Texto Sobre Atos de Fingir

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Iser os ATOS DE FINGIR

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    p. 107-115p. 107-115p. 107-115p. 107-115p. 107-115

    1 Mestrado em Estudos Literrios (UFMG), Docente do SENAC Minas, E-mail:

    [email protected]

    O IMAGINRIO NACONSTRUO DA

    REALIDADE E DO TEXTOFICCIONAL

    CASTRO, Sandra de Pdua1

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    RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO: Este artigo representa uma tentativa de legitimar os estudos deliteratura, tendo como base os estudos de Wolfgang Iser, sobre o fictcio eo imaginrio. Partindo de conceitos sobre realidade e fico, almejou-seidentificar a funo do imaginrio e dos textos ficcionais na constituiodas sociedades e da vida humanas. Por uma viso da literatura alm dedeterminaes culturais, histricas ou psicolgicas, que poderiam reduzi-la a mera cpia, este texto buscou romper a dicotomia fico / realidade,realando a interdependncia desses conceitos. Para isso foi efetuada umaanalogia entre o processo de criao textual e de leitura e o de realizaodo imaginrio como fundamento da realidade.PPPPPALAALAALAALAALAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVEVEVEVEVE: imaginrio, realidade, fico.

    ABSTRAABSTRAABSTRAABSTRAABSTRACTCTCTCTCT::::: This article represents an attempt to legitimize the literaturestudies, having as base the studies of Wolfgang Iser, on fictitious and theimaginary. To leave of concepts on reality and fiction, it was longed for toidentify the function of imaginary and the fictitious texts in the constitutionof the societies and the life the human beings. For a vision of literaturebeyond cultural, historical or psychological determination, that could reduceit mere copy, this text it searched to breach the dichotomy fiction/reality,enhancing the interdependence of these concepts. For this an analogy waseffected enters the process of literary creation and reading and ofaccomplishment of the imaginary one as basis of the reality.KEYWORDSKEYWORDSKEYWORDSKEYWORDSKEYWORDS: the imaginary, reality, fiction.

    Cumpre esclarecer que, para que ocorra a aceitao,precursora da compreenso, da existncia de um imaginriocomo fonte ou energia deflagradora de materializaes, deconcretizaes, tanto na fico quanto na realidade, h quese romper, como afirma Wolfgang Iser (1996. p. 13) com o osaber tcito (...) que ope realidade e fico. Esta certeza daoposio, originada do que se v como bvio, tem razes pro-fundas na herana platnica e numa modernidade que divisa-va luzes unicamente na razo e declarava o imaginrio comouma instncia constitutiva de irrealidades, fico e sonho.

    Trs vezes afastadas do ser, aparncias e nunca reali-dades, a fico ainda considerada, por Plato, nociva aohomem e repblica ideal. Segundo este filsofo, toda arteimitativa realiza o trabalho que lhe prprio a grande distn-cia da verdade e companheira e amiga daquela parte de nsmesmos que se aparta da razo, e isso sem nenhuma finalida-de s ou verdadeira (s/d, p.223). No entanto, Plato mes-

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    mo, abre espao, aps expulsar os poetas de sua cidade ima-ginria, queles de seus defensores que so amigos da Poe-sia, porm no so poetas para que pleiteiem a sua causaem prosa e sustentem que ela no s agradvel, mas tilpara os regimes polticos e vida humana (p. 227).

    Para responder a Plato ou expor meios e fins da fico vida humana, no h como prescindir de uma redefinio dos efei-tos do imaginrio sobre o real, e da fico como realizao e trn-sito do imaginrio. E isso o que se pretende com este trabalho.

    Ao retirar os atributos que definem a realidade contrapon-do-a a fico, retira-se justamente o que uma significa para a outrareciprocamente. No se pretende, ao retirar a oposio, igualarquixotescamente as duas instncias. Realidade e fico no soopostos, mas so diferentes, interdependentes, complementares eprincipalmente intercambiveis. Segundo Iser (1996), o que reali-za a relao entre fico e realidade o imaginrio atravs de atosde fingir que transgridem os limites de uma e outra e do prprioimaginrio. pertinente uma breve anlise do conceito dessas ins-tncias, para que possamos entender como se relacionam e a im-portncia disso para os regimes polticos e para a vida humana.

    O imaginrio, at ento concebido como aquilo que existeapenas como produto da imaginao, e esta considerada umafaculdade criativa do pensamento pela qual este produz repre-sentaes de objetos inexistentes, no tendo, portanto, funocognitiva (JAPIASSU, 1991, p. 129), no poderia despertar inte-resse para estudo, em uma poca que se fecha em comprovaescientficas para determinao de verdades. Castoriadis consideraespantoso que a imaginao (...) descoberta e discutida pelaprimeira vez h vinte sculos por Aristteles no ter adquiridoseu lugar central na filosofia da subjetividade e afirma que oimaginrio social, imaginrio radical instituinte, foi totalmenteignorado ao longo da histria do pensamento filosfico, sociol-gico e poltico (1999, p. 241). E isso aconteceu tambm ao longodos estudos sobre a literatura, fato ainda mais surpreendente,uma vez que esta uma instncia privilegiada de recortes,condensaes e verbalizaes do imaginrio.

    Para Iser (1996), experimentamos o imaginrio de mododifuso, informe, fluido e sem um referencial especfico que o

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    objetifique. Mas, apesar de sua existncia no estado difuso,ele a condio para superar o existente e projetar o aindainexistente. O Imaginrio similar a um espao aberto que,sem indicar limites, permite a inveno do possvel como pre-nncio de uma outra realidade. Castoriadis afirma que so-mente porque h imaginao radical e imaginrio instituinte,que h para ns realidade, e esta realidade 1 (p 242, 1999).

    Mas o que a realidade? Aquilo que existe efetivamente -responde-nos o Aurlio; e efetivamente quer dizer realmente. Fs-semos nos limitar a um pensamento dicionarizado seguiramosperguntando at o fechamento do crculo tautolgico. Mas, o real visto como tudo que pode ser apreendido na sua concretude ouat mesmo como aquilo que se nos apresenta com as feies doverdadeiro, provvel, plausvel e acreditvel (ROMERO, p 44,1997). Camos assim em questes subjetivas, dependentes da ca-pacidade de apreenso de algo como concreto e acreditvel, porum ou mais indivduos, para que este algo se torne real ou irreal.No entanto, conforme afirma Schtz, somos propcios a pensarde modo diferente sobre o mesmo objeto e podemos escolher qualo modo de pensar a que queremos aderir e qual ignorar. A origeme fonte de toda realidade, (...) sempre est, portanto, em ns mes-mos (in LIMA, p. 191, 1983). Dessa forma, tambm se presume aexistncia de vrias realidades na formao de uma realidadesocial, cultural, nacional, planetria...

    Mas somos racionalistas o suficiente para exigir provasque ratifiquem ou no a existncia de algo como real, paraadmitirmos este algo como nossa realidade ou habitante dela.H, ainda, para corroborar com a afirmao do que seja reali-dade, a questo do poder; a questo da sobreposio de reali-dades conforme interesses dos dominantes 2 : as realidadesinstitudas. Se o que denominamos realidade , como disseCastoriadis, produto do imaginrio, sobre este que o poder1 A imaginao radical a dimenso determinante da alma huma-

    na, e o imaginrio social instituinte o coletivo annimo e, mais

    geralmente, o campo social histrico (CASTORIADIS, 1999)2 Dominantes que tambm so dominados, tanto ao institurem

    o imaginrio quanto pelo imaginrio j institudo

    (CASTORIADIS, p 189, 1982).

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    atua. O imaginrio a instncia onde se projetam, criam e tam-bm se forjam realidades. Neste sentido, podemos abstrair adefinio de realidade como algo construdo de acordo comuma intencionalidade (de um indivduo ou de uma coletividadeque detenha um poder para tal), a partir de uma seleo nodifuso do imaginrio. E que definio essa, seno antepostapor Iser para a fico? A fico a configurao do imagin-rio (1983, p. 379). isso: fico e realidade so formadas domesmo material do imaginrio e a realidade no apreendida, esim construda numa dinmica incansvel com o imaginrio.

    Diante de tal constatao, para no nos assemelhar-mos a Dom Quixote e tomarmos qualquer bacia como sendo oelmo de Mambrino, faz-se necessria uma definio mais por-menorizada da fico e da relao desta com a realidade, poisexiste uma fronteira entre elas que uma questo heursticae dependente da relao entre os membros de um grupo soci-al (PINTO, in http). Convencionaremos doravante, juntamentecom Iser (1996, p. 34), a tratar o ficcional como o mundo dotexto e a realidade como o mundo extratextual.

    A fico provm do ato de ultrapasse das fronteirasexistentes entre o imaginrio e o real, mas mantm uma dife-rena constante quanto a eles (...) adquire predicados da rea-lidade e guarda os predicados do imaginrio (ISER, p 379,1983). Ela transgride os limites entre uma e outra atravs deatos de fingir. O autor escolhe, sem prvias regras, elementosdo real de natureza scio-cultural ou mesmo literria e nes-tes seleciona os que sero transladados ou utilizados na fic-o. O mtodo, aparentemente simplista, pode nos conduzirao equvoco da existncia de uma mera cpia. No entanto,esta cpia dobra-se, curva-se fora do imaginrio, e a sele-o operada no se repete nica nem passivamente no texto.Ao selecionar, campos so demarcados e trazidos percep-o. O que antes residia inerte, tomado como a prpria reali-dade, perspectivado atravs da diviso destes campos dereferncia em alguns elementos que so atualizados pelo tex-to, enquanto outros permanecem inativos (ISER, 1996, p. 17).A seleo opera, portanto, a percepo de partes alterando aviso do todo; o todo do texto e o todo da realidade.

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    Pelo ato de fingir, a realidade repetida no texto etransformada em signo de uma outra coisa e esta repetiotransformada a prpria configurao do imaginrio. No textoficcional irrealizada a realidade e realizado o imaginrio. E o imaginrio que deflagra a diferena que corrobora para adinmica de transgresses de limites e recriaes, intra eextratextual. Segundo ISER (1996, p.16) as transgresses delimites provocadas pelo ato de fingir representam a condi-o para a reformulao do mundo formulado, possibilitam acompreenso de um mundo reformulado e permitem que talacontecimento seja experimentado.

    Antes de adentrarmos no terreno da experincia da re-cepo proporcionada pelo texto ficcional, o como se, 3 veja-mos como aqueles elementos selecionados, agora transgre-didos, agem no mundo do texto, para que assim possamosvisualizar, por analogia, a ocorrncia no mundo extratextual.

    Assim como, por atos de fingir, ocorre seleo e trans-gresso, tambm os elementos transgredidos continuaro a se-lecionar e transgredir na medida em que se associam com ou-tros elementos. Esta etapa de atuao mais visvel do imagin-rio, agora configurado e re-configurando-se, chamada porIser de combinao. O texto passa a ser o crisol que, pelaqumica do imaginrio, reposiciona e ressemantiza os elemen-tos. Ao se combinarem criam relacionamentos intratextuaisabrindo novas perspectivas com os elementos no escolhidospara a associao. De acordo com a intencionalidade do texto,cada relao estabelecida altera a faticidade dos elementos eos converte em posies que obtm sua estabilidade atravs doque excluem (ISER, 1996, p. 20).

    O que podemos observar, de acordo com a descrio deIser da construo do texto, uma repetio, em graus maiores

    3 O mundo emergente no texto ficcional no se confunde com o

    mundo real. O como se serve para estabelecer equivalncia entre

    algo existente e as conseqncias de um caso irreal ou imposs-

    vel. O como se significa que o mundo representado no propri-

    amente mundo, mas que, por efeito de um determinado fim, deve

    ser representado como se o fosse. (ISER, 1996, p. 25).

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    de complexidade, da forma inicial utilizada pelo autor da fic-o. Na primeira seleo, elementos escolhidos e no escolhi-dos esto no espao da escrita e do real. A partir da segundaseleo, que a combinao, esto, devido aos relacionamen-tos avocados, no espao da escrita e da no-escrita ou do ditoe do no-dito. O relacionamento, como produto de um ato defingir, captvel a partir de seus efeitos mostrados na lngua,sem que a ela pertenam (ISER, 1996, p. 22). A complexidadeaumenta at que o texto se denuncia, se desnuda, se d a co-nhecer como ficcional (ISER, 1996, p. 23).

    Iser v este desnudamento da ficcionalidade, oriundode convenes determinadas, historicamente variadas, de queo autor e o pblico compartilham (1996, p. 23), como pecu-liaridade da fico literria. O desnudamento , portanto, otrao distintivo entre a fico textual e as outras fices extratextuais. Estas tambm desempenham um papel impor-tante tanto nas atividades do conhecimento, da ao e do com-portamento, quanto no estabelecimento de instituies, desociedades e de vises de mundo (1996, p. 25). Mas, devi-do a sua peculiaridade, que o texto ficcional posiciona o lei-tor entre o mundo que foi referncia para a fico, o mundoreal e o mundo representado, que no e nem representa omundo, mas o perspectiviza, cria contrastes, descortina apercepo e induz comparao, ao como se.

    A posio do entre, suspenso entre seu prprio mundo eum outro que como se fosse, ou poderia ou deveria ser, possi-bilita ao leitor a experincia do no-ser, a experincia de irrealizar-se e, provisoriamente, realizar-se num outro. O mundo do textopossibilita que por ele sejam vistos os dados do mundo empricopor uma tica que no lhe pertence (ISER, 1996, p. 28), mas quepoder pertencer ao leitor aps a experincia.

    O texto que se configurou pela realizao do imaginriopassa a requerer do seu leitor a capacidade de produzir o objetoimaginrio por ele realizado, e o leitor o faz, da mesma formaque o autor na produo, atravs de atos de fingir. S consegui-mos entrar em comunicao com o ficcional quando aprendemosa v-lo como um todo que reclama o nosso imaginrio (LIMA,1984, p. 61). O leitor penetra, pelo imaginrio, tambm no que

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    no foi dito. Assim, conforme Ricouer, citado por Iser (1996, p.81), do texto captado o sentido e absorvido o significado, que o momento em que o leitor adota o sentido, isto , quando osentido age sobre a existncia, produzindo efeitos.

    Agindo sobre o leitor, o ficcional, como trnsito doimaginrio, atua tambm na realidade circundante do prprioleitor. O fragmento selecionado da realidade, at ento estra-nho ou fora da percepo do leitor, uma vez que se encontra-va imerso na suposta realidade, ganha agora, pelo imagin-rio, um novo enfoque, que tambm e, sobretudo, coloca emfoco o no selecionado e o no dito. a experincia do no-dito que configura, no ser e na realidade, o imaginrio.

    A formulao do no-formulado abarca a possibilidade de nosformularmos e de descobrir o que at esse momento parecia sub-trair-se nossa conscincia. Neste sentido, a literatura oferece aoportunidade de formularmo-nos a ns mesmos, formulando ono dito [...] de constituirmos a ns mesmos constituindo umarealidade que nos era estranha. (ISER, 1999, p 82 e 93).

    O mundo ficcional uma oportunidade para romper oshorizontes limitados de expectativas que o leitor possa ter dotexto, do mundo extratextual e de si mesmo. Ao romper limites,o mundo ficcional amplia o espao que ele mesmo preenche,para ser, ou podendo ser, novamente rompido. Um texto, dessaforma, torna-se um dinamizador do mundo extratextual. A rep-blica de Plato ou qualquer outra estaria condenada inrcia econseqentemente morte, no fosse por este habitante.

    REFERNCIASREFERNCIASREFERNCIASREFERNCIASREFERNCIAS

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