Tfg 1 renata alves do nascimento
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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Engenharia Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Renata Alves do Nascimento
FLEXIBILIDADE EM HABITAÇÃO Uma tendência arquitetônica
Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Engenharia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação I.
Orientador: Prof. Ernani Simplício Machado
Juiz de Fora Setembro/ 2013
ii
Capa Autoria: Renata Alves do Nascimento Inspirada nos posters do designer Mike Joyce baseados no Estilo Tipográfico Internacional. O Estilo Tipográfico Internacional ou Design Suíço é uma vertente do design gráfico desenvolvida na Suíça em 1950. A limpeza, legibilidade e objetividade são os principais elementos deste estilo. Esse movimento foi influenciado pelos princípios funcionalistas da Bauhaus e além disso, causou mudanças na arquitetura, que começou a projetar edifícios visando a funcionalidade e eliminando toda a ornamentação característica da época. (MILHOMEM, 20013).
Imagem de capa Fonte: http://morahabitacao.com
iii
iv
Dedico este trabalho à minha mãe, que como âncora me manteve firme, tranqüila e fiel ao meu caminho. Que me permitiu desfrutar da liberdade e beleza do mundo, e que em meio às tempestades foi capaz de se manter estável e confiante no futuro.
v
vi
Agradecimentos
Agradeço por tudo àquela que sempre esteve por perto mesmo estando longe.
Àquela que sempre se fez presente nos muitos momentos difíceis. Foi tudo
demasiadamente válido. Foi com você mãe, que aprendi a olhar as coisas pelos
melhores ângulos, mesmo as piores; a nunca desistir e a sempre me esforçar pelo que
é bom e correto, afinal de contas, qualquer coisa que valha meu tempo deve receber
nada menos do que meu melhor.
Levo desses anos aprendizados que me guiarão pela vida, e por eles agradeço a
você, que me preparou para o mundo e me permitiu desbravar caminhos
desconhecidos com confiança e coragem. Obrigada por todos os abraços quentes e
confortantes, pelo colo nunca negado nos dias em que o cansaço me fez pedir por ele.
Agradeço a ti, pelo amor incondicional e imensurável, pelos ensinamentos de
autonomia e responsabilidade.
Faço deste trabalho uma oportunidade de agradecimento a tudo que já fez e faz
por mim a cada dia. O dedico única e exclusivamente a você. Obrigada por ser amiga
acima de tudo, por sempre dividir comigo todos os momentos, por estar junto e pela
compreensão de sempre.
Aproveito para agradecer a todas as outras pessoas especiais que entraram na
minha vida durante esses anos e que me presenteiam a cada dia com a maior de todas
as dádivas da vida: a amizade. Àqueles que estiveram do meu lado nesse percurso,
muito obrigada pelo carinho e consideração.
Agradeço a toda minha família, e especialmente a minha avó Rita, que foi alento
e carinho nos poucos fins de semana livres passados à sua presença.
E por fim, ao meu orientador, pela força, tranquilidade e entusiasmo.
Obrigada a todos por tudo!
vii
“Não conheço ninguém que conseguiu realizar um sonho sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes. O sucesso é construído a noite! Durante o dia você faz o que todos fazem. Mas para obter um resultado diferente da maioria, você tem que ser especial. Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmos resultados. Não se compare à maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso. A realização de um sonho depende de dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica, mas toda mágica é ilusão, e a ilusão não tira ninguém de onde está, em verdade a ilusão é combustível dos perdedores pois... Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa."
SHINYASHIKI.
"Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica: a vontade."
EINSTEIN.
viii
Resumo
O tema abordado neste trabalho compreende a flexibilidade aplicada no campo
da arquitetura, e mais especificamente, no da habitação privada, tendo como objetivo
principal o apontamento da flexibilidade como tendência arquitetônica fundamental aos
dias atuais. A escolha do tema justifica-se frente à atual condição da produção de
habitações, em um momento da história em que grandes transformações são
processadas em pequenos espaços de tempo e a habitação tem se apresentado de
forma bastante desqualificada. Dessa forma, o enfoque teórico se deu a partir da
produção conceitual e técnica de autores do campo da arquitetura, da engenharia e da
sociologia, em que se buscou o entendimento dos temas abordados, suas aplicações e
devidas especificidades. No decorrer da pesquisa foram realizados alguns estudos de
casos como forma de exemplificar os conceitos abordados e reafirmá-los de maneira
didática, e ao final concluiu-se com considerações sobre a pesquisa e uma breve
exposição do que se pretende na seguinte etapa do trabalho, em que a aplicação dos
conceitos estudados deverá acontecer de maneira prática.
Palavras-chave
Arquitetura. Espaço. Habitação. Flexibilidade.
ix
Abstract
The topic approached in this study comprises the flexibility applied to the
architecture field, more specifically to the private habitations. The main objective is to
show that flexibility is currently a fundamental architectonic tendency. The selection
of this topic is based on the current conditions of the private habitations, in a
historical moment in which great transformations are processed in small spaces of
time and the habitations are usually presented in a very disqualified way. The
theoretical framework is based on the conceptual and technical work of authors from
the architecture, engineering and sociology fields, searching a deeper understanding
about the topic, its applications and its specificities. During this research some case
studies were conducted to exemplify the concepts and reaffirm them in a didactic
way. At the end, there are some considerations about the study and a brief exposure
of what is intended in the following steps of this research in which the presented
concepts through this work will be practically applied.
Keywords
Architecture. Space. Habitation. Flexibility.
x
Índice de Ilustrações
Ilustração 1 - Arranjos familiares contemporâneos plurais (JORGE, 2012).......27
Ilustração 2 - Novos grupos domésticos. .............................................................29
Ilustração 3 - Maison Dom-Ino, Le Corbusier, 1915..............................................39
Ilustração 4 - Maison Dom-Ino, Le Corbusier, 1915..............................................40
Ilustração 5 - Casa unifamiliar de Weissenhof, Walter Gropius, 1927................42
Ilustração 6 - Edifício Esther, Álvaro Vital-Brazil, 1938........................................45
Ilustração 7 - Edifício do Ministério da Educação - Rio de Janeiro, Le Corbusier.
..................................................................................................................................45
Ilustração 8 - Planta geral da Cidade Universitária - Rio de Janeiro, Le
Corbusier, 1937. ......................................................................................................46
Ilustração 9 e 10 - Edifício Prudência e opções de layout dos espaços
flexíveis.- São Paulo, Rino Levi..............................................................................47
Ilustração 11 - Conjunto Habitacional Pedregulho, Rio de Janeiro, Affonso
Reidy.........................................................................................................................47
Ilustração 12 (esquerda) - Plantas prédios de apartamentos Lake Shore Drive
de Mies van der Rohe..............................................................................................52
Ilustração 13 (direita) - Conjunto Lake Shore Drive de Mies van der Rohe........52
Ilustração 14 - Prédios de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der
Rohe. ........................................................................................................................53
Ilustração 15 - Prédio de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe,
Estados Unidos. Esquema que mostra a estrutura independente do pavimento
tipo do Bloco Norte. ................................................................................................60
Ilustração 16 - Prédio de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe,
Estados Unidos. Esquema de modulação do pavimento tipo do Bloco Norte. .60
xi
Ilustração 17 - Projeto Edifícios em Ribera Baixa, Espanha. Planta Pavimento
Tipo. Esquema que mostra a utilização de paredes divisórias internas leves. .61
Ilustração 18 - Projeto Prêmio Caixa-IAB 2006 – Habitação Social de Baixa
Renda, Brasil. Planta Apartamento Tipo 3. Esquema que mostra as divisórias
móveis utilizadas no projeto. .................................................................................62
Ilustração 19 - Projeto 67 Moradias em Carabanchel, Espanha. Planta do 1°
Pavimento. Esquema que mostra mobiliários como divisórias..........................62
Ilustração 20 - Projeto “Hannibal” Wohnstadt; Stuttgart – Asemwald,
Alemanha. Fragmento da Planta do 1° ao 2° Pavimento Edifício A Número 1.
Esquema que mostra o núcleo de circulação vertical. ........................................63
Ilustração 21 - Projeto Amsterdam-Dapperbuurt; Wagenaarstraat Van
Swindenstraat, Holanda. Planta Pavimento Tipo. Esquema que mostra a junção
de banheiros e cozinha em um módulo. ...............................................................64
Ilustração 22 - Projeto Bairro La Hansa; Berlin-Tiergarten; Bartiningallee 9,
Alemanha. Fragmento da Planta do Pavimento Tipo. Esquema que mostra o
uso de shafts. ..........................................................................................................64
Ilustração 23 - Projeto Torre Barcelona, Espanha. Pavimento Tipo Hotel.
Esquema que mostra a utilização da fachada independente e do piso elevado.
..................................................................................................................................65
Ilustração 24 - Projeto Edifício Fukuoka, Japão. Fragmento da Planta do 3°
Pavimento. Esquema que mostra a utilização de armários embutidos e
terraços. ...................................................................................................................66
Sumário
xii
1. Introdução - Espaço arquitetônico x espaço construído .............................15
2. Capítulo 1 - O espaço físico do habitar privado ............................................19
2.1. A atual realidade da habitação.................................................................19
2.2. A habitação e seus valores ......................................................................22
2.2.1. Valores Físicos ....................................................................................22
2.2.2. Valores Subjetivos ...............................................................................23
2.3. Demandas contemporâneas ....................................................................26
3. Capítulo 2 - Flexibilidade.................................................................................33
3.1. O que é flexibilidade?...............................................................................33
3.2. Flexibilidade em Arquitetura ....................................................................36
3.3. Flexibilidade e Habitação .........................................................................38
4. Capítulo 3 – Flexibilidade aplicada.................................................................50
4.1. Tipos de flexibilidade................................................................................50
4.1.1. Inicial....................................................................................................50
4.1.2. Permanente ou contínua......................................................................50
4.2. Formas de flexibilidade ............................................................................51
4.2.1. Neutralidade.........................................................................................51
4.2.2. Adaptabilidade .....................................................................................53
4.2.3. Mutabilidade.........................................................................................53
4.2.4. Expansibilidade....................................................................................53
4.2.5. Mobilidade............................................................................................54
4.2.6. Evolução ..............................................................................................54
4.2.7. Reversibilidade ....................................................................................54
4.2.8. Integrabilidade e divisibilidade .............................................................54
4.3. Flexibilidade, Tecnologia, Sustentabilidade e Construtibilidade..........54
4.4. Sistemas construtivos..............................................................................56
4.5. Pré-fabricação ...........................................................................................58
4.6. Estratégias de Flexibilidade.....................................................................59
5. Considerações sobre a pesquisa ...................................................................68
6. Referências.......................................................................................................70
6.1. Mídia digital ...............................................................................................70
6.2. Mídia impressa ..........................................................................................71
xiii
xiv
15
1. Introdução - Espaço arquitetônico x espaço construído
Num país com um grande déficit habitacional e um “esforço enorme” por parte
das frentes governamentais para se reduzir este índice, presenciamos a produção e
reprodução massiva de habitações por todo canto. Neste processo de multiplicação
habitacional, a quantidade tem sido o foco, enquanto que a qualidade destes novos
espaços produzidos quase nunca é levada em consideração. Em se tratando de
qualidade, devemos entender pela soma de todas as características qualificadoras
do espaço de morar positiva ou negativamente, tanto construtivas, como físicas,
ambientais e psicológicas. O fato é que grande parte do repertório habitacional
existente ou em produção tem-se baseado em generalidades e incoerências,
modelos construtivos e de configurações caducos, incompatíveis com as atuais
necessidades das sociedades e desprovidos da qualidade de arquitetura, já que
quase sempre são pautados no fator econômico, em que o que conta é o número de
“caixas” construídas e, portanto, o espaço interno, o vazio, o espaço arquitetural,
não tem vez.
A flexibilidade surge neste contexto como sendo um conceito bastante
apropriado, ferramenta que se explorada em sua capacidade máxima pode ser
capaz de agregar ao espaço do habitar privado não somente o fator arquitetônico,
mas também a qualidade de ser fluido e adequado ao contexto histórico atual.
Dessa forma, como tendência natural, ela começa a aparecer no cenário
contemporâneo da habitação, mesmo que ainda de forma discreta.
Esta tendência da flexibilização de espaços domésticos vem crescendo e
apoiando-se nas necessidades da vida atual, que muitas vezes não encontram
respostas adequadas nos espaços como têm sido oferecidos. Mesmo assim, ainda
não há a exploração total da capacidade e eficácia do conceito no âmbito da
habitação privada. Ela continua marcando presença no discurso e em intenções
projetuais menos abrangentes, geralmente soluções de layout, de mobiliários e em
alguns casos o uso de novos materiais. No que se refere à produção em grande
escala de moradias, muitos espaços têm sido desperdiçados em insuficiência e
16
ineficácia enquanto que os conceitos de flexibilidade são mantidos distantes.
Soluções e concepções de arquiteturas residenciais que levem o conceito em todas
as suas escalas e etapas projetuais, construtivas e de efetivo uso são bem pontuais,
quase sempre frutos de estudos e investigações de profissionais da área.
Nesse sentido, o atual trabalho se desenvolve com o objetivo de aproximar a
flexibilidade da concepção, construção e uso do espaço do habitar privado,
aceitando-a como tendência natural a ser seguida em prol da satisfação dos
habitantes e da qualidade na produção de espaços úteis, coerentes, longínquos, e
arquitetônicos. Para tanto, a metodologia de pesquisa adotada estabeleceu-se da
seguinte forma:
Primeiramente buscou-se informações sobre cada uma das vertentes do
trabalho, o conceito de flexibilidade e a habitação privada, através de uma
investigação teórica e conceitual, buscando a compreensão de cada tema por meio
da produção prévia de pensadores e pesquisadores, idéias, posicionamentos e
diretrizes. Posteriormente, buscou-se tratar da flexibilidade como conceito projetual
arquitetônico na produção de habitações, através do estudo do próprio repertório
arquitetônico, apontando tipos, formas, estratégias e métodos para a efetivação dos
objetivos do trabalho, visando suas aplicações em prol da concepção e produção de
espaços mais suficientes, eficientes, eficazes e compatíveis com as atuais
necessidades de seus usuários.
A fim de estruturar o trabalho, este foi divido em três capítulos, assim
definidos:
Capítulo 1
Neste capítulo tratarei de apresentar o conceito de habitação como espaço
físico do habitar privado. Abordarei questões referentes às relações existentes entre
pessoa e ambiente a fim de entender os laços que são estabelecidos ao longo do
tempo. Em seguida, tratarei do que diz respeito aos variados valores associados a
ela, apresentando-os como justificativa para a busca da qualidade no espaço da
habitação. Por fim, tratarei de mostrar o panorama atual do habitar privado e da
habitação, suas demandas e realidades.
17
Capítulo 2
Neste capítulo apresentarei os conceitos de flexibilidade, definindo-os e
contextualizando-os na história e repertório arquitetônico, assim como na especificidade
da habitação.
Capítulo 3
Neste capítulo tratarei da aplicabilidade dos conceitos apresentadores
anteriormente, a flexibilidade, seus tipos, formas e estratégias, assim como suas
conquistas no ambiente da habitação.
18
19
2. Capítulo 1 - O espaço físico do habitar privado
2.1. A atual realidade da habitação
Vivemos em espaços insatisfatórios na maior parte do tempo, senão da vida.
Muitos são meras construções desprovidas de qualidade arquitetônica, objetos
construídos que com frequência demasiada são produzidos com maiores preocupações
sobre a estética, do que sobre o espaço em si.
Bruno Zevi, em seu livro “Saber ver a arquitetura”, ao defini-la, acredita que sua
essência está justamente em seu espaço interior, no “vazio”. Os elementos construtivos
que encerram este “vazio”, as fachadas, os tetos e os pisos, constituem apenas a caixa
dentro da qual ele se encontra; um invólucro, uma casca.
[...] uma planta pode ser abstratamente bela no papel; quatro fachadas podem parecer bem estudadas pelo equilíbrio dos cheios e vazios, dos relevos e das reentrâncias; o volume total do conjunto pode mesmo ser proporcionado, e no entanto o edifício pode resultar arquiteturalmente pobre. O espaço interior, o espaço que [...] não pode ser representado perfeitamente em nenhuma forma, que não pode ser conhecido e vivido a não ser por experiência direta, é o protagonista do fato arquitetônico. (ZEVI, 1996, p. 18).
No entanto, o espaço interior mesmo sendo o substantivo arquitetônico, não é
capaz de defini-la sozinho. Para Zevi, a arquitetura funciona como uma equação,
composta de substantivo e adjetivos. Enquanto que o substantivo é a essência, os
adjetivos são os prolongamentos da arquitetura, os fatores artísticos, econômicos,
sociais, funcionais, técnicos e decorativos. Quando os valores da caixa se confundem
ou sobressaem aos valores daquilo que ela contém, do espaço interior, temos as
não-arquiteturas ou más arquiteturas.
[...] se podemos encontrar na arquitetura as contribuições das outras artes, é o espaço interior, o espaço que nos rodeia e nos inclui, que dá o lá no julgamento sobre um edifício, que constitui o “sim” ou o “não” de todas as sentenças estéticas sobre a arquitetura. Todo o resto é importante, ou melhor, pode sê-lo, mas é função da concepção espacial. Todas as vezes que, na história e na critica, se perde de vista essa hierarquia de valores, gera-se a confusão e se acentua a atual desorientação em matéria de arquitetura. (ZEVI, 1996, p. 28).
20
Estas não-arquiteturas ou más arquiteturas são geralmente construções que se
tornam plástica em grande escala sem conteúdo arquitetônico, ou mesmo, espaços que
desconsideram além da essência, muitos dos prolongamentos. Apesar disso, elas
continuam sendo produzidas e refletem insuficiência aos espaços destinados ao habitar
humano.
A definição mais precisa que se pode dar atualmente da arquitetura é a que leva em conta o espaço interior. A bela arquitetura será a arquitetura que tem um espaço interior que nos atrai, nos eleva, nos subjuga espiritualmente; a arquitetura feia será aquela que tem um espaço interior que nos aborrece e nos repele. (ZEVI, 1996, p. 24).
Esta realidade tem sido quase que uma lógica em relação à atual produção de
habitações, e somado a este panorama, temos a imensa rigidez dos modelos
estabelecidos, já desprovidos de congruência com o fim atual a que se destinam. A
baixa qualidade destes espaços vem nos sendo imposta, e muitas vezes aceita sem
contestação, tanto no que diz respeito à estrutura física como sobre seus aspectos
psicológicos, sendo incompatíveis com as atuais necessidades da vida humana, em um
momento da história que pode ser chamado de “modernidade líquida”1, em que grandes
transformações ocorrem em intervalos de tempo cada vez mais curtos, abrangendo
todos os aspectos e setores das sociedades atuais e determinando pensamentos,
comportamentos, anseios e necessidades.
Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida. (BAUMAN apud PRADO, 2010).
O fervor do setor da construção civil e, por conseqüência, do mercado
imobiliário tem feito com que muitas cidades se transformem em verdadeiros
canteiros de obra multiplicadores de não-arquiteturas e de espaços insatisfatórios
em todos os seus aspectos, e apesar de que, uma cidade em obras pareça significar
1 Conceito fundamental da tese do sociólogo polonês Zygmunt Bauman que explica, entre outras
questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a paranóia com segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos; males do atual século. É assim que ele se refere ao momento da História em que vivemos. Os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. (Revista ISTOÉ em entrevista com Zygmunt Bauman, 2010).
21
crescimento e desenvolvimento, deve-se pensar em que se está aplicando esforços
e apostando o presente e o futuro de nossas sociedades.
Temos sido reféns (ou espectadores) de espaços desprovidos da qualidade
arquitetônica, espaços estes que são invólucros do habitar humano em todas as
suas formas e expressões. Sendo a habitação aquela a qual o ser humano, como
usuário, mais se identifica e apropria, tratarei dela em específico.
Além de não-arquiteturas, às habitações disponibilizadas pelo mercado,
soma-se o fato de não se adequarem ao atual estágio da vida contemporânea,
apresentando-se como espaços rígidos e incoerentes. Em contramão a esta
realidade, entende-se que, como bem durável e espaço construído, a habitação
deve corresponder ao seu contexto, sendo imprescindível que seja pensada de
forma a possibilitar, permitir e até prever momentos e necessidades diferentes,
interpretações ímpares ao longo do tempo, sendo capaz de se adaptar às novas
demandas, de dar condições aos seus usuários de participar da concepção de seu
meio, podendo este interferir e controlá-lo de alguma forma2, e, portanto, de
conquistar vida longa e útil.
Diante deste cenário tratarei, a seguir, de explicitar os valores da habitação, e
de dar o panorama de suas demandas atuais, a fim de comprovar a real
necessidade de cuidado e conformidade ao se tratar do espaço protagonista da vida
humana.
2 De acordo com Paiva (2002), por muito tempo, as próprias pessoas foram responsáveis pela concepção e construção de suas habitações, permitindo a construção personalizada e adaptável. Após a Revolução Industrial, acontecimentos como a migração das pessoas em grande escala para os centros urbanos, a produção massificada de habitações e as novas tecnologias e materiais de construção, determinaram a rigidez e verticalidade dos edifícios, assim como o afastamento do habitante do processo de concepção e construção de sua habitação. A fim de compensar a quebra de equilíbrio entre o habitante e seu habitat, a flexibilidade foi introduzida no debate da produção da habitação, nomeadamente através de pressupostos do Movimento Moderno: a planta livre, as grandes dimensões, a separação da estrutura dos elementos de vedação e a fachada neutra.
22
2.2. A habitação e seus valores
Desde os tempos mais remotos, quando o homem sentiu a necessidade de se
proteger do meio externo, a habitação vem cumprindo com diversas funções
fundamentais ao homem, principal e primeira delas: de abrigo. Com o tempo e com as
transformações que foram sendo processadas, a habitação passou a ser fixa,
possibilitando seu desenvolvimento e, portanto, o agregado de várias outras funções.
Atualmente, o que entendemos por habitação, além de abrigo, é a soma de
demasiados outros valores, que vieram definindo-a como um dos mais importantes
bens construídos da vida de uma pessoa. Alguns destes valores correspondem a sua
fisicalidade; outros, e talvez os mais significativos, são subjetivos e estão relacionados
diretamente à vivência e interação com o ambiente doméstico, ao sentido de
apropriação, familiaridade e pertencimento a um determinado lugar.
A fim de estabelecer uma definição, por habitação deve-se entender aqui como
sendo: um objeto construído para ser habitado, com características físicas e localização
própria. Inserido em um contexto externo específico a fim de ser invólucro do habitar
privado e refúgio familiar; podendo ou não ser dotado de valores físicos, subjetivos e
arquitetônicos. Quanto a estes valores, primeiramente tratarei dos físicos.
2.2.1. Valores Físicos
Os valores físicos da habitação, em suma, relacionam-se com valores
econômicos e sociais estabelecidos pela sociedade, variando a cada caso e
respondendo a fatores como: sua localização; a facilidade de acesso; a proximidade
com pontos e equipamentos de interesse; segurança; fatores referentes ao tipo de
construção, como materiais utilizados e área construída; e questões de status e
hierarquia social. Além disso, o valor físico da habitação relaciona-se também às
funções que ela desempenha como, ser o espaço físico destinado ao habitar privado
e ao uso familiar e delimitadora do espaço público e privado, resguardando e
protegendo seus utentes das ameaças externas, oferecendo-lhes segurança e
privacidade.
23
A conformação física ou configuração da habitação varia com o tempo e com
o contexto em que se insere (ou deveria) e responde a questões culturais, modos de
vida das sociedades, fatores econômicos, sociais e técnicos. Por ser possuidora de
valor econômico, ela deve ser capaz de ser apropriada por um número ímpar de
famílias e pessoas diferentes ao longo de sua vida útil, não devendo estabelecer,
portanto, valores de uso, de convivência ou de entrosamento. No entanto, apesar de
não estabelecer nenhum destes valores, ela necessita ser dotada de qualidades e
características positivas que permitam e dêem condições para que eles aconteçam,
sendo o espaço, dessa forma, influenciador e moldador da vida humana assim como
o homem para com ele.
Ela deve ser pensada visando o presente e o futuro, capaz de se adaptar
para responder ao homem e às suas necessidades. Deve situar e relacionar-se com
ele “[...] pois sua configuração é dependente da situação e do modo de vida de seu
habitante e quando este lhe infunde seu hálito vital e a transforma em algo próprio e
pessoal, ela pode assumir uma dimensão simbólica” (MIGUEL, 2002, p.1), dotada
também de valores subjetivos.
2.2.2. Valores Subjetivos
Durante a vida, desenvolvemos diversas relações com pessoas, objetos e
ambientes, em quantidades e em qualidades diferentes. Estas relações são moldadas
por vários fatores e variam entre os campos físico, sentimental e espiritual. Os laços
afetivos desenvolvidos entre pessoa e ambiente físico são designados pelo termo
topofilia. Estes laços podem diferir em intensidade, sutileza e modo de expressão;
sendo que “quando é irresistível, podemos estar certos de que o lugar ou meio
ambiente é o veículo de acontecimentos emocionalmente fortes ou é percebido como
um símbolo.” (TUAN, 1980, p. 107).
Nossas escolhas e preferências ambientais, as atitudes que temos em relação
ao meio ambiente em que habitamos (construído ou não), a forma como o percebemos
e atribuímos valores a ele, variam de pessoa a pessoa e refletem fatores como
variações individuais biológicas e fisiológicas (temperamento, sexo e idade), à criação e
24
educação à que foi submetida, ao meio físico em que está inserida e à cultura que
vivencia.
A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética: em seguida, pode variar do efêmero prazer que se tem de uma vista, até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que é subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, água, terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que temos para com o lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências [...]. (TUAN, 1980, p. 107).
Todos esses fatores condicionam as nossas escolhas e preferências por
determinados espaços, sendo que após determinadas, ao longo do tempo as relações
de afeição se consolidam à medida que nos familiarizamos a eles, a ponto de defini-los
como nossos. A proximidade e familiaridade tendem a gerar afeição ou desprezo por
um determinado espaço, assim como acontece entre as pessoas e entre estas e
determinados objetos pessoais.
Os pertences de uma pessoa são uma extensão de sua personalidade; ser privado deles é diminuir seu valor como ser humano, na sua própria estimação. A roupa é o pertence mais pessoal. São poucos os adultos, cujos sentidos de “self” não sofram quando está nu, ou que não sente ameaçada a sua identidade quando tem que usar as roupas de outra pessoa. Além da roupa, uma pessoa no transcurso do tempo, investe parte de sua vida emocional em seu lar [...]. Ser despejado, pela força, da própria casa [...] é ser despido de um invólucro, que devido à sua familiaridade protege o ser humano das perplexidades do mundo exterior. (TUAN, 1980, p. 114).
Para Tuan (1983) apud Reis-Alves (2006), um espaço indiferenciado se
transforma em lugar a partir do momento que o conhecemos melhor (nos
familiarizamos) e o dotamos de valor. O espaço é universal, já o lugar é um espaço em
específico, habitado, dotado de valor, sentido e significado.
“Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar.” (TUAN, 1983,
p.83 apud REIS-ALVES, 2006). Machado (2012) também corrobora com este
pensamento quando sugere que os espaços devem transpor a concepção meramente
formal ou imagética de um ambiente e ser propício ao usuário vivenciar experiências
agradáveis, possibilitando a criação de um vínculo afetivo entre o indivíduo e o
ambiente, transformando determinado espaço - meramente funcional - em lugar. Ainda
que consideremos que estes termos sejam distintos, cotidianamente o significado de
espaço frequentemente se funde com o de lugar. “O espaço transforma-se em lugar à
medida que adquire definição e significado.” (TUAN,1983, p.151 apud MACHADO,
2102, p.33).
25
Fuão (2003) ao discorrer sobre o mesmo tema, acredita que um espaço somente
existe para determinada pessoa, a partir do momento que tem sentido para ela. Ou
seja, a real existência do espaço está intimamente atrelada à figura do homem. “Só ao
se tornar ‘para mim’ o espaço recebe um significado, um sentido. O espaço ‘para mim’
ao contrário do espaço em si, só existe porque estou aqui. Nós não dependemos dele;
ele é quem depende de nós, e sem nós nada seria.” (FUÃO, 2003, p. 11). Schulz (s/ d.)
apud Reis-Alves (2006) compartilha da mesma opinião ao considerar que o lugar é a
concreta manifestação do habitar humano, já que ele somente existe através da
vivência humana.
O sentido do espaço só existe a partir da experiência do ‘eu’; portanto, o sentido do espaço da arquitetura não está no interior da abstração do espaço, no interior da arquitetura, na relação utilitária entre o cheio e o vazio, e tampouco nas entranhas das paredes. Qualquer sentido que se possa atribuir está fora dele, muito além de sua superfície. Está no interior de quem o vivencia, está nas pessoas que nele se deslocam constantemente. Curiosamente transportamos o sentido do espaço para qualquer lugar que formos. (FUÃO, 2003, p.12).
O habitar humano tem sido estudado por diversos autores em seus diversos
sentidos. Para Heidegger (1982) apud Camargo (2010) habitar é a “maneira como os
homens fazem seu caminho, desde o nascimento até a morte, sobre a Terra, sob o
céu”. Já sob o ponto de vista material e quantitativo, podemos considerar o habitar
como sendo “ter um teto sobre nossas cabeças e um certo número de metros
quadrados à nossa disposição”. (SCHULZ, 1985 apud CAMARGO, 2010, p. 17). Desta
forma, o real sentido de habitar está na soma entre existência e lugar, uma “unidade
insolúvel entre vida e lugar”. (SCHULZ, 1985 apud CAMARGO, 2010, p. 19).
Ao habitarmos, relações de orientação, identificação e pertencimento são
estabelecidas entre o habitante e o meio em que habita, é quando sabemos onde
estamos, como estamos e porque estamos. “[...] tomamos o ponto específico em que
habitamos como nosso “ponto zero””, nossa referência no espaço, nosso lugar; ao qual
““pertencemos”; do qual nos afastamos periodicamente para experimentar nossa
existência no “mundo vasto” e ao qual retornamos para reencontrar a referência
espacial a que estamos enraizados”. (BOLLNOW, 1969 apud CAMARGO, 2010, p. 20).
Ainda que habitemos outros espaços, a habitação se torna nosso “ponto zero” porque a
habitamos em constância e intensidade. É o lugar onde o habitar privado acontece
proveniente de uma escolha pessoal, para onde nos retiramos do espaço público, do
26
convívio social e da intrusão de estranhos. Nosso “ponto de referência fixo: o lugar que
designamos especificamente para ser nosso ponto de recolhimento em relação ao(s)
nosso(s) habitar(es) no mundo”. (CAMARGO, 2010, p. 22). É o espaço íntimo,
específico e privado do ser humano, em que as relações de afeição são as mais
intensas e diversas. É o que Bachelar (1993, p. 24-26) apud Reis-Alves (2006) definem
como “lugar primeiro do homem, o seu lugar de referência”. “[...] o nosso canto do
mundo. […] abriga o devaneio, […] protege o sonhador, […] permite sonhar em paz”.
O lar acontece a partir dos laços afetivos que desenvolvemos com a habitação,
não sendo ela, portanto, necessariamente um lar. Ele é o sentido do espaço, a alma da
habitação, oriunda da vitalidade de seus habitantes e da vivência acumulada. O lar
abrange “a percepção subjetiva que vem da experiência de habitar o espaço físico”, é “a
moradia que é percebida subjetivamente”. (CAMARGO, 2010, p. 30). É “uma condição
complexa que integra memórias, imagens, passado e presente, [...] um complexo de
ritos pessoais e rotinas quotidianas que constitui o reflexo de seus habitantes, aí
incluídos seus sonhos, esperanças e dramas.” (MIGUEL, 2002, p. 2).
Ao entendermos a casa como a terceira pele individual, o lar é a pele coletiva, a que integra, protege e une todos os integrantes do ramo familiar ao redor de um foco centralizado, o focus, o fogo ardente, símbolo espiritual da união e da integração. (MIGUEL, 2002, p. 2).
2.3. Demandas contemporâneas
A sociedade atual vem passando por uma série de transformações em
conseqüência de diversos fatores, de ordem demográfica, social, econômica,
cultural, ideológica e comportamental. Todas estas transformações vêm afetando e
alterando o tamanho, a estrutura e a função da família, gerando múltiplos tipos de
novos grupos domésticos que correspondem a novas formas de habitar, portanto,
exigentes de novas tipologias de espaço de habitação. (TRAMONTANO, 1993).
27
Ilustração 1 - Arranjos familiares contemporâneos plurais (JORGE, 2012).
No processo evolutivo da habitação no Brasil podemos destacar dois padrões:
o burguês oitocentista e o moderno.
A habitação burguesa é um modelo baseado na configuração tradicional da
burguesia européia do século XIX e caracterizado pela tripartição em espaços de
prestígio, isolamento, e rejeição, tradicionalmente caracterizados como social, íntimo
e serviços. O espaço de rejeição ou de serviços é formado pelo banheiro, a cozinha
e o quarto de empregada. Espaços íntimos ou de isolamento são os quartos e sala
de comer (copa). A sala de visitas é o local de prestígio, a parte social da habitação,
onde se recebem as visitas. A loja, espaço de trabalho, é um anexo da casa.
A família tradicional burguesa era uma família nuclear (família extensa),
formada por pai, mãe e muitos filhos. O pai, normalmente, trabalhava em casa e era
o responsável pelo sustento da família. Empregados domésticos eram os
responsáveis pelo funcionamento da casa, e ficavam isolados propositadamente dos
patrões. Um modelo baseado nos sistema de produção agrícola da sociedade
feudal.
A habitação moderna se caracteriza pela bipartição dia-noite. Os quartos e o
banheiro são espaços de uso íntimo e noturno (repouso). A cozinha centralizada,
não mais isolada, e a sala de estar são o coração do funcionamento diurno da casa
(convívio). Não existe mais espaço para o trabalho em casa, pois as áreas são
reduzidas ao mínimo necessário.
28
A família moderna era também uma família nuclear, centralizada no pai e nas
mães, mas com menos filhos que a família burguesa, devido à queda de
fecundidade iniciada no inicio do século XX. O pai trabalhava fora, normalmente
como empregado de uma grande empresa ou indústria, e era o responsável pelo
sustento da família. A mulher passou a substituir a empregada doméstica é passou a
ser a responsável pelo funcionamento da casa. O modelo moderno se baseava
numa sociedade de produção industrial, o homem como mão de obra produtiva.
A habitação contemporânea, tanto a social como a “de maior status”, vem
repetindo estas duas fórmulas há décadas, permanecendo imutável sob a alegação
de um resultado projetual economicamente viável e que atende às necessidades
“básicas” de seus moradores. Ela tende a ser habitada por grupos domésticos cujo
perfil difere cada vez mais da família nuclear tradicional, e cujos modos de vida
apresentam transformações cada vez mais rápidas, tornando a repetição dos
padrões anteriores uma atitude inapropriada.
Para Tramontano (1993) estes novos grupos domésticos podem ser definidos
da seguinte forma:
1. Nova família nuclear
Este modelo é cada vez menos predominante e é marcado pelas seguintes
características: formado por um núcleo conjugal e filhos; diminuição da fecundidade
e, portanto, um menor número de filhos; individualidade; inserção da mulher como
força de trabalho, já não sendo o homem o único e exclusivo provedor da família; e a
independência dos filhos cada vez mais cedo.
2. Família monoparental
Mãe ou pai solteiro com filhos, liderada na maior parte das vezes pelas
mulheres, resultado pelo aumento do número de divórcios e separações.
3. Uniões livres
Casais sem vínculos legais e sem filhos, sendo a primeira opção de vida
conjugal para a maioria dos jovens, devido às incertezas em relação ao casamento e
29
à perda de importância de valores religiosos. Outra característica é a liberdade
sexual e o aumento do respeito por uniões homossexuais.
4. Pessoas vivendo sós
Solteiros, viúvos (predominante entre mulheres), separados ou desquitados
(predominante entre homens que só recebem os filhos nos fins de semana), e
estudantes universitários.
5. Coabitação sem vínculo conjugal ou de parentesco
Republicas de estudantes ou jovens trabalhadores onde as relações internas
são baseadas na transitoriedade da habitação.
Ilustração 2 - Novos grupos domésticos.
Fonte: <http://novasformasdemorar.blogspot.com.br/>.
Muitas vezes, estas variações apenas existem em períodos do ciclo familiar,
de maneira simultânea ou alternada, e na concepção de um novo modelo de
habitação compatível às demandas atuais, a esta flexibilidade espera-se
corresponder uma flexibilidade do espaço da habitação, capaz de absorver as
contínuas transformações.
Villà (2008) entende que existe uma visão conservadora em relação à
habitação, sendo os tipos de arranjo espacial e de configuração predominantes,
30
insuficientes em conseqüência das grandes mudanças que vêm sendo processadas
na vida social, como: o crescimento do número de mulheres incorporadas no
mercado de trabalho; a diminuição da natalidade; o aumento da longevidade e
envelhecimento da população; os novos tipos de núcleos familiares e por
consequência o aumento do número de domicílios ocupados por uma e duas
pessoas; a liberação sexual; a fragilidade cada vez maior das uniões; a diminuição
crescente de domicílios assistidos por empregadas domésticas; a tendência
crescente de utilização do próprio domicilio como lugar de trabalho e a incorporação
também crescente de equipamentos domésticos e eletrônicos no dia a dia do
indivíduo; além de mudanças comportamentais e de formas de convivência,
decorrentes de uma maior liberdade individual, da redução do tempo de
permanência no mesmo domicílio, decorrentes das mudanças de local de trabalho e
da mobilidade social e, evidentemente, as mudanças ao longo do tempo do número
de membros da família.
Apesar das incontestáveis contribuições à racionalização e à ciência da edificação, após um século, acredita-se que as mesmas regras, essencialmente modernas e universalizantes, ainda dominem a produção imobiliária atual: repetição idêntica de apartamentos tipo, preceitos funcionalistas, exigências mínimas relativas à habitabilidade, normas dimensionais padronizadas. Esses critérios, álibis perfeitos para uma arquitetura direcionada a usuários desconhecidos, disseminam, ainda hoje, modelos de caráter universal, reforçadas por estratégias mercadológicas que homogeneízam o comportamento e pouco favorece o uso diversificado do espaço da habitação, condição indispensável ao sujeito contemporâneo, ao estilo de vida plural das novas estruturas familiares, as rápidas transformações sociais, tecnológicas e culturais do mundo contemporâneo. (JORGE, 2012, p. 15).
“[...] os espaços habitacionais são cada vez mais imprevisíveis e inexatos
dada a grande diversidade da sociedade, não podendo existir uma padronização das
habitações” (SILVA e ELOY, 2012, p. 198). Sendo a habitação, reflexo imediato das
alterações sofridas nos diversos grupos da sociedade, é uma das valências que
mais se ressente com a falta de flexibilidade espacial, sendo, portanto, vital que as
formas de se conceber e construir o espaço do habitar privado sejam repensadas e
readequadas a atual realidade.
As novas propostas de habitação deverão nascer do reconhecimento da experiência do passado, da crítica radical da situação presente, das necessidades concretas da sociedade atual e do avanço técnico-construtivo que pode permitir hoje uma melhor resolução de propostas que no passado foram um pouco mais do que conceitos. (VILLÀ, 2008, p. 8).
31
Em um cenário problemático, no qual a habitação vem deixando de fora o que
deveria ser seu “motivo”, o homem; e frente às atuais e reais necessidades da
sociedade contemporânea, a flexibilidade se apresenta como um conceito bastante
apropriado no que diz respeito à habitação, capaz de agregar qualidades essenciais
ao espaço do habitar privado, inclusive arquitetônicas, renovando-o, dotando-o de
coerência e possibilitando o real desenvolvimento de suas funções e valores. Por
tudo isso, passaremos a seguir a destrinchar o conceito de flexibilidade.
Os seres humanos são criaturas flexíveis. Nós mudamos de vontade, manipulamos objetos e atuamos em um grande número de ambientes. Existiu um tempo, não faz muitos anos, em que a existência se baseava na nossa capacidade de movimento e adaptação; de fato, a isto devemos nossa sobrevivência como espécie. Atualmente, a maioria das culturas leva uma vida mais ou menos sedentária, mas pode ser que a flexibilidade esteja voltando a constituir novamente uma prioridade no desenvolvimento humano e que as mudanças tecnológicas, sociais e econômicas estejam forçando, ao menos alentando, uma nova forma de existência nômade baseada nos mercados globais, na world wide web e no transporte econômico e rápido (KRONENBURG, 2007, p.9, apud JORGE, 2012, p. 169).
32
33
3. Capítulo 2 - Flexibilidade
3.1. O que é flexibilidade?
Na arquitetura a flexibilidade pode ser considerada uma qualidade espacial.
Quando presente ela tende a fazer com que o espaço permaneça útil e eficaz ao
longo do tempo, permitindo a ele a capacidade de se transformar à medida que
novas demandas são fornecidas, dotando-o de validade e atemporalidade. Ela é
responsável por manter a congruência do espaço, a conformidade entre ele e os
usos ou funções estabelecidos (OSORIO, 2002 apud TEIXEIRA, 2012),
possibilitando a exploração da metamorfose espacial e a relação de interação
constante entre esse e seus usuários, incluindo-os em seus processos de
concepção, construção e transformação. Um espaço incapaz de responder
adequadamente às solicitações de quem o utiliza se torna um espaço descartável,
daí a importância da flexibilidade.
Entendemos por flexibilidade em arquitetura, toda configuração construtiva e formal que permita uma diversidade de formas de uso, ocupação e organização do espaço, ao longo da vida do edifício, como resposta às múltiplas e mutáveis exigências da sociedade [...] (VILLÀ, 2008, p. 8).
A flexibilidade pode compreender um determinado espaço de diversas formas
e em níveis diferenciados, de acordo com o planejamento e a intenção de quem o
pensa. Estes níveis são o que determinam a diferença entre uma arquitetura
flexível e flexibilidade em arquitetura.
Uma arquitetura flexível pode ser definida pela utilização do conceito de
flexibilidade na totalidade do objeto construído, seja na fase de concepção e
elaboração do projeto, na fase construtiva ou na de devida e efetiva utilização por
seus usuários. Já a flexibilidade em arquitetura é definida pela forma parcial em
que acontece, adotando a flexibilidade em focos do projeto, em momentos ou pontos
específicos. Ambas possuem a aplicação do conceito, mas diferem em abrangência.
34
O conceito de flexibilidade está diretamente associado ao de polivalência,
de versatilidade e de adaptabilidade, definidos da seguinte forma de acordo com o
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa3:
• Flexibilidade: Que tem aptidão para trabalhos e estudos de natureza diversa;
qualidade daquilo que é flexível. Que se submete; que se acomoda; que se
presta.
• Polivalência: A qualidade daquilo que possui muitos usos ou daquele que
possui muitas habilidades, propriedade do que é polivalente, que tem várias
funções ou utilidades diferentes, versátil.
• Versatilidade: Estado, condição ou qualidade de versátil, propenso a mudar,
inconstante, volátil, volúvel, que tem várias qualidades ou utilidades,
polivalente.
• Adaptabilidade: Qualidade ou capacidade do que é adaptável, que pode ser
adaptado. Sendo adaptar a capacidade de se tornar apto, de fazer com que
uma coisa se combine convenientemente com outra; acomodar, apropriar.
Sendo assim, um espaço dotado de flexibilidade é um espaço polivalente,
versátil e adaptável, ou seja, propício à realização de várias atividades, funções e
usos sem grandes intervenções físicas; um espaço com maior longevidade funcional
e eficácia, estando a flexibilidade, portanto, diretamente ligada à sustentabilidade da
arquitetura. Além deste aspecto, sua aplicação justifica-se por diversas outras
questões, de ordens econômica, operacional e ambiental. Se planejada e aplicada
em projetos de edificações, ela pode ser capaz de eliminar custos futuros com
reformas, de diminuir ou sanar a geração de resíduos e de dinamizar e otimizar
espaços.
É uma qualidade que não pode ser inserida ao espaço. Deve ser planejada
durante o processo projetual, pensada a curto e a longo prazo. (TEIXEIRA, 2011).
Sua presença esta diretamente ligada à qualidade ambiental e a capacidade de
suprir as necessidades de seus usuários, sendo que a possibilidade de abranger
3 Fonte: <http://www.priberam.pt/dlpo/>.
35
diversos tipos de usuários e de demandas significa uma maior prevalência e tempo
de vida útil e eficaz.
Por tudo isso, ou por necessidade, consciência ambiental ou estratégia
econômica, atualmente, a investigação do conceito e parâmetros de flexibilidade é
uma tendência em real crescimento, justificando-se nas várias e grandes
transformações pelas quais passa a sociedade atual.
O tema é um desafio à necessidade constante de transformação desse espaço e adequação às novas formas de viver, proporcionando maior autonomia, satisfação e conforto ao morador, além de ampliar a vida útil do edifício. A flexibilidade seria, portanto, a ferramenta magistral para acompanhar as incertezas imprevisíveis do futuro, coibindo a falência arquitetônica [...]. (JORGE, 2012, p. 39).
[...] a coerência da obra arquitetônica e sua consequente validade ao longo do tempo estão relacionadas, de um lado, à sua capacidade de adaptar-se às novas demandas de seus usuários e, de outro, às inovações tecnológicas. Acredita-se que essas necessidades têm transformado a flexibilidade em um imperativo para a concepção de novos espaços arquitetônicos. (TEIXEIRA, 2011, p. 10).
Todas as transformações que acontecem nos mais variados setores da vida
moderna produzem mudanças nas necessidades individuais e coletivas dos
indivíduos e por conseqüência apontam a flexibilidade como necessidade, “um
aspecto ao qual a arquitetura deve responder.” (SILVA e ELOY, 2012, p. 191). E
embora ela não seja uma novidade, sua aplicabilidade na arquitetura ainda
restringe-se a exemplos pontuais, na maior parte das vezes produto da investigação
de profissionais e teóricos da área.
No Brasil, grande parte da atual produção civil segue métodos construtivos
convencionais, definidos por estrutura de concreto armado com vãos de
aproximadamente 3 a 5 metros e alvenaria para vedação, e padrões de configuração
já ultrapassados, formalizações impostas pelo mercado e alheias às mudanças da
sociedade e às suas novas necessidades (VILLÀ, 2008). Esta quase estagnação
tecnológica no campo da produção civil vem contra a inserção da flexibilidade como
prática projetual e construtiva, já que esta se encontra totalmente associada à
evolução tecnológica. No entanto, esta estagnação não representa a não existência
ou ineficácia desses novos métodos e modelos, ela representa a relutância em
aderir novas tecnologias, que associadas à novos materiais de construção e à novas
soluções de projetos poderiam permitir maior flexibilidade espacial e de uso.
36
Permitir às pessoas que usem seus lares de sua própria maneira e adaptar seu ambiente à sua própria vontade, não só permite transformar um edifício de um espaço anônimo para um lugar especifico, mas também provê a flexibilidade para mudar com as circunstancias futuras. (KRONENBURG, 2007, apud FINKELSTEIN, 2009, p. 64).
3.2. Flexibilidade em Arquitetura
O conceito de flexibilidade vem se fazendo presente na história da arquitetura
desde tempos distantes, estabelecendo-se como tal, de forma permanentemente
sólida, sob o olhar atento do movimento moderno, no século XX. As manifestações
anteriores a este período resumem-se basicamente em determinações provenientes
do conceito funcionalista, ou daquelas baseadas em influências culturais de povos
específicos, como os índios americanos, nômades que desmontavam suas cabanas
e se mudavam de um lugar para outro, e os orientais, que faziam casas em que
todos os cômodos se integravam e não possuíam uma função determinada;
Durante o Renascimento4 (séculos XIV e XV) a arquitetura foi marcada pela
racionalidade e funcionalidade. O homem passou a se reconhecer como ser ativo e
modificador do meio para uso próprio, dando origem à idéia inicial de flexibilidade
(OSÓRIO, 2002, apud TEIXEIRA, 2011). Foi nesta época que Vitrúvio afirmou uma
arquitetura que se adequasse à sua função e às necessidades do homem; conceitos
ainda válidos na definição atual de flexibilidade.
A arquitetura maneirista (século XVI) foi marcada por uma estilização
exagerada e capricho nos detalhes, um retorno aos valores clássicos e naturalistas
de antes do renascimento. Apesar disso, o homem continuou sendo o centro e
defensor da funcionalidade, condenando a utilização das formas inúteis.
Durante o movimento Barroco (meados do século XVI até o XVIII) a liberdade
é posta em questão, seja ela espacial, de regras e convenções ou mesmo da
geometria elementar e simetria, apresentando a idéia de integração entre ambientes
4 Movimento baseado no Humanismo, corrente filosófica que coloca o homem no centro de toda ação e capaz de escolhas próprias, sustentada pelo antropocentrismo, em oposição ao pensamento vigente na Idade Média, o teocentrismo (Deus como o centro).
37
internos e externos. Além disso, a funcionalidade continuou sendo defendida, de
modo que o ideal era uma arquitetura que atendesse substancialmente a sua
finalidade.
Assim como o maneirismo, o movimento neoclassicista (com origem no final
do século XVIII), na arquitetura, “condenava todas as formas que não atendiam a
uma necessidade prática”, no entanto, opondo-se aos excessos do barroco
(TEIXEIRA, 2011, p. 25). Aqui, a condenação das formas inúteis tinha em vista o
rendimento lucrativo da produção industrial, e o supérfluo era evitado tanto na
estrutura como na decoração. O desenvolvimento industrial e tecnológico da época
possibilitou o aperfeiçoamento de técnicas e o surgimento de novos materiais, como
a combinação de ferro e vidro e o concreto com armaduras, que passou a
possibilitar grandes vãos, contribuindo para a flexibilização do espaço.
O Modernismo, movimento com origem na primeira metade do século XX, de
caráter funcionalista baseado na proposição “a forma segue a função”, condenava a
ornamentação, por entendê-la como algo sem função e defendia uma arquitetura
limpa. Foi durante o movimento moderno que a flexibilidade encontrou espaço e
estabeleceu-se como conceito sólido e independente da questão funcionalista.
Passou a ser aplicada na arquitetura e esteve presente no repertório técnico e
teórico da época. Le Corbusier, um dos maiores nomes do movimento e
influenciador de vários outros arquitetos, ao propor uma arquitetura universal,
desenvolveu uma doutrina que viria a ser o centro norteador desse, tendo como uma
de suas bases o conceito da flexibilidade. A partir daí foram instituídos os cinco
pontos da arquitetura moderna, um deles, a planta livre, conseqüência da separação
entre estrutura e vedação, possibilitou maior diversidade dos espaços internos,
várias combinações de compartimentação, bem como mais flexibilidade na sua
articulação. No Pós-Modernismo (movimento com origem na segunda metade do
século XX), várias correntes surgiram em oposição aos ideais modernistas, e a
relação com o conceito de flexibilidade estabeleceu-se de acordo com cada uma
delas.
O fato é que, em todos os momentos históricos da arquitetura a flexibilidade
esteve associada ao conceito de funcionalidade, sendo ela um tipo de funcionalismo
(OSÓRIO, 2002 apud TEIXEIRA, 2011). O conceito de flexibilidade que atualmente
38
conhecemos é mais sólido, consistente, entendido como algo a ser planejado e
aplicado; ainda um funcionalismo, mas não apenas. Dessa forma, no âmbito da
habitação, optou-se por analisar a aplicação do conceito a partir do movimento
moderno, onde de fato as manifestações a respeito passaram a obter maior
apropriação e visibilidade.
3.3. Flexibilidade e Habitação
Apesar do conceito de flexibilidade ter ganhado espaço e se estabelecido
somente no século XX, algumas manifestações associadas à habitação, anteriores a
este período, merecem ser citadas, apesar de estarem mais atreladas a questões de
contexto do que à sã intenção de aplicação do conceito.
De acordo com Tramontano (1993), antes do século XVI as habitações eram
configuradas em verdadeiros espaços multiusos, sem definições de usos ou
compartimentações rígidas. A partir do século XVI com o processo de nuclearização
da família e individualização de seus membros, que passaram a exigir do ambiente
privado maior privacidade, o espaço de morar foi profundamente alterado. Já no
século XIX, a esta família nuclear, passou a corresponder uma concepção de
habitação extremamente compartimentada e setorizada.
Somente a partir do movimento moderno, com origem na Europa, essa
concepção de habitação oitocentista passou a ser contestada. Os “desdobramentos
de certas ideologias, atitudes políticas, conjunturas econômicas e avanços técnicos
originados - ou acentuados - a partir da industrialização do continente, ocorrida
principalmente no eixo Inglaterra-França-Alemanha”, deu subsídios e espaço a uma
nova concepção de habitação, uma proposta moderna baseada nos novos modos
de vida.
Na Europa, a industrialização e o desenvolvimento tecnológico, assim como o
contexto de pós-guerra, propiciaram a inserção do conceito de flexibilidade no
campo da habitação, como conseqüência natural de uma série de progressos
técnicos buscando atender a novas necessidades funcionais. O uso do ferro fundido
39
e posteriormente do aço e do concreto armado, permitiu a verticalização da
habitação assim como a liberação da planta pela estrutura e o uso de divisórias
moveis para vedação, assegurando ampla flexibilidade espacial e de uso. “Estas
inclusões das novas técnicas construtivas do ferro e do concreto armado no espaço
privado da habitação certamente terão contribuído para a afirmação da estrutura
como elemento arquitetônico.” (TRAMONTANO, 1993, p. 4).
O projeto da Maison Dom-Ino (Casa Dominó) de Le Corbusier, proposto em
1915 é um exemplo: a estrutura é tratada de forma plástica e independente, tanto
das vedações internas como das externas. Foi um projeto concebido para a
produção em série, por meio de estrutura pré-fabricada e painéis leves, opacos ou
transparentes, para vedação. Por não serem mais portantes, as vedações assumem
seu papel estético e permitem soluções espaciais mais próximas das necessidades
de seus moradores.
Ilustração 3 - Maison Dom-Ino, Le Corbusier, 1915.
Projeto de habitação concebido para reprodução em série com utilização de estrutura pré-fabricada de concreto armado e painéis móveis para vedações internas e externas.
Fonte: <http://mahmoud-mohamadin.blogspot.com.br/2012_02_01_archive.html>.
40
Ilustração 4 - Maison Dom-Ino, Le Corbusier, 1915.
Fonte: <http://www.studyblue.com/notes/note/n/final-2/deck/6214367>.
A idéia da disseminação da moradia pré-fabricada é defendida no inicio do
século XX. Gropius entende que sendo a habitação um elemento auxiliador do
quotidiano do homem, deveria ser produzida em série, assim como os outros
elementos, roupas, sapatos e automóveis, prevendo flexibilidade ao sistema para
que fosse possível sua adaptação aos vários tipos de família.
“A organização [da produção habitacional]” [...] “deve ter como alvo não a produção de casas inteiras, em primeiro lugar, mas componentes padronizados, fabricados em série, de modo, porém, que permita montar diferentes tipos de casas, assim como na construção de máquinas certas partes normatizadas encontram aplicação internacional em diferentes máquinas.” (GROPIUS, 1923, apud TRAMONTANO, 1993, p. 6).
Na Alemanha pós-guerra vários conjuntos de habitações organizadas em
blocos foram erguidos com vistas à reconstrução do país. Estas habitações
apresentavam espaços internos bastantes reformulados se comparados aos
espaços domésticos das classes populares de antes da guerra. Neste novo tipo de
configuração interna o estar ganhou mais área e a cozinha foi inserida ao espaço de
convívio, tornando-se o verdadeiro núcleo da unidade, já que agora a mãe de família
era encarregada dos serviços domésticos, diferentemente da configuração
oitocentista que confinava os habitantes entre espaços de serviços e espaços de
prestígio. Os ambientes foram reduzidos ao mínimo necessário, contribuindo para a
redução do tempo gasto com os afazeres domésticos e respondendo à fatores
econômicos da época, principalmente após a crise de 1929.
Esta redução de área “ao mínimo necessário” é, aliás, uma preocupação que rege a concepção da totalidade da habitação: “qualquer fração de
41
espaço que não seja efetivamente ‘habitada’, dimensionada para um ato humano preciso”, [...] “só poderá perturbar a percepção do espaço e a clareza das sensações.” (ARGAN, 1984, apud TRAMONTANO, 1993, p. 7).
A redução das unidades de habitação exigiu a produção de componentes
móveis e adaptáveis para as moradias, como portas de correr, armários embutidos,
mesas dobráveis, camas escamoteáveis, etc., contribuindo para o aproveitamento
máximo dos espaços. O conceito da “habitação mínima” foi desenvolvido sob tais
influências e assumido por Walter Gropius no Congresso Urbanístico de Bruxelas,
em 1930. Tal conceito correspondia a um espaço capaz de abrigar as mínimas
necessidades existenciais, propondo uma nova relação entre a moradia e a vida
social. Juntamente com esta nova idéia de habitar privado vemos inserido o conceito
de flexibilidade, possibilitando que “todo e qualquer espaço” seja “efetivamente
habitado”.
A idéia era clara. Trazendo-a para o nosso contexto e na atualidade, seria algo semelhante a morar num pequeno apartamento no bairro de Copacabana. No pequeno apartamento, pensado e medido ergonomicamente para precisas ações e usos, todo e qualquer espaço é efetivamente habitado. Lá fora, a partir do limiar da porta do edifício, a vida magnífica da cidade densamente habitada com todos os seus benefícios. Interior e exterior intimamente relacionados. Um, extensão e complemento do outro. (VILLÀ, 2008, p. 2).
Dois protótipos residenciais de Walter Gropius, o primeiro de 1927 e o
segundo de 1932, desenvolvidos sob esse aspecto de uma nova configuração
interna mais flexível. Neles, a cozinha se torna o centro da unidade,
desempenhando papel de ligação entre os demais cômodos da casa e sendo parte
do espaço do convívio. Ambos os projetos foram executados com painéis leves e
pré-fabricados, sendo o segundo uma casa desenvolvida sob o título de
desmontável e ampliável, em que a cozinha, reduzida à uma bancada na área de
convívio, e os demais espaços de higiene caracterizam um bloco que permanece
imutável e os demais ambientes ganham a característica de flexíveis, podendo ser
acrescentados de acordo com as futuras fases de ampliações da casa.
42
Ilustração 5 - Casa unifamiliar de Weissenhof, Walter Gropius, 1927.
Fonte: <http://www.archweb.it/dwg/arch_arredi_famosi/Gropius/unifamiliare_Weissenhof/casa_unif_weissenh
of.htm>.
Mies Van Der Rohe também desenvolveu projetos sob o prisma da
flexibilidade espacial através do uso da estrutura independente e da planta livre, um
exemplo é seu edifício de apartamentos construído em Weissenhofsiedlungo em que
utilizou estrutura de aço e divisórias internas leves. Nesta ocasião, Mies considera
que:
Hoje, o fator econômico torna a racionalização e a estandardização imperativas para a moradia locativa. Por outro lado, a complexidade cada vez maior de nossas necessidades exige maleabilidade. O futuro deverá considerar ambas as noções. Para isso, a construção com estrutura independente é o sistema mais adaptado. Ela torna possível os métodos de construção apropriados e permite que o interior seja dividido livremente. Se considerarmos as cozinhas e os banheiros como um núcleo fixo, então todo o resto do espaço pode ser vedado graças a paredes móveis. Na minha opinião, isto deveria satisfazer todas as exigências normais. (FRAMPTON (1985) apud TRAMONTANO, 1993, p. 8).
Em suas palavras, Mies une o fator econômico da época à necessidade de
moradias mais racionalizadas e replicáveis, no entanto, considera que as
necessidades cada vez mais variadas e maiores da sociedade demanda
43
maleabilidade à estas novas unidades habitacionais, defendendo para isso, a
independência da estrutura e a planta livre, elementos essenciais também na obra
de Le Corbusier.
Em seu projeto da Casa Citrohan, de 1920, Le Corbusier propõe uma nova
articulação entre os cômodos. Uma residência unifamiliar dividida em três
pavimentos com pé-direito duplo para a sala de estar; uma espécie de sala intima ao
quarto do casal, o boudoir; uma escada que dá acesso aos quartos dos filhos
situados no terceiro pavimento, totalmente independentes agora contando com
sanitário, lavatório e armários embutidos; e um terraço-jardim. Posteriormente, ele
viria a retomar estes princípios de distribuição em outros projetos, transformando-se
em referência para vários profissionais da época, inclusive brasileiros, e antecipando
o enunciado dos Cinco Pontos da Arquitetura Moderna:
1. Os pilotis elevam a casa do solo, tornando-a mais saudável. 2. As coberturas-jardim proporcionam o uso do espaço do antigo telhado; a terra e as plantas protegem o concreto. 3. A planta livre permite que a divisão dos espaços se dissocie da estrutura. 4. As paredes de vidro, ou longas janelas, tornam-se possíveis graças à estrutura independente. 5. As fachadas livres são leves membranas, eventualmente de vidro, sem compromisso com a estrutura nem com a divisão interna. (TRAMONTANO, 1993, p. 9).
Enquanto isso, no Brasil, alguns arquitetos da época já se levantavam contra
o ecletismo dominante e em busca de um estilo que fosse capaz de valorizar
tradições históricas particulares do país, progressivamente mascaradas e
descaracterizadas por influências culturais e econômicas européias.
Buscou-se soluções na arquitetura vernacular, o que contribuiu para criar
condições favoráveis ao desenvolvimento de uma nova arquitetura. No entanto,
enquanto que na Europa assistia-se a uma intensa industrialização e evolução
tecnológica, no Brasil o processo de industrialização iniciava-se timidamente sob o
olhar reprovador de uma classe dominante estabelecida pelos campos de café.
Esta burguesia que vivia de acordo com moldes europeus também produzia e
habitava em casas espelhadas nas habitações européias do final do século XIX,
rigidamente compartimentadas e setorizadas. Enquanto isso, as habitações
populares basearam-se nos primeiros agrupamentos destinados a operários na
Inglaterra, também do inicio do século XIX.
44
[...] fileiras de casas pequeninas - às vezes mesmo apenas de quartos - edificadas ao longo de um terreno mais profundo, abrindo para pátio ou corredor com feição de ruela. Nesses casos, era freqüente a existência de um só conjunto de instalações sanitárias e tanques, dispostos no pátio para uso comum. (REIS FILHO, 1970, apud TRAMONTANO, 1993, p. 10).
As divisões internas destas habitações eram feitas geralmente através de
cortinas, armários ou painéis de madeira improvisados, o que talvez tenha vinculado
para a sociedade no geral, uma idéia de precariedade e miséria material.
(TRAMONTANO, 1993). As péssimas condições dessas habitações e seus
problemas de super população não eram preocupações das autoridades locais, se
tornando até ponto de especulação através da construção de imóveis de aluguel.
A terra crua foi largamente utilizada até fins do século XIX, sendo substituída
gradativamente pela alvenaria de tijolos. Elementos industrializados eram
encontrados apenas em algumas casas de pessoas mais ricas, no entanto, eram
incorporados à massa das alvenarias, e apesar de o concreto armado ter sua
produção iniciada no Brasil por volta do fim da Primeira Guerra Mundial, seu uso não
foi difundido inicialmente.
A solução preferida pelo público e pelos arquitetos da época ainda eram as
paredes portantes de alvenaria de tijolos, tanto por razões econômicas quanto por
não demandar mão-de-obra especializada, e, ainda, por permitir um aspecto final
correspondente aos vários estilos em moda na época. Depois da verticalização dos
primeiros edifícios brasileiros após a Primeira Guerra Mundial, nos anos 30 surgem
os primeiros edifícios de apartamentos, contudo, ainda formulados sob a influência
da maneira de morar já estabelecida da burguesia brasileira. Álvaro Vital-Brazil,
influenciado por Le Corbusier, projetou o primeiro grande edifício com estrutura
independente de concreto construído no Brasil, entre 1935 e 1938, o Edifício Esther,
localizado em São Paulo e destinado ao uso de escritórios e habitações. As zonas
úmidas e as circulações verticais e horizontais situavam-se no centro da planta
retangular, liberando grandes áreas iluminadas por faixas horizontais de janelas para
os espaços de convívio e de dormir. No entanto, toda a flexibilidade obtida em
projeto e construção foi posteriormente enclausurada entre vedações internas feitas
em alvenaria de tijolos. Algumas unidades continham dois níveis e as de cobertura
dispunham de terraços-jardins.
45
Ilustração 6 - Edifício Esther, Álvaro Vital-Brazil, 1938.
Edifício voltado para uso habitacional e de escritórios, sendo o autor influenciado por Le Corbusier.
Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/03.031/3184>.
Ilustração 7 - Edifício do Ministério da Educação - Rio de Janeiro, Le Corbusier.
Fonte: <http://modernismoseculoxx.blogspot.com.br/2011/02/le-corbusier.html>.
Le Corbusier voltou ao Brasil em sua segunda visita em 1936, com o objetivo
de participar dos projetos do novo edifício do Ministério da Educação e da nova
Cidade Universitária da cidade do Rio de Janeiro, sugerida por Lúcio Costa. A
construção concluída no inicio dos anos quarenta marcou o êxito da nova arquitetura
46
no Brasil. A flexibilização de espaços através da planta livre e o uso de divisórias
internas obteve aceitação a partir da consagração da nova arquitetura pela crítica
internacional, elevando o ego e o sentimento nacional.
Ilustração 8 - Planta geral da Cidade Universitária - Rio de Janeiro, Le Corbusier, 1937.
Fonte: <http://www.urbanismobr.org/bd/documentos.php?id=830>.
A partir dos anos quarenta aconteceu a aceleração da industrialização do
país e a disseminação do concreto armado como solução também para programas
residenciais. Em 1944, Rino Levi projetou o elegante Edifício Prudência, em São
Paulo, onde desenvolveu o conceito de flexibilidade ligado ao ambiente doméstico
de forma inédita no país. Ele dividiu a área do apartamento em duas zonas, uma que
abrigava as áreas úmidas e outra destinada aos espaços de convívio e aos quartos,
delimitados por divisórias leves e armários.
47
Ilustração 9 e 10 - Edifício Prudência e opções de layout dos espaços flexíveis.- São Paulo, Rino Levi.
Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.120/3437>.
Affonso Reidy, integrante da equipe de Le Corbusier no projeto do Ministério
da Educação, foi o autor de uma das mais importantes realizações modernas da
época, o conjunto habitacional Pedregulho, no Rio de Janeiro. Além da aplicação da
noção de flexibilidade no ambiente doméstico, o Pedregulho refletiu outra
preocupação da época, a habitação coletiva. Por tratar-se de uma área útil reduzida,
o aproveitamento dos espaços internos das habitações foi levado em consideração,
no entanto, suas disposições internas pareceram muito mais ditadas por limitações
econômicas do que pela busca de novas concepções do espaço de morar. Cada
unidade contava com uma área reduzida e totalmente compartimentada, exceto
habitações de um único nível, que utilizam painéis divisórios e armários como
separação entre cômodos.
Ilustração 11 - Conjunto Habitacional Pedregulho, Rio de Janeiro, Affonso
Reidy.
Fonte: <http://blogs.estadao.com.br/daniel-
piza/reidy-e-a-tradicao-do-esquecimento/>.
48
Um real uso da flexibilidade em pequenas habitações apenas foi esboçada no
final da década de 1960 pelos arquitetos Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo
Mendes da Rocha, na Unidade Habitacional do Parque CECAP, em Guarulhos.
Neste projeto foram usados painéis divisórios leves e módulos pré-fabricados de
armários que compunham vedações externas.
Os avanços técnicos e tecnológicos provenientes da industrialização
permitiram a independência entre elementos estruturais e vedações, que por sua
vez viabilizaram a planta livre, a produção em série de componentes construtivos e a
execução e uso de materiais leves e facilmente transportáveis em fachadas e
divisões internas.
Toda a noção de flexibilidade desenvolvida durante o Movimento Moderno,
principalmente no que diz respeito à habitação, esteve esquecida durante alguns
últimos anos, sendo que atualmente tem sido retomada e relida em vistas a se
adaptar aos dias e necessidades atuais. Presenciamos ainda hoje a permanência de
modelos ultrapassados no que diz respeito à grande produção de moradias, regidas
por uma compartimentação e uma setorização rígidas e caducas, culminando na
reprodução de unidades genéricas e incompatíveis. Mais uma vez, a flexibilidade
tem surgido como saída, senão solução, para a adaptação do espaço físico do
habitar privado à realidade das sociedades atuais, em constantes transformações.
49
50
4. Capítulo 3 – Flexibilidade aplicada
O conceito de flexibilidade, na arquitetura, implica uma associação à natureza
espacial, à tecnologia construtiva, ao programa e aos usuários, e traduz-se em tipos
e formas, que serão apresentados a seguir.
4.1. Tipos de flexibilidade
4.1.1. Inicial
A flexibilidade inicial é um tipo de flexibilidade de forma intrínseca e acontece
no momento de concepção do espaço; antes da ocupação, permitindo ao utente
escolher a partir de uma oferta diversificada de programas funcionais e
configurações na fase de projeto, optando pela opção de sua preferência e que o
atenda melhor. É um tipo de flexibilidade que tem sido bastante aplicado em projetos
de unidades habitacionais coletivas, onde o comprador, o primeiro usuário, tem a
possibilidade de escolher entre tantas alternativas de configurações para sua
unidade. No entanto, a possibilidade de escolha é apenas inicial, para qualquer
futura adaptação é necessário lançar mão de reformas.
Uma escolha diversificada, adequada a várias situações sociais distintas, como por exemplo para solteiros, casais novos, coabitantes, reformados, estudantes entre outros, poderá satisfazer muito melhor as necessidades imediatas e futuras, dos habitantes. Com uma oferta variada e diversificada, a escolha além de simplificada, resultará bastante mais próxima das aspirações e desejos dos compradores. (PAIVA, 2002, p. 145).
4.1.2. Permanente ou contínua
A flexibilidade permanente ou contínua é a que possibilita a modificação do
espaço após a ocupação, no decorrer do tempo, sem a exigência de grandes
transformações. Permite adaptações ao longo da vida útil do espaço, ajustando-se
51
as necessidades dos usuários e a implantação de novas tecnologias, sendo que as
características físicas construtivas do espaço podem ou não sofrer alterações.
Os projetos que consideram e se utilizam deste tipo de flexibilidade são os
que realmente oferecem várias opções aos usuários e os fazem atuantes na
participação do processo conceptivo e evolutivo de suas moradias, compreendendo
“as possibilidades de reordenação do espaço durante toda a sua vida útil, a qualquer
momento e sem necessidade de reformas.” (TRAMONTANO, 1993, p. 1).
Como já dito, neste tipo de flexibilidade, as características físicas construtivas
do espaço podem ou não sofre alterações, podendo ela, ainda, ser classificada em
passiva ou ativa.
• Passiva: implica estabilidade espacial e se faz presente através da
neutralidade dos ambientes e polivalência de usos sem a necessidade de
alterações físicas no espaço.
• Ativa: implica alterações físicas do espaço e movimento, seja de uma parede,
de um teto, de um espaço, para transformação da habitação.
4.2. Formas de flexibilidade
As formas de flexibilidade são métodos através dos quais a flexibilidade pode ser
alcançada. São conceitos que se inter-relacionam e dão forma à flexibilidade. Servem
como norteadores de projeto, objetivos a serem atingidos. Muitas vezes eles se
confundem pelo fato de não se eliminarem.
4.2.1. Neutralidade
A neutralidade é uma característica da forma; espaços neutros garantem
flexibilidade no que diz respeito à distribuição de funções e atividades, possibilitando
transposições com facilidade, sem a perda de qualidade, tanto no espaço físico
oferecido ao usuário, quanto do desempenho da atividade que este ali realiza.
52
Um exemplo desta forma de flexibilidade empregada são os prédios de
apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe, construídos em Chicago
entre 1948 e 1951. Para Mies, a conformação espacial de sua proposta era
suficiente para promover alternativas para o usuário. Neste projeto ele condensa
banheiro, cozinha e elevadores em um núcleo central em volta do qual uma grande
área continua se desenvolvia, podendo ser subdividida de acordo com as
necessidades de tamanhos e tipos de unidades.
Ilustração 12 (esquerda) - Plantas prédios de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe.
Fonte:
<http://www.flickr.com/groups/miesvanderrohe/pool/21540882@N08/>.
Ilustração 13 (direita) - Conjunto Lake Shore Drive de Mies van der Rohe.
Fonte: <http://www.flickr.com/groups/miesvanderrohe/pool/21540882@N08/>.
53
Ilustração 14 - Prédios de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe. Fonte: <http://chuckmanchicagonostalgia.wordpress.com/2011/05/26/photo-chicago-880-
lakeshore-drive-apartments-mies-van-der-rohe-1951/photo-chicago-880-lakeshore-drive-apartments-
mies-van-der-rohe-1951/>.
4.2.2. Adaptabilidade
A adaptabilidade é uma característica que permite a flexibilidade interna de
um espaço, dotando-o da capacidade de se acomodar de forma agradável a cada
necessidade de seus usuários. Esta associada a neutralidade e Multifuncionalidade
dos espaços.
4.2.3. Mutabilidade
A mutabilidade é a característica que dá ao espaço a possibilidade de
mutação a partir de uma demanda pré-determinada, por exemplo, os espaços que
exercem funções específicas durante o dia e durante a noite se transformam para
exercer outras.
4.2.4. Expansibilidade
A expansibilidade permite a soma de área à ambientes específicos (interna)
ou a unidade residencial (externa). Viabiliza uma futura agregação de espaços sem
que isso represente uma agressão à concepção arquitetônica original, ou seja,
54
alterações que acontecem de modo sustentável. Um espaço expansível é um
espaço com aptidão para a mudança, uma das condições para um espaço flexível.
4.2.5. Mobilidade
A mobilidade está associada ao movimento, à inserção de elementos móveis
que facilitem a adaptação do espaço.
4.2.6. Evolução
A evolução é a capacidade do espaço ser transformado com o tempo, de
acordo com as várias etapas por quais passa a família, com agregado de usuários
ou a subtração destes.
4.2.7. Reversibilidade
A reversibilidade ou elasticidade é a capacidade de voltar ao ponto anterior,
sendo o espaço capaz de se apresentar de acordo com as necessidades imediatas
de seus usuários durante o período solicitado e depois retroceder à condição
anterior a ele.
4.2.8. Integrabilidade e divisibilidade
Estas características estão associadas à capacidade de subdividir ou integrar
espaços de acordo com a vontade do usuário. Geralmente são utilizados elementos
divisórios móveis, como painéis e mobiliários. É uma alternativa muito utilizada em
projetos de flexibilização de espaços já construídos, pois não necessitam de grandes
alterações construtivas profundas. Pode acontecer entre ambientes internos ou entre
áreas internas e externas, dando a elas a possibilidade de interação.
4.3. Flexibilidade, Tecnologia, Sustentabilidade e Construtibilidade
A tecnologia é um fator de fundamental importância para a efetiva
aplicabilidade dos conceitos de flexibilidade. Assim como no final do século XIX e
inicio do XX a industrialização possibilitou a descoberta de novos materiais e
55
métodos construtivos, condicionantes da introdução da flexibilidade no campo da
aplicação, o investimento e incentivo em novas tecnologias continuam sendo seus
provedores.
Sendo a flexibilidade um dos requisitos para se alcançar a sustentabilidade da
construção, pode-se considerar a tecnologia uma importante ferramenta neste
processo. Em um momento que as relações humanas baseiam-se cada vez mais em
aspectos tecnológicos é imprescindível que a construção também acompanhe esta
evolução. “A tecnologia e os processos construtivos utilizados são imprescindíveis
para viabilizar as intervenções direcionadas à flexibilidade do projeto e à sua
sustentabilidade.” (JORGE, 2012, p. 76).
A atividade construtiva atual parte de soluções tecnológicas já assimiladas e
difundidas, convenções irrefutáveis economicamente garantidas e aceitas pela
sociedade. Essa garantia de aceitação do produto imobiliário tem sido um dos
maiores obstáculos à incentivos para a investigação de propostas inovadoras de
qualificação habitacional.
A evolução nas técnicas de construção, principalmente aquelas que tratam da
estrutura e das vedações, que permitem montagem e desmontagem, somadas ao
concreto de alto desempenho, os novos materiais utilizados nas instalações
hidráulicas, mais flexíveis, e ainda as novas descobertas do cálculo estrutural, que
permitem maiores vãos e estruturas mais leves, são condicionadores da aplicação
da flexibilidade, mas a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento
resultou em uma indústria da construção que é incapaz de manter a inovação nos
processos tecnológicos.
As soluções arquitetônicas atuais disseminam a criação de objetos rígidos,
com a adequação do usuário a uma condição estática e padronizada, “[...] dominado
predominantemente pelo mercado da especulação imobiliária, cujo propósito é
resumir o sujeito à uma massa ordinária e uniforme, com desempenho padrão.”
(JORGE, 2012, p. 169).
A finalidade deste mercado está na rentabilidade máxima manipulada pela
indústria da construção, que reproduz lares idênticos moldados nas fórmulas
construtivas convencionais, nas altas densidades e na demanda por terrenos. Em
56
contrapartida à este cenário temos cidades asiáticas como Tókio, Bangkok e Hong
Kong, que superam várias dos centros urbanos europeus e americanos em
densidade populacional e respondem com alternativas muito próximas dos conceitos
de flexibilidade.
No Extremo Oriente, a escala do desenvolvimento urbano supera em muito à do Ocidente e sua – tantas vezes lamentada – antiquada industria da construção. Em contraste com esta, no Extremo Oriente existe uma sofisticada industria da construção que, inspirada nos experimentos do movimento moderno e adaptada para fins específicos, utiliza métodos industriais de construção e produção em série. (FRENCH, 2006, p. 20, apud JORGE, 2012, p. 171).
Para Kronenburg (2007) apud Jorge (2012), as altas densidades constituem
um meio propício para o estabelecimento da flexibilidade como uma condição
necessária econômica e habitacionalmente. E esse fator associado à cultura
japonesa reflete no modo de vida flexível de sua sociedade.
Desta forma, o estabelecimento da flexibilidade como um vocabulário formal e
inovador está diretamente relacionado à predileção por tecnologias construtivas
industrializadas e distanciamento de técnicas artesanais, convencionais e rígidas,
sendo a pré-fabricação e todas as suas modalidades um instrumento desta
tendência.
4.4. Sistemas construtivos
Um sistema pode ser definido como “um grupo de componentes e partes
interrelacionados e interdependentes, que formam a unidade complexa do todo e
regem seu funcionamento.” (JORGE, 2012, p. 173). Se tratando de construção, este
sistema pode se dar de forma fechada ou aberta. De acordo com Jorge (2012), os
sistemas fechados apresentam características deterministas e previsíveis; são pouco
favoráveis a uma adequação com o meio e com os fatores externos que o
influenciam e isentos de aptidão para conduzir processos de crescimento ou
mudança. Já os sistemas abertos “apresentam uma forte interação com o meio,
adaptando-se e reorganizando-se a partir de forças externas e eventos,
reconstruindo a estabilidade do todo a partir da alteração dos componentes ou das
57
partes que estão interrelacionadas.” (JORGE, 2012, p. 173). Sendo assim, os
sistemas construtivos abertos são os mais favoráveis à disseminação e aplicação da
flexibilidade como prática construtiva e conceptiva.
Os componentes deste sistema aberto, que formam o todo arquitetônico,
podem ser divididos em três subsistemas macros de acordo com Mesquita (2000)
apud Jorge (2012), revelando a importância de cada um e suas peculiaridades na
constituição de soluções que contribuem para efetivar a flexibilidade construtiva. São
estes: subsistema estrutural, que garante a integridade da construção e “é
propriedade exclusiva dos componentes que têm a função de suportar toda a carga.”
(KNNACK; MEIJS, 2009, p. 11, apud JORGE, 2012, p. 176); subsistema de
vedação, que tem a função de compartimentar ambientes e promover arranjos e
atividades, podendo ser externa ou interna; e subsistema de instalações.
Para Mesquita (2000) apud Jorge (2012) alguns parâmetros de flexibilidade
estão diretamente relacionados com estes subsistemas:
1. Estrutura - Permitir o acréscimo de sobrecarga; O espaçamento de vigas e pilares deve ser amplo; Evitar alvenarias estruturais que impossibilitam abertura de vãos; Predileção por sistemas pré-fabricados ou pré-moldados; Dissociação dos demais subsistemas construtivos – vedações e instalações;
2. Vedações – Soluções de vedação interna e externa a partir de componentes leves, de pouca espessura, alta transportabilidade, fácil instalação e manutenção, independente dos demais subsistemas. Preferência por fachadas contínuas; divisórias leves; painéis operacionais, armários móveis, painéis pivotantes; tetos em forros modulares, divisíveis e leves; pisos de fácil aplicação, montagem e desmontagem de componentes – pisos elevados, laminados, vinílicos; revestimentos com pisos e paredes já acabados.
3. Instalações – A principal diretriz é a dissociação das instalações da estrutura e das vedações; preferência pela concentração dos serviços em blocos; adoção de kits de serviços pré-fabricados e tubulações flexíveis; instalações de cabeamento estruturado e pré-cablagem. O percurso das instalações deve priorizar trajetórias sob pisos flutuantes e acima dos forros falsos e rebaixados. (MESQUITA, 2000, apud JORGE, 2012, p. 176, 177).
58
4.5. Pré-fabricação
Para Cobbers e Jahn (2010, p. 6) apud Jorge (2012, p. 178) uma habitação
pré-fabricada pode ser definida como “uma estrutura produzida numa fabrica e
instalada, já pronta, no seu destino final, ou algo construído por componentes pré-
fabricados industrialmente que são enviados para o estaleiro e montados no local”.
A pré-fabricação tem como principal objetivo aliar custos baixos, montagem
acelerada, simplicidade de instalação e mão-de-obra inexperiente. Foi a partir do
processo de industrialização do século XX vivido na Europa, que o desenvolvimento
da habitação em massa, da pré-fabricação e da racionalização construtiva foi
possível, permitindo avanços na redução dos custos de produção e na multiplicação
de unidades. No entanto, as intenções e investimentos da vanguarda modernista,
como sua abstração excessiva, apenas contribuiu para fortalecer o estigma de
alojamento de classes vulneráveis e de abrigos emergenciais e temporários que
recaiu sobre as habitações pré-fabricadas da época. Devido sua disseminação
durante o período de pós-guerra, como prática de baixos custos e prazos curtos, foi
inicialmente associada a um papel multiplicador monótono, regular e repetitivo, já
que a intenção era amenizar os problemas perante a falta de moradias.
Desde período em diante a superação deste estigma tem sido estimulada
através do desenvolvimento de tecnologias e componentes ímpares que estimulem
a aplicação da flexibilidade proveniente dos sistemas construtivos. Alguns métodos
associados à pré-fabricação reconhecidos por Friedman (2001) apud Jorge (2012)
são:
1. Modular – Refere-se à construção de seções na fábrica (módulos interior de uma habitação ou partes dessa). Os módulos tridimensionais normalmente são enviados em duas ou mais seções para o posicionamento na base do local de construção através de guindastes ou gruas. Podem ser agrupados horizontalmente ou empilhados para constituir uma habitação completa;
2. Kit-of-parts – O kit de peças refere-se ao fornecimento de inúmeros componentes distintos que são encaminhados ao local e montados;
3. Estrutura de painéis – Painéis pré-fabricados de diferentes dimensões, verticais e horizontais, nas versões abertas (apenas a estrutura exterior, sem os isolamentos, tubulações e revestimentos que são adicionados no local da construção) e fechadas (painéis completos de
59
vedação e isolamento, que podem conter portas, janelas; serviços internos e acabamentos). (FRIEDMAN, 2001, p. 112, apud JORGE, 2012, p. 180).
Tais conceitos foram amplamente difundidos no século XX através das obras
e projetos modernistas de arquitetos como Le Corbusier (Maison Dominó), Walter
Gropius (Packaged House) e Frank Lloyd Wright (Casa Herbert Jacobs, primeira
habitação usaniana do arquiteto), como já mostrado anteriormente, e intensificados
mais tarde por contribuições singulares de Kisho Kurokawa (Torre-cápsula Nagakin),
Moshie Safdie (Habitat’67) e grupo Archigram (Plug-in City). Veremos alguns
exemplos a seguir.
4.6. Estratégias de Flexibilidade
Na contemporaneidade, as maiores expressões da flexibilidade em habitação
tem se dado por meio de edifícios de apartamentos, frente ao adensamento
populacional cada vez maior dos centros urbanos, à escassez de terrenos e à
necessidade de segurança. Seus conceitos têm sido aplicados de formas e graus
diferenciados de caso à caso e com objetivos principais de garantir o bem estar do
usuário e o incremento da valorização do imóvel.
A questão da flexibilidade, na arquitetura, envolve procedimentos projetuais e
construtivos, assim como conceitos e soluções relativos à forma de utilização do
espaço pelas diferentes conformações de grupos domésticos, incluindo-se o fator
tempo. Algumas das estratégias que tem sido utilizadas para a implementação da
flexibilidade em projetos habitacionais são:
1. Estrutura Independente
Separação da estrutura portante da vedação, condicionada pelo
desenvolvimento tecnológico proveniente da industrialização e do
aparecimento de novos materiais e métodos construtivos. A estrutura
60
independente dá liberdade e fluidez ao espaço interno, e possibilita o a
criação de novos subsistemas.
Ilustração 15 - Prédio de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe, Estados Unidos. Esquema que mostra a estrutura independente do pavimento tipo do Bloco Norte.
(FINKELSTEIN, 2009).
2. Modulação
A modulação é definida pela utilização de módulos repetidos tantas vezes for
necessário para se conformar o espaço arquitetônico. Produz sistematicidade
ao projeto propiciando o estabelecimento de uma arquitetura neutra. É
imprescindível em projetos que levem em consideração a pré-fabricação e a
redução de custos.
Ilustração 16 - Prédio de apartamentos Lake Shore Drive de Mies van der Rohe, Estados Unidos. Esquema de modulação do pavimento tipo do Bloco Norte.
(FINKELSTEIN, 2009).
61
3. Paredes divisórias internas leves
Paredes internas leves, para o real cumprimento das exigências habitacionais
como privacidade acústica e visual, devem atender à alguns requisitos como:
no caso de serem de vidro, devem poder se tornarem opacas quando
necessário; devem adequar-se a novas necessidades de configurações
internas, sendo desmontáveis ou móveis; devem poder servir de suporte às
instalações que vem do solo; devem permitir as instalações de portas e outras
aberturas necessárias e serem feitas de materiais leves.
Ilustração 17 - Projeto Edifícios em Ribera Baixa, Espanha. Planta Pavimento Tipo. Esquema que mostra a utilização de paredes divisórias internas leves.
(FINKELSTEIN, 2009).
4. Divisórias móveis
As divisórias móveis devem permitir comunicação ampla quando e onde
forem necessárias, podendo ser camufladas ou desaparecem por completo
quando desejado, correndo-as ou dobrando-as.
62
Ilustração 18 - Projeto Prêmio Caixa-IAB 2006 – Habitação Social de Baixa Renda, Brasil. Planta Apartamento Tipo 3. Esquema que mostra as divisórias móveis utilizadas no projeto.
(FINKELSTEIN, 2009).
5. Mobiliário como divisória
Em apartamentos de área reduzida, o
uso de mobiliários como divisórias ajuda
na economia de espaço além de serem
elementos de fácil adaptação. Muitas
vezes o mobiliário se confunde com as
paredes e além da função de separar
cômodos ele serve à eles como espaço
para a guarda de utensílios, roupas ou
alimentos.
Ilustração 19 - Projeto 67 Moradias em Carabanchel, Espanha. Planta do 1° Pavimento. Esquema que mostra
mobiliários como divisórias. (FINKELSTEIN, 2009).
63
6. Núcleos de circulação vertical
Em projetos de moradias com mis de um pavimento, a circulação vertical
estar concentrada em um único núcleo, sendo, juntamente com o núcleo de
instalações de serviços, basicamente os únicos elementos fixos do projeto,
dando liberdade à flexibilidade interna no restante do espaço.
Ilustração 20 - Projeto “Hannibal” Wohnstadt; Stuttgart – Asemwald, Alemanha. Fragmento da Planta do 1° ao 2° Pavimento Edifício A Número 1. Esquema que mostra o núcleo de circulação vertical.
(FINKELSTEIN, 2009).
7. Núcleos de banheiros e cozinha
A junção de atividades que requeiram instalações hidráulicas, elétricas e de
esgoto em um núcleo mostra-se com uma solução econômica e
construtivamente eficiente. Essa junção, além disso, libera o restante da
planta para os outros usos.
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Ilustração 21 - Projeto Amsterdam-Dapperbuurt; Wagenaarstraat Van Swindenstraat, Holanda. Planta Pavimento Tipo. Esquema que mostra a junção de banheiros e cozinha em um módulo.
(FINKELSTEIN, 2009).
8. Shafts (dutos de instalações verticais)
Os shafts são espaços ocos entre as paredes que abrigam os dutos de
instalações verticais em moradias com mais de um pavimento. Sua utilização
promove mais economia e organização
na construção, sendo interessante
provê-los de fácil acesso, mesmo
quando dentro das unidades
habitacionais. Shafts com acesso
externo à edificação podem facilitar
reparos.
Ilustração 22 - Projeto Bairro La Hansa; Berlin-Tiergarten; Bartiningallee 9, Alemanha. Fragmento da Planta do Pavimento Tipo. Esquema que mostra o uso
de shafts. (FINKELSTEIN, 2009).
65
9. Fachada livre
A fachada livre pode ser definida como uma fachada independente do
restante de sistemas construtivos. Além de dar liberdade ao interior da
moradia às adaptações ao longo da vida útil da edificação, considerá-la a
parte da estrutura possibilita uma fácil reposição de elementos, já que ela é
de fato o elemento que mais se deteriora com o tempo. Deve ser homogênea
e aperfeiçoável; fazer o controle da insolação, luminosidade, ventilação
natural e fluxo térmico que penetram no ambiente. Além disso, deve
responder esteticamente aos planos interiores e exteriores da fachada.
Ilustração 23 - Projeto Torre Barcelona, Espanha. Pavimento Tipo Hotel. Esquema que mostra a utilização da fachada independente e do piso elevado.
(FINKELSTEIN, 2009).
10. Pisos elevados
Os pisos elevados possibilitam o acesso às redes de infra-estruturas em
qualquer parte da habitação, sendo possível o acréscimo de instalações e
consequentemente dando maior liberdade ao espaço interno de sofrer
alterações. Podem ser misturados aos sistemas convencionais de pisos.
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11. Armários embutidos
Esses mobiliários cumprem a função de armazenamento e são planejados
juntamente com o projeto da moradia. Quando é incorporado ao projeto, o
espaço livre restante é utilizado com mais eficiências pelo usuário, dando uso
a espaços residuais da planta e liberando as fachadas para as aberturas.
12. Terraço
O terraço, ao ser entregue vazio, possibilita a intervenção no mesmo,
podendo o usuário incorporar sua área da forma necessária e quando melhor
lhe convier.
Ilustração 24 - Projeto Edifício Fukuoka, Japão. Fragmento da Planta do 3° Pavimento. Esquema que mostra a utilização de armários embutidos e terraços.
(FINKELSTEIN, 2009).
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5. Considerações sobre a pesquisa
Concluo desta primeira etapa de trabalho minha real e ainda maior ânsia por
espaços arquitetônicos regidos pela qualidade, entendendo a flexibilidade como
conceito necessário à arquitetura e inteiramente viável, sendo ela aquela que em todas
as suas áreas de atuação se resume a importante capacidade de se adaptar, de
acompanhar e de se renovar.
Sendo a habitação o ambiente físico que mais se relaciona com o homem ao
longo de sua vida, dotada de valores e significados; e frente às demandas atuais das
sociedades contemporâneas, entende-se a flexibilidade como saída a este cenário de
plena incoerência e incompatibilidade.
Sua aplicação, seja na fase de concepção, construção ou utilização, se mostra
viável e totalmente apropriada, variando em tipos, formas e estratégias diferenciadas,
de forma a possibilitar o graus de aplicação também diferenciados.
Isto fica evidenciado através dos vários exemplos práticos e físicos de grandes
nomes da arquitetura mundial que se puseram a pensar na questão da flexibilidade
desde tempos remotos, colocando-a em local de destaque e reafirmando sua
importância e valor para a arquitetura, seja ela qual for.
Ao próximo desafio à pesquisa no campo das relações pessoa x ambiente serão
aplicados conceitos apresentados e analisados no âmbito deste trabalho, como forma
de defendê-los junto ao objeto espacial.
Dessa forma, a flexibilidade é uma característica que quando presente acaba por
manter a vitalidade, seja em um espaço ou em uma idéia, bem vinda a todos como
capacidade de se manter útil e eficaz.
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6. Referências
6.1. Mídia digital
CÍRICO, Luiz Alberto. Arquitetura flexível: soluções de projeto para flexibilizar espaços. Faculdade Assis Gurgacz, Cascavel. s/d. Disponível em: <http://www.fag.edu.br/graduacao/arquitetura/editoral/arquiteturaflexivel.PDF>. Acesso em: 26 jun. 2013.
FINKELSTEIN, Cristiane Wainberg. Flexibilidade na arquitetura residencial: um estudo sobre o conceito e sua aplicação. Porto Alegre. 2009. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/18409>. Acesso em: 10 jun. 2013.
FUÃO, Fernando Freitas. O sentido do espaço. Em que sentido, em que sentido? - Arquitextos, São Paulo, 04.048, Vitruvius, maio 2004. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.048/582>. Acesso em: 04 jun. 2013.
JORGE, Liziane de Oliveira. Estratégias de flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. São Paulo. 2012. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-15062012-162419/pt-br.php>. Acesso em: 10 jun. 2013.
MACHADO, Ernani S. Relações Entre Ambientes Externos e Internos em Centros de Reabilitação Motora: um estudo na Associação de Assistência à Criança Deficiente de Nova Iguaçu-RJ. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ, 2012. Tese (Doutorado em Arquitetura).
MIGUEL, Jorge Marão Carnielo. Casa e lar: a essência da arquitetura. Arquitextos, São Paulo, 03.029, Vitruvius, outubro 2002. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/746>. Acesso em: 28 maio 2013.
MILHOMEM, Marina. Posters de bandas no Estilo Tipográfico Internacional. In ZUPI NEWS. 07 de Julho de 2013. Disponível em: < http://www.zupi.com.br/posters-de-bandas-no-estilo-tipografico-internacional/>. Acesso em: 18 ago. 2013.
PAIVA, Alexandra Luísa Severino de Almeida e. Habitação flexível: análise de conceitos e soluções. Lisboa. 2002. Disponível em: <http://www-ext.lnec.pt/LNEC/DED/NA/pessoal/jpedro/Links/Alexandra/Habitacao_flexivel.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013.
PRADO, Adriana. Sociólogo polonês cria tese para justificar atual paranóia contra a violência e a instabilidade dos relacionamentos amorosos. In ISTOÉ ENTREVISTA, ISTOÉ Online. 24 de Setembro de 2010. Disponível em:
71
<http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR>. Acesso em: 22 jul. 2013.
REIS-ALVES, Luiz Augusto dos. O conceito de lugar. Arquitextos, São Paulo, 08.087, Vitruvius, agosto 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225>. Acesso em: 15 jul. 2013.
SILVA, José Luís; ELOY, Sara. Arquitetura flexível: movimento e sistemas cinéticos. Os Palcos da Arquitetura, FAULT. 2012. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_08/15_jose_luis_silva.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2013.
TEIXEIRA, Bruna Azevedo Reis. Flexibilidade: uma contribuição para a sustentabilidade. Belo Horizonte. 2011. Disponível em: <http://www.cecc.eng.ufmg.br/trabalhos/pg2/68.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2013.
VILLÀ, Joan. Flexibilidade: exigência do habitat contemporâneo. 2008. Disponível em: <http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/coloquiomom/comunicacoes/villa.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2013.
TRAMONTANO, Marcelo. Novos modos de vida, novos espaços de morar. São Carlos. 1993. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfpLwAK/novos-modos-vida-novos-espacos-morar>. Acesso em: 02 jul. 2013.
TRAMONTANO, Marcelo. Espaços domésticos flexíveis: notas sobre a produção da primeira geração de modernistas brasileiros. São Paulo: FAU-USP, 1993. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/documentos/livraria/T01-espacosdomesticosflex.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2013.
6.2. Mídia impressa
BRANDÃO, Ludmila de Lima. A casa subjetiva: matérias, afectos e espaços domésticos. 1. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2008. 159 p.
CAMARGO, Érica Negreiros. Casa, doce lar: o habitar doméstico percebido e vivenciado. 1. Ed. São Paulo: Annablume, 2010. 322 p.
SOMMER, Robert. Espaço pessoal: as bases comportamentais de projetos e planejadores. São Paulo: EPU, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973. 220 p.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. 288 p.
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. 5. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.
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