TFGII CINARA

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Cinara da Palma Segabinazzi AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E O PAPEL DAS MULHERES: CANDOMBLÉ E CULTURA NO SÉCULO XX Santa Maria, RS 2013

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AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E O PAPEL DAS MULHERES: CANDOMBLÉ E CULTURA NO SÉCULO XX

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Cinara da Palma Segabinazzi AS RELIGIES DE MATRIZ AFRICANA E O PAPEL DAS MULHERES: CANDOMBL E CULTURA NO SCULO XX Santa Maria, RS 2013 2 Cinara da Palma Segabinazzi AS RELIGIES DE MATRIZ AFRICANA E O PAPEL DAS MULHERES: CANDOMBL E CULTURA NO SCULO XX TrabalhofinaldegraduaoapresentadoaoCursodeHistriareadeCincias SociaiseHumanas,doCentroUniversitrioFranciscanoUNIFRA,comorequisito parcialparaobtenodograudeLicenciadoemHistriaLicenciaturaPlenaem Histria. Orientadora: Prof. Dr. Nikelen Acosta Witter

Santa Maria, RS 2013 3 Cinara da Palma Segabinazzi AS RELIGIES DE MATRIZ AFRICANA E O PAPEL DAS MULHERES: CANDOMBL E CULTURA NO SCULO XX TrabalhofinaldegraduaoapresentadoaoCursodeHistriareadeCincias SociaiseHumanas,doCentroUniversitrioFranciscanoUNIFRA,comorequisito parcialparaobtenodograudeLicenciadoemHistriaLicenciaturaPlenaem Histria. ______________________________________________________ Prof. Dr. Nikelen Acosta Witter Orientadora (UNIFRA) ____________________________________________________ Prof. Ms. Roseline Casanova Corra (UNIFRA) ____________________________________________________ Prof. Ms. Alexandre Maccari Ferreira (UNIFRA) Aprovado em............ de ................................... de ..................... 4 Agradecimentos AgradeoDeus,portornartudoissopossvel,aosmeuspaiseirmospeloapoioe carinho,atodososcolegasdecurso,poisforammuitoimportantesnessalonga caminhada,aosamigos,quedeumaformaoudeoutra,sempremeapoiaram,ea professoraNikelen,queabraoujuntocomigoessapesquisa.Suadedicaoeateno foram fundamentais para que eu conseguisse realizar esse trabalho. Muito Obrigada! 5 RESUMO Asreligiesdematrizafricanatmreservadosmulheresumpapeldegrande relevncia.Noentanto,muitassoasdvidasquandofalamossobrereligiesafro-brasileiras: O que so? Como se originaram? Quais as diferenas entre elas? Quem so osseusadeptos?Tentarresponderessasdvidas,tendoemvistaumacompreenso histrica do desenvolvimento dessas religies no Brasil o objetivo deste trabalho, bem como entender o papel das mulheres em seu interior. Acompanhando os africanos desde asadadeseucontinenteoriginal,quer-sepercebererelevarsuaslutasporaes afirmativasdesuacultura.Nestecontexto,opapeldasmulheresnointeriordestas religiesnotadamentenoCandomblfoifundamentalparaacontinuidadedos costumes, da o interesse em compreender sua posio. Palavras-chave: Religies afro-brasileiras; mulheres no candombl; tradio. ABSTRACT TheAfricanreligionshavearolereservedforwomenofgreatrelevance.However, there are many questions when we talk about african-Brazilian religions: What are they? How they originated? What are the differences between them? Who are your followers? Try to answer these questions, with a view to understanding the historical development of these religions in Brazil is the objective of this work as well as understand the role of womenwithinit.AccompanyingtheAfricanssincethedepartureofitsoriginal continent, we want to understand and reveal their struggles for affirmative actions of its culture. In this context, the role of women within these religions - notably in Candombl -wasessentialtothecontinuityofcustoms,hencetheinterestinunderstandinghis position. Keywords: African-Brazilian religions; women in candombl; tradition. 6 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 OS DOZE ORIXS MAIS CULTUADOS NO BRASIL.....................22 QUADRO 2 OS ALIMENTOS DOS DEUSES (ORIXS)........................................32 7 SUMRIO INTRODUO...............................................................................................................8 1.BREVE HISTRIA DAS RELIGIES AFRICANAS NOS CATIVEIROS DO BRASIL..........................................................................................................................11 1.1 A ORGANIZAO RELIGIOSA DO CANDOMBL...........................................16 1.2AS RELIGIES AFRO-BRASILEIRAS NO PS-ESCRAVIDO......................20 1.3 O PANTEO DOS ORIXS....................................................................................21 2. O PAPEL DAS MULHERES NA TRADIO AFRICANA..............................25 2.1ROUPAS:UMSMBOLOMUITOIMPORTANTEDENTRODO CANDOMBL...............................................................................................................30 2.2 AS BEBIDAS E OS ALIMENTOS MAIS SERVIDOS NOS TERREIROS........32 3. CONSIDERAES FINAIS...................................................................................39 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................40 8 INTRODUO Asreligiesdematrizafricana,bemcomoalgunscostumesetradiesdos povostrazidosdafrica,permanecemvivosnoBrasilaindahoje.Sabemosqueo preconceitoestevepresenteemtodasaspocas,causandomedoerevoltaaos descendentes de africanos e fazendo com que muito de sua cultura se perdesse por conta dasperseguiesquesofreramaolongodossculosdecativeiroemesmoaps.Estes povos,almdoinfametransladodesuaterra,foramporlongosanosproibidosde cultuaremseusdeuses,poistaiscultoseramconsideradoscomobruxaria,coisasdo demnio.Enfim,osescravizadores,almdetudo,acreditavamqueosafricanos deveriamdeixarseuscostumesesetornaremcatlicos,comoeraavontadedos brancos. Contudo, mesmo sendo proibidos de cultuarem seus deuses, os africanos e seus descendentesnuncaabandonaramtotalmenteosseuscostumes.Passaramaorganizar seuscultosdeformadiferente,associandoossantoscatlicosaseusorixs,ouseja, rezavam para os santos e escondidos faziam oferendas para seus orixs. Com o tempo, esse novo formato de religio foi ganhando fora e um nome: candombl. O nmero de adeptos aumentou, j no eram mais s escravos ou ex-escravos que faziam parte dessareligio,mastambmbrancosepessoasdaelite.Issotudocontribuiu,paraqueo candombl crescesse, tornando-se um dos principais segmentos religiosos do pas. Claro que, em se tratando de religies de matriz africana, no foi s o candombl que ganhou fora, a umbanda tambm se tornou uma das religies mais famosas doBrasil,atravs de sua mistura com o espiritismo kardecista. Porm, o objetivo desse trabalho falar docandomble,principalmente,sobreopapelqueasmulheresocuparamnessa religio, juntamente com seus costumes e tradies que vieram da frica e permanecem vivos e fortes entre o povo brasileiro. Noprimeirocaptulo,buscou-sefalarsobreasadadosafricanosdeseu continente e o porqu de terem sido trazidos para o Brasil. Interessou tambm apontar a diversidadedegruposafricanosquevieramparaoterritriobrasileiro,comseus diferentescostumes,lnguasetradies.Estesobrigadosaconviveremformaram famlias,associando-senocativeiro.Obrigadosaassumiremareligiooficialo catolicismoosafricanoseseusdescendentesforamperseguidosporcultuaremseus 9 deuses(orixs)e,comosadaeformaderesistncia,elaboramumcomplexo sincretismo religioso, atravs do qual passaram a cultuar os santos catlicos e ao mesmo tempo faziam oferendas aos orixs. J no perodo republicano, as perseguies sofridas pelos adeptos do candombl continuaram, fazendo com que muitos dos terreiros fossem perseguidosedestrudos.Portanto,asmanifestaesreligiosasafricanasprosseguiram sofrendoabusosdasautoridades,comotambmdocatolicismo,mesmoapsofimda escravido; fazendo com que os rituais fossem feitos escondidos, causando assim ainda mais preconceito. Especificando as caractersticas do candombl, ainda neste captulo, retratar-se- aassociaodasdivindadesdocandomblcomossantoscatlicos.Essaassociao auxiliarna(re)definiodascaractersticasfsicas,forasespirituais,ligaocomo cotidiano, como: cores, comidas, roupas e dias da semana. J no segundo e ltimo captulo, o papel das mulheres na tradio africana ganha espao,poisasmulherespossuamumagrandeimportncianaculturaafricanatrazida paraoBrasil.Aculturaafricanacompreendiaafigurafemininacomoparticipantedas atividades econmicas, como criadoras e mesmo como comerciantes. Suas atividades no Brasil, junto ao processo de urbanizao que mudou parte do sistema decativeiro, no foramdiferentes.Muitastrabalharamcomofeirantes,quituteiras,vendedorasderua, jornaleirase,aolongodotempodetrabalho,conseguiramangariarrecursosparasua alforria.Noquedizrespeitoreligioeaocandombl,muitasdelasabriramseus prprios terreiros, tornando-se famosas mes-de-santo, com isso, trabalhando para que o candombl no perdesse sua identidade, nem seus costumes. Interessaabordaropapelespecficodasmulheresdentrodosterreirosde candombl, como cozinheiras e como mes-de-santo. Neles, as mulheres so a maioria. Espao conquistado atravs da troca de bens econmicos e simblicos, pois so elas que sabem,comoningum,mantervivasastradies.Nosepodeanalisaropapeldas cozinheirassemolhartambmparaseuproduto,porisso,tratar-se-dascomidase bebidasservidasnosterreirosnaltimapartedestetrabalho.Acomidafundamental num terreiro, sendo oferecida aos orixs ela ganha enorme destaque, pois o veculo de contato, troca e comunicao com o sagrado. Portanto, o papel das mulheres no interior dasreligiesdematrizafricana,principalmenteocandombl,fundamental,desdea 10 vindadosafricanosparaoBrasilatosdiasdehoje,ocupandoopicedahierarquia religiosa. 11 1.BREVE HISTRIA DAS RELIGIES AFRICANAS NOS CATIVEIROS DO BRASIL NoinciodosculoXVI,quandoPortugalcomeouacolonizarsuasterras descobertas, trouxe para o Brasil tambm sua religio oficial o catolicismo. Nesteperodo,aIgrejacatlicajsofriacrticasquedenunciavamseus comportamentos causando a perda de muitos adeptos para as religies protestantes que seformavamnaEuropa.ParaassegurarsuainflunciareligiosanaAmrica,o catolicismo viu como possibilidade a converso dos habitantes do Novo Mundo. Sendo assim, a Coroa portuguesa decidiu que catequizar os ndios seria mais vantajoso, pois ao torn-loscristos,aIgrejaosfariatementesaDeuse,principalmente,submissosaos interesses do Rei (SILVA, 1994). Logo no incio da colonizao do Brasil, o cultivo da cana-de-acar sobressaiu como atividade principal e a produo de acar tornou-se um comrcio promissor. Nos latifndios, a produo de acar exigiu grandes contingentes de trabalhadores e, devido escassezdemo-de-obraportuguesa,osindgenaspassaramasercapturadospara trabalhar nas fazendas como escravos. Comopassardotempo,aescravidoindgenafoisendosubstitudapelado cativo de origem africana, pois Portugal j era especializado no trfico de negros antes mesmo da vinda para a Amrica. Isso facilitou o abastecimento das colnias brasileiras comessamo-de-obraeaindagarantiupesadoslucrosaostraficantesdeescravos portugueses.Portanto,foijnasprimeirasdcadasdosculoXVIqueteveincioa vinda de africanos para o Brasil, onde a mo-de-obra escrava alimentou os muitos ciclos econmicos at fins do sculo XIX (SILVA, 1994). O trfico ia procurar na frica escravos de todas as origens, de todas as naes,eenviaseusnavios,especialmenteequipadosdeCaboVerde, nacostaocidental,atMoambiquenacostaoriental.Osprincipais pontos do trfico eram a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos, onde os traficantes se abasteciam com negros sudaneses, e a Costa de Angola, onde se encontravam os bantos (VERGER, 2000, p.20) AexemplodoquefalaVerger,nofoifcilapermannciadosafricanosnas Amricas, devido seus costumes, lnguas e religies diferirem entre si mesmo na frica. Ospovosquevieramparac,muitasvezes,eramdenaesoutrorainimigasese 12 viramobrigadosaconviverjuntosnasmesmasfazendaseengenhos,causandoalguns desentendimentos nos primeiros contatos. Noentanto,ainfelicidadequeaescravidoemcomumgerava,avidaregrada queessesafricanoslevavam,guiou-osateremhbitossemelhantes,criandoum sentimentodesolidariedadeentreessescativos.Sendoassim,parafalardasreligies africanasesuasorigens,precisodescreveroencontrodestesdiferentestiposde religiosidade,queduranteacolonizaoportuguesadoBrasilestiveramjuntas, relacionando-as at os dias de hoje. Almdereligiooficial,ocatolicismofoiobrigatrionaAmricaLatina,pois, aoprofessaroutraf,corria-seoriscodeserconsideradoateu,comotambminimigo do rei, que trazia consigo o poder que provinha de Deus. Para garantir a converso dos fiis,aIgrejaCatlicapossuavriasformasdecontroleerepressoaosquese desviassemdafcrist.Naconcepocatlica,ospraticantesdeatosmgicos(tidos como bruxaria, feitiaria ou curandeirismo) e outras atividades pags tinham influncia dodemnio.Assim,atitudessuspeitas,comoreuniesfestivasquetivessedanasou msicas, eram vistas como pecados inaceitveis, fazendo com que os praticantes fossem deportados e julgados pelos tribunais da Inquisio em Portugal (SILVA, 1994). Ocatolicismoestabeleceu-seatravsdessesmecanismosdeconverso obrigatria,foisetornandocadavezmaisintegradoaocotidianoda vidacolonial,sendovividodemodointensoatravsdefestas, procissesetantasoutrasatividadesdoextensocalendrioanualda Igreja que congregava toda a populao (SILVA, 1994, p. 20). Como cita SILVA, perante a populao eram as vontades da Igreja Catlica que predominavanoBrasil,causandoassimumaobrigaodosindgenas,comotambm dosnegrostrazidosdafrica,emconverter-seaessareligio.Umadasprincipais caractersticasdocatolicismofoiadevooaossantos,anjosemrtires,poisos portugueses eram acostumados a dedicar rezas e fazer promessas aos santos padroeiros, tornando assim, o sincretismo afro-brasileiro possvel, pois subordinados essa religio, osnegroseosindgenasforamconvertidos,somando-acomsuareligiosidadede origem.porissoquemuitosorixsestoassociadosasantoscatlicos.Arealidade dessacombinaovemdequandoareligiocatlicaimpssuasvontadessobreas religiesafricanas,ouseja,externamenteoscativospraticavamocatolicismo,mas, internamente, reviviam os mitos africanos. 13 Paraexplicaroquesincretismoreligioso,precisamosvoltaraoincioda escravido no Brasil, quando os primeiros terreiros de candombl estiveram confinados aos espaos das fazendas. Os cultos s podiam ser realizados na escurido e solido das mataseroasounosprpriosespaoscontguossenzala;oterreiroera permanentementevigiadopeloscapatazesparaevitarfugadosescravos.Nestas condies,supe-sequesuaorganizaotenhaenfrentadomuitasdificuldades, principalmente porque o culto aos deuses africanos estabelecia uma srie de rituais que deviam ser respeitadas, tais como: oferendas, cantos, danas, enfim, procedimentos que precisam de espaos para serem executados. Por conta de tais fatores, a associao dos deusesafricanosaossantoscatlicospermitiuqueocultodosescravosganhasse espao,enquantosenhoreseigrejaviamnissoumambienteparaaconverso,oque tornavaoscultospartedoprocessodenegociaodocativeiro(REIS,1989). Exemplos:IemanjassociadaaNossaSenhoradaConceioetambmNossa Senhora dos Navegantes, Ians, a Santa Brbara, Oxssi a So Jorge na Bahia e no Rio deJaneiroaSoSebastio,enfim,cadaorixrepresentaumsantocatlico(SILVA, 1994). (Ver quadro da pgina 21). Bastidefaladosincretismocomoumaaproximaodocatolicismocomas religiesafricanas,poiseletambmtemseulugarnoculto,nospeloaltarcatlico quedominaogrupodedanarinossobarededefestas,masaindapeloacrscimos cerimniaspuramenteafricanasdeoraescatlicasduranteomsdeMaria (BASTIDE, 1971). Comotempohouveumaevoluoeosincretismoafro-catlico,que originariamente,eraapenasmscara,tornou-semaissincero.Asnovas geraescrioulasjconsideramqueosantooorixsoums, queapenasonomemuda,masque,deacordocomolugarouo momento, bom dirigir-se aele em latim ou em uma lnguadafrica (VERGER, 2000, p.24). Tanto Silva (1994) quanto Verger (2000), como tambm Bastide (1971), tratam osincretismocomoumaformadeosindgenaseosafricanosconseguiremuma aproximaocomoscatlicos,fazendocomqueaperseguiosetornassebemmenor doquenocomeodeseuscontatos.Ocrescimentodascidadesdecorrenteda multiplicaodasatividadeseconmicas,numcontextodemaiorinteraosociale multiplicaodaspossibilidadesdeintercmbioculturalocorreramcontatosque 14 propiciou a disseminao do candombl para outros extratossociais que no apenas os cativos.Issonoquerdizerquenomeioruraleantesdaabolionoocorresse consultas discretas e esparsas de brancos aos deuses africanos, solicitando algum tipo de ajuda ou viso do futuro.Celia Maria de Azevedo cita o desprezo, a violncia como tambm o medo que essaspessoassofriamporseremdescendentesdeafricanos.Mesmosendolibertos,as restriesnomudavamemnada,poisfoimuitodifcilasociedadeaceit-loscomo cidados,fazendocomqueopreconceitoeaviolnciaaumentassemcadavezmais. Desdeacordapeleatoscostumesqueelestrouxeram,tudocontribuiuparaque ocorressem tristes episdios. Na cor de sua pele, nos seus traos fsicos, nos seus cabelos, os negros livresjdehmuitasgeraes,mesmomiscigenados,frequentemente traziamimpressasassuasorigensafricanas,asmarcasdeseus antepassadosescravos,eassimficavamentreguespossibilidadede serem tratados com desprezo e violncias (AZEVEDO, 1987, p. 34). AindanosculoXX,osdescendentesdeafricanoseramvistospelasociedade como grosseiros, ignorantes e incapazes para o trabalho. A eles foi, inclusive, creditado oatrasodasregiesaonordestedopasnumcontrastecomodesenvolvimento experimentado pelo sul e sudeste, com seus ncleos de colonos europeus, considerados efervescentes em matria de trabalho, progresso e civilizao. Taiscomparaesdesiguaiseinjustasocorreramdevidoavindadeeuropeus para construir uma nao homognea. A imigrao foi uma aliada da sociedade contra osex-escravos,poiscomavindadelesparaoBrasil,osafricanossetornaramainda menos importante para a elite daquela poca. Masnemtodososhomensdecoreramescravos.Nascidades principalmenteformou-sepoucoapoucoumaplebecompostade negroslibertosdosmulatosartesos,milicianos,soldadosdos regimentosdosHenriques...e,sebemqueelaconstitusseacamada maisbaixadapopulaolivre,formava,emrelaoaosescravos,uma camada superior na escala social (BASTIDE,1971, p.141). OqueBastideestafirmandoqueosmestiosenegroslibertosganharam novasoportunidadesdeinseroeparticipaosocial.Nascidades,trabalhavamcomo vendedores, barbeiros, carregadores, podiam andar livres pelas ruas e com isso ocorreu aaproximaocomosbrancos,tornandopossveloprocessodetransculturao,pois 15 ambosprecisavamseadaptarculturaqueosrodeavam.Essaaproximaoplebeia aumenta com a abolio.Mesmo assim, a maior interao existente entre brancos e africanos no fez com que o preconceito eas proibies sobre seuscultos deixassem de ocorrer. Sendo ento proibidosdefazerseusrituais,osdescendentesdosafricanosnoviramoutraopo seno prosseguir cultuando as imagens dos santos catlicos que correspondiam aos seus orixs. Tornado o sincretismo religioso um modo de adorar seus orixs nas imagens de santos catlicos correspondentes. Comocrescimentodascidades,oaumentononmerodenegroslibertose mulatosbemcomodesuacirculaofezcomqueasmanifestaesreligiosas encontrassemmelhorescondiesparasedesenvolverem.Devidoatudoisso,as moradias dessa populao, localizadas nos velhos sobrados e nos casebres coletivos, se tornarampontodeencontroedeculto,relativamenteescondidosdarepressopolicial. Mas,comaIndependnciadoBrasileaConstituiode1824,osdescendentesde africanos garantiram a liberdade de culto desde que o templo no mostrasse smbolos na fachada. Ocandombltomounovasproporesesetornouumareligiocommuitos adeptos,mesmoentreosbrancosericos.Contudo,emborahavendobrancosque praticassemocandombleapesardosincretismocomareligiocatlica,deve-se reconhecerqueoscultosdeorigemafricanafrequentementeforamdesprezados, sofrendo grandes preconceitos (DURKHEIM, 2000). CandomblonomedadonaBahiascerimniasafricanas.Ele representa,paraseusadeptos,astradiesdosantepassadosvindosde umpasdistante,foradealcanceequasefabuloso.Trata-sede tradies,mantidascomtenacidade,equelhesderamaforade continuar sendo eles mesmos, apesar dos preconceitos e do desprezo de queeramobjetosuasreligies,almdaobrigaodeadotarareligio de seus senhores (VERGER, 2000, p.24). Muitaspessoasiamprocurarocandomblporcuriosidadeouatmesmo insatisfaocomasuaprpriareligio,contudo,comearamafrequentaroscultose assimsetornarammembrosdessareligio.Muitoserampessoasdaaltasociedade, comointelectuais,mdicos,polticos.Ocandomblpassouaserumareligioonde negros,mulatos,mestiosetambmbrancoscultuamosorixssemnenhum preconceito, pois todos na viso do candombl so irmos, no importando a cor da pele (SILVA, 1994). 16 1.1 A ORGANIZAO RELIGIOSA DO CANDOMBL A forma de organizaodos terreiros onde negros e mulatos, destitudos de um grupo de referncia pela escravido, se agrupavam, estabelecendo vnculos baseados em laos de parentesco religioso, foi a famlia-de-santo. Na tradio oral do candombl, se dizquesemprehouveafamlia-de-santocomoumaformadeseorganizarnoscultos aos orixs no Brasil (SILVA, 1994). difcilestabelecerapocaemqueasprimeirasfamlias-de-santose formaram.Peloquesesabe,atravsdahistriaoralnarradapelos adeptos,pareceteremsidoosafricanosdeumamesmaetniaos fundadoresdosprimeirosterreiros,ondeiniciaramoutrosnegros africanos,provenientesdasuaetniaoudeoutras.Comopassardo tempo,ecomoingressonareligiodecrioulos,mulatosefinalmente brancos, a famlia-de-santo foi assim perdendo sua caracterstica tnica epassoualigar,porvnculosreligiosos,osvriosterreirosfundados pelasgeraesseguintessgeraesdosafricanos(SILVA,1994,p. 57). Atradiooraldocandomblfalaquesemprehouveafamlia-de-santocomo formadeestruturaodoscultosaosorixsnoBrasil,nohavendoacertezadapoca emqueasprimeirasforamfundadas,nemseforamformadasporumaoumaisetnia. Mesmoassim,ahistriaoralfoifundamentalparasefalarsobreesseassunto.Como ingressonocandombldecrioulos,mulatosetambmdosbrancos,afamlia-de-santo foi perdendo sua caracterstica tnica e passou a ligar as pessoas por vnculos religiosos.FoinaBahiadosculoXIXqueficouestabelecidoomodelobsico adotadopelocandomblqueconhecemoshoje.Segundoatradio,o IlIyaNassaCasadeMeNass,popularmenteconhecidocomo Candombl do Engenho Velho ou Casa Branca teria sido o primeiro a celebrardiferentesdeusessimultaneamentesobomesmoteto.Essa prticarefletiriaalianasentregrupostnicosdiferentes,contribuindo para a consolidao de novas identidades africanas em terras brasileiras. (REIS, 2007, p.1). ReismencionaoterreiroIlIyaNasscomooprimeiroacultuardiferentes deusesaomesmotempoeapraticaralianasentrediferentesgrupostnicos.Esse terreirofoifundadoportrsex-escravasiorubs.Nosesabeaocertoqualdelasteria sidome-de-santoouseastrsserevezaramnopoderedireodoterreiro,masfoi atravsdestequeforamfundadosoutrosterreiroscomalianasentrediferentesgrupos tnicos, como o terreiro do Gantois, o terreiro Ax Op Afonj, ambos famosos em todo 17 Brasil e localizados em Salvador. Em outras cidades do Brasil, tambm foram fundados terreiros como esses, expandindo continuamente o candombl pelo pas. atravsdainiciaoqueumapessoapassaafazerpartedeumterreirode candombl, como tambm da famlia-de-santo, assumindo um nome religioso (africano) eumcompromissoeternocomseuorixe,aomesmotempo,comseupaioume-de-santo. A entrada para essa hierarquia uma indicao do orix. o que se chama bolar nosanto.Apartirda,oabi(novio)temdesesubmeteraosrituaisdeiniciao cerimniasdobori,oroesadasdeia1.Umrecm-iniciadopassadeumaseis meses vivendo dentro de severas restries. o tempo dequel, o perodo em que o abi usa um colar de contas justo ao pescoo. Enquanto usar o quel, ele deve vestir branco,comercomasmosesentar-sesnocho.Nesseperodo,tambmesto proibidasasrelaessexuaiseospratosquenosejamosdeseuorix,issotudofaz partedocompromissodoiniciantecomseuorixetambmseupaioume-de-santo < http://www.ogumdaestrelaguia.blospot.com.br> Acesso em: 12/05/2013.Porisso,umadepto,aoseiniciar,nasceparaavidareligiosacomoumfilho espiritual do pai ou me-de-santo daquele terreiro. O iniciado tendo um pai ou me-de-santo,tertambmirmos,tios,tias-de-santo,aveav-de-santoe,assim sucessivamente.Aessesparentesreligiosos,deve-serespeito,considerao,amore obedincia. Estas pessoas so unidas por vnculos sagrados. A famlia-de-santo alm de tornar irmos os que fazem parte do mesmo terreiro de candombl, estabelece ligaes de parentesco entre terreiros com pessoas fundadoras da mesma famlia (SILVA, 1994). Porm,ocandomblnofoionicoconjuntoderitosecrenasdeorigem africanaqueseestabeleceunoBrasil.Igualmenteaumbandaeobatuquetornaram-se importantes formas de expresso da religiosidade brasileira. Disso surge a questo sobre as diferenas que existiriam entre elas, como cita Silva: No candombl as entidades foram agrupadas preservando-se na medida do possvel as referncias aos grupos tnicos de origem africana, sendo cultuadososorixs,deusesafricanos.Jnaumbanda,asentidades situam-seameiocaminhoentreaconcepodosdeusesafricanosdo candombleosespritosdosmortosdoskardecistas.Osorixs,por exemplo, so entendidos e cultuados com outras caractersticas. Abaixo

1 Nos rituais de iniciao aparecem os nomes desses rituais, no explicando detalhes sobre esses rituais. 18 dos orixs, encontram-se os espritos um pouco menos evoludos, como os caboclos e os pretos velhos (SILVA, 1994, p. 120). Asreligiesafro-brasileirassedesenvolverampraticamenteemtodososestados ondehouveapresenadonegroedeseusdescendentes.Fatorescomootamanhoda populaonegraemrelaodebrancosedendios,ainflunciadedeterminadas etnias,arepressoaoculto,ascondiesurbanaseoutros,fizeramcomqueoscultos apresentassemcaractersticasregionaisprprias,sendoalgunsconhecidosemuma regio e desconhecidos em outras.Assim, variaes regionais do ritojeje-nag podem serencontradasportodooBrasil(emcultosequivalentesaindaquedistanciadosno espaoeaparentementesemcontatosentresi),comonocandombldaBahia,no batuquedoRioGrandedoSulenoxangdePernambuco(onomedocultovemdo orixXang,muitocultuadonessaregio).Comrelaoaessescultos,possvel entenderqueumamesmainflunciaiorubdirecionouoseudesenvolvimento, incorporandoaculturalocal.Assim,seOgumnaBahiarecebecomooferendafeijo preto, em Porto Alegre seu prato o churrasco. Na regio do Maranho e do Par, a forte influncia dos jejes criou uma forma de culto especfica chamada de tambor-de-mina. O termo mina umarefernciaprocednciadosescravos,aprisionadosnoforte portugusSoJorgedaMina,nafricaOcidental.Comexceode algunsterreirosdaBahiaedePortoAlegre,foinoMaranho, particularmenteemSoLus,queocultoaosvoduns,divindadesdos jejes mais se desenvolveu (SILVA, 1994, p. 83). J na regio do Esprito Santo, foi a cabula que mais se desenvolveu. Esse culto recebeugrandeinflunciadasprticasdosbantos.SegundoadescriodoBispoD. Nery,erapraticadaemfinsdosculopassado,pornegros,mascomapresenade algunsbrancos.Hojeemdiaessecultopareceterdesaparecido,transformando-seem outras denominaes (SILVA, 1994) Orespeitoaoscaboclos,topresentesnareligiosidadedosbantos,deuorigem aocandombldecaboclo,consideradopormuitosadeptoscomoumaversodiferente do candombl de angola, no qual os deuses indgenas assumiram o papel central, com o mesmo status dos orixs. Os caboclos, alm de representarem os espritos de ndios que jmorreramequeretornaramaterracomoencantados,podemservistoscomo representantesdapopulaomestia,almdeseremconhecidoscomocurandeirose feiticeiros. 19 E,porltimo,vemocatimb,pajelanaecura,essescultosseespalharam principalmentepelonortedoBrasil,naregioquevaidaAmazniaatPernambuco, comfortepredominnciadosindgenas,poisessescultoserambaseadosementidades sobrenaturaisquesemanifestavamcomoespritosdendios(caboclos)edeantigos chefes do culto (SILVA, 1994). No se danava na frica apenas pela alegria do convvio. Danava-se tambm para reverenciar os deuses e receb-los na alma. Foram muitas asreligiesqueatravessaramooceano,poiscadapovotinhaasua. Algumasabsorveramoutrascrenasouforamporelasabsorvidas, gerandonovossistemasreligiosos,comoaumbanda.Outrasno deixaramvestgios.Masaumadasreligiestrazidasdafrica,ados orixs,converteram-seemgrandenmero,principalmentenoBrasile emCuba,pessoasdeoutrasorigens, eoqueeraareligiodosiorubs tornou-se uma religio universal (SILVA, 2012) O que esses dois autores esto afirmando que, se a f dos africanos nos deuses desuasreligiesoriginaisestevedisfaradanasdanasecantosqueelesfaziamem louvoraossantoscatlicos,numoutromomento,suafdirigiu-setantoaunscomoa outros.Assim,somandodiferentesvertentesafricanas,asreligiesenriquecendo-se, semperdersuascrenasoriginais,somaramoutras.Ouseja,osafricanoseseus descendentes assim como os indgenas, continuaram acreditando em seus deuses mesmo se considerando cristos. Porisso,agrandeseparaosocialentrebrancos,africanoseindgenasno significou que suas tradies culturais se mantivessem insensveis umas s outras. Pelo contrrio, o que se verificou no universo religioso do Brasil colonial que as religies queoscompunhampartiramseuslimitesesetraduzirammutuamente,dandoassim, origem s novas religies (SILVA, 1994). Assimsendo,seocatolicismofoiareligiomajoritrianoBrasil,coubeas outras fs, minoritrias, contribuir para a diversidade de cultos e culturas, acima de tudo nosculoatual.Nestesegundogrupo,estoasreligiesafro-brasileiras,taiscomo; candombl, umbanda, entre outras, as quais at a dcada de 1930 foram colocadas pela sociedadecomoreligiesculturaisdosantigoscativosafricanoseseusdescendentes, poisatessadcada,asreligiesdematrizafricanaseramconsideradasapenascomo parte da cultura afro-descendente e no como religies oficiais. NofinaldosculoXIX,foramintroduzidasnopasalgumasreligies protestanteseuropeiasenorte-americanas.Essasreligiescresceram,assimcomoo espiritismo kardecista, mas o catolicismo ainda assim continuou sendo a preferncia da populao.Mesmocomocrescimentodessasreligieseacriaodenovas,comoas 20 evanglicasepentecostais,asreligiesafro-brasileirasnoperderamsuasrazesnem seulugarnasociedade,poisonmerodefrequentadorescontinuouaumentando, fazendocomqueasreligiesafro-brasileirassetornassemaindamaisconhecidas (PRANDI, 1997). 1.2 AS RELIGIES AFRO-BRASILEIRAS NO PS-ESCRAVIDOAsreligiesafricanaseramcaracterizadas,comoaindahoje,pelacrenaem deusesqueincorporamemseusfilhos.Soreligiesbaseadastambmnamagia.O sacerdote,aoprepararobjetoscomoamuletos,fazersacrifciosdeanimais,rezas, invocaessecretas,acreditapoderentraremcontatocomdeuses,curardoenas, conhecer o futuro, enfim, melhorar a sorte e transformar o destino das pessoas. Por essas convices a magia africana era vista pela Igreja, pelo governo, como umaprticadiablica,comojhaviaocorridocomasreligiesindgenas. Principalmenteporque,ocatolicismocolonialsendotambmumareligioque acreditava em magias, era preciso distinguira fcatlica nos santos, milagres, etc; das crenasprimitivasemseresqueincorporam,emespritosquerecebemsacrifciosde sangue como alimentos e em pessoas que dizem trazer a cura (SILVA, 1994). Duranteasvisitaes,oTribunaldoSantoofciodaInquisio perseguiuecondenoumuitosnegros,porverseusencontros(com cantosedanasfrenticas)comoinvocaesdodemnio,espciesde orgiassemelhanadossabseuropeus.Ostransesdosnegroseram vistoscomodemonstraodepossessodemonacaeasadivinhaes, sacrifcioseoutrasprticasmgicaserambruxaria,ouento,magia negra(comoseconvencionouchamaramagiafeitaparaomal) (SILVA, 1994, p. 35). Comopodemosperceber,oscativosdeveriamaceitarareligiodosbrancos, embora estes dificilmente procurassem se aproximar para entender a religio dos cativos que, desde cedo, foi considerada coisa do mal, do diabo, ofensiva a Deus. Osartefatosrecolhidospelapolciaemcasasdefazermacumba,em terreiros e centros espritas definidos como antros de bruxaria, foram expostosnoMuseudaPolciaCivildoRiodeJaneiroeconstituama provamaterialdequeofeitioexistia.OMuseudaPolciacontavaa histria da represso queles que praticavam a bruxaria, usando poderes sobrenaturaisparaproduziromal.Abruxaria,naversodonosso sistemadeexplicaodoinfortnio,eraplenamenteaceita(MAGGIE, 1997, p. 3). 21 SilvaeMaggiecitamqueasreligiesafricanaseramconsideradascomo bruxaria, coisas do demnio. Atravs de perseguies como tambm destruies dos terreiros,podemosnotarqueduranteanostodasasmanifestaesreligiosasafricanas sofreramcomosabusosdasautoridades,fazendocomquegrandepartedosrituais originais se perdesse, devidos perseguies. Oque restou teria um continentegrande dedissimulaes,tendopassadoporumaespciedelimpezadesuascaractersticas menos aceitveis ao olhar eurocntrico.Em1828,umjuizdepazprendeumulheres,tantoafricanasquanto crioulas,danandoparadeusesafricanosemSalvador,nafreguesiade Brotas.Aquilorepresentavaoutropassolargonaformaodo candombl baiano: a incorporao ritual de negros nascidos do lado de c do Atlntico. Considerando sua reao, o juiz que invadiu o terreiro sedefrontaracomalgonovo.Emlongosecolricosrelatriosao presidentedaprovncia,eleargumentouqueamisturadecrioulose africanosparacelebrar deusesdalm-mar eraarupturadeumanorma comportamentalperigosaparaaordempblica;aseuver,negras nascidosnoBrasildeviamserexclusivamentecatlicas(REIS,2007, p.6). Mesmo com o passar do tempo, e a mistura do povo africano com os j nascidos aqui no Brasil, ainda se manteve o preconceito das autoridades com os cultos africanos pormuitotempo.Ocatolicismopermaneciaextremamenteexcludentedasoutras religies que eram perseguidas pela sociedade e pelo governo. Portanto, o candombl do sculo XIX, uma histria de mistura tnica e social. Umseguimentoqueocorreuemvriasfrentes:auniodeafricanosdediferentes origenstnicas,parajuntoscultuaremseusdiferentesdeuses;oencantodos descendentesdenegrosafricanosnascidosnoBrasileadisseminaodeservio espiritual entre clientes de diversas origens tnicas e sociais. Evidente que isso no fez do candombl, parte da cultura dominante, pois todas as religies africanas continuaram sendovistaspelaeliteetambmpelapopulaoemgeral,comoumatoanticristoe sujeito perseguio policial (REIS, 2007). 1.3 O PANTEO DOS ORIXS Naorganizaodopanteodasreligiesafro-brasileiras,osincretismoexerceu umpapelfundamental,pois,historicamenteaassociaoentreosdeusesdasdiversas 22 etnias africanas j ocorria antes de eles serem trazidos para o Brasil. Entre os elementos quecontriburamparaessaassociaoestoassemelhanasentreoconceitodeorix dos iorubs, de vodum dos jejes e de inquice dos bantos. Todas essas divindadeseram vistas como foras espirituais humanizadas, com personalidades prprias, caractersticas fsicas e domnios naturais.Acaractersticaqueaproximouosdevotoscomoscultosfoiapossibilidadede incorpor-losatravsdedanas,homenagensetambmoferendas.Essasreligies africanastinhamemcomumacrenanumsersupremo,chamadoOlorum.Esseser criouanaturezaeasdivindadesintermediriasqueestoacimadoshomens.Nesse sentido,osorixsseaproximavamdossantoscatlicos,queforamsantificadosem funodesuasvidasnaterra(marcadaspelavirtude,valentia,resistnciaador, herosmo,etc.)econsideradosintermediriosentreoshomenseDeus.Todasessas semelhanasentreosorixseossantoscatlicos,deramorigemaosincretismo religioso,jmencionadoanteriormente.Sendoassim,cadaumdosorixstemseu smbolo, seu dia da semana, suas vestimentas e cores prprias (SILVA, 1994). Oquadroabaixoservirparacompreendermelhorotexto,poiselatraztodasas caractersticas explicadas com mais clareza. Quadro 1 - Os doze orixs mais cultuados no Brasil2 Orix:Dia da semana: Elemento:Smbolo:Colar:Roupa: Exu:Orixmensageiro entreoshomenseos deuses,umadasfiguras maispolmicasdo candombl.Satravs delepossvelinvocaros orixs.Estassociadoa SantoAntnioetambm ao Demnio. Segunda- feira Fogo Og(um basto adornado com cabaase bzios) Verme-lhoe preto Verme-lhoe preto Ogum: o orix da guerra edofogo.Sabetrabalhar commetale,semsua Tera-feira Ferro Espada Azul mari-nho Azul,verde escuro,

2Estequadrofoielaboradocombasenaliteraturaconsultadaecompletadocominformaes constantes no site < http://www.ogumdaestrelaguia.blogspot.com.br> Acesso em: 12/05/2013. 23 proteo,otrabalhono podeserproveitoso.No Brasil, suas virtudes para o combate o aproximaram de SoJorgeocorrido principalmentenoRiode janeiro. verme-lhoou amarelo Oxssi: o orix da mata. NoBrasil,tornou-se padroeirodanaoKetoe umadasdivindadesmais popularesdocandombl. NoRiodeJaneiro,foi associadocomSo Sebastio. Quinta-feira Florestas Rabode cavaloe chifrede boi Azul claro Azul ou verde claro Obaluai:Tambm conhecidoporOmoluou Xapan,otemvelorix das epidemias, da varola e demaisdoenas contagiosasedepele.Foi associadoaSoLzaroe So Roque. Segunda-feira Terra Xaxar (feixede palhae bzios) Pretoe verme-lho,ou verme-lho branco e preto Verme-lhae preta, coberta por palha Ossaim:oorixdas folhas,daservasedos medicamentosfeitosa partir delas. Seu domnio omesmodeOxssi,a mata.Ossaimfoi associadocomalguns encantadosdosmitos indgenas,comoocaipora e,posteriormente,osaci-perer.Estassociadono sincretismocomSo Benedito e So Roque. Quinta-feira Matas Lana com pssaros naforma delequee feixede folhas Branco rajado de verde Branco everde claro Xang:oorixqueem suavidanaterrafoiorei deOy,umadas principaiscidadesde lnguaiorub.Nosmitos aparececomosenhordos raiosedotrovo. associadoaSoJernimo eSoPedro.virile justiceiro.Castigaos Quarta-feira Fogo Machado duplo (ox) Branco e verme-lho Branca e verme-lha com coroa de lato 24 mentirososeprotege advogados e juzes. Oxumar: Orix da chuva edoarco-ris.,ao mesmo tempo, de natureza masculinaefeminina. Transportaaguaentreo cueaterra.associado com So Bartolomeu. Quinta-feira gua Cobrade metal Amare-loe verde Azul claroe verde claro Oxal:oorixda criao.Foielequem modeloucombarroo corpodoshomenssobreo qualOlodumar(OSer Supremo)soprouparadar vida.Devidoaessas caractersticas,ocultoa Oxalfoirelacionadocom devoocatlicaaJesus, tambmfilhodocriador supremoesalvadordos homensnaTerra.Na lavagemdaIgrejado Bonfim,ocostume catlicodelavarocho comoatodedevoo forneceuaosnegrosuma ocasiodecomemorarem obanhodeOxal.Assim, athoje,osadeptosdo candombl,vestidosde brancoecarregandona cabeajarroscomgua, fazemumagrande procisso at a igreja, onde lavamseuchocomgua dosjarros,homenageando o Senhor do Bonfim. Sexta-feira Ar Oparox (cajadode alumnio com adornos) Branco Branca IansouOy:aorix dos ventos, dos raios e das tempestades,domnioque dividecomseumarido Xang.Nosincretismo afro-catlicoest associada Santa Brbara. Quarta-feira Fogo Espadae rabode cavalo (represen-tandoa realeza) Verme-lhoou marrom escuro Verme-lha 25 Nan: Deusa da lama e do fundo dos rios, associada fertilidade,doenae morte.aorixmais velhadetodose,porisso, muitorespeitada.Est associadaaSantaAna, me de Maria. Sbado gua Ibiri(cetro depalhae bzios) Branco, azule verme-lho Branca e azul Iemanj:adeusadas guas,tidacomomede todososoutrosorixs.No Brasilcultuada sobretudonomar,sendo associadacomoutros encantados das guas, de origem indgena. Seu culto noBrasilfoiaproximado aodeNossaSenhorados Navegantes,sendo comemoradonodiadois de fevereiro. Sbado gua Lequee espada Transparente, verde ouazul claro Branco e azul Oxum:Orixdasguas doces(rios,fontese lagos).tambmorixdo ouro,dafecundidade,do jogodebziosedoamor. associadacomNossa Senhora da Conceio. Sbado gua Abeb (leque espelhado) Amare-lo ouro Amare-lo ouro

2. O PAPEL DAS MULHERES NA TRADIO AFRICANA PierreVergercitamuitoaimportnciadafeiraparaasafricanas,especialmente para as iorubs, mostrando a presena das mulheres como grandes negociantes, sendo que nomercado,comparadasaoshomens,elaserammaioria.Depoisquechegaramao 26 Brasil,asmudanasnoapagaramestefato,pois,depoisdeconseguirsuaalforria,as negras iam vender seus quitutes nas feiras e ruas das cidades, para comprar as alforrias de seus filhos e parentes (BERNARDO, 2011). A tradio do comrcio de ganhar a vida nas ruas e no mercado uma tradiodasmulheresiorubsquecontinuoudemeparafilhaapsa libertao dos escravos, assim como o comrcio de mercadorias entre a fricaeoBrasilquemantinhamabastecidososmercadosdos suprimentosnecessriosparaaconfecodascomidasdossantos, oferendas necessrias na liturgia do candombl (ROSA, 2010, p. 9). Rosa(2010),citaque,almdetrabalharcomofeirantes,asafricanaseram responsveispelacozinhadosterreiros,ouseja,somenteelaspreparavam,epreparam athoje,ospratosservidosnosterreirosdecandomblparaosorixs,poisno permitidaaentradadehomemnascozinhas.Nocandombl,adinmicadecomere bebertranscendeaaobiolgicaeseestabelecenaprincipalmaneiraderenovare constituir o ax. Comer igual a viver, a manter, preservar, iniciar, tornar mais forte as memrias individuais e coletivas, comer uma maneira de se comunicar com o orix e fortalecer a troca de ax. por isso que no candombl tudo comea na cozinha e nada pode ser comparado energia que provm das oferendas aos orixs. Logo aps o ritual deentrega,oaxseestendeparaasala,paraobarraco,paraascasasetambmas cidades. A cozinha considerada, portanto, o grande laboratrio sagrado,onde o saber fazer, a f e o respeito se encontram para o encanto das divindades (LODY, 1998). Asemoesdiantedecadacomidatmfundamento,geralmente,no conhecimentopeculiardecadaprato,suainteno,seuuso,seuvalor particulare,tambm,noconjuntodeoutrospratosdocardpio devocional do terreiro (LODY, 1998, p. 26). ParaLody,comotambmparaoutrosautores,nocandombl,apreparaodas comidasfundamentalnatrocacomosorixs.porissoqueasmulherespossuemo papelprincipal,poissoelasque,desdeaescolhadosingredientesaosprocessosdo fazer, at a apresentao final, na hora de servir pra os integrantes da comunidade como tambm os visitantes, capitaneiam todos os rituais. Lody menciona uma lenda recolhida no terreiro Ob Ogunt de Recife, onde cita a importncia da comida nos terreiros, como tambm de Exu, pois todas as cerimnias do candombl so iniciadas com a comida dele.Exu o primeiro a comer: 27 DizalendaqueExu foiocozinheirodosorixs,equeprincipalmente OgumeXang,porseremmuitoexigentes,scomiamcommuita pimentaemolhosespecialmentepreparadospelomestredostemperos dosdeuses.Umdia,osorixsestavamcommuitafomeepediam insistentementequeExutrouxesseagrandepanelaquehabitualmente seriaorepasto.Nisso,Exuesqueceapimenta,porquenotevetempo deiratomercadoparaacompra,porissorecebereclamao, especialmente de Xang, dizendo: -Exu,pegueomeucavaloevprovidenciarapimenta,pois,assim, semomolho,eunocomonisso,Exusaicorrendobuscade pimenta, para atender vontade do seu companheiro Xang. Enquanto Exu saa, preocupado, para buscar o tempero, todos os orixs comearamaseservirdagostosacomida,entoXangsugeriuque, apsaalimentao,agrandepanelafossepreenchidacomguaeque nadafosserelatado,fazendocomqueExuficassepensandoqueos orixs ainda estavam com fome, aguardando a pimenta. Interessantecomoologroapareceemvriasmitologias,sejaentredeuses,seja entre humanos e deuses e, no raro tendo os alimentos envolvidos na questo (lembra-se aqui do mito de Prometeu, dos gmeos sagradosdos Guarns e mesmo ocaso do fruto darvoredoBemedoMalnojudaico-cristianismo).Muitasdasregrasde relacionamento com o sagrado advm desse engano primordial.

ChegaExu,trazendoapimenta,evaiatacozinhaparaprepararo molho to desejado por Xang. Volta e encontra a grande panela cheia de gua, e constata que os orixs j haviam comido. Exu fica indignado, jogando tudo no cho, e sentencia: a partir daquele momento, ele, Exu, seriaoprimeiroorixacomer,esemacomidadeExunadapoderia acontecer no plano dos deuses e no plano dos homens. Por isso, todas as cerimnias dos candombls e Xangs so iniciadas com o pad de Exu, queconstadefarofa-de-dend,farofacomgua,acaedeuma quartinha contendo gua (LODY, 1998, p.21). Atravsdessalenda,podemosconstatarqueacomida,semdvida,muito importantenoscultosafricanos,fazendocomqueasmulheressetornemaindamais importante nos terreiros. Alm da comida, das cozinheiras dos deuses, outra coisa que muito importante no candombl: a cozinha, pois considerada um espao sagrado. o localondeasiyabasss(cozinheiras)preparamosalimentoscomoseestivessemno interiordesanturios,eosalimentosquenopertencemaocardpiodoritualdevero sairdesseslocais,ocupandocozinhaprpria.Noitesinteirassodestinadasaopreparo dos pratos que fazem parte do ritual, e aps as manhzinhas, que quando sacrificam as aves e os caprinos no interior dos pejis (altares). Asprticasprivadasdooferecimentodosanimaisaosorixsmostramo grande respeitoqueospraticantestmdiantedoselementosdanatureza,quesoosprprios deuses.porissoqueosanguedessesanimaisconsideradocomoseivamgica 28 mantenedoradosentidodinmicodosdeuses,alimenta-osdegrandesigilo,porparte dos que conhecem esses ritos secretos, que so mantidos em silncio por todos. Raramente so preparados doces para o ajeum (banquete). Os pratos salgados e a cerveja constituem os produtos consumidos pelas pessoas. Em primeiro lugar, os deuses soalimentados,aretiradadospratosdospejisvemlogoemseguida,constituindoa cerimniademaiorimportncia,comoaquelasrealizadasparaooferecimentodos sacrifcios e das comidas variadas. Oespao dacozinhadealtosignificadoparaavidadosdeuses,sua manutenoearenovaodoax,elementovitalizadordas propriedadesedomniosdanatureza,quandoosagradoaproxima-se pela boca do homem (LODY, 1998, p. 41). Depoisdefalarsobreacomidaservidanosterreiros,sobreascozinheirasque preparam os pratos, e a cozinha, o importante lugar onde essas comidas so preparadas, chegou a hora de falar sobre a comida oferecida para cada orix, o que cada um come, e o que nunca deve ser oferecido para os orixs. ComojfoimencionadoanteriormenteporLody,oprimeiroorixcultuado tambm o primeiro a comer: Exu. Ele come tudo que nossa boca come, as principais oferendas dadas a ele so: pads a base de farinha de mandioca branca, combinada com azeite de dend ou mel, gua, bebida alcolica e aca vermelho, feito com farinhade milhoamareloeenroladoemfolhadebananeira.Emalgumassituaesdeoferendas especiais tambm so utilizados pimenta, cebola, bife. ParaOgumsooferecidospratoscominhameassadocomazeitededende feijoada. Oxssi come axox feito com milho vermelho cozido decorado com fatias de coco.Eletambmgostadefrutasefeijofradinhotorrado.Ascomidasdevemser colocadas sob o telhado ou aos ps de uma rvore. A principal oferenda dada a Obaluai a pipoca.Utilizando areia da praia para estour-laseenfeitandocomfatiasdecoco.JOxumarpreferequesejadadoaele como oferenda, batata doce amassada, e farofa de farinha de milho com ovos, camares e dend. Ossaim prefere aca, feijo, milho vermelho, farofa e fumo de corda. O acaraj deformaarredondadacomdendaoferendaconsagradaaIans,masObtambm gosta.OutraprefernciadeObobolinhocomnomedeabarqueconsisteemuma massa de feijo fradinho temperado com dend enrolado em folha de bananeira e cozido em banho-maria. 29 Oomolocum:feijofradinhocozidocomcebola,camareseazeitedeoliva decorado com ovos cozidos a oferenda de Oxum.Iemanjpreferepeixedeguasalgada,regadosaoazeiteeassados,milho brancocozidoetemperadoscomcamares,cebolaeazeitedoce,manjarcomleitede coco e aca. A Nan oferecida ef, mungunz, sarapatel, feijo com coco e piro com batataroxa.Oamal(pirodeinhame)pertenceaXang.Deveuntarofundoda gamelaesobreelecolocadoocarurudecoradocompedaosdecarne,camares, acaraj e quiabos, doze unidades de cada e enfeitado com um orob. Essa oferenda deve ser servida quente. Ao preparar os pratos dos orixs, deve observar os tabus de cada um deles, pois temunsquecomemumtipodealimentooutrosno.Porexemplo,oazeitededend nuncadeveseroferecidoaOxal,omelproibidoaOxssi,ocarneironuncapode entraremumacasaconsagradaaIans.portudoissoque,osfilhosdesantodevem observartodosostabusdosorixs,poissendopartedoorix,tambmnopodem consumi-las. < http://www.alaketu.com.br > Acesso em: 05/05/2013. Nosterreirosasprticasfundamentamasatitudesdasvendedeirasde tabuleiroquevemosnasruasepraasdoRioedoSalvador.Oatode vender comida na banca ou caixa de forte vnculo religioso, ligado s CasasdeCandombl.Ascomidasdossantos,osamuletosque compem a venda, projetam o rigor da culinria dos templos, incluindo simbolismos e sentidos sagrados (LODY, 1998, p.100). Nessa citao, podemos perceber que Lody, como outros autores anteriormente, reforaopapelreligiosodasmulheresafricanasligando-ocomaquestodavendade comidasnarua.Destaforma,aparecemunidosocunhodomsticoeadedicaoem manter o rigor dos cultos, especialmente, os de candombl. Asreceitasutilizadasporessasafricanaseafro-descendentessaramdas senzalas(acas,acarajs,etc.)paraasruas,sendoconsumidaspelapopulaoem geral. O que as pessoas nem sempre sabiam se estavam comendo ou no, alguma parte de homenagem a algum orix (ROSA, 2010). Comofeirantesasnegras,faziammaisdoquevenderseuspetiscos,elas propiciavamamediaoeatrocadebenssimblicos,como:oraes,receitas,rezas, palavrasdecura,msica,mandingas,dana,enfim,trocavaminformaesquecomo passar do tempo, ajudava-as elas a tornarem-se grandes lderes da cultura africana. 30 Aatividadedetrocaqueocorrenasfeiraspareceserdeimportncia inconteste para as mulheres iorubs, pois elas se submetem separao de suas famlias: quando jovens, deixam seus lares para ir comerciar em mercadosdistantes;quandoidosas,mandamsuasfilhasparaasfeiras importantesepermanecemprximoasuascasascomseustabuleiros, ou, ento, abrem pequenas vendas (BERNARDO, 2011). Percebe-se,assim,queopapeldasmulheresvaimuitoalmdodesempenhado nas atividades econmicas. Elas so mediadoras no s das trocas de bens econmicos, comotambmdasdebenssimblicos.Olugarsocialocupadopelasmulheres,sem sombradedvidas,possibilita-lheoexercciodeumpoderfundamentalparaavida africana e no mundo brasileiro, para o qual estes povos foram obrigados a emigrar. 2.1 ROUPAS: UM SMBOLO MUITO IMPORTANTE DENTRO DO CANDOMBL Aroupausadapelosparticipantesnocandomblpossuiumsimbolismomuito rico alm de ser tico e moral. Os axs como so chamadas as roupas das mulheres, d paraelasposiodepostura,poisbonitosenotaraformaearevernciaqueestas roupas expressam na aparncia dessas mulheres, causando perante as outras pessoasum tomderespeito.Ovesturiousadoporumayalorix(me-de-santo),porexemplo, diferente das roupas usadas pelas yas (iniciantes), pois caracterizado pelo uso da bata que usada por fora da saia; no candombl a bata simboliza um posto ou cargo dentro desuahierarquia,juntoesttambm,opano-da-costaqueusadodeumaforma diferente para representar o cargo dentro do terreiro, as mes-de-santo usam no ombro, j as iniciantes usam amarrado no peito. Asyalorixsusamtambmbatasesaiasdebordadorichelieu,normalmentes usadasporelas.Osturbantestambmchamadosdetoroouoj,quesousadosna cabea, s vezes, so maiores e com mais ornamentos, assim como determinados fio-de-contas que no podem ser usados por pessoas que no tem um cargo. Um pedao de pano pode simbolizar a sobrevivncia de toda uma identidade ou conservar detalhes fundamentais de uma cultura. possvel perceber as diferenas entre umpovodenaojeje,angolaouiorubapenaspelojeitodeamarraroturbantena cabea.Umgestosimplesdeprenderoscabelosnumturbante,heranaquesobrevive atravs das vestes das baianas de acaraj tambm servem como exemplo de preservar a riqueza de um hbito iniciado no outro lado do oceano.31 Sendoassim,sevestirbemumaquestodehonraentreosafricanoseseus descendentes. Seja para homenagear um orix nos rituais ou para mostrar prosperidade, precisoestarelegante.Apesardealgunsitensdovesturionagterinflunciana elegnciaeuropeia,comonasvolumosasanguaserendasdaCorte,ocharmemesmo dos vesturios est na combinao das cores fortes e vibrantes e tambm no branco, pois muitas vezes usado apenas ele, mas mesmo assim no perde sua elegncia. Dentretodosessescostumes,umdosprincipaisquedesdeocomeodo candomblnoBrasil,osseusfilhosdeviamaprenderaconfeccionarsuasprprias roupas no perodo de iniciao religiosa e mesmo com o passar do tempo, essa tradio nofoiperdida,sendopromovidasoficinasdentrodosterreirosespecializadasna fabricao das roupas. As peas usadas no dia-dia dos terreiros, conhecidas com rao, soroupassimplesepodemsercoloridasoubrancas,dependendodaocasiono terreiro.Jnoscultos,aspeaspodemsercombinadasemcoresbemfortesouno branco soberano, dependendo do orix homenageado no ritual daquele dia.Asvestimentasusadasnosterreirostambmpodemserusadasforadeles. Muitosdospaisemes-de-santo,usamparasairemocasiesespeciais,trabalharnas ruas, enfim, no precisaser usada somente nos terreiros e sim na vida cotidiana desses praticantes. Tudo importante para a venda de banca. O traje, os fios de contas, as pulseiras, o pano-da-costa e outros detalhes constituem a indumentria-base da negra baiana. Elas no podem ser encaradas como camels que vendem simplesmente artigos de consumo. Elas representam o lastro de uma tradio de dcadas de trabalho paciente e calmo[...](LODY, 1998, p.102) Lody tambm menciona que a roupa das baianas fundamental para a venda dos quitutes nas bancas, pois, atravs dessa caracterizao, essas mulheres mostram como sua cultura nas roupas que usam. Jnasfestasreligiosaseocasiesespeciais,tantoospais-de-santo,comoas mes-de-santo, se vestem como reis e rainhas, usam roupas feitas com tecidos nobres e confeccionadasespecialmenteparacadafestadeorix,almdosacessriosqueso usadoscomoanis,brincosecontas,estesquesoumdosadornosprincipaisno vesturio de qualquer praticante do candombl. Os fios-de-contas so assunto de muita responsabilidade, tanto que o babalorix ou a yalorix que escolhem a pessoa que far as primeiras contas de cada novo membro da comunidade. Intransfervel o fio-de-contas 32 um objeto permanente, faz companhia na vida, no trabalho, no lazer, enfim, em todos os momentos sagrados de um praticante do candombl. Esemdvida,portodosessesmotivosqueasroupasusadasnosterreirosde candomblsotofamosaseimportantes,poisalmdariquezanosdetalhesdas roupasqueservemparaprotegerocorpoedestacarabeleza,estabelecemhierarquias tornando-se smbolos identitrios por meio dos quais possvel refletir sobre os valores culturaisdedeterminadosgrupo,ondeexisteumahistria,umavidaportrsdecada item usado. < http://wwworixas.blogspot.com.br> Acesso em: 23/10/2011. 2.2 AS BEBIDAS E OS ALIMENTOS MAIS SERVIDOS NOS TERREIROS Nas religies afro-brasileiras, as comidas rituais como so chamadas as comidas especficas de cada orix so muito importantes, cujo preparo requer muito cuidado.H pessoasresponsveisporessetrabalhodecomunicaocomosagrado.Asiyabasss (cozinheiras)precisamsaberexatamentecomosopreparadoscadaumdessespratos, paraqueelessejamaceitospelosrespectivosorixs,poisexistemorixsqueno aceitamcomidascomdend,outrosnoaceitammel,camaro,enfim,essesalimentos depoisdeprontossooferecidosaosorixs,acompanhadosderezas,cantosedanas, duranteafestaounofinal,emgrandepartesodistribudasparatodosqueesto presentes. So chamadas tambm de comida de ax, pois acredita-se que o orix aceitou aoferendaeasimpregnoudeax.Acessoem: 06/06/2013. Estequadrotrazospratosquefazempartedasoferendasdecadaorix,como tambm os animais sacrificados em homenagem a eles. Quadro 2. Os alimentos dos deuses (orixs)3: Orix ComidaAnimais Sacrificados Local Obaluai, Oxumar e Nan Abad:Pratopassadonamquina,quese tornaumaespciedefarinha.Omilho vermelhoutilizadoparaafeituradesse alimentoritual.Oabadtambm encontradocomoutradesignaoparao axoxouaxox,nopossuindonenhuma Obaluai: galo,porco, bode. Oxumar: bode, galo. Nan:cabra, Riode Janeiro

3Estequadrofoielaboradocombasenaliteraturaconsultadaenasinformaesdosite< http://www.ileode.com.br/comida> Acesso em: 06/06/2013. 33 mudana de preparo.galinha. Oxum, Xang Abar: Massa preparada com feijo-fradinho. O feijo fica de molho at perder a casca, e os procedimentossosemelhantesaosdo acaraj.Amassacozidaembanho-maria, faz-secomelaunsbolinhos,eestesso envoltos em folha de bananeira, levando cada poro em camaro seco. Quando o abar tem funoprofana,obolinhodepoisdecozido aberto, recebendo massa de vatap adicionada de molho nag. O abar tambm conhecido por abal. Oxum:cabra amarela, galinha, patos. Xang: cgado,galo, carneiro, bode. Bahia ExuAbboracozida:pratodelicadoedealto preceitonasprticasdoscandombls-de-caboclo,quandoaabbora-morangacozida epreparadacommeldeabelha,recebendo, tambm, uma quantidade de vinho. A abbora cozidaapenasnagua,semqualquer condimento;retirando-seotampodamesma, so colocados o mel e o vinho, e se completa oalimentocolocandotirasdefumoderoloe folha-da-costa,estandoprontoparaocupar lugar no assento dos caboclos. Galosebode preto. Riode Janeiro OssaimAca:Omilhoraladonapedra.Amassa resultantepreparadadaformamaisfina possvel,devendoutilizarapeneirade urupema (designao comum no Nordeste). A guatrocada,depoisdeterficadoumdia inteiro deixando azedar. A massa cozida em outragua.Ogrossomingau,retiradocom uma colher de pau, colocado em pedaos de folhasdebananeirapreviamentepreparados no fogo para dar a textura desejada. O aca esfriado,geralmenteemutensliodeloua branca ou gata. Bode, galinhas, galo. Bahia IansAcaraj:Preparadocomfeijo-fradinhoou fradim.Ofeijoficademolhoatsoltarda casca;depois,omesmopassadoempedra oumoinho,resultandoemmassaqueser temperadacomcebolaraladaesal.Amassa deverserbemmisturada,sempreutilizando a colher de pau para preparar a liga. O azeite-de-dendcolocadoemgrandefrigideiraou tacho. Quando estiver fervendo, as pores de massadefeijosofritasatsetornarem douradaspeloleodepalma.Oacarajpara usoprofanopodesercomidocommolho nag, e, para as prticas sagradas, apenas frito jobastante.Otamanhoeformatodo Cabra marrom, galinha, pomba. Bahia 34 acarajtmsimbolismosprprioseso endereadosadivindadesespecficas.O acarajgrandeeredondodeXang;os menoresservemparaasiabs,comoIans; obs e ers tm em seus cardpios votivos os pequeninos acarajs de formato bem redondo. IemanjAngu: a papa, o cozimento de farinha com gua.Oangupratodosmaispopulares, ocupando lugar comumnas mesas profanase nos cardpios votivos de divindades cultuadas nosterreirosafro-brasileiros.Cr-sequeesse pratotenhavindodoinfundi,deAngola.As comidasbasedeangusocomuns, generalizandoosalimentosmoles,mesmo aquelesmaiselaboradoscomtemperos especiaisoumolhosadicionaise,assim,o angudefarinhasimplescomgua consumido.Oangupreparadoemmuitos cardpiosvotivosdedivindades,ora constituindo-seemalimentoisoladoou complementardeoutrascomidas,geralmente assados ou fritos base de azeite-de-dend. Carneiro, pato,galinha, cabra. Riode Janeiro, Pernam-bucoe Bahia ExuAssados de Exu: Os animais sacrificados so preparadosseguindocritriosprprios.Os ixs tm sua feitura especfica, com azeite-de-dend,eascarnessopostasnabrasa, ficandoosassadosaogostodocardpiode Exu.Ascarnesdecaprinoseavesso tostadas,depoisocupamopeji,eamaior quantidade servida em ajeum. Galos e bode Riode Janeiro ExuBolinhosdedend:Utiliza-sefubdemilho vermelho.Temperandoestamassacomsale pimenta,coloca-seemformadebolinhosno azeite-de-dendfervendo.Retiram-seos bolinhosnaquantidadeespecficada divindade. Galosebode preto. Alagoas IemanjCocada:Docebasedecocoquerecebe acareadquireconsistnciaduraemole. So acrescidos sucos de diferentes frutas. Carneiro, pato,galinha, cabra. Bahia OmoluFeijodeOmolu:preparadocomfeijo preto, contendo carne de porco sacrificado em honraaesseorix.Tempera-secomcamaro seco, sal e azeite-de-dend. Galo,porco, bode. Riode Janeiro ObLeloulel:Pratopreparadocommilhoe leitedecoco.Utiliza-seomilhomiudinho, Cabra, galinha, pato. Bahiae Riode 35 vindodochamadomilhovermelho,eo temperobasedecanela,cravo,sal,e acar.Todososingredientesvoaofogo, tornando-seumamassaconsistente, adicionando-sesempreumpoucodeleitede coco.Olel,depoisdeesfriar,ficabem durinho, pronto para ser oferecido. Janeiro Iemanj e Oxum Manjardocu:Pratobasedemaisena, acrescentando-seleitedecoco,sucode maracuj e canela. Iemanj: carneiro, pato,galinha, cabra. Oxum:cabra amarela, galinha, patos Mara-nho Iemanj, Oxume IansMoquecadepeixe:Peixepreparadocomos condimentoscomuns,basedecoentro, cebola, sal e limo, alm do vinagre. O peixe colocadoparacozinharcompimenta malagueta,tomateeazeite-de-dend,sendo tambmcomumedetradiopreparara moqueca de peixe com dois tipos de azeite, o de oliva, ou doce, e o de cheiro, ou de dend. Iemanj: carneiro, pato,galinha, cabra. Oxum:cabra, galinha, patos.Ians:cabra marrom, galinha, pomba. Bahia Vrios Orixs Molhonag:Molhoqueseusapara acompanhar alimentos como o acaraj, abar, arrozdehau,entreoutros.Omolho preparadocomazeite-de-dend,cebola, camaressecoseboaquantidadedepimenta malagueta.Assim,adquireumaconsistncia quelembraumapasta,exalandocheiro peculiar e tentador. Bahia, Riode Janeiro XangOmal:Pratoprediletodocardpioritual desseorix.Oomalpreparadocom quiaboscortadosemrodelasbemfinas, temperadoscomcebola,camarosecoe azeite-de-dend.depreceitoetradio colocar12quiabosinteirosnagamelade madeira onde servido o omal, guarnecendo comaca,semfolhasdebananeira.assim recebidonopejideXangoseuprato principal,condicionadoslendasdesseorix guerreiroejusto,fortepelosseusprincpios vitaisdecontroledoselementos meteorolgicosdanatureza.Odirigenteda cerimnia oferece o omal em honra a Xang, devendo o alimento ficar no santurio de seis Cgado,galo, carneiro, bode. 36 a doze dias. ExuPad:alimentoritualquecaracterizao inciodascerimniasdosterreirosde candombl,servindodealimentovotivo,que condicionaaaodomensageirodosdeuses, bem como suas propriedades mgicas. O pad feitodefarofa-de-dend,colocadaem recipienteespecial,farofabranca,quartinha contendogua,podendo,ainda,tero complemento de aca e mesmo de acaraj. Galosebode preto. Bahiae Riode Janeiro OxumQuindim:AlimentodedicadoaOxum, provavelmente por ser um doce amarelo, feito com acar, ovos e coco. Cabra amarela, galinha, patos. Rio Grande do Sul Vrios orixs Vatap:Pratodosmaispopularesdamesa baiana,integra-seaocardpioritualreligioso dos terreiros. Pes, camares secos, camares frescos,peixe,amendoim,gengibre,cebolas, e dend, entre outros ingredientes, fazem essa papasaborosaedeaspectodouradoe perfume peculiar. Bahia Ascomidasoferecidasaoorixgeralmente,nopodemsercomidaspelas pessoas.Essesalimentosdevemsercolocadosapsoperododetrsasete,oumais dias,emdeterminadolugar,quetenhaalgumvnculocomoorixalimentado.tabu oferecerpimentas,comidassalgadas,etc.Osalimentospossuemasmesmasforas culinrias, como se fossem consumidas pelas pessoas, por isso os utenslios devem estar sempre transbordando com as comidas, constituindo-se em um verdadeiro tabu coloc-las em pouca quantidade (LODY, 1998). Como os alimentos, as bebidas possuem um significado de real importncia para a manuteno dos valores religiosos nos terreiros. Elas ocupam nos pejis, seus potes ou quartinhas, que so substitudos de acordo com as cerimnias e os cardpios. Consequentemente,asbebidasindustrializadasjestoocupandoospejiseo distanciamentodeidentidadedasrazestradicionais,vaisealargandonoprocesso cultural dos terreiros, mesmo assim ganhando a tradio. Asbebidasartesanaissotrabalhosaseadedicaodasiyabasssfaz comquecadaprato,cadasabor,cumpraummomentoquaselitrgico dopreparar,servireassimrepetir,sempre,tradiesalm-Atlnticoe 37 outrascriadasnoBrasil.Todasimportantes.Todasdefinidorasdo carter sensual, mgicoenutritivo doscardpiosdosterreiros(LODY, 1998, p.58). Acerveja,ovinhoeacachaaestopresentes,entrandoemmuitosrituais privados,autilizaodessasbebidasacontece,principalmente,noajeum(banquete), onde predomina a cerveja, em seguida a cachaa e, raramente, o vinho. A utilizao de bebidasfermentadascomumemutensliosdebarro,epossuioalucomoprincipal representante. O alu, bebida das mais comuns, preparado pela fermentao, em gua, deingredientescomomilhovermelho,rapaduraegengibre.servidocomo acompanhamentodospratossagrados.Oaluabebidadetodasasfestas,ocupando lugardedestaquenaquelasdociclojuninoounascerimniasdedicadasaosIbejisea Xang.Nascerimniasdesacrifciosdosanimais,comumobservarmosopreparode bebidasfeitascompartedosanguedosanimaissacrificados,meldeabelhasevinho. Essa bebida servida aos participantes das matanas, formando-se em significativo elo entreosadeptoseosorixs.Abebidatambmcolocadanopeji,sendodegrande importncia, visto o significado do sacrifcio dos animais. Dodendezeiroapareceutambmumabebidaemformadevinho,ovinho-de-dend,queeraservidopelasnegrasdetabuleiro.Eraservidoemcanecas, acompanhando o acaraj, o abar e outros quitutes. O vinho-de-dend, hoje no mais encontrado. Comopercebemos,nasreligiesafro-brasileiras,principalmentenocandombl, oatodecomer,antesdetudo,serelacionarcomeatravsdosagrado.Oque oferecidocodificadonacomplexaorganizaodoterreiro,assimcirculandoese renutrindo,porisso,hsentidoefunoemcadaingrediente,comosignificadosnas quantidades, nos procedimentos, nos atos das oferendas, nos dias e horrios prprios, no somdecnticos,notoquedosatabaques.Enfim,nosterreirostudopossuiumagrande importncia para ser daquele jeito (LODY, 1998). Alm das comidas e bebidas, existe outro ato muito importante no candombl, o sacrifciodosanimais.Osanguequeretiradodossacrifcios,consideradocomo seivamgica,quealimentaosdeuses.Porm,oatodesacrificaressesanimais,no significaqueestodesrespeitandoanatureza,pelocontrrio,ooferecimentodos 38 animaisaosorixs,mostraqueexisteumgranderespeitoentreosadeptoseos elementosdanatureza,quesoosprpriosorixs.Aspessoastreinadasespecialmente paradesempenharopapeldesacrificador,realizamtalocupaocomgranderespeito, procurandoseguirorigorqueessesrituaismerecem.Sacrificaranimaisquadrpedese avesfunomasculina,noentanto,emalgumasprticas,asmulheresrealizamtal obrigao (LODY, 1998). Osanimaisescolhidosparaossacrifcioseparaserviremdealimentoparaos orixstm imensaidentificaocomadivindadeescolhida,poissoescolhidosparao sacrifcio pelas cores, caracterstica racial, tamanho e sexo, e devero estar em perfeitas condies de sade. Assim selecionados, podero integrar o conjunto de oferendas nos ritos de renovao, iniciao, fnebres, limpeza mgica, entre outros. Assim, os animais sacrificados no so apenas alimentos que iro ampliar e reforar os elos do ax em sua concepopropiciatriaeinvocativa.Osanimaisdossacrifciossoemblemasde ordem hierrquica, de contedo tico e, especialmente, religioso (LODY,1998). Portanto,oatodesacrificaranimaisnasreligiesafro-brasileirasnosignifica um ato de crueldade. E bom lembrar que outras religies ainda usam ou j se serviram desacrifciosparaacomunicaocomosagrado(comoojudasmo,nopassado,por exemplo).Ossacrifciossocerimoniaisquefazempartedoscultos,tantoquantoos atosdeoferecercomidas,doces,objetos,tudofazpartedessesrituaisemhomenagem aos orixs. 39 CONSIDERAES FINAIS Asreligiesdematrizafricanaforammarcadasdurantemuitotempo,por perseguies, destruies dos templos e, principalmente, pelo preconceito sofrido pelas pessoas da elite. Pesquisar sobre o processo histrico e a formao dessas religies no uma tarefa fcil. Primeiro porque foram perseguidas durante muito tempo e, com isso, muitos documentos a seu respeito foram destrudos, restando poucos registros histricos elivrossobreelas.Sabemostambmqueasreligiesafro-brasileiraspossuemsuas caractersticasprprias,cujosprincpioseprticasso,emgeral,transmitidas oralmente.Comotempo,pesquisadores,antroplogos,socilogos,historiadores, comearamaseinteressarporessepovo,seuscostumesecrenas.Osquais,mesmo comtantasdificuldades,conseguirampreservarsuacultura,suatradio.Esses pesquisadorescomeamescreversobreessasreligies,principalmenteocandomble, comisso,asreligiesdematrizafricana,comearamaganharesetornarmais conhecidas em todo o Brasil e fora dele. Estudar o candombl adentrar num universo belssimo e rico. Trata-se de uma religioquechamaatenoporcontadesuasinteressantestradies,seuscostumes mestiose,principalmente,pelopapeldasmulheresemseuinterior.Entenderolugar dessas mulheresnos postos mais altos do candombl, sua dedicao na preparao dos alimentosparaasoferendas,comotambmparaseremservidosnosterreiros,os detalhes na fabricao das roupas, o uso dos colares, os mitos dos orixs, so atrativos paraoestudoaprofundadodestareligio.Opreconceitoaindaexiste,oolhardiferente quandosefalaquevaipesquisarsobrereligiesafro-brasileirasmuitoforte.Mesmo assim, estudar sobre essa cultura uma coisa fascinante, pois ao olhar para o passado, revelada a importncia de tirarmos significativas lies para o presente e o futuro. Falar sobreessesfatosrememoraropoderdelutaeresistnciatravadopelasmulheresno candomblque,comsagacidadeeexperincia,noseesquecemdeavanar,guiadas pelahistriaeassim,tornarpossvelabuscapelainclusodessepovoquetanto preconceito sofreu e ainda sofre. 40 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AZEVEDO,CeliaMariaMarinhode.Ondanegra,medobranco:Onegro noimaginrio das elites sculo XIX. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987. BARBARA,Rosamaria.ADanadasAiabs:Dana,corpoecotidianodasmulheresde candombl.TesededoutoradoemSociologia.ProgramadePs-GraduaoemSociologia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2002. BASTOS,IvanaSilva.AvisodoFemininonasReligiesAfro-brasileiras.Tesede bacharelado.ProgramadePs-GraduaoemCinciasSociais.UniversidadeFederalda Paraba, Joo Pessoa, 2007.BERNARDO, Teresinha. O Candombl e o Poder Feminino.PUC/ SP. 2005; consultado em 24/10/2011.BASTIDE, Roger. As religies Africanas no Brasil: contribuio a uma sociologia das interpretaes de civilizaes. So Paulo: Pioneira,1971. 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