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Teste de Propriedades em Torneios Henrique Stagni Dissertação apresentada ao Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Programa: Ciência da Computação Orientador: Prof. Dr. Yoshiharu Kohayakawa Durante o desenvolvimento deste trabalho o autor recebeu auxílio financeiro do CNPq São Paulo, abril de 2015

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Teste de Propriedades em Torneios

Henrique Stagni

Dissertação apresentadaao

Instituto de Matemática e Estatísticada

Universidade de São Paulopara

obtenção do títulode

Mestre em Ciências

Programa: Ciência da ComputaçãoOrientador: Prof. Dr. Yoshiharu Kohayakawa

Durante o desenvolvimento deste trabalho o autor recebeu auxílio financeiro do CNPq

São Paulo, abril de 2015

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Teste de Propriedadesem Torneios

Esta versão da dissertação contém as correções e alterações sugeridaspela Comissão Julgadora durante a defesa da versão original do trabalho,realizada em 26/01/2015. Uma cópia da versão original está disponível no

Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.

Comissão Julgadora:

• Prof. Dr. Yoshiharu Kohayakawa (orientador) - IME-USP

• Prof. Dr. Carlos Hoppen - UFRGS

• Prof. Dr. Daniel Morgato Martin - UFABC

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Resumo

STAGNI, Henrique. Teste de Propriedades em Torneios. Dissertação — Instituto de Matemá-tica e Estatística, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

Teste de propriedades em grafos consiste no estudo de algoritmos aleatórios sublineares que deter-minam se um grafo G de entrada com n vértices satisfaz uma dada propriedade ou se é necessárioadicionár ou remover mais do que ε

(n2

)arestas para fazer G satisfazê-la, para algum parâmetro de

erro fixo ε. Uma propriedade de grafos P é dita testável se, para todo ε > 0, existe um tal algoritmopara P cujo tempo de execução é independente de n. Um dos resultados de maior importância nestaárea, provado por Alon e Shapira, afirma que que toda propriedade hereditária de grafos é testável.

Neste trabalho, apresentamos resultados análogos para torneios — grafos completos nos quaissão dadas orientações para cada aresta.

Palavras-chave: teste de propriedades, torneios, lema de regularidade.

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Abstract

STAGNI, Henrique. Property Testing in Tournaments Thesis — Instituto de Matemática eEstatística, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

Graph property testing is the study of randomized sublinear algorithms which decide if an inputgraph G with n vertices satisfies a given property or if it is necessary to add or remove more thanε(n2

)edges to make G satisfy it, for some fixed error parameter ε. A graph property P is called

testable if, for every ε > 0, there is such an algorithm for P whose run time is independent of n.One of the most important results in this area is due to Alon and Shapira, who showed that everyhereditary graph property is testable.

In this work, we show analogous results for tournaments — complete graphs in which everyedge is given an orientation.

Keywords: property testing, tournaments, regularity lemma.

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Sumário

Notação vii

1 Introdução 1

2 Conceitos Iniciais 32.1 Torneios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32.2 Teste de Propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52.3 Exemplo: transitividade é uma propriedade testável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3 Inevitabilidade e Abundância de subtorneios 113.1 Regularidade em torneios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.1.1 Definições iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123.1.2 Lema de regularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143.1.3 Considerações sobre o Lema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.2 Imersão de torneios em pares regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4 Testando subtorneios 234.1 Abundância de um subtorneio é fechada por homomorfismo . . . . . . . . . . . . . . 244.2 Lema forte da regularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254.3 Demonstração do Lema da Remoção para Torneios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284.4 Subtorneios facilmente testáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

5 Caracterização das propriedades testáveis com erro-unilateral 315.1 Testando famílias infinitas de subtorneios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315.2 Propriedades semi-hereditárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

6 Caracterização de propriedades testáveis 356.1 Exemplo de propriedade não testável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

7 Considerações finais 397.1 Subtorneios facilmente testáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 407.2 Resultados adicionais para torneios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

A Desigualdade de Chebyshev e Cotas de Chernoff 43

v

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vi SUMÁRIO

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Notação

– Denotamos o conjunto {1, 2, . . . , n} por [n].

– Escrevemos f : A� B ao definir uma função f ∈ BA injetora.

– Dados d, η, ε ∈ R, escrevemos d = η ± ε para indicar que η − ε ≤ d ≤ η + ε.

– Definimos a função TOWER : N → N dada por: TOWER(0) = 1 e TOWER(k) = 2TOWER(k−1), paratodo k > 0.

– Definimos a função WOW : N → N dada por WOW(0) = 1 e WOW(k) = TOWER(WOW(k − 1)), paratodo k > 0.

– Para uma função f : R → R, definimos f (1)(x) = f(x) e f (n)(x) = f(f (n−1)(x)) para todon > 1.

– Escrevemos f(x) = poli(x) para indicar que a função f pode ser limitada por polinômio em x.

– Escrevemos δ(ε) = poli<(ε) para denotar que a função ε−1 7→ (δ(ε))−1 pode ser limitada porum polinômio em ε−1.

– Ao fazermos referências, colocamos um subíndice gr para indicar que o resultado referenciadonão é sobre torneios, tratando-se na verdade de uma versão análoga (do resultado em questão)para o caso de grafos (ou digrafos).

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viii NOTAÇÃO

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Capítulo 1

Introdução

Teste de propriedades consiste no estudo de algoritmos de decisão capazes de distinguir (com altaprobabilidade) se um objeto de entrada possui uma certa propriedade ou se está longe de satisfazê-la(de acordo com alguma métrica no espaço dos objetos considerados) [20]. Tais algoritmos, deno-minados testadores, devem consumir tempo sublinear no tamanho da entrada, isto é, apenas umapequena parte dos objetos considerados pode ser inspecionada.

O estudo desse tipo de algoritmo é motivado por situações em que o tamanho dos objetosconsiderados é tão grande que não é desejável, ou até mesmo possível, sequer ler toda a entrada.Ainda assim, gostaríamos de determinar, mesmo que de forma aproximada, se tais objetos satisfazemuma certa propriedade. Testadores também podem ser usados como um pré-processamento querapidamente descarta objetos que estão longe de satisfazer a propriedade de interesse, permitindoque um algoritmo de decisão exata seja aplicado apenas às demais entradas.

Testadores de propriedades foram inicialmente considerados no contexto de verificação de cor-retude de programas. Blum, Luby e Rubinfeld [12] mostraram ser possível testar se a função com-putada por um dado programa é linear após examinar os valores que ela assume em apenas algunspontos amostrados do domínio. Rubinfeld e Sudan [29] formalizaram o conceito de teste de propri-edades pela primeira vez (ver [16]) ao estudar outras propriedades algébricas de funções, além delinearidade, que também podem ser testadas.

Em [21], Goldreich, Goldwasser e Ron fazem uma abordagem mais genérica que considera testede propriedades como um modelo computacional aplicável a diversos tipos de objetos. Também nessetrabalho, testadores de propriedades de grafos são considerados pela primeira vez. Ao estudar estetipo de algoritmo, é necessário especificar uma medida de distância entre grafos. No dito modelodenso (um dos dois modelos mais estudados, sendo o outro restrito a grafos com grau máximolimitado [19]), a distância entre dois grafos é dada pela fração de arestas que devem ser adicionadasou removidas do primeiro para torná-lo isomorfo ao segundo. Além disso, o acesso ao grafo deentrada deve ser feito por meio de consultas que determinam se um par de vértices induz ou nãouma aresta. Dadas tais restrições, um parâmetro de erro 0 < ε < 1 é fixado, e testadores para umapropriedade P devem (com alta probabilidade) aceitar grafos que satisfazem P e rejeitar grafosε-longe de P, isto é, grafos cuja distância àqueles que satisfazem P é maior que ε.

Ao se considerar teste de propriedades em grafos, boa parte da atenção é voltada a algoritmosque fazem um número constante de consultas, isto é, independente do tamanho da entrada —nesse caso, a eficiência de um testador é medida pela dependência do número de consultas com oparâmetro de erro ε. Mesmo com essa restrição, Goldreich, Goldwasser e Ron [21] mostraram que

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2 INTRODUÇÃO 1.0

uma certa classe de propriedades — incluindo algumas cujo problema de decisão exato é NP-difícil,tais como k-colorabilidade — são testáveis. De forma ainda mais surpreendente, Alon e Shapira [9]mostraram que todas as propriedades hereditárias de grafos são testáveis em tempo constante. Alon,Fischer, Newman e Shapira [5] forneceram uma caracterização completa das propriedades de grafostestáveis (com número constante de consultas), envolvendo conceitos sobre regularidade em grafos.Uma outra abordagem de teste de propriedades, que faz uso de objetos limite não será expostaneste trabalho. Recomendamos ao leitor interessado em tal abordagem consultar a monografia deLovász [26, Capítulo 15].

Fischer [17] estendeu alguns dos resultados conhecidos à época para outras estruturas combina-tórias, como torneios — grafos completos em que cada aresta recebe uma orientação. O foco destetrabalho consiste no estudo de teste de propriedades em tal estrutura.

No próximo capítulo, fixamos a notação sobre torneios e introduzimos os conceitos básicosa respeito de teste de propriedades. No capítulo 3 apresentamos ferramentas, tais como o Lemade Regularidade de Szemerédi, que serão usadas no capítulo 4 para mostrar que, para qualquersubtorneio Th fixo, a propriedade “ser livre de cópias de Th” é testável. Também mostramos quepara uma certa classe de subtorneios Th, fechada sobre uma operação de blow-up de vértices, talpropriedade pode ser facilmente testável (isto é, testável com um número de consultas apenaspolinomial em relação ao parâmetro de erro ε), o que evidencia em relação a teste de propriedadesde grafos — apenas um conjunto finito de subgrafos H é tal que a propriedade de grafos “ser livrede cópias de H” é facilmente testável.

No capítulo 5 generalizamos resultados obtidos no capítulo anterior para mostrar que qualquerpropriedade hereditária de torneios é testável. Também mostramos que essas são, essencialmente,as únicas propriedades testáveis sobre uma certa restrição usual (a saber, quando exigimos quetorneios que satisfazem a propriedade de interesse sejam aceitos com probabilidade 1) e mostramos,no capítulo 6, um exemplo de uma propriedade de torneio que não pode ser testada. No capítulo 7,retomamos os resultados apresentados e os comparamos com os resultados análogos existentes paragrafos (e digrafos).

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Capítulo 2

Conceitos Iniciais

Neste capítulo, damos a definição e alguma propriedades básicas de torneios que serão necessáriasnos capítulos seguintes. Também introduzimos os conceitos básicos a respeito de teste de proprie-dades e damos um exemplo de uma propriedade testável de torneios.

2.1 Torneios

Definição 2.1 (digrafo). Um digrafo é um par D = (V,A), onde V é um conjunto finito e A ⊆(V × V ) \ {(v, v) : v ∈ V } é um conjunto de pares ordenados de elementos distintos de V . ♦

Os elementos de V são os vértices e os de A são os arcos do digrafo D. Dado um digrafo D,também denotamos esses conjuntos por V (D) e A(D), respectivamente. Um arco (u, v) tambémserá denotado por −→uv. Se um arco −→uv ∈ A, dizemos que a orientação desse arco é de u para v. Nessecaso, também dizemos que u domina v e denotamos essa relação por u D−→ v ou apenas por u −→ v,quando não houver possibilidade de confusão. Observe, ainda, que permitimos 2-ciclos em nossadefinição, isto é, que existam vértices u, v tais que u −→ v e v −→ u. Se um digrafo G é tal que u −→ v

implica v −→ u, dizemos G é um grafo1.

Definição 2.2 (torneio). Um torneio é um digrafo (V,A) tal que para todo par u, v ∈ V , u 6= v,−→uv ∈ A⇔ −→vu /∈ A. ♦

Em outras palavras, um torneio é um digrafo completo em que não há 2-ciclos.

Notação 2.3 (tamanho de um torneio). O tamanho |T | de um torneio T = (V,A) é dado pelacardinalidade de V . Ao denotarmos um torneio por Tn, estará implícito que seu tamanho é n. ♦

Definição 2.4 (Γ+, Γ−). Fixe um torneio T = (V,A) e um vértice u ∈ V . Denotamos o conjuntode vértices dominados por u por

Γ+(u) = {v ∈ V : −→uv ∈ A}.

Analogamente, denotamos por Γ−(u) o conjunto de vértices que dominam u. Fixado um conjuntoW ⊂ V , também definimos Γ+

W (u) = Γ+(u) ∩W e Γ−W (u) = Γ−(u) ∩W . ♦1Grafos não serão o foco deste trabalho, mas serão mencionados em certos momentos, uma vez que são um dos

principais alvos de estudo em teste de propriedades. Recomendamos ao leitor não familiarizado com conceitos básicosde grafos consultar, por exemplo, [15].

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4 CONCEITOS INICIAIS 2.1

Definição 2.5 (grau, ~e). O grau de saída e o grau de entrada de u são dados, respectivamente, porg+(u) = |Γ+(u)| e g−(u) = |Γ−(u)|. Para conjuntos U,W ⊂ V , também definimos g+W (u) = |Γ+

W (u)|,g−W (u) = |Γ−W (u)| e ~e(U,W ) =

∑u∈U g

+W (u). ♦

Definição 2.6 (isomorfismo). Dois torneios T = (V,A) e T ′ = (V ′, A′) são isomorfos se existeuma função bijetora φ : V → V ′ tal que u T−→ v ⇔ φ(u)

T ′−→ φ(v), isto é, se existe uma bijeção entreseus conjuntos de vértices que preserva todas as relações de dominância. ♦

Definição 2.7 (torneio induzido). Seja T = (V,A) um torneio e W ⊆ V um subconjunto devértices de T . O torneio induzido por W , denotado por T [W ], é o torneio (W,A′), onde

A′ = {−→xy ∈ A : x, y ∈W}. ♦

Definição 2.8 (caminho, ciclo, triângulo). Uma sequência de arcos da forma

−−→u1u2,−−→u2u3, . . .−−−−→uk−1uk ∈ A(T )

determina um caminho de comprimento k−1 em um torneio T . Se, além disso, o arco −−→uku1 ∈ A(T ),então este arco unido aos arcos acima determinam um ciclo de comprimento k em T . Um ciclo detamanho três é chamado de triângulo dirigido. ♦

Definição 2.9. Um torneio T é dito transitivo ou acíclico se T não contém nenhum ciclo. ♦

O resultado abaixo mostra que torneios transitivos possuem uma estrutura muito simples.

Proposição 2.10 (cf. [27, Teorema 9]). Dado um torneio T = (V,A), as seguintes afirmaçõessão equivalentes:

(i) T é transitivo.

(ii) T não contém triângulos dirigidos.

(iii) ∀u, v, w ∈ V , se u −→ v e v −→ w, então u −→ w.

(iv) existe uma enumeração v1, . . . , vn dos vértices de T tal que vi domina vj para todo 1 ≤ i < j ≤ n.♦

Demonstração. Vamos mostrar as seguintes implicações.

(i) =⇒ (ii). Trivial.

(ii) =⇒ (iii). Se w −→ u, então −→uv,−→vw,−→wu formariam um triângulo dirigido.

(iii) =⇒ (iv). Seja n = |V |. Se n < 3 a afirmação é vacuamente verdadeira. Assuma n ≥ 3 e fixev ∈ V com g−(v) > 0 e g+(v) > 0. Sejam U = Γ−(v), W = Γ+(v), T− = T [U ] e T+ = T [W ].Por indução, existem enumerações u1, . . . , uk ∈ U e w1, . . . , wn−k−1 ∈ W de vértices de T− eT+ satisfazendo (iv). Mas, por hipótese, também não pode existir u ∈ U e w ∈ W tais quew −→ u. Então a enumeração u1, . . . , uk, v, w1 . . . , wn−k−1 satisfaz (iv).

(iv) =⇒ (i). T não pode conter um ciclo −−→vavb,−−→vbvc, . . . ,−−→vpvq,−−→vqva, caso contrário teríamos a < b <

· · · < q < a, um absurdo.

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2.2 TESTE DE PROPRIEDADE 5

O último item da proposição anterior nos garante que todos os torneios transitivos de mesmotamanho são isomorfos.

Notação 2.11. O torneio transitivo com n vértices será denotado por πn. Também denotamos porπ(v1, . . . , vn) o torneio transitivo de tamanho n com vértices v1, . . . , vn satisfazendo o item (iv) daProposição 2.10. ♦

Torneio transitivos desempenham um papel semelhante ao de grafos completos/vazios em Teoriados Grafos. O resultado a seguir afirma que é possível encontrar cópias de torneios transitivos detamanho arbitrário em todo torneio suficientemente grande.

Teorema 2.12 ([27, Teorema 10] Teorema de Ramsey para torneios). Para todo inteiro po-sitivo k existe n = N2.12(k) tal que para todo torneio T = (V,A) com |V | ≥ n, existe W ⊆ V talque T [W ] é um torneio transitivo de tamanho k.

Demonstração. Tome n = 2k − 1. Para k = 1 a afirmação é verdadeira. Assuma k > 1 e queafirmação vale para conjuntos W de tamanho k − 1. Em um torneio Tn, deve existir ao menos umvértice v com grau de saída pelo menos (n − 1)/2 = 2k−1 − 1. Por hipótese de indução, T [Γ+(v)]

contém (k − 1) vértices que induzem um torneio transitivo. Unidos a v, tais vértices induzem umtorneio transitivo de tamanho k.

Definimos também um homomorfismo entre um torneio e um digrafo como uma função entreseus conjuntos de vértices que preserva relações de dominância. Tal função não precisa ser necessa-riamente injetora, contanto que vértices com a mesma imagem induzam um torneio transitivo.

Definição 2.13 (homomorfismo). Um homomorfismo entre um torneio T e um digrafo D é umfunção φ : V (T )→ V (D) satisfazendo as seguintes propriedades:

– se u T−→ v, então φ(u)D−→ φ(v) ou φ(u) = φ(v).

– para todo x ∈ V (D), T [φ−1(x)] é um torneio transitivo.

Escrevemos T hom−→ D para indicar que uma tal função φ : V (T )→ V (D) existe. ♦

Definição 2.14 (subgrafo, número de cópias). Seja T um torneio e D um digrafo. Dizemosque T é subgrafo de D se existe um homomorfismo injetor φ : V (T ) � V (D). Também usaremos otermo subtorneio quando D for um torneio. O número de cópias de T em D é dado pelo númerode homomorfismo injetores de T em D. Também usamos o termo número de cópias não rotuladasquando contamos apenas os homomorfismos injetores cujas imagens são distintas (note que a razãoentre essas duas últimas quantidades é no máximo |T |!). ♦

2.2 Teste de Propriedade

Definição 2.15 (Propriedade de torneios). Uma propriedade de torneios é um conjunto detorneios de mesmo tamanho, fechado por isomorfismo. Dizemos que um torneio T satisfaz umapropriedade P se T ∈ P. ♦

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6 CONCEITOS INICIAIS 2.2

Estamos interessados em algoritmos que inspecionam apenas uma fração constante de um torneioTn de entrada e distinguem, com alta probabilidade, se T satisfaz uma certa propriedade ou se estálonge de satisfazê-la. Antes de mais nada, é preciso fixar um modelo, isto é, definir uma noção dedistância de torneios a propriedades assim como especificar de que forma tais algoritmos podemacessar a entrada Utilizamos um modelo natural, análogo ao dito modelo denso para grafos [21],também conhecido como modelo da matriz de adjacência.

Definição 2.16 (ε-longe, ε-perto, distância). Dizemos que um torneio Tn é/está ε-longe deuma propriedade P se é necessário inverter a orientação de pelo menos εn2 arcos de Tn para fazê-losatisfazer P. Caso contrário, dizemos que Tn está ε-perto de P. Definimos a distância de Tn a Pcomo o menor ε tal que Tn está ε-longe de P. ♦

Ao trabalharmos com algoritmos sublineares, também é necessário especificar como os objetosde entrada são representados, uma vez que tais algoritmos não podem sequer ler toda a entrada.Para tanto, consideraremos algoritmos que acessam o torneio de entrada por meio de um oráculo.

Definição 2.17 (oráculo). Um oráculo associado a um torneio T = (V,A) é um objeto querecebe consultas formadas por pares u 6= v de vértices em V e devolve o valor de f(u, v), ondea f : V × V \ {(v, v) : v ∈ V } → A é a função dada por

f(u, v) =

−→uv, se u −→ v.

−→vu, se v −→ u.♦

Notamos que no estudo de teste de propriedades em grafos, existem outros modelos que podemser mais propícios em casos específicos (o modelo denso, por exemplo, não é apropriado para oestudo de grafos que possuem uma quantidade subquadrática de arestas). O modelo da lista deincidência [19] representa grafos que têm grau máximo limitado por uma constante d, permitindoconsultas a uma função g : V ×[d]→ V ∪{⊥} que indica o i-ésimo vizinho de um dado vértice. Nessemodelo, dois grafos estão ε-longe se a cardinalidade da diferença simétrica entre seus conjuntos dearestas supera εdn/2. O modelo geral [28] tenta dissociar a forma com que as consultas são feitas(assim como a definição de distância) da representação interna dos grafos. Nesse modelo, a distânciaentre dois grafos (V,E), (V ′, E′) é dada por |E4E′|

max{|E|,|E′|} ; ou seja, a distância é normalizada pelopróprio número de arestas dos grafos em questão e não por um limitante superior, como n2 ou dN .Esse modelo suporta, ainda, ambos os tipos de consultas dos modelos anteriores. Esses modelos nãopossuem, contudo, versões que pareçam apropriadas para torneios.

Definição 2.18 (ε-testador, q(A)). Um ε-testador A para uma propriedade de torneios P é umalgoritmo de decisão probabilístico que recebe um inteiro n e um oráculo associado a um torneioTn e que satisfaz as seguintes condições:

1. Se Tn ∈ P, então A aceita Tn com probabilidade pelo menos 23 .

2. Se Tn está ε-longe de P, então A rejeita Tn com probabilidade pelo menos 23 .

3. O número máximo q(A) de consultas que A faz ao oráculo independe de n.

Ademais, se a primeira condição é satisfeita com probabilidade 1, dizemos queA tem erro-unilateral.♦

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2.2 TESTE DE PROPRIEDADE 7

Em outras palavras, um ε-testador para P é um algoritmo probabilístico que distingue, comprobabilidade pelo menos 2

3 , torneios que satisfazem P de torneios que estão ε-longe de P.Note que a Definição 2.18 não impõe nenhuma condição para o caso de torneios a uma distância

estritamente entre 0 e ε a P. Como consequência, “conter um triângulo dirigido” ou “conter um cicloque passa por todos os vértices” são exemplos de propriedades que admitem um ε-testador trivial(para qualquer ε), que simplesmente aceita qualquer entrada (suficientemente grande). De fato,a primeira condição da Definição 2.18 valerá com probabilidade 1, e a segunda será vacuamenteverdadeira, uma vez que não há torneios ε-longe de tais propriedades se n for grande o suficiente.

Observação 2.19. Ao estudar ε-testadores, sempre podemos assumir que os torneios de entradasão suficientemente grandes uma vez que, para entradas de tamanho limitado, um testador podesimplesmente verificar por força bruta se o torneio satisfaz P, após consultar todos os seus arcos.♦

Definição 2.20 (propriedade testável). Uma propriedade P é dita testável [com erro-unilateral ]se para qualquer 0 < ε < 1 existe um ε-testador [com erro-unilateral ] para P. ♦

Note como a terceira condição da Definição 2.18 implica que todo ε-testador consome tempoconstante em relação ao tamanho da entrada. É comum encontrar o termo teste de propriedadesendo usado em um contexto mais amplo, em que se consideram algoritmos que consomem temponão necessariamente constante, mas sublinear no tamanho da entrada. Nesse caso, é empregado otermo fortemente testável para se referir a propriedades como na definição acima. Contudo, boaparte do interesse da área se concentra no estudo de propriedades testáveis em tempo constante, demodo que esse será o foco deste trabalho.

O consumo de tempo de um testador, embora constante em função do tamanho do torneio deentrada, pode ser classificado de acordo com a dependência com o parâmetro de erro ε.

Definição 2.21 (propriedade facilmente testável). Uma propriedade P é facilmente testávelse para qualquer 0 < ε < 1, existem um ε-testador com erro-unilateral Aε para P e q(Aε) =

poli(ε−1). ♦

Em um primeiro momento, poderia parecer mais natural considerar o parâmetro ε como parte daentrada, na definição de um testador. Essa diferença aparentemente sutil teria um grande impactona caracterização de propriedades testáveis unilateralmente: veremos que existem propriedades que,embora admitam ε-testadores (unilaterais) para todo ε, exigem um número de consultas ao oráculoque não é sequer computável como função de ε. Em outras palavras é possível que uma propriedadeadmita ε-testadores para todo ε fixo, mas que não seja possível combiná-los em um único algoritmoque recebe ε como entrada.

Definição 2.22 (Testador não-adaptativo). Um ε-testador A para uma propriedade P é ditonão-adaptativo se existe uma função q : [0, 1] × N → N tal que A procede da seguinte maneira aoprocessar uma entrada Tn = (V,A).

– Primeiro, A escolhe, uniformemente ao acaso, um conjunto Q ⊆ V de tamanho q ..= q(ε, n).

– Em seguida, A faz q(q − 1)/2 consultas ao oráculo para obter o subtorneio Tn[Q] induzidopor Q.

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8 CONCEITOS INICIAIS 2.2

– Por fim, A aceita ou rejeita a entrada tendo acesso somente ao subtorneio Tn[Q] e ao valorde n, isto é, sem fazer mais nenhuma consulta adicional ao oráculo. ♦

Note, na definição acima, que o tamanho q da consulta é também função do tamanho n dotorneio de entrada (apenas o número máximo de consultas deve independer de n) e, principalmente,que a decisão final do testador também pode depender de n. Essa dependência é permitida paraque possam existir testadores não-adaptativos para propriedades que dependem explicitamente dovalor de n, tais como: “ser transitivo se n é primo ou livre de ciclos de tamanho 5 caso contrário” oumesmo “ter tamanho ímpar”. Na prática, propriedades “artificiais” como essas serão desconsideradas(ver Observação 2.24).

O resultado a seguir nos permite assumir que todos os testadores são não-adaptativos.

Teorema 2.23 ([22,23]gr). Toda propriedade testável P possui um ε-testador não-adaptativo B,para todo ε > 0. Ademais,

– se P é testável com erro-unilateral, então podemos supor que B tem erro-unilateral.

– se q(P) = poli(ε−1), então q(B) = poli(ε−1).

Demonstração. Seja P uma propriedade testável e A um testador qualquer para P. Primeiro, trans-formamos A em um testador revelador de vértices. Um testador é revelador de vértices se podemosdividi-lo em iterações satisfazendo o seguinte: a cada iteração, um novo vértice v é selecionado esão feitas (apenas) consultas a todos os pares da forma (u, v), onde u é um vértice selecionado emuma iteração anterior. É evidente que podemos emular A por meio de um testador revelador devértices AR que, a cada consulta (u, v) de A, revela os vértices u e v (caso ainda não tenham sidorevelados).

Agora, considere o algoritmo AU descrito a seguir. Primeiramente, AU escolhe, uniformementeao acaso, uma permutação σ do conjunto de vértices do torneio de entrada. Em seguida, AU emulaAR, da seguinte maneira: toda consulta (u, v) requisitada ao oráculo por AR é alimentada com aresposta da consulta (σ(u), σ(v)).

Note que aplicar o algoritmo AU a um torneio T é o mesmo que aplicar AR ao torneio σ(T ).Portanto, AU ainda é um testador (revelador de vértices) para P, uma vez que propriedades sãofechadas por isomorfismo.

Fixe i ≥ 1 e suponha que AU já tenha revelado os vértices u1, . . . , ui−1 nas primeiras i − 1

iterações e que esteja prestes a revelar um novo vértice ui. Note que o vértice ri a ser revelado nai-ésima iteração de AR depende apenas2 dos vértices r1, . . . , ri−1 revelados nas iterações anteriores.Então devemos ter

P(ui = x | u1, . . . , ui−1) = P(σ(ri) = x | σ(r1) = u1, . . . , σ(ri−1) = ui−1) =1

n− i+ 1,

ou seja, os vértices revelados porAU têm distribuição uniforme sobre os vértices ainda não revelados.Então podemos modificar AU de forma que os vértices sejam escolhidos uniformemente ao acaso noinício do algoritmo, obtendo assim um algoritmo não-adaptativo.

Terminamos a demonstração observando que q(Au) = q(AR) ≤ 2(q(A))2.2é verdade que ri também pode depender de possíveis decisões aleatórias feitas por AR; nesse caso, basta reiniciar

o argumento fixando uma fita de bits aleatórios usados por AR para realizar tais decisões.

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2.3 EXEMPLO: TRANSITIVIDADE É UMA PROPRIEDADE TESTÁVEL 9

Observação 2.24 (redefinição de propriedade testável). O resultado acima nos permite re-definir propriedades testáveis como aquelas que possuem, para cada ε, um ε-testador não-adaptativo.A partir daqui, contudo, exigiremos que tais ε-testadores não dependam de n para calcular o nú-mero de consultas ou para fazer a decisão final a partir do subtorneio amostrado. As propriedadestestáveis estudadas na literatura admitem, todas, testadores dessa forma. Em outras palavras, oúnico impacto dessa restrição adicional é o de excluir aquelas propriedades “artificiais” mencionadasanteriormente. ♦

Observação 2.25. Ao analisar testadores não-adaptativos, podemos supor que cada um dos q vér-tices da amostra é escolhido uniforme e independentemente ao acaso. De fato, a probabilidade de umconjunto Q fixo de cardinalidade q ser escolhido nesse processo (dada por q!n−q) é arbitrariamentepróxima à probabilidade da distribuição real (

(nq

)−1) para n suficientemente grande. ♦

2.3 Exemplo: transitividade é uma propriedade testável

O objetivo desta seção é mostrar que a propriedade “ser transitivo” é um exemplo de uma proprie-dade testável de torneios. Mais especificamente, queremos mostrar o seguinte.

Teorema 2.26 ([11]). Seja Trans ..= {Tn : Tn é transitivo}. Então Trans é uma propriedade detorneios facilmente testável.

Devemos mostrar que, dados um torneio T e um parâmetro de erro ε, existe um algoritmo comona Definição 2.18. O algoritmo em questão será um algoritmo não-adaptativo que amostra (demaneira uniforme e independente) um subconjunto Q de vértices de T , de tamanho q = poli(ε−1),e considera o subtorneio induzido T [Q], onde Q é o conjunto dos vértices amostrados. A seguir,o algoritmo simplesmente aceita a entrada se T [Q] for transitivo ou rejeita-a caso contrário. Se Tfor transitivo então o subtorneio amostrado não conterá ciclos, de modo que o algoritmo de fatoaceitará T com probabilidade 1. Assim, só é preciso mostrar que se T é ε-longe de ser transitivo,então Q contém um ciclo com probabilidade pelo menos 2

3 .Seja Tn = (V,A) um torneio. Primeiro, mostramos que se Tn está longe de ser transitivo, então

Tn contém um conjunto W grande, em que cada vértice de W tem grau de saída alto em W .

Lema 2.27. Se Tn está ε-longe de Trans, então existe W ⊆ V , |W | ≥√

ε2n tal que para todo

w ∈W , g+W (w) > 12εn.

Demonstração. Suponha que para um dado torneio Tn, não exista um conjunto W como no enun-ciado. Queremos provar que Tn está ε-perto de Trans. Considere o seguinte procedimento:

1: W ← V

2: ∆← ∅3: enquanto |W | ≥

√ε2n faça

4: u← um vértice arbitrário em W satisfazendo g+W (u) ≤ 12εn

5: ∆← ∆ ∪ {−→uv : v ∈ Γ+W (u)}

6: W ←W \ {u}7: fim enquanto8: Wf ←W .9: ∆← ∆ ∪ {−→uv : u, v ∈Wf}

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10 CONCEITOS INICIAIS 2.3

Seja U = {ui}1≤i≤k, onde ui é o vértice u escolhido na i-ésima iteração da linha 4 e k =

max{0, n−b√

ε2nc}. Defina, ainda, w1, . . . , wn−k como sendo os vértices de Wf , indexados em uma

ordem arbitrária e considere o torneio transitivo π = π(w1, . . . , wn−k, uk, uk−1, . . . , u1).Afirmamos que ∆(Tn, π) ⊆ ∆, onde ∆(Tn, π) é o conjunto de arcos −→xy ∈ A(Tn) tais que −→yx ∈ π.

De fato, para todo arco −−→uiuj /∈ ∆, deve valer que i > j — caso contrário −−→uiuj teria sido adicionadoa ∆ na iteração i — o que implica que o sentido deste arco está de acordo com π, ou seja, que−−→uiuj /∈ ∆(Tn, π).

Por outro lado, acrescentamos a ∆ no máximo 12εn arcos a cada iteração da linha 5 e menos que

|Wf |2 = 12εn

2 arcos na linha 9. Portanto, concluímos que |∆| < εn2, isto é, que Tn não está ε-longede Trans.

A seguir, mostramos que ao amostrarmos vértices de um tal conjunto W , o subtorneio induzidocontém ciclos com alta probabilidade.

Lema 2.28. Sejam 0 < γ < 1 e W ⊆ V um subconjunto de vértices de Tn tal que g+W (w) ≥ γ|W |para todo w ∈ W . Seja Q ⊆ W um conjunto de tamanho m = m2.28(γ) = poli(γ−1) de vérticesde W , escolhido uniformemente ao acaso. Então o subtorneio induzido Tn[Q] contém um ciclo comprobabilidade pelo menos 7

8 .

Demonstração. Tome m = 10 ln(1/γ)γ + 1. Vamos mostrar que com probabilidade pelo menos 7

8 ,g+Q(u) > 0 para todo u ∈ Q, o que implicará que Tn[Q] contém algum ciclo (uma vez que não hásorvedouros em Tn[Q]).

Fixado um vértice u ∈ Q, temos que

P(g+Q(u) = 0) ≤ (1− γ)m−1 < e−(m−1)γ = γ10.

Pela cota da união, concluímos que

P(∀u ∈ Q, g+Q(u) = 0) <m∑i=1

γ10 =

(10 ln(1/γ)

γ+ 1

)γ10.

Como γ ≤ 12 , a probabilidade acima é menor que 1

8 , como desejado.

Demonstração do Teorema 2.26. Considere um testador que amostra um conjunto de vérticesQ de tamanho q = 4mε−1, onde m = m2.28(

12ε), e procede como descrito no início da seção. Se Tn

é transitivo, o algoritmo claramente o aceita com probabilidade 1. Suponha então que Tn é ε-longede ser transitivo. Então pelo Lema 2.27 existe um conjunto W ⊆ V , |W | ≥

√ε2n, tal que para todo

w ∈W , g+W (w) > ε2n.

Seja nW o número de vértices amostrados que pertencem a W . Como q ≥ 2m|V ||W | , o valor de nW

é, em média, pelo menos 2m. Mais do que isso, podemos usar uma cota de Chernoff (Teorema A.2)para obter que P(nW < m) = P(nW < (1− 1

2)2m) ≤ e−14m. Portanto, para m ≥ 9, a probabilidade

de pelo menos m vértices de Q pertencerem a W é maior que 78 .

Assumindo que o evento [nW ≥ m] de fato ocorre, podemos tomar γ = ε2 e aplicar o Lema 2.28

para concluir que Tn[Q] contém um ciclo, com probabilidade 78 .

Assim, o algoritmo proposto de fato encontra um ciclo em Tn[Q] com probabilidade pelo menos1− 1

4 >23 .

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Capítulo 3

Inevitabilidade e Abundância desubtorneios

Definição 3.1 (Livre(Th)). Dizemos que um torneio T é livre de um torneio Th se T não contémnenhuma cópia de Th. Definimos a propriedade Livre(Th) como o conjunto de torneios que sãolivres de Th. ♦

Mostraremos no capítulo 4 que a propriedade Livre(Th) é testável para qualquer torneio Th.Neste capítulo, introduzimos boa parte das ferramentas necessárias para provar tal resultado, alémde usá-las para apresentar uma versão mais fraca do mesmo, enunciada a seguir.

Definição 3.2 (transversal). Fixado um torneio Th, uma transversal de Th em um torneio T =

(V,A) é um subconjunto S ⊆ A de arcos de T tal que toda cópia de Th em T contém arcos em S.♦

Definição 3.3 (ε-inevitável). Dizemos que um torneio Th é ε-inevitável em um torneio Tn setoda transversal de Th em Tn tem tamanho pelo menos εn2. ♦

Definição 3.4 (δ-abundante). Dizemos que um torneio Th é δ-abundante em um torneio Tn seTn contém pelo menos δnh cópias de Th. ♦

Teorema 3.5 ([2]gr). Para todo inteiro h e 0 < ε < 1 existe δ = δ3.5(ε, h) tal que se Th é ε-inevitável em um torneio T , então Th é δ-abundante em T .

O resultado acima dá origem a um algoritmo capaz de distinguir, em tempo constante e comalta probabilidade, entre torneios T livres de Th e torneios T em que Th é ε-inevitável. De fato,podemos simplesmente verificar se um conjunto de vértices amostrado de T (de um certo tamanhoconstante) induz uma cópia de Th, uma vez que o resultado acima nos garante que encontraremosalguma com alta probabilidade se Th for inevitável em T (e nenhuma será encontrada em torneioslivres de Th).

Ao trabalharmos com grafos, um resultado análogo ao Teorema 3.5 já é suficiente para mostrarque a propriedade P = “ser livre de cópias1 de um subgrafo H” (análoga a Livre(Th)) é testável.Isso é verdade pois a noção de distância no caso de grafos envolve adição ou remoção de arestas

1não necessariamente induzidas.

11

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12 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.1

e, portanto, estar ε-longe de tal propriedade implica H ser ε-inevitável. Infelizmente, essa relaçãoentre inevitabilidade e distância não é válida para torneios: é possível que um torneio ε-longe deLivre(Th) tenha uma ε-transversal de Th de tamanho menor que εn2, uma vez que a inversão dearcos de tal transversal pode dar origem a novas cópias de Th.

3.1 Regularidade em torneios

Um resultado extensivamente usado em diversas áreas [25], é o chamado Lema de Regularidadede Szemerédi [30] que, essencialmente, afirma que todo grafo suficientemente grande admite umapartição regular, isto é, uma divisão de seus vértices em um número limitado de partes, de formaque quase todo o par de partes se comporta de maneira semelhante a um grafo bipartido aleatório.

No contexto de teste de propriedades em grafos, Alon e co-autores mostraram em [4] que tal lemanão é apenas uma ferramenta, mas está intrinsecamente relacionado ao conceito de testabilidade.Tais autores mostraram, essencialmente 2, que as propriedades testáveis de grafos são exatamenteaquelas formadas pelos grafos que admitem uma partição regular pertencente a um dado conjuntofinito de partições regulares.

Existem generalizações do Lema de Regularidade para diversos objetos, como grafos com arestascoloridas, grafos dirigidos e hipergrafos (ver, por exemplo, [25]). Apresentamos aqui uma versãoespecífica para torneios, cuja demonstração é baseada na versão para grafos contida em [10][Capítulo17].

3.1.1 Definições iniciais

Definição 3.6 (~e(X,Y ), ~d(X,Y )). Dado um torneio T = (V,A) e conjuntos X,Y ⊆ V disjun-tos, definimos e a densidade do par (X,Y ) como

~d(X,Y ) =~e(X,Y )

|X||Y |,

onde~e(X,Y ) = |{−→xy : x ∈ X, y ∈ Y }|.

Definição 3.7 (par regular). Sejam T = (V,A) um torneio, γ ∈ R, e X,Y ⊂ V dois conjuntosdisjuntos de V . Dizemos que o par (X,Y ) é γ-regular se para quaisquer X ′ ⊆ X e Y ′ ⊆ Y ,satisfazendo |X ′| ≥ γ|X| e |Y ′| ≥ γ|Y | vale que ~d(X ′, Y ′) = ~d(X,Y ) ± γ. Dizemos que um par(X,Y ) é γ-irregular se a condição acima é falsa. Dizemos, ainda, que um par (X,Y ) é apenasregular ou irregular quando o parâmetro γ envolvido estiver implícito ou não for importante nocontexto. ♦

Em outras palavras, um par (X,Y ) é γ-regular se a densidade ~d(X,Y ) é herdada, a menospor um erro γ, por todos os pares de subconjuntos de cardinalidade substancial. Note que semessa restrição de tamanho sobre os subconjuntos X ′ e Y ′, a definição seria vazia (se X ′ e Y ′ sãoconjuntos unitários, por exemplo, a densidade entre eles só pode ser 0 ou 1). Note também que adefinição de par regular é simétrica, isto é, (X,Y ) é γ-regular se e só se (Y,X) é γ-regular.

2consultar capítulo 7 para uma afirmação mais precisa.

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3.1 REGULARIDADE EM TORNEIOS 13

Se todos os arcos que cruzam a partição (X,Y ) tiverem a mesma orientação, então (X,Y ) é umexemplo trivial de par regular. Na verdade, é fácil ver que se ~d(X,Y ) < γ3 ou ~d(X,Y ) > (1− γ3),então (X,Y ) é γ-regular. Por outro lado, a construção explícita de pares regulares não triviais nãoé uma tarefa imediata. O exemplo abaixo atesta que tais pares, de fato, existem e também ilustraa relação entre regularidade e torneios aleatórios.

Exemplo 3.8. Seja T = (X t Y,A), |X| = |Y | = n, um torneio em que para cada x ∈ X e y ∈ Y ,fazemos x dominar y com probabilidade p, de maneira independente das demais escolhas aleatórias.Então para qualquer γ > 0 fixo, o par (X,Y ) é γ-regular assintoticamente quase certamente. ♦Demonstração. Fixe X ′ ⊆ X e Y ′ ⊆ Y satisfazendo |X ′| ≥ γn e Y ′ ≥ γn. Primeiro, usamos umacota de Chernoff (Teorema A.2) para mostrar que

P(|~d(X,Y )− p| > γ/2) ≤ 2e− (γn2/2)2

3(n2p) = 2e− γ

2n2

12p .

Aplicando a mesma desigualdade para o par (X ′, Y ′), temos

P(|~d(X ′, Y ′)− p|) > γ/2) ≤ 2e− γ

4n2

12p ,

e portanto segue da desigualdade triangular que

P(|~d(X,Y )− ~d(X ′, Y ′)| > ε) ≤ 4e− γ

4n2

12p .

Pela cota da união, a probabilidade de (X,Y ) ser γ-irregular é no máximo

22n4e− γ

4n2

12p ≤ 4e− γ

4n2−2n12p −→ 0,

quando n −→∞, como desejado.

A seguir, mostramos duas propriedades úteis de pares regulares, que são usadas em várioscontextos (ver, por exemplo, [25] para o caso de grafos). A primeira afirma que a regularidade éde certa forma “herdada” por subconjuntos de tamanho considerável. A segunda afirma que, dadoum par (X,Y ) regular, quase todos os vértices de X dominam muitos vértices de um conjuntoconsideravelmente grande de Y .

Proposição 3.9. Seja (X,Y ) um par γ-regular de densidade ~d(X,Y ) = η e X1 ⊆ X, Y1 ⊆ Y

conjuntos satisfazendo |X1| ≥ ε|X| e |Y1| ≥ ε|Y |, com ε ≥ γ. Então o par (X1, Y1) é max{2γ, γε }-regular (com densidade η ± γ). ♦

Demonstração. Sejam X2 ⊆ X1 e Y2 ⊆ Y1 subconjuntos de tamanho pelo menos (γ/ε)|X1| e(γ/ε)|Y1|, respectivamente. Então |X2| ≥ γ|X| e |Y2| ≥ γ|Y | e, como (X,Y ) é γ-regular, segue que:

~d(X2, Y2) = ~d(X,Y )± γ = (~d(X1, Y1)± γ)± γ = ~d(X1, Y1)± 2γ,

o que atesta a max{2γ, γε }-regularidade de (X1, Y1).

Proposição 3.10. Seja (X,Y ) um par γ-regular com densidade ~d(X,Y ) = η. Considere um con-junto Y ′ ⊆ Y tal que |Y ′| ≥ γ|Y |. Então no máximo γ|X| dos vértices de X dominam menos que(η − γ)|Y ′| vértices em Y ′. ♦

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14 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.1

Demonstração. Suponha por absurdo que exista um conjunto X ′ ⊆ X de tamanho maior que γ|X|que contradiga a asserção acima. Então o par (X ′, Y ′) tem menos que (η − γ)|X ′||Y ′| arestas e éportanto uma testemunha de que (X,Y ) não é γ-regular.

3.1.2 Lema de regularidade

Definição 3.11 (partição γ-regular). Uma partição γ-regular de um torneio Tn = (V,A) é umapartição V = {V0, V1, . . . , Vm} de V satisfazendo as seguintes propriedades:

(i) Todos a menos de no máximo γm2 dos pares (Vi, Vj), 1 ≤ i < j ≤ m, são γ-regulares.

(ii) |V1| = |V2| = · · · = |Vm|.

(iii) |V0| ≤ γn.

O conjunto V0 é chamado de parte excepcional da partição regular. ♦

Notação 3.12 (parte excepcional). Ao dizermos que um conjunto V0 é uma parte excepcionalde uma partição V, estará implícito que V0 deve ser considerado formalmente como uma coleção de|V0| partes unitárias (cuja união é V0), todas contidas em V. Considerar V0 como uma parte de Vé apenas um abuso que visa não sobrecarregar a notação. ♦

O Lema de Regularidade afirma que podemos obter uma partição regular de qualquer torneioTn (suficientemente grande) com um número de partes que independe de n e que pode ser limitadoinferiormente (o que nos permite limitar o número de arcos internos a cada parte).

Teorema 3.13 ([7]gr Lema de Regularidade com parte excepcional). Para todo γ > 0 einteiro µ, existe um inteiro M = M3.13(γ, µ) tal que todo torneio T de tamanho pelo menos Madmite uma partição γ-regular {V0, V1, . . . , Vm} com µ ≤ m ≤M .

Para demonstrar o Teorema 3.13, vamos inicialmente considerar uma partição V qualquer deT . Se essa partição for γ-regular, não há nada a fazer. Caso contrário, usaremos os subconjuntosque testemunham a existência de pares irregulares para subdividir cada parte de V. A partiçãoresultante desse processo será, em um certo sentido, significantemente mais “desordenada” (emtermos da variância da densidade entre partes) que V. Argumentaremos, que há um limite parao quão “desordenada” uma partição pode ser. Isso implica que não podemos repetir esse processoindefinidamente, isto é, que eventualmente uma partição regular deverá ser obtida após aplicarmosum certo número de subdivisões.

É preciso introduzir novas definições para que possamos formalizar tais idéias.

Definição 3.14 (refina). Sejam V e V ′ partições de um conjunto V . Dizemos que V ′ refina V setoda parte de V ′ está inteiramente contida em alguma parte de V. ♦

Definição 3.15 (índice). Sejam U,W ⊂ V dois conjuntos disjuntos de vértices de um torneioTn = (V,A). Definimos

q(U,W ) =|U ||W |n2

(~d(U,W )− 1

2

)2

.

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3.1 REGULARIDADE EM TORNEIOS 15

Se U e W são partições de conjuntos disjuntos de V , definimos

q(U ,W) =∑U∈UW∈W

q(U,W ).

Seja V = {V0, V1, . . . , Vm} uma partição de V , em que V0 é uma parte excepcional. O índice q(V)

de V é dado por q(V) =∑q(Vi, Vj), onde a soma percorre todos os

(m+|V0|

2

)pares não ordenados

Vi, Vj de V — lembrando que estamos considerando aqui que V0 é na verdade uma coleção de V0partes unitárias (Notação 3.12). ♦

O índice de uma partição é essencialmente a soma do quadrado das densidades entre os pares departes. Essa densidade é escalada para levar em conta o tamanho das partes envolvidas. Diferente-mente da definição usual para o caso de grafos ou digrafos, optamos por adicionar um fator aditivo−1

2 à densidade. Isso torna a definição de q(U,W ) simétrica, isto é, q(U,W ) = q(W,U). Assim,não precisamos nos preocupar em estabelecer uma ordem para as partes de V (o que resultaria emoutras dificuldades, tais como exigir que partições que refinam V mantenham essa mesma ordem).

O resultado abaixo mostra que o índice de uma partição está relacionado com a variância dasdensidades entre as partes que a compõe.

Proposição 3.16. Sejam U = {U1, U2, . . . , Uk} e W = {W1,W2, . . . ,Wl} partições de conjuntosdisjuntos U e W (respectivamente) de vértices de um torneio Tn. Considere um experimento emque escolhemos uniformemente ao acaso um vértice u ∈ U e w ∈ W . Defina a variável aleatóriaZ ..= ~d(Ui,Wj)− 1

2 , onde Ui ∈ U e Wj ∈ W são as partes que contêm u e w, respectivamente. Então

Var(Z) =n2

|U ||W |(q(U ,W)− q(U,W )).

Demonstração. A esperança de Z é dada por

E(Z) =∑

1≤i≤k1≤j≤l

|Ui||Wj ||U ||W |

(~d(Ui,Wj)−

1

2

)

= −1

2+∑

1≤i≤k1≤j≤l

(|Ui||Wj ||U ||W |

~d(Ui,Wj)

)

= −1

2+

1

|U ||W |∑

1≤i≤k1≤j≤l

~e(Ui,Wj)

= ~d(U,W )− 1

2

e, portanto, (E(Z))2 = (n2/|U ||W |)q(U,W ). Concluímos a demonstração observando que

E(Z2) =∑

1≤i≤k1≤j≤l

(~d(Ui,Wj)−

1

2

)2

=∑

1≤i≤k1≤j≤l

n2

|Ui||Wj |q(Ui,Wj) =

n2

|U ||W |q(U ,W).

Usaremos a Proposição 3.16 para mostrar como subdividir pares de conjuntos irregulares (U,W )

de forma a aumentar o índice q associado.

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16 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.1

Lema 3.17. Considere um par γ-irregular (U,W ) de Tn. Então existem partições U = {U1, U2} eW = {W1,W2} tais que

q(U ,W) > q(U,W ) + γ4|U ||W |n2

.

Demonstração. Como (U,W ) não é γ-regular, existem U1 ⊂ U e W1 ⊂ W , |U1| ≥ γ|U | e |W1| ≥γ|W | tais que ~d(U1,W1) desvia de ~d(U,W ) por mais que γ. Isso implica que a variável Z (daProposição 3.16) desvia de E(Z) por mais que γ quando u ∈ U1 e w ∈W1, ou seja, com probabilidadepelo menos γ2. Pela desigualdade de Chebyshev (Teorema A.1), concluímos que Var(Z) > γ4, daonde segue o resultado desejado pela Proposição 3.16.

A Proposição 3.16 também nos permite mostrar que ao refinarmos uma partição não diminuímosseu índice.

Lema 3.18. Sejam V ′ e V partições de V tais que V ′ refina V. Então q(V ′) ≥ q(V).

Demonstração. Primeiro, note que se U e W são partições de subconjuntos disjuntos U,W ⊂ V ,então devemos ter q(U ,W) ≥ q(U,W ) (isso segue diretamente da Proposição 3.16 e do fato davariância ser sempre um valor não negativo). Então sejam V = {U1, . . . , Uk} e V ′ =

⋃ki=1 Ui, onde

cada Ui é uma partição de Ui. Temos

q(V ′) =∑

A,B∈V ′q(A,B)

=∑

1≤i<j≤kq(Ui,Uj) +

∑1≤i≤k

∑A,B∈Ui

q(A,B)

≥∑

1≤i<j≤kq(Ui,Uj)

≥∑

1≤i<j≤kq(Ui, Uj)

= q(V).

Estamos prontos para mostrar que dada uma partição que não é γ-regular, podemos obter umrefinamento cujo índice supera consideravelmente o da partição original.

Lema 3.19. Seja V = {V0, V1, . . . , Vm} uma partição de V com uma parte excepcional V0, |V0| ≤γ|V |, e tal que |V1| = · · · = |Vm| têm todos o mesmo tamanho. Suponha que mais do que γm2 dospares (Vi, Vj) sejam γ-irregulares (1 ≤ i < j ≤ m). Então existe uma partição V ′ = {V ′0 , V ′1 , . . . , V ′m′}que refina V e satisfaz as seguintes propriedades:

(i) Todos os V ′1 , . . . V′m′ têm o mesmo tamanho.

(ii) m′ < m8m.

(iii) |V ′0 | ≤ |V0|+ n2m .

(iv) q(V ′) ≥ q(V) + 12γ

5.

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3.1 REGULARIDADE EM TORNEIOS 17

Demonstração. Seja s = |V1| = · · · = |Vm|. Dado um par γ-irregular (Vi, Vj), considere as partiçõesU ji e U ij de Vi e Vj (respectivamente) dadas pelo Lema 3.17. Defina, agora,W como sendo a partiçãode menor tamanho que refina V e cada um dos U ji e U ij , para todo par γ-irregular (Vi, Vj). PeloLema 3.17 temos

q(W) ≥ q(V) + γm2

(γ4s2

n2

)= q(V) + γ5

(msn

)2≥ q(V) +

γ5

2.

Para obter a última desigualdade, assumimos 3 que γ ≤ 1−√

2/2. Infelizmente, a partição W podeter conjuntos de tamanho diferentes. Construa então uma partição V ′, que refina W, subdividindocada parte de W arbitrariamente em conjuntos de tamanho bs/4mc, e colocando os vértices quesobram na partição excepcional V ′0 . Pelo Lema 3.18, o índice de V ′ supera o de V em pelo menos12γ

5 — note como adicionar vértices à parte excepcional é uma operação de refinamento.Agora, observe que para obtermos W subdividimos cada parte de V em no máximo 2m−1

partes. Para obter V ′, subdividimos cada parte de W em no máximo 4m partes. O total de partesnão excepcionais de V ′ é, portanto, no máximo m2m−14m < 8m. Ademais, ao construirmos V ′

adicionamos, para cada parte de W, no máximo bs/4mc vértices à parte excepcional, de modo que

|V ′0 | ≤ |V0|+s

4mm2m−1 < |V0|+

n

2m.

Antes de prosseguirmos para a demonstração do Teorema 3.13, notamos que o índice de umapartição é limitado superiormente por um valor constante.

Proposição 3.20. Para qualquer partição V de um torneio, q(V) ≤ 18 . ♦

Demonstração. Como para quaisquer U, V ∈ V, (~d(U, V )− 12)2 ≤ 1

4 , temos

q(V) ≤∑U,V ∈V

|U ||V |n2

1

4≤ 1

8n2

(∑U∈V|U |

)(∑V ∈V|V |

)=

1

8.

Demonstração do Teorema 3.13. Vamos mostrar que podemos tomar M = f (l)(µ′), onde f :

N→ N é dada por f(x) = x2x, µ′ ..= max{µ, log2(γ−2)− 1} e l ..= d1/4γe.

Considere uma partição arbitrária de Tn em µ′ partes — cada uma com exatamente bn/µ′cvértices — acrescidas de uma parte excepcional contendo os (< µ′) vértices restantes. Enquanto essapartição não for γ-regular, refine-a por meio de sucessivas aplicações do Lema 3.19. Uma partiçãoγ-regular V será obtida depois de no máximo d1/(4γ)e iterações, caso contrário uma nova aplicaçãodo Lema 3.19 produziria uma partição com índice maior que 1

8 , contradizendo a Proposição 3.20.O tamanho da parte excepcional V0 de V é dado por

|V0| ≤ µ′ +n

2µ′1

4γ≤ µ′ + γ

2n ≤ γn,

onde a última desigualdade segue de n ≥M ≥ 2µ′/γ.3não há perda de generalidade tendo em vista que, para γ′ < γ, partições γ′-regulares também são γ-regulares.

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18 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.1

Observação 3.21. Note que, ao aplicar o Teorema 3.13, podemos exigir que a partição regularobtida não só contenha pelo menos µ partes não excepcionais, mas também que ela refine umadada partição U = {U0, U1, . . . , Uµ} com |U1| = · · · = |Uµ| e |U0| < µ. ♦

Ao definirmos uma partição γ-regular, forçamos a existência de uma parte excepcional apenaspara facilitar a demonstração do Lema de Regularidade — essa parte é particularmente útil nademonstração do Lema 3.19, pois ela pode abrigar os vértices que sobram das subdivisões exa-tas, sem que isso tenha qualquer impacto sobre a índice da partição. Mas podemos reformular oTeorema 3.13 de modo que essa parte excepcional não seja necessária. Nessa reformulação, nãopodemos mais exigir que as partes tenham todas o mesmo tamanho (por questões de divisibilidade)mas podemos exigir que as cardinalidades delas distem no máximo uma unidade.

Definição 3.22 (equipartição). Uma equipartição V = {V1, . . . , Vm} de um conjunto V é umapartição de V tal que para todo 1 ≤ i < j ≤ m, |Vi| = |Vj | ± 1. ♦

Definição 3.23 (equipartição γ-regular). Uma equipartição γ-regular de um torneio T = (V,A)

é uma equipartição V = {V1, . . . , Vm} de V tal que todos a menos de γm2 dos pares (Vi, Vj) sãoγ-regulares, para 1 ≤ i < j ≤ m. ♦

Proposição 3.24. Sejam X,Y conjuntos disjuntos de vértices de um torneio e sejam X ⊆ X eY ⊆ Y subconjuntos satisfazendo |X| ≤ γ2|X| e |Y | ≤ γ2|Y |, para alguma constante 0 < γ < 1

3 . Se(X \ X, Y \ Y ) é γ-regular, então (X,Y ) é 3γ-regular. ♦

Demonstração. Sejam A,B conjuntos disjuntos e A ⊆ A, B ⊆ B subconjuntos satisfazendo |A| ≤p|A| e |B| ≤ p|B|, para alguma constante 0 < p < 1

3 . Então temos que

q2~d(A \ A, B \ B) ≤ ~d(A,B) ≤ q2~d(A \ A, B \ B) + 2pq + p2,

onde q = 1− p. Em particular, vale que ~d(A,B) = ~d(A \ A, B \ B)± 3p.Seja X ′ ⊆ X e Y ′ ⊆ Y tais que |X ′| ≥ 3γ|X| e |Y ′| ≥ 3γ|Y |. Da afirmação do parágrafo acima,

segue que

~d(X ′, Y ′) = ~d(X ′ \ X, Y ′ \ Y )± 3γ

3

= ~d(X \ X, Y \ Y )± 2γ

= ~d(X,Y )± (2γ + 3γ2)

= ~d(X,Y )± 3γ,

o que implica que (X,Y ) é 3γ-regular.

Teorema 3.25 ([7]gr Lema de Regularidade [30]gr). Para todo 0 < γ < 1 e inteiro µ, existeum inteiro M = M3.25(γ, µ) tal que todo torneio Tn com n ≥M admite uma equipartição γ-regular{V1, . . . , Vm} com µ ≤ m ≤M .

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3.2 IMERSÃO DE TORNEIOS EM PARES REGULARES 19

Demonstração. Seja γ′ = 110γ

2. Vamos mostrar que podemos tomar M = M3.13(γ′, µ). Aplique o

Teorema 3.13 para obter uma partição γ′-regular U = {U0, U1, . . . , Um} de Tn, com µ ≤ m ≤ M .Particione U0 arbitrariamente emm conjuntos V1, . . . , Vm, todos de tamanho d|U0|/me ou b|V0|/mc,e considere a equipartição V = {Ui t Vi}1≤i≤m de Tn.

Para todo 1 ≤ i ≤ m, temos|Vi||Vi|≤dγ′nm eb nmc

≤(γ

3

)2,

para n suficientemente grande. Como todos a menos de εm2 dos pares (Ui, Uj) (1 ≤ i < j ≤ m)são, em particular, 1

3γ-regulares, a Proposição 3.24 implica V ser uma partição γ-regular de V.

Observação 3.26. Também podemos exigir que a equipartição regular obtida a partir do teoremaacima refine uma dada partição de tamanho µ (ver Observação 3.21). ♦

3.1.3 Considerações sobre o Lema

A demonstração do Lema de Regularidade garante apenas que o tamanho máximo M da partiçãodada pelo lema é limitado por TOWER(dγ−5e). Por outro lado, Gowers [24] mostrou que existemexemplos (de grafos) para os quais toda partição γ-regular deve conter pelo menos TOWER(poli(γ−1)),isto é, que essa cota superior para M não pode ser melhorada significativamente.

3.2 Imersão de torneios em pares regulares

Nesta seção veremos como o Lema de Regularidade pode ser usado para demonstrar o Teorema 3.5.Suponha que queiramos encontrar muitas cópias de um torneio Th = ({u1, . . . , uh}, Ah) em umtorneio T = (V,A). Vamos mostrar que é suficiente encontrar conjuntos disjuntos (de cardinalidadeconsiderável) U1, . . . , Uh de vértices de V , dois a dois regulares, e que respeitem as mesmas relaçõesde dominância de Th, isto é, se ui −→ uj , então o par é (Ui, Uj) tem alta densidade, para todo1 ≤ i < j ≤ h.

Proposição 3.27. Para qualquer 0 < η < 1 e inteiro h, existem números reais positivos γ =

γ3.27(η, h) e δ = δ3.27(η, h) satisfazendo o seguinte. Sejam T = (V,A) um torneio e U uma coleção deh subconjuntos de V , dois a dois disjuntos e γ-regulares. Seja Th é um torneio de h vértices admitindouma função bijetora φ : V (Th) → U com a propriedade de que, para qualquer arco −→vw de Th,~d(φ(v), φ(w)) ≥ η. Então existem pelo menos δmh cópias de Th em T , ondem = min{|U | : U ∈ U}.♦

Demonstração. Por indução em h. O resultado é trivial para h = 1 (tome γ = δ = 1). Suponhaentão que h > 1 e que o resultado vale para torneios Th−1 e partições U ′ de tamanho h − 1.Mostraremos que podemos tomar

γ = γ3.27(η, h) = min

{1

2(h− 1),η

2, γ3.27(

1

2η, h− 1)

η

2

}e

δ3.27(η, h) =1

2(η − γ)h−1δ3.27(η, h− 1).

Fixe um vértice v ∈ Th e seja W = φ(v) ∈ U . Defina, ainda,

U+ = {U ∈ U \ {W} : ~d(W,U) ≥ η}

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20 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.2

eU− = {U ∈ U \ {W} : ~d(U,W ) ≥ η).

Pela Proposição 3.10, fixado U+ ∈ U+, no máximo γm vértices deW dominam menos que (η−γ)m

vértices de U+. De forma simétrica, no máximo γm vértices de W são dominados por menos que(η − γ)m vértices de cada U− fixo em U−. Então existe um conjunto W ′ ⊆ W , de tamanhopelo menos (1 − (h − 1)γ)m ≥ 1

2m, tal que para qualquer w ∈ W , temos g+U+(w) ≥ (η − γ)m e

g−U−(w) ≥ (η − γ)m, para todo U+ ∈ U+ e U− ∈ U−.

Fixe um vértice w ∈W ′ e defina a coleção

U ′ = {Γ+U+(w) : U+ ∈ U+} ∪ {Γ−

U−(w) : U− ∈ U−}.

Note que cada U ′ ∈ U ′ tem tamanho pelo menos (η − γ)m. Além disso, como γ ≤ 12η, podemos

aplicar a Proposição 3.9, para concluir que todos os pares de conjuntos de U ′ são γ/(η − γ) ≤(2γ/η) ≤ γ3.27(12η, h− 1)-regulares com densidade pelo menos η − γ ≥ 1

2η.Estamos finalmente em condições de usar a hipótese de indução sobre o torneio Th−1 ..= Th − v

e a coleção U ′, e concluir a existência de δ3.27(12η, h− 1)(η−γ)h−1mh−1 cópias de Th−1 em T . Cadauma delas, somada ao vértice w, forma uma cópia distinta de Th. Repetindo o mesmo argumentopara todo w ∈W ′, aferimos a existência de pelo menos δmh cópias distintas de Th em T .

Esse resultado nos mostra que pares regulares se comportam de maneira semelhante a pares ondeos arcos são escolhidos de forma aleatória: se o sentido dos arcos entre Ui e Uj apontassem para Ujcom probabilidade η (independentemente das demais escolhas) sempre que ui −→ uj , esperaríamosencontrar, em média,

∏i |Ui|ηh cópias de Th em T [U1, . . . Uh] e resultados de concentração nos

indicariam que, com alta probabilidade, o número real de cópias não desvia muito desta quantidade.A Proposição 3.27 pode ser reescrita de forma mais simples, com o auxílio da seguinte definição.

Definição 3.28 (digrafo reduzido). Sejam T = (V,A) um torneio e U uma coleção de k sub-conjuntos de V , dois a dois disjuntos. Dados reais 0 ≤ η, γ ≤ 1, definimos o digrafo reduzidoR = Rγη(T,U) ..= (U , AR) como um digrafo (cujos vértices são os elementos de U) satisfazendoU

R−→ U ′ se, e somente se, (U,U ′) é γ-regular e ~d(U,U ′) ≥ η (note que o digrafo reduzido podeconter laços). ♦

Lema 3.29. Para qualquer 0 < η < 1 e inteiros positivos h e M , existem constantes positivasγ = γ3.29(η, h,M) e δ = δ3.29(η, h,M) satisfazendo o seguinte. Sejam T = (V,A) um torneio e Vuma equipartição de T de cardinalidade no máximo M . Então qualquer torneio Th que seja subgrafode Rγη(T,V) é δ-abundante em T .

Demonstração. Basta aplicar a Proposição 3.27, usando φ como a função que atesta que Th ésubgrafo de Rγη(T,V).

Demonstração do Teorema 3.5. Seja Th um torneio ε-inevitável em Tn = (V,A) e defina γ ..=

min{13ε, γ3.27(13ε, h)}. Aplique o Teorema 3.25 sobre Tn para obter uma equipartição γ-regular de

V = {V1, . . . , Vm} com 3ε ≤ m ≤M ..= M3.25(γ,

3ε ).

Considere o conjunto S ⊆ A formado pela união dos seguintes subconjuntos de arcos de T :

– O conjunto S1 de arcos internos a cada parte Vi ∈ V. Note que |S1| < m(nm

)2= n2/m ≤ 1

3εn2.

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3.2 IMERSÃO DE TORNEIOS EM PARES REGULARES 21

– O conjunto S2 dos arcos que cruzam pares (Vi, Vj) irregulares. Note que |S2| ≤ γm2 nmnm ≤

13εn

2.

– O conjunto S3 de arcos que cruzam pares (Vi, Vj) tais que ~d(Vi, Vj) <13ε ou ~d(Vj , Vi) <

13ε.

Note que S3| < m2 13ε

nmnm ≤

13εn

2.

Como S tem cardinalidade menor que εn2, deve existir alguma cópia de Th que não contém arcospertencentes a S. Considere a função em V (Th) → V que leva cada vértice dessa cópia à parteV ∈ V a qual ele pertence. Essa função atesta que Th é subgrafo de Rγη/3(T,V).

Concluímos a demonstração aplicando o Lema 3.29 para concluir que Th é δ3.29(η/3, h,M)-abundante em T .

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22 INEVITABILIDADE E ABUNDÂNCIA DE SUBTORNEIOS 3.2

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Capítulo 4

Testando subtorneios

O principal objetivo deste capítulo consiste em mostrar o seguinte resultado.

Teorema 4.1 ([3]gr). A propriedade Livre(Th) é testável com erro-unilateral.

O resultado combinatório necessário para provar tal teorema consiste em mostrar que torneioslonge de serem livres de Th contêm muitas cópias de Th.

Teorema 4.2 (Lema de Remoção para Torneios [3]gr). Seja Th um torneio com h vértices.Para todo inteiro h e 0 < ε < 1, existe δ = δ4.2(ε, h) tal que se T é um torneio ε-longe de ser livrede Th, então Th é δ-abundante em T .

Tendo em mãos o Teorema 4.2, é fácil construir um testador com erro-unilateral para Livre(Th).Basta amostrar um conjunto Q de vértices de T , de cardinalidade suficientemente grande, e verificarse há alguma cópia de Th em T [Q].

Demonstração do Teorema 4.1. Dado ε e um torneio T = (V,A) de entrada, considere umtestador para Livre(Th) que procede da seguinte forma. Primeiramente amostramos, uniforme eindependentemente ao acaso, d2δ−1eh vértices de V e consideramos o conjunto Q formado por taisvértices 1. Em seguida aceitamos T se, e somente se, T [Q] é livre de Th.

É evidente que se T ∈ Livre(Th), então T [Q] ∈ Livre(Th) e, portanto, o algoritmo o aceitacom probabilidade 1. Suponha então que T está ε-longe de Livre(Th). Precisamos provar que, nessecaso, P(Tn ser aceito) < 1

3 . Pelo Teorema 4.2, a probabilidade de uma amostra de tamanho h formaruma cópia de Th é pelo menos δ. Como o conjunto Q possui d2δ−1e h-uplas distintas, concluímosque

P(T ser aceito) < (1− δ)2δ−1=

(1− 1

δ−1

)2δ−1

≤ e−2 < 1

3,

como desejado.Para encontrar muitas cópias de um torneio Th em T , uma idéia natural seria fazer uso da

Proposição 3.27. Gostaríamos de poder proceder de forma similar à feita para torneios nos quais Thé inevitável, isto é, tomar uma partição regular de um torneio longe de Livre(Th) e argumentar queexiste uma cópia de Th que atesta a existência de conjuntos como nas condições da Proposição 3.27.

1estamos assumindo (ver Observação 2.25) que tais vértices são distintos.

23

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24 TESTANDO SUBTORNEIOS 4.1

Tal tarefa era mais simples naquele caso, pois podíamos simplesmente eleger arcos que não podiamser usados para formar cópias de Th. Agora, nossa única arma consiste em inverter arcos.

Certamente, podemos reorientar arcos entre partes regulares de forma a evitar que os arcosdas cópias de Th (que sobrevivem a tais alterações) cruzem partes cuja densidade é baixa naquelesentido. Por outro lado, não é imediatamente claro como evitar que

(i) arcos internos a uma mesma parte sejam usados para formar cópias de Th e

(ii) arcos entre partes irregulares sejam usados para formar cópias de Th.

O primeiro problema tem solução relativamente simples, que será apresentada na próxima seção.O segundo exigirá uma versão mais forte do Lema de Regularidade, que nos permita evitar paresirregulares de alguma forma.

4.1 Abundância de um subtorneio é fechada por homomorfismo

A Proposição 3.27, aplicada indiretamente para demonstrar o Teorema 3.5, garante que um sub-torneio Th é abundante em um torneio T quando há uma função injetora que leva vértices de Thà partes U1, . . . Uk duas a duas regulares de T e com densidades apropriadas. Nesta seção, mostra-remos como enfraquecer as condições da Proposição 3.27, de modo que essa função não precise sernecessariamente injetora. Mais precisamente, permitiremos que tal função seja um homomorfismo.

O seguinte resultado é uma consequência imediata do Teorema 2.12.

Proposição 4.3. Para todo inteiro k > 0 existe uma constante α = α(k) tal que o torneio transitivoπk é α-abundante em qualquer torneio Tn (suficientemente grande). ♦Demonstração. É suficiente mostrar que há pelo menos αnk cópias não rotuladas de πk em Tn.Como cada conjunto de tamanho R ..= N2.12(k) induz pelo menos uma cópia não rotulada de πk, onúmero de tais cópias é pelo menos(

n

R

)(n− kR− k

)−1≥( nR

)R(R− ken

)R−k= αnk,

onde

α =(R− k)R−k

RReR−k.

A seguinte operação nos permitirá trabalhar com homomorfismos de forma mais controlada.

Definição 4.4 (expansão). Sejam T = (V,A) um torneio, v ∈ V e r um inteiro positivo. Defini-mos o torneio Br(T, v), resultante da operação de expansão sobre v, como uma cópia de T em quesubstituímos v por um torneio transitivo de tamanho r. Mais especificamente, definimos

V (Br(T, v)) = V \ {v} t {u1, . . . , ur}

e

A(Br(T, v)) = A \ {−→xv : x ∈ V } \ {−→vx : x ∈ V } ∪ {−−→uiuj : 1 ≤ i < j ≤ r}

∪ {−→uix : 1 ≤ i ≤ r e v ∈ V tal que v T−→ x}

∪ {−→xui : 1 ≤ i ≤ r e v ∈ V tal que x T−→ v}.

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4.2 LEMA FORTE DA REGULARIDADE 25

O próximo resultado afirma que torneios que têm muitas cópias de um torneio Th tambémcontêm muitas cópias de torneios obtidos por operações de expansão sobre Th.

Lema 4.5. Para todo inteiro positivo r e número real δ > 0, existe uma constante positiva δB =

δB(δ, r) = poli<(δ) tal que se um torneio Th é δ-abundante em um torneio Tn, então Br(Th, v) éδB-abundante em Tn, para qualquer v ∈ V (Th).

Demonstração. Seja Th−1 = Th − v o torneio obtido de Th após a remoção do vértice v e dos arcosincidentes a v. Sejam W1, . . . ,WN todas as (h− 1)-uplas que formam cópias de Th−1 em Tn. Noteque devemos ter δnh−1 < N < nh−1. Para cadaWi fixo, definimos d(Wi) como o número de vérticesque, junto com Wi, formam uma cópia de Th (em particular, devemos ter

∑Ni=1 d(Wi) = δnh).

Seja α = α4.3(r). Segue da Proposição 4.3 que o número de cópias de Br(Th, v) em Tn é maiorou igual a

N∑i=1

αd(Wi)r ≥ Nα

(∑Ni=1 d(Wi)

N

)r≥ αδnh−1

(δnh

nh−1

)r= αδr+1︸ ︷︷ ︸

δB

nh+r−1,

onde a primeira desigualdade acima segue da convexidade da função z 7→ αzr.

Com posse do resultado acima, estamos prontos para demonstrar uma versão mais forte daProposição 3.27.

Lema 4.6 (imersão de torneios). Para quaisquer 0 < η < 1, 0 < λ < 1, e inteiros h e k,existem números reais positivos γ = γ4.6(η, h) e δ = δ4.6(η, λ, h, k) satisfazendo o seguinte.

Seja T = (V,A) um torneio e U = {U1, . . . , Uk} uma coleção de k subconjuntos de V decardinalidade pelo menos λ|V |, dois a dois disjuntos e γ-regulares. Seja Th um torneio tal queTh

hom−→ Rη(T,U). Então Th é δ-abundante em T .

Demonstração. Seja φ um homomorfismo de Th para R ..= Rη(T,U). Considere o torneio Th′ =

R[φ(V (Th))] uma enumeração v1, . . . , vh′ dos vértices de Th′ . Defina, ainda, os seguintes h + 1

torneios:

T (0) = Th′ ,

T (i) = B|φ−1(vi)|(T(i−1), vi) para 1 ≤ i ≤ h′.

Se tomarmos γ = γ3.27(η, h′), então T (0) e U satisfazem as condições da Proposição 3.27. Con-

cluímos que T (0) é δ(0)-abundante em T , onde δ(0) = δ3.27(η, h′)λk.

Para todo 1 ≤ i ≤ h′, segue do Lema 4.5 que se T (i−1) é δ(i−1)-abundante em T , então existeδ(i) > 0 tal que T (i) é δ(i)-abundante em T .

Concluímos por indução em h′ que Th = T (h′) é δ(h′)-abundante em T , para algum δ(h′) > 0.

4.2 Lema forte da regularidade

Para demonstrar o Teorema 4.2, é suficiente argumentar que todo torneio Tn que está ε-longe deLivre(Th) admite uma coleção U de conjuntos de vértices que satisfaçam as condições do Lema 4.6.A estratégia que usaremos consistirá em considerar uma partição regular de T e inverter a orientação

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26 TESTANDO SUBTORNEIOS 4.2

de um certo conjunto de arcos (de cardinalidade inferior a εn2), de modo que as cópias de Th quesobrevivem a tais alterações atestem a existência de uma tal coleção U .

Como discutido no início deste capítulo, pares irregulares impõe uma dificuldade à essa es-tratégia. Uma pergunta natural é, portanto, se não é possível derivar uma versão mais forte doTeorema 3.25 que garanta a existência de uma partição em que todos os pares de partes são regu-lares. Essa pergunta foi feita inicialmente por Szemerédi [30] em relação a grafos. Lovász, Seymoure Trotter e, independentemente, Alon, Duke, Lefman, Rödl e Yuster [1] observaram que pares ir-regulares são de fato inevitáveis em qualquer equipartição de certos grafos específicos. O exemplocanônico é o chamado half-graph, um grafo bipartido com partes {a1, . . . , an} e {b1, . . . , bn} tal quea aresta aibj é presente se e só se i ≤ j — para este grafo, o número de pares irregulares deveser linear no número m de partes. Mais recentemente, Conlon e Fox [14] mostraram uma constru-ção em que o número de pares irregulares deve ser pelo menos Cm2

log∗m , para alguma constante C, oque mostra que o número de pares irregulares fornecido pelo Lema de Regularidade não pode sersubstancialmente melhorado.

Apesar de pares irregulares serem inevitáveis em uma partição, foi mostrado em [3] que é possívelobter uma partição regular tal que cada parte contém um subconjunto que a “representa” (em termosde densidade) e todos esses subconjuntos são dois a dois regulares.

Teorema 4.7 (Lema Forte da Regularidade [3]gr). Para todo inteiro µ e função E : N →(0; 1), existe um inteiroM = M4.7(E , µ) e uma constante λ = λ4.7(E , µ) > 0 satisfazendo o seguinte.Para todo torneio Tn, n > M , existe uma equipartição V = {V1, . . . , Vm} e conjuntos de vérticesV ′i ⊆ Vi, 1 ≤ i ≤ m tais que:

– µ ≤ m ≤M .

– |V ′i | ≥ λn.

– Todos os pares (V ′i , V′j ) são E(m)-regulares, 1 ≤ i < j ≤ m.

– Todos a menos de E(0)m2 dos pares 1 ≤ i ≤ j ≤ m são tais que ~d(Vi, Vj) = ~d(V ′i , V′j )± E(0).

O teorema acima também fortalece o Lema de Regularidade ao permitir que possamos especificaro quão regular são os pares (V ′i , V

′j ) em função do tamanho m da partição. Isso será usado para

mostrar que propriedades hereditárias de torneios são testáveis. Neste capítulo, contudo, aplicaremoso Teorema 4.7 usando funções E constantes.

Lema 4.8. Seja U = {Vi,k : 1 ≤ i ≤ m, 1 ≤ k ≤ l} uma equipartição de um torneio Tn que refinauma equipartição V = {Vi : 1 ≤ i ≤ m} (Vi,k ⊂ Vi). Se n ≥ 2ml e q(U)− q(V) ≤ 1

16ε4, então todos

a menos de no máximo εm2 dos pares 1 ≤ i < j ≤ m satisfazem ~d(Vi,k, Vj,k′) = ~d(Vi, Vj)± ε, parapelo menos (1− ε)l2 dos pares 1 ≤ k, k′ ≤ l.

Demonstração. Fixe um par Vi, Vj ∈ V. Suponha que mais do que εl2 dos pares k, k′ sejam tais que~d(Vi,k, Vj,k′) desvia de ~d(Vi, Vj) por mais que ε. Defina Vi e Vj como sendo as partições de Vi e Vjdeterminadas por U .

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4.2 LEMA FORTE DA REGULARIDADE 27

Seja Z a variável aleatória do enunciado da Proposição 3.16 para as partições Vi e Vj . Segue dadesigualdade de Chebyshev (Teorema A.1) que

Var(Z) ≥b |Vi|l cb

|Vj |l c

|Vi||Vj |ε3l2 ≥ 1

4ε3.

Pela Proposição 3.16, concluímos que

q(Vi,Vj)− q(Vi, Vj) ≥|Vi||Vj |n2

1

4ε3 ≥ 1

16m2ε3.

Assim, se houver mais do que εm2 pares Vi, Vj como esses, teremos

q(U)− q(V) =∑i<j

q(Vi,Vj)− q(Vi, Vj) ≥1

16ε4.

Lema 4.9. Para todo inteiro µ e função E : N → (0; 1), existe um inteiro M = M4.9(E , µ) tal quetodo torneio Tn, n ≥M admite uma equipartição U = {Vi,k : 1 ≤ i ≤ m, 1 ≤ k ≤ l} que refina umaequipartição V = {Vi : 1 ≤ i ≤ m} com as seguintes propriedades:

– m ≥ µ e ml ≤M .

– V é uma equipartição E(0)-regular de Tn.

– Para todo 1 ≤ i < j ≤ m, no máximo E(m)l2 dos pares (Vi,k, Vj,k′) são E(m)-irregulares.

– Todos a menos de no máximo m2 dos pares Vi, Vj ∈ V são tais que ~d(Vi,k, Vj,k′) = ~d(Vi, Vj)± εpara pelo menos (1− ε)l2 dos pares (Vi,k, Vj,k′).

Demonstração. Seja M1..= M3.25(E(0), µ) e para todo r > 1

Mr..= M3.25

(Mr−1,

E(Mr−1)

M2r−1

).

Aplique o Teorema 3.25 ao torneio Tn para obter uma equipartição E(0)-regular V1 de tamanhono máximoM1. Para todo r > 1, seja Vr uma equipartição (E(Mr−1)M

−2r−1)-regular de Tn que refina

Vr−1 e tem tamanho no máximo Mr (Vr pode ser obtida aplicando o Teorema 3.25 à partição Vr−1— ver Observação 3.26).

Considere o menor s > 1 tal que q(Vs)− q(Vs−1) ≤ 116ε

4 (garantimos a existência de s, uma vezque 0 ≤ q(Vr−1) ≤ q(Vr) ≤ 1

8 , para todo r > 1). Afirmamos que podemos tomar V = Vs−1, U = Vs,m = |Vs−1|, l = |Vs| e M = Ms.

De fato, é evidente que V e U satisfazem as restrições de cardinalidade e V é E(0)-regular2. Comodentre todos os pares de partes de U , no máximo E(m)

m2 (ml)2 = E(m)l2 são E(m)-irregulares, a terceiracondição é, em particular, satisfeita. Além disso, a última condição do enunciado é satisfeita peloLema 4.8.

Demonstração do Teorema 4.7. Defina E(m) = min{E(m), 18E(0), 14m2} e vamos tomar M =

M4.9(E , µ) e λ = M−1. Aplique o Lema 4.9 com parâmetros E e µ ao torneio Tn para obterequipartições {Vi : 1 ≤ i ≤ m} e {Vi,k : 1 ≤ i ≤ m, 1 ≤ k ≤ l} satisfazendo as condições do lema.

2assumindo sem perda de generalidade que E é decrescente.

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28 TESTANDO SUBTORNEIOS 4.3

Para todo 1 ≤ i ≤ m, escolha, uniforme e independentemente ao acaso, inteiros j(i), 1 ≤ j(i) ≤ le faça V ′i ..= Vi,j(i). Pela cota da união, todos os pares (V ′i , V

′j ) são E(k)-regulares com probabilidade

pelo menos 14 . Ademais, o número médio de pares i < j para os quais |~d(Vi, Vj − ~d(V ′i , V

′j )| > ε é

limitado superiormente por

1

8E(0)

m2(m2

)(m2

)+

1

8E(0)

(m

2

)≤ 1

4E(0)m2.

Portanto, o número desses pares é no máximo E(0)m2, com probabilidade pelo menos 14 . Assim,

com probabilidade pelo menos 1− 12 −

14 = 1

4 , os conjuntos {Vi}1≤i≤m e {V ′i }1≤i≤m satisfazem todasas condições do enunciado.

Na demonstração do Lema 4.9, partição final é construída por meio de sucessivas aplicações doLema de Regularidade usual, de modo que o número M4.7 de partes tem uma forte dependênciacom o parâmetro ε. Em particular, essa demonstração garante apenas que M4.7 é limitado porWOW(E(0)−1).

4.3 Demonstração do Lema da Remoção para Torneios

Demonstração do Teorema 4.2. Sejam T e Th torneios como no enunciado do teorema. Definaµ = d3ε−1e e E(m) = min{γ, 16ε}, onde γ = γ4.6(

16ε, h). Afirmamos que podemos tomar δ =

δ4.6(16ε, λ4.7(E , µ), h,M4.7(E , µ)).Aplique o Teorema 4.7 para obter uma equipartição V = {V1, . . . , Vm} de T , com µ ≤ m ≤

M4.9(E , µ), e uma coleção V ′ = {V ′1 , . . . , V ′m} de conjuntos V ′i ⊂ Vi ∈ V, dois a dois E(m)-regularese com densidades como no enunciado do Teorema.

Considere o torneio T ′ obtido a partir de T após as seguintes alterações:

– Para todos os pares 1 ≤ i < j ≤ m tais que ~d(V ′i , V′j ) = ~d(Vi, Vj)± γ, faça Vi dominar3 Vj se

~d(Vi, Vj) <16ε e faça Vj dominar Vi se ~d(Vj , Vi) <

16ε. Observe que alteramos a orientação de

no máximo m2(16ε+ 16ε)n

2/m2 = 13εn

2 arcos neste caso.

– Para todos os demais pares i, j faça Vi dominar Vj se ~d(Ui, Uj) <12 ou Vj dominar Vi caso

contrário. Observe que alteramos a orientação de menos que E(0)m2(n2/m2) < 16εn

2 arcosneste processo.

– Para todo 1 ≤ i ≤ m, reoriente arcos de forma que T [Vi] se torne um torneio transitivoarbitrário. Observe que menos que m(n2/m2) ≤ 1

3εn2 orientações de arcos são alteradas neste

processo.

Como T ′ é obtido a partir da reorientação de menos que εn2 arcos de T , T ′ deve conter aomenos uma cópia de Th. Afirmamos que a função

φ : V (Th)→ V ′

v → V ′i ,

3isto é, reoriente os arcos de forma que todos os vértices de Vi dominem todos os vértices de Vj

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4.4 SUBTORNEIOS FACILMENTE TESTÁVEIS 29

onde i é o índice que satisfaz v ∈ Vi, atesta que Thhom−→ R ..= Rγε/6(T,V

′). De fato, vértices mapeadosa um mesmo V ′i devem formar um torneio transitivo, pois T ′[Vi] é transitivo. Ademais, vérticesu, v ∈ V (Th), com u −→ v, devem ser tais que ~d(φ(u), φ(v)) ≥ 1

6ε, uma vez que não há pares comdensidade menor que 1

6ε em T ′.Assim, segue do Lema 4.6 que Th é δ-abundante em T .

4.4 Subtorneios facilmente testáveis

O Teorema 4.2 afirma que a propriedade Livre(Th) é testável para todo torneio Th fixo, mas otestador fornecido na demonstração do teorema faz um número de consultas que é WOW(ε−1). Umaquestão natural é se podemos fazer melhor, mesmo que apenas para certos torneios específicos.Mais especificamente, podemos nos perguntar para quais torneios Th a propriedade Livre(Th) éfacilmente testável (para esses torneios dizemos que Th é facilmente testável).

Nessa seção, mostraremos que o conjunto de torneios facilmente testáveis é fechado por operaçõesde expansão (Definição 4.4). Em particular, obtemos que torneios Tr,s,t, definidos a seguir, sãofacilmente testáveis.

Definição 4.10 (Tr,s,t). Seja T um triângulo dirigido, formado por vértices x, y, z satisfazendox −→ y −→ z −→ x. Definimos

Tr,s,t = Br(Bs(Bt(T, z), y, x)

como o torneio obtido a partir da expansão de x, y, z para torneios transitivos de tamanhor, s e t, respectivamente. Equivalentemente, Tr,s,t é o torneio isomorfo a um torneio transitivoπ(x1, . . . xr+s+t), em que reorientamos arcos de modo que {xr+s+1, . . . , xr+s+t} domine {x1, . . . , xr}.♦

Teorema 4.11. Se Th é um torneio facilmente testável, então Br(Th, v) é facilmente testável paraqualquer v ∈ V (Th) e r > 0.

Demonstração. Fixe ε > 0 e seja T um torneio ε-longe de Br(Th, v). Em particular T deve estarε-longe de Th (pois Th é subgrafo de T ).

Seja A um ε-testador para Livre(Th) com erro-unilateral. Pelo Teorema 2.23, podemos suporque A tem acesso apenas ao torneio T [Q] induzido por um conjunto Q, |Q| = q, escolhido demaneira uniforme. Como Th é facilmente testável, também podemos supor que q = poli(ε−1).

Observamos agora que se T [Q] é livre de Th, então A é obrigado a aceitar T . Se esse não fosse ocaso, A teria probabilidade positiva de rejeitar torneios em Livre(Th). Portanto, com probabilidadepelo menos 2

3 , T [Q] deve possuir uma cópia de Th.Assim, Th deve ser δ-abundante em T , com δ ≥ 2

3q−h = poli<(ε). Aplicando o Lema 4.5,

concluímos que Br(Th, v) é δB-abundante em T , com δB = poli<(ε). Daí segue que Br(Th, v) éfacilmente testável (ver demonstração do Teorema 4.1).

Como o triângulo dirigido é facilmente testável (Teorema 2.26), vale o seguinte resultado.

Colorário 4.12. Para quaisquer r, s, t > 0, o torneio Tr,s,t é facilmente testável.

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30 TESTANDO SUBTORNEIOS 4.4

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Capítulo 5

Caracterização das propriedadestestáveis com erro-unilateral

Mostraremos neste capítulo que uma propriedade P de torneios é testável com erro-unilateral se,e somente se, P é semi-hereditária. Propriedades semi-hereditárias serão definidas, posteriormente,como uma relaxação de propriedades hereditárias, definidas a seguir.

Definição 5.1 (propriedade hereditária). Uma propriedade de torneios H é hereditária se H éfechada por subtorneios, isto é, se T ∈ H implica T ′ ∈ H para todo T ′ subtorneio de T . ♦

5.1 Testando famílias infinitas de subtorneios

Definição 5.2 (Livre(F)). Seja F uma família (possivelmente infinita) de torneios. Dizemos queum torneio T é livre de F se, para todo F ∈ F , T é livre de F . Definimos a propriedade Livre(F)

formada por todos os torneios livres de F . ♦

Notamos que para toda propriedade hereditária H, existe uma família F tal que H = Livre(F).De fato, como permitimos F ser infinita, basta tomar F como a família de todos os torneios quenão satisfazem H. O fato de toda propriedade hereditária ser testável com erro-unilateral segue,portanto, como corolário do seguinte resultado.

Teorema 5.3 (Lema da Remoção para Famílias de Torneios [9]gr). Para qualquer famíliaF de torneios e qualquer 0 < ε < 1, existe um δ = δ5.3(ε,F) > 0 e um inteiro S = S5.3(ε,F) talque: se T é um torneio ε-longe de Livre(F), então existe algum F ∈ F , de tamanho no máximo S,que é δ-abundante em T .

Para famílias F finitas o resultado acima é trivial, bastando aplicar o Teorema 4.2 para todoF ∈ F e tomar δ = minF∈F δ4.2(ε, F ).

Para famílias de cardinalidade infinita, podemos repetir o mesmo raciocínio feito na demons-tração do Teorema 4.2 para concluir que existe um F ∈ F tal que F hom−→ R, onde R é o digraforeduzido associado a uma coleção V ′ de conjuntos de vértices dois a dois regulares de T . Mas comonão sabemos, a priori, o tamanho deste torneio F , não há como determinar um valor absoluto parao quão regular V ′ deve ser.

Por outro lado, o Lema Forte da Regularidade nos permite condicionar o quão regular o objetodevolvido deve ser em função de seu tamanho m. A seguinte proposição nos auxilia nesse sentido.

31

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32 CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES TESTÁVEIS COM ERRO-UNILATERAL 5.1

Proposição 5.4. Para toda família F de torneios e inteiro m, existe uma função ψF (m) : N→ Ncom a seguinte propriedade. Seja R um digrafo de tamanho no máximo m tal que tal que F hom−→ R,para algum F ∈ F . Então existe F ′ ∈ F , de tamanho no máximo ψF (m), tal que F ′ hom−→ R. ♦

Demonstração. Considere a seguinte família de digrafos:

Fm = {R : |R| ≤ m e existe F ∈ F tal que F hom−→ R}.

Como a família Fm é finita e R ∈ Fm então podemos simplesmente tomar ψF (m) como

ψF (m) = maxR∈Fm

minF∈F :Fhom−→R

|F |.

Demonstração do Teorema 5.3. Defina µ = d3ε−1e e

E(m) = min

{γ4.6(

1

6ε, ψF (m)),

1

}.

Mostraremos que podemos tomar

δ = δ4.6(1

6ε, λ4.7(E , µ), ψF (m),M4.7(E , µ))

Notamos que as definições acima são idênticas às da prova do Teorema 4.2, com a diferença de queo tamanho h dos torneios lá considerados foi substituído por ψF (m). Seguimos esta demonstraçãode forma similar.

Aplique o Teorema 4.7 para obter uma equipartição V = {V1, . . . , Vm} de T de cardinalidadeµ ≤ m ≤ M4.7(E , µ) e uma coleção V ′ = {V ′1 , . . . , V ′m} de conjuntos V ′i ⊂ Vi, dois a dois E(m)-regulares e com densidades como no enunciado do teorema.

Considere um torneio T ′, obtido a partir de T por meio das seguintes alterações.

– Para todos os pares 1 ≤ i < j ≤ m tais que ~d(V ′i , V′j ) = ~d(Vi, Vj)± γ, faça Vi dominar1 Vj se

~d(Vi, Vj) <16ε e faça Vj dominar Vi se ~d(Vj , Vi) <

16ε. Observe que alteramos a orientação de

no máximo m2(16ε+ 16ε)n

2/m2 = 13εn

2 arcos neste caso.

– Para todos os demais pares i, j faça Vi dominar Vj se ~d(V ′i , V′j ) < 1

2 ou Vj dominar Vi casocontrário. Observe que alteramos a orientação de menos que E(0)m2(n2/m2) < 1

6εn2 arcos

neste processo.

– Para todo 1 ≤ i ≤ m, reoriente arcos de forma que T [Vi] se torne um torneio transitivoarbitrário. Observe que menos que m(n2/m2) ≤ 1

3εn2 orientações de arcos são alteradas neste

processo.

Como T ′ é obtido a partir da reorientação de menos que εn2 arcos de T , segue que T ′ deveconter ao menos uma cópia de algum F ∈ F . Pela escolha dos arcos reorientados, a função

φ : V (F )→ V ′

v 7→ V ′i ,

1isto é, reoriente os arcos de forma que todos os vértices de Vi dominem todos os vértices de Vj .

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5.2 PROPRIEDADES SEMI-HEREDITÁRIAS 33

onde o índice i satisfaz v ∈ Vi, atesta que F hom−→ R ..= Rγε/6(T,V′). Como |R| = m, a Proposição 5.4

nos garante a existência de um F ′ ∈ F , |F ′| ≤ φF (m), tal que F ′ hom−→ R. A restrição sobre otamanho de F ′ nos permite aplicar o Lema 4.6 para concluir que F ′ é δ-abundante em T .

Como discutido no início da seção, o Teorema 5.3 implica o seguinte o resultado.

Teorema 5.5 ([9]gr). Toda propriedade hereditária de torneios é testável com erro-unilateral.

Observamos que o resultado acima não garante que para qualquer propriedade hereditária Hexista um testador para H cujo parâmetro ε faz parte da entrada, uma vez que não há garantias quea função φF associada seja sequer computável. Na verdade, é possível mostrar que de fato existem(ver [9] para grafos ) propriedades hereditárias (decidíveis) para as quais não é possível computaro número de consultas necessárias para testá-la como função de ε.

Como veremos adiante, uma versão aproximada da recíproca do Teorema 5.5 é verdadeira. Istoé, as propriedades testáveis com erro-unilateral são exatamente as hereditárias, a menos de umarelaxação natural dentro do contexto de teste de propriedades.

5.2 Propriedades semi-hereditárias

Definição 5.6 (propriedade semi-hereditária). Uma propriedade de torneios P é dita semi-hereditária se existe uma propriedade hereditária H satisfazendo as seguinte condições:

(i) Todo torneio que satisfaz P também satisfaz H (P ⊆ H).

(ii) Existe uma função M : (0, 1) → N tal que para todo ε > 0, qualquer torneio ε-longe de P ede tamanho maior que M(ε) não satisfaz H (e portanto contém uma cópia induzida de algummembro de FH). ♦

Em outras palavras, uma propriedade semi-hereditária P é um subconjunto de alguma propriedadehereditária H, com a restrição de que para todo ε existe apenas um número finito de torneios ε-longede P que satisfazem H.

Note como a segunda condição da definição acima implica, em particular, que um torneio (sufici-entemente grande) Tn ε-longe de P também está, digamos, ε2 -longe de H. De fato, qualquer torneioobtido pela reorientação de ε

2n2 arestas de Tn ainda está ε

2 -longe de P e, portanto, não pertence aH se n > M( ε2).

Neste sentido, o conceito de propriedades semi-hereditárias é uma relaxação natural de heredi-tariedade no contexto de teste de propriedades. O resultado a seguir mostra que as propriedadestestáveis com erro-unilateral são exatamente as semi-hereditárias.

Teorema 5.7 ([9]gr). Uma propriedade P é testável2 com erro-unilateral se, e somente se, P ésemi-hereditária.

2ver Observação 2.24.

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34 CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES TESTÁVEIS COM ERRO-UNILATERAL 5.2

Demonstração. Primeiro, podemos construir um ε-testador para uma propriedade semi-hereditáriaP simplesmente usando — para torneios suficientemente grandes — um 1

2ε-testador para a propri-edade hereditária H associada. De fato, torneios que satisfazem P também satisfazem H e, pelaobservação feita anteriormente, torneios ε-longe de P também estão 1

2ε-longe de H.Reciprocamente, seja P uma propriedade testável com erro-unilateral. Para todo ε, fixe um

ε-testador não-adaptativo Aε para P e defina qε como o número de vértices que Aε amostra.Seja F a família composta pelos torneios F para os quais existe um ε tal que

– o tamanho de F é exatamente qε e

– o algoritmo Aε rejeita sua entrada quando o torneio amostrado é isomorfo a F .

Afirmamos que P é uma propriedade semi-hereditária associada à propriedade H ..= Livre(F),com M(ε) = qε.

Primeiro precisamos mostrar que P ⊆ H. Suponha que exista um torneio T ∈ P tal que T /∈ H.Então T contém uma cópia de algum F ∈ F . Pela definição de F , existe ε tal que o número qε devértices amostrados por Aε é exatamente |F |. Portanto, com probabilidade positiva, o subtorneioamostrado por Aε é isomorfo a F . Logo Aε não é um testador com erro-unilateral, uma vez que Té rejeitado com probabilidade positiva.

Resta provar que P atende à segunda condição da Definição 5.6. Seja T um torneio ε-longede P e de tamanho pelo menos M(ε) = qε. Considere uma execução do algoritmo Aε em queT é rejeitado (lembrando que T é rejeitado com probabilidade 2

3). O torneio F amostrado nessaexecução está contido em F , por definição. Mas como F é um subtorneio de T , concluímos queT /∈ Livre(F) = H.

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Capítulo 6

Caracterização de propriedades testáveis

Após termos caracterizado as propriedades de torneio testáveis com erro-unilateral (Teorema 5.7), énatural nos perguntarmos quais são exatamente as propriedades testáveis, em condições genéricas.Em um primeiro momento, não é sequer evidente que existam propriedades não testáveis. Veremosa seguir que tais propriedades, de fato, existem. Em particular, veremos que não é possível testarisomorfismo entre torneios.

6.1 Exemplo de propriedade não testável

Definição 6.1 (propriedade Iso). Considere a seguinte propriedade Iso de torneios. Um torneioT = (V,A) satisfaz a propriedade Iso se

(i) V pode ser particionado em dois conjuntos U+, U− tais que todo vértice de U+ domina todosos vértices de U− e

(ii) T [U+] e T [U−] são isomorfos. ♦

Teorema 6.2 ([17]). A propriedade Iso não é testável.

Para provar o Teorema 6.2, mostraremos que existe um par de torneios que estão longe de seremisomorfos, mas que possuem exatamente o mesmo número de cópias de subtorneios de tamanhoq, para qualquer q fixado a priori. Isso implica que um testador que faz amostras de tamanho q“enxerga” esses dois torneios exatamente da mesma forma, isto é, ambos têm a mesma probabilidadede serem aceitos ou rejeitados.

Lema 6.3 ([17]). Existe uma constante ε = ε6.3 > 0 tal que para todo inteiro q > 0, existemtorneios Tr e T ′r, com r = r6.3(q), satisfazendo as seguintes propriedades:

(i) T ′r está ε-longe de ser isomorfo a Tr.

(ii) Tr e T ′r têm o mesmo número de cópias de H, para qualquer torneio H de tamanho menorou igual a q.

35

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36 CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES TESTÁVEIS 6.1

(iii) Ambos os torneios Tr e T ′r são tais que todo vértice tem grau de saída e entrada pelo menos16r e, para qualquer subconjunto de vértices S tal que 1

6r ≤ |S| ≤12r, vale que

~e(S, V \ S) ≥ 1

72r2 e ~e(V \ S, S) ≥ 1

72r2.

Demonstração. Seja U = 2(r2) o número de torneios com r elementos.Primeiramente, vamos mostrar que pelo menos 1

2U torneios de tamanho r satisfazem a terceiracondição acima. De fato, escolha um torneio T de tamanho r uniformemente ao acaso e fixe umvértice v de T . Temos

P(g+(v) <1

2r − 1

3r) ≤

A.2e−2(r/3)2

r = e−2r9 .

Além disso, fixado S ⊂ V (T ), 16r ≤ |S| ≤

12r, temos

P(~e(S, V \ S) ≤ 5

72r2 − 1

18r2) ≤

A.2e−2(r2/18)2

5r2/36 = e−245r2 .

Assim, a probabilidade de T não satisfazer a terceira propriedade é no máximo

2(re−29r + 2

12re−

245r2) <

1

2,

para r suficientemente grande.Existem menos que q2q2 torneios H de tamanho no máximo q. Para cada uma desses torneios

H, Tr pode conter no máximo rq cópias de H. Colocando C = q22q2 , concluímos que há no máximo

rC configurações possíveis para a contagem das cópias de torneios H em torneios de tamanho r.Pelo princípio da casa dos pombos, devem existir pelo menos 1

2UrC

torneios satisfazendo as duasúltimas propriedades do lema.

Finalmente, fixe um tal torneio Tr e uma constante ε > 0. O número total de torneios que estãoε-perto de serem isomorfos a Tr é no máximo

r!εr2∑i=0

((r2

)i

)< r!

(r2

εr2

)< rr(eε−1)εr

2.

Escolhendo ε tal que (eε−1)ε < 2−14 , temos que o número de tais torneios é menor que 2r log r+r

2/4,que é menor que 1

2UrC

, para r suficientemente grande. Concluímos então que existe um torneio T ′rque, junto com Tr, satisfaz todas as condições do lema.

Demonstração do Teorema 6.2. Suponha por absurdo que Iso seja testável e considere umε-testador para Iso, com ε = 1

36ε26.3. O Teorema 2.23 nos permite assumir que esse testador faz sua

decisão a partir do torneio induzido por um conjunto de q vértices escolhidos uniformemente aoacaso dentre os vértices do torneio de entrada, para um certo q ≥ 0.

Seja r = r6.3(q) e tome torneios Tr e T ′r como no enunciado do Lema 6.3. Construa um torneioTsim composto por uma cópia de Tr cujos vértices dominam todos os vértices de uma segunda cópia(disjunta) de Tr. Construa, ainda, um torneio Tnao composto por uma cópia de Tr cujos vérticesdominam todos os vértices de uma cópia (disjunta) de T ′r.

É evidente que Tsim satisfaz a propriedade Iso. Afirmamos que Tnao está ε-longe de Iso. Defato, suponha que exista um torneio ε-próximo a Tnao, admitindo conjuntos U+ e U− como na

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6.1 EXEMPLO DE PROPRIEDADE NÃO TESTÁVEL 37

propriedade Iso. Seja k = |U+ ∩ V (T ′r)|. Como é necessário inverter k2 arcos de Tnao para que U+

domine U−, devemos ter k ≤ 13ε6.3r. Mas a existência de um torneio ε-próximo a Tnao que satisfaz

Iso implica ser possível tornar Tr e Tr′ isomorfos após a inversão de menos que

ε(2r)2 + k2 + kr < (4ε+2

3ε6.3)r

2 < ε6.3r2

arcos, um absurdo.Assim, todo ε-testador deve aceitar Tsim e rejeitar Tnao, com probabilidade pelo menos 2

3 ,respectivamente. Por outro lado, como Tsim e Tnao têm o mesmo número de cópias de cada torneiode tamanho q, a probabilidade do testador considerado no começo da demonstração aceitar Tsimdeve ser exatamente a mesma de aceitar Tnao. Segue, portanto, que esse tal ε-testador não podeexistir.

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38 CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES TESTÁVEIS 6.1

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Capítulo 7

Considerações finais

Neste trabalho, verificamos que alguns dos resultados conhecidos a respeito de teste de propriedadesem grafos e digrafos possuem versões análogas para o caso de torneios.

Alon, Fischer, Krivelevich e Szegedy mostraram em [3] que é possível testar se grafos são livresde cópias de um certo subgrafo H com erro-unilateral, não apenas quando consideramos cópiasquaisquer mas também quando nos restringimos apenas a cópias induzidas. Demonstrar tal afir-mação constituiu um passo crucial na direção de caracterizar as propriedades testáveis em grafos,não apenas pelo resultado em si, mas principalmente pelas ferramentas empregadas para atingi-lo,como o Lema Forte da Regularidade. Nos capítulos 3 e 4, vimos que técnicas análogas podem serusadas para provar que a propriedade de torneios Livre(Th) — formada pelos torneios livres decópias de um torneio Th fixo — é facilmente testável com erro-unilateral. Em particular, provamosum Lema de Remoção para Torneios (4.2) que afirma que torneios que estão longe de serem livresde Th possuem uma densidade positiva de cópias de Th, de forma que tais “testemunhas” podemser encontradas com alta probabilidade em uma amostra de tamanho constante da entrada. Sali-entamos que a dificuldade de provar tal afirmação é similar à dificuldade da versão para grafos queconsidera apenas cópias induzidas, no sentido que não parece existir uma forma imediata de fazê-lousando apenas a versão mais simples do Lema de Regularidade (Teorema 3.25).

Mostramos ainda que, assim como ocorre no caso de grafos e digrafos [9], todas as propriedadeshereditárias de torneios são testáveis e que, a menos de uma generalização natural, essas são as únicastestáveis com erro-unilateral. No capítulo 6, apresentamos uma propriedade de torneios que nãopode ser testada (com ou sem erro-unilateral). A propriedade apresentada explora a dificuldade detestar isomorfismo entre torneios. Tal dificuldade é uma consequência da existência de torneios que,apesar de estarem longe de ser isomorfos, têm exatamente a mesma quantidade de cada subtorneiode tamanho fixo q (o que implica que um testador que faz amostras de tamanho q os enxergaexatamente da mesma forma). Essa dificuldade também existe para o caso de grafos [3].

Por outro lado, encontramos ao menos um problema em testes de propriedades de torneios que,aparentemente, não pode ser resolvido como nos casos análogos para grafos e digrafos, a saber, oproblema de determinar quais são os torneios facilmente testáveis. Na seção a seguir, discutimosesse problema de forma mais elaborada. Por fim, enunciamos na seção subsequente dois teoremasque acreditamos serem verdadeiros para torneios, mas que não foram desenvolvidos neste trabalho.

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40 CONSIDERAÇÕES FINAIS 7.2

7.1 Subtorneios facilmente testáveis

No estudo de teste de propriedades em grafos, fixado um grafo H, podemos considerar a propriedadede um grafo “ser livre de cópias de H”, análoga à propriedade Livre(Th) para torneios. Se essapropriedade é facilmente testável, dizemos que H é facilmente testável. Diferentemente do caso detorneios, existem duas versões dessa propriedade: a primeira é composta por grafos que não possuemH como subgrafo; a segunda é composta por grafos que não possuem H como subgrafo induzido.

Ao tratarmos de cópias não necessariamente induzidas, sabe-se que um grafo H é facilmentetestável se, e somente se, H for bipartido [2]. No caso de cópias induzidas, o problema também foiresolvido (quase que) completamente por Alon e Shapira [6, 8]:

– os caminhos P2, P3, P4 (de comprimento 1, 2, 3) e seus respectivos complementos P2, P3, P4

são facilmente testáveis;

– não se sabe se o circuito C4 (de comprimento 4) ou se C4 são testáveis;

– todos os demais grafos não são facilmente testáveis.

Existem resultados similares para o caso de digrafos [7, 8]. Em particular, Alon e Shapira [8]mostraram que triângulos (dirigidos) não são facilmente testáveis em digrafos, o que contrasta com oresultado oposto apresentado para torneios no Teorema 2.26. A demonstração desses autores utilizauma construção de Behrend sobre conjuntos densos sem progressões aritméticas de tamanho 3 paraprovar a existência de digrafos que, apesar de serem ε-longe de serem livres de triângulos, não sãopoli(ε)-abundantes de triângulos. Todos as demonstrações (contidas nos artigos supracitados) queprovam que certos grafos ou digrafos não são facilmente testáveis também se baseiam em construçõesbem similares. Os grafos (ou digrafos) resultantes de tais construções têm densidade de arestas (ouarcos) bem menor que 1. Nesse sentido, mostrar que certo torneio Th não é facilmente testávelparece ser uma tarefa mais complexa.

Na outra direção, mostramos que o conjunto FT formado pelos torneios facilmente testáveis éfechado por operações de expansão (Teorema 4.11), o que implica que se T ′ é facilmente testávele T hom−→ T ′, então T é facilmente testável. Em particular, garantimos a existência de um númeroinfinito de torneios facilmente testáveis, o que contrasta com os caso de cópias induzidas em grafose digrafos. Neste contexto, uma questão que nos parece interessante é se o conjunto de torneiosfacilmente testáveis é finito “a menos de operações de homomorfismo”.

Pergunta 7.1. Existe um conjunto finito S, tal que FT = {T : Thom−→ T ′, para algum T ′ ∈ S}?♦

Por fim, notamos que grafos bipartidos são facilmente testáveis1 simplesmente porque todo grafobipartido fixo é poli(ε)-abundante em grafos com densidade de arestas pelo menos ε. 2 De maneirasimilar, o fato de torneios Tr,s,t serem facilmente testáveis é uma consequência direta de Tr,s,tser poli(ε′)-abundante em qualquer torneio com densidade pelo menos ε′ de triângulos orientados— note que torneios ε-longe de Livre(Th) têm densidade pelo menos ε′ ..= poli(ε) de triângulosorientados, para todo Th não transitivo3. Parece portanto plausível formular a seguinte questão.

Pergunta 7.2. Podemos tomar o conjunto S da Pergunta 7.1 como um conjunto unitário contendoum triângulo orientado? ♦

1no caso não induzido.2note que ser ε-longe de ser livre de qualquer grafo H implica ter densidade de arestas pelo menos ε.3não existem torneios (suficientemente grandes) ε-longe de Th acíclicos.

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7.2 RESULTADOS ADICIONAIS PARA TORNEIOS 41

7.2 Resultados adicionais para torneios

Alon, Fischer, Newman e Shapira [5] deram uma caracterização das propriedades testáveis em grafos(com ou sem erro-unilateral) que mostra que testabilidade e regularidade são conceitos intrinseca-mente relacionados.

De maneira informal, os autores mostraram que uma propriedade P de grafos é testável se, esomente se, existe um conjunto finito C de “classes” de partições regulares satisfazendo as seguintecondições: i) grafos que satisfazem P admitem partições regulares pertencentes a alguma classeC ∈ C; ii) grafos longe de P estão longe de admitirem partições em C, para todo C ∈ C. A seguir,fazemos as definições necessárias para formalizar tais idéias para o caso de torneios.

Definição 7.3 (classe de partições). Uma classe de partições C é uma 4-upla

(γ,m, {ηij}1≤i<j≤m, I),

tal que 0 < γ ≤ 1, 0 ≤ ηij ≤ 1, m é um inteiro positivo e I é um conjunto de no máximo γm2 pares(i, j) com 1 ≤ i < j ≤ m. Dizemos que um torneio T satisfaz a classe C se existe uma equipartição{V1, . . . , Vm} dos vértices de T tal que, para todo (i, j) /∈ I, o par (Vi, Vj) é ε-regular com densidade~d(Vi, Vj) = ηij (1 ≤ i < j ≤ m). ♦

Definição 7.4 (classe-redutível). Uma propriedade de torneios P é classe-redutível se para todoθ > 0, existe uma coleção finita C de classes de equipartições tais que para todo ε > 0 e todo torneioT satisfazem as seguintes condições:

1. Se T satisfaz P, então T está θ-perto de satisfazer C, para algum C ∈ C.

2. Se T está ε-longe de P, então para todo C ∈ C. T está (ε−θ)-longe de satisfazer C, para todoC ∈ C. ♦

Acreditamos ser possível demonstrar o seguinte resultado procedendo de maneira análoga à de-monstração contida em [5].

Conjectura 7.5. Uma propriedade de torneios P é testável se, e somente se, P é classe-redutível.♦

Usando técnicas similares às empregadas na demonstração do resultado acima para grafos, Fis-cher e Newman [18] provaram que é possível estimar a distância de um grafo a qualquer propriedadetestável. A seguir, formalizamos os conceitos relacionados a essa afirmação para o caso de torneios.

Definição 7.6 ((ε, θ)-estimável). Uma propriedade de torneios P é (ε, θ)-estimável se existe umalgoritmo de decisão probabilístico que recebe acesso a um torneio T de entrada por meio de umoráculo e satisfaz as seguintes propriedades.

1. Se T está (ε− 12θ)-perto de P, então A aceita T com probabilidade pelo menos 2

3 .

2. Se T está (ε+ 12θ)-longe de P, então A rejeita T com probabilidade pelo menos 2

3 .

3. O número máximo de consultas que A faz ao oráculo independe do tamanho de T .

Dizemos que uma propriedade é estimável se ela for (ε, θ)-estimável para todo ε > 0 e θ > 0. ♦

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42 CONSIDERAÇÕES FINAIS .0

Observamos que dada uma propriedade P estimável, um torneio T e uma constante θ > 0, é possívelestimar a distância de T a P (a menos de um erro θ) por meio de uma busca binária que executaalgoritmos como acima descritos para diversos valores de ε.

Acreditamos que o seguinte resultado pode ser provado de forma similar à feita em [18] paragrafos.

Conjectura 7.7. Toda propriedade testável de torneios é estimável. ♦

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Apêndice A

Desigualdade de Chebyshev e Cotas deChernoff

Seja Z uma variável aleatória qualquer com média µ e variância σ2 finitas. Não é difícil verificarque vale a seguinte desigualdade.

Teorema A.1 (Desigualdade de Chebyshev).

P(|Z − µ| ≥ kσ) ≤ 1

k2.

Seja X uma variável com distribuição binomial com parâmetros n e p e seja µ = E(X) = np.Os dois resultados abaixo mostram que a probabilidade de X desviar de µ por um fator aditivo adecresce exponencialmente em função de a. Estas e outras cotas de desvios de somas de variáveisindependentes em relação a média — usualmente denominadas cotas de Chernoff — podem serobtidas a partir das desigualdades contidas em [13] (consultar também [10, Apêndice A]).

Teorema A.2 (Cota de Chernoff). Para todo 0 < a < µ,

P(X ≥ µ+ a) ≤ ea2

e P(X ≤ µ− a) ≤ ea2

2µ .

Colorário A.3 (Cota de Chernoff). Para todo 0 < a < µ,

P(|X − E(X)| ≥ a) ≤ 2ea2

3µ .

43

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44 DESIGUALDADE DE CHEBYSHEV E COTAS DE CHERNOFF A.0

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gr indica que o resultado referenciado é na verdade uma versão análoga (do resultado em questão) para o caso degrafos.