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C AD . S AÚDE C OLET ., R IO DE J ANEIRO , 15 (2): 241 - 256, 2007 – 241 O GRAU DE SATISFAÇÃO DA USUÁRIA GESTANTE NA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL NAS UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA The degree of satisfaction of the pregnant user in the prenatal assistance in the Units of Health of the Family in the city of Vitória Carla Braga Oliveira 1 , Maria Cristina Ramos 2 RESUMO O objetivo deste trabalho é avaliar o grau de satisfação das usuárias acerca das ações da equipe de saúde no acompanhamento pré-natal. Trata-se de uma pesquisa qualitativa cujo cenário de estudo foram seis Unidades de Saúde da Família e, ainda, como amostra, a participação e depoimentos de 18 gestantes freqüentadoras das Unidades. A partir dos dados coletados, pode-se afirmar que existe deficiência no planejamento das atividades de saúde, em nível grupal. As usuárias expressam um alto grau de satisfação em relação à dimensão relacional, em todos os seus atributos. Os profissionais mais destacados são os agentes de saúde e os médicos. Conclui-se que a maioria das gestantes mostrou-se satisfeita com o atendimento prestado nas Unidades estudadas, havendo uma clara associação dessa satisfação com o bom relacionamento com os membros da equipe e a existência da visita domiciliar como fator importante da qualidade do serviço prestado. PALAVRAS-CHAVE Satisfação do usuário, assistência pré-natal, Programa Saúde da Família ABSTRACT The objective of this qualitative research was to evaluate the degree of satisfaction of health care users, concerning the actions of the health team during the prenatal follow up. The study was carried out in six Units of the Family Health Program, and the sample consisting of 18 pregnant women. The data collected suggest that there is a lack of efficiency in the planning of health activities, at the group level. The users express a high degree of satisfaction regarding the relational dimension, in all its attributes. The more prominent professionals are the health agents and the medical doctors. We conclude that the majority of pregnants was satisfied with the health care given in the studied Units, and this satisfaction has a clear association with the good relationship with the members of health team and the existence of domiciliary visit, which is considered as an important factor of the health care quality. KEY WORDS Consumer satisfaction, prenatal care, Family Health Program 1 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Espírito - Endereço: Rua Júlio César Oliveira Serrano, 32 - Jardim da Penha - Vitória - Espírito Santo, CEP: 29060-430 E-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo.

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CA D. S A Ú D E C O L E T . , R I O D E JA N E I R O , 15 (2 ) : 241 - 256, 2007 – 241

O GRAU DE SATISFAÇÃO DA USUÁRIA GESTANTE NA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL NAS

UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA

The degree of satisfaction of the pregnant user in the prenatal assistancein the Units of Health of the Family in the city of Vitória

Carla Braga Oliveira1, Maria Cristina Ramos2

RESUMO

O objetivo deste trabalho é avaliar o grau de satisfação das usuárias acerca das açõesda equipe de saúde no acompanhamento pré-natal. Trata-se de uma pesquisa qualitativacujo cenário de estudo foram seis Unidades de Saúde da Família e, ainda, comoamostra, a participação e depoimentos de 18 gestantes freqüentadoras das Unidades.A partir dos dados coletados, pode-se afirmar que existe deficiência no planejamentodas atividades de saúde, em nível grupal. As usuárias expressam um alto grau desatisfação em relação à dimensão relacional, em todos os seus atributos. Os profissionaismais destacados são os agentes de saúde e os médicos. Conclui-se que a maioria dasgestantes mostrou-se satisfeita com o atendimento prestado nas Unidades estudadas,havendo uma clara associação dessa satisfação com o bom relacionamento com osmembros da equipe e a existência da visita domiciliar como fator importante daqualidade do serviço prestado.

PALAVRAS-CHAVE

Satisfação do usuário, assistência pré-natal, Programa Saúde da Família

ABSTRACT

The objective of this qualitative research was to evaluate the degree of satisfaction ofhealth care users, concerning the actions of the health team during the prenatal followup. The study was carried out in six Units of the Family Health Program, and thesample consisting of 18 pregnant women. The data collected suggest that there is alack of efficiency in the planning of health activities, at the group level. The usersexpress a high degree of satisfaction regarding the relational dimension, in all itsattributes. The more prominent professionals are the health agents and the medicaldoctors. We conclude that the majority of pregnants was satisfied with the health caregiven in the studied Units, and this satisfaction has a clear association with the goodrelationship with the members of health team and the existence of domiciliary visit,which is considered as an important factor of the health care quality.

KEY WORDS

Consumer satisfaction, prenatal care, Family Health Program

1 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Espírito - Endereço:Rua Júlio César Oliveira Serrano, 32 - Jardim da Penha - Vitória - Espírito Santo, CEP: 29060-430E-mai l : car [email protected]

2 Doutoranda em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UniversidadeFederal do Espír i to Santo.

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1. INTRODUÇÃO

Na história da Saúde Pública, a atenção à saúde da mulher tem sido reconhecidacomo prioritária. No Brasil, o Ministério da Saúde divulgou oficialmente, em1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), através dodocumento intitulado: “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de açãoprogramática”, ampliando desta forma, o elenco de ações de saúde destinadas àparcela feminina da população (OSIS, 1998).

As diretrizes gerais do Programa previam a capacitação do sistema de saúdepara atender as necessidades da população feminina, enfatizando as ações dirigidasao controle das patologias mais prevalentes nesse grupo; estabeleciam também aexigência de uma nova postura de trabalho da equipe de saúde em face doconceito de integralidade do atendimento; pressupunham uma prática educativapermeando todas as atividades a serem desenvolvidas, de forma que a clientelapudesse apropriar-se dos conhecimentos necessários a um maior controle sobresua saúde (Brasil, 1984).

Nesse contexto, a atenção à mulher deveria ser integral, clínico-ginecológicae educativa. De acordo, com Osis (1998), a idéia geral era viabilizar a rede básicade serviços pela integração, regionalização e hierarquização dos serviços de saúde.Além disso, estabelecia - se que todas as atividades previstas no PAISM deveriamser adotadas em conjunto. Entretanto, uma vez que algumas ações – como asrelativas ao pré-natal – já se achavam incorporadas ao atendimento da rede desaúde, o início da implementação poderia se dar pelo investimento na melhoriadessas ações. Frisava-se, entretanto, que as atividades de concepção e contracepçãonunca poderiam ser implementadas isoladamente, tampouco seriam aceitas emserviços em que os outros objetivos programáticos do PAISM não estivessemem desenvolvimento.

Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2004), o PAISM representou a rupturaconceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e oscritérios para eleição de prioridades neste campo, incorporando como princípiose diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dosserviços, bem como a integralidade e a eqüidade da atenção, num período emque, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se concebia o arcabouçoconceitual que embasaria a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Diante do exposto, é possível evidenciar o amplo significado social do PAISM,destacando-se a sua singularidade enquanto uma proposta de um modelo assistencialinovador, abrangente e inclusivo, pautado na integralidade e em práticas educativasdialógicas, voltadas para a promoção da cidadania feminina constituindo-se, assim,em elemento catalizador de debates, bastante importantes para promover umatendimento de boa qualidade à saúde reprodutiva.

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O processo de implantação e implementação do PAISM apresenta especificidadesno período de 84 a 89 e na década de 90, sendo in-fluenciado, a partir daproposição do SUS, pelas características da nova política de saúde, pelo processode municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica, pormeio da estratégia do Pro-grama Saúde da Família (Brasil, 2004).

O Ministério da Saúde lançou, em março de 1994, o Programa Saúde daFamília, valorizando os princípios de territorialização, de vinculação com apopulação, de garantia de integralidade na atenção, de ênfase na promoção dasaúde com o fortalecimento das ações intersetoriais e de estímulo à participaçãoda comunidade (Souza, 2000).

Vasconcelos (2001) afirma que o Programa Saúde da Família possibilita umamelhor compreensão das situações, com uma atuação mais dialógica e completa,como, por exemplo, o atendimento do pré-natal. Permitindo o exercício dacriatividade pelos profissionais de saúde, é possível construir vínculos maisespontâneos e mais naturais com a população, “ir além da técnica” no sentido detransformar técnicas e protocolos em meios para alcançarmos um fim maior, noqual o incentivo para que os usuários desenvolvam o senso de responsabilidade,tanto por sua própria saúde, como pela saúde da comunidade, esteja em primeirolugar. Nessa perspectiva, o Programa Saúde da Família é uma oportunidade derequalificação do trabalho da saúde coletiva, da saúde pública e da saúde damulher para uma defesa do Sistema Único de Saúde.

No município de Vitória, a Razão de Mortalidade Materna em 2000 e 2004foi de 18,63 e 14,9/10 mil nascidos vivos, respectivamente. Esses dados sãopreocupantes, tendo em vista que a Razão de Mortalidade Infantil aceitávelpela Organização Mundial de Saúde é de dez óbitos por 10 mil nascidos vivos(WHO, 1985). A assistência pré-natal constitui medida de grande impacto sobreas mortalidades materna e infantil, através da prevenção de agravos e detecçãoprecoce de patologias específicas da gestação e intercorrentes.

Logo, no âmbito internacional, nacional e estadual, as causas perinatais doóbito infantil e mortalidade materna representam um grande desafio para osserviços de assistência à gestante e ao recém-nascido. Diante desta situação, estáclara a necessidade de esforço coletivo, de setores governamentais e não-governamentais, para a melhoria da qualidade da atenção à saúde da mulher,incluindo, a assistência pré-natal e puerperal em todo País.

A análise do PAISM indica a ocorrência do descompasso entre as basesprogramáticas e as ações práticas, mas justamente por sua força conceitual, devem-se redobrar os esforços para sua efetiva implementação, inclusive na perspectivado PSF, mantendo – se a coerência interna com seus princípios doutrinários:a universalidade, integralidade e equidade, bem como com os princípios

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organizativos: acessibilidade, resolubilidade, regionalização, descentralização,hierarquização e a participação popular (Osis, 1998).

A avaliação do funcionamento do PSF, incluindo a atenção pré-natal, deveser uma atividade a acontecer no âmbito nacional, regional e local, com vistas afornecer subsídios para as adequações necessárias, principalmente por se tratarde um processo em implantação e com tendência a universalização.

Pensando no contexto local, em que se destaca o fortalecimento da participaçãocomunitária, ressalta-se a relevância de um processo de avaliação voltado para asperspectivas dos próprios usuários, uma vez que estes se caracterizam comoimportantes parceiros do programa. Avaliar os serviços do PSF, tomando porbase opiniões dos usuários favorece o conhecimento de aspectos do trabalho quevem sendo desenvolvido e, consequentemente, aponta possibilidades e caminhospara o seu redirecionamento (Moura & Aguiar, 2004).

À luz dessa revisão, desenhou-se uma pesquisa destinada a analisar diversosaspectos da satisfação das usuárias, do Programa de Saúde da Família no municípiode Vitória, dentro das atuais reformas do setor saúde no Brasil. Assim, procurou-se avaliar, sob a visão da usuária, os mecanismos da assistência pré-natal efuncionamento dos serviços de saúde nas localidades estudadas.

Destacamos como objetivos da pesquisa: contribuir para a avaliação emonitoramento da Atenção Básica, no município de Vitória, na perspectivada gestante que freqüenta a assistência pré-natal nas unidades básicas de Saúdeda Família; avaliar o grau de satisfação das usuárias acerca das ações daequipe de saúde no acompanhamento pré-natal quanto à: agilidade noagendamento da consulta, agilidade no atendimento, acolhimento ehumanização, visita domiciliar, entre outros; identificar a dinâmica da ofertadas consultas médica e de enfermagem no pré-natal, identificar as percepçõesdas e, ainda, identificar a dinâmica das visitas domiciliares dos agentes desaúde, médicos e enfermeiros às gestantes.

2. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do estudo optamos como natureza a pesquisaqualitativa. Minayo (1993) descreve que a abordagem qualitativa se preocupanas ciências sociais, com nível de realidade que não pode ser quantificado, ouseja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dosprocessos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização devariáveis. [...] Permite alcançar áreas inacessíveis ou incômodas para outrasmetodologias, permitindo estudar aspectos complexos do comportamento, atitudes,interações e convicções dos profissionais da saúde.

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A iniciativa de implantação do PSF, no município de Vitória surgiu, no finalde 1997, a partir da diretriz da Secretaria Municipal de Saúde, que estabelece ainversão do modelo de atenção à saúde. O projeto está em consonância com aconcepção das Normas Operacionais Básicas (NOB/96), que incentiva os municípiosa desenvolverem ações voltadas à assistência integral à saúde. A implantação daESF em Vitória iniciou-se em fevereiro de 1998, nos bairros de Jesus de Nazareth,Andorinhas, Fonte Grande e Resistência, com cinco equipes que eram compostaspor médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde.Em uma equipe havia um assistente social. As áreas foram definidas, inicialmente,por apresentarem baixos indicadores de saúde e o índice de pobreza maisacentuado do que as outras regiões da cidade (SEMUS, 2001).

De acordo com a SEMUS (2001), a consolidação do SUS precisa seraprimorada na sua rotina, principalmente na capacitação e formação de pessoal.A Secretaria Municipal de Saúde de Vitória vem estimulando os profissionaisnessa capacitação, a princípio oferecendo o curso básico em saúde da família,que foi iniciada por intermédio do Pólo de Capacitação Estadual e, atualmente, aSecretaria passou a oferecer devido ao grande número de profissionais a seremcapacitados e, também, como forma de estimular a adesão às equipes do PSF.

Atualmente houve a implementação de um programa de educação médicacontinuada, visto que somente esta capacitação não supriria as necessidadesdestes profissionais, quanto à formação generalista. O objetivo é estar formandoprofissionais para suporte às Equipes de Saúde da Família, na proporção de umpediatra, um ginecologista, um clínico, um enfermeiro, todos com pós-graduaçãoe são responsáveis em acompanhar uma média de 13 equipes de PSF, participan-do de um modelo onde o processo educacional é baseado na evidência do impacto,na realidade do profissional. Todo este caminho da educação permanente vemsendo organizado em cooperação técnica com a Escola de Saúde Pública do Ceará.

O estudo foi desenvolvido nas Unidades da Estratégia Saúde da Família (USF)do município de Vitória – Espírito Santo. O critério escolhido para seleção dasUnidades foi a maior facilidade de acesso para a pesquisadora, pois em algumasregiões de saúde seria inviável devido à violência e o intenso tráfico de drogas.Sendo assim, a pesquisa foi realizada com as seguintes Unidades: Thomaz Tommasi,Maruípe, Fonte Grande, Jardim da Penha, Praia do Suá e Santo André.

Para a seleção dos indivíduos participantes do estudo foram estabelecidos osseguintes critérios: as usuárias deveriam ter freqüência ativa na assistênciapré-natal na Unidade pesquisada, ter realizado no mínimo três consultas de pré-natal na unidade selecionada, e ainda demonstrar aceitação voluntária à participaçãona pesquisa, sendo entregue no momento da entrevista o termo de consentimentolivre e esclarecido.

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Os sujeitos do estudo foram três usuárias que freqüentam a assistência pré-natal de cada uma das unidades estudadas, escolhidas de maneira aleatória.A definição do número de sujeitos baseou-se na saturação dos discursos, ou seja,encerraram-se as entrevistas no momento em que novas entrevistas apresentaramrepetições de conteúdo, pois a repetição dos discursos indica que a introdução denovos sujeitos nada acrescenta. Para Bardin (2000), a representatividade não éatribuída à quantidade de indivíduos investigados, mas a deduções específicassobre um acontecimento, que podem melhor funcionar sobre corpos reduzidose favorecer categorias mais discriminantes. Assim, o universo pesquisado foiconstituído de 18 gestantes.

No desenvolvimento da pesquisa foram consideradas as diretrizes e normasregulamentadoras de pesquisas, as que envolvem seres humanos, previstas naresolução 196/96 do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Assim, oestudo respeitou todas as determinações éticas, tendo sido realizada, previamente, asolicitação, à Secretaria Municipal de Saúde, de autorização para o desenvolvimentoda pesquisa. Após a autorização, o projeto foi encaminhado e aprovado, peloComitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal doEspírito Santo. Só participaram da pesquisa as que concordaram com o termo deconsentimento esclarecido, ficando nítido o compromisso ético e assegurado oanonimato da participante.

Em relação às considerações éticas, é preciso destacar, ainda, que as usuáriasforam abordadas pela pesquisadora, que se apresentou, expôs os objetivos doestudo, e posteriormente foi lido o termo de consentimento que explicitavaclaramente que as informações/opiniões emitidas não causariam nenhum dano,risco ou ônus à sua pessoa e seriam tratadas anonimamente no conjunto dosdemais respondentes.

A coleta de dados procedida junto as gestantes foi realizada por meio deentrevista semi-estruturada. Optou-se por essa modalidade, por permitir, que ainformante pudesse abordar, livremente, o tema proposto, sem respostas oucondições prefixadas pelo pesquisador. Segundo Cruz Neto (1995), a entrevistafaz parte da relação mais formal do trabalho de campo, em que, intencionalmente,o pesquisador recolhe informações, através da fala dos atores sociais. Assim, aentrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo para obtenção dedados objetivos e subjetivos sobre a determinada temática.

As entrevistas ocorreram nas Unidades pesquisadas e foram gravadas mediantea permissão dos sujeitos e posteriormente transcritas integralmente, respeitando adinâmica própria de cada produção conservando o máximo de informações.

A entrevista está organizada nas seguintes categorias: acesso aos serviços,humanização/ acolhimento, atendimento (consultas médica e de enfermagem),

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atividades educativas/ reunião de grupos e visita domiciliar. Além disso, foicriado um instrumento de identificação das gestantes que será apresentadoseparadamente, com os seguintes dados: escolaridade, idade, ocupação, númerode gestações, número de filhos, realização de pré-natal em todas as gestações, tipode parto, problemas no parto e número de consultas. Minayo (1993) descreveque categorizar “[...] significa agrupar elementos, idéias ou expressões em tornode um conceito [...]”.

3. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise do conteúdo é definida como um conjunto de técnicas e análise dascomunicações que visam obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos dedescrição dos conteúdos das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) quepermitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção variáveis inferidas destas mensagens (Bardin, 2000). Assim, foramutilizadas para interpretação dos dados, as seguintes categorias, baseadas nasdimensões propostas abaixo:

• Identificação dos sujeitos: idade, raça, escolaridade, ocupação/profissão,renda familiar, número de gestação, número de filhos, realização deconsultas pré-natais em todas as gestações, número de consultas, em qualunidade ou serviço, tipo de parto, problemas no parto;

• Humanização/acolhimento: respeito e consideração; escuta; compreensão;acolhida; gentileza por parte dos profissionais da equipe;

• Organizacional: tempo de espera (por horário disponível e já no local deatendimento); horário de abertura e funcionamento; horário dos profissionais;localização dos serviços; acesso à informação; marcação de consultas, tempode espera da consulta, exames realizados. Esta dimensão inclui, ainda,a estrutura da Unidade em relação aos seguintes aspectos: estrutura,conforto, limpeza e materiais disponíveis.

• Profissional (consultas médica e de enfermagem): tempo dispensado;informações suficientes e claras; esforço na busca de soluções; qualidadeou competência; eficácia dos serviços; disponibilidade;

• Atividades educativas/ reunião de grupos;

• Visitas domiciliares.

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O estudo foi realizado com 18 gestantes que se encontram na faixa etáriaentre 20 e 34 anos. A maioria é da raça negra. A renda familiar destas gestantesvariou entre de 2 a 4 salários mínimos, sendo que predomina a renda familiar de2 salários. No que se refere à escolaridade, 12 relataram possuir ensino médioincompleto. Em relação ao trabalho, a maioria relatou ser dona-de-casa, mashouve gestantes que relataram trabalhar como empregada doméstica.

Do grupo estudado, a maioria já possuía filhos; o número variou de 1 a 4filhos por gestante. Apenas uma relatou que não realizou consulta de pré-natalem todas as gestações. A média de consultas de pré-natal foi de 8 por gestação.Somente uma relatou não ter realizado pré-natal na Unidade pesquisada, poisafirmou não residir naquele local na gestação. Em relação ao tipo de parto, 10relataram ter realizado parto natural, três tiveram parto césareo e, dessas três,uma afirmou que teve problemas no parto (hipertensão arterial).

A atenção obstétrica e a neonatal, prestadas pelos serviços de saúde, devemter como características essenciais a qualidade e a humanização. É dever dosserviços e profissionais de saúde acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando - os como sujeitos de direitos. O acolhimento, aspecto essencialda política de humanização, implica na recepção da mulher, desde sua chegadana unidade de saúde, responsabilizando-se por ela, ouvindo suas queixas,permitindo que ela expresse suas preocupações, garantindo atenção resolutiva earticulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência,quando necessário (Brasil, 2005).

Uma comunicação efetiva entre profissional e cliente é a pedra angular doacolhimento, repercutindo em uma boa prática clínica como fator decisivo a umaanamnese bem conduzida e completa, base para o diagnóstico e o estabelecimentode um plano terapêutico direcionado a qualquer cliente (Moura & Aguiar, 2004).

Não restam dúvidas de que as usuárias expressam um alto grau de satisfaçãoem relação à dimensão relacional, em todos os seus atributos: respeito, consideração,escuta, compreensão, acolhida, gentileza por parte dos profissionais da equipe.Os profissionais mais destacados são os agentes de saúde e os médicos.

“Eu me dou bem com todo mundo. Todo mundo aqui é gente boa, simpático. A “A” que

vai à minha casa quando não levo meus filhos na Unidade, ela mora aqui. A gente já se

conhece há muito tempo”.

“Não sou muito de falar não, quando é pra conversar é mais com a minha médica mesmo,

mas até hoje não tive problemas aqui”.

“Ah! Eu adoro o pessoal daqui, mas tem muita gente agora que não conheço. Não sei como

eles são, né!?”.

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Os Agentes Comunitários de Saúde foram identificados pelos usuários porvárias ações associadas à figura do agente e relacionadas com disponibilidade,acolhida e compreensão acerca das necessidades da comunidade. São aindaidentificados como as pessoas que desempenham o papel de mediadores entre acomunidade e os profissionais de saúde, ou seja, são valorizados pelo fácil trânsitoque dispõem no sistema formal de atenção à saúde.

“Esses dias mesmo, senti uma dor no “pé da barriga”, aí eu conversei com a M., ela foi

lá no posto, conversou com o médico, o médico marcou o horário, para eu ser atendida

antes da minha consulta que tava marcada”.

“É o agente que leva nossas queixas pro médico. Ela chega na minha casa e pergunta se

tem alguém doente. Conversa com a gente e parece que se preocupa”.

Em relação às condições para efetiva atenção pré-natal e puerperal,preconiza-se que a área física deve ser familiar e adequada para atendimentoà gestante, na Unidade de Saúde; além de ter boas condições de higiene eventilação. É fundamental garantir a privacidade nas consultas, exames clínicosou ginecológicos.

A satisfação dos usuários em relação ao componente organizacional se associagrandemente à facilidade de acesso ao profissional e à Unidade. A localização dasUnidades de Saúde da Família é considerada pela maioria das gestantes uma áreade fácil acesso.

“Tem médico pra ir na porta da pessoa, né! Pra mim é ótimo bem pertinho”.

“Então, já que hoje nós temos o médico que vem com aquele cuidado todo (...) as agentes

de saúde sempre estão freqüentemente conosco, então isso é maravilhoso, né?”.

Houve poucos relatos negativos sobre a limpeza, materiais, conforto e espaço,o que leva a pensar que existe satisfação por parte das usuárias no que se refereà estrutura de algumas das Unidades de Saúde estudadas, mas ao mesmo tempopode-se pensar que não existem, por parte das usuárias, conhecimentos sobre osequipamentos mínimos necessários para efetiva realização da assistência pré-natalsobre conforto e espaço a que se tem direito.

“Eu acho tudo muito bom aqui. Tudo limpinho, e as cadeiras são ótimas!”.

“Eu gosto. É um lugar suficiente pra atender todo mundo. É grande! ”.

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Apenas na Unidade “T” todas as gestantes entrevistadas relataram, como umponto negativo, a estrutura pequena para os dias de maior demanda.

“Acho pequeno pra tanta gente. Às vezes fica muito cheio aqui”.

“Deveria ter mais espaço, fica muito gente aqui. Às vezes a gente tem que ficar em pé, pra

eu que estou grávida é ruim, né!”.

Houve relatos negativos, de todas as gestantes na Unidade “X”, relacionadosà iluminação inadequada, cadeiras desconfortáveis e barulho excessivo. Atravésda observação livre da pesquisada, todas essas reclamações foram confirmadas.

“Tá vendo a lâmpada aqui queimada, a gente fica no escuro. É muito ruim”.

“Ontem mesmo tava tendo uma festa aqui com os agentes, hoje olha como tá isso aqui.

Se o médico chamar eu nem vou ouvir”.

Quanto ao horário de atendimento da unidade, muitos depoimentosreferem-se à necessidade de atendimento em fins de semana e à noite (nenhumadas unidades funciona em regime de 24 horas por dia), visto que algumas gestantestrabalham e o horário de atendimento coincide com o do serviço. Soma-se a esseo tempo de espera elevado para as consultas, o que dificulta conciliar a consultacom o trabalho, de acordo com os relatos de algumas das usuárias.

“Olha, pra mim deveria ter atendimento mais tarde, porque às vezes eu tenho que chegar

atrasada no trabalho pra vir pra consulta”.

“Demora pra eu ser atendida, tenho que ir trabalhar. Fica difícil”.

É relevante destacar que não foram em todas as Unidades que a reclamaçãoquanto ao tempo esperado foi visto como uma dificuldade no atendimento.

“Eu nem espero muito tempo. Você mesmo viu, eu cheguei e já fui chamada”.

A Unidade de M. passou a funcionar até às 22 horas e, apesar da assistênciapré-natal ser prestada pela parte da manhã, as usuárias relataram esse fato comopositivo, relacionando-o a outros aspectos da assistência.

“Agora melhorou bastante funcionando até mais tarde. Quando acontecer uma emergência

a gente vêm pra cá.”

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“Agora ficou bom, ficando aberto até mais tarde. Eu posso trazer meus filhos quando chego

do serviço, porque eu tinha que vir bem cedo, porque quando chegava em casa já tava fechado”.

A abordagem da consulta de enfermagem, embasada no diagnóstico deenfermagem, é bem distinta da consulta médica, cujo diagnóstico médico,decorrente do julgamento de um conjunto de sinais e sintomas que determinamuma patologia, é inerente ao profissional médico; conseqüentemente, a consultade enfermagem não substitui a consulta médica e vice-versa, tendo que se considerara importância e a necessidade de atuação do médico no acompanhamento dasgestantes (Moura et al., 2003).

Em conformidade com o manual de normas técnicas para a assistênciapré-natal do MS, no item “descrição do papel do profissional médico na equipemultiprofissional”, está preconizada a realização da consulta de pré-natal, intercaladacom a procedida pelo (a) enfermeiro (a) (Brasil, 2005). Corrobora-se aquilo quediz o Ministério da Saúde nesse sentido, dado que contextualiza a ação integradae complementar de médicos e enfermeiros, princípio do trabalho em equipeprevisto no PSF.

No momento da entrevista foi perguntado qual profissional realizava opré-natal, visto que uma parte da entrevista questionava os pontos positivos enegativos que a usuária detectava nas consultas médicas e de enfermagem. Assim,através das respostas obtidas pôde-se perceber que a realização das consultas depré-natal de alto risco não são intercaladas com as consultas de enfermagem,sendo realizadas somente pelos médicos, e que, nas Unidades, o enfermeiro realizaas consultas de pré-natal de baixo risco sem a intervenção médica.

“Não posso responder sobre os pontos positivos da consulta de enfermagem no pré-natal,

porque só o médico que me atende”.

“Se fosse para responder sobre a consulta eu saberia te dizer, mas a consulta médica só no

pré-natal, eu não sei”.

Os principais pontos positivos destacados na consulta de enfermagem forama disponibilidade e as informações, suficientes e claras, sobre cuidados de saúde,enquanto que na consulta médica foram os sentimentos de segurança e acompetência demonstrada pelos profissionais.

“A enfermeira é ótima. Me explica tudo direitinho. Eu adoro conversar com ela”.

“Tudo que eu pergunto, ela responde, sempre disposta a me ajudar no que eu preciso”.

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C A R L A B R A G A O L I V E I R A , M A R I A C R I S T I N A R A M O S

“A médica parece que sabe tudo. Me sinto segura quando a gente conversa”.

As atividades de comunicação/informação em saúde devem ser priorizadasno transcurso da assistência pré-natal, uma vez que o intercâmbio de informaçõese experiências pode ser a melhor forma de promover a compreensão do processoda gestação. Neste sentido, o MS ressalta que o foco principal do processode orientação/informação devem ser as gestantes, incluindo, porém, seuscompanheiros e familiares (Brasil, 2000). Sendo assim, o contexto em que seapresenta o Programa Saúde da Família parece favorecer uma práxis efetiva decomunicação/informação em saúde, por ter como prioridade a promoção dasaúde e prevenção das doenças, cujo pilar de sustentação é exatamente a educaçãoem saúde (Moura et al., 2003).

Tomando por base as respostas obtidas das gestantes pode-se afirmar queexiste deficiência no planejamento das atividades de informação em saúde, nonível grupal. De acordo com Moura e Rodrigues (2003), essas atividadesdevem ser consideradas prioritárias e realizadas de forma sistemática, conformepreconizado pelo PSF, e não de forma isolada, sem um projeto de continuidade.Nos depoimentos apresentados a seguir, as gestantes confirmam a escassez deatividades grupais.

“Eu não sei de nada de reunião não, nunca me falaram de nada. É só a consulta mesmo”.

“Reunião com outras gestantes? Acho que seria legal, mas até agora não me falaram nada,

e estou fazendo o pré-natal desde começo da gravidez e isso tem seis meses”.

Entretanto, uma gestante relatou que quando realizou o outro pré-natal, elaparticipou de reuniões mensais.

“Eu sou doméstica e dá pra vir só mesmo na consulta, mas no outro pré-natal eu fui em

uma reunião com outras gestantes, mas agora não dá, eu tenho que sair da consulta e ir

trabalhar, não dá tempo”.

Conforme o Ministério da Saúde, 2005, preconiza, as visitas domiciliaresdeverão ser realizadas, preferencialmente, pelos agentes comunitários, nafreqüência possível para cada localidade, porém, no mínimo, duas por gestação.Ela deverá reforçar o vínculo estabelecido entre a gestante e a unidade básica desaúde e, apesar de estar voltada à gestante, deverá ter caráter integral e abrangentesobre a família e o seu contexto social. No acompanhamento domiciliar deveráser visto o cartão da gestante e discutido os aspectos ligados às consultas, à vacinação,

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O G R A U D E S A T I S F A Ç Ã O D A U S U Á R I A G E S T A N T E N A A S S I S T Ê N C I A P R É - N A T A L

N A S U N I D A D E S D E S A Ú D E D A F A M Í L I A N O M U N I C Í P I O D E V I T Ó R I A

aos sintomas apresentados, ou não, aos aspectos relacionais com os demaismembros da família e outros. Qualquer alteração deverá ser anotada e infor-mada ao enfermeiro e ao médico da unidade. Deverá ser feita, ainda, umaavaliação em equipe para averiguar a necessidade de mudança no esquema deconsultas preestabelecido.

A maioria das gestantes, afirmou que, desde o começo da gestação, oagente comunitário realizou pelo menos uma visita domiciliar. Demonstraram,ainda, satisfação com as visitas e algumas apontaram como parte importantedo atendimento.

“Eu fiz pré-natal da minha outra filha aqui na Unidade, e a enfermeira e a médica foram

lá em casa, mas só uma vez também que eu lembro. O a gente que vai mesmo, e pergunta

como que tá indo a gravidez. Se tiver algum problema ela fala com o médico”.

“É bom que ela vai lá em casa, porque ela me pergunta como é que eu tou, se preocupa

comigo. Isso é importante.”

Por fim, chama a atenção, a relevância desses resultados para subsidiar oplanejamento de ações voltadas para as gestantes, demonstrando os pontospositivos e negativos da assistência pré-natal sob a ótica dessas usuárias. Paraavaliar a Estratégia Saúde da Família, a participação de todos os atores envolvidosna construção desse processo é primordial, a fim de que a proposta seja validadae seus objetivos atingidos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a maioria das gestantes mostrou satisfação com o atendimentoprestado nas Unidades estudadas, havendo uma clara associação desse contenta-mento com a boa relação com os membros da equipe e a existência da visitadomiciliar como fator importante da qualidade do serviço prestado. Destacamoscomo principais pontos negativos a falta de reuniões de grupos e, em algumasUnidades, a estrutura reduzida para atender nos dias em que a demanda é elevada.

A respeito do desenvolvimento de atividades de comunicação/informaçãona assistência pré-natal, Moura et al. (2003), descreve que merecem ser priorizadas,planejadas e desenvolvidas com vistas a gerar mudanças de comportamentos, pelaadoção de práticas sistemáticas e participativas por todos os profissionais queintegram as equipes de PSF. As reuniões em nível grupal devem ser conduzidas deforma bastante participativa e, se possível, com apoio audiovisual (álbum seriado,vídeo e entrega de folder), aplicação de linguagem clara, acessível às gestantes,possibilitando a interação entre profissionais de saúde e gestantes.

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C A R L A B R A G A O L I V E I R A , M A R I A C R I S T I N A R A M O S

Pretende-se, através do presente, contribuir para a avaliação e monitoramentoda Atenção Básica no município de Vitória, tendo em vista que a escuta aousuário é fundamental no processo de avaliação da atuação da Estratégia Saúdeda Família e que tais recursos são capazes de apontar melhorias e desafios.A percepção da assistência pré-natal pela própria usuária do sistema é, também, umaspecto fundamental e imprescindível para busca de maiores e melhores resultados.

No processo de construção desse estudo, pôde-se aprender e compreenderum pouco mais dessa nova realidade, ainda em construção, do modelo assistencialEstratégia Saúde da Família. Foi possível rever as práticas de saúde que apontampossibilidades de ações inovadoras e participativas na Assistência Pré-nataloferecidas nas Unidades de Saúde da Família pesquisadas.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

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