Texto - America I ENTREGAR
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DISCIPLINA: História da América I
Adauto Neto Fonseca Duque
Ementa: Estudo das estruturas e das transformações das sociedadesamericanas. Fontes e tendências da produção historiográfica sobre a América
nos séculos XV e XVI. Reflexão crítica a cerca dos povos da América pré-
colombiana, especialmente as sociedades da mesoamérica e Andes. Pensar a
especificidade, contextualização internacional e tendênci as da historiografia
sobre a América Colonial. Discussão sobre o ensino de História da América.
Competências:
y Apresentar os conceitos historiográficos sobre o processo de chegada
dos europeus na ³América´;
y Estudar a história da América no período da cheg ada dos europeus,
enfatizando o uso das fontes e os debates em torno do ³descobrimento´
e/ou ³construção´ da América;
y Discutir as formas de poder e resistência visualizada no período colonial
na América Hispânica;
Habilidades:
y Discussão e vivência da prática de ensino de História da América;
y Estudo sobre as comunidades testemunhas do processo de construção
da América ± sua economia e vida cotidiana;
y Análise crítica dos embates e debates sobre a ³descoberta´ e seu
sentido atual.
y Verificar no sistema colonial as relações de trabalho, as formas e
imposições do poder.
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y Construção de argumento crítico em torno da cultura surgida do choque
e do encontro das nações autóctones da América e os vários povos
coloniais participantes ativos da construção da América.
SUMÁRIO
O MUNDO A SER CONSTRUÍDO COMO AMÉRICA ANTES PRECISAVA SER
DESTRUÍDO
OCUPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO NOVO MUNDO
DESTAQUE PARA OS ASTECAS: PARA FALAR DE CONTATO,
CONFRONTOS E HECATOMBE CULTURAL
BARBÁRIE E CIVILIZAÇÃO
MECANISMOS DOS PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA
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O MUNDO A SER CONSTRUÍDO COMO AMÉRICA ANTES PRECISAVASER DESTRUÍDO
O vasto referencial bibliográfico tratando sobre a visão do europeu a
cerca da conquista da América está baseado em relatos dos jesuítas, as cartas
dos viajantes e diários dos conquistadores falando sobre os lugares
encontrados. Atentamos para o fato de que tal material expressa um panorama
descritivo impregnado da visão de mundo do europeu. Relatos que tendem a
ocultar a dinâmica e complexidade na variedade de povos, línguas, economia e
relações sociopolíticas encontradas na América e que podiam ser análog as
aquelas visualizadas em lugares conhecidos como a Ásia.
A conquista relatada nos documentos será aquela transmitida para que o
público europeu, a qual se destinava, principalmente financiadores e
investidores pudessem acreditar e continuar o fomento às atividades
desenvolvidas no Novo Mundo.
Todavia, poucas são as fontes que tratam sobre o que os ameríndios
pensaram daquela invasão e as publicações existentes nos chegam filtradas
pelo olhar dos seus autores e baseados na interpretação de fontes produzidas
a partir das ações e visões dos colonizadores.
Para começar entender o processo do qual somos resultados ± a
conquista da América ± voltamos um olhar sobre os diários de viagens escritos
por Cristóvão Colombo e a historiografia a cerca da conquista da América.
Em seus diários de viagem Colombo demonstra a complexidade de
navegar e estar à procura de algo real ± especiarias e novos mercados ± e, no
entanto, encontrar o inimaginável. Terra que poderia vir a ser uma descoberta
positiva, mas em seus elementos reais reservava à Colombo o encontro com
homens rudes e ausência de núcleos urbanos e terras de ouro abundante
como relatos sobre a Ásia. Espaço onde sua convicção e sua incapacidade de
ver além dos seus desejos o tornaram peregrino e prisioneiro.
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Quando Cristóvão Colombo se lançou à travessia dosgrandes espaços vazios a oeste da Ecúmene, haviaaceitado o desafio das lendas. Tempestades terríveisbalançariam suas naus, como se fossem cascas denozes, e as arremessariam nas bocas dos monstros; agrande serpente dos mares tenebrosos, faminta de carne
humana, estaria à espreita. Só faltavam mil anos para queos fogos purificadores do Juízo Final arrasassem omundo, como acreditavam os homens do século XV; omundo era o mar Mediterrâneo com suas costasambíguas: Europa, África, Ásia. Os navegantesportugueses asseguravam que os ventos do oeste traziamcadáveres estranhos e às vezes arrastavam troncoscuriosamente talhados, mas ninguém suspeitava que omundo seria, logo, assombrosamente acrescido por umavasta terra nova (Galeano, 2005:27).
Navegador hábil e experiente. Religioso em ação de converter almas. Ambicioso em busca de ouro. Estrangeiro a procura de honra e
reconhecimento. Essas são imagens que podemos construir a cerca do homem
Colombo.
(Abrir um diálogo com o filme - 1492 ± A conquista do Paraíso ± pode-se
perceber:
A articulação, junto a Coroa Espanhola e junto à burguesia comercial, do
navegador Cristovão Colombo em busca do caminho, via oeste, para a Ásia;
O encontro com os indígenas; A relação de estranhamento;
As dificuldades no processo de colonização;
As estratégias dos índios para resistir ou associar-se ao colonizador).
Na historiografia Colombo figura como o navegador que primeiro traçou
os rumos do além-mar no processo de encontro com o continente americano.
Fato que demonstra também sua destreza para captar grandes somas de
recursos do recém formado Estado Nacional espanhol. Recursos advindos da
ligação entre o Estado e a Burguesia, sendo de interesse de ambos a
expansão comercial e a diversificação das rotas de navegação em direção ao
Oriente, região fornecedora das especiarias comercializadas na Europa .
No entanto, os investimentos dos reis católicos Fernando e Isabel na
expedição comandada por Colombo surgem de forma um tanto inesperada,
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mas estavam alicerçados pela competição e rivalidade vivenciada na época por
Portugal e Espanha. Tendo Portugal chegado ao Cabo da Boa Esperança a
rival deveria demonstrar que também tinha poder e capacidade de investir em
novas descobertas.
Parece óbvio que Fernando e Isabel acederam aosinsistentes pedidos de Colombo, com a esperança do jogador que, confiando num extraordinário golpe de sorte,decide aceitar um convite arriscado. Era muito pouco oque se poderia perder e muitíssimo o que se poderiaganhar (O`Gormam, 1992:101-102).
Tudo valia a pena, inclusive aceitar as regras impostas por Colombo
quanto as divisões de lucros e postos administrativos, títulos nobiliário s,
honrarias e glórias vitalícias para si e sua família.
[...] me concederam grandes mercês e me enobrecerampara que daí em diante me intitulasse µDom¶ e fosse Almirante-Mor do Mar Oceano, Vice-Rei e Governador Perpétuo de todas as ilhas e terra firme que descobrisse econquistasse, e que doravante se descobrisse econquistasse no Mar Oceano, e assim procedesse meufilho mais velho e, da mesma forma, de grau para todo osempre (Colombo, 1999:32).
No entanto, o encontro do qual resultou o processo de conquista e
colonização dos povos da mesoamérica1 pode ser caracterizado como um
inevitável desastre, pois os elementos buscados, as especiarias, que
funcionaram como impulsionadoras das viagens, não foram encontradas no
primeiro momento.
Podemos partir desse contexto para listar os equívocos espanhóis que
se projetam na América. O primeiro deles será a denominação de ³índio´ para
os ocupantes da região encontrada, o erro configura a visão de proximidade
com o espaço geográfico buscado ± as Índias.
Para o conquistador aquilo que não atende suas necessidades precisamser modificadas e mesmo tendo encontrado lugares em que o comércio era
dinâmico e contava com uma organização social peculiar ao espaço, os
europeus taxaram a todos de povos isolados e carente. A presença de
1 Região central e sul do México e a Guatemala, espaço que no período pré-colombiano estavaocupado por um conjunto inter-relacionados de culturas superiores como o Império Asteca.
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pirâmides, cidades e impérios foram negligenciadas, sendo ressaltado, por
exemplo, a ausência de fundição de ferro e aço. Na concepção dos europeus
esta era uma atividade de suma importância, pois assim mantinha-se a
fabricação de armas, como acontecia nos reinos africanos e asiáticos. Essa
questão Havaí sido levantada por Colombo: ³Não andam com armas, que nemconhecem, pois lhes mostrei espadas, que pegaram pelo fio e se cortaram por
ignorância. Não tem nenhum ferro: as suas lanças são varas sem ferro, sendo
que algumas têm no cabo um dente de peixe e outras uma variedade de
coisas´ (Colombo, 1999:52).
Nesse contexto, a catastrófica percepção européia de um mundo a ser
construído impulsionou a desagregação sócio-cultural e econômica dos povos
que habitavam a região conquistada. Povos como aqueles que orbitavam na
Confederação Asteca e dela faziam uma possibilidade de vivência estável.
Nunca harmoniosa, mas firmes nos propósitos de que ambas cumpriam seus
desígnios junto aos deuses.
Interessante perceber que o lado mais forte da relação, por exemplo, o
imperador Asteca em relação aos povos da Confederação, tinha também
incalculáveis responsabilidades com os povos a quem dominava. Tinha função
de proteger, de alimentar em caso de longos períodos de estiagem, ajudar e
reconstruir quando assolados por calamidades. Em troca os povos
conquistados mantinham sua fidelidade nos pagamentos de tributos. Portanto,
era uma relação bilateral e as partes sabiam negociar, em igualdade as formas
de conviver.
No processo de avanço europeu em direção às Índias o continente
americano surgirá como um obstáculo. O momento específico era de busca por
especiarias orientais e para esse objetivo a América não demonstrava potencial
produtivo para atender os mercados europeus. Formata-se, a partir da visão
européia de mercado em expansão comercial, a necessidade de implantar nos
indígenas uma mentalidade produtiva para atender ao Mercantilismo 2,
principalmente quando se refere aos lucros que deverá enriquecer a burguesia
e garantir a estabilidade dos Estados através da coleta de impostos.
2 Conjunto de práticas e ideias econômicas desenvolvidas na Europa entre os séculos XV eXVIII.
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Os atos e mecanismos que se colocaram em marcha a partir de 1492
regulam um universo complexo de construção de mentalidades e justificam a
ação de formatar espaços de trabalho e vivências baseadas em um modelo
conhecido ± o europeu. Assim, justifica-se a tese de Edmundo O`Gormam de
que a América foi inventada a partir dos preceitos do século XV, envolvendoaspectos que envolvem homens e a própria concepção de humanidade .
Podendo ser alvo de controvérsias as teses levantadas O`Gormam
justificam-se pelo olhar atento as formas de ler a chegada dos europeus neste
continente. Claramente evidenciadas as viagens de Colombo estavam
direcionadas para uma região conhecida como Índias Orientais. Lugar de
riquezas, produtora de especiarias e pilhada de mercadores prontos a
comercializar com os europeus. Esse universo que conhecia o valor do dinheiro
e do lucro estava intimamente ligado aos interesses dos Estados Nacionais e
da Burguesia. Portanto, nada comparável foi encontrado pelos navegantes no
momento em que estabelecem o contato com as terras encontradas:
Real, verdadeira e literalmente a América, como tal, nãoexiste, a pesar da existência da massa de terras nãosubmersas que, no decorrer do tempo, acabará por lheatribuir esse sentido, esse significado. Colombo, pois, vivee atua no âmbito de um mundo em que a América,imprevista e imprevisível, era, em todo caso, merapossibilidade futura, mas da qual, nem ele nem ninguém
tinha idéia, nem poderia tê-la (O´Gorman, 1992: 99).
O espaço estava ocupado, mas por sujeitos preocupados com a
mecânica de suas formas de encarar o mundo simbólico, baseado no culto a os
deuses e na constante lida para agradá-los.
Trabalhar o filme ± Apocalypto ± e tratar de questões como:
Os sacrifícios humanos na mesoamérica;
A belicosidade dos povos indígenas;
Os mecanismos religiosos; A complexidade da cultura mesoamericana;
As tradições e cultos indígenas.
Etnicamente diferenciados os povos indígenas variavam entre
complexos mecanismos de ordenamento religioso, produtivo e social e grupos
que viviam no nomadismo e como coletores ± indicados como primitivos. A
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convivência podia ser de subjugação, praticada pelo império asteca e inca, mas
também de respeito às características de cada povo. Regiões conquistadas
poderiam manter suas administrações e certa autonomia, desde que se
mantivesse fiel ao pagamento de tributos devidos ao conquistador.
A diversificada cultura indígena, ancestralmente baseada na observaçãoe respeito às dinâmicas da natureza, precisava ser rompida. Os
conquistadores, sob diferentes pretextos tais como rompimento do isolamento,
apresentar um Deus e civilizar promoveram a destruição das Altas Culturas dos
povos da Confederação Astecas, dos Maias e do Império Inca.
(Sites de Imagens ± Chinampas ± cidades ± estrutura urbana -
Códice Mendoza www.river-styx.net/aztec-codex.htm
www.historianet.com.br )
O mundo, caracterizado e ideologicamente alicerçado em bases míticas,
ordena um universo de conhecimentos expressos pela poesia e outras
manifestações da arte herdada de povos anteriormente conquistados. Essa
dinâmica de perceber e proteger os valores e conhecimentos dos outros
garantiu aos complexos impérios indígenas a construção de grandes cidades
como:
y Tenochtitlan (México) - região dos astecas ou mexicas;
y Copán (Honduras), Tulum (México) e Uxmal (México) ± região
dos maias;
y Cozco (Peru) ± região dominada pelos incas.
No período anterior a chegada de Colombo estima-se que o continente
americano abrigava algo em torno de 57.300.000 indígenas , muitos deles
distribuídos em inúmeras cidades que mantinham ordenadas a produção rural,
o sistema de pastoreio e as obras de irrigação e/ou drenagem. Tão complexo
quanto manter o território produtivo era configurar um mecanismo sócio -político
capaz de manter a unidade, a estabilidade e o controle em vastos domínios.
O refinamento político, como no caso dos Maias, tornou possível a
caracterização desses espaços como cidades-estados. Lugares de riquezas
baseadas na forma de trabalho e cobrança de tributos em ouro, pedras
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preciosas e produção de cereais, abundantes nas terras dominadas. Entre os
astecas também a complexidade da Confederação garantia a riqueza e
domínio do império.
No processo de sedentarização dos grupos Inca e Asteca a agricultura
era a base da atividade de sustentação e as famílias tiveram que aprender,dominar e domesticar os frutos, ervas, sementes e raízes a ponto de tornar
esses conhecimentos a base do poder de grupos que cultivam determinados
espaços de terra por várias gerações. No caso dos incas a domesticação e
produção de batata garantiam a estabilidade e prosperidade em uma região
considerada inóspita e de difícil acesso.
No processo de avanço sobre as riquezas dos povos do continente os
espanhóis negligenciaram esses conhecimentos e não desviaram seus olhos
do ouro. A atenção dada aos indígenas era irrelevante, as línguas foram
negligenciadas e a cultura destruída pela transposição da aculturação, a
comunicação se estabelecia nos moldes do interesse dos colonizadores e tudo
que fazia sentido era o recolhimento de metais preciosos. Desolados e
desgraçados em suas realidades, os povos ± como exemplar são os Astecas -
foram dizimados, vitimados pela sangrenta fúria e impiedosa artilharia colocada
em marcha contra arcos e flechas.
Os indígenas pagaram com vidas e acabaram por conhecer a
desvantagem de suas armas diante das estratégias e dos objetivos da guerra
contra eles declarada. Foi deveras caro perceber que no confronto direto os
hábeis arqueiros não conseguiram encontrar os alvos e a pólvora tornou -se
eficiente.
Para os indígenas a presença dos deuses era garantia de vitória. A
comunicação estabelecida entre homens e Deus assegurava a estabilidade e
tornava o universo real menos danoso. Todavia, diante dos europeus, a
fragilidade desse estilo simbólico de viver demonstrou a dificuldade de
recomposição em curto prazo e tudo que poderia ser a força de sustentação
tornou-se um problema:
Eles pediram aos deuses que lhes concedessem favorese a vitória sobre os espanhóis e outros inimigos. Masdevia ser tarde demais, porque não obtiveram maisnenhuma resposta em seus oráculos; então consideraram
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os deuses mudos ou mortos (Durán, III, 77 apud Todorov,1999:74)
Na visão asteca quando os deuses não conseguem mais se comunicar
com os vivos desaparecem as razões pelas quais se lutava. Essa forma de
encarar a guerra foi percebida pelos europeus que exageram em seus feitos e
comunicam aos indígenas a prisão ou até a morte de seus deuses.
É interessante ressaltar que o mundo simbólico permeado de mitos e
histórias fantásticas, vivenciado pelos astecas não difere em circunstâncias
daquele universo buscado pelos europeus. Estes estavam em busca do
Paraíso Terrestre, venciam os mares para encontrar as terras descritas por
Marco Polo e os reinos nos quais o ouro brotava em abundância e podia ser
coletado sem esforço.
Os mitos, que sempre atuaram sobre o comportamentohumano, tiveram, na época das descobertas, um papelverdadeiramente mobilizador, na medida em que astentativas de localizar as regiões míticas determinaram asações de muitos conquistadores. Tratados foramredigidos, mapas foram traçados, fortunas foraminvestidas na organização de difíceis e perigosasexpedições marítimas e terrestres e muitas vidas seperderam (Magasich-Airola e Beer: 2000: 17).
No entanto, mitos e homens passam por um processo de dizimação e
diferentes mecanismos de ação serão utilizados contra os indígenas, podendo
ser visualizados a partir das guerras, do avanço em propriedades, nos saques
aos templos e também na infecção por doenças. Uma simples gripe trazida
pelos conquistadores era difícil de ser curada pelos conhecimentos da região,
nesse caso de acordo com Todorov os espanhóis acabaram por inaugurar a
guerra bacteriológica.
Do México aos Andes doenças e estratégias militares colocaram em
evidência o poder de ação dos espanhóis. Para os indígenas algo de muitoestranho era vivificada no período de avanço dos conquistadores, pois suas
abomináveis ações, em épocas anteriores, haviam sido praticadas pelos povos
que povo que dominava a mesoamérica:
Há muitas semelhanças entre conquistadores antigos enovos, estes últimos sentiram isso, já que eles mesmosdescreveram os astecas como invasores recentes,
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conquistadores como eles. [...]. Os espanhóis queimarãoos livros dos mexicanos para apagar a religião deles;destruirão os monumentos, para fazer desaparecer qualquer lembrança de uma grandeza antiga. Mas, cemanos antes, durante o reinado de Itzcoatl, os própriosastecas tinham destruído todos os livros antigos, para
poderem escrever a história a seu modo (Todorov,2010,83)
Não se pode negar a construção do mundo asteca a partir da
subjugação dos povos presentes na mesoamérica, mas a proporção das
forças, a belicosidade e as dinâmicas colocadas em prática deixavam
conquistados e conquistadores em igual condição de combate. Quanto aos
europeus, utilizam força desproporcional contra os astecas e os mecanismos
colocados no embate, seja ele físico ou moral , deixavam os índios
desnorteados e sem poder de reação. Estamos falando de armas de fogo,
canhões e arcabuzes contra arcos e flechas de madeira ou pedra.
No entanto, mesmo nos confrontos violentos, a resistência indígena será
percebida principalmente pelo viés da manutenção da religiosidade ancestral
caracterizada pelos europeus como ³idolatrias coloniais´. Para prender a
atenção dos padres e dinamizar a participação da Igreja em eventos de
massacre cultural os colonizadores sepultaram a viva religiosidade.
Utilizando-se quer de métodos violentos, a exemplo daação inquisitorial dos bispos, quer de métodospersuasivos, como foi a catequese jesuítica oufranciscana, a Igreja Colonial mobilizou o máximo derecursos a seu dispor para erradicar os ³cultos diabólicos´que julgava existir no mundo indígena (Vainfas, 1992:29)
Nesse espaço dois mundos se encontram e reconfiguram-se ± de um
lado o Europeu e sua dinâmica de pensamento baseada na configuração
econômica, demonstrando a face daquilo que se julgava como realidade do
mundo. De outro percebemos um universo de simbologias, no qual tudo podeser anunciado por mudanças no céu, na água e na dinâmica da sociedade.
Ao que podemos chamar de riqueza da cultura mesoamericana os
europeus descaracterizam e conceitual como espaço de barbárie e de falta de
civilidade. Dessa forma justificaram e tornaram necessária a implantação de
uma nova percepção de mundo. Colocaram em marcha um processo de
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civilizar, ainda que para isso a violência e a morte ditassem as regras ou a
ausência destas. O bárbaro acaba sendo transferido da história européia para
a América e surge novamente no embate com a força do poder econômico e
cultural.
Nesse espaço ± do qual o silvícola vai ser destronado - o civilizadocoloca em evidência sua matriz de irracionalidade e projeta sobre o ser ausente
(a civilidade) todo um aparato de racionalidade:
y Ordenamento do espaço produtivo;
y Construção de cidades;
y Demonização das práticas religiosas;
y Destruição dos cultos aos deuses;
y Construção de templos aos moldes do colonizador;
y Implantação do aparato de colonização.
Nesse contexto, a civilidade passa a ser uma busca constante e uma
imposição para os indígenas. Estes tentaram se igualar ao colonizador e
acabaram por demonstrar aceitação dos preceitos impostos como a língua, a
religiosidade, a vestimenta e demais elementos da cultura e do mundo do
trabalho.
As razões que levam a aventura das navegações em direção a América?
Cristovão Colombo encontrou a América?
Transformações impostas pelos colonizadores?
As mudanças no contexto do espaço produtivo na América?
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OCUPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO NOVO MUNDO
A ideia de uma terra sem trabalho produtivo e excedente não cabia na
mentalidade mercantilista européia. É preciso configurar um espaço capaz de
prover e continuamente abastecer com mercadorias os comerciantes do Velho
Mundo.
Essa imagem leva a perceber a grandiosa tarefa de construir no
continente encontrado um Novo Mundo. O novo estará baseado no universo
mercantil, estruturado sob bases na mentalidade ocidental de expansão ,
conquista e produção.
Estrutura das formas de produção na América espanhola:
Mita: comum nas regiões dos países andinos e no México (cuatéquil),
era um serviço obrigatório, insalubre, temporário e gratuito . Os indígenas
podiam receber fumo e álcool, mas o trabalho forçado em geral levava à morte.
Encomienda: comum na extração de metais e na agricultura nas
haciendas (fazendas em sistema de plantations), caracterizava-se como
trabalho servil, mas o fazendeiro ou minerador era obrigado a promover o
processo de catequese e pagava imposto proporcional a quantidade de
indígenas que trabalhavam nas suas propriedades.
Escravidão Negra: estava presente em toda a América, sendo intenso no
Caribe (Cuba e Porto Rico), principalmente nas plantations e serviços
domésticos.
A primeira atividade imposta aos colonizadores foi de tentar despovoar a
terra e intimamente colocar em prática a aculturação e ser capaz de destronar
os deuses e dinamizar o sistema produtivo. No entanto, os europeus vão
perceber que instalar uma fazenda (hacienda) ou engenho não é somente
transformar a paisagem. Antes tem se modificar os homens, pois estes
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estavam adaptados aos costumes de utilização da natureza como base da
sustentação e da riqueza dos diferentes grupos.
No processo de avanço produtivo foram instaladas as colônias de
exploração para atender aos mercados das metrópoles européias. Minas
tiveram que ser abertas e exploradas em larga escala, os índios escravizados ea força-de-trabalho foi colocada a serviço do colonizador. Com a ampliação das
demandas por mercadorias ordenou o sistema de estruturação do Pacto
Colonial que mantinha a obediência das áreas produtoras em relação aos
mercados metropolitanos.
O mercantilismo ditava as regras de manutenção da estabilidade
econômica capitalista (em ascensão) e as estrutura do poder colonial sem
contestação. Todavia, a partir da Revolução Industrial e expansão das ideias
de livre comércio e livre-concorrência as bases do mercantilismo começam a
perder a função de mantenedora do processo produtivo colonial. Instabilidades
e disputas tanto nas colônias quanto na Europa inte nsificaram os movimentos
emacipacionistas.
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DESTAQUE PARA OS ASTECAS: PARA FALAR DE CONTATO,CONFRONTOS E HECATOMBE CULTURAL
O povo Asteca ou Mexica é herdeiro cultural de povos como os Toltecas
e Chichimecas dos quais vão incorporar as artes e a língua nahuatl. Liderados
pelo poder supremo vindo da cidade de México-Tenochtitlán, os Astecas
construíram uma sociedade plural, formada por complexa convivência de
sistemas religiosos, políticos e culturais vivenciados na mesoamérica.
Na chegada dos espanhóis ao continente os astecas viviam na
peculiaridade de suas rea lidades, entendidas a partir de intrigas, regras de
cortesia, as simbologias e o sentido dos sacrifícios humanos. Estas práticas
foram visualizadas sob a ótica dos espanhóis como abomináveis e prontas a
serem destruídas pelos povos ³civilizados´.
Os astecas fomentavam uma incessante atividade guerreira que se
traduzia em um desejo de estabelecer relações comerciais vantajosas bem
como a necessidade contínua de capturar e sacrificar adversários, cujo sangue
fazia com que o sol prosseguisse em seu movimento. No espaço em que
combatiam eram imbatíveis e faziam da guerra uma ação de conquista.
Todavia, desconheciam as guerras de extermínio, colocada em prática pelos
espanhóis após 1519 e levou o povo asteca à destruição.
Entre as diferentes condições de vivência no mundo Asteca, Soustelle
destaca na obra ³Os Astecas na véspera da conquista espanhola´ a sociedade
altamente sofisticada encontrada pelos espanhóis. Sociedade que de acordo
com Todorov causa espanto e admiração nos soldados de Hernan Cortez ao
aportarem no México em 1519.
O sistema de convivência entre os povos do império (A Confederação
Asteca) pode ser entendido numa dinâmica de subjugação, conflitos e
conquistas, mas os povos se entendiam nessa convivência conflituosa, pois as
cidades subjugadas estavam sempre tentando reaver sua posição de livre dos
tributos e conscientemente não aceitavam o domínio de um povo considerado
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estrangeiro. Todavia, em caso de revolta os astecas estavam sempre
preparados:
Uma expedição militar se encarregava imediatamente derestaurar a ordem e punir os revoltados. Cada vez mais, ocidadão mexicano deixava de ser caponês-soldado para
tornar-se um militar profissional, sempre em campanha.[...]. Assim, o mexicano, já guerreiro por temperamento etradição, raramente depunha as armas ( Soustelle,1990:21).
A presença espanhola na região da Mesoamérica causou o
desmoronamento de toda uma sociedade sustentada sob o olhar e a presença
belicosa dos Astecas. Adaptados a realidade imposta pela natureza
desenvolveram um modo típico de vivência com povos e espaço. A constância
e as circunstâncias das guerras aparecem como necessidade de manutençãoda posição de liderança local e não apenas como expansão territorial. Esses
postos serviam também para o ³império´ dá um retorno claro aos povos
tributários uma vez que há uma espécie de socorro mútuo em caso de conflitos
e nas constantes calamidades naturais.
O mundo Asteca despido das sombras do martírio infligido aos homens,
mulheres e crianças sacrificadas aparece culturalmente como um mundo
simbólico e perfeitamente associado ao caos e os períodos de harmonia, dois
dos elementos mais presente nesta sociedade. Cotidiano que presencia achegada de estranhos visitantes e a permanência de um caos continuado,
capaz de mergulhar nas brumas do desespero guerreiros, nobres, enfim, toda
uma civilização que compreendia o mundo sob o viés da busca pela melhor
forma de agradar seus antepassados e seus Deuses.
O caos aparece como fator determinante para o entendimento do mundo
vivenciado cotidianamente pelos astecas. A busca constante pela estabilidade
do mundo acabava por forçar constantes sacrifícios ritualísticos ou mesmo do
corpo individualmente ou coletivamente. Nesse sentido, a ação de sacrificar
não pode ser tomada como ato de barbárie ou ser tomada de forma análoga
aos castigos e/ou punições impetrados contra os condenados por bruxaria na
Europa. Os sacrifícios humanos ou animais tinham a função de ordenar o
mundo visível e minimizar a ira dos Deuses.
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O centro dessa civilização era a cidade denominada de ³Tenochtitl án´ -
significando ³cidade dos mexicas´. Esta era uma cidade de praças, canais e
palácios. A grandeza dos templos deixaram estupefatos conquistadores
espanhóis. Segundo Soustelle ³[...] estavam todos de acordo em expressar sua
admiração diante do esplendor da cidade´. Esta afirmação representa oespanto dos conquistadores diante dos povos conquistados, da magnitude da
civilização até então construída, nos fazendo perceber que traziam em seu
imaginário conceitos pré-estabelecidos e juízos de valor em relação os povos
ameríndios. A admiração, portanto, estava baseada na certeza de não haver
quaisquer elementos que pudessem denotar um padrão mínimo de analogia
com o mundo europeu. Uma estranha forma de espanto diante do inimaginável
mundo que se desenha, em muitos aspectos, mais esplendoroso que as sedes
dos impérios da Europa.
No ponto de vista econômico, a civilização Asteca se baseava na
agricultura e no comércio ± entendimento dado pelos espanhóis, pois o sentido
do comércio, enquanto produtor de ganho e capital, ainda não estava pres ente
entre os Astecas no período inicial da conquista. Todavia, era nítida a relação
estreita entre agricultura e as cidades.
Em sua sociedade possuíam uma hierarquização com o monarca
semidivino no topo, seguido pelos nobres, altos sacerdotes, homens comuns,
servos, escravos e, por último, os prisioneiros de guerra. Interessa ressaltar a
dignidade que cerca a nobreza e suas responsabilidades com a sociedade são
de suma importância para manter a serenidade de toda a coletividade. São
nobres, mas também são os guardiões da boa moral Asteca. Quanto mais
prestígio mais responsabilidades recaem sob essa nobreza.
O modo de produção operante na cidade Asteca era tributário. O Estado,
detentor do domínio dos meios de produção, tinha um funcionário em cada
província ± o calpixqui ± encarregado exclusivamente de receber os impostos.
Nesse caso não havia uma verdadeira centralização política, mas uma frágil
Confederação de cidades-estados.
O império era um mosaico de pequenas cidades. Todavia, funcionavam
sob o olhar atendo de uma ³burocracia governamental´ capaz de dar conta de
um grão que escapa do depósito do plantador. Caracterizando uma intrigante
rede de conhecimentos matemáticos e complexo sistema de coleta,
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armazenamento e, consequentemente, distribuição de comida aos
necessitados. Essa ajuda do centro do império para a periferia pertencente a
Confederação ocorria principalmente nos períodos de longa estiagem ou perda
de produção por mudanças climáticas e outros eventos naturais.
Com relação à religião, os Astecas possuíam uma religião bastanteeclética do ponto de vista contemporâneo. Isso os levava, com efeito, a reunir
junto de seu Deus Nacional o maior número possível de divindades originárias
de todas as partes do império. Outro ponto relevante para a discussão é que os
problemas mais frequentes dos Astecas era a aglomeração vasta, grande
povoamento e o problema da água. Os Astecas vivenciavam constantes secas
ou inundações, caracterizando o espaço caótico no qual estavam instalados
desde tempo imemoriais. Todavia, essa luta constante com o espaço e com a
presença/ausência da água contribuiu bastante para o aperfeiçoamento de
construções hidráulicas. Conhecimento adquirido dos povos que foram
subjugados em períodos anteriores ao processo de conquista pelos eu ropeus.
Os Astecas eram considerados ³o povo do sol´, pois personificavam o
sol, vendo-o como o deus do alto sacrifício. Guiavam suas ações pelos astros,
uma vez que acreditavam em destino e na influência direta dos signos na vida
das pessoas, por outro lado, viam a realidade como mutável, o mundo como
instável e ameaçado e o futuro incerto. Viam o céu e a terra, a morte e o além,
o bem e o mal, como parte de uma mesma realidade, mostrando mais uma vez
a presença da dualidade existente no mundo Asteca.
O princípio dual que rege a natureza e as coisas do mundo real
influencia também na religião, pois estava dirigida pela dualidade entre o sol ±
terra (pai e mãe), mas havia também pequenas divindades de bairro e
corporações, além das crenças serem de formas bem diferentes entre as
classes sociais e povos distintos. Todavia, a religião ³estava longe de ser uma
massa de elementos homogêneos, na medida em que os sacerdotes haviam
trabalhado duro para dar-lhes uma ordem funcional que incorporasse a visão
de mundo e os ideais mexicas (León Portilla, 2004:55).
Deve-se salientar que, a nobreza é muito respeitada devido o alto grau
de responsabilidade em manter o equilíbrio da sociedade (moral, econômico,
social e simbólico). Os nobres sempre estavam sujeitos as maiores punições,
porque exerciam altos cargos e era necessário de suas partes o exemplo a ser
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seguido pelos membros da comunidade. Toda simbologia está revestida de
uma moral que ultrapassa os limites de uma realidade da maioria da
sociedade:
A roupa e o calçado dos antigos mexicanos eramrelativamente simples, entretanto, nada pode dar umaidéia da farta variedade, da riqueza barroca de suas jóiase adornos de cabeça. As mulheres exibiam brincos,colares e pulseiras nos braços e tornozelos. Os homensusavam os mesmos adornos, mas, além disso, furavam onariz para inserir jóias de pedra ou metal... [...]. Tudonesse aparato de insígnias e de luxo era rigorosamentepautado conforme a hierarquia social (Soustelle,1990:159-159).
O mundo simbólico dos Astecas vai acompanhar o homem desde sua
concepção até a sua morte. Nesse sentido, desde quando a criança nascia nasociedade Asteca, já estava envolta por uma grande teia mística, participando
de cerimônias e rituais de inserção na sociedade. Já nasciam dentro de um
circulo hierarquicamente definido: aos homens a função, ainda que árdua, de
prestar serviço como guerreiro e para as mulheres a segurança e estabilidade
de uma vida de cinderela preparada para servir e cumprir as obrigações de um
lar respeitoso e seguidor dos ensinamentos ancestralmente reverenciado .
O batismo da criança era realizado pela própria parteira até quatro dias
após o nascimento, visto que antes o tonalamalt um adivinho iria dizer qualsigno pertencia a criança e qual série de treze dias, n ão sendo favorável,
procurava-se outro signo dentro da mesma série que trouxesse sorte ao recém -
nascido. O ritual seguia uma liturgia ancestral carregada de simbologias:
Depois de quarto ritos de água, quatro vezes a parteiraapresentava a criança ao céu, invocando o sol e asdivindades astrais. Assim, o número sagrado regia osgestos tradicionais. A última fórmula também invocava aterra, esposa divina do sol. E, agarrando o escudo e asflechas, a oficiante implorava aos deuses para que o
menino se tornasse um guerreiro corajoso, [...] Acerimônia de batismo das meninas era semelhante à domenino, mas não se apresentava a criança ao sol, deusdos homens e dos guerreiros; [...] Terminados os ritos,escolhia-se e anunciava-se o nome da criança(Soustelle,1990:194).
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As crianças e os adolescentes mexicanos cresciam sob uma educação
rígida, nas famílias mais humildes entre 3 e 15 anos a educação dos meninos
era conferida ao pai e a das meninas à mãe, isto porque nas famílias
magistradas e funcionários importantes não se tinha tempo para a educação
dos filhos que desde cedo eram colocados em colégios. A rigidez do sistemaeducacional ensinava a obediência dos jovens em relação aos idosos, aos
deuses e o respeito às regras de conduta e despertava a consciência quan to
as suas responsabilidades para com o pagamento dos tributos devidos ao
Estado.
A partir de 15 anos os jovens podiam entrar para o colégio de guerreiros
ou o templo dos sacerdotes. O primeiro não era tão rigoroso quanto o colégio
religioso. Espaço que formava apenas cidadãos médios, porém com muito
mais liberdade. O templo dos sacerdotes submetia os alunos a severos
desafios como aprender a regular a alimentação, suportar a fome e as
renúncias do corpo e alma. Formava-se os jovens para o sacerdócio ou para
altas funções do Estado:
Como quer que seja, a educação desempenhava seupapel. Ela preparava chefes, sacerdotes, guerreiros emulheres que conheciam as tarefas futuras. A instruçãointelectual propriamente dita só tinha um papel importante
no calmecac, onde se ensinava tudo o que dizia respeitoà ciência do tempo e do país:leitura e escrita doscaracteres pictográficos, adivinhações, cronologia, poesia,retórica (Soustelle,1990:194).
Em relação ao casamento e a vida familiar, os mexicanos a partir dos 20
anos de idade podiam se casar, mas antes tinham que se desvencilhar dos
grilhões que os atavam ao seu estado de solteiros, o colégio de guerreiros e o
templo dos sacerdotes, tendo que obter autorização de seus mestres, sendo
que a família dava um grande banquete aos mestres para pedir e obter estaautorização. Tudo estava previsto, banquete, pedido e resposta, no entanto, o
formalismo e o gosto das cerimônias do povo Asteca, mais uma vez se
manifesta nesta ocasião.
Assim, em relação ao ritual de casamento, descreve Soustelle:
O rito do casamento era celebrado perto do fogão.Sentados um ao lado do outro em duas esteiras, os
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noivos inicialmente recebiam presentes. A mãe da moçaoferecia ao futuro genro roupas masculinas; a mãe dorapaz oferecia à noiva uma bata e uma saia. Depois, oscihuatlanque amarravam um ao outro o manto do rapaz ea saia da moça: eles estavam casados, e o primeiro gestoera dividir um prato de tomales, de modo que um oferecia
ao outro os pãezinhos de milho com suas própria mãos(Soustelle,1990: 204).
Uma sociedade extremamente ritualística, três práticas estavam
relacionadas à doença: a religião, a cura através dos deuses, a magia ± os
feiticeiros e ciência ± as ervas medicinais e os curandeiros.
Antes da morte era comum a prática da confissão, visto que na cultura
Asteca só se confessava uma vez na vida, depois se aguardava a morte, dois
ritos funerários eram utilizados: a cremação e o enterro.
Deve-se salientar que para o povo Asteca a morte e a vida fazem parte
de uma mesma realidade, ressaltando a p resença marcante do principio da
dualidade. Assim, desde as épocas mais remotas, os ceramistas de Tlatilco
modelavam um rosto duplo, metade vivo e a outra metade esque lético, e esse
dualismo se encontra em inúmeros documentos. Para eles a vida decorria da
morte e, mesmo depois de morta a pessoa passava por sofrimentos e
dificuldades para alcançar o derradeiro repouso.
A morte não era suficiente para acabar com os sacrif ícios vividos
durante a fase terrena. Surpreende, todavia a ansiedade de ora viver
perigosamente nas batalhas e apressar a chegada da morte e ora reverenciar,
através de oferendas e sacrifícios, os Deuses aplacando suas fúrias. Dessa
forma solicitavam mais tempo vivos, protelando o encontro com a morte.
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BARBÁRIE E CIVILIZAÇÃO
O império Asteca, governado a época da conquista por Montezuma II,
era realmente esplendoroso e sua sede (Tenochtitlán/México) ostentava ruas
largas e retas margeadas por canais paralelos constantemente ocupados por
barcos. Uma cidade complexa que seus conquistadores não conseguiram
defini-la ou decifrá-la.
Cenário de dinâmico de uma civilização em construção , portanto sempre
ocupada por levas de peregrinos, comerciantes ( pochtecas), além dos seus
próprios habitantes. Fatores que denotava serviços básicos como aqueles
ofertados pelos aquedutos que levava água doce para cerca de 600 mil
habitantes e também embelezamento e ostentação como demonstrava seus
jardins suspensos e grandes templos.
É por isso que, em 1519, México não parecia uma cidadeacabada, uma alma morte numa couraça de pedra inerte.É um ser vivo animado por uma furiosa vontade de poder há dois séculos. O império continua a amplia-se para
sudeste; a estrutura social está-se modificando; (sic) omodo de governar se parece cada vez menos com o deuma tribo, cada vez mais com o de um Estado(Soustelle,1990:58).
Havia entre os conquistadores soldados que tinham estado em
Constantinopla e Roma e ressaltavam que nunca tinham visto um mercado tão
bem organizado, tão grande e tão cheio de gente. E a maioria dos mexicanos
tinha forte consciência do valor de sua cultura, colocando -se muitas vezes, sua
superioridade sobre a dos demais povos índios.Deve-se salientar que, esse quadro da vida dos bárbaros não é
relevante somente pelas informações, sem dúvidas exatas, que contém sobre o
hábitat, o vestuário ou alimentação dos ³selvagens´, mas também pelo que
reflete da mentalidade dos índios urbanos e sedentários, aos olho s destes, o
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bárbaro é um ³homem da natureza´, é mais ágil e robusto, e
consequentemente, mais sadio que o cidadão.
Estava claro para os Astecas a linhagens do qual eram descendentes:
os bárbaros, do qual cultivavam as virtudes guerreiras; e os civilizados toltecas,
representados pelo deus-herói Quetzalcoaltl, criador das artes, dosconhecimentos e protetor do saber.
No entanto, essa noção de uma cultura superior implicava, ao mesmo
tempo, certos conhecimentos e a prática de algumas artes, um modo de vida
estabelecido e um comportamento adequado a determinadas regras. O
homem, individualmente, representa um exemplo para toda a coletividade.
Seus erros são punidos com rigor e sua generosidade e demais perfeições de
sua vida devem ser seguidas. Aos nobres recaem ainda mais o peso de se
manterem puros e íntegros diante da comunidade.
O objetivo do homem civilizado vai de encontro ao espírito de homem
aventureiro, pronto para guerrear e defender. Por outro lado, a vida civilizada,
que é, por excelência, a das classes superiores, situa-se em um cenário a que
as artes dão uma qualidade, uma sofisticação, trazendo de volta a antiga idade
de ouro tolteca.
Nesse sentido, a arte adquiria profundos sentidos e significados
simbólicos. Os astecas não viam apenas a ³arte pela arte´, mas davam sentido
de apreciação que ensina e conduzia a realidade moral. Pintura, escultura e
arte em mosaico, retratavam crenças, costumes e as tendências da época,
para assinalar os graus de hierarquia social existente na sociedade Asteca.
No entanto, será contra esse universo simbólico e de práticas ancestrais
que utilizado todo um arcabouço de argumentos colocados como necessários
em uma guerra considerada justa pelos europeus:
y É legítimo sujeitar pela força das armas homens cuja condição
natural é tal que deveriam obedecer aos outros, se recusarem
essa obediência e não restar nenhum outro recurso .
y É legítimo banir o crime abominável que consiste em comer carne
humana, que é uma ofensa particular à natureza, e pôr fim ao
culto dos demônios, que provoca mais que nada a cólera de
Deus, com o rito monstruoso do sacrifício.
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y É legítimo salvar de graves perigos os inumeráveis mortais
inocentes que esses bárbaros imolam todos os anos,
apaziguando seus deuses com corações humanos.
y A guerra contra os infiéis é justificada, pois abre caminho para a
difusão da religião cristã e facilita o trabalho dos missionários(Todorov, 2010: 224).
Isolando os argumentos é perceptível que os europeus não
consideravam que seus cultos e imaginários medievais também aplacavam a
ira dos deuses com a morte ± caso da Santa Inquisição que a época das
Grandes Navegações e conquistas Ibéricas ainda queimava mulheres
consideradas bruxas. Questionam-se quais ³recursos´ em caráter de livre-
arbítrio colocaram-se a disposição dos indígenas.
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MECANISMOS DOS PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA
O século XIX verá nascer o germe da contestação colonial e a ascensão
das ideias de liberdade latentes nas elites coloniais. Crioulos 3 alicerçam suas
contestações no entendimento de que a continuidade do sistema colonial e do
monopólio metropolitano são entraves aos avanços de suas atividades
econômicas, principalmente para o comércio com mercado exterior. Ainda no
século XVIII a espanhóis nascidos nas colônias ampliam sua participações na
igreja, na vida intelectual e passam a reivindicar em postos da administração
colonial. Fatores que são frutos da acumulação de propriedades produtivas nas
mãos dos criollos e suas participações funcionários médios dos vice-reinados.
Além da participação política nos cabildos, instituição colonial espanhola
responsável pela administração das cidades. O órgão dava condição de
membros destacados da cidade ordenassem de forma civil e jurídica questões
de econômica, política e outros serviços essenciais para manter a estabilidade
das cidades coloniais. Essa autonomia garantia as discussões e ampliações de
poderes dos membros da elite colonial, formada por latifundiários (produtores
de gêneros de exportação como cacau e açúcar), comerciantes urbanos e
proprietários de minas. Esse conjunto diversificado não apresentava
pensamento político ou econômico homogêneo, contudo para ampliar poderes
locais e conquistar direito ao livre comércio mantinham estreitos laços.
Mesmo contanto com possibilidades de ascensão os criollos se sentiam
prejudicados por medidas que di ficultavam seu acesso aos altos cargos do
governo e administração colonial, postos ainda ocupados por indivíduos
nascidos na Espanha. Também começaram a lhes parecer abusivos os tributos
cobrados sobre produtos de exportação e as restrições ao fomento para a
produção de bens manufaturados que pudessem concorrer com a produção
3 O terno passou, na historiografia colonial espanhola, a designar e caracterizar os filhos deespanhóis nascidos na América. Portanto, ainda que anacrônico, tendo em vista sua nãoutilização em textos coloniais esse termo tenta qualificar os contestadores do sistema colonial esua continuidade.
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metropolitana. São esses descontentamentos, entre outras questões, que irão
proporcionar os embates que no curto período entre 1810 a 1828 tornaram a
América espanhola politicamente independente.
Destaca-se nesse processo os embates sob a liderança de José San
Martín que comandou exércitos à vitória no sul e região central da AméricaLatina, sendo considerado patrono e libertador da Argentina, Chile e Peru. Na
região norte da América Latina a liderança fica por conta do militar e político
Simón Bolívar, considerado libertador da Venezuela, Colômbia, Equador,
Bolívia e Peru. Tanto Bolívar como San Martín eram membros e lideranças da
elite criolla e estavam ligados a maçonaria, portanto conhecedores e
influenciados pelos ideais iluministas e pel o liberalismo econômico.
Antecedentes do processo de desagregação do mundo colonial
espanhol
Mudanças na economia européia (segunda metade do século XVIII) -o capital industrial supera o comercial. A luta entre a antiga Nobreza feudal (fomentadora da servidão ealicerçada no poder da terra) e a nascente Burguesia (representando ocapital e defensora da mão-de-obra assalariada) ± ambas as forçassócio-econômicas tentavam manter seus privilégios. A Inglaterra apresentava-se como vanguarda, pois assegurava amplospoderes para Burguesia diferenciando-se politicamente da França,
Portugal e Espanha.Inglaterra (com a Revolução industrial) e França (com a Revoluçãofrancesa)- completado pelo Iluminismo ± fundam mecanismoseconômicos e sócio-políticos que darão margens aos levantesemancipacionistas na América.No século XVIII a Inglaterra amplia sua influência econômica nas Américas, fato em ascensão no século XIX com o Bloqueio continentalimposto por Napoleão em 1806.Com a forte presença inglesa a América deixou de ser apenas
fornecedora de matérias-primas e configura-se também como mercado
consumidor de produtos industrializados.
Na contramão do sistema colonial a Divisão Internacional do Traba lhoampliou a importância das Colônias aprofundando a crise entremetrópoles e colônias. As ideias liberais francesas e inglesas, tais como as Ideais iluministas(liberdade econômica e política) também tiveram repercussão eaceitação nas colônias da América.No período as colônias viram surgir as ideias e embates entrerepublicanos ou monarquistas liberais
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Repercussões da Revolução Americana e a Doutrina Monroe ±acendem as expectativas e dão animo aos anseios emancipacionistascoloniais.
Não podendo ser diferente, a Inglaterra, local onde as bases do
liberalismo estavam incrustadas, passou a incentivar e fomentar osmovimentos emancipacionistas na América. A independência estrutura novas
perspectivas de desenvolvimento social, política e cultural capaz de mudar os
rumos da História da América:
Ela não só representou uma mudança políticafundamental, com o fim da situação colonial e onascimento de estados independentes, como tambémpermite visualizar a região em conjunto. Com efeito, umdos aspectos mais importantes deste fato é seu caráter continental e sua simultaneidade: exceto certos territóriosda área do Caribe, todas as colônias se separaram dasrespectivas metrópoles num processo que teve lugar dentro de um mesmo período, entre os fins do séculoXVIII e o primeiro quartel do século XIX (Del Pozo,2009:13).
Para atingir o grau de movimento reivindicatório de transformações
políticas foi preciso romper amaras com o colonizador. Coube, portanto a elite,
entendida como a força econômica capaz de formatar um plano de sustentação
política, a tarefa de questionar os desmandos da metrópole. Assim, do séculoXVIII em diante, as ações do estado metropolitano, principalmente na aplicação
rigorosa das Ordens Reais eram recebidas com desconfiança ou questiona das
e as influências da Independência dos Estados Unidos e da Revolução
Francesa ecoavam como possibilidades reais de liberdade entre as massas e a
elite branca latina.
Em diferentes períodos da história da América os conflitos étnicos
estivem presentes. Entre os índios eram evidentes as distâncias culturais e
sócio-políticas que permitiram, inclusive, a escravização nos impérios asteca einca. Na sequência visualiza-se a miscigenação, resultante do processo de
colonização que colocou junto negros, brancos e índios. Todavia, no processo
político todos acabaram por formar a forma impulsão e também de embates por
direitos e poderes nas colônias:
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O século XVIII trouxe também algumas reformas sociais. As pessoas de cor livres foram autorizadas a fazer parteda milícia, com o propósito de melhorar a defesa militar dos impérios. Na última fase do período colonial, negros emulatos livres podiam até comprar a condição jurídica debrancos, que lhes dava vantagem na vida social (Del
Pozo, 2009:17).
As mudanças nem sempre agradavam a todos os moradores das
colônias, pois as mudanças positivas para determinados grupos poderia
representar a diminuição de poderes ou privilégios das classes dirigentes. E,
ainda, as fragilidades (política, econômica e bélica) do poder metr opolitano
permitiam a entrada de aventureiros e comerciantes clandestinos ávidos para
explorar as potencialidades dos colonos e da mão -de-obra escrava.
Todavia, quanto mais a atividade comercial se ampliava nas colôniasainda mais impostos a Coroa estava disposta a cobrar. Essa sobrecarga de
deveres, em detrimento de direitos ou regalias, irritava as elites locais. O
aquecimento da economia nas colônias impulsionava a Coroa a criar novos
cargos, em geral, ocupados por membros da elite espanhola (Chapetones) que
enriqueciam na burocracia do Estado espanhol, desagradando os criollos que
se sentiam aptos à ocupar esses postos de comando nas Audiências (órgão
deliberativo composto pela alta nobreza espanhola e presidida pelo vice -rei).
Soma-se ao descontentamento local as influências das ideiasrepublicanas e emancipacionista propagadas pela independência dos Estados
Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789). Esses dois movimentos
demonstraram a efetiva positividade da participação das massas em ações de
reestruturação de uma sociedade e da capacidade de ordenamento que pode
ser a saída para a configuração de embate contra o poder europeu emanado
das metrópoles.
Assim, duas frentes são percebidas, os movimentos na própria América
e também os acontecimentos na Europa ± como a tentativa das metrópoles
ibéricas de barrar o avanço napoleônico. Enfraquecidas economicamente e
com um exército incapaz de conter as rebeliões nas colônias as metrópoles
européias viram aos poucos seu poder esvair -se nas colônias.
Elementos internos e externos podem ser elencados como razões para a
derrocada espanhola em relação as suas colônias na América. Nesse contexto,
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a queda da produção na mineração, principalmente de prata corta as divisas e
deixa clara a dependência de importações de manufaturas por conta de não
haver investimentos no setor. A Espanha baseava suas atividades comerciais
no rico espólio colonial, mas estava assistindo seus privilégios passarem para a
Inglaterra que tinha o Asiento (monopólio do tráfico negreiro para as colôniasespanholas) e o Permiso (permissão de venda de manufaturados nas colônias
espanholas). Além disso, houve a regularização e permissão do comércio livre
entre as colônias, desestruturando as premissas e reformulando as amarras do
Pacto colonial.
Acontecimentos ligados ao continente europeu também foram sentidos e
influenciaram nos movimentos de independência da América espanhola. Entre
esses podemos listrar as Guerras napoleônicas, pois para invadir Portugal,
Napoleão aliou-se estrategicamente à Espanha antes desta ser militarmente
ocupada pelas tropas francesas. Fato que levou a deposição de Carlos IV e
Fernando VII.
Diante dos acontecimentos europeus as fragilidades dos vice-reinados
instalados nas colônias permitiram que os criollos patrocinassem a autonomia
administrativa e a liberdade de comércio nas colônias espanholas, acabando
com o exclusivo metropolitano. Mesmo diante de forte pressão interna os
criollos mantinham-se fiéis a Fernando VII como soberano do Império
Espanhol.
Em 1812 a Espanha Promulga uma Constituição liberal e em 1814,
Fernando VII recuperou o trono espanhol e restaurou o Absolutismo. Todavia,
diante de forte pressão de forças política e econômicas, na Metrópole e nas
colônias, o Pacto colonial espanhol perde as formas para o qual foi concebido,
abrindo espaço para a ascensão do capitalismo inglês. Na sequência, o
capitalismo norte-americano amplia suas ações em busca da hegemonia na
América Latina.
Entre revoltas indígenas, como a comandada por Tupac Amaru (Peru-
1780) e Tupac Catari (La Paz-1781) e outras de caráter urbano e comandadas
por comerciantes, a Espanha se vê diante de reivindicações de grupos que
antes não contestavam e davam apoio as ordens metropolitanas. São,
portanto, as vozes da colônia se estruturando para exigir transformações na
estrutura do comércio e até na administração. Entre as demandas colocadas
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estavam a necessidade de participação efetiva dos membros da elite
espanhola local na burocracia do estado colonial. Para as massas constava,
por exemplo, o (re)ordenamento na distribuição de terras produtivas.
Mesmo diante das forças da reação militar da Espanha, de delações e
prisões os colonos lograram impor seus descontentamentos e colocaram emevidência as fragilidades do mundo colonial. Estava se formatando uma
América livre das amarras do passado, mas pouco ou muito se tinha a pensar
sobre seu estado de emancipada para o futuro.
Convenhamos que a emancipação estava ligado a preceitos
econômicos, pois a elite colonial estabelecia as regras de conduta a partir da
proteção, preservação e ampliação das relações comerciais com outras nações
européias. Estava configurada uma expectativa de crescimento levando em
conta fatores e interesses externos a realidade da América.
[...] para aqueles que não dispunham de recursos, quer econômicos, quer culturais, os novos tempos nãotrouxeram benesses ou regalias. Reformas sociais depeso, terra, salários dignos, participação política,educação popular, cidadania, respeito cultural àsdiferenças, tudo isso iria ter de esperar. [...] Os de baixoteriam de se organizar, lutar, sofrer e morrer para alcançar seus objetivos. Não foram as lutas de independência quemudaram sua vida (Prado, 1999:73).
As mudanças políticas não se reverteram de imediato em
transformações na autonomia das ex-colônias e o século XIX ainda foi de
intensa dependência, demonstrando que o processo de descolonização seria
lento, gradual e em alguns espaços mostrava-se como traumática. Todavia, é
perceptível a ansiedade das elites latino -americanas em mostrar-se, agora
autônoma, para os mercados europeus. A função da emancipação não é
resolver problemas e questões internas e sim continuar salvaguardando os
interesses e investimentos externos.
Podemos agora pensar as consequências dos processos de
independência e como seguiram transformando a realidade latino-americana.
Salvo exceções os líderes dos movimentos emancipacionistas tinham uma
formação européia e faziam parte de uma elite pensante de acordo com as
mentalidades e interesses advindos da Europa. Não há como conferir a sujeitos
históricos e constantemente bombardeados pelos preceitos políticos exteriores
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a incumbência de promover uma emancipação latino-americana autônoma.
Nesse caso o destaque fica para o Paraguai que tentou implantar um formato
de Estado livre e distante da ação protecionista e usurpadora da Inglaterra. O
resultado foi traumático e visualizado a partir das conseqüências da guerra
financiada pela Inglaterra e colocada em prática por Brasil, Argentina e Uruguaicontra o Paraguai.
O exercício de pensar uma emancipação autêntica poderá nos fazer
negligenciar que a América tinha naquele momento a função incontestável de
fornecedora de minérios e gêneros alimentícios para abastecer os mercados
das nações produtoras de bens manufaturados, como a Inglaterra.
Questionamentos;
Por que as colônias da Espanha promoveram emancipações políticas?
Quais as principais divergências entre colônias e metrópole?
Qual a participação das elites coloniais nos processos de
independência?
Com os acontecimentos políticos na Europa influenciaram as posturas
emancipacionistas nas colônias?
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