Texto Aula 8

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[as reações aos pós-modernismos] © Filosofia e Educação (Online), ISSN 1984-9605 Revista Digital do Paideia Volume 2, Número 2, Outubro de 2010 – Março de 2011 281 Futebol, capitalismo e pós-modernidade 1 : de consumo da arte a arte do consumo Marcelo Silva dos Santos Professor da Faculdade Vértice em Matipó/MG e da Faculdade Sudamérica em Cataguases/MG Graziany Penna Dias Professora do IFET - Sudeste de Minas Campus Juiz de Fora Resumo O presente trabalho teve por intenção discutir as mudanças nos planos econômicos, político - via acumulação flexível - e culturais - via discurso pós- moderno, que trazem mudanças para a manifestação cultural do futebol. À luz do materialismo histórico e dialético foi possível compreender que o fenômeno futebol tem passado por um processo de mercadorização cujo grande interesse, no campo do espetáculo, não é proporcionar para os espectadores um futebol arte, como já existiu, mas sim, movimentar uma indústria esportiva bilionária. Palavras chaves: Capitalismo; Futebol; Pós-Modernidade. Abstract This work was intended to discuss the economical and political changes via flexible accumulation - and the cultural changes - via postmodern discourse - which brings changes to the football's cultural manifestation. In the light of historical and dialectical materialism, It was possible to understand that the football has gone through a process of commodification whose great interest in the field of spectacle is not to give viewers a football-art, as ever, but instead, to move a billion-dollar sportive industry. Keywords: Capitalism; Football; Post-Modernity. 1 Embora seja complicada qualquer definição precisa do termo, estamos entendendo Pós- Modernidade como sendo uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a idéia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. Condição histórico-geógráfica de um período específico do capitalismo. Uma mudança histórica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo (Eagleton, 1998).

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reflexões filosóficas acerca do ensino de educação física.

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    Volume 2, Nmero 2, Outubro de 2010 Maro de 2011

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    Futebol, capitalismo e ps-modernidade1: de consumo da arte a arte do consumo

    Marcelo Silva dos Santos

    Professor da Faculdade Vrtice em Matip/MG e

    da Faculdade Sudamrica em Cataguases/MG

    Graziany Penna Dias

    Professora do IFET - Sudeste de Minas Campus Juiz de Fora

    Resumo

    O presente trabalho teve por inteno discutir as mudanas nos planos

    econmicos, poltico - via acumulao flexvel - e culturais - via discurso ps-

    moderno, que trazem mudanas para a manifestao cultural do futebol. luz do

    materialismo histrico e dialtico foi possvel compreender que o fenmeno

    futebol tem passado por um processo de mercadorizao cujo grande interesse, no

    campo do espetculo, no proporcionar para os espectadores um futebol arte,

    como j existiu, mas sim, movimentar uma indstria esportiva bilionria.

    Palavras chaves: Capitalismo; Futebol; Ps-Modernidade.

    Abstract

    This work was intended to discuss the economical and political changes via

    flexible accumulation - and the cultural changes - via postmodern discourse -

    which brings changes to the football's cultural manifestation. In the light of

    historical and dialectical materialism, It was possible to understand that the

    football has gone through a process of commodification whose great interest in

    the field of spectacle is not to give viewers a football-art, as ever, but instead, to

    move a billion-dollar sportive industry.

    Keywords: Capitalism; Football; Post-Modernity.

    1 Embora seja complicada qualquer definio precisa do termo, estamos entendendo Ps-

    Modernidade como sendo uma linha de pensamento que questiona as noes clssicas de

    verdade, razo, identidade e objetividade, a idia de progresso ou emancipao universal, os

    sistemas nicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicao. Condio

    histrico-gegrfica de um perodo especfico do capitalismo. Uma mudana histrica ocorrida

    no Ocidente para uma nova forma de capitalismo (Eagleton, 1998).

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    Introduo

    Minha me no entendeu o subtexto

    Da arte desmaterializada no presente contexto Zeca Baleiro (Bienal)

    s transformaes ocorridas no sistema capitalista nas ltimas

    incidem nas prticas sociais, polticas, econmicas e, sobretudo nas

    prticas culturais, marcando a histria de uma forma sem

    precedentes. A todo o momento, nos deparamos, entre os mais variados

    contextos, com diferentes abordagens e denominaes que fazem referncia a

    esse atual momento.

    Para explicar esse fenmeno, h um grupo de intelectuais que jogam,

    como nos lembra Hobsbawm (apud Frigotto, 1992, p. 59) uma espcie de

    jogos onde a soma zero, pois o que se tem como resultado final, o trmino

    de vrias categorias e conceitos que buscam a interpretao e transformao de

    uma dada realidade que foram construdos ao longo da existncia humana; do

    socialismo enquanto sistema alternativo ao capitalismo; da existncia de

    diferentes classes sociais; da centralidade do trabalho enquanto meio de

    produo e reproduo da existncia humana; do sentido da histria.

    Existe outro grupo, que entende esse momento como sendo mais uma

    crise, dentre inmeras, que a sociedade capitalista atravessa materializada, por

    um lado, pelo colapso do socialismo real e, de outro, pela busca incessante da

    lucratividade pelos capitalistas, obrigando-os a (re) criarem formas de avanar a

    explorao.

    Uma importante questo, como sugere Jameson (1990), o fato de que

    [...] tanto os no-marxistas quanto os marxistas chegaram ao sentimento geral de

    que, em algum momento posterior Segunda Guerra Mundial, um novo tipo de

    sociedade comeou a emergir (uma sociedade variavelmente descrita como

    sociedade ps-industrial, capitalismo multinacional, sociedade do consumo,

    sociedade da mdia etc.). Novos tipos de consumo; a obsolescncia planejada,

    um ritmo cada vez mais rpido de mudanas na moda e no estilo [...] (p.43).

    A

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    Sendo assim, entendemos que as mudanas estruturais2 que vivenciamos

    hoje so decorrentes de uma necessidade orgnica do padro de acumulao e

    de regulao social que sustenta a explorao por aproximadamente quinhentos

    anos. O que no significa dizer, que tais no tenham suas peculiaridades. Pois,

    embora haja os defensores do desaparecimento do sentimento da histria, como

    veremos adiante ao longo do trabalho, acreditamos que para se buscar o

    entendimento de algum fenmeno, no se pode negar que ele seja fruto de uma

    construo histrica que no se caracteriza por rupturas radicais entre perodos,

    mas, sim, por uma reestruturao de certo nmero de elementos j dados.

    Assim, por acreditarmos que Marx nos oferece uma das primeiras e mais

    completas interpretaes da modernizao capitalista, utilizaremos, como

    principal referncia, os estudos feitos por ele para analisar o capitalismo

    enquanto um sistema histrico, Wallerstein (2001). Marx combinou todo o

    flego iluminista com um sentido nuanado de contradies que o capitalismo

    est sujeito a passar.

    Mesmo, no tendo vivido a complexidade na qual o mundo se encontra,

    ele um dedicado e profundo estudioso do capitalismo que foi, continua vivo

    com a sua contribuio, deixando para os estudiosos que lhe sucederam, entre

    outras coisas, o mtodo de anlise do conhecimento real denominado

    materialismo histrico-dialtico. Mtodo este, que se compromete com a

    historicidade dos fatos sociais e no hesita em compreender o real como sntese

    de mltiplas determinaes. Como salienta Kosik (2002, p.39), como

    explicitao cientfica da realidade humano-social, o mtodo da reproduo

    espiritual e intelectual da realidade o mtodo do desenvolvimento e da explicitao

    dos fenmenos culturais partindo da atividade prtica objetiva do homem histrico.

    Cabe salientar que para compreendermos a complexidade do concreto,

    que no presente trabalho diz respeito ao fenmeno cultural futebol em tempos

    ps-modernos, faz-se necessrio dialogar, tambm com autores marxistas que

    2 Segundo a escola de pensamento conhecida como escola de regulamentao, trazida Harvey

    (2004, p. 115), estas mudanas estruturais abrangem seis aspectos: organizacional, poltico,

    macro econmico (acumulao flexvel), cultural (ps-modernidade) e consumo.

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    discutem o momento pelo qual o capitalismo passa no plano da estrutura pelos

    defensores do padro de acumulao flexvel e no campo cultural pelos

    defensores do ps-modernismo3.

    Nesse sentido, buscaremos compreender dialogando com alguns autores,

    o porqu do futebol-arte se tornar cada vez mais raro aqui no Brasil.

    Como o capitalismo trata o futebol na realidade contempornea?

    Primeiras aproximaes

    A predominncia de um dos dois elementos da arte em um momento particular

    depende do estgio alcanado pela sociedade: algumas vezes predominar a sugesto

    mgica, outras a racionalidade, o esclarecimento; algumas vezes predominar a

    intuio, o sonho, outras o desejo de aguar a percepo. Porm, quer embalando,

    quer despertando, jogando com sombras ou trazendo luzes, a arte jamais uma mera

    descrio clnica do real. Sua funo concerne sempre ao homem total, capacita o

    Eu a identificar-se com a vida de outros, capacita-o a incorporar a si aquilo que ele no , mas tem possibilidade de ser (Fischer, 1979, p. 19).

    Estamos vivendo uma transio histrica, ainda longe de completar-se, o

    que faz com nos deparemos com uma srie de dilemas tericos. Embora os

    sinais e as marcas das modificaes nessa transio estejam por todo o lado,

    temos serssimas dificuldades em compreend-las. A tarefa, neste momento,

    ento, interpretar os fundamentos dessa transio no novo projeto de

    sociabilidade do capitalismo. Pois, entendemos independente da denominao

    dada a esse momento de reestruturao, que a sociedade ainda capitalista.

    Sendo assim, mesmo no sendo central no presente trabalho discutir o

    modo de produo capitalista com uma maior profundidade, pois nosso enfoque

    ser dado num dos fenmenos culturais mais expressivos no Brasil: o futebol

    importante tratar de algumas caractersticas bsicas do sistema capitalista que

    do sustentabilidade para a manuteno da explorao por esse longo perodo

    3 Entendemos por Ps-Modernismo uma forma de cultura contempornea que passou por uma

    profunda mudana na estrutura do sentimento que trouxe como conseqncias o colapso dos

    horizontes temporais e a preocupao com a instantaneidade em decorrncia da nfase

    contempornea no campo da produo cultural em eventos, espetculos, divertimentos e

    imagens da mdia. Sobre mais ver Harvey (2004).

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    de tempo para que no percamos de vista a perspectiva da totalidade. O futebol

    no est desconectado do contexto geral, muito pelo contrrio, faz parte do

    mesmo.

    Harvey (2004), de uma forma resumida, nos traz trs caractersticas

    essenciais do modo de produo capitalista. A primeira considerao, feita por

    ele, diz respeito a essencial necessidade de manter taxas de crescimento, visto

    que somente atravs do crescimento dos lucros que podem ser garantidos a

    acumulao incessante de capital.

    Uma segunda baseia-se no crescimento em valores reais na explorao

    em cima trabalho vivo na produo, isto , no trabalho realizado pelas pessoas.

    Pois, cada vez mais, o crescimento se baseia na diferena entre o que o trabalho

    obtm e aquilo que ele cria. Alm disso, o controle do trabalho e do salrio de

    mercado fundamental para a trajetria do desenvolvimento capitalista.

    E, por ltimo, uma terceira que diz: o sistema capitalista possui em

    essncia. Um grande dinamismo, tanto no que se refere ao avano tecnolgico

    como tambm em sua organizao. Fato que contribui significativamente para

    fermentar a luta de classes, pois o que se percebe com o avanar tecnolgico o

    aumento co capital morto e a diminuio do uso da mo de obra assalariada.

    Assim, motivados pela idia de que progredir a tendncia da humanidade,

    aceitamos as inovaes sem maiores nenhuma discusso (Harvey, ibid). Como

    se no bastasse isso, internalizamos ainda, uma auto-condenao quando no

    conseguimos emprego nesse mundo dinmico.

    Diante de tais consideraes, Marx mostrou, como nos lembra Harvey

    (ibid, p. 169),

    que essas trs condies necessrias no modo de produo capitalista de

    produo eram inconsistentes e contraditrias, que por isso, a dinmica do

    capitalismo era necessariamente propensa a crises. No havia, em sua anlise,

    uma maneira pela qual a combinao dessas trs condies necessrias pudesse

    produzir um crescimento equilibrado e sem problemas.

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    , portanto, por meio de uma ressignificao da diviso social e tcnica

    organizada do trabalho que temos um importante princpio da modernizao

    capitalista. Assim, levando em conta as rpidas mudanas estruturais

    significativas no padro de acumulao capitalista, a partir dos anos 1960 e

    1970, (do fordismo-keynesianismo para o toyotismo-neoliberalismo),

    [...] por promover o individualismo, alienao, a fragmentao, a efemeridade, a

    inovao, a destruio criativa, o desenvolvimento especulativo, mudanas

    imprevisveis nos mtodos de produo e de consumo (desejos e necessidades),

    mudana na experincia do espao e do tempo, bem como na mudana social

    impelida pela crise (Harvey, ibid, p. 107).

    Que nos deteremos, nos limites deste trabalho, em iniciar uma anlise de

    como os pensadores e produtores culturais modernos e ps-modernos forjam

    suas sensibilidades, princpios e prticas estticas. Pois, para compreendermos

    o futebol enquanto manifestao cultural e artstica necessrio entendermos

    um pouco do significado da virada para o ps-modernismo, uma vez que, este

    ltimo, representa uma forma de capitalismo um pouco diferente, embora a

    lgica e as caractersticas essenciais se mantenham.

    Sendo assim, uma coerente interpretao da ps-modernidade tem de se

    haver com a natureza da modernizao que, por sinal, est ligado a uma

    mudana estrutural sofrida no contexto de crise de superacumulao iniciada no

    final dos anos 60, que teve seu auge em 1973 (Harvey, ibid, p. 99). Tais

    mudanas significaram, no campo da cultura, a criao de novas opes de

    produto, o que significa novos desejos e necessidades. Obrigando os produtores

    a redobrarem seus esforos para

    [...] cultivar o excesso e a intemperana nos outros, em alimentar apetites imaginrios a ponto da idias sobre o que constitui a necessidade social serem substitudas pela fantasia, pelo capricho e pelo impulso (ibid., grifo no original).

    Considerando que para produzirmos e reproduzirmos nossa existncia

    temos necessariamente, que comprar mercadoria, uma vez que possumos

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    necessidades vitais de comermos, bebermos, de nos vestirmos, de nos

    abrigarmos, estudarmos, etc; elegemos como ponto de partida, uma pequena

    anlise sobre a mercadoria. Pois, os jogadores de futebol, alm de produzirem o

    futebol-arte, tambm tm que produzirem e reproduzirem sua existncia.

    Vivemos um dilema cruel no ato da compra diante de tais modificaes.

    Como analisa Marx, em O capital, a mercadoria um objeto, por si mesmo,

    misterioso, pois, incorpora tanto um valor de uso (ela atende a um desejo ou

    necessidade particular) e um valor de troca (posso us-la como objeto de

    barganha para conseguir outras mercadorias) (Harvey, ibid, p. 99).

    Com o dinheiro, ento, o mistrio da mercadoria assume uma nova

    dimenso, pois o valor de uso do dinheiro est em sua representao do mundo

    social e do valor de troca. Como coloca Harvey (ibid, p. 98), a preocupao

    com o dinheiro domina os produtores. O dinheiro e a troca no mercado pe um

    vu, mascaram as relaes sociais entre as coisas (grifo no original). A essa

    relao em que as formas econmicas do capitalismo ocultam relaes sociais

    a elas subjacentes (Bottomore, 1988, p. 150), Marx denominou de fetichismo

    da mercadoria.

    Nessa sociedade do consumo, o prazer, o lazer, a seduo e a vida

    ertica so trazidos para o mbito do poder do dinheiro e da preocupao de

    mercadorias (Harvey, ibid, p. 99). Ao mesmo tempo em que temos a

    sofisticao das necessidades e dos seus meios por um lado, temos, de outro,

    uma completa abstrata simplificao das necessidades. No campo especfico da

    cultura, a arte se tornou, tambm, uma mercadoria e o artista foi transformado

    em um produtor de mercadorias (Fischer, 1984).

    Se direcionarmos nosso olhar para o fenmeno futebol, perceberemos

    claramente que os acontecimentos no se do de forma diferente. A

    preocupao maior dos produtores/trabalhadores do mundo do futebol assinar

    um contrato cada vez mais rentvel. cada vez mais comum, ao final de uma

    partida de futebol, ouvirmos a declarao dos jogadores apontarem para a

    necessidade de mostrar um bom futebol para se manter no time titular e

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    posteriormente assinar um melhor contrato ou no prprio clube onde trabalha

    ou num outro, de preferncia europeu.

    Diferentemente do que tnhamos no iluminismo, em que os artistas

    buscavam uma racionalidade, profundidade, reflexo e, acima de tudo, um

    estilo prprio ao produzirem sua arte, o que percebemos hoje o surgimento de

    um estilo de cultura contempornea que reflete, por meio de uma arte

    superficial, descentrada, infundada, auto-reflexiva, divertida, caudatria,

    ecltica e pluralista (Eagleton, 1998, p. 07), que denominamos Ps-

    modernismo. O que significa para o mundo do futebol uma mudana

    significativa na qualidade de sua produo artstica para as pessoas que curtem

    e apreciam um bom jogo de futebol.

    Baseado no estudo de Reis (2000, p. 140), percebemos o quanto as coisas

    mudaram, pois se houveram no incio do sculo passado algumas poucas

    transferncias de jogadores que se dirigiam para o exterior, o volume de

    negociaes

    chega a este final de sculo com um dos maiores investimentos econmicos

    internacional, devido ao montante de dinheiro envolvido em transaes de

    jogadores em todo o mundo, alm da grande indstria esportiva criada em torno

    do futebol e que chega neste fim de milnio no pice de seu desenvolvimento.

    Mediante a anlise empreendida por Reis (ibid), uma outra questo que

    julgamos ser relevante para analisarmos o fenmeno futebol a

    profissionalizao do futebol. Se esta profissionalizao no Brasil, datada de

    1933 [...] foi inevitvel, devido participao crescente de jogadores das

    classes sociais mais baixas (p. 140), como forma de evitar a sada de jogadores

    brasileiros para outros pases (p. 141), o que notamos hoje o fato de que

    tanto o poder pblico como os dirigentes dos clubes de futebol no tomam

    nenhuma medida para evitar essa triste realidade. Como coloca Rosenfeld

    (1993, p. 84) apud Reis (ibid, p. 140)

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    quanto maiores eram as multides que aderiam ao futebol, tanto mais a

    popularidade e a importncia de um clube dependiam do desempenho de suas

    equipes de futebol. Estas tornaram-se as vitrines dos clubes, que, como

    instituies sociais e em geral esportivas, concentravam interesses cada vez

    maiores.

    Ainda na esteira de avaliao empreendida por Reis (ibid, p. 138), o

    futebol um importante produto comercial multinacional que chega a

    movimentar 3% do mercado internacional. Tal fenmeno responsvel por

    uma grande movimentao na economia com a gerao de empregos em funo

    das indstrias que fabricam equipamentos esportivos, de turismo e de

    comunicao. Alm disso, citamos a venda de ingressos para os expectadores, a

    explorao do direito de imagem dos jogadores, os aluguis de canais fechados

    essencialmente futebolsticos etc.

    Com isso, os jogadores de futebol, que so considerados os artistas do

    espetculo de futebol, no jogam mais movidos pelo interesse de produzir um

    show para as pessoas que esto assistindo, pois o interesse primordial a cada

    jogo assinar na prxima temporada um melhor contrato, isto , ser negociado

    para jogar num outro time com um melhor salrio e de preferncia que seja

    estrangeiro que, acompanhando o movimento da mundializao do capital,

    pagam um salrio melhor por conta do fato da maior parte das grandes

    corporaes, que exploram o mundo do futebol, residirem basicamente na

    Europa.4

    Se a aproximadamente, duas dcadas atrs, ainda tnhamos jogadores que

    possuam um vnculo mais consolidado com um clube, construindo uma relao

    slida como, por exemplo, Zico no Flamengo do Rio de Janeiro, Roberto

    Dinamite no Vasco do Rio de Janeiro e Reinaldo do Atltico Mineiro, hoje

    tanto o jogador como os dirigentes dos clubes querem realizar um bom negcio.

    Quando o jogador, revelado por um dado clube, comea a mostrar um futebol

    de qualidade logo negociado. O resultado um campeonato brasileiro de

    pssima qualidade artstica, e, alm de tudo, o descrdito no futebol-arte

    4 Embora saibamos que a maior destas corporaes, a Nike, esteja sediada nos EUA.

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    aumentando, pois os torcedores esto perdendo o prazer de assistir a uma

    partida de futebol, tanto em casa como num campo de futebol.

    Um fato marcante deste processo de desqualificao do futebol brasileiro

    foi a mudana do campeonato brasileiro no ano de 2003, para um novo formato,

    agora, de pontos corridos. Isto foi levado a efeito pelos grandes empresrios do

    futebol, em funo da queda de pblico nos estdios brasileiros que naquele ano

    segundo o jornal Folha de So Paulo (2003) diminuiu de forma estrondosa. Em

    2002, a mdia de pblico por partida era de 12.886 e no ano seguinte caiu para

    9.694.

    De 2003 at a presente data, o campeonato funciona por meio dos pontos

    corridos que traz impactos ao futebol, enquanto manifestao da cultura. Um

    fato marcante que vem ocorrendo no campeonato brasileiro deste ano

    destacado pelo jornal Folha de So Paulo e que trazemos para nosso debate, ao

    comentar o baixo nvel, em termos de espetculo, que o referido campeonato

    vem apresentando.

    Segundo o jornal Folha de So Paulo (2008),

    a mediocridade faz do brasileiro de 2008 o mais emocionante da era de pontos

    corridos, que comeou em 2003. [...] A lista dos melhores ataques outra prova

    que muito do equilbrio deste Brasileiro motivado por falta de talento (p. D1).

    Isto demonstra o processo que viemos analisando at ento dos impactos

    da cultura ps-moderna encaminhada pelas mudanas recentes no modo de

    produo capitalista. Alm disso, sob o ponto de vista do capital acrescenta-se a

    tal fenmeno, o fato de que estamos caminhando, como traz o jornal Folha

    (2008), para melhor mdia nacional de pblico por partida sob as atuais regras.

    O que nos remete a uma importante reflexo sobre o culto do efmero, pois

    para boa parte dos torcedores vale mais um Brasileiro que sobra equilbrio do

    que um com grandes nomes, como eram Alex, em 2003, Robinho, em 2004, e

    Tevez, em 2005 (ibid).

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    Como se no bastasse isso, percebemos tambm, em consonncia com o

    capitalismo contemporneo, a produo cultural foi reimpulsionada para o

    interior da mente. Os artistas, como qualquer outro trabalhador que precisa

    produzir e reproduzir a sua existncia, no conseguem olhar o mundo com seus

    prprios olhos, encontram-se completamente perdidos na busca de um

    referencial.

    As condies que se estabelecem num sistema

    no qual unicamente as coisas possuem valor, o homem se torna um objeto entre

    objetos: o mais desprezvel dos objetos [...]. Alienando-se de si mesmo, o

    homem adquire conscincia de si como um fetiche, um boneco. O fetichismo da mercadoria de Marx falou tranfere-se para o prprio ser humano e se apodera inteiramente dele (Fischer, 1979, p. 105, grifo no original).

    Contudo, no poderamos deixar de enfatizar o papel informacional da

    mdia e, sobretudo da televiso, em contribuir para aquisio dos valores

    ditados pela sociedade do consumo com seus mecanismos. No caso do futebol

    destacamos a compra dos direitos de transmisso dos jogos, que repercutem

    diretamente nos horrios que so veiculados pela rede de televiso que pagou

    mais caro, no importando ainda com o telespectador em casa e o torcedor que

    vai at o campo.

    Por vrias vezes estivemos no estdio e fizemos tal constatao, pois j se

    tinha tomado todas as atitudes necessrias para o incio do espetculo, mas o

    rbitro principal da partida teve que aguardar o comando da rede de televiso

    para iniciar a partida, comprometendo, at mesmo do ponto de vista fisiolgico,

    o aquecimento dos jogadores. Muitas vezes o jogador entra em campo mesmo

    sem possuir boas condies fsicas para jogar, pois, o patrocinador que explora

    o direito de imagens destes, exige que ele aparea.

    Ainda inter-relacionado com a mdia, acrescentamos um grande

    problema: o papel aumentado das massas na vida cultural [...] (Harvey, op.

    cit., p. 311). Se antes o futebol era passatempo de uma elite brasileira (Reis, op

    cit), hoje em dia, com a utilizao da televiso como um dos meios para a

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    promoo da publicidade como a arte oficial do capitalismo (Harvey, op. cit.,

    p. 65), o que ocorre a diminuio da distncia entre a alta cultura e a cultura

    popular.

    Ainda nas consideraes trazidas por Harvey (ibid, p. 312), o objetivo o

    de reforar o poder do dinheiro em oposio aos interesses de classe, para os

    defensores do ps-modernismo o conceito de classe social no existe mais.

    Sendo assim,

    as condies que prevalecem no mbito do que Daniel Beel denomina massa cultural de produtores e consumidores culturais moldam atitudes diferentes das que surgem de condies de trabalho assalariado. Essa massa cultural acrescenta

    mais uma camada formao amorfa conhecida como classe mdia.

    Se pegarmos como ilustrao a mercadoria camisetas dos clubes de

    futebol, veremos claramente como isso se materializa. Quando um grande

    jogador apresentado para jogar num clube de futebol, seja nacional ou

    estrangeiro, o nmero da camisa que ser utilizado por ele bate recorde de

    venda, antes mesmo, de sua estria no time. Fora isto, percebemos a mudana

    anual dos modelos para

    [...] dirigirmos nossa ateno para a produo de necessidades e desejos, para a

    mobilizao do desejo e da fantasia, para a poltica de distrao como parte do

    impulso para manter nos mercados de consumo uma demanda capaz de

    conservar a lucratividade da produo capitalista (Harvey, ibid, p. 64).

    Levando em considerao o preo de venda, a camiseta pode ser

    considerada um artigo de luxo, pois a maior parte das pessoas que acompanham

    o mundo do futebol no tem condies de comprar. Assim, o que percebemos

    a existncia de uma ateno especial para a emergente massa cultural. E para

    eles que movimentos de moda, de localismo, de nacionalismo, de lngua e

    mesmo de religio e de mito pode ter maior importncia (Harvey, op. cit., p.

    312).

    Concordando com a avaliao que Jameson (2000) nos traz, entendemos

    que a emergente mudana histrica ocorrida na vida no ocidente para uma nova

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    forma de capitalismo trouxe a tese de que as questes culturais tendem a se

    propagar para as econmicas e sociais.

    A produo das mercadorias agora um fenmeno cultural, no qual se compram

    os produtos tanto por sua imagem quanto por seu uso imediato. [...] Nesse

    sentido, a economia se transforma em uma questo cultural (ibid., p. 22).

    Nesse sentido, falaremos de um sintoma que permeia a vida dos

    produtores, a morte do sujeito. Pois, ao comparamos a produo dos artistas

    modernistas - que foram capazes de inventar um estilo prprio, to

    inconfundvel quanto s impresses digitais, to incomparvel quanto o nosso

    prprio corpo - com os artistas de nosso perodo atual - que esto circunscrito

    nos padres de mercado, entramos num grande dilema esttico.

    Pois, se estiverem mortas e enterradas a experincia e a busca de

    criatividade que deram fermento a uma esttica modernista que esteve ligada a

    uma concepo de um eu, a uma personalidade e individualidade do eu

    singular, j no fica mais claro qual a lgica que permeia o artista em sua

    criao na ps-modernidade.

    Quem, ainda, no se deparou com alguma situao em que as pessoas

    dizem: que uma determina msica foi regravada, que um padro esttico de um

    jogo de camisa5 est sendo reeditado, ou, at mesmo com a seguinte expresso:

    Isso no to bom como era antigamente. O que percebemos inter-relacionado

    com a morte do sujeito outro sintoma: o pastiche6,

    num mundo em que a inovao estilstica j no possvel, s resta imitar os

    estilos mortos, falar atravs de mscaras e com as vozes dos estilos do museu

    imaginrio [...], significa que uma de suas mensagens essenciais h de implicar

    o fracasso necessrio da arte e do esttico, o fracasso do novo, o aprisionamento

    do passado (Jameson, op. cit., p. 31).

    5 Jogo de camisa o uniforme utilizado pelos jogadores.

    6 Superao da pardia. Imitao de um estilo peculiar e nico, o uso de uma mscara

    estilstica, a fala de uma lngua morta. O pastiche acaba se tornando uma pardia fazia uma

    pardia que perdeu o senso de humor, sem o riso, uma espcie de ironia fazia (Jameson, 1990).

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    O que se tem observado, nos ltimos anos, a virtual tomada da arte

    pelos grandes interesses corporativos. Se tomarmos como exemplo o fenmeno

    futebol no fica difcil de visualizar que o grande interesse no proporcionar

    para os espectadores um futebol arte, como j existiu, mas sim, movimentar

    uma indstria esportiva bilionria. Geralmente, os clubes que possuem um bom

    elenco esto sendo patrocinados por grandes grupos privados.

    Enfim, so essa as condies em que os capitalistas formam o contexto

    material a partir dos quais, pensadores e produtores culturais modernos e ps-

    modernos forjam suas sensibilidades. Pois, partimos do princpio que

    h mais continuidade do que diferena entre ampla histria do modernismo e o

    movimento denominado ps-modernismo. Parece-me mais sensvel ver este

    ltimo como um tipo particular de crise do primeiro, uma crise que enfatiza o

    lado fragmentrio, efmero, catico da formulao Baudelaire (o lado que Marx

    disseca to admiravelmente como parte integrante do modo capitalista de

    produo), enquanto exprime um profundo ceticismo diante de toda prescrio

    particular sobre como conceber, representar ou exprimir o eterno e imutvel

    (Harvey, op. cit., p. 111).

    Ainda nas consideraes trazidas por Harvey (ibid, p. 65), grande fato

    que a partir dos anos 1960, [...] quando a produo de cultura tornou-se

    integrada a produo de mercadorias em geral [...], atribui uma funo

    estrutural cada vez mais essencial inovao e experimentao estticas.

    Aceitamos aqui, a proposio, trazida pelo autor acima referido, de que a

    evoluo cultural que vem ocorrendo a partir dos anos 1960 e que se afirmou

    nos anos 1970 no ocorreu num vazio social, econmico e poltico. Como

    Jameson (op. cit), o ps-modernismo repete ou reproduz refora a lgica do

    capitalismo de consumo (p. 44).

    Finalizando, gostaramos de dizer que mesmo diante de tudo que foi

    discutido acima, no devemos deixar de resistir contra essa onda avassaladora

    que vem de todos os lados de nossa vida social. A luta para criar uma arte e

    uma cincia da histria tem de ser vista como parte integrante de uma luta

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    social mais ampla, de uma luta que no perca de vista a perspectiva da

    totalidade. No possvel descartar a metanarrativa.

    Em nosso caso, somente por meio do materialismo histrico-dialtico que

    poderemos compreender a ps-modernidade como condio histrico-

    geogrfica. Um mtodo que se compromete em investigar s mltiplas

    determinaes que compem um determinado fenmeno e, alm de tudo, de

    aplicar o mtodo a ele mesmo.

    Sendo assim, convencidos de que o mundo pode e deve ser mudado, no

    hesitamos em acreditar e, acima de tudo, em lutar para que a vida em sociedade

    possa se tornar mais racional, mais justa, onde o homem tenha plenas condies

    de desenvolver-se plenamente em todas as suas dimenses. Por ltimo, no diga

    nunca: Isso natural, para que nada possa ser imutvel. Pois, nada definitivo e

    acabado.

    Referncias

    Baixo nvel explica Brasileiro da emoo. Esporte Folha de So Paulo, tera-feira, 21 de out. de 2008.

    BOTTOMORE, Tom. Dicionrio do pensamento marxista. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1998.

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    RIZZATTO, Almir. Brasileiro dos pontos corridos caminha para ter o pior pblico da histria. Folha de So Paulo. http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u66385.shtml, 13/10/2003 - 14h08. Acessado em 20/07/2008.

    WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histrico & Civilizao Capitalista. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.