Texto para apresentação seminário 19 de setembro

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S eminário – data: 19/09/2007 TEMA: SEXO E ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA Texto Capítulo IV As mulheres na história de Desterro/Florianópolis: sobrevivência, imagens e resitência. Florian ópolis é a capital do estado de Santa Catarina. Originalmente denominada Nossa Senhora do Desterro , em alusão à sua padroeira, ou simplesmente Desterro , seu nome foi alterado ao fim da Revolução Federalista , em 1894 , em homenagem ao então presidente da República Floriano Peixoto . VISTA DO DESTERRO, ATUAL FLORIANÓPOLIS, 1847, de Victor Meirelles Museu de arte de santa catarina http://www.masc.org.br/o-acervo.htm Livro: Mulheres honestas e mulheres faladas: uma questao de classe. Autora: Joana Maria Pedro Breve currículo: Joana Maria Pedro é historiadora, doutora em História pela USP/SP e Professora Titular na Universidade Federal de Santa Catarina, no Departamento de História. É autora de vários livros e marcou sua trajetória muitas pesquisas sobre gênero. Alguns livros: HISTÓRIA DAS MULHERES NO BRASIL, que conta a trajetória das mulheres desde o Brasil colonial, O BRASIL NO CONTEXTO, que traça um panorama do Brasil de 1987 até 2007 e HISTÓRIA DA CIDADANIA , que trata do processo histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar direitos civis, políticos e sociais, assim como dos passos que faltam para integrar os que ainda não são cidadãos plenos. PRÁTICAS PROIBIDAS . Período que está sendo estudado: final do século XIX e início do século XX. Sobrevivência: trabalho informal nas ruas do centro da cidade. Imagens: o ideal retratado nos papéis de mães, esposas e donas-de-casa Casa, espaço privilegiado da mulher. Coração materno, amor das mães, criminalização das desnaturadas, valorização da vida das crianças, virgindade feminina. Invisíveis nos documentos oficiais, quando apareciam na historiografia era de forma marginal, exercendo papéis normativos ou como desviadas da ordem. Resistência: Aproveitando-se da fragilidade de acumulação de capitais na cidade, elas conseguiram em geral impedir a divisão rígida de papéis com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Sofreram com as medidas de repressão por parte das autoridades. Delimitação de espaços, prisão delas e de seus filhos. Resumo:

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Seminário – data: 19/09/2007

TEMA: SEXO E ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA

Texto

Capítulo IV

As mulheres na história de Desterro/Florianópolis: sobrevivência, imagens e resitência.

Florianópolis é a capital do estado de Santa Catarina. Originalmente denominada Nossa Senhora do Desterro, em alusão à sua padroeira, ou simplesmente Desterro, seu nome foi

alterado ao fim da Revolução Federalista, em 1894, em homenagem ao então presidente da República Floriano Peixoto.

VISTA DO DESTERRO, ATUAL FLORIANÓPOLIS, 1847, de Victor Meirelles

Museu de arte de santa catarina

http://www.masc.org.br/o-acervo.htm

Livro: Mulheres honestas e mulheres faladas: uma questao de classe.

Autora: Joana Maria Pedro

Breve currículo: Joana Maria Pedro é historiadora, doutora em História pela USP/SP e Professora Titular na Universidade Federal de Santa Catarina, no Departamento de História. É autora de

vários livros e marcou sua trajetória muitas pesquisas sobre gênero.

Alguns livros: HISTÓRIA DAS MULHERES NO BRASIL, que conta a trajetória das mulheres desde o Brasil colonial, O BRASIL NO CONTEXTO, que traça um panorama do Brasil de 1987 até 2007 e HISTÓRIA DA CIDADANIA, que trata do processo histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar direitos civis, políticos e sociais, assim como dos passos que faltam para

integrar os que ainda não são cidadãos plenos. PRÁTICAS PROIBIDAS.

Período que está sendo estudado: final do século XIX e início do século XX.

Sobrevivência: trabalho informal nas ruas do centro da cidade. Imagens: o ideal retratado nos papéis de mães, esposas e donas-de-casa Casa, espaço privilegiado da mulher. Coração materno, amor das mães, criminalização das desnaturadas, valorização da vida das crianças, virgindade feminina. Invisíveis nos documentos oficiais, quando apareciam na historiografia era de forma marginal, exercendo papéis normativos ou como desviadas da ordem. Resistência: Aproveitando-se da fragilidade de acumulação de capitais na cidade, elas conseguiram em geral impedir a divisão rígida de papéis com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Sofreram com as medidas de repressão por parte das autoridades. Delimitação de espaços, prisão delas e de seus filhos.

Resumo:

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O texto foca as mulheres de Desterro, final do século 19 e início do século 20. Elas, para sobreviver, trabalhavam improvisando formas de sobrevivência, nas ruas da cidade. Mas isso não era bem aceito pelas elites da época. O ideal é que a mulher só assumisse papéis de mãe e esposa, mas elas desafiaram esse ideal e resistiram, o poder público tentou impedí-las. Resistiram a uma política pró trabalho assalariado tentando disciplinar as camadas populares.

A construção de uma história que inclua as mulheres exige do historiador que garimpe oficios, processos, notas, pois fontes escritas com referência às mulheres costumam ser escassas. Exemplo: Houve em 1866 a “Exposição Provincial de Santa Catarina” e houve um relatório. O mesmo esconde os nomes femininos. Haviam os expositores e os produtores. Eram 789 produtos expostos. Entre os nomes de produtores, 11 eram de mulheres, mas só 6 eram expostos por mulheres. Alguns destes, na identificação, não aparecia seu nome e sobrenome e sim o papel familiar da produtora.

Mas só o trabalho das mulheres é que ficou escondido? Não. Escravos, agregados, crianças.

Então quem eram os expositores: Proprietários, homens, brancos.

Nomes de homens estão nos documentos oficiais. E estão nas listas de cargos administrativos, razão social de empresas, listas de eleitores e de candidatos, nomeações e exonerações. Mas onde estavam os nomes das mulheres que estavam presentes em todas as atividades econômicas, políticas e sociais? Elas apareciam de forma marginal ou exercendo papéis normativos.

Quais eram os valores: masculinos, burgueses.

O que colaborou muito para essa marginalização: a imprensa local (com estes valores).

Mas foi com esta documentação – preponderância dos nomes masculinos – sem preocupação de encontrar os nomes femininos – que foi escrita a história de Desterro. Quem são as mulheres nesta documentação: mães, mulheres, filhas e até amantes.

A mais antiga referência de mulheres em Desterro é de Maria Pires Fernandes, que foi para Desterro com acompanhando seu marido(fundador do povoado), com seus filhos e filhas. Mas e seus trabalhos? E suas funções?

Historiografia sobre Desterro: Oswaldo Rodrigues Cabral

Mulheres em geral cumprindo papéis sociais normativos. ***

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Ex.: Dona Mariazinha “mulata do governador” passeava de carruagem, vestida de vermelho ... Dona Maria da Glória, filha do presidente da província, casou-se com o Dr fulano de tal, Dona Caetana que era amante da música e atraía cantadores e executantes à sua casa para ouvi-los, etc.

As vezes o autor nem consegue citar o nome das mulheres, talvez limitado pelas fontes: Ex.: No naufrágio da barca Garça “pereceram a esposa do Capitão Antônio Inácio de Oliveira e uma filha de 16 anos, a esposa de José Joaquim Brandão e uma filhinha de 6 anos”.

*** Mas as vezes aparecem distantes das normas, justamente quando o autor se propõe e escrever uma “história banal, corriqueira, sem importância, que nem deveria ser contada...”. Uma “história corriqueira” que contrasta com a história “séria e cheia de importância” que não incluía as mulheres.

Falando sobre naufrágios uma mulher se destaca, era “filha” do capitão do navio PROTEÇÃO mas não teve um comportamente usualmente esperado: AMÁLIA BAINHA. Ela e o pai socorreram todos os tripulantes e passageiros abandonando o navio no último bote.

Também havia as célebres bêbadas da cidade, com registros na polícia (épocas diferentes): MICAELA e CARLOTA.

“A Micaela era amiga da branquinha e, quando se excedia, entrava na fase do leão, ficava braba e proferia cada nome cabeludo que daria para assustar o sindicado dos barbeiros”.

Carlota “tomava cada porre de arromba e desovava um palavreado capaz de fechar de vergonha o Sindicado dos Estivadores e as confrarias do Cais do Porto”.

As mandadas para a ilha de Santa Catarina como desterradas em 1782:

Mas quais as razões de serem desterradas?

Maria Bernarda “porque ainda que casada não faz vida com seu marido”.

Maria Candelária porque por furto (era amante de um soldado que foi enviado para Angola)

Francisca Xavier por ser amiga de Maria Candelária.

Francisca, preta forra, porque provocou “desordens e se conduzir em uma vida irregular”.

Maria Ribeiro “por justos motivos”.

Uma que alugou uma casa, outra que vendeu uma casa... citadas assim.

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Quando cita as sociedades dramáticas particulares que se estabeleceram em desterro na segunda metade do século 19 diz que muitas delas não contavam com mulheres, pois os papéis femininos mas peças eram impróprios para moças e senhoras de família. Os maridos não consentiam que as filhas e esposas se fizessem de “CÔMICAS”.

Mas havia mulheres sim. Citadas como participantes dos grupos amadores. Algumas citadas com seus maridos. EX: Dona Virgínia Cândida Coutinho, esposa de José de Araújo Coutinho. Será que havia ou não havia mulheres nestes grupos? Mas onde estão esses nomes nos grupos profissionais?

Seus textos não fogem do sexismo:

“Eram todos eles amarrados pelas rédeas a essas argolas e, enquanto os donos do animal conversavam, barganhavam ou examinavam, atendendo à conversa do dono da casa, muito natural e displicentemente iam os animais bosteando, o melhor que podiam, no meio da rua, enchendo-a de cheiro quente e característico que atraía as galinhas de todo o quarteirão.”

“Nada de ruim ... Afinal, a mais importante conquista do homem [os animais], depois da mulher, nunca foi capaz de exercer a contento certos controles...”

“As mulheres, por incrível que possa parecer, eram as mais duras de coração, as patroas mais impiedosas no trato dos escravos, principalmente quando cuidavam de punir as cativas, as servidoras de seu próprio sexo. Foi aqui regra geral. Os homens eram mais brandos, sempre tinham mais pena do que as mulheres”.

(Por que será que elas eram assim? Não é a pergunta!!)

Elas eram assim? Pois ele dá no texto que escreve, logo após esta descrição, 3 exemplos de crueldade feminina(em que exagerava, generalizando, esteriotipando) e vários de atitudes cruéis de homens para com seus escravos. Mas era essa a história que mais citava as mulheres.

As mulheres de Desterro eram maioria em 1900 e estiveram, mesmo que invisíveis, presentes na urbanização: contribuíram para o enriquecimento da elite, desempenharam várias funções necessárias á urbanização, improvisaram formas de sobreviver e manter a família, enfrentaram preconceitos e inúmeras medidas de repressão por parte das autoridades.

Mas havia visões de mundo diferentes: a elite enxergava de uma forma e a cultura das camadas populares algumas vezes era diferente. O que causava mais repressão para as mulheres, pois deveriam ser disciplinadas.

Enquanto havia a manutenção de estruturas de produção familiar a mulher, isso impedia uma rígida divisão dos papéis e esferas entre homens e mulheres. Mas

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com o capitalismo se desenvolvendo, ao se romper os limites da economia doméstica ... o ocidente capitalista sofreu uma divisão dos papéis sexuais e a redução das mulheres aos papéis familiares.

Essas mudanças criaram cargos e funções esclusivamente para homens. A COMPLEXIDADE ADQUIRIDA PELAS TRANSAÇÕES CAPITALISTAS CRIOU ESPECIALIDADES, DAS QUAIS AS MULHERES FORAM EXCLUÍDAS.

Em Desterro isso atingiu apenas uma pequena elite que se distinguia das demais por este comportamento. E a maioria das mulheres continuava a desempenhar diversas funções inclusive como mantenedoras da sobrevivência do lar. Por que? Havia fragilidade da acumulação de capitais. (FATOR ECONÔMICO)

O que os jornais propagandeavam como modelo ideal não era bem o que se vivia na prática na cidade. Nem na elite muitas vezes, muito menos pelas camadas populares.

MICHELLE ZIMBALIST ROSALDO revisando trabalhos diz que nas várias sociedades analisadas a mulher carece de “poder reconhecido e valorizado culturalmente”. Ela reconhece que na relação entre os sexos, a distinção “entre poder e autoridade legitimada culturalmente”, tem que ser levada em conta. Muitas vezes a mulher tem poder mas não legitimado.

Em Desterro, apesar das prescrições, eram tradicionalemente as produtoras de tecidos. Elas dominavam os teares. As mulheres da casa plantavam o algodão, preparavam, fiavam e teciam. Também faziam renda-de-bilro e crivo. Também produziam farinha de mandioca, beiju, rosca de polvilho.

Como exemplo – entrevista recente: DONA INÁCIA, NILZA E MARIA: teciam muito à noite depois dos afaseres do dia, íam à cidade vender as rendas e com o dinheiro traziam o que faltava na roça.

VIRGÍLIO VARZEA (memorialista da ilha, romântico) conta: “A mãe e as filhas, com as moças da vizinhanças (...) imediatamente tomam lugar em volta do monte de mandioca (...) assim postadas cada uma com sua faca começa a raspadura (...)”

“Todo trabalho da raspadura é feito alegremente, e sob a maior expansão, numa parolagem contínua, entre ditos graciosos e frescas, sonoras risadas.”

Será que era isso mesmo?

Mas o autor fala como se fosse uma brincadeira/lazer e não um trabalho cansativo.

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MAS QUAIS ERAM AS DUAS ATIVIDADES DAS CAMADAS QUE HABITAVAM O INTERIOR DA ILHA? Produção de farinha e pesca.

Os homens eram convocados o serviço militar, isso tirava de 5 a 10% dos homens da agricultura. A atividade pesqueira mantinha, também, os homens distantes das famílias, por longos períodos. E elas trabalhavam para manter a família.

Dona Inácia (entrevista recente) conta que: trabalhava na raspagem da mandioca, tirava lenha para vender, arranjava peixes que sobravam dos barcos, na praiam fazia renda e “lavava roupa pra fora”.

Quando os populares íam tendo filhos e tinham que dividir os lotes ... isso provocou êxodo para a área urbana. Os homens foram trabalhar em serviços como no porto: marinheiros, consertando embarcações, transporte de mercadorias ... mas haviam também as não escritas em registros da Capitania dos Portos: lavadeiras, prostitutas, cozinheiras, pessoal envolvido em contrabando, amas de crianças expostas.

Fontes de pesquisa da autora: Ofícios da Câmara Municipal, entrevistas recentes, jornais da época, documentos de aluguel, relatórios de salubridade, escrituras de terrenos, ofícios da polícia, Ofícios do presidente da província, ofícios do delegado, processos judiciais, etc...

Década de 50 do século 19, marco na formação de riqueza de Desterro. A economia passou, de forma subsidiária, a fazer parte do mercado agroexportador: fornecimento de produtos alimentícios às áreas do país voltadas para a exportação. A riqueza acumulada com esta atividade criou, na área urbana, oportunidade para o desempenho de inúmeras atividades, muitas das quais exercidas por mulheres.

Como não havia um parque industrial capaz de absorver os contingentes populacionais ... as atividades artesanais tornaram-se pequenas indústrias contando com mão-de-obra feminina. Mas a historiografia não cita nem dá nome aos trabalhadores. As vezes nem cita os trabalhadores só a propriedade e o proprietário.

Vendiam doce, gêneros comestíveis e alimentares pré-preparados, não comestíveis como fazendas e objetos de moda, alimentos preparados na hora como peixe, mocotó... preparo de óleo de baleia, fogos de artifício, refrigerante, curtume (acabou no decorrer do século XIX), olarias, moínho de vento (depois à vapor), cigarro, charuto, fábrica de sabão e vela ... algumas dessas atividades desapareceram.

Outras atividades: Descoberta através de Relatório de Salubridade – elas eram parteiras. Descoberto através de anúncios de jornal – procuravam emprego como

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criadas. Descoberto através do recenseamento de 1872– havia floristas... artistas de flores artificiais, também descobriram que havia as capitalistas (autônomas?), comércio, manufatura, costura, tinturaria, lavradoras, jornaleiras. E havia também as sem profissão.

Havia vários casos de viúvas, mães solteiras, esposas de maridos ausentes que se viravam sozinhas.

Há registros de contratos que 11 mulheres se apossaram de terras ao norte de SC e eram mais pobres que os homens apossadores.

VIRGÍNIA WOOLF, em seu livro, UM TETO TODO SEU, afirma que as mulheres foram pobres desde o começo dos tempos. Os homens, em desterro, tinham mais propriedades que as mulheres e estas ganhavam menos em seus empregos.

Obs: No final do século 20 um relatório da ONU constatou que as mulheres detinham 10% da renda mundial e 1% das propriedades registradas.

A diferença sexual na acumulação de riquezas serve para reforçar a hierarquia dos sexos, e sancionar remunerações diferenciadas que reproduziam tal hierarquia.

No final do século 19 a riqueza que havia sido acumulada, vinda do comércio e do transporte de mercadorias, passou a ser ostentada. Para a elite que se aburguesava, a frequência, nas ruas, de trabalhadores avulsos – homens e mulheres pobres que circulavam no espaço urbano – passou a tornar-se cada vez mais indesejável.

A partir de 1870 há uma preocupação maior com a limpeza das ruas de mendigos, prostitutas e desocupados. Querem expulsa-los das ruas e delimitam espaços separados daqueles para as famílias distintas. DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS SOCIAIS

Ex.: as lavadeiras foram proibidas de trabalhar em algumas fontes e córregos da cidade ... regulamentações ...

Para sobreviver, as mulheres passaram a comercializar com os presos da cadeia. Com o dinheiro que recebiam para lavar suas roupas elas vendiam roupas para estes – isso foi proibido, um comerciante passou a fazer o serviço de lavagem das roupas dos presos.

Os prostíbulos foram estimulados pela proximidade do porto. Eles foram alvo várias tentativas de disciplinação e violência.

Havia prostitutas paraguaias de soldados brasileiros cafetões. Elas diversas vezes reclamaram à polícia de violência. Mas os que praticavam a violência não eram

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punidos, muitas vezes, com a desculpa de que eram ferimentos leves. Chicoteamente, espancamento ... ferimentos leves. DETERMINADAS AGRESSÕES ÀS MULHERES ERAM TRATADAS COM DESCASO PELA POLÍCIA.

ATUAL: Depois de muita discussão e pressão do movimento de mulheres, entrou em vigor a Lei Maria da Penha, uma tentativa de aprimorar os mecanismos de punição contra homens agressores, partindo da premissa clássica de que menos impunidade tem como conseqüência menos violência. Se hoje estivesse tudo bem, precisaria desse tipo de lei especial para a mulher?

Mas quais eram os valores que norteavam esse julgamente e atitudes? Os da elite, os dos jornais e revistas e isso muitas vezes contrastava com a visão de mundo e pensamento da classe popular.

Quem escrevia esses jornais e revistas? Eram membros da elite e da classe média. Quem lia esses jornais? Membros da elite e da classe média.

Havia também pressões por parte da imprensa em cima da polícial.

Caso da Felisbina. Depoimento da política e pronto. Nem de fábula podemos chamar. Condenada. Versão da polícia.

MARISA CORREA em seu livro MORTE EM FAMÍLIA chama de fábula daquela verdade final que se produz num processo, sendo o resultado de múltiplas versões do mesmo fato.

Dá pra fazer um ótimo acompanhamento do que aconteceu na cadeia com a análise dos ofícios do delegado... as razões das prisões de mulheres...

Nos relatos da política, nota-se, além do descaso com a violência contra as mulheres das camadas populares e do silenciamento de suas vozes, o julgamento dos atos dessas camadas com base em valores que não fazem parte de suas visões de mundo.

As vezes as mulheres eram julgadas duplamente: por serem pobres e por não seguirem os padrões das classes mais abastadas.

Caso do alistamento compulsório para preencher vagas da escola de aprendizes-marinheiros de santa catarina. Quais meninos eram pegos? Aqueles que eram encontrados fora de seus lares, oriundos de famílias que poderiam mante-los no vício. Essas prisões atingiam mais as mães pobres que não tinham certidão de casamento.

ÓTIMO EXEMPLO

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Um caso: Rufina teve seu filho preso. Escreveu vários ofícios ao presidente da província para reaver o filho. Mandou uma certidão de nascimento em que o menino constava ter menos de 10 anos, idade mínima para a entrada na escola, mas o delegado não se comovou, alegando que havia adulterado o documento. O tão falado amor materno não servia para as mulheres pobres. Seu crime: não atender às expectativas de uma imagem idealizada de mulher que permeava esta sociedade: NÃO ERA CASADA, NÃO MANTINHA SEU FILHO NA ESCOLA E NEM EM CASA.

Talvez na visão de mundo dela não figurasse a escola como necessária ao aprendizado da vida para seu filho. Talvez sua casa fosse pequena e não havia espaço suficiente para o menino brincar, é possível que trabalhasse em vários lugares para sobreviver, como tantas outras mulheres da época.

“ Pelos ofícios da secretaria da polícia podemos, então, deduzir que às mães pobres, que viviam amancebadas ou que tinham sido abandonadas pelo companheiro, e/ou sem recursos próprios – as tais que possuíam famílias “moralmente insuficientes” _, não adiantava “desdobrar fibra por fibra de coração”. Não lhes era concedido o “amor materno”. Este sentimento fora criado, ao que parece, para outras mulheres.”

Havia as mulheres que entregavam seus filhos e ganhavam 100 mil réis da esocla de aprendizes-marinheiros. Havia pais também, mas eram raros.

Lá eram sub-alimentados e tratados com muito rigor.

DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS SOCIAIS

Havia um problema a ser solucionado em Desterro para efetivar a urbanização. Livrar-se das alienadas. Criam-se hospícios. E o que fazer com os órfãos, indigentes, peregrinos, doentes, prostitutas e demais figuras que sujaram a cidade e atrapalhavam sua configuração ordeira? Coloca-se em hospitais e cadeias.

PROCESSOS JUDICIAIS: ÓTIMAS FONTES.

Defloramento – valorização da virgindade.

Princípios que norteavam os julgamentos: princípios naturais do amor paterno, moral pública, princípios da civilização...

Mas as mulheres da classe média também executavam funções financeiras de importância para a manutenção da família, em suas próprias casas, através de anúncios em jornal: modistas, professoras de culinária...

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