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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 85 Tipologia dos Produtores de Ovinos e Caprinos no Estado do CearÆ Tipologia dos Produtores de Ovinos e Caprinos no Estado do CearÆ RobØrio Telmo Campos * Engenheiro Agrônomo e Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do CearÆ (UFC) * Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe) * Bolsista do CNPq e Professor Titular do Departamento de Economia Agrícola da UFC. Documentos Técnico-Científicos Resumo Procura tipificar, caracterizar e determinar a rentabilidade econômica de cada grupo de produ- tores de ovinos/caprinos dos municípios de Tauá e Morada Nova, no Estado do Ceará, agrupados segundo o nível tecnológico de produção pratica- do. Os dados são de natureza primária, coletados através da aplicação de questionários. Apesar de existirem vários métodos de agrupamentos, apre- senta-se como proposta metodológica uma técni- ca, relativamente simples, que produz resultados semelhantes aos do método de Ward. Foram en- contrados três sistemas de produção, batizados pela ordem de número de práticas tecnológicas usadas de “alta defasagem tecnológica”, “regular defasa- gem tecnológica”, “baixa defasagem tecnológica”. Nenhum produtor se enquadra na situação de alto nível tecnológico. Conclui-se que a tecnologia faz a diferença e qualquer que seja o sistema de produ- ção adotado, há um número mínimo de técnicas ou práticas a serem programadas, sem as quais a ovi- nocaprinocultura não oferece resultados econômi- cos positivos e compensadores. Além disso, con- comitantemente, a adequada disponibilidade de ben- feitorias (apriscos, cercas, currais, etc.), máquinas, implementos, pastagem e água no estabelecimento, além de um mínimo de recursos financeiros, condi- cionam a aplicação de melhor tecnologia na produ- ção de ovinos e caprinos. Palavras-chave: Produtores de ovinos-Tauá-Tipologia; produ- tores de ovinos-Morada Nova-Tipologia; produto- res de caprinos-Tauá-Tipologia; produtores de ca- prinos-Morada Nova-Tipologia.

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Tipologia dos Produtores de Ovinose Caprinos no Estado do Ceará

Tipologia dos Produtores de Ovinose Caprinos no Estado do Ceará

Robério Telmo Campos* Engenheiro Agrônomo e Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federaldo Ceará (UFC)

* Doutor em Economia pela UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPe)

* Bolsista do CNPq e Professor Titular doDepartamento de Economia Agrícola da UFC.

Documentos Técnico-Científicos

Resumo

Procura tipificar, caracterizar e determinar arentabilidade econômica de cada grupo de produ-tores de ovinos/caprinos dos municípios de Tauá eMorada Nova, no Estado do Ceará, agrupadossegundo o nível tecnológico de produção pratica-do. Os dados são de natureza primária, coletadosatravés da aplicação de questionários. Apesar de

existirem vários métodos de agrupamentos, apre-senta-se como proposta metodológica uma técni-ca, relativamente simples, que produz resultadossemelhantes aos do método de Ward. Foram en-contrados três sistemas de produção, batizados pelaordem de número de práticas tecnológicas usadasde “alta defasagem tecnológica”, “regular defasa-gem tecnológica”, “baixa defasagem tecnológica”.Nenhum produtor se enquadra na situação de altonível tecnológico. Conclui-se que a tecnologia faz adiferença e qualquer que seja o sistema de produ-ção adotado, há um número mínimo de técnicas oupráticas a serem programadas, sem as quais a ovi-nocaprinocultura não oferece resultados econômi-cos positivos e compensadores. Além disso, con-comitantemente, a adequada disponibilidade de ben-feitorias (apriscos, cercas, currais, etc.), máquinas,implementos, pastagem e água no estabelecimento,além de um mínimo de recursos financeiros, condi-cionam a aplicação de melhor tecnologia na produ-ção de ovinos e caprinos.

Palavras-chave:

Produtores de ovinos-Tauá-Tipologia; produ-tores de ovinos-Morada Nova-Tipologia; produto-res de caprinos-Tauá-Tipologia; produtores de ca-prinos-Morada Nova-Tipologia.

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1 - INTRODUÇÃO

O Ceará, o quarto maior Estado da região Nor-deste em termos de área, desenvolve atividades agro-pecuárias bastante diversificadas, que variam segun-do a microrregião considerada. No entanto, apenasoito atividades de origem vegetal (milho, feijão, ar-roz, mandioca, caju, cana-de-açúcar e algodão ar-bóreo/herbáceo) e quatro de origem animal (bovinosde leite/carne, caprinos e ovinos) merecem destaque,tanto pela área ocupada quanto pela elevada signifi-cação social e econômica para a economia do Esta-do. Apesar dessa diversidade de produtos, a agro-pecuária do Ceará se caracteriza pelo baixo nível téc-nico, o que explica, em boa parte, o atraso, a grandevulnerabilidade e a baixa produtividade da economiaagrícola do Estado (CAMPOS, 1997).

Os praticantes dessas atividades são basica-mente agricultores familiares, pois, o Nordeste, se-gundo estudo INCRA/FAO (2000), concentra omaior número de estabelecimentos familiares doBrasil. Especificamente para o Ceará, os estabele-cimentos familiares representam 90,2% do total de339.602, detêm 52,9% da área total de 8.986.842hectares e são responsáveis por 52,2% do valorbruto da produção agropecuária. Além disso, 84,1%dos estabelecimentos familiares empregam apenasmão-de-obra da família em suas atividades.

A renda proveniente das atividades agrope-cuárias é também muito baixa, pois dos 149.506estabelecimentos familiares da categoria proprietá-rios de terra, 70.846, ou 47,4%, se enquadram natipologia de “quase sem renda”, que compreendeaqueles agricultores com renda total por hectare/ano de R$ 23,00. Em ordem crescente listam-se osde “renda baixa”, em número de 32.122, ou 21,5%,que perfazem renda de R$ 62,00 por hectare/ano,os de “renda média”, que somam 34.376, ou 23%,e renda de R$ 76,00/hectare/ano e, por fim, os de“maiores rendas”, que são 12.162, ou 8,1%, e ob-têm renda média anual por hectare de R$ 170,00.Deve-se ressaltar que a área média desses estabe-lecimentos é da ordem de 13,2, 23,2, 40,4 e 77,5hectares, respectivamente (INCRA/FAO, 2000).

Alguns estudiosos, como Moreira Filho; Co-elho; Rocha (1985) apontam o tradicionalismo dastécnicas utilizadas como causa desse baixo desem-penho, enquanto Casimiro (1984) identifica fatorestais como a pobreza dos solos, a inadequação dastecnologias disponíveis, as irregularidades pluviomé-tricas, falta de recursos financeiros e de esquemasde comercialização, as arcaicas relações sociais deprodução e os baixos níveis de escolaridade comofatores de entrave ao melhor desempenho das ativi-dades produtivas.

Dentro do contexto específico da ovinoca-prinocultura, Campos (1997) observou, através docálculo de índices simples de produção de carne,que, no período de 1970-83, houve reduções de32,68% e 53,60% para ovinos e caprinos, respec-tivamente. Em termos de taxa anual de crescimen-to, constatou decréscimos de 2,08% no índice agre-gado de produção agropecuária, para o período de1984-90.

Tomando-se por base as estatísticas apresen-tadas, torna-se fácil constatar que, em geral, a eco-nomia agrícola do semi-árido cearense tem uma basede sustentação muito frágil. Segundo a SUDENE(1978) e Cavalcanti et. al. (1998), esta economia,por fundamentar-se, principalmente, no complexoalgodão-pecuária extensiva-culturas de subsistên-cia, com uso de tecnologias tradicionais e rudimen-tares, portanto, de baixa produtividade, tanto agrí-cola quanto pecuária, fica muito vulnerável ao fenô-meno da seca/estiagem.

Os apologistas da modernidade acreditamque a única maneira de tirar a agricultura nordestinado relativo atraso é através da introdução de técni-cas e métodos modernos de produção, de insumosde origem industrial e de maciça mecanização, paraaumentar a produtividade das atividades.

Schuh (1996) entende que “a agricultura tempapel estratégico, fundamental no processo de de-senvolvimento econômico. [...] A chave desse pro-cesso é não esquecer que a base para o desenvol-vimento da agricultura é a tecnologia”.

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Acrescenta que, ao ocorrerem ganhos tec-nológicos importantes e de utilização generalizada,os preços dos produtos agrícolas básicos caemmuito, em razão de suas inelasticidades, o que acar-reta um aumento da renda real per capita, favore-cendo a sociedade como um todo, principalmente apopulação pobre, além de o país ficar mais compe-titivo, posto que não é preciso mexer no salário no-minal ou na taxa de câmbio.

Nesta mesma linha de argumentação, estudi-osos da FAO (1988) defendem que a pesquisa agrí-cola, na América Latina, precisa ser repensada, pois,até o momento, vem-se apresentando ineficaz oupouco eficaz para a solução dos problemas tantointernos quanto externos ao estabelecimento rural,apesar de um bom acervo tecnológico já se encon-trar à disposição do agricultor.

Lacki (1995) afirma que os baixíssimos ren-dimentos são reflexos de erros elementares que osagricultores cometem no uso dos recursos e naaplicação de tecnologias. O baixo rendimento nãonecessariamente se limita à falta de insumos mo-dernos, de tecnologias melhoradas, de animais dealto potencial genético, de maquinaria sofisticada,nem de crédito; porém, sim, depende fundamen-talmente de que o produtor esteja bem capacitadopara aplicar as tecnologias adequadas às adversi-dades físico-produtivas, num ambiente de escas-sez de insumo e recursos de capital, porque sãoestas circunstâncias que caracterizam 78% dosagricultores da Região.

O produtor (agricultor ou pecuarista) deve sero agente e beneficiário do seu desenvolvimento.Desta forma:

Se não se oferece às famílias rurais efetivasoportunidades para que tomem consciência doseu próprio potencial e das potencialidades doseu meio, que estejam motivadas e desejosas dese superar e capacitadas para solucionar tais pro-blemas, simplesmente não haverá desenvolvi-mento. Ou os próprios afetados pelos proble-mas do meio rural os solucionam de maneira pro-

tagônica e basicamente com os seus própriosmeios, ou tais problemas dificilmente serão solu-cionados (LACKI, 1995).

Nesse contexto, um dos primeiros passos aser dado é tipificar os sistemas ou subsistemas agrí-colas, caso se deseje ter uma compreensão acura-da dos fatores que influem nas decisões dos produ-tores familiares. Uma boa compreensão dos pro-cessos envolvidos nos diversos sistemas é essencialpara o desenvolvimento de um referencial de análi-se que seja aplicável na pesquisa de sistemas agrí-colas (DILLON e HARDAKER, 1994).

De acordo com Salles; Zaroni; Bergamasco(1995), o contato com a realidade rural permite iden-tificar, na agricultura familiar, diferentes situaçõessócio-econômicas que vão do tradicional ao mo-derno, com inegável capacidade de adaptação, de-senvolvimento ou mesmo resistência.

Assim sendo, este trabalho indaga se, dentrodas atividades (ovina/caprina) desenvolvidas no Cea-rá, em particular nos municípios de Morada Nova eTauá, existe diferenciação entre as famílias. A biblio-grafia específica para o Estado indica haver esta dife-renciação. Apoiado nesta hipótese, procura-se tipifi-car as famílias pesquisadas, tomando-se por base oscontroles administrativo e zootécnico adotados peloprodutor, as características da propriedade, o manejoe o desempenho dos rebanhos. Através da caracteri-zação de cada produtor, serão determinados os siste-mas de produção predominantes, segundo o nível tec-nológico praticado, levando-se em consideração o fatode que a produção como um todo não é homogênea,pois existem grupos de produtores mais tecnificadosdo que outros. Em razão dessas diferenças, qualquerestratégia para melhorar o desempenho da ovinoca-prinocultura deve levar em conta o seu nível tecnológi-co e, por conseguinte, a sua rentabilidade.

2 - METODOLOGIAS

2.1 - Área de Estudo

Para a realização deste estudo inicialmenteselecionaram-se os dez maiores municípios em

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efetivo total de caprinos e ovinos no Estado doCeará. Dos dez municípios, dois foram selecio-nados para fins de definição da amostra, optan-do-se pelos municípios de Morada Nova e Tauá.Esses municípios, segundo IBGE (1995), ocupama primeira e terceira posição em tamanho dessesrebanhos (caprinos e ovinos) com valores de104.903 e 76.507 cabeças, respectivamente. Arazão da escolha de ambos os municípios pren-de-se ao fato de, além de contarem com maioresrebanhos, localizarem-se em microrregiões dife-rentes do Estado, que apresentam característicasparticulares, principalmente no que diz respeitoao tipo de pastagem natural ofertada aos animais.Além disso, esses municípios apresentam carac-terísticas bem diferenciadas de tamanho de reba-nho por nível de produtor.

Apesar das especificidades apontadas, osdois municípios apresentam algumas característi-cas comuns. Morada Nova e Tauá caracterizam-se, principalmente, por terem suas áreas inseri-das no semi-árido cearense, com alto risco deocorrência de secas. Na agricultura, as principaisculturas exploradas são milho, feijão, algodão,mandioca e arroz. Na pecuária, em efetivo dosrebanhos, há uma predominância dos rebanhosovinos/caprinos, vindo em seguida os bovinos esuínos em menores proporções.

2.2 - Natureza e Fonte dos Dados

Os dados são de natureza primária, coletadosatravés de pesquisa direta por meio de questionári-os. O período de análise compreende o ano de 2000.A coleta dos dados se deu no mês de dezembro/2000. Portanto, os preços de insumos e produtossão referentes a este período.

2.3 - Amostra

A seleção da técnica de amostragem dependeem parte da característica da amostra, assim comodos objetivos do estudo e dos dados de que se ne-cessitam. Às vezes, faz-se necessário combinar mé-todos de amostragem.

No presente estudo, inicialmente usou-se aamostragem estratificada, que consiste em dividir apopulação objeto de análise em vários estratos ougrupos com base em uma ou mais características deinteresse. Por fins práticos, para evitar uma estrati-ficação mais complexa e vieses, os produtores fo-ram estratificados, segundo o tamanho dos reba-nhos, em pequenos, médios e grandes1 . Esta deci-são foi tomada para se evitar a assimetria existenteentre os grupos de produtores, dado o predomíniodos pequenos em relação aos demais. A amostrafoi definida tomando-se por base uma populaçãode 460 produtores de Morada Nova e 440 de

TABELA 1TAMANHO DA AMOSTRA, SEGUNDO OS ESTRATOS,

POR TIPO DE PRODUTOR, MUNICÍPIOS SELECIONADOS,ESTADO DO CEARÁ, 2000.

FONTE: Dados da pesquisa.

Municípios

Morada Nova

Tauá

Estado do Ceará

Total

20

18

38

Grande

6

6

12

Médio

6

5

11

Pequeno

8

7

15

Tipo do Produtor

1 Deve-se utilizar estratificações diferentes por municípioem razão das características bastante peculiares de cadaum, no que diz respeito ao tamanho dos rebanhos.

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Tauá que, à época da pesquisa, eram cadastradosna Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ru-ral do Ceará (EMATERCE).

Em seguida, empregou-se o método da amos-tragem aleatória simples para se selecionar suba-mostras que fossem representativas da populaçãoem estudo, pois, pretender olhar os sistemas de pro-dução agropecuários como um todo homogêneo,pelo que é exposto neste trabalho e sobretudo peloque ocorre na realidade, é ignorar completamentesua realidade.

Finalmente, para o dimensionamento da amos-tra foi utilizado o procedimento estatístico recomen-dado por Cochran (1965), considerando-se o nívelde significância de 5% de probabilidade e desvio-padrão de 10% (TABELA 1).

2.4 - Referencial Teórico

2.4.1 - Sistemas de produção agrícolas(SPAs) e tipologia

Os sistemas agrícolas familiares são de elevadacomplexidade, sendo necessária uma abordagemsistêmica para que se possa compreendê-los em suaglobalidade e dinâmica. O foco é o estudo interati-vo dos componentes que formam “o todo”, quegeralmente é diferente da soma das partes. Assimsendo, o simples conhecimento das partes não éadequado à previsão do comportamento do siste-ma como um todo.

Segundo Corrales (1994), este tipo de abor-dagem vem suprir essa lacuna, já que procura ob-servar os fatos de um modo holístico, com espe-cial atenção para as suas interações, origens eefeitos.

A unidade de análise, dependendo da situ-ação, pode ser a família, uma comunidade ou qual-quer outro tipo de agregação social que se definapor hábitos sociais, técnicos e econômicos co-muns. Desta forma, o centro de atenção deve servoltado para as pessoas que compõem a admi-nistração e não para a terra (GROPPO, 1995).

Brossier (apud COUTINHO, 1999), refe-renciando diversos autores, menciona três tipos dedefinições sobre Sistema de Produção Agrícola(SPA). Um primeiro conceito situa a exploraçãoagrícola dentro da microeconomia; este conceitobaseia-se em que: o sistema de produção é a com-binação dos fatores de produção e das produçõesna exploração agrícola. Esta concepção de siste-ma é entendida como um conjunto de práticas queobjetiva o aumento dos lucros. A segunda baseia-se no caráter social em que se considera a tipolo-gia do SPA: um sistema de produção agrícola éum modo de combinação entre terra, forças e mei-os de trabalho com fins da produção vegetal e/ouanimal comum a um conjunto de explorações. Umsistema de produção é caracterizado aqui pelanatureza das produções, da força de trabalho (qua-lificação) e dos meios de trabalho e pelas propor-ções desse trabalho. Ainda levando em conta adimensão social, Allaire e Blanc (1979) ampliam oconceito, quando não usam simplesmente a expres-são “sistema de produção”, mas “sistema socialde produção”, que permite explicar os conflitos,as cooperações e as contradições em uma dadaregião agrícola. E por fim, tem-se o conceito desistema de produção referindo-se ao emprego dosfatores de produção e sua repartição. Mazoyer(1985), ao se referir a SPA, relacionou um con-junto de fatores embutidos no conceito, tais como:operação técnica, itinerário técnico, sistema decultura e de criação, sistema de produção e siste-ma agrários. Brossier (1987) argumenta que o con-ceito de sistema de produção não pode desvincu-lar-se da abordagem sistêmica, ou seja, não podese prender somente às questões micro e macroe-conômica, mas à tentativa científica de resolverproblemas, tais como:

...abordagem holística da compreensão dos sis-temas camponeses (coerência e lógica dos sistemasde produção existentes); a exploração agrícola vis-ta como um sistema (quais são os atores desse sis-tema, qual é a definição desse sistema?); a coerên-cia dos sistemas de produção é acessível a partir deuma análise minuciosa do funcionamento interno dossistemas: identificação das práticas e das seqüênci-

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as técnicas; a pesquisa é fundamentalmente pluri-disciplinar... (BROSSIER, 1987).

Na concepção da SUDECO (1990), SPA re-presenta:

... o conjunto das diversas atividades operaci-onais que compõem a exploração de uma culturaou produto. É a forma como está sendo exploradae vai ser explorada uma cultura. [...] todas as ope-rações agrícolas (do desmatamento à colheita), comseus respectivos requerimentos técnicos e nível derendimento, para a implantação de uma cultura cons-tituem o sistema de produção dessa cultura.

Dillon e Hardaker (1994) definem sistema deprodução como sendo:

A tecnologia empregada em uma atividade ouconjunto de atividades. Em relação ao conjuntode atividades que constituem todos os cultivos deum estabelecimento agrícola, o sistema de produ-ção é especificado pelo conjunto de tecnologiasusadas por ditas atividades.

Os mesmos autores definem como “cultivo”agrícola a produção de um determinado produtoou grupo de produtos afins, destinados à venda ouao consumo doméstico. Assim, o cultivo de arrozsupõe a produção de arroz (e talvez da palha dearroz) para a venda ou uso doméstico, sem espe-cificar o método de produção empregado. Ao con-trário, a “atividade” é um método específico paraproduzir um cultivo ou para fazer funcionar umaempresa pecuária. Por exemplo, o arroz de se-queiro e irrigado são atividades distintas, porémfazem parte do mesmo cultivo.

Por sua vez, Dosi (apud SHIKIDA, 2001)refere-se ao termo tecnologia como sendo um con-junto de partes do conhecimento, prático e/ou te-órico, que toma especificidade ao assumir formasconcretas de aplicação em determinada atividade.Esse conjunto abrange desde procedimentos, mé-todos, experiências, know-how, até mecanismose equipamentos.

Salles Filho (1993) entende que a identificaçãode novas soluções tecnológicas implica a percepçãode possíveis opções atuais e de possíveis desenvol-vimentos futuros, ou seja, compõe um conjunto limi-tado, mas não bem definido, de caminhos a seguir.

Matesco (1994) admite que:

... a tecnologia é um elemento de destaque en-tre os fatores concorrenciais das empresas produti-vas modernas. As empresas alocam recursos emalguma fonte de obtenção de tecnologia, como for-ma de criar constantemente novos e melhoradosprodutos e processos de produção e, assim, au-mentar a sua competitividade em seu mercado deatuação ou melhorar a capacitação para penetrarem novos mercados.

Diante do exposto, para tipificar os produto-res, este trabalho remete ao conceito de capacita-ção tecnológica, associando-o aos diferentes níveisde utilização, que compreendem:

... as capacidades de adquirir, assimilar, usar,adaptar, mudar ou criar tecnologia, em três âmbi-tos: (i) na operação, isto é, no exercício das ativida-des correntes de produção, administração e comer-cialização; (ii) no investimento, ou seja, na execu-ção de novos projetos; e (iii) na inovação, envol-vendo a capacidade de buscar internamente inova-ções maiores de produto e processo e de desen-volver pesquisas básicas (DAHLMAN et al., 1985apud CANUTO, 1991).

Para Dufumier (1985), o sistema de produçãocompõe o conjunto de produtos (vegetais e animais)e meios de produção (terra, capital e trabalho) ad-ministrados pelo produtor para atingir determina-dos objetivos sócio-econômicos e culturais. O sis-tema de produção é uma limitada quantidade de tra-balho e de outros modos de produção, objetivandoobter diferentes produções agrícolas.

Sistema de cultivo ou de criação de animaiscorresponde a determinada superfície de terra, ad-ministrada de modo homogêneo, no que se refere à

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ordem seqüencial do cultivo ou criação de diferen-tes produtos, com seus respectivos itinerários téc-nicos. Por sua vez, itinerário técnico é a seqüêncialógica e ordenada das operações de produção ani-mal e/ou vegetal. Portanto, na unidade de produçãoexistem, normalmente, vários produtos, cada umdeles correspondendo a um sistema de cultivo.

Segundo Groppo (1992), a aplicação do enfo-que sistêmico no setor agropecuário tem avançadoatravés de várias metodologias, dentre elas a análi-se comparativa dos sistemas de produção, quese vem concretizando através da elaboração de ti-pologias. Para Groppo (1992), ainda, no que serefere às análises via tipologia de sistemas, é impor-tante em virtude de:

... a grande heterogeneidade das unidades de pro-dução existente inclusive em pequenas áreas e a neces-sidade de evidenciar esta diversidade para poder impul-sionar um apoio diferente que leve em conta as condi-ções limitantes específicas de cada unidade de produ-ção. [...] A elaboração de tipologias parte de um inte-resse operativo: busca “simplificar” a diversidade ao iden-tificar grupos (ou tipos) de sistemas de produção queapresentam potencialidades e restrições semelhantes fren-te a um ou vários elementos selecionados.

Construir uma tipologia da unidade de análise con-siste no objetivo declarado de tentar simplificar a hete-rogeneidade através da identificação de grupos (tipos)que apresentam potencialidade e restrições similares emrelação a um ou mais fatores selecionados.

Como critério geral para tipificar os SPA, deve-se identificar as heterogeneidades entre os SPAs paradiferenciá-los e elementos comuns para reuni-los emtipos praticamente idênticos; ou seja, os sistemasde produção podem pertencer a diferentes unida-des de produção, mas os meios de produção, o fun-cionamento, a combinação de explorações agríco-las, ou melhor, a sua racionalidade deve ser muitoparecida (COUTINHO, 1999).

A tipologia pode ser feita sob diferentes critéri-os: estratégias de produção, formação histórica, ní-

vel de composição da renda, grupos étnicos, níveltecnológico etc.

Para este estudo, considera-se na definiçãodo SPA a combinação entre família e unidade deprodução pela qual são desenvolvidos sistemas decriação, além da interação desses com as práticastecnológicas, as características da propriedade e aorganização do agricultor, com vistas a atender seusobjetivos sociais e econômicos.

2.5 - Procedimentos Metodológicos

Existem vários métodos para construir uma ti-pologia. Um deles é através da aplicação inicial daanálise multivariada, mais especificamente da análisefatorial. Esta técnica permite identificar um certo nú-mero de fatores que podem ser usados para repre-sentar relações entre um conjunto de variáveis inter-relacionadas. Após a redução das variáveis em fato-res representativos, aplica-se uma das técnicas deanálise de agrupamentos, destacando-se como bas-tante usada a análise de Cluster. Esta técnica consis-te em agrupar os produtores homogêneos, atravésde características semelhantes representadas pelosfatores (COUTINHO, 1999; CARNEIRO, 1995;SALES; ZARONI; BERGAMASCO, 1995).

Apresenta-se a seguir uma proposta específica,considerada mais simples, que prevê três passos:

· separa-se o conjunto de unidades de produ-ção que compõe a amostra em três grandes estra-tos, definidos sob critérios apropriados, que podemser a área da propriedade, o número de animais ouqualquer outro, classificando-os pelo tamanho empequeno, médio e grande;

· dentro de cada estrato, identificam-se os di-ferentes sistemas de produção existentes, represen-tados pelos principais sistemas de cultivo e/ou decriação de animais. Os sistemas de produção dife-rirão, dependendo das características dos recursos(capital fixo e de operação), condições técnicas,fatores econômico-financeiros e condições sociaisde produção.

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· Decidir por uma tipologia, reunindo os pro-dutores dos estratos em grupos, segundo a sua ho-mogeneidade, independente da classe a que per-tencem, conforme classificação definida no primei-ro passo. Aqui os grupos (tipos) são redefinidos le-vando-se em consideração o nível tecnológico ado-tado em cada unidade de produção.

A seguir desenvolvem-se os procedimentos me-todológicos a serem adotados quando da aplicaçãode qualquer técnica de análise de agrupamentos.

2.5.1 - Tipificação e caracterização desistemas homogêneos de produção

Tipificar, aglomerar ou efetuar análise de agru-pamentos são termos semelhantes. Esta análise en-globa uma variedade de técnicas e algoritmos cujoobjetivo é determinar e separar objetos em gru-pos similares.

Segundo Bussab; Miazaki; Andrade (1990), atécnica de análise de agrupamentos pode ser de-composta nas seguintes etapas:

i) Definição do objeto, objetivos e variáveis

Inicia-se explicitando claramente o objeto quese pretende investigar para classificá-lo segundoas características de interesse. A fixação de crité-rios (variáveis) distintos conduzem a grupos ho-mogêneos distintos e o tipo de homogeneidadedepende do(s) objetivo(s) a ser alcançado.

As diversas etapas desta técnica serão aquiapresentadas definindo-se a estrutura básica de apli-cação a ser usada neste trabalho. Assim sendo, oobjeto de estudo são os produtores de ovinos ecaprinos dos municípios de Tauá e Morada Nova.

O que se pretende investigar são as seme-lhanças entre objetos (produtores) no intuito deagrupá-los em níveis tecnológicos, segundo algu-mas variáveis previamente especificadas, paradefinir as semelhanças entre produtores. As vari-áveis aqui utilizadas seguem as recomendaçõespropostas em documento da EMBRAPA (1989)

e pesquisas desenvolvidas na Universidade Fe-deral do Ceará.

Desta forma, as seguintes variáveis foram sele-cionadas para a classificação dos produtores se-gundo os níveis tecnológicos: I – Gerenciamentodo Produtor; 1) uso de assistência técnica; 2) usode mecanismos de gerenciamento; 3) faz anotaçõeszootécnicas; II – Caracterização da Proprieda-de; 4) raças melhoradas de ovinos; 5) raças melho-radas de caprinos; 6) faz divisão de pastagem; 7)tem aprisco; 8) tem curral coberto; III – Manejodo Rebanho; 9) faz suplementação com volumo-so; 10) faz suplementação com ração concentradapara ovinos; 11) faz suplementação com ração con-centrada para caprinos; 12) ministra sal e minerais;13) adota critério de seleção; 14) faz separação dascrias; 15) pratica a monta controlada; 16) faz a se-paração por sexo; 17) faz marcação com brinco;18) utiliza algum critério para a primeira monta; 19)faz a detecção do cio; 20) faz castração dos ani-mais; 21) faz a limpa/desinfecção do curral; 22) fazo corte e desinfecção do umbigo; 23) faz vacina-ções; 24) combate piolho/carrapato; 25) faz vermi-fugações; 26) adota o número de vermifugaçõesrecomendadas; 27) usa medicamento caseiro; IV– Desempenho dos Rebanhos; 28) idade médiada desmama; 29) idade média do primeiro parto;30) intervalo entre partos; 31) número de partospor ano; 32) taxa de mortalidade.

A seleção das variáveis influencia decisiva-mente o resultado de uma análise de agrupamen-to. Desta forma, variáveis que assumem o mes-mo valor para todos os objetos são pouco dis-criminatórias para a determinação da estrutura deagrupamento. Por outro, variáveis com grandepoder de discriminação, porém irrelevantes, po-dem mascarar os grupos e conduzir a resultadosequivocados (BUSSAB; MIAZAKI; ANDRA-DE, 1990).

Segundo o mesmo autor, quando o númerode variáveis envolvidas no estudo é grande, a pon-to de dificultar a análise, deve-se procurar reduziro seu número até o limite de não causar prejuízo

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 93

quanto à relevância de poder de discriminação dosgrupos. Em último caso, pode-se recorrer à análi-se de componentes principais e à análise fatorialpara reduzir a dimensão da matriz de dados.

ii) Obtenção e tratamento dos dados

A obtenção dos dados segue o procedimen-to amostral, conforme definido anteriormente.Uma vez obtida a amostra, constrói-se a matrizde dados que indica os valores das característi-cas (variáveis) por objeto(s) de interesse. Nestamatriz, convenciona-se dispor os n objetos naslinhas e as p variáveis nas colunas, ou seja, a matrizde dados brutos tem a seguinte disposição:

X1

X2

... Xp

=

npnn

p

p

x xx

xxx

x... xx

O

O

O

X

...21

2...2221

11211

3

2

1

Normalmente agrupam-se objetos semelhantessegundo as suas características ou variáveis, maspode-se também agrupar variáveis segundo os va-lores apresentados por cada objeto. Por exemplo,o objeto pode ser produtor e a variável de interessenível de renda familiar (renda do empresário) ou oobjeto pode ser nível de renda familiar e a variávelprodutor. A característica pode ser também a mes-ma, mas associada a objetos distintos implicandoem significado bem diferente no agrupamento. To-mando-se o exemplo anterior, pode-se chamar deobjeto a família e a variável de interesse, nível derenda da família (remuneração do empresário).

Quando as variáveis têm unidades de medidasdistintas, às vezes é importante que se efetue a homo-geneização, a fim de evitar dificuldade de interpreta-ção do conceito de homogeneidade. Neste caso, aose agruparem as observações, faz-se necessário quetodas as variáveis sejam convertidas para um únicoíndice de similaridade, pois a contribuição de cada va-riável é função tanto de sua escala de mensuração quantodas demais variáveis. Para reduzir o efeito de escalasdiferentes surgiram várias propostas de relativização

de variáveis (BUSSAB et alii, 1990). Uma das trans-formações mais comuns é subtrair a média (x ) de cadaobservação (x

i) e dividir pelo respectivo desvio pa-

drão (s). Matematicamente tem-se:

sxx

z ii , i = 1,2,..., n.

Esta transformação faz com que os dados te-nham média zero e variância unitária, além de res-tringir todas as variáveis ao mesmo peso, ou seja,mesmo grau de agrupalidade.

Assim, obtém-se a matriz de dados relativiza-dos (padronizados) Z,

npnn

p

p

zzz

zzz

zzz

Z

...

.

.

...

.

.

.

.

...

...

21

22221

11211

No presente estudo, dispensa-se a transforma-ção pelo fato de todas as variáveis assumirem valo-res zero ou um.

iii) Escolha de critérios de semelhança e desse-melhança

Uma vez obtida a matriz de dados transforma-dos, escolhe-se agora um coeficiente de semelhançao qual mede a distância entre dois objetos visando aquantificar o quanto eles são semelhantes. Neste caso,quanto maior o valor deste coeficiente mais pareci-dos são os objetos. Interpretação inversa se dá aocoeficiente de dessemelhança (objetos menos pare-cidos). O coeficiente de correlação pode ser usadocomo medida de semelhança, enquanto que a distân-cia euclidiana é um exemplo de dessemelhança.

De um modo geral, estes coeficientes são cria-dos na intenção de moldar situações especiais deinteresse do pesquisador; daí a existência de umasérie ampla de tais medidas.

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 200394

Neste estudo, como se trata de variáveis quali-tativas nominais, caso em que os critérios envolvi-dos são todos do tipo binário (sim ou não), paracada prática agrícola selecionada e utilizada peloprodutor, atribui-se um peso de valor igual a 1(um),e 0 (zero) para a não utilizada. Desta forma, consi-dera-se que cada uma das práticas listadas tem igualimportância na definição dos níveis tecnológicos.

iv) Aplicação da técnica de agrupamento

Esta etapa inicia-se pela formação da matriz dedistância que é formada pelos coeficientes de se-melhanças, ou seja, coeficientes que indicam a pre-sença da característica, definida pelo número depráticas tecnológicas recomendadas, que são real-mente utilizadas pelo pecuarista.

Assim, como em Cavalcanti et al (1998), a de-finição de cada grupo, delimitado pelo nível tecno-lógico, resulta da relação entre o uso efetivo daspráticas adotadas pelo produtor e o número totalde práticas agrícolas selecionadas ou propostas,conforme explicitadas na etapa inicial.

Uma questão complicada, neste tipo de estudo, édeterminar quantos grupos homogêneos existem nosdados. Assim sendo, para a delimitação dos grupos deprodutores, faz-se uso do cálculo da média aritméticaassociando-se o desvio padrão como medida de varia-bilidade das observações em torno deste valor médio.

v) Caracterização dos grupos em sistemas ho-mogêneos de produção

Esta etapa consiste na especificação das ca-racterísticas peculiares a cada grupo homogêneoresultante da análise de agrupamento. Mostram-seas variáveis que entram na formação de cada siste-ma, assim como seus níveis de participação. Nãoexiste um padrão numérico definido para que sepossa comparar se o grupo definido é muito ou pou-co semelhante ao padrão. O conhecimento do pro-cesso, a familiaridade com o sistema de produção eas grandezas envolvidas é que irão ajudar na for-mulação dos grupos.

Os grupos homogêneos são aqui representa-dos de acordo com o número ou percentagem depráticas tecnológicas empregadas, independente dese são as mesmas ou não, pois toma-se por pressu-posição que cada prática presta igual contribuiçãopara a formação de cada nível tecnológico.

Finalmente, procede-se à avaliação e interpreta-ção à luz dos objetivos e dos resultados produzidos.

As análises estatísticas são efetuadas usando-se planilhas eletrônicas em EXCEL. Por meio desteaplicativo calculam-se as tabelas de freqüências paraclassificar, hierarquizar e confrontar os dados e in-formações.

2.5.2 - Avaliação econômica

Segundo Reis (apud MOURA, 1995), é atra-vés da análise econômica e dos resultados monetári-os encontrados em cada atividade que o produtorpassa a conhecer melhor a sua empresa, para tomar,conscientemente, decisões acertadas e ver o seu es-tabelecimento agropecuário como um negócio.

Assim, de acordo com a discussão apresenta-da, define-se a seguinte expressão para o cálculoda Renda Bruta:

=

n

i

PiQiRB1

onde:

RB = renda bruta da produção pecuária (nocaso, caprinos e ovinos);

Pi = preço ao produtor do produto i, (i =1,2,...,n);

Qi = quantidade produzida do produto i.

O Custo Operacional Efetivo (COE), ouCusto Variável Total (CVT) de produção, pode serexpresso por:

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 95

= =

+=m

h

r

j

PjQjPhQhCOE1 1

onde:

Ph = preço da diária ou do serviço contratadotemporário h, (h = 1,2,...,m);

Qh = quantidade de mão-de-obra ou do servi-ço contratado temporário h;

Pj = preço do insumo j, (j = 1,2,..., r);

Qj = quantidade do insumo j.

O Custo Operacional Total (COT) é o so-matório do COE e de outros custos operacionaisnão-desembolsáveis que, especificamente, para esteestudo, consideram-se os seguintes itens:

COT = COE + D + MOF

onde:D = depreciação de bens duráveis (rateada) e

animais;

MOF = valor da mão-de-obra familiar empre-gada na atividade.

Por fim, o Custo Total (CT) compreende o COTmais os juros ou a remuneração do capital estável (RC)e a remuneração da terra (RT), pertencente ou não àempresa, colocados à disposição da produção de ovi-nos/caprinos, o que resulta na seguinte expressão:

CT = COT + RC + RT

A partir dos resultados das expressões anteri-ores, alguns indicadores econômicos de rentabili-dade do negócio podem ser calculados.

Inicialmente tem-se a Margem Bruta (MB),absoluta ou em valores monetários, calculada sub-traindo-se da Renda Bruta (RB) o Custo Operaci-onal Efetivo (COE). Assim, tem-se:

MB = RB – COE

A MB indica o que sobra de dinheiro, no curtoprazo, para remunerar os custos fixos.

Em termos percentuais, a Margem Bruta(MBP) pode ser calculada pela seguinte expressão:

100 xCOE

COE)(RBMBP

-=

A MBP representa o resultado, em percenta-gem, que sobra em relação ao custo operacionalefetivo (COE).

A Margem Líquida (ML), absoluta ou em va-lores monetários, também chamada de Lucro Ope-racional é o resultado da diferença da Renda Bruta(RB) e o Custo Operacional Total (COT), ou seja,

ML = RB – COT

A ML mede a lucratividade da atividade no curtoprazo, mostrando as condições financeiras e ope-racionais da atividade pecuária.

Pode-se calcular também a Margem LíquidaPercentual (MLP) da seguinte forma:

100xCOT

COTRBMLP

-=

Essa margem indica a sobra de caixa para co-brir os demais custos fixos e o risco, não computa-dos na presente análise.

O Índice de Lucratividade (IL) mostra a relaçãopercentual entre a Margem Líquida e a Renda Bruta:

100xRB

MLIL =

O IL indica o percentual disponível de rendada atividade, após o pagamento de todos os custosoperacionais, conforme definidos anteriormente.

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 200396

O Lucro (L) é resultante da diferença da Ren-da Bruta do Custo Total. Assim,

L = RB - CT

Uma outra medida bastante útil é a Valori-zação Unitária da Mão-de-obra Familiar (VU-MOF), que é estimada pela divisão da Rendado Trabalho Familiar (RTF) pelo número de di-árias/jornadas ou equivalentes-homens de mão-de-obra familiar (DHF) empregados na ativida-de durante o ano agrícola. A RTF é calculadasubtraindo-se da Renda Bruta (RB) os custosde todos os fatores de produção “exceto” o tra-balho familiar. É uma medida residual, que ex-pressa o valor máximo da diária que a atividadepode pagar pelo trabalho familiar, podendo-secalcular pela expressão:

DHF

RTFVUMOF =

Uma boa medida para se medir o retorno sobreo capital utilizado na atividade é a Taxa de Remune-ração do Capital (TRC), obtida dividindo-se a Ren-da Capital (RC) pelo valor do Capital médio empa-tado (C) durante o ano e multiplicando-se o resulta-do por 100. Em termos matemáticos, tem-se:

100xC

RCTRC =

A renda do capital é estimada pela diferença entrea margem líquida e a remuneração previamente atri-buída à terra (arrendamento da terra), uma vez que arenda familiar (inclusive empresário) já foi incluída.

O valor do capital médio empatado compre-ende a soma de todos os bens em plena utilizaçãona atividade, levantados através de inventário.

Para completar a avaliação e análise, pode-se determinar o Custo Total Médio (CMe) fazen-do-se a divisão do Custo Total (CT) pela quantida-de obtida do produto (Q), ou seja:

QC T

C M e

Segundo Nogueira et al. (2001), alguns cuida-dos devem ser tomados na interpretação dos indi-cadores econômicos aqui apresentados, sob penade se retirarem conclusões equivocadas. Assim sen-do, com respeito à Margem Bruta tem-se:

a) MB > 0 – significa que a RB é superior aoCOE e o produtor pode permanecer na atividade,no curto prazo, se a mão-de-obra familiar for re-munerada;

b) MB = 0 – ocorre quando a RB é igual aoCOE. Neste caso, a mão-de-obra familiar não éremunerada e se o produtor não tem outra ativida-de, não resistirá por muito tempo no negócio;

c) MB < 0 – acontece quando a RB é inferiorao COE. Significa que a atividade está resultandoem prejuízo, visto que não cobre nem os desembol-sos efetivos;

Quanto à Margem Líquida, podem-se fazer asseguintes interpretações:

a) ML > 0 – significa que a RB é superior aoCOT e o produtor pode permanecer na atividadeno longo prazo;

b) ML = 0 – ocorre quando a RB é igual aoCOT. Neste caso, as depreciações e a remunera-ção da mão-de-obra familiar estão sendo cobertas,mas o capital não foi remunerado;

c) ML < 0 – acontece quando a RB é inferiorao COT. Significa que alguns dos fatores de produ-ção não estão sendo remunerados e o produtor en-contra-se em processo de descapitalização.

No caso do Lucro, as conclusões são as seguintes:

a) Lucro > 0 – lucro supernormal. A atividade estáremunerando todos os fatores de produção e ainda estágerando uma “sobra” que varia com a produção;

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 97

b) Lucro = 0 – lucro normal. A atividade estáremunerando todos os fatores de produção, inclu-sive a mão-de-obra familiar e administrativa, a terrae o capital;

Lucro < 0 – prejuízo. Este caso não requer,necessariamente, prejuízo total, pois se a ML formaior do que zero, significa que a atividade está re-munerando a mão-de-obra familiar, as depreciaçõese, até mesmo, parte do capital empatado.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente é feita a tipificação dos sistemasde produção. Em seguida, procede-se à caracteri-zação dos produtores de ovinos e caprinos de acor-do com os sistemas identificados nos Municípios deTauá e Morada Nova, no Estado do Ceará. Final-mente, efetua-se análise econômica dos três siste-mas de produção identificados no presente estudo.

3.1 - Tipificação dos Sistemas de Produção

Inicialmente, chama-se a atenção para o fatode que o modelo de tipificação aqui utilizado seenquadra melhor em situação de uma amostra re-lativamente pequena, pois caso contrário muitotempo exigirá do pesquisador para a obtenção doobjetivo em foco.

Aplicando-se a presente metodologia, tudocomeçou com a intenção de estudar os produto-res de ovinos e caprinos no objetivo de agrupá-los em níveis tecnológicos de produção, tomando-se por base o nível tecnológico proposto pelosórgãos de pesquisa, em que várias práticas sãodefinidas como de adoções obrigatórias, neste casotrinta e duas, para que o produtor tenha sucessona atividade (TABELA 2)2.

2 O nível tecnológico proposto, aqui referido, pode ser en-contrado em EMBRAPA (1989) em nível tecnológico 3,apesar de ser do conhecimento amplo de que outros indi-cadores, refletindo melhor nível tecnológico do que o pre-conizado no referido documento, já estão disponíveis emestudos isolados da própria EMBRAPA/CNPC e da Uni-versidade Federal do Ceará.

Após a listagem dessas práticas, procedeu-sea tabulação dos dados primários identificando oprodutor que faz uso de cada recomendação tec-nológica. Em seguida, depois de contabilizadas aspráticas empregadas, fez-se o enquadramento decada produtor, tomando-se por base o número ouo percentual das práticas adotadas relativamente aototal preconizado pelo nível tecnológico considera-do como o melhor, conforme exposto na seção deprocedimentos metodológicos.

A delimitação dos produtores em grupos exigiua fixação de parâmetros que envolveu uma certaarbitrariedade, mas uma boa dose de discernimen-to foi fundamental nesta etapa. Assim sendo, paraevitar as distorções e objetivando contemplar a ho-mogeneidade dos produtores no uso das técnicasde produção, a opção encontrada foi tipificar to-mando-se por base a média (x ) e o desvio padrão(s) das práticas adotadas nos municípios, de formaque se obteve um grupo inferior formado por cria-dores que se situam abaixo da média menos o des-vio padrão ( sx − ), um grupo intermediário delimi-tado pela média mais/menos o desvio padrão( sx +_ ), um terceiro grupo compreendido acima damédia mais o desvio padrão ( sx + ) até o limite má-ximo de 22 práticas realmente utilizadas. Um quar-to grupo, que seria formado por indivíduos da faixasuperior (23 a 32 práticas) é vazio, ou seja, nenhumprodutor se enquadra neste intervalo.

Após esta análise, os produtores são finalmen-te agrupados em três tipos diferentes de sistemasde produção em uso na pecuária ovina e caprina doCeará. Estes sistemas são batizados, em ordemcrescente de número de práticas tecnológicas usa-das, de nível I, nível II e nível III (TABELA 3). Osprodutores que utilizam 10 práticas ou menos situ-am-se em um nível tecnológico considerado de “altadefasagem tecnológica“, entre 11 e 16, têm níveltecnológico de “regular defasagem tecnológica”,entre 17 e 22, têm nível tecnológico de “baixa defa-sagem tecnológica”. O alcance de 32 práticas clas-sifica-se na situação de “alto nível tecnológico”, oumelhor, no patamar tecnológico proposto pelos ór-gãos de pesquisa voltados para o desenvolvimentoda ovinocaprinocultura nordestina.

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ar. 200398

Tecnologia

TABELA 2DISTRIBUIÇÃO DOS OVINOCAPRINOCULTORES QUE ADOTAM AS PRÁTICAS TECNOLÓGICAS PROPOSTAS POR NÍVEL NOS

MUNICÍPIOS DE TAUÁ E MORADA NOVA, ESTADO DO CEARÁ, 2000.

Adotantes

Nível I Nível II Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível IIINº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Tauá Morada Nova Total

1.GERENCIAMENTO

DO PRODUTOR

Assistência técnica

Mecanismos de gerenciamento

Anotações zootécnicas

2.CARACTERIZAÇÃO DA

PROPRIEDADE

Raças melhoradas (ovinos)

Raças melhoradas (caprinos)

Divisão de pastagem

Aprisco

Curral coberto

3.MANEJO DO REBANHO

Suplementação com volumoso

Suplementação c/ração concentrada

(ovino)

Suplement. com ração concentrada

(caprino)

Fornece sal/minerais ao rebanho

Critério utilizado para a seleção do

rebanho

Faz separação das crias

Tipo de monta (controlada)

Faz separação por sexo

3

0

0

2

0

1

0

0

0

3

1

3

0

0

0

0

75,00

-

-

50,00

-

25,00

-

-

-

75,00

25,00

75,00

-

-

-

-

4

0

2

3

1

4

1

1

2

7

2

7

4

5

2

3

2

5

7

7

5

4

4

7

3

5

4

7

6

3

3

3

0

0

0

6

0

5

4

5

1

2

0

5

0

0

0

1

5

1

1

6

0

5

2

6

4

4

3

4

4

1

0

1

6

5

6

6

2

5

5

6

2

5

3

7

7

3

2

1

3

0

0

8

0

6

4

5

1

5

1

8

0

0

0

1

9

1

3

9

1

9

3

7

6

11

5

11

8

6

2

4

8

10

13

13

7

9

9

13

5

10

7

14

13

6

5

4

57,14

-

28,57

42,86

14,29

57,14

14,29

14,29

28,57

100,00

28,57

100,00

57,14

71,43

28,57

42,86

28,57

71,43

100,00

100,00

71,43

57,14

57,14

100,00

42,86

71,43

57,14

100,00

85,71

42,86

42,86

42,86

-

-

-

85,71

-

71,43

57,14

71,43

14,29

28,57

-

71,43

-

-

-

14,29

83,33

16,67

16,67

100,00

-

83,33

33,33

100,00

66,67

66,67

50,00

66,67

66,67

16,67

-

16,67

85,71

71,43

85,71

85,71

28,57

71,43

71,43

85,71

28,57

71,43

42,86

100,00

100,00

42,86

28,57

14,29

27,27

-

-

72,73

-

54,55

36,36

45,45

9,09

45,45

9,09

72,73

-

-

-

9,09

69,23

7,69

23,08

69,23

7,69

69,23

23,08

53,85

46,15

84,62

38,46

84,62

61,54

46,15

15,38

30,77

57,14

71,43

92,86

92,86

50,00

64,29

64,29

92,86

35,71

71,43

50,00

100,00

92,86

42,86

35,71

28,57

(continua...)

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ar. 200399

Tecnologia

TABELA 2DISTRIBUIÇÃO DOS OVINOCAPRINOCULTORES QUE ADOTAM AS PRÁTICAS TECNOLÓGICAS PROPOSTAS POR NÍVEL NOS

MUNICÍPIOS DE TAUÁ E MORADA NOVA, ESTADO DO CEARÁ, 2000.

Adotantes

Nível I Nível II Nível I Nível II Nível III Nível I Nível II Nível IIINº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

Morada Nova Tauá Total

Faz marcação com brinco

Critério para primeira monta

Detecção do cio no rebanho

Faz castração dos animais

Limpa/desinfecção do curral

Corta e desinfeta o umbigo

Vacinação

Combate piolho/carrapato

Vermifugação

Vermifugações recomendadas

(vezes/ano)

Medicamentos caseiros

4.DESEMPENHO DOS REBANHOS

Idade média da desmama

Idade média do 1o parto

Intervalo entre partos

Número de partos/ano

Taxa de mortalidade

0

0

0

0

0

1

0

0

3

1

3

4

2

2

1

2

-

-

-

-

-

25,00

-

-

75,00

25,00

75,00

100,00

50,00

50,00

25,00

50,00

1

1

1

5

2

5

0

0

6

2

1

5

0

6

5

3

2

3

0

6

2

6

2

2

6

2

1

4

2

6

2

4

0

0

1

4

0

1

3

0

5

0

3

0

0

0

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(conclusão)

FONTE: Dados da pesquisa.

Nível III

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003100

O nível tecnológico I, denominado de sistemade produção com “alta defasagem tecnológica”,compreende aqueles produtores que, em referên-cia ao total, empregam menos de 11 práticas re-comendadas. Observa-se que, em Tauá e Mora-da Nova, estes valores são de apenas 8,50 e 6,86práticas, respectivamente; a média de práticas ado-tadas nesses municípios perfaz 7,45 das recomen-dações tecnológicas.

O nível II, indicado como de “regular defasa-gem tecnológica”, enquadra-se entre 11 e menosde 17 práticas. Verifica-se que se situa em tornode 13, de um total de 32, o número médio dasrecomendações tecnológicas, realmente, adotadaspelos ovinocaprinocultores.

O nível III, atribuído como sendo de “baixadefasagem tecnológica”, está compreendido no in-tervalo de 17 a menos de 23 práticas. Constata-seque mesmo para este nível, o melhor observado, onúmero médio de 18,29 práticas adotadas, em re-ferência às 32 apontadas, é de causar preocupa-ção. Sabe-se que a melhor forma de tornar exeqüí-vel e economicamente viável uma propriedade é atra-vés do uso de tecnologia apropriada, capaz de ge-rar alto rendimento e, por conseguinte, suficienteexcedente para o mercado com o objetivo de trans-formá-lo em renda para o produtor.

Reforçando as afirmações de Lacki (1995),em definindo-se por uma tecnologia, a execuçãodessa alternativa tecnológica deve ser de formaeficiente, oportuna e integral. Se aplicada em con-junto, no momento oportuno e em forma corretaobtêm-se os resultados esperados. A aplicação datecnologia de forma parcial ou de maneira incor-reta, a exemplo de usar um medicamento de formaequivocada ou executar as práticas de manejo forada época, são importantes causas, nem semprepercebidas e reconhecidas, do baixo desempenhode grande parte dos ovinocaprinocultores nordes-tinos. Não é suficiente adotar as recomendaçõesde gerenciamento se não se fazem as práticas demanejo corretamente; não é suficiente aplicar va-cinas ou vermífugos se não são feitas no momento

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 101

adequado e nas doses certas. Tudo ocorre à se-melhança de uma corrente: de pouco serve umacorrente forte se um dos seus elos é fraco; na tec-nificação da agropecuária, a existência de um, oumais de um, elo débil pode anular o efeito fortale-cedor dos demais; assim, faz-se necessário quetodos os elos sejam robustecidos.

Diante do exposto, observa-se que a tecnolo-gia recomendada vem sendo usada sob a formaparcial, pois em relação ao nível tecnológico IV, sis-tema identificado como sendo o apropriado ou dealto padrão tecnológico, não se encontrou, na pre-sente pesquisa, nenhum produtor enquadrado nes-se sistema. Verifica-se que perfaz 22 o número má-ximo de práticas propostas que são adotadas.

3.2 - Caracterização dos Sistemas deProdução

Uma vez tipificados os sistemas, retomando-seas informações da TABELA 2, passa-se a efetuar acaracterização de cada um deles de forma sucinta.

3.2.1 - Nível I � alta defasagemtecnológica

· Gerenciamento do Produtor

Assistência técnica precária, sob a forma es-porádica ou eventual. Mecanismos de gerenciamen-to, tais como fichas de controle, caderno, livro deregistros não são utilizados. Nenhum controle zoo-técnico, a exemplo de marcação com brinco, ca-lendário de vacinação, controle de reprodução e re-gistros de despesa e receita, é realizado.

· Caracterização da Propriedade

Os ovinos têm padrão genético que se aproxi-ma das raças puras, enquanto que os caprinos sãode raça não-definida (SRD). A divisão de pastagem(caatinga nativa) como suprimento alimentar não se-gue as técnicas adequadas, ou seja, não obedece anenhum manejo zootécnico apropriado de rotaçãoou de manejo de formação da caatinga; o critério deretirada dos animais de uma manga para outra obe-

dece à maior disponibilidade de alimento. Apriscossão pouco encontrados. Existe, com certa regulari-dade, curral com área coberta sem divisões.

· Manejo do Rebanho

Neste nível tecnológico, o manejo ainda é bas-tante deficiente, caracterizado pela ausência de prá-ticas importantes necessárias ao criatório dos reba-nhos ovino e caprino. A suplementação alimentarcom volumoso é rara, enquanto que a suplementa-ção com concentrado (principalmente milho e algo-dão) é feita no período seco, apenas para os ovinosmais debilitados. O fornecimento de sal/minerais aorebanho já é uma prática bastante arraigada. Ne-nhum produtor faz a separação das crias logo apóso nascimento, por um período de 72 horas, paraacompanhar a ingestão do colostro, nem as man-têm presas por três semanas. Critérios de seleçãodo rebanho com base na produção, conformação,reprodução e tamanho dos animais, objetivando omanejo reprodutivo, não são adotados, pois a montaé natural não- controlada, não é feita a separaçãopor sexo, o que favorece a promiscuidade e a con-seqüente consangüinidade, acarretando a reduçãodo porte, da fertilidade, da sobrevivência das criase o aparecimento de taras genéticas (prognatismo,intersexo, hérnia, etc.) no rebanho. Além disso, nãoexiste marcação do animal com brinco, nenhum cri-tério é utilizado para a primeira monta do animal ebaixas são as freqüências de detecção do cio e cas-tração do animal. Quanto ao aspecto de manejo sa-nitário/profilático, a limpa do curral é feita em tornode 2 vezes por ano, muito abaixo do recomendável;o corte e a desinfecção do umbigo são ações quasedesprezadas; vacinação não é feita; e combate aopiolho/carrapato, assim como profilaxias/tratamen-tos relativos a outras doenças não são realizados. Avermifugação é uma rotina bastante difundida, em-bora o número médio de vezes (2,50 por ano) queé ministrado o vermífugo esteja aquém do recomen-dável, que é de quatro vezes por ano. O uso demedicamento caseiro é bem difundido nesse nível.Sabe-se que os efeitos desses medicamentos nocombate às enfermidades ainda são permeados deconotações duvidosas quanto à eficácia, dada a fal-ta de pesquisas científicas nessa área.

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003102

· Desempenho do Rebanho

Os índices zootécnicos encontrados para estenível tecnológico podem ser considerados insatisfa-tórios, pois a idade média de desmama, quando éfeita, se verifica, em média, ao redor dos 143 dias,quando o referencial é de 120 dias. A idade médiado primeiro parto, aos 13 meses, se enquadra den-tro dos padrões tecnológicos aceitáveis, enquantoque o intervalo entre partos (7,25 meses) supera oíndice ideal de menos de 6 meses. Em decorrênciadesse fato, o número de partos por ano, estimadoem 0,87, situa-se abaixo do que preconiza a pes-quisa, ou seja, 1,2 a 1,5 partos/ano. A taxa de mor-talidade de 13,69%, mesmo tratando-se de um re-banho pequeno, o que facilita os cuidados zootéc-nico-sanitários, ainda assim supera o limite ideal de10% ao ano.

3.2.2 - Nível II � regular defasagemtecnológica

· Gerenciamento do Produtor

A assistência técnica, embora não seja perma-nente, é feita para um elevado número de produto-res, sendo prestada, principalmente, pela EMATER-CE e/ou filhos/parentes dos ovinocaprinocultores. Ébastante elevada a freqüência dos produtores que nãofazem nenhum controle administrativo ou zootécnico.

· Caracterização da Propriedade

Para os caprinos, em sua grande maioria, pre-valecem os animais de raça não-definida (SRD),enquanto que para os ovinos, os rebanhos se divi-dem entre animais de raças superiores, dos tiposSanta Inês/Morada Nova, e mestiços sem raça de-finida (SRD). A divisão de pastagem, representadapela caatinga nativa, é feita sob a forma de mangasseparadas. Apriscos quase não são encontrados.Curral coberto existe com certa regularidade, em-bora não seja comum com divisões.

· Manejo do Rebanho

O sistema de alimentação predominante é opasto nativo o ano inteiro. Suplementação alimentar

com volumoso, no período seco, é ministrada comcerta regularidade aos rebanhos, principalmente,para os ovinos. Por sua vez, a suplementação comconcentrado (milho, algaroba, mandioca, ração ba-lanceada, etc.), no período seco, é uma prática bas-tante utilizada, notadamente para matrizes em ama-mentação, borregos, alguns animais debilitados eanimais para engorda. O fornecimento de sal e mi-nerais ao rebanho é empregado por, praticamente,todos os produtores. Cerca da metade dos criado-res faz a separação das crias logo após o nascimen-to, objetivando os cuidados necessários. O manejoreprodutivo deixa a desejar, pois a seleção dos ani-mais para reprodução, obedecendo a critérios deprodução, conformação, reprodução e tamanho, éfeita por pouco mais da metade dos produtores en-trevistados; a monta sob a forma natural não-con-trolada assume proporções significativas; a separa-ção por sexo dos animais é realizada por pequenaparcela de produtores; a marcação com brinco, as-sim como critérios com base no peso e idade para aprimeira monta e detecção do cio, são práticas quasedesprezadas; a castração dos animais assume pro-porção elevada. Quanto às ações profiláticas e sa-nitárias, a limpa do curral é feita, em média, 3 vezesno ano, muito abaixo do recomendável, que é umavez por mês no verão e uma vez por semana noinverno. O corte e desinfecção do umbigo dos ani-mais recém-nascidos são efetuados com regulari-dade. Vacinação é pouco utilizada e o combate aopiolho/carrapato não é usado. A vermifugação é feitapor quase todos os produtores; no entanto, ela éministrada, em média, em apenas três doses por ano,ficando, portanto, abaixo do recomendável. A mai-oria dos produtores faz uso de medicamento casei-ro para debelar algumas enfermidades que se mani-festam nos ovinos/caprinos.

· Desempenho do Rebanho

Assim como no nível tecnológico anterior, osíndices zootécnicos, para este nível, são considera-dos insatisfatórios, tendo em vista que a idade mé-dia de desmama é alta e o intervalo entre partos,assim como o número de partos por ano, está forados padrões tecnológicos propostos pela pesquisa.

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003 103

A taxa de mortalidade também supera o índice de-sejável. A idade média do primeiro parto apresentavalor aproximado ao nível tecnológico proposto.

3.2.3 - Nível III � baixa defasagemtecnológica

· Gerenciamento do Produtor

Este grupo de produtores é o que emprega omaior número de práticas consideradas de alto ní-vel tecnológico. O serviço de assistência técnica aoestabelecimento, embora não seja permanente, éutilizado por cerca da metade dos produtores pes-quisados. É elevado o número de produtores queadotam caderno/livro de registro no controle admi-nistrativo, assim como a grande maioria faz anota-ções zootécnicas dos rebanhos.

· Caracterização da Propriedade

Mesmo neste nível, não existe a predominânciade raças de padrões definidos, tais como Santa Inês,Rabo Largo e Morada Nova (ovinos) e Anglo-Nu-biana e Saanen (caprinos) sobre os animais sem ra-ção definida (SRD). Existe, sim, uma distribuiçãoum pouco a favor do ovino Santa Inês e dos capri-nos Anglo-Nubiana e Saanen. A divisão de pasta-gem, principalmente da caatinga nativa, é feita sob aforma de mangas, sem obedecer à “rotação” no ri-gor zootécnico. Mais da metade dos produtoresdispõem de apriscos do tipo chão batido, com al-gumas divisões. Curral coberto, muitas vezes asso-ciado ao aprisco, é muito freqüente neste nível.

· Manejo do Rebanho

O sistema de alimentação predominante é o pas-to nativo o ano inteiro. Diferentemente do nível tecno-lógico II, neste nível os caprinos se destacam em ter-mos de suplementação alimentar com volumoso noperíodo seco. A suplementação com ração concentra-da também é uma prática bastante empregada pelosprodutores de ovinos e caprinos, dada a escassez depastagem no período seco, que normalmente compre-ende os meses de agosto/setembro a dezembro. Ofornecimento de sal e minerais ao rebanho é emprega-

do por todos os produtores. Cerca da metade doscriadores faz a separação das crias logo após o nasci-mento, objetivando efetuar os cuidados necessários. Éalta a freqüência dos produtores que se preocupamcom a seleção do rebanho objetivando a reprodução.No entanto, a monta sob a forma natural não- contro-lada assume proporções significativas. A separação porsexo e a marcação com brinco são feitas por pequenaparcela dos produtores. Sobre o critério utilizado paraa primeira monta, mais da metade dos ovinocaprino-cultores não tem critérios. A detecção do cio é umaação quase desprezada. A castração dos animais, es-sencialmente na intenção de produção e não de evitara reprodução sem controle, assume proporção eleva-da. No que diz respeito às práticas profiláticas e sani-tárias, a limpa do curral é feita, em média, 7 vezes noano. O corte e desinfecção do umbigo dos animaisrecém-nascidos são operações realizadas por qua-se todos os produtores. Vacinações, principalmen-te contra febre aftosa e raiva, são efetuadas apenaspor alguns produtores. Tratamentos relativos ao pi-olho e carrapato ou contra outras doenças são poucofreqüentes Quase todos produtores fazem vermifu-gações nos rebanhos, sendo ministradas, em mé-dia, apenas três doses por ano, quando o ideal seriaquatro doses. A utilização de medicamento caseiroé verificada com regularidade.

· Desempenho do Rebanho

Os índices zootécnicos, a exemplo da idademédia de desmama, da idade média do primeiroparto, do intervalo entre partos, do número de par-tos por ano e da taxa de mortalidade, guardamproporções aceitáveis comparáveis aos valoresideais ou propostos.

3.3 - Avaliação Econômica

3.3.1 - Renda bruta

Na TABELA 4, relacionam-se os valores re-lativos à renda bruta calculada para os três níveistecnológicos (ou sistemas de produção) conside-rados. Estes valores refletem os preços ao pro-dutor, na “porteira da fazenda”, relativos ao mêsde dezembro/2000.

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Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 34, n. 1, jan-mar. 2003104

O detalhamento dos itens de renda bruta paracada nível tecnológico encontra-se em Campos eGuimarães (2001). Assim sendo, no cômputo darenda foram considerados todos os animais ven-didos (para abate, recria, venda da carne, recém-nascido e reprodutor), o autoconsumo, a vendade pele e esterco.

As rendas médias anuais dos dois municípiossão de R$ 1.377,63, R$ 3.418,15 e R$ 10.278,79para os níveis I, II e III, respectivamente. Desta for-ma, conclui-se que houve ganhos adicionais de ren-da à medida que se observa a progressão de umsistema de produção pouco tecnificado para ummais tecnificado.

A composição de três grupos de produtores, queformam sistemas de produção diferentes, indica queexiste heterogeneidade na produção, mesmo dentrodos estratos de pequeno, médio e grande ovinocapri-nocultores. Existe grande produtor, aqui consideradocomo aquele que se destaca por apresentar maior ta-manho da propriedade, maior rebanho, maior estoquede capital e contratar maior volume de trabalho, quese assemelha ao médio e, em alguns casos isolados, aopequeno. Da mesma forma, encontra-se médio pro-dutor mais tecnificado do que o grande. Daí a relevân-cia do presente estudo, ao servir como subsídio para aseparação de grupo de produtores, objetivando açõesdiferenciadas dos órgãos de apoio à produção. Umoutro ponto importante é a relação que se faz entre aadequação da tecnologia e a rentabilidade observada.

3.3.2 - Custos

Na TABELA 4, relacionam-se, além da rendabruta, os custos de produção distribuídos em custooperacional efetivo (COE), custo operacional total(COT) e as remunerações pré-atribuídas à terra eao capital que entram no cômputo do custo total deprodução (CT). A remuneração do trabalho do pro-prietário do estabelecimento3 e da família dele, jun-

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3 A remuneração normal ou pré-atribuída “específica” parao empresário não foi considerada por se tratar de produto-res que empregam a maior parte do tempo em atividadesnão-empresariais. Desta forma, a remuneração do empre-sário, neste caso o chefe da família, foi calculada conjunta-mente com a dos demais membros da família.

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tamente com a depreciação, constituem o que sedenomina de outros custos operacionais. O perío-do de valoração dos custos é o mesmo da renda.

Os custos, detalhados segundo a composiçãode cada nível tecnológico, encontram-se em Cam-pos e Guimarães (2001). Foram considerados osseguintes itens de custos: ração, sal comum, salmineral, vermífugo, vacinas, medicamentos, mão-de-obra contratada, manutenção do capital, de-preciação e mão-de-obra familiar. A despesa desuplementação com volumoso não foi calculada,dada a dificuldade manifestada pelo produtor emfornecer dados quantitativos diários ou mensais desuprimento e de preço desse insumo. Impostos, aexemplo do Imposto Sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços (ICMS), e despesas de trans-porte também não foram levados em conta, por setratar da venda do animal no “portão da fazenda”,portanto, com os impostos a cargo do comprador.

Uma dificuldade normalmente encontradaneste tipo de estudo é a de isolar as despesasque são comuns às várias atividades. Caso nãose leve em conta esta particularidade, os resulta-dos finais que se apresentam serão carregadosde equívocos. Diante desta situação, as despe-sas que eram comuns à empresa como um todoou a determinadas atividades foram rateadas pelocritério da renda bruta. Assim sendo, as despe-sas de manutenção e depreciação foram ratea-das proporcionalmente ao valor da produção dosrebanhos bovino, ovino e caprino dos municípiosem estudo. Desta forma, Morada Nova, por seruma bacia leiteira, com alto valor da produçãodo rebanho bovino, absorve a maior parte do ra-teio (96,57%), destinando-se aos rebanhos ovi-no e caprino o percentual somado de 3,43% da-quelas despesas. Para Tauá cabe o percentual derateio equivalente a 9,46%, em decorrência dopouco maior valor da produção dos rebanhosovino e caprino nesse município.

Feitos os ajustes necessários, percebe-se queo COE cresce do nível menos tecnificado para omais tecnificado em ambos municípios. Em média

este acréscimo é de 23,12% do nível I para o nívelII e de 103,61% deste nível para o nível III.

O CT do nível II em relação ao nível I aumenta em26,60%; do nível II para o nível III acresce em 74,02%.

Como remuneração ao fator de produção ter-ra, considera-se o preço médio de arrendamentode R$ 12,50 cobrado por hectare nos dois municí-pios. Além disso, para cada nível tecnológico, cal-cula-se a remuneração da terra tomando-se por baseo rebanho médio de cada nível e a capacidade mé-dia de suporte, levantada junto aos produtores, de15 animais por hectare no verão. As remuneraçõesà terra apresentam acréscimos médios de 136,12%,quando se passa do nível I para o nível II, e de129,30% do nível II para o nível III.

A remuneração do capital foi calculada atribu-indo-se uma taxa de juros de 8% ao ano sobre ovalor do capital mais diretamente associado à ativi-dade. Desta forma, casa-sede, armazém, culturaperene e veículo de uso da família não foram remu-nerados. O acréscimo do nível II relativamente aonível I é de 113,28%, e do nível III proporcional-mente ao nível II é de 232,86%.

Os produtores do nível III, com maiores encar-gos de juros (R$ 559,83/ano), são também os queadotam melhores tecnologias de produção, normal-mente são detentores de maiores propriedades de ter-ra e de rebanhos, além de possuírem o maior estoquede capital empatado na atividade e contratarem maiorcontingente de mão-de-obra, como já referido.

A remuneração normal ao trabalho familiar, in-clusive do proprietário chefe da família, foi calcula-da considerando-se o número de dias/homem tra-balhados ou ocupados com os rebanhos ovinos e/ou caprinos na unidade de produção e o valor dadiária local, em média, de R$ 5,00. Para os doisMunicípios, o número médio de dias/homem traba-lhados no ano é de 144,48, 129,82 e 101,03 paraos grupos I, II e III, respectivamente.

O custo total, a exemplo do COE e do COT,cresce à medida que se sai do grupo de produtores

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menos tecnificados para os mais tecnificados. Estefato já era esperado, em razão de o produtor donível I ser detentor de menor volume de capital cons-tituído por animais, benfeitorias, máquinas e equi-pamentos. O valor total médio relativo ao custo to-tal é de R$ 1.850,00 para o nível I, R$ 2.342,17para o nível II e de R$ 4.075,99 para o nível III.

3.3.3 - Indicadores de rentabilidade

A TABELA 5 apresenta os indicadores de re-sultado econômico ou indicadores de rentabilida-de utilizados neste estudo. Inicialmente, tem-se quea margem bruta da atividade relativa ao nível I énegativa da ordem de R$ 196,02 para o municípiode Tauá e positiva com valor de R$ 1.159,36 parao município de Morada Nova, compondo um va-lor médio de R$ 481,67 nos dois municípios. Essaquantia representa o que sobra em dinheiro, nocurto prazo, para remunerar os custos fixos, taiscomo a depreciação de benfeitorias, máquinas,equipamentos, reprodutores, o trabalho do pro-dutor e da família e os juros sobre o capital e aterra utilizados na atividade (ovinocaprinocultura).

Diante do exposto, constata-se que, em Tauá,o nível tecnológico de produção I é inviável, poisa margem bruta demonstra prejuízo da atividade,visto que não cobre nem os custos desembolsá-veis ou efetivos (ração, sal comum e mineral, ver-mífugos, vacinas, mão-de-obra contratada e ma-nutenção de benfeitorias, máquinas e equipamen-tos). Em Morada Nova a margem bruta positivade R$ 1.159,36 supera a remuneração normal dotrabalho familiar, calculada, segundo levantamentoda pesquisa, em R$ 532,30 (106,46 d/h x R$5,00/dia) significando que o produtor pode per-manecer na atividade.

Para facilitar a interpretação, foram calculadasmargens brutas percentuais (MBP). A MBP corres-pondente ao nível tecnológico I, em Tauá, significaque 15,61% do custo operacional efetivo (COE) daatividade está a descoberto, ou melhor, está sendopago por outra(s) atividade(s), já que se constitui emcustos realizados. Ao contrário, a MBP de Morada

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Nova, para o mesmo nível tecnológico, supera o COEem pouco mais de 2 vezes.

Considerando-se que 2000 foi um ano de regi-me pluviométrico normal em Tauá, pode-se admitirque a margem bruta negativa encontrada para estenível tecnológico representa um fato comum e che-ga-se a imaginar a situação de debilidade da ativida-de em face dos níveis II e III de melhores padrõestecnológicos.

A margem líquida (ML) que, neste caso, repre-senta a sobra para fazer face às remunerações, à ter-ra e ao capital, é negativa, da ordem de R$ 1.237,61ou 53,88% para o nível tecnológico I e positiva emvalor suficiente para cobrir o COE, as depreciaçõese a remuneração da mão-de-obra familiar nos níveistecnológicos II e III em Tauá. Em Morada Nova, aML é positiva para os três níveis tecnológicos identi-ficados, porém com valor (R$ 505,29) muito baixono nível tecnológico I.

Uma ML negativa pode, num primeiro momen-to, desacelerar a acumulação de capital por não re-munerar os serviços da terra e do capital; num se-gundo momento, pode estancá-la por ser apenas su-ficiente para cobrir as depreciações; e, num terceiromomento, pode conduzir à descapitalização da ativi-dade ou ao subconsumo dos agricultores familiares.

O índice de lucratividade (IL), que indica o per-centual disponível de renda, após o pagamento detodos os custos operacionais, apresenta-se comonegativo da ordem de 116,81% para o nível I emTauá e positivo para os demais níveis. Em MoradaNova, todos os valores apresentam-se positivos. Onível tecnológico III, mais tecnificado, como se ob-serva, vem demonstrando bons indicadores de ren-tabilidade econômica nos dois Municípios estudados.

O lucro (L), que é o que existe após have-rem sido remunerados todos os fatores de pro-dução em uso no processo produtivo, resulta emelevado valor negativo (R$ 1.344,56) para osprodutores que praticam o nível I em Tauá, indi-cando enorme prejuízo da atividade, pois, como

se observa, a ML é também negativa, o que sig-nifica que a atividade não está remunerando amão-de-obra familiar, as depreciações, a terra eo capital utilizado. O nível III, considerado de boarentabilidade, apresenta valores anuais da ordemde R$ 8.201,74 e R$ 4.203,87 em Tauá e Mora-da Nova, respectivamente. Estes lucros, deno-minados de supernormais, propiciam aà ativida-de remunerar todos os fatores de produção e ain-da criar um fundo de reposição suficiente paramanter ou ampliar a infra-estrutura produtiva eefetuar o melhoramento do rebanho.

Considerando-se as condições adversas declima, solo, água e de recursos naturais atinentesao sertão semi-árido nordestino e as poucas op-ções produtivas adaptáveis a esse espaço rural,resulta que a ovinocaprinocultura, em nível maistecnificado, apresenta-se como atividade de boalucratividade para os produtores familiares, prin-cipalmente quando se coteja com outras formasde cultivo ou de criação em uso na Região. Narealidade, dificilmente os produtores encontrari-am um negócio tão rentável quanto este, nestascondições, para aplicar sua terra, seu capital, seutrabalho e manter a sua família.

As unidades de produção caracterizadas poralta defasagem tecnológica, que adotam menornúmero de práticas produtivas melhoradas, nãoconseguem obter um resultado econômico satis-fatório. Neste caso, os esperados efeitos positi-vos virão somente através do equacionamento dosproblemas que entravam o melhor desempenhoda atividade. Neste sistema de produção é pa-tente o baixo nível relativo da infra-estrutura deprodução disponível e somente investimentos fí-sicos e humanos e a adoção de tecnologias ade-quadas podem tirá-lo da inércia do tradicionalis-mo e do atraso.

Prosseguindo na análise dos indicadores, a va-lorização da mão-de-obra familiar (VUMOF), queexpressa o máximo que o produtor (como empresá-rio) pode pagar por este fator de produção, estima-da em R$ -2,37 para o nível I, em Tauá, significa que

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a mão-de-obra da família não é remunerada e aindatoma um prejuízo diário equivalente a este valor. Nosníveis II e III, os VUMOF superam a diária médialocal observada de R$ 5,00 em 2,53 e 26,17 vezes,respectivamente. Em Morada Nova, os VUMOF sãomaiores que a diária local em 1,75, 2,93 e 7,14 ve-zes nos níveis I, II e III, respectivamente.

O nível tecnológico III correspondente a Tauá,regra geral, apresenta melhores indicadores do queo de Morada Nova, a exceção ficando por contada taxa de remuneração do capital (TRC) em razãode o capital médio empatado na atividade, em Tauá,ser 3,27 vezes maior do que em Morada Nova. ATRC, excetuando o nível I de Tauá, mostra-se bas-tante atrativa em todos os outros níveis tecnológi-cos em uso nos dois Municípios.

O nível tecnológico de produção I em MoradaNova, ao contrário de Tauá, mostra resultado eco-nômico positivo para todos os indicadores, emboraseja em valores bem menores do que os proporcio-nados, principalmente, pelo nível III.

Finalmente, apresenta-se o custo médio(CMe), em R$/cabeça, para os três níveis tecno-lógicos identificados. Como se observa, em Tauá,estes valores são da ordem de R$ 96,16, R$ 33,27e R$ 27,27, que podem ser confrontados com ospreços médios de venda de R$ 42,38, R$ 48,15 eR$ 71,00 dos níveis tecnológicos I, II e III, res-pectivamente. Através da análise destes valores,fica clara a razão pela qual o nível tecnológico Iem Tauá apresenta-se inviável. Em Morada Nova,os custos médios são da ordem de R$ 43,20, R$33,23 e R$ 27,00, enquanto que os preços médi-os de venda são de R$ 56,53, R$ 49,23 e R$64,37 nos níveis tecnológicos I, II e III, respecti-vamente. O maior preço médio auferido pelos pro-dutores do nível III prende-se ao fato da venda deanimais para reprodução.

À medida que a produção em Tauá aumentade 25 animais no nível I, para 90 no nível II e 188no nível III, o CMe declina de R$ 96,12 para R$33,27 e, finalmente, para R$ 27,27 nos respectivos

níveis, ou seja, reduz a participação do custo unitá-rio por unidade produzida, dando indicações dehaver economia de escala e, portanto, ganhos deeficiência no sentido da obtenção de produção má-xima, que resulta em lucro máximo. Semelhante com-portamento é observado em Morada Nova.

4 - CONCLUSÕES

Diante dos resultados apresentados, conclui-se que é difícil definir ou caracterizar “um sistematípico”, pois as práticas tecnológicas variam entreprodutores e em função de alguns fatores, tais comoformas de gerenciamento, características da propri-edade, manejo adotado e índices de desempenho,de modo que se podem obter várias combinaçõesde técnicas, que resultam em níveis tecnológicos di-ferenciados com divergentes variações de produ-ção e de produtividade.

Os produtores que compõem os sistemas maistecnificados, que correspondem aos níveis II e III,portanto, capazes de inovar, têm renda superior. Quemnão adota a melhor tecnologia apresenta margens derenda negativas ou muito baixas a ponto de ter quedeixar a atividade. Embora esta decisão seja coeren-te com os princípios econômicos, em tese, esta atitu-de de desistência não se verifica, pois todos os pro-dutores desse nível afirmam pretender continuar naatividade e, especificamente para os produtores deTauá, mesmo operando em prejuízo, 50% têm a pers-pectiva de manter e 50% de expandir o negócio, ja-mais reduzir. As escassas oportunidades de utiliza-ção da terra no sertão semi-árido e o baixo volumede capital disponível, precário em quantidade e qua-lidade, limitam o leque de opções produtivas, dei-xando como opção predominante a pecuária, nor-malmente, extensiva. Aliás, chama atenção o fato quereputo como “um milagre da natureza”, pois nos me-ses mais críticos do ano, de elevada escassez de pas-tagens e de água, mesmo assim os ovinos/caprinosencontram-se em bom estado de abate.

Apesar disto, fica patente que desenvolver o cri-atório de ovinos e caprinos através de sistemas deprodução que empregam baixo nível tecnológico pode

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resultar em fracasso. Em Tauá, no sistema de produ-ção caracterizado por “alta defasagem tecnológica”,a atividade dá prejuízo, enquanto que em MoradaNova a margem líquida de renda é muito baixa, cer-ca de R$ 42,00 por mês. Mesmo no nível tecnológi-co de produção II, atribuído como sendo de “regulardefasagem tecnológica”, a referida margem, em mé-dia, situa-se ao redor de R$ 109,06, portanto, invia-bilizando a criação de ovinos/caprinos como ativida-de isolada ou especializada no estabelecimento. Onível tecnológico considerado de “baixa defasagemtecnológica” ou o mais tecnificado apresenta mar-gens líquidas mensais de renda de R$ 773,11 em Tauáe de R$ 378,68 em Morada Nova.

Conclui-se que a tecnologia faz a diferença equalquer que seja o sistema adotado, há um mínimode técnicas a serem programadas, sem as quais aovinocaprinocultura não oferece resultados positivose compensadores. Além disso, concomitantemente àadequada disponibilidade de benfeitorias (apriscos,cercas, currais, etc.), máquinas, implementos, pasta-gens e água no estabelecimento, além de um mínimode recursos financeiros, condicionam a aplicação demelhor tecnologia na produção de ovinos/caprinos.

Indubitavelmente, os principais problemas en-frentados pela ovinocaprinocultura nordestina, nãopercebidos pela maioria dos atores envolvidos, es-tão relacionados a questões tecnológicas, principal-mente no tocante à escolha de raças especializadase de definição de técnicas de manejo produtivo ereprodutivo adequadas, quanto à monta, parição,seleção, profilaxia, sanidade, alimentação e desen-volvimento ponderal, para proporcionar alta pro-dutividade a baixos custos relativos, portanto, ca-paz de fornecer alta rentabilidade no sentido de tor-nar a atividade competitiva no novo ambiente daeconomia globalizada.

A ovinocaprinocultura, apesar de sua abrangên-cia na Região Nordeste e no Estado do Ceará, re-gra geral, é conduzida ainda com pouca expressãoem termos tecnológicos, frente a outras atividadesagropecuárias estaduais e nacionais, pois as tecno-logias melhoradas disponíveis, geradas pela EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

e Universidade Federal do Ceará (UFC), são pou-co divulgadas, concentrando-se em reduzido númerode estabelecimentos. Teve-se a oportunidade deconstatar que, das 32 práticas tecnológicas propos-tas, em média, 7 são usadas no nível tecnológico I,13 no nível II e 18 estão sendo adotadas por pe-queno número de produtores que compõem o níveltecnificado de produção, identificado neste estudo.

Além das dificuldades enfrentadas pelos pro-dutores, dois outros problemas importantes mere-cem ser destacados. Um deles relaciona-se à pes-quisa, que ainda necessita de aperfeiçoamento ouadequação no sentido de gerar raças melhoradasque proporcionem, em curto espaço de tempo, ele-vados ganhos de peso associados a altas rentabi-lidades, objetivando viabilizar a atividade. Um ou-tro se prende ao papel dos órgãos federais e esta-duais responsáveis pela transferência da tecnolo-gia gerada, visto que, apesar do estoque de tec-nologia existente, pouca informação e orientaçãotêm chegado ao produtor, sobretudo as que se re-ferem ao manejo do rebanho e as de ordem eco-nômica, como custos de produção, rentabilidade,mercados, preços, etc.

Assim, a expansão e a tecnificação da ovino-caprinocultura, em prazo menor, dependerá de am-pla divulgação das práticas tecnológicas já existen-tes e, em prazo maior, da geração de tecnologia queharmonize aumento de produtividade com reduçãode custos de produção e aumento de rentabilidade,além de investimentos em marketing enaltecendo aqualidade superior da carne caprina relativamente aoutras carnes (suína, bovina e de galinha) pelo fatode ela apresentar alta digestibilidade, baixo teor ca-lórico e colesterol em baixa densidade.

Abstract

This study aims to identify, characterize andcalculate the economic return of each group of she-eps/goats farmers in the municipalities of Tauá andMorada Nova in Ceará grouped according their te-chnologies and raising practices. The primary datawere gathered through out questionnaire applicati-on. Even though there are several grouping metho-

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ds, a relatively simple technique that produces re-sults like those obtained by Ward’s method is pre-sented.. We found three raising systems named ac-cording to the number of technological practicesapplied in each system: “high technological discre-pancy”, “regular technological discrepancy” and“low technological discrepancy”. The results showedthat none of the farmers made part of the high techno-logical system. We concluded that technology makesthe difference and whatever is the adopted raisingsystem for goat and sheep requires a minimum num-ber of practices to be programmed in order to ensureeconomic return. Besides this, the farmers must havesuitable rural constructions (fences, pens etc.), ma-chinery, tools, grass and water. Moreover, it must haveaccess to financial resources. All these factors wereimportant to allow the application of better technolo-gy in raising sheeps/goats.

Key-Words:

Producers of Sheep – Tauá, Morada Nova –Typology; Producers of Goat – Tauá, Morada Nova- Typology.

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Recebido para publicação em 23.JAN.2002