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Capitalismo, violência e conservadorismo Roberta Traspadini Professora da Universidade Federal da Integração Latinoamericana e da Escola Nacional Florestan Fernandes A história do capitalismo é a história da violência real e simbólica contra os povos lutadores e os territórios. Em nome da acumulação de capital os proprietários privados dos meios de produção expropriam terras, espoliam pessoas e transformam em mercadoria o que antes tinha outra dimensão sócio-cultural: a vida. Apesar de particular e datada historicamente, a produção capitalista se apresenta com ares de história geral da humanidade, à luz do reconhecido desenvolvimento tecnológico alcançado nos últimos 300 anos. No entanto, qual o fundamento do desenvolvimento tecnológico? A propriedade privada dos meios de produção ou a capacidade onto- criativa do ser humano de, ao criar novas técnicas, melhorar o sistema em que vivemos? A primeira é recente na história, mas torna dependente e subverte a segunda. A segunda é a própria história da humanidade em sua relação com a natureza e demais seres, sendo ao longo dos últimos 500 anos subsumida, formal e realmente, aos ditames do capital. O movimento de associar progresso e capitalismo sem as mediações necessárias sobre a terra e o trabalho, simplifica a complexa produção de vida, produzindo um alienado sentido comum reprodutor da idéia dominante. Por exemplo: a hegemonia da matriz energética; produtiva de alimentos; educativa. A propriedade privada e as múltiplas formas e conteúdos de trabalhos privativos de autonomia subordinados à violenta dinâmica do capital, deveria nos remeter à memória-história de produção de vida nos territórios para além do capital. Mas a hegemonia do capital gera os sentidos de vida advindos destes mandatários, cujas leituras ideológicas são produzidas e propagadas por eles de forma homogeneizada para serem repetidas e defendidas por todos. Um breve exemplo da dificuldade reflexiva sobre a atual educação brasileira. Segundo o censo do INEP de 2013, das 2.391 instituições de ensino superior no Brasil, 2090 são privadas e 301 são públicas.

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Capitalismo, violência e conservadorismo

Roberta Traspadini

Professora da Universidade Federal da Integração Latinoamericana e da Escola Nacional Florestan Fernandes

A história do capitalismo é a história da violência real e simbólica contra os povos lutadores e os territórios. Em nome da acumulação de capital os proprietários privados dos meios de produção expropriam terras, espoliam pessoas e transformam em mercadoria o que antes tinha outra dimensão sócio-cultural: a vida.

Apesar de particular e datada historicamente, a produção capitalista se apresenta com ares de história geral da humanidade, à luz do reconhecido desenvolvimento tecnológico alcançado nos últimos 300 anos.

No entanto, qual o fundamento do desenvolvimento tecnológico? A propriedade privada dos meios de produção ou a capacidade onto-criativa do ser humano de, ao criar novas técnicas, melhorar o sistema em que vivemos? A primeira é recente na história, mas torna dependente e subverte a segunda. A segunda é a própria história da humanidade em sua relação com a natureza e demais seres, sendo ao longo dos últimos 500 anos subsumida, formal e realmente, aos ditames do capital.

O movimento de associar progresso e capitalismo sem as mediações necessárias sobre a terra e o trabalho, simplifica a complexa produção de vida, produzindo um alienado sentido comum reprodutor da idéia dominante. Por exemplo: a hegemonia da matriz energética; produtiva de alimentos; educativa.

A propriedade privada e as múltiplas formas e conteúdos de trabalhos privativos de autonomia subordinados à violenta dinâmica do capital, deveria nos remeter à memória-história de produção de vida nos territórios para além do capital. Mas a hegemonia do capital gera os sentidos de vida advindos destes mandatários, cujas leituras ideológicas são produzidas e propagadas por eles de forma homogeneizada para serem repetidas e defendidas por todos.

Um breve exemplo da dificuldade reflexiva sobre a atual educação brasileira.

Segundo o censo do INEP de 2013, das 2.391 instituições de ensino superior no Brasil, 2090 são privadas e 301 são públicas. São 7.305.977 pessoas matriculadas em cursos de graduação, com 5.373.450 nas privadas e 1.932.527 nas públicas. São 367.282 professores (na rede pública, 155.219; na rede privada, 212.063). Façamos uma conta simples sobre o total de alunos nas públicas dividido pelo total de professores, teríamos: 5.373.450/155.219=34,62 alunos por professor na rede pública, em detrimento a 9,11 alunos por professor na rede privada.

A iniciativa privada, protagonista da educação-mercadoria, conta com o FIES, em sua parceria com o Estado, política clara contra o estudante-trabalhador. Para os donos da mercadoria educação, o FIES é a âncora que lhes permite ter altas taxas de lucro com risco zero de inadimplência. Para os estudantes-trabalhadores significa a intensificação da superexploração da sua força de trabalho, uma vez que aos baixos salários médios e precarizados, se soma uma dívida futura não negociável.

Por que os neoconservadores não discutem o poder na breve historia do capitalismo? A violência emanada da desigualdade capitalista, estrutura e significa o papel, de classe, do

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Estado frente à intensificação da opressa de classe. As marchas conservadoras, tendo como palco os símbolos patrióticos, não explicitam a origem e o fim da violência dado que não colocam no centro da discussão a estrutura desigual real por trás dos fatos contemporâneos.