Texto da Giulia Cioffi que foi classificado na Olimpíada de Língua Portuguesa

2

Click here to load reader

Transcript of Texto da Giulia Cioffi que foi classificado na Olimpíada de Língua Portuguesa

Page 1: Texto da Giulia Cioffi que foi classificado na Olimpíada de Língua Portuguesa

DESCASO A CÉU ABERTO

Giulia Cioffi Nascimento

Aluna do 3º A

Moro em uma cidade típica da floresta amazônica. Com uma vasta

riqueza em recursos naturais, altas temperaturas e grande potencial

econômico, é considerada uma das 25 melhores cidades para se empreender

segundo dados da revista "Pequenas Empresas & Grandes negócios". Embora

esteja distante dos grandes centros comerciais, Ariquemes se difere graças a

sua contínua busca pelo crescimento econômico. Destacou-se no cenário

internacional através da mídia, após a descoberta da maior reserva a céu

aberto de cassiterita do planeta, o que a tornou uma cidade singular em nosso

país.

Em meados de 1980, após madeireiros encontrarem de forma

inusitada a reserva de cassiterita, principal fonte de estanho, utilizado em

telefones, computadores, e outros objetos, a exploração se tornou a maior

fonte de renda do estado de Rondônia. Isso ocasionou a vinda de pessoas de

várias regiões do país, em busca do tão valioso minério, que trazia consigo a

promessa de vida melhor. A migração ocorreu desde seringueiros oriundos do

Acre até pequenos agricultores do sul do Brasil, desencadeando um

crescimento desordenado.

A extração de cassiterita do Garimpo “Bom Futuro” modificou

ambientalmente e socialmente nossa cidade, gerando o intercâmbio de

culturas, costumes e problemas. Acredito que a desenfreada cobiça pela

riqueza fez com que os problemas sociais gerados pela excessiva aglomeração

de pessoas fossem considerados irrelevantes para os governantes.

Há os que dizem que o Garimpo trouxe inúmeros aspectos positivos,

afinal, foram gerados empregos diretos e indiretos. Aumentou-se a população e

assim houve a vinda de empresas ligadas à alimentação e à saúde, aquecendo

a economia local.

Os que discordam dessas afirmações alegam que esses fatos estão

sendo analisados com uma visão empresarial, visando apenas aos lucros e

não a situação social de quem manualmente retira a cassiterita.

Na minha opinião, é notório o crescimento econômico que o Garimpo

trouxe para a região. Entretanto, o retorno em investimentos é insuficiente para

suprir as necessidades existentes.

Page 2: Texto da Giulia Cioffi que foi classificado na Olimpíada de Língua Portuguesa

Sendo terras da União, não seria obrigação do governo federal

implementar políticas públicas para dar condições de vida aos habitantes do

garimpo? Observo que desde 1988, quando o Departamento Nacional de

Produção Mineral (DNPM) tentou, com a ajuda da mídia, monopolizar o

garimpo dando poder apenas a uma mineradora, os garimpeiros e suas

condições de sobrevivência são tratados com indiferença. Foram poucos os

investimentos em infraestrutura, resultando em uma realidade paradoxal: um

centro econômico essencial que tem mais 200 anos de extração garantidos

pelo governo, porém sem assistência necessária.

Toda administração do Garimpo está polarizada em uma pequena

escola municipal que luta para se tornar mais atrativa, tendo ganhado

incentivos da UNESCO para manter na sala de aula e não no “melechete”

(nome dado ao lugar onde ocorre a extração de minério) os alunos que já

sofrem um preconceito regional por serem filhos de “requeiros”, trabalhadores

que manualmente exploram a cassiterita.

É inadmissível que um local que gera tanto dinheiro ao país esteja à

mercê do descaso administrativo. Segundo a Revista de Geofísica, em 1997

houve a produção de 7.500 ton. de minérios, contribuindo com 78,5% do total

da produção brasileira. Em seus melhores anos, produziram 123 ton.

diariamente. Mesmo com tamanha circulação de dinheiro e a chegada de

tantas mineradoras, a urbanização parece ter ficado presa no caminho, tendo o

Garimpo suas vias de acesso sem asfalto. Entretanto, só relatar sua situação

não é o bastante. É preciso mais assistência à população: ter redes de esgoto,

mais profissionais qualificados na área da saúde e investimentos que sejam

realmente para quem gera a economia local, acabando com essa relação

colonial.

Não precisamos repetir o passado. Há urgência no pedido de

modificação na administração do Garimpo. Sabemos que é um desafio alterar

essa realidade, mas é necessária a mudança para que o lugar onde vivo, que

já é um dos mais ricos em cassiterita do Brasil, torne-se rico em cidadania.