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  • 7/26/2019 Texto Do Potica

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    PAIl I E 11. CAP. XVI. 1 197

    ~ n t r todas he a que

    relU

    o primeiro lug-ar.

    Qyeria eu que fosse elle a coroa dos seus

    parentes; pois vivemos

    n hum

    seculo ,

    em

    -que os nossos Reis premeia distinctamen

    te as virtuosas, e boas Letras, porque

    Le

    tras sem

    virtude,

    sa peroias em lugar im

    puro.

    Todo

    o dia passa m averiguar se

    Homero

    disse

    bem,

    ou mal

    neste,

    ou

    na

    quelle verso da Iliada: s\ Marcial foi des.

    honesto nos seus Epigrammas: se aC lSO se

    .devem entender d huma, ou d olltra ma

    neira estes, e a'luelles versos de Virglio.

    Em

    fim

    todas

    as

    suas conversaes sa

    com

    os Livros destes Poetas, e com os de

    Ho

    racio,

    Persio,

    Juvenal,

    e Tibulo ; pois

    .dos modernos em Romance Aa faz muito

    .conceito. Todavia, na obstante o des

    preso, em que mostra ter

    a

    Poesia

    vulgar,

    .:anda

    agora

    occupado em glozar quatro ver

    sos . que lhe mandra de Salamanca , e

    cuido que sa de contenda litteraria. Os

    filhos, Senhor, respondeo D. Qyixore, sao

    parte

    das entranhas de seus

    pais,

    e assim

    devem de ser

    amados, ou

    seja

    bons,

    ou

    mos. Aos pais toca encaminhallos desde

    pequenos

    virtude,

    e inspirar-lhes costu

    mes Christlos,

    para

    que,

    quando

    chega-

    rem

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    198 D. Qgrxo t R E MANJA.

    ;rem

    -ser

    maiones, sirva de arrimo a s.ens

    pais

    lla

    velhice, e de gloria .sua p o s t e t i ~

    ade.

    Quanto.al

    obrigaHos'a

    q u ~ e s t u d e r q

    .esta, ou ~ u e l l a Soiencia,

    .ia

    o tenho

    pOl'

    ~ c e r t a d o 1

    "ainda

    que

    nao

    ser;idamnoso

    per.;

    .suadillos a i.sso; e quando na se lta de es.s

    tudar para pn lllcr nd ; \Sendo o EstlF

    dante

    a

    venturoso ,- que n

    -Coo

    lhe

    de

    paIs, CJ

    ue

    lho deixem, seHa

    ~ l l

    de parecei

    qu.e

    o ~ i x a s s e r o segltir aquella: Soiencia,

    u ~ mais se inclinar_ E postO q.ae II da Poe

    ..

    .

    ia, n::J

    seja

    -taQ

    util, como, aprazivel?

    na

    ne

    do nrpero das que costuma des-

    1100rar os que. as tem. (A Poesia, Senhor

    Fidalgo ..

    ~ tnttll vr, he como huma don .

    zelIa terna, pe p04C3 idade,. A "por extre,\.

    mo forruosfl1 ~ qual tem eJJidildode n r i ~

    quecer 1 polir.. e adornar

    outras

    m u i t l I ~

    ..dooze.blas.,

    lqij.e

    sa0 todas as.outraa

    Scien .

    cias; de ~ ( ) d s se s ~ r v e 9 e tQdaa

    se ha;

    de

    embdlezar..coIP ~ l l l l .

    Esta dOj1zeUa

    porm

    na e v e d ~ a q d l l r p e l ~ s r U ~ , e esquInas das

    praas,.f nem Relas :cantos dos palados. Tal

    11C

    eUa,

    que

    -qljlem

    a

    $.Quber

    .tratar,

    c.on

    v e r t e l l ~ - h a ew FUssi Jlo ourQ de ioestima

    .

    vel valor.

    Empregalla

    em Satyras torpes,

    damnadps

    Sonetos,

    he

    [email protected] De

    ne-

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    PARTE n. C ~ P . XVI. '99

    lIf ohuma maneira se deve prem pra1 a

    quem quizer compralla, salvo se n::t for

    ( ln

    Poemas heroicos, lagrimosas

    Trage-

    .dias, ou Comedias alegres, e artificiosas.

    l J.l h de andar pelas maos de pessoas bai-

    ~ : l S e dO vulgo

    ignorante,

    incapaz de co

    .nhecer, e estimar s [hesouros, que nelll

    .se

    encerra. Nem vos parea, Senhor, que

    entendo

    aqui

    por vulgo s a gente plebea ,

    humilde;

    pois todo aquelle, que na sa-

    be

    ainda que seja Senhor, e Prinoipe,

    .pde, e deve de entrar no nmero do vul

    go. Assim aquelle, que com os predica .

    ..dOJl

    ~

    que acabo de

    dizer,

    tratar

    a

    Poesia,

    ~ e r famoso,. e es

    tinlA

    do o

    seu

    nome em to-

    ..das fls Naes ultas do mundo. (t1anto

    ao

    que

    dizeis, Senhor que vosso filho na

    ~ s t i m a

    a Poesia em vulgar, paJee-me que

    pa

    tendes

    r a . z ~

    ni$so; porque o grande

    H o t n ~ r o na escr< veo em

    Latim, pois era

    .GregQ; ncm Virgilio escreveo eru Grego,

    pois era Latino. Fil1almente todos os

    u ~

    ~ a s

    antigos cscrevra na

    ~ u a

    lingua mater-

    na,

    e

    na

    ~ e

    valra das estranhas.

    para

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    2.00

    D.

    QyIXOTE DE

    LA

    MANC lrA.

    desestimasse O Poeta Alema porque escre J

    veo na sua

    lingua,

    nem o Castelhano, 0 (1

    Biscainho, porque faz o mesmo. Todavia

    o

    que

    cu

    entendo, Senhor, he que o

    VOSSQ

    fi

    ..

    lho Ila

    deve de estar mal com a Poesia em

    Romance, mas

    s

    com

    os

    Poetas, que sa6

    mros Romancistas, sem saber outras

    ln

    guas,

    nem

    sciencias, que ornem, desper .

    rem,

    e ajudem o seu impulso natural: no

    que tambcm pde haver erro. Por quanto

    o Poeta nasce, como commummente, e

    com raza dizem todos; isto he,

    o Poe

    ta natural,

    quando sahe das entranbas de

    sua mai

    j

    sahe poeta, e com aquella

    i..ncli-

    naa, que o eeo lhe doo, sem mais estu

    do, nem artificio, compe cousas, que

    fazem verdadeiro o que disse: Ese eus

    in nois, c. Digo demais disso que 0

    Poeta

    natural,

    que

    se

    valer

    d arte,

    ser

    muito

    melhor,

    e avantajar-se-ha a

    outro,

    que

    s

    por saber a arte, quizer sllo. A ra-

    2al1e; porque a artena se avantaja na

    tun:za,

    e o que faz he s a perfeioalla, e

    sendo assim, huma vez que huma d a ma

    outra,constituir ambas hum perfeitssimo

    Poeta. De tudo isto concluamos, Senhor

    meu, que bem ser que deixeis o vosso fi-

    lho

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    PA1 .TE II.

    CAP. XVI.

    2 r

    lho seguir a sua inclinaao

    natural;

    poilJ

    sendo elle tao bom Estudante, como deve

    ele

    ser,

    e tendo

    j

    subido a primeira esca

    d:\ das Sciencias, que he a das linguas,

    For via dellas subir per si mesmo ao cu

    me das Letras Humanas,

    as

    quaes tao bem

    parecem n'hum Cavalleiro de

    capa,

    e es

    padl,

    e de tal maneira o adorna o , hon

    rao,

    e engrandecem, como as Mitras aos

    Bispos, e os Capellos aos ]urisconsultos.

    Peleije V. Merc com s u filho, se fizer Sa

    tyras, que prejudjquem as honras alheias,

    castigue-o, e rasgue-as; mas

    se

    elle escre

    ver, reprehendendo

    os

    vicios

    em geral,

    como elegantemente fez Horacio, louve-o,

    porque,.ao Poeta he dado escrever contra a

    inveja, e dizer mal em seus

    Versos contra

    )s invejosos, e assim dos demais vicios ;

    com tanto que nao nomeie pessoa alguma.

    Porem ha taes Poetas que a troco de dizer

    mal, aventurar-se-hao ao perigo de ser des

    terrados para as Ilhas do Pomo. Se o Poe

    ta

    for modesto

    em seus

    costumes, tambem

    )

    ser

    em

    seus Versos; que a penna he a

    lngua d alma;

    e quaes forem os concei

    tos, que neHa se formarem, taes scr seus

    ~ s c r i t o s

    Q Iando

    os

    Reis, e

    os

    Prncipes

    . vm

  • 7/26/2019 Texto Do Potica

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    '02. D. nY'ClOTE

    nE.tA.

    MAN< HA.

    :vm a milagrosa Sciencia

    da

    Poesia

    em

    S ~ r -

    jeitos p r l l d e n t c s ~ virtuosos, ~ grave.s, hort

    ra-os,

    csrima-os, enriquecetn

    os, at

    os coroa com as folhas daqucUa

    a r v o r . c ~

    a f}ue o raitl na offende, CQll\(i) para

    r4P

    1ll0SlraS de que ninguem

    ha

    de_ offender

    ~ q u e l k

    cujas frontes com taes

  • 7/26/2019 Texto Do Potica

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    PARTE

    II. CAP.

    XV1I 2 3

    chegou a toda a

    pressa

    onde seu

    Amo

    estava , o qual succedeo huma espantosa,

    tremenda

    aventura.

    . C A P I T U L O

    XVII

    . .

    1f.m

    qJle ri

    dulara

    J

    grJo, a quI '

    podiA

    ehl gar,

    t

    com

    eifeito

    (begou

    o

    gr'ande

    1Jttlorde J . Q u i ~ o t e tom o eliz sue

    < ~ u s o da

    aVentura

    dos lees.

    CONTA a Historia

    l

    que quand D. Q.li

    ~ o t e

    chamava em

    ~ h s

    fozes

    por

    Sancho,

    -par1 que i l l ~ troij'xesse o elmo, estava

    eS

    t"

    comprando huns

    ~ e q u e i j s

    que )S pas

    -tores

    lhe vendiaa:

    .e

    como

    visse que seR

    Amo

    o

    Chma\f1l

    'lQm muita ptssa, na

    'Sabia o que fizesse

    delles

    nem onde os

    lIvia de trazer, e por na perdellos pois

    -j ufl tinha pago, se lembrra de deitallos

    1l0

    ca

    pacete de

    seu

    Amo e desta maReira

    -voltra a vr o que elle queria. Chegado

    -que fosse:

    D-me

    desse

    capacete,

    disse-

    lhe D. Qyixore. que ou eu sei p0\ loo de

    .aV eJJturas, ou pclollJ.ue vejo alguma me vem

    ~ b r i g a r a tOmar armas. O Cavalleiro do

    Gaba lT

    erde

    que tal ouvio,

    e s t c n d ~ o

    Q

    VIS