Teses da Assembleia Nacional Constituinte

60

description

Teses da Assembleia Nacional Constituinte de Causa Galiza

Transcript of Teses da Assembleia Nacional Constituinte

Nota:. Nestes textos empregamos o qualificativo independentismo histórico para identificar a correntesócio-política do nacionalismo galego que da década de 70 do século XX até hoje construiu os prin-cipais projetos independentistas e dinámicas de luita nacional desenvolvidos no país. Sentimo-noslegitimamente herdeir@s e continuador@s desta corrente graças à que, hoje, podemos falar da ex-istência na Galiza dum independentismo galego contemporáneo e dumha reivindicaçom nacionalque implica a procura dumha rutura total e absoluta com o Estado espanhol. Esta denominaçom nomencerra no entanto umha conceçom exclusivista ou patrimonialista da açom patriótica, nem nega aobviedade de existirem hoje no nosso país –em grande medida, como fruto desta luita de quasequarenta anos- outros independentismos em ativo, com os seus próprios perfis e historicidade.

Causa Galiza

Índice temático

1. O contexto nacional e internacional

1. 1. Contexto internacional: Capitalismo, o final dum ciclohistórico

1. 2. Espanha: a tripla crise

1. 3. Galiza: direito à sobrevivência

1. 4. Situaçom no campo sócio-político nacionalista e indepen-dentista

1. 5. O processo de liberaçom: fase atual

2.Estratégia e tática da Organizaçom

2. 1. Necessidade da plena autonomia política e organizativado projeto independentista

2. 2. Construir a organizaçom independentista de massas:umha tarefa pendente

2. 3. Visom movimentista do processo de liberaçom nacional

2. 4. Linhas de trabalho preferentes e funcionalidades da Or-ganizaçom Política

2. 5. As políticas de alianças

2. 6. Os métodos de intervençom sócio-política

2. 7. A intervençom nos movimentos e as organizaçons popu-lares

2. 8. A construçom e a defesa nacional numha fase longa semestruturas estatais

2. 9. Programa tático e programa estratégico

2. 10. Necessidade de afortalar a consciência nacional galega

Causa Galiza

7

7

13

15

17

36

38

38

39

40

46

56

57

58

60

61

62

Causa Galiza

1. O contexto nacional e internacional

1. 1. Contexto internacional: Capitalismo, o final dum ciclo

histórico

O capitalismo vive hoje a crise mais profunda da sua história e acircunstáncia de isto acontecer a poucas décadas da queda daURSS nom deixa lugar à dúvida sobre o fato de estarmos a viver ofim dum ciclo histórico. Isto explica-se porque o regime de pro-duçom atualmente dominante no planeta esbara contra todos osseus limites internos, externos e sociais.

Os limites internos do capitalismo

A queda de LEhmAN BROthERS em 2008 deu o tiro de partida paraque, perante a consciência burguesa que difundem os grandesmeios de comunicaçom, reaparecesse a possibilidade dum colapsogeral da economia mundial. Cinco anos após essa data, os mesmosmeios que na altura falavam em “refundaçom do capitalismo” ou“necessidade de regularizaçom dos mercados” difundem agoraideias tranqüilizadoras como “os mercados recuperárom a tranqüil-idade”, “a banca está saneada” e, portanto, “a crise esta contro-lada”. A realidade no entanto é que, sob essa aparente sensaçomde “recuperaçom”, estám os gigantescos pacotes de estímulo finan-ceiro para as grandes potências mundiais e de resgate e inter-vençom para os estados em risco de falência da UE.

A expansom monetária irrefreável por parte dos bancos centrais éo jeito de as grandes potências privadas de receitas suficientes polaestagnaçom da economia real se financiarem com o endividamentopúblico, persistirem nas políticas militaristas para gerir as suas re-laçons internacionais e, irracionalmente, impulsionarem o regressopara umha economia suicida baseada nas bolhas financeiras e imo-biliárias como antes da Grande Recessom. tanto é assim quenengumha das quatro grandes pontências do chamado G4 -EUA,UE, Reino Unido e Japom- renuncia ao emprego frenético e inin-terrupto da “máquina de imprimir notas”. mediante a terceira rodadade expansom monetária, iniciada em setembro de 2012, a ReservaFederal, banco central dos Estados Unidos, comprometeu-se aadquirir mensalmente 65 mil milions de euros em dívida pública eobrigaçons hipotecárias. O BCE injetou nos últimos anos mais deum biliom de euros para dar liquidez à banca privada e supom-seque mercou 300 mil milions de euros em dívida soberana dos esta-dos membros. A expansom monetária na Grá-Bretanha é calculadanoutro meio biliom e, recentemente, o Banco do Japom iniciou maisumha manobra expansiva por valor dum biliom de euros. No ati-nente aos pacotes de resgate na UE, os dados som também as-sustadores. O Estado grego recebeu, desde 2010, um quarto debiliom de euros da UE e o FmI. Pacotes de 80.000 milions rece-bérom Portugal e a Irlanda e 10.000 Chipre. Espanha, para saneara sua banca, foi resgatada com 40.000 milions. Entre injeçons deliquidez, compra de bônus e resgates, a UE leva posto quase dous

Causa Galiza

7

bilions sobre a mesa para impedir a bancarrota de vários dos seusestados membros e a desapariçom da sua moeda.

E óbvio que nada disto se precisaria se o modo de produçom cap-italista fosse capaz de alcançar, na medida necessária, o seu obje-tivo principal: a geraçom contínua e crescente de mais-valormediante a exploraçom do trabalho na produçom de mercadorias.A auto-percepçom que o sistema tem de si nunca vai reconheceresta evidência. É característica do pensamento crítico e emanci-pador, porém, afirmar a natureza histórica e passageira que é iner-ente ao capitalismo. Por isso desenvolveu, ao longo da sua história,umha teoria da crise que infelizmente a esquerda social e política amiúdo esquece. Cumpre pois retomá-la e aplicá-la na prática.

Os limites sociais do capitalismo

Perante a crescente dificuldade que, no contexto tenológico atual,o capital tem para valorizar-se, isto é, perante a ameaça que supon-hem os limites internos, o sistema produtivo opta muitas vezes porintensificar brutalmente a exploraçom do trabalho humano. É nessaestratégia de supervivência onde a globalizaçom e o imperialismojogam o papel decisivo. Eis, por exemplo, a deslocalizaçom da pro-duçom para poupar salários ou a importaçom de mao-de-obrabarata imigrante, ou a desmontagem dos sistemas de bem-estarsocial nos estados europeus sob a égide do FmI ou o BCE. Nestescircunstancias, o remédio pode ser pior do que a doença e ao tentariludir os seus limites internos o capitalismo pode encontrar-se defrente para os seus limites sociais. Os exemplos anteriores, omesmo que outros que poderíamos trazer à tona, verificam esta re-alidade e, para mostrá-lo, avondam três exemplos:

1º Desde abril de 2012 as mortes nas fábricas do têxtil só noBangladesh superam já as 2000 pessoas. A maioria mulheres.Cinco pessoas cada dia, vítimas das condiçons infra-humanas emque se trabalhava. Entres as cinças dos incêndios, ou entre o en-tulho das derrubas, aparecem sempre as etiquetas das marcasmultinacionais para as que trabalham: ZARA, C&A, mANGO, CAR-REFOUR, EL CORtE INGLÉS, etc.

2º Ao mesmo tempo, os subúrbios das grandes cidades do mundoindustrializado concentram quantidades enormes de populaçom imi-grante, chegada como mao-de-obra em regime de quase escra-vatura. Excluíd@s económica e ideologicamente o mesmo que osseus pais e maes, @s filh@s e net@s d@s imigrantes vivem comoalheio o país no que moram.

8

Causa Galiza

“A prova de que o capitalismo na Europa segue acaminhar na corda frouxa é a repressom e a violênciaque os estados precisam para conter as perturbaçonspolíticas e sociais”

3º Em Europa os cortes nos serviços sociais, na sanidade e segu-rança sociais fam parte das políticas de muitos governos. tenta-seassim compensar as medidas de expansom monetária com a re-duçom da despesa pública com o fim de controlar o endividamentopara nom comprometer o futuro da moeda comum. Com umha maodá-se-lhe à “maquina de imprimir notas” e com a outraretiram‑se‑lhe direitos sociais à populaçom. Por outra parte, emtroca dos pacotes de resgate, FmI e UE exigem a desvalorizaçominterna da economia, rebaixando salários e pensons e suprimindoou reduzindo direitos laborais e sociais.

Em relaçom aos três exemplos, a conflituosidade social estala vio-lentamente -o mesmo que por toda a parte e a cada com maior fre-quência- como prova de que os limites sociais estám a seratingidos:

- Dous dias após a derrubada que causou a morte de 1.400 trabal-hadoras e trabalhadores em 2012 no Bangladesh produzírom-seprotestos que a polícia reprimiu duramente, com balas de goma egases lacrimógenos.

- Na Europa, por sua parte, som incontáveis as greves gerais e osdistúrbios som habituais. Nos protestos da Grécia de 2012 in-cendiárom-se 17 prédios e a repressom causou centenas de pes-soas feridas.

- Os distúrbios e os protestos violentos, com centos de viaturas in-cendiadas, danos por milions de euros, pessoas mortas, feridas edetidos, protagonizados por migrantes de segunda ou terceira ger-açom, sucedem-se nos bairros periféricos de cidades como Paris(2005, 2009 e 2013) ou Estocolmo (2010 e 2013), ambas capitaisde estados recorrentemente citados como exemplo de políticas so-ciais.

Poderiam ser citados outros muitos exemplos dumha tensom socialcrescente cuja generalidade só se pode explicar polo fato de o cap-italismo ter uns limites sociais além dos quais a sua supervivênciaé impossível.

Os limites naturais

A tendência do capitalismo para a acumulaçom é infinita, mas osrecursos naturais do planeta som limitados. Esta contradiçom in-contornável constitui o que aqui denominamos limite natural do cap-italismo. O teito do petróleo, acidentes nucleares como o deFukushima ou as mudanças climáticas mostram que este limite ex-iste e que a sociedade industrial há tempo que o alcançou.

Nesta questom o caso da energia é paradigmático. Um esta-dounidense médio consome cada dia a energia equivalente a 150escravos a trabalhar seguido as 24 horas para ele. Além disso, nosúltimos 150 anos o capitalismo gerou umha civilizaçom “detritívora”.

Causa Galiza

9

Poderia-se dizer que as sociedades industrializadas comempetróleo: para obter umha caloria dos alimentos industriais que cos-tumam consumir-se precisam-se 10 calorias fósseis. Por outraparte, a prática totalidade dos elementos que conformam a vidadiária das pessoas neste tipo de sociedade depende da disponibil-idade contínua de petróleo.

Outro sintoma de o capitalismo estar a esbarar nos seus limites nat-urais som as mudanças climáticas que som consequência, princi-palmente, da emissom de gases de efeito estufa. O problema é queaté as atividades mais habituais e triviais implicam a emissom destetipo de gases: por exemplo, umha pesquisa no Google gera entre1 e 10 gramas de CO2. Aliás, a maior parte dos gases de efeito est-ufa geram-se em atividades relacionadas com os combustíveis fós-seis.

Ao ser um recurso limitado, nalgum momento a extraçom depetróleo começará -já começou- a diminuir. A Agência Internacionalda Energia (AIE), que nom é suspeita de anticapitalista, publicouem 2010 que o teito na extraçom de petróleo convencional (o demaior qualidade) já se alcançara em 2006. O mesmo vai acontecer,sem dúvida, com o resto dos combustíveis fósseis cuja extraçom éa cada menos rendível embora os avanços tenológicos. Evidente-mente, os grandes centros de decisom políticos e económicosestám cientes do problema e, por isso, cada vez há mais interesseem impulsionar a energia nuclear. Nas duas últimas décadas (1990-2010) a produçom nuclear de energia elétrica cresceu 30%. Nospaíses europeus da OCDE a produçom de eletricidade em centraisnucleares iguala à que se produz em centrais hidroelétricas ou me-diante centrais termoelétricas de carvom ou gas. Só o acidente deFukushima explica que a produçom nuclear de eletricidade volvessedesde 2011 aos níveis de 1998.

Globalizaçom: feiçom atual do imperialismo

Na fase atual da industrializaçom mundial, caracterizada pola hiper-acumulaçom tenológica sem precedentes, a globalizaçom desen-volve a respeito do capitalismo a funçom da maromba a respeitodo funâmbulo: constitui o contrapeso que permite ao sistema cam-inhar pola “corda frouxa” dos seus limites sem cair ao “abismo” dumcolapso que doutro jeito decorreria das suas dificuldades para val-orizar o capital, reproduzir as relaçons sociais ou alimentar ener-geticamente a sua maquinaria produtiva. Eis o caso do outsourcing,ou das deslocalizaçons, que aproveitam as diferenças que em ter-mos de acumulaçom existem entre metrópoles e regions periféricas.Estamos, claramente, perante umha renovaçom do neocolonial-ismo, hoje configurado polas tecnologias da informaçom, comuni-caçom e o transporte, que age sob o controlo do capital globalizadodas bolhas financeiras, realimentadas incessantemente polas políti-cas monetárias expansivas do G4.

Esta dinâmica excede os limites da capacidade regulativa dos es-

Causa Galiza

10

tados convencionais, que cedem parte da sua soberania face in-stâncias internacionais e concentram numha grande medida o seupapel na gestom repressiva da crise. Em consequência, em toda aparte, mas a maior ritmo quanto mais periférico é o estado, o apar-elho estatal dissolve-se, os serviços públicos desaparecem e aspolíticas repressivas tornam-se brutais. Fai-se precisa aliás a garan-tia da segurança nas transaçons capitalistas e o abastecimento decombustível para as sociedades industrializadas. Este é o papelque cumprem as intervençons militares dos EUA, a OtAN, ou ascoligaçons internacionais formadas ad hoc para umha “operaçom”concreta. Som a “rede” por baixo do funâmbulo e sobre o abismodo colapso. Umha vez extinta a “ameaça soviética”, como álibi, osaparelhos ideológico‑mediáticos do sistema geram imagens de in-imigos fantasmais e perigos irracionais: terrorismo internacional, ji-hadismo, islamismo, estados falidos, senhores da guerra, conflitostribais, guerras seitárias, etc. tudo isto pode ser considerado, se-gundo as conveniências de cada momento, umha ameaça para asegurança das sociedades industrializadas e as metrópoles neo-coloniais.

Em realidade, as contínuas convulsons que se lhe atribuem a estesconfusos “poderes malignos” som, longe disso, consequência daprópria dinámica capitalista globalizada que, por vezes e a cadacom mais frequência, vai contra as suas próprias leis. Por exemplo,a expansom do capitalismo face os territórios periféricos das econo-mias emergentes implica desruralizaçom, proletarizaçom maciça emaior mercantilizaçom da vida das pessoas. mais isso, por umhaparte, multiplica a procura energética e, sobretudo, por outra, im-plica umha equiparaçom no valor do trabalho a nível global. Procuraenergética e equivalência global do trabalho som incompatíveis coma situaçom crítica do sistema a respeito dos limites internos e nat-urais. Poderia chegar a por-se de manifesto na vida diária das pes-soas nas metrópoles a insustentabilidade energética do capitalismoe desapareceriam as vantagens neocoloniais decorrentes das difer-enças de renda entre centro e periferias, fundamentais para o sis-tema manter o equilíbrio funambulesco.

Sobre este pano de fundo há que interpretar, por exemplo, o papelque os BRICS -Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul- jogamna reproduçom das práticas próprias da globalizaçom neocolonialcom o fim de sustentar economicamente unhas mudanças sociaisinevitáveis em países como Brasil ou a própria China. De facto, osBRICS anunciárom recentemente a criaçom dum Banco, com fun-dos dos seus membros, para financiarem infraestruturas na Áfricae criarem as condiçons que permitam num futuro próximo a local-izaçom naquel continente de projetos industriais com os que val-orizarem o capital que os emergentes estám a acumular.

Outro exemplo som os últimos casos de intervençons militares agrande escala no máli e na Líbia ou a ameaça sobre Síria protag-onizadas pola França e os EUA. É inegável o interesse destas duaspotências em controlar matérias primas estratégicas como o

11

Causa Galiza

petróleo ou o uránio. mas, além disso, e por se o precário equilíbriodo sistema se rompe, a iminência da utilizaçom da força é um ele-mento chave e fundamental da ordem capitalista e, em interesseda sua sobrevivência, deve estar sempre presente no cenário in-ternacional como rede baixo os passos cada dia mais trémulos dofunambulista.

Uniom Europeia: crise do Euro e também da economia real

No último terço do século XX a Europa fordista nascida da pós-guerra apresentava sinais evidentes de esgotamento. Por outraparte, naquela altura, generalizou-se um cenário marcado polaglobalizaçom económica, o abandono do padrom ouro e a desreg-ularizaçom dos mercados. Como resposta a esta situaçom nasceuem 1990 a Uniom Económica e monetária europeia (UEm). Pre-tendeu-se com ela tanto potencializar a livre concorrência no seioda UE, com a circulaçom irrestrita de mercadorias e capitais, quantoimpedir que os estados europeus utilizassem a desvalorizaçom dastaxas de cámbio das suas moedas para limitar os efeitos desta livreconcorrência. Em maos das autoridades económicas dos estadosficou apenas a política fiscal, instaurando-se um banco emissor cen-tral para toda a UEm cuja funçom principal é o controlo da inflaçom.

Em consequência desta nova situaçom as leis que regulavam opreço do dinheiro no mercado dos créditos deixárom de vigorar e,da noite para a manhá, nas economias mais fracas da UE ofere-ceu-se crédito nas mesmas condiçons que na Alemanha. Estasobre-estimulaçom da procura tivo no contexto da crise global docapitalismo três efeitos imediatos nos países periféricos da UE.Primeiro, um aquecimento da economia que nom arrefeceria até aGrande Recessom de 2008. Segundo, um enorme e profundo bu-rato nas balanças comerciais. E terceiro, um endividamento insus-tentável das pessoas, as empresas e os estados, comconsequências dramáticas para o sistema bancário. Continuou vi-gente, porém, a regra segundo a qual desde que ultrapassar certoslimites a dívida privada torna-se pública. Finalmente, a desconfiançaperante as grandes necessidades financeiras dalguns países provo-cou a crise das dívidas soberanas e alguns estados (Grécia, Irlanda,Portugal, Espanha, Itália, etc.) perdérom toda a sua capacidadepara se financiarem nos mercados e ficárom á beira dumha falênciaque apenas foi evitada com a intervençom da UE, o FmI ou o BCE.

Atualmente, os meios que participam da ideologia do sistema insis-tem em que a situaçom está sob controlo, mas esse alegado con-trolo é apenas aparente: as causas da crise do capitalismo nommudárom e, de fato, a economia real continua estagnada. Dous sonos instrumentos com os que Alemanha, assistida polos seussatélites (Áustria, holanda, Finlândia...) e polo BCE está a admin-istrar a crise do capitalismo no seio da UE. Um deles é a comprade dívida polo BCE no mercado secundário. Quando a desconfi-ança na dívida soberana dum país do Euro provoca umha exces-siva rendibilidade nos mercados, o BCE merca maciçamente títulos

12

Causa Galiza

para reduzi-la. O segundo dos instrumentos mencionados que uti-liza Alemanha é a imposiçom de duras medidas de austeridade aospaíses resgatados ou assistidos pola ajuda das instituiçons comu-nitárias. A passada crise do Euro, porém, apenas foi um sintoma.Os estados têm dificuldades para se financiarem porque é o sis-tema produtivo estagnado o que fecha a torneira da receita por im-postos. E essa torneira segue fechada.

mas os limites do capitalismo deixam-se ver na própria Alemanha.A precariedade no emprego nom deixa de crescer, a idade mínimade reforma elevou-se para os 67 anos e a dívida pública alcança80% do PIB. Só a crise do euro, precisamente, permite ao estadoe aos bancos financiarem-se em prejuízo das economias res-gatadas quase sem juros. Destarte, embora o grande importe dadívida pública, o Estado alemám nom incorre em déficit, motivo poloqual a dívida segue a jogar o papel de valor refúgio com a con-seguinte contençom dos juros a fechar um círculo que fai pensarerradamente que o capitalismo, na Alemanha, está fora de perigo.

A prova de que o capitalismo na Europa segue a caminhar na cordafrouxa é a repressom e a violência que os estados europeus estáma precisar para conter as perturbaçons políticas e sociais da ordemestabelecida. Na Grécia, Alemanha, França, Portugal ou na Es-panha som a cada mais comuns as violaçons dos direitos humanoscom fins repressivos: violência policial contra os protestos; torturae maus tratos nas esquadras policiais e nas cadeias, cumplicidadecom grupos paramilitares de extrema direita responsáveis de diver-sos crimes e reformas legais para incrementar a repressom e re-duzir os direitos civis.

1. 2. Espanha: a tripla crise

O Estado espanhol sofre umha tripla crise. Em primeiro lugar, umhacrise do modelo produtivo que se produz no marco da crise globalmas agravada por ser o espanhol um capitalismo seródio e espec-ulativo. A crise financeira de 2008 picou a bolha imobiliária e provo-cou o colapso do sistema bancário, a desapariçom de milheiros deempresas e um desemprego que alcança 27%. Com a economiaprodutiva nesta situaçom, as receitas por impostos diminuírom, masas necessidades sociais crescérom dramaticamente. Déficit e en-dividamento colocárom o Estado à beira da suspensom de paga-mentos. O Governo espanhol, com o Estado em perigo de falência,pediu ajuda a Europa e obtivo um resgate para o setor bancário egarantias de financiamento por parte do BCE. Em troca, a oligarquiaeuropeia tem o controlo da política económica espanhola e impommedidas de austeridade que estám a deixar os direitos sociais dopovo sistematicamente banidos do ordenamento jurídico e os orça-mentos públicos.

Em segundo lugar, a crise espanhola é também umha crise dorégime nascido da Constituiçom de 1978. Este regime é question-ado por amplos setores da populaçom estatal, mesmo daquela que

13

Causa Galiza

mora em territórios sem conflitos de soberania. As catastróficas con-sequências sociais da crise tornárom inaceitável a tradicional cor-rupçom do regime e debilitárom o reconhecimento das suasinstituiçons fundamentais -Coroa, Governo, partidos, sindicatos es-panhóis, Igreja, etc.-, de modo que a legitimidade social da democ-racia espanhola está em mínimos. Neste sentido, há que dizer quea conflituosidade social decorrente da crise apresenta as mais dasvezes a fasquia dumha luita contra o regime mais do que um movi-mento anticapitalista. temos que concluir a este respeito que a con-solidaçom dum movimento anticapitalista (e independentista nocaso galego) deverá esperar a umha fase mais avançada doprocesso.

Por último, em terceiro lugar, Espanha como projeto nacional viveumha profunda crise do modelo de Estado desenhado em 1978.Para desativar as legitimidades nacionais pré constitucionais(Catalunya, Euskal herria e Galiza) que a própria Constituiçom de1978 reconhecia, Espanha generalizou o sistema autonómico atodas as suas regions. Paradoxalmente, agora, para contrapesar aperda de soberania em favor da oligarquia transnacional, o Estadoespanhol recorre à que ainda conserva para recuperar as com-petências autonómicas que antes “cedera”. Ao mesmo tempo,desde meios, think tanks e outros agentes ideológicos espanhóisdivulga‑se o discurso chauvinista que responsabiliza da crise, prin-cipalmente, às autonomias. Em conclusom: o café para todos estáa ser desacreditado polos mesmos que o concebérom. Ao mesmotempo, o fracasso do Estatut, o Plano Ibarretxe e o bipartido galegocancelárom toda esperança de implementar umha sorte desoberanismo progressivo pola via do alargamento gradual dos teitoscompetenciais. O nacionalismo autonomista ficou sem discursonem folha de rota e patenteou-se, mais umha vez, a verdadeira na-tureza assimilacionista e supremacista do projeto nacional espanholindependentemente do regime político no que se concretizar emcada momento. Por consequência, hoje, em Euskal herria sul e noPrincipat, estám-se a articular maiorias sociais para por em anda-mento processos independentistas em chave cidadanista quepodem fazer colapsar o regime nascido em 1978.

Cientes da profundidade da crise, a oligarquia espanhola nucleadanas empresas do IBEX35 prepara‑se para umha Segunda Transi-ción que como em 1976-78 preserve o essencial do sistema, recu-pere a legitimidade, desative ou estagne os processos soberanistasbasco e catalám e afonde na exploraçom e assimilaçom da Galiza.À frente da saída involutiva deve situar-se o independentismogalego em chave de construçom do poder popular para a defesaintransigente tanto da justiça social quanto dos direitos coletivos doPovo Galego.

14

Causa Galiza

“O fracasso do Estatut, o Plano Ibarretxe e o bipartidogalego cancelárom toda esperança de implementarumha sorte de soberanismo progressivo”

1. 3. Galiza: direito à sobrevivência

Exausto e engavetado no beco sem saída dos seus limites, o cap-italismo e o mundo que lhe é próprio agoniza, mas o Povo Galego,que já existia antes do capitalismo, deve sobreviver. Espanha comoprojeto nacional e o seu Estado como aparelho jurídico e governa-tivo conformam na Galiza a concretizaçom histórica do capitalismo.Umha concretizaçom incompatível, de partida, com os direitos na-cionais e sociais do Povo Galego. De fato, que a crise do capital-ismo seja umha oportunidade para o movimento IndependentistaGalego depende de essa incompatibilidade de partida se manifestarnum conflito real para a sociedade. Os esforços do independen-tismo devem, portanto, fazer patente esse conflito histórico nassuas dimensons política, social e cultural.

Colonialismo e assimilaçom: a dimensom política

As dificuldades e as demoras na consolidaçom da hegemonia realdo modo de produçom capitalista numha sociedade compensa-se,quando as condiçons históricas o permitem, com a imposiçomdumha hegemonia formal mediante mecanismos políticos e jurídi-cos. Esta hegemonia nom espontánea da praxe social minoritáriasobre a maioritária é o que entendemos por colonialismo. Essascondiçons históricas, sem as quais o colonialismo nom seria pos-sível, som também as que naturalizam o submetimento mediante ainferiorizaçom moral e a vulneraçom dos direitos daquel Povo cujapraxe social nom se amolda, ipso facto, aos ditados do capital.Neste sentido, o caso galego apresenta diferenças históricas comoutros conflitos nacionais persistentes no Estado espanhol. Nessesoutros conflitos –nomeadamente, Catalunha e Euskal herria Sul- oprogresso na modernizaçom capitalista foi precisamente o motorda consciência nacional. À Galiza, no entanto, a modernizaçomcapitalista chega muito depois e desenvolve-se muito mais devagarporque encontra obstáculos e resistências de consideraçom na es-trutura social maioritária. Portanto, os efeitos do processo vam-seorientar, sob as suas condiçons iniciais, mais á assimilaçom doPovo Galego do que á tomada de consciência dos seus direitos na-cionais.

Inverno demográfico e desterritorializaçom: a dimensom so-

cial

historicamente a Galiza foi um país muito povoado, ocupando essapopulaçom todo o seu território. Em 1900, a populaçom galega, quehoje nom chega a 6% da estatal, supunha 11%. Aliás, a Comu-nidade Autónoma da Galiza (CAG) está em saldo vegetativo nega-tivo -mais mortes do que nascimentos- desde 1988 e estima-se quenesta primeira metade de século perderá um miliom de habitantes.Por outra parte, a populaçom rural que a começos do século XX al-cançava 90% do total nom chega um século mais tarde a 34%. Estaquestom é fundamental: inverno demográfico e desterritorializaçom

15

Causa Galiza

som processos correlativos na Galiza. Enquanto, noutras so-ciedades próximas, a desruralizaçom ocorre nos períodos de fortecrescimento demográfico1. Isto seria paradoxal, se interpretásse-mos ambos fenómenos como partes do processo espontâneo demodernizaçom capitalista, mas em realidade a desterritorializaçome os obstáculos para a reproduçom física do nosso povo, ao darem-se por junto, revelam-se como elementos basilares do projeto colo-nial e assimilador do capitalismo espanhol para a Galiza. Nocontexto do capitalismo maduro, o território, concetualizado comoespaço contentor abstrato, tornou-se capital: infraestruturas en-ergéticas, vias de transporte, matérias primas, urbanizaçom e tur-istificaçom, etc. mas para essa valorizaçom do espaço é fulcral odespovoamento do território e a desvinculaçom territorial das pop-ulaçons antes territorializadas. Despovoamento e desvinculaçomfam-se fatíveis especialmente sob o pano de fundo das sociedadescolonizadas e em avançado estado de assimilaçom.

Abatimento cultural e ameaças supremacistas: a dimensom

cultural

Costumes, horários, calendários, alimentaçom, hábitos quotidianos,visom do mundo, etc., em todos estes aspetos a espanholizaçomda populaçom galega é a cada mais evidente. O indicador mais es-tudado dos problemas que está a encontrar o povo galego para re-produzir a sua cultura é a língua e os dados de que dispomos somverdadeiramente aterradores. Além disso, qualquer tímido recon-hecimento dos direitos linguísticos do nosso Povo é combatido comtoda a sanha de que é capaz o supremacismo espanhol. A provamais evidente foi o boicote à legislaçom educativa durante o períodoque vai de 2005 ao 2009, dirigido pola imprensa espanhola,seguida polos setores mais assimilados das classes médias ur-banas, numha operaçom propagandística de clara motivaçom su-premacista. Este fenômeno do supremacismo, explicitamentelinguístico, mas realmente cultural e nacional, demostrou o caráterdual da sociedade galega formada por umha maioria assimilável,em que se reconhecem ainda elementos fundamentais da identi-dade nacional, e umha minoria totalmente assimilada e assimi-ladora radicalmente valedora da desvantagem sócio-económica dacultura nacional. Dualidade que, embora nom se traduz sistemati-

16

Causa Galiza

“O Projeto Nacional deve construir-se sobre três ele-mentos: a memória da origem colonial da situaçom ju-rídico-política, a referência territorial como eixo daluita anticapitalista do Movimento Independentista ea existência no país de dous sujeitos antagónicos en-frentados num conflito”

1. No caso espanhol, o período de maior desruralizaçom acontece entre 1960 e 1980 e coincide coma fase de maior expansom demográfica. E mesmo em Portugal, onde a desagrarizaçom e expansomdemográfica correm simultáneos nas duas décadas entre 1970 e 1990. Na CAG, no período de maiorderuralizaçom (1980-2000), onde a populaçom rural descende mais 35%, o número total de habi-tantes diminue também, embora ligeiramente, em quase 36.000 pessoas.

camente em termos políticos, manifesta-se esporadicamente acada que a minoria supremacista considera ameaçado o status quo,demostrando-se destarte a falsidade dumha suposta homogenei-dade social galega. Quer dizer, seria imperdonável nom levar istoem conta e cair, mais umha vez, na ingenuidade de incluir à totali-dade da sociedade existente na Galiza baixo o conceito de PovoGalego.

O Projeto Nacional Galego deve pois construir-se política e social-mente sobre a base destes três elementos da consciência nacional:a memória da origem colonial da situaçom jurídico-política presente,a referência territorial como eixo da luita anticapitalista e anticolonialdo movimiento Independentista e a existência no país de dous su-jeitos antagónicos enfrentados num conflito que é, ao mesmotempo, social e nacional.

1. 4. Situaçom no campo sócio-político nacionalista e indepen-

dentista

trataremos de perfilar a fotografia panorámica do campo nacional-ista galego e, a partir dela, em sucessivos apartados, definir os nos-sos objetivos e reptos como independentistas:

1. 4. 1. Umha viragem soberanista no discursivo sem umha estraté-gia concreta de rutura que o acompanhe. O BNG aprova na XIII As-sembleia Nacional de janeiro de 2012 e reafirma na XIV de marçode 2013 umha viragem soberanista que se complementa com a in-tensificaçom do trabalho na rua e a conflituosidade. Este é um im-portante fator para valorizar e compreender as recentes evoluiçonsda política nacionalista e a sua diagnose é fulcral para definir atática e a estratégia acertadas.

A sua implementaçom supujo, sotto voce, embora sem umha auto-crítica da sua histórica evoluiçom autonomista, a assunçom informalda deriva em que a UPG mergulhara o nacionalismo hegemónicodécadas atrás. Deriva que setores independentistas já diagnosticamem 1976, em plena Transición, mas que a posteriori sofre suces-sivos e decisivos golpes de leme que a afundam e fam a cada maisnotória. A título descritivo cabe assinalar a crise de 1981, os efeitosdo acatamento formal da Constituiçom espanhola em 1985, a co-laboraçom com o Estado na repressom do EGPGC, a reivindicaçomdo Estado espanhol plurinacional da mao de CIU e PNV com a De-claraçom de Barcelona que assina X. m. Beiras (1998), o anti-inde-pendentismo como filosofia da açom político-social, a política de X.m. Beiras de pacto com o PP “em chave de país”, a atuaçom da di-reçom de Nunca mais quando decidiu repressar a mobilizaçom pop-ular com a olhada posta nas Eleiçons municipais 2003, a assunçomda política de infraestruturas selvagens do Estado e das transna-cionais espanholas da construçom no país, a etapa do bipartido au-tonómico, que eleva ao zénite contradiçons larvadas tempo atráse, finalmente, como significativa coroa de loureiro, a reivindicaçomdo Estatuto de Naçom “com encaixe constitucional” que, ainda em

17

Causa Galiza

2011, abre o curso político do BNG, formalizando a posiçom auton-omista.

É significativo neste sentido que, numha recente entrevista2, o exSecretário Geral da UPG Francisco Rodríguez admitisse que du-rante décadas a reivindicaçom soberanista foi para o BNG um “es-logam tópico”, carente de estratégia concreta e submetido a umha“tensom muito forte por essa ideia de governar”, já que, segundoRodríguez, o Bloco chegara de fato à conclusom, em contradiçomcom os presupostos teóricos fundacionais, de que o sistema au-tonómico era “um marco possível para executar umha política dis-tinta”. No entanto, o próprio dirigente da UPG, se bem sugeria queesta posiçom pudo ser correta da década de 80 até 1996, “ao mel-hor”, reconhecia quase vinte anos depois que “hoje, isso é falso”,confirmando dum modo discreto a deriva autonomista do BNG.

Além de que podamos rastejar os sintomas embrionários desta de-riva e da conversom do Bloco numha imperfeita organizaçomsistémica na noite da Transición, esta, como estendida percepçomsocial, só se evidenciou em plenitude na etapa do bipartido au-tonómico (2005-2009) quando o Bloco já se apresenta como umhaforça institucional homologada. A evidência salda-se com o cres-cente distanciamento crítico dos setores mais conscientes e com-bativos da sua base eleitoral e social, a perda da Junta da Galizaapós a queda3 eleitoral de 2009, as cisons de signo independen-tista, que a diferença do passado se subordinam criticamente aoBloco, a passagem à oposiçom e novos declínios em votos e legit-imidade. Como pano de fundo, umha aposta estratégica autono-mista da direçom histórica do nacionalismo que, a cámbio de reduzira simples retórica a reivindicaçom da soberania nacional, renunciarao conflito político e supeditar a auto-organizaçom popular ao ob-jetivo eleitoral, pretendia tomar as instituiçons espanholas na Galizae desde ai aplicar políticas para salvar o país com o engorde pro-gramado dum empresariado autótone que sempre se sentiu melhordefendido polos partidos turnantes da oligarquia espanhola.

Esta estratégia, dada em chamar quintanismo, questionada por am-plos setores nacionalistas e genericamente demonizada porpróprios e alheios após a perda da Junta da CAG em 2009, foi, emrealidade, umha construçom inteletual e material da UPG e dumhapolítica de Salvaçom Nacional que tinha o seu pear básico nagestom das instituiçons autonómicas. Os réditos positivos da etapa,que os houvo, nom logram opacar no entanto as duas principaisliçons negativas do fracasso colheitado polo BNG: primeira, é in-viável aplicar um programa substancial de defesa do país desdeum entramado institucional carente de poder real de decisom, como agravante de depender para a tarefa de partidos comprometidoscom o Estado e agir acatando os limites do quadro jurídico-político.O que foi desde sempre um axioma irrebatível, é hoje ainda mais

18

Causa Galiza

2. Capítulo 10 do programa “O Debate” em Irmandade TV

3. Perda de 44.323 votos e três pontos percentuais entre 2005 e 2009

evidente num país sem poder financeiro próprio, com instituiçonsadministrativas intervidas e submetido a intensos processos de re-centralizaçom. Segunda, os setores burgueses autótones, que ja-mais fôrom burguesia nacional, mas apéndice subordinado daoligarquia espanhola no país, carecem de interesse no projeto na-cional e, significativamente, rechaçam incluso as tentativas maisepidérmicas de galeguizaçom. Converte-los em sujeito principalpara a construçom nacional galega é, para além dum erro es-tratégico e umha traiçom às classes populares do país, umha evi-dente perda de tempo incluso com o intuito de desenvolver a tarefapretendida.

Os custos da falida estratégia quintanista, que transformava já de-finitivamente o povo trabalhador galego na massa eleitoral demanobra da estratégia autonomista, e já fora aplicada tempo antesnos grandes concelhos do país, fôrom altísimos para a credibilidadesocial do BNG, estragárom a confiança depositada no nacionalismoe um valioso capital histórico de luita e encontram-se na base, porreaçom, do sucesso do fenómeno AGE. Afirmar portanto, com estaperspetiva temporal, que o BNG “nunca se moveu de posiçonssoberanistas”, como asseguram destacados dirigentes, quandoapostou historicamente –quando menos, desde a década de 80- nagestom da institucionalidade espanhola na Galiza desde o respeitoao quadro legal e na reforma do Estado espanhol frente à estratégiade rutura e o independentismo, é pois um engano inacetável. Seesta estratégia institucionalista era irrisória como instrumento prin-cipal ou exclusivo de defesa do país quando se desenhou e aplicou,é-o ainda mais hoje, com um processo de recentralizaçom política,financeira e económica em curso e umhas instituiçons autonómicasmaniatadas por teitos constitucionais de déficit público, invasom deámbitos competenciais e a intervençom de fato por madrid e Brux-elas. Se nas atuais circunstáncias agravadas, o nacionalismo insti-tucionalista pretendesse com a viragem soberanista reeditar a velhafórmula, mas empregando novos rostos e discursos e falsasaparências de radicalidade, quando aprofundamos num cenário depauperizaçom generalizada, abstencionismo maciço e recentraliza-çom, revelaria umha incapacidade preocupante para tirar as con-clusons do sucedido e agir em consequência ou, o que seria aindapior, umha indisposiçom genética e insuperável para assumir umhaperspetiva unilateral de conflito e rutura com Espanha. Neste últimocaso, validaria-se a vigência da tese histórica, que assegura que apequena burguesia nacional à frente do nacionalismo, devido àposiçom de relativa comodidade que desfruta no marco colonial, éum lastre absoluto para o desenvolvimento do processo de liber-açom nacional.

19

Causa Galiza

“A implementaçom do giro soberanista supujo, sottovoce, a assunçom informal da deriva autonomista emque a UPG mergulhara o nacionalismo hegemónicodécadas atrás”

A XIII Assembleia Nacional do BNG tratará de ser o torniquete aesta prolongada sangria de votos e de legitimidade que o velho na-cionalismo popular inicia em 2001 após alcançar históricos teitoseleitorais e tocar fundo, até agora, em 21 de outubro de 2012. Só otempo confirmará se com a viragem soberanista aprovado nesteconclave, que se reforça com a XIV Assembleia Nacional, o BNGpretendia resetear-se e perfilar umha estratégia soberanista unilat-eral de rutura com o Estado como asseguram os seus setores maisprogressivos e, necessariamente, portanto, de confronto, ou se,como é provável, à vista de como a sua direçom perspetiva histori-camente o conflito, se tratava apenas dum movimento tático parasortear um tempo de crise e deslegitimaçom social, reagrupar o na-cionalismo reformista, recuperar a hegemonia sobre este -hoje de-bilitada após o surgimento do fenómeno AGE-, assimilar oindependentismo minoritário e retornar, com o tempo, quando sealcançar umha hipotética nova fase de estabilizaçom económica einstitucional, ao reformismo autonomista conhecido. Neste sentido,a experiência histórica nom convida ao otimismo.

Que sejam os negativos resultados eleitorais de 21 de outubro de2012, com a irrupçom de AGE no parlamento autonómico com novedeputadas e deputados, arrastando consigo parte da tradicionalbase eleitoral do BNG e do independentismo, os que acelerem aviragem soberanista, reforçando, de fato, a centralidade da reivin-dicaçom da soberania política na agenda do Bloco, nom é o melhordos sintomas, mas para além das dúvidas razonáveis sobre se estaevoluiçom é tática ou estratégica, achamos que o passo dado, porvolta do reconhecimento formal de que o quadro autonómico estáesgotado e cumpre abrir vias face a independência, com as con-tradiçons, resistências e insuficiências reconhecíveis, é positivopara o país e para o independentismo e devemos fomentar a suaconsolidaçom evitando que velhos juízos e prejuízos impedam re-conhecer a existência de mudanças significativas e, sobretodo,novas possibilidades.

Nesta radicalizaçom aparente, para além das convulsons docenário eleitoral, joga também um papel fulcral o cenário de crisesocial e económica, de crise do modelo estatal, de crise de legitim-idade democrática do Reino de Espanha e, em particular, de pro-funda crise da democracia representativa, que salpica umha forçaque como o Bloco apostou as suas cartas na política institucional.Neste contexto crítico o BNG enfrenta-se ao dilema de se minorizarainda mais, sendo substituido no rol institucional tradicional pornovos agentes que nom representam em absoluto a superaçomqualitativa da estratégia conhecida e, para além da sua vaga

20

Causa Galiza

“O BNG ainda nom pujo sobre a mesa umha nova es-tratégia independentista que vaia para além daretórica e assuma a perspetiva unilateral de ruturacom Espanha”

retórica antissistema, som também institucionalistas e retrocedemdesde posiçons consolidadas como o princípio de auto-organiza-çom, ou tratar de recuperar a iniciativa, e a razom de ser originária,situando a soberania no centro da sua agenda política.

Intuimos que, se as eleiçons de 21 de outubro de 2012 se sal-dassem com resultados aceitáveis para o Bloco e reduzissem AGEa posiçons residuais, provavelmente a direçom daquel manteria ostraços caraterísticos do seu comportamento timorato e hege-monista. Esta diagnose fai com que na nossa valorizaçom do vi-ragem soberanista se imponha a cautela e, à espera de dados queconfirmem o contrário, o ceticismo sobre o seu percorrido es-tratégico. No entanto, esta prudência necessária é compatível coma disposiçom plena a trabalhar nas presentes e futuras unidadesde açom soberanistas, testando dia após dia a profundidade da mu-dança e compatibilizando esta tarefa com a construçom do projetopolítico e o movimento pola independência nacional e o socialismo.Em todo caso, rechaçamos posiçons expetantes que, desrespons-abilizando o independentismo das suas próprias tarefas, cifram aspossibilidades de desenvolvimento deste na qualidade da viragemsoberanista e desvalorizam décadas de trabalho e luita que fôromdecisivas para que, hoje, o binómio independência e socialismo es-teja acima da mesa de todas as formaçons nacionalistas e indepen-dentistas e debates que até há pouco eram tabu se encontremagora abertos em canal.

Neste sentido, coincidimos com setores patrióticos hoje integradosno BNG en que, após décadas de reformismo e moderaçom, comumha militáncia –sobretodo, juvenil- educada no eleitoralismo, oacatamento do marco legal, a carreira política e a renúncia à con-flituosidade como umha das forjas da naçom, a viragem necessitamais do que palavras, fotos e declaraçons mediáticas para se ver-ificar. As evoluiçons dos últimos meses indicam a existência de dis-tintas velocidades e resistências internas à sua implementaçomcuja fortaleza devemos contrastar. Além destas valorizaçons,achamos positivo, em chave de país e de politizaçom da sociedadegalega, o corrimento geral do mapa político nacionalista faceposiçons soberanistas produzido nos dous últimos anos e a cres-cente normalizaçom social que alcança hoje a posiçom indepen-dentista, com um peso sociológico muito superior ao que podemdar a entender os pírricos resultados no cenário eleitoral.

É também um último elemento a destacar o fato de que o BNGainda nom pugesse sobre a mesa umha nova estratégia indepen-dentista que vaia para além da mudança e radicalizaçom da retóricae ultrapasse a prática tradicional limitada a traduzir em maiores quo-tas de presença institucional o trabalho social e político diário comomáxima expressom da política nacionalista. Isto, num contexto deindiferença geral face a política institucional, com processosmaciços de deterioraçom das condiçons de vida e empobrecimento,com instituiçons autonómicas esvaziadas de poder de gestom e in-tervindas polo Estado e a troika, é umha deficiência gritante. Admitir

21

Causa Galiza

o esgotamento da via estatutária é um fato positivo, mas faze-losem implementar estratégias substitutivas das que em teoria seabandonam e, portanto, ruturistas e unilaterais, pondo as basespara desennvolve-las, suporia ficar a meio caminho.

É neste último ponto, no entanto, onde da nossa ótica reside ocerne da debate a respeito da condiçom tática ou estratégica da vi-ragem soberanista: se este se limitar a umha radicalizaçom discur-siva acompanhada da intensificaçom da conflituosidade social, massem implementar umha nova estratégia e sem revisar o papel quenela desempenha a presença institucional, estaremos ante umhamudança a médias desenhada apenas para salvar os móveis daqueima à que som submetidas agora todas as formaçons com pre-sença institucional. Seria previsível, neste cenário, que umha vez oEstado espanhol alcançasse umha nova fase de estabilidadeeconómica e política, as águas retornassem ao rego da política au-tonomista e a gestom. Se, por contra, a viragem for estratégica, oBNG deveria definir umha nova estratégia irredutível a limar as suasaristas mais reformistas e a canalizar de novo face as instituiçonso descontentamento social.

1. 4. 2. O beirismo demonstrou de novo neste período a suahistórica indisposiçom para articular, para além do marketing radicale as declaraçons de aparência transgressora, um projeto superadordo do nacionalismo hegemónico. Após a cisom do BNG, involucionaface posiçons pré-nacionalistas com a aliança eleitoral com a filialgalega de IU, particularmente espanholizada, com a que se pre-tendeu, e logrou, superar a barreira eleitoral imposta polo PP paraambas forças acederem ao parlamento autonómico, e com adesvalorizaçom da questom nacional, que é constrangida empalavras do antes designado delfim martinho Noriega a simplesquestom identitária, que se separa de modo metafísico e se subor-dina a umha questom social inexistente fora dum marco nacionalconcreto. O repetido alegato beirista de que a esquerda espanhola“respeita” -como, por outra parte, fijo sempre formalmente nahistória do país- o direito de autodeterminaçom, embora nunca de-senvolveu umha praxe coerente4 neste sentido, é a coarctada uti-lizada para justificar o injustificável. Como pano de fundo dasmanobras, a modalidade 3.0 do complexo do colonizado que anal-isara Albert memmi: a injeçom no corpo social nacionalista dadúvida sobre a “capacidade galega” para, contando com as nossaspróprias forças e potencialidades, fazer frente à Segunda Transicióne a desconfiança elitista da direçom do beirismo nas potenciali-dades revolucionárias do nosso povo que, em verdade, jamais pre-tendeu materializar.

É significativo que os máximos valedores desta cisom artificial deprioridades –“o social antes que o nacional”-, que se apresentacomo novidosa e fruto do contexto excecional, sejam quem

22

Causa Galiza

4. Olhar a posiçom da Izquierda Plural espanhola ante a Proposta nom de Lei sobre o Direito de Au-todeterminaçom apresentada por BNG, Amaiur e ERC no parlamento espanhol no passado 8 de out-ubro

patuárom no seu dia a transformaçom cosmética do fascismo emmonarquia constitucional espanhola, quem levam décadas a vendera classe trabalhadora galega com os pactos sociais e a traiçomsindical, ou quem, em plena crise do Reino, recuperárom do seufaiado ideológico um suposto federalismo nunca defendido comfatos que em última instáncia nom é outra cousa que a última tábuade salvamento da Unidad de España e a negaçom do direito a de-cidir do Povo Galego, como evidenciam os discursos de dirigentescomo Cayo Lara ou Francisco Frutos, que negam de modo explícitoo caráter unilateral dos processos secesionistas no Estado, ou o in-feliz papel de ESkER ANItZA no desenvolvimento do conflito basco.

Assim, para além da sua teatralidade, sucesso eleitoral e notóriodéficit de músculo militante real, o beirismo confirmou mais umhavez –como já diagnosticara há anos o seu máximo lider sobre oBNG- que é um “encoro de contençom”5 do processo de liberaçomnacional, que opta pola estabilidade autonómica e a “dignificaçom”(?) da atual engrenagem institucional frente à temida perspetiva da“erupçom social volcánica”. Que ante a açom produzida em 7 deoutubro contra a câmara municipal de Beade, ANOVA manifestasse,além da sua “condena” esperável, que se atacara a “casa do povo”,confundindo umha instituiçom espanhola de democracia formal erepresentativa com umha sorte de poder popular, evidencia até queponto chega a confusom e o oportunismo político-ideológico dosbeiristas. Neste contexto, os apelos retóricos a umha desobediênciaque à hora da verdade nunca se traduz em fatos nem em estraté-gias concretas de insubordinaçom ao Estado, venhem confirmarque o que representa a figura de Xosé manuel Beiras fica maisperto da teatralidade insubmissa que dumha posiçom real de con-flito e rutura com o regime e o sistema.

Existe, por último, um aspeto que é necessário valorizar: o fato deque esta fraude que o passo do tempo já está a desvelar fossecapaz de motivar eleitoralmente milhares de nacionalistas e inde-pendentistas desiludid@s e convence-l@s de que o engendro par-lamentarista AGE era umha opçom “revolucionária”, “ruturista” ouapenas superior à do BNG. Da nossa ótica, só a combinatória daindignaçom face as renúncias e traiçons do Bloco, a estendida faltade formaçom político-ideológica em amplos setores da militáncia edo corpo social soberanista e a incapacidade do independentismopara substituir o BNG na articulaçom dum espaço sócio-político ru-turista pudérom possibilitar a confusom provocada por volta de 21de outubro de 2012. A isto devemos engadir o poder evocador dohistórico lider circense e a aposta impúdica da mídia em AGE frenteao Bloco, visto polo sistema como um inimigo mais solvente a meioprazo. Acontecimentos como o affaire Iglesias Sueiro, ou a pro-

23

Causa Galiza

“O beirismo confirmou que é um outro “encoro decontençom” do processo de liberaçom nacional”

5. “A estratexia dinamita”. Faro de Vigo, 1.11.2003

jeçom mediática da conflituosidade interna da coligaçom começamfazer visível que, embora envolvido com novas formas e retóricas,o fenómeno AGE nom é mais do que a nova expressom da velhaesquerda reformista incapaz de confrontar-se com o regime assu-mindo as consequências da sua insubordinaçom.

Como aspeto positivo, apontar que a cisom beirista e a importantemudança produzida no cenário institucional possibilitárom a re-moçom dos marcos e da dialética interna do nacionalismo galego,dando passo a outras cujo final é incerto mas ilusionante. Que,neste novo contexto, se liquidasse ou difuminasse a anterior polar-idade entre um autonomismo hegemónico nucleado no BNG e umindependentismo fracionado e minoritário que pretendia dotar-sede referente político comum, passando a um cenário onde se trans-versaliza e fai formalmente hegemónica a posiçom independentista,é valorizável como positivo, porquanto à margem de cálculos par-tidaristas o é para o madurecimento da consciência nacional donosso país.

1. 4. 3. Integraçom da FPG, mPB e FOGA em ANOVA. Após dousanos a participar com OLN, PCPG e CNm na mesa de organiza-çons reunida periodicamente em Cangas para construir unidadesde açom que asentassem as bases objetivas e subjetivas impre-scindíveis para criar um referente independentista supra-fracionale de massas, as três formaçons renunciam em 2012 a esteprocesso e avalizam a Posición Luís Soto legitimando a aliança como espanholismo de esquerda. A praxe dos três partidos confirmouas prediçons mais sinistras sobre o seu oportunismo e inconsistên-cia ideológica, a falta de clarificaçom política que sempre subjazeuàs suas decisons, a preminência dumha primária fóbia anti-UPGque leva a abraçar como aliada a esquerda espanhola e o opor-tunismo de preferir ficar sob o guarda-chuvas do reformismo antesque assumir a construçom do projeto para a liberaçom nacional esocial do país.

1. 4. 4. NÓS-UP: A existência neste país de dous projetos indepen-dentistas minoritários e similares em aparência6, que se enquadramem parámetros ruturistas ou revolucionários, operam à margem donacionalismo hegemónico e rivalizam a diário polo liderado do es-paço sócio-político independentista é, para o expetador ou expeta-dora desprejuizada, um fato de difícil compreensom. mais setrazemos em conta que a divisom ou multiplicaçom da oferta políticaindependentista se dá numha sociedade onde a hegemonia espan-holista é sólida, onde a façom nacionalista dominante pratica his-

24

Causa Galiza

“Os apelos a umha desobediência que nunca setraduz em fatos concretos de insubordinaçom ao Es-tado confirmam o que representa a figura de XoséManuel Beiras”

6. Referimo-nos à organizaçom resultante do atual processo constituinte e a NÓS-Unidade Popular

toricamente a conciliaçom com o Estado e onde o independentismoestá minorizado e submetido a umha intensa repressom.

É um local comum afirmar o caráter insustentável desta diversifi-caçom, de modo que identificar as suas causas é essencial paraencontrar lógica nesta situaçom e, eventualmente, procurar superá-la. Estas causas, que já provocárom em 2005 a implosom da ten-tativa de acumulaçom de forças chamada ProcESSo ESPIrAL e ainviabilidade dumha convivência produtiva entre a nossa fraçom eo partido PrImEIrA LINhA, som da nossa ótica as seguintes:

1ª A questom da contradiçom principal. Existe umha divergênciaentre a posiçom histórica independentista, partilhada com o na-cionalismo popular, que estabelece como tarefa principal a luita con-tra o colonialismo espanhol e pola independência nacional, posiçomque aliás situa estas conquistas como garante dumha abordagemverdadeiramente resolutiva doutras contradiçons sociais. Sem queisto signifique a carência dum programa social e económico própriodumha organizaçom de esquerda revolucionária. Enquanto NÓS-UP valoriza que as contradiçons nacional, de classe e de génerotenhem significaçom e peso similares, sem que exista entre elasqualquer ordem de prioridade ou cessura. As consequências práti-cas desta divergência teórica som notáveis na linha discursiva, aspolíticas de alianças, o grau de ideologizaçom do trabalho político,a releváncia prática outorgada à construçom nacional, etc.

2ª A questom da direçom política do movimento. Umha segundafrente de dissenso estabelece-se entre o apriorismo nom con-statado na praxe nem aceite pola massa social independentista deque umha vanguarda partidária comunista –PL, neste caso- é a di-reçom do mLNG, por umha parte, e a posiçom que valoriza que adireçom política do movimento constrói-se a partir da praxe, coesominterna e o conflito com Espanha, evitando as auto-proclamaçonsmecánicas. Esta segunda divergência derivou no ProcESSo ESPIrAL

numha tensom permanentemente larvada que fijo inviável o tra-balho político conjunto e frustrou as expetativas. Aliás, fijo com queNÓS-UP se configurasse finalmente apenas como a façom inde-pendentista que aceita o liderado de PL, mas sem capacidade deintegraçom de novos setores.

3ª Certas consideraçons sobre modalidades de luita do nosso povoe o seu encaixe político estratégico, completou a tríade de causasque motivárom a existência de dous projetos a concorrer por umespaço sócio-político similar.

Identificadas as causas profundas da divisom no independentismofica pendente fazer avaliaçom das recentes evoluiçons de NÓS-UNIDADE POPULAR e olhar até que ponto a capacidade de condiciona-mento da praxe neste contexto de crise pode dar lugar a novoscenários que ultrapassem as causas assinaladas.

Neste sentido, rebobinando o passado recente, NÓS-UP abandona

25

Causa Galiza

CAUSA GALIZA em 2011 após manter quatro anos dumha presençaquase inerte na iniciativa. A saída é fruto de dous fatores concate-nados: por umha parte, a existência dum acordo que comprometeas restantes fraçons independentistas para proteger o espaçocomum de estilos de trabalho dirigistas e seitários que associam aesta formaçom. Por outra, a hegemonia em CAUSA GALIZA daposiçom que coloca a questom nacional galega como cerna exclu-siva da sua linha de atuaçom, desbotando a de NÓS-UP, mais fa-vorável a um discurso e umha praxe formalmente esquerdista eclassista. O abandono resolve-se com a renuncia a se implicar acurto prazo em processos de unidade de açom e o ensaio numbreve período -até se plasmar a viragem soberanista do BNG-dumha linha de açom centrada no próprio afortalamento orgánicoe político que definem na VI Assembleia Nacional como Firmezanos princípios.

Como dixemos, a viragem soberanista trastornará este inicial iso-lacionismo voluntário: NÓS-UP, que pouco tempo antes equiparavade modo ideologista o BNG com o PP, negava o caráter principalda contradiçom entre nacionalismo e espanholismo, ou postulavaumha retórica insurreicional como resposta à crise múltipla do Es-tado, inicia agora políticas de aproximaçom e acordos com a UPG,relaxa o confronto sistemático que historicamente mantivo com oBloco ao que erroneamente identificava como inimigo e evolui, numcurto período de tempo, para posiçons que admitem de fato a cen-tralidade da questom nacional. Embora estas mutaçons ser condi-cionadas pola deriva discursiva e prática do BNG e sugerirmotivaçons conjunturais e de oportunidade mais do que umhaautêntica rutura ideológica com as posiçons mantidas até o pre-sente, valorizamo-las como positivas, porquanto abrem o horizontea novas possibilidades de convergência no trabalho diário e situamesta formaçom, de fato, numhas posiçons de frenteamplismo inde-pendentista, com pluralidade ideológica interna e convergência dedistintas classes populares que, na pura teoria, refuga.

Por outra parte, parece óbvio afirmar que, além de velhas rivali-dades e das causas antes resenhadas, o novo cenário político, cominiciativas e dinámicas unitárias do nacionalismo e o independen-tismo, gera condiçons ótimas para descongelar a relaçom comNÓS-UP e explorar as possibilidades que para a expansom dasposiçons independentistas no nosso país tenhem os novos marcosde trabalho. Neste sentido, queremos validar duas reflexons:

1ª É inviável num país com um independentismo que está social-mente minorizado manter a meio prazo vários projetos políticos in-dependentistas que concorrem polo liderado deste espaço

26

Causa Galiza

“Facultamos a nova direçom a estabelecer um canalde interlocuçom estável com NÓS-UP para contrastaranálises de conjuntura e procurar a convergência láonde for fatível”

sócio-político e mantenhem relaçons de rivalidade. Para além deque esta divisom tenha motivaçons objetiváveis, o cenário que delaresulta desmobiliza, desmotiva e é incompreensível para o grossoda base sociológica do independentismo galego. Superá-lo a meioprazo é umha tarefa a intentar.

2º O cenário político aberto trás o terramoto ocorrido nestes mesesno campo nacionalista, com o corrimento geral face posiçons inde-pendentistas e políticas embrionárias de unidade de açom, abre asportas a colaboraçons pontuais produtivas com NÓS-UP que emb-ora nom resolvam as divergências de fundo podam facilitar encon-tros e acordos mais produtivos do que os conhecidos no passado.Neste sentido, e com o intuito de explorar possibilidades concretasde colaboraçom, a Asssembleia Nacional faculta a direçom saintedo processo a estabelecer um canal de interlocuçom estável comNÓS-UP para contrastar análises de conjuntura e procurar a con-vergência pontual naquelas questons em que seja fatível.

1. 4. 5. CAUSA GALIZA, como tentativa de articular umha respostasoberanista ampla à reforma do Estatuto de Autonomía que em2007 polarizava as contradiçons com o nacionalismo estatutista, fi-naliza o seu ciclo histórico no Dia da Pátria 2012 com o conhecidofiasco mobilizador. A progressiva perda de apoios das organizaçonspolíticas que, em princípio, com mais ou menos conviçom, aval-izárom a iniciativa, é umha das causas da implosom, porquanto eraesta diversidade a que lhe outorgava a legitimidade e potencial mo-bilizador dos que na altura, e hoje, careciam as fraçons indepen-dentistas por separado. Além deste fator, que fijo com que afinal oindependentismo histórico ficasse em solitário a sustentar o projetoinicialmente partilhado, produzírom-se outros acontecimentos quemutárom o panorama político e, portanto, a funcionalidade e capaci-dade de CAUSA GALIZA. temos que apontar aqui a implementaçomda viragem soberanista do BNG, que diluiu as contradiçons antesexplícitas entre independentistas e partidários do Estatuto deNación, ou a irrupçom do fenómeno AGE que torna mais complexoo cenário e evidencia a fraqueza político-ideológica de organizaçonse pessoas que, nalgum momento, se reconheceram em ou es-tiveram comprometidas com CAUSA GALIZA.

A valorizaçom crítica do processo temporal de unidade de açom in-dependentista que supujo CAUSA GALIZA nom pode obviar no entantoque, junto com os elementos objetivos resenhados, que motivároma morte por inaniçom da iniciativa, existírom também na sua faseterminal fatores engadidos atribuíveis em exclusiva a quem estive-mos na sua origem, desenvolvimento e manutençom. Neste capí-tulo merece especial destaque a análise da nossa participaçominicial na gestaçom do Novo ProjETo comUm de Xosé manuelBeiras. Se bem, contra o que de modo interesseiro se dixo, é falsoque a CAUSA GALIZA final acreditasse no perfil independentista e ru-turista deste projeto, sim devemos admitir no entanto que desde anecessária exploraçom inicial daquel processo se passou emquestom de semanas a acreditar na possibilidade da incorporar o

27

Causa Galiza

independentismo num projeto amplo, e internamente contraditório,que oferecesse perspetivas a meio prazo dumha hegemonia rutur-ista na sua direçom. Obviamente, esta postura cimentava-se empremissas em excesso otimistas que sobre-estimárom as nossasforças e infra-valorizárom as capacidades do expeditivo comitécentral do ENCONtRO IRmANDINhO como o tempo demonstrou. Aliás,a participaçom neste processo fijo-se num momento de desban-dada das façons que se alojaram em CAUSA GALIZA, sem um debateem profundidade sobre o momento político e com certa desorien-taçom nos objetivos concretos e o condicionamento constante porritmos impostos desde o exterior. O resultado, previsível, foi umhaextensom da confusom e a desafeiçom em setores do nosso movi-mento o que, somado à perda dos voláteis e inconsistentes apoiosde CAUSA GALIZA, derivou na photo finish. A nossa equipa dirigentesobre-valorizou as capacidades para gerir com sucesso correlaçonsde forças tam desequilibradas como as que existiam entre os se-tores que, afinal, configurárom ANOVA e a fraçom independentistada que fazemos parte quando, aliás, existia umha falta notável decoesom no nosso universo político e social sobre os passos que seestavam a produzir.

As conclusons a extrazer da experiência vivida derivam da críticaapontada:

1ª O independentismo histórico, apesar da franca vontade paraaglutinar as fraçons independentistas galegas em unidades deaçom rumadas a meio prazo a edificar um referente independentistade massas, pospondo em favor desta tarefa o seu afortalamentoorganizativo, veu-se impedido para fazer de CAUSA GALIZA algo maisdo que o guarda-chuvas unitário de determinadas datas reivindica-tivas. Isto, embora permitiu visibilizar um pólo sócio-político ruturistae a contradiçom entre estatutismo e soberanismo no campo na-cionalista, foi insuficiente para dar passos qualitativos na articu-laçom deste referente dada a falta de vontade real dos nossoscompanheiros de viagem como o tempo demonstrou. A evoluiçomfinal destes evidenciou a sua falta de disposiçom e clarificaçompolítico-ideológica.

2ª A coesom político-ideológica interna e a fortaleza organizativasom fatores a cuidar com delicadeza no futuro. É impensável 0sucesso no condicionamento de processos que ultrapassam o uni-verso fracional só com voluntarismo e fraqueza orgánica e políticae com o lastre da falta de coesom e esclarecimento.

3º O ciclo que supujo CAUSA GALIZA e décadas de luita independen-tista logrou a socializaçom da ideia elementar de que a conquistada soberania política é a chave do desenvolvimento do processode liberaçom nacional e social. hoje, quando menos, formalmente,a totalidade do arco nacionalista galego assume o esgotamento doestatutismo e admite que a possessom dum Estado próprio é umelemento imprescindível para a defesa da naçom e a alfândega depassagem obrigada para transformar o modelo sócio-económico e

28

Causa Galiza

institucional. Aliás, com erros inevitáveis numha tarefa destascaraterísticas, a fraçom histórica demonstrou modestamente servaledora teórica e prática dum frenteamplismo independentista, quese distancia tanto de posiçons reformistas como de radicalismosque constrangem o independentismo a ser umha inofensiva seitaideológica.

1. 4. 6. A política de unidade de açom soberanista é um fator im-portante a nível tático nas reflexons a analisar nesta AssembleiaNacional. Como critério guia, achamos que o frenteamplismosoberanista e a convergência na praxe de agentes nacionalistas eindependentistas sob parámetros de rutura democrática é, emprincípio, um fato positivo mais ainda no atual cenário de crise doReino de Espanha e do sistema económico, porquanto supujo oabandono formal de teses estatutistas polo Bloco; o reconheci-mento de que a conquista da soberania nacional, longe de ser umobjetivo retórico e lonjano, é a cerna face a que encaminhar o tra-balho social, sindical e político; a assunçom de que o camposoberanista é irredutível ao BNG e, sobretodo, porque a unidadede açom entre distintos projetos e estratégias soberanistas tem umefeito multiplicador e pode permitir, se esta é a vontade dos distintosagentes e, em particular, devido à posiçom que ocupa, do BNG, ar-ticular um muro de contestaçom popular aos processos de recen-tralizaçom e empobrecimento, assim como levantar alternativas aumha eventual Segunda Transición.

À margem da sua virtualidade final e das desconfianças que susci-tam, estas mutaçons som positivas e achamos que o independen-tismo histórico deve participar de modo ativo nestas dinámicasprocurando afortalar a consciência nacional e evitando ser um pas-sivo companheiro de viagem.

As concreçons práticas nestes 24 meses dos novos cenários deunidade de açom soberanista e independentista fôrom no entantocativas, sempre sujeitas como era de esperar a desencaixes pro-duto de desconfianças e distintos ritmos de trabalho e epidérmicas,no sentido de se reduzirem a atos pontuais e litúrgicos e nom facil-itar, até o momento, umha mestizagem ou convivência na açomdiária de façons soberanistas.

Ao fio desta reflexom, e sem demérito da vontade de impulsionarestas unidades de açom, queremos destacar três questons:

1ª A continuidade nos setores hegemónicos nestas unidades deaçom soberanistas dumha mentalidade que compreende a social-

29

Causa Galiza

“Destacamos o sucesso alcançado na socializaçomda ideia de que a soberania política é a chave do de-senvolvimento do processo de liberaçom nacional esocial”

izaçom da necessidade da soberania política como um meroprocesso didático de massas em que umha minoria ilustrada con-vence umha maioria desnacionalizada da superioridade da suaopçom estratégica através do discurso e da batalha ideológica –palestras, materiais, etc.-, mas sem fatos. Esta dinámica, emborapositiva, é insuficiente, porque nom é só através do discurso e dabatalha ideológica, mas, sobretodo, através da pedagogia dos fatos,da auto-organizaçom, do próprio conflito e, em concreto, do ten-sionamento dos limites, que se logra a socializaçom da posiçomsoberanista. A persistência da falsa crença que sustenta que“primeiro educar [dum modo vertical] e logo agir” condiciona à baixaas potencialidades do trabalho a desenvolver.

2ª Está por verificar ainda sobre a praxe qual é a funcionalidade eo percorrido final que o setor hegemónico nestes processos pre-tende dar a estas embrionárias unidades de açom, e se superará,e de que modo, as contradiçons e resistencias internas à deriva in-dependentista que anuncia. À vista dos fatos, é de assinalar comodado preocupante que a viragem discursiva produzida junto à in-tensificaçom da presença na mobilizaçom social nom venha acom-panhada dumha nova estratégia que supere a prática histórica quesitua como finalidade última do trabalho social, sindical e político oengorde da presença institucional do nacionalismo. De se perpetuara aplicaçom desta fórmula esgotada num cenário de esvaziamentoda raquítica capacidade de decisom da institucionalidade espanholana Galiza, e de abstencionismo maciço, constatariamos que asauto-limitaçons da viragem soberanista convertem este, mais umhavez, em insuficiente.

3ª Cientes da desequilibrada correlaçom de forças existente entrenacionalismo institucionalista e independentismos achamos que ossetores ruturistas que concorremos nestas unidades de açom de-vemos fomentar a sua profundizaçom e radicalizaçom, evitando oformalismo e a litúrgia e a sua conversom no eventual acompan-hamento dumha estratégia eleitoralista ou na re-legitimaçom deapostas políticas esgotadas. Assim, o nosso trabalho dirigirá-se aconstruir dinámicas de confiança e reptos comuns com outros in-dependentismos sempre que for viável, assim como à comarcaliza-çom efetiva destes processos, evitando que se limitem a atossuper-estruturais.

1. 4. 7. Fortaleza social do nacionalismo vs. relativa debilidadepolítica e ideológica. A visom panorámica do campo nacionalistagalego ficaria coxa neste diagnóstico se se constranger à análisedas forças e correntes políticas que nele concorrem e, ainda mais,

30

Causa Galiza

“Está por verificar ainda na praxe qual é a funcionali-dade e o percorrido final que o setor hegemóniconestes processos pretende dar a estas embrionáriasunidades de açom”

se a valorizaçom da sua influência social se limitar à sua represen-tatividade eleitoral ou institucional. Felizmente, a capacidade decondicionamento objetivável do soberanismo no país transcendeestes indicadores, como demonstra a existência dum movimentosindical autótone sem parangom nas naçons europeias sem Es-tado, a participaçom popular nas luitas em defesa da sanidade, oensino ou o direito à vivenda, a ampla e dispersa conflituosidadesocial por volta de luitas em defesa da terra frente à política de or-denaçom territorial e infraestruturas, a presença de centenas de pa-triotas galegas e galegos agindo dia após dia em distintas redesassociativistas, o fenómeno dos centros sociais independentistas,etc. Neste sentido, a negativa visom do povo galego que con-struírom certas elites nacionalistas galegas ligadas à pequena bur-guesia, incidindo de modo suspeitamente reiterativo na ideia de quea nossa é umha sociedade com graves déficits de consciência na-cional, incapaz para a auto-organizaçom, lastrada por complexosde inferioridade fruto da colonizaçom, etc., embora tivo e tem ele-mentos objetivos, é também umha construçom ideal que reforçaumha auto-perceçom coletiva negativa e, aliás, serviu e serve deperfeita coarctada ideológica aos seus desenhadores para se aco-modarem na gestom do realmente existente e renunciarem a im-plementar umha estratégia independentista como é a que exige odiscurso que denuncia o colonialismo espanhol.

1. 4. 8. Ausência dumha referência política legitimada pola base so-cial independentista. O independentismo chega a 2013 numha situ-açom paradoxal: logra fixar-se como a posiçom que é formalmentehegemónica no campo nacionalista após anos a caminhar emsolitário8, estende o rechaço à via estatutária e a reivindicaçom doEstado próprio a setores antes autonomistas, atinge com o seuimaginário novas geraçons de militantes e concita amplas soli-dariedades com os presos independentistas, mas nas suas expres-sons políticas autónomas evidencia umha fraca influência social edebilidade organizativa. Embora é complexo analisar as causas úl-timas desta deficiência, cabe responsabilizar da estendida indis-posiçom para solventá-la aos sinistros efeitos dos fracassoscolheitados nas tentativas de articular o movimento como propostaglobal –FPG originária, APU, PROCESSO ESPIRAL, BDG, CAUSA GAL-IZA, etc.-. Este fator, engadido à viciada conflituosidade interna quepadecemos, e à atomizaçom da oferta independentista no ámbitopolítico e juvenil, desmotiva e dispersa a militáncia provocando apreferência geral de compromissos setoriais e relatos parciais queagem como alternativa, insuficiente, da nossa ótica, à inexistênciado projeto político e à estruturaçom dum movimento e estratégiaglobais.

Um outro fator a considerar é a transversalidade que alcançou aposiçom independentista nos dous últimos anos, que fijo com quese manifestasse em distintas opçons políticas –BNG, UPG, etc.-,tirasse músculo social e contasse formalmente com várias expres-

31

Causa Galiza

8. Olhe-se como exemplo temporal próximo o trabalho da geraçom AMI que, em ´solitário, sem refer-

ência política adulta, mantivo em pe a bandeira da independência durante um longo período

sons que se reivindicam de modo explícito neste sentido (ANOVA,mGS, NÓS-UP e a nossa Organizaçom). Este cenário, do ponto devista nacionalista, é superior ao de um independentismo minorizadoe aquartelado numha ou várias opçons políticas residuais. No en-tanto, deixa irresolta a necessidade dum referente político de mas-sas com estratégia própria. É previsível que, a curto ou meio prazo,os tabiques que dividem e separam as opçons independentistasmantenham vigência. No entanto, por parte da Organizaçom, juntoà tarefa de construir um projeto independentista e ruturista imbri-cado no movimento popular, é necessário fomentar a mestizagemna rua entre os setores independentistas, o diálogo normalizado eo debate político-ideológico como contributos a que no futuro hajacondiçons para convergências orgánicas.

1. 4. 9. Campo soberanista em processo de recomposiçom. A crisedo campo nacionalista galego que precipita em 2012 moveaparentemente os marcos tradicionais de referência9 e supujo umcorrimento geral face posiçons independentistas cuja profundidadesó o tempo demonstrará. No melhor dos cenários imagináveis, àfase atual de confusom sucederia umha outra de decantaçom deprojetos e estratégias com o redesenho do campo nacionalista numnovo projeto de nacionalismo institucionalista, um outro indepen-dentista de rutura com Espanha e fugas definitivas face o espan-holismo. Neste sentido a nossa corrente deve agir simultaneamentenas unidades de açom e na conflituosidade social e a construçomnacional, perfilando o seu próprio projeto e estratégia, para sairquantitativa e qualitativamente reforçada dos processos com inde-pendência da deriva final doutros agentes que intervenhem neles.

1. 4. 10. Perspetivas a meio prazo. A expensas das mudanças quese produzam nos próximos anos, o atual equilíbrio de forças entrenacionalismo e espanholismo nom convida a pensar numha saídasoberanista à crise como horizonte realista a meio prazo como for-mula o BNG, nem na celebraçom dum processo nacional constitu-inte ou declaraçons unilaterais de independência, à diferença doque sim pode suceder no Principat de Catalunya ou em hego Eu-skal herria. A conformaçom específica da sociedade galega e o fatode o nacionalismo hegemónico renunciar há décadas a combater oquadro estatutário a cámbio da sua gestom figérom com que, hoje,o esgotamento deste seja mais fruto da sua ineficiência e ilegitimi-dade que da existência de poderosos atores políticos e sociais com-prometidos na sua superaçom. Assim as cousas, caminhamos facecenários de generalizaçom do empobrecimento e a precariedade,recentralizaçom do Estado, perda de peso político, económico e de-mográfico da Galiza e aumento da repressom seletiva e ambientalque, no entanto, som umha oportunidade para o avanço doprocesso de liberaçom nacional. Neste contexto, as nossas expeta-tivas devem centrar-se em construir e consolidar umha estratégia

32

Causa Galiza

9. Viragem soberanista, cisons do BNG que rematam em aliança com a esquerda espanhola,evoluiçom geral face posiçons independentistas, embrionária unidade de açom do nacionalismo in-stitucionalista com o independentismo, fraçons independentistas avalizando acordos políticos comEU-IU, etc

independentista a longo prazo e afortalar o independentismo comoprojeto e alternativa de massas. O papel que deve aspirar a jogar aOrganizaçom, além dos citados, é favorecer o madurecimento dodebate político e ideológico no campo soberanista, fomentar asunidades de açom e a mestizagem dos setores nacionalistas, ali-mentar a radicalizaçom da auto-organizaçom e a mobilizaçom pop-ular e configurar-se, através dos fatos, como a referência políticalegítima para @s independentistas que militam nos movimentospopulares e rechaçam qualquer conciliaçom com o Estado espan-hol.

1. 4. 11. Centralidade da batalha política e ideológica. Agir com efe-tividade nestes cenários, condicionando-os e, na medida do que forpossível, orientando-os, requer organizaçom, liderado e estratégia,mas também capacidade comunicativa e militantes preparadas parao debate na sociedade e no nacionalismo, politicamente formadase capazes de identificar e tensionar as contradiçons lá onde se en-contrarem. Neste sentido, a batalha ideológica rumará-se a ganharsetores crescentes das classes populares para a superioridadetática e estratégica da posiçom independentista, combatendo o nen-guneio ou relativizaçom da questom nacional assim como as per-spetivas de fuga do sistema ou rechaço à construçom do Estadogalego. Dar esta batalha em condiçons exige a curto prazo dotar afraçom dum aparato de comunicaçom que ultapasse as deficiênciasatuais neste terreno.

1. 4. 12. O independentismo histórico chega a 2014 em situaçomcomo dixemos antes paradoxal: logrou, após décadas de caminhono deserto, situar o ideal independentista na agenda política dopaís, manter em pé umha radicalidade teórica e prática de base na-cional e agir como um catalisador para a construçom nacional, maschega muito debilitado para condicionar a evoluiçom dos novoscenários. Os negativos efeitos subjetivos que tivérom os fracassosnas tentativas de articulá-lo politicamente, a erosom interna quesupujo o debate sobre o papel da política no movimento, a repres-som, a falta de quadros, a expansom de certa cultura anti-organi-zaçom, o déficit formativo, as políticas de marginalizaçom ativa oupassiva ainda em vigor praticadas por outras façons nacionalistas,a falta de transmissom inter-geracional normalizada do projeto es-tratégico, etc. figérom com que, hoje, as potencialidades de desen-volvimento do nosso projeto estejam muito por cima da suamaterialidade atual.

Assim, numha primeira visom panorámica, é de destacar o valiosolegado de luita e honestidade, de entrega militante e persistênciana defesa dos objetivos estratégicos em contextos de repressom eforte minorizaçom social. Achamos que nom é exagero ou auto-

33

Causa Galiza

“É necessário fomentar a mestizagem na rua entre se-tores independentistas, o diálogo normalizado e o de-bate”

compracência tribal dizer que, se se configurou neste país um in-dependentismo contemporáneo, é graças a este legado construidopor homes e mulheres que, no seu dia, desouvindo as pragmáticaspalavras-de-ordem do nacionalismo hegemónico, decidírom portoda a carne no assador. Por outra parte, é evidente o sucesso col-heitado à hora de impregnar com o seu imaginário novas geraçonsmilitantes, à margem da filiaçom concreta que ostentem, condicio-nando certas posiçons do BNG e normalizando umha reivindicaçomnacional de máximos após décadas de se confrontar com um na-cionalismo reácio a fazer expressons claras da reivindicaçom na-cional. Por último, é também constatável o sucesso alcançado pordistintos projetos de construçom nacional que tivérom como matrizo independentismo histórico, como os centros sociais, o movimentoreintegracionista, a reivindicaçom de seleçons desportivas na-cionais, a prática da solidariedade contra a repressom, a luita contraa opressom colonial com todos os meios possíveis, etc. À beira dasque já som achegas historicamente inegáveis, as estruturas e or-ganizaçons que se reclamam do independentismo revolucionárioevidenciam neste novo ciclo claros sintomas de esgotamento queafetam a totalidade delas (AmI, OLN, CEIVAR, a própria CAUSA GAL-IZA, etc.). Esgotamento que se traduz nestes momentos em debili-dade organizativa geral; fraqueza da nossa iniciativa política esetorial no momento em que é mais necessária, facilitando o passoa diversos radicalismos estéticos que, em ocasions, nem sequerpartem de premissas independentistas; falta de orientaçom e coe-som a respeito do caminho a seguir no imediato, etc.

Da ótica das e dos militantes que participamos neste processo dedebate é premissa inquestionada a ideia de que à margem dasevoluiçons ocorridas neste biénio no campo nacionalista é impre-scindível um projeto político independentista e ruturista, com vo-caçom de massas, liberado dos lastres do seitarismo e doideologismo esquerdista tam inflamados em retórica como cativosnos fatos, que trabalhe com perspetiva de movimento nacional eestratégia própria. Quem conhecer internamente o nosso universosócio-político já estará ciente de que nom será com estilos impera-tivos nem verticalistas como se acadar o necessário resseteado co-letivo, mas só através da construçom de novas condiçons subjetivase objetivas, através do diálogo, o debate e a praxe, que superemvelhos debates internos e nos situem com perspetiva de futuro.

1. 4. 13. Violência política, repressom e solidariedade. O desen-volvimento no país desde 2005 dumha violência política de baixaintensidade troujo, para além da sua própria existência, que eviden-cia umha continuidade histórica com breves interrupçons temporaisde dinámicas de confronto ilegal com o Estado espanhol, dous el-ementos novidosos no cenário político-social galego.

34

Causa Galiza

“As organizaçons que se reclamam do independen-tismo revolucionário evidenciam neste novo cicloclaros sintomas de esgotamento”

Por umha parte, a implementaçom polo Estado de níveis crescentesde repressom para o seu combate que batem com força n@s mili-tantes retaliad@s e abrem as portas no futuro imediato para a maiorcriminalizaçom e pressom policial e penal sobre as organizaçonspolíticas, setoriais e sociais às que Estado deseje aplicar a Teoriada contorna. O auto 00024/2013 da Audiencia Nacional que for-maliza a existência jurídica no país dumha organizaçom terroristaativa, à vez que condena quatro militantes a penas desorbitadas eanuncia em breve novas sentenças exemplarizantes, poderia supor,sempre em funçom da evoluiçom do contexto sócio-económico epolítico nacional, a aplicaçom a meio prazo de novos desenhos re-pressivos que anunciam as tentativas do poder político de identificara solidariedade com os presos com a apologia do terrorismo, ou aeventual aplicaçom num futuro do paradigma Todo é rESISTêNcIA

GALEGA ao entramado associativo independentista. Neste últimosentido, embora resultar estrambótica, é eloquente a difusommediática de organigramas de autoria policial que assinalam o quepara certos setores dos aparatos repressivos do Estado som osseus possíveis objetivos futuros. Além disto, nom se pode obviar omarco geral de crise do Estado e incremento qualitativo e quantita-tivo da repressom contra a mobilizaçom e a conflituosidade social,que alenta medidas excecionais. É umha incógnita, contodo, amodalidade e ritmos com que se executará este processo, alvis-cando-se um abano de cenários que vai do seu constrangimento àluita ilegal até a hipotética ilegalizaçom de estruturas setoriais epolíticas, passando por cenários mais prováveis, aparentemente,de repressom seletiva que procurem um estado permanente dealerta na militáncia. Constatar esta crudeza da realidade e a na-tureza fascista do regime mais que estimular a parálise deve servirpara evidenciar os entraves que se oponhem ao processo indepen-dentista e fomentar a nossa determinaçom política e o reforço dosvalores militantes, a necessidade de maior organizaçom, planifi-caçom e disciplina no nosso trabalho político e social e a socializa-çom crescente da ideia de que temos à frente um Estado com umgravíssimo déficit democrático.

Em segundo lugar, a repressom de militantes aos e às que o regimeliga com a violência política estimulou no campo nacionalista, dummodo mais ou menos embrionário e pontual, mas inédito, dinámicasde solidariedade com variadas origens e motivaçons que ultra-passárom as fronteiras e filiaçons partidárias, alcançando forçaspolíticas com presença institucional e organizaçons sindicais e so-ciais que denunciam as medidas de exceçom. Aliás, a brutalidadeda repressom gerou umha ampla diversidade de reconhecimentose apoios aos retaliad@s e certa perceçom social –alentada pola ile-gitimidade atual do regime- de que estes nom som delinquentes,

35

Causa Galiza

“A brutalidade da repressom gerou (...) a estendidaperceçom social de que os retaliados nom som delin-quentes, mas militantes ao serviço da causa galega”

mas militantes ao serviço da causa galega, enquanto os autênticosdelinquentes se encontram nas instituiçons e poderes mediáticos eeconómicos espanhóis. Como positivo efeito colateral da repres-som, estende-se em segmentos crescentes do Povo Galego a con-sciência da nula legitimidade democrática do Estado espanhol.

Neste contexto de agudizaçom repressiva geral10, que nom afetaapenas o independentismo, mas o conjunto do povo, a Organiza-çom contribuirá para afortalar as estruturas anti-repressivas tradi-cionais, fomentará as convergências amplas de setores políticos esociais frente a repressom e reforçará o compromisso com tod@s@s retaliad@s polític@s, exigindo em particular o cumprimento dosdireitos legais que cada mês reivindicam os presos independentis-tas –repatriaçom, reconhecimento como prisioneiros políticos, etc.-, demandando a sua liberdade e denunciando a aplicaçom poloEstado de políticas de exceçom e a nula legitimidade democráticado Reino de Espanha que carece das mínimas garantias exigíveispara se caraterizar como umha democracia burguesa. Neste sen-tido cumpre o apoio sistemático à luita contra a repressom, aval-izando dinámicas amplas e abrangentes que evitem o isolamentopolítico e social, e umha pedagogia de massa que visibilice a na-tureza fascista do Estado espanhol, ative a mobilizaçom de auto-defesa e contribua para construir a necessária maioriaindependentista enfrontada ao Estado espanhol neste país.

1. 5. O processo de liberaçom: fase atual

O capitalismo industrial contemporáneo nom chega à Galiza até fi-nais do século passado e nom se fai hegemónico até as suas dé-cadas finais. três dados podem ilustrar as implicaçons deste facto.O primeiro é que a metade, aproximadamente, da populaçomgalega atual nasceu antes de 1960, quando ainda nom existiam, ouacabavam de se fundar, a maioria das empresas emblemáticas docapitalismo na Galiza (PESCANOVA, COREN, CItRöEN, CAIXAGALICIA,ENCE, etc.). O segundo, que em 1990 a populaçom urbana na Gal-iza é apenas 30% do total. E o terceiro, que as pessoas que apren-diam a falar em Galego antes dessa época eram umha grandemaioria, entre 1994 e 2003 estavam em 25% e hoje temos a certezade que a realidade é ainda pior.

Os dados anteriores falam claramente da etapa histórica atualdesde a nossa perspetiva: só um capitalismo senil e em declínio

36

Causa Galiza

“Apenas o independentismo nascido das sucessivascisons no nacionalismo popular assume o enfrenta-mento com o regime como parte incontornável doprocesso”

10. Novas Ley de Seguridad Ciudadana e Ley de Seguridad Privada em processo de tramitaçom,com corte geral de liberdades e privatizaçom da vigiláncia e a repressom; potencializaçom do em-prego da vilolência policial como instrumento de disciplinamento social; projecto de nova Ley de

Huelga

conseguiu hegemonizar a atividade produtiva galega num momentono que o processo de assimilaçom da populaçom galega entra nasua fase definitiva. Esse capitalismo, porém, nom é suficientementeforte e estruturado como para gerar umha burguesia dirigente queseja quem de apresentar os seus interesses de classe como obje-tivos do projeto nacional galego. A conclusom é que, embora Galizaser objetivamente umha naçom, nom apresenta a estrutura socialhabitual numha naçom capitalista normal e nom colonizada.

Como consequência da ausência dumha elite burguesa dirigentedo projeto nacional galego, a esquerda nacionalista, alicerçada nascamadas populares e na pequena burguesia, decide ocupar o seulugar. Nom o consegue, pois essa substituiçom implica a viaeleitoral como método principal de intervençom e o nacionalismonunca deixa de ser eleitoralmente minoritário mas cresce notavel-mente e, ao mesmo tempo, esse noutrora nacionalismo popular erevolucionário legitima o regime nascido da Constituiçom espanholade 1978. De facto, o período de maior sucesso eleitoral nacionalista(1993-2009) coincide com os momentos de maior participaçom dapopulaçom nas eleiçons. Origina‑se deste jeito umha poderosa cor-rente política que poderíamos denominar nacionalismo autonomistaou institucional.

Ao longo desta fase que decorre nas duas últimas décadas doséculo XX apenas o independentismo nascido das sucessivascisons no nacionalismo popular assume o enfrentamento com oregime como parte incontornável do processo de liberaçom nacionale social. Como resultado disto, este período é também umha fasede castigo e duríssima repressom sobre o independentismo porparte dum Estado espanhol legitimado socialmente com a partici-paçom política do nacionalismo autonomista.

Durante o presente século abriu-se, porém, umha nova fase. O el-emento chave que determina a sua fasquia é a consciência pro-gressivamente estendida no independentismo de o Povo Galegoestar em risco iminente de ser definitivamente assimilado e desa-parecer. A crise do capitalismo coloca-se como pano de fundodeste período decisivo para o nosso Povo, favorecendo o rechaçodo régime11 e a consciência social generalizada da gravidade domomento. Aliás, a agressividade antisocial e antipopular com queo Estado defende o sistema fai mais inteligível a determinaçomtradicional do independentismo de arrostá-lo por todos os meios.

No momento atual, a repressom que sofrem os movimentos popu-lares ao ser especialmente cruel e sanhuda com o independentismofai com que o movimento Independentista Galego seja percebidopor umha parte crescente da sociedade do nosso país como refer-ente das luitas populares contra o regime. Nom se pode explicardoutro jeito a tomada de posiçom do nacionalismo institucional ‑nom

37

Causa Galiza

11. Tomando a participaçom eleitoral como síntoma de tenência na aceitaçom social do régime,podemos constatar que a abstençom em 2012, nas eleiçons autonômicas, volveu aos níveis dosanos 80

apenas nas organizaçons sociais e sindicais que lhe som afins, mastambém nas políticas‑ em relaçom com a estratégia repressiva atualdo Estado espanhol contra o independentismo. Umha posiçomcompletamente oposta à que conhecemos noutras épocas re-centes.

Esta referencialidade, que nom existiria sem um esforço titânico donosso movimento, deveria ser aproveitada e encarreirada politica-mente para avançar no processo de liberaçom. O primeiro passoneste caminho deveria consistir em tornar a evidente deslegiti-maçom atual do Estado (repressor, agressivo e violento) em recon-hecimento geral da existência dum conflito, real e irreversível, entreos direitos coletivos do Povo Galego e o ordenamento constitucionalespanhol. Conflito decorrente dumha incompatibilidade que nompode ser salvada, nem com reformas constitucionais, nem muitomenos com os instrumentos políticos e institucionais que esse or-denamento pode oferecer.

2. Estratégia e tática da Organizaçom

2. 1. Necessidade da plena autonomia política e organizativa

do projeto independentista

2. 1. 1. As mudanças acontecidas no campo nacionalista nestesanos podem levar à perceçom errónea de que o projeto indepen-dentista ruturista, como projeto diferenciado dos dous nacionalistashoje hegemónicos, que assumem formalmente o esgotamento davia estatutária e a possibilidade dumha estratégia independentistaprópria, já nom é necessário, ou de que avançamos numha pen-dente esbaradiça face a Casa Comum das partidárias e partidáriosda República Galega. Em sentido contrário, mas igualmente erró-neo, da nossa ótica, o rechaço ao taticismo intuível nas evoluiçonsgerais do campo nacionalista, assim como os rezelos à degluçompolo reformismo, podem estimular posturas isolacionistas e o ques-tionamento de unidades de açom que, com as suas deficiências econtradiçons, som úteis e necessárias.

2. 1. 2. Embora podamos fazer previsons razonáveis sobre a suaevoluiçom, nom temos certezas sobre a resoluçom final da viragemsoberanista em contato com umha realidade social crítica, nemmuito menos expetativas de simplificaçom do mapa nacionalista acurto ou meio prazo. Aliás, o extremo dinamismo da situaçom social,económica e institucional neste período fai com que a resultantefinal dos processos de radicalizaçom discursiva e prática do na-cionailsmo hegemónico nom seja predeterminável a priori, porquedependerá em grande medida de variáveis imponderáveis como a

38

Causa Galiza

“O independentismo deve fazer por necessidade e porhonestidade intelectual umha actualizaçom dasfunçons para as que é precisa a organizaçom política”

capacidade de condicionamento dos processos polos setores inde-pendentistas, a evoluiçom da situaçom no Estado espanhol, aevoluiçom das contradiçons no BNG e ANOVA, etc. O perfil coletivoe a trajetória histórica da direçom do nacionalismo hegemóniconeste sentido nom alimenta esperanças positivas, polo que manterplena autonomia orgánica, política e de estratégia, convergendo ouconfrontando-nos dialeticamente sempre que for necessário comoutras estratégias e projetos nacionalistas, é umha necessidade àvez que a máxima garantia para testar e condicionar à alça esse vi-ragem.

2. 1. 3. Enrocar-se ante a desconfiança que suscitam a evoluiçomhistórica do BNG e os seus envites frustraria as potencialidades quetem para o independentismo participar em potenciais dinámicas demassas que como GALIZA POLA SOBERANIA se reclama de modogenérico como favorável à rutura com o regime e o Estado espan-hóis e a soberania nacional. Embora desconfiemos de que num fu-turo indeterminado, umha vez alcançada umha nova fase decrescimento económico e um novo consenso institucional sobre omodelo de Estado que supere a crise atual, o BNG retorne aposiçons reformistas e de gestom, o mais significativo nom é isto,mas as possibilidades que a curto prazo se abrem ao se situar ocampo nacionalista em posiçons independentistas, iniciar-sedinámicas unitárias de base e, sobretodo, a irreversibilidade daadopçom de certos posicionamentos políticos.

2. 2. Construir a organizaçom independentista de massas:

umha tarefa pendente

2. 2. 1. As dificuldades objetivas e subjetivas existentes para artic-ular o independentismo galego de modo estável como projetopolítico, assim como as sucessivas frustraçons colheitadas nestesentido, figérom com que prendesse na militáncia e as bases soci-ológicas do movimento um estendido ceticismo face a possibilidadeda resoluçom positiva desta tarefa e, aliás, mais na praxe do queatravés da reflexom teórica, teses antipolíticas que legitimam estesestados de ánimo e contam com o amparo da ideologia dominante.Esta situaçom fijo com que dezenas de militantes refugassem nosúltimos anos o compromisso político organizado e dirigissem osseus esforços face projetos locais e setoriais vistos como menosconflituosos ou mais gratificantes. mudou-se a vontade de construirum projeto e um relato globais, com o objetivo de se exprimir nasdistintas frentes de intervençom, por projetos e relatos setoriais, quecomeçam e rematam em si próprios, evitam preventivamente a in-tegraçom em qualquer globalidade e, em ocasions, se apresentamcomo substitutivos impossíveis do projeto político.

2. 2. 2. Se bem tal evoluiçom tivo como fruto mais positivo a con-struçom dum entramado sociológico que tem como matriz o inde-pendentismo e é imprescindível para o crescimento do movimentode liberaçom nacional, também é certo que deixou irresolta ou adi-ada sine die a construçom da referência política do nosso movi-

39

Causa Galiza

mento.

2. 2. 3. hoje, o independentismo que representamos deve fazer pornecessidade e por honestidade intelectual umha actualizaçom dasfunçons para as que é precisa a organizaçom política de massas.Nós valorizamos que esta cumpre hoje papéis próprios e intrans-feríveis dos que nom pode ser relevada na construçom do movi-mento para a liberaçom nacional. Assim, por exemplo, odesenvolvimento sistemático e planificado da batalha política e ide-ológica, a auto-organizaçom de independentistas galeg@s para co-ordenar e impulsionar a luita política e social em paróquias, vilas ecidades, a presença ativa na mobilizaçom popular como fator depolitizaçom e radicalizaçom das luitas, a participaçom e condiciona-mento da política de alianças com outras forças nacionalistas, aluita eleitoral e, no seu caso, institucional, a definiçom e socializa-çom de alternativas táticas e estratégicas, etc. Embora é óbvio quenengumha destas funçons é privativa, também é evidente que nomse podem abordar adequadamente, com visom nacional e per-spetiva sistemática, do ámbito local ou sectorial e que o conjuntodo trabalho social, setorial e local que cada dia realizam centenasde independentistas precisa dumha expressom política hoje inex-istente.

2. 2. 3. Necessitamos umha organizaçom política independentistacom vocaçom de massas, pois além de ser a ferramenta impre-scindível para intervir de modo sistemático no cenário social epolítico nacional com posiçons que, hoje, nom representanengumha força política galega, é a fórmula mais adequada paraevitar que se diluam os esforços militantes de centenas de indepen-dentistas e construir um constante feed back entre a intervençomsocial e política do independentismo.

2. 3. Visom movimentista do processo de liberaçom nacional e

social

2. 3. 1. Entendemos o independentismo galego como um movi-mento socio-político de base popular no que participam distintasclasses sociais objetivamente interessadas na liberaçom nacionaldo país, com vocaçom de massas, ideologicamente diverso, histori-camente encravado na esquerda, com posiçons ruturistas no na-cional e o social, irredutível ao enquadramento numha organizaçomou partido político –de fato, é transversal a distintos projetos políti-cos e estratégias- e materializado num rico entramado associativistado que participam centenas de pessoas, assim como a expressomhistórica da banda alta reivindicativa e prática do nosso movimentonacional. O independentismo histórico é umha parte deste magmasócio-político.

2. 3. 2. transversalidade, inexistência dumha estratégia indepen-dentista hegemónica ou reconhecida como principal ou legítima poramplos setores militantes e carência dumha direçom de conjuntoconformam três das caraterísticas mais salientáveis dum movi-

40

Causa Galiza

mento que hoje é invertebrado e no que se desenvolve umha luitade linhas pola hegemonia da que deve surgir o mLNG futuro.

2. 3. 3. A organizaçom política por constituir reconhece-se em esinte-se sucessora dos distintos projetos revolucionários de liber-açom nacional construidos no passado e aspira a ser, através dapraxe e da legitimaçom subjetiva desta pola militáncia, a expressompolítica de massas do movimento Independentista Galego e a ma-terializaçom da reivindicaçom dos seus objetivos estratégicos.

2. 3. 4. Nesta conceçom movimentista ampla, a organizaçompolítica aspira a perfilar a meio prazo, junto a outros agentes e in-dividualidades implicados na perspetiva independentista e socialistade rutura com Espanha, umha estratégia compartilhada e multise-torial e umha estrutura organizativa de movimento. Definir a prioriambos desenhos é aventurado, dado que os colectivos, setores eindividualidades chamados a configurá-los se acham transversal-izados em distintos projetos, estruturas e estratégias. Desta ópticaé necessário avançar desde o respeito à autonomia, na coorde-naçom geral, na divisom setorial do trabalho e na participaçom mas-siva no projeto político e na sua legitimaçom polo movimento, assimcomo na implicaçom fática da militáncia do projeto político nas es-truturas e dinámicas setoriais e locais.

2. 3. 5. Compreendemos o processo de liberaçom nacional comoumha estratégia a meio e longo prazo irredutível à realizaçom dumtrabalho pedagógico, ou de consciencializaçom nacionalista dopovo galego, que logo revirta em força eleitoral e presença institu-cional num feed back eterno que pom o til na tomada e gestom finaldas instituiçons autonómicas como instrumento (impossível) de sal-vaçom nacional. Ao contrário desta conceçom assumida polasfaçons nacionalistas hegemónicas -BNG e ANOVA-, que é co-respon-sável da impotência do nacionalismo nestes 33 anos de autonomiapara agir como fator de desgaste do regime estatutário, compreen-demos este processo como a confluência de três fatores dos que aluita eleitoral e institucional, com a importáncia que poda revestirem cada fase, é um elemento complementar: primeiro, um processogeral de auto-organizaçom das classes populares, que gere formasembrionárias, mas fáticas, de poder ou contra-poder popular e depulso quotidiano com os poderes políticos e económicos domi-nantes; segundo, a construçom dum conflito poliédrico de poder esoberania com Espanha que se exprima em todas as frentes da ex-istência deste povo e, por último, umha estratégia independentistaunilateral e, por soberanista, enfrontada ao marco jurídico-políticoespanhol, como estamos a comprovar dum modo empírico empaíses que partilham com nós a dominaçom da oligarquia espan-

45

Causa Galiza

“É impensável desenvolver com sucesso o processode liberaçom nacional num povo despolitizado, des-organizado e carente de capacidade ofensiva”

hola e vivem processos de emancipaçom nacional em fases maisavançadas, porquanto o Estado espanhol cerra qualquer via de res-oluçom democrática do conflito Galiza Espanha.

2. 4. Linhas de trabalho preferentes e funcionalidades da Or-

ganizaçom Política

2. 4. 1. Concretar as linhas de trabalho, funçons e objetivos imedi-atos da Organizaçom é essencial para apresentar à militáncia umhafolha de rota capaz de estimular o compromisso e visibilizar a utili-dade do projeto num cenário em que o ceticismo face a açompolítica organizada é geral.

2. 4. 2. Impulsionar a auto-organizaçom e a mobilizaçom comochaves da estratégia para a liberaçom nacional. É impensável de-senvolver e culminar com sucesso o processo de liberaçom na-cional num povo despolitizado, internamente desorganizado ecarente de capacidade ofensiva tática e estratégica. Esta afirmaçomdetermina umha parte substancial do que será o nosso trabalho fu-turo. Auto-organizaçom e mobilizaçom som, portanto, de modo per-manente, elementos chave para o sucesso da estratégiaindependentista. Compreende-lo, interiorizá-lo e aplicá-lo na praxediária é essencial porque, além de clarificar onde se situa a cernado trabalho político, esta percepçom é a vacina certa contra as de-rivas institucionalistas. A Organizaçom perspetiva o binómio auto-organizaçom e mobilizaçom como empoderamento real e concretodo povo e modalidade embrionária de poder popular, superando vi-sons que reduziam ambas à promoçom dum marco nacional de luitasem dependências externas. A Organizaçom situará como questompermanente da sua vida interna o conhecimento, seguimento e di-namizaçom de todas as modalidades possíveis de auto-organiza-çom e mobilizaçom popular galega, intervindo nelas indiretamente,como proposta política independentista, ou através das redes as-sociativas existentes em cada momento

2. 4. 3. Impulsionar as unidades de açom soberanistas com os ob-jetivos de 1º socializar a necessidade da soberania; 2º estimular aevoluiçom das massas nacionalistas galegas, e do povo em geral,face posiçons independentistas explícitas no caminho da sua hege-monia social; 3º ganhar os setores mais avançados do nosso povopara a construçom dum projeto estratégico e umha praxe de ruturacom Espanha e 4º construir, se esta é a vontade última de outrosagentes que partilharám com nós estas unidades de açom, ummuro de contençom, avanço e contraste de alternativas frente aosplanos da oligarquia espanhola no nosso país para a Segunda Tran-

46

Causa Galiza

“Trata-se de construir umha estratégia independen-tista de massas que ultrapasse marcos partidários ese dirija ao conjunto da massa social nacionalista edo povo galego”

sición. Neste sentido, a Organizaçom promoverá na medida da suacapacidade que estas embrionárias unidades de açom evoluam dacondiçom de atos esporádicos ou litúrgicos com caráter nacionalexclusivo para a geraçom de dinámicas locais e comarcais concre-tas que, fazendo parte de estratégias de país, facilitem a partici-paçom e ativaçom territorial de centenas de nacionalistas, oencontro na prática comum entre as distintas correntessoberanistas, a mestizagem e umha incidência real sobre o nossopovo.

Esta atuaçom nas unidades de açom soberanistas parte de várioscondicionantes e premissas:

1ª O caráter hegemónico e a maior capacidade de condicionamentoe orientaçom que nelas tem o BNG, com o aspeto positivo de, seesta é a sua vontade real, dotá-las de estrutura, militáncia e capaci-dade de influência social, mas o negativo de subordiná-las emgrande medida às auto-limitaçons e temores atávicos do nacional-ismo hegemónico.

2ª A confiabilidade limitada que outorgamos à viragem soberanistado BNG e se testará, para bem, ou para mal, no desenvolvimentodas unidades de açom. Da nossa ótica, trata-se de construir umhaestratégia independentista e ruturista de massas que ultrapassemarcos partidários e se dirija ao conjunto da massa social nacional-ista e do povo galegos. A finalidade, pois, ultrapassa largamente oobjetivo tático de certos setores nacionalistas de despejar o PP dasinstituiçons autonómicas e dar passo a governos bipartidos ou tri-partidos que, embora preferível à permanência da extrema direitanestas, seria igualmente impotente para dar soluçons às prob-lemáticas que afetam o povo galego.

3ª A necessidade de opor à Segunda Transición um muro nacionale popular em chave de soberania e rutura democrática com oregime e o Estado. A construçom deste muro nacional e popular,com capacidade potencial de ativaçom de setores sociais, sindicaise políticos, é inviável de presupostos partidaristas exclusivos, tantodo BNG, que carece da legitimaçom necessária para situar sob oseu liderado o campo soberanista politicamente ativo e organizado,como das façons independentistas minoritárias que, além disso,nom possuem hoje o imprescindível músculo organizativo e influên-cia social para a tarefa.

4ª A urgência de dinámicas de mobilizaçom e luita que possibilitema superaçom da passividade e a reativaçom da sociedade galega,o aumento da consciência nacional e o fortalecimento paralelo doindependentismo. O rol a jogar pola Organizaçom e, em geral, polocampo independentista tradicional, neste ciclo de unidades deaçom, é maximizar a politizaçom independentista que resulte delase possibilitar, se for o caso, que a deriva soberanista bascule facea sua consequência lógica –posiçons de rutura com o Estado, in-dependência nacional como expressom fatível de soberania, con-

47

Causa Galiza

struçom de contrapoder nacional, debate sobre estratégia, etc.-, es-tenda a presença social do independentismo e seja encoro de con-tençom real frente aos ataques do Estado e o capital.

2. 4. 4. Neste período de crise do Reino de Espanha, com perspeti-vas dumha involuiçom generalizada em matéria nacional e social ea mudança de ciclo histórico à vista, urge desenvolver e aprofundara batalha política e ideológica com projeçom de massas. É precisoevidenciar ante setores crescentes das classes populares galegase a partir da realidade concreta e dos conflitos concretos a superi-oridade das alternativas táticas e estratégicas soberanistas e, emespecial, independentistas, destacando-as como única concreçompossível do soberanismo na situaçom criada polo Estado espanholna Galiza. A batalha ideológica desenvolvida sistematicamente ecom capacidade pedagógica para demonstrar à maioria social dopaís a superioridade da posiçom independentista, frente a qualquerversom forte ou descafeinada de espanholismo ou autonomismo,é umha das tarefas para a Organizaçom. Além do trabaho de con-sciencializaçom e constataçom desta superioridade, é impre-scindível em paralelo um outro de dignificaçom da condiçomnacional galega e afortalamento da consciência nacional que, comoevidenciam as recentes evoluiçons do mapa político, é fraca inclusoem setores nacionalistas organizados. Lograr ambos objetivos é umesforço que implica a planificaçom e coordenaçom de recursos mil-itantes, económicos e comunicativos e exige a construçom dum en-tramado mediático que, embora sem ter condiçom partidária, seenquadre numha estratégia independentista e ruturista.

2. 4. 5. A construçom da Organizaçom e a articulaçom do movi-mento. A posta a ponto dumha ferramenta política com capacidadee meios para intervir na conflituosidade social e a política é o obje-tivo imediato após o processo constituinte. Só umha Organizaçomcom um núcleo militante e disciplinado será capaz de assumir umhaintervençom com a necessária capacidade de influência e poder declarificaçom. Neste sentido, a nova estrutura fará um esforço sis-temático de acópio de recursos económicos, comunicativos e, so-bretodo, militantes, que lhe permita estar à altura da suaresponsabilidade. Por outra parte, desde a consciência de que ocampo nacionalista continua submergido num processo de recom-posiçom interna que ainda nom se decantou definitivamente, e deque a construçom do mLNG é, portanto, umha tarefa aberta quetorna ridículos os exclusivismos, achamos que se deve avançarface dinámicas de diálogo, confiança mútua e definiçom de obje-tivos e folhas de rota comuns entre as organizaçons do campo in-dependentista e visualizar a construçom do movimento de modonom seitário ou excludente. Recorrendo à metáfora, diriamos quea confeiçom do movimento de Liberaçom Nacional Galego é similarà dum cesto onde parte dos vimes a empregar já som familiares econhecidos, embora outros se encontram nos movimentos popu-lares ou fam parte a dia de hoje de organizaçons e correntes quepartilham com o independentismo histórico boa parte das nossasdiagnoses e práticas mas respondem a outras estratégias. A tarefa

48

Causa Galiza

é pois ganhar progressivamente esses setores, com o veredito dapraxe e dos fatos, para a estratégia independentista e a construçomdo mLNG.

A respeito do nosso próprio universo fracional, o independentismohistórico, achamos que é urgente restabelecer as pontes, a coesome as dinâmicas de confiança entre as estruturas e militância danossa corrente. Sem prefixar os tempos de semelhantes processos,@s militantes comprometidas na construçom dumha ferramentapolítica de massas do independentismo atrevemo-nos a apontartrês tarefas imprescindíveis para superar a atual fase de impasse:

- Formalizaçom dum foro de coordenaçom e diálogo entre as es-truturas organizativas que, com caráter periódico e respeitando aautonomia de critério e praxe das partes identifique reptos e inicia-tivas partilháveis e coordene esforços e luitas.

- Apoio mútuo e mútuo reconhecimento. A lealdade caraterística nasolidariedade anti-repressiva deve estender-se ao reconhecimentoe o apoio mútuo entre as estruturas do nosso universo sócio-político.

- Potencializaçom dos processos internos de debate e formaçom.O abandono da formaçom nas vertentes ideológica, política e ténicaé umha fatura que a meio prazo sempre se paga. É preciso sistem-atizar e institucionalizar os nossos processos formativos e trabalharna construçom dum corpus político-ideológico comum.

2. 4. 6. A formaçom ideológica, politica e ténica de independentistas.Após anos em que a formaçom foi estigmatizada como adoutrina-mento vertical e passivo, por reaçom ao dogmatismo imperante, àvez que oposta de modo irreal à “prática”, as necessidades da luitapugérom negro sobre branco as limitaçons às que condena o seuabandono e a urgência de destinar recursos a fomentá-la sobretodona militáncia nova. Neste sentido, a Organizaçom, superando a con-fusom entre formaçom e adoutrinamento, sistematizará um córpusideológico e político independentista que, bebendo do conheci-mento acumulado, se abra também a novos elementos e diagnosesda nossa realidade e conjuntura nacional e internacional. À elabo-raçom teórica somará-se o debate coletivo na militáncia como prin-cipal estratégia formativa e de preparaçom de militantes e quadrospara as tarefas projetadas.

2. 4. 7. A luita eleitoral e institucional. Queremos insistir aqui tantona utilidade de abrir a frente eleitoral e, eventualmente, institucional,

49

Causa Galiza

“A organizaçom que constituimos deve ser particular-mente cuidadosa com a problemática das mulheresgalegas tanto nas estruturas organizativas como nasua praxe quotidiana”

ao serviço da estratégia de geraçom de massa crítica independen-tista e rutura com o Estado, como na de distinguir entre eleitoralismoe institucionalismo e a luita eleitoral e, eventualmente, institucional,em chave independentista. Estando cientes da fraqueza orgánicaatual, da ordem de prioridades que tem o nosso trabalho e da de-sequilibrada correlaçom de forças com outras façons nacionalistas,o projeto valorizará, em cada caso, à vista das condiçons, aliadose prioridades, a utilidade de intervir nesta via. Neste sentido, porproximidade e efetividade política e de auto-organizaçom, achamosde especial interesse afundar no desenvolvimento do trabalho localindependentista compreendido nom só nem principalmente comotrabalho eleitoral ou institucional municipal, mas como articulaçomdiária e estratégica desde baixo de setores populares ruturistasnumha praxe municipalista concreta. Por outra parte, no terreno dabatalha política e ideológica, é necessário abrir e aprofundar nocampo nacionalista o debate sobre qual é a funçom e objetivos dapresença soberanista nas instituiçons espanholas no nosso país ecomo esta pode servir ou nom a objetivos de rutura.

2. 4. 8. A funçom da referencialidade pública. Além doutras fun-cionalidades expostas, achamos que numha sociedade como agalega é necessário um referente político que, sem as ambigüi-dades e submissons que caraterizam algumhas formaçons na-cionalistas, exponha à luz do dia umha estratégia, umha praxe eum programa político de rutura com Espanha à vez que ganhe aconfiança de setores crescentes do povo. Se bem estas tarefas sepodem desenvolver em paralelo desde distintas estruturas sociais,sindicais, juvenis, etc., num processo constante de mútua retro-al-imentaçom, também é evidente que a organizaçom política possi-bilita realizá-las com a máxima sistematicidade. Neste sentido, anova Organizaçom pretende ultrapassar a condiçom tradicional doindependentismo como minoria ideológica para situá-lo progressi-vamente em posiçons de centralidade e referencialidade

2. 4. 9. Intervençom em políticas de gênero

Umha organizaçom política que como a que estamos a construirtem como objetivo a liberaçom nacional deve ser particularmentecuidadosa com a problemática das mulheres galegas, tanto dentrodas próprias estruturas organizativas como na sua praxe quotidianano povo a liberar.

Esta premissa deriva de duas conceçons elementares: primeira,que a opressom estrutural que, de modo direto, supom o patriar-cado para mais da metade do povo galego e, de modo indireto, paratodo o povo, mulheres e homes, é um estádio da evoluiçom sociala superar e resulta incompatível com o modelo socialista que quer-emos construir na Galiza nacionalmente liberada. Segunda, que odesenvolvimento exitoso dum processo de liberaçom nacional quecomo o nosso é de base exclusivamente popular é impensável senom integra a defesa dos interesses objetivos inmediatos e es-tratégicos dos setores sociais chamados a impulsioná-lo e nos que

50

Causa Galiza

se constrói. Assim, a integraçom das reivindicaçons e valores fem-inistas na nossa praxe interna e externa, como questom transversala todo o trabalho político e social, é, para além dumha obriga, agarantia de fortalecimento do próprio processo de liberaçom na-cional ao enriquece-lo com novas achegas e apoios.

Neste sentido, admitindo o caráter epidérmico que tivo no passadoa nossa praxe feminista, assim como a urgência de no futuro ime-diato aprofundar nela com factos, queremos situar o foco, com o in-tuito de erradicar confusons, sobre o debate aberto no campoindependentista a respeito da ordem de prioridades existente entreas distintas contradiçons e opressons que percorrem o corpo socialgalego -nacional, de classe, de gênero, etc.-. Somos desde 1964valedoras e valedores da tese de que a contradiçom principal quepercorrre a sociedade galega é a que se estabelece entre nacional-ismo e espanholismo, entre Galiza e Espanha ou, em formulaçommarxista, entre o conjunto das classes populares galegas objetiva-mente interessadas na liberaçom nacional e a oligarquia espanholaque, com apoios internos, rege os destinos do país e do Estado. Asuperaçom desta contradiçom principal, com a conquista da sobera-nia política materializada na criaçom dum Estado próprio, é conditiosine qua non e alfândega de passagem obrigada para superar asrestantes contradiçons. Dito de outro modo, nom é possível con-struir o socialismo na Galiza nem proceder à superaçom integral dopatriarcado sem antes o povo galego dispor dumha estatalidadeprópria ao seu serviço.

As posiçons arriba expostas nom implicam, nem muito menos,como se afirma em ocasions, a “postergaçom” ou “trivializaçom” daluita feminista, ou da luita socialista, que devem participar do caudaldiverso de luitas que convergem no processo de liberaçom na-cional, nem a assunçom de posiçons “essencialistas”, mas umhaperspetiva na que a superaçom de todas estas contradiçons nom ésimultánea no tempo, mas necessita como condiçom prévia a con-quista dumha estatalidade e dum poder popular galegos como fatorpara se produzir. A nível prático, implica que a conquista da inde-pendência nacional, embora situará o nosso povo em ótimascondiçons para resolver as contradiçons de classe e de gênero eseguir avançando no processo integral de emancipaçom, nom su-porá instantánea nem mecanicamente a superaçom de ambas.

Esta perspetiva resolve-se na prática quotidiana da Organizaçomna priorizaçom das alianças com os setores comprometidos com asuperaçom do atual quadro jurídico-político, a incorporaçom e inte-graçom do movimento de liberaçom nacional das reivindicaçons evalores de classe e de gênero como garantia do seu sucesso e atransversalizaçom de ambas a toda a nossa praxe independentista.Embora liberaçom nacional e liberaçom social sejam duas caras damesma moeda, a conquista da independência política após a fasede conflito com Espanha, afirmamos, nom supom mecanicamentea construçom do socialismo nem a extinçom simultánea do patriar-cado. Som precisamente o fortalecimento prévio das posiçons de

51

Causa Galiza

classe e feministas no movimento Independentista e a construçomneste de formas embrionárias do novo modelo social alguns dos fa-tores que possibilitarám que a evoluiçom socialista e feminista donosso processo de liberaçom nacional se produza com maior celeri-dade.

No século XXI a sociedade galega é sensivelmente diferente dosparámetros tradicionais nas questons de gênero por causa daaceitaçom geral embora contraditória e insuficiente de certos val-ores feministas: as mulheres foram introduzindo-se no mercado lab-oral, estám convenientemente formadas e, numha visom superficial,superaram os roles que lhes eram atribuídos. Neste sentido, parecepreocupante o desequilíbrio entre o número de homes e mulheresmilitantes nas organizaçons políticas, também nas mais combativase menos sistêmicas. Fai-se, portanto, imprescindível, incorporar àatuaçom política diária alguns parámetros que corrijam a presentesituaçom e encorajem as mulheres para participarem.

De entrada, as mulheres venhem sendo as mais afetadas pola criseeconômica: na vida laboral, elas continuam a cobrar salários inferi-ores por igual trabalho, as cifras de desemprego feminino som es-petaculares e mesmo na açom sindical deixa-se sentir o patriarcado(alguns EREs, por exemplo, negoceiam-se propondo que as queprimeiro tenhem que ficar sem emprego sejam as mulheres). Aliás,a crise do sistema político nom é apenas económica, também éumha crise de valores políticos e éticos, de maneira que as mul-heres mais críticas demonstram a sua insatisfaçom afastando-sedas estruturas que lhes exijam umha militância ativa, como os par-tidos políticos, que a seu ver nom dam resposta às suas reivindi-caçons. Finalmente, a luita antipatriarcal apenas acaba de começar:os preconceitos e os mecanismos de poder que transmitem osmeios de comunicaçom, a escola e outros relatos menos formais,como os implicados nos modos de nos relacionar, som aindamachistas. Nesse sentido, cumpre propor algumhas teses políticas.

Teses políticas sobre políticas de género

1. O processo de liberaçom nacional nom se constrói em abstrato:é afinal umha liberaçom de pessoas. As mulheres, como resultadodumha educaçom obsoleta e das estruturas de dominaçom capital-istas, demandam atuaçons específicas. Nom se trata de apresentá-las como vítimas, mas de assegurar a justiça que nos correspondea tod@s.

2. A organizaçom independentista trabalha por definiçom em criarespaços de poder nacional que nom som contemplados do pontode vista do Estado opressor. Em coerência com este postulado, aorganizaçom pode e deve estimular o paralelismo entre a con-tradiçom de interesses Galiza/Espanha e a contradiçom de inter-esses mulher/home. Nom se trata de privilegiar as mulheres por oserem, mas de reconhecer que a identidade de gênero, que nomescolhemos ao nascermos, tende a causar umha discriminaçom e

52

Causa Galiza

de agirmos para superá-la.

3. A questom de gênero nom é apenas a "questom das mulheres".Se elas se viram tradicionalmente abocadas a cuidar da família,eles igualmente padeceram outras mutilaçons, como a de nompoder expressar os seus sentimentos. Os roles e os estereótipossexuais som limitativos para tod@s e a açom feminista libera-nosa tod@s.

4. A soberania política, como objetivo estratégico, deve materializar-se em logros concretos na fase prévia à sua conquista. Um dosmais evidentes, da perspetiva feminista, é a soberania sobre opróprio corpo e sobre a existência. A soberania sobre o corpo vin-cula-se à defesa dos direitos de saúde, dos direitos sexuais e re-produtivos que as distintas administraçons do Estado na Galiza eas políticas neoliberais perseguem com crudeza e criminalizam (ocaso mais obvio é o da legislaçom sobre o aborto mas nom é oúnico). Por outra parte, a soberania sobre a existência demanda aindependência económica e, nas linhas de trabalho feminista maisdinámicas, aponta para a introduçom de medidas tam revolu-cionárias como a renda básica das iguais.

5. A política nom consiste apenas na administraçom do poder e natomada de decisons coletivas. O feminismo estabelece que todo oque é pessoal é também político. Neste sentido, a organizaçomnom pode convocar a liberaçom nacional sem reconhecer quetodos os assuntos da vida íntima e individual tenhem um alcançopúblico.

Estas teses desembocam numha série de intervençons que corri-jam as eivas atuais:

1. Se a questom do gênero afeta a tod@s, a defesa de valores fem-inistas e antipatriarcais torna um assunto tático de primeira magni-tude que deve plasmar-se num tratamento transversal. Comindependência de que poda existir umha comissom ou um grupode trabalho especificamente feminista, toda a açom política deveser inclusiva e reconhecer as peculiaridades do sujeito feminino emqualquer campo.

2. A intervençom feminista demanda umha soma agregada de von-tades, de maneira que os homes vejam as reivindicaçons femi-nistas, nom como a imposiçom feita por um lobby ou grupo quepresiona pola defesa dos seus interesses, mas como um objetivopolítico sem o que nom se podem dar as condiçom para umha pá-tria liberada.

3. As responsabilidades devem ser partilhadas tanto no públicocomo no privado. No público incidirá-se na presença de caras fem-ininas como referentes, nunca na imagem de mulheres floreiro queàs vezes implicam as listagens cremalheira. Isto quer dizer que, emvez de introduzir mulheres para dar umha falsa aparência de igual-

53

Causa Galiza

dade, importa incorporar o discurso alternativo que as mulheresachegam pela sua condiçom de “excluídas" historicamente. No pri-vado importa realizar quantas açons de formaçom forem precisaspara as tarefas do doméstico e do cuidado nom serem vistas comomenores e para serem partilhadas por homes e mulheres.

4. toda a açom política há supor umha linguagem inclusiva, queevite o masculino genérico e, no entanto, resalte a presença femi-nina. Por escrito a medida idônea é a da arroba, a mais adaptadaà realidade da nossa língua porque incorpora graficamente e aotempo um "o" e um "a". Por oral procurará-se a inclusom de tod@scom fórmulas genéricas tipo o povo galego, o estudantado univer-sitário, o pessoal sanitário, etc. Lá onde nom for possível, usarám-se formas duplas (as galegas e os galegos), apesar de que a suareiteraçom seja cansativa. Finalmente, nos âmbitos mais politizadospodem usar-se femininos genéricos (tipo nós, galegas conscientes).Esta fórmula é claramente discordante com o apreendido na escolae, portanto, exige modulaçom porque nem se trata de inverter oprocesso para agora excluir os homes, nem se pretende perseguirou punir a masculinidade.

5. Um dos aspetos mais interessantes do debate feminista contem-poráneo inclui a ética dos cuidados. Segundo esta perspetiva que,obviamente, nom é a única, mas é importante, muitas mulheresnom ocupam postos de poder, nom só por padecerem umha dis-criminaçom, mas como escolha própria se tiverem que decidir-seentre o sucesso no mundo social e o cuidado das pessoas queamam. A ética dos cuidados explica que umha mae prefira nom as-cender laboralmente ou nom militar muito ativamente para ter @sfilh@s bem atendid@s. Polo seu caráter dissidente do poder, a or-ganizaçom política independentista, sem fomentar o que seria umhaauto-exclusom das mulheres, deve considerar este aspeto. A impli-caçom de muitos militantes, também homens, na tarefa de arroupar,acompanhar, considerar ou dedicar tempo e energia, por exemplo,a companheir@s pres@s, faz parte desta ética de cuidados. Ecomo tal prática feminista pode e deve ser reivindicada.

6. Os estudos feministas demonstram que as mulheres e os homesnom conversam igual. mais ainda, nas grandes reunions da vidasocial, os homes tomam a palavra antes, mantenhem-se a falarmais tempo e interrompem as mulheres. Isso explica que nas re-unions políticas falem muitos mais homes que mulheres. Para cor-rege-lo conviria trabalhar em grupos reduzidos antes de chegar aum plenário (as mulheres falam mais se o auditório é pequeno esom mais ativas em grupos reduzidos). Porém, para as mulheresfalarem e participarem mais, os homes devem falar um bocado

54

Causa Galiza

“Da ótica independentista, ‘socializar a necessidadeda soberania’ tem na açom prática, no conflito cole-tivo com Espanha em todas as expressons, a melhorescola imaginável”

menos. A democracia interna vê-se favorecida de evitarmos osoradores que se estendem muito tempo e tomam a palavra reiter-adas vezes.

Medidas práticas

1. As citas e horários para reunions políticas fam-se normalmentetendo em conta que existe umha jornada laboral e, por isso, tendema ser na tarde-noite. Porém, umha atuaçom feminista exige flexibil-idade nos horários e questiona as práticas habituais. muitas mul-heres tenhem ao seu cargo várias pessoas dependentes e,portanto, nom se podem permitir militar. Revisar os horários paraque se adaptem às necessidades reais das mulheres é objetivo in-eludível.

2. Dada a dificuldade dum grande setor das mulheres para acudi-rem às reunions políticas por problema de horários e incompatibili-dades com outras responsabilidades, parece necessário e urgenterevisar o reparto de funçons de cuidado. Ainda que as organizaçonspolíticas habitualmente consideram que isso entra no território pri-vado, só falando a questom e socializando-a pode solucionar-se.

3. Cumpre estimular a interlocuçom frequente com os grupos fem-inistas organizados. Servirá para incorporar continuamente novasdemandas e para visibilizar a própria organizaçom política entre se-tores que com frequência rechaçam estruturas como os partidos.

4. Organizar umha campanha para estimular a militância femininaconsiderando que esta é ainda escassa. Cumpre motivar mulheresde todas as idades. Em Euskal herria, por exemplo, realizam-sefrequentemente atos independentistas de mulheres e isto hoje seriaimpensável na Galiza.

5. No caso de organizarmos campanhas de desobediência civil con-tra Espanha, importa dar-lhe também a focagem de gênero. Assim,umha campanha contra o BI espanhol deve acrescentar-serechaçando o facto de o Estado classificar-nos em hs e ms.

6. Promoçom da simbologia feminista e visibilizaçom na rua e nosatos de massa. A história nom se fai só com guerrilheiros, mas tam-bém com guerrilheiras. O independentismo nom só tem muitascaras masculinas e poucas femininas; é que historicamente adotouno discurso umha épica do herói com a qual muitas mulheres nomse identificam.

7. Fomentar o debate interno e a formaçom sobre as questons degênero é fulcral, mas também manter as reivindicaçons como as-sunto de atualidade na comunicaçom social evitando que as práti-cas feministas se ajustem a umha agenda mediática que nospredispom na sua contra (Que o 25 de novembro se fagam muitascampanhas contra a violência de gênero, de todas as orientaçonse mesmo desde o Governo traduze-se socialmente na ideia de que

55

Causa Galiza

"esse dia toca", nom transforma nada).

8. Rechaçar a violência de gênero, tanto nas agressons mais brutaiscom final trágico, como no caso menos dramático dos micro-machismos da vida diária, consistentes em insultar, desconsiderarou trivializar as mulheres polo simples feito de serem mulheres.

9. Elaboraçom de materiais próprios e divulgaçom dos mesmosentre a militância e fora.

2. 5. As políticas de alianças

2. 5. 1. A viragem soberanista supujo o convite a um novo cenárioàs forças nacionais galegas. A unidade de açom sob parámetrossoberanistas e ruturistas formais, máxime num contexto de forteofensiva capitalista e anúncios da Segunda Transición, é um envitenecessário. O debate nom se situa pois em se participar ou nomnestas novas dinámicas, mas em como faze-lo para: 1º alargar apenetraçom social das teses independentistas; 2º construir linhasde contençom ante os processos de recentralizaçom e empobreci-mento; 3º afortalar as posiçons políticas e ideológicas dos setoresque historicamente trabalhamos em chave de rutura com o regimee o Estado espanhol e 4º inclinar as bases sociais do nacionalismoface posiçons independentistas.

2. 5. 2. A Organizaçom manterá umha interlocuçom permanente ealianças táticas e/ou estratégicas de colaboraçom com as forçassociais, sindicais e políticas comprometidas com a auto-organiza-çom do nosso povo e o desenvolvimento das distintas fases doprocesso de liberaçom nacional e social, mantendo sempre a suasingularidade organizativa e estratégia própria.

2. 5. 3. A Organizaçom procurará a mais estreita relaçom de confi-ança, colaboraçom e coordenaçom com as organizaçons e estru-turas setorais enquadradas no que tradicionalmente se denominaindependentismo histórico, avançando com este e outros setores,face a construçom dum movimento de liberaçom nacional e socialautónomo das grandes apostas nacionalistas e mantendo com elasas colaboraçons pontuais possíveis em cada momento.

2. 5. 4. A iniciativa popular Galiza pola Soberania, à espera de sedespejarem a curto prazo as dúvidas e resistências à suaevoluiçom, materializa hoje um ámbito potencial de unidade deaçom entre agentes sociais, políticos e sindicais e individualidadespor volta da socializaçom da necessidade da soberania política sim-ilar ao que foi no seu dia CAUSA GALIZA –mas ampliado- que deve-mos potencializar porquanto cria condiçons favoráveis à tomada deconsciência nacional do nosso povo e o desenvolvimento da es-tratégia independentista à margem de calendários eleitorais e es-tratégias partidárias. Junto a esta adesom ao projeto e a exposiçomda nossa vontade de apoiá-lo ativamente, apontar também a críticada posiçom hegemónica no seu seio que, a respeito da socializa-

56

Causa Galiza

çom de necessidade da soberania política, insiste em disecionarumha fase didática dumha fase posterior de açom. Da ótica inde-pendentista, ambas som simultáneas e inseparáveis, sendo aaçom, é dizer, o conflito coletivo com Espanha em todas as suasexpressons, a melhor escola independentista imaginável.

2. 5. 5. A Organizaçom acha necessário que as políticas de unidadede açom soberanista, umha vez se ultrapasse a fase atual de aprox-imaçom formal e estabelecimento de canais básicos de comuni-caçom entre agentes chamados a sustentá-las, se estendam alémdos atos e mobilizaçons pontuais, alargando-se à definiçom de lin-has de açom compartilhadas e possibilitando a implicaçom nacionale comarcal de nacionalistas e independentistas sem filiaçom no de-senho e a execuçom destas linhas de trabalho. A nossa disposiçomneste sentido, respeitando as distintas estratégias, é plena.

2. 5. 6. A Organizaçom apoiará com militáncia e recursos GALIZA

POLA SOBERANIA, favorecendo a deriva lógica face postulados inde-pendentistas como única expressom possível da soberania nacionale do “direito a decidir” num Estado incapaz de reconhecer os dire-itos das naçons que submete, socializando o caráter unilateral doprocesso soberanista e a necessidade de construir mecanismosefetivos de empoderamento social ou contra-poder que, para alémda necessária pedagogia de massas, permitam contrapesar os dedominaçom estatal.

2. 6. Os métodos de intervençom sócio-política

2. 6. 1. A Organizaçom desenvolve umha açom sócio-política diáriarumada a fomentar a auto-organizaçom e a tomada de consciêncianacional do povo galego, a construçom nacional, a batalha ideológ-ica, a mobilizaçom e a luita populares, a construçom do movimentoindependentista e a luita eleitoral e institucional.

2.6. 2. A Organizaçom desenvolverá os seus métodos de inter-vençom tendo em conta os limites da legalidade espanhola. Estadecisom nom deriva de admitir a legitimidade do quadro constitu-cional estrangeiro que pretendemos superar mas da necessidadede preservar um espaço de intervençom públicaimprescindível para ganhar o apoio social necessário para o avançodo projeto político.

2.6. 3. A Organizaçom acha legítimas as modalidades de luita queo Povo Galego escolher e desenvolver em cada período históricona defesa dos seus interesses imediatos e estratégicos cara oavanço do seu processo de libertaçom nacional e social.

57

Causa Galiza

“A Organizaçom considera legítimas todas as modal-idades de luita que o Povo Galego escolhe em cadaperíodo histórico na defesa dos seus interesses”

2.6.4. A organizaçom solidariza-se com as mulheres e homes retal-iados polo regime espanhol por participar no processo de libertaçomnacional e social e/ou nas luitas populares do nosso povo.

2. 7. A intervençom nos movimentos e as organizaçons popu-

lares

2. 7. 1. A desconfiança que tradicionalmente sinte a maioria dasgalegas e galegos face a política e as organizaçons políticas quasesem exceçons encontra-se hoje no seu zénite. As causas últimasdeste distanciamento residem no crescente empobrecimento e pre-carizaçom do nosso povo, que fijo com que um risco identitário tamcaraterístico do Estado espanhol como a corrupçom institucional sefigesse insuportável a olhos das maiorias e forçasse a atual crisede legitimidade do regime.

2. 7. 2. Embora as causas profundas da ausência de legitimidadedo sistema político atual e, sobretodo, do divórcio da luita social e“a política”, som óbvias, ficariamos a meio caminho na compreen-som deste fenómeno se acreditássemos que a deserçom de cen-tenas de independentistas da açom política organizada se explicaa partir da perversidade do sistema. De fato, esta foi sempre o es-tímulo ideal para a politizaçom e a organizaçom de militantes.

2. 7. 3. Indo a níveis mais cercanos e condicionáveis, temos quefixar a atençom na desmobilizaçom que provocou no país a instru-mentalizaçom interesseira dos movimentos populares polo na-cionalismo hegemónico –socialmente percebido até etapashistoricamente recentes como “ruturista”- ao serviço de estratégiaslimitadamente eleitoralistas e institucionalistas. Esta supeditaçomda auto-organizaçom e a luita popular às necessidades e ritmos dapolítica representativa, que foi a principal modalidade de inter-vençom política do BNG, é umha outra das causas explicativas dacrescente desafeiçom de setores militantes da necessidade de con-struir umha pinça entre açom social e política e da escolha exclusivada primeira como presunta vacina contra manipulaçons e interessesmiseráveis. Assim, em versom forçosamente light, porquanto oBNG, a diferença do PNV e CIU nas suas respetivas naçons, nuncafoi hegemónico na institucionalidade que Espanha instalou no paísagás, parcialmente, no período do bipartido, contemplamos a pe-quena escada as contradiçons e misérias do nacionalismo institu-cional na relaçom com o movimento popular galego. Neste sentido,fôrom paradigmáticos nestas décadas o crescente abandono darua, a ativaçom de conflitos e mobilizaçons sociais em épocas pré-

58

Causa Galiza

“A auto-organizaçom popular é um fator chave paraa estratégia independentista num contexto onde nomexistem vias democráticas para conquistar os obje-tivos políticos”

eleitorais, a consolidaçom dumha perspetiva errada da luita na-cional que cifrava todas as expetativas no controlo dos resortes in-stitucionais da Junta, ou o acontecido em 2003 com Nunca mais,quando os setores situados à frente dumha das mobilizaçons demassa mais importantes da nossa história, para além de dedicar-se à exclusom do independentismo com argumentários próprios daDelegaçom do Governo de Espanha, decidírom meter freio ante aproximidade dum novo processo eleitoral.

2. 7. 4. A subordinaçom, de fato, das luitas populares e a auto-or-ganizaçom às necessidades da política institucionalista, esque-cendo o valor fulcral e irrenunciável das duas primeiras no processode liberaçom nacional, é o fruto podre dumha visom autonomistada construçom nacional que situa o centro da açom política nas in-stituiçons e esquece que, sem umha ampla auto-organizaçom pop-ular, sem poder real na rua, é inviável umha estratégia nacionalistaque vaia além da reforma cosmética e da gestom institucional dacolonizaçom. Esta visom é a que imperou durante décadas nestepaís e umha das suas causas, se acreditamos numha explicaçomhistórica plenamente vigente, é a preminência da pequena burgue-sia ou das chamadas classes médias acomodadas no nosso movi-mento nacional.

2. 7. 5. O movimento independentista tampouco pode botar balonsfora à hora de explicar a desconfiança ou o distanciamento subje-tivos. A umha escada obrigatoriamente inferior, a conflituosidade in-terna do movimento percebida nos movimentos e agentes sociaisem que agimos também alentou as o divórcio artificial entre trabalhopolítico e trabalho social que condena à inanidade o processo in-dependentista.

2. 7. 6. Dado que nom acreditamos na existência de incompatibili-dades ontológicas entre umha e outra instáncia, isto é, entre movi-mentos, organizaçons e projetos sociais e política e organizaçonspolíticas, mas na necessidade dumha complementariedade e inter-relaçom fértil de ambas para impulsionar o processo de liberaçomnacional e social do país, torna-se umha exigência, após identificaras causas do divórcio, procurar a sua superaçom. Neste sentido, anova Organizaçom deve ser extremadamente cuidadosa na re-laçom com os movimentos populares, respeitar com fatos a sua au-tonomia relativa, caraterizar-se polo compromisso ativo da nossamilitáncia na sua consolidaçom e evitar dinámicas erróneas que nopassado fôrom inerentes ao nacionalismo hegemónico.

2. 7. 7. A auto-organizaçom popular é um fator chave para a es-tratégia independentista galega num contexto onde nom existemvias democráticas para conquistar os objetivos políticos. Compreen-demos esta necessidade já nom apenas como a afirmaçom dummarco geográfico nacional de luita de classes, mas também e so-bretodo como empoderamento efetivo e quotidiano das galegas egalegos na defesa dos nossos interesses como povo e principal fór-mula de condicionamento e pressom sobre os poderes políticos,

59

Causa Galiza

económicos e ideológicos que perpetuam a nossa opressom na-cional e social.

2. 7. 8. Neste marco interpretativo geral, a auto-organizaçom pop-ular adquire valor próprio como expressom da naçom em con-struçom, como escola e baluarte de resistência e manifestaçom dosujeito político que é o povo galego. Desta ótica, o valor e a signifi-caçom da auto-organizaçom popular torna-se mais importante queo acompanhamento ou apoio dumha estratégia que, como a quepredominou historicamente, estivo rumada à tomada e a gestom doentramado institucional outorgado, para se converter em conditiosine qua non do próprio processo de liberaçom nacional. Dito poroutras palavras, é inviável desenvolver o processo independentistanumha sociedade desestruturada organizativamente. Neste sen-tido, corresponde sem exclusividades ao independentismo assumirduas tarefas em constante retro-alimentaçom: construir o mLNG eimpulsionar a auto-organizaçom do nosso povo, rechaçando qual-quer cisom entre política independentista e movimentos sociais, de-fendendo a autonomia e necessária radicalidade destes efomentando a sua condiçom de contra-poderes.

2. 7. 9. Consequentemente com esta afirmaçom, a participaçom damilitáncia da Organizaçom nos movimentos populares rechaça apatrimonializaçom e procura o seu afortalamento organizativo e em-poderamento, convertendo-os em muros de contençom para a de-fesa da naçom nos ámbitos em que intervenhem, à vez quepersegue desde o diálogo o seu madurecimento político-ideológico.A velha e ainda vigente concepçom que olha nos movimentos so-ciais correias de transmissom sem valor próprio ao serviço de es-tratégias reformistas está em queda livre e devemos ajudar paraque seja definitivamente apartada.

2. 8. A construçom e a defesa nacional numha fase longa sem

estruturas estatais

2. 8. 1. Perspetivamos a liberaçom nacional como o processo sócio-político de massas que desemboca na constituiçom dum Estado in-dependente sob a hegemonia da maioria social, no marco dumhasociedade auto-organizada e da existência de múltiplas modali-dades de poder popular paraestatal. Se bem é óbvio que no mundoatual, dominado por poderosos entramados económicos, mediáti-cos, políticos e militares, o Estado nom tem capacidades ilimitadasde decisom política, como evidenciam os casos de Portugal, Es-panha ou Grécia, também o é que neste mesmo contexto um Es-tado Galego auto-excluido da UE e da Zona Euro e em interaçompermanente com um povo auto-organizado, dotaria o país da máx-ima capacidade de decisom hoje imaginável na gestom das suasinter-dependências e, em qualquer caso, largamente superior à queoutorga a condiçom de Comunidade Autónoma dum Estado queavança face se configurar como protetorado do BCE. O EstadoGalego é pois da nossa ótica a ferramenta imprescindível, mas nomexclusiva, para a descolonizaçom e a transformaçom revolucionária

60

Causa Galiza

da sociedade galega. A inexistência dumha burguesia nacional im-plicada no processo é a garantia de que este apenas se pode con-struir sobre a participaçom e a direçom da maioria social galega.

2. 8. 2. Abordar as tarefas da construçom nacional e a defesa dosinteresses populares numha fase sem Estado próprio que se anun-cia longa exige um alto nível de auto-organizaçom da maioria socialgalega, de modalidades de poder para-institucional e de mecanis-mos que contrapesem o poder coativo e narcótico da normalidadedemocrática. Desta ótica, achamos que a presença e intervençominstitucional independentista mais do que se conceber como gestomou cuidados paliativos para o país deve supeditar-se a estas ex-igências.

2. 8. 3. travar um conflito de soberania e de poder com Espanha,com carácter poliédrico e crescente participaçom de massa, é umdos peares nos que construir o processo de liberaçom nacional. En-tendemos por conflito o confronto permanente entre os interessesobjetivos da maioria social galega e os da oligarquia económica efinanceira que rege os destinos do país. Conflito que, agudo ou lar-vado, segundo ocasions, épocas históricas e frentes de atuaçom,possibilita a visibilizaçom das contradiçons em jogo, a tomada deconsciência coletiva e o avanço das posiçons independentistas.

2. 9. Programa tático e programa estratégico

2. 9. 1. A Organizaçom tem por objetivo estratégico a conquista daindependência e a construçom dum Estado, em forma de RepúblicaGalega, submetido ao controlo da maioria social e dos contra-poderes gerados nos processo de liberaçom nacional. É a partirdeste salto histórico, e só a partir dele, que perspetivamos a con-struçom do socialismo no país adaptado às condiçons territoriais,demográficas, sócio-económicas, históricas e identitárias da nossaformaçom social, assim como avanços qualitativos na extinçom dopatriarcado. Assim, concebemos a conquista da independênciacomo conditio sine qua non para o Povo Galego defender os seusinteresses imediatos, transformar o modelo sócio-económico na-cional e extinguir a opressom e a exploraçom das mulheres poloshomes. Esta conceçom em absoluto implica postergar a luita daclasse trabalhadora galega pola destruiçom do sistema capitalista,ou a das mulheres galegas para a destruiçom do sistema patriarcal.todo ao contrário, presupom que ambas se devem desenvolver eafortalar dentro do processo de liberaçom nacional, enriquecendo-o, facilitando a incorporaçom de mulheres e classe trabalhadora aocaudal independentista com a consciência de que a conquista dumEstado próprio possibilitará saltos qualitativos na conquista deambos objetivos. Desta ótica, a soluçom da nossa questom nacional

61

Causa Galiza

“Um Estado Galego (...) em interaçom permanentecom um povo auto-organizado dotaria o país da máx-ima capacidade de decisom hoje imaginável”

é já nom apenas “um direito” nos termos da legalidade internacional,ou “umha necessidade coletiva”, mas a ponte que nos permitirátransitar face um sistema socialista de produçom e distribuiçom dariqueza –Socialismo- enriquecido com as achegas da luita feministae as correntes que postulam a superaçom do produtivismo e o de-crescimento.

2. 9. 2. A possível elaboraçom dum programa tático como propostapolítica ante umha hipotética Segunda Transición, se pretender seralgo mais do que um documento simbólico, nom seria estritamente“partidário”, mas construido com outras forças e setoressoberanistas e independentistas no marco das unidades de açomem curso e desde as luitas sociais. A enunciaçom do horizonte in-dependentista como única possibilidade real de soberania e areivindicaçom da Amnistia para @s independentistas pres@s somcom certeza algumhas das principais achegas qualitativas que po-damos fazer a esse eventual programa para além de que procure-mos condicioná-lo à alça num sentido patriótico e socialista emtodos os aspectos.

2. 10. Necessidade de afortalar a consciência nacional galega

2. 10. 1. O afortalamento da consciência nacional do nosso povocomo comunidade etnocultural e sujeito político da sua soberaniaé conditio sine qua non do processo de liberaçom nacional. Se afir-mamos que neste país é inviável um processo de liberaçom socialque nom transite previamente pola alfândega da soberania, comigual contundência proclamamos que a sua conquista é impossívelsem potencializar os níveis atuais de consciência nacional e auto-estima e elevá-los à condiçom de hegemónicos.

2. 10. 2. A importáncia desta tomada maciça de consciência na-cional, que é combatida, relativizada ou devaluada historicamentepolo espanholismo nas suas versons de direita e esquerda e, in-cluso, paradoxalmente, por setores que se proclamam formalmente“nacionalistas” ou “independentistas”, reside em que neste país éinviável desenvolver um processo de auto-organizaçom e liberaçomnacional e social sem fazer, em paralelo, um trabalho político e psi-cossocial de dignificaçom e potencializaçom da auto-estima damaioria social. Paradoxalmente, o Estado espanhol é mais cienteda significaçom deste fator do que setores proclamados progres-sistas e destina políticas e recursos ingentes para a nossa espan-holizaçom, o enfraquecimento da nossa consciência nacional e aculminaçom do processo de substituiçom identitária. A aprovaçomda LOmCE é, neste sentido, o último passo dado nesta estratégia

62

Causa Galiza

“Defendemos a tese de que liberaçom nacional e lib-eraçom social som duas caras da mesma moeda, masa conquista da independência é o imprescindívelprimeiro passo”

de fundo. Do mesmo modo, a sociedade de consumo moderna que,dum modo imperfeito e contraditório, se impujo na Galiza, operacomo fator de espanholizaçom no sentido de desvestir os indivíduosde identidades e laços de pertença e sumi-los na condiçom atom-izada e solitária de consumidor, votante, televidente ou cidadám,dado que a atomizaçom social é o cenário onde o Capital se tornamais efetivo e reduz o risco da conflituosidade.

2. 10. 3. tanto a extrema direita governante na Galiza administrativacomo a esquerda espanhola reduzem a reivindicaçom nacionalgalega a umha questom identitária, limitando a sua significaçom ealcanço prático. Para os primeiros, “o importante é saír da crise numpais onde as duas identidades convivem em harmonia”. Os segun-dos, apesar de se destacarem historicamente por trair os interessespopulares galegos, promover políticas de pacto com o Estado e opatronato e desmobilizar a sociedade, convocam-nos agora paraque nos ocupemos dos “problemas reais da gente”, que desligamdebalde da questom identitária, isto é, da reivindicaçom da sobera-nia política, como se esta nom tiver a ver com os nossos problemassócio-económicos, laborais, de ordenaçom territorial, etc. e a abor-dagem resolutiva destes fosse fatível no raquítico quadro au-tonómico.

2. 10. 4. As evoluiçons contempladas no ámbito político-partidárionacionalista nestes dous últimos anos seriam incompreensíveissem referirmo-nos à debilidade da consciência nacional de impor-tantes setores sociais e políticos que, paradoxalmente, se procla-mam “nacionalistas” ou “independentistas”. Assim, observamoscomo quem foi historicamente remisso a desenvolver umha ex-plícita aposta independentista mostra agora, de novo, quando ascondiçons objetivas e subjetivas para o avanço desta som espe-cialmente favoráveis, sintomas da tradicional indecisom para falarclaro pensando no cálculo eleitoral curto-prazista porque “o povonom entende”. De deixarmo-nos levar por estes prejuízos que de-latam os medos da pequena burguesia, a presunta incapacidadeda populaçom nacional para interiorizar e assumir o programa e aestratégia independentista se manterá sine die, porquanto é impos-sível ganhar a hegemonia social dum objetivo político que nuncase formula de modo explícito.

Por outra parte, descendendo ainda mais numha degradaçom detonalidades soberanistas, encontramo-nos com quem, à vista dacrise atual do Estado espanhol, anunciam “soluçons excecionais”,que em realidade nada tenhem de novidoso, como a desvaloriza-çom da questom nacional galega e o retorno a posiçons pré-na-cionalistas materializando a alianças eleitorais e, no futuro, secalhar orgánicas, com a esquerda espanhola. Como pano de fundo,o questionamento da capacidade do povo galego para desenvolverdesde as suas forças e potencialidades endógenas o processo deliberaçom nacional, o recurso como aliado a umha esquerda espan-hola sempre reácia a ir para além do “respeito” (sic) às nossasreivindicaçons nacionais e o abraço por façons que se reclamam

63

Causa Galiza

“independentistas” da Posición Luis Soto, que abre as portas à con-vergência com o espanholismo.

2. 10. 5. O apoio de forças e militantes formalmente independentis-tas a alianças orgánicas e eleitorais com forças espanholas; o ques-tionamento oportunista da centralidade da contradiçom principal12

por históricos dirigentes e organizaçons nacionalistas, pondo emquestom a sua própria trajetória; a confusom generalizada sobre asrelaçons entre questom nacional e questom social, que levou aaparecer como ruturistas forças políticas que reduzem de modo gra-tuito a primeira a umha questom identitária ou alheia aos problemasreais da gente, etc. som fatos objetivos que delatam o oportunismode quem adoptárom estas estratégias, mas também deficiênciasmais preocupantes como a desorientaçom e falta de formaçom dasbases sociológicas do nacionalismo e do independentismo. O pro-jeto político a constituir, para além do ámbito político-partidário,deve trazer em conta a urgência de potencializar a consciência na-cional galega por todas as vias possíveis como vacina certa contraeste tipo de derivas e elemento fundamental do nosso movimento.

2. 10. 6. O nosso movimento, que defende a tese de que liberaçomnacional e liberaçom social som na Galiza duas caras da mesmamoeda, é valedor também da tese A independência, primeiro,porque a aplicaçom de políticas sócio-económicas, laborais, degénero, de ordenaçom do território, identitárias, etc. que tenhamcomo destinatária a maioria social e, ainda mais, a mudança domodelo económico e produtivo e a superaçom da opressom degénero, som inviáveis no atual quadro estatutário –menos, ainda,na arquitetura institucional que resultará do processo de recentral-izaçom- e demandam marcos de plena soberania política eeconómica. Esta perspetiva compatibiliza-se com o fato de, nas or-ganizaçons independentistas, na formaçom militante, na inter-vençom social e política diária, se desenvolver umha luitasistemática contra a opressom de classe e a opressom de géneroque afortale estas posiçons no seio do povo galego e ganhe apoiospopulares para o projeto e a estratégia independentista.

2. 10. 7. Nós nom plantejamos um processo revolucionário quesupere magicamente todas as contradiçons que atravessam anaçom galega, sejam de classe, género, etc., mas um processo deliberaçom nacional liderado e hegemonizado pola maioria social emchave de esquerda que numha primeira fase substraia a naçom aopoder absoluto do império e nos situe como povo em melhorescondiçons para avançar face o Socialismo. Neste marco interpre-tativo geral, o nenguneio ou relativizaçom da significaçom políticada questom nacional som objetivamente valedores da unidade demercado espanhola e, em última instáncia, a derradeira trincheirana defesa do status quo.

2. 10. 8. A potencializaçom da consciência nacional galega é irre-

64

Causa Galiza

12. Entrevista a X.M Beiras em El País de 3 novembro de 2013

dutível ao trabalho a desenvolver desde a política organizada: exigealiás umha atuaçom capilar e de proximidade sobre todo o corposocial galego, que se exprima na reivindicaçom lingüística, de-sportiva, associativista, cultural, sindical, etc. A unidade de açomsoberanista em gestaçom nestes meses tem neste aspecto umhadas suas possíveis linhas preferentes de atuaçom.

65

Causa Galiza