seca).

Na figura 24 pode-se observar que a seletividade no processo de

polpação de P. taeda foi semelhante para a amostra controle e as

amostras biodegradadas, com exceção da amostra biotratada por P.

tremellosa na presença de milhocina. Esse resultado é bastante

relevante, pois indica que o biotratamento com C. subvermispora

(ambas as cepas) proporciona o benefício de “amenizar” a polpação

Kraft posterior (no caso específico em estudo, permite reduzir o tempo

de polpação) sem resultar em perda significativa de rendimento de

polpa Kraft. No caso da biodegradação com P. tremellosa, a amostra

que proporcionou menores rendimentos de polpa foi exatamente aquela

que sofreu maior perda de celulose e polioses durante o biotratamento.

A maior perda de polissacarídeos durante o biotratamento deve ser um

reflexo da maior atividade hidrolítica das culturas de P. tremellosa e é

possível inferir que também os polissacarídeos residuais da madeira

biotratada apresentem menor grau de polimerização do que aquele

observado na madeira controle. Por outro lado, sabe-se que durante a

polpação kraft, a diminuição do rendimento reflete a solubilização de

polissacarídeos devido a reações de “peeling” e que essas reações são

mais extensivas quando o grau de polimerização dos polissacarídeos é

menor (BIERMANN, 1993). Dessa forma, pode-se concluir que a ação

hidrolítica extensiva de P. tremellosa aos 28 dias de cultivo (com

milhocina) gerou uma madeira biotratada menos adequada a um

processo de polpação kraft, visto que os rendimentos de polpa foram

mais baixos que os do controle para um mesmo grau de deslignificação

(mesmo número kappa).

71

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5.2.4. Conclusões parciais sobre a caracterização da madeira

biodegradada

Para caracterizar a madeira biodegradada foram avaliadas as

perdas de massa seca, certos componentes (glucana, polioses e lignina)

e a resposta à polpação Kraft. As perdas de massa seca e componentes

foram crescentes ao longo do período de biodegradação apesar dos

picos de atividade enzimática de MnP e xilanase serem aos 14 dias. Isto

ocorre porque a perda efetiva de massa seca ou de um componente

está relacionada a mineralização e este fato ocorre após a ação da

enzima. A perda de massa seca provocada por C. subvermispora SS3 e

CS1 e P. tremellosa sobre P. taeda foi semelhante ao longo de todo o

período de biodegradação, sendo mais expressiva aos 28 dias. Na

madeira de E. grandis, C. subvermispora SS3 e P. tremellosa causaram

perdas de massa seca maiores do que C. subvermispora CS1. Dentre as

três cepas P. tremellosa foi a responsável por provocar a maior perda

de polissacarídeos em todas as condições de cultivo, já as perdas de

lignina foram semelhantes nas espécies para todas as condições de

cultivo, com exceção da condição sem adição de co-substrato sobre

madeira de E. grandis.

A polpação das amostras de P. taeda biotratadas pelas duas

espécies de fungos mostrou que as três cepas proporcionaram

benefícios bastante semelhantes, inclusive entre os cultivos com e sem

a adição de milhocina e a seletividade foi semelhante para as amostras

biotratadas e controle, com exceção da amostra biotratada por P.

tremellosa na presença de milhocina que apresentou rendimentos de

polpa menores. Em E. grandis as amostras biodegradadas por C.

subvermispora SS3 e P. tremellosa apresentaram benefícios

semelhantes nos cultivos com e sem adição de milhocina, no entanto,

no ensaio com adição de milhocina a polpação da amostra biodegradada

por C. subvermispora CS1 apresentou um benefício maior do que a

amostra biodegradada por esta mesma cepa sem adição de milhocina.

72

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5.3. Estudos relacionados à colonização da madeira e

crescimento fúngico

5.3.1. Análise morfológica da colonização da madeira por

microscopia óptica

As observações ao microscópio óptico de cortes radiais da

madeira, mostraram que a colonização com todas as cepas utilizadas

seguem um mesmo padrão. Em P. taeda (fig 25a), foi possível

visualizar uma colonização crescente dos traqueídeos e raios da

madeira ao longo dos períodos de cultivo (7, 14 e 28 dias). Nos cultivos

em E. grandis visualizou-se uma colonização crescente nos elementos

de vaso durante os diferentes períodos de biodegradação (fig 25b), já

nas outras células como fibras e traqueídeos nota-se uma menor

colonização. A média de espessura das hifas ficou entre 0,1 e 0,2 μm

em todos os cultivos, nos diferentes substratos, com as diferentes

cepas em todos períodos de biodegradação. Em pouquíssimos cultivos

foi possível observar a presença de clamidósporos (cultivos em P. taeda

da cepa SS3, com e sem adição de milhocina, aos 7 e 14 dias de

incubação e na cepa CS1, sem adição de milhocina aos 28 dias de

biodegradação). Nos cultivos com P. tremellosa, não foram encontrados

clamidósporos nos cortes avaliados. Nos cultivos de 7 dias foi possível

observar a presença de gotas de óleo dentro das hifas em todas as

cepas. Essas gotas lipídicas têm função primária de armazenar gordura,

sendo particularmente apropriadas como reserva de energia, pois tem o

maior conteúdo calórico que qualquer outro constituinte fúngico

(GRIFFIN, 1994).

73

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a b

Figura 25 – Hifas de C. subvermispora SS3 em células de (a) P. taeda - traqueídeos e (b) E. grandis – elementos de vaso. Aumento de 400X.

5.3.2. Cultivos em meio de cultura com diferentes pHs

Na produção de inóculo fúngico o pH pode ser um importante

parâmetro para acelerar o crescimento celular. O controle de pH é

provavelmente o parâmetro mais fácil de ser manipulado e controlado

em ampliações de escala (JONES, 1998). Foram realizados

experimentos com culturas em meios de sólido, com pHs definidos

inicialmente (pHs variaram entre 3.0 e 5.5), a fim de verificar se era

possível otimizar o tempo de crescimento das três cepas utilizadas em

placas de Petri sobre ágar batata e ágar-milhocina. É importante

otimizar esta variável já que todos os experimentos de biodegradação

dependem da produção de inóculo.

A tabela 3 apresenta as taxas de crescimento (diâmetro) em

milímetros/dia sobre meio de cultura ágar batata dextrose.

74

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Tabela 3 - Taxa de crescimento (diâmetro das colônias) dos fungos C. subvermispora SS3 e CS1 e Phlebia tremellosa em meio de cultura ágar-batata- dextrose com diferentes valores de pH inicial.

Taxa de crescimento (mm/dia)

pH C. subvermispora SS3 C. subvermispora CS1 Phlebia tremellosa

3,0 17,6 ± 0,1 19,8 ± 1,3 14 ± 3

4,5 20,2 ± 0,3 22,5 ± 0,1 18,4 ± 0,4

4,0 20,3 ± 0,8 22,5 ± 0,1 16,6 ± 0,3

4,5 16 ± 3 22,5 ± 0,1 14 ± 3

5,0 19,5 ± 0,8 20,5 ± 0,9 16,8 ± 0,5

5,5 14,9 ± 0,1 16,8 ± 0,7 12,7 ± 0,5

Ceriporiopsis subvermispora SS3 apresentou a maior taxa de

crescimento nos pHs 3.5 e 4.0, enquanto a cepa CS1 cresceu mais

rapidamente entre os pHs entre 3.5 e 4.5. Phlebia tremellosa cresce

mais lentamente que C. subvermispora e os pHs em que se observou

um crescimento mais rápido foi 3.5.

Na tabela 4 estão mostradas as taxas de crescimento (diâmetro)

em milímetros/dia sobre meio de cultura ágar-milhocina.

Tabela 4 - Taxa de crescimento (diâmetro da colônia) dos fungos C. subvermispora SS3 e CS1 e Phlebia tremellosa em meio de cultura ágar milhocina com diferentes valores de pH inicial.

Taxa de crescimento (mm/dia)

pH C. subvermispora SS3 C. subvermispora CS1 Phlebia tremellosa

4 30±1 32,1±0,1 22±1

4,5 28±1 33±2 25,1±0,5

5 26,1±0,7 29±1 19,3±0,3

6 10±1 8±2 12,1±0,6

No meio ágar milhocina as maiores taxas de crescimento foram

encontradas entre os pHs 4 e 4,5 para as três cepas estudadas.

Comparando as taxas encontradas entre os dois meios de cultura

podemos afirmar que as 3 cepas cresceram mais rapidamente em meio

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ágar-milhocina do que em ágar-batata. Este fato é interessante do

ponto de vista econômico, já que o custo do caldo de batata dextrose é

bastante elevado quando comparado ao da milhocina. Se levarmos em

consideração a ampliação de escala, este seria um item importante na

redução de custos na produção de inóculo.

Um fato bastante intrigante despertado neste estudo foi o de

avaliar se no caso da biopolpação o pH ótimo encontrado para o

crescimento em meio de cultura pode ser o mesmo utilizado para o

crescimento em madeira e se haveria um aumento na taxa de

crescimento nos cultivos em biorreatores com madeira com pH ajustado

para os valores mais adequados para o crescimento mais rápido em

meio de cultura.

5.3.3. Cultivos submersos

O crescimento das várias espécies estudadas foi avaliado em

diferentes meios de cultivo líquidos, com a finalidade de verificar a

capacidade de cada cepa produzir inóculo miceliano em escala

ampliada. Foram determinadas as curvas de crescimento de C.

subvermispora (SS3 e CS1) e P. tremellosa para cultivos em meios

como batata dextrose - CB tamponado com acetato de sódio 10 mM, e

sacarose - milhocina - MS (pH inicial 4,0).

Nas figuras 26 e 27 estão apresentadas as quantidades de

biomassa seca obtidas durante os cultivos de até 18 dias e as

concentrações de açúcares redutores restantes nos meios de cultura. O

pH inicial foi corrigido para 4, pois no estudo em placas com meio sólido

este foi o pH em que foi encontrada a maior taxa de crescimento.

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Consumo de açúcar

0

5

10

15

20

25

30

0 3 6 9 12 15 18

M assa seca

0

30

60

90

12 0

15 0

18 0

0 3 6 9 12 15 18

Açú

car

red

uto

r (g

/L)

Mass

a s

eca

(m

g)

Período de cultivo (dias)

Figura 26 – Curva de crescimento de C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) em meio CB (Batata dextrose) tamponado com acetato de sódio 10 mM.

Consumo de açúcar

0

2

4

6

8

10

12

1416

18

20

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

M assa seca

0

20

40

60

80

10 0

12 0

14 016 0

18 0

200

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Açú

car

red

uto

r (g

/L)

Mass

a s

eca

(m

g)

Período de cultivo (dias)

Figura 27 – Curva de crescimento de C. subvermispora SS3 (- -), C. subvermispora CS1 (- -) e P. tremellosa (- -) em meio líquido MS (Milhocina - sacarose).

O consumo de açúcares é crescente ao longo do tempo em ambos

os meios de cultura. No meio CB (fig. 20), P. tremellosa consumiu os

açúcares rapidamente até 9 dias; no entanto seu crescimento é

semelhante aos das outras cepas estudadas. C. subvermispora CS1

produziu mais massa seca do que C. subvermispora SS3 e P. tremellosa

ATCC 48745 em meio CB. Este mesmo comportamento foi observado

até 10 dias de cultivo no meio MS (fig. 27), porém, após esse período

C. subvermispora SS3 produziu mais massa do que C. subvermispora

CS1. A produção máxima de biomassa seca foi maior nos cultivos

realizados no meio MS quando comparado com o meio CB. Este fato é

interessante do ponto de vista econômico, pois o custo do meio MS

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pode ser menor do que o de batata dextrose.

O micélio de cada período de cultivo das três cepas estudadas

neste item foram observados ao microscópio óptico, a largura das hifas

e dos clamidósporos foram medidos (μm) e a quantidade de

clamidósporos foi classificada em muito (++++), médio (+++), pouco

(++), pouquíssimo (+) e ausência (-). A tabela 5 apresenta a

quantidade de clamidósporos observadas em P. tremellosa e C.

subvermispora SS3 e CS1 ao microscópio óptico ao longo da curva de

crescimento em meio de cultura líquido tamponado (pH 4).

Neste estudo pode-se verificar que as hifas do micélio de C.

subvermispora SS3 e CS1 são um pouco mais largas que as hifas de P.

tremellosa em todos os períodos de cultivo. Ao longo dos cultivos as

hifas de C. subvermispora CS1 e SS3 e P. tremellosa ficaram um pouco

mais finas. Inicialmente as hifas de C. subvermispora tinham uma

espessura ao redor de 0,38μm e aos 18 dias chegaram à cerca de

0,25μm, o mesmo ocorreu em P. tremellosa: a largura inicial era de

0,31 μm e chegou após 18 dias de cultivo a 0,24 μm. Aos 3 dias de

cultivo, clamidósporos foram encontrados em pouquíssima quantidade

nas culturas de P. tremellosa e ao longo do período de cultivo as

culturas apresentaram poucos clamidósporos em seu micélio (tabela 5).

C. subvermispora CS1 apresentou clamidósporos também aos 3 dias de

cultivo, no entanto, a quantidade destes ao longo do período de

incubação foi maior do que a encontrada em P. tremellosa. Em C.

subvermispora SS3 os clamidósporos foram encontrados após 6 dias de

cultivo já em média quantidade e após 9 dias haviam muitos destes

esporos de resistência na cultura até o final dos 18 dias de cultivo.

Dentre as três culturas, C. subvermispora SS3 foi quem produziu mais

clamidósporos nestas condições de estudo.

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Tabela 5 – Produção de clamidósporos observadas em P. tremellosa e C. subvermispora SS3 e CS1 ao microscópio óptico ao longo do crescimento em meio de cultura líquido BD tamponado (pH 4)

Espécies

Período de cultivo (dias) C. subvermispora SS3 C. subvermispora CS1 P. tremellosa

3 - + +

6 ++ + +

9 +++ ++ +

12 ++++ +++ ++

17 ++++ +++ ++

Em P. tremellosa os clamidósporos formados tinham em média

um menor tamanho (0,96 μm no início) do que os encontrados em C.

subvermispora SS3 e CS1 (1,45 μm no início). Nos períodos iniciais de

cultivo os clamidósporos são menores e ao longo do tempo se tornam

maiores com paredes mais espessas.

5.3.4. Isolamento de espécies contaminantes e confronto com os

basidiomicetes em estudo

Os contaminantes isolados a partir de cavacos da planta piloto

pertencem aos fungos anamórficos e foram identificados como

Aspergillus spp. e Penicillium spp., através da visualização em

microscópio dos conidióforos (estruturas de reprodução assexuada).

Estas duas espécies de contaminantes foram confrontados com C.

subvermispora CS1 e SS3 e P. tremellosa ATCC 48745 em meio de

cultura sólido ABD. Em extremidades opostas de uma placa de Petri

foram inoculadas uma espécie de fungo degradador de madeira e um

dos contaminantes. Todas as combinações foram avaliadas. Em todos

os casos não houve antibiose, ou seja, os dois fungos cresceram e

entraram em contato. Inicialmente os fungos causadores de podridão

branca cresciam mais lentamente e o contaminante dominava a placa,

no entanto, mantendo o cultivo em estufa, pode-se observar que após

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algum tempo os basidiomicetes reagiam à colonização do contaminante

e ocupavam a placa, crescendo inclusive sobre o contaminante. O

mesmo fato ocorre em biorreatores com madeira nos experimentos de

biodegradação; inicialmente os contaminantes crescem mais

rapidamente, porém ao longo do período de cultivo os basidiomicetes

aqui estudados voltam a ser os principais colonizadores do substrato.

Estes organismos (“Deuteromicetes = anamorfos/mitospóricos) tem

uma ‘estratégia’ que consta de instalação e crescimento rápidos em um

dado substrato, com produção imediata de conídios (DIX & WEBSTER,

1995). Acredita-se que nos casos dos biorreatores, a colonização rápida

dos contaminantes está relacionada aos nutrientes de fácil assimilação

que estão disponíveis no inicio dos experimentos (adição de co-

substrato) e que assim que estes são consumidos, os contaminantes

não têm mais capacidade de manter o crescimento.

5.3.5. Conclusões parciais sobre os estudos relacionados à

colonização da madeira e crescimento fúngico

A colonização da madeira observada em todas as condições de

cultivo para as duas espécies foi crescente e mais visível dentro dos

traqueídeos em madeiras moles e nos elementos de vaso em madeiras

duras. Poucos clamidósporos foram encontrados nos cortes de madeira

observados nas diferentes condições e períodos de cultivo.

No crescimento em pH diferentes, pode-se verificar que o pH do

meio ABD que é por volta de 5,5 não foi o melhor pH de crescimento

para as três cepas testadas. A melhor faixa de crescimento para todas

cepas ficou ente 3,5 e 4,5 para os meios ágar-milhocina e ABD. Em

meio ABD, C. subvermispora (SS3 e CS1), e P. tremellosa (ATCC

48745) mostraram-se eficientes na competição contra os contaminantes

Aspergillus e Penicillium, após uma fase inicial de crescimento.

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5.4. Indução à formação de clamidósporos em C. subvermispora

CS1 e SS3 e P. tremellosa ATCC 48745

C. subvermispora CS1 e SS3 e P. tremellosa ATCC 48745

produzem clamidósporos sem indução em cultivos em laboratório.

Apesar deste fato foi realizada a indução para verificar se poderíamos

reduzir o tempo de cultivo e aumentar a quantidade de clamidósporos

produzidos. Para provocar a produção destes esporos de resistência foi

utilizado como fator de indução estresse osmótico (SAXENA et

al.,2001). Após cultivar o micélio por 12 dias em meio de cultura BD a

formação de clamidósporos foi induzida pela adição de CaCl2 1%

(concentração final). Pode-se observar que a produção de

clamidósporos no micélio era crescente a cada 24 horas e que após 72

horas de indução a quantidade de clamidósporos encontrado nas

culturas já não variava muito. Sendo assim, estabeleceu-se como

padrão 72 horas de indução. Apesar das cepas de C. subvermispora não

apresentarem grande variação na produção de clamidósporos após 72

horas, a cepa CS1 apresentava um pouco menos de clamidósporos do

que SS3. Já a produção de clamidósporos em P. tremellosa foi bastante

menor do que a encontrada em C. subvermispora.

5.5. Teste de viabilidade do inóculo para produção de

clamidósporos em C. subvermispora CS1 e SS3 e P. tremellosa

ATCC 48745

O teste de viabilidade foi realizado utilizando como inóculo o

micélio/clamidósporos batido por 10 ciclos de 15 segundos (maioria das

hifas destruídas – fig. 28).

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Figura 28 – Microscopia óptica de fragmentos de hifas com clamidósporos, após o micélio cultivado para inóculo ser batido por 10 ciclos de 15 segundos. Hifa (seta vermelha) e clamidósporos (seta preta). Aumento 400X.

Como parâmetro para comparar a eficiência do inóculo utilizou-se

a atividade enzimática de MnP, pois além de apresentar o pico de

atividade enzimática aos 14 dias foi a principal enzima oxidativa

produzida pelas três espécies de fungos estudadas.

Na tabela 6 estão apresentadas as atividades de MnP encontradas

nos extratos obtidos após 14 dias de cultivo com o dois tipos de inóculo,

o induzido (micélio cultivado por 12 dias, induzido a produzir

clamidósporos, batido por 10 ciclos de 15 s) e o convencional utilizado

nos experimentos de biodegradação anteriores (micélio cultivado por 10

dias e batido por 3 ciclos de 15 s) (item 4.23).

Tabela 6 – Atividade enzimática de manganês peroxidase (MnP) encontrada nos extratos obtidos após 14 dias de cultivo de C. subvermispora SS3 sobre P. taeda e E. grandis, com os inóculos convencional e induzido para a produção de clamidósporos. Tipo de inóculo

Substrato Tradicional* Induzido**

P. taeda 564±180 530±21

E. grandis 1050±46 204±14

*Convencional= micélio cultivado por 10 dias e batido por 3 ciclos de 15 s. **Induzido= micélio cultivado por 12 dias, induzido a produzir clamidósporos, batido por 10 ciclos de 15 s.

Nos extratos dos cultivos com micélio induzido de C.

subvermispora CS1 e P. tremellosa não houve detecção de MnP. Isto

provavelmente ocorreu porque a quantidade de clamidósporos

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produzidos por estas cepas foram menores do que para SS3 ou apesar

da aparente (controle óptico ao MO) ação não danosa do batido, a

germinação destes clamidósporos foi afetada, logo não cresceu micélio

suficiente (no tempo testado) para produzir MnP. A atividade enzimática

de MnP encontrada no extrato obtido a partir da biodegradação de P.

taeda por C. subvermispora SS3 foi semelhante para os dois tipos de

inóculo. No entanto, no cultivo sobre E. grandis a atividade enzimática

encontrada no extrato obtido após incubação com o inóculo induzido foi

5 vezes menor que com o inóculo convencional. Através deste ensaio foi

possível verificar que é possível utilizar como inóculo os clamidósporos,

no entanto é necessário que seja aperfeiçoada a técnica de separação

destes das hifas e que novos experimentos testando a carga de inóculo

(clamidósporos) sejam realizados. As vantagens da utilização de

clamidósporos como inóculo estão relacionadas ao fato destes esporos

poderem ser liofilizados e estocados como mostraram Saxena e seus

colaboradores (2001). Em escala industrial estas características

facilitariam o processo de inoculação.

5.6. Comparativo entre os basidiomicetes versus ação

biodegradativa da madeira e eficiência no biokraft.

As três cepas estudadas neste trabalho apresentaram um perfil de

atividade metabólica semelhante, em termos gerais. Dentro dos

complexos oxidativo e hidrolítico as enzimas de destaques foram a MnP

e a xilanase, respectivamente. A cepa que produziu maior quantidade

de MnP foi C. subvermispora SS3 nos diferentes tipos de tratamento. A

cepa CS1 de C. subvermispora provocou menor perda de lignina e de

glucana do que a cepa SS3. No entanto, frente à polpação biokraft

estas diferenças na atividade enzimática e na perda de componentes

não provocaram expressivas alterações no rendimento nas diferentes

condições de biodegradação (P. taeda sem e com adição de milhocina).

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Dentre as três cepas estudadas, P. tremellosa foi quem proporcionou a

maior perda de glucana e polioses enquanto que a perda de lignina foi

semelhante à provocada por C. subvermispora SS3. Este fato

provavelmente ocorre porque P. tremellosa apresentou maior atividade

de xilanase e endocelulase que as outras cepas e isto propiciou uma

maior degradação dos polissacarídeos. Esta espécie também é eficiente

na degradação de lignina, mas como provoca maiores perdas de

polissacarídeos durante o biotratamento, o rendimento na polpação

Kraft é menor do que o encontrado para C. subvermispora, isto faz com

que P. tremellosa seja menos adequada ao pré-tratamento na polpação

kraft. Ainda com relação à polpação biokraft foi possível verificar que

não há necessidade que o fungo degrade muita lignina para que o

tempo de cozimento ou kappa sejam reduzidos, pois os resultados

quanto ao kappa são parecidos, mesmo havendo diferenças em termos

de perda de lignina no biotratamento.

No que diz respeito ao crescimento em meio de cultura sólido

(ABD e AM) e submerso (BD), C. subvermispora CS1 cresce mais

rapidamente que C. subvermispora SS3 e P. tremellosa. No entanto, C.

subvermispora SS3, após indução, produz mais clamidósporos que CS1

e esta característica é muito importante se considerada a possibilidade

de produção destes como inóculo para escala industrial. No meio líquido

milhocina-sacarose após 12 dias de cultivo, C. subvermispora SS3

apresentou crescimento maior que a cepa CS1, sendo que podemos

afirmar, que em termos de crescimento e produção de clamidósporos,

C. subvermispora SS3 é mais adequada que as demais cepas.

No estudo de competição em placas de Petri com meio de cultura

sólido, as três cepas estudadas não apresentaram diferença em relação

à resposta encontrada frente aos contaminantes Aspergillus sp e

Penicillium sp. . Após a fase inicial de crescimento, que é mais lenta que

a do contaminante, as três cepas foram capazes de competir nos meios

e tempos testados.

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6. CONCLUSÕES FINAIS

As três cepas estudadas neste trabalho apresentaram um perfil de

atividade metabólica semelhante. Dentro dos complexos oxidativo e

hidrolítico as enzimas de destaques foram a MnP e a xilanase,

respectivamente.

A perda de lignina e de glucana provocada por C. subvermispora

CS1 foi menor do que a causada pela cepa SS3. No entanto as

variações encontradas em relação ao nível de atividade enzimática e a

perda de componentes não provocaram expressivas diferenças no

rendimento nas diferentes condições de biodegradação frente à

polpação biokraft. P. tremellosa foi a espécie que provocou a maior

perda de glucana e polioses, conseqüência de uma maior atividade de

xilanase e endocelulase. O fato desta espécie ter provocado uma maior

degradação dos polissacarídeos, apesar da perda de lignina semelhante

a C. subvermispora SS3, fez com que o rendimento na polpação Kraft

fosse menor e sendo assim esta cepa se tornou menos adequada ao

pré-tratamento na polpação bioKraft.

Dentre as três cepas avaliadas, as cepas que se mostroram mais

adequadas ao processo de biopolpação foram C. subvermispora SS3 e

CS1.

Nos cultivos em meio de cultura líquido, as duas cepas de C.

subvermispora cresceram mais do que P. tremellosa, no entanto, C.

subvermispora SS3 produziu mais clamidósporos tanto em cultivos

convencionais como no caso de cultivos com indução com CaCl2 1% e

este fato contribui para a utilização desta cepa na produção de inóculo

para aplicação em biodegradação em escala ampliada. C.

subvermispora SS3 também se mostrou mais eficiente no teste de

viabilidade do inóculo batido induzido para a produção de

clamidósporos.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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