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MARIA RITA DE SOUZA MESQUITA O LEITO PLACENTÁRIO NO DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor em Medicina. São Paulo 2003

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MARIA RITA DE SOUZA MESQUITA

O LEITO PLACENTÁRIO NO DESCOLAMENTO

PREMATURO DA PLACENTA

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor em Medicina.

São Paulo 2003

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MARIA RITA DE SOUZA MESQUITA

O LEITO PLACENTÁRIO NO DESCOLAMENTO

PREMATURO DA PLACENTA

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor em Medicina. Orientador: Prof. Dr. Luiz Camano

Co-orientadores: Prof. Dr. João N. Stávale

Prof. Dr. Nelson Sass

São Paulo 2003

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Mesquita, Maria Rita de Souza

O leito placentário no descolamento prematuro da placenta./ Maria Rita de Souza Mesquita. --São Paulo, 2003.

xiv, 72f.

Tese (Doutorado) Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Obstetrícia

Título em inglês: The placental bed in abruptio placentae.

1. Descolamento prematuro da placenta 2. Circulação placentária 3. Gravidez.

Ficha catalográfica

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iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA

Chefe do Departamento: Prof. Dr. Luiz Kulay Junior

Chefe do Curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Antonio F. Moron

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iv

Dedicatória

Joaquim e Clarice

Nada seria tão valioso sem os ensinamentos de amor, respeito, lealdade e

perseverança recebidos no decorrer de todos estes anos.

Tudo só se tornou realidade, graças à oportunidade que Deus me deu, de ter

pais tão especiais e maravilhosos como vocês.

Pedro e Marina

Nada seria tão importante,

sem a sua presença, sempre forte e sincera, filho;

sem sua beleza de espírito, vivacidade e carinho, filha;

maiores razões de minhas alegrias.

Tudo somente foi possível, graças ao verdadeiro amor que sinto por vocês!

Ricardo

Nada seria tão especial neste momento de minha vida sem a sua existência,

incentivo e incansável empenho em realizar meus sonhos.

Tudo só foi possível graças ao seu carinho e confiança.

Henrique, Ana e Bruna

Tudo sempre é possível, quando possuímos uma família, a qual podemos contar

sempre.

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v

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Luiz Camano, Professor Titular do Departamento de

Obstetrícia da UNIFESP-EPM, carinhoso mestre, com a minha gratidão pelo

incansável estímulo e dedicação, pelo convívio afetuoso e, sobretudo, pela

oportunidade de compartilhar sua amizade e seu notável saber obstétrico.

Ao Prof. Dr. Nelson Sass, Professor Adjunto do Departamento de

Obstetrícia da UNIFESP-EPM, com respeito e admiração pela exemplar conduta

profissional e preocupação em valorizar, sem distinção, todos os companheiros

do Setor de Hipertensão na Gravidez.

Ao Prof. Dr. João Norberto Stávale, Professor Adjunto do

Departamento de Patologia da UNIFESP-EPM, responsável por criar em mim

uma nova paixão, a histologia uteroplacentária, pela competência, disponibilidade

e afeto com os quais sempre me recebeu.

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vi

Ao Prof. Dr. Domingos Delascio, in memorian, entusiástico defensor dos

preceitos da ética médica, por suas filosóficas e proveitosas lições de vida e

ensinamentos de Obstetrícia.

Ao Prof. Dr. Luiz Kulay Júnior, Professor Titular do Departamento de

Obstetrícia da UNIFESP-EPM, pela preocupação com o ensino e a pesquisa.

Ao Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah, Professor Adjunto e Livre Docente do

Departamento de Propedêutica da UNIFESP, pelos ensinamentos na etapa inicial

da pós-graduação, e em reconhecimento ao seu elevado espírito científico.

Ao Prof. Dr. Antonio Rubino de Azevedo, Professor Adjunto e Livre

Docente do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP, pela dedicação integral ao

ensino e pela confiança em mim depositada e à Profa. Dra. Anna Maria Bertini,

Professora Adjunta e Livre Docente do Departamento de Obstetrícia da

UNIFESP-EPM, pelo incentivo à pesquisa científica.

Ao Prof. Dr. Antonio Fernandes Moron, Professor Adjunto e Livre Docente

do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP-EPM, Coordenador do Curso de

Pós-graduação, pelas proveitosas contribuições na realização deste trabalho e

capacidade ímpar de reconhecer o empenho e o valor profissional de cada um.

À Profa. Dra. Rosiane Mattar, Professora Adjunta do Departamento de

Obstetrícia da UNIFESP-EPM, a quem tenho como exemplo pela imensurável

capacidade profissional e postura ética, que muito tem contribuído para

engrandecer, a cada dia, meus conhecimentos obstétricos.

Ao Prof. Dr. Eduardo de Souza, Professor Adjunto e Livre Docente do

Departamento de Obstetrícia da UNIFESP-EPM, pelo incentivo à iniciação da

prática obstétrica e ao Dr. Jorge Francisco Kuhn dos Santos, Professor Assistente

do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP-EPM, exemplo de idealismo e

simplicidade profissional, com estima e sincera gratidão pela contribuição em

minha formação profissional.

Aos Pós-graduandos Tarcísio Mota Coelho, Fábio Roberto O. Silva,

Francisco Lázaro P. de Sousa, Eder Viana de Souza, Leandro Gustavo de

Oliveira e José Ricardo Ayres, pelo estímulo e carinhosa convivência.

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vii

Aos Drs. Roberto Cardoso, Sandra Maria Alexandre e Eduardo Cordioli,

pela ajuda indispensável no preparo do Projeto de Pesquisa e ao Dr. Sérgio

Kobayashi, pelo companheirismo e apoio.

À Profa. Dra. Márcia Maria Auxiliadora de Aquino Rosalém, amiga e

companheira, pelo convívio pessoal, profissional e pelo valioso auxílio na

realização deste estudo.

Aos amigos Dra Caterina Nicolas Koutras Jacob, Dra Cecília Aparecida

Nascimento, Edelyr Carneiro dos Passos, Amine Tereza Khaznadar e Prof. Dr.

Abrão Elias Abdalla, pelo incentivo e confiança.

Aos amigos e residentes do Departamento de Obstetrícia da UNIFESP-

EPM, pela colaboração na coleta das amostras.

Às funcionárias do Pré-natal de Hipertensão Marisa Victória Diniz, Marisa

Aparecida Cipriano, Cláudia Marcolino da Silva e Zuleide de Souza Rocha, pelo

carinho do dia-a-dia.

À Srta Miriam Regina Macieira, secretária do Departamento de Obstetrícia

da UNIFESP-EPM, pela atenção, capacidade profissional e disponibilidade

permanentes, meus sinceros agradecimentos.

À funcionária do Departamento de Patologia da UNIFESP Maria

Aparecida Conceição Nascimento e às funcionárias do Departamento de

Obstetrícia da UNIFESP-EPM Maria de Fátima Brandão, Maria Vitória do Amaral,

Rosinea Pereira Lima Gonçalves e, em particular, à Natalina Dias Doja, pela ajuda

nos diversos momentos de necessidade.

Às Funcionárias da BIREME Márcia Cristina Wafae Félix de Carvalho e

Márcia Teresinha Benites, pelos valiosos auxílios na realização deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Elias Rodrigues de Paiva e ao Sr. Celso de Medeiros

Capucho, pela realização do estudo estatístico; à Profª Amélia Maria Scarpa de

Albuquerque Maranhão, pela revisão gramatical.

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viii

Ao Sr. Sthar-Mar de Vasconcelos, pelo excelente trabalho gráfico e ao Dr.

Cristovam Scapulatempo Neto, residente do Departamento de Patologia da

UNIFESP-EPM, pela realização das fotomicrografias.

Finalmente, a todas as pacientes que tornaram possível este estudo e a

todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para sua execução, minha

profunda gratidão.

Sumário

Dedicatória........................................................................................................................ iv

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ix

Agradecimentos ............................................................................................................... v

Listas ................................................................................................................................ x

Resumo ............................................................................................................................ xiv

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1

2. ANÁLISE DA LITERATURA ........................................................................................ 8

3. PROPOSIÇÃO.............................................................................................................. 13

4. PACIENTES E MÉTODO ............................................................................................ 15

5. RESULTADOS ............................................................................................................. 31

6. DISCUSSÃO................................................................................................................. 42

7. CONCLUSÕES............................................................................................................. 53

8. ANEXOS....................................................................................................................... 55

9. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 66

Abstract

Bibliografia Consultada

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x

Lista de figuras Figura 1 Técnica da biópsia do leito placentário ............................................... 20

Figura 2 Fotomicrografia mostrando célula gigante multinucleada ................... 23

Figura 3 Fotomicrografia mostrando artéria espiralada com morfologia

semelhante à estrutura não gravídica ................................................. 24

Figura 4 Fotomicrografia mostrando o trofoblasto invadindo a parede

vascular............................................................................................... 25

Figura 5 Fotomicrografia mostrando espessamento fibroso focal da parede

vascular (HE) ...................................................................................... 26

Figura 6 Fotomicrografia mostrando espessamento fibroso focal da parede

vascular (Tricrômio de Masson) .......................................................... 26

Figura 7 Fotomicrografia mostrando o aumento da celularidade das

camadas íntima e média com obliteração parcial da luz..................... 27

Figura 8 Fotomicrografia mostrando vaso com parede necrótica de

coloração eosinófila ............................................................................ 27

Figura 9 Fotomicrografia mostrando grande quantidade de macrófagos

xantomizados na subíntima, com oclusão quase total da luz

vascular............................................................................................... 28 Figura 10 Distribuição das pacientes segundo os grupos estudados ................. 32

Lista de tabelas

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xi

Tabela 1 Médias da idade materna, paridade, idade gestacional no momento

do parto e número de consultas no pré-natal nas pacientes com

descolamento prematuro de placenta associado à hipertensão, não

associado à hipertensão e do grupo controle ..................................... 33

Tabela 2 Distribuição percentual por raça, nas pacientes com descolamento

prematuro de placenta associado à hipertensão, não associado à

hipertensão e do grupo controle ......................................................... 34

Tabela 3 Médias da pressão arterial sistólica, diastólica e pressão arterial

média nas pacientes com descolamento prematuro de placenta

associado à hipertensão, não associado à hipertensão e do grupo

controle ............................................................................................... 35

Tabela 4 Medidas (em cm3) dos fragmentos de biópsias de leitos placentários

nas pacientes com descolamento prematuro de placenta associado

à hipertensão, não associado à hipertensão e grupo controle ............ 36

Tabela 5 Padrões histológicos das artérias espiraladas no leito placentário nas

pacientes com descolamento prematuro de placenta associado à

hipertensão e grupo controle .............................................................. 37

Tabela 6 Padrões histológicos das artérias espiraladas no leito placentário nas

pacientes com descolamento prematuro de placenta não

associado à hipertensão e grupo controle .......................................... 38

Tabela 7 Análise comparativa dos achados histológicos das artérias

espiraladas considerando o padrão normal ou patológico, nas

pacientes com descolamento prematuro de placenta associado à

hipertensão e grupo controle .............................................................. 39

Tabela 8 Análise comparativa dos achados histológicos das artérias

espiraladas considerando o padrão normal ou patológico, nas

pacientes com descolamento prematuro de placenta não associado

à hipertensão e grupo controle ........................................................... 40

Tabela 9 Diâmetro vascular médio das artérias espiraladas no leito placentário

nas pacientes com descolamento prematuro de placenta associado

à hipertensão, não associado à hipertensão e grupo controle ............ 41

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xiii

Lista de abreviaturas e símbolos

cm3 centímetros cúbicos

DHEG Doença Hipertensiva Específica da Gravidez dp desvio padrão DPP Descolamento Prematuro da Placenta E Eclâmpsia GC Grupo Controle G/HA DPP associado à Hipertensão Arterial G/SHA DPP não associado à hipertensão arterial HAC Hipertensão Arterial Crônica HE Hematoxilina / eosina max máximo min mínimo mmHg milímetros de mercúrio n número PA Pressão Arterial PAD Pressão Arterial Diastólica PAM Pressão Arterial Média PAS Pressão Arterial Sistólica PE Pré-eclâmpsia sem semanas RCIU Restrição do Crescimento Intra-uterino WHO World Health Organization

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xiv

Resumo

Objetivo: Analisar os padrões histopatológicos das artérias do leito placentário em

gestações complicadas pelo descolamento prematuro da placenta (DPP), comparando-os

com a estrutura vascular dos leitos placentários normais. Método: A biópsia de leito

placentário foi realizada em 30 gestantes com diagnóstico de DPP e idade gestacional

maior ou igual a 28 semanas, submetidas ao parto cesáreo. Dentre elas, 23 tinham

distúrbios hipertensivos associados (G/HA) e 7, apresentavam níveis tensionais normais

(G/SHA). O grupo controle (GC) foi constituído por 30 pacientes com evolução

gestacional normal, submetidas a parto cesáreo por indicação obstétrica. As variáveis

selecionadas para a análise histológica do leito placentário foram: padrão inalterado,

modificações fisiológicas, desorganização da camada média, alterações hiperplásicas da

camada íntima e média, necrose e aterose aguda, além da medida do diâmetro vascular.

Resultados: Nas pacientes com DPP associado à hipertensão (G/HA) ocorreu

predominância significativa de desorganização da camada média e de hiperplasia das

camadas íntima e média, em comparação ao GC, enquanto a presença de modificações

fisiológicas nas artérias espiraladas foi significativamente mais freqüente no GC.

Achados como necrose e aterose aguda foram observados em menores proporções no

G/HA, mas sem significância estatística. Não houve diferenças estatisticamente

significantes com relação à distribuição dos achados histológicos nos G/SHA e GC. A

presença de padrões histológicos considerados patológicos, isto é, desorganização da

camada média, hiperplasia das camadas íntima e média, necrose e aterose, foi

significativamente maior no G/HA sendo que a lesão predominante foi a desorganização

da camada média. A característica histológica mais representativa de normalidade foi a

presença de modificações fisiológicas vasculares específicas da gravidez, encontrada em

43% das artérias espiraladas no G/SHA e, em 66,6%, no GC. O diâmetro médio da

artéria espiralada mostrou-se estatisticamente menor no G/HA e no G/SHA, quando

comparado ao GC. Conclusões: 1) Os achados histológicos vasculares predominantes

em grávidas com diagnóstico de DPP associado à hipertensão foram desorganização da

camada média e hiperplasia das camadas íntima e média; 2) A presença do padrão

histológico considerado patológico foi significativamente maior no G/HA, sendo o mais

prevalente a desorganização da camada média; 3) Houve predomínio do padrão

histológico considerado normal, isto é, modificações fisiológicas no G/SHA e no GC; 4)

As pacientes acometidas pelo DPP, associado ou não à hipertensão, exibiram diâmetros

vasculares menores das artérias espiraladas, em relação ao GC.

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1. INTRODUÇÃO

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Introdução

2

Definido pela Organização Mundial da Saúde (1) como a separação súbita

da placenta normalmente inserida no corpo uterino, após a vigésima semana de

gestação, o Descolamento Prematuro da Placenta (DPP), também denominado

abruptio placentae, representa causa importante entre as síndromes

hemorrágicas da segunda metade da gestação.

O DPP é dramático evento que acomete 0,5 a 3,0% das gestações,

elevando a morbidade materna, além de ser responsável por mais de um quarto

de todos os óbitos perinatais (2-4). Para Cunningham et al (2001), sua incidência e

gravidade têm diminuído progressivamente nos últimos anos (5).

Pritchard et al (1970) ponderaram que o prognóstico materno oscila em

função de inúmeras variáveis, entre elas a extensão da área placentária

descolada, a perda sangüínea, a precocidade do diagnóstico da coagulopatia, a

presença de apoplexia uteroplacentária, a localização da hemorragia, além da

gravidade das alterações vasculares e a presença de insuficiência renal aguda (6).

No entanto, registra-se substancial redução da mortalidade materna associada ao

DPP, em função da melhor compreensão da etiopatogenia e orientação

terapêutica mais efetiva (7,8).

No que diz respeito ao concepto, a asfixia fetal, decorrente do

descolamento placentário, a prematuridade e a maior incidência de baixo peso,

ainda respondem pelo desfecho perinatal ominoso (9-13).

Embora o determinismo real desta patologia esteja ainda obscuro, a

separação prematura da placenta e a hemorragia intramiometrial provavelmente

seriam resultantes da ruptura da artéria uteroplacentária, com extravasamento

progressivo de sangue entre as fibras miometriais (6,14,15). O sangramento, ao

encaminhar-se para a superfície decidual, seria o responsável direto pelo

descolamento propriamente dito e, conseqüente hipóxia fetal, enquanto as

sufusões hemorrágicas intramiometriais produziriam extensa equimose

denominada útero de Couvelaire (16).

Fatores como distúrbios hipertensivos, cordão umbilical curto,

descompressão uterina súbita, rotura prolongada das membranas ovulares,

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Introdução

3

polidrâmnio, movimentação excessiva do feto e hipertonia uterina parecem

aumentar sua incidência (15,17,18). Outros fatores como a idade materna avançada,

grande multiparidade, menor nível sócio econômico, antecedente de DPP em

gestação pregressa, uso de drogas como o álcool e a cocaína além, do

tabagismo, podem facilitar a ocorrência de DPP (12,15, 19-24).

Há evidências consideráveis, sugerindo que os estados hipertensivos da

gestação constituem o principal fator etiopatogênico envolvido no DPP (5,25).

Pritchard et al (1991) relataram que a hipertensão arterial materna estaria

relacionada a 50% dos quadros graves de DPP (19). Segundo Camano, Bertini

(1996), a hipertensão arterial crônica (HAC) com vasculopatia seria a grande

causa de DPP, enquanto o aparecimento deste quadro com a Doença

Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG), ocorreria excepcionalmente (26).

Para Within et al (1999), a severidade da pré-eclâmpsia (PE) não estaria

relacionada à maior incidência de DPP (4). Apesar da hipertensão materna ter

relevante papel na gênese do DPP, Munim et al (1997) ressaltaram que não

houve diferenças no prognóstico materno e perinatal entre gestantes hipertensas

e normotensas acometidas por esta entidade (27).

A vitalidade do concepto humano depende, diretamente, da manutenção

do fluxo de sangue materno adequado para o espaço interviloso (28). Para tal,

modificações fisiológicas expressivas na circulação uterina e placentária, de

caráter adaptativo, são imprescindíveis para o crescimento fetal adequado (29).

Os aspectos morfológicos da placentação humana normal estão

razoavelmente bem documentados. Os primeiros estudos histológicos dos vasos

do leito placentário foram realizados por Friedländer* (1870), que referiu a

presença de células basófilas com núcleo proeminente e único na parede das

artérias ao nível do espaço interviloso, sugerindo serem células trofoblásticas,

com especial capacidade de invadir e perfurar a parede vascular (28).

Stolper (1910) delineou estes vasos como tubos hialinos com células

gigantes ao longo de sua parede. Schwarz, Mc Nalley (1923) relataram a

presença de espessamento difuso da parede vascular, seguidos por Williams

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Introdução

4

(1931), que descreveu o aparecimento de estruturas hialinas de aspecto bizarro

nos vasos colapsados (28,30,31).

Hertig (1945) identificou nas artérias uteroplacentárias, uma lesão

caracterizada por células ricas em lipídios, aparentemente semelhantes às

previamente descritas por Williams (1915), ao examinar o útero obtido por

histerectomia puerperal de duas pacientes com DPP (32,33). Embora ambos

acreditassem que estas lesões fossem patognomônicas de DPP, Sexton et al

(1950) relataram que tal achado somente ocorreria quando a PE associava-se a

HAC ou nefrite crônica (34). Em seqüência, Zeek, Assali (1950) nomearam esta

lesão arterial nos vasos deciduais como aterose aguda descrevendo-a como

característica da PE (35).

Até 1958 os estudos morfológicos sobre placentação humana normal e

patológica eram baseados na análise histológica da placenta pós-parto, na

avaliação do útero pós-histerectomia ou através de necrópsia e traziam

limitações, tanto metodológicas quanto clínicas, dificultando a compreensão da

circulação uteroplacentária. Assim, foi importante a introdução de nova técnica

para a obtenção de fragmentos de útero gravídico durante o parto cesáreo,

denominada biópsia de leito placentário, descrita por Dixon, Robertson (1958)

enfatizando a presença obrigatória de decídua basal assim como de miométrio

subjacente contendo a origem das artérias uteroplacentárias (36).

Brosens et al (1967) e Sheppard, Bonnar (1974), através de biópsia de

leito placentário, descreveram a ocorrência de duas ondas de invasão

trofoblástica retrógrada dos vasos uterinos (28,37). A primeira, até 12 semanas,

estaria caracterizada pela substituição do tecido muscular e elástico das artérias

espiraladas por material fibrinóide, somente em sua porção decidual. A segunda

onda de invasão trofoblástica ocorreria entre a 14ª e 21ª semanas, envolvendo

agora os segmentos intramiometriais tornando-os condutos fetalizados, bastante

dilatados, denominando-os artérias uteroplacentárias, com melhores condições de

manter os níveis de oxigenação fetal. Relataram, ainda, que estas modificações

fisiológicas seriam detectadas logo após a nidação, em máximas proporções no

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Introdução

5

leito placentário, área representativa do sítio de implantação e, em mínimas

proporções, nas áreas periféricas da placenta madura.

Segundo Robertson et al (1967), a presença de distúrbios hipertensivos

manteria as artérias espiraladas com parede muscular íntegra, sem

vasodilatação, por não terem desenvolvido a segunda onda de invasão

trofoblástica e, conseqüente redução do débito sangüíneo uteroplacentário (29). Os

autores concluíram, a partir deste estudo, que embora a hipertensão arterial

essencial ocasione lesões morfológicas sistêmicas tardiamente, também induz à

proliferação do tecido conectivo nas paredes das artérias basais além de

determinar proliferação excessiva do tecido fibroso e muscular liso, tanto na

íntima como na média, promovendo estenose ou até oclusão das mesmas.

Em pacientes com PE e eclâmpsia (E), observaram necrose fibrinóide

aguda e uma segunda lesão, constituída por dano na parede do vaso associado

à presença de células lipídicas, chamadas de ateromatose aguda. Verificaram,

ainda, que frente a HAC com PE sobreposta, as artérias do leito placentário

apresentavam uma combinação de lesões proliferativas e necróticas.

A semelhança morfológica desta lesão ateromatosa com as descritas

anteriormente, em distúrbios sabidamente associados à reação antígeno

/anticorpo, poderia sugerir que o responsável pelas alterações vasculares

demonstradas nos processos toxêmicos teria um componente imunológico.

Sheppard, Bonnar (1974), através da análise histológica do leito

placentário, à luz da microscopia eletrônica, verificaram que as lesões

anteriormente descritas por Zeek, Assali (1950), consideradas como específicas

dos distúrbios hipertensivos, também poderiam ser encontradas em gestantes

normotensas com restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) (35,37).

Robertson et al (1986) destacaram a presença de lesões ateroscleróticas

e hiperplásicas em graus variáveis, nos segmentos miometriais das artérias

uteroplacentárias desprovidas de modificações fisiológicas, associadas a aterose

aguda. Ressaltaram, ainda, que as vasculopatias poderiam induzir a trombose e

ruptura vascular seguida de hemorragia, justificando a alta incidência de infartos

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Introdução

6

placentários, DPP e hemorragias retroplacentárias descrita nos distúrbios

hipertensivos da gestação (38).

Pijnenborg et al (1991) descreveram que o grau de invasão trofoblástica

na parede vascular parecia ser variável, assim como as modificações fisiológicas

poderiam acometer toda a extensão do vaso ou serem restritas a um único setor (39). Para estes autores, seria difícil reconhecer se a inibição da invasão

trofoblástica precede, acompanha ou segue o desenvolvimento da hipertensão e

de suas possíveis complicações na gravidez.

Para Khong et al (1992), todas as artérias espiraladas localizadas ao

longo do trofoblasto migratório extravascular seriam convertidas em

uteroplacentárias, enquanto na PE, na E e no RCIU, uma proporção significativa

escaparia ou resistiria à migração trofoblástica endovascular (40).

Para Graham, Lala (1992), a compreensão do mecanismo de invasão

trofoblástica e seu controle facilitariam o diagnóstico e o tratamento de certas

condições patológicas relacionadas à invasão placentária excessiva como

placenta acreta e coriocarcinoma, condições de invasão anômala como no DPP e

naquelas onde a invasão fosse escassa como na PE e no RCIU (41) .

Meekins et al (1994), comparando do ponto de vista histológico e

histoquímico o leito placentário de gestações normais e com PE, relataram que os

danos morfológicos encontrados em uma determinada área da artéria espiralada

não eram necessariamente os mesmos quando comparados às diferentes áreas

da mesma artéria, nem com outras artérias do mesmo leito placentário (42).

Destacaram, ainda, que em gestações normais, as modificações fisiológicas e o

espessamento da subíntima ocorreriam em ambas as porções da artéria

espiralada, tanto na porção decidual quanto na miometrial. Em contrapartida na

PE, a ateromatose da porção decidual, a hiperplasia da camada média, além de

desorganização do segmento miometrial, foram achados comuns. A partir deste

estudo imunohistoquímico utilizando-se da citoqueratina, um marcador celular de

baixo peso molecular, demonstrou-se sua especificidade na detecção de epitélio

glandular e trofoblasto extraviloso. Concluiu-se que a utilização de técnicas

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Introdução

7

histoquímicas e critérios morfológicos padronizados facilitariam o estudo da

invasão trofoblástica, desde o início da prenhez.

Pijnenborg (1996) destacou a importância da realização de biópsias de

leito placentário, ao ressaltar seu valor diagnóstico frente a patologias diretamente

ligadas à circulação placentária (43).

Para Jaffe et al (1997), o estágio inicial de muitas patologias gestacionais

como os distúrbios hipertensivos, RCIU e, provavelmente as hemorragias

anteparto, já estaria estabelecido durante o desenvolvimento da placentação no

primeiro e segundo trimestre (44).

Apesar do DPP estar associado, em grande parte das vezes, aos estados

hipertensivos, muitos aspectos sobre sua real etiologia ainda estão obscuros (5,8).

A probabilidade de existir uma lesão primária nos vasos placentários não pode ser

descartada (5,45).

Assim, nasceu a nossa motivação de estudar os aspectos

histopatológicos dos vasos uteroplacentários em gestações complicadas pelo

descolamento placentário com o desiderato de contribuir para o melhor

entendimento da fisiopatologia desta grave enfermidade obstétrica.

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2. ANÁLISE DA LITERATURA

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Análise da Literatura

9

Williams (1915) foi o primeiro a descrever os vasos placentários, do ponto

de vista anatomopatológico, em duas pacientes com DPP submetidas a

histerectomia abdominal, uma delas com PE associada, relatando que o tecido

logo abaixo do endotélio vascular normal apresentava-se espessado e com

aspecto mucóide (33).

Hertig (1945) ressaltou a prevalência do componente lipídico na lesão

vascular, acreditando ser patognomônico da separação tóxica da placenta (32).

Em estudo subseqüente, Sexton et al (1950) analisaram 476 gestações

acometidas pelo DPP, no período de 1931 a 1945, com o objetivo de estabelecer

correlação clinicopatológica (34). As pacientes foram inicialmente divididas em dois

grupos, tóxicos e não tóxicos definidos, respectivamente, pela presença ou não de

albuminúria e hipertensão. A análise histopatológica evidenciou algum grau de

degeneração trofoblástica, além de necrose decidual, tanto no grupo não tóxico

como nas gestações de último trimestre. Em relação ao grupo tóxico, destacaram

a presença de degeneração ou necrose da junção decíduo-trofoblástica associada

a ateromatose aguda, com probabilidade de obstruir parcial ou totalmente a luz

vascular, promovendo subseqüente necrose da decídua circunvizinha seguida de

hemorragia. Do ponto de vista clínico, descreveram que, na ausência de

hipertensão, o DPP esteve freqüentemente associado a anormalidades do

desenvolvimento placentário, tais como placenta circunvalada, sucenturiata e

cordão umbilical curto, rotura de seio marginal, pressão intra-uterina elevada

como no polidrâmnio ou gestações múltiplas e, eventualmente, ao trauma.

Por outro lado, Sexton et al (1950) não definiram uma lesão placentária

comum a todos os quadros de DPP associados a toxemia. Todavia, ressaltaram a

probabilidade da ateromatose aguda dos vasos da decídua sinusoidal ser

indicativa de doença vascular ou renal prévias. Estabelecendo uma correlação

histopatológica entre a incidência de infartos placentários na vigência de PE e a

tendência de descolamento de placenta, demonstraram que 61,5%

desenvolveram DPP associado a áreas de infarto, 24,7% estiveram associadas

unicamente ao DPP, restando 6,9% com infarto placentário, além de 6,9% das

gestantes sem quaisquer sinais clínicos ou histológicos.

Page 26: Tese na íntegra para Download

Análise da Literatura

10

Dommisse, Tiltman (1992) realizaram estudo descritivo do leito

placentário em 18 gestantes acometidas por abruptio placentae com o objetivo de

identificar a origem do sangramento intramiometrial, assim como descrever a

estrutura dos vasos uteroplacentários (45). Dentre as 18 biópsias realizadas, seis

foram excluídas do trabalho por não serem consideradas representativas, uma

vez que não apresentavam trofoblasto extraviloso no miométrio. As principais

características clínicas e aspectos histológicos descritos no restante das biópsias,

estão expressos no Quadro 1.

Page 27: Tese na íntegra para Download

Análise da Literatura

11

Quadro 1 - Aspectos clínicos e histológicos do leito placentário de 12 pacientes acometidas pelo Descolamento Prematuro da Placenta, segundo Dommisse, Tiltman (1992).

PACIENTES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 VARIÁVEIS CLÍNICAS Idade materna 35 19 33 24 34 22 25 19 25 17 19 23 Paridade 6 1 3 2 3 1 2 1 5 1 1 1 Idade gestacional 30 31 37 32 36 34 40 34 32 35 32 34 Hipertensão + - + - - + + - - - - + VARIÁVEIS HISTOLÓGICAS

Trofoblasto ++ + + + ++ + + ++ ++ ++ ++ ++ Glândula endometrial - + - + - + + +/- + - - - Hemorragia miometrial - - +/- +/- +/- +/- +/- + + ++ ++ ++ Artéria uteroplacentária intermediária

2

1

1

-

-

1

-

1

1

1

1

1

Artéria uteroplacentária profunda

-

-

2

1

2

1

1

-

1

1

1

-

Modificação Fisiológica Intermediária

-

+

-

-

-

-

-

-

+

-

+

+

Modificação Fisiológica Profunda

-

-

-

-

+

-

-

-

-

-

-

-

Aterose - - + - - - - - - - - - Espessamento da subíntima

-

-

+

-

+

+

-

-

++

+

-

-

Malformação vascular - 1 - - - - - - 1 1 - 1 Legenda - ausente +/- mínimo + moderado ++ marcante 1 ou 2 número de vasos

Page 28: Tese na íntegra para Download

Análise da Literatura

12

Segundo estes autores, a comprovação histopatológica da hemorragia

intramiometrial compatível com a clínica de DPP esteve presente em dez casos.

As anormalidades vasculares descritas incluíram a ausência de modificações

fisiológicas normais na porção miometrial das artérias uteroplacentárias, em sete

biópsias, espessamento das túnicas subíntima e íntima em cinco, e malformações

vasculares em quatro. Das cinco pacientes com hipertensão gestacional

associada, quatro não apresentaram transformação arterial fisiológica e as outras

três biópsias que se mostraram carentes desta adaptação, ocorreram em

gestantes normotensas.

O espessamento das túnicas subíntima e íntima mostrou-se

morfologicamente semelhante ao anteriormente relatado por Brosens et al (1967)

como resultado de uma trombose prévia (28). Entretanto, estas alterações foram

freqüentemente vistas na gravidez normal, não sendo específicas para o DPP.

No que tange às malformações vasculares, os autores descreveram

estruturas semelhantes a comunicações arteriovenosas acompanhadas de fibrose

da subíntima, constituindo provável tentativa de arterialização das veias em

resposta ao aumento da pressão arterial (PA). Ressaltaram, ainda, a

necessidade de estabelecer-se o real significado destas modificações da

arquitetura vascular diretamente ligadas à patogenia do DPP.

Page 29: Tese na íntegra para Download

3. PROPOSIÇÃO

Page 30: Tese na íntegra para Download

Proposição

14

Este estudo teve como finalidade a análise dos padrões histopatológicos das

artérias do leito placentário em gestações complicadas pelo descolamento

prematuro da placenta, comparando-os com a estrutura vascular dos leitos

placentários normais.

Outrossim, teve o desígnio de confrontar, nesta patologia obstétrica, as

alterações dos vasos preditos nos casos de hipertensão arterial, com aqueles

associados a níveis tensionais normais.

Page 31: Tese na íntegra para Download

4. PACIENTES E MÉTODO

Page 32: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

16

Este estudo, de caráter descritivo e comparativo, foi realizado a partir de

biópsias de leito placentário em grávidas com diagnóstico de DPP, submetidas ao

parto cesáreo no Hospital São Paulo, no Hospital Municipal Vereador José

Storopolli e no Hospital Geral de Pirajussara, no período de setembro de 1999 a

dezembro de 2002.

4.1. PACIENTES

Trinta gestantes, chamadas de grupo de estudo, foram selecionadas

através dos seguintes critérios:

• diagnóstico de descolamento prematuro da placenta;

• idade gestacional maior ou igual a 28 semanas.

Foram excluídas as pacientes que apresentaram:

• patologias clínicas como diabete melito, infecções agudas e

colagenoses;

• patologias obstétricas como placenta prévia e gemelaridade;

• antecedentes de doenças tromboembólicas;

• DPP que teve como resolução o parto vaginal.

Este grupo foi representado por:

• 23 gestantes com DPP associado à hipertensão arterial (G/HA)

• 7 gestantes com DPP não associado à hipertensão arterial (G/SHA)

O grupo controle (GC) foi constituído por 30 pacientes com evolução

gestacional normal, de termo, submetidas a parto cesáreo por indicação

obstétrica.

Page 33: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

17

Os critérios de exclusão considerados para o grupo controle foram:

• patologias da gestação como PE e E, doença hemolítica perinatal pelo

fator Rh, RCIU, óbito fetal, gestação múltipla, polidrâmnio e oligoâmnio;

• síndromes hemorrágicas como DPP, placenta prévia e acretismo

placentário;

• intercorrências clínicas como infecções agudas, HAC, diabete melito,

colagenoses e distúrbios tromboembólicos.

O DPP foi definido pela separação inopinada, intempestiva e prematura

da placenta normalmente inserida, após a 20ª semana de gestação (8).

O diagnóstico de DPP baseou-se em evidências clínicas de dor abdominal

súbita de intensidade variável, geralmente associada a hipertonia uterina,

sangramento vaginal ou hemorragia oculta, com ou sem sinais de estado

hipovolêmico. Quando possível, a visibilização ultra-sonográfica de áreas

anecóicas retroplacentárias sugestivas de hematoma ou, ainda, a detecção

durante o ato cirúrgico de coágulo retroplacentário e/ou presença de cratera na

face materna da placenta foram considerados para a caracterização diagnóstica.

O quadro hipertensivo foi caracterizado através da constatação de

pressão arterial sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg e/ou pressão

arterial diastólica (PAD) igual ou superior a 90 mmHg, ao longo da internação.

Levando-se em conta as características clínicas do DPP, todos os quadros

hipertensivos foram compactados na mesma categoria e denominados estados

hipertensivos.

As gestantes incluídas no estudo tiveram seus dados registrados em

planilha pré-estabelecida, para posterior análise (Anexo 1).

Page 34: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

18

4.1.1. Variáveis selecionadas para a caracterização das pacientes

Para a caracterização das pacientes, apuramos as seguintes variáveis

maternas:

• FAIXA ETÁRIA: especificada em anos completos.

• RAÇA: caracterizada em brancas e não brancas.

• PARIDADE: considerou-se o número de partos anteriores à gestação atual,

após 20 semanas de idade gestacional, independente da via de parto. Para

efeito de análise, esta variável foi categorizada em primíparas (um parto

concluído) e multíparas, (dois ou mais partos concluídos).

• IDADE GESTACIONAL NO MOMENTO DO PARTO: definida a partir da

história menstrual, considerando-se a data da última menstruação

mensurada a partir do primeiro dia do último período menstrual normal e

expressa em dias e/ou em semanas completas, e através da avaliação

clínica da altura uterina (1). Quando possível, estes dados foram

complementados pelo exame ultra-sonográfico precoce.

• ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL: caracterizada pela realização ou não do pré-

natal e pelo número total de consultas. Em relação ao tipo de assistência

prestada, foi considerada satisfatória quando o número de consultas foi

maior ou igual a 4.

• PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA (PAM): calculada segundo a equação de

Burton (46) :

(Pressão Sistólica) + (Pressão Diastólica x 2) 3

4.2. MÉTODO

Page 35: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

19

4.2.1. Técnica da biópsia do leito placentário

A biópsia de leito placentário foi realizada segundo técnica descrita em

1986 por Robertson et al (38). O local de inserção placentária foi identificado pelo

cirurgião, logo após o nascimento do concepto. Após a extração da placenta, a

inspeção minuciosa do sítio de implantação permitiu identificar o leito placentário

propriamente dito, localizando-se a zona mais próxima possível do centro da

implantação (figuras 1a e 1b).

Um fragmento em forma de cunha de aproximadamente 1,0 cm de

diâmetro em seu maior eixo foi obtido com bisturi lâmina 15 (figuras 1c e 1d).

Quando necessário, realizou-se um ponto hemostático com fio absorvível.

O fragmento da biópsia foi submetido à fixação em formalina a 10% e

encaminhado ao Departamento de Patologia da Universidade Federal de São

Paulo. Um único patologista realizou a análise do material, sem o conhecimento

do quadro clínico em questão.

Page 36: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

20

Figura 1- Técnica da biópsia de leito placentário (adaptado de Voigt, Becker, 1992)

Figura 1a- Diagrama mostrando o local de inserção placentária

Figura 1b- Diagrama mostrando a localização digital da zona central da inserção placentária

Page 37: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

21

Figura 1c- Diagrama mostrando a retirada do fragmento do leito placentário

Figura 1d- Diagrama mostrando a retirada do fragmento nos casos de inserção placenta anterior

Page 38: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

22

4.2.2. Análise histológica do fragmento do leito placentário

Processamento do fragmento para estudo histológico O espécime foi processado de acordo com a rotina do Departamento de

Patologia. Inicialmente, foi submetido a exame macroscópico sistemático,

aferindo-se o diâmetro longitudinal, antero-posterior e transverso. Posteriormente,

foi desidratado em concentrações crescentes de etanol, submetido a diafanização

em xilol e incluso em parafina por um período médio de 12 horas.

Foram realizadas secções tissulares seriadas com espessura aproximada

de três micrômetros e as lâminas coradas pela técnica de hematoxilina e eosina

(HE). Para a melhor identificação das fibras elásticas e colágenas foi utilizado o

método de Tricrômio de Masson e o de Verhoeff (47).

Na presença de necrose utilizamos a coloração de hematoxilina

fosfotúngstica (47). Em seguida, os cortes histológicos foram examinados ao

microscópio óptico.

As técnicas acima mencionadas estão descritas em pormenores,

respectivamente nos anexos 2,3 e 4.

Critérios de validação da amostra

As amostras foram consideradas representativas do leito placentário em

sua porção central, quando foram detectadas a presença de trofoblasto

extraviloso na decídua e no miométrio, a predominância de células gigantes

multinucleadas e a presença de, no mínimo, uma artéria espiralada em sua

porção decidual e miometrial (38,48).

As células gigantes multinucleadas foram definidas como células com

diâmetro mínimo de 80 micras contendo dois núcleos ou mais (49) (figura 2).

Page 39: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

23

Figura 2 - Fotomicrografia mostrando célula gigante multinucleada, (HE, 400x).

4.2.3. Variáveis selecionadas para a análise histológica do leito placentário

Padrão histológico

Page 40: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

24

Os padrões histológicos foram definidos segundo a padronização de

Meekins et al, 1995 (48) em:

• Padrão inalterado: quando as artérias permanecem morfologicamente

normais ou semelhantes à estrutura não gravídica, ou seja, com a camada

íntima, média e adventícia preservada quanto à espessura e características

histológicas (figura 3);

Figura 3 - Fotomicrografia mostrando a artéria espiralada com morfologia

semelhante à estrutura não gravídica (HE,400x).

• Modificações fisiológicas: quando as artérias espiraladas apresentam

invasão trofoblástica endovascular. O grau de invasão trofoblástica é

Page 41: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

25

determinado pela extensão de material fibrinóide detectado por técnicas de

coloração padronizadas (figura 4);

Figura 4 - Fotomicrografia mostrando o trofoblasto invadindo a parede vascular

(HE, 400x).

Page 42: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

26

• Desorganização da camada média: caracterizada por fibrose e

hialinização na parede vascular (figuras 5 e 6);

Figura 5 - Fotomicrografia mostrando espessamento fibroso focal da parede vascular (HE, 400x).

Figura 6 - Fotomicrografia mostrando espessamento fibroso focal da parede vascular (Tricrômio de Masson, 400x).

Page 43: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

27

• Alterações hiperplásicas da camada íntima e média: definidas pelo

espessamento da camada íntima, formando camadas concêntricas de

tecido fibroelástico e hialinização da camada média (figura 7);

Figura 7 - Fotomicrografia mostrando o aumento da celularidade das camadas íntima e média, com obliteração parcial da luz (HE, 400x).

• Necrose: caracterizada pela perda celular e eosinofilia intensa de

todas as camadas (figura 8);

Figura 8 - Fotomicrografia mostrando vaso com parede necrótica, de coloração eosinofílica (HE, 400x).

Page 44: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

28

• Aterose aguda: determinada pela necrose fibrinóide, hialinização da

parede vascular e infiltrado de histiócitos xantomizados na subíntima. (figura 9).

Figura 9 - Fotomicrografia mostrando grande quantidade de macrófagos xantomizados na subíntima, com oclusão quase total da luz vascular (HE, 400x).

O padrão normal foi definido pela presença do padrão inalterado e de

modificações fisiológicas, enquanto que, a desorganização da camada

média, as alterações hiperplásicas, necrose e aterose aguda foram

consideradas como padrões patológicos.

Diâmetro Vascular

O diâmetro vascular foi definido pela medida da luz do vaso através

de ocular milimetrada. O critério utilizado para selecionar o vaso foi o corte

vascular mais transversal, objetivando-se homogeneizar os resultados.

Luz vascular

Page 45: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

29

4.3. MÉTODOS ESTATÍSTICOS

Para as variáveis idade materna, paridade, consultas de pré-natal e idade

gestacional usamos o teste paramétrico para “k” amostras independentes de

Kruskal-Wallis, complementado, quando necessário, pelo teste de comparações

múltiplas, com o objetivo de avaliarmos prováveis diferenças entre os grupos(50).

Para estudarmos possíveis contingências entre a presença ou ausência de

modificações fisiológicas, desorganização da camada média, hiperplasia das

camadas íntima e média, necrose e aterose entre os grupos, usamos o teste da

decomposição aditiva do Quiquadrado (x2), obedecendo-se sempre às restrições

de Cochran (50).

Para o estudo das possíveis associações nas tabelas anteriores, usamos o

Teste do Quiquadrado, obedecendo-se também as restrições de Cochran e

quando presente, utilizamos o Teste exato de Fisher (50).

Em todos os casos, o nível de rejeição para a hipótese de nulidade foi

fixado em um valor menor ou igual a 0,05 (5%). Quando a estatística calculada

apresentou significância, fizemos uso de um asterisco (*) para identificá-la.

As médias foram calculadas e apresentadas, apenas, a título de

informação. Não foram utilizados cálculos para desvios padrão e sim, testes não

paramétricos, visto que, as variáveis estudadas não se comportam como uma

Curva de Gauss inutilizando, desta forma, seu cálculo.

Page 46: Tese na íntegra para Download

Pacientes e Método

30

4.4. ASPECTOS ÉTICOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de São Paulo/Hospital São Paulo - CEP nº 0397/02 (Anexo

5).

As gestantes selecionadas foram inclusas no estudo, após

esclarecimentos sobre o procedimento a ser realizado, sempre que possível antes

do parto cesáreo (Anexo 6).

Page 47: Tese na íntegra para Download

5. RESULTADOS

Page 48: Tese na íntegra para Download

Resultados

32

Para este estudo foram selecionadas 60 pacientes. Dentre elas, 30

acometidas pelo DPP, sendo 23 associadas a distúrbios hipertensivos

denominadas de G/HA e sete, com níveis normais de PA, denominadas G/SHA.

As outras 30 mulheres formaram o GC (figura 10).

Figura 10 - Distribuição das pacientes segundo os grupos estudados

38%

12%50%

G/HAG/SHAGC

G/HA - DPP associado à hipertensão G/SHA - DPP não associado à hipertensão GC - Grupo controle

5.1. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

Os resultados referentes às variáveis idade, paridade, idade gestacional e

assistência pré-natal nos diferentes grupos, estão discriminados na Tabela 1.

Page 49: Tese na íntegra para Download

Resultados

33

Tabela 1 - Médias da idade materna, paridade, idade gestacional no momento do

parto e número de consultas no pré-natal nas pacientes com descolamento

prematuro da placenta associado à hipertensão, não associado à hipertensão e

do grupo controle.

Grupos estudados Idade (anos) Paridade IG (semanas) Nº de consultas

G/HA (n=23) 27,1 1,3 34,3 5,6 (n=17)

G/SHA (n=7) 29,0 1,1 36,2 7,4 (n=5)

GC (n=30) 30,3 1,0 38,9 6,8 (n=28)

Teste de Kruskal-Wallis

X2calc. = 4,243 p=0,119

X2calc. = 1,818 p=0,403

X2calc. = 24,491*

p<0,001 X2

calc. = 0,955* p=0,007

Comparações significantes

GC > G/HA GC>G/HA

G/SHA>GHA Legenda: G/HA – DPP associado à hipertensão IG – Idade gestacional G/SHA – DPP não associado à hipertensão Nº - número GC – Grupo controle

A idade materna variou de 19 a 41 anos, não havendo diferença

estatisticamente significante entre os grupos estudados. Quanto à paridade,

também não se verificou diferença significativa entre os grupos, apesar de serem

mais freqüentes as multíparas no G/HA (47,8%) e as nulíparas no GC (43,3%). A

idade gestacional média no momento do parto mostrou-se significantemente

maior no GC quando comparada ao G/HA (P<0,001). A assistência pré-natal foi

considerada satisfatória em 74%, em 71,4% e em 93,3% das gestantes,

respectivamente no G/HA, no G/SHA e no GC. A média do número de consultas

de pré-natal foi significativamente maior no G/SHA (7,4) e no GC (6,8), em

comparação ao G/HA (5,6).

Page 50: Tese na íntegra para Download

Resultados

34

Tabela 2 - Distribuição percentual por raça, nas pacientes com descolamento

prematuro da placenta associado à hipertensão, não associado à hipertensão e

do grupo controle.

Raça branca não branca Total

Grupos n % n % n %

G/HA 13 56,5 10 43,5 23 100

G/SHA 6 85,7 1 14,3 7 100

GC 24 80,0 6 20,0 30 100

Legenda: G/HA – DPP associado à hipertensão G/SHA – DPP não associado à hipertensão GC – Grupo controle n - número

A distribuição das gestantes quanto à raça pode ser observada na tabela

acima.

Houve predomínio da raça branca no G/SHA e no GC enquanto que, a

proporção entre a raça branca e não branca no G/HA foi equivalente.

Page 51: Tese na íntegra para Download

Resultados

35

Tabela 3 - Médias da pressão arterial sistólica, diastólica e pressão arterial média

nas pacientes com descolamento prematuro da placenta associado à hipertensão,

não associado à hipertensão e do grupo controle.

Grupos G/HA

(n=23)

G/SHA

(n=7)

GC

(n=30) p Teste de Kruskal-

Wallis

Pressão arterial

Sistólica

(max./min.)

179,1

(210/160)

107,1

(120/100)

106,3

(120/90)

< 0,001* G/HA>GC=G/SHA

Diastólica

(max./min.)

117,6

(130/95)

67,1

(80/60)

66,5

(80/60)

< 0,001* G/HA>GC= G/SHA

Pressão arterial média

138,1 80,1 79,7 < 0,001* G/HA>GC= G/SHA

Legenda: G/HA – DPP associado à hipertensão G/SHA – DPP não associado à hipertensão GC – Grupo controle n – número max. – máximo min. – mínimo

A média dos níveis pressóricos nos diferentes grupos de pacientes está

demonstrada na Tabela 3.

Como pode ser observado, as médias das pressões arteriais sistólica

(PAS), diastólica (PAD) e média (PAM) foram significativamente maiores no

G/HA, quando comparadas ao G/SHA e GC.

Page 52: Tese na íntegra para Download

Resultados

36

5.2. RESULTADOS REFERENTES ÀS VARIÁVEIS SELECIONADAS PARA A

ANÁLISE HISTOLÓGICA DO LEITO PLACENTÁRIO.

Sessenta fragmentos foram obtidos, a partir de biópsias do leito

placentário. Todos tiveram os diâmetros longitudinal, antero-posterior e transverso

medidos após fixação no formol (Tabela 4).

Tabela 4 - Medidas (em cm3) dos fragmentos de biópsias de leitos placentários

nas pacientes com descolamento prematuro da placenta associado à hipertensão,

não associado à hipertensão e grupo controle.

Medidas (cm3) Mínimo Máximo Média DP Fragmento (n)

Volume 0,04 3,51 1,03 0,93 60

Legenda: DP – Desvio padrão n – número

O volume médio dos fragmentos foi de 1,03 cm3.

Page 53: Tese na íntegra para Download

Resultados

37

Tabela 5 - Padrões histológicos das artérias espiraladas no leito placentário nas

pacientes com descolamento prematuro da placenta associado à hipertensão e

grupo controle.

Padrão histológico G/HA (n) GC (n) p

Padrão inalterado 2 9 0,057

Modificação fisiológica 2 20 <0,001*

Desorganização da camada média 15 2 <0,001*

Hiperplasia das camadas íntima e média 8 0 <0,001*

Necrose 2 0 0,184

Aterose aguda 2 0 0,184

Legenda: Teste do X2 ou Teste exato de Fisher G/HA – associado à hipertensão GC – grupo controle n – número

Na Tabela 5 podemos observar a análise comparativa dos diferentes

padrões histológicos, segundo a classificação descrita por Meekins et al (1995),

para os grupos G/HA e GC.

Nas pacientes com DPP associado à hipertensão ocorreu predominância

de desorganização da camada média e de hiperplasia das camadas íntima e

média em comparação ao GC. Em contrapartida, a presença de modificações

fisiológicas nas artérias espiraladas do GC foi estatisticamente maior. Denotamos

pequenas proporções de necrose e aterose no G/HA, em relação ao GC, sem

significância estatística.

Tabela 6 - Padrões histológicos das artérias espiraladas no leito placentário nas

pacientes com descolamento prematuro da placenta não associado à hipertensão

e grupo controle.

Page 54: Tese na íntegra para Download

Resultados

38

Padrão histológico G/SHA (n) GC (n) p

Padrão inalterado 3 9 0,406

Modificação fisiológica 3 20 0,228

Desorganização da camada média 2 2 0,155

Hiperplasia das camadas íntima e média 0 0

Necrose 0 0

Aterose aguda 0 0

Legenda: Teste do X2 ou Teste exato de Fisher GC – grupo controle G/SHA – DPP – não associado à hipertensão n – número

A Tabela 6 demonstra a comparação dos achados histológicos no G/ SHA

e no GC.

Não houve diferenças estatisticamente significantes com relação à

distribuição dos achados histológicos no G/SHA e GC, mesmo considerando o

predomínio de modificações fisiológicas e o padrão inalterado nas pacientes sem

DPP, ou seja, do GC. Lesões histológicas como hiperplasia, necrose e aterose

aguda não foram observadas nestes dois grupos.

Page 55: Tese na íntegra para Download

Resultados

39

Tabela 7 - Análise comparativa dos achados histológicos das artérias espiraladas

considerando o padrão normal ou patológico, nas pacientes com descolamento

prematuro da placenta associado à hipertensão e grupo controle.

Padrão histológico G/HA GC

n % n %

Normal 4 17,4 28 93,3*

Patológico 19 82,6* 2 6,7

Total 23 100 30 100

Legenda: G/HA – DPP associado à hipertensão p < 0,001 GC – Grupo controle X2 calc. = 28,29 n - número

A Tabela 7 mostra que a presença de padrões histológicos considerados

patológicos isto é, desorganização da camada média, hiperplasia das camadas

íntima e média, necrose e aterose, foi significativamente maior no G/HA. A lesão

vascular predominante foi desorganização da camada média, detectada em 50%

das pacientes. No que tange ao GC, a análise histopatológica das artérias

espiraladas revelou predominância estatisticamente significativa de modificações

fisiológicas e do padrão inalterado.

A mesma avaliação comparativa foi realizada para os grupos G/SHA e GC

(Tabela 8).

Page 56: Tese na íntegra para Download

Resultados

40

Tabela 8 - Análise comparativa dos achados histológicos das artérias espiraladas

considerando o padrão normal ou patológico, nas pacientes com descolamento

prematuro da placenta não associado à hipertensão e grupo controle.

Padrão histológico G/SHA GC

n % n %

Normal 5 71,4 28 93,3

Patológico 2 28,6 2 6,7

Total 7 100 30 100

Legenda: G/SHA – DPP não associado à hipertensão p = 0,001 GC – Grupo controle n - número

A comparação destes achados encontrados nos G/SHA e GC não

mostrou diferenças estatisticamente significantes, havendo predominância do

padrão normal em ambos os grupos. A característica histológica mais

representativa de normalidade foi a presença de modificações fisiológicas

vasculares específicas da gravidez, encontrada em 43% das artérias espiraladas

no G/SHA e, em 66,6%, no GC.

Page 57: Tese na íntegra para Download

Resultados

41

Tabela 9 - Média do diâmetro vascular das artérias espiraladas no leito

placentário, nas pacientes com descolamento prematuro da placenta associado à

hipertensão, não associado à hipertensão e do grupo controle.

Grupos n Média do diâmetro vascular (mm)

G/HA 23 0,07

G/SHA 7 0,06

GC 30 0,48

Teste de Kruskal-Wallis x2 calc. = 41,401 p<0,001*

Comparações significantes GC>G/HA=G/SHA Legenda: G/HA – DPP associado à hipertensão GC – grupo controle G/SHA – DPP não associado à hipertensão n – número

Na Tabela 9 podemos visualizar as médias do diâmetro vascular da

artéria espiralada em cada um dos grupos estudados. Verificamos que o diâmetro

vascular foi estatisticamente maior no GC, quando comparado com os grupos

G/HA e no G/SHA.

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6. DISCUSSÃO

Page 59: Tese na íntegra para Download

Discussão

43

Há muito, em nossas reflexões, estamos motivados a compreender os

aspectos envolvidos no determinismo do DPP, pois em nossa óptica, este tema

clássico ainda apresenta aspectos etiológicos não devidamente esclarecidos. Esta

preocupação é plenamente justificável, frente às múltiplas repercussões que

ocasiona, tanto para o concepto quanto para a mãe.

Na última década, vários estudos têm enfatizado alguns fatores de risco

envolvendo esta patologia, tais como fumo, cocaína, corioamnionite além dos já

conhecidos, rotura prematura das membranas, multiparidade e idade materna

avançada (20 22,51).

Gestantes com o hábito de fumar 10 ou mais cigarros/dia apresentam

elevação significativa dos riscos em desenvolver o DPP. O mecanismo proposto

inclui o aumento da fragilidade vascular com provável vasoespasmo seguido de

ruptura arterial, necrose decidual periférica, microinfartes, fibrose, ateromatose

associado a hipovascularização e atrofia vilositária (21,52) . Em revisão sistemática,

Castles et al (1999) observaram a associação entre o hábito de fumar durante a

gestação e o risco elevado para placenta prévia, DPP, gestação ectópica e RPM,

representando um fator protetor somente em relação à PE (22) . Por outro lado,

England et al (2002) acreditam que a interrupção do hábito de fumar antes da

gestação não reduz a ocorrência de complicações como hipertensão gestacional,

PE e DPP (24).

Em concordância com Kramer et al (1997), ressaltamos o consumo de

cocaína como um dos aspectos importantes a ser avaliado na gênese da

patologia, ainda que muitas vezes tal informação não seja revelada (17) . Para

Addis et al (2001), os efeitos perinatais atribuídos à cocaína são proporcionais às

quantidades utilizadas ao longo da gestação, e relacionam-se ao maior risco de

DPP e RPM (51).

Alguns trabalhos têm associado a corioamnionite ao DPP, sugerindo que

o processo inflamatório possa preceder o descolamento da placenta (17,53) .

Altshuler, Hyde (1996), revendo as implicações clinicopatológicas envolvendo as

patologias placentárias descreveram que o abruptio placentae freqüentemente

ocorre em placentas com deciduite e corioamnionite (53). A separação prematura

Page 60: Tese na íntegra para Download

Discussão

44

da placenta inicia-se pela margem lateral, visto que os vasos deciduais próximos

à cavidade âmnica são expostos a mediadores pró-inflamatórios, resultando em

necrose do tecido decidual, crescente hemorragia ao redor dos tecidos, e

conseqüente desprendimento placentário. Apesar de Rana et al (1999)

evidenciarem a predominância dos aspectos histológicos indicativos de processo

infeccioso das membranas ovulares em pacientes acometidos pelo DPP, nossa

casuística não detectou indícios de corioamnionite clínica, nem mesmo histológica (18).

Em 1950, Sexton et al estabeleceram relação entre os achados clínicos e

histopatológicos no DPP, sugerindo que frente a níveis pressóricos normais, a

integridade do suprimento vascular ao nível placentário estaria mais relacionada

à manutenção do fluxo de sangue, do que propriamente ligada às alterações

morfológicas destes vasos (34). Desta forma, fatores envolvidos com a ruptura dos

sinusóides deciduais não associados às modificações estruturais, tais como

cordão umbilical curto, placenta circunvalada, rotura de seio marginal, gravidez

múltipla e polidrâmnio, induziriam ao DPP com padrão histopatológico livre de

alterações. Na ausência de causa específica conhecida, os autores ressaltaram a

possibilidade da etiologia idiopática.

Em acordo com a literatura, também reconhecemos o DPP como

apanágio da hipertensão, visto que, neste estudo, 76,7% das pacientes

acometidas por esta patologia eram hipertensas (5,8). Além disso, enfatizamos que

os descolamentos placentários de relevantes proporções, geralmente encontram-

se coligados à hipertensão materna, enquanto os menores relacionam-se aos

demais fatores predisponentes.

Embora não tivéssemos como objetivo classificar os distúrbios

hipertensivos, julgamos que a hipertensão crônica com PE sobreposta constituiu a

grande causa no determinismo do DPP, sendo excepcionalmente atribuído às

formas puras de DHEG.

Em nossa casuística, os sete casos de descolamento placentário não

relacionados aos distúrbios hipertensivos estiveram associados ao provável uso

Page 61: Tese na íntegra para Download

Discussão

45

abusivo de ocitócico (duas pacientes), a historia pregressa de DPP (uma

paciente) e a causas não identificadas (quatro casos).

Ainda que Camano (2000) e Cunningham et al (2001) considerem a

presença de inúmeras condições associadas ao descolamento placentário,

destacando-se a hipertensão arterial, ambos são concordantes em afirmar que a

causa primária do DPP, ainda não é bem conhecida (5,8).

Na caracterização da população estudada, observamos que os grupos

foram homogêneos quanto às variáveis idade e paridade (Tabela 1). Quanto à

idade gestacional, a presença de diferenças significativas entre os grupos, não

interferiu nos resultados histológicos, visto que, a estrutura vascular ao nível

placentário encontra-se estabelecida desde 24 semanas. No que se refere à

assistência pré-natal, estamos convencidos que esta, quando presente e

adequada, pode contribuir para a redução dos riscos de DPP.

A distribuição das pacientes com relação à raça demonstrou a

predominância da raça branca nos G/SHA e GC (Tabela 2). A equivalência das

raças branca e não branca nas gestantes que desenvolveram o DPP associado à

hipertensão, provavelmente ocorreu pelo maior número de negras detectado

neste grupo, não permitindo associar o componente racial como variável

diretamente relacionada ao determinismo do DPP.

A observação dos níveis pressóricos significativamente maiores no G/HA

teve caráter apenas demonstrativo, com a intenção de confirmar a presença de

hipertensão.

Segundo Kliman et al (1995), diante de situações clínicas relacionadas a

problemas de origem placentária, a análise histológica pode exibir sensibilidade

de até 92% para a elucidação diagnóstica,além de permitir maior entendimento do

processo patológico e representar base para o aprimoramento do tratamento em

gestações futuras (53).

Desta forma, justificamos nosso interesse em descrever histologicamente

as artérias espiraladas do leito placentário, na tentativa de esclarecer possíveis

anormalidades estruturais ligadas ao descolamento da placenta.

Page 62: Tese na íntegra para Download

Discussão

46

Para a coleta de amostra tecidual satisfatória, é imprescindível a

identificação correta da área que corresponde ao sítio placentário propriamente

dito. O leito placentário, ou seja, porção decidual subjacente à face materna da

placenta, pode ser facilmente reconhecida como uma área com focos de

depressão sangrante e friável.

Assim como Robertson et al (1986), observamos que a dificuldade técnica

de biópsia somente ocorre quando a inserção placentária localiza-se na parede

uterina anterior, sendo necessário promover discreta eversão desta área para a

extração do fragmento (figura 1d) (38).

Outro fator relevante estaria relacionado aos critérios para caracterizar o

fragmento tissular como próprio do leito placentário. A presença de trofoblasto é a

única evidência que confirma a derivação do leito placentário. Além disso, a

capacidade migratória do trofoblasto em converter gradualmente as artérias

espiraladas em uteroplacentárias ocorre, em maiores proporções, nas áreas

centrais do sítio placentário, não necessariamente em todas as artérias ou mesmo

em todos os segmentos de sua extensão.

Não denotamos complexidade em realizar o procedimento de biópsia na

área mais central do sítio de implantação. Apenas um de todos os fragmentos

obtidos foi excluído do estudo em decorrência de volume insatisfatório. Os demais

apresentaram volume médio de 1,03 cm3 e englobaram os critérios mínimos de

validação da amostra, isto é, presença de trofoblasto e artéria espiralada em sua

porção decidual e miometrial.

Em contrapartida, Voigt, Becker (1992) e Dommissie, Tiltman (1992)

relataram respectivamente, a exclusão de 23,2% e 34,4% das amostras colhidas

por não serem representativas do leito placentário (45,54). Acreditamos que biópsia

realizada com técnicas inadequadas isto é, nas áreas periféricas do sítio de

implantação e/ou em profundidade menor ou igual a 0,5 cm, teriam maior

probabilidade de serem insuficientes para representar todo o tecido placentário,

além de apresentar distribuição irregular do trofoblasto a este nível.

Na tentativa de reduzir a perda do material, Robertson et al (1986)

propuseram a realização de biópsias múltiplas, em diferentes áreas do sítio de

Page 63: Tese na íntegra para Download

Discussão

47

implantação, para avaliar maior quantidade de vasos, visto que o número total de

artérias espiraladas varia entre 100 a 150 por leito placentário, em média uma a

cada dois cm2 (38).

Ao nosso ver, além deste procedimento ser inviável do ponto de vista

prático, julgamos que a identificação minuciosa da área central do sítio de

implantação, assim como a exérese de fragmento com 1,00 cm3 de diâmetro em

média, são critérios considerados suficientes para a obtenção de uma amostra

representativa.

Em nosso estudo, a análise dos padrões histológicos demonstrou menor

proporção de modificações fisiológicas nas artérias espiraladas nos G/HA e

G/SHA quando comparados individualmente ao GC (42).

Segundo Pijnenborg et al. (1991), a proporção de artérias espiraladas

acometidas por modificações fisiológicas é progressivamente maior até o termo,

sugerindo que a invasão trofoblástica destes vasos não está confinada aos

primeiros dois trimestres da gestação (39). Estes autores ressaltaram que a biópsia

de leito placentário somente pode ser obtida no final da gestação, dificultando

esclarecimentos se a inibição trofoblástica precede, acompanha ou segue o

desenvolvimento da hipertensão na gravidez.

Para Domissie,Tiltman (1992), das 12 pacientes que desenvolveram o

descolamento placentário, 5 apresentaram modificações fisiológicas enquanto que

das 7 que não apresentaram tais modificações, 4 eram hipertensas (45). Assim

como Robertson et al (1967), acreditamos que a ocorrência das duas ondas de

invasão trofoblástica estão diretamente relacionadas à ausência de distúrbio

hipertensivo. Assim, quando ocorre o DPP em pacientes com hipertensão

associada, a possibilidade de não ter ocorrido a segunda onda de invasão

trofoblástica na artéria espiralada é consideravelmente maior (29).

Os mesmos autores relataram a presença de espessamento intimal e

subintimal com morfologia similar às descritas por Brosens et al (1967), em 41,7%

das biópsias de leito placentário no DPP, provavelmente resultantes de trombose

prévia ou até mesmo, em resposta a turbulência normal do fluxo sangüíneo

encontrada no segmento miometrial das artérias espiraladas livres da

Page 64: Tese na íntegra para Download

Discussão

48

transformação fisiológica (28,45). Como estas lesões são habitualmente encontradas

em gestações normais, não são consideradas específicas do DPP.

Em nosso estudo, os achados histológicos compatíveis com

desorganização da camada média e hiperplasia das camadas íntima e média

foram evidenciados em proporções significativas nos descolamentos placentários

com hipertensão associada, o mesmo não ocorrendo em relação ao G/SHA e GC.

Pijnenborg et al (1991) e Meekins et al (1994) descreveram as

características histológicas das artérias espiraladas no leito placentário em

gestações normais e naquelas complicadas por hipertensão, concluindo que a

ausência de modificações fisiológicas pode não ser peculiar da PE, mas

possivelmente, está associada às várias formas de hipertensão na gravidez,

mesmo que a paciente não desenvolva o descolamento placentário (39,42).

Ressaltaram, ainda, que lesões histológicas como hiperplasia e desorganização

da camada média ao nível da porção miometrial da artéria espiralada além da

aterose aguda, também estão freqüentemente associadas aos distúrbios

hipertensivos.

Meekins et al (1995) demonstraram que o tratamento hipotensor em

gestações complicadas por hipertensão crônica é mais benéfico para o organismo

materno e não favorece a uma melhor adaptação fisiológica das artérias

espiraladas e nem diminui os riscos de complicações fetais relacionadas às

alterações vasculares (48). Além disso, relataram que a terapêutica medicamentosa

não reduz a ocorrência de desorganização, hiperplasia e aterose vascular, ao

nível de leito placentário.

Lesões histológicas compatíveis com necrose e aterose foram detectadas

em nosso estudo, por duas vezes dentre as pacientes acometidas pelo DPP

associado a síndromes hipertensivas, porém sem significância estatística.

Para Sexton et al (1950), certas lesões patológicas anteriormente

descritas por Hertig (1945) como um estágio precoce das lesões ateromatosas,

são caracterizadas pelo acúmulo de gordura e leucócitos mononucleares abaixo

da íntima das artérias espiraladas, degeneração fibrinóide da camada média

Page 65: Tese na íntegra para Download

Discussão

49

seguida da substituição fibroblástica da íntima, levando à oclusão completa da luz

vascular (32,34).

Na tentativa de explicar a gênese do DPP, estes autores concluíram que a

obstrução dos vasos que nutrem o endométrio levaria à necrose da decídua ao

seu redor, induzindo a hemorragia que, em proporções crescentes, ocasionaria o

descolamento placentário. No estudo realizado por Sexton et al (1950), estas

lesões compatíveis com aterose não se mostraram patognomônicas do DPP

associado às síndromes hipertensivas da gestação, estando, provavelmente,

relacionadas mais aos distúrbios vasculares ou renais prévios que propriamente

ao descolamento (34). É possível que os espasmos vasculares das artérias

espiraladas, sem lesões morfológicas demonstradas, tenham um papel ainda

mais relevante na gênese do descolamento (34).

Dentre as pacientes hipertensas acometidas pelo DPP, Domissie, Tiltman

(1992) descreveram a presença de um caso de aterose aguda na artéria

uteroplacentária, em sua porção miometrial, com acúmulo de lipófagos e depósito

de fibrina na camada média (45). Para Lewis, Benirschke (1997), a principal

patologia decidual, também chamada de aterose do leito vascular decidual,

caracteriza-se pela necrose e hialinização da parede vascular acoplada ao

depósito de macrófagos xantomizados, geralmente presente em duas condições

maternas: pressão sangüínea materna elevada e necrose vascular decidual

ocasionada por vasculite ou infecção bacteriana decidual (55).

Em nossa casuística, os dois achados de aterose aguda estiveram

relacionados às formas graves de hipertensão e a idades gestacionais mais

precoces. Embora não seja a alteração mais freqüente, podemos aferir que se

trata de uma lesão histológica diretamente interligada a danos vasculares severos

e a desfechos materno-fetais ominosos. Ainda que outros estudos microscópicos

analisando os vasos do leito placentário sejam necessários para definir a

significância destas lesões no determinismo do DPP, estamos convencidos de

que sua presença represente importante valor prognóstico em gestações futuras.

Quando agrupamos os achados histológicos em padrões normal ou

patológico, denotamos que as alterações vasculares patológicas apresentaram

Page 66: Tese na íntegra para Download

Discussão

50

proporções significativamente maiores no G/HA que no GC (Tabela 7).

Resultados semelhantes foram aferidos por Voigt, Becker (1992), demonstrando

maior prevalência de aspectos histomorfológicos considerados patológicos em

pacientes com níveis tensionais elevados (54).

Estas afirmações reforçam a premissa de que no DPP associado a HA, as

alterações vasculares podem ser histológicamente associadas à patologia de

base. Por outro lado, situações de DPP sem HA intercorrente não apresentam

características histológicas que possam elucidar sua gênese.

O diâmetro do vaso foi avaliado com o desígnio de correlacionar a luz

vascular com o risco em desenvolver o descolamento placentário. Registramos

que a média dos diâmetros vasculares foi reduzida no G/HA e no G/SHA, quando

comparados ao GC.

Para Robertson et al (1975), no útero não gravídico, a artéria radial, além

da basal, originam artérias musculares com diâmetro de 200 - 300 micras

denominadas artérias espiraladas, cuja lâmina elástica bem definida,

gradualmente desaparece assim que penetram no miométrio (56). As modificações

fisiológicas que acontecem nestas artérias durante a gestação normal têm como

objetivo favorecer maior permeabilidade ao fluxo de sangue e com isso, atender

de forma adequada, às demandas necessárias ao desenvolvimento fetal.

Em acordo com Camano (2000), acreditamos que a deficiência em exibir

ou manter respostas de adaptação adequada à presença do trofoblasto fetal

proporciona invasão trofoblástica incompleta ou ausente nas paredes das artérias

espiraladas (8). O equilíbrio prostaglandínico também não se desenvolve,

ocorrendo deficiência de prostaciclina com aumento da ação do tromboxane, cujo

efeito vasoconstritor acentua o processo de agregação e adesividade plaquetária

às paredes vasculares. Desta forma, a expressão clínica do DPP poderia ser

explicada pelo desenvolvimento da “doença da má adaptação” na circulação

sistêmica e uteroplacentária, também observado em outras situações como PE e

RCIU.

Consideramos que a redução da luz vascular no G/HA esteja

correlacionada à redução na perfusão placentária, elevação da atividade

Page 67: Tese na íntegra para Download

Discussão

51

plaquetária além da presença de lesões obstrutivas formadas pelo acúmulo de

macrófagos e degeneração fibrinóide da íntima chamada de aterose aguda. No

G/SHA, a ruptura vascular poderia decorrer tanto da estrutura vascular anormal

quanto do aumento da pressão em um determinado território.

Estamos convencidos que o determinismo do DPP esteja intimamente

ligado às modificações estruturais da parede vascular frente aos distúrbios

hipertensivos. Assim, quando levamos em conta sua tendência em recidivar, pode

sugerir que tais alterações histológicas vasculares possam ter um valor

prognóstico em futuras gestações.

Em contrapartida, a ausência de alterações vasculares ao nível

placentário exalta a necessidade de novos estudos revendo outras causas

possivelmente associadas a etiopatogenia do DPP.

No epílogo de nossas considerações cumpre ressaltar que a biópsia do

leito placentário traz subsídios importantes até no sentido de avaliar o futuro

obstétrico. É de se imaginar que as pacientes que apresentam alterações

vasculares relevantes teriam evoluções gestacionais associadas a prognósticos

reservados.

Em reflexões finais, o determinismo desta entidade ainda permanece

obscuro. Julgamos que temas clássicos não devem ser observados com a óptica

que tudo está esclarecido. Impõem-se novas investigações com o intuito de

melhor conhecer a etiopatogenia e, destarte, promover substancial redução na

freqüência do DPP.

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7. CONCLUSÕES

Page 69: Tese na íntegra para Download

Conclusões

54

Fundamentados na análise histopatológica vascular de 30 biópsias de

leito placentário em gestantes acometidas pelo descolamento prematuro da

placenta (DPP), que foram divididas nos grupos com hipertensão arterial (G/HA -

23 casos) e sem hipertensão arterial (G/SHA - 7 casos) e comparadas a outras 30

biópsias oriundas de grávidas normais (GC), julgamos lícitas as seguintes

conclusões:

1- As características histológicas vasculares predominantes em grávidas

com diagnóstico de DPP associado à hipertensão foram desorganização da

camada média e hiperplasia das camadas íntima e média.

2- A presença do padrão histológico considerado patológico foi

significativamente maior no G/HA, sendo que o mais prevalente foi

desorganização da camada média.

3- Houve predomínio do padrão histológico considerado normal no

G/SHA e no GC. Outrossim, não houve diferenças entre estes grupos, com

relação aos achados histopatológicos.

4- As pacientes acometidas pelo DPP associado ou não à hipertensão

(G/HA – G/SHA) exibiram menores diâmetros vasculares das artérias espiraladas,

em relação ao GC.

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8. ANEXOS

Page 71: Tese na íntegra para Download

Anexos

56

ANEXO 1 – FORMULÁRIO PRÉ-ESTABELECIDO Data: ___/____/___ Caso nº : ________ 1- grupo controle ( ) 2- grupo com DPP ( ) IDENTIFICAÇÃO Nome: ___________________ RG: _____________ 1.0. Idade: 1.1. 10 a 14 anos ( ) 1.5. 30 a 34 anos ( ) 1.2. 15 a 19 anos ( ) 1.6. 35 a 39 anos ( ) 1.3. 20 a 24 anos ( ) 1.7. 40 a 44 anos ( ) 1.4. 25 a 29 anos ( ) 1.8. ≥ 45 anos ( ) 2.0. Cor: 2.1. branca ( ) 2.3. negra ( ) 2.2. parda ( ) 2.4. amarela ( ) 3.0. Estado civil: 3.1. solteira ( ) 3.3. divorciada ( ) 3.2. casada ( ) 3.4. outros ( ) ANTECEDENTES PESSOAIS 4.0. Hipertensão arterial: 4.0.1. sim ( ) 4.0.2. não ( ) 4.1. Tabagismo: 4.1.1. não ( )

4.1.2. < 10 cigarros, < 10 anos ( ) 4.1.3. < 10 cigarros, ≥ 10 anos ( ) 4.1.4. ≥ 10 cigarros, < 10 anos ( ) 4.1.5. ≥ 10 cigarros, ≥ 10 anos ( )

4.2. Interrupção durante gestação atual: 4.2.1. sim ( ) 4.2.2. não ( ) 4.3. Etilismo: 4.3.1. sim ( ) 4.3.2. não ( ) 4.4. Drogas: 4.4.1. sim ( ) 4.4.2. não ( ) 4.5. Outros antecedentes:_____________________________________ ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS 5.0. Número de gestações:

5.0.1. primigesta ( ) 5.0.2. II a IV ( )

5.0.3. > IV ( ) 5.1. Antecedentes obstétricos:

5.1.1. não ( ) 5.1.10. Baixo peso ( ) 5.1.2. HAC ( ) 5.1.11. HAC + baixo peso ( ) 5.1.3. Pré-eclâmpsia ( ) 5.1.12.HAC + prematuridade ( ) 5.1.4. Eclâmpsia ( ) 5.1.13.HAC + baixo peso + iteratividade ( ) 5.1.5. DPP ( ) 5.1.14.HAC + Pe + RCIU ( ) 5.1.6. HAC + Pe sobreposta ( ) 5.1.15.DPP + natimortalidade ( ) 5.1.7. Prematuridade ( ) 5.1.16.Iteratividade ( ) 5.1.8. Natimorto ( ) 5.1.17.HAC + natimortalidade ( ) 5.1.9. Neomorto ( ) 5.1.18.Eclâmpsia + DPP+Natimortalidade ( )

6.0. Gestação atual: DUM: ___/___/___

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Anexos

57

IG/DUM na internação: _________ G/US 1º trimestre: ____________ IG ignorada ( ) 6.0.1. 28 I-----------34 semanas ( ) 6.0.2. 34 I-----------37 semanas ( ) 6.0.3. ≥ 37 semanas ( )

7.0.Pré-natal: 7.0.1. EPM ( ) 7.0.2. outro serviço ( ) 7.0.3. não ( )

7.1.Número de consultas: 7.1.1. 1 a 4 ( ) 7.1.2. > 4 ( ) 7.1.3. não sabe ( )

7.2.Intercorrências: 7.2.1. não ( ) 7.2.10. TPP ( ) 7.2.2. Pré-eclâmpsia ( ) 7.2.11. RCIU + Pe ( ) 7.2.3. HAC ( ) 7.3.12. HAC+Pe+RCIU ( ) 7.2.4. HAC + Pe ( ) 7.3.13.HAC+RPM ( ) 7.2.5. CIUR ( ) 7.2.6. Placenta prévia ( ) 7.2.7. Polidrâmnio ( ) 7.2.8. RPM ( ) 7.2.9. Traumatismo

8.0.Diagnóstico clínico: 8.1. dor abdominal ( ) 8.2. hemorragia vaginal ( ) 8.3. dor + hemorragia ( )

9.0. Choque materno: 9.1. sim ( ) 9.2. não ( ) 10.0. Hipertonia uterina: 10.1. sim ( ) 10.2. não ( ) 11.0. Coagulopatia: 11.1. sim ( ) 11.2. não ( ) 11.3. não avaliado ( ) 12.0. Diagnóstico ultra-sonográfico:

12.1. não realizado ( ) 12.2. hematoma retroplacentário presente ( ) 12.3. hematoma retroplacentário ausente ( )

13.0. Idade gestacional/parto: __________________ 13.1. ignorada ( ) 13.2. 28I---------34 sem. ( ) 13.3. 34I---------37 sem. ( ) 13.4. 37I---------42 sem. ( ) 13.5. ≥ 42 sem. ( )

14.0. Via de parto: 14.1. vaginal ( ) 14.2. cesárea ( ) indicação:______________________________

PA: _____/______mm Hg Peso do coágulo: _________________ Peso da placenta: _________________

15.0. Causas traumáticas de DPP: 15.1. não ( ) 15.2. Trauma propriamente dito ( ) 15.3. Versão externa ( ) 15.4. Cordão curto ( ) 15.5. Polidrâmnio ( )

Page 73: Tese na íntegra para Download

Anexos

58

15.6. Hipertonia primária ( ) 15.7. Uso indevido de ocitócico ( )

16.0. Causas não traumáticas de DPP:

16.1. não ( ) 16.2. DPP anterior ( ) 16.3. HAC ( ) 16.4. Pe ( ) 16.5. HAC + Pe ( ) 16.6. Corioamnionite ( ) 16.7. RPM ( ) 16.8. Tabagismo ( ) 16.9. outras: ( ) _____________________

17.0. Causa do DPP desconhecida: 17.1. sim ( ) 17.2. não ( ) 18.0. Recém-nascido/sexo:

18.1. feminino ( ) 18.2. masculino ( )

19.0. Capurro: 19.1. 28I----------34 sem. ( ) 19.2. 34I----------37 sem. ( ) 19.3. 37I----------42 sem. ( ) 19.4. ≥ 42 sem. ( )

20.0. Peso ao nascer: 20.1. 2100 a 2499g ( ) 20.2. 2500 a 3999g ( ) 20.3. ≥ 4000g ( )

21.0.Apgar de 5º minuto: 21.1. 0 a 3 ( ) 21.2 4 a 6 ( ) 21.3. 7 a 10 ( )

22.0. Adequação Peso/IG: 22.1. PIG ( ) 22.2. AIG ( ) 22.3. GIG ( )

23.0. Evolução perinatal:

23.1. normal ( ) 23.2. óbito neonatal ( ) 23.3. natimorto ( )

ANEXO 2 - COLORAÇÃO DE HEMATOXILINA E EOSINA (Michalany, 1980)

Técnica

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Anexos

59

. desparafinização e diafanização dos cortes histológicos em dois banhos de xilol;

. eliminação do xilol através de três banhos de álcool absoluto;

. hidratação em água corrente por cinco minutos;

. coloração pela hematoxilina de Harris por dez minutos;

. diferenciação rapidamente em solução de álcool-ácido (HCL);

. lavagem em água corrente por dez minutos;

. coloração pela eosina alcoólica por um a dois minutos;

. desidratação dos cortes em concentrações crescentes de álcool;

. diafanização em xilol;

. montagem dos cortes com lamínula em resina Entellan (Sigma Co-USA);

. identificação.

Resultados: núcleos corados em azul; citoplasma, fibras colágenas e elásticas

coradas em vermelho.

ANEXO 3 - COLORAÇÃO DE TRICRÔMIO DE MASSON (Michalany, 1980)

Técnica

- desparafinação e diafanização em dois banhos de xilol;

- eliminação do xilol através de três banhos de álcool absoluto;

Page 75: Tese na íntegra para Download

Anexos

60

- hidratação em água corrente por cinco minutos;

- alúmen de ferro a 5% durante 30 minutos a quente ou 12 a 24 horas a frio;

- lavagem rápida em água destilada;

- coloração pela hematoxilina de Regaud por 30 minutos quente ou 12 a 24

horas a frio;

- lavagem em água destilada;

- desidratação rápida em álcool a 95º e diferenciação no álcool pícrico;

- lavagem em água corrente e acompanhamento da diferenciação ao

microscópio, seguido de nova lavagem com água destilada;

- mistura ponceau por 30 minutos;

- hidratação rápida em água acetificada a 1%;

- ácido fosfomolíbdico a 1% durante 10 a 30 minutos;

- hidratação em água destilada;

- coloração de azul de anilina ou fast green por cinco minutos;

- hidratação em água acetificada a 1% seguido de ácido fosfomolíbdico por

cinco minutos;

- hidratação rápida em água acetificada a 1%;

- desidratação dos cortes em concentrações crescentes de álcool;

- diafanização em xilol;

- montagem dos cortes.

Resultados: núcleos corados em negro; citoplasma em vermelho brilhante e o

colágeno em azul ou verde.

ANEXO 4 - COLORAÇÃO DE VERHOEFF (Michalany, 1980)

Preparação para uso:

- solução alcoólica de hematoxilina 4%

- solução de cloreto de ferro 10%

- solução de iodo 2 g.

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Anexos

61

- iodeto de potássio 4 g

- água destilada 100 ml

Preparação para uso:

- 30 ml de solução alcoólica de hematoxilina 4%

- 12 ml de solução de cloreto de ferro 10%

- 12 ml de solução de iodo 2 g.

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Anexos

62

ANEXO 5 – COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Page 78: Tese na íntegra para Download

Anexos

63

ANEXO 6 - TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO

- Termo de consentimento para a participação no “Estudo do leito

placentário no Descolamento Prematuro da Placenta“.

Chamamos de descolamento prematuro da placenta quando a placenta

se separa do útero antes do nascimento da criança, muitas vezes levando ao

óbito, tanto do feto quanto da mãe. Trata-se de uma doença grave, geralmente

associada a pressão alta que precisa ser melhor estudada. Para a realização

deste estudo será necessário retirar um pequeno fragmento (pedaço) da parede

interna do útero, chamada de biópsia do leito placentário, para verificar se os

vasos do músculo do útero estão normais ou não. Para melhor compreensão

desta doença, teremos que realizar esta biópsia também em grávidas normais

para comparação. Esta biópsia será realizada durante a cesariana.Os trabalhos

realizados fazendo este tipo de biópsia mostraram que não existem riscos para

outras gravidezes. Em casos raros, pode acontecer um sangramento aumentado

no local da biópsia, que é facilmente controlado, dando -se um ponto no local.

Eu, _________________________, RG __________ estou devidamente

esclarecida dos dados acima expostos e autorizo a realização da biópsia do leito

placentário. Estou ciente que poderei ter acesso aos resultados dos exames que

estarão sob a responsabilidade da Dra Maria Rita de Souza Mesquita, e que estes

serão divulgados sem a citação dos nomes das pessoas que participaram da

pesquisa. Estou também informada que o fragmento da biópsia só será utilizado

para a finalidade acima exposta.

São Paulo, ___de _________de ________.

____________________________ ____________________________

Assinatura da paciente Assinatura da testemunha

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido desta paciente ou representante legal, para a participação neste estudo.

______________________________

Maria Rita de Souza Mesquita

ANEXO 7 – DPP ASSOCIADO À HIPERTENSÃO – G/HA

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Anexos

64

Caso Nome RG 1 MDDN B98-06505 2 MLS B98-06739 3 OSO B98-8556 4 SRB B98-8557 5 DBAS BO1-32569 6 NAMS BO1-35082 7 MLC BO1-35079 8 LFSS BO1-32574 9 FHGT BO1-32572

10 RPD BO1-32576 11 MAS B98-07104 12 SMF B98-07114 13 MGSS B98-07427 14 EN B01-10465 15 CAA B02-03565 16 BSS B02-02396 17 SSS B01-17434 18 APVGP BO1-20287 19 DHM BO1-20287 20 ASSL B01-38713 21 ASC B01-38613 22 ARC B01-22437 23 AMJC B01-23237

ANEXO 8 – – DPP NÃO ASSOCIADO À HIPERTENSÃO – G/SHA

Caso Nome RG 1 DSRS B98-08354 2 LGM BO2-12558 3 AGP BO1-39373 4 CSGR B01-20081 5 RSNO BO1-36419 6 NDF BO1-35439 7 EBO BO2-12568

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Anexos

65

ANEXO 9 - GRUPO CONTROLE

Caso Nome Lâmina 1 AFDT BO1-32571 2 LGF BO1-32570 3 IGMG BO1-32690 4 AATS BO1-32578 5 MPG BO1-32575 6 RP BO2-12560 7 PPS BO1-35081 8 LDFV BO1-33917 9 MB BO1-31703

10 SRR BO2-12561 11 MCC BO2-12559 12 SCT BO1-39375 13 NG BO2-12562 14 GCO BO1-32577 15 FLC BO1-39376 16 SK BO1-35080 17 RNM BO1-32575 18 SP B01-10464 19 EP B01-10463 20 KRS B01-10462 21 PS BO1-39372 22 MLSS BO1-36609 23 MCPP BO1-39374 24 MMBM BO1-32575 25 IOC B02-03564 26 AA B01-17432 27 VMA BO1-39376 28 ALA B01-17531 29 BHA B01-19124 30 MALF B01-18433

Page 81: Tese na íntegra para Download

9. REFERÊNCIAS

Page 82: Tese na íntegra para Download

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Abstract

Abstract

Objectives: To analyze histopathological patterns of the placental bed arteries in

pregnancies complicated by abruptio placentae (AP) and compare them with the

normal vascular histology of placental bed. Methods: Placental bed biopsy was

performed in 30 pregnant women with diagnosis of abruptio placentae, with

gestational age of 28 weeks or more, submitted to cesarean section. Among them,

23 presented associated high blood pressure disturbances (G/HBP) and 7 were

normotensive (G/WHBP). Control group (CG) was composed of 30 patients with a

normal pregnancy evolution, submitted to cesarean section for obstetric reasons.

The placental bed variables selected for histological analysis were: unaltered

pattern, physiological changes, medial layer disorganization, medial and intimal

hyperplasic changes, acute necrosis and atherosis and vascular diameter

measurements. Results: In patients with AP associated with HBP there was a

significant predominance of medial layer disorganization and of hyperplasic

changes in medial and intimal layer, compared to CG. Athwart, physiological

changes in spiral arteries were statistically higher in the CG. Findings of acute

necrosis and atherosis were observed in a low proportion of G/HBP, with no

statistical significance. The histological findings distribution were not statistically

different in G/WHBP and CG. The presence of so considered pathological features

like medial layer disorganization, medial and intimal layer hyperplasia, necrosis

and atherosis, was significantly higher in the G/HBP and medial layer

disorganization was the most prevalent pattern. The pattern that mostly

represented normality was the presence of vascular physiological changes specific

of pregnancy, found in 66,6% of spiral arteries in the CG and in 43% in the

G/WHBP. Conclusions: 1) In pregnant women with AP associated to HBP the

predominant vascular histological findings were medial layer disorganization and

hyperplasic changes of medial and intimal layer; 2) The presence of

histopathological features was significantly higher in the G/HBP, prevailing medial

layer disorganization; 3) Normal histological pattern, i.e., physiological changes,

were more prevalent in the G/WHBP and CG; 4) Spiral arteries diameter in

patients with AP, associated or not to hypertension, were smaller than in CG.

Bibliografia Consultada

Page 89: Tese na íntegra para Download

Bibliografia Consultada

1. Dicionário Aurélio eletrônico 2000 [CD-ROM]. São Paulo, Editora Nova

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2. International Serials Data System & International Organization

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