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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE IVAN SANT´ANA RABELO Investigação de traços de personalidade em atletas brasileiros: análise da adequação de uma ferramenta de avaliação psicológica SÃO PAULO 2013

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE EDUCAO FSICA E ESPORTE

    IVAN SANTANA RABELO

    Investigao de traos de personalidade em atletas brasileiros: anlise da adequao de uma ferramenta de avaliao psicolgica

    SO PAULO 2013

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    IVAN SANTANA RABELO

    Investigao de traos de personalidade em atletas brasileiros: anlise da

    adequao de uma ferramenta de avaliao psicolgica

    Tese apresentada Escola de Educao Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Educao Fsica e Esporte. rea de Concentrao: Pedagogia do Movimento Humano Orientadora: Profa. Dra. Katia Rubio

    SO PAULO 2013

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    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Catalogao da Publicao

    Servio de Documentao

    Faculdade de Educao Fsica e Esportes da Universidade de So Paulo

    Rabelo, Ivan SantAna Investigao de traos de personalidade em atletas

    brasileiros: anlise da adequao de uma ferramenta de avaliao psicolgica / Ivan SantAna Rabelo. So Paulo : [s.n.], 2013.

    164 p. Tese (Doutorado) - Escola de Educao Fsica e

    Esporte da Universidade de So Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Ktia Rbio. 1. Psicologia do esporte 2. Avaliao psicolgica

    3. Atletas I. Ttulo.

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    RABELO, I. S. Investigao de traos de personalidade em atletas brasileiros: anlise da adequao de uma ferramenta de avaliao psicolgica. Tese apresentada Faculdade de Educao Fsica e Esportes da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Educao Fsica.

    Aprovado em: _____________________________

    BANCA EXAMINADORA

    Profa. Dra.: Katia Rubio

    Instituio: Escola de Educao Fsica e Esportes da Universidade de So Paulo

    Julgamento:__________________________ Assinatura:___________________________

    Profa. Dra.: Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly

    Instituio: Universidade de Braslia

    Julgamento:__________________________ Assinatura:___________________________

    Prof. Dr.: Roberto Moraes Cruz

    Instituio: Universidade Federal de Santa Catharina

    Julgamento:__________________________ Assinatura:___________________________

    Profa. Dra.: Gislane Ferreira de Melo

    Instituio: Universidade Catlica de Braslia

    Julgamento:__________________________ Assinatura:___________________________

    Profa. Dra.: Cristianne Almeida Carvalho

    Instituio: Universidade Federal do Maranho

    Julgamento:__________________________ Assinatura:___________________________

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    AGRADECIMENTOS

    Inicialmente agradeo a orientadora Profa. Dra. Katia Rubio, por seus enriquecedores

    ensinamentos, me permitindo desbravar o que para mim era um novo contexto investigativo, o

    ambiente esportivo, ao mesmo tempo que me guiou nos momentos onde meus passos no

    sabiam que direes tomar. Obrigado tcnica, treinadora, orientadora e parceira de pesquisa,

    por ter me ensinado muitas coisas das quais s uma grande referncia. um verdadeiro

    privilgio atuar em parceria contigo.

    Agradeo Escola de Educao Fsica e Esportes da Universidade de So Paulo por

    ter sido este espao de convivncia e transformao de saberes. Agradeo aos professores do

    programa de ps graduao que tambm contriburam para esta minha formao. Para no

    deixar de privilegiar nenhum, amplio meu agradecimento e carinho a todos, estendendo aos

    demais professores e mestres das outras etapas desta trajetria escolar e acadmica. No se d

    passos certeiros para frente sem ter uma base slida para apoiar os ps.

    Agradeo aos meus familiares e grandes amigos que me apoiaram e tambm me

    entenderam nos momentos de ausncia, sabendo que havia um caminho a ser trilhado. Um

    agradecimento especial ao Andr Melo, das quais as contribuies se ampliam ao contexto

    profissional e pessoal. Agradeo aos amigos e parceiros que, muito mais do que torcerem por

    meu sucesso, se propuseram ao auxlio das mais diferentes formas, da ajuda na coleta dos

    dados, digitao, s anlises, e fazem parte desta histria, entre estes presentes de Deus,

    Gabriela de C. Monteiro Gonalves, Luciana Ferreira Angelo, Paulo Vincius Carvalho Silva,

    Augusto Naressi de Carvalho, Priscilla Mark Rodrigues, Diego Alves Tajes, Gabriel Puopolo

    de Almeida, Gisele Maria da Silva, Ftima Novais da Silva, Nelimar Ribeiro de Castro,

    Lariana Paula Pinto e tantos outros queridos parceiros e pesquisadores de nomes no citados,

    mas de contribuio especial.

    Agradeo tambm aos demais amigos que de uma forma indireta tambm

    contriburam infinitamente com a fora da presena, seja com uma palavra amiga e

    confortante, nas questes do dia-a-dia, no carinho e na parceria. Obrigado meus anjos. E por

    falar em anjos, meu carinho e agradecimento em destaque quele que por mais de uma vez, ou

    melhor, por muitas vezes, foi o grande incentivador e responsvel pelo meu caminhar

    profissional, motivando e apoiando meus passos, o amigo e parceiro Ingo Bernd Gntert.

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    Assim como nos demais, em mais um projeto agradeo instituio que apoiou a

    realizao desta pesquisa a Editora Pearson. Agradeo aos colegas que contriburam, e muito,

    para a realizao deste trabalho. Muitssimo obrigado amigas Irene Leme, Gisele Alves, Silvia

    Pacanaro, Rodolfo Ambiel, Regina Marino, sis Rodrigues, Carina Pereira, Leila Brito,

    Sabrina Oliveira e todos os queridos amigos da estimada Casa do Psiclogo.

    Deus, nosso verdadeiro tutor, e todos aqueles que apoiaram de alguma forma a

    realizao desta pesquisa, o meu muito obrigado. Certamente este trabalho no teria atingido

    suas possibilidades sem a parceria de todas estas pessoas especiais.

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    RESUMO

    RABELO, I. S. Investigao de traos de personalidade em atletas brasileiros: anlise da adequao de uma ferramenta de avaliao psicolgica. 2013. 163 f. Tese (Doutorado) Escola de Educao Fsica e Esportes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013. O objetivo deste trabalho foi avaliar traos de personalidade em atletas brasileiros, de diferentes modalidades esportivas, por meio da teoria de personalidade dos Cinco Grandes Fatores. Os atletas foram submetidos ao teste Bateria Fatorial de Personalidade - BFP. Participaram do estudo 613 atletas, de 7 modalidades, entre elas, Atletismo, Futebol, Futebol de base, Rugby, Rugby olmpico, Tnis de mesa olmpico e paraolmpico. Os resultados demonstraram que o teste apresentou nvel satisfatrio de preciso na maioria de suas variveis relacionadas aos cinco grandes fatores, com exceo do fator Abertura. J em relao as facetas, das variveis investigadas, apenas 4 facetas apresentaram nveis satisfatrios de preciso, quanto a amostra geral esportiva. Tambm foram verificadas alteraes da confiabilidade dos resultados quando do agrupamento por modalidades, alternando fatores e facetas com nveis de preciso satisfatrios. Foram realizados estudos de diferenas de mdia por t de Student, anlise de varincia ANOVA e Tukey da diferena honestamente significativa HSD. So apresentados estudos de comparao entre as modalidades investigadas e uma pesquisa em um processo de seleo de um programa de atletismo. As anlise sugeriram no haver um perfil comum de personalidade do atleta, sendo verificado variveis investigadas no teste que se diferem em amostras de atletas se comparado normatizao do teste, e tambm fatores e facetas da personalidade que se diferem entre modalidades esportivas. De maneira que so encontrados traos em comum no grupo de esportistas, tais como, rebaixada instabilidade emocional, ndices medianos mais baixos em socializao e tambm rebaixado em abertura para novas experincias. No outro sentido, os atletas apresentaram mdias mais elevadas em extroverso e interaes sociais e tambm no fator Realizao, apesar da baixa magnitude de diferena, porm significativas estatisticamente. Concluiu-se que os achados no foram suficientes para a afirmao da existncia de um perfil comum de atleta, nem para o sentido de um perfil mdio em razo das diferenas entre modalidades. Sugere-se que mais estudos sejam realizados com instrumentos de investigao de personalidade em esportistas, buscando uma maior compreenso psquica e emocional dos atletas, considerando os determinantes das modalidades esportivas, em situaes especficas de jogo, treinos e em momentos de competio, de maneira a contribuir com treinadores, equipes tcnicas e sobretudo com os prprios atletas. Palavras-chave: Psicologia do Esporte, Avaliao Psicolgica, Personalidade, Educao Fsica, Atleta.

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    ABSTRACT

    RABELO, I. S. Investigation of personality traits in Brazilian athletes: analysis of the adequacy of a psychological assessment tool. 2013. 163 f. Tese (Doutorado) Escola de Educao Fsica e Esportes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2013.

    The aim of this study was to assess personality traits in Brazilian athletes of different sports, through the theory of the Big Five Personality Factors. The evaluation of athletes in these factors and their facets was performed using the Battery Factor Personality Test. 613 athletes participated in the study, divided into seven types of sport, including, Athletics, Football, grassroots Football, Rugby, Rugby Olympic, Paralympic and Olympic Tennis table. The results showed satisfactory level of confiability in most of its variables related to the Big Five factors, with the exception of Opening factor. Regarding the facets of the variables investigated, only 4 facets showed satisfactory levels of confiability in the sport overall sample. Changes in the reliability of the results when the grouping arrangements were also verified by alternating factors and facets with satisfactory levels of confiability. Were performed studies of mean differences by Student t test, ANOVA and Tukey's honestly significant difference variance. Studies comparing certain modalities and a research in the process of selecting an athletics program are presented. The analysis not suggested that there a common personality profile athlete, confirmed the test variables investigated that differ in samples of athletes compared to the standardization of the test, and also the personality factors and facets that differ between types sports. So that traces are found in common in the group of athletes, such as lower median rates in emotional instability, lower median rates in socialization and also relegated in openness to new experiences. In another sense, the athletes had higher means on extroversion and social interactions and also the Conscienctiousness factor, despite the low magnitude of difference, though statistically significant. It was concluded that the findings were not sufficient to affirm the existence of a common profile athlete, nor the sense of an average profile due to differences between types of sports. It is suggested that further studies be carried out with instruments of investigation of personality in sports, seeking greater mental and emotional understanding of athletes, considering the determinants of sports in specific game situations, and training in times of competition, so that contributing coaches, technical staff and especially with athletes.

    Keywords: Sport Psychology, Psychological Assessment, Personality, Physical

    Education, Athlete.

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    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... 4RESUMO ................................................................................................................................... 6ABSTRACT ............................................................................................................................... 71. INTRODUO .................................................................................................................... 11

    1.1 Personalidade e esporte .............................................................................................. 151.2 Estudos sobre avaliao da personalidade .................................................................. 181.3 A personalidade investigada pelo modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) .............. 201.4 Os fatores de personalidade segundo modelo CGF ....................................................... 251.5 Avaliao psicolgica e padronizao de testes ............................................................ 28

    2. OBJETIVO ........................................................................................................................... 422.1 Objetivos Especficos .................................................................................................... 42

    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ......................................................................... 433.1 Participantes ................................................................................................................ 433.2 Instrumento ................................................................................................................. 443.3 Procedimento de coleta de dados ................................................................................ 463.4 Procedimento de anlise de dados .............................................................................. 46

    4. RESULTADOS E DISCUSSO ......................................................................................... 484.1. ESTUDO 1 Aplicao da Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) no contexto

    esportivo ..................................................................................................................... 484.2. ESTUDO 2 Anlise dos traos de personalidade no contexto esportivo ................... 644.3. ESTUDO 3 - Descrio de traos de personalidade em diferentes modalidades

    esportivas .................................................................................................................... 994.3.1. Interpretaes do perfil mdio de personalidade do atleta ........................................... 1014.3.2. Interpretaes do perfil de personalidade do atleta por modalidade esportiva ............. 105

    4.4. ESTUDO 4 - Avaliao de traos de personalidade em atletas olmpicos brasileiros do Tnis de mesa .................................................................................... 114

    4.5. ESTUDO 5 - Investigao de traos de personalidade no Rugby e Futebol .............. 1254.6. ESTUDO 6 - Perfil de personalidade no Atletismo: aspirantes e aprovados em

    um programa de olimpismo ...................................................................................... 1415. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 1506. REFERNCIAS ................................................................................................................. 1557. ANEXO .............................................................................................................................. 163

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    LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estatstica descritiva das modalidades compreendidas no grupo amostral esportivo ............. 50Tabela 2. ndices de preciso por alfa de Cronbach dos fatores em cada modalidade ........................... 52Tabela 3. Prova de Tukey para a medida de Escolaridade por modalidade esportiva ........................... 55Tabela 4. Comparao de mdias entre os fatores considerando a varivel sexo .................................. 56Tabela 5. Correlaes de Pearson das pontuaes dos testes controlando a varivel idade, sexo, escolaridade e grupo de modalidade ...................................................................................................... 57Tabela 6. Descrio do agrupamento de idades dos participantes ......................................................... 59Tabela 7. Anlise de varincia (ANOVA) considerando o agrupamento de idades .............................. 59Tabela 8. Prova de Tukey para a medida de Amabilidade (S1) ............................................................. 60Tabela 9. Prova de Tukey para a medida de Realizao ........................................................................ 61Tabela 10. Estatstica descritiva das modalidades compreendidas no estudo 2 ..................................... 64Tabela 11. Comparao entre mdias (teste t de Student) em Neuroticismo ......................................... 65Tabela 12. Anlise de varincia (ANOVA) das modalidades esportivas em Neuroticismo .................. 66Tabela 13. Prova de Tukey para a medida de Neuroticismo .................................................................. 66Tabela 14. Prova de Tukey para a medida de Vulnerabilidade ao sofrimento ....................................... 69Tabela 15. Prova de Tukey para a medida de Passividade ..................................................................... 71Tabela 16. Comparao entre mdias (teste t de Student) em Extroverso ........................................... 75Tabela 17. Anlise de varincia (ANOVA) das modalidades esportivas em Extroverso ..................... 75Tabela 18. Comparao entre mdias (teste t de Student) em Socializao .......................................... 80Tabela 19. Anlise de varincia (ANOVA) das modalidades esportivas em Socializao .................... 80Tabela 20. Prova de Tukey para a medida Amabilidade ........................................................................ 82Tabela 21. Prova de Tukey para a medida Pr-sociabilidade ................................................................ 83Tabela 22. Comparao entre mdias (teste t de Student) em Realizao ............................................. 86Tabela 23. Anlise de varincia (ANOVA) das modalidades esportivas em Realizao ...................... 86Tabela 24. Prova de Tukey para a medida Competncia ....................................................................... 87Tabela 25. Prova de Tukey para a medida Empenho ............................................................................. 89Tabela 26. Comparao entre mdias (teste t de Student) em Abertura ................................................ 91Tabela 27. Anlise de varincia (ANOVA) das modalidades esportivas em Abertura .......................... 92Tabela 28. Prova de Tukey para a medida Busca por novidades ........................................................... 93Tabela 30. Percentis mdios de acordo com a tabela geral do manual da BFP.................................... 100Tabela 31. Descrio da pontuao da amostra de atletas do Tnis de mesa ....................................... 116Tabela 32. Correlaes significativas entre as facetas (N=17)............................................................. 121Tabela 33. Preciso por Alpha de Cronbach para os cinco grande fatores .......................................... 130Tabela 34. Descrio da pontuao da amostra Rugby e Futebol ........................................................ 131Tabela 35. Comparao entre mdias por meio do teste t de Student .................................................. 132Tabela 36. Estatstica descritiva do grupo amostral do atletismo ........................................................ 142Tabela 37. Descrio da pontuao do grupo de atletas ....................................................................... 143Tabela 38. Comparao das mdias da equipe dos 50 atletas .............................................................. 144Tabela 39. Comparao das mdias da equipe dos 30 atletas .............................................................. 145Tabela 40. Comparao das mdias dos atletas em relao ao manual da BFP ................................... 147Tabela 41. Comparao de mdias por meio da varivel sexo............................................................. 148

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Mdias de nvel de escolaridade por grupo de modalidade esportiva ..................................... 54 Figura 2. Mdias das modalidade em Neuroticismo .............................................................................. 73 Figura 3. Mdias das modalidade em Extroverso ................................................................................. 78 Figura 4. Mdias das modalidade em Socializao ................................................................................ 85 Figura 5. Mdias das modalidade em Realizao .................................................................................. 90 Figura 6. Mdia das modalidades em Abertura ...................................................................................... 94 Figura 7. Amostra total de atletas (376 sujeitos) .................................................................................. 101 Figura 8. Perfil mdio para a modalidade Atletismo ............................................................................ 105 Figura 10. Perfil mdio para a modalidade Rugby ............................................................................... 108 Figura 11. Perfil mdio para a modalidade Futebol e Futebol base ..................................................... 111 Figura 12. Mdias de pontuaes no fator Neuroticismo ..................................................................... 117 Figura 13. Mdias de pontuaes dos atletas no fator Abertura ........................................................... 119 Figura 15. Comparao das mdias entre as pontuaes do fator Neuroticismo ................................. 133 Figura 17. Comparao das mdias entre as pontuaes do fator Socializao ................................... 136 Figura 18. Comparao das mdias entre as pontuaes do fator Realizao ..................................... 137 Figura 19. Comparao das mdias entre as pontuaes do fator Abertura ......................................... 138 Figura 20. Comparao das mdias da equipe dos 50 atletas............................................................... 144 Figura 21. Comparao das mdias da equipe dos 30 finalistas .......................................................... 146 Figura 22. Comparao das mdias entre as pontuaes das equipes .................................................. 147

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    1. INTRODUO

    O esporte tem mobilizado um nmero muito expressivo de pessoas, materiais,

    instalaes e recursos financeiros, constitudo num dos fenmenos socioculturais mais

    importantes do sculo XX. No Brasil, sobretudo no fim da dcada de 1990 e incio do novo

    sculo, pesquisas acadmicas foram realizadas com o objetivo de apresentar comunidade

    cientfica, instrumentos e possibilidades de avaliao utilizadas no entendimento das variveis

    psicolgicas no contexto esportivo (ANGELO; RUBIO, 2007). No entanto, apesar das

    pesquisas, o que se tem a rea de estudos em Psicologia do Esporte e Exerccio buscando

    instrumentos que possam refletir a realidade do atleta de nosso pas, mas dentro de uma

    realidade ainda de poucos instrumentos para o contexto esportivo propriamente dito.

    Brando (2007) explica que os psiclogos do esporte, apesar de se esforarem em

    sua atuao, se deparam com algumas barreiras, tais como o desenvolvimento de critrios

    tericos para ajudar na construo e aplicao dos testes e questionrios, na anlise da

    influncia da cultura na avaliao e na adaptao dos testes para a cultura brasileira.

    Sobretudo no contexto esportivo deve-se considerar a capacidade de discriminar entre os

    diferentes nveis de atletas em suas habilidades e o desenvolvimento de instrumentos que

    possam ser usados para propsitos mais abrangentes com uma populao menos limitada.

    Alm disso, tendo em vista a escassez de ferramentas para o contexto especfico em

    nosso pas, em estudo sobre o uso dos testes nos pases Portugal, Espanha e pases Ibero-

    Americanos, dentre eles o Brasil, os pesquisadores Almeida, Prieto, Muiz e Bartram (1998)

    indicaram como problemas constantes a fotocpia de material de testagem, o uso de testes

    inadequados em diferentes contextos, avaliaes incorretas por desconhecimento do tipo e

    material de testagem, a ausncia de clareza das informaes dos instrumentos quanto s

    normas, a falta de adaptao dos instrumentos para as regies do pas, entre outras.

    Assim, observa-se cada vez mais a necessidade de dispor de uma maior variedade de

    instrumentos orientados para medidas de construtos psicolgicos no mbito esportivo,

    valendo-se de que temas como motivao, personalidade, agresso e violncia, liderana,

    dinmica de grupo, bem-estar psicolgico, pensamentos e sentimentos de atletas e vrios

    outros aspectos da prtica esportiva e da atividade fsica tm requerido estudo e atuao de

    profissionais da rea. O nvel tcnico de atletas e equipes de alto rendimento est cada vez

    mais equilibrado, sendo dada nfase especial preparao emocional, entendida como o

    diferencial.

  • 12

    No contexto do esporte, entende-se a avaliao psicolgica como o processo de

    psicodiagnstico esportivo, no qual o objetivo maior a investigao de aspectos particulares

    do esportista, da equipe esportiva, vinculada modalidade praticada. De maneira que dentro

    das funes do psiclogo do esporte e exerccio, est a necessidade de uma postura de

    interveno investigadora, com o objetivo de clarificar o que est se desenvolvendo com o

    atletas dentro do ambiente de treino e competies, e principalmente no que tange aos fatores

    que incidem na participao e execuo esportiva do atleta, contribuindo para um melhor

    desempenho (RODRIGUEZ, 2003).

    Assim sendo, com o intuito de investigar o nvel de desenvolvimento de caractersticas

    psicolgicas que contribuam para a prtica esportiva ou atividades fsicas e de lazer, utiliza-se

    um conjunto de procedimentos que podem conter entrevistas, escalas, questionrios, testes

    projetivos, entre outras ferramentas (ANGELO; RUBIO, 2007). De acordo com Rodinov

    (1990), em prticas esportivas de alto rendimento, a avaliao psicolgica pauta-se na busca

    de qualificar e quantificar os estados emocionais em diferentes contextos, seja em situaes

    de competio, treinamento, nveis de processos psquicos e relaes interpessoais, na

    otimizao de trabalhos em equipes. Com base nesses dados, a comisso tcnica poder tomar

    decises atreladas s particularidades do atleta ou da equipe, modificar o processo de

    treinamento, a preparao tcnica, escolher uma estratgia e uma ttica de conduta em

    competies visando otimizar os estados psquicos. Para isso, segundo o autor, podero valer-

    se de mtodos de anlise de particularidades de processos psquicos, sejam eles, processos

    sensrios, sensrio-motores, de pensamento, mnemnicos e volitivos, tanto quanto

    caractersticas psicolgicas da dinmica do grupo esportivo.

    Em contraponto ao manuseio aquedado da avaliao psicolgica no meio esportivo,

    verificam-se psiclogos que trabalham com esporte fazendo uso de tcnicas inespecficas

    realidade esportiva. Os instrumentos so utilizados por profissionais que no tm

    conhecimento de como utiliz-los, nem to pouco o modo de como fazer uma avaliao nesta

    rea, assim, acabam prejudicando os atletas avaliados, alm do mau uso atrapalhar a

    confiabilidade do psicodiagnstico e o resultado da interveno psicolgica (GONZLES,

    1997). Desaconselha-se, tambm, que psiclogos do esporte apliquem qualquer instrumento

    que apresente uma orientao clnica ou de outra rea que no tenha estudos de adaptao

    para o esporte, pois necessrio que o ferramental escolhido compreenda estudos normativos

    com a referida populao em que ser aplicado. Desta maneira os dados analisados podero

    refletir com maior confiabilidade os resultados oriundos desta testagem, diminuindo possveis

    erros de medida.

  • 13

    Diante do exposto, este trabalho objetiva contribuir para a Psicologia do Esporte,

    apresentando estudos empricos para o contexto esportivo, com atletas de alto rendimento,

    dada a necessidade de instrumentos de avaliao psicolgica de personalidade validados e

    padronizados para o Brasil, com pesquisas para populaes em contexto esportivo. Assim,

    objetiva-se analisar a utilizao de um teste de personalidade em atletas, verificar se os

    resultados da aplicao do teste mostram-se sensveis as peculiaridades da avaliao de

    esportistas e a apresentao de estudos que possam contribuir para a validao e interpretao

    do teste no mbito esportivo.

    A investigao da personalidade se justifica dentro do campo de atuao do psiclogo

    do esporte, considerando que entre as funes e contribuies do profissional, ressalta-se a

    importncia de se identificar e compreender teorias e tcnicas psicolgicas a serem aplicadas

    ao esporte com o objetivo de maximizar o rendimento e desenvolvimento pessoal do atleta

    (FRASCARELI, 2008). De maneira que se possa inclusive destacar quais os aspectos dentro

    do modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) que atletas se diferenciam da populao de no

    atletas, representadas nesta pesquisa pelos resultados mdios da amostra de normatizao do

    teste em estudo.

    Williams (1991) traz questionamentos a respeito da personalidade e perfil psicolgico

    de atletas de alto rendimento, identificando trs fontes de ajuda para que se possa identificar

    as caractersticas psicolgicas que se encontram na base das atividades esportivas, entre elas,

    as informaes provenientes dos prprios atletas, por meio das percepes subjetivas

    experimentadas durante os momentos de alto desempenho de suas carreiras, a outra

    caracterstica relacionada as informaes geradas por estudos que comparam as caractersticas

    psicolgicas de atletas exitosos com outros menos prsperos e, por fim, os dados recebidos

    pelas pessoas que prepararam os atletas mais talentosos de alto desempenho, como

    treinadores. Em especial, para a anlise e compreenso da percepo por parte do prprio

    esportista, tem-se os testes psicolgicos como uma possibilidade relevante e de cunho

    cientfico para complementar tais investigaes.

    No entanto, no se deve perder de vista que todo este espectro de caractersticas e

    interpretaes possibilitadas pelos resultados dos testes necessitam de um olhar cauteloso dos

    profissionais que atuam com atletas, considerando a complexidade que envolve os

    componentes fsico-motores, cognitivos, emocionais etc., que exigiro um trabalho reforado

    sobretudo na escolha das ferramentas e tcnicas que sero utilizadas, de maneira que

    permitam analisar aquilo que se deseja, considerando as caractersticas especificas deste

    contexto. De acordo com Manoel (1994), quando um atleta realiza um movimento, em

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    conjunto, observa o ambiente, estabelece uma meta, elabora um plano de ao, verifica seu

    plano por meio da execuo motora, avalia o resultado e decide as correes ou formulaes

    de novos planos, iniciando ento, um novo circuito. O alcance das habilidades depender das

    experincias motoras bsicas, reconhecidas como importantes na evoluo do comportamento

    e desenvolvimento cognitivo, permitindo toda aquisio posterior das habilidades especficas.

    Movimentos fundamentais, tais como correr, saltar, arremessar, chutar, caracterizam-se por

    um aumento da eficincia biomecnica e pela incorporao de novos elementos estrutura do

    movimento, quando treinados, e so produtos do processo de competncia que se define como

    a capacidade de execuo motora.

    Mesmo aquilo que se considera uma sequncia de desenvolvimento motor, tem como

    caracterstica atuante sobre as aes o grau de interdependncia entre os domnios do

    comportamento motor, incluindo aspectos afetivo-sociais e cognitivos, que vo se

    diferenciando gradualmente em necessidade e intensidade. A trajetria dessa sequncia

    motora tambm depender da histria da interao entre o atleta e seu ambiente, considerando

    que o objetivo do esportista executar corretamente os movimentos de sua prtica esportiva e,

    para isso, precisa desenvolver um planejamento, ou um programa de execuo, incluindo

    necessidades alm das caractersticas fsico-motoras (CASTRO, 1988).

    E, por fim, questionamentos poderiam ser feitos, indagando o papel da personalidade

    em todos estes processos vivenciados pelos atleta, sejam de domnios do comportamento

    motor, afetivo-social e cognitivo. Quais caractersticas de personalidade estariam atuando de

    maneira mais expressiva no contexto esportivo? Quais traos diferenciam esta populao de

    no esportistas? Se as modalidades se diferem quanto quilo que executam e para isso

    necessitam de habilidades fsicas e psquicas para esta atuao, a personalidade teriam

    caractersticas diferentes em atletas de modalidades diferentes? So estas as principais

    indagaes que buscou-se investigar nesta pesquisa.

    Destaca-se, por fim, que as informaes obtidas por meio dos testes psicolgicos, em

    especial dos testes de personalidade, podem ser teis no trabalho psicolgico com o esportista,

    uma vez que proporcionam melhor compreenso sobre como este atleta se apresenta do ponto

    de vista psquico, naquele perodo de avaliao. Aperfeioa a ao do psiclogo, tornando-a

    possivelmente mais eficaz, alm do auxlio ao tcnico esportivo (quando orientado sobre todo

    o processo de avaliao) e tambm do suporte para o atleta. Ressaltam-se tambm as

    possibilidades de aproveitamento por parte do atleta quando este capaz de perceber e

    repensar sobre seus comportamentos e atitudes a partir dos resultados levantados por

    ferramentas de avaliao, contribuindo para atingir seu sucesso e objetivos.

  • 15

    1.1 Personalidade e esporte

    Estudos sobre a relao entre a modalidade esportiva praticada e o tipo de

    personalidade tem sido objeto de estudo de diversas pesquisas (BARTHOLOMEU et al.,

    2010; FISCHER, 1984; NAVEIRA; BARQUN; PUJALS, 2011; SILVA, 1984; VEALEY,

    1992; WEINBERG; COULD, 1995). Tendo como referencial o conceito de personalidade

    enquanto diferena individual, os estudos nessa rea so controversos e, por vezes, confusos,

    uma vez que, alm da divergncia sobre o que personalidade, podendo ser tratada como

    caracterstica subjetiva e/ou comportamental no mbito da Psicologia, no contexto esportivo

    tem-se uma busca pelo padro ou modelo que venha caracterizar o atleta de alto rendimento.

    Das questes relacionadas a mtodos e tcnicas at a relao entre tipologia e escolha e

    prtica de determinadas modalidades esportivas ainda no se chegou a respostas conclusivas

    ou explicativas suficientes para satisfazer a tcnicos e atletas ou mesmo aos estudiosos do

    assunto (RUBIO, 1999).

    De acordo com Silva (1984), trs perspectivas se destacaram diante dos vrios

    modelos de estudo da personalidade em Psicologia do Esporte, sendo um modelo chamado de

    determinista, pouco adotado na rea esportiva, prxima da psicodinmica que tem como

    referncia autores como Freud, Jung, Adler. Um segundo, considerado modelo de trao, no

    qual a personalidade considerada dotada de caractersticas relativamente constantes que

    diferenciam uma pessoa das demais, baseando-se em autores como Allport. E um modelo

    interacional, que busca compreender a personalidade a partir da integrao das influncias

    pessoais com as do meio em que a pessoa est inserida, tendo em Bandura um dos tericos

    referenciais, sendo esta a mais adotada em pesquisas nos ltimos tempos. Um dado comum

    nos estudos relacionados a esse assunto que ainda que a personalidade seja caracterizada

    pela composio individual dos traos de um sujeito, no esporte esse assunto ganha

    adjacncias prprias ao buscar-se um perfil comum naquilo que se refere conquista e ao

    xito.

    Machado (1997) menciona autores que pesquisaram a relao da personalidade com a

    prtica esportiva, analisando pontos em comum. O autor concluiu que o estado psicolgico do

    indivduo influencia a resposta psicolgica e o comportamento durante o exerccio, que a

    prtica esportiva produz efeito favorvel no processo de desenvolvimento social e que as

    atividades fsicas tornam-se mais efetivas quando associadas a um trabalho cognitivo. J a

    respeito da personalidade no domnio esportivo, os traos de personalidade podem ser

  • 16

    considerados fracos preditores de desempenho, mas por outro lado apresentam-se como

    preditores de longo prazo para converter habilidades em conquistas.

    A pesquisa de Weinberg e Gould (1995) indicou que as principais investigaes sobre

    a personalidade dos esportistas esto orientadas para a identificao de um certo nmero de

    traes que os definam. O trao de personalidade representa a tendncia caracterstica da

    pessoa a atuar e se comportar de certa maneira. Estas investigaes, essencialmente fundadas

    nos questionrios de personalidade, baseiam-se na determinao dos traos de personalidade

    correspondentes participao esportiva e na obteno de melhores resultados nas

    competies.

    Messias e Pelosi (1997) realizaram um estudo onde se evidenciou que mesmo com

    inmeras diferenas individuais, h um perfil comum de atletas que apresentam caractersticas

    como autoconfiana, melhor concentrao, preocupao positiva pelo esporte, compromisso e

    determinao. Contudo, para Vealey (1992) a rea do esporte tem demonstrado uma

    preocupao em descrever caractersticas psicolgicas em atletas, a influncia da

    personalidade no comportamento esportivo, transformaes da personalidade, baseado numa

    extensa reviso bibliogrfica apontando algumas concluses gerais sobre as pesquisas

    realizadas. Mas no se verificam evidncias, pelos estudos, de que exista uma personalidade

    tpica de atleta. No se verifica concluses sobre a existncia de um tipo de personalidade que

    aponte aqueles que so atletas de no atletas. No so conclusivas tambm as pesquisas que

    demonstram diferenas entre personalidade e os diferentes subgrupos esportivos, tais como

    diferenas entre o esporte individual e o coletivo. O autor tambm destaca que o sucesso no

    esporte pode influenciar na sade mental do sujeito, facilitando a autopercepo positiva e

    produo de estratgias cognitivas de sucesso, no representando mudana no trao de

    personalidade.

    Entre os poucos estudos e pesquisas publicadas referentes avaliao psicolgica no

    contexto esportivo, segundo Lage, Ugrinowitsch e Malloy-Diniz (2010), destacam-se as

    tentativas de compreender como diferentes componentes da personalidade e cognio, como

    por exemplo, o controle de impulsos e a busca de sensaes, influenciam o desempenho

    esportivo. Esta temtica tem despertado cada vez mais tcnicos de diferentes modalidades

    esportivas, pois, relacionado aos esportes de alto rendimento, cada detalhe melhor controlado

    pode ser a diferena que levar a vitria. Assim, conhecer os aspectos cognitivos e as

    dimenses da personalidade relacionada eficincia de esportistas um desafio da Psicologia

    do Esporte e Exerccio, tambm, dos estudos que abordam os esportes em uma perspectiva

    neuropsicolgica.

  • 17

    Lage et al. (2010) mostram quo peculiar a anlise de variveis cognitivas,

    comportamentais e emocionais em contexto esportivos especficos, sendo constructos tais

    como impulsividade e seu efeito na prtica esportiva, efeitos cognitivos relacionados

    concusso cerebral em razo da modalidade esportiva, exemplos de estudos da aplicao

    tambm da Neuropsicologia s prticas esportivas. Os autores sugerem pesquisas, tais como

    as desenvolvidas por Potgieter e Bisschoff (1990) e por Jack e Ronan (1998), que apresentam

    que as escolhas no contexto esportivo podem ser baseadas nos nveis de sensao, experincia

    e risco promovido pela atividade, versando que sujeitos com tendncia busca de sensao se

    aproximam mais de esportes de alto risco, tais como paraquedismo e o alpinismo. Escores

    altos em relao busca de sensao tambm so encontrados em esportes de risco mdio

    como os esportes de contato.

    Llewellyn e Sanchez (2008) verificaram que a experincia no esporte pode atenuar a

    prontido para a busca de sensao impulsiva, por exemplo, escaladores experientes calculam

    mais os riscos e so menos levados pela busca de sensao impulsiva comparados com

    escaladores menos experientes. A anlise de caractersticas da personalidade pode contribuir,

    por exemplo, para o direcionamento de crianas e adolescentes para um formato de

    modalidade esportiva, de mais ou menos contato, maior ou menor risco etc. J para esportistas

    em atividade e, tambm atletas de alto rendimento, o diagnstico de impulsividade pode

    possibilitar uma interveno no sentido de melhorar, compensar ou contornar dificuldades

    encontradas na prtica esportiva que possam vir a interferir no desempenho ou no nvel de

    risco assumido durante a atividade esportiva.

    Procurando investigar diferenas no comportamento motor esportivo entre sujeitos

    impulsivos, Lage et al. (2007 apud LAGE et al., 2010) pesquisaram a relao entre

    impulsividade atencional, motora e cognitiva e o desempenho tcnico de atletas de handebol

    em partidas de um campeonato estadual. Para anlise do desempenho tcnico foram

    realizados anotaes quantitativas da qualidade das aes do atleta durante uma partida, tais

    como nmero de erros de passe, nmero de gols, nmero de faltas cometidas etc. Para anlise

    do nvel de impulsividade das atletas, foram utilizados os testes neuropsicolgicos CPT-II e

    IGT e a escala BIS-11 (BARRAT, 1993 apud LAGE et al., 2010). Foi encontrada, por

    exemplo, uma correlao significativa positiva entre impulsividade total (escore total da BIS-

    11) e o nmero de erros de passe, sugerindo que a predisposio para respostas de reaes

    rpidas e no planejadas pode ser uma varivel de influncia na preciso das aes.

    Mais especificamente em relao instrumentos para avaliao da personalidade

    baseados no modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), como o Inventrio Multifsico de

  • 18

    Personalidade (MMPI) e o 16 PF de Cattell, alm do NEO-PI, vm sendo amplamente

    utilizados no contexto esportivo a fim de mapear os aspectos psicolgicos que podem exercer

    alguma influncia sobre o desempenho dos atletas (BARTHOLOMEU et al., 2010).

    A avaliao no contexto esportivo possui suas peculiaridades, considerando que os

    indivduos muitas vezes esto muito mais preocupados na aprovao, no alto desempenho

    esportivo, do que no cuidado consigo mesmo tanto fsico como psquico. Por exemplo, um

    esportista machucado pode tentar dissimular uma ausncia de leso para no ser retido da

    competio. Desta maneira, para que se possa analisar o contedo e julgar a utilizao de

    qualquer teste psicolgico, o psiclogo deve ter um amplo embasamento terico e prtico,

    tanto no que se refere conduo da aplicao e correo, assim como, e principalmente, da

    interpretao dos dados obtidos (NOGUEIRA, 2007).

    Na sesso a seguir sero apresentados conceitos sobre adaptao e padronizao de

    instrumentos de uma forma ampla dentro da avaliao psicolgica, mas tambm discusses a

    respeito das especificidades do contexto esportivo. Pois, conforme j citado, aspectos como o

    ambiente, a motivao interna, o tipo de atividade exercida, o processo competitivo, entre

    outras caractersticas do meio esportivo distinguem as necessidades da rea de avaliao de

    atletas e esportistas.

    1.2 Estudos sobre avaliao da personalidade

    O conceito de personalidade tem se modificado em relao aos diferentes momentos

    scio histricos, desde sua origem etimolgica do grego, "pessoa", que se referia mscara

    usada pelos atores no teatro e, portanto, aparncia. A partir do sculo XX, do ponto de vista

    psicolgico, a personalidade entendida como um padro de caractersticas inter-

    relacionadas, constante e no consciente, que se expressa de forma quase automtica. Para

    Millon (1997), estas caractersticas ou traos emergem de uma matriz em que esto presentes

    predisposies biolgicas e experincias de aprendizagem, e, em funo delas organizam-se

    em formas relativamente estveis (estilos) de pensar, enfrentar situaes, perceber, sentir e

    vincular-se com outras pessoas e demais objetos do meio cultural.

    A personalidade torna-se, deste modo, um padro de funcionamento, uma forma

    intrnseca de agir, que resulta de uma matriz de variveis determinadas pelo desenvolvimento

    biopsicolgico. O modelo terico considera a importncia dos fatores biolgicos, como a

    gentica, descrevendo-os numa matriz nica e especfica a cada sujeito, que representa um

  • 19

    papel fundamental na formao da personalidade. As percepes do ambiente e o jeito de

    reagir frente s situaes conflituosas formam essa matriz de disposies biolgicas e de

    aprendizagem experiencial. O desenvolvimento da personalidade recebe a influncia dos

    fatores biolgicos e dos fatores psicolgicos, que passam a interagir como em uma espiral

    sem fim, onde cada giro desta se constri sobre as interaes prvias, criando, assim, novas

    bases para as prximas interaes (MILLON, 1999).

    De forma sucinta, o desenvolvimento da personalidade entrelaa os aspectos

    biolgicos e os fatores de aprendizagem at se organizar numa matriz nica, pessoal e

    especfica de padres de reao frente realidade. Esses padres pessoais, nicos e

    irreproduzveis atuam sobre a realidade externa, de modo a caracterizar uma reao tambm

    especfica, que decorre em um tipo de resposta relacionada com as variveis estimulantes

    iniciais, as quais por sua vez constituem-se em respostas vinculadas aos estmulos externos

    recebidos (KIRCHNER; TORRES; FORMS, 1998; DAVIS, 1999).

    Cronbach (1996) inclui nos testes de personalidade uma gama de investigaes tais

    como interesses, motivos, crenas e atitudes pessoais ou externas ao indivduo, maneira de

    agir, fontes de perturbaes. Como resposta admite desde aes observveis at sentimentos e

    motivos, deduzidos em cima das palavras e aes.

    Cunha (2000) destaca dois formatos bem distintos para mensurar a personalidade,

    questionrios ou inventrios e tcnicas projetivas. O primeiro recebe o nome de auto-relato e

    ampara-se em autodescrio ou auto apresentao do respondente. Essa metodologia

    composta por escalas avaliativas, com funo de chamar a ateno para o risco em pessoas

    com problemas emocionais ou comportamentais, mostrando-se adequadas para medidas de

    sintomas ou de sndromes.

    Um outro formado considerado mais indireto, diferentemente das escalas de auto-

    relato, refere-se ao uso de projees inconscientes e tambm expresses psicomotoras e

    grficas. Nestes casos o procedimento reveste-se da apresentao de estmulos ambguos,

    diante do qual o testando informa aquilo de v, como a prova de Rorschach e Zulliger, provas

    de contar histrias como no Teste de Apercepo Temtica (TAT), assim como no

    completamento de figuras como no clssico teste Wartegg ou tcnicas grficas como o

    Psicodiagnstico Miocintico, HTP e outros. Os defensores desses formatos indiretos

    justificam a escolha com o argumento da explorao ampla de aspectos dinmicos da

    personalidade (CUNHA, 2000).

    Segundo Hutz et al. (1998), no que se refere ao formato de teste auto-relato, e

    relacionam-se ao modelo CGF tendo sua origem em estudos da linguagem natural dos

  • 20

    descritores de traos de personalidade. Diferentes autores trabalharam com as questes da

    linguagem como forma de entender a personalidade. No entanto, tm-se questionado a origem

    do nmero de fatores e outros, ento, procurado justific-la. Tendo em vista que o modelo

    CGF tem suas origens na anlise da linguagem utilizada para descrever pessoas, o uso de

    descritores de traos da linguagem natural tem sido defendido como a melhor estratgia para

    identificar fatores que permitam entender melhor caractersticas de personalidade (BRIGGS,

    1992). Goldberg citado por Hutz e colaboradores (1998) argumenta que se uma caracterstica

    de personalidade for capaz de gerar diferenas individuais socialmente relevantes, as pessoas

    vo notar esta caracterstica e, consequentemente, ser inventada uma palavra ou expresso

    para descrever este trao.

    O uso de alguns tipos de testes no contexto esportivo possibilita o diagnstico da

    personalidade de forma relevante para conhecer melhor a estrutura e reconhecer as peculiares

    mais marcantes do sujeito, desenvolver treinamentos e aspectos relacionados ao

    relacionamento com a equipe, elevando o rendimento do esportista e tambm do grupo. Alm

    disso, o uso da avaliao psicolgica no contexto esportivo pode tambm contribuir para um

    controle do desenvolvimento do atleta ao longo da sua atividade fsica e carreira

    (MATARAZZO, 2000; THOMAS, 1994).

    Os instrumentos de avaliao de personalidade so importantes para a Psicologia do

    Esporte e Exerccio, seja na esfera do diagnstico, como tambm no campo da interveno, se

    objetivar-se o levantamento de perfis psicolgicos, acompanhar o desenvolvimento de

    caractersticas psquicas, verificar possveis psicopatologias e ter um melhor entendimento a

    respeito do momento pelo qual o atleta est atravessando (MATARAZZO, 2000). A mesma

    autora complementa que as teorias da personalidade do valor a relao do indivduo com o

    ambiente em que esto inseridos e, no esporte, essa dinmica muito importante, como a

    relao do atleta com o ambiente esportivo, comisso tcnica, equipe, torcida, dentre outros.

    Quando identificadas, conscientizadas e trabalhadas, as caractersticas de personalidade

    avaliadas so facilitadoras, principalmente, das relaes interpessoais.

    1.3 A personalidade investigada pelo modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF)

    A origem do modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) relaciona-se a um

    agrupamento contnuo de pesquisas sobre a personalidade humana, envolvendo especialmente

    as teorias fatoriais e tambm as de trao. O precursor de estudos do modelo foi McDougall, o

  • 21

    primeiro estudioso a apresentar uma explicao terica da personalidade a partir de cinco

    fatores de personalidade, inspirando trabalhos de Thurstone, em 1934, no desenvolvimento de

    pesquisas para verificar empiricamente a adequao do modelo. Contudo, de acordo com

    Nunes, Hutz e Nunes (2010) diferentes literaturas a respeito do modelo explicitam que foram

    demandados cinquenta anos para que os pesquisadores da personalidade dessem a devida

    ateno ao modelo CGF, e a partir disso vislumbrassem um proveitoso campo de trabalho

    para pesquisas.

    Abordagens de trao e fatoriais de personalidade buscam uma pequena quantidade de

    dimenses que possam resumir os padres consistentes de uma pessoa reagir. Allport (1966)

    postulou que os traos so aspectos invariantes que acompanham os aspectos mutveis de

    uma pessoa. Dentro dessas teorias, a mais atual e utilizada em diferentes contextos, inclusive

    pela Psicologia do Esporte refere-se ao modelo CGF, que traz cinco dimenses, quais sejam,

    Extroverso, Amabilidade, Conscienciosidade, Neuroticismo e Abertura (CATELL, 1975). O

    referido modelo, tambm conhecido na literatura internacional como Five Factor Model ou

    apenas por Big Five, tem sido vastamente estudado por ser uma referncia terica na

    descrio da personalidade de forma objetiva e clara. A aceitao do modelo terico tambm

    relaciona-se ao vasto nmero de estudos e evidncias de sua universalidade e aplicabilidade

    em contextos variados.

    Independente da nomenclatura dada, pois ainda no se tem um consenso terico sobre

    os nomes e traduo dos fatores, nas diferentes formas de abordagem do modelo terico,

    observa-se os mesmos agrupamentos dos traos de personalidade, quais sejam, Neuroticismo,

    Extroverso, Agradabilidade, Realizao e Abertura a novas experincias. O fator

    Agreeableness, traduzido para Agradabilidade, tem sido mais comumente denominado como

    Socializao, pois acredita-se, segundo autores como Nunes et al. (2010), que esta

    nomenclatura d melhor significado ao que o fator representa em nossa lngua, sendo esta

    segunda a forma como ser tratado neste material.

    Segundo Nunes et al. (2010), verifica-se na histria dos estudos e pesquisas sobre

    personalidade, um reconhecimento tardio dos CGF. Thurstone, como muitos outros pioneiros

    do modelo terico, no deu seguimento em pesquisas na rea da personalidade, voltando-se

    para outras reas, entre elas, pesquisas com o constructo inteligncia da qual inegvel suas

    considerveis contribuies. Contudo, em respeito ao estudo e desenvolvimento de pesquisas

    sobre a personalidade, seria possvel imaginar que se Thurstone tivesse levado adiante seu

    trabalho e escrito sobre as implicaes das suas descobertas nesta rea, hoje o modelo pudesse

    ser internacionalmente reconhecido como Cinco Fatores de Thurstone.

  • 22

    Outra possvel razo para o reconhecimento tardio dos CGF relaciona-se ao uso da

    anlise fatorial, que antes do desenvolvimento de computadores e softwares especializados

    era muito complexa de ser realizada com preciso, alm de demandar bastante tempo. A

    simples anlise de 30 variveis era uma tarefa desanimadora que poderia requerer muitas

    semanas de trabalho rduo e repleto de chances de erros de clculo a cada momento

    (DIGMAN, 2002, p.13). O estudo de Thurstone em 1934, que verificou a adequao do

    modelo de cinco fatores de McDougall (1932), baseado em uma amostra de aproximadamente

    mil pessoas que foram avaliadas a partir de 60 variveis, permaneceu sem replicao por

    muitos anos. Passados alguns anos Cattell (1947) investiu seus conhecimentos em pesquisas

    neste contexto, haja vista que qualquer estudo ou pesquisa desta extenso no havia sido mais

    realizada at ento de forma expressiva, que se tenha conhecimento.

    Com o passar do tempo resultados de pesquisas com descritores de traos de

    personalidade que corroboraram e estenderam os achados de Thurstone foram publicados por

    estudiosos como Fiske (1949), Tupes e Christal (1961; 1992) e Borgatta (1964). Contudo,

    estas pesquisas na rea da personalidade se tornaram publicaes iniciais isoladas e a maior

    parte delas no seguiu adiante. Posteriormente Tupes e Christal, no incio da dcada de 60,

    realizaram um estudo que reconhecido hoje como um importante marco para o

    desenvolvimento do modelo CGF. Eles analisaram 30 escalas de Cattell utilizando pela

    primeira vez um computador para realizar anlises fatoriais; os resultados mostraram que uma

    soluo de cinco fatores seria a mais adequada. Esse trabalho foi originalmente publicado

    como um relatrio para a Fora Area Americana e permaneceu relativamente desconhecido

    pela comunidade cientfica por muitos anos (HUTZ et al., 1998).

    Uma outra justificativa para a lentido no desenvolvimento de estudos com o modelo

    relaciona-se a concepo de que os psiclogos da poca pensavam sobre o campo da

    personalidade. Uma reviso dos manuais publicados nos ltimos 60 anos indica que a rea da

    personalidade desenvolveu-se muito no campo terico, contudo com escassa fundamentao

    em pesquisas sistemticas. Digman (2002) enfatiza, porm, que o campo de estudo da

    personalidade reconhecida como abordagem fatorial, dominada por meio dos estudos de

    Cattell (1947; 1948; 1965), Eysenck (1947; 1970) e, em algum grau, por Guilford (1959), no

    podem ser consideradas conclusivas para os estudos com o modelo.

    Nunes et al. (2010), no manual do teste de avaliao de personalidade Bateria Fatorial

    de Personalidade (BFP), segundo o modelo CGF, levantam questes relevantes sobre a

    fatorao do modelo, quais sejam, Existem 16 ou mais fatores? Ou somente 3? Seria o fator

    Extroverso de Cattell o mesmo do sistema de Guilford? Como pode a aplicao de uma

  • 23

    tcnica padronizada em estatstica, como a anlise fatorial, produzir sistemas diferentes?

    Como podem trs investigadores renomados, usando as mesmas tcnicas, chegar a trs

    sistemas diferentes?. Os mesmos autores complementam que a partir da dcada de 1950,

    observa-se que os sistemas de Cattell e Eysenck como representantes das teorias fatoriais,

    apresentaram uma srie de estudos que foram lentamente construindo uma reputao slida,

    baseada em dados empricos, a favor dos CGF. Nestes incluem-se as pesquisas de Fiske

    (1949), Borgatta (1964), Norman e Goldberg (1966) e Tupes e Christal (1992), estudos estes

    que chegaram a resultados muito anlogos, mesmo que tenham sido conduzidos

    independentes, na maioria das vezes sem uma expectativa prvia dos resultados.

    Hutz et al. (1998) afirmam que apesar de evidncias, durante a dcada de 1970 os

    estudiosos ainda no apresentaram consideraes relevantes no que se refere aos modelos

    estruturais da personalidade. De certa forma, verificaram-se interesses crescentes na

    investigao de temas que apresentassem relevncia social para a problemtica da poca,

    enfatizando a influncia da situao sobre o comportamento. Esse foco nos aspectos sociais

    dos estudos da poca, reforaram um descrdito generalizado de testes psicolgicos em geral

    e duras crticas foram feitas aos modelos de trao (MISCHEL, 1968; ULLMANN;

    KRASNER, 1975).

    Observou-se uma mudana nesta concepo contrria testagem, de maneira mais

    marcante, no final da dcada de 1970, com uma motivao e interesse na rea de avaliao

    psicolgica permitindo que modelos estruturais de personalidade tornassem novamente

    populares. Nas ltimas dcadas parece ter-se estabelecido um consenso razovel entre os

    tericos da rea quanto solidez dos cinco fatores, considerados como formando o melhor

    modelo estrutural disponvel na atualidade para a descrio da personalidade.

    De forma geral, seria correto afirmar que o modelo dos CGF desenvolveu-se a partir

    dos estudos e pesquisas realizadas no mbito das teorias fatoriais e das teorias de traos de

    personalidade, contribuindo muito para o desenvolvimento da sua base terica. J as teorias

    fatoriais contriburam grandemente sob o aspecto instrumental e metodolgico que, de

    maneira gradual, convergiram para uma soluo de cinco fatores. Esse processo deu-se a

    partir do avano das tcnicas fatoriais e da computao, alm da elaborao de mtodos mais

    sofisticados de localizao e extrao de fatores, que acabaram dando respaldo a essa forma

    de organizao e explicao da personalidade (NUNES; HUTZ, 2007a).

    Os autores ainda complementam que apesar do modelo dos CGF ter sido desenvolvido

    a partir de procedimentos e metodologias priori empricas, tm se mostrado adequado ao

    explicar resultados obtidos em testes desenvolvidos a partir de diversos modelos tericos de

  • 24

    personalidade. Esta traduo de instrumentos com agudo embasamento terico para o

    modelo dos CGF tem permitido uma compreenso mais profunda do que representam esses

    fatores, uma comparao sistemtica de diversos construtos, avaliados por diferentes

    instrumentos, alm de um melhor entendimento das suas diferenas e semelhanas.

    Estudos transculturais realizados com o modelo tem sido alvo de investigaes

    permitindo observar que as pesquisas com o modelo podem ser replicadas em diferentes

    lnguas e sociedades, tal como a pesquisa de Costa e McCrae (1995), usando a verso

    adaptada do NEO-PI-R, um instrumento para a avaliao da personalidade a partir do modelo

    dos CGF, desenvolvido nos Estados Unidos, que apresenta verses para seis lnguas

    diferentes, quais sejam, alemo, portugus, hebreu, chins, coreano e japons. Os resultados

    constataram que, em todas as verses, o instrumento indicou a replicabilidade do modelo dos

    CGF.

    Partindo destas argumentaes sobre o modelo dos CGF parecer uma forma eficiente

    de agrupamento de traos comuns muito gerais, observveis em diferentes culturas, este

    acmulo substancial de evidncias a respeito do modelo possibilita a hiptese de

    universalidade dos CGF. McCrae e Costa (1997) atribuem tal universalidade existncia de

    um conjunto de caractersticas biolgicas da nossa espcie, representadas por traos, ou

    simplesmente uma consequncia psicolgica das experincias humanas compartilhadas na

    vida em grupo. Essa compreenso aproxima-se ao conceito proposto por Allport (1961) de

    traos comuns, que representam aspectos da personalidade humana compartilhados pela

    grande maioria das pessoas de uma dada cultura.

    Quanto utilizao do modelo em populaes especficas, segundo Nunes et al.

    (2010), as pesquisas mais recentes tm verificado que o modelo dos CGF capaz de explicar

    transtornos de personalidade usualmente identificados na prtica clnica. H um especial

    interesse em comparar os resultados obtidos nos instrumentos que avaliam a personalidade

    pelos CGF com diagnsticos de transtornos de personalidade identificados nos manuais

    psiquitricos. Widiger, Trull, Clarkin, Sanderson e Costa (2002), por exemplo, elaboraram

    uma tabela relacionando os transtornos de personalidade listados no DSM-IV aos Cinco

    Grandes Fatores e suas subdimenses.

    No Brasil Hutz e Nunes (2001) realizaram um estudo para verificar a validade de

    critrio da Escala Fatorial de Neuroticismo (EFN) em um grupo de pacientes com diagnstico

    de depresso. Os resultados demonstraram que a EFN foi capaz de discriminar pacientes com

    diagnstico de depresso de pessoas da populao geral. Trabalhos como esses tm chamado

  • 25

    ateno da comunidade cientfica, por ampliarem consideravelmente a aplicabilidade de

    instrumentos gerados a partir do modelo dos CGF.

    1.4 Os fatores de personalidade segundo modelo CGF

    Segundo McCrae e Costa (1997) o modelo dos cinco fatores pode ser considerado

    como constitudo a partir de uma generalizao emprica, replicada independentemente,

    inmeras vezes, estabelecido praticamente de forma ocasional. Como o Modelo no foi

    desenvolvido a partir de uma teoria, no apresenta, portanto, uma explicao terica

    satisfatria que justifique a organizao da personalidade em cinco, e no em quatro ou sete,

    dimenses bsicas.

    Contudo, pesquisadores no consideraram que isso fosse uma dificuldade para o

    modelo, ao contrrio, em pesquisa publicada por McCrae e John (1992), os autores afirmam

    que situaes semelhantes ocorrem em diferentes cincias, como por exemplo, os bilogos, ao

    identificarem as oito classes de vertebrados. A teoria da evoluo pode ser usada para explicar

    o desenvolvimento das classes, mas no h teoria que explique por que os vertebrados se

    dividem em oito, e no em cinco ou 11 categorias.

    A seguir sero descritos os fatores que compe o modelo a partir da teoria empregada

    no teste Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), de autoria de Nunes, Hutz e Nunes (2010),

    em razo de manter-se a nomenclatura e o embasamento terico comum ao instrumento que

    ser aplicado no estudo que esta pesquisa se props.

    O primeiro fator a ser apresentado, tambm foi a primeira subescala a ser validada

    para o Brasil pelos autores, chamada Escala Fatorial de Neuroticismo (EFN), publicado por

    Hutz e Nunes (2001). Esta escala contempla o fator Neuroticismo, que tem sido considerado,

    no modelo dos CGF, o mais associado aos traos emocionais. O fator est relacionado ao

    nvel crnico de ajustamento e instabilidade emocional dos indivduos, e representa as

    diferenas individuais que podem ocorrer quando sujeitos experienciam padres emocionais

    vinculados a desconforto psicolgico, sejam estes, aflio, angstia, sofrimento e entre outros,

    e estilos cognitivos e comportamentais decorrentes.

    Em pesquisas realizadas por McCrae e John (1992), Costa e Widiger (2002),

    apresentaram informaes a respeito dos indivduos que obtiveram baixos ndices no fator

    Neuroticismo, demonstrando tendncia a serem mais tranquilos, relaxados, constantes e

    menos agitados. Entretanto, baixos escores no apresentam uma relao direta com uma

    pessoa com boa sade mental, pode at ser que este oposto seja verdadeiro, pois pessoas

  • 26

    excessivamente calmas podem no ter uma reao apropriada quando um perigo real se

    aproximar, por exemplo. Em nveis mais extremos de Neuroticismo, muito elevados ou muito

    baixos, podem ser indicadores de padres pouco adaptativos em relao aos seus

    componentes. Um elevado grau de Neuroticismo pode indicar a respeito de sujeitos que so

    predispostos a vivenciar mais profundamente o seu sofrimento emocional. Neste fator

    incluem tambm dificuldade para tolerar a frustrao causada pela no realizao de desejos e

    respostas de coping mal adaptadas, ideias dissociadas da realidade e possivelmente ansiedade

    excessiva. O fator incluiu itens que identificaram ansiedade, hostilidade, depresso, baixa

    auto-estima, impulsividade e vulnerabilidade.

    O fator Extroverso um componente da personalidade humana que, no modelo CGF

    est relacionado s formas como as pessoas interagem com os demais e que indica o quanto

    elas so comunicativas, falantes, ativas, assertivas, responsivas e gregrias (NUNES; HUTZ,

    2007a). No estudo realizado por Costa e Widiger (2002) verificou-se que a Extroverso,

    neste modelo, est relacionada quantidade e magnitude das interaes interpessoais

    favoritas, ao nvel de atividade, necessidade de estimulao e capacidade de alegrar-se. No

    entanto sujeitos com baixo ndice neste fator no devem ser considerados grosseiramente e

    necessariamente como infelizes ou pessimistas, mas deve-se considerar que por outro lado

    no tendem apresentar estados de esprito exuberantes como se apresentam os extrovertidos.

    Sujeitos com escores baixos tendem a serem reservados, o que no significa que no possam

    ser de maneira alguma amistosos, apresentam-se como sbrios, indiferentes, independentes e

    quietos. J altos resultados em Extroverso tendem a representar sujeitos mais sociveis,

    ativos, falantes, otimistas e cordiais.

    O fator Socializao, assim como o fator Extroverso, compem as outras escalas que

    foram publicadas pelos autores, quais sejam, Escala Fatorial de Extroverso (EFEx) de Nunes

    e Hutz (2007b) e Escala Fatorial de Socializao (EFS) tambm de Nunes e Hutz (2007c). No

    que tange ao fator Socializao refere-se a qualidade das relaes interpessoais dos indivduos

    e est relacionada aos tipos de interaes que uma pessoa apresenta, que se estende da

    compaixo e empatia ao antagonismo. Pessoas com baixos ndices tendem a ser petulantes,

    no cooperativos e facilmente irritveis. Podem apresentar-se de maneira manipuladora,

    vingativa e insensvel. J os indivduos com altos resultados em Socializao tendem a serem

    generosos, amveis, afetuosos, prestativos e altrustas. Apresentam tendncia

    responsabilidade e empatia, e acreditam que a maioria das outras pessoas agir da mesma

    forma (COSTA; WIDIGER, 2002).

  • 27

    Por sua vez o fator Realizao est relacionado ao grau de organizao, persistncia,

    controle e motivao que tipicamente os indivduos apresentam. Costa e Widiger (2002)

    relataram que pessoas com escores baixos no tm objetivos claros, tendem a ter pouco

    comprometimento e responsabilidade diante de tarefas e geralmente so descritas como

    preguiosas, descuidadas, negligentes e hedonistas. J sujeitos que apresentam altos ndices

    em Realizao tendem a ser mais organizados, confiveis, trabalhadores, determinados,

    pontuais, meticulosos, ambiciosos e persistentes.

    Resultados muito elevados no fator Realizao podem estar relacionados ao transtorno

    obsessivo-compulsivo, enquanto escores muito baixos podem vir a relacionar-se ao transtorno

    de personalidade antissocial. Em uma menor escala, segundo Widiger et al. (2002), uma baixa

    percepo de competncia pessoal pode se aproximar do transtorno de personalidade

    borderline e um escore muito elevado na busca pelos objetivos pode se associar ao transtorno

    de personalidade narcisista.

    Por ltimo, mas no menos importante, verifica-se o fator Abertura, que se refere aos

    comportamentos exploratrios e ao reconhecimento da importncia de ter novas experincias.

    Indivduos com ndices baixos em Abertura tendem a ser convencionais, dogmticos, rgidos

    nas suas crenas e atitudes, conservadores nas suas preferncias e menos responsivos

    emocionalmente. Pessoas que apresentam escores elevados nesta faceta tendem a ser curiosos,

    criativos, imaginativos, divertem-se com novas ideias, costumam apresentar valores no

    convencionais, experienciam uma gama ampla de emoes mais intensamente do que pessoas

    com pontuaes baixas em Abertura (NUNES et al., 2010).

    Saroglou (2002) complementa que o fator Abertura tambm se relaciona a

    experincias negativamente com concepes religiosas fundamentalistas e dogmticas, com

    doutrinas polticas e ideolgicas autoritrias e posturas etnocntricas e preconceituosas

    (BUTLER, 2000). Em contra partida, tambm verificam-se pesquisas que apontam que este

    fator apresenta correlaes positivas com medidas de interesse e envolvimento em trabalhos

    artsticos, alm de tendncias a fazer escolhas com base em aspectos estticos (FURNHAM;

    CHAMORRO-PREMUZIZ; MCDOUGALL, 2003). Por fim, em uma pesquisa realizada por

    Srivastava, John, Gosling e Potter (2003), mostrou que embora haja poucas pesquisas da

    relao entre o fator Abertura e a varivel idade, um estudo longitudinal com mais de 13 mil

    indivduos mostrou uma aceitvel estabilidade dos resultados entre os 20 e 30 anos de idade.

    Sendo que aps os 30 anos, observa-se a ocorrncia de um declnio, alm de uma correlao

    negativa entre idade e o fator.

  • 28

    Tendo sido discutido o embasamento terico no qual esta pesquisa se amparou, que

    apresenta sua origem em uma construo mais fortemente emprica do que terica respeito

    do modelo, ressalta-se ainda a necessidade de se destacar outras questes relacionadas

    prtica da avaliao psicolgica, mais especificamente os cuidados quanto ao uso da testagem

    psicolgica. Neste sentido Pasquali (2005) adverte que preciso realizar testes com base nas

    tecnologias mais modernas da rea, no que tange a Psicometria e escolha do embasamento

    terico. Procedimentos psicomtricos s sero eficientes para verificar se o teste bom e

    cumpre seus objetivos, pois mais importante que isso aprender o processo de criao do

    teste, sendo necessrio para isso, a apropriao da teoria psicolgica para que no se avaliem

    elementos isolados da psicologia ou da psicodinmica. De maneira que diferentes aspectos

    so necessrios para garantir a qualidade da avaliao por meio de um teste psicolgico.

    1.5 Avaliao psicolgica e padronizao de testes

    Vale considerar que nos primrdios a Psicologia precisava se afirmar como cincia e

    em razo disso parte dos psiclogos se apegaram ao estudo de metodologias que fizessem uso

    de dados objetivos sobre as aes humanas, dando origem a diferentes instrumentos de

    avaliao psicolgica, alguns desenvolvidos dentro de critrios rigorosos de validao, e

    outros ainda utilizados sem estudos psicomtricos suficientes e conclusivos. Durante o

    perodo de 1920 a 1940, os testes psicolgicos foram considerados em diferentes reas da

    psicologia, da educao seleo de pessoal. Os testes psicolgicos possibilitavam rigor e

    objetividade dos dados obtidos nas avaliaes. Contudo, tal realidade passou por uma grande

    mudana entre 1970 e 1980, quando a psicotcnica passou a estar associada aos modelos de

    avaliao tpicos da cultura americana e, desse modo, geradora de certa repulsa (PRIMI,

    2005). Em complemento a este movimento de ascenso do pensamento humanista, dos

    movimentos da antipsiquiatria e movimentos oposicionistas da juventude, a avaliao por

    meio de testes ficou entendida como aquela que possua um papel de investigao da

    normalidade.

    Autores, tais como Noronha (2002) e Noronha, Baldo e Almeida (2004), observam os

    diferentes males relacionados ao uso da avaliao psicolgica e identificaram que os

    problemas mais comuns no uso dos testes, esto relacionados sobretudo com os instrumentos

    e formao dos psiclogos, uma vez que o ensino de avaliao tem sido considerado um

  • 29

    problema central na formao em psicologia. Nota-se que diferentes autores tm apontado

    para uma relao entre atuao profissional imprpria e formao inconsistente na rea.

    Tais consideraes apontam para a utilizao indiscriminada e inapropriada de

    instrumentos de avaliao que, teoricamente, serviriam para oferecer indicadores objetivos

    sobre o comportamento e as aes humanas. Isso tem levado inclusive a distores graves,

    como aponta o estudo de Oliveira, Noronha e Dantas (2005), que investigaram as estratgias,

    tcnicas e instrumentos psicolgicos mais conhecidos e usados por profissionais orientados

    pela abordagem comportamental ou cognitiva. O estudo concluiu que os profissionais

    utilizam avaliao com fins de diagnstico e interveno e para isso fazem uso de

    instrumentos psicolgicos, cuja fundamentao terica no est em consonncia com a

    abordagem teraputica adotada. Ou seja, diante da necessidade do diagnstico preciso ou da

    predio de comportamentos, pouca importncia se d coerncia terica.

    Na Psicologia do Esporte e do Exerccio, por se tratar de uma rea de estudo e

    compreenso dos aspectos psicolgicos envolvidos no comportamento motor humano que

    fornece explicaes e tendncias de comportamentos em contextos do esporte e do exerccio

    fsico, atualmente, na perspectiva da relao psicofsica que residem grandes debates e

    discusses acerca da cultura contempornea do esporte e da expresso de crenas e valores,

    muitas vezes j considerados transculturais e tambm recentemente mais aceitos e valorizados

    com a necessidade de se pesquisar dentro desta nova rea de atuao. A avaliao psicolgica

    apresenta-se nesse contexto como um campo de estudo frtil, apresentando metodologias

    qualitativas e quantitativas que, na realidade brasileira, ainda surgem como pouco ou nada

    investigadas (ANGELO; RUBIO, 2007).

    Segunda as autoras, alguns estudiosos apontam que a avaliao em Psicologia do

    Esporte est pautada em procedimentos como observao, entrevistas, experimentos em

    laboratrio, experimentos pedaggicos e testes constituindo parte do psicodiagnstico

    esportivo. Oficialmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), at o presente momento,

    no foi informado qualquer aprovao de instrumento utilizado especificamente no contexto

    esportivo por psiclogos. Mas, na prtica, observa-se a realizao de estudos tanto por

    profissionais de educao fsica quanto por psiclogos brasileiros a fim de responder as mais

    diferentes demandas dos profissionais inseridos no contexto esportivo.

    Segundo Alchieri e Cruz (2003), a avaliao psicolgica pautada por trs critrios

    principais, sendo eles, a medida, o instrumento e o prprio processo de avaliao. Os autores

    mencionam que cada um destes critrios possui uma representao terica e metodolgica

    prpria e que concebe, assim, de forma constitutiva, uma via prpria de compreenso do seu

  • 30

    objeto de investigao, denominado de fenmenos ou processos psicolgicos. Mtodos que

    envolvem o ato de desenhar, narrar histrias, realizar encenaes ou brincar com bonecos, em

    geral, no se propem a apresentar estudos normativos ou indicadores metdicos de

    interpretao, ficando assim tambm caracterizados fora do que considerado testagem

    psicolgica. Apesar de no pertencerem categoria de testes, os resultados de tais

    instrumentos podem ter credibilidade, desde que as concluses apresentadas pelo psiclogo

    estejam condicionadas a um referencial terico vlido, que sustente as interpretaes segundo

    seus pressupostos.

    No Behaviorismo podemos compreender que o acontecimento de um comportamento

    se d a partir da influncia de vrios fatores ambientais que o precedem e este influencia nos

    comportamentos decorrentes deste. A fora de uma nica resposta pode ser, e usualmente ,

    funo de mais do que uma varivel e uma nica varivel usualmente afeta mais do que uma

    resposta (SKINER, 1957 apud CHIESA, 1994, p. 113). Seja na testagem psicolgica ou em

    outras formas de avaliao, a experincia do profissional, o conhecimento do constructo que

    est sendo investigado e o embasamento terico consistente, acompanhado de outros mtodos

    de observao e anlise, so condies imprescindveis para garantir a confiabilidade dos

    resultados que se integraro de modo a compor uma avaliao coerente (URBINA, 2007).

    Sobre o respectivo assunto, Werlang, Villemor-Amaral e Nascimento (2010) explicam

    que para os testes psicolgicos serem considerados como confiveis, necessitam ser

    padronizados e atender a pr-requisitos de fidedignidade e validade. A validade investiga se o

    teste realmente mede aquilo que o pesquisador props e quo vlidas so as interpretaes

    (CRONBACH, 1996, p.143).

    A validade de contedo composta de um exame sistemtico do teor a fim de

    confirmar se realmente representa uma amostra do comportamento a ser medido. O processo

    de preciso ou fidedignidade confere a consistncia das respostas, por meio de reaplicao do

    instrumento ou uma forma equivalente em um momento diferente, para a mesma pessoa,

    verificando a estabilidade de respostas (ANASTASI; URBINA, 2000).

    J no que tange a padronizao, esta requer a uniformidade das condies de

    aplicao, normatizando a finalidade do instrumento, qual faixa etria ou nvel de

    escolaridade, se aplicao individual ou coletiva, incluindo as instrues fixas. Outro ponto da

    padronizao est destinado constituio do instrumento, papel, formato entre outros. Os

    resultados obtidos pelos respondentes sero dispostos em uma classificao e aps tratamento

    estatstico sero normatizados dentro daquele grupo (ALCHIERI; CRUZ, 2003).

  • 31

    Os testes psicolgicos diferenciam-se de outras tcnicas de avaliao, por se tratarem

    de procedimentos referenciados a normas e a diretrizes interpretativas padronizadas, com base

    em categorias preestabelecidas. Outros procedimentos tambm so utilizados em contextos de

    avaliao psicolgica, como meios de acesso ao universo psicolgico do indivduo, visando a

    maior compreenso da sua singularidade para melhor adequao das formas de interveno

    quando necessrias. Alguns tipos de entrevistas, tcnicas de observao, aplicao de

    atividades ldicas, entre outras, constituem exemplos de estratgias de avaliao psicolgica

    que no pertencem categoria de testagem.

    Assim, uma avaliao psicolgica realizada com qualidade est relacionada

    principalmente utilizao de tcnicas de avaliao reconhecidas pela Psicologia. A

    Comisso de Avaliao Psicolgica do Conselho Federal de Psicologia em parceria com as

    instituies de ensino e pesquisa definiram critrios de adaptao de instrumentos de

    avaliao para a realidade brasileira, considerando que a fundamentao terica e as

    propriedades psicomtricas dos testes disponveis estejam de acordo com parmetros

    internacionais de qualidade, baseados em estudos de preciso, validade e normatizao

    (WERLANG et al., 2010).

    Uma pergunta que caberia ser destacada refere-se a quais aspectos se pretende avaliar

    neste contexto? Na rea de Psicologia do Esporte e Exerccio essa investigao ganha peso

    redobrado uma vez que questes como ansiedade, agressividade, vnculo e nveis de estresse

    so consideradas relevantes para o desempenho esportivo. So comumente avaliados como

    fatores isolados no comportamento do atleta, despregados do contexto e momento em que so

    produzidos. Invariavelmente, os resultados so generalizados provocando grandes distores

    na compreenso da dinmica do protagonista da ao esportiva e de seu ambiente (ANGELO;

    RUBIO, 2007).

    Portanto, vale ser ressaltada a importncia da padronizao e da normatizao de

    tcnicas de avaliao para os contextos em que os testes forem utilizados, e para isso,

    necessria a definio de conceitos psicomtricos relevantes. Autores tais como Cronbach

    (1996), Alchieri e Cruz (2003), Pasquali (2003, 2010), entre outros, procuraram fazer uma

    distino clara entre padronizao e normatizao, considerando a primeira relacionada

    uniformidade na aplicao dos testes (material, ambiente, aplicador, instrues de aplicao e

    correo, etc.), enquanto a segunda vincula-se a uniformidade na interpretao dos escores

    dos testes (tabelas, percentis, escore Z, etc.).

    Urbina (2007) considera que um teste psicolgico pode ser descrito como

    padronizado, desde que contemple duas facetas que possibilitam objetividade no processo de

  • 32

    testagem. A primeira faceta relaciona-se uniformidade dos procedimentos, desde a aplicao

    at a correo e interpretao dos resultados, englobando inclusive o local em que o teste

    administrado, circunstncias de sua administrao, o examinador, tudo que pode afetar os

    resultados, objetivando tornar to uniforme possvel todas as variveis que esto sob controle

    do examinador, para que os indivduos que se submetam ao teste o faam da mesma forma.

    A segunda faceta refere-se ao uso de padres para a avaliao dos resultados. Estes

    padres costumam ser normas derivadas de um grupo de indivduos, denominados amostra

    normativa ou amostra de padronizao, sendo que o desempenho coletivo do grupo, tanto em

    termos de mdia quanto de variabilidade, passa a ser um padro pelo qual o desempenho dos

    outros indivduos que se submetem ao teste sejam comparados.

    Anastasi (1977), Pasquali (2001), Alchieri e Cruz (2003), entre outros destacam

    precaues a serem tomadas na aplicao de testes psicolgicos relacionadas padronizao

    das condies de administrao dos testes psicolgicos com o intuito de garantir que a coleta

    de dados sobre o sujeito seja de boa qualidade. Uma m aplicao pode comprometer o

    resultado dos testes, tornando-os invlidos, mesmo quando da utilizao de uma boa

    ferramenta. Destaca-se tambm que uma m aplicao no invalida a qualidade psicomtrica

    do teste (desde que este teste no esteja em processo de construo), mas sim invalida o

    protocolo do sujeito, ou seja, os dados obtidos na avaliao no sero confiveis.

    por meio da padronizao que se pretende garantir o uso adequado e autntico dos

    testes psicolgicos. O uso inadequado que se faz de uma ferramenta de avaliao psicolgica,

    compromete a utilidade da prpria ferramenta e todo processo avaliativo.

    No campo do esporte a incluso da avaliao psicolgica nos processos de treinamento

    fsico e nas questes relacionadas sade populacional, entre outros, otimiza o conhecimento

    sobre capacidades e limitaes de cada atleta, colaborando para a clareza dos efeitos do

    esporte e do exerccio na vida dos esportistas. Por isso, para o profissional da Psicologia do

    Esporte e Exerccio, ter conhecimento sobre a Psicologia geral e seu desenvolvimento, auxilia

    na escolha e no uso de instrumentos em reas especficas. Esta escolha advm das

    preocupaes temticas por dcadas, revelando atualmente investigaes com interesse nas

    questes das diferenas individuais com assuntos ligados a motivao, ansiedade competitiva,

    visualizao mental, auto-eficcia, autoconfiana e questes de dinmica de grupo. Os

    profissionais atuantes na rea da Psicologia do Esporte e Exerccio trabalham com a

    perspectiva de atendimento demanda da populao brasileira praticante de diferentes

    modalidades esportivas, em situaes competitivas ou no (ANGELO; RUBIO, 2007).

  • 33

    respeito do uso adequado dos testes, conforme apontado por Pasquali (2001), para

    se garantir uma boa administrao dos testes psicolgicos necessrio atender alguns pr-

    requisitos no que se refere ao material da testagem, ao ambiente da testagem, s condies de

    aplicao e ao aplicador. A qualidade do teste e a pertinncia deste so duas condies que

    devem ser atendidas. Caso o uso de testes seja feito sem cumprimento de parmetros

    cientficos, corre-se o risco de processos jurdicos e condenao tica. Porm, alm de ser

    vlido e preciso, o teste deve ser relevante ao sujeito, fazer algum sentido ou promover

    alguma motivao para que o mesmo se submeta corretamente. O aplicador deve conhecer a

    utilidade do teste que pretende utilizar, se o mesmo ser para uma avaliao de personalidade,

    cognitiva, para rea organizacional, clnica, buscando compreender seu objetivo e seu fim.

    Enfim, escolher a melhor ferramenta a se aplicar a necessidade de avaliao no sujeito.

    Alm da pertinncia, o teste deve se adaptar ao nvel (intelectual, profissional, etc.) do

    respondente. importante seguir risca as instrues e recomendaes que explicitam seus

    manuais, mas sem assumir uma postura estereotipada e rgida. Segundo Alchieri e Cruz

    (2003) com relao ao ambiente de aplicao dos testes psicolgicos, as teorias psicolgicas

    existentes sobre as condies que devem ser atendidas para uma boa condio de testagem,

    apontam para as questes, a saber: o ambiente fsico, as condies psicolgicas, o momento

    (tempo de aplicao). Os mesmos autores esclarecem, a respeito das teorias sobre

    padronizao, em relao ao ambiente fsico, que necessrio proporcionar ao respondente a

    satisfatrias condies para responder ao teste, sendo importante diminuir ou se possvel

    eliminar a presena de distratores ambientais.

    Contudo, deve-se considerar o ambiente de testagem para o esporte, como algo mais

    complexo de ser analisado. Entende-se como avaliao psicolgica no esporte o procedimento

    de psicodiagnstico esportivo, que objetiva o levantamento de aspectos particulares do

    esportista, ou da equipe, na relao com a modalidade escolhida ou praticada. Assim sendo,

    certamente h casos em que o psiclogo do esporte poder realizar o atendimento do

    esportista em um consultrio ou ambiente privativo, mas comumente o ambiente esportivo

    vincula-se a quadras de esporte, vestirios, salas de exerccio e treino, e so nestas condies

    que os sujeitos sero submetidos aos instrumentos no futuro e, em razo disso, deve-se

    considerar o desenvolvimento de instrumentos mediante estas condies de testagem.

    Ressalta-se tambm, que no contexto avaliativo em geral, mas sobretudo no contexto

    esportivo, onde as condies de testagem so diferenciadas, faz-se necessrio a associao de

    diferentes tcnicas compondo junto com o teste psicolgico, as ferramentas para o processo

    avaliativo como um todo. Isso significa que, levando-se em conta tais preocupaes, seria

  • 34

    necessria a utilizao de um conjunto de procedimentos que envolvem entrev