Ciência e Diversidade
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Ciência e
Diversidade
Profª Drª Maria Geralda de Miranda
Conceitos
Ciência - substantivo feminino
1. conhecimento atento e aprofundado de algo.
2. corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente.
Conceitos
Diversidade - substantivo feminino
O termo diversidade (Verschiedenheit
[alemão]; Diversity [inglês], Diversité
[francês], Diversità [italiano], etc.)
designa a qualidade ou a condição
do que é diverso, as características ou
elementos diversos entre si, que
existem sobre um assunto,
ambiente,objetos etc.
De qual diversidade vamos falar?
Afirma-se que há, atualmente, uma
diversidade de opiniões ou pontos de
vista, diversidade de costumes, hábitos,
comportamentos, crenças e valores,
diversidade sexual, diversidade biológica
ou a biodiversidade, etc. Enfim, diversos
sentidos sobre diversidade.
DE QUAL DIVERSIDADE VAMOS FALAR?
DIVERSIDADE DE OPINIÕES
Crenças e valores, diversidade sexual,
diversidade biológica...
BIODIVERSIDADE
CIÊNCIA Constitui-se crença generalizada que o conhecimento fornecido
pela ciência distingue-se por um grau de certeza alto, desfrutando
assim de uma posição privilegiada com relação aos demais tipos
de conhecimento (o do homem comum, por exemplo).
Teorias, métodos, técnicas, produtos, contam com aprovação geral
quando considerados científicos
Quando a autoridade da
ciência é evocada?
Indústrias, por
exemplo,
frequentemente,
rotulam de
“científicos”
processos por meio
dos quais fabricam
seus produtos, bem
como os testes aos
quais os submetem.
Pesquisa nascentes se autoqualificam
“científicas”, buscando afirmar-se: ciências sociais, ciência
política, ciência agrária, ciências ambientais....
A ciência
ocidental
convive bem
com a diversidade?
Calendário revela
os acurados conhecimentos
de astronomia do povo asteka.
Sistema de escrita asteka;
Códices
.
Cidade Inka, Machu Pitchu
Construção Maia
A ciência convive bem com a diversidade?
O método científico:
Essa atitude de veneração frente à ciência deve-se, em grande parte, ao extraordinário sucesso prático alcançado pela física, pela química e pela biologia...
O METODO CIENTIFICO
Assume-se, implícita
ou explicitamente,
que por detrás desse
sucesso existe um
“método” especial,
uma “receita” que,
quando seguida,
redunda em
conhecimento certo,
seguro.
O modelo de
ciência que herdamos e
que se encontra hoje
representado é um modelo
surgido no Ocidente.
Por suas características, a
ciência ocidental moderna
é considerada como sendo
a única capaz de
descrever o mundo e de
dar a ele um sentido lógico.
Seus princípios, métodos e
técnicas foram levados para
todos os recantos do mundo
e tomados como universais.
Nessa perspectiva, qualquer hipótese ou
interpretação de fatos que não afinem com as ideias
vigentes é ignorada; qualquer tentativa de incluir
explicações criadas fora do rigor científico ocidental,
que fuja da chamada “objetividade”, é banida dos
templos acadêmicos.
De acordo com CHRÉTIEN (1994), há ciência em todas as
sociedades, inclusive nas arcaicas. Segundo ele, a
importância dos estudos etnocientíficos está justamente na
constatação de que toda e qualquer sociedade se esforça
para compreender o mundo a sua volta.
As sociedades tradicionais possuem um conhecimento
apurado sobre o ambiente onde vivem, o que lhes
permite adaptarem-se às condições desse ambiente
(ZWAHLEN, 1996; MORIN-LABATUT, AKHTAR, 1992).
CHRÉTIEN (1994) afirma que o conhecimento dos
povos “primitivos” brota da satisfação das
necessidades básicas da vida, por meio de uma ligação afetiva realizada com a natureza e seus
elementos.
LÉVI-STRAUSS (1962) também afirma que “os
povos ‘primitivos’ constituíram em cima de seu
ambiente natural um saber rigoroso e sistemático,
por meio da classificação coerente dos objetos e
de suas funções”. É o que ele chama de ciência
do concreto, em oposição à ciência do abstrato.
MORIN (1989) assevera que os grupos humanos agem em
termos de suas imagens da natureza e visões de mundo.
Segundo ele, o cérebro humano, mediante a cultura em
que se encontra, tem as mesmas potencialidades, havendo
evidências fortes sobre a existência de universais do pensar.
MORIN (1983) atesta que o conhecimento está ligado
à ativa relação com o mundo exterior. O objetivo da
ciência teórica é, então, levar ao grau mais alto possível e consciente a redução perceptual do caos
(SIMPSON, apud STURTVANT, 1964).
POPPER (1982), no livro Conjecturas e Refutações, diz não haver
fontes últimas de conhecimento.
CHRÉTIEN (1994) corrobora o pensamento de POPPER ao afirmar que
“não há uma única maneira de fazer ciência”.
A ciência ocidental, então, necessita revestir-se de humildade e
abandonar seu etnocentrismo, pois outros modos de percepção e explicação do universo existem para serem estudados.
Para o antropólogo e etnobiólogo DARREL POSEY (1986), o saber das populações indígenas da Amazônia sobre tinturas, óleos, corantes, inseticidas, remédios, comidas, repelentes, essências naturais e muitos outros recursos utilitários forma um banco relativamente inexplorado de novos conhecimentos que os cientistas ocidentais, se destituídos de seu orgulho e etnocentrismo, poderiam aprender com os cientistas indígenas.
Ele enfatiza que o resgate e a valorização dos saberes tradicionais têm implicações na medicina, ecologia e manejo dos recursos naturais (POSEY, 1987
Documento Nosso Futuro Comum
Em 1983 foi criada pela Assembleia Geral
da ONU a Comissão Mundial acerca do
Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD), que foi presidida por Gro
Harlem Brundtland, médica e mestre em
saúde pública, à época primeira-ministra
da Noruega, daí o nome final do
documento: Relatório Brundtland. A
comissão foi criada em 1983, após uma
avaliação dos 10 anos da Conferência de
Estocolmo, com o objetivo de promover
audiências em todo o mundo e produzir
um resultado formal das discussões.
O Documento Nosso Futuro
Comum, ou Relatório
Brundtland, da Comissão
Mundial sobre Meio
Ambiente afirma que o
manejo sustentável dos
recursos naturais só pode ser
encontrado, a partir do
desenvolvimento de uma
ciência baseada nas prioridades
dos povos locais e pela criação
de uma base tecnológica que
misture tanto as abordagens
tradicionais quanto as modernas
para solucionar os problemas.
Do ponto de vista da quantidade e da qualidade, a fonte mais importante de nosso conhecimento, além do conhecimento inato, é a tradição (POPPER, 1982).
Ninguém cria algum experimento científico partindo do nada, pois tem que seguir pistas deixadas por um antecessor. Desse modo, a ciência não goza de nenhuma superioridade.
IHU On-Line (Revista da UNISINOS)- Como a ancestralidade se relaciona aos modos de existir, pensar e agir concebidos sob a perspectiva da modernidade/colonialidade?
Walter Mignolo Não há outra maneira para explicar a maneira como somos e pensamos
senão pela ancestralidade.
“A partir do Renascimento, a ancestralidade dos indígenas europeus foi se
universalizando, e já não se conceberam mais como indígenas, mas como
o Homem, como a Humanidade. Na medida em que começaram a conquistar o mundo, descobriram outros indígenas (na América, na Ásia e
na África). Para diferenciar-se deles, acentuaram a universalidade do
Homem, do Ser Humano, que eram eles, em relação aos “Indignas”,
aqueles que deviam ser civilizados. Aí temos um exemplo cabal de como funciona a diferença colonial”.
A riqueza dos debates epistemológicos durante o século XVII europeu
mostra que a transformação da ciência em única forma de conhecimento
válido foi um processo longo e controverso e que para o seu desfecho
contribuíram, não só razões epistemológicas, mas
também fatores econômicos e políticos.
A vitória da ciência como pensamento válido se explica em parte pela
crescente ascendência do capitalismo e das potencialidades de transformação social sem precedentes que trazia no seu bojo. A vitória teve de ser tão completa quanto as rupturas que se pretendiam com a sociedade anterior
A partir de então, a ciência moderna conquistou o privilégio de definir, não só o que é ciência, mas como o único conhecimento válido.
O novo exclusivismo epistemológico revelou a mesma capacidade de «destruição criadora» que alguns teóricos atribui ao capitalismo.
A concepção cumulativa do progresso da ciência viria a assentar,
assim, numa acumulação seletiva de sucessos, tendendo a ocultar a
contribuição crucial da controvérsia ou do erro para a produção do conhecimento científico.
Por outro lado, ao incidir sobre outras formas de conhecimento, essa
«destruição criadora» traduziu- -se em epistemicídio.
A morte de conhecimentos alternativos acarretou a liquidação ou a
subalternização dos grupos sociais cujas práticas assentavam em tais conhecimentos. Este processo histórico, que foi violento na Europa, foi-o muito mais nas outras regiões do mundo sujeitas ao colonialismo
europeu.
São disso exemplo a redução dos conhecimentos dos povos
conquistados à condição de manifestações de irracionalidade,
de superstições ou, quando muito, de saberes práticos e locais,
cuja relevância dependeria da sua subordinação à única fonte
de conhecimento verdadeiro, a ciência;
a subordinação dos seus usos e costumes ao direito do Estado
moderno e das suas práticas económicas à economia capitalista;
a redução da diversidade da organização social que os
caracterizava à dicotomia Estado/sociedade civil; e ainda a
conversão da diversidade das suas culturas e cosmologias em
superstições sujeitas a processos de evangelização ou
aculturação.
De Galileu a Newton, de Descartes a Bacon, um novo paradigma
científico emerge que separa a natureza da cultura e da
sociedade e submete a primeira a um guião determinístico em
que a linguagem matemática assume um papel central.
Em nome da ciência moderna destruíram-se muitas formas de conhecimento alternativas e humilharam-se os grupos sociais que neles se apoiavam para prosseguir as suas vias próprias e autónomas de desenvolvimento (Dussel, 2000: 49-50).
Foi, em boa medida, graças aos recursos que lhe proporcionava a
ciência que o poder imperial, nas suas várias manifestações históricas,
conseguiu desarmar a resistência dos povos e grupos sociais
conquistados, (Exemplo: a pólvora).
As graves questões ambientais obriga a repensar a ciência e o seu papel.
A constatação de que a ciência não é totalmente
científica abalou profundamente suas bases de sustentação (FEYERABEND, 1988).
Por essa razão, os cientistas treinados nos métodos da
ciência ocidental não podem mais cerrar os olhos para a
diversidade de culturas e de seus saberes, Nem negar sua existência, especialmente agora que
culturas, línguas e recursos biológicos extinguem-se mais
rapidamente, devido ao processo de globalização e à destruição de habitats.
Em todas as sociedades humanas, o conhecimento
racional empírico não se encontra separado da esfera simbólico-mítico-mágica (ELKANA apud CHRÉTIEN, op. cit.). Ao contrário, o saber indígena é um amálgama de mitos,
lendas, músicas, plantas, animais e seres sobrenaturais
(POSEY, 1986).
No entanto, a separação entre objeto e sujeito, entre
homem e natureza que impera no mundo ocidental (MORIN, 1989) dificulta a compreensão e a análise do
conhecimento tradicional por pesquisadores treinados com
os métodos e as técnicas da ciência ocidental.
Como MORIN (op. cit.) observa, é impossível isolar o ser
vivo de seu ecossistema, o sujeito, do objeto, o indivíduo,
da sociedade em que vive.
Trechos do relatório “Nosso futuro comum”
“Em meados do século XX, vimos nosso planeta do espaço pela primeira vez. Talvez os historiadores venham a considerar que este fato teve maior impacto sobre o pensamento do que a revolução copérnica do século XVI, que abalou a uto-imagem do homem ao revelar que a Terra não era o centro do universo”.
“Vista do espaço, a Terra é uma bola frágil e pequena, dominada não pela ação e pela obra do homem, mas por um conjunto ordenado de nuvens, oceanos, vegetação e solos.
“O fato de a humanidade ser incapaz de agir conforme essa
ordenação natural está
alterando fundamentalmente
os sistemas planetários. Muitas
dessas alterações acarretam
ameaças à vida. Esta
realidade nova, da qual não
há como fugir tem de ser
reconhecida e enfrentada”.
“Felizmente, essa realidade nova coincide com fatos mais positivos e também novos neste século. É possível fazer informações circularem por todo o planeta com uma rapidez sem
precedentes; é possível produzir mais alimentos e mais bens, investindo menos recursos; a
tecnologia e a ciência de que dispomos nos permite, ao menos potencialmente, examinar mais a fundo e compreender melhor os sistemas naturais." “Do espaço podemos ver e estudar a Terra como um organismo, cuja saúde depende da
saúde de todas assuas partes. Temos o poder de reconciliar as atividades humanas com as leis naturais, e de nos enriquecermos com isso. E nesse sentido nossa herança cultural e
espiritual pode fortalecer nossos interesses econômicos e imperativos de sobrevivência. “Esta Comissão acredita que os homens podem construir um futuro mais próspero, mais justo e mais seguro”.
Trechos do relatório “Nosso futuro comum”
“Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por
exemplo, em nossos padrões de consumo de energia. No mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em
risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a
atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. Na sua
essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de
mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
estão em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial
para satisfazer as aspirações e necessidades humanas.”
Trechos do relatório “Nosso futuro comum”
O desenvolvimento não deve pôr em risco os
sistemas naturais que sustentam a vida na
Terra.
Para tanto, a universidade precisa abrir-se para a
diversidade, formar pessoas, cidadãos e não apenas
técnicos.
Precisa investigar e descobrir formas de produzir
desenvolvimento de modo a não destruir ainda mais o
ambiente.
Precisa investigar maneiras de recuperar o que já foi
destruído na natureza.
Precisa ter voz junto às autoridades educacionais.
Precisa propor (e ser ouvida) políticas públicas de
melhoria dos espaços urbanos...
Referências COMISSAO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE EDESENVOLVIMENTO. Relatório Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas,1991
COSTA-NETO, Eraldo. Ciência e Diversidade Cultural: A Contribuição de Claude Chrétien http://www.usask.ca/nativeiaw/ikl.html 1 1 Sitientibus,Feira de Santana, n.20, p.9-14, jan./jun. IHU - REVISTA DO INSTITUTO HUMANITAS DA UNISINOS. Entrevista com Walter Mignolo. Decolonialidade como o caminho para a cooperação http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com CHRÉTIEN, C. A ciência em ação. Campinas: Papirus, 1994.
FEYERABEND, P. Contre la méthode. Paris: Seuil, 1988. Sitientibus,Feira de Santana, n.20, p.9-14, jan./jun. 1999 LÉVI-STRAUSS, C. La pensée sauvage. Paris: Plon, 1962. MORIN, E. O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Publicações Europa-América, 1983. CHIBENI, Silvio Seno . O que é Ciência? Departamento de Filosofia - IFCH – Unicamp. SOUSA SANTOS, Boaventura de; MENESES, Maria Paula G. Nunes, João Arriscado
Introdução: Para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo. Disponível em:http://www.ces.uc.pt/publicações/res/pdfs/IntrodBioPort.pdf. Acesso em 18 out. 2015.