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CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA CONSERVAÇÃO INTEGRADA Volume 32 TEXTOS PARA DISCUSSÃO PLANILHA DE PREÇOS Recomendações ao Gestor de Restauro Jorge Eduardo Lucena Tinoco 2008

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  • CENTRODEESTUDOSAVANADOSDACONSERVAOINTEGRADA

    Volume32

    T E X T O S P A R A D I S C U S S O

    PLANILHADEPREOSRecomendaesaoGestor

    deRestauro

    JorgeEduardoLucenaTinoco

    2008

  • TEXTO PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    PLANILHA DE PREOS

    Recomendaes Bsicas ao Gestor de Restauro

    Jorge Eduardo Lucena Tinoco

    Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada

    Olinda 2008

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada

    Misso O CECI tem como misso promover a conscientizao, o ensino e a pesquisa sobre a conservao integrada urbana e territorial dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentvel. Suas atividades so dirigidas para a comunidade tcnica e acadmica brasileira e internacional Diretoria Jorge Eduardo Tinoco, Diretor Geral Mnica Harchambois, Diretor Juliana Barreto, Diretor Flaviana Lira, Diretor Conselho de administrao Silvio Mendes Zancheti, Presidente Toms de Albuquerque Lapa Ana Rita S Carneiro Virginia Pitta Pontual Roberto Antonio Dantas de Arajo Suplentes Eveline Labanca Andr Renato Pina Rosane Piccolo Conselho fiscal Natlia Vieira, Presidente Ftima Furtado Norma Lacerda Suplentes Ftima Alves Mafra Magna Milfont

    Texto para Discusso Publicao com o objetivo de divulgar os estudos desenvolvidos pelo CECI nas reas da Gesto da Conservao Urbana e da Gesto do Restauro. As opinies emitidas nesta publicao so de responsabilidade exclusiva dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada. permitida a reproduo do contedo deste texto, desde que sejam devidamente citadas as fontes. Reprodues para fins comerciais so proibidas. Editores

    Gesto da Conservao Urbana Natlia Vieira Gesto de Restauro Mnica Harchambois Identificao do Patrimnio Cultural Rosane Piccolo Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada Rua Sete de Setembro, 80 Olinda PE 53.020-130 Brasil Tel/Fax.: (55 81) 3429-1754 [email protected] www.ceci-br.org

    FICHA BIBLIOGRFICA

    Autores Jorge Eduardo Lucena Tinoco

    Ttulo: PLANILHA DE PREOS Recomendaes Bsicas ao Gestor de Restauro

    Editora: Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada

    Tipo da publicao: Textos para Discusso Srie 2 Gesto de Restauro

    Local e ano de publicao: Olinda, 2008

    ISSN: 1980-8267

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    PLANILHA DE PREOS Recomendaes Bsicas ao Gestor de Restauro Jorge Eduardo Lucena Tinoco

    Resumo Apresentam-se conhecimentos relativos a conceitos, princpios e mtodos de apurao de custos para elaborao de oramentos, fornecendo instrumentos bsicos eficazes para a formao, apurao e anlise de preos nas de obras e servios de manuteno, conservao e restauro do patrimnio cultural construdo, sejam de pequeno, mdio ou grande porte.

    Palavras chave: conservao, restaurao, planilha de preos, planilha de custos, oramento de obras, modelagem de preos.

    INTRODUO

    Este artigo apresenta os conhecimentos relativos a conceitos, princpios e

    mtodos de apurao de custos, fornecendo informaes eficazes para compreender os

    mecanismos de formao, apurao e anlise de custos nas de obras ou servios de

    manuteno, conservao e restauro de qualquer natureza, porte ou complexidade.

    Trata dos processos para elaborao de oramentos de servios de manuteno,

    conservao e restauro em edificaes de valor cultural a partir da composio dos

    custos.

    As tarefas de analisar e apropriar os custos de um servio na rea da construo

    civil deixou de ser uma misso complicada a partir do uso dos computadores e,

    particularmente, da utilizao de softwares especficos como a Rede Pert p.e..

    Entretanto, essas atividades ficaram bem mais especializadas, exigindo mo-de-obra

    tcnica com domnio em TIs (Tecnologias da Informao) O que antes era feito com

    muito pouca tcnica, no empirismo, no possibilitando anlises complexas, hoje em dia

    os recursos tecnolgicos so cada vez mais sofisticados e especializados. Isto verdade,

    pois, inclusive, j existe uma especializao denominada Engenharia de Custos.

    Texto elaborado para as aulas de Planilhas de Oramento, da disciplina Habilidades do Gestor, no mbito do Curso de Gesto e Prtica de Obras de Conservao e Restauro do Patrimnio Cultural Gesto de Restauro, aplicado pelo CECI desde 2003. Jorge Eduardo Lucena Tinoco, arquiteto (UFPE-1976), especialista em conservao e restauro de monumentos e conjuntos histricos (FAU/UFMG-1978), trabalha na rea da preservao do patrimnio construdo desde 1970. empresrio desde 1986 e diretor geral do CECI.

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    O ramo da Engenharia de Custos na construo civil um dos melhores

    mercados mundiais de trabalho para profissionais de nveis superior e tcnico. Na

    verdade um dos mais sofisticados nichos de especialistas na rea de consultoria. Das

    mega-construes aos pequenos empreendimentos a questo do planejamento,

    apropriao e controle dos recursos financeiros prioridade! Ningum com a

    conscincia do custo do dinheiro e nenhuma empresa pblica ou privada sria leva a

    cabo uma empreitada sem saber de antemo exatamente quanto vai custar e qual o

    tempo mnimo possvel para executar um projeto. Dar incio a qualquer empreitada

    sem essas certezas pode ser considerado como tentativa de suicdio econmico-

    financeiro.

    Para os empreendimentos da construo civil leve, mdia e pesada h

    programas muito eficazes de oramentao e controle de custos. Alguns deles so to

    sofisticados que, um gerente de negcios pode acompanhar do outro lado do mundo

    quantos quilos de pregos so gastos por dia, por metro cbico na composio do preo

    do concreto armado ou quantas horas/homem esto sendo gastas para apontamento

    de servios... Este autor cita alguns softwares disponveis no Brasil como o Volare, o

    OrcaPlus, o RM-Orca e o ORCE, este, inclusive, bem acessvel, ofertado pelo Governo

    do Estado de Sergipe.

    Seja qual for a interface, muito importante que o Gestor de Restauro adquira

    alguma habilidade no manejo com essas ferramentas devido a grande complexidade

    que compor os preos de servios especializados de manuteno, conservao e

    restauro de edificaes de valor cultural.

    O programa Monumenta/BID do Ministrio da Cultura, desde sua implantao

    junto com o IPHAN, tenta produzir uma planilha de preos de servios para a rea da

    conservao e restauro do patrimnio construdo, inclusive este autor colaborou

    cedendo seu banco de dados quela instituio. Entretanto, o resultado desse trabalho,

    salvo informao mais autorizada, ainda no de domnio pblico.

    O curso Gesto de Restauro do CECI tem, entre seus desafios, demonstrar aos

    alunos participantes que, no h como se estabelecer preos padronizados para

    servios onde um ou mais itens so sujeitos em sua grande maioria a variaes e

    incertezas. No se pode querer implantar modelos semelhantes s tabelas de preos

    2

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    como o TCPO 1. Isto porque o princpio casus ad casum (cada caso um caso) uma

    constante na formulao dos preos de obras e servios em edificaes de valor

    cultural. Por mais que os profissionais de Engenharia de Custos queiram

    compatibilizar os procedimentos da construo civil para a rea da conservao e

    restauro do patrimnio construdo (e isto muito importante!); por mais que as

    instituies pblicas de preservao tratem os servios e obras de manuteno,

    conservao e restauro no mbito do regime jurdico e administrativo da construo

    civil, este autor insiste dizer e reafirmar que no possvel criar tabelas de preos

    padronizados para contemplar estes servios especializados.

    Assim como um lanterneiro s pode saber o que fazer exatamente e quanto ir

    gastar (materiais e tempo) para realizar o servio de recuperao de um automvel

    deteriorado quando desmontar suas respectivas partes, assim tambm, nos servios de

    conservao e restauro a realidade da situao s se apresenta momento da

    interveno. Em nvel de projeto, s possvel se ter uma estimativa dos custos. Isso

    no significa que o processo de estimar custos um exerccio de futurologia ou jogo de

    adivinhao. Trata-se, pelo contrrio, de um trabalho executado com critrios

    altamente tcnicos, utilizao de informaes confiveis e, principalmente, a expertise

    dos colaboradores (MATTOS, 2006).

    Desde quando o autor iniciou as atividades na rea da conservao e restauro

    de monumentos e conjuntos histricos, o bordo: quem diz o preo do servio o servio

    j se fazia ouvir de um Ayrton de Almeida Carvalho, de um Jos Ferro Castelo

    Branco, e de Fernando Machado Leal ou Roberto Lacerda, bem como de outros

    engenheiros e tcnicos das primeiras horas do IPHAN. Na verdade, isso quer dizer

    que, s quando um servio est em andamento, quando uma porta ou parte de um

    retbulo estiver na bancada do marceneiro, ser possvel se saber com certeza o que

    fazer, como fazer, quanto tempo e o valor. Assim, se dizia tambm poca: quem diz

    como o servio deve ser feito o servio.

    Seja como for, o fato que, em princpio, precrio e incorreto se estabelecer

    tabelas e planilhas de preos para servios especializados de manuteno, conservao

    e restauro de edificaes de valor cultural.

    1 Tabelas de Composies de Preos para Oramentos da Editora Pini Ltda. So Paulo, edies continuadas.

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Mas, ento o que deve ser feito?

    Este o objetivo deste artigo e do curso Gesto de Restauro: gerar conhecimentos

    relativos a conceitos, princpios e mtodos de apurao para estimativas de custos de servios de

    manuteno, conservao e restauro.

    1. Planilha de Oramento

    Os trabalhos de manuteno, conservao e restauro em edificaes de valor

    cultural devem ser denominados de servios em vez de obras. Observe-se que

    etimologicamente a palavra servio designa o conjunto de aes na qual predomina

    a atividade do trabalho sobre a utilizao do material e a palavra obra refere-se ao

    oposto, ou seja, nesta predomina a utilizao dos materiais sobre a atividade laboral do

    trabalho 2. De certa maneira, saber sobre a distino dessas duas palavras leva o

    profissional compreender a realidade da formatao dos preos das intervenes no

    patrimnio construdo.

    Na modelagem de preos, no mbito da construo de edificaes, seja qual for o

    mercado, existem inmeras regulaes para aplicao e distino da qualidade dos

    materiais, para uso adequado de tcnicas em cada tipo de sistema construtivo,

    estabelecidas pela ABNT 3 em nvel do territrio brasileiro. Assim, para execuo de

    uma viga ou de um pilar em concreto armado, com dimenses e Fck 4 pr-estabelecidos

    em projeto, o engenheiro oramentista5 sabe definir, a partir da normalizao de

    insumos e quantidades, exatamente os preos do metro cbico para execuo em

    qualquer regio do pas (vide tabelas a seguir). Isto se repete para milhares de

    composies, conforme se pode verificar na ltima edio do TCPO 6. Mesmo assim,

    importante se fazer um alerta sobre a aplicao de composies de preos

    padronizados em tabelas desse gnero. Uma pesquisa realizada no perodo de

    2 Definies elaboradas a partir de conceitos do jurista Hely Lopes Meirelles em Direito de Construir, Editora: Malheiros, 9 Edio 2005. 3 Associao Brasileira de Normas Tcnicas o rgo responsvel pela normalizao tcnica no Brasil, e a nica representante no pas das entidades de normalizao internacional, como a ISSO International Organization for Standardization, a DIN Deutsches Institut fur Normung e outras. 4 Fck a sigla indicadora do nvel de resistncia do concreto compresso, p.e.: quando se diz que um concreto tem Fck = 25 MPa diz-se que a sua resistncia aos esforos de compresso so de 25 Mega Pascal, que o mesmo que dizer que ele resiste um esforo de compresso de 250 kgf/cm2. GUERRIN, A in Tratado de Concreto Armado, V.1, Editora: Hemus, 2003. 5 Essa atividade profissional de orar e controlar empreendimentos, tem o cdigo n 2142-05, no CBO - Classificao Brasileira de Ocupaes, do Ministrio do Trabalho. 6 TCPO 12, edio de 2004 da Editora PINI Ltda.

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    10abr2000 a 04out2000, pelo engenheiro Edinaldo F. Gonzalez, sob orientao do Prof.

    Dr: Jos Aparecido Canova, do Departamento de Engenharia Civil, da Universidade

    Estadual de Maring UEM, concluiu: Das atividades analisadas se percebe uma

    desproporcionalidade em relao ao TCPO e o dia a dia da obra. Desde modo necessrio, ao

    invs de condenarmos a TCPO, fazer uma sugesto para que, quando for montar um

    oramento, conhecer bem sua mo-de-obra, s dessa maneira que o preo final do oramento

    ficar preciso e enxuto 7.

    REGIO VALOR

    R$ / m3

    So Paulo - SP 1185.18

    Rio de Janeiro - RJ 1173.44

    Belo Horizonte - MG 1012.81

    Braslia - DF 1144.30

    Porto Alegre - RS 1172.77

    Florianpolis - SC 1198.94

    Curitiba - PR 1129.24

    Recife - PE 1032.98

    Salvador - BA 1091.28

    Fortaleza - CE 1053.51

    Belm - PA 934.53

    Fonte: Editora PINI Tabelas, tabelas atualizadas em: Junho 2003 (data base)

    So Paulo - SP

    R$ 233.08 Concreto Fck 15 Mpa preparado com betoneira

    R$ 401.02 Armadura CA-50 - 100 Kg/m3 de concreto

    R$ 464.42 Frmas de chapa de madeira compensada - 12 m2/m3 de concreto

    R$ 6.82 Andaimes

    R$ 79.84 Lanamento e aplicao do concreto

    Fonte: Editora PINI Tabelas, tabelas atualizadas em: Junho 2003 (data base)

    7 Universidade Estadual de Maring: www.dec.uem.br/eventos/enteca2000/ artigo n E2000-1-20

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Entretanto, conforme pode ser verificado quando se adentra no conhecimento

    sobre os ofcios tradicionais da construo, e se sabe sobre o modus faciendi dos

    principais servios, fica evidente que no se podem estandardizar insumos e

    quantidades. Apenas para fixar idia sobre essa afirmao, citam-se alguns parmetros

    que so necessrios elaborao de uma planilha de preos de servios para

    restaurao de um telhado.

    RESTAURAO DA COBERTURA UNID QUAN T VL.UNIT TOTAL 4.1 ESCORAMENTOS CJ 1,00 6.500,00 6.500,00 4.2 COBERTURA PROVISRIA M2 420,00 180,00 75.600,00 4.3 REMOO DO TELHAMENTO M2 420,00 5,48 2.301,60 4.4 REMOO DO RIPAMENTO M2 168,00 6,25 1.050,00 4.5 REMOO DO CAIBRAMENTO M2 168,00 3,96 665,28 4.6 REMOO MAD. ESTRUTURAL M3 0,90 1.350,00 1.215,00 4.7 ENCACHORRAMENTOS UN 4,00 680,00 2.720,00 4.8 CONSOLIDAO DAS MADEIRAS M3 0,25 1.245,00 311,25 4.9 PROTEO CONTRA UMIDADE M2 4,00 180,00 720,00

    4.10 PROTEO CONTRA INSETOS M2 420,00 4,20 1.764,00 4.11 RECOMPOSIO MAD. ESTRUTURAL M3 0,90 4.220,00 3.798,00 4.12 RECOMPOSIO DO CAIBRAMENTO M2 168,00 24,36 4.092,48 4.13 RECOMPOSIO DO RIPAMENTO M2 168,00 18,60 3.124,80 4.14 LIMPEZA DE TELHAS UND 8.500,00 0,40 3.400,00 4.15 RETELHAMENTO M2 420,00 6,15 2.583,00 4.16 DESMONTE COBERTURA PROVISRIA M2 420,00 10,37 4.355,40 4.17 RECOMPOSIO DOS CAPOTES M 8,00 385,00 3.080,00 4.18 CONFECO DE ALGEROZ M 6,00 746,30 4.477,80 4.19 CONFECO DE CALHAS M 4,00 820,00 3.280,00

    TOTAL R$ 125.038,61

    Fonte: Obras, Servios & Restauro Ltda. OS&R. Valores em: agosto 2003

    Veja-se o item 4.7 Encachorramentos, p.e., para se saber sobre esse custo so

    necessrias as informaes dos seguintes parmetros na Composio de Preos:

    Tipo e espcie do madeiramento estrutural deteriorado;

    A exata dimenso da deteriorao (extenso de madeira sadia);

    Os esforos de trao, compresso e outros a que a pea est submetida;

    Acessibilidades vertical e horizontal rea do servio;

    Os nveis mdios de umidade tanto nas madeiras e como no intradorso da

    cobertura...

    Estes dados so muito importantes para o estabelecimento dos insumos,

    quantidades e, respectivamente, dos preos, haja vista que suas variaes acrescentaro

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    ou reduziro custos nos valores finais do servio. Em outro exemplo, item 4.10

    Proteo contra insetos (xilfagos) fundamental se saber qual o espcime de trmita

    que age sobre o madeiramento. Isto porque h classes de indivduos que so resistentes

    a este ou aquele produto de desinfestao (SERPA, 2003). E, tambm, h determinados

    produtos que exigem aplicaes diferenciadas de uma simples pulverizao ou

    pincelamento. Todas essas e outras possibilidades significam variaes na formao

    dos preos.

    Assim, verifica-se que o oramentista tem de fazer uma composio de preos

    para cada servio, sem que esta, certamente, no se aplique em outra edificao devido

    s variaes dos parmetros dos materiais, tcnicas e sistemas construtivos. Quando os

    dados so incompletos (e normalmente so) ele trabalha com estimativas, identificando

    e quantificando insumos. por est razo que a elaborao de uma Planilha de

    Oramento de servios para manuteno, conservao e restauro de edificaes de

    valor cultural um dos itens mais especializados e relativamente caros de um projeto

    executivo.

    2. Estimativa dos custos

    Oramentao o processo de estimativa de custos do preo de uma venda. o

    exerccio de estimativa dos custos; , basicamente, uma atividade de previso no

    sentido de anteviso. O oramento o resultado, o produto desse processo, espelhado

    numa planilha. (MATTOS, 2006).

    Por estimativa de custos de servios compreenda-se o processo de apurao de

    custos versus o tempo de execuo com base nos levantamentos de insumos a partir

    dos dados apresentados no projeto executivo.

    Os principais problemas enfrentados por um Gestor de Restauro esto

    relacionados aos processos de estimativa dos custos e prazos de entrega dos servios.

    Pressionando os custos e prazos tm-se a questo da composio da equipe de servios

    (tcnicos e operrios) e o desenvolvimento e acompanhamento das etapas efetuadas

    pela mesma. Acrescentem-se as provveis oscilaes no mercado (preos de insumos

    materiais e alteraes salariais da categoria, entre outros) e possveis novos

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    conhecimentos (histricos ou patolgicos) sobre a edificao a partir do aparecimento

    de documentos ou do acompanhamento arqueolgico 8.

    Eis a um cenrio dinmico, onde as empresas da construo civil que pretendem

    atuar no mercado da restaurao no conseguem se adaptar sem grandes esforos. O

    Gestor de Restauro torna-se, portanto, figura fundamental na insero, sobrevivncia e

    crescimento dessas empresas nessa rea. Entretanto, estimar os prazos, custos e o

    desenvolvimento de um servio de conservao e restauro um processo delicado e

    que envolve muito conhecimento e sensibilidade do profissional do Gestor e,

    principalmente, uma excelente capacidade de estimativa. Por maior que seja a

    experincia do profissional, atuando como Gestor de Restauro, ele fatalmente ir

    deparar-se com situaes as quais ainda no tenha trabalhado, nem mesmo com algo

    similar ou ainda, iniciar trabalhos com uma equipe da qual ele no conhece os seus

    membros e nem suas capacidades e habilidades.

    Neste contexto, o maior problema que se apresenta o fato de que as

    mensuraes e estimativas so realizadas seguindo um modelo emprico, baseado e

    embasado na percepo e experincia do(s) responsvel(is) pela fase de anlise

    (auditoria de projetos) e tambm pela experincia de quem realiza a atividade.

    Conforme seja, isso pode dificultar a obteno de informaes seguras (insumos e

    quantitativos, principalmente) sobre os projetos realizados. Neste sentido, muito til

    a manuteno do banco de dados de composio de servios, para efeitos de

    comparao do que ser estimado com o que j foi realizado, bem como para a

    realizao de estimativas para os novos projetos que sero realizados.

    A partir do banco de dados, para a execuo de novos servios, o oramentista

    deve fazer a estimativa por semelhana. De maneira emprica, o Gestor de Restauro,

    ao receber as especificaes, o caderno de encargos, os detalhamentos construtivos e

    todos demais projetos complementares 9, deve se reunir com os mestres artfices e

    profissionais de ofcios, arquitetos e engenheiros projetistas, e outros profissionais

    envolvidos, para avaliar e discutir a melhor maneira de execuo. Pode-se dizer que os

    8 Este assunto tratado no artigo Prospeces Arquitetnicas e Arqueolgicas - Orientaes ao Gestor de Restauro. Textos para Discusso, Vol. 19, CECI 2007. 9 Os projetos complementares so os documentos tcnicos especializados das instalaes prediais (gua, energia, telecomunicaes, conforto trmico, informaes, segurana etc.), bem como das estruturas, dos fluxos de circulao e de outros pressupostos edilcios. TINOCO, J. E. L., Glossrio de Documentos Tcnicos que Compem um Projeto de Conservao de Edificaes de Valor Cultural. Curso Gesto de Restauro, CECI 2005.

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    servios so imaginados e visualizados como se estivessem sendo executados. As

    definies das estimativas so realizadas neste momento.

    3. Formatao dos preos dos servios (oramento)

    comum ao profissional oramentista de servios de conservao e restauro

    deparar-se com dois problemas quando rene o material para elaborao de um

    oramento:

    O primeiro obstculo o entendimento sobre as propostas de

    intervenes do projeto executivo. Nem sempre se consegue obter clareza

    de informaes entre os diversos documentos que compem a proposta

    de interveno. sempre possvel a ocorrncia de conflitos entre as

    especificaes em plantas e os textos dos cadernos de encargos ou das

    especificaes. So necessrios varias confrontaes para verificao,

    inclusive, de compatibilidade de materiais, tcnicas e sistemas

    construtivos.

    O segundo obstculo a ser superado a obteno de uma equipe de

    mestres artfices, de obras e profissionais de ofcios, arquitetos e

    engenheiros, profissionais de qumica, biologia e outros para auxili-lo na

    identificao e quantificao dos insumos. Sendo que, na compilao e

    anlise dos dados, que no so poucos, devem ser consideradas as metas

    de produtividade e a qualidade!

    A produtividade depende de inmeros fatores, tais como as condies de

    trabalhos (organizao do canteiro dos servios), complexidade dos servios a executar,

    disponibilizao de ferramentas e equipamentos, acessibilidades e, principalmente,

    grau de experincia e motivao dos operrios e profissionais participantes... A

    qualidade dos servios, particularmente para as edificaes que possuem valores no

    binmio autenticidade /integridade, traduzida atravs da permanncia dessas

    caractersticas (ptinas), mensuradas em nveis dos materiais, tcnicas e sistemas

    construtivos.

    O processo de formatao dos preos resultado de um plano estratgico de ao

    para a realizao do empreendimento (ALMEIDA, 2003). Para o Gestor de Restauro as

    definies do Plano de Ataque e do Plano de Qualidade dos Servios, isto , para o

    9

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    planejamento da produo estes documentos so considerados como pontos de partida

    para as estimativas de custos. Os procedimentos previstos nesses planos fornecem as

    informaes necessrias (estratgias de ao) para a elaborao do Cronograma Fsico-

    Financeiro dos Servios.

    Este autor no abordar neste artigo a questo da modalidade de contratao

    para execuo dos servios, embora isto seja um fator importante na obteno das

    metas prioritrias de um empreendimento de conservao e restauro qualidade e

    produtividade, e na formao do custo final dos servios. Esse tema ainda no foi

    convenientemente tratado no mbito da proteo ao patrimnio construdo, tanto pela

    Academia como pelas entidades controle dos gastos pblicos 10, mas est sendo objeto

    de anlise pela comunidade tcnica do curso de Gesto de Restauro do CECI, e em

    outra oportunidade ser apresentado nos Textos para Discusso.

    3.1. Planos de Ataque, de Qualidade dos Servios e Cronogramas

    Os planos estratgicos de aes, aqui denominados de Plano de Ataque e

    Plano de Qualidade, so elaborados pari passu com a modelagem do Cronograma

    Fsico de Execuo.

    O Plano de Ataque dos Servios o estudo de alternativas de

    encaminhamentos das aes executivas, envolvendo a logstica dos insumos

    (materiais, equipamentos, equipes de trabalho...) que resulta, conforme escolhas,

    em custos e produtividade diversos para cada tipo de servio. Veja-se o exemplo

    da deciso de se iniciar os servios de restauro de uma edificao no perodo de

    inverno no Nordeste do Brasil (maio/agosto), meses chuvosos. Ou do mtodo de

    produo e aplicao da argamassa a base de cal (cal virgem extinta e hidratada

    no canteiro ou a cal adquirida no comrcio em sacos de 40 kilos j hidratada ).

    Seja como for, as anlises e decises devem considerar a tecnologia

    tradicional construtiva a ser utilizada, a capacidade de fornecimento dos

    materiais, a estrutura organizacional de gerenciamento do contrato (modalidade

    de contratao e execuo). Observe-se que esse tipo de planejamento necessita

    da definio das competncias e a qualificaes das equipes para a execuo dos

    servios.

    10 No caso, Controladorias e Tribunais de Contas estaduais e federais.

    10

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Paralela e conjuntamente elaborado o Plano de Qualidade dos Servios

    que identifica e descreve os padres de qualidade que sero aplicados nos

    servios, define os controles e suas extenses, enumera os procedimentos de

    como sero executados e conferidos os servios, para assegurar a conformidade

    com o especificado. Tambm, prev as intensidades das intervenes (mais ou

    menos invasivas); os pontos crticos de controle e formas de execuo dos

    servios (previso e equacionamento das interferncias entre as diferentes etapas

    dos servios); as estruturas organizacionais e operacionais necessrias para a

    gesto da obra e respectivas responsabilidades dos atores diretos e indiretos

    (mestres artfices, encarregados de ofcios, almoxarifes, compradores...),

    incluindo, conforme casos, os terceirizados (subempreiteiros, contadores...); os

    procedimentos e maneiras de monitorao e avaliao das execues (metas

    semanais, mensais ...); as definies dos meios de comunicao e socializao das

    informaes (reunies semanais, quinzenais...).

    Todo esse levantamento de questes e definies, somadas as estimativas

    de produtividade das equipes de mestres artfices, tcnicos e operrios, instrui a

    seqncia e a trajetria dos servios e suas respectivas duraes. Com o

    processamento dessas informaes possvel gerar o Cronograma Fsico. O

    Cronograma Financeiro s depois de elaboradas as composies dos preos dos

    servios. O Cronograma de Desembolso Financeiro elaborado para o

    fechamento do custo total. De certa maneira, a modalidade do desembolso

    financeiro ou de recebimento dos valores, no caso do executor, pode alterar o

    preo final do empreendimento, mas isto ser tratado em outra oportunidade

    quando o objetivo do tema for as modalidades de contratao.

    3.2. Fases da formatao

    Podem-se agrupar a formatao de uma Planilha de Oramento em trs

    fases ou momentos principais:

    a) Formatao da planilha

    c) Composies de preos; e

    d) Planilha de Oramento

    11

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Em princpio essas fases so bsicas, pois, na verdade, o encaminhamento

    do processo de elaborao da planilha funo direta da escolha da interface

    utilizada pelo profissional. Conforme j foi citado, podem ser empregados

    softwares como o Volare, OrcaPlus, RM-Orca, ORCE, outros e at mesmo a

    Planilha Excel.

    Seja qual for o programa que o oramentista utilize, a planilha deve ser

    formatada a partir das definies dos grupos e itens de servios Itenizao ou

    Listagem Geral de Servios (a). Para aqueles profissionais que usam o sistema

    PERT do programa MS-Project ou de outro similar essa tarefa facilitada devido

    complexidade das redes de atividades que podem atingir determinados

    servios. Aps, devem ser elaboradas as Composies de Preos a partir do

    profundo conhecimento do como fazer cada servio (b). As composies so quase

    sempre compostas de subcomposies ou laos de atividades com outras

    categorias de servios, formando um imbricado por vezes muito difcil de

    controlar fora de uma interface eletrnica apropriada. A Planilha de Oramento

    (c) o resultado do agrupamento das composies dentro dos itens classificados

    na formatao, ou seja, conforme a itenizao dos grupos de servios, por

    exemplo, restaurao da cobertura, conservao dos revestimentos...

    3.3. Oramentao

    No mbito da Gesto de Restauro, orar relacionar, descrever e

    quantificar todas as atividades necessrias para realizao de um servio, com

    base na seqncia lgica de execuo das suas etapas, apropriando os custos com

    todos os insumos 11 despendidos para tornar possvel a sua materializao. A

    formatao e estimativa desse valor, por unidade de servios denominado de

    preo unitrio do servio.

    Assim, o preo que se estabelece por estimativa para cada servio numa

    interveno de manuteno, conservao e restauro, identificado por uma

    quantidade mensurvel, , na verdade, o preo estimado para executar o servio,

    conforme sua unidade de medio, e nas condies pr-estabelecidas de trabalho,

    p.e.: metro quadrado (m2), hora/homem (hh), metro linear (m)... Entretanto, h

    11 Por insumos compreendam-se todas as despesas e investimentos diretos e indiretos que formam um preo unitrio de um servio.

    12

  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    algumas atividades ou servios que por sua complexidade ou abrangncia no se

    consegue express-los em quantidades mensurveis esses devem figurar na

    planilha por seu valor final, por exemplo: verba (vb), conjunto (cj)...

    O preo unitrio do servio constitudo, basicamente, pelos seguintes

    dados:

    i. Especificao ou descrio do servio;

    ii. Insumos diretos

    iii. Insumos indiretos

    iv. Preo do servio

    Planilha de Composio de Preo Telhados

    Servio: Encachorramento tipo mo-de-amigo Unidade: un A - Mo de Obra Und ndice Preo Unit. Total

    Carpinteiro h 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

    Auxiliar h 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

    SOMA R$ 0,00

    Encargos Sociais (0,00%) R$ 0,00

    Total da Mo de Obra R$ 0,00

    B - Materiais

    Madeira (espcie) com (seo da pea) m3 00 R$ 0,00 R$ 0,00

    Total dos Materiais R$ 0,00

    C - Equipamentos / Ferramentas

    Ferramentas pessoais do profissional h 0,00 0,00 0,00

    Total dos Equipamentos / Ferramental 0,00

    D - Total dos Custos Diretos (A + B + C) R$ 0,00

    E - Despesas Indiretas - DI (0,00% sobre D) R$ 0,0

    Soma D + E R$ 0,00

    F Bonificao (lucro, por exemplo 0,00% s/ D + E) R$ 0,00

    TOTAL GERAL D + E + F (Preo do Servio) R$ 0,00

    Observaes: As madeiras das peas que sero encachorradas so das seguintes espcies: CACH-01 (espcie); CACH-02 (espcie). A mo-de-amigo ser travada com chavetas.

    Fonte: Obras, Servios & Restauro Ltda. OS&R.

    O desenho da composio acima meramente um exemplo. So inmeras as

    possibilidades de formatao e desenho final da planilha, ficando a critrio do

    profissional oramentista e da interface que ele utiliza para gerar seu banco de dados.

    Especificao ou descrio do servio

    Insumos diretos

    Insumos indiretos

    Preo do servio

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  • TEXTOS PARA DISCUSSO V. 32 SRIE 2 GESTO DE RESTAURO

    Enquanto os profissionais no se adentram no conhecimento dos ofcios

    tradicionais da construo, para saber sobre o modus faciendi dos principais servios,

    as informaes aqui apresentadas so suficientes.

    Na continuao ao tema em outro volume dos Textos para Discusso sero

    abordadas as seguintes questes:

    a) Modalidade de contrataes

    b) Riscos

    c) Bonificao e Despesas indiretas B.D.I

    4. Bibliografia

    Este autor, at a publicao deste artigo, desconhece bibliografia especifica sobre Engenharias de Custos para servios de manuteno, conservao e restauro do patrimnio construdo, bem como de textos acadmicos sobre o assunto. Recomenda apenas de dois autores:

    DIAS, Paulo Roberto V, Engenharia de Custos uma metodologia de ornamentao para obras civis. Editora: PINI. 5 Edio 2005.

    MATTOS, Aldo Drea. Como Preparar Oramento de Obras: Dicas para Oramentistas, Estudo de Casos, Exemplos. Editora PINI, So Paulo - 2006.

    Sobre Plano de Ataque recomenda:

    ALMEIDA, Martinho Isnard Ribeiro de. Manual de Planejamento Estratgico, Editora: ATLAS - 2 Edio 2003.

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