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FICHA TÉCNICA

DIRETORFernando Barbosa

DIRETORA EXECUTIVACarla Santos [email protected]

CHEFE DE REDAÇÃOCarlos Pinto dos Santos

CONSELHO DE REDAÇÃOAbraão RibeiroAdelino BesteiroJ.Durão CarvalhoPascoal FaíscaSantos CardosoVictor Pais

REDAÇÃOCátia Vilaç[email protected]

GRAFISMOAna Pereiraem colaboração com Publindústria, Lda

MARKETING E PUBLICIDADEVera [email protected]

DIREÇÃO EDITORIALATEHPAssociação de Técnicos de Engenharia Hospitalar PortuguesesRua Dos Ratinhos S/N,Trouxemil3025 – 258 CoimbraTel. e Fax 239 724 [email protected]

REDAÇÃO E EDIÇÃO Engenho e Média, Lda.Grupo PublindústriaTel. 225 899 625 | Fax 225 899 629www.engenhomedia.pt

COLABORARAM NESTE NÚMEROAna Cristina Pinheiro, Ana Tavares, António Augusto Vicente, António Jorge Ferreira, António Lúcio Baptista, Carla Mendes, Carla Silva, Ema Leite, Henriqueta Louro,Iola Duarte, J. Graça Rocha, Liliana Pereira, Luís Inácio, Maria João Silva,Miguel Ângelo Cerqueira, Sílvia Carvalho, Tito Trindade

EDITORAntónio Malheiro

PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃOPublindústria Produção de Comunicação, LdaPraça da Corujeira, 38 – Apartado 38254300-144 PORTO – [email protected]

PUBLICAÇÃO PERIÓDICARegisto no I.C.S. n.o 121 722

ISSN1645 - 9431

DEPÓSITO LEGAL242824/06

ASSINATURAS / PREÇO DE ASSINATURA [email protected]. 225 899 62530 €

PERIODICIDADE / TIRAGEMBimestral / 4.000 exemplares

IMAGEM CAPACopyright: mid

As posições expressas pela TecnoHospital

não são necessariamente subscritas pela

direcção da ATEHP.

www.tecnohospital.pt

Os artigos assinados escritos no antigo Acordo

Ortográfico estão-no por vontade expressa dos

seus autores.

59editorialO admirável mundo das nanopartículas

entrevistaVasco Teixeira

dossiêNanotecnologia na saúde

Nanotecnologias e saúde pública

Nanomedicina: aplicações e perspetivas futuras

Nanotecnologia como ferramenta para produzir novos alimentos funcionais: vantagens e precauções

Nanopartículas inorgânicas: novos materiais em biomedicina

Nanotecnologias em saúde

A Nano-Biotecnologia têxtil para utilização em terapêutica auxiliarno tratamento e de úlceras de pressão

projeto ECO.AP

notícias

produtos e tecnologias

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editorial

2 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

O admirável mundo das nanopartículas

As nanotecnologias aplicadas à área da Saúde constituem o essencial desta edição

da Tecnohospital.

Para além de um diversificado e bem documentado dossiê sobre o tema, coor-

denado pelo membro do Conselho de Redação, Engº Abraão Ribeiro, publicamos

uma entrevista com o Prof. Vasco Teixeira, Pró- Reitor da Universidade do Minho,

que é o coordenador do Projeto Nanovalor, liderado pela sua Universidade e que

agrega, sob a forma de consórcio, diversas instituições e empresas com atividades

de investigação, desenvolvimento e produção de nanotecnologias, na Eurorregião

Norte de Portugal - Galiza.

Para os leitores menos familiarizados com o tema, recordamos que a nanoescala

se situa entre 1 e 100 nm (1x 10-9 metros). Em algumas partículas desta dimensão

observam-se propriedades únicas e pouco comuns a nível físico, químico e biológico.

Na designação «nanotecnologia» inclui-se a modelagem e manipulação da matéria,

à escala atrás referida.

São muitas as aplicações destas propriedades das nanopartículas, sendo de

destacar a sua utilização em setores de tanta importância para a vida de todos nós,

como a energia, a defesa, as comunicações, purificação de água, criação de novos

materiais, redução da poluição ambiental, e naturalmente, a área da Saúde.

No dossiê que apresentamos nesta edição, refere-se amplamente a utilização

das nanopartículas no diagnóstico e tratamento de patologias, como o cancro ou

doenças infecciosas, no transporte e entrega de fármacos, na obtenção de imagens

por ressonância magnética e imagem bimodal, bem como na biomarcação de células

e biomoléculas, em técnicas de diagnóstico clínico.

A produção e desenvolvimento de nanomateriais nos EUA (quase 50%, do total

mundial) e na União Europeia (cerca de 30 %), tem sofrido um incremento muito

significativo.

Segundo dados publicados em 2011 e relativos ao ano de 2010, em Portugal ti-

nham sido pedidas 14 patentes. Hoje há, em Portugal, um conjunto muito relevante

de Universidades, Centros de Investigação, Laboratórios e Empresas que têm vindo

a aumentar esse número de patentes e criaram, sobretudo à volta da Eurorregião

Norte de Portugal - Galiza, um polo de excelência a nível mundial em Nanotecno-

logia, «traduzindo-se numa alta taxa de conversão do potencial de I&D em novos

produtos, processos e serviços de alto valor acrescentado».

Na última Edição da Tecnohospital, em entrevista que publicámos com o Dr.

António Lúcio Baptista, um dos promotores desta plataforma que procura ligar a

investigação ao produto inovado, foram apresentadas algumas das aplicações das

nanotecnologias na área da Saúde, como as meias elásticas, o calçado com nanos-

sensores incorporados ou as pistas check-up.

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editorial

No dossiê desta Edição, o Dr. António Baptista, juntamente

com duas investigadoras, aborda diversos aspetos das nano-

tecnologias em Saúde, destacando o projeto que está a ser

desenvolvido na Universidade do Minho, pelo FMRG-Fibrous

Material Research Group, com vista ao desenvolvimento de

um stent multifuncional híbrido à base de materiais fibrosos

«capaz de eliminar ou minimizar as desvantagens dos stents

metálicos, comercializados atualmente, aumentando a vida útil

dos stents e o bem estar do paciente» a quem foram coloca-

dos, em consequência de enfartes do miocárdio.

Em dois dos textos do dossiê, aborda-se, igualmente, os

eventuais efeitos toxicológicos colaterais, quer para os utentes

dos serviços de saúde, quer para os profissionais que os apli-

cam, dos nanomateriais manufaturados, que não são, ainda,

suficientemente bem conhecidos.

Como escreve o Dr. António Jorge Ferreira, médico do

CHUC-H.U. Coimbra, no final do seu texto, «a área das nano-

tecnologias, enquanto ciência emergente, ainda se encontra

rodeada de alguma aura de mistério e de ficção científica: o

futuro trará, possivelmente, a consolidação de algumas das

certezas atuais, nomeadamente a nível da nanomedicina,

mas adensará também algumas das dúvidas mais prementes

no que diz respeito à nanotoxicologia, às interações nos sis-

temas humanos e aos fenómenos de exposição ocupacional

e ambiental».

Para reforçar a importância do tema do dossiê desta edição,

ouvimos em entrevista o Professor Vasco Teixeira , coordena-

dor do consórcio Nanovalor, um expert nestas matérias e um

dos «militantes» mais reconhecidos deste importante setor da

Ciência e Tecnologia. Aconselhamos vivamente a sua leitura.

A 1ª edição da Tecnohospital foi publicada em setembro

de 1998. Sendo esta a edição de setembro/outubro de 2013,

gostaríamos de tecer breves considerações que marquem os

15 anos de publicação ininterrupta da Tecnohospital - Revista

de Engenharia e Gestão da Saúde, única revista portuguesa

que tem conseguido sobreviver nestas áreas de atividade.

A primeira e mais significativa constatação é a satisfação

por ter sido possível manter este projeto editorial, como

parceria da ATEHP – Associação dos Técnicos de Engenharia

Hospitalar Portugueses, com a Engenho e Média, editora de

livros e revistas técnicas, sem qualquer hiato ou perda de

qualidade.

Passando das 4 edições anuais do início para as 6 atuais,

sempre num percurso ascensional, no que diz respeito ao

conteúdo, ao aspeto gráfico e à diversidade e qualidade das

colaborações que se publicam.

Com os constrangimentos inevitáveis, impostos pela crise

económica que há anos assola o país, e a consequente dificul-

dade em manter os apoios publicitários, para um publicação

em suporte papel, em tempos de paperless e de novas tec-

nologias na comunicação.

Mantemos o propósito de inovar e de nos adaptar aos

novos tempos, mantendo intactos os ideais e objetivos que

estiveram na génese da criação da Revista - colaborar na in-

formação e formação dos profissionais, ligados às tecnologias

da Engenharia, Arquitetura e Gestão dos serviços de saúde.

O nosso reconhecimento ao grupo do Conselho de Redação

que nos acompanha, quase todo, desde o início da Revista, à

Equipa de produção, chefiada pela Diretora Executiva, Eng.ª

Carla Silva, bem como às empresas que anunciam nas nossas

páginas.

E, naturalmente o nosso profundo agradecimento aos qua-

lificados colaboradores que enriquecem a Revista com os seus

textos e comentários, bem como aos leitores, sem os quais a

Tecnohospital não faria qualquer sentido.

outubro 2013

PUB

MOVENSIS

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entrevista

4 tecno hospital 59 SET/OUT 2013

entrevista

Vasco Teixeira

“No futuro, talvez dentro de 10 a 15 anos, podemos imaginar ter um verdadeiro laboratório clínico num chip”

Vasco Teixeira é pró-reitor para a investigação na Universidade do Minho. É licenciado em Física e Química e tem um Doutoramento na área de revestimentos multifuncionais. Pertence ao grupo de revestimentos funcionais do Centro de Física da Universidade de Minho. É o coordenador do projeto Nanovalor, um polo de competências ibérico dedicado à Nanotecnologia.

Entrevista conduzida por Fernando Barbosa e Carlos Pinto dos Santos | Jornalismo por Cátia Vilaça

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entrevista

5tecno hospital 59SET /OUT 2013

TecnoHospital (TH): Fale-nos do Projeto Nanovalor.

Vasco Teixeira (VT): O Nanovalor é um projeto em desenvolvimento

por um consórcio de parceiros institucionais financiado pelo POC-

TEP [Programa de Cooperação Transfronteiriça Portugal/Espanha

2007-2013]. O projeto NanoValor pretende ser um motor de ala-

vancagem de uma Euroregião de Excelência em Nanotecnologia

pela dinamização de uma rede de cooperação efetiva entre os

seus principais atores-chave. Como projeto da Eurorregião norte

de Portugal-Galiza, junta vários parceiros académicos - Universi-

dade do Minho, Universidade do Porto, Universidade de Santiago

de Compostela, INL e centros de interface participados pelas uni-

versidades, como é o caso da TecMinho e FEUGA e associações

industriais (AIMEN). Entretanto, centros tecnológicos e empresas

de nanotecnologia, bem como empresas que pretendem utilizar a

nanotecnologia para melhorar alguns dos seus produtos, poderão

participar como membros associados.

O projeto, cuja duração é de dois anos e meio, tem como principal

missão reforçar os laços institucionais entre os atores-chave da área

da nanotecnologia na eurorregião Norte de Portugal-Galiza, e pre-

vê-se que, no final, seja criada uma associação sem fins lucrativos.

TH: A ligação entre o norte de Portugal e a Galiza tem sido fácil?

VT: na minha área, ligada a nanomateriais, tem sido bastante pro-

dutiva. Nós já estamos habituados a trabalhar em consórcios eu-

ropeus e, no caso deste projeto ibérico, temos tido muitas ativi-

dades em congressos internacionais e interação nas redes sociais,

e isso faz com que outros polos de outras regiões nos conheçam

e contactem para perceber o funcionamento deste polo regional.

Houve, em julho deste ano, uma conferência em Dublin que juntou

vários projetos financiados pela Comissão Europeia (por convite) e

Portugal esteve representado pelo Nanovalor.

Como se caracterizam os recursos humanos da Nanovalor?

O projeto Nanovalor é financiado em 1,4

milhões de euros, distribuídos pelos vários

parceiros que constituem o consórcio. Parte

deste financiamento destina-se a contratar

recursos humanos altamente especializados.

Nós contratámos dois gestores de projeto

que são pagos pelo projeto. Depois há re-

cursos humanos das instituições – temos con-

tributos da Escola de Ciências, da Escola de

Engenharia, da Escola de Ciências da Saúde,

do Instituto de Ciências Sociais e da Escola de Economia e Gestão.

Todos estes recursos humanos têm algum tipo de relação com a

Galiza para a área de nanotecnologia.

TH: Por que surgiu este interesse pela nanotecnologia na re-

gião de Braga e no norte da Galiza?

VT: Tem-se observado nos últimos anos um importante desen-

volvimento relativo à transferência de conhecimento de resulta-

dos procedentes da atividade de I&D em Nanotecnologia na re-

gião do Norte de Portugal - Galiza. Parte deste êxito encerra na

sua base um esforço continuado por parte das instituições des-

tas duas regiões, capazes de desenvolver investigação científica

cada vez mais competitiva, eficiente, colaborativa e articulada.

A Universidade do Minho considera a área da nanotecnologia

como estratégica. No domínio da Nanotecnologia decorrem

atualmente algumas dezenas de projetos de I&D com financia-

mento europeu e nacional e envolvendo parceiros industriais.

Englobam áreas onde a Universidade detém competências cien-

tíficas e tecnológicas em bionanotecnologia, nanomedicina, na-

noelctrónica e nanomateriais (produção e nanocaracterização).

Por coincidência ou não, a maior parte dos investigadores que

têm muito sucesso na captação de financiamento europeu e em

quem as empresas depositam interesse para a resolução dos

seus problemas tecnológicos, têm estado no norte. No último

Programa Quadro, mais de 50 por cento dos projetos financia-

dos pela Comissão Europeia vieram para a região norte de Por-

tugal (Universidade do Porto e Universidade do Minho). O próxi-

mo Programa Quadro, que se vai chamar Horizonte 2020, vai ter

um orçamento de cerca de 70 mil milhões de euros. Na área das

nanotecnologias e fotónica, o valor anterior, que era de 3500 mil

milhões, aumentará para cerca de 6 mil milhões. Por esta apos-

ta de investimento já se antevê que o impacto económico e na

qualidade de vida dos europeus que a nanotecnologia terá de

representar vai ser muito grande, caso contrário a Comissão Eu-

ropeia não afetaria este montante.

TH: Que aplicações existem no campo da nanotecnologia?

VT: A nanotecnologia é muito ampla e pode ser utilizada em

diversas áreas. Temos nanomateriais em produtos do dia-a-dia e

nem nos apercebemos. Muito embora o impacto da nanotecno-

logia ainda não seja totalmente mensurável, os produtos que a

incorporam representam atualmente um enorme mercado que

não pode ser ignorado. Os nanomateriais e a nanotecnologia já

há praticamente 10 anos que vão fazendo parte de muitos dos

nossos produtos. O exemplo mais evidente será a evolução dos

telemóveis, dos monitores que temos em casa ou dos compu-

tadores portáteis, uma vez que os nanomateriais utilizados na

[Na] “libertação controlada de fármacos, o volume

de negócios à escala mundial é da ordem dos 180 mil

milhões de dólares. Se as nossas empresas ligadas

aos equipamentos médicos e produtos farmacêuticos

pudessem estar neste mercado, podíamos ter aqui

um contributo bastante grande para o PIB nacional“

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entrevista

6 tecno hospital 59 SET/OUT 2013

forma de películas finas permitiram au-

mentar a capacidade de resolução do ecrã

ou obter ecrãs táteis. Os chips para as me-

mórias e os microprocessadores são outro

exemplo – são dispositivos que antes eram

muito grandes e agora estão cada vez mais

pequenos. A própria evolução do armaze-

namento das memórias e o aparecimento

das memórias RAM e dos USB deve-se à

microeletrónica, que se agora se aproxima

cada vez mais do interface com a nanoele-

trónica. Outro exemplo são as impressoras

a jato de tinta. Um tinteiro dispõe de um

sistema de microtecnologia muito avan-

çado com micro furos e filmes finos como

resistências elétricas para aquecer a tinta e

injetá-la através de microgotas ou até na-

nogotas, compostas por uma dezena de

nanogramas.

A tecnologia digital já adaptou os tinteiros

para poderem imprimir diretamente nano-

partículas e tintas especiais – condutoras e

coloridas – porque a resolução é tão gran-

de que podemos pensar em produzir, com

tintas especiais, biossensores de baixo

custo para utilizar e deitar fora. Se houver

uma nanopartícula com capacidade sen-

sorial para detetar, em poucos segundos,

pela mudança de cor, por exemplo, a pre-

sença de uma bactéria, como a E. coli, e

se for possível imprimir aquelas nanopar-

tículas numa pequena folha de papel, à

semelhança do que acontece com os me-

didores de pH e sensores clínicos, então a

área do diagnóstico quer para aplicações

em Medicina quer em qualidade e segu-

rança alimentar vai beneficiar muito.

Atualmente, se quisermos despistar

doenças temos de fazer análises e exa-

mes complementares muito caros, que

exigem ir a várias clínicas e por vezes até

utilizar radiação. No futuro, talvez dentro

de 10 a 15 anos, podemos imaginar ter

um verdadeiro laboratório clínico num

chip, chamado lab-on-a-chip (já existe

no mercado mas ainda é muito limitado

no número de análises). No próprio con-

sultório médico, com uma pequena gota

de sangue ou de saliva, será possível des-

pistar entre 10 a 100 doenças em poucos

segundos por um custo irrisório. Já vão

existindo empresas a nível mundial, algu-

mas até cotadas em bolsas tecnológicas,

como é o caso do NASDAQ, com siste-

mas já patenteados para detetar 10 doen-

ças num chip.

As nanocápsulas e nanopartículas - os

chamados nanofármacos - penetram na

pele ou chegam ás células mais rapida-

mente; se forem funcionalizados podem

ir diretamente para a célula doente.

No futuro, o tratamento do cancro e de

doenças neuronais pode ser mais efe-

tivo com a ajuda da nanotecnologia. Já

há muitos estudos e muitos grupos de

investigação – alguns cá, na Universidade

do Minho – que funcionalizam nanopar-

tículas, de modo a que elas, através da

corrente sanguínea, só irão localizar-se

em células doentes, o que permite dimi-

nuir a dose química. Todos estes projetos

contribuem para uma nova área: a nano-

medicina.

TH: Essas possibilidades já estão a ser

aplicadas?

VT: Estão a ser estudadas em laborató-

rios. A própria imagiologia médica tem

avançado muito e cada vez vai evoluir

mais porque vai utilizar nanopartículas

e sistemas nanoestruturados, como os

pontos quânticos, que não são mais do

que cristais semicondutores, com capaci-

dade de emitir luz quando irradiados com

radiação UV, ou chips com nanomateriais

que possibilitam a radiografia digital de

elevada resolução utilizando doses de ra-

diação mais baixas.

TH: E não haverá aspetos toxicológicos

perigosos para os utentes e para os pro-

fissionais que utilizam esses meios de

diagnóstico ou terapias?

VT: Os riscos poderão ser menores quan-

do comparados com a radiação, mas a

questão que levanta tem a ver com a

indústria em geral. A utilização de nano-

partículas levanta outros dois problemas:

um é o facto de elas se poderem libertar,

serem inaladas e irem para o sistema

sanguíneo ou, mesmo sendo inorgânicas,

entupirem os bronquíolos ou entrarem

na corrente sanguínea e afetarem algum

órgão. Por isso, existem grupos de in-

vestigação que estudam processos para

entender a interação das nanopartículas

com as células, para ver até que ponto

uma nanopartícula que se libertou para

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entrevista

8 tecno hospital 59 SET/OUT 2013

o ambiente ou para a água e poderá ser

perigosa para a saúde humana.

Quando as nanopartículas forem usadas,

significa que passaram os testes, tal como

passam, hoje, os medicamentos. Estamos

a falar ainda de futuro. Atualmente, há

muita investigação e estão para ser pu-

blicadas muitas diretivas para limitar, tam-

bém, o uso de nanopartículas em certos

setores.

Por exemplo, na área dos alimentos ain-

da não há muita legislação que proíba a

utilização de aditivos que sejam de na-

nopartículas em alimentos. Não havendo

legislação, se amanhã alguém, sem fazer

estudos, utilizar certos nanomateriais nos

alimentos para que estes durem mais tem-

po, se evite o crescimento de fungos ou

até para conferir sabores especiais, com

nanopartículas comestíveis que não te-

nham sido testadas, podemos ter um pro-

blema muito grave na área da saúde públi-

ca. Daí a importância que existam grupos

a estudar os aspetos de nanotoxicologia.

Quando as nanopartículas são aplicadas

em componentes e estão bem fixadas (te-

mos por exemplo embalagens de plástico

com aditivos de nanopartículas) não nos

fazem mal. Não há nenhuma partícula ou

nanomaterial que se vá libertar.

TH: A nível do nosso país, qual é o estádio

de desenvolvimento da nanotecnologia?

Será que também teremos empresas e

centros de investigação suficientemente

fortes para competir a esse nível?

VT: Portugal tem grupos de investigação

em todo o país na área da nanotecnologia.

No norte eu destaquei uma medida quan-

titativa, que foi o bom desempenho que

estes grupos tiveram a captar financia-

mento europeu. A nível nacional, há mui-

tos grupos de investigação de excelência

e há empresas de nanotecnologia, bem

como empresas tradicionais, que recor-

rem à nanotecnologia. Eu diria que a nível

de investigação nas universidades, pode-

mos equiparar-nos aos melhores grupos

a nível mundial, hoje em dia. Vê-se isso

pelos próprios projetos europeus, a que

todos os grupos da Europa concorrem

para receberem financiamento. Alguns

grupos portugueses encontram-se nesses

consórcios ganhadores. Eu diria que, mes-

mo com as condições que nós temos de

subfinanciamento para as universidades,

em ciência também conta muito o grau de

inovação e as ideias que temos. A própria

colaboração internacional contribui tam-

bém para que os nossos grupos estejam

ao nível dos melhores que há no mundo.

Temos patentes registadas nos EUA e em

muitos outros países assim como proje-

tos inovadores que são únicos na Europa.

Considero que Portugal está muito bem

posicionado no I&D em nanotecnologia.

Claro que o nosso mercado industrial é

muito menor do que a nível mundial ou

europeu. A maior parte das grandes em-

presas não vão estar em Portugal, até pela

dimensão do país. Só na área dos produ-

tos farmacêuticos, em que se utilizam con-

ceitos da nanotecnologia, como é o caso

da libertação controlada de fármacos, o

volume de negócios à escala mundial é da

ordem dos 180 mil milhões de dólares. Se

as nossas empresas ligadas aos equipa-

mentos médicos e produtos farmacêuticos

pudessem estar neste mercado, podía-

mos ter aqui um contributo bastante gran-

de para o PIB nacional. Na área da saúde

e da medicina, em que a aplicação direta

no corpo humano não é muito extensa, o

volume de negócios é muito menor - cerca

de 30 mil milhões de dólares. Já para as

áreas de materiais e eletrónica, estamos a

falar de 300 a 350 mil milhões de dólares.

A nível de empresas, a InnovNano, de

Coimbra, é uma referência ao nível das

empresas mundiais com capacidade de

produção industrial, ou seja, várias tone-

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entrevista

9tecno hospital 59SET /OUT 2013

ladas de nanopartículas são lá produzidas

diariamente. Na região de Braga há já al-

gumas microempresas com parceria com a

Universidade do Minho que tem capacida-

de de produzir nanocápsulas e que fazem

a funcionalização de nanopartículas. A

Smart Innovation e a Success Gadget têm

capacidade de produzir nanopartículas

para utilização em repelentes de insetos

para evitar a malária ou outras nanopartí-

culas para tratamento dermatológico . Ou-

tra empresa, a Nanocor, uma spin-off de

um investigador do Departamento de En-

genharia Têxtil da Universidade do Minho,

baseada num projeto e numa patente re-

gistada por esse investigador, consegue

conferir cor a nanopartículas de óxido de

silício. Aquelas nanopartículas coloridas

podem substituir os corantes da indústria

têxtil de tingimento, que são muito po-

luentes e gastam muita água. Com essa

tecnologia utiliza-se apenas 10 por cento

da água e consegue dar uma coloração

permanente à fibra têxtil. Temos também

outra spin-off na área da nanomedicina,

que resultou de uma colaboração entre

investigadores dos Departamentos de

Física e de Biologia da Universidade do

Minho. Trata-se da NanoDelivery que utili-

za nanomateriais biodegradáveis para en-

capsular princípios ativos para tratamento

da leucemia. O mesmo sistema pode tam-

bém ser usado em cosmética. Já regista-

ram uma patente internacional e têm em

curso um projeto industrial com uma em-

presa farmacêutica portuguesa.

TH: As nossas empresas tradicionais ne-

cessitam de um grande investimento para

utilizar a nanotecnologia? É possível pô-la

em prática em ambiente normal ou é pre-

ciso ambiente limpo?

VT: Devemos distinguir dois tipos de fa-

brico de nanomateriais: um onde é neces-

sário grandes investimentos necessitando

de salas limpas e outro onde o investi-

mento é bem mais moderado e que está

ao alcance da maioria das empresas. Há

empresas que acham que a nanotecnolo-

gia não é para elas porque é necessário ter

salas limpas e efetuar grandes investimen-

tos. Isto é verdade para algumas indús-

trias, como é o caso da microtecnologias.

Ao construir um chip para microeletrónica,

se uma daquelas poeiras cai no chip, é o

equivalente a um grão de areia quando

comparado com os microcomponentes, e

vai bloquear o circuito elétrico. No caso de

produção de nanocristais, em que o grau

de pureza tem de ser muito elevado, se

houvesse impurezas no ar as proprieda-

des eletrónicas e magnéticas do material

seriam alteradas. O INL dispõe dessas sa-

las limpas e esses equipamentos de mani-

pulação à nanoescala, e pode estabelecer

parcerias com empresas para fazer pe-

quenas séries e desenvolver projetos de

investigação sem que a empresa tenha de

investir nesses equipamentos só para fazer

um protótipo. Depois temos o outro meio

de uso da nanotecnologia, que até pode-

mos designar nanotecnologia “low-cost”

e ecológica. Não são necessários equi-

pamentos que custam várias dezenas de

milhões de euros e não fazem falta salas

ultra-limpas para manipulação das nano-

partículas. Nós podemos ter equipamen-

tos de custo standard, por exemplo para

preparar novos compósitos poliméricos,

em que a própria matéria-prima já pode

vir preparada com as nanopartículas ou o s

nanotubos de carbono.

TH: É uma revolução tecnológica que

pode levar a uma indústria completamen-

te diferenciada, portanto…

VT: Sem dúvida. Os implantes que exis-

tem atualmente já não são apenas de

Sensor multicamada baseado em filmes finos de óxidos transparentes e condutores (TCOs) para detecção

de microorganismos patogénicos (p.ex. E. Coli)

Resultados do projecto NanoMediag: “NanoMeDiag-Nanobioanalytical platforms for improved medical

diagnosis of infections caused by pathogen microorganisms”. Portugal-Spain International Nanotechnolo-

gy Laboratory Nanotechnology Projects Call Leading Institution - Portugal: Prof. Dr. Vasco Teixeira; Lea-

ding Institution - Spain: Prof. Dr. Josep Samitier Martí

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entrevista

10 tecno hospital 59 SET/OUT 2013

Vasco Teixeira é pró-reitor para a investigação na Universidade do Minho. É licenciado em Física e Química e tem

um Doutoramento na área de revestimentos multifuncionais. Pertence ao grupo de revestimentos funcionais do

Centro de Física da Universidade de Minho. É o coordenador do projeto Nanovalor, um polo de competências

ibérico dedicado à Nanotecnologia.

ligas de titânio, já têm revestimentos

nanoestruturados com rugosidade e

muita porosidade para que as células

consigam crescer de um modo natural e

aquele implante não seja visto como um

corpo estranho, evitando-se assim pos-

síveis infeções e rejeição. Os potenciais

resultados tecnológicos da bionanotec-

nologia e nanomedicina que contribuirão

para a melhoria da saúde humana incor-

poram novos biomateriais, dispositivos e

técnicas de deteção (p.ex. lab-on-a-chip)

bem como recuperação biológica de ór-

gãos e tecidos. Na indústria médica, as

áreas que se encontram mais avançadas

no uso de nanomateriais são a dos im-

plantes com revestimentos e a dos bio-

ssensores e lab-on-chip. A dos órgãos

artificiais e dos nanofármacos ainda está

numa fase inicial de desenvolvimento.

TH: Na área da saúde há, portanto, mais

investigação do que aplicações práticas…

VT: Há mais investigação do que aplica-

ções comerciais, o que tem a ver com o

facto de os novos conceitos que têm vin-

do a ser desenvolvidos demorarem anos

a serem validados e poder entrar no mer-

cado.

Já na indústria tradicional, metalomecâni-

ca, dos polímeros e automóvel por exem-

plo, há cerca de 10-15 anos que existem

uma série de componentes, utilizados co-

mercialmente, baseados em nanomate-

riais. Hoje em dia, um carro já tem muitos

componentes de nanoeletrónica. Há na-

nopartículas nas tintas e vernizes para evi-

tar o risco devido às sucessivas lavagens,

os faróis já são de plástico com incorpora-

ção de nanomateriais e de revestimentos

para manter sempre a superfície limpa e

polida, para que as areias projetadas não

risquem o policarbonato. Há também os

nanocatalisadores, que evitam a excessiva

emissão de monóxido de carbono e NOx.

No interior do automóvel, os tecidos têm

tratamentos plasma, com nanopartículas

que vão eliminar os odores, como o do

fumo do tabaco.

TH: O projeto Nanovalor termina em de-

zembro. Como está garantida a continui-

dade?

VT: Nós temos vindo a preparar um plano

estratégico do futuro polo de competi-

tividade do cluster de nanotecnologia,

sendo que entrarão na sua constituição

empresas, centros tecnológicos e univer-

sidades. Haverá, obviamente, uma peque-

na quota anual para justificar pequenos

gastos correntes mas o polo terá de so-

breviver através dos projetos – até 2020

vamos ter de nos candidatar a muitos

projetos europeus (próximo programa

quadro Horizonte 2020) e nacionais como

o Portugal 2020, que será o novo QREN,

e vamos ter, também, um serviço de con-

sultadoria para as empresas associadas

e não associadas, com custos diferentes,

para tentar identificar a melhor solução

para um determinado produto que uma

empresa tradicional pretenda implemen-

tar. O observatório de vigilância de nano-

tecnologia que implementamos (e que

será um serviço de inteligência competi-

tiva) e a pesquisa internacional de paten-

tes são serviços que podem ser pagos se

forem muito específicos. Com a assinatura

de protocolos de confidencialidade, uma

empresa pode apostar num novo mate-

rial, como um novo chip para deteção de

uma doença. Essa empresa não vai inves-

tir sem primeiro estudar o que existe a

nível mundial a nível de patentes, que po-

dem até sobrepor-se à ideia que os seus

técnicos estão a desenvolver. Podem re-

correr a nossa plataforma para fazermos

esse estudo de mercado. Podem também

procurar parcerias com grupos de I&D

adequados ao projeto que pretendem

desenvolver já que no Nanovalor também

se identificou e se procedeu ao mapea-

mento ibérico das competências cientí-

ficas e tecnológicas em nanotecnologia.

TH: O que se pode esperar do INL?

VT: O INL já está em pleno funcionamen-

to, com vários projetos em curso, embo-

ra ainda não tenha chegado à fase de ter

o número total de investigadores previs-

tos no plano. Tem várias áreas estratégi-

cas, sendo uma delas a nanomedicina. O

INL aposta em projetos muito aplicados

direcionados para a nanomedicina, por

exemplo na área de diagnóstico médi-

co, ou seja, sistemas sensoriais de alta

resolução e, sempre que possível, baixo

custo, para deteção rápida de doenças

e agentes patogénicos, quer nos trata-

mentos médicos e regeneração de te-

cidos. A Universidade do Minho já tem

desde 2010 um protocolo de colabora-

ção com o INL. O protocolo tem como

finalidade o estabelecimento de ações

de colaboração científica e tecnológica

nas áreas relevantes da Nanotecnolo-

gia, no âmbito das atividades de I&DT

desenvolvidas pelo INL e UM, como ele-

mentos integrantes de uma estratégia

global do desenvolvimento científico e

tecnológico.

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12 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

dossiê

Nanotecnologias e saúde públicaHenriqueta Louro, Ana Tavares, Ema Leite, Maria João Silva

Os nanomateriais manufaturados (NMs), isto é, fabricados de-

liberadamente para fins específicos, apresentam propriedades

físico-químicas únicas (e.g., dimensão, área superficial, funciona-

lização) que lhes conferem características mecânicas, óticas, elé-

tricas e magnéticas muito vantajosas para aplicações industriais

e biomédicas1. Efetivamente, depositam-se grandes expectati-

vas nas tecnologias baseadas nestes NMs, as nanotecnologias,

como impulsionadoras do crescimento económico dos países

industrializados, devido ao seu potencial para melhorar a quali-

dade e desempenho de muitos tipos de produtos e de proces-

sos (Figura 1). Também na área da medicina, os NMs possuem

propriedades promissoras para aplicação em terapêuticas ino-

vadoras, designadamente como plataformas de transporte de

fármacos e em métodos de imagiologia2. Contudo, o desenvol-

vimento das nanotecnologias contrasta com a insuficiente ava-

liação de risco para a saúde humana e para o ambiente, sendo

consideradas como um risco emergente para a saúde pública3.

A PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE NANOMATERIAIS NA EUROPA E EM PORTUGAL

Tem-se assistido a um incremento significativo no desenvolvi-

mento, produção e utilização de NMs a nível mundial, como se

constata na base de dados da Woodrow Wilson “Nanotechno-

logy Consumer Products Inventory”, onde são identificados 1317

produtos contendo NMs, produzidos por 587 empresas em 30

países (Figura 2).

A maioria da produção e utilização de NMs, especialmente por

grandes multinacionais, tem ocorrido nos Estados Unidos da

América (49%) sendo a União Europeia (UE) responsável por 30%

do mercado produtor5. A atividade de patenteamento na área da

bionanotecnologia em 2003 era liderada por empresas america-

nas, com 70% de patenteamento6. Cinco anos depois, a atividade

de patenteamento teve um aumento de 160% com 7399 patentes

registadas. Em Portugal, foram pedidas apenas 14 patentes6,

Figura 1 - Exposição humana e ambiental às nanotecnologias no contexto do ciclo

de vida dos nanomateriais manufaturados.

Figura 2 - Evolução do número total de produtos de consumo humano contendo

nanomateriais existentes na base de dados, incluindo informação até março de 2011

(Fonte: http://www.nanotechproject.org/inventories/consumer/).

atendendo aos dados de 2010. Relativamente a aplicações da

nanotecnologia para a terapêutica e diagnóstico do cancro, em

Portugal foram efetuados, pelo menos, cinco pedidos de pa-

tente envolvendo essencialmente nanomateriais lipídicos para

vetorização de fármacos7.

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13tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

Assim, a investigação em Portugal acompanha a tendência in-

ternacional da aposta nas nanotecnologias para o diagnóstico e

terapia do cancro.

Neste contexto, reconhece-se que o crescente desenvolvimento,

produção e utilização de NMs manufaturados tem conduzido a

um aumento real da exposição humana, especialmente no con-

texto ocupacional. No entanto, a informação sobre os níveis de

NMs a que a população humana pode estar sujeita ainda é es-

cassa.

EXPOSIÇÃO HUMANA A NANOMATERIAIS MANUFATURADOS

A exposição humana a NMs pode ocorrer durante as várias fases

do ciclo de vida dos NMs (Figura 1) desde a sua síntese, produção

e inclusão nos produtos (exposição ocupacional), até à utilização

desses mesmos produtos (exposição do consumidor). A elimina-

ção dos NMs e consequente acumulação no ambiente poderá

constituir ainda uma fonte de exposição humana (exposição am-

biental).

A via inalatória constitui a via de exposição humana a NMs mais

relevante. A reduzida dimensão dos NMs conduz a uma maior de-

posição destes nas vias respiratórias (revisto em 8), podendo ser

responsável por efeitos nocivos ao nível local9, e até sistémicos, ao

penetrar por esta via noutros órgãos e tecidos. Efetivamente, num

estudo em ratos verificou-se que, após a eliminação dos NMs dos

pulmões, parte dos NMs podiam ser detetados nos nódulos linfá-

ticos10. Vários estudos sugerem também a translocação epitelial,

intersticial e neuronal dos NMs insolúveis inalados para outros

compartimentos do corpo8 incluindo o cérebro 11. No caso de

NMs de sílica amorfa sintética coberta com polímeros (mas não

no caso da maioria dos NMs estudados) verificou-se a acumula-

ção no baço, demonstrando a sua biodisponibilidade sistémica 10.

Em relação à exposição por via oral, esta pode ocorrer através

da ingestão de NMs incorporados em alimentos, suplementos

alimentares ou mesmo em embalagens alimentares, bem como

os originários de solos ou águas contaminadas. Existem evidên-

cias de que os NMs ingeridos poderão ser absorvidos através do

intestino de mamíferos 12 originando efeitos sistémicos. Wang et

al. descreveram a acumulação de NMs de dióxido de titânio so-

bretudo no fígado, baço, rins e pulmões de ratinhos após exposi-

ção oral, indicando que estes NMs podem ser transportados para

outros tecidos e órgãos após absorção no trato gastrointestinal 13.

A via transdérmica poderá também ser importante 12, quer em

termos ocupacionais, quer quando se trata da utilização de pro-

dutos de cosmética e higiene pessoal contendo NM na sua com-

posição. No entanto, a capacidade dos NMs penetrarem (ou

não) na pele permanece ainda por esclarecer, sendo dependen-

te de múltiplas variáveis inerentes ao NM em si e às condições

de exposição da pele 14. Ainda assim, num documento recente, o

Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS, UE) considera

que a absorção dérmica/percutânea dos NMs contidos nos pro-

tetores solares é desprezável na pele intacta, sendo improvável

que os NMs atinjam as células viáveis da epiderme 15.

Também a nanomedicina, enquanto aplicação de intervenções

médicas à escala molecular para curar doenças ou reparar teci-

dos danificados4, poderá conduzir à exposição dos doentes por

administração sistémica e dos trabalhadores que realizam as

intervenções. Embora atualmente exista disponível apenas um

número limitado de aplicações de NMs em medicina, existem

muitas aplicações em fase final de aprovação pelas agências re-

gulatórias 21. Assim, à medida que as nanotecnologias se expan-

dem, o risco de exposição dos trabalhadores da área da saúde

também aumenta. Porém, existe muito pouca informação sobre

estimativas de exposição nos locais de trabalho ou no ambiente.

O esforço para delinear uma estratégia de saúde ocupacional rela-

tivamente aos NMs pode ser ilustrado pelo projeto conjunto entre

a indústria do mobiliário e a investigação científica conduzida pelo

instituto holandês “IVAM Research and consultancy on Sustaina-

bility”, em que foi coligida informação relativa à utilização de NMs

no setor, perspetivas de aplicações tecnológicas, exposição ocu-

pacional e possíveis efeitos na saúde, bem como orientações para

uma estratégia de proteção da saúde dos trabalhadores, funda-

mentada no princípio da precaução. No entanto, não são conheci-

das medidas semelhantes para a proteção em contexto hospitalar

e é fundamental que sejam direcionados recursos para esse fim.

NANOTECNOLOGIAS- EFEITOS BIOLÓGICOS E IMPACTO NA SAÚDE HUMANA

As propriedades dos materiais, em geral, dependem da sua com-

posição físico-química e do meio ambiente na interface (estado

físico, temperatura, pressão). No caso dos NMs, as suas proprie-

dades distintas e atrativas devem-se, fundamentalmente, à redu-

zida dimensão das partículas e a modificações ao nível da estru-

tura que conduzem a um aumento da área superficial em relação

ao volume, resultando um aumento do número de moléculas/

átomos na superfície. Por outro lado, o comportamento dinâmi-

co dos nanomateriais, ou seja, a sua capacidade de formação de

agregados ou aglomerados, determina a dimensão real das par-

tículas que vão interagir com os sistemas biológicos 4, podendo

condicionar também a sua toxicidade. De fato, propriedades dos

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14 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

dossiê

NMs tais como hidrofobicidade, funcionalização, carga, estado

de dispersão e adsorção de proteínas na sua superfície são deter-

minantes para a sua aptidão em serem absorvidos, metabolizados

e eliminados ou acumulados no organismo16. Estas propriedades

podem, no entanto, ser modificadas de um modo dinâmico quan-

do em condições biológicas ou ambientais distintas. Por este mo-

tivo, mesmo quando o perfil toxicológico dos constituintes de um

NM é conhecido, podem existir casos em que os seus efeitos na

saúde e no ambiente sejam distintos relativamente aos dos mes-

mos constituintes na forma não nanométrica, existindo muitas in-

certezas sobre os seus potenciais efeitos lesivos. Nesse âmbito, a

nanotoxicologia4 poderá dar um contributo inestimável no que se

refere aos efeitos adversos dos NMs, e assim contribuir para uma

base de conhecimento científico que assegure a sua utilização se-

gura e a minimização dos riscos para a saúde pública.

Uma das principais preocupações relativamente aos efeitos ad-

versos dos NMs na saúde humana é o seu potencial efeito car-

cinogénico, sugerido por alguns estudos in vitro e em animais

experimentais, mas que até à data não foi inequivocamente com-

provada em humanos17. Foram descritos mecanismos de genoto-

xicidade18, consistindo numa interação primária direta ou indireta

dos NMs sobre o genoma ou ainda uma ação secundária, via res-

posta inflamatória e produção de radicais livres de oxigénio18, 19.

Contudo, ainda persistem muitas incertezas que justificam uma

intensificação dos estudos sobre os potenciais efeitos adversos

destes materiais com vista a uma correta avaliação de risco.

Procurando responder a algumas destas necessidades de co-

nhecimento, terminou recentemente a Ação Concertada Eu-

ropeia “NANOGENOTOX- Safety Evaluation of Manufactured

Nanomaterials by Characterisation of their Potential Genotoxic

Hazard”, na qual o INSA participou. No decurso deste projeto,

cujo relatório executivo se encontra disponível em http://www.

nanogenotox.eu/, verificou-se que a colaboração multidisciplinar

é fundamental para garantir uma adequada caracterização físico-

-química dos NMs e seus efeitos biológicos. De entre os NMs es-

tudados (nanotubos de carbono de parede múltipla, sílica amorfa

sintética, dióxido de titânio) observaram-se alguns efeitos positi-

vos relativamente à genotoxicidade em células humanas in vitro.

No entanto, esses efeitos genotóxicos, por exemplo, o número

de quebras nos cromossomas, observaram-se a níveis reduzidos,

ainda que superiores aos controlos negativos, e a sua reprodutibi-

lidade era dependente do sistema experimental utilizado (Figura

3). Por outro lado, foram verificadas diferentes respostas na ge-

notoxicidade induzida por um conjunto de NMs da mesma classe

em cada linha celular, refletindo a influência de pequenas varia-

ções nas propriedades físico-químicas destes, aspeto que deve

ser considerado ao efetuarem-se generalizações em contexto de

análise de risco20.

Figura 3 - (A) Resultados obtidos no ensaio de genotoxicidade (teste do micronúcleo)

em três tipos de células distintas expostas a um nanotubo de carbono de parede múl-

tipla: linfócitos humanos primários, células do epitélio respiratório (BEAS-2B) e cé-

lulas de adenocarcinoma humano (A549). * Significativamente superior ao controlo,

em linfócitos humanos. (B) Microfotografia de células A549 expostas a um nanotubo

de carbono de parede múltipla, onde são visíveis duas células binucleadas (devido à

inibição da citocinese induzida experimentalmente) exibindo um micronúcleo e al-

guns aglomerados de NMs. O micronúcleo contém fragmentos de cromossomas ou

mesmo cromossomas inteiros e refletem a ação nociva do agente em estudo sobre

os cromossomas.

A análise dos resultados globais do projeto demonstrou que é

possível utilizar, para os NMs, as metodologias atuais de avalia-

ção de genotoxicidade in vitro preconizadas pelas orientações

internacionais. No entanto, no caso particular dos NMs, o valor

preditivo destes testes para a situação in vivo e para a carcinoge-

nicidade humana ainda não está completamente validado, sendo

necessário prosseguir a investigação.

CONCLUSÕES

O incremento significativo no desenvolvimento de nanomate-

riais manufaturados a nível mundial surge como um fator-chave

de inovação em termos de aplicações e produtos, especialmente

promissor na área da medicina. No entanto, embora vários estu-

dos in vitro e in vivo indiciem alguns efeitos biológicos adversos

dos NMs com potencial impacto na saúde humana, a informação

sobre os níveis de NMs a que a população humana se encontra

exposta em contexto ocupacional ou ambiental é escassa. Por

este motivo, as necessidades “societais” previstas para o futuro

dos nanomateriais manufaturados relacionam-se, por um lado,

com o desenvolvimento de novas aplicações e, por outro lado,

com o desenvolvimento de um paradigma de nanotoxicologia

preditiva que permita evitar os seus potenciais efeitos adversos

durante todo o seu ciclo de vida22 (Figura 4) garantindo a sua uti-

lização segura. Para isso, preconiza-se a realização de uma ava-

liação de risco ao longo do ciclo de vida dos NMs, desde a sua

síntese e produção até à sua eliminação, com a ponderação dos

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15tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

riscos colocados a todos os intervenientes em contexto ocupacio-

nal, ambiental ou de consumidor/utilizador (Figura 4).

Relativamente à exposição ocupacional, é pois urgente efetuar

o registo de trabalhadores expostos a NMs e, logo que possível,

fazer uma caracterização da sua exposição e estabelecer estraté-

gias de saúde ocupacional específicas para os NMs.

Por outro lado, importa prosseguir os estudos laboratoriais no sen-

tido de caracterizar a eventual toxicidade desses NMs. Os estudos

de genotoxicidade poderão fornecer evidências quanto ao poten-

cial de os NMs contribuírem para o desenvolvimento de doenças

crónico-degenerativas e genéticas e, em particular, de cancro. Esta

plataforma de evidência permitirá abordar de forma científica este

desafio que surge para a Saúde Pública: permitir a inovação mini-

mizando o seu impacto na saúde pública, possibilitando uma abor-

dagem safe-by-design, através da produção de NMs com efeitos

adversos reduzidos, que facilite o progresso tecnológico e “socie-

tal” que a aplicação dos novos nanomateriais prenuncia.

Figura 4 - Enquadramento da nanotoxicologia nas necessidades “societais” atuais

para garantia da saúde pública.

AGRADECIMENTOS

Projeto cofinanciado pela EU Grant Agreement 2009 21 01

(NANOGENOTOX), Health Programme e pelo INSA.

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in 2020; 2010.

Henriqueta Louro é bioquímica e trabalha na Unidade de Investigação e

Desenvolvimento do Departamento de Genética Humana do Instituto Na-

cional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Lisboa, onde desenvolve investigação

na área da Toxicologia Genética.

Ana Tavares é bióloga e trabalha em investigação científica no Departa-

mento de Genética Humana do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo

Jorge.

Ema Leite é médica do trabalho e pneumologista doutorada em saúde

ocupacional. É professora na Escola Nacional de Saúde Pública e Diretora

do Serviço de Saúde Ocupacional do Hospital de Santa Maria/CHLN.

Maria João Silva é investigadora da Unidade de Investigação e Desen-

volvimento do Departamento de Genética Humana do Instituto Nacional

de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Lisboa, onde é responsável pelo grupo de

investigação em Toxicologia Genética.

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dossiê

16 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Nanomedicina: aplicações e perspetivas futurasAntónio Jorge Ferreira

Desde a segunda metade do século XX, vive-se uma era verda-

deiramente revolucionária e emergente no âmbito das Nanotec-

nologias.

Através da investigação a nível atómico, molecular ou macromole-

cular, diferentes materiais, sistemas e estruturas têm sido desenvol-

vidos de forma a permitir novas aplicações em inúmeros campos.

A nanoescala é dimensionalmente inferior a 100 nm (1×10−9 me-

tros). Propriedades únicas e incomuns a nível físico, químico e bio-

lógico podem ser observadas com partículas destas dimensões. A

Nanotecnologia envolve, essencialmente, modelagem e manipu-

lação da matéria nesta ordem de grandeza. Alguns dos usos mais

promissores dessas tecnologias surgem em diversos setores fun-

damentais, como a energia, defesa, comunicações, purificação de

água, redução da poluição ambiental, criação de novos materiais

mais resistentes e no vasto campo médico e biomédico.

Além de vários usos industriais e domésticos, as nanopartículas

podem ser usadas em Medicina (estabelecendo a criação do novo

campo da Nanomedicina) no tratamento e diagnóstico do cancro,

em doenças infecciosas, nas novas estratégias de imunização, em

modernos sensores de imagiologia e ainda no diagnóstico e ras-

treio precoces de múltiplas doenças.

A Nanotecnologia é um setor da indústria de alta tecnologia que

já criou um mercado multimilionário e é amplamente esperado

que possa crescer para valores de um trilião (1018) de dólares em

2015.

A maioria das nanopartículas atualmente em uso é constituída

por metais de transição, silício, carbono (nanotubos de carbono

de parede única ou múltipla e fulerenos) bem como óxidos de

metal (dióxido de zinco e dióxido de titânio).

A Nanotecnologia ainda é um campo emergente. Há suspeitas

e incertezas sobre as formas e graus em que os nanomateriais

apresentam riscos para a saúde ocupacional e ambiental, sobre-

tudo por via inalatória.

Algumas características das nanopartículas podem determinar

os seus efeitos em sistemas biológicos, tais como o seu tama-

nho, forma, superfície, carga, propriedades químicas, solubili-

dade e grau de aglomeração. Atendendo a que essas caracte-

rísticas podem constituir um risco potencial à saúde, medidas

gerais de precaução são, desde já, plenamente justificadas, e

inúmeros estudos têm surgido no sentido de melhor caracterizar

os efeitos potenciais das nanopartículas.

PRINCIPAIS ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO DA NANOMEDICINA

Três aplicações das nanotecnologias são particularmente ade-

quadas à Medicina: novos fármacos, técnicas de diagnóstico e

design de novos materiais para próteses e implantes.

Existe um aumento gradual do interesse nas aplicações bio-

médicas exteriores ao corpo humano tais como sensores para

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17tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

diagnóstico e técnicas de “lab on a chip” que são adequadas

para a análise de sangue e outras amostras e para a inclusão

em instrumentos analíticos no desenvolvimento e investigação

farmacológica e de biossensores.

A pesquisa recente sobre biossistemas em nanoescala tem

criado uma das mais dinâmicas áreas interdisciplinares. Aqui se

inclui uma melhor compreensão de processos biotecnológicos

revolucionários, síntese de novos medicamentos e sua distribui-

ção direcionada a alvos específicos, medicina regenerativa, en-

genharia neuromórfica e génese de materiais biocompatíveis.

Os nanobiossistemas e a investigação biomédica são, atualmen-

te, prioridades nos Estados Unidos, União Europeia, Reino Uni-

do, Austrália, Japão, Suíça, China, entre outros países e organi-

zações regionais.

Curiosamente, todos os sistemas biológicos e artificiais têm os

seus primeiros níveis de organização na nanoescala (nanocris-

tais, nanotubos e nanobiomotores), onde as suas propriedades

e funções fundamentais são definidas. O objetivo central da na-

notecnologia pode ser descrito como a capacidade de rearran-

jar moléculas, transformando-as em objetos úteis e hierarquica-

mente integrados ao longo de diversas escalas de tamanho e,

em seguida, após o seu uso, possibilitar a desmontagem destas

nanoestruturas novamente em moléculas; é precisamente isto

que ocorre espontaneamente na natureza, em sistemas vivos e

no meio ambiente.

Reorganizar a matéria à nanoescala, usando interações mole-

culares “fracas” tais como forças de van der Waals, ligações H,

dipolos eletrostáticos, e várias forças de superfície, requer baixo

consumo de energia e permite posteriores alterações reversíveis.

A Nanobiomedicina é precisamente um campo que aplica os

princípios e técnicas da nanoescala na compreensão e transfor-

mação de materiais inertes e biossistemas (não vivos e vivos),

para fins médicos, tais como a síntese de fármacos, a compreen-

são do cérebro, a substituição de partes do corpo, a visualização

de processos biológicos e a criação de ferramentas para inter-

venções médicas.

Adaptado de Duncan, R. (2005). European Science Foundation (ESF) Forward Look

on Nanomedicine.

A integração da nanotecnologia com a biomedicina e a biologia,

e com a tecnologia de informação e as ciências cognitivas será

uma das grandes áreas de desenvolvimento científico das pró-

ximas décadas. A convergência da ciência em nanoescala com

a biologia moderna e a medicina é uma tendência que deve ser

refletida nas decisões de política científica.

Um desafio importante é a compreensão dos processos dentro

das células e dos sistemas neuronais. Os nanobiossistemas na-

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dossiê

18 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

turais são verdadeiras fontes de inspiração e fornecem modelos

aplicáveis ao desenvolvimento de nanobiossistemas artificiais.

Só agora estamos a começar a entender as interações de com-

ponentes subcelulares e as próprias origens moleculares das

doenças.

Como seria esperado, as empresas farmacêuticas já investem

fortemente em nanotecnologia. Os analistas previram que, em

2014, o mercado de aplicações farmacêuticas da nanotecnolo-

gia aproximar-se-á de um valor de 18 mil milhões de dólares por

ano.

Debrucemo-nos agora com um pouco mais de detalhe nos cam-

pos da Nanofarmacologia e do Nanodiagnóstico.

NANOFARMACOLOGIA

A tecnologia envolvida nesta área pode ser classificada em três

campos: tecnologias de libertação de fármacos, tecnologias de

alvo (“drug targeting” ), e transporte controlado membranar.

Na procura contínua de melhores medicamentos para doenças

potencialmente fatais e debilitantes, existem atualmente duas

abordagens distintas:

A primeira relaciona-se com a descoberta de novos fármacos e

baseia-se na identificação de novos alvos moleculares que po-

dem ser usados para projetar moléculas “perfect fit “, com uma

atividade terapêutica mais específica.

Aqui destaca-se o uso de moléculas produzidas naturalmente

na identificação de potenciais candidatas com atividade farma-

cológica e a preparação de fármacos de baixo peso molecular

cuidadosamente desenhados.

A segunda abordagem, complementar, consiste na criação de

sistemas de distribuição de fármacos que possam atuar como

um veículo para transportar e orientar com maior precisão os

agentes terapêuticos envolvidos para o local de ação desejado.

Para evitar vários efeitos secundários, um fármaco ideal teria a

capacidade de aumentar a sua concentração até ao nível consi-

derado eficaz, imediatamente após a dose ter sido administra-

da, manter esse nível constante durante um determinado perío-

do de atividade farmacológica, e regressar ao nível original logo

após o período de tratamento, de modo a não interferir com a

dose subsequente.

As três tecnologias de libertação controlada disponíveis no mo-

mento e que já aplicam conhecimentos provenientes da nano-

tecnologia são:

¬ “Pulse release” - uma quantidade exata de fármaco é liberta-

da durante um intervalo de tempo constante.

¬ “Feedback release” - o fármaco é libertado após o comando

prévio de um sinal físico.

¬ “Constant release” - o fármaco é libertado a uma taxa cons-

tante.

Quanto à dinâmica tecnológica para atingir alvos farmacológi-

cos, dois tipos essenciais têm sido desenvolvidos:

¬ De tipo ativo, utilizando um peptídeo sinalizador, uma reação

antigénio-anticorpo, ou um recetor/ligando.

¬ De tipo passivo, por exemplo usando o aumento da permea-

bilidade e retenção farmacológicas nas áreas de proximidade

de tecidos tumorais – EPR (“enhanced permeation and reten-

tion”). Dentro da área tumoral, determinadas macromolécu-

las podem facilmente penetrar os neovasos sanguíneos que

proliferam durante o crescimento do tecido neoplásico. Ao

mesmo tempo, essas macromoléculas sofrem dificuldades à

sua saída do órgão pelos linfáticos. Como resultado, são re-

tidas por períodos mais prolongados dentro do tumor, exer-

cendo apenas aí os seus efeitos.

Entre os exemplos atuais deste tipo de macromoléculas cita-se

a SMANCS (polistireno-co-maleil-n-butilato neocarcinostatina),

uma macromolécula com um peso molecular de 15000, usada

em vários tipos de terapêutica tumoral e ainda a nanofabricação

de polímeros de polietilenoglicol (PEG) com capacidade de al-

terarem a adesão celular e a adsorção proteica.

Várias nanopartículas poliméricas têm sido usadas com fins tera-

pêuticos. Trata-se de partículas coloidais, com dimensões entre

os 10 e 1000 nm e que, funcionalizadas com diversos fármacos,

podem atingir os órgãos-alvo de forma preferencial e com as

concentrações pretendidas.

“Quantum dots são das nanoestruturas mais promissoras e já utilizadas em aplicações de diagnóstico. Trata-se de nanocristais semicondutores caraterizados por uma forte absorção de luz e que podem ser usados como marcadores fluorescentes para biomoléculas."

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19tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

Algumas outras aplicações de nanopartículas incluem possí-

vel reconhecimento da disfunção endotelial vascular, absorção

oral de insulina, medicamentos de alvo neurológico para a te-

rapêutica de doenças neurodegenerativas, tais como a doença

de Alzheimer, e nanopartículas sensíveis ao pH para melhorar a

biodisponibilidade oral de fármacos, tais como a ciclosporina A.

Os lipossomas, com diâmetros entre os 50-100 nm, têm sido uti-

lizados no transporte de fármacos, nomeadamente através da

barreira cutânea e vários estudos também estão a ser efetuados

na administração pulmonar por nebulização; a distribuição de

fármacos inalados mediada por lipossomas promove um au-

mento no tempo de retenção no pulmão com uma redução nos

efeitos colaterais extra-pulmonares, invariavelmente resultando

em melhor eficácia terapêutica.

Como terapêutica genética no cancro do pulmão, lipossomas

catiónicos surgiram recentemente como principais vetores não-

-virais em ensaios clínicos de terapia génica.

Uma vasta área em grande desenvolvimento é a criação de um

grande número de nanopartículas que podem ser funcionali-

zadas por agregação a diversas moléculas-vetor e a fármacos,

permitindo ultrapassar as inerentes dificuldades da farmacolo-

gia clássica.

Entre estas partículas, citam-se dendrímeros (polímeros sin-

téticos extremamente ordenados, esféricos, com grande nú-

mero de grupos funcionais reativos, cuja estrutura dendrítica

resultante é altamente ramificada e com um grande número de

agrupamentos funcionais na superfície), nanopartículas lipídi-

cas sólidas (SLN – “solid lipid nanoparticles”, usadas na admi-

nistração de doxorubicina e tobramicina), micélios poliméricos

(com um interior hidrofóbico e exterior hidrofílico, podendo

incorporar fármacos pouco hidrossolúveis), nanocápsulas (es-

truturas esféricas ocas rodeadas por uma membrana de po-

límero), nanoemulsões (usadas por exemplo em formulações

de libertação prolongada a nível subcutâneo), nanopartículas

cerâmicas e metálicas e nanomateriais de carbono (fulerenos

e nanotubos de carbono, com capacidade, por exemplo, de

atravessar a membrana celular e exercer efeitos a nível mito-

condrial, ou serem usados como vetores de distribuição far-

macológica).

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dossiê

20 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Entre inúmeros fármacos já desenvolvidos e em desenvolvi-

mento e que fazem uso de nanotecnologias ou nanopartículas,

citam-se, a título de exemplo, os seguintes:

¬ Anfotericina B lipossómica (terapêutica de infeções fúngicas),

doxorubicina lipossómica (cancro do ovário), paclitaxel nano-

transportado (cancro da mama, entre outros), PEG-interferon

(hepatite, melanoma, carcinoma renal, leucemia mieloide

crónica, PEG-L-asparaginase (leucemia linfoblástica aguda),

PEG-GCSF (prevenção da neutropenia do doente oncológi-

co), daunorubicina lipossómica (sarcoma de Kaposi), morfina

lipossómica, estradiol lipossómico (menopausa), beractant

lipossómico (deficiência de surfatante pulmonar), sirolimus

em estrutura nanocristalina (imunossupressor), aprepitant em

estrutura nanocristalina (anti-emético), entre muitos outros.

NANODIAGNÓSTICO

A Nanotecnologia aplicada a equipamentos de diagnóstico já

possui o potencial de analisar genomas inteiros em tempo record.

Com base em sequências de ADN que se encontram alteradas

relativamente ao normal, será possível determinar a predisposi-

ção de um indivíduo face a um tipo específico de cancro ou ou-

tra doença. A investigação atual está a tornar possível integrar

um certo número de procedimentos complexos de diagnóstico

em dispositivos simples que serão capazes de fornecer diagnós-

ticos rápidos.

Uma das áreas mais promissoras do nanodiagnóstico é o desen-

volvimento de nanochips com potencial de análise multifatorial

rápida de ADN através de técnicas de hibridização eletronica-

mente mediadas.

Outra área envolve o uso de sistemas de microfluidos (“micro-

fluidics”) conhecidas como “lab-on-a-chip”. Nestes, numerosos

processos de análise de ADN são combinados num único chip

composto de vidro e um substrato de sílica. Todo o nanoequi-

pamento é composto por canais de fluidos, sensores de tem-

peratura, aquecedores, câmaras eletrofoéticas e detetores de

flouorescência com capacidade para a análise de amostras de

ADN à escala dos nano-litros.

Outros sistemas são conhecidos como MEMS (“microelectrome-

chanical systems” ), que se distinguem dos sistemas de micro-

fluídos por não necessitarem de reagentes ou de um substra-

to fluido para reagirem posteriormente. Os MEMS são usados

essencialmente a nível da distribuição de fármacos, mas uma

das suas utilizações no diagnóstico são as já conhecidas tecno-

logias de pill-cam, na qual o doente pode deglutir uma cápsula

que contém um LED para iluminação, um CMOS (semiconduc-

tor complementar de metal-óxido) uma micro vídeo-câmara,

uma bateria e um transmissor, com possibilidade de captação

e transmissão wireless de 30 imagens de 2 megapíxeis por se-

gundo.

Certas nanopartículas magnéticas, ligadas a um anticorpo ade-

quado, são usadas para etiquetar moléculas específicas, estru-

turas ou microrganismos.

A nível da Imagiologia médica, nanopartículas magnéticas são

usadas atualmente em agentes de contraste para ressonância

magnética (RM) na deteção de metástases hepáticas e mostram

um potencial considerável em ensaios clínicos no que diz res-

peito à identificação precoce de metastização tumoral. Novas

aplicações incluem rotulagem ex-vivo de células com nanopar-

tículas, a que se segue ressonância magnética in vivo, uso de

nanopartículas magnéticas como biossensores de relaxamento

magnético para medição de uma variedade de marcadores bio-

lógicos in vitro e uso de nanopartículas magnéticas com biomo-

léculas para a obtenção de alvos moleculares específicos iden-

tificáveis por RM.

Quantum dots são das nanoestruturas mais promissoras e já utili-

zadas em aplicações de diagnóstico. Trata-se de nanocristais se-

micondutores caracterizados por uma forte absorção de luz e que

podem ser usados como marcadores fluorescentes para biomo-

léculas. São cada vez mais usados a nível da imagiologia celular.

As nanopartículas de ouro também podem ser usadas na dete-

ção muito sensível de ADN e de determinadas proteínas presen-

tes em fases da doença.

Podem ser usadas, por exemplo, na “rotulação” de ADN ou de

proteínas (incluindo anticorpos), que se irão posteriormente li-

gar aos respetivos alvos.

Novas tecnologias de ensaio por bio-código de barras (BCA –

“bio-barcode assay”) têm vindo a destacar-se e poderão vir a

substituir as metodologias mais clássicas de PCR – “polymerase

chain reaction”. Uma das áreas com resultados promissores é a

da deteção ultrassensível de PSA no carcinoma da próstata e

de ADDL (“amyloid-derived diffusible ligands”) na Doença de

Alzheimer.

O potencial do nanodiagnóstico surge do facto de a maioria das

moléculas biológicas e organelos celulares se encontrar dentro

da escala nanométrica. Por exemplo, a proteína típica possui um

tamanho de 5 nm. As nanopartículas utilizadas para a deteção

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21tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

António Jorge Ferreira é especialista em Pneumologia e em Medicina do Trabalho e Mestre em Saúde Ocupacional. É respon-

sável pela consulta de Doenças Respiratórias Profissionais do CHUC- HUC e assistente convidado da Faculdade de Medicina

de Coimbra- Instituto de Higiene e Medicina Social. Tem um Diploma Interuniversitário Europeu em Lasers Médicos.

de alterações biológicas podem ser sintetizadas para estar den-

tro deste mesmo domínio de tamanhos.

O que o campo do nanodiagnóstico tem para oferecer é essen-

cialmente a melhoria do diagnóstico clínico através da sensibi-

lidade aumentada e de deteção mais rápida. Como a nanotec-

nologia evolui para inclusão da automação e de economias de

escala, o custo destes processos tenderá a diminuir e a ser com-

petitivo face às metodologias mais clássicas.

No entanto, e não obstante o imenso potencial das nanotecno-

logias aplicadas ao setor da Saúde, inúmeras questões conti-

nuam sem ser efetivamente abordadas:

¬ Quais são as propriedades específicas dos nanomateriais que

devem ser caracterizadas para aplicações nanomédicas?

¬ Que dados estão disponíveis sobre a toxicidade das nano-

partículas usadas na Nanomedicina, formas de exposição e

destino ambiental?

¬ Como é que as características de nanomateriais contribuem

para a toxicidade em relação às aplicações nanomédicas?

¬ Qual é o papel potencial das exposições simultâneas a

múltiplos nanofármacos?

Seguramente, assistiremos nas próximas décadas a um expo-

nencial desenvolvimento nesta área, sendo certo que os enor-

mes benefícios potenciais só poderão surgir a partir do ético e

cuidadoso desenvolvimento suportado em pilares de segurança

e sustentabilidade. A área das nanotecnologias, enquanto ciên-

cia emergente, ainda se encontra rodeada de alguma aura de

mistério e de ficção científica; o futuro trará possivelmente a

consolidação de algumas das certezas atuais, nomeadamente

a nível da nanomedicina, mas adensará também algumas das

dúvidas mais prementes, nomeadamente no que diz respeito à

nanotoxicologia, às interações nos sistemas humanos e aos fe-

nómenos de exposição ocupacional e ambiental.

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“Alguns dos usos mais promissores dessas tecnologias surgem em diversos setores fundamentais, como a energia, defesa, comunicações, purificação de água, redução da poluição ambiental, criação de novos materiais mais resistentes e no vasto campo médico e biomédico"

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dossiê

22 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Nanotecnologia como ferramenta para produzir novos alimentos funcionais: vantagens e precauçõesAna Cristina Pinheiro, Miguel Ângelo Cerqueira e António Augusto Vicente

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UM CAMINHO A SEGUIR

São inúmeros os fatores que afetam a qualidade da vida moder-

na, mas a incidência de problemas de saúde relacionados, por

exemplo, com acidentes cardiovasculares, cancro, acidente vas-

cular cerebral, arteriosclerose e problemas hepáticos está inti-

mamente ligada aos hábitos alimentares. Além disso, o interesse

do consumidor numa alimentação saudável e a evidência cientí-

fica de que os alimentos funcionais têm efeitos positivos sobre a

saúde e bem-estar fazem com que o consumo de alimentos fun-

cionais seja visto como um dos caminhos a seguir para melhorar

a qualidade de vida. O consumidor exige, assim, cada vez mais,

novos e melhores produtos alimentares capazes de aliarem a ca-

racterísticas organoléticas únicas características funcionais que

possam trazer uma melhoria da sua saúde (traduzida na redução

da incidência de doenças e a manutenção do bem-estar físico e

mental), garantindo simultaneamente a sua segurança.

LIBERTAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS

Com o objetivo de responder a estes desafios, a indústria ali-

mentar tem feito um esforço para disponibilizar alimentos que,

para além da sua função vital, possam ter uma vertente funcio-

nal. Uma das estratégias passa pela incorporação de compos-

tos bioativos em alimentos durante a sua produção, tais como

curcumina, carvacrol, retinol, α-tocoferol, resveratrol, quercetina,

β-caroteno, e minerais (ex. ferro, cálcio). No entanto, as tecnolo-

gias e os processos utilizados pela indústria alimentar para a in-

corporação desses compostos bioativos em alimentos não têm

sido eficazes, pois apresentam muitas vezes problemas relacio-

nados com solubilidade, degradação, agregação, coalescência

e interação com as matrizes alimentares, que fazem com que o

seu efeito funcional seja diminuído e até mesmo perdido antes

de chegar ao consumidor.

A nanotecnologia tem sido apresentada nos últimos anos como

uma das formas de solucionar alguns desses problemas. A nano-

tecnologia envolve a produção, o processamento e a aplicação

de sistemas à nano-escala através do controlo da sua forma e

tamanho. Recentemente tem havido um grande interesse no es-

tudo do comportamento de nanossistemas como veículos para

a incorporação, proteção, transporte e libertação controlada de

compostos bioativos, para aplicações alimentares e farmacêuti-

cas (Acosta 2009; Huang et al. 2010). Neste contexto, uma das

principais aplicações da nanotecnologia na indústria alimentar

passa por desenvolver sistemas de libertação de compostos

bioativos à nano-escala, que devido ao seu tamanho nanométri-

co podem melhorar a solubilidade, biodisponibilidade (bastante

importante sobretudo para compostos com baixa solubilidade

em matrizes aquosas) e aspetos sensoriais desses compostos,

assim como permitir que estes sejam libertados de uma forma

controlada. Este comportamento está não só associado com

a razão elevada entre área superficial e volume, característica

destes sistemas, mas também com as interações físico-químicas

entre materiais à nano-escala que influenciam as suas proprie-

dades finais (ex. permitem um aumento das forças de adesão à

mucosa intestinal, aumentando o tempo de permanência no in-

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23tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

testino e, com isso, a sua biodisponibilidade) (Weiss et al. 2006;

Chaudhry et al. 2010; Acosta 2009).

SEGURANÇA DOS MATERIAIS NA INDÚSTRIA ALIMENTAR

No entanto, na indústria alimentar a legislação aplicada é muito

rigorosa, exigindo que todos os materiais utilizados sejam con-

siderados seguros para consumo humano (i.e., com o estatuto

GRAS - Generally Recognized as Safe). Sendo assim, um dos

grandes desafios para a utilização de nanossistemas para apli-

cações alimentares é a utilização de materiais com o estatuto

GRAS e que permitam o desenvolvimento de sistemas com a

funcionalidade desejada. Alguns dos materiais utilizados para

alcançar esse objetivo são polissacarídeos, proteínas e lípidos,

encontrados em muitos alimentos e que devido à sua biodegra-

dabilidade e não toxicidade, podem ser utilizados para cons-

truir sistemas à nano-escala. Estes nanossistemas podem ser

classificados de acordo com os materiais usados no seu fabrico,

método de produção (ex. bottom-up ou top-down), forças pre-

dominantes do sistema (ex. eletrostáticas, ligações de hidrogé-

nio), propriedades do sistema (ex. propriedades mecânicas ou

óticas) e energia livre associada ao sistema (ex. sistema estável

do ponto de vista termodinâmico ou cinético) (Morris 2010; Sil-

va et al. 2012). Nos últimos anos têm-se desenvolvido diversos

nanossistemas através da combinação de diferentes formas de

produção, da mistura de materiais e da utilização de forças du-

rante o processo de produção por forma a alcançar as funciona-

lidades desejadas (Yu et al. 2006, Hu et al. 2008; Lertsutthiwong

et al. 2008; Choi et al. 2011).

Por exemplo, os autores Zimet e Livney (2009) verificaram que

os ácidos gordos polinsaturados podem encapsular-se em na-

nohidrogéis compostos por β-lactoglobulina e pectina, e que

este nanossistema é estável e capaz de proteger o DHA (ácido

docosa-hexaenóico) contra a oxidação. Outro dos exemplos são

as nanoemulsões produzidas pelo nosso grupo (Silva et al., 2011)

contendo β-caroteno usando a técnica de emulsificação-evapo-

ração. Estas nanoemulsões mostraram boa estabilidade durante

o armazenamento e uma vez que a sua produção não recorre ao

uso de um homogeneizador de alta pressão, esta metodologia

aparece como uma alternativa de baixo custo para a produção

de nanoemulsões de β-caroteno pela indústria alimentar.

Desta forma, a encapsulação de compostos bioativos ou in-

gredientes que promovem a saúde (nutracêuticos), tais como

vitaminas, péptidos bioativos e antioxidantes em nanossistemas

e a sua posterior incorporação em sistemas alimentares é uma

forma simples de desenvolver alimentos funcionais. Contudo, a

eficácia dos ingredientes funcionais depende da preservação

da sua biodisponibilidade. A biodisponibilidade e consequente-

mente os potenciais benefícios para a saúde humana dos com-

postos bioativos podem ser comprometidos pelo insuficiente

tempo de residência no trato gastrointestinal, pela sua baixa

permeabilidade e/ou solubilidade, assim como pela sua instabi-

lidade quando submetidos às condições encontradas durante o

processamento alimentar ou no trato gastrointestinal (Leonard,

2000).

A avaliação do comportamento dos nanossistemas face a dife-

rentes condições (ex. pH, temperatura e força iónica) no trato

gastrointestinal, assim como do destino dos compostos bioa-

tivos encapsulados é bastante importante para otimizar a bio-

disponibilidade destes compostos e para assegurar a sua fun-

cionalidade e segurança quando usados para consumo humano

(McClements e Xiau, 2011). Nos últimos anos, têm-se utilizado

diferentes modelos de digestão in vitro para estudar o compor-

tamento físico-químico das nanoestruturas no trato gastroin-

testinal. O nosso grupo construiu recentemente um sistema

gastrointestinal dinâmico que simula os principais eventos que

ocorrem durante um processo de digestão e consiste em qua-

tro compartimentos, o estômago, o duodeno, o jejuno e o íleo

(Figura 1).

Figura 1 - Sistema gastrointestinal dinâmico: (A) compartimento gástrico, (B) com-

partimento duodenal, (C) compartimento jejunal, (D) compartimento ileal, (E) ca-

misa de vidro, (F) parede flexível, (G) elétrodos de pH, (H) bombas de seringa, (I)

membranas de fibras ocas, (J) banho de água, (K) bombas peristálticas, (L) controla-

dores das bombas, (M) recolha dos filtrados do jejuno e do íleo e da fração do íleo

que não é filtrada.

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dossiê

24 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Demonstrou-se em estudos recentes

que o comportamento de nanoemulsões

no trato intestinal pode ser alterado pe-

las suas características iniciais, tais como

tamanho, tipo de emulsificante e óleos

usados. Em geral, a taxa e a extensão

da digestão dos lípidos aumenta com a

diminuição do diâmetro das partículas

das emulsões, o que está relacionado

com o aumento da área superficial dos

lípidos exposta à ação das lipases. Para

além disso, a biodisponibilidade dos

compostos bioativos também aumenta

com a diminuição do tamanho das emul-

sões, uma vez que as emulsões de maior

tamanho apresentam uma maior quanti-

dade de óleo não digerido, que faz com

que o composto bioativo fique retido na

emulsão (Salvia-Trujillo et al., 2013). Re-

centemente, num trabalho desenvolvi-

do pelo nosso grupo, foram produzidas

nanoemulsões contendo curcumina (um

composto bioativo para o qual está re-

portada uma vasta gama de proprieda-

des funcionais – antioxidantes, anti-infla-

matórias e anticancerígenas), que foram

estabilizadas usando diferentes emulsifi-

cantes. Neste trabalho verificou-se que

a carga do emulsificante tem um papel

significativo na digestão dos lípidos e

na biodisponibilidade deste composto

(Figura 2), uma vez que o emulsificante

altera a capacidade dos sais biliares e

da lipase se adsorverem à superfície das

emulsões (Pinheiro et al., 2013). Outros

autores avaliaram o comportamento de

nanopartículas poliméricas contendo

luteína (composto bioativo com proprie-

dades antioxidantes e oftalmoprotecto-

ras) no trato intestinal in vitro e in vivo,

usando micelas mistas como controlo

(Arunkumar et al., 2013). Estes autores

verificaram que a biodisponibilidade da

luteína nas nanopartículas é significati-

vamente maior do que para o controlo

e que os níveis de luteína no plasma, fí-

gado e olhos dos ratos alimentados com

luteína nanoencapsulada são significati-

vamente superiores comparativamente

com o controlo.

Figura 2 - Influência do tipo de emulsificante na morfologia das nanoemulsões de curcumina à medida que pas-

sam pelo sistema gastrointestinal in vitro. (Pinheiro et al. 2013 - Reproduced by permission of The Royal Society

of Chemistry).

Com base nas suas características únicas, a nanotecnologia pode resolver alguns

dos problemas associados à incorporação de compostos funcionais em alimentos.

Desta forma, podem desenvolver-se nanossistemas para o transporte e libertação de

compostos bioativos resolvendo problemas como a compatibilidade com as matrizes

alimentares (ex. agregação e separação de fases) que influencia a aparência, textura,

estabilidade e sabor do produto; transporte e libertação que deve ser controlada e

apenas ativada quando o sistema for consumido (i.e. muitos dos compostos bioati-

vos começam a ser libertados quando misturados com o produto alimentar o que

faz com que percam a sua atividade); e a perda de atividade destes compostos que

pode acontecer também com a incidência de luz, presença de oxigénio e tratamento

térmico. Apesar disso, o conhecimento relativamente ao destino dos nanossistemas

ingeridos é ainda incipiente, sendo por isso necessário um estudo mais profundo

de forma a determinar a sua segurança e produzir sistemas de transporte e liberta-

ção adaptados a cada aplicação (isto é, com bioatividade maximizada). Para além

disso, sendo inviável o uso de sistemas in vivo (custos elevados e restrições éticas

frequentemente envolvidos), há a necessidade do uso de modelos gastrointestinais

in vitro mais realistas, isto é, modelos que consigam simular com precisão os pro-

cessos físico-químicos e fisiológicos complexos que ocorrem no sistema gastroin-

testinal humano. Aliados a estes modelos torna-se necessária, também, a avaliação

da interação desses sistemas com o trato gastrointestinal. Uma das propostas tem

sido a utilização de modelos epiteliais celulares (ex. linha celular Caco-2), que se

têm mostrado muito úteis para avaliar a toxicidade e permeabilidade (podendo dar

indicações da adsorção e biodisponibilidade) desses novos nanossistemas (Coco et

al., 2012; He et al., 2013).

Os alimentos funcionais obtidos pela incorporação de compostos bioativos em na-

noestruturas poderão vir a ser colocados à venda num futuro próximo. No entanto, é

absolutamente necessário fornecer ao consumidor elementos que lhe permitam ter

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25tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

“Os alimentos funcionais obtidos pela incorporação de compostos bioativos em nanoestruturas poderão vir a ser colocados à venda num futuro próximo ”

um conhecimento adequado das vantagens e cuidados asso-

ciados à sua utilização. De facto, apesar dos grandes avanços

feitos no que concerne à caracterização e avaliação em sistemas

in vitro, é necessário que estes modelos sejam validados in vivo

como forma a dar resposta às precauções e receios dos consu-

midores e legisladores.

AGRADECIMENTOS

O autor Miguel A. Cerqueira agradece à Fundação para a Ciên-

cia e Tecnologia (FCT, POPH-QREN e FSE Portugal) a bolsa con-

cedida (SFRH/BPD/72753/2010).

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Ana Cristina Pinheiro formou-se em Engenharia Biológica pela Universidade do Minho e possui o Doutoramento em Engenharia

Química e Biológica pela mesma Universidade. É investigadora no centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho.

Tem dedicado a sua atividade de investigação a temas relacionados com nanotecnologia aplicada a sistemas alimentares, mais

concretamente ao desenvolvimento de nanoestruturas para incorporação e libertação de compostos funcionais e à avaliação do

comportamento destas nanoestruturas in vitro (i.e. quando submetidas a um processo de digestão num sistema gastrointestinal

modelo).

António Vicente é Engenheiro Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto,

Doutor em Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho e Agregado em Engenharia Química e Biológica pela

Universidade do Minho.

Tem estado envolvido em vários projetos de investigação nacionais e internacionais, juntamente com parceiros industriais, como

participante e coordenador. É Professor Associado com Agregação e Investigador no Departamento de Engenharia Biológica

da Universidade do Minho.

Miguel Ângelo Cerqueira é licenciado em Engenharia Biológica pela Universidade do Minho e possui o Doutoramento em

Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho. Atualmente é investigador de Pós-Doutoramento no Centro de

Engenharia Biológica da Universidade do Minho. Tem dedicado a sua atividade de investigação ao desenvolvimento de novos

produtos para a indústria alimentar, nomeadamente revestimentos comestíveis para a conservação de alimentos e micro e na-

noestruturas para incorporação de compostos funcionais e sua libertação controlada em sistemas alimentares.

¬ Coco R, Plapied L, Pourcelle V, Jérôme C, Brayden DJ, Schneider Y-J, Préat V (2012) Drug delivery to inflamed colon by nanoparticles: comparison of different strategies. Intl J Pharm 440: 3-12.

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26 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Nanopartículas inorgânicas: novos materiais em biomedicinaIola Duarte, Tito Trindade

INVESTIGAÇÃO EM NANOMATERIAIS

Nas últimas duas décadas assistiu-se a um desenvolvimento sem

precedentes ao nível da investigação em Nanociências e Nano-

tecnologias. Uma das forças motrizes no progresso verificado

nesta área do conhecimento científico tem sido a investigação

em novos nanomateriais, nomeadamente estudos que envol-

vem partículas com dimensões nanométricas. As nanopartícu-

las (NPs) apresentam dimensões típicas entre 1-100 nm, origi-

nando propriedades distintas dos materiais convencionais, que

decorrem das suas dimensões e razões de superfície/volume

elevadas. As propriedades únicas observadas nestes materiais

finamente divididos têm sido exploradas em vários domínios, no

sentido de formular novos produtos, desenvolver processos de

fabrico mais eficientes e fabricar dispositivos tecnológicos com

elevado desempenho, entre outras possibilidades.

A investigação de NPs inorgânicas em contexto biomédico

emergiu com particular acuidade a partir da década de noven-

ta do século passado. Os desenvolvimentos marcantes ao nível

da síntese de nanocristais coloidais que se verificaram na altura

em muito terão contribuído para que este tipo de partículas fos-

sem entendidas como plataformas potenciais para técnicas de

diagnóstico inovadoras e novas modalidades terapêuticas.[1-4]

Atualmente existem métodos de síntese que permitem ajustar

de um modo rigoroso o tamanho e natureza de superfície de

NPs, de modo a controlar as suas propriedades numa gama de

tamanhos comparáveis às de diversos objetos biológicos. Além

disso, as NPs apresentam elevada área de superfície por volu-

me, com possibilidade de serem decoradas quimicamente com

moléculas específicas e outros materiais, tornando-as biocompa-

tíveis, com afinidade específica para determinados sistemas bio-

lógicos e eventualmente associadas a novas funcionalidades.[5-7]

Este artigo apresenta exemplos de investigação em NPs inorgâ-

nicas com interesse especial para aplicações biomédicas (Figura

1). Optou-se pela seleção de sistemas que simultaneamente su-

mariam investigação em curso no Laboratório Associado CICE-

CO e são de potencial interesse em Biomedicina. Finalmente,

conclui-se com uma secção dedicada à Nanotoxicologia, dada

a sua relevância na avaliação do binómio “benefício+risco” na

produção e aplicação de nanomateriais em diversos contextos.

Figura 1 - Exemplos de nanopartículas inorgânicas coloidais e de aplicações bio-

médicas.

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Nanotecnologia na Saúde

27tecno hospital 59SET /OUT 2013

BIOAPLICAÇÕES DE NANOPARTÍCULAS INORGÂNICAS

Entrega de fármacos

O potencial de nanopartículas (NPs) inorgânicas no transpor-

te e entrega de fármacos tem sido explorado extensamente,

tirando partido da versatilidade das propriedades físico-quí-

micas destas NPs, facilmente moduláveis através da manipu-

lação de características como o tamanho, a forma ou a quími-

ca da superfície.[8] Um dos avanços mais promissores nesta

área consiste na incorporação de NPs inorgânicas em hidro-

géis poliméricos propícios à retenção e libertação controlada

de fármacos por meio de estímulos como o pH ou a tempe-

ratura. A introdução de NPs inorgânicas em hidrogéis permi-

te reforçar a estrutura dos géis e/ou conferir-lhes funciona-

lidades adicionais, oferecendo vantagens únicas na entrega

controlada de fármacos. Esta estratégia tem constituído uma

linha importante de investigação no CICECO. Por exemplo, a

imobilização de nanopartículas de ouro (AuNPs) em hidrogéis

de kappa-carragenana [9] ou gelatina [10] permitiu modificar

a microestrutura e força dos géis e demonstrou potencial

para a libertação ativada por luz, devido à atividade ótica e

efeitos fototérmicos das AuNPs. Já a incorporação de NPs

magnéticas (Fe3O4) em géis de kappa-carragenana revelou-

-se promissora para o desenvolvimento de sistemas em que

a libertação da carga terapêutica pode ser controlada por

um campo magnético externo.[11] Noutros tipos de NPs inor-

gânicas em desenvolvimento no CICECO para a entrega de

fármacos, destacam-se ainda as NPs de hidroxiapatite para

regeneração óssea. [12,13]

Imagem por ressonância magnética e imagem bimodal

O desenvolvimento de agentes de contraste para imagem por

ressonância magnética (MRI) é um dos focos de investigação

onde diferentes NPs inorgânicas assumem especial relevância.

[14] Entre estas, as nanopartículas superparamagnéticas de

óxido de ferro (SPION) são as mais bem estabelecidas, persis-

tindo grande interesse em otimizar a sua biocompatibilidade e

eficácia. Para isso, torna-se fundamental conhecer mais apro-

fundadamente a influência da estrutura e propriedades destas

NPs no seu desempenho global. Este objetivo tem sido pros-

seguido no CICECO, por exemplo, através do estudo sistemá-

tico da influência da espessura da camada de sílica a revestir

SPIONs nas suas propriedades de relaxação.[15,16] Num outro

trabalho, foi avaliada a relação entre o tamanho, as proprieda-

des magnéticas e a eficiência do contraste para nanocompó-

sitos ferrofluídos, consistindo num centro de maguemite com

revestimento polimérico (PVP e PEG).[17]

A combinação de propriedades magnéticas e óticas num único

nanomaterial tem também sido intensamente estudada, com o

intuito de desenvolver nanossistemas multifuncionais para ima-

gem bimodal. Agregando propriedades luminescentes e para-

magnéticas únicas, os iões lantanídeos (Ln3+) constituem sondas

bifuncionais especialmente promissoras, cuja incorporação em

nanossistemas tem sido explorada através de diferentes estra-

tégias. Por exemplo, a preparação de NPs de sílica nanoporo-

sa com complexos de Ln3+,[18,19] cuja emissão de luz pode ser

aumentada através da inclusão de ligandos aromáticos à su-

perfície,[19] ou a dopagem com iões Ln3+ de NPs de óxido de

zircónio encapsuladas em nanomicelas poliméricas.[20] Outras

estratégias incluem a preparação de: nanocristais de ortofosfa-

tos contendo iões Ln3+ de modo a combinar a emissão no visível,

gerada por excitação com luz infravermelha, com propriedades

magnéticas;[21] NPs de octacionamolibdato e iões Ln3+ estabili-

zadas em quitosano;[22] suspensões aquosas de redes metalo-

-orgânicas (MOFs) contendo iões Ln3+.[23]

Biomarcação

A utilização de compostos fotoluminescentes para marcação

de células e biomoléculas é habitual em técnicas de diagnós-

tico clínico. Os biomarcadores convencionais são constituídos

por corantes orgânicos fluorescentes. Algumas desvantagens

no uso de corantes orgânicos fluorescentes são a baixa fotoes-

tabilidade, bandas de emissão relativamente largas e emissão

associada a tempos de vida curtos. Os nanocristais de semicon-

dutores (quantum dots) surgiram recentemente como alternati-

vas em biomarcação, dado que apresentam propriedades óticas

muito interessantes neste contexto.[24,25] Estes nanomateriais

em meio fisiológico são mais robustos quimicamente e apre-

sentam bandas de emissão de luminescência estreitas. As suas

dimensões encontram-se numa gama de tamanhos para a qual

se observam efeitos quânticos de dimensão. Assim, é possível

obter bandas de emissão cujos máximos ocorrem a diferentes

comprimentos de onda pela variação do tamanho médio de

partícula. Por exemplo, é possível obter cores por luminescência

em toda a gama do visível utilizando coloides de nanocristais de

CdSe caracterizados por diferentes tamanhos médios (2-12 nm).

Por outro lado, associando características de bio-seletividade a

nanocristais com distribuições de tamanho distintas, é possível

realizar a biomarcação simultânea de diferente material bioló-

gico nas mesmas condições de irradiação. Apesar de estes bio-

marcadores visarem técnicas in vitro, existe interesse em explo-

rar outro tipo de nanopartículas inorgânicas que não contenham

cádmio na sua composição.[26] No CICECO, decorre investiga-

ção que visa desenvolver sistemas alternativos para biomarca-

ção, como por exemplo nanoesferas de SiO2 amorfa contendo

compostos luminescentes de lantanídeos (Figura 2).[27-29] Es-

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dossiê

28 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

tes sistemas apresentam a vantagem de

os tempos de emissão serem relativa-

mente longos pelo que podem ser explo-

rados em processos de biomonitorização

por luminescência resolvida no tempo.

Adicionalmente, exploram-se estratégias

preparativas que visam o acoplamento

de nanoestruturas magnéticas a sistemas

luminescentes de modo a obter platafor-

mas multifuncionais, por exemplo para

bioseparação magnética e marcação óti-

ca.[30]

Figura 2 - Nanopartículas luminescentes sob irradiação

UV. As imagens de microscopia eletrónica de transmis-

são mostram que cada partícula é constituída por um

núcleo de polioxolantanotungstato de európio (III) re-

vestido por uma carapaça de sílica amorfa.

Nanotermometria

O desenvolvimento de nanotermómetros

luminescentes com elevada resolução es-

pacial constitui uma área de investigação

emergente que abre inúmeras novas pos-

sibilidades no estudo de microprocessos

bioquímicos em meio biológico.[31] Em

2010, investigadores do CICECO repor-

taram o desenvolvimento de um termó-

metro molecular consistindo em com-

plexos de iões lantanídeos (Eu3+/Tb3+)

incorporados em nanoclusters (100-400

nm) com um centro de maguemite e re-

vestimento à base de sílica.[32] Este sis-

tema demonstrou elevada sensibilidade

e fotoestabilidade, permitindo medições

absolutas na gama 10-350 K (ajustável de

acordo com a proporção Eu3+/Tb3+) com uma incerteza de 0.5 graus. Combinando

propriedades luminescentes e paramagnéticas, antecipa-se que este nanotermómetro

possa ter aplicações muito úteis em biomedicina, por exemplo no mapeamento não

invasivo da distribuição de temperatura em tecidos tumorais aquando da libertação

de calor induzida por hipertermia magnética. Mais recentemente, uma outra nanopla-

taforma multifuncional foi desenvolvida para combinar a produção de calor por nano-

partículas de ouro (mediante a irradiação com luz infravermelha) e a monitorização da

temperatura local por nanobastonetes de (Gd,Yb,Er)2O

3, resultando num sistema com

grande potencial em hipertermia e imagem ótica de tecidos.[33] Destaca-se ainda a

preparação pelo método de microemulsão reversa de nanobastonetes de redes me-

talo-orgânicas contendo Eu3+ e Tb3+, que apresentaram excelente desempenho como

nanotermómetros luminescentes à temperatura fisiológica (Figura 3).[34]

Figura 3 - Redes metalo-orgânicas contendo iões Eu3+ e Tb3+ para aplicação em nanotermometria. Figura repro-

duzida com permissão da referência [34]. Copyright (2013) American Chemical Society.

Superfícies antimicrobianas

A ação da prata e seus compostos como agentes antimicrobianos é desde há muito

tempo reconhecida.[35] A utilização destes produtos caiu em desuso com o desenvol-

vimento de antibióticos eficientes e seguros resultantes da farmacologia moderna. Por

outro lado, existe uma preocupação crescente com determinadas estirpes de micro-

-organismos que tendem a desenvolver resistência à administração de antibióticos

convencionais. A prata é um antibiótico de largo espetro que tem sido investigada em

diversos laboratórios de investigação para aplicações específicas, como por exemplo

em material e equipamento hospitalar. As nanopartículas de prata surgem neste con-

texto como especialmente vantajosas, nomeadamente pela elevada área de superfície

disponível por volume e porque permitem a redução de custos associados à quantida-

de de metal a utilizar. O laboratório CICECO tem investigado novos nanocompósitos

contendo prata visando a sua utilização como materiais antibacterianos e antifúngicos.

Estes compósitos são constituídos por matrizes de celulose[36] ou outros polisacarí-

deos,[37] nos quais se encontram dispersas as nanopartículas de prata, e apresentam

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Nanotecnologia na Saúde

especial interesse para revestimentos de superfícies e materiais

de embalagem, entre outras aplicações.

ASPETOS TOXICOLÓGICOS NA UTILIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS

O aumento exponencial da produção de nanopartículas e na-

nomateriais (NPs/NMs) com vista a aplicações industriais e

biomédicas, bem como a incorporação disseminada em produ-

tos de uso comum, têm suscitado apreensão crescente sobre

os seus possíveis efeitos adversos na saúde humana e no meio

ambiente. A nanotoxicologia visa o estudo desses efeitos e a

avaliação dos riscos associados à exposição a NPs/NMs, seja ela

ocupacional, ambiental ou deliberada (por via de produtos bio-

médicos ou nanomedicamentos).[38] As NPs inorgânicas têm

sido alvo de inúmeros estudos toxicológicos em modelos celu-

lares e animais.[39] Muitos destes trabalhos reportaram efeitos

citotóxicos, genotóxicos, respostas inflamatórias e/ou indução

de stress oxidativo, alertando para a necessidade premente de

compreender melhor a interação de diferentes NPs com molé-

culas biológicas, células e organismos vivos.

A avaliação toxicológica destas NPs reveste-se, no entanto,

de desafios experimentais únicos.[39,40] Propriedades como

o tamanho, a forma, a área superficial, a carga da superfície, o

estado de aglomeração ou a solubilidade são altamente de-

pendentes do meio e têm uma influência determinante na sua

reatividade biológica. Logo, um dos maiores desafios na área da

nanotoxicologia prende-se com a caracterização detalhada das

propriedades físico-químicas das NPs em condições próximas

do ambiente biológico que irão encontrar, para que seja possí-

vel estabelecer correlações fiáveis entre as essas propriedades

e os efeitos biológicos produzidos. A escolha de modelos celu-

lares apropriados e a definição criteriosa da dose e duração da

exposição, fundamentada em informação biocinética, assumem

também um papel crítico, podendo condicionar a relevância

dos resultados in vitro no que diz respeito à avaliação dos ver-

dadeiros riscos para os ecossistemas ou a saúde humana. Outro

importante desafio consiste no desenvolvimento de métodos

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dossiê

30 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

de avaliação da toxicidade que sejam mais sensíveis e menos

suscetíveis a interferências do que os ensaios toxicológicos con-

vencionais. Estudos emergentes de genómica, proteómica e

metabolómica mostram-se particularmente promissores a este

respeito, nomeadamente na identificação de novos marcadores

de resposta a NPs e no avanço da compreensão mecanística dos

seus efeitos biológicos.[41-43]

CONCLUSÕES

Este artigo pretendeu demonstrar a relevância de nanopartícu-

las inorgânicas sintéticas em medicina. Para tal, descreveu-se

sumariamente um conjunto de exemplos de investigação em

nanopartículas para aplicações biomédicas, atualmente a de-

correr na nossa unidade de investigação. Verifica-se que existe

conhecimento bem estabelecido ao nível da química preparati-

va e estudo de propriedades óticas e magnéticas, entre outras,

de nanomateriais com características morfológicas e estruturais

distintas. Contudo, ao nível de aplicações biomédicas faz senti-

do considerar as nanopartículas como entidades híbridas mais

complexas, devido à presença de biointerfaces de composição

química muito variável. Este é um campo que indiscutivelmente

impulsiona a investigação interdisciplinar, nomeadamente pelo

envolvimento de competências na área da ciência de nanomate-

riais e em biomedicina, existindo esforços nesse sentido. Final-

mente, para além dos desafios científicos e técnicos colocados

no desenvolvimento de novos nanomateriais para medicina,

surgem com igual relevância aspetos nanotoxicológicos que de-

vem ser ponderados e têm sido também objeto de investigação

nos nossos laboratórios.

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Iola Duarte é Investigadora Auxiliar no Labora-

tório Associado CICECO, Departamento de Quí-

mica da Universidade de Aveiro. Concluiu o Dou-

toramento em Química na mesma Universidade,

em 2003, tendo-se especializado na aplicação de

técnicas espetroscópicas, principalmente Resso-

nância Magnética Nuclear (RMN), ao estudo da

composição metabólica de amostras biológicas

(metabolómica).

Tito Trindade é Professor Associado com

Agregação na Universidade de Aveiro (UA).

Concluiu em 1996 o doutoramento no Imperial

College de Londres e tem desenvolvido investi-

gação no âmbito das atividades do Laboratório

Associado CICECO, onde atualmente coorde-

na uma linha de investigação. É docente do

Departamento de Química da Universidade de

Aveiro. Atualmente desempenha as funções

de Diretor do Programa Doutoral em Nano-

ciências e Nanotecnologia da Universidade de

Aveiro.

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31tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

Nanotecnologias em saúdeAntónio Lúcio Baptista, Sílvia Carvalho, Carla Silva

NANOTECNOLOGIA, SAÚDE E INOVAÇÃO - A TERCEIRA ONDA

A Saúde, como todas as grandes áreas envolvendo diversos se-

tores, sofre evolução muitas vezes disruptiva. Desde a primeira

onda - há 30 anos, ou seja, a época dos grandes equipamentos

hospitalares de serviços centralizados - à segunda onda, de há

20 anos para cá, que foi a euforia do ambulatório - uma exigên-

cia dos cidadãos - várias foram as inovações implementadas.

Estamos agora na terceira onda. Esta onda representa a pas-

sagem, para os cidadãos, da responsabilidade de cuidarem da

sua própria saúde. Representa também uma nova e importante

necessidade que é a de fornecermos, cada vez mais, equipa-

mentos que ajudem os cidadãos na avaliação e no tratamento. É

o caso dos MDDE (Medical Devices and Diagnostic Equipment),

que incluem dispositivos médicos, consumíveis e material im-

plantável, como próteses, por exemplo.

É nestes materiais que a nanotecnologia é fundamental. Têxteis

funcionalizados, como meias elásticas ou mangas nas quais se

incorporam nanossensores para determinar parâmetros vitais

ou libertar medicamentos, próteses vasculares ou cardíacas com

sensores capazes emitir alertas à distância ou medir o ritmo car-

díaco, ligamentos biodegradáveis ou biobaterias que usam os

humores para produzir energia elétrica e alimentar, por exem-

plo, um pacemaker.

Outra área com grande potencial diz respeito à farmacêutica e à

cosmética. Nesta área trabalha-se, entre outras coisas, na criação

de medicamentos nano encapsulados para aplicações específicas.

O norte de Portugal e a Galiza são já considerados uma eurorre-

gião de excelência para a nanotecnologia, daí que haja grande ex-

pectativa em torno dos próximos fundos europeus para a garantia

de coesão, desenvolvimento regional e criação de emprego. O

projeto ibérico Nanovalor, liderado pela Universidade do Minho,

é um exemplo de aposta na nanotecnologia e no reforço de laços

institucionais entre os vários atores-chave na área da nanotecnolo-

gia do norte de Portugal e Galiza.

A nanotecnologia é considerada, atualmente, uma das áreas de In-

vestigação e Desenvolvimento (I&D) mais promissoras e uma área

em rápida ascensão. O projeto Nanovalor está focado em seguir

uma estratégia bem estruturada e em criar vínculos entre inovação,

tecnologia e I&D, indispensáveis para aproveitar ao máximo as

inúmeras possibilidades em nanotecnologia, criando, assim, cres-

cimento, valor acrescentado, competitividade, desenvolvimento e

riqueza aos vários setores onde a nanotecnologia pode ser aplica-

da, que são imensos.

“A nanotecnologia abre um leque imenso de possibilidades e soluções na medicina, na indústria, no desporto, e em outras tantas áreas, que pode abrir caminho para melhorar a segurança, os cuidados de saúde e a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo, permite inovar e preencher necessidades ou lacunas no mercado através de técnicas de nanofabricação, abrindo caminho a novos mercados, a novos negócios e ao consequente crescimento da economia e do emprego."

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32 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

dossiê

Para além deste, proliferam os programas

de incentivo e apoio à nanotecnologia e

os intervenientes, tais como a cooperação

transfronteiriça Espanha-Portugal, o Fondo

Europeo de Desarrollo Regional, TecMinho,

CeNTI, INL, Feuga, USC, UPorto, Inesc Por-

to, múltiplos centros e empresas, como a

CCDR-N e a AEP, por exemplo.

Os materiais à base de fibras tornaram-

-se verdadeiros materiais de engenharia

para várias aplicações. Muitos destes ma-

teriais fibrosos tornaram-se inteligentes,

com capacidade de responder a estímulos

externos, como a atuação de sensores, a

transferência de calor, mudanças de cor,

memorização da forma. A incorporação

de nanotecnologia permite, ainda, integrar

meios de comunicação pessoal e, a partir

da medicina genética, influenciar a prote-

ção pessoal, os transportes e o desporto,

entre outros.

A rebelião científica e tecnológica que atin-

ge as universidades e cientistas, bem como

as empresas de alguns clusters, necessita

de "armas" e "munições". Os rebeldes, es-

ses, estão dispostos a tudo a bem do país,

da criação de produtos exportáveis para o

mercado global, de alto valor acrescenta-

do. Estamos ainda esperançados no Hori-

zonte 20-20 e no "cortar barreiras", repto

que lançamos ao Sr. Ministro da Economia,

Saúde e Turismo.

NANOTECNOLOGIA E NANOFIBRAS

As nanofibras são normalmente produzidas

por fração eletrostática. Os polímeros base

normalmente utilizados são o polietileno,

polipropileno, polibenzimidazole, poliacri-

lonitrilo, poliamida e poliéster, entre outros.

Concebidos à escala nanométrica, têm ele-

vada área suportável e potencial biomimé-

trico. Podem aplicar-se em campos muito

diversos como filtros de alta performance,

materiais fibrosos, ultra-absorventes, com-

pósito reforçado, produtos biomédicos,

enxertos in vitro para implantes, libertação controlada de fármacos, dispositivos nano e

microeletrónicos, dispositivos fotovoltaicos e blindagem eletromagnética e uma enorme

gama de sensores baseados em nanofibras.

Na área médica houve um grande desenvolvimento ao nível da monitorização dos sinais

vitais, novas fibras com funcionalidades e materiais implantáveis. Também materiais cirúr-

gicos implantáveis beneficiam da incorporação de nanotecnologia, como é o caso dos

tendões artificiais, stents, válvulas cardíacas, próteses, dispositivos extracorporais, coração

e pulmões artificiais e até ao nível de materiais mais comuns como as gazes, algodão, pen-

sos, batas, gorros, etc.

A nanotecnologia abre um leque imenso de possibilidades e soluções na medicina, na

indústria, no desporto, e em outras tantas áreas, que pode abrir caminho para melhorar a

segurança, os cuidados de saúde e a qualidade de vida da população. Ao mesmo tempo,

permite inovar e preencher necessidades ou lacunas no mercado através de técnicas de

nanofabricação, abrindo caminho a novos mercados, a novos negócios e ao consequente

crescimento da economia e do emprego.

NANOTECNOLOGIA ASSOCIADA ÀS FIBRAS NA MEDICINA

Vivemos num mundo onde as fibras assumem um papel cada vez mais importante, em

que a sua vasta gama de características e propriedades específicas permitem responder a

diversos tipos de solicitações de ordem mecânica, química, biológica, térmica e acústica,

entre outras. Na realidade, estes materiais estão a revolucionar o nosso quotidiano por via

dos avanços registados recentemente em tecnologias associadas à genética, à biologia, à

eletrónica e, claro está, à nanotecnologia. A possibilidade de produzir ou funcionalizar fi-

bras à nanoescala tem levado o homem a alargar fortemente os seus horizontes e a encon-

trar soluções para problemas anteriormente assumidos como quase irresolúveis. No caso

específico da medicina, a nanotecnologia associada aos materiais fibrosos tem-se destaca-

do pelo seu enorme potencial em vários campos, como diagnóstico, regeneração, terapia,

construção de equipamentos, libertação mais eficaz e controlada de medicamentos, entre

outros, contribuindo decisivamente para a melhoria global do bem-estar do ser humano.

A redução da escala permite identificar nanotubos e nanofibras de carbono com proprie-

dades únicas a nível mecânico, elétrico e geométrico que os tornam ideais na constru-

ção de diferentes tipos de elétrodos à nanoescala e de biossensores. Estas propriedades

podem ser alteradas e melhoradas quer no seu processo de síntese quer durante a sua

funcionalização.

Neste sentido, a Universidade do Minho tem explorado a possibilidade de utilização de

nanofibras e nanotubos de carbono como elementos de sensorização em diversos dispo-

sitivos utilizados em áreas distintas, incluindo os dispositivos médicos. Assim, utiliza-se a

capacidade piezorresistiva destes materiais para correlacionar a sua resistividade elétrica

com a deformação provocada por uma determinada carga, quer seja em dispositivos im-

plantáveis ou não implantáveis.

Esta tecnologia está a ser utilizada na monitorização de próteses endovasculares com ca-

pacidade de monitorização do seu posicionamento, durabilidade e das pressões a que

está sujeita no interior do vaso sanguíneo.

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33tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

Por outro lado, com o crescente número de aneurismas, torna-

-se fundamental avaliar e caracterizar os materiais fibrosos que

possam ser integrados em stent-grafts, bem como desenvolver

sensores que possam ser integrados nesses materiais, de modo

a monitorizar as mudanças de pressão e detetar movimentos do

dispositivo no interior do corpo humano. Neste caso, as fibras

apresentam a capacidade não só de reforço mas também de mo-

nitorização.

Da mesma forma, nanofibras e nanotubos de carbono estão a ser

utilizadas para reforço e monitorização de ortóteses produzidas

em material compósito. Neste âmbito, as nanofibras levam à pro-

dução de um compósito não-homogéneo em que estes materiais

são apenas colocados nas zonas sujeitas a maiores esforços, como

forma de aumentar a durabilidade da prótese e o bem-estar do

utilizador. Por outro lado, as mesmas nanofibras são utilizadas

para monitorizar o estado de tensão/deformação da prótese du-

rante a sua utilização, permitindo o seu reposicionamento e uma

intervenção de manutenção atempada, em caso de necessidade.

NANOFIBRAS FUNCIONALIZADAS

Sob o ponto de vista da funcionalização das fibras a partir da na-

notecnologia, com vista a possibilitar que estas desempenhem

funções acrescidas, refira-se o projeto que está ser levado a cabo

na Universidade do Minho pelo FMRG - Fibrous Materials Resear-

ch Group, que visa o desenvolvimento de um stent multifuncio-

nal híbrido, à base de materiais fibrosos, capaz de eliminar, ou

minimizar, as desvantagens dos stents metálicos, comercializados

atualmente, aumentando a vida útil do stent e o bem-estar do

paciente.

Além disso, a principal inovação do estudo é a incorporação de

nanopartículas de material antibacteriano (ex. prata) na superfície

do stent, para que este seja libertado de um modo controlado,

proporcionando um efeito antimicrobiano contínuo e prevenindo

a infeção do stent.

Figura 1: stent desenvolvido pelo grupo FMRG da universidade do minho.

O desenvolvimento de nanomateriais e nanodispositivos abre

novas oportunidades para melhorar o diagnóstico molecular, au-

mentando a capacidade de descobrir e identificar alterações ao

nível do DNA, do RNA, de proteínas e outras biomoléculas em

tempo real. A maior sensibilidade e seletividade dos métodos

de deteção baseados em nanotecnologia permitirá o reconhe-

cimento de biomarcadores que abrem oportunidades extraor-

dinárias na análise biológica de sistemas de deteção eficazes

de doenças numa fase precoce, possibilitando a melhoria dos

resultados terapêuticos. Trata-se, sem dúvida, de uma ferra-

menta potente para alcançar o almejado objetivo da medicina

individualizada.

No caso da engenharia de tecidos, também aqui as nanofibras

poderão desempenhar um papel fundamental, já que as matri-

zes são desenvolvidas para suportar as células, promovendo a

sua diferenciação e proliferação para a formação de um novo

tecido. Tais estratégias permitem a produção de construções

híbridas que podem ser implantadas em pacientes para induzir

a regeneração de tecidos ou substituí-los, caso se verifique um

funcionamento insuficiente dos órgãos. As nanofibras de polí-

meros naturais oferecem a vantagem de serem semelhantes às

macromoléculas biológicas, em que o seu ambiente biológico

está preparado para reconhecer e lidar com os mesmos. Devido

à sua semelhança com a matriz extracelular (ECM), os polímeros

naturais podem também evitar a estimulação de inflamação cró-

nica ou reações imunológicas e toxicidade, frequentemente de-

tetados com polímeros sintéticos. A exploração das vantagens

únicas introduzidas pela nanotecnologia permite ultrapassar

limitações até aqui inultrapassáveis, nomeadamente as associa-

das à HAp (hidroxiapatite), assim como aquelas que são relati-

vas ao fabrico de scaffolds nanoestruturados para mimetização

óssea detalhada, a nível estrutural e dimensional. As nanopar-

tículas de HAp podem ser usadas nas seguintes aplicações: 1)

Revestimentos bioativos em materiais bioinertes, permitindo a

formação de filmes finos aderentes, que não afetam significa-

tivamente a morfologia do substrato ou a topografia; 2) Prepa-

ração de compósitos com outros materiais como o quitosano,

colagénio, entre outros polímeros, possibilitando o reforço da

matriz e ao mesmo tempo promovendo a osteocondução; 3) Sis-

temas de libertação controlada de fármacos; 4) Terapia genética

para certos tipos de tumores.

A perfeição da Natureza e os anos de evolução que toma de

avanço diante do Homem ainda não permitem mimetizá-la na

perfeição. Contudo, com os avanços na ciência e tecnologia,

mormente com a introdução das nanotecnologias, o caminho a

percorrer vislumbra-se mais curto.

O futuro dos biomateriais de substituição óssea e da implanto-

logia terá de passar, obrigatoriamente, pelo desenvolvimento e

otimização de superfícies, com uma micro, sub-micro e nanoto-

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34 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

dossiê

pografia controlada e padronizada, de forma a ir de encontro à

estrutura óssea natural.

NANOTECNOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS INDUSTRIAIS

Nos últimos anos, a nanotecnologia tem tido um papel prepon-

derante em todas as inovações industriais. As nanociências e

nanotecnologias permitem o estudo dos fenómenos naturais

e a manipulação dos materiais na escala atómica, molecular e

macromolecular. De facto, a nanotecnologia é uma designação

abrangente para várias tecnologias de investigação e produção

na escala nanométrica (desde nanoestruturas, nanorrevestimen-

tos, nanofibras, nanoencapsulação, nanocircuitos, nanossenso-

res e nanopartículas, entre outras).

Atualmente, a nanotecnologia e os nanomateriais são cada vez

mais utilizados no desenvolvimento de novos produtos e em

aplicações industriais. Alguns exemplos são aplicações na área

da eletrónica, das energias renováveis, do ambiente, do auto-

móvel/aeronáutica, da saúde, e da defesa, entre outras. Diver-

sos produtos do nosso quotidiano, como os protetores solares,

cosméticos, medicamentos, automóveis, tecidos, telemóveis e

calçado desportivo, contêm alguma forma de nanotecnologia

e/ou nanomaterial na sua composição. A perceção de que a na-

notecnologia e a nanociência representam um novo patamar de

conhecimento, com imensos e ainda não devidamente mensura-

dos impactos científicos e económicos, levou os países líderes a

desenhar iniciativas nacionais ou regionais de incentivo e finan-

ciamento privilegiado para esta área, visando não só alcançar

produtos com elevado conteúdo tecnológico bem como novos

patamares de competitividade para as empresas.

Perante a importância desta área científico-tecnológica para

o desenvolvimento industrial que se prevê nos próximos anos,

torna-se imperativo promover a troca de conhecimento e a arti-

culação entre o desenvolvimento da nanotecnologia e as neces-

sidades da indústria no geral. Esta tem sido, desde a sua criação

em 2006, até aos dias de hoje, a visão do CeNTI, o Centro de

Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes,

sediado em Vila Nova de Famalicão.

De facto, o CeNTI tem trabalhado diretamente com o tecido

industrial nacional e internacional no desenvolvimento de no-

vos produtos e/ou processos que incorporam, de alguma for-

ma, nanotecnologia e/ou nanomateriais, em substratos que vão

desde tecidos, passando pela cortiça e madeira, até à cerâmi-

ca e materiais poliméricos ou metálicos. Uma condição basilar

de todos os substratos citados prende-se com a necessidade

de pesquisar nanotecnologias que permitam, genericamente,

melhorar as propriedades dos materiais, ou dotá-los de funcio-

nalidades acrescidas com elevado interesse para o consumidor

final, sem no entanto descurar as suas propriedades técnicas

iniciais, como sejam a sua resistência, durabilidade, textura, fle-

xibilidade e outras propriedades macroscópicas.

Como exemplos, salientam-se materiais de fácil limpeza, an-

tibacterianos e com elevada resistência à abrasão e uso (vul-

garmente designados como materiais funcionais), bem como

materiais capazes de responder a estímulos externos desenca-

deando uma determinada ação (vulgarmente designados como

materiais inteligentes). Para o sucesso do CeNTI muito tem con-

tribuído a existência de tecnologias de ponta, algumas únicas na

Europa, uma equipa multidisciplinar e com elevada formação e

uma visão de investigação orientada ao produto/processo com

escalabilidade industrial. Por outro lado, o estabelecimento de

parcerias estratégicas e a participação em projetos estruturan-

tes neste domínio (como o projeto i-Nanotool, que pretende o

desenvolvimento de uma ferramenta interativa para auxiliar os

produtores de nanopartículas a implementar a legislação em vi-

gor) tem permitido ao CeNTI manter-se na vanguarda da inves-

tigação e desenvolvimento de novos produtos e/ou processos

a nível mundial.

As figuras seguintes mostram alguns dos produtos desenvolvi-

dos pelo CeNTI, em parceria com empresas, com potencial de

aplicação no setor médico-hospitalar.

Figura 2 - Nanofibras produzidas por electrospinning, a partir de polímeros na-

turais biodegradáveis, com potencial de aplicação em engenharia de tecidos e

implantes.

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35tecno hospital 59SET /OUT 2013

Nanotecnologia na Saúde

Figura 3 – Fibras bicomponentes com geometria complexa (tipo islands-in-the-sea),

produzidas por extrusão a partir de biopolímeros, com potencial de aplicação para

libertação de fármacos.

Figura 4 – Sensores biométricos produzidos no CeNTI, para monitorização e contro-

lo remoto de sinais vitais.

Prevê-se que, num futuro próximo, a nanotecnologia esteja

amplamente presente, mesmo nas indústrias mais tradicionais,

como a indústria têxtil e da construção, tornando os processos

de produção mais baratos, menos agressivos para o meio am-

biente e com menores consumos energéticos, além de oferecer

produtos funcionais e de maior valor acrescentado, que certa-

mente causarão a obsolescência de diversos produtos e proces-

sos que hoje estão em uso.

Espera-se, assim, que a nanotecnologia contribua de forma

significativa para o desenvolvimento industrial mundial, tendo

fortes repercussões no norte de Portugal em particular, dada a

centralização de alguns setores tradicionais da indústria nesta

região do país, tornando-os mais sustentáveis do ponto de vista

económico, social e ambiental. De facto, a exploração comer-

cial dos materiais funcionais desenvolvidos permitirá abrir novos

mercados, estimular a substituição de materiais "tradicionais"

por materiais funcionais e adicionar valor aos produtos exis-

tentes. Todas estas sinergias contribuirão, sem dúvida, para a

geração de negócio e para o aumento da competitividade das

empresas, sendo o CeNTI um parceiro de referência para todos

estes desafios que se avizinham.

António Lúcio Baptista é médico especialista em Cirurgia Cardiotorácica com grande experiência na área vascular. É

fundador e presidente da Altec – Associação de Laserterapia e Tecnologias Afins e membro da direção da ELA – Euro-

pean Laser Association. É fundador e CEO da Iberia Advanced Healthcare, uma empresa que constitui uma plataforma

científica e tecnológica, fazendo a ponte entre ciência e inovação e o setor empresarial para criar produtos inovadores

de valor acrescentado para a exportação.

Carla Silva é licenciada em engenharia biológica e doutorada em química têxtil pela universidade do Minho. Trabalha

desde 2007 como investigadora sénior, sendo atualmente gestora da área dos materiais funcionais & soluções do CeNTI.

Sílvia Carvalho é investigadora do projeto FIBRENAMICS – O Novo Mundo dos Materiais à Base de Fibras, assumindo

as funções de coordenação das atividades relacionadas com divulgação científica e de ligação aos meios empresarial e

académico. Obteve, em 2011, o grau de Mestre em Micro/Nano Tecnologias, pela Universidade do Minho, com disser-

tação em materiais fibrosos auto-limpantes para aplicações diversas.

“a nanotecnologia é uma designação abrangente para várias tecnologias de investigação e produção na escala nanométrica (desde nanoestruturas, nanorrevestimentos, nanofibras, nanoencapsulação, nanocircuitos, nanossensores e nanopartículas, entre outras)"

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dossiê

36 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

A Nano-Biotecnologia têxtil para utilização em terapêutica auxiliarno tratamento e de úlceras de pressãoCarla Mendes

COMBATE ÀS ÚLCERAS DE PRESSÃO

O envelhecimento acelerado da po-

pulação, o número de acamados exis-

tentes atualmente no nosso país é,

sem dúvida, um fator de preocupção

para as instituições de saúde que ten-

tam combater uma das consequênci-

as deste envelhecimento e baixa mo-

bilidade, as úlceras de pressão.

Consciente desta situação, pretende-se, no âmbito de um projec-

to de investigação a decorrer na Universidade da Beira Interior

(Dissertação para a obtenção de Grau de Doutor, na área da En-

genharia Têxtil) utilizar a nano-biotecnologia têxtil no desenvol-

vimento de um conjunto de estruturas têxteis que poderão ser

usadas em pensos inovadores para o manuseamento e tratamen-

to destas feridas crónicas. A utilização de biopolímeros com pro-

priedades específicas, o recurso à nanotecnologia e aos têxteis

funcionais constituem os vetores essenciais ao desenvolvimento

desses pensos, que se pretende poderem vir a ser uma alternativa

de excelência aos produtos existentes no mercado.

Palavras-chave: Úlceras de Pressão, nanotecnologia, nanofibras,

biopolimeros, pensos, têxteis inteligentes, colagénio, quitosano e

alginato de sódio.

FORMAÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO

Existem muitas recomendações de diversas fontes para a preven-

ção das úlceras de pressão e muitas alternativas de tratamento ao

nível do material para pensos. A constante procura de uma solução

de tratamento ideal, tem dado origem à colocação no mercado de

uma vasta variedade de produtos com vista ao tratamento desta

patologia (1).

Por definição, uma UPr é uma alteração degenerativa na pele e teci-

dos subjacentes, resultando por norma, da combinação de pressão

excessiva com forças de fricção e deslizamento. Trata-se de uma

lesão cutânea que se produz em consequência de uma redução do

fluxo sanguíneo no sistema microvascular que reveste uma saliên-

cia óssea, nas zonas em que esta foi pressionada contra uma cama,

uma cadeira de rodas, um molde, uma tala ou outro objeto rígido

durante um certo período de tempo (2).

Segundo os dados recolhidos pelo GAIF, os únicos indicadores fiá-

veis para esta patologia em Portugal foram produzidos por Ferreira

(2007), onde é indicado que a prevalência média das Upr, em meio

hospitalar, é de 11,5%, com uma incidência média de 10,16%. Com

uma população cada vez mais envelhecida, as Upr são, sem dúvida,

um problema de saúde ao qual se deve prestar toda a atenção.

A seleção do penso mais adequado para o tratamento da UPr

por parte dos profissionais de saúde deve ter em consideração

as características intrínsecas e extrínsecas de um determinado

paciente, bem como a especificidade da ferida em causa. A sis-

tematização das características de um penso ideal foi definida

por Turner, e baseia-se nas seguintes premissas:

¬ Capacidade de manter o leito da ferida húmido, mas não mo-

lhado;

¬ Capacidade de remover o excesso de exsudado e de produ-

tos tóxicos;

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Nanotecnologia na Saúde

37tecno hospital 59SET /OUT 2013

¬ Permitir trocas gasosas;

¬ Permitir isolamento térmico;

¬ Capacidade de proteger de infeções secundárias;

¬ Ser livre de contaminantes;

¬ Não libertar partículas;

¬ Ser de fácil remoção, sem causar trauma no paciente.

O envelhecimento acelerado da população, com o consequente

aumento da incidência e do número de casos de Upr, tem vindo

a estimular e a orientar o mercado para o desenvolvimento de

novos pensos no tratamento de feridas crónicas.

Pretende-se, com este projeto, juntar sinergias, nomeadamente

a Engenharia Têxtil e a bio-nanotecnologia para o desenvolvi-

mento de dispositivos médicos que respondam às necessidades

deste tipo de doença.

NANOTECNOLOGIA TÊXTIL

Nanotecnologia, de acordo com o National Nanotechnology

Initiative (NNI), é definida como a utilização de estruturas com

pelo menos uma dimensão de tamanho nanométrico, utilizados

na construção de nanomateriais, dispositivos ou sistemas com

propriedades novas ou significativamente melhoradas devido

ao seu tamanho nano.

Atualmente, a nanotecnologia pode ser agrupada em três gran-

des campos de aplicação: Nanoeletrónica, Nanomateriais e

Nanobiologia. Os nano-materiais possuem uma muito elevada

superfície específica, o que os torna ideais para serem utilizados

em compósitos, sistemas reativos, libertação controlada de quí-

micos e, ainda, armazenamento de energia.

Ao nível de aplicações têxteis, esta tecnologia tem sido utilizada

na produção de nanofibras, vestuário mimético e com mudança

de cor, vestuário anti-nódoas, vestuário anti-vincos, fabricação

de filtros de alta performance, etc (3,4).

Devido à sua elevada relação superfície/volume e o seu notá-

vel desempenho mecânico, estas nano-fibras demonstram um

grande potencial para aplicações na medicina, tais como a rege-

neração de tecidos humanos, fabrico de sensores ou vestuário

de proteção.

Várias pesquisas com vista à aplicação da nanotecnologia na

medicina têm proposto novos produtos para aplicação em teci-

dos moles e próteses.

Neste estudo, e através do processo de eletrofiação, pretende-

-se a criação de um véu compósito de nanofibras à base de bio-

polímeros específicos, para serem depositados numa camada

fina, homogénea e porosa, sobre uma estrutura de tecido duro,

(ligadura/gaze), para ser implantado sobre a pele como material

para penso. Este tecido será preparado previamente através de

um tratamento de plasma, que ao modificar a superfície desse

tecido o torna mais recetivo à deposição das nanofibras.

O autor acredita que as excelentes propriedades dos biopolí-

meros utilizados e as características inerentes aos tecidos e ao

tipo de matérias primas utilizadas, nomeadamente o custo, a

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dossiê

38 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

resistência, extensibilidade, flexibilidade, permeabilidade ao

ar, gestão de humidade, estrutura e dimensão, permitirão con-

ceber estruturas simples ou compósitas que otimizam o penso

para uma aplicação específica.

METODOLOGIA

O processo geral de desenvolvimento da nova solução tecnoló-

gica encontra-se dividido em três fases:

1. Eletrofiagem dos biopolímeros (quitosano, colagénio e poli-

caprolactona)

2. Construção das nanoestruturas compósitas para formação da

matriz ativa dos novos pensos.

3. Análise de desempenho para validação dos novos pensos.

Primeira fase - Eletrofiação dos biopolímeros

Nesta fase, já concluída, foi utilizado um dos métodos mais

versáteis para a produção de nanofibras dos biopolímeros uti-

lizados, a eletrofiação. Neste processo, foram usados campos

elétricos de alta tensão (5-50KV) e baixa corrente (0,5-1µA) para

produzir um campo elétrico entre a extremidade de uma agulha

carregada eletricamente e a painel coletor. Um jato de material

fluido é acelerado e estirado através de um campo eléctrico pro-

duzindo fibras de diâmetro muito reduzido (5).

No sentido de alcançar uma deposição mais uniforme e para a

produção de um véu de nanofibras mais regular e homogéneo,

utilizou-se um sistema automático deposição com movimento

circular e tangencial (figura 1).

Figura 1 - Pormenor do protótipo de eletrofiação disponível no D.C.T.T., da Univer-

sidade da Beira Interior

Os biopolímeros usados foram escolhidos pelas suas carac-

terísticas, sendo já muito utilizados por esse motivo em áreas

da medicina.

O quitosano é um polímero natural valioso que apresenta

excelentes propriedades bioativas. Provém das carapaças

de caranguejos, crustáceos, camarão e lagosta, insetos (por

exemplo asas das borboletas) e também medusa, algas e al-

guns fungos. Os produtos produzidos à base de quitina são

anti-bacterianos, antivirais, antifungícos, não-tóxicos e an-

ti-alérgicos. Possuem ainda outras qualidades, tais como a

suavidade, respirabilidade, absorvência, existência de super-

fícies lisas e ausência de aditivos químicos, o que, na perspe-

tiva do autor, os torna ideais para a utilização no tratamento

de feridas.

O colagénio foi escolhido por se tratar da classe mais abun-

dante de proteínas do organismo humano, sendo fundamen-

tal à cicatrização. O colagénio usado neste projecto foi obti-

do industrialmente através dos bovinos.

Os alginatos são uma família de hidrocoloides naturais, pro-

duzidos a partir de algas marinhas da espécie Laminaria. São

solúveis em água e utilizados principalmente como espessan-

tes, estabilizantes e gelificantes. São altamente absorventes

e são compostos por sais de sódio, cálcio ou ácido algínico.

São utilizados em pensos para tratamento de feridas, já que

auxiliam na limpeza destas, sendo que a libertação dos iões

permite acelerar a cicatrização. Na presença do exsudado no

leito da ferida, ocorre uma troca de iões entre o penso e o só-

dio do exsudado que origina a formação de um gel hidrofílico

que ajuda na cicatrização.

Segunda fase – Construção de nano estruturas compósitas

Após a produção dos véus de nanofibras, estas serão deposi-

tadas numa estrutura de gaze de tecido e gaze de não tecido,

tratada num sistema de plasma de baixa pressão.

O plasma consiste, segundo Sir William Crooks, 1879, no 4º

estado da matéria, sendo este conceito mais tarde referen-

ciado por Irving Langmuir pela primeira vez como “Plasma”

para uma experiência de descarga elétrica em tubos de gás.

É considerado uma mistura gasosa ionizada (contém eletrões,

iões e partículas atómicas neutras e/ou moléculas), com par-

tículas de cargas opostas com uma carga elétrica quase nula.

Com este pré-tratamento das gazes ocorrerá a ativação, fun-

cionalização e revestimento das superfícies, modificando

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Nanotecnologia na Saúde

39tecno hospital 59SET /OUT 2013

morfologicamente a sua estrutura, tornando-a mais apta à

deposição das nanofibras. Esta deposição será efetuada no sis-

tema automático de deposição.

Esta fase está neste momento a ser iniciada.

Terceira fase – Análise do desempenho do penso

Será ainda efetuada uma avaliação do desempenho do penso,

tendo em conta os seguintes parâmetros:

¬ Parte 1: Absorção

¬ Parte 2: Permeabilidade ao vapor de água dos pensos com

uma película permeável

¬ Parte 3: Resistência à penetração de água

¬ Parte 4: Conformidade / Adaptabilidade

¬ Parte 5: Propriedades como barreira bacteriana

¬ Parte 6: Controlo do odor

Pretende-se, com esta análise, identificar a estrutura que apre-

senta o melhor desempenho.

RESULTADOS

Este projeto está, atualmente, a iniciar a segunda etapa. Assim,

em virtude dos ensaios de eletrofiação realizados, e para os bio-

polímeros já testados, os valores obtidos para as nanofibras são:

Colagénio

Tabela 1 – Condições experimentais para a eletrofiação do colagénio

Solvente para o colagénio

Solvente para o Óxido

Polietileno (PEO)

0,1% de solução 0,1 N Ácido

acético

Água Destilada

Condições dissolução Com agitação a frio

Fonte de Tensão1ª Fonte: Tensão: 30 KV

Intensidade: 0,05µA

Fluxo de alimentação 5 ml/min.

Concentrações (Wt%)

(Colagénio - PEO)1,5 - 2

Distância extremidade

da agulha - arco Distância

arco – placa coletora

4 cm

10,5 cm

Tempo de processo (horas) 1

Diâmetro das nanofibras 1ª Fonte: 109 nm a 159 nm

Figura 2 – Pormenor das nanofibras de colagénio obtidas com recurso a uma fonte

de tensão.

Quitosano

Tabela 2 - Condições experimentais para a eletrofiação do quitosano

Solvente para o quitosano

Solvente para o Óxido

Polietileno (PEO)

Ácido acético 2% V/V

Água Destilada

Condições dissolução Com agitação a frio

Fonte de Tensão1ª Fonte: Tensão: 30 KV

Intensidade: 0,05µA

Fluxo de alimentação 15 µl/min.

Concentrações (Wt%)

(Colagéneo - PEO)1 – 1,5

Distância extremidade

da agulha - placa coletora12 cm

Tempo de processo (horas) 1

Diâmetro das nanofibras 1ª Fonte: 109 nm a 159 nm

“ Os nano-materiais possuem uma muito elevada superfície específica, o que os torna ideais para serem utilizados em compósitos, sistemas reativos, libertação controlada de químicos e, ainda, armazenamento de energia."

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dossiê

40 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Figura 3 – Pormenor das nanofibras de quitosano obtidas com recurso a uma fonte

de tensão.

Alginato de Sódio

Tabela 3 - Condições experimentais para a eletrofiação do Alginato de sódio

Solvente para o colagénio

Solvente para o Óxido

Polietileno (PEO)

Água Destilada

Condições dissoluçãoCom agitação

a quente – 70ºc

Fonte de Tensão1ª Fonte: Tensão: 30 KV

Intensidade: 0,05µA

Fluxo de alimentação 15 µl/min.

Concentrações (Wt%)

(Quitosano - PEO)1 - 1,5

Distância extremidade

da agulha - placa coletora10 cm

Tempo de processo (horas) 5

Diâmetro das nanofibras 1ª Fonte: 15 nm a 21nm

Figura 4 – Pormenor das nanofibras de alginato de sódio obtidas com recurso a uma

fonte de tensão.

CONCLUSÕES

O projeto de investigação aqui apresentado é objeto de uma

tese de Doutoramento em curso, encontrando-se esta já numa

fase adiantada. Com base nos resultados preliminares obtidos

(obtenção dos filmes de nanofibras de biopolímeros), o autor

acredita que o trabalho apresenta um elevado potencial de su-

cesso. Se os objetivos propostos forem alcançados é previsível

que as novas estruturas possam contribuir para evitar a progres-

são das UPr para estádios mais avançados e promover a sua ci-

catrização de uma forma mais acelerada. Consequentemente,

os tempos de hospitalização poderão ser reduzidos e o recurso

a técnicas mais dispendiosas (tratamento cirúrgico) evitadas.

Também a qualidade de vida e o conforto dos pacientes e das

suas famílias serão significativamente melhorados.

REFERÊNCIAS

1. Rocha, J.; Miranda, M.; Andrade, M.;(2006), Abordagem terapêutica das úlceras de pressão- In-tervenções baseadas na evidência. Serviço de Fisiatria do Hospital Geral de Santo António, S.A. Porto

2. Goulart, F.; Ferreira, J.; Santos, K.; Morais, V.; Filho, G. “ Prevenção de úlceras por pressão em pacientes acamados: Revisão de literaura; Instituto Superior de Rio Verde

3. Engo, H.(2005). Nanotecnologia na Indústria Têxtil: onde estamos e para onde vamos,Nanotec; São Paulo.

4. Grupo ETC. Nanotecnologia – os riscos da tecnologia do futuro, L&PM Editores, 198p. 2005.5. Portela P., (2010), “Montagem e Automatização de um sistema de Electrospinning”. Dissertação

para obtenção do grau de mestre em Engenharia Electrónica Industrial e Computadores, U.M.;6. Huang Z., Zhang Y., Kotaki M., Ramakrishna S., (2003), “A review on polymer nanofibers by elec-

trospinning and their applications in nanocomposites”. Departmente of Engineering Mechanics, Tongji Universite, china.

Carla Mendes é licenciada em Engenharia Têx-

til pela Universidade da Beira Interior, é Mestre

em Gestão de Produção Têxtil e frequenta o

Doutoramento na área dos têxteis médicos,

também na Universidade da Beira Interior.

No ano de 2009 passou também a exercer fun-

ções como responsável da Qualidade do Ser-

viço de Instalações e Equipamentos do Centro

Hospitalar Cova da Beira EPE. É Sócia fundado-

ra da Associação Portuguesa de Hotelaria Hos-

pitalar e responsável pela área do tratamento

de roupa desde 2010.

“ Se os objetivos propostos forem alcançados é previsível que as novas estruturas possam contribuir para evitar a progressão das UPr para estádios mais avançados e promover a sua cicatrização de uma forma mais acelerada."

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A secção PROGRAMA ECO.AP conta com a colaboração da 41

PROJETO ECO.AP

Será possível poupar 6 800 000 euros?

Ranking de eficiência energética e hídrica 2012Liliana Pereira e Luís InácioLiliana Pereira, coordenadora da implementação do PEBC e ECO.AP ao nível do Ministério da Saúde e do Comité de boas práticas para a sustentabilidade da ACSS, IP.

Luís Inácio, Gestor Local de Energia e Carbono, colaborador da ACSS, IP.

ENQUADRAMENTO DO PROGRAMA ECO.AP

Ao nível do Ministério da Saúde, a definição da estratégia de

implementação do Plano Estratégico do Baixo Carbono (PEBC)

e do Programa de Eficiência Energética na Administração Públi-

ca (ECO.AP) está a ser coordenado pela Administração Central

do Sistema de Saúde, IP (ACSS, IP), tendo por base a legisla-

ção europeia e nacional (Resolução do Conselho de Ministros

n.º 93/2010, de 26 de novembro, e Resolução do Conselho de

Ministros n.º 2/2011, de 12 de janeiro), assim como orientações

estabelecidas em despachos de Sua Excelência o Senhor Se-

cretário de Estado da Saúde (Despacho n.º 1729/2011, de 21 de

janeiro, Despacho n.º 8662/2012, de 21 de junho e Despacho n.º

4860/2013, de 9 de abril).

Os principais objetivos da implementação do PEBC e ECO.AP

no setor da saúde são a redução das emissões de gases com

efeito de estufa e o aumento da eficiência nos consumos de

energia, água e na produção de resíduos dos edifícios do setor

público da saúde, através de medidas que resultem simultanea-

mente em benefícios económicos e na melhoria da prestação

de serviço.

Desde 2010, foi desenvolvido:

¬ Plano Estratégico do Carbono e da Eficiência Energética:

projeto-piloto que decorreu em três unidades de saúde (dois

hospitais e um centro de saúde), que teve como principal ob-

jetivo sistematizar um conjunto de iniciativas que resultassem

simultaneamente na diminuição das emissões de gases com

efeitos de estufa e dos custos da Saúde, e que permitissem

avaliar o método, antes de uma possível expansão aos restan-

tes estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Este estudo resultou num relatório com medidas concretas

para implementação por cada uma das unidades, permitindo

a identificação de um conjunto de 26 iniciativas que se orga-

nizaram em seis grupos: compras, energia, operações, águas

& resíduos, transportes e doentes.

¬ Gestor Local de Energia e Carbono (GLEC): foi nomeado

um por cada entidade do Ministério da Saúde, tratando-se

dos elementos centrais de coordenação técnica e acompa-

nhamento do PEBC e do ECO.AP. Em termos de organização

interna do MS, foi criada uma rede de GLEC com o objeti-

vo de garantir o acompanhamento e a implementação das

ações. Até à data, grande parte dos GLEC do setor da saúde

tiveram oportunidade de frequentar uma ação de formação

financiada, sobre a implementação do ECO.AP, ministrada

pela ADENE, encontrando-se previstas mais ações com o in-

tuito de possibilitar a frequência de todos.

¬ Guia de Boas Práticas para o Setor da Saúde: este Guia foi

publicado pela ACSS, IP e pretende identificar um conjunto

de ações comportamentais e de gestão dos respetivos edifí-

cios, de baixo custos de investimento, que podem ser imple-

mentadas em todas as entidades públicas do setor da saúde,

com o objetivo de ter um impacto na redução das emissões

de carbono e na melhoria da eficiência, reduzindo os consu-

mos de energia, água e produção de resíduos.

¬ Contratos de Gestão de Eficiência Energética: foram se-

lecionadas 4 unidades hospitalares piloto que irão celebrar

estes contratos com Empresas de Serviços Energéticos

(ESE), sendo estas últimas responsáveis pela implementação

e financiamento de um conjunto de medidas de eficiência

energética nos edifícios públicos e remuneradas ao longo do

contrato, em função da efetiva e verificada redução de consu-

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PROJETO ECO.AP

42 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

“De acordo com essa estimativa (...) seria possível obter uma poupança de cerca de 6 milhões de euros através da redução dos consumos de energia e de cerca de 800 mil euros através da redução dos consumos de água.”

mos de energia. O Ministério da Saúde

(MS) é visto como um dos Ministérios

mais avançados e empenhados na im-

plementação efetiva deste programa,

bem como dos Ministérios com maior

potencial de poupança associada.

¬ Monitorização de consumos e custos

com energia, água e produção de

resíduos: os GLEC de todas as enti-

dades do MS enviam para a ACSS, IP

informação relacionada com os consu-

mos e custos com energia, água e pro-

dução de resíduos, desde 2011, que

permitem a respetiva monitorização

e análise da evolução. Em 2011 e 2012

a informação foi recolhida numa base

anual. Contudo, a partir de 2013 a in-

formação passou a ser recolhida numa

base trimestral para que se possa

atuar o mais precocemente possível.

RANKING DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E HÍDRICA DOS HOSPITAIS DO SNS

Conforme indicado no enquadramento,

a ACSS, IP procede à monitorização de

consumos e custos com energia, água e

produção de resíduos desde 2011. A sua

divulgação enquadra-se no Despacho

n.º 4860/2013, de 9 de abril, do Senhor

Secretário de Estado da Saúde, que:

¬ Estabeleceu metas de redução de

consumos para 2013, relativamente a

2011:

a. Consumos de eletricidade e gás:

-10%;

b. Consumos com água: -5%;

c. Produção de resíduos: -5%.

¬ Definiu atribuições para os GLEC do MS;

¬ Determinou a elaboração do Guia de Boas Práticas para o Setor da Saúde e do

Ranking de Eficiência dos Hospitais do SNS.

O Ranking de Eficiência dos Hospitais do SNS é uma ferramenta que visa promover a

redução dos consumos e dos custos com energia e água através da:

¬ Apresentação do nível de eficiência com que cada uma das entidades hospitalares

utiliza recursos energéticos e hídricos;

¬ Evolução dos consumos e custos entre os anos de 2011 e 2012;

¬ Identificação das potenciais oportunidades de racionalização energética e hí-

drica;

¬ Promoção de uma política de benchmarking de eficiência energética e hídrica

entre entidades do SNS.

Em termos metodológicos, este foi desenvolvido em quatro etapas: recolha de in-

formação das entidades hospitalares, agrupamento das entidades em grupos de

acordo com a região do país e/ou características dos edifícios, construção de mapas

de evolução de consumos entre 2011 e 2012 e construção dos rankings de eficiência

energética e de eficiência hídrica.

A construção do ranking permitiu verificar que o custo total com as utilities (eletrici-

dade, gás e água) dos hospitais do SNS em 2012 foi de cerca de 93 milhões de euros,

sendo que o peso de cada uma na fatura anual dos hospitais do SNS corresponde,

aproximadamente, a 52% para a energia elétrica, 30% para o gás e 18% para a água.

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43

PROJETO ECO.AP

A evolução de consumos de energia e

água, entre 2011 e 2012, foi realizada

por região de saúde (Norte, Centro, Lis-

boa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve)

e por entidade hospitalar. Em termos

nacionais, verificou-se uma redução dos

consumos com a energia ativa de cerca

de 2,6%. A despesa com energia elétri-

ca aumentou cerca de 18,1% no mesmo

período, facto que se deveu, fundamen-

talmente, ao aumento das tarifas e do

IVA (de 6% para 23% em outubro de

2011).

O consumo de água diminuiu no perío-

do analisado em cerca de 1,9%, enquan-

to que os custos aumentaram em cerca

de 6,2%, devido ao aumento das respe-

tivas taxas e tarifas.

O Ranking de eficiência energética foi

realizado para 6 grupos: grupo I (região

de saúde do Norte), grupo II (região de

saúde do Centro), grupo III (região de

saúde de Lisboa e Vale do Tejo), grupo

IV (região de saúde do Alentejo e Al-

garve), grupo V (institutos de oncolo-

gia), grupo VI (entidades hospitalares

com centrais de cogeração). Para cada

grupo são apresentados os resultados

discriminados por entidade hospitalar,

com o respetivo indicador de dimensão

do edifício (kgep/m2) e indicador de

produção do serviço (kgep/doente pa-

drão), assim como a respetiva variação

de eficiência, face à média do grupo.

O Ranking de eficiência hídrica foi rea-

lizado para 4 grupos: grupo I (região

de saúde do Norte), grupo II (região de

saúde do Centro), grupo III (região de

saúde de Lisboa e Vale do Tejo), grupo

IV (região de saúde do Alentejo e Algar-

ve). Tal como no ranking de eficiência

energética, para cada grupo apresen-

tam-se os resultados discriminados por

entidade hospitalar, com o respetivo in-

dicador de dimensão do edifícios (m3/

+3,0% +3,3%

Evolução do consumo anual de Água

6.000.000

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

0

-3,2%

-1,1%

-2,0%

-1,9%

2011

2012

I. Região de Saúde do Norte

II. Região de Saúde do Centro 1)

III. Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo 2)

IV. Região de Saúde do Alentejo

V. Região de Saúde do Algarve

Total Nacional 3)

Consu

mo anual de Água

[m³]

5.000.000

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PROJETO ECO.AP

44 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

guns casos, poderão ser mitigados com a

implementação de soluções de correção

do fator de potência.

Tendo em conta o potencial de redução

de consumos e custos para cada entida-

de hospitalar, apresenta-se também uma

estimativa do potencial de redução de

consumos energéticos e hídricos, tendo

por base o Despacho n.º 4860/2013, de 9

de abril, que determina as metas de redu-

ção de consumos a observar em 2013. De

acordo com essa estimativa, e conside-

rando como pressuposto a manutenção

dos preços unitários atuais da energia e

água, seria possível obter uma poupança

de cerca de 6 milhões de euros através da

redução dos consumos de energia e de

cerca de 800 mil euros através da redução

dos consumos de água.

O Ranking de eficiência energética e hí-

drica dos hospitais do SNS encontra-se

publicado na página da internet da ACSS,

IP: www.acss.min-saude.pt

Reduções potenciais

Energia Água

Consumos Custos Consumos Custos

[KWh] [%] [€] [%] [m3] [%] [€] [%]

I. Região de Saúde do Norte -25.802.755 31 -2.020.772 33 -76.895 29 -260.750 32

II. Região de Saúde do Centro -18.476.094 22 -1.149.485 19 -44.729 17 -144.650 18

III. Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo -33.048.517 40 -2.388.571 39 -123.518 47 -330.261 41

IV. Regiões de Saúde do Alentejo -3.030.292 4 -281.798 5 -9.578 4 -29.315 4

V. Regiões de Saúde do Algarve -2.262.589 3 -220.137 4 -9.096 3 -48.626 6

Total Nacional -82.620.247 100 -6.060.763 100 -263.815 100 -813.603 100

Tabela 1: Principais conclusões do Ranking de eficiência energética e hídrica do SNS.

m2) e de produção do serviço (m3/doente padrão), e, ainda, a variação face à média

do grupo.

Também foram analisados os custos com a energia reativa, tendo-se concluído que

o encargo com esta energia corresponde a cerca de 1% da fatura anual de energia

elétrica do SNS. No Ranking são também apresentados os custos e pesos relativos

nos consumos totais de energia elétrica de cada entidade hospitalar, que, em al-

“Os principais objetivos da implementação do PEBC e ECO.AP no setor da saúde são a redução das emissões de gases com efeito de estufa e o aumento da eficiência nos consumos de energia, água e na produção de resíduos dos edifícios do setor público da saúde (...)”

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A secção PROGRAMA ECO.AP conta com a colaboração da 45

PROJETO ECO.AP

Opinião por J. Graça Rocha

O país a dois ritmosJ. Graça Rocha é Membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e especialista em Climatização

Persiste entre nós o desfasamento entre a realidade e o debate

teórico, também no que se refere ao conforto e qualidade do ar

dos espaços interiores das unidades de saúde.

Participamos e organizamos debates técnicos e científicos que

demonstram a nossa capacidade e qualidade na atualização per-

manente de conhecimentos, na produção de artigos científicos,

iniciativas e investimentos do maior interesse para a comunidade,

mas a diferença entre o que lemos, o que sabemos e debatemos,

e o dia-a-dia, deixa espaço para a necessidade de alguma refle-

xão e atenção sobre o que fazemos pelo povo a que pertencemos

e de que maneira colocamos o que sabemos ao seu serviço.

O cidadão que se desloca aos serviços de saúde encontra-se

fragilizado ou potencialmente afetado por alterações do seu es-

tado físico e deve ser recebido em condições ambientais que o

protejam individualmente e aos que se encontram nos mesmos

espaços de espera e de atendimento.

A inexistência ou deficiência de funcionamento dos sistemas de

controlo de temperatura e das adequadas taxas de renovação do

ar interior, não são admissíveis no nosso país, onde se tem as-

sistido ao longo de décadas ao desenvolvimento e permanente

modernização das instalações e equipamentos de saúde, quer

públicas quer privadas, que nos colocam a par do que de melhor

se faz na comunidade internacional.

No entanto, em pequenas unidades que prestam cuidados de

primeira linha (denominados cuidados de saúde primários) per-

manece alguma incapacidade de resolver estes pequenos pro-

blemas.

E não venham argumentar com a crise e a falta de dinheiro porque

algumas destas histórias são antigas e resultam da incapacidade

de quem gere de entender que esses sistemas, além de neces-

sários, requerem contratos de manutenção como qualquer equi-

pamento médico, pois participam, como sabemos, quando bem

projetados, no controlo das condições da assepsia e das infeções

cruzadas dos locais onde se prestam serviços de saúde.

Reconheço que a criação de Unidades Locais de Saúde, envolven-

do na sua estrutura organizacional os serviços de manutenção das

unidades de saúde da região, com base nos serviços técnicos do

hospital, veio resolver a situação das respetivas unidades de cuida-

dos de saúde primários sob a sua administração.

Por outro lado, nos casos em que essas unidades dependem das

novas estruturas criadas pelo conceito de “agrupamento” ou que

mantêm as antigas condições de dependência funcional, continua-

mos a assistir à incapacidade de gerir o que parece simples, mas

que só a falta de atenção de quem manda, pelas coisas “meno-

res” do seu pelouro, ou a falta de conhecimento dos atores diretos,

pode explicar. Claro que estamos em crise, os próprios hospitais

têm dificuldades financeiras na contratualização de serviços, mas

também é certo que a resolução deste assunto requer mais organi-

zação e atenção do que verbas significativas, se comparadas com

os investimentos globais na saúde.

Não gostaria de ver a ventoinha e a salamandra a substituir os siste-

mas adequados, enquanto, noutros setores, se exagera no dimen-

sionamento e utilização dos sistemas de conforto. Também aqui

se espera uma melhor distribuição de recursos, por respeito aos

nossos concidadãos mais carenciados.

“O cidadão que se desloca aos serviços de saúde encontra-se fragilizado ou potencialmente afetado por alterações do seu estado físico e deve ser recebido em condições ambientais que o protejam(...)”

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46 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

notícias

24,3 por cento dos doentes que morreram em 2011 em Portugal Continental tinham infeção hospitalar

A percentagem divulgada no relatório Portugal – Controlo de Infe-

ção e Resistências aos Antimicrobianos em números, do Programa

de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimi-

crobianos (PPCIRA) - inclui mortes devidas à infeção hospitalar e

óbitos para os quais a infeção foi um fator contributivo

Os dados divulgados pela Direção-Geral de Saúde demons-

tram que, em 46.733 óbitos ocorridos em 2011 no continente,

11.357 estiveram associados à infeção hospitalar. O relatório do

PPCIRA salienta, no entanto, não ser possível conhecer a medida

exata de mortalidade associada à infeção hospitalar. Se “num pe-

queno número de casos” o óbito de pode dever à infeção, nou-

tros “pode não ser a causa mas apenas um fator contributivo para

a morte”. Há também situações em que a morte se fica a dever à

patologia primária, sendo a presença da infeção irrelevante para o

resultado final.

O relatório revela também que Portugal é o país europeu com

mais elevada taxa de Staphylococcus aureus resistente à meticili-

na e está entre os países com taxa mais elevada de Enterococcus

faecium resistente à vancomicina, de Escherichia coli resistente às

quinolonas e de Acinobacter com resistência extensiva e apenas

suscetível à colistina. O consumo hospitalar de antimicrobianos

em Portugal parece ser superior à média europeia e apresenta

dismorfias, como o excessivo, apesar de decrescente, consumo de

quinolonas na comunidade, o elevado consumo hospitalar de car-

bapenemes, a excessiva duração da profilaxia antibiótica cirúrgica

e, provavelmente, a excessiva prescrição e duração da terapêutica

antimicrobiana.

No que toca ao tipo de infeção, as infeções associadas a cateter

venoso central, as infeções urinárias, as bacteriemias e as pneumo-

nias adquiridas em UCI e UCI neonatais diminuíram, enquanto ou-

tras são, de acordo com o relatório, “preocupantemente crescen-

tes”, como a infeção do local cirúrgico, nomeadamente na cirurgia

do cólon, da vesícula biliar e da prótese do joelho.

O relatório refere também uma adesão crescente à prática de

higiene das mãos, mas ainda insuficiente e heterogénea entre os

vários grupos profissionais. De 2009 a 2011, a adesão entre os en-

fermeiros foi de 43 por cento, seguido dos assistentes operacio-

nais, com 39 por cento, outros profissionais, com 22 por cento, e

por fim médicos, com 18 por cento.

Face a estes resultados, os autores do relatório aconselham,

entre outras recomendações, a tomada de medidas de redução

de consumo de antimicrobianos, evitando o seu uso inadequa-

do através da criação obrigatória de programas de assistência à

prescrição antibiótica, quer no setor hospitalar, quer nos cuidados

de saúde primários e nos cuidados continuados. É também reco-

mendada a inclusão crescente, nos curricula pré-graduado e pós-

-graduado de médicos, enfermeiros, veterinários e farmacêuticos,

do ensino de “prevenção e controlo de infeção e de resistências

aos antimicrobianos”, definindo uma creditação nesta área, pelo

menos para médicos e enfermeiros.

INL vai desenvolver biossensores e nanomarcadores para diagnóstico e terapia de cancro e doenças neurológicas

O projeto InveNNta resulta de uma iniciativa conjunta entre o La-

boratório Ibérico de nanotecnologia (INL) e o Instituto de Investiga-

ción Sanitaria de Santiago (IDIS) e vai decorrer até meados de 2015.

Terá um orçamento de 2,8 milhões de euros.

Os novos dispositivos e nanoestruturas serão essencialmente

aplicados ao diagnóstico e terapia do cancro e doenças neurológi-

cas, bem como à área da imagiologia, através do desenvolvimento

de marcadores com funcionalidades de contraste melhoradas.

A iniciativa tem como objetivo dar resposta a problemas de Saú-

de numa lógica de cooperação no seio da Eurorregião Galiza-Nor-

te de Portugal. Outro dos objetivos passa pela aplicação de dispo-

sitivos desenvolvidos com base em nanotecnologia, que apoiam

a monitorização e acompanhamento de pacientes com doenças

complexas, com um significativo impacto económico e social, de

acordo com os novos modelos de saúde.

O projeto tem também como objetivo treinar investigadores e

técnicos na área da nanomedicina, transformando o IDIS e o INL

em polos relevantes para a nanotecnologia aplicada à medicina, o

diagnóstico e a terapia.

A iniciativa irá, segundo o que se pode ler no site do INL, con-

tribuir para a construção de uma rede de excelência em nanotec-

nologia na Eurorregião Galiza-Norte de Portugal, que irá funcionar

como uma plataforma para futura participação em projetos euro-

peus.

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47tecno hospital 59SET /OUT 2013

notícias

Controlo e vigilância da Legionella discutidos em seminário

Teve lugar dia 23 de setembro, em Sintra,

o seminário sobre Controlo e Vigilância da

Legionella, promovido pela Grundfos com a

participação da Associação Portuguesa de

Engenharia Hospitalar.

Estiveram reunidos membros de autori-

dades locais de saúde, especialistas estran-

geiros e responsáveis de hotéis e hospitais,

com o objetivo de discutir os riscos para a

saúde pública desta bactéria, bem como os

métodos de prevenção e combate.

No capítulo dos métodos de tratamento,

Vincenzo Rocca, da Grundfos, abordou tra-

tamentos preventivos e tratamentos correti-

vos, tendo enfatizado que, no que concerne

ao uso de bactericidas, o dióxido de cloro é

o único que mata todas as espécies de bac-

térias da Legionella, sendo também o único

que destrói o biofilme (fina camada que se

forma no interior das tubagens das redes prediais e onde outros

agentes patogénicos também se reproduzem). De acordo com

este especialista, o dióxido de cloro é reconhecido como agen-

te desinfetante em todas as aplicações, quer se trate de novas

instalações ou instalações antigas. O uso de dióxido de cloro foi

também recomendado pelo facto de trazer poupança em vários

domínios, nomeadamente na manutenção,

uma vez que são extintos todos os trabalhos

de manutenção extraordinária, em choques

térmicos e em tratamento de águas para

consumo.

O estudo da Legionella no Brasil

No Brasil, a Legionella passou a ser motivo

de preocupação e alvo de legislação após a

morte de Sergio Motta, antigo ministro das

comunicações, por legionelose, em 1998. A

partir daí, ficou estabelecido que todos os

sistemas HVAC deveriam ter um plano de

manutenção. Apesar disto, as análises clíni-

cas são realizadas apenas em alguns hos-

pitais e os seus resultados não são oficiais.

A Legionella propaga-se através de tor-

res de arrefecimento, chuveiros, aquece-

dores de água, fontes ornamentais, balneá-

rios, nebulizadores por ultra-som e outros sistemas. Pode estar

presente em qualquer fonte de água natural, sendo que existem

diversos elementos que promovem o crescimento desta bac-

téria, nomeadamente a temperatura, contaminação microbio-

lógica, nutrientes, contaminação do processo e estagnação da

água.

Tempos de espera para cirurgia oncológica aumentaram em 2012

O ano passado houve uma diminuição da produção cirúrgica na

vertente oncológica, o que implicou um agravamento dos tempos

de espera. Esta é uma das conclusões do relatório da Direção-Ge-

ral da Saúde sobre a capacidade instalada e Atividades em Onco-

logia nas Unidades Hospitalares do SNS em 2012.

Isto acontece apesar de se ter registado um aumento da pro-

dução cirúrgica total. Outro aspeto vincado no relatório é a ten-

dência de alguns grandes hospitais recusarem doentes pelo facto

de residirem fora da sua área de influência. Os autores do relatório

realçam que a liberdade de escolha do doente deve ser respeitada

e que a prioridade “é o acesso e não a área de residência, particu-

larmente no contexto de doenças oncológicas”. O relatório acon-

selha uma monitorização mais “apertada” da produção cirúrgica,

para que seja possível reagir adequadamente.

Na área da quimioterapia, o relatório da DGS aponta a existên-

cia de capacidades muito díspares. Existem centros com menos de

1000 sessões por ano, o que é classificado de “atividade vestigial”

pela DGS, pelo que se sugere a obrigatoriedade de alguns centros

de menor volume estarem afiliados em centros de maior dimensão.

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48 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

notícias

Descentralização pode contribuir para melhorar prestação de cuidados de saúde

Os resultados preliminares de um estudo levado a cabo por

investigadores da Universidade Nova de Lisboa demonstram

que a devolução de autoridade política e fiscal aos governos

locais parece aumentar as despesas em cuidados de saúde

mas também melhorar resultados, essencialmente medidos

através da mortalidade infantil.

O estudo “Consequências em eficiência e equidade da des-

centralização na saúde: uma perspetiva económica” teve por

base experiências recentes de descentralização levadas a cabo

no Canadá, Itália, Espanha e Suíça.

A equipa de investigação partiu da teoria económica, se-

gundo a qual a descentralização pode potenciar a competição

entre jurisdições para aumentar a atratividade das regiões e,

deste modo, aumentar a pressão sobre os governos locais,

uma vez que os cidadãos avaliam a sua performance com base

na dos seus homólogos vizinhos.

Através da literatura empírica, os investigadores concluíram

que o aumento da competição incentiva os decisores locais

a gastar mais com os cuidados de saúde (race to the top) ao

invés de procurar descidas de custos, como a diminuição de

impostos (race to the bottom), o que produz um impacto favo-

rável na Saúde. O caso de Espanha é paradigmático, pois ficou

demonstrado que o aumento das despesas em cuidados de

saúde foi maior nas regiões com autonomia fiscal.

As despesas mais elevadas num cenário de descentraliza-

ção podem, também, refletir custos mais elevados, relaciona-

dos, por exemplo, com a duplicação de inputs (duas regiões

vizinhas com uma oferta semelhante de serviços, que poderia

ser partilhada), falta de economia de escala ou custos associa-

dos à implementação de sistemas locais de saúde provisórios.

Também por via da análise do caso espanhol, os investiga-

dores concluíram que a descentralização pode ter favorecido

a equidade, uma vez que constataram que a desigualdade

nos cuidados de saúde era menor nas regiões com mais au-

tonomia. Já no caso da Suíça e Itália, verificou-se uma for-

te relação entre os rendimentos auferidos nas regiões e as

despesas com cuidados de saúde, o que leva a uma maior

heterogeneidade.

A equipa concluiu que os mecanismos de solidariedade

das autoridades locais são relevantes para evitar a emergên-

cia de grandes desigualdades nas regiões na prestação de

cuidados de saúde e nas despesas. No entanto, a redistribui-

ção de fundos também reduz a responsabilidade financeira

das jurisdições, em possível prejuízo das despesas e com

consequências ambíguas ao nível da eficiência. Este último

aspeto é de particular importância num cenário em que as

jurisdições competem pela prestação de cuidados de quali-

dade e não através da diminuição de taxas.

Enquadramento da atividade do farmacêutico

O Gabinete do Secretário de Estado da Saúde publicou, a 5 de

novembro, um despacho que cria um grupo de trabalho que

deverá proceder à análise do enquadramento da atividade do

farmacêutico.

O objetivo é ponderar o modelo conceptual que deverá nor-

tear o posicionamento do farmacêutico no universo dos profis-

sionais de saúde, face às necessidades sentidas no âmbito do

Serviço Nacional de Saúde.

O grupo de trabalho deve considerar o âmbito e áreas de

atividade, a existência de dois regimes contratuais (contrato de

trabalho em funções públicas e contrato individual de trabalho),

a formação pré-carreira e a atribuição do título de especialista e

intervenção da Ordem dos Farmacêuticos.

De acordo com o diploma, na área do medicamento, assume

relevância particular a intervenção na utilização dos medicamen-

tos, agindo sobre a prescrição, dispensa e monitorização, dan-

do prioridade ao desenvolvimento de orientações terapêuticas

para os serviços hospitalares e de ambulatório, apoiadas em ba-

ses sólidas de farmacologia clínica e evidência da economia da

saúde sobre custo - efetividade. Neste âmbito, e de acordo com

o Ministério da Saúde, a atividade do farmacêutico justifica uma

análise e avaliação do enquadramento profissional consentâneo

com as suas responsabilidades e o impacto da sua intervenção

na eficiência da gestão do medicamento.

www.portaldasaude.pt

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produtos e tecnologias

49tecno hospital 59SET /OUT 2013

Sonda Endotics da Era Endoscopy

O sistema Endotics foi inspirado no movimento das lagartas. A

sonda Endotics avança autonomamente no interior do cólon,

imitando os movimentos das lagartas e satisfazendo, em simul-

tâneo, as exigências do paciente, conforme se pode ler no site

do fabricante, a Era Endoscopy.

A empresa garante que este sistema elimina a dor e os riscos

de infeção e de perfuração do intestino. Este tipo de locomoção

permite que a sonda se adapte de forma dinâmica às curvas do

cólon, reduzindo ao mínimo as deformações intrínsecas a uma

colonoscopia convencional. A parte periférica da sonda pode

orientar-se em qualquer direção (180º sobre cada um dos eixos)

para facilitar a deslocação nas curvas do cólon. O sistema de

orientação junto a uma câmara de vídeo CMOS com alta reso-

lução integrada num sistema de luz fria permite, segundo a em-

presa, uma visibilidade ótima, quer frontal, quer posterior.

O objetivo desta tecnologia passa por ter um dispositivo

descartável, totalmente comandado através de um sistema

pneumático muito suave e flexível. A propulsão, a gestão das

imagens e todos os comandos que coordenam o funcionamen-

to do aparelho podem ser controlados através de uma consola.

Com um clique, o aparelho adapta-se a utilizadores destros ou

canhotos.

www.endotics.com

Ecógrafo X-Porte da Sonosite

O novo X-Porte da Sonosite caracteriza-se, essencialmente, pela

imagem de alta resolução, existência de guias clínicos animados

em 3D.

O aparelho tem marcação CE e está disponível nas variantes

estática e removível. Este ecógrafo foi concebido para servir um

largo espetro de utilizadores, inde-

pendentemente de terem muita ou

pouca experiência. O principal avan-

ço deste dispositivo é a incorporação

da tecnologia Extreme Definition

Imaging (XDI), propriedade da Sono-

site.

Esta tecnologia foi criada depois

de 35 anos de investigação, e caracte-

riza-se pela significativa redução da interferência visual. De modo

a maximizar a utilidade desta tecnologia, o X-Porte proporciona

facilidade de utilização e interoperabilidade através dos seus

guias de aprendizagem visuais. O dispositivo proporciona uma

imagem de alta resolução em sincronia com animações em 3D

que permitem tirar o máximo partido do dispositivo. Estes mó-

dulos de aprendizagem podem ser usados em simultâneo com a

execução da ecografia para otimizar a performance e a consistên-

cia do utilizador. Cada módulo foi concebido com o contributo de

um consórcio de professores de Medicina.

O interface com o utilizador

é uma superfície de limpeza

fácil, com um mínimo de reent-

râncias para facilitar o controlo

de infeção. A superfície de vi-

dro foi testada contra salpicos

acidentais e permite a limpeza

com um largo espetro de de-

sinfetantes, sem deteriorar.

Este dispositivo foi conce-

bido para múltiplos ambientes,

tendo altura ajustável e carac-

terizando-se pelo transporte

fácil em corredores ou ao lado

das camas dos pacientes. A

estrutura central do ecógrafo

pode ser facilmente removi-

da do restante aparelho e as

atualizações podem ser feitas

através de simples updates de

software.

O dispositivo apresenta garantia de 5 anos.

www.sonosite.com

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produtos e tecnologias

50 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Pano com nanopartículas de prata da Vileda

O NanoTech micro é um pano totalmente composto por ultra-

microfibras com nanopartículas de prata de efeito antibacté-

rias. Foi desenhado para hospitais, clínicas, casas de saúde,

infantários, hotéis e restaurantes, ou seja, áreas onde a higiene

tem uma importância fulcral.

As microfibras de poliéster são embebidas com nanopartí-

culas de prata que garantem, de acordo com a Vileda, um for-

te efeito antibactérias durante todo o período de vida útil do

pano (> 200 lavagens/usos), conforme certificado do Instituto

Alemão Hohenstein.

É aplicável a todo o tipo de superfícies, a húmido com o

método pré-preparado ou com pulverizador.

As partículas de prata deste produto impedem o desenvol-

vimento de bactérias no pano húmido, garantindo, segundo a

Vileda, máxima higiene durante o período de uso ou mesmo

durante o armazenamento sem secar.

O pano caracteri-

za-se pelo seu baixo

peso que, aliado à efi-

cácia de limpeza das

microfibras e à possi-

bilidade de antecipar

a pré-preparação,

permite uma poupan-

ça considerável de

tempo, mantendo os

elevados níveis de higiene. Por outro lado, o uso do NanoTech

micro ajuda a prevenir a proliferação de bactérias e a sua lon-

ga duração reduz consideravelmente a emissão de resíduos,

quando comparado com panos tradicionais ou descartáveis.

http://vileda-professional.com/pt-PT

Sensor CMOS para endoscopia da Fujifilm

A Divisão de Endoscopia da Fujifilm Medical Systems Europe

apresentou, no decurso da UEGW em Berlim, que decorreu

de 12 a 16 de outubro, um novo line-up de produtos e diversos

avanços tecnológicos, entre os quais se destaca o novo sensor

de imagem CMOS, que proporciona, de acordo com a empresa,

uma elevada qualidade da imagem endoscópica.

Este sensor é usado na nova série 600 de endoscópios e co-

lonoscópios (EG-600WR e EC-600WM/WI/WL), e produz, se-

gundo a Fujifilm, imagens em super alta resolução. Pelo facto

de a tecnologia CMOS efetuar a conversão de analógico para

digital no próprio sensor, reduz drasticamente o “ruído” da ima-

gem, tornando-a mais brilhante e detalhada, disponibilizando 60

fps em formato vídeo progressivo.

A série 600 permite focagem a partir de 2 a 100mm para visua-

lização próxima e distante, e disponibiliza uma imagem FICE mais

nítida e clara para permitir uma fácil diferenciação entre lesões e

tecido não afetado.

Esta nova série de endoscópios beneficia ainda do ColoAssist

II para os EC-600WM/WI/WL, onde tanto o torque como a trans-

missão de força foram melhorados, com a adaptação da rigidez

progressiva: mais macio na parte distal e mais rígido na parte de

operação.

Endoscopia de Duplo Balão

Em 2004 a Fujifilm tornou real a possibilidade de examinar e

tratar todo o intestino delgado. Agora, esta possibilidade é subs-

tancialmente melhorada com a introdução do novo Enteroscópio

de duplo balão EN-580T, também apresentado na UEGW, com

um canal de trabalho aumentado para 3,2mm, melhorando o de-

sempenho da sucção. Um novo sensor de imagem garante alta

qualidade, resolução e nitidez. Utilizado em combinação com

FICE, permite fácil diferenciação entre lesões e tecido não afe-

tado. Um novo conetor ‘one-touch’ e o reposicionamento da ali-

mentação de ar do balão melhoram a ergonomia e operabilidade

do enteroscópio.

Esta linha de produtos já se encontra disponível em Portugal.

www.fujifilm.pt

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produtos e tecnologias

51tecno hospital 59SET /OUT 2013

IBM lança solução colaborativa na área da oncologia

A IBM, após um ano de parceria com o Centro Universitário de

Oncologia MD Anderson, da Universidade do Texas, nos EUA, um

protótipo baseado na capacidade analítica do sistema Watson da

IBM, que funcionará como uma ferramenta colaborativa de suporte

à prestação de serviços na área da oncologia, o Oncology Expert

AdvisorTM.

A nova solução está desenhada para integrar o conhecimento

de médicos e investigadores do MD Anderson e reforçar o objetivo

do centro em avançar com tratamentos mais eficazes e seguros, de

acordo com o conhecimento e as evidências disponíveis. Com mais

de 100 mil pacientes atendidos todos os anos, o centro acumulou

uma vasta quantidade de informação, o que representa um desa-

fio significativo para extrair conhecimento a partir destes dados.

Desta forma, consegue-se agora aceder a detalhes importantes

sobre ensaios clínicos e sintomas dos pacientes que nem sempre

são partilhados.

A abordagem inicial foca-se no tratamento da leucemia. A ferra-

menta permite que os médicos desenvolvam, observem e melho-

rem os planos de tratamento, levando, por exemplo, os doentes a

reconhecerem possíveis efeitos adversos durante a prestação dos

cuidados de saúde.

O Oncology Expert AdvisorTM estará disponível para uma rede

alargada de outros centos e unidades de saúde, a partir do Centro

Universitário de Oncologia MD Anderson, através de uma plata-

forma online disponível também para dispositivos móveis compa-

tíveis. Esta tecnologia fornecerá aos médicos – e, por sua vez, aos

pacientes – o acesso imediato em todo o mundo a conhecimento,

experiência e recursos do MD Anderson, a partir da capacidade

cognitiva do sistema Watson em extrair rapidamente informações

essenciais a partir de grandes e complexos volumes de dados.

“O sistema Watson da IBM representa uma nova era da com-

putação, em que os dados acumulados não serão mais um desafio,

mas sim um catalisador para implantar de forma mais eficiente os

novos avanços no diagnóstico e tratamento dos doentes”, subli-

nhou Manoj Saxena, General Manager do IBM Watson Solutions.

“Ao ajudar os investigadores e médicos a melhor compreenderem

o significado de algumas informações, estamos a contribuir para

novas descobertas na área da saúde”.

www.ibm.com/pt

Laborial vence Prémio Cleanroom Award 2013

A superfície de trabalho interativa para laboratórios Blautouch,

desenvolvida pela Laborial, foi a grande vencedora do prémio

Cleanroom Award organizado pela Reinraum Akademie GmbH

a propósito da 2ª exposição Cleanzone, evento na área dos am-

bientes controlados, que teve lugar entre os dias 22 e 23 de outu-

bro em Frankfurt.

O produto foi inicialmente selecionado para um grupo de 5

finalistas nomeados por um colégio de especialistas internacio-

nais, entre várias candidaturas ao prémio. Os finalistas, nomeada-

mente a Berner International GmbH que apresentou “A próxima

geração

de câmaras de fluxo laminar”; a Albany

Door Systems GmbH, que apresentou “A

primeira porta certificada para salas bran-

cas”; a Curasan AG, que apresentou um

“Conceito inovador para salas brancas:

maximização da eficiência energética e

minimização das emissões de CO2 do ar

condicionado das salas brancas através

do uso combinado de refrigeração, aque-

cimento e corrente elétrica”, a CO2Nexus Inc., que apresentou

uma “Solução de lavandaria para salas brancas TersusTM com

CO2 líquido” e ainda a Laborial, que apresentou a Blautouch,

apresentaram as suas soluções durante o evento para votação

do público presente, que elegeu a Blautouch como Cleanroom

Award 2013.

A Blautouch é uma superfície de trabalho interativa para labo-

ratórios desenvolvida em parceria com a Edigma e com a FEUP,

no decurso do projeto IDI “Intellab – Laboratórios Inteligentes”

financiado pelo QREN. Construído por materiais resistentes aos

reagentes e aos desinfetantes mais agressivos, e desenvolvido

segundo as mais recentes diretrizes do “hygienic design”, a Blau-

touch permite substituir dispositivos como computadores, tecla-

dos e ratos, que são grandes focos de contaminação existentes

nas salas brancas e nos espaços críticos

laboratoriais e hospitalares.

Para José Branco, administrador da

Laborial, este prémio “consolida o reco-

nhecimento internacional do trabalho da

Laborial, particularmente importante num

período pós-fundação da subsidiária na

Suíça e em que se pretendem aumentar

as vendas no mercado europeu.”

A Blautouch é, neste momento, co-

mercializada na Alemanha pela Basan GmbH, empresa do grupo

VWR dedicada ao segmento de produtos para sala branca.

www.laborial.com

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eventos

52 tecno hospital 59 SET /OUT 2013

Evento Temática Local Data Organização

eventos

As informações deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, deverá contactar a Organização.

ICEUBI 2013 - International Conference on Engineering UBI2013 – Engineering for Economic Development

Investigação/ Engenharia

Covilhã27 a 29 de novembro de 2013

Faculdade de Engenharia da UBI

www.ubi.pt

IV Conferência Anual do HCP

A Saúde nas agendas nacionais e europeias para 2020 - oportuni-dades e desafios para o setor na abertura de um novo ciclo

Lisboa28 de novembro de 2013

Health Cluster Portugal

healthportugal.com

XIV Congresso Nacional de Medicina Nuclear

Medicina Nuclear Porto5 a 7 de dezembro de 2013

News Farma

www.newsfarma.pt

PhyCS 2014

Conferência Internacional de Sistemas para Computação Fisiológica

Lisboa7 de janeiro de 2014

Health Cluster Portugal

healthportugal.com

SeGAH 2014 Aplicações para Saúde Rio de Janeiro, Brasil14 a 16 de maio de 2014

IPCA

www.ipca.pt/segah2014/

4º Congresso de Qualidade em Saúde e Segurança do Doente

Qualidade e Segurança em Saúde

Lisboa23 e 24 de maio de 2014

ENSP

www.qualitysafetyportugal.eu

A Saúde nas agendas nacionais e europeias para 2020 - oportu-

nidades e desafios para o setor na abertura de um novo ciclo é o

tema da conferência que se realiza a 28 de novembro na Faculda-

de de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Com a presença de Maria da Graça Carvalho, eurodeputada re-

latora do programa específico de execução do Horizonte 2020, a

conferência contará com comunicações sobre o desafio societal

“Saúde, alterações demográficas e bem-estar” e também sobre

o Turismo de Saúde em Portugal.

Daniel Bessa fará uma comunicação sobre os desafios para em-

presas, instituições de I&D e hospitais no âmbito das novas agen-

das nacionais e europeias e Manuel Castro Almeida, secretário de

Estado do Desenvolvimento Regional, falará sobre o novo QREN

/ Portugal 2020.

healthportugal.com

IV Conferência Anual do Health Cluster Portugal

As questões relacionadas com a Qualidade em Saúde e a Se-

gurança do Doente têm constituído, de há uns anos a esta parte,

uma crescente preocupação para as organizações de saúde, para

os decisores políticos, para os profissionais de saúde e para os

doentes/utentes e suas famílias. A aposta na formação e na in-

vestigação sobre estas temáticas reveste-se de um caráter crucial

para a inovação em saúde.

A segurança do doente, enquanto componente chave da qua-

lidade dos cuidados de saúde, assumiu grande relevância, tanto

para os doentes e seus

familiares que desejam

sentir-se confiantes e

seguros, como para os

profissionais de saúde

cuja “missão” principal consiste na prestação de cuidados com

elevado nível de efetividade, eficiência e baseados na melhor evi-

dência disponível.

Na lógica de prossecução destes objetivos, realiza-se a 23 e 24

de maio de 2014, em Lisboa, a 4ª edição do Congresso de Quali-

dade em Saúde e Segurança do Doente.

www.qualitysafetyportugal.eu

4º Congresso de Qualidade em Saúde e Segurança do Doente

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