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    Dad o s In tern acio n ais d e C atalo g açã o n a p u b lica ção (CIP)(Câm ara B rasileira d o L ivro , SP, B rasil)

    1)~·1904

    Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade ~ustentávell ClóvisCavalcanti, organizador. - São Paulo : Cortez ; Recife, PE : FundaçãoJoaquim Nabuco, 1995.

    Vários autores.ISBN 85-249-0572-7 (Cortez)

    I. Desenvolvimento econômico - Aspectos ambientais 2. Ecologiahumana 3. Política ambiental I. Cavalcanti, Clóvis.

    1. Desenvolvimento sustentável: Economia ambien~al 333.7

    2. Sociedade sustentável: Meio ambiente: Economia 333.7

    Clóvis Cavalcanti Carg.)André Furtado • Andri Stahel • Antônio Ribeiro • Armando Mendes •Celso Sekiguchi • Clóvis Cavalcanti • Dália Maimon • Darrell Posey •Elson Pires • Franz Brüseke • Geraldo Rohde • Guilherme Mammana •Héctor Leis • Henri Acselrad • Josemar Medeiros • José Luis D' Amato

    • Maria Lúcia Leonardi • Maurício Tolmasquim • Oswaldo Sevá Filho• Paula Stroh • Paulo Freire • Peter May • Regina Diniz •Antônio Rocha Magalhães

    D E S E N V O L V I M E N TE N A T U R E Z A :

    E s t u d o s p a r a u m a s o c ie d a d e s u s t e n t á v e

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    o PROBLEMA DO DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

    Desenvolvimento sustentável, sustainable development ou nachhaltige Entwicklung é um conceito aparentemente indispensável nas discussões sobrea política do desenvolvimento no final deste século. Estações importantesda discussão! sobre um conceito alternativo de desenvolvimento foram:

    A Contribuição do Clube de Roma: a Tese dos Limites doCrescimento

    No ano de 1972 Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores publicaram o estudo Limites do crescimento 2• No mesmo ano aconteceu aconferência de Estocolmo sobre ambiente humano. Nem a publicação do

    Clube de Roma, nem a conferência de Estocolmo caíram do céu. Elasforam a conseqüência de debates3 sobre os riscos da degradação do meioambiente que, de forma esparsa, começaram nos anos 60, e ganharam nofinal dessa década e no início dos anos 70 uma certa densidade, que

    I. Veja UarlJorl/t (")')1),

    2. Mcadows ri 1 1 1 . (I') '!}), Vinte anos depois dessa publicação, em 1992, apareceu dos/IIeS/llOS allton',~: /1 1 '1 '1 1 /1 1 1 1 1 1 1 ' 1 . / 1 / 1 1 1 , 1 ', I'o,~t Mills, Vcrmonl, Chclsca Oreen Publishing Co.

    1, Veja em ~Oll (I \lt,), 1I01l1l1llljl (I 'I(,(), •• Iihrlich & Ehrlich (1972). Veja lambém aflllhll('II~'l1o qlll' VllOlI 11/11 1 1 1 1 1 1 1 '1 I 1111 1'( '01111111111 rl'lll,)p,ka: (I1·orjoll'sclI.Roegcll (1

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    possibilitou a primeira grande discussão internacional culminando nu Con-ferência de Estocolmó em 1972. O estudo do Clube de Roma reconhecea importância dos trabalhos anteriores e escreve: "As conclusões que seguememergiram do trabalho que empreendemos até agora. Não somos, de formaalguma, o primeiro grupo a formulá-Ias. Nestes últimos decênios, pessoasque olharam para o mundo com uma perspectiva global e a longo prazo,chegaram a conclusões semelhantes" (Meadows, 1972:19). As teses econclusões básicas do grupo de pesquisadores coordenado por Dennis

    Meadows (1972:20) são:1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial - indus-trialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais- continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serãoalcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais

    provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quantoda capacidade industrial.2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condiçãode estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até um futuroremoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo queas necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas,e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humanoindividual.3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundoresultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar atrabalhar para alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.

    Para alcançar a estabilidade econômica e ecológica, Meadows et aI. propõem o congelamento do crescimento da população global e do capitalindustrial; mostram a realidade dos recursos limitados e rediscutem a velhatese de Malthus do perigo do crescimento desenfreado da população mundial.A tese do crescimento zero, necessário, significava um ataque direto àfilosofia do crescimento contínuo da sociedade industrial e uma críticaindireta a todas as teorias do desenvolvimento industrial que se basearam

    nela. As respostas críticas às teses de Meadows et aI. surgiram conseqüen-temente entre os teóricos que se identificaram com as teorias do crescimento.O prêmio Nobel em Economia, Solow, criticou com veemência os prog-nósticos catastróficos do Clube de Roma (Solow, 1973 e 1974). Tambémintelectuais dos países do sul manifestaram-se de forma crítica. AssimMahbub ul Haq (1976) levantou a tese de que as sociedades ocidentais,depois de um século de crescimento industrial acelerado, fecharam estecaminho de desenvolvimento para os países pobres, justificando essa práticacom uma retórica ecologista. Essa foi uma argumentação freqüentementeformulada na UNCED no Rio, em 1992, mostrando a cOlltinuidade de

    divergêncillN ~ d,"."tt'UÜ""f1toll no discurso global sobre II questno 1 1 1 1 1 1 1 1l.'1I11 11e o desequil(hrln 1l60ln •• o on & m lco.

    Foi o canadense Maurice Strong que usou em 1973 pela prilllcil'll Vl''1o conceito de ecodesenvolvimento para caracterizar uma concepção allcrtllllivlI

    de política do desenvolviment04•

    Ignacy Sachs formulou os princfpios básil'osdesta nova visão do desenvolvimento. Ela integrou basicamente seis lIspedos,que deveriam guiar os caminhos do desenvolvimento: a) a satisfação dllsnecessidades básicas; b) a solidariedade com as gerações futuras; c) 1 1 participação da população envolvida; d) a preservação dos recursos naturaise do meio ambiente em geral; e) a elaboração de um sistema sodalgarantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas, l~ n programas de educação. As idéias do ecodesenvolvimento não pOlkm 1Iq.~au sua relação com a teoria do self-reliance, defendida nas décadas allll'rion's por Mahatma Gandhi ou Julius Nyerere. UI Haq (1973) e Dietcr SL'lIghaas(1977) radicalizaram a argumentação, defendendo a necessidadc da dissoCillÇão entre os países centrais e os países periféricos, para garallt ir odesenvolvimento dos últimos.· A teoria do ecodesenvolvimento refl'rill seinicialmente às regiões rurais da África, Ásia e América Latina; ela gllllhoucada vez mais uma visão das inter-relações globais entre subdesenvolvillll'1I10e superdesenvolvimento. Uma crítica da sociedade industrial e COIlSI'qllt'1temente uma crítica da modernização industrial como método do descllvolvimento das regiões periféricas viraram parte integrante da COllcl.~rçíiodoecodesenvolvimento. Podemos constatar, principalmente nos trahalhos d,'Ignucy Sachs, mas também de Glaeser & Uyasulu (1984), que os deball's

    Nohre o ecodesenvolvimento prepararam a adoção posterior do desL'lIvolvimento sustentável. Sachs usa hoje freqüentemente os conccitos L'cod,'s"1Ivolvimento e desenvolvimento sustentável como sinônimos.

    A Declaração de Cocoyok 5 é resultado de uma rellnJao da IINC'I'AI )(Conferências das Nações Unidas sobre Comércio-Desenvolvillll'lIlo) l' doUNEP (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas) l'II1 197'1. Hla

    4. Vl~jll 11l11lhl'11I 11l'tlllllÍhlli~'Ou (k~SildlS (In(,:41(,~).'i. IkrlllnlçOu dr ('U(uyu" (1'17'1). Jlllhlklldll

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    cunlrihuI para a discussuo sobre desenvolvilllenlo e meio ambiente, destacandolINNcgllinll~shipóleses: a) a explosão populacional tem como uma das suasl'lIUSIISa falIa de recursos de qualquer tipo; pobreza gera o desequilíbriodtllllogrMico; b) a destruição ambiental na África, Ásia e América Latinaé IlIl11bémo resultado da pobreza que leva a população carente à superu-lil i1.lIçi'lodo solo e dos recursos vegetais; c) os países industrializadoscontribuem para os problemas do subdesenvolvimento por causa do seu

    n(vel exagerado de consumo. Não existe somente um mínimo de recursosnecessários para o bem-estar do indivíduo; existe também um máximo. Os plI(SCS industrializados têm que baixar seu consumo e sua participaçãodcsproporcional na poluição da biosfera.

    As posições de Cocoyok foram aprofundadas no relatório final de um projclo da Fundação Dag-Hammarskjold com participação de pesquisadoresc polflicos de 48 países. O UNEP e mais treze organizações da ONUconlribuíram. Este relatório aponta, e ultrapassa outros documentos até então,

    pllm a problemática do abuso de poder e sua interligação com a degradação(',cológica. Assim, ele mostra que o sistema colonial concentrou os soloslIlais aptos para a agricultura na mão de uma minoria social e doscolonizadores europeus. Grandes massas da população original foram expulsas(I Illarginalizadas, sendo forçadas a usar solos menos apropriados. Isso levouna África do SulÓ, no Marrocos e em inúmeros outros lugares à devastaçãode paisagens inteiras. O Relatório Dag-Hammarskjold divide com a Declaraçãotk Cocoyok o otimismo que se baseia na confiança de um desenvolvimento1 1 partir da mobilização das próprias forças (self-reliance). O radicalismodos dois documentos expressa-se na exigência de mudanças nas estruturasdt' propriedade no campo, esboçando o controle dos produtores sobre osIIlcios de produção. Os dois relatórios dividem também o fato da suaI'l',kiçílo ou omissão pelos governos dos países industrializados e dos cientistasl~ poUlicos conservadores. O fracasso de várias experiências com modelostlt'. desenvolvimento à base da self-reliance, como na Tanzânia ou, de formadl'llllli1lica, no Camboja e a crescente relativização da experiência chinesaflll'lalecCnllTl ainda mais esta reação.

    Sustcntabilidadc l'omo Kltratégia de Desenvolvimento: o RelatórioBrundtland

    "Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as ne-cessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraçõessatisfazerem as suas próprias necessidades"? O Relatório Brundtland é oresultado do trabalho da Comissão Mundial (da ONU) sobre o MeioAmbiente e o Desenvolvimento (UNCED). Os presidentes desta comissãoeram Gro. Harlem Brundtland e Mansour Khalid, daí o nome do relatóriofinal. O relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemassócio-econômicos e ecológicos da sociedade global. Ele sublinha a interligaçãoenlre economia, tecnologia, sociedade e política e chama também atenção para uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entrelIs gerações quanto entre os membros contemporâneos da sociedade atual.() relatório apresenta uma lista de medidas a serem tomadas no nível doEstado nacional. Entre elas: a) limitação do crescimento populacional; b)gllrantia da alimentação a longo prazo; c) preservação da biodiversidade etios ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimentotle lecnologias que' admitem o uso de fontes energéticas renováveis; e)lIumento da produção industrial nos países não-industrializados à base detecnologias ecologicamente adaptadas; f) controle da urbanização selvagemti integração entre campo e cidades menores; g) as necessidades básicasdevem ser satisfeitas. O Relatório Brundtland define também metas a seremrelllizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituiçõesinternacionais. Aí ele coloca: h) as organizações do desenvolvimento devemlIt10lar a estratégia do desenvolvimento sustentável; i) a comunidade inter-nlU:ional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antártica,os oceanos, o espaço; j) guerras devem ser banidas; k) a ONU deveimplantar um programa de desenvolvimento sustentável.

    Em comparação com as discussões nos anos 70 (Declaração deC'ocoyok, Relatório Dag-Hammarskjold) mostra o relatório da comissãoBl'undtlandt um grau elevado de realismo. Ele nem propaga a dissociaçãoou a eSlratégia da self-reliance nem a despedida do crescimento econômico.Inll~rcsses "nacionais" ele toca com cuidado e mantém sempre um tomdiplolllálico, provavelmente uma das causas da sua grande aceitação depoisli" Sl'r publicado. Todavia, a crítica à sociedade industrial e aos paíseslndllslrializados tem em comparação com os documentos internacionaislllllt'riorl'.s (Col'Oyok, Dag-Ilammarskjold) um espaço bastante diminuído.

    I, V I 'I W I 'l lk ll ll ll ll ll m ll ll l / 111 I iJllwl'll 111111 Hlllwil'klllllg (I 9H7), l/1I.1'1'rl'/{l'mein.mme Zukunft.Vll lkl 'l 11111111 ("I'Vl'll. li. ·Ir,

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    uma teoria do desenvolvimento tem que: a) contribuir para a int~rpretuçãosistemática do desenvolvimento social; b) tem que demonstrar seu valor heurístico nos estudos de casos; c) deve na base da sua coerência internaservir para orientar a ação social com sentido numa situação que seriamenos transparente sem a existência dessa teoria.

    Não pode ser o objetivo tentar provar a praticabilidade de uma perspectiva teórica no exemplo da Amazônia ou dos Trópicos Úmidos em

    geral. Também não pode ser o nosso objetivo defender uma teoria para aqual Brasil ou Amazônia possui meramente o papel de objeto de demonstração.E simplesmente impossível desenvolver longe das realidades uma teoria queesperasse somente a sua prova. E isto porque a verificação de uma teoriaé impossível14. Mas ela tem que ser construída de maneira que admita asua falseabilidade. Para examinar-se uma teoria, ela tem que se confrontar com o procedimento de falsificação - se ela sobrevive a este procedimento,e desdobra além disso força heurística, mantemos a teoria. De nenhumamaneira podemos escapar do problema da dedução como não podemosevitar a necessidade de uma hipótese inicial ou pelo menos de uma idéia brilhante. "Entre a determinação dos princípios máximos através da escolha,da análise da ciência ou de uma simples afirmação, não existe - em

    relação à função do sistema teórico ideal - nenhuma diferença. Semdúvida, o cientista confronta com fatos emergentes suas teses mais oumenos gerais na forma de hipóteses" (Horkheimer, 1968:141).

    Quem acompanha as tentativas de interpretar os acontecimentos regionaisna Amazônia à base de teorias complexas, confronta-se com a inadequaçãoaparente entre o esforço conceitual e a essência empírica da análise. TantoBunker (1985), como AItvater (1987) e Costa (1989), para mencionar ostrabalhos que são no nosso contexto mais importantes, experimentam nassuas argumentações com reflexões altamente teóricas, que, muitas vezes, esem prejudicar o valor do trabalho, contrastam com as passagens empíricas.

    O contraste entre teoria e empiria nos trabalhos mais recentes sobrea Amazônia não vem por acaso; ele é a expressão do movimento de procura

    14. "Ora, em minha concepção não existe tal coisa como a indução. Portanto, é logicamenteinadmissível a inferência de teorias a partir de enunciados singulares que são 'verificados pelaexperiência'. As teorias não são nunca, pois, verificáveis empiricamente [...] Contudo, admitireicomo empírico ou científico, certamente, um sistema somente se ele for suscetível de ser testado pela experiência. Estas considerações sugerem que se deve considerar como critério de demarcaçãocrítica não a verificabilidade ou a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não exigireide um sistema científico que ele seja suscetível de ser demonstrado positivamente, de uma vez por todas, mas exigirei que sua forma lógica seja tal que ele possa ser demonstrado. por mciode testcs cmpíricos, cm um sentido negativo: 'deve ser possível refutar pela "'lll' lIl'IIl'i1 l 11mSlsl"1I1acientffico cmpírico'" (Poppcr, 1971).

    ue explicaçõ~s que IIS ttlOrius conhecidas não mais fornec~m. ()uul é 1 1contribuição da t~oria de dependência para o entendim~nto da deslflll~'llouu floresta tropical? Este problema, junto com a desestruturação s6cio-l'f,,'o"nômica, são, nessa grandeza, problemas novos e integrados ~m ~slrulurasdinfimicas com uma complexidade crescente, que as teorias conhecidas ,u10Illais alcançam. Elas somente aparentam ser teorias mais perto da realidadc' porque já entraram no panteão das teorias científicas. Os teôrÍl'os da

    dependência do Brasil calaram-se há mais de uma década sobre a C1'i.~lestrutural que está ameaçando quebrar a espinha dorsal da socil'dade'hmsileira. Menzel e outros discutem há anos abertamente sobre as lacullastllIs teorias do desenvolvimento dos anos 60 e 70. Propostas desenvolvidasno contexto da teoria da dependência, como o conceito da dissocia~'no,combinaram, numa certa fase histórica, mais com os interesses n(/ci(},,(/i,~du fase pós-colonial depois da Segunda Guerra Mundial do que contribuíralll pum a análise do desenvolvimento real. São lacunas que se manifestaralllcom mais nitidez ainda depois do colapso do socialismo à ta União Sovll'fll'lIt' o fim da confrontação militar entre as superpotências. I'alar SO"/l'imperfeições das teorias do desenvolvimento inclui obviamente a inlc'glll~'node cl~mentos teóricos bem-sucedidos. A crise do endividamento, por C'Xe'lIlplo

    "i~nifica, sim, a transferência de capital para as metrópoles. Tc'oriu,~ til'1Il'1I111ulaçãoe teorias sobre os desequilíbrios da economia 111llndllll1~1" 11 NUUfunção, devem ser mantidas e ampliadas 15.

    Nas circunstâncias atuais, marcadas pela tentativa secular e pelo fl'lll'USSIuu industrialização não-capitalista, o desdobramento de uma polêmlcu UpOIlIlIndo deficiências parece mais fácil do que a reconstrução de alll'l'IIalívaNlec~ricas e práticas do desenvolvimento. Governos e candidatos ao ~ovc'nHllIhmçal11 ainda com a coragem dos desorientados a idéia da moderni",lI~'llo,H~111 perceber que o modelo da industrialização tardia é capaz de mOlkl'lll'/.UI1I1j.lIlIlSc;entros ou setores da economia, mas incapaz de ofercc;er Ulll 1lI0dl'Illtil' dcs~nvolvimento equilibrado da sociedade inteira. A moderniza\'úo, IlIh)IIl'OlIIpllnhada da intervenção do Estado racional e das correções pari Indoclll N()f,,'icdadecivil, desestrutura a composição social, a econolllia tl'rritoriul.r Nt'Ucontexto ecológico. Por isso, necessitamos de uma perspect iva IlII1Illtlillll'nsional, que envolva economia, ecologia e política ,\0 llIeslllo lt~lllflll,hiNO, 110 fundo, é o ponto de partida da teoria do desenvolvimento susll'III{IVl'l.AJll'SUI'da sua estrutlll'a ainda inacabada, aponta este conceilo na dil'l'~'llo"'rrlu, ()uem não quisn sc' Jlc'nkl' no caminho, precisa mais do quc' hOIlVIIlIllltll\ ou finalll'ialllt'lIto l' I\ll'IlIo: precisa dl' cic~m·ia.

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    MUDANÇAS DE PARADIGMA EDESENVOLVIMENTO SUSTENTADO

    o século XX produziu eventos extraordinários na teoria do conhecimento~ nos puradigmas científicos. Seu início foi marcado pela invasão dasdesordens nus ciências ditas "duras" (ou ainda, "deterministas", "termodi-nftmicus" etc.) e a inclusão das noções de probabilidade, incerteza e risco011I diversas disciplinas. O findar de nosso século assiste ao definhamentodo plll'lldigmu cartesiano-newtoniano, substituído por uma visão de mundollll~gl'lld(lra, sística, conjuntiva e holística. O mundo mecanicista-euclidiano6 hoje uma metáfora de museu, uma ideologia que só se sustenta pelarUl'lillgerada pela tecnociência instrumentalizadora, utilizada pelos detentores

    tio poder político.As chamadas ciências ambientais se espremem em vazios epistemoló-

    Ilkos enlre as ciências naturais e sociais, adjetivam disciplinas existentes ePI'llVlll:UIlla necessidade da interdisciplinaridade. Mesmo dentro da estreitavlNno {'cononlicisla atual é perfeitamente possível discernir quatro fatores11I'lnl'ipuisque lornam a civilização contemporânea claramente insustentávelli Illc.'dio t' IOllgo prazo:• cr~scilllcnto populacional humano exponencial;• tll'ploc;IlUdll hllSt~dt~ recursos 1I11llll'llis;

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    • sistemas produtivos que utilizam tecnologias poluentes e de baixa eficáciaenergética;

    • sistema de valores que propicia a expansão ilimitada do consumo material.Os cientistas que estudam o meio ambiente podem apontar fatos ainda

    bem mais graves e profundos sobre o sistema atual, insustentado, decorrentedo dogma fundamental da teoria econômica vigente, a saber, o crescimentoeconômico a qualquer custo:• o crescimento contínuo e permanente em um planeta finito;• a acumulação, cada vez mais rápida, de materiais, energia e riqueza;• a ultrapassagem de limites biofísicos;• a modificação de ciclos biogeoquímicos fundamentais;• a destruição dos sistemas de sustentação da vida;• a aposta constante nos resultados da tecnociência para minimizar os

    efeitos causados pelo crescimento.A passagem do atual mundo desintegrado para um em que o desen-

    volvimento seja sustentado (com sua implícita melhoria da qualidade devida) exige radical migração da situação presente de insustentabilidade

    planetária para outro modelo civilizatório, Semelhante transição depende,em grande parte, de mudanças profundas na teoria do conhecimento e nasciências em geral. Além disso, os princípios, premissas e pressuposições básicas das ciências - seus paradigmas, enfim - têm sinalizações muito.importantes em termos de direcionamento da abordagem econômica de umasociedade sustentada.

    Desta maneira, a investigação das fronteiras das ciências, suas teoriase seus novos paradigmas emergentes constituem tarefa básica, premissafundamental para determinar a nova visão de mundo necessária para realizar o pretendido desenvolvimento sustentado (Ely, 1992), uma vez que a situaçãode insustentabilidade foi baseada e é conseqüência, em grande parte, de paradigmas ultrapassados:

    I. cartesiano-newtoniano causalista;2. mecanicista-eucIidiano reducionista;3. antropocentrista.

    A abordagem das mudanças de paradigmas como objeto de iIlVI'SliJJ,IU•.ão,tal como foi realizada no clássico A estrutura da,\' "(,1'0/11\'1)(',\ I'/"III(/i('(l,\'

    (Kuhn, 11.)75)é tllref.. tJ'll.nvulvkJIl por vários autores, que estenuem oconceito de pan\(Ji~l1U1como csclllll de cosmovisão, incluindo questõessociais e políticas.

    Dentre os vários trabalhos que tematizam as mudanças de parad.i~mllsdestacam-se - pela fundamentação possível da questão da sustentablhdudr -- os seguintes:• 0 . 1 " ,filósofos e as máquinas 1400-1700 (Rossi, 1989);• ( ) tao da Fís ica (Capra, 1985);• () ponto de mutação (Capra, 1986);• Sabedoria incomum (Capra, 1990);• A irreversível aventura do planeta Terra (Rohde, 1992).

    Os diversos campos do conhecimento que rea!izaram importantesmudanças paradigmáticas em período recente ou que tlver~m teorias rev~lucionárias que apontam para paradigmas emergentes são reglstr,adas a segll,ltendo como referência as obras mais importantes que Ihes dizem respelloou aquelas existentes em língua portuguesa.

    A teoria da auto-organização (Varela, 1979; Maturana & Varela, I?1)1;'I'hompson, 1990) sub~erte completamente a idéi.a de .causal.id~dc lr~ecnn.lcnhrindo nova perspectiva para uma nova ontologIa (Clrne-Llm

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    a articular pontos de vista disjuntos do saber em um cicIo ativo. A visãodeste novo paradigma parte da idéia de organização ativa como sinônimode reorganização perm~nente. A raiz "re" física representa uma categoriafundamcntal e merecerIa, conforme Morin, ser conceitualizada do modomais radical, pois está em autos e óikos, pois estes últimos são reorganizadores,regeneradores e recorrentes: repetir, reorganizar, reproduzir, recicIar, retomar,rememorar, recomeçar, refletir, revolver, reusar etc.

    A obra (até setembro de 1994) é composta pelos livros:• O Método I (Morin, 1977);• O Método /I (Morin, 1980);• O Método 11I (Morin, 1986);• O Método IV (Morin, 199n

    o paradigma holístico afirma a inseparatividade de todas as coisas e pr?cura ,;limina!" o discurso e a ~rática dualistas. Apenas a holologia, ouseja, ~ obtençao ou o desenvolvImento de uma compreensão clara e deuma mterpretação correta da não-dualidade, pelos meios clássicos ligadosao pensamento discursivo" (Weil, 1987a:7) é passível de ser abordada umavez. que a holopraxia requer o acesso mediante experiência individual e

    partI~u~ar. A bibliografia que apresenta o paradigma holístico, realizada apóso cIassIco O fantasma da máquina (KoestIer, 1969), é numerosa:• A neurose do paraíso perdido (Weil, 1987);• Nova linguagem holística (Weil, 1987a);• Introdução à visão holística (Crema, 1988);• Viver holistico (Pietroni, 1988);

    • Holística: uma nova visão e abordagem do real (Weil, 1990);• A linguagem dos deuses (Farjani, 1991);• () novo paradigma holístico (Brandão & Crema, 1991);• A ar te de viver em paz (Weil, 1993).

    IÚ'O/Ol(itl t'nl'rl(étic:a ("EMERGIA")

    A ecologia energ15lica modeladora, baseando-se em conceitos cibemé-licos e sistêmicos (While et aL, 1992), desemboca, já na década de 70, nadefinição de emergia, ou seja, na quantidade de energia multiplicada por uma lrunsformidade que se relaciona com a qualidade da energia em questão,Inicialmente ocupando-se de ecossistemas "naturais", passando pelos agros- N!Nlemas,os modelos de emergia chegaram, em pouco tempo, a integrar asfu;ões humanas e os seus imensos impactos ao meio ambiente, locais oualnhuis.

    A abordagem emergética oferece subsídIOs revolucionários no sentidode lima correta avaliação dos valores atribuídos a processos e recursosnllluruis, tarefa que a chamada economia "neocIássica" nunca conseguiudeNcmpenhar a contento, nem de maneira extremamente precária.

    Algumas obras básicas disponíveis no Brasil são as seguintes:• Amhiente, energía y sociedad (Odum, 1980);• SY,I'tems ecology (Odum, 1983);• /últ'rgy basis for man and nature (Odum & Odum, 1981);• Hc%l(ia (Odum, 1988).

    Ohscrvando a Natureza e o Cosmos pela geometria tradicional verifica-sequ e 1 1 simctria estrutural se dá em todo o Universo, desde as partículas.1~l1lentllrcs até as estruturas cósmicas mais complexas, como os buracosnc.111ros,()s observadores dualistas sempre opuseram à ordem a desordem,() Il'rtI~lIlar, o caos, Ao contrário, o caos não é o lado irregular da Natureza,

    ""'N IIItlIl generalização do comportamento universal da complexidade. Osfrtll:llIls (Mandelhrot, 1977) são a "geometria da Natureza", a simetria atravésdllll eNculas de ooscrvação. "A tese de Mandelbrot é de que as complexidades.6 ~xiNlelll no contexto da geometria eucIidiana tradicional. Como fractais,IlII c.1Nlrulllrusrumíficantes podem ser descritas com transparente simplicidade,," ,u m IIpcnlls Illgllllllls informações" (Gleick, 1990:104).

    A hllNl'!ínformacionlll disponível soore o caos e os fractais está situada, . prl ncl l'l lll l1 l'! nl e. el ll:• Til" Irm'/tl l i(t'ofllt'lry t!f' IIlIlW't' (MlIlI(klhrot, 1977);• Til, ,d ,,,, ., oll'rtlt'/t" ''''tlNI/,I' (Pcltgcn & SlIlIpC. 19HH);

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    • Caos, a c riação de uma nova c iênc ia (Gleick, 1990);• Clima e excepcionalismo (Monteiro, 1991).

    A teoria da catástrofe (Arnold, 1989) fornece um método universal para o estudo de transições por saltos, descontinuidades e súbitas mudançasqualitativas, que a análise newtoniana, baseada em processos suaves econtínuos, não possui capacidade de enfocar. "Catástrofes são mudançassúbitas e violentas, representando respostas descontínuas de sistemas comvariações suaves nas condições externas" (Arnold, 1989: 19). Até o presentemomento, os resultados da teoria de Ren Thom já foram aplicados emcampos como o estudo dos batimentos cardíacos, ótica física e geométrica,embriologia, hidrodinâmica, geologia, psicologia experimental, lingüística eàs partículas elementares.

    o físico David Bohin (1971) afirma que o holograma é um ponto de partida para uma nova descrição da realidade: a ordem implicada (1991).A realidade convencional física ("clássica") focaliza manifestações secundáriasexplicadas das coisas e não a sua essência ou fonte. Implicar é explicar,implícito. A implicação faz parte, igualmente, da teoria da auto-organizaçãoe da ontologia que a põe como premissa. "O paradigma holográfico eoutros paradoxos" (Wilber, 1991) mostra que a organização do Universo, bem como a natureza da mente humana, pode ter sua realidade primária(implicada) como um domínio de freqüências - um holograma, portanto

    - em que qualquer pedaço pode reconstituir a imagem inteira.

    A "nova tectônica global" constitui uma explicação coerente e sistêmicada dinâmica do planeta Terra e foi a única revolu{'tlo pl/mdigl/lti(;m dotipo kuhniano consciente de si mesma. Seus protagonistlls ,l'I/hlllfII o 'llle

    '''llnv1l IIcontecendo, o que levou .I. Tuzo Wilson a proclamar 1 1 reVOhllinllnllll goociências no Congresso Internacional de Geologia em Praga (Il)()MDo foto. além de a chamada "tectônica de placas" ser a primeira tellf'ill 1 1uplicur o comportamento cinemático, físico e geológico da crosta t'~ITcstcmno um sistema coerente e unitário, ela provocou verdadeira lInifica4j'l,llitemológica no campo das geociências.

    Algumas obras sobre a tectônica global:

    • /)t'r;Vll continental y tectónica de placas (Scientific AmericlllI & TIlI',llWilson, 1974);• T ll f' way the Earth works (Wyllie, 1976);• A Terra - nova geologia global (Wyllie, 1985);• ( ;f 'o-IIi .l 'tória - a evolução global da Terra (Ozima, 1(91),

    A chamada "hipótese" Gaia é um novo olhar sohn' II h~II(\III'"U prtll~1Iriamcnte - chamado "vida" na Terra, com a idéill dr qu~ 'I ' 1 ' . " .. 1 1 1 1 1 viva, A primeira afirmativa nesse sentido partiu do llel~llIMuJ ." " .tlullon, em 1785, em uma palestra efetuada na Royal Socidy dr J(dl mhurll" ,O conceito de Gaia, ou Mãe-Terra, como diziam os gregos. ~ 1 \1 \ vl/IIA"mm,lernll a abreviatura da biosfera considerada como um llIt'cllnllllno 11 ,rOllulllçl"\oautomática, com a capacidade de manter saudável nosso plllllrcJUntl'OllIndoo meio físico e químico.

    A grande mudança paradigmática de Gaia frente à evolução hilll(,,,,,"drtssku" consiste em que, nesta última, a vida adapta-se, de llullwira IIIIIISoU lIlenos passiva, ao mundo físico; já em Gaia a evolução vital ill\I'I'r litl~ralmcnte - molda o meio físico, entrando em cena a parte hillh'I~1'~lIpol\slÍvclpelo controle planetário: os microorganismos.

    ()s quatro principais livros que tratam sobre esta revolllçiío paradi~l\lftllIIno os sl'guintcs:• ( il /; I/ (Lovelock, 19R7);• A,~ t'rt/,\' tit' (;1/;1/ (Lovdm:k, IlJRR);• MII't'()('(),\'II/(),\' (Maq!,ulis & Sllgan, IlJlJ());• () "(I,\'I)('/'(I//' tia '['('I'rt/ (l~llMMCI.199I),

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    Desde que Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) escreveu seu ContratoSocial (1762) para regrar as relações políticas entre os seres humanos, aHistória continuava cega à Natureza. Mas agora os "tempos históricos,tempos biológicos" (Tiezzi, 1988) impõem nova situação de abordagem. Ahistória global entra na Natureza, a natureza global entra na História. Eis

    dois novos diplomas normativos necessários, o contrato natural (Serres,1991) e o contrato animal (Morris, 1990).O contrato natural propõe uma nova ética que elimine o estado de

    guerra com a Natureza, "um novo pacto, um novo acordo prévio, quedevemos fazer com o inimigo objetivo do mundo humano: o mundo talcomo está. Guerra de todos contra tudo" (Serres, 1991 :25).

    Partindo do fato de que não somos, os seres humanos, uma espécierara, porém, sem sombra de dúvida, somos uma espécie ameaçada, é possívelidentificar o maior crime de lesa-humanidade: o rompimento do contratoanimal. "A base deste contrato é que cada espécie deve limitar seucrescimento populacional o suficiente para permitir que outras formas devida coexistam com ela" (Morris, 1991:12). O aspecto humano do contratoanimal é que não há nada a ganhar na superpopulação, a não ser a miséria.

    A possibilidade da construção de uma sustentabilidade deve levar emconta os princípios extraídos dos recentes avanços nos paradigmas e teoriascientíficas, uma vez que a insustentabilidade atual foi resultante, em grande parte, do conhecimento - superado - anterior, inadequado, de convivênciacom o meio ambiente. Os princípios filosófico-científicos, emergentes dosnovos paradigmas e teorias, que podem - tentativamente - compor a base para a construção da sustentabilidade, são os seguintes:• contingência;• complexidade;• sistêmica;• recursividade;• conjunção;• interdisciplinaridade.

    É importante ressaltar que estes princlplOs, conforme anteriormenteregistrado, são extraídos da área da teoria do conhecillll'nl11 (' dONnovos

    purudigmas cienlfl'koH ti, portAnto, constituem parte do aparato conccillludisciplinar para uma abordugem sustentável. Princfpios éticos, sociuis (exemplo, ver Ely, 1992: 199-200) e econômicos deverão igua1r11l~ntl~elltllllnu formação das novas propostas de desenvolvimento da Sociedade,

    O princípio de contingência refere-se à possibilidade ontol6gil,.'a novo não-necessário, do diferente contraditório, constituindo o contl'xfilosófico da teoria da auto-organização. No campo científico, a contillgl'nIINNumea forma das "propriedades emergentes" dos sistemas - principa1rlllvivos - que não estão previstas pelo somatório particular das partes qnH compõem. A implicação está contida neste princípio, sendo contl'llpolltl\ explicação mecânica.

    o princípio de complexidade atual opõe-se ao reducionislllo Pl'lltil'lde forma generalizada pelas ciências, tendo - ainda - qlle l"ornrrrr Uli bllNes para uma Razão aberta, que reformule a evolução do l"rl:lllllllrrAcional simplificador anterior. A complexidade deve fazer frelltl~ f i ilTudonnlidudc e a racionalidade, às racionalizações, incerteza e amhig(ljdlldr.

    A complexidade traz embutida a necessidade de associar o ohjelo "OU umbiente, de ligar o objeto ao seu observador e a desintcgl'll\'ilo ••1~l1lento simples. Para uma abordagem detalhada do paradigma dll rll plexidude, ver Morin (1982:248-50).

    o princípio de sistêmica engloba a perspectiva cibernética, 1 1 llbOl'UIIIlt'1IIhnHHIÍl:1Iquanto à totalidade, além de incluir aspectos sobre llutolllllllilIlIt(\~rn'ill0. A sistêmica tem relação com a complexidade, com a rl'l~ursividll, com 11emergia.

    () prindpio de ret:lII'sividlldl~ hllsdll-sc no plll'lIllilllllll ",.,." c cpl'lll'l1to IlU" cienciuN, nll ullllHlrl&anizacno, no novo método, no 11011"

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    n u emergia e no caos-fractais. A recursividade põe a organização alivacomo sinônimo de reorganização permanente.

    o princípio de conjunção é o contraponto teórico e prático da disjunçãomecânico-causalista anterior, ou seja, a articulação dos campos do conhe-cimento, dos saberes e das abordagens, permeando todos os paradigmascientíficos novos.

    o princípio de interdisciplinaridade permeia todos os novos paradigmascientíficos, desde o novo método até os fractais. É sobretudo na abordagemsistêmica, na complexidade e na questão ambiental que a interdisciplinaridade possui maior relevância. Muitos pesquisadores chegam a enfocar a inter-disciplinaridade como espécie de correção para o estilhaçamento da Razão

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