Texto_Unidade_6 - Açúcar e Álcool

9
Unidade 6 Açúcar e álcool Açúcares A sacarose é um dos açúcares presentes na cana-de-açúcar. Junto com ele também são encontrados os açúcares glicose e frutose. A diferença é que a sacarose está presente em grande concentração e os outros dois em quantidades muito pequenas. Os açúcares são compostos químicos da família dos carboidratos ou hidratos de carbono ou, mais corretamente, glicídios. A denominação carboidrato se deve à sua formula bruta ser C n (H 2 O) m . Observe que aparentemente temos água e carbono na molécula. Os glicídios mais simples são sintetizados pelos vegetais. Eles possuem duas funções orgânicas a função álcool (-OH) em praticamente todos os carbonos, são poliálcoois, e possuem a carbonila como função aldeído (=O em um carbono terminal), ou como função cetona (=O em um carbono intermediário). Observe estas funções nos açúcares glicose e frutose. Glicose Frutose

description

Açúcar e álcool

Transcript of Texto_Unidade_6 - Açúcar e Álcool

  • Unidade 6

    Acar e lcool

    Acares

    A sacarose um dos acares presentes na cana-de-acar. Junto com ele tambm so

    encontrados os acares glicose e frutose. A diferena que a sacarose est presente em

    grande concentrao e os outros dois em quantidades muito pequenas.

    Os acares so compostos qumicos da famlia dos carboidratos ou hidratos de

    carbono ou, mais corretamente, glicdios. A denominao carboidrato se deve sua formula

    bruta ser Cn(H2O)m. Observe que aparentemente temos gua e carbono na molcula.

    Os glicdios mais simples so sintetizados pelos vegetais. Eles possuem duas funes

    orgnicas a funo lcool (-OH) em praticamente todos os carbonos, so polilcoois, e

    possuem a carbonila como funo aldedo (=O em um carbono terminal), ou como funo

    cetona (=O em um carbono intermedirio).

    Observe estas funes nos acares glicose e frutose.

    Glicose

    Frutose

  • Os carboidratos podem ser classificados em Monossacardeos, que so as molculas

    de monossacardeos menores possveis. Os monossacardeos no sofrem hidrolise, pois

    somente um acar compe sua molcula. o caso da glicose, frutose, manose, galactose,

    entre outros.

    Quando temos carboidratos com dois acares em uma mesma molcula temos um

    dissacardeo. O nosso principal exemplo de dissacardeo a sacarose, mas existem vrios

    dissacardeos importantes em nossa alimentao como a rafinose e a lactose. Os dissacardeos

    sofrem hidrlise separando-se nos seus monossacardeos fundamentais.

    Os Oligossacardeos so carboidratos que sofrem hidrolise produzindo de trs a dez

    monossacardeos, e os Polissacardeos so glicdios que sofrem hidrolise e produzindo um

    nmero muito grande de monossacardeos. Por exemplo, o amido a celulose a dextrana entre

    outros. etc.

    Os acares possuem diversas funes que podem ser divididas em:

    Nutricionais os acares so carboidratos, substncias fundamentais em nossa

    alimentao e que fornecem energia (400 cal por grama). a matria prima para construo

    das clulas em nosso organismo;

    Sensoriais So os agentes do sabor doce. Alm disso, colaboram com a textura dos

    alimentos.

    Tecnolgicas so substancias qumicas que podem dar origem varias outras

    substancias dependendo do processo tecnolgico empregado, que geralmente fermentativo.

    Exemplos de produtos que tem origem no acar so, Etanol, glutamato monossdico, cido

    actico, entre muitos outros. Os monossacardeos so agentes de escurecimento junto com

    aminocidos participam das reaes de escurecimento chamadas reaes de Maillard, que

    ocorrem em funo da presena das carbonilas.

    Atividade tica

    A luz branca comum possui naturalmente muitos planos de vibrao. Ao passar por um

    polarizador ela emerge vibrando em um nico plano. Esta luz que vibra em um nico plano

    chamada luz polarizada. Atividade tica a capacidade de girar o plano da luz polarizada.

  • Dessa forma, uma molcula oticamente ativa quando possui a capacidade de girar o

    plano de uma luz polarizada. Os acares so compostos oticamente ativos.

    Uma molcula orgnica possui atividade tica quando possui um carbono assimtrico,

    que significa possuir um carbono onde esto ligados quatro grupos diferentes.

    Uma luz polarizada ao passar por uma soluo de acar tem o ngulo de seu plano de

    vibrao modificado.

    A rotao tica depende da substncia, ou seja, o ngulo de rotao varia de produto

    para produto. A sacarose desvia o plano da luz polarizada para a direita, ela dextro-rotatria,

    e seu ngulo de rotao de 65,5o. A glicose dextro-giratria desvia a luz polarizada para a

    direita em 52,5o. A frutose, no entanto, levo-giratria desviando o plano da luz polarizada

    para a esquerda em 92o angulares.

    Hidrlise da sacarose ou inverso da sacarose.

    A sacarose em meio cido hidrolisada, ou seja, a molcula desdobrada em seus

    acares fundamentais, que so a glicose e a frutose.

    SACAROSE + GUA GLICOSE + FRUTOSE Meio cido

    Uma soluo de gua com sacarose gira o plano da luz polarizada para a direita em

    65,5. Esta soluo ao ser hidrolisada gera os acares glicose e frutose, que alteram o ngulo

    de rotao do plano, invertendo-o. A soluo que antes era dextro-rotatria, passa a ser levo-

    rotatria, como conseqncia da rotao proporcionada pela frutose que inversa e quase o

    dobro da rotao proporcionada pela glicose. Da a denominao de soluo invertida.

    Os produtos da reao de hidrolise da sacarose (glicose e frutose), so chamados de

    acares invertidos. Por possurem caractersticas qumicas redutoras eles tambm so

  • denominados muitas vezes de acares redutores. Assim, os acares redutores ou acares

    invertidos presentes na cana-de-acar so a glicose e a frutose.

    Polarizao

    Polarmetro um equipamento capaz de medir a rotao angular que solues de

    substncias oticamente ativas causam no plano de uma luz polarizada. Esta medida chamada

    de polarizao.

    Um Sacarmetro um polarmetro calibrado para fornecer uma rotao de 100 quando

    submetido a uma soluo de sacarose preparada com 26,00g em 100 mL de gua. Desta

    forma quando medimos a polarizao de um caldo de cana, estamos medindo o teor de

    sacarose atravs da rotao que ele provoca no plano da luz polarizada. Chamamos de POL

    (oriunda de polarizao) o teor aparente de sacarose presente no caldo de cana j que a

    quantidade de acares redutores pequena e a rotao de um acar neutraliza em parte a

    rotao do outro causando uma diferena pequena ao final.

    Produo de acar

    A produo de acar a recuperao da sacarose presente na cana e que, na verdade,

    quem produziu foi a natureza atravs da reao de fotossntese.

    A cana pode ser vista como constituda de fibra, gua e substncias solveis em gua,

    ou como, bagao e caldo.

    Cana = fibra + gua + slidos solveis

    ou

    Cana = bagao + caldo

    no caldo de cana que se encontra a sacarose e junto com ela outras substncias

    dissolvidas alm de substncias no estado coloidal, tornando o caldo turvo e esverdeado. Essas

    substncias somadas so os slidos solveis do caldo ou BRIX.

    Brix , portanto a porcentagem de slidos totais solveis presentes no caldo, ou mais

    precisamente a quantidade em gramas de slidos solveis presentes em 100 gramas de

    caldo.

  • Apesar de existirem no caldo algumas dezenas de substncias qumicas os principais

    constituintes so a gua e a sacarose observe:

    Constituinte Quantidade mdia em 100g de caldo

    gua 80

    Sacarose 18

    Glicose 0,6

    Frutose 0,6

    Sais Minerais 0,4

    Outros Compostos Orgnicos No Acares Solveis

    0,4

    A produo de acar sob a forma de sacarose de cana-de-acar cristalizada

    resultado de uma seqncia de operaes industriais como pode ser observado:

    Estas operaes visam:

    - Extrair a sacarose dos colmos de cana;

    - Purificar o caldo extrado;

    - Evaporar a gua;

    - Cristalizar a sacarose e remover a frao que no cristalizou.

    Essas operaes podem diferir em funo do tipo de acar que se deseja produzir. Por

    exemplo, a etapa de sulfitao no efetuada quando se quer produzir acar VHP, que um

    acar de colorao amarelada.

    A limpeza ou purificao ou ainda clarificao do caldo a etapa onde est envolvido o

    maior nmero de reaes qumicas. Nesta etapa provocamos reaes de oxirreduo com a

    participao do enxofre (sulfitao), e as reaes de precipitao com a formao de sais

    pouco solveis envolvendo o on clcio e o nion fosfato (Caleagem).

  • Ao caldo podem ser adicionadas substncias que auxiliam a limpeza. Estas substncias

    participam de reaes de complexao e neutralizao de cargas seguidas de aglutinaes.

    So chamadas de auxiliares de decantao. As reaes que ocorrem nesta etapa tornam o

    caldo uma soluo de colorao amarela clara, e lmpida.

    Na etapa de clarificao tambm esto envolvidas reaes de neutralizao. O caldo que

    naturalmente apresenta um pH ao redor de 5,6 passa para a etapa de evaporao com um pH

    ao redor de 7. Isto desejvel pois o caldo de cana com um pH baixo, ou seja cido, causa

    perda de sacarose por hidrlise ou inverso.

    O caldo, depois de limpo, segue para a etapa de evaporao. Durante a evaporao da

    gua o aumento da concentrao dos constituintes e a temperatura elevada favorecem

    algumas reaes indesejveis como: reaes de precipitao que causam incrustaes e

    reaes de escurecimento, as reconhecidas reaes de Maillard, que ocorrem entre os

    acares redutores presentes e aminocidos originrios da cana e que no foram eliminados

    na etapa de clarificao. Os aminocidos e outros compostos nitrogenados esto presentes

    mais abundantemente nas razes e folhas da cana, por isso as reaes de escurecimento so

    intensificadas quando so processadas canas com pontas.

    O lcool

    lcoois como vimos uma famlia de compostos orgnicos que possui o grupamento

    hidroxila (-OH) ligado a um tomo de carbono. O lcool combustvel, produzido no Brasil a

    partir da cana-de-acar trata-se do etanol, um lcool contendo dois tomos de carbono.

    etanol

    Existem duas formas de se obter o etanol, por via sinttica, partindo de hidrocarbonetos

    no saturados (eteno e etino), e por via fermentativa, partindo de matrias-primas ricas em

    carboidratos como amido, celulose, mas especialmente acares.

    O etanol ou lcool etlico obtido atravs da fermentao dos acares presentes no

    caldo de cana. Na obteno do lcool por via fermentativa distinguem-se trs fases distintas o

    preparo do substrato, a fermentao e a destilao.

    O caldo extrado da cana tratado e diludo para receber o fermento que ir

    transformar a sacarose principalmente em etanol durante a fermentao. O produto da

    fermentao o vinho que apresenta de 8 a 10% de etanol e que dever ser destilado para

    separao deste composto.

  • Na destilao do lcool obtm-se uma mistura hidroalcolica 96:4, ou seja, em cada

    100mL da soluo temos 96mL de lcool e 4mL de gua.

    Esta mistura no constituda somente de etanol e gua, existem outras substncias

    que chamamos de contaminantes e que esto presentes em quantidades muito pequenas, mas

    que so importantes do ponto de vista de especificaes do produto. Alguns dos

    contaminantes so provenientes do caldo e permaneceram no vinho passando pela destilao.

    Outros so produzidos na fermentao e outros ainda podem surgir de reaes que ocorrem

    aps a destilao ou pode ser adicionado como o caso do sdio e do cloro. Quando o lcool

    apresenta uma alta acidez alguns fabricantes adicionam hidrxido de sdio ao produto com a

    inteno de provocar a neutralizao dos cidos presentes, conseguindo que seu produto fique

    dentro das especificaes. Esta reao gera gua, mas tambm o sal que prejudicial aos

    motores dos veculos.

    A macro composio do lcool produzido a partir da cana-de-acar, segundo o

    diagrama de blocos descrito anteriormente, onde o vinho sofre destilao e retificao, mas

    no desidratao, 96% de etanol e 4% de gua, porm, outros componentes como, metanol,

    lcoois de peso molecular maior que o etanol, aldedos, steres e cetonas so produzidos na

    fermentao alcolica e no so removidos totalmente na destilao.

    Observe os cromatogramas (resultado da anlise cromatogrfica), de duas amostras

    diferentes de lcool hidratado, um de boa qualidade e um de m qualidade. Observe a

    quantidade de componentes secundrios que podem estar presentes.

  • Padro para comparao confeccionado com lcool extra fino contaminado com quantidades conhecidas de: pico1 acetaldedo, pico2 acetona, pico3 metanol, pico4 acetato de etila, pico6 iso-propanol, pico7 acetal, pico8 1-propanol, pico9 iso-butanol, pico10 1-butanol, pico11 iso-amilico e pico12 n-amlico. Obsserve que o pico de numero 5 o etanol. Cromatograma de uma amostra contendo muitos contaminantes e em grande quantidade. Observe que esta amostra contm os picos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, no contm o 8o pico, contm o 10o e o 11o e no contm o 12o pico. Cromatograma de uma amostra de lcool etlico extra fino. Observe que apresenta praticamente somente o metanol como contaminante.

    O lcool hidratado pode ainda sofrer desidratao. A desidratao do azetropo, ou

    seja, a remoo dos 4% de gua presentes no lcool hidratado pode ser conduzida de vrias

    maneiras que sero tratadas nas aulas de produo de etanol. O lcool desidratado tambm

    possui traos de contaminantes que podem estar presentes dentro de alguns limites.

    A tabela abaixo apresenta algumas especificaes para diferentes classificaes de

    lcool hidratado e anidro.

  • Parmetro Unidade ANIDRO (AEAC)

    Hidratado (AEHC)

    Industrial (AEHNC)

    Neutro (AEHR)

    Massa Especfica a 20 C Teor Alcolico Alcalinidade materiais no volteis 105 C Acidez Total (actica) Condutividade Eltrica pH

    Kg/m3 INPM

    - mg/l mg/l

    microS/m -

    max. 791,5 min 99,3 negativa max 30 max 30

    max 500 -

    809,3 +/- 1,7 93,2 +/- 0,6

    negativa max 30 max 30 max 500 6,0 8,0

    807,6 +/- 1,1 93,8 +/- 0,4

    negativa max 50 max 30

    - -

    max 806,5 min 94,2 negativa max 30 max 15

    - -

    Metais Cobre Ferro Sdio

    mg/kg mg/kg mg/kg

    max 0,07 - -

    - max 5 max 2

    - - -

    Anions Sulfato Cloreto

    mg/kg mg/kg

    - -

    max 4 max 1

    - -

    Aspecto(*) Aldedos, em Aldedo Actico Esteres em Acetato Etila Alcois Superiores lcool Metlico

    - mg/l mg/l mg/l mg/l

    Lmpido e incolor- - -

    Lmpido e incolor - - - -

    Lmpido e incolor max 60 max 80 max 60

    -

    Lmpido e incolormax 10 max 20 max 10 max 40

    Benzeno Cor APHA

    mg/kg -

    - max 2,5

    - max 2,5

    abaixo de 0,1 max 2,5

    abaixo de 0,1 max 2,5

    Para lcool etlico hidratado combustvel, por exemplo, o teor de contaminantes

    orgnicos (lcoois superiores, steres, aldedos e outros), no especificado nem investigado

    uma vez que estes compostos tambm so combustveis.

    As especificaes so propostas geralmente com base nos produtos que so fabricados.

    A avaliao dos parmetros de especificao so importantes pois composio muito diferente

    das especificaes podem ser sinal de adulterao do produto que est sendo comercializado.