Teste de 10 º Ano - Conto

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Teste de 10 º ano- Contos do séc. XX- com soluções I - A Lê com atenção o texto que se segue e responde com frases completas e bem estruturadas às perguntas: 1 5 10 15 20 “Entrei pela porta de um livro e fechei-me lá dentro com as palavras acesas e as luzes apagadas. A minha mãe deu voltas à casa à minha procura. “Onde é que o miúdo se terá metido?” Com medo de ser encontrado, eu saltava das páginas pares para as ímpares e enrodilhava-me, feito bicho- de-conta, entre dois parêntesis ou, por ser muito magro, atrás de um ponto de exclamação. Era a primeira vez na minha vida que eu me fechava dentro de um livro. (…) O livro era agora o meu refúgio e a minha casa, uma casa onde tudo era imprevisível e estranho e onde as letras tinham espessura e cheiro como se fossem humanas. Confesso que me perdi lá dentro, como já antes me perdera no labirinto de esferovite do parque de diversões que animava os meses de Verão da minha terra. ― O que fazes tu aqui se não pertences a esta história? ― perguntou-me um espadachim trajando a preceito, enquanto me apontava ao peito o seu aguçado florete. ― Nada, desculpe ― respondi ―, eu estou aqui de passagem, para fugir aos castigos da minha mãe. Se me tirar isso do peito, eu prometo que saio já do seu caminho. (…) Perplexo e exausto, decidi mudar de capítulo, esperando encontrar uma etapa mais apaziguadora da narrativa. Mas enganava-me. Ainda mal me aventurara naquelas páginas desconhecidas quando dois cavaleiros galopando a toda a brida me obrigaram a saltar para a berma para não ser trucidado pelos cascos dos cavalos. Confesso que começava a sentir saudades da minha mãe, dos seus gritos ecoando pela casa enquanto me procurava, das punições injustas por abusos que eu não cometera. É verdade, tinha saudades da minha mãe, esperando-me à porta do quintal com chinelos e avental e com uma chibata de pôr atrevidos na ordem.

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Teste de portugues 10º ano sobre "o Conto"

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Page 1: Teste de 10 º Ano - Conto

Teste de 10 º ano- Contos do séc. XX- com soluções

I -A

Lê com atenção o texto que se segue e responde com frases completas e bem estruturadas às perguntas:

1

5

10

15

20

25

“Entrei pela porta de um livro e fechei-me lá dentro com as palavras acesas e as luzes apagadas. A minha mãe deu voltas à casa à minha procura. “Onde é que o miúdo se terá metido?” Com medo de ser encontrado, eu saltava das páginas pares para as ímpares e enrodilhava-me, feito bicho-de-conta, entre dois parêntesis ou, por ser muito magro, atrás de um ponto de exclamação. Era a primeira vez na minha vida que eu me fechava dentro de um livro. (…)

O livro era agora o meu refúgio e a minha casa, uma casa onde tudo era imprevisível e estranho e onde as letras tinham espessura e cheiro como se fossem humanas. Confesso que me perdi lá dentro, como já antes me perdera no labirinto de esferovite do parque de diversões que animava os meses de Verão da minha terra.

― O que fazes tu aqui se não pertences a esta história? ― perguntou-me um espadachim trajando a preceito, enquanto me apontava ao peito o seu aguçado florete.

― Nada, desculpe ― respondi ―, eu estou aqui de passagem, para fugir aos castigos da minha mãe. Se me tirar isso do peito, eu prometo que saio já do seu caminho. (…)

Perplexo e exausto, decidi mudar de capítulo, esperando encontrar uma etapa mais apaziguadora da narrativa. Mas enganava-me. Ainda mal me aventurara naquelas páginas desconhecidas quando dois cavaleiros galopando a toda a brida me obrigaram a saltar para a berma para não ser trucidado pelos cascos dos cavalos. Confesso que começava a sentir saudades da minha mãe, dos seus gritos ecoando pela casa enquanto me procurava, das punições injustas por abusos que eu não cometera. É verdade, tinha saudades da minha mãe, esperando-me à porta do quintal com chinelos e avental e com uma chibata de pôr atrevidos na ordem.

Eu entrara inadvertidamente naquele livro, mais pelo prazer da aventura do que pelo da leitura. Queria fazer uma partida à família e aquela pareceu-me ser a forma mais engenhosa e eficaz. Agora estava perdido dentro de um livro e não conseguia encontrar a porta que me devolvesse ao pequeno mundo do exterior onde estavam os brinquedos, os trabalhos de casa, os bichos-da-seda, os cromos do futebol e a minha fantástica coleção de conchas.

José Jorge Letria, A mão esquerda de Cervantes, Biblioteca Prestígio, 1998

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1. dentifica a personagem principal e caracteriza-a, referindo os processos utilizados.

2. Esclarece os objetivos que levaram o narrador àquele “lugar”.

3. Regista os sentimentos que o dominaram, ao longo do seu percurso de leitor daquela história.

4. Classifica o narrador e retira dois excertos do texto que comprovem a tua resposta.

5. Retira do primeiro parágrafo uma antítese e explicita o seu valor expressivo.

B

Num texto bem estruturado, entre 50 e 80 palavras, refere-te resumidamente às características do conto que se concretizam neste excerto.

II

Seleciona uma das hipóteses:

Escreve um texto narrativo (aplicando as categorias da narrativa) com um mínimo de cento e cinquenta e um máximo de duzentas palavras, subordinado a um dos seguintes títulos:

A- Uma aventura na floresta

B- Uma aventura no parque de diversões

C- Uma aventura no jardim zoológico

Atenção: *Antes de redigires o texto, esquematiza, numa folha de rascunho, as ideias que pretendes desenvolver na introdução, no desenvolvimento e na conclusão (planificação);

*Tendo em conta a tarefa, redige o texto segundo a tua planificação (textualização);

*Segue-se a etapa de revisão, que te permitirá detetar eventuais erros e reformular o texto. Para tal, consulta o conjunto de tópicos que a seguir te apresento:

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Correção do teste

A (questões e respostas retiradas do manual Página Seguinte de 10º ano, da Texto Editores)

1. A personagem principal é o narrador, um rapazinho muito magro (caracterização direta). Era um menino atrevido, aventureiro, educado, dinâmico (caracterização indireta).

2. Os seus objetivos eram esconder-se da mãe para não ser castigado e chamar a atenção da família.

3. Os sentimentos que o dominaram foram: coragem, insegurança, medo, perplexidade, exaustão, saudades da mãe, fascínio, dúvida e desejo de regressar à realidade.

4. O narrador é autodiegético: “Entrei pela porta de um livro…”; Era a primeira vez na minha vida…”.

5. “palavras acesas e as luzes apagadas”; a concentração na leitura afastava-o da realidade que o cercava.

B. Este excerto pertence ao género do conto uma vez que notamos um reduzido número de personagens (o narrador, o espadachim e os cavaleiros), o espaço limita-se ao livro onde o narrador entrou e o tempo é igualmente limitado, desenrolando-se a aventura num único dia. Existe ainda um narrador autodiegético e unidade da ação, já que a diegese se concentra na fuga do rapaz (63 palavras).