THIELE DA COSTA MULLER · À minha mãe, que me deu a vida, o dom de voar, a liberdade, ... Ao lado...

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BRASILIAN OPEN UNIVERSITY MBA EXECUTIVO EMPRESARIAL EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS THIELE DA COSTA MULLER Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de MBA em Gestão de Recursos Humanos apresentado a ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil, sob orientação da prof.ª Beatriz Gobbi VITÓRIA– ES 2006.

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BRASILIAN OPEN UNIVERSITY

MBA EXECUTIVO EMPRESARIAL EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

THIELE DA COSTA MULLER

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de MBA em Gestão de Recursos Humanos apresentado a ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil, sob orientação da prof.ª Beatriz Gobbi

VITÓRIA– ES

2006.

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A todas as mulheres, não como classe, mas como singulares

que são, que me instigaram a pesquisa e me trouxeram

questões.

À minha mãe, que me deu a vida, o dom de voar, a liberdade,

a ausência/ presença, o silêncio e a palavra, que mais do que

respostas, questões; uma figura que me deu referência para

assumir uma posição feminina.

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Agradecimentos

Agradeço a todas as mulheres e homens da minha família, que foram a

base para que eu pudesse pensar nas posições dos gêneros no trabalho, na família

e na vida social.

Aos meus colegas de trabalho, que sempre estiveram dispostos a ouvir

tanto as reclamações como também as coisas boas.

As entrevistadas que, sem elas não teria a possibilidade de efetuar a

pesquisa, e que tão prontamente aceitaram o convite para falar um pouco de suas

individualidades.

As pacientes, que com suas riquíssimas histórias de vida, me

permitiram fazer os estudos de casos.

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Entretanto as mulheres mudam de lugartransbordam da casa para a rua

se conscientizamse protagonizam

se deslizampara fora do lar

A famíliatonteia

cambaleiaparece que vai cair

Os homens estão confusosestão perdidos

ou surpreendidosPerguntam o quê!

Graciela Rahman

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Sumário

1. Introdução 6

1.2 Justificativa 7

1.3 Problematização 8

2. Referencial Teórico 9

3. Metodologia 12

4. A posição feminina a partir de casos clínicos e entrevistas 13

5. Considerações finais 34

6. Bibliografia 36

6.1 Bibliografia referenciada 36

6.2 Bibliografia consultada 38

7. Anexos 40

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1. INTRODUÇÃO

Levando em consideração que na monografia de graduação do curso de Psicologia

abordou-se a feminilidade em: Uma breve leitura acerca das questões: “o que quer

uma mulher?” e “a mulher não existe”, pretende-se neste momento de

especialização aprofundar esta temática, porém, pesquisando sobre o papel da

mulher pelo viés do lugar que esta ocupa enquanto sujeito produtivo e engajada no

mundo do trabalho. Pretende-se, assim fazer uma leitura da mulher enquanto filha,

esposa, mãe, dona de casa e profissional de empresas, escolas, hospitais,

estabelecimentos bancários e outras instituições e de como esta circula nestes

espaços como profissional e instituída de subjetividade e histórias pessoais.

No estudo realizado anteriormente abordou-se apenas a visão psicanalítica através

de uma escuta clínica, neste momento, de pós-graduação, pretende-se aliar a

primeira escuta a uma nova visão, a administrativa. Os dados serão coletados

através de visitas a empresas que contam com profissionais do sexo feminino e, que

possam auxiliar nesta pesquisa através de suas subjetividades pessoais. A pesquisa

se movimentará a partir de estudos de casos realizados através da escuta clínica,

de mulheres que trazem em sua fala a queixa de que o poder sempre é ocupado por

homens mas quem executa as tarefas é a mulher ou ainda, mulheres que na sua

fala ou no seu silêncio denunciam a castração sofrida por seus maridos que

“afetuosamente” consideram-nas incapazes de realizar tarefas além de lavar,

passar e cuidar dos próprios filhos, podendo estar implícito nesta proibição o ciúme

ou o medo do homem em perder o lugar legalizado de provedor e dominador que

vêm ocupando por tantas décadas. A seguir, realizar-se-á a pesquisa de campo,

com mulheres profissionais, para a qual utilizar-se-á uma entrevista semi-estruturada

com questões abertas que com certeza trará novos olhares para esta problemática.

A análise deste material será realizada através da análise do discurso das

entrevistadas com abordagem qualitativa.

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1.2 Justificativa

O estudo deste tema justifica-se na tentativa de trazer questionamentos referentes a

mulher em sua feminilidade, a partir das inúmeras transformações históricas

ocorridas em seu papel social. Por transformações históricas, considera-se o

declínio do patriarcado, a igualdade de direitos entre homens e mulheres, a “querela

das mulheres” ou, a “guerra dos sexos” fenômeno que ocorreu no final do século XVI

e início do século XVII, o advento do uso de anticoncepcionais na década de 1960

fazendo com que se tornasse possível desvincular a idéia de relação sexual da

concepção de maternidade, o movimento feminista da década de 1970 e as

conseqüentes discussões sobre gênero, fatos estes, que suscitam a análise dos

casos em estudo e, pensar na realidade vivida por milhares de mulheres, nas mais

diversas situações dentro de sua família, de seu trabalho e de sua subjetividade.

Como já foi dito, a questão da feminilidade vem sendo pesquisada desde a

graduação em Psicologia, desta vez torna-se pertinente pensar como as instituições

estão escutando esta fala tão presente nos dias atuais. Fala das mulheres que ao

trabalhar em diferentes ramos, nunca deixa esquecida a sua trajetória histórica.

A relevância em estudar este tema se encontra na importância de criar hipóteses a

partir de tudo que a mulher construiu e modificou na história em relação ao seu

posicionamento social. Pois o trabalho da Psicologia não inicia e tem seu término na

clínica, mas se torna interessante quando pode também escutar os colaboradores

das organizações e poder fazer uma leitura do sintoma que além de ter sua base

histórica, também terá seu foco na gestão de recursos humanos. Direcionar a escuta

para o gênero feminino, e poder coletar informações a fim que se entenda e

colabore com esta posição tão em foco atualmente devido a todas as mudanças

ocorridas que a envolveram e foram envolvidas por ela.

Vive-se em um mundo de constantes transformações, historicamente a mulher, em

sua caminhada social, vem sofrendo transformações relacionadas aos seus papéis

sociais. Será abordado nesta pesquisa o que muitas vezes é visto como vitórias e

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tantas outras ainda como desigualdade, ou seja, a vitória da mulher poder mostrar

através de seu trabalho o potencial que possui, e ao mesmo tempo os impasses

existentes por ainda não conseguir direitos trabalhistas iguais aos homens na

prática.

1.3 Problematização

O problema que orienta esta pesquisa é a relação da mulher com o trabalho, ou

seja, com sua profissão, e como esta está vivenciando e percebendo este setor de

sua vida. Enfocando este problema com um olhar além de psicológico, também

administrativo.

Como estão sendo percebidas as realizações das tarefas exercidas por mulheres,

os cargos ocupados pelas mesmas, e o salário destas em relação às funções

exercidas?

O que problematiza esta pesquisa, é poder direcionar um estudo que possa dar

conta de como a mulher encontra-se posicionada profissionalmente em um olhar

institucional, depois de todas as transformações históricas citadas, e depois de todo

seu percurso histórico e individual.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Fazer uma visita histórica a uma nação, é permitir-se problematizar suas estruturas

e suas formas de organização. Poder investigar as particularidades dos principais

sujeitos e atores sociais é um bom início de pesquisa. Tudo tem sua origem, sua

criação, seu nascimento, e começar do início é o percurso que melhor solidifica um

trabalho.

Por isso, busca-se no livro “Brasil 500 Anos: a construção de uma nova nação” os

fatos e valores que dão significado às ações humanas, buscando na história as

causas dos atuais fatos, ou seja, as conseqüências da posição profissional e social

da mulher. Ana Maria Colling inicia seu texto “A mulher na construção do Brasil”,

com a seguinte pergunta: “Afinal, elas existiram?” (p.118). A mulher existe e existia

sim, segundo o Mito da Criação, Deus criou o homem, protótipo da espécie humana,

e logo, com uma parte deste, criou Eva, a mulher. Mas então por que o descaso

para com este ser, no momento de contar a história do Descobrimento do Brasil?

...Quando estudamos a história do Brasil, dos primeiros séculos, nos deparamos com silêncios que ocultam sujeitos. Uma história masculina onde não há espaços para mulheres. Ao lado de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha, Bispo Sardinha (...) encontramos raríssimas representantes do sexo feminino, que quando aparecem como rainhas ou santas perdem a identidade de gênero. A impressão que a historiografia transmite é de que a história brasileira foi trilhada somente por varões, como se isso fosse possível. (COLLING, 2000, p 118)

Muitas das mulheres que também escreveram a história brasileira, permanecem no

esquecimento, e outras tantas nem se quer foram registradas, mas fica a certeza de

que as mulheres foram parte fundamental na história do Brasil. Na publicação da

Encíclica Pacem In Terres, o Papa João XXIII traz “o rompimento da doutrina

tradicional, da Igreja, da hierarquia entrlze os sexos na vida familiar e a conseqüente

submissão da mulher ao marido” (COLLING, 2000, p.123). Posteriormente, em

Mulieris dignitatem, a Igreja, através do Papa João Paulo II, vem pedir perdão “pelos

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erros cometidos no passado” (COLLING, 2000, p.121), remetendo-se a inúmeras

injustiças cometidas contra as mulheres.

Entre as injustiças figura a queima às bruxas durante a Inquisição que sacrificou a vida de milhares de mulheres num processo muito mais político que religioso. A caça às bruxas era dirigida às mulheres que se desviavam da norma e questionavam com seu saber a estrutura do sistema feudal patriarcal. (COLLING, 2000, p. 121)

Porém, além destas injustiças físicas cometidas fica uma herança eterna, e ainda

mais prejudicial, o mito do paraíso, que tendo atravessado séculos ainda nos dias de

hoje deixa suas conseqüências, que fez realidade do discurso simbólico e metafórico

da criação do mundo. Segundo Strey (2000, p.10) “O presente apresenta sérias

evidências de que as conquistas femininas são mais aparentes do que

substanciais.”, mas quais são as conquistas que as mulheres almejavam?, isso traz

a tona questões como o que quer uma mulher, dúvida esta que impulsionou Freud a

analisar as mulheres em sua clínica e pesquisar sobre o tão misterioso querer

feminino.

Antes de falar sobre o pensamento freudiano, é pertinente que se explique o por quê

da relação das conquistas femininas serem apenas aparentes em sua maioria. De

acordo com Ammann (1997, p.89), “atualmente, os organismos internacionais

comprovam que, na quase totalidade do planeta, as mulheres trabalham mais do

que os homens e que grande parte de seu trabalho permanece ignorado, porque

excluído da classificação do Produto Nacional Bruto”. Fala-se neste momento então

em conquistar lugares ou de conquistar mais atividades? Qual seria o querer da

mulher?

Freud em seus estudos chegou a confessar que apesar de seus 30 anos de estudo

da alma feminina, esta foi uma questão que ficou sem resposta, pois as mulheres

procuravam sim o que lhes faltava, o pênis, com isso Freud começa a estudar sobre

a inveja do pênis. Porém, no pensamento de Fonseca (2000, p. 27)

As formas de ser homem e mulher têm-se incluído no que se pode denominar de ”formações históricas”, ou seja, devem ser circunstanciadas ao espaço e ao tempo em que se manifestam, definindo-se, portanto, como construções sociais e históricas particulares de sujeitos femininos e masculinos.

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Pensar na mulher moderna, seria um dos pontos para iniciar esta pesquisa, já que

se buscará o sentimento das mulheres enquanto seres profissionais e sociais que

são. Zuwick (2000, p. 34 e 35) auxilia neste aspecto quando diz:

(...)”mulher moderna”, que circula com maior desenvoltura pelo mundo público, que conquista degraus em sua carreira, que é capaz de ser uma pessoa com identidade própria sem necessária referência quanto ao seu estado civil ou número de filhos. Ao mesmo tempo, não se sente muito à vontade com sua independência. Receia tomar decisões econômicas de maior vulto, ainda vacila diante de certos desafios profissionais quando se sente dividida entre a dedicação à carreira e à família. Pergunta-se freqüentemente sobre a validade de tantos esforços, a sobrecarga cotidiana de administrar a casa, cuidar dos filhos e procurar ser uma boa companheira (ou boa esposa?) e enfrentar as tarefas do trabalho. Não seria melhor acomodar-se aos antigos modelos das avós, tias, de sua própria mãe às quais a vida parecia tão mais tranqüila, sem o temor que geram os riscos e as mudanças?

Esta mulher moderna, necessita, para além de ocupar todos os lugares, de homens

que também as apóiem em suas decisões, não querem estar sozinhas, pois a

independência inúmeras vezes traz a tona este sentimento de solidão. Talvez seja o

momento de pensar e questionar o subterrâneo de si mesmas, deixar o querer

destas mulheres falar, e se estar pronto para escutá-las.

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3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada será inicialmente uma pesquisa bibliográfica, para poder

construir uma base onde o trabalho se alicerçará. Partindo do trabalho monográfico

da graduação em Psicologia (realizado em 2004), sair-se-á de uma visão puramente

psicológica com a finalidade de unir esta visão com uma visão administrativa, mais

direcionada para os recursos humanos do gênero feminino nas instituições.

A partir de então, começará um levantamento dos conhecimentos da pesquisadora,

utilizando-se de casos observados no Estágio de Psicopatologia e no Estágio de

Clínica, os quais foram todos acompanhados, em todos os momentos, por

supervisões (2003/2004). A fim de que mais tarde, parta-se para uma pesquisa a

campo, onde a população será mulheres de gênero feminino que lidam com

questões além de pessoais, também sociais e profissional, que trabalham na

Prefeitura Municipal de Panambi – RS, no Departamento de Assistência Social, e

também em uma ONG, no Centro Estadual de Defesa dos Direitos Humanos –

CEDIRH – Cruz Alta -RS, locais estes em que já existem oportunidades de

observação da pesquisadora. A técnica de coleta de dados será a observação

simples, com entrevista focalizada, estruturada e face a face, contará com sete

entrevistadas e se realizará no mês de junho deste ano.

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A POSIÇÃO FEMININA A PARTIR DE FRAGMENTOS DE CASOS CLÍNICOS E

ENTREVISTAS.

Igualmente como a cem anos atrás, mulheres continuam a procurar consultórios de

analistas. E mais, parece que o motivo não mudou, pelo menos aparentemente.

Continua sendo a posição feminina frente ao social e profissional. A mulher, ao ser

interrogada a cerca de seu desejo, não mais se disponibilizará a moldar-se na

posição de objeto. Assim, a mulher escapa da posição passiva.

Uma das instituições centrais, atualmente, na vida dos indivíduos é o trabalho.

Agora, basta saber como isto se dá para a mulher, que depois de tantas

transformações em seus papéis, chegou ao mundo contemporâneo tomada também

por este exercício, o trabalhar fora do lar.

... já não é possível negar que as mulheres estão no mundo do trabalho, dispostas a conquistar seu lugar nesse que é um dos espaços sociais mais valorizados frente a outros de valorização decadente. E desde há muito, trabalho, para quase todos, é mais ou menos sinônimo de emprego. (STREY, 1997, p. 60-61)

Mesmo que o emprego esteja se tornando um bem escasso, o que é de extrema

importância não está na atividade que é desenvolvida, mas sim está para as

relações sociais que a inclui. Parte-se daí a questão de que é ou não inevitável o

conflito, se é que se pode chamar de conflito, a posição em que a mulher encontra-

se, de estar com um pé na instância familiar e outro na profissional. Sabendo-se que

o trabalho doméstico não abrange a possibilidade de medir a posição social e

econômica que a mulher exerce, pois mesmo com tantas mudanças, em relação a

este aspecto, a profundidade que poderia estar se repensando deixa a desejar.

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A mulher como sujeito de seu destino, com identidade própria, como alguém que dá

conta do seu desejo ainda hoje, na sociedade em que vivemos, com toda a

modernidade e desenvolvimento tecnológico, industrial, educacional e cultural, pode-

se afirmar que em diferentes camadas sociais, esta mulher é ainda um ser em

produção. Isto é possível constatar no discurso clínico onde a mulher busca através

da fala relatar a sua angústia por ainda permitir sentir-se em estado de repressão.

Para Lacan, a mulher não existe, e será este não existir que fará surgir um ideal,

possibilitando assim buscar uma identificação ou produção de uma identidade

feminina. Segundo a teoria lacaniana, a mulher não existe enquanto classe, elas não

podem ser contadas como um conjunto.

A escritura referente à feminilidade não apresenta um discurso fechado, e isto impede que se constitua uma classe de mulheres; não existe uma classe feminina como há na ordem do masculino. As mulheres são únicas e só podem ser contadas uma a uma. Não há mulher “artigo definido” para designar o universal, pois não há nela um significante que lhe seja específico. (VALDIVIA, 1997,p.23).

Tendo como referência a busca de uma identificação, que será pensada as

diversas maneiras em que a mulher se apresentará na atualidade. Kehl (1996) relata

sobre a Casa de Bonecas de Henrik Ibsen (1879), onde Nora, uma encantadora e

deliciosa mulher sempre procurou a felicidade na vida familiar, em uma vida

estritamente doméstica:

A Nora da Casa de Bonecas é uma dona de casa obediente ao marido, infantil, encantadora, deliciosa – deliciosa porque infantil -, apelidada pelo marido amoroso com uma série de nomezinhos também infantis: cotovia, esquilinho, ave canora. O que nos encanta em Nora é que, apesar de sua completa ignorância sobre as coisas do mundo, ela exibe um imenso desejo de ser feliz. Mas o que é ser feliz, no caso dela? Ibsen nos descreve aqui os signos da felicidade doméstica; para Nora, a felicidade consiste no aconchego, na paz, na companhia dos filhos, na “ausência de preocupações”, no amor familiar. Familiar. O lar e a intimidade são os dons que a mulher oferece ao homem, junto com o convite a uma retira do mundo que é tão sedutora quanto a morte. (KEHL, 1996, p. 34-35)

O relato nos mostra uma mulher para a qual o espaço do lar consiste na proteção de

uma felicidade desejada, porém, Nora terá que enfrentar outra realidade quando

para salvar o pai e o marido gravemente enfermos consegue empréstimos com um

agiota, falsificando a assinatura do marido. O pai morre e o marido é curado. O

crime de Nora é descoberto e o agiota ameaça Nora de chantagem. Para Nora, no

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entanto, ela não cometeu crime algum, pois o que fez foi para salvar sua família,

teria ela nobres motivos. Para a lei, no entanto, Nora não tem senso moral, não vive

de acordo com a ética social. Fato este que sendo levado ao conhecimento do

marido, leva-o a rejeitá-la e a abandona acusando-a de pensar como uma criança

insensata. Nora espera o milagre de amor e de perdão do marido, o que só acontece

quando o agiota retira a ameaça de tornar público o caso. Todavia, Nora não o

aceita mais, decidida a abandonar a casa, a segurança e os filhos, decidindo, então,

agora, acabar de crescer.

A protagonista recusa o retorno à condição feminina-infantil e sai em busca da

independência econômica, algum poder, cultura e possibilidades de sublimação até

então impensáveis para a mulher restrita ao espaço doméstico.

Acredita-se que este fato pertence ao passado porém, a mulher hoje torna a trazer

para o espaço da clínica a mesma queixa quanto a sua dependência, sua

feminilidade-infantil e sua incapacidade de desprender-se de laços que julga eternos

e que a impossibilitam de encontrar-se com sua verdadeira identidade feminina.

Porém, uma das maiores transformações sociais dos últimos anos é a capacidade

da mulher deste século de amar e trabalhar. Amar de acordo com suas próprias

escolhas e, de trabalhar para além do espaço do lar e das exigências do marido,

mas tornando-se um ser social e criativo contribuindo para a emancipação da sua

própria feminilidade. Retornando ao caso Nora, quando esta sai de casa o trinômio

passiva-infantil-maternal, já não dá conta de dizer a mulher e esta passa então a

ampliar as suas possibilidades identificatórias a medida em que amplia as suas

possibilidades de atividades expandindo seus territórios pela sociedade. A mulher

hoje se identifica muito mais com a Nora emancipada do que com a Nora

infantilizada. A passividade feminina, o silêncio, a pobreza sublimatória já não fazem

parte do rol feminino. A pulsão feminina está para o ativo, para a construção do

social, do cultural e do emancipatório. Foi ela quem criou seu espaço, mudou de

lugar, fez com que sua ausência também produzisse falta. Agora, muito mais do que

o lar e a família, a sociedade também idealiza uma mulher ativa, e esta procura dar

conta destas expectativas sociais através das diversas formas de criação, de

participação, de envolvimento e de produção científica, econômica, tecnológica e

social.

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Assim como Nora, o relato do caso Carla (nome fictício) de 24 anos, uma paciente

atendida em estágio supervisionado, casada há um ano e nove meses, denuncia

que algumas mulheres hoje, ainda, estão em busca de suas identidades e que

muitas vezes encontram-se num labirinto do qual têm poucas ou nenhuma

possibilidade de encontrar a saída. Seu marido é dois anos mais novo que ela,

contando 22 anos. Sua queixa circula em torno de questões como seu desejo de

trabalhar e estudar e a imposição de seu marido contra tais desejos. Seu marido

trabalha, passa a semana inteira fora da cidade, viajando. Enquanto que Carla fica

sozinha, e ainda, segundo ela, sem ocupação. O discurso de João (nome fictício),

seu marido, segundo o relato de Carla, é bem claro quanto suas idéias de profissão.

A mulher dele não pode trabalhar, deve ficar em casa. Enquanto que Carla, indecisa

entre dois sentimentos, questiona-se sobre o que fazer. Sempre teve planos de

trabalhar e estudar, sabe até que curso quer fazer, porém a impossibilidade que seu

marido a coloca, faz com que Carla não consiga se identificar em seu papel de

esposa e tão pouco como profissional.

Como Nora a personagem de Ibsen (1879), Carla vive o conflito de ser uma mulher

que percebe que viver a vida do lar não é tudo. Algo mais está a sua espera para

além de satisfazer os desejos do marido que a toma como uma boneca capaz

apenas de estar a seu dispor, em casa, a sua espera e que ele com o poder de sua

masculinidade acredita ser capaz de satisfazer a mulher nas suas mais secretas

ansiedades.

As palavras de Kehl (1996, p.71) vêm confirmar este pensamento quando a autora

diz que:

(...) mulheres modernas, cheias de aspirações profissionais, só se tornam capazes de realizar algum trabalho para além da concretude dos trabalhos do lar ou correlatos quando encontram alguma possibilidade identificatória com a figura paterna – o que implica algum tipo de renuncia às fixações edipianas, já que a identificação é por si só uma espécie de sublimação do amor edípico.

Ainda segundo Kehl (1996), a capacidade de sublimação da mulher passa pela

possibilidade de identificação paterna. Sendo que a identificação materna não abre

canais para a sublimação. Assim, só se faz possível para a mulher tornar-se

profissional fora do lar quando esta encontra alguma possibilidade identificatória com

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a figura paterna o que implica em algum tipo de renúncia as fixações edipianas.

Quando a identificação com o pai é recusada por este, desencadeia na menina, um

sentimento de inferioridade que a acompanha pelo resto de sua vida. Talvez seja

esta a causa de mulheres brilhantes não conseguirem dar conta de suas tarefas fora

do lar.

Assim, Carla busca no espaço analítico transformar sua queixa em demanda para

poder dar conta de sua posição. Posição esta que sofre com o impasse de não

saber a quem satisfazer, ou ainda, a qual de seus gozos dar possibilidade de espaço

de atuação. Todavia, esta não é a única questão encontrada na clínica com

mulheres, existem também as que já se descolaram deste impasse família/

profissão, e estão no impasse profissão/reconhecimento.

Joana (nome fictício), 40 anos, casada há vinte, também atendida em estágio

supervisionado, traz questões diferentes das de Carla. Joana tem formação superior,

tem vários empregos, dá aula para alunos do Ensino Médio, além de também

trabalhar na Secretaria de Educação de uma pequena cidade. Vem com várias

questões, fala que tem problemas no trabalho e em seus relacionamentos com os

homens. Tendo como base suas produções profissionais tem como queixa um não

reconhecimento de seu trabalho, principalmente dos homens, que segundo ela,

ocupam, em maioria, cargos de chefia, sendo que injustamente, pois quem trabalha

realmente são as mulheres.

Joana fala do lugar de alguém que, mesmo já estando inserida no mercado de

trabalho, questiona-se sobre a sua posição de um não poder. A queixa de Joana

revela o seu desejo de ir além de uma produção acadêmica para a ocupação de um

lugar de mando, que para ela significa um lugar de poder. A paciente aspira

posições mais elevadas da que ocupa atualmente, o que acredita, poderá lhe dar

satisfação pessoal e profissional, na medida em que ela não mais sentir-se-a

inferiorizada pelo sexo masculino que ora ocupa o espaço idealizado por ela como

lugar de ascensão feminina. O que certamente, em sua fantasia, lhe garantiria um

outro gozo.

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Nestes dois casos relatados a cima, e na peça teatral de Ibsen, percebe-se que

todas as protagonistas, mulheres, buscam uma diferenciação, uma posição em que

consigam gozar a partir de seus desejos. Segundo Zuwick (2000, p.35):

Ao longo do desenvolvimento humano, estamos empenhados, em maior ou menor grau, na luta contínua de buscarmos nossa diferenciação. A construção de nossa individualidade ocorre em uma variedade de relacionamentos intrapsíquicos e interpessoais e tem seu início no processo de separação e individuação em relação à mãe, no período pré-edípico, e depois em relação ao pai. Objetivamos, em última instância, alcançar um funcionamento autônomo que nos possibilite não depender preponderantemente de um outro para alcançarmos nossos objetivos. Queremos nos sentir com liberdade, em igualdade de condições em relação a uma outra pessoa, tanto para a expressão de nossos afetos quanto para a manifestação de nossas contrariedades e oposições.

A mulher como sujeito, como alguém que de alguma forma fala pelo seu desejo, é uma

posição recente, é uma posição pós-século XX, o que não quer dizer que antes disso,

durante toda a história da humanidade, a mulher tenha estado nesta mesma posição, que

é a da passividade, da sujeição, da submissão. Essa posição chamada posição feminina

clássica e tradicional foi uma construção do século XIX.

A questão da feminilidade foi uma construção que veio logo depois da revolução francesa.

Durante a revolução francesa houve uma movimentação muito interessante que foi quando

as mulheres saíram de posições mais ou menos estáveis em relação ao lar, aos filhos , às

tarefas e começaram a se colocar como ativistas, como intelectuais, como cidadãs, que

tentavam discutir, ler e se informar. Era o chamado período das luzes. Como a sociedade

não oferecia muitos meios para que as mulheres pudessem fazer este movimento, houve

um aumento significativo de mortalidade infantil, porque era quase como um movimento

social inteiro de mulheres que abandonavam os filhos.

Badinter (1985), mostra que a função materna se desestabilizou terrivelmente neste

período. Houve, então, uma produção discursiva intensa, para reconstruir ideais femininos,

de uma maneira muito mais radical do que anteriormente, para reconstruir a idéia do amor

materno, reconstituir a idéia de que o lugar da mulher é no lar. A mulher está condicionada

pelo seu corpo e seu corpo faz para ela um lugar natural na sociedade que é o lugar da

maternidade, que é o lugar da sujeição ao homem. Assim, as conquistas da cidadania que

pareciam que iam de vento em popa retrocederam em nome de uma natureza feminina

que tem a ver com a maternidade, com as funções de aleitamento, parto etc.

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A mulher foi convencida a ocupar um lugar no qual ela tinha, certamente bastante prazer,

no qual ela gozava de uma posição não só de poder, mas de uma posição que tinha lá sua

erótica própria, da mulher intocável, da santa mãe, posição que é ao mesmo tempo de

poder e de extrema sujeição, principalmente porque sem independência financeira, sendo

sustentadas pelo marido, as mulheres produzidas pelo século XIX ficavam infantilizadas,

fora do mundo da produção, sem independência econômica, fora do poder, fora da

universidade. Havia uma real impotência, a mulher nada podia senão nos limites da casa.

As formas de ser homem e mulher têm-se incluído no que se pode denominar de “formações históricas”, ou seja, devem ser circunstanciadas ao espaço e ao tempo em que se manifestam, definindo-se, portanto, como construções sociais e históricas particulares de sujeitos femininos e masculinos... (FONSECA, p. 27, 2000)

Felizmente, a modernidade é um período em que linhas de força muito diferentes

atravessam as formações sociais. Esse período que criou uma formação discursiva para

que a mulher ocupe um lugar em casa, para que a mulher não participe da vida pública,

para que a mulher recolha a sua sexualidade está em extinção nas formações sociais

contemporâneas.

Na sociedade contemporânea se descortina para a mulher um espaço de negociação da

qual ela participa e aceita, ou não, pois ao não aceitar negociar ela pode mudar as regras

do jogo. As mulheres começam a dominar uma fala que dá voz ao seu desejo. A mulher se

torna sujeito de seu discurso. A mulher adquire o poder da fala. Este sujeito feminino se

constitui. Por um lado, o que possibilita que as mulheres sejam sujeitos de uma prática é

justamente o abandono de posições passivas, submetidas, e a conquista de atributos e

traços identificatórios muitas vezes tidas como masculinos. Uma mulher que trabalha não

significa masculinidade. Isto, não afastou os campos do masculino e do feminino, pelo

contrário, constata-se uma aproximação.

E é justamente com a modernidade e a mulher presente no mercado de trabalho que então

se parte para uma entrevista com mulheres que trabalham fora de seus lares, onde muitas

são casadas, tem filhos, e mesmo assim consideram-se independentes financeiramente.

As profissionais entrevistadas estão na faixa etária de 22 a 29 anos, 71% são casadas,

42% têm filhos, 85% possuem formação superior, porém apenas 57% trabalham na área

de sua formação, 85 % trabalham 40 horas semanais, ou seja, o dia todo, sendo que 80%

dos maridos, das mulheres que são casadas, também trabalham.

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Quando questionadas sobre o que pensam sobre a inclusão da mulher no mercado

de trabalho, muitas foram as respostas, mas a maioria delas percebem esta questão

como um direito e um dever da mulher, direito por poderem sair da vida doméstica e

poder colocar-se em um lugar profissional, e dever por que muitas necessitam

economicamente do trabalho. O discurso de uma Assistente Social, casada, 27 anos

de idade e com um filho é: Eu vejo a inclusão da mulher no mercado de trabalho como algo fundamental para a mulher, têm seus pontos positivos e negativos, por que a gente sabe que a questão da mulher ter saído do lar para trabalhar influenciou nas novas formas de como as famílias tiveram que se estruturar com a saída da mulher para o mercado de trabalho, mas eu vejo como algo muito favorável, por que foi a partir disso que as mulheres passaram a conquistar novos espaços. Quando ela começou a ser reconhecida como alguém que contribui em casa, e não só como aquela que cuida. Vejo isso como um direito.

Este discurso, e todos os outros, mostram o quanto as mulheres atualmente estão

empenhadas, em maior ou menor grau, em buscar continuamente uma

diferenciação, ou seja, parece ainda ser uma época de construção de

individualidades. E, o objetivo disto, parece não estar muito longe de, alcançar um

funcionamento autônomo, tendo a possibilidade de não depender de um outro para

tudo que se almeja. O ponto principal está em sentir-se com liberdade, diferente mas

com igualdade de condições em relação à outra pessoa, para que possa manifestar

tanto contrariedades quanto aceitações.

Nas famílias tradicionais os ensinamentos se passavam a partir dos modelos que o

homem-pai passava como chefe de família, e a mulher-mãe como educadora e

guardiã do lar, assim que os filhos-homem e as filhas-mulher recebiam os valores

culturais da sociedade. A família tradicional patriarcal sustentava a ideologia que a

sociedade era separada por duas partes, uma privada que corresponderia à mulher,

e outra pública que corresponderia aos homens. Segundo Marodin (1997)

Foi ensinado sistematicamente à mulher que ela deveria ser uma excelente dona-de-casa e incansável mãe de seus filhos, ao invés de qualquer outra identidade possível, estimulando o trabalho “invisível”. A crença era de que as “donas-de-casa”, gozavam de boa situação, eram bem cuidadas e não podiam ter queixas legítimas. A

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mulher sexual e a mulher profissional eram ignoradas, pois seu trabalho, além de não ser valorizado, não era remunerado, ficando excluída de ganhos econômicos.

A opção pela vida profissional da maioria das entrevistadas, partiu da criação, da

maneira como suas famílias de origem via o trabalho, e a importância da mulher

também ter uma vida profissional e independente. A resposta que uma das

entrevistadas dá para esta pergunta é: Eu sempre pensei, desde bem pequena, que a mulher tem que ter independência financeira. Então a minha opção de trabalhar partiu da idéia de que a mulher tem que ter seu dinheiro, seu espaço, seu lugar, resumindo, ter sua independência financeira. Esta Assistente Social,

com 26 anos e solteira, relata que sua mãe e avó trabalhavam por que necessitavam

financeiramente, mas que foi internalizado por ela como sendo algo que não

precisasse ser escolhido e pensado, e sim como se estudar, formar-se e trabalhar

fossem coisas certas em sua vida. Segundo Zuwick (2000), as figuras maternas que

assumem a educação das meninas tem uma função ímpar, pois são elas que a partir

de seu olhar estimularão, ou não, a inteligência, a curiosidade e o talento para

atividades alheias ao lar, que farão estas partir em busca de suas vidas

profissionais.

Então, qual seria a visão das famílias, das profissionais entrevistadas, sobre a

mulher como profissional? Secretária, 22 anos e solteira, fala: Minha família sempre teve a mente aberta e sempre contou com a opinião da mulher em tudo, enfim, valoriza muito o trabalho da mulher, os cuidados dela como dona de casa, mãe e esposa. Minha mãe trabalha fora, e gosta do que faz. Baseando-

se na maioria dos relatos escutados pelas profissionais, pode-se pensar que o

primeiro contato das mulheres com o mercado de trabalho pode até ter sido por

necessidade financeira, porém, em seguida, a vida profissional passa a ter uma

conotação diferente, passando para uma visão de independência e de dignidade. A

mulher não mais apenas necessita que se abram as portas do mercado de trabalho

para ela, como o próprio mercado de trabalho está demonstrando que é necessário

alguns lugares serem ocupados por elas.

A importância ou não da mulher trabalhar fora do lar, é uma questão que parece

girar em torno do reconhecimento e do conhecimento adquirido pela mulher.

Assistente Social, casada, sem filhos relata: Trabalhar é muito importante, por

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que a mulher vai conhecer outras coisas, vai conversar com outras pessoas vai chegar em casa e vai ter o que conversar com o marido, não vai só ser o marido que vai ter novidades, ela vai crescer. O não ficar fixada apenas no

âmbito familiar, sair de casa, ter experiências novas, adquirir conhecimentos, passa

a integrar a fala das mulheres, a escuta destas vozes mostram que elas não se

contentam com o já estabelecido, elas querem mudanças, crescimento e

aprendizado.

Técnica em Informática, porém atualmente trabalha como Servente, casada, dois

filhos, traz seu discurso, pelo mesmo caminho: Eu acho que é importante trabalhar fora, falando por mim eu acho que a mulher precisa sair daquele ambiente de estar dentro de casa, de ficar lavando roupa, limpando a casa. Acho que faz bem para a mulher trabalhar fora. Passa-se a pensar na auto-

satisfação, no ser alguém e não mais depender de alguém, passa-se a viver para si,

e não mais para os outros. Estando ai a importância da escuta tanto terapêutica

quanto institucional destas mulheres profissionais. Gonçalves (2000, p.96), diz:

A escuta terapêutica considera as queixas das mulheres, levando em conta os valores de uma cultura onde a mulher muito lutou e ainda luta para ser valorizada. Nessa trajetória em busca das mudanças, tem havido conquistas e transformações nos papéis que as mulheres desempenham na família e na sociedade.

Continuando pela mesma linha de raciocínio a Secretária, de 22 anos, relata sobre a

mulher no mercado de trabalho: É muito importante. A capacidade de ela enxergar que o mundo está muito além de quatro paredes. E também é a única forma dela se descobrir como pessoa, quais as suas habilidades e eficiências no mercado de trabalho, é uma forma de evitar a frustração.

Retomando com as entrevistadas um pouco da parte histórica do contexto que está

sendo trabalhado, passa-se a questionar o motivo, para elas, que as mulheres

entraram no mercado de trabalho. Por que aconteceu a opção das mulheres pela

vida profissional? A entrada da mulher no mercado de trabalho, a gente sabe que se dá a partir da Revolução Industrial, que foi uma coisa meio (pausa), tinham que ir bastantes pessoas trabalhar, que acabou que foram as mulheres e as crianças também, e acho que foi a partir disso que a mulher não conseguiu e nem mais quis sair do mercado de trabalho. Acho que

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antigamente foi uma conseqüência por que precisavam de mais mão de obra, para a Revolução acontecer, mas com o tempo a gente sabe que foi crescendo e ampliando a questão da tecnologia, vieram mais máquinas, e foi tirando o espaço dos trabalhadores, mas a mulher continuou lutando por se manter neste lugar, e a partir disso que eu acho que começou a ser um direito, que ela tinha o direito de poder ficar já que ela tinha ingressado no mercado de trabalho, relata a Assistente Social de 27 anos. Nas respostas recebidas sobre este

contexto, apareceram a Revolução Industrial e a necessidade financeira.

É a partir da Revolução francesa, em 1789, que as mulheres passam a atuar na

sociedade de forma mais significativa, reivindicando a melhoria das condições de

vida e trabalho, a participação política, o fim da prostituição, o acesso à instrução e a

igualdade de direitos entre os sexos. Na segunda metade do século XVIII, as

grandes transformações ocorridas no processo produtivo e que resultaram na

Revolução Industrial, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então

inexistentes. A absorção do trabalho feminino pelas indústrias, como forma de

baratear os salários, inseriu definitivamente a mulher no mundo da produção.

Nas questões legais, no Brasil, a Constituição Imperial de 1824 não fazia menção à

família, sendo que a imposição do casamento civil se dará somente na Constituição

Republicana de 1891. Mas, será na Constituição de 34 que se encontrará mais forte

a proteção familiar, sendo esta a mais importante Constituição no sentido do estudo

constitucional do Direito de Família. Nesta, encontrava-se um grande amparo para

com a mulher, demonstrando a evolução da posição da mulher na sociedade. Ela

não era mais somente a mãe de família dedicada ao lar, passava a se

responsabilizar por serviços de amparo à maternidade e à infância.

A Constituição de 1988 introduziu importantes alterações quanto à relação de

homens e mulheres. Conforme o Art 5º, inciso I “homens e mulheres são iguais em

direitos e obrigações”, introduzindo a igualdade entre homens e mulheres. Estes

passam a ser considerados, pela lei, iguais. A mulher tem igualdade na chefia da

casa, nos salários, nas profissões e nos critérios de admissão ao trabalho. Também

é reconhecido o exercício da igualdade nos direitos e deveres referentes à

sociedade conjugal, conforme o Art 226, §5º, da Constituição Federal de 1988. No

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discurso atual também surge o divórcio como realidade, deixando livres as escolhas,

como se unir ou separar-se. A lei previa que mulheres divorciadas ou separadas

passariam a não sofrer mais com preconceitos devido suas escolhas.

Ao estabelecer absoluta igualdade entre os sexos nas relações matrimoniais, a

legislação, evidentemente, afetou a questão relativa ao pátrio poder. Com o Estatuto

da Mulher Casada fica instituído que a mulher também irá exercer a chefia da

sociedade conjugal, juntamente com o seu marido, fazendo com que o instituto do

pátrio poder seja afetado, desaparecendo-o perante o texto constitucional. Este

pátrio poder passará a ser comum tanto ao homem quanto à mulher.

Com as mudanças sociais, os valores religiosos vão perdendo o poder. O casal já

pode controlar o número de filhos e também a freqüência das relações sexuais, pois

não é mais a religião que tem o controle da continuidade dos casamentos. Os casais

podem se separar quando passam a não serem mais felizes juntos. No contexto

psicológico, encontra-se um indivíduo que busca a felicidade através de suas

relações pessoais, profissionais e amorosas. Há uma valorização do indivíduo,

ocorrendo uma busca pela individuação.

Assim, pensando em um nível sócio-cultural, os papéis do homem e da mulher na

sociedade, na família e no trabalho são repensados. Valores que antes eram

inquestionáveis passam a ser questionado através do movimento feminista que dará

um grande impulso para estas transformações. O feminismo surge, então, depois de

1930. Mesmo já havendo escritos anteriores a esta data, é neste ano que se

consolida o movimento.

As mulheres não admitem mais a dominação sexual masculina, e ambos os sexos devem lidar com as implicações deste fenômeno. A vida pessoal tornou-se um projeto aberto, criando novas demandas e novas ansiedades. (GIDDENS, 1993, p. 18).

Devido a tantas mudanças, as demandas também estão em transformação, fazendo

com que a existência humana esteja sempre se modificando e renovando

experiências sociais cotidianas. Profundas transformações vêm marcadas por

questionamentos e retomadas de projetos, fazendo com que todos lidem com as

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implicações que ocorrem a partir da mudança de lugar tanto feminino quanto

masculino.

Segundo Gonçalves (2000, p. 98):

A desconstrução do mito mulher: passiva, dentro de casa; homem: provedor, fora de casa está cada vez mais presente nas famílias do final do século. As mulheres, saindo de casa e entrando no mercado de trabalho, abrem espaço para que os homens possam ocupar um lugar mais atuante no grupo familiar, participando da vida dos filhos, desde o início.

Sobre isto uma das entrevistadas, formada em Direito, porém atualmente trabalha

como Assistente Administrativa, união estável, 29 anos, 2 filhos, traz claramente em

seu relato quando diz que atualmente seu companheiro encontra-se desempregado,

então é ele quem está cuidando da casa e dos filhos. A mulher estando em um lugar

de luta, tanto no espaço familiar como na sociedade, não significa que está lutando

contra o homem, longe de estar declarando guerra aos homens, ao contrário,

significa sim lutar para que tanto homens quanto mulheres estejam inteiros nos

espaços que ocupam.

Para Marodin (1997), a partir dos estudos de gêneros podem-se diferenciar as

relações que se estabeleçam entre os casais, como já falado a cima, o casal

tradicional patriarcal, tem como base o homem como ativo na sociedade e a mulher

como passiva, entretanto, no casal matriarcal a visão muda. Nesta relação o homem

fica com o trabalho invisível, os afazeres domésticos, e a mulher com o poder

econômico, visivelmente notado no caso da Assistente Administrativa. Porém, neste

tipo de relação, geralmente ocorre uma pressão cultural, o que obriga o par a

retomar os papéis sociais tradicionais, pois mesmo os homens demonstrando uma

maior aceitação da situação, as mulheres sentem-se sobrecarregadas e queixosas.

A forma como as mulheres sentem-se em relação a execução de seus trabalhos é,

sem dúvida nenhuma, um ponto chave em toda essa construção. Não basta

trabalhar, o nó central desta questão está para além disso, as mulheres estão

interessadas em satisfazer-se. Lopes (2000, p.105) diz:

Creio que todas as mutações mais significativas na família se devem à repercussão das mudanças conquistadas pela mulher. Já que o modelo tradicional de família não

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dava respostas às suas necessidades pessoais, a mulher foi criando para si novas possibilidades de vida que, paralelamente, foram transformando as interações familiares: do papel central que sempre desempenhou como cuidadora dos que a cercam, passa a cuidar de si e a realizar um destino pessoal.

Assistente Social, 27 anos diz: Acho que é muito importante a mulher trabalhar, por que eu por exemplo me sinto útil trabalhando, a época que eu estive em casa, desempregada, eu me senti muito inútil, mesmo sabendo que eu estava cuidando de algumas coisas da casa e cuidando do filho, mas isso não parecia que tinha o reconhecimento como tem o trabalhar fora, o levar alguma coisa para casa.

Esse relato mostra o quanto o trabalhar fora está investido de maior significação que

o trabalhar no lar. A realização está em sentir-se útil e investir em um destino

pessoal, porém, a mulher apenas irá satisfazer-se profissionalmente se ela

realmente perceber que o trabalho executado está em pleno acordo com seus

desejos e capacidades. Um dado que infelizmente é encontrado na pesquisa é que

apenas 57% das mulheres exercem a profissão na qual é formada, ficando 43% das

entrevistadas submetidas a cargos que não são compatíveis a suas escolhas

profissionais, porém são os únicos cargos que estas tiveram a oportunidade de

ocupar. E estas sim relatam estar trabalhando nestas funções inferiores a sua

formação pela situação financeira.

Acho meu trabalho útil, gosto do que faço, mas não era nisso que eu queria trabalhar, eu queria poder aproveitar as coisas que eu sei, poder passar o que eu sei, e isso eu não posso fazer, são poucas as pessoas que sabem o que realmente eu sei. Não estou na área que eu gostaria. Técnica em Informática que

trabalho em uma prefeitura como Servente, concursada, o que lhe traz estabilidade,

porém incompleta quando relata que não pode fazer tudo o que sabe.

Encontra-se semelhança em outro discurso, Assistente Administrativa, porém

formada em Direito. Eu pessoalmente gosto do que eu faço, gosto de trabalhar neste setor, mas me sinto meio frustrada por não poder trabalhar na área de minha formação, que eu poderia estar atuando. E pela situação financeira, talvez por receio meu, é mais fácil ser concursada e ter segurança, por isso

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não saio e não enfrento, ter que largar o que eu tenho, que é pouco, e recomeçar do zero.

Parece que a satisfação ainda esbarra com a situação financeira. Neste dois

discursos a remuneração é algo que impede que estas mulheres busquem a

satisfação profissional. A remuneração, pelo fato destas serem concursadas e

encontrarem estabilidade em seus locais de trabalho.

Porém existem as 57% das mulheres que trabalham em suas áreas de formação,

onde se encontram discursos diferenciados. Neste primeiro discurso encontra-se

uma Assistente Social que além de realizar-se por estar exercendo sua própria

profissão, alguém que se satisfaz com a formação escolhida. Eu adoro minha profissão, gosto muito da profissão que eu escolhi, de ser assistente social, mas eu vejo muita limitação, não sei se pelo local de trabalho, por ser um setor publico, e aparecer todas as limitações que este setor apresenta,uma lentidão que existe neste setor, mas o que eu consigo fazer me realiza, eu chego em casa contente, chego bem, e me cobro a responsabilidade e o comprometimento de buscar mais e dar no dia seguinte uma resposta melhor do que no dia que passou.

No segundo discurso, de outra Assistente Social, encontra-se uma passagem sobre

a remuneração não ser tão satisfatória, porém a realização e satisfação de trabalhar

na área de sua escolha. Em relação ao meu trabalho, eu posso dizer que eu gosto do que eu faço, eu faço com amor. Mesmo que com a minha profissão, assistente social, eu não tenha um retorno financeiro tão bom quanto algumas profissões tem, mas eu penso que eu posso melhorar, ser a cada dia um profissional melhor, uma pessoa melhor. Mas no dia a dia e no cotidiano, eu penso que eu sou satisfeita com a execução e com o andamento do trabalho.

Deixando claro que, nas duas falas, encontram-se passagens que falam sobre as

impossibilidades encontradas na execução do trabalho, porém não será discutida

esta questão por que estas não dizem respeito ao fato destas profissionais serem do

sexo feminino, mas sim da particularidade dos locais de trabalho.

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A mulher distanciando-se do ambiente privado, espaço este reservado à ela,

encontra-se muitas vezes em uma jornada tripla, como mãe, esposa e profissional.

Segundo Aguiar (1997), o processo de desenvolvimento social e econômico que

possibilitou a entrada da mulher no mercado de trabalho, trouxe dificuldades à vida

cotidiana das mulheres. Porém na pesquisa, mesmo aparecendo a vida como um

tanto corrida quando existem compromissos profissionais, sociais e familiares, as

mulheres não parecem querer retornar as suas vidas exclusivamente domésticas.

Assistente Social, 27 anos: É puxado, mas é gratificante. É difícil uma mãe sair de casa, eu tenho que andar 40 km para vir para meu trabalho, é difícil andar esta distância, não ver minha família no horário do almoço, mas compensa, porque como eu tive a experiência de estar em casa e me sentir inútil, compensa por isso, por que hoje eu me sinto muito útil podendo contribuir em casa, podendo ter minha realização profissional, podendo conquistar meu espaço, ser alguém, e compensa quando volto por que quando eu to em casa eu assumo o papel da mãe, tento compensar o tempo que eu não estou em casa e de noite e assumir o papel de mãe, que possa educar e amar e passar todo carinho e afeto possível para o meu filho. Com meu esposo também, eu tenho um relacionamento onde a gente conversa e tem liberdade de se expressar e sabe a importância do casal crescer junto, uma das coisas que surge ai é a questão que meu marido também sempre desejou uma esposa que trabalhasse, que fosse a luta junto com ele, para conquistar o melhor para nós as coisas para nossa vida, para nosso filho, nossa estrutura de lar, de casa de família.

Psicóloga, 26 anos, casada: Às vezes um pouco atarefada demais, pois são campos de trabalho distintos. Mas de qualquer forma essa relação nos engrandece e nos organizamos, tudo é possível.

Se, por um lado, as mulheres assumiram funções importantes na esfera

profissional e alcançaram posições sociais de respeito, por outro lado, na vida

familiar, quase tudo continua como antes. As tarefas domésticas ainda recaem

exclusivamente sobre as costas da esposa-mãe que, além de trabalhar fora para

pagar as despesas da casa, tem de arcar com a responsabilidade de cuidar dos

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filhos, preparar a comida, lavar, passar, limpar. Servente, 24 anos: Me sinto pequena, o tempo é curto para tudo, no trabalho eu canso, eu me estresso, eu chego em casa e tenho filhos pequenos que não entendem o que eu faço, eu tenho que estar sempre alegre e disponível para eles o tempo todo, e para o meu marido também. E saber separar o tempo do marido e o tempo para os filhos, mas com certeza eu continuaria assim, sendo mãe, esposa e profissional.

A Constituição de 1988, introduziu alterações importantes no que se refere a

relação entre homens e mulheres, devido as mudanças sociais que vinham

ocorrendo. Todos são considerados, perante a lei, como iguais. Foram proibidas as

diferenças de salários e exercício de profissão por motivo de sexo. Colocando,

justamente, em questão a remuneração, as mulheres relatam a partir de suas

experiências:

Psicóloga, 26 anos, casada, sem filhos: Na realidade ainda há problemas da diferença entre homens e mulheres. O que temos que pensar é o que a mulher pode contribuir para que esta diferença não seja cada vez mais indicada. Mas creio que ainda assim faz parte da condição humana sermos diferentes.

Assistente Social, 27 anos: Conhecimento sobre a diferença entre cargos e salários para homens e mulheres é a partir de reportagens, pesquisas e entrevistas que tive acesso que mostram esta diferença, mas pessoalmente nunca presenciei uma situação de visualizar uma discriminação da mesma função ter diferenciado salário para homens e mulheres. O que podemos ver que em alguns cargos que são homens que ocupam, quando abrem a possibilidade de alguma mulher fazer, a gente vê que a mulher tem maior dedicação, acredito até que para superar e mostrar que a mulher pode, e não só os homens, mas acompanhar alguma situação assim nunca.

Como se percebe, a partir da fala das entrevistadas, elas não convivem com

situações de desigualdade entre os sexos em relação à remuneração, certamente

por trabalharem em um setor público, onde a forma de contratação para trabalho é a

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nomeação através de um concurso público. Porém, saindo desta realidade, e

comparando os salários pagos a homens e mulheres, tudo indica que a Constituição

de 1988, não está sendo tão executada na prática quanto foi prevista. Baseando-se

em um levantamento do IBGE feito em março de 2006, a pedido da Folha On Line,

as mulheres ganham em média 30% menos que os homens, independente do nível

de instrução.

Partindo-se, então, da remuneração para as possibilidades e obstáculos que as

mulheres encontram no mercado de trabalho e em sua vida profissional, também a

partir das entrevistas pode-se lançar um olhar sobre a questão e verificar se as

entrevistadas percebem este aspecto da mesma forma que alguns autores.

Assistente Administrativa, 29 anos: Eu pessoalmente acho que não existe diferenciação entre trabalho masculino e trabalho feminino. Claro que tem o trabalho braçal que talvez precise de mais força, mas um trabalho intelectual, eu acredito que os dois dêem conta da mesma maneira. Em nível de prefeitura parece que existem setores que tem isso de homem assumir como chefe ou de mulheres, eu nunca vi uma mulher Prefeito, nem na Secretaria da Fazenda, mas na Educação e até na Assistência parece que as mulheres conseguem dar conta, então são elas que chefiam. Mas acho que no mercado de trabalho em geral a mulher ganha menos.

Parece que a mulher mesmo pensando não existir mais discriminações, ao mesmo

tempo se vê frente a frente com situações que mostram que há sim diferenças. A

inserção da mulher no mercado de trabalho, ocorre de maneira bem mais precária

que a do homem. Os salários são baixos, as ocupações dos postos são precárias,

há a discriminação na contratação e na ascensão profissional. Mesmo com as

conquistas legais em relação ao trabalho feminino, algumas formas de exploração

perduraram durante muito tempo. No século XIX as jornadas de trabalho eram entre

14 e 18 horas, e as diferenças salariais acentuadas eram comuns. A justificativa

desse ato estava centrada no fato de o homem trabalhar e sustentar a mulher.

Desse modo, não havia necessidade de a mulher ganhar um salário equivalente ou

superior ao do homem.

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Ainda a Assistente Administrativa: Obstáculos eu encontro no financeiro, por que eu acredito que não tenha uma valorização profissional feminina tão grande. E quanto as facilidades acho que tu vai fazendo acontecer as coisas.

Realmente, está cada vez mais comprovado que o financeiro exerce grande força

para que as mulheres busquem o mercado de trabalho, e é justamente neste

aspecto que também as mulheres vão encontrar insatisfação.

Assistente Social, 27 anos: Acho que até hoje eu não posso falar que eu tenha encontrado alguma barreira na minha vida profissional por ser mulher. Acho que hoje tem mais facilidade, a mulher briga mais, por manter seu espaço e conquistar mais espaço, hoje tem mais possibilidades da mulher continuar estudando, e acho que a mulher estuda mais que o homem, acho que isso facilita para a gente conseguir ampliar mais nosso espaço de trabalho.

Psicóloga, 26 anos: Creio que o fato de ser mulher não atrapalha a vida profissional e sim facilita o trabalho, pela capacidade de escutar as pessoas e principalmente o fato de estar trabalhando com um grupo de mulheres.

Pelo fato da presença feminina no mercado de trabalho ser tão marcante, já se

acostumou a afirmar que a mulher conquistou definitivamente seu espaço, ocupando

até esferas profissionais antes consideradas redutos masculinos, como de jogadores

e juízes de futebol, soldados, executivos e operadores de plataformas marítimas de

petróleo, entre tantas outras. Todavia, a participação feminina no mundo do trabalho

é marcada por salários muito inferiores aos dos homens em iguais funções e por

maiores dificuldades em fazer carreira. Há uma dicotomia entre estes extremos, ao

mesmo tempo em que se percebe uma grande mudança, nota-se que os passos

estão sendo lentos, e que a igualdade tão comentada, existe somente em

pouquíssimos setores.

Servente, 24 anos: Uma vez, tinha um rapaz que trabalhava em um escritório de contabilidade, e ele ia sair, então me avisou que era para eu ir lá tentar a vaga, e quando eu cheguei lá era uma fila enorme de homens, e apenas eu de mulher, e eu não me senti bem, por que para aquela vaga poderia ter várias

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mulheres concorrendo, e talvez por ser um homem que exercia a função antes, os candidatos eram homens também. Desta vez ficaram na ultima etapa eu e outro menino, mas o menino passou. Em outro momento, estava concorrendo para uma vaga aqui na universidade de Panambi, e ficaram três para a ultima etapa, eu, uma menina e outro rapaz, e foi ele quem ficou. E oportunidade eu tive quando fiz o concurso para ser servente aqui na prefeitura e passei, por que para este cargo são mulheres que se inscrevem.

Algumas mulheres, participantes desta entrevista, não percebem a discriminação por

estarem em setores, muitas vezes, públicos. Porém, quando se trata do privado, as

mulheres acabam sentindo as diferenciações de perto. A atividade feminina se

concentra fortemente em alguns segmentos do setor de serviços, como

administração pública, saúde, ensino, serviços comunitários, serviços pessoais e

comunicação.

O aprisionamento da mulher a determinadas funções no mercado de trabalho e a baixa remuneração dos cargos que tais funções configuram restringem tanto o acesso da mulher à vida laboral quanto seu sucesso na mesma, pois essas, além de terem limitadas ofertas de emprego, ainda carecem de recursos financeiros – e conseqüentemente motivacionais – para sustentar seu autocrescimento. (ARENDT, 2000, p.123)

A divisão do trabalho, historicamente, foi construída ligada às condições materiais e

de produção, e à organização familiar. No Brasil, os primeiros educadores foram os

jesuítas, as aulas eram proferidas por homens, uma vez que só estes estavam

realmente aptos para o desempenho desta função, conforme a concepção da época.

A distinção homem – mulher foi, quanto seja possível afirmar, a primeira divisão do trabalho na história da humanidade, a primeira e a mais perene. Até algumas décadas atrás, o esperado seria a mulher na cozinha, cuidando da casa, dos filhos, do marido, o homem a “ganhar a vida”, mulheres responsáveis pela reprodução da força de trabalho, homens responsáveis pela produção, em uma sociedade hegemonizada pela mercadoria. (CODO, 1999, p.62).

Porém, mais tarde, o magistério aparecerá como a profissão ideal para as moças

das camadas sociais médias. Segundo Costa (2001), será bem mais tarde, a partir

das transformações sociais e econômicas do país que este processo de

feminilização do magistério tomará forma.

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“As mulheres seriam ”naturalmente” mais dóceis, submissas, sensíveis,

dependentes, minuciosas, intuitivas, pacientes; os homens mais lógicos,

organizadores, fortes, agressivos, independentes, decididos” (LOURO,1989,p.31).

Estas seriam as características que faziam com que a mulher fosse posteriormente

intitulada como a melhor figura para encarnar a docência. O que marcou em um

primeiro momento a vida profissional das mulheres.

Em uma pesquisa da Data Folha, feita em março do ano de 1994, em cinco capitais

brasileiras, muitas das características descritas por Louro reaparecem. A pesquisa

envolveu cem empresas, e 660 mulheres, mostrando as seguintes características

das mulheres no trabalho: assiduidade, disciplina, organização, paciência, facilidade

de concentração e de estabelecer vínculos.

Esta pesquisa, vem mostrar o quanto as características das mulheres não mudaram

em tanto tempo, características estas que primeiramente eram importante para o

magistério, que porém, na atualidade se mostra tão imprescindível para todas as

outras profissões que a mulher está ocupando, aparecendo até mesmo quando

mulheres ocupam cargos de chefia.

A Revista Veja (1994) publicou o resultado de uma pesquisa com mulheres que

ocupam cargos de chefia, com a peculiaridade de serem bem-sucedidas. Constatou-

se que a chefia feminina é mais detalhista, intuitiva, cautelosa, ética e pessoal que a

masculina. Enquanto que, o estilo de chefia realizado pelo homem é mais rápida e

imediatista.

Parece que em toda a trajetória feminina, algumas características da feminilidade

não foram perdidas, e o que algumas vezes auxiliou para fazer com que a mulher

ficasse restrita ao lar, outras tantas auxiliou para que a mulher estivesse no mercado

de trabalho, exercendo atividades antes somente exercidas por homens, e até

mesmo em cargos de chefias. Assim, esta pesquisa trouxe dados da realidade das

entrevistadas, e sobre o cotidiano das pacientes, porém muitas vezes estes dados

não correspondem a situação da maioria das mulheres, no entanto são os dados

que obteve-se com a pesquisa e sob os quais a pesquisadora partiu para efetuar

este estudo.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a pesquisa apresentada, percebe-se que depois de muitas

mudanças da posição feminina no mercado de trabalho, no social e na família, ainda

existem barreiras encontradas pelas mulheres. E é pelas tantas transformações

ocorridas ao longo destes anos que repensar as modalidades de trabalho exercidas

pelas mulheres seja um ponto chave em meio a estas vicissitudes. Se no passado

as mulheres permaneceram confinadas ao domínio privado, no momento atual as

mulheres participam amplamente do espaço público, que inclui o trabalho produtivo

e remunerado que vem engajado com uma responsabilidade social, importantíssima

para a mulher enquanto ser.

As esferas históricas e culturais, são sem dúvida alguma, parte estruturante da

sociedade, e que reservou a cada sexo sua função social, ou seja, o público e o

privado, o lugar da produção e o lugar da reprodução, porém, deixar emergir a

história do tempo presente torna-se algo de extrema urgência para que as rupturas e

mutações ocorridas pelas conquistas femininas do espaço público não sejam vista

como algo que lhes baste. O propósito de sempre ir além, está encarnado em todas

as mulheres entrevistadas, e este parece ser um caminho sem volta, mas com

muitos obstáculos ainda para superar.

A idéia inicial para esta pesquisa era abordar diferentes locais de trabalho, porém o

problema foi se delimitando, e limitou-se também o número de entrevistadas e os

locais de trabalho onde iriam buscar-se estas voluntárias. Os momentos de

entrevistas foram percebidos como riquíssimos, pelo fato de se presentificar não só

a teoria como também a prática, o cotidiano destas mulheres que para além de

serem filhas, esposas, mães, também são profissionais que tem ou que estão e

busca de um reconhecimento profissional cada vez maior.

Percebe-se que em alguns setores ainda existem diferenças entre os gêneros,

porém está diminuindo consideravelmente a exclusão da mulher. Tanto é que nos

dois locais onde realizou-se as entrevistas, ou seja, numa prefeitura municipal e em

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uma ONG, as diferenças entre gêneros não são explicitas. Porém, a existência

destas exclusões são sabidas pelas pessoas que nestes lugares trabalham, através

dos meios de comunicação (reportagens e jornais) ou mesmo por conhecidos,

pessoas da comunidade que revelam este conhecimento.

O que parece fazer com que estas situações de discriminação na contratação de

homens e mulheres diminuam, é a contratação através de concursos que contam

com provas de conhecimentos específicos sobre o trabalho a ser realizado. Meio

este, onde se permite medir o essencial para a execução da tarefa prevista para o

cargo a ser preenchido. Nestes locais os salários são previamente estabelecidos por

cargos, e não por ser homem ou mulher o ocupante do mesmo.

Em relação ao trabalho além do profissional, o doméstico, as mulheres ainda

parecem estar carregando este fardo quase que exclusivamente sozinhas. E os

homens que conseguem se tomar por estas tarefas parecem sofrer com idéias pré-

estabelecidas historicamente, que tais afazeres não são coisas para homens.

Infelizmente o trabalho doméstico ainda é visto como algo sem valor, desvalorizado

por ser um trabalho sem remuneração e sem status social. O mundo doméstico, até

hoje, sempre foi visto como o universo da mulher.

As atividades das mulheres, não só eram, como ainda são em boa parte,

controladas e dirigidas por homens, e geralmente representadas como secundárias,

de apoio, um auxílio para que o homem exerça a atividade principal e valorizada. Tal

sentença só mostra o quanto está se deixando de lado as realizações pessoais. O

trabalho, tanto para homens quanto para mulheres, criativo, livremente escolhido,

bem feito, e reconhecido como tal, é fonte de satisfação e concorre para a

construção da identidade no mundo social, pela via da satisfação indireta das

pulsões psíquicas.

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6. BIBLIOGRAFIA

6.1 Bibliografia Referencial:

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BADINTER, Elizabeth. Um amor conquistado: O mito do amor materno. Rio de

Janeiro: Editora Nova Fronteira,1985.

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Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.

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__________________ O perdão do Papa às mulheres. In: BELATO, Dinarte &

BEDIN, Gilmar Antonio (Org.). Brasil 500 anos: a construção de uma nova nação.

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professores e professoras da Universidade de Cruz Alta. 2001,155f. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,

2001.

FONSECA, Tânia Mara Galli. Utilizando Bourdieu para uma análise das formas (in)

sustentáveis de ser homem e mulher. In: STREY, Marlene Neves et all (org.)

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MARODIN, Marilene. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In:

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VALDIVIA, Olívia Bittencourt. Psicanálise e Feminilidade: Algumas Considerações.

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ZUWICK, Ana Maria. Emancipação feminina: obstáculos e perspectivas para sua

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6.2 - Bibliografia Consultada

ALMEIDA, Jane Soares de. Mulher e Educação: a paixão pelo possível. São Paulo:

Fundação Editora da UNESP, 1998.

AMMANN, S.B. Mulher: trabalha mais, ganha menos, tem fatias irrisórias de poder.

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BRENNAN, Teresa (org). Para além do falo: uma crítica a Lacan do ponto de vista

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os Sexos (1925). In: Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

______. Conferência XXXIII, Feminilidade (1932). In.: Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo:

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TEIXEIRA, Marcus do Rio. A feminilidade na psicanálise, e outros ensaios. Salvador: Ágalma, 1991.

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7. ANEXOS

ANEXO A

Instrumento utilizado para direcionar entrevista:

Idade:

Profissão:

Estado Civil:

Número de filhos:

Carga horária:

Local (is) de trabalho:

Marido trabalha:

1. Por favor, diga-me o que pensa sobre a inclusão da mulher no mercado de

trabalho:

2. Estou interessada em saber como se deu sua opção pela vida profissional:

3. Agora gostaria que você me falasse um pouco sobre sua família de origem. Qual

é a visão de sua família sobre a mulher como profissional?

4. Qual a sua idéia em relação a importância ou a não da mulher trabalhar fora do

lar?

5. Qual a causa, no seu entender, da mudança de posição das mulheres no

mercado de trabalho, por que aconteceu a entrada da mulher na vida profissional?

6. Como se sente em relação a execução de seu trabalho?

7. Como se sente tendo uma jornada tripla, como mãe, esposa e profissional?

8.Me fale sobre as possibilidades, os obstáculos e facilidades encontradas em sua

vida, tanto profissionais quanto pessoais:

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9. O que você pensa dos cargos ocupados pelas mulheres e os respectivos salários,

comparando com os cargos e salários dos profissionais do sexo masculino?

Título: Uma breve leitura acerca das questões: “O que quer uma mulher?” e “A

mulher não existe”.

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