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www.kol-shofar.org “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho” Salmo 119:105 Vítor Quinta Revisto em Setembro 2018 Parte 2 As divisões da Torá e a Lei escrita e a oral Compreender as divisões do A.T. (o Tanach; as Escrituras Hebraicas) Será também útil compreendermos como eram divididas as Escrituras Hebraicas (o Tanach, a única Bíblia que existia ao tempo de Yeshua e dos apóstolos), uma vez que estamos frequentemente a deparar-nos com expressões do tipo: Os livros da Lei Os profetas Os escritos Tendo em vista facilitar esta compreensão apresentamos abaixo a forma como os estudiosos da Bíblia os agrupam habitualmente: Os Livros da Lei Os cinco livros, correspondem, como já antes o dissemos, aos primeiros cinco livros da Bíblia, ou Pentateuco, sendo esta a forma como passou a ser conhecida após a sua tradução para a língua grega. Para os judeus eles são designados como a Torá, que significa ensino ou instrução de YAH para o povo de Israel dado por Ele a Israel através do Seu servo Moisés. Estes preceitos ensinam como o homem deve viver de forma justa. Este grupo de cinco livros inclui “estatutos”, tais como a Lei dos 10 Mandamentos, relatos da feitura do Concerto entre YHWH e o homem, histórias, História, discursos, genealogias, detalhes de censos, notas de viagens, relatos de milagres e trechos sobre a construção do tabernáculo.

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“Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho”

Salmo 119:105

Vítor Quinta Revisto em Setembro 2018

Parte 2 – As divisões da Torá e a Lei escrita e a oral

Compreender as divisões do A.T. (o Tanach; as Escrituras Hebraicas)

Será também útil compreendermos como eram divididas as Escrituras Hebraicas (o Tanach, a única Bíblia que existia ao tempo de Yeshua e dos apóstolos), uma vez que estamos frequentemente a deparar-nos com expressões do tipo:

Os livros da Lei

Os profetas

Os escritos Tendo em vista facilitar esta compreensão apresentamos abaixo a forma como os estudiosos da Bíblia os agrupam habitualmente:

Os Livros da Lei – Os cinco livros, correspondem, como já antes o dissemos, aos primeiros cinco livros da Bíblia, ou Pentateuco, sendo esta a forma como passou a ser conhecida após a sua tradução para a língua grega. Para os judeus eles são designados como a Torá, que significa ensino ou instrução de YAH para o povo de Israel dado por Ele a Israel através do Seu servo Moisés. Estes preceitos ensinam como o homem deve viver de forma justa. Este grupo de cinco livros inclui “estatutos”, tais como a Lei dos 10 Mandamentos, relatos da feitura do Concerto entre YHWH e o homem, histórias, História, discursos, genealogias, detalhes de censos, notas de viagens, relatos de milagres e trechos sobre a construção do tabernáculo.

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 2

Os Profetas, ou história profética dada por YHWH – oito livros. O povo Hebreu entendeu sempre estes livros como sendo a história profética do seu povo e do mundo, dada através de um conjunto de homens inspirados pelo Elohim de Israel. Deste modo eles reconheciam que YHWH actuava no seu meio. Os escritos dos profetas chamavam o povo a andar na Verdade do Espírito Eterno, nos Seus caminhos, na Sua vontade, i.e. na Sua Torá.

Os profetas eram habitualmente separados em dois grandes grupos – os “primeiros” e os “últimos”. Os livros mais pequenos dos “últimos” profetas eram juntos num único “livro” (manuscrito em rolo) que era chamado de “O Livro dos Doze”. Estes eram os agrupamentos habituais:

Os primeiros profetas: Josué, Juízes, Samuel e os livros de Reis. Alguns estudiosos relacionam estes profetas com os eventos históricos do povo de Israel.

Os últimos profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Livro dos Doze (algumas vezes chamados de profetas menores, dada a dimensão dos seus escritos). Estes doze são: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéas, Naúm, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Os Escritos – os restantes onze livros do “Tanach” incluem: Rute, Crónicas, Esdras/Neemias, Ester, Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão, Lamentações e Daniel. Os escritos apresentam-nos também a Torá de YHWH, na forma como viveram estes fiéis chamados pelo Todo-Poderoso.

Se quisermos ir mais além do que nos foi legado no erradamente chamado “Antigo Testamento” (“Tanach”) também podemos dividir o erradamente chamado “Novo Testamento” (“Brit Hadashah”) em quatro grupos adicionais (o que com as três divisões do AT perfaz 7 grupos em toda a Bíblia):

Os Evangelhos (sinópticos) de Mateus, Marcos, Lucas e João – revelam-nos como a Torá de Israel deve ser interpretada e vivida através dos exemplos de vida e dos ensinamentos do próprio Legislador, Adonai Yeshua.

Os Actos dos Apóstolos (relatados por Lucas) – retrata a forma como a Lei/Torá de YHWH se espalhou entre as nações por acção do Espírito Santo e da forma como essa acção foi exercida sobre os apóstolos de Yeshua.

As Cartas dos Apóstolos, de Paulo a Judas (não o Iscariotes) – comentam como as congregações de fiéis pós-Cristo devem centrar toda a sua vida Naquele que morreu pelos nossos pecados e que nos quer legar a vida eterna.

O Apocalipse ou Revelação de Yeshua que nos foi legado através do apóstolo João – mostra-nos como a Torá de YHWH se há-de revelar nos últimos dias, até à consumação do plano de YHWH, e que se interliga com o livro de Daniel.

Reparemos que todo o “ensino” ou “instrução” de YHWH começa precisamente pela Torá dada a Israel.

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Todo este cânone retem, ainda hoje, o pensamento e intenções de YHWH para com toda a humanidade e para com Israel em particular, o povo que Ele escolheu para ser Dele. Fácil se torna assim concluir que todo o pensamento que atravessa a mensagem bíblica é de origem hebraica, tal como todos os actores principais desta grande obra que Deus preparou também o são, embora muitos se tenham esforçado através da História por combater ou anular o pensamento hebraico no qual a Palavra de YHWH assenta. Pelo estudo desta Palavra podemos concluir que nunca esteve nos planos de YHWH que os gentios convertidos ficassem fora da Sua Israel. Pelo contrário, têm de estar enxertados na boa oliveira que esta Israel, sem o que não podem receber a seiva que lhe vem da raiz: Yeshua, como bem explica Paulo em Romanos 11. Só assim podemos ser UM Nele, como Ele é UM (echad – “unidade composta) no Pai.

A Lei escrita e a lei oral

Toda a tradição ou ensinamento dos homens que contrarie a letra e/ou o espírito da Lei de YHWH deve ser desprezada. A Palavra do Altíssimo não pode ser contraditada!

Isaías 66:2b – “Mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que

treme da minha palavra” –

A Lei escrita

Sobre a Lei de YHWH/Moisés, transcrita nos primeiros cinco livros da Bíblia, não resta qualquer dúvida acerca da sua importância para todos nós como guia/ensino feito por YHWH para o Seu povo, Israel, para todos os tempos e para todos os seres humanos, cânone que nos revela a Sua justiça (o conceito de justiça de YHWH deriva do cumprimento de toda a Sua Lei – mandamentos e preceitos, como nos é ensinado em Deuteronómio 4:8; 6:25; de notar que a palavra “justiça” em hebraico escreve-se da mesma maneira que “justificação”, pelo que podemos concluir que, em muitas passagens têm o mesmo siginificado. Esse mesmo conceito estende-se ao próprio Filho do Altíssimo como O expoente máximo da Justiça de YHWH), conforme nos diz em Lucas 1:6 acerca de Zacarias e Isabel: “E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor”. Leiamos, o que nos é dito no livro de Isaías 51:4-8 – “Atendei-me, povo meu e nação minha [Israel], inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei, e o meu juízo farei repousar para a luz dos povos. Perto está a minha justiça [Yeshua/Lei], vem saindo a minha salvação [Yeshua], e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão, e no meu braço esperarão.

Salmo 118:8

É melhor confiar em YHWH do que confiar no homem.

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Levantai os vossos olhos para os céus, e olhai para a terra em baixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra se envelhecerá como roupa, e os seus moradores morrerão semelhantemente; porém a minha salvação durará para sempre, e a minha justiça [a Minha Lei/Torá] não será abolida. Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias. Porque a traça os roerá como a roupa, e o bicho os comerá como a lã; mas a minha justiça durará para sempre, e a minha salvação de geração em geração”. Que palavras tão sublimes acerca da Salvação de YAH (Yeshua HaMashiach) e da grandeza da Sua justiça (Lei/Torá). Se verdadeiramente entendermos o que significa a expressão “justiça de Deus”, então estaremos em melhor posição para podermos compreender a importância das palavras pronunciadas por Yeshua em Mateus 5:17-20, realçando: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da Lei, sem que tudo seja cumprido”. Yeshua diz-nos muito claramente em João 14:15 – “Se me amais, guardai os meus mandamentos”. Ora, estas palavras não são, de forma alguma, conflituantes com a Lei do Pai, porque Ele e O Pai, são UM (“echad”). O céu e a terra passarão mas as Suas palavras não hão-de passar! A justiça de Deus exerce-se não só perante O Elohim Todo-Poderoso como perante o homem. Podemos traduzir essa justiça não só pelas obras de fé mas também pela obediência em amor a YHWH (sobre todas as coisas) e amor ao próximo (como a nós mesmos). Os Nazarenos amavam tanto O Messias Yeshua que expressavam esse amor através da obediência aos preceitos que Ele, enquanto Legislador, tinha dado a Israel no Monte Sinai através do Seu sero Moisés. Sabemos que este Yeshua haveria de ser (e ainda é) uma pedra de tropeço, uma pedra que serviria de escândalo para muitos. Enquanto homem, Yeshua foi um fiel e obediente cumpridor da Lei que Ele, enquanto Verbo Divino tinha dado a Israel. Ele é O nosso santuário mas, simultaneamente, pedra de tropeço e de escândalo para muitos (Isaías 8:14). Isto é tanto mais evidente quanto Epifanius, (in “Panarion”) no Séc. IV, declara que “os nazarenos eram fiéis cumpridores da Lei, tal como os da Casa de Judá, com excepção que também aceitavam Yeshua como O Messias há muito anunciado”. Esta é a chamada “seita dos Nazarenos” à qual ligaram o apóstolo Paulo – Actos 24:5. Percebemos, deste modo e por estas palavras, que “ser justo” aos olhos de YHWH ou praticar a Sua justiça é:

andar sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos de YHWH, i.e. na Sua Lei/Torá – Deuteronómio 4:5-6; Lucas 1:5-6;

seguir o exemplo de vida de Yeshua e dos Seus apóstolos, fugindo do mal, guardando-nos da corrupção deste mundo, procurando ter a mente do Cristo e andar como Ele andou – 1.João 2:6;

viver na esperança (certeza de fé) de uma redenção eterna que Yeshua, O Rei, trará pessoalmente, em breve;

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termos plena confiança nas promessas de vida eterna que nos foram dadas pelo Alto e Sublime, fundadas no sacrifício do Cordeiro que Ele nos ofereceu;

vivermos de acordo com toda a vontade de YHWH – “aqui está a paciência dos santos, aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus” – Apocalipse 14:12; porque esta constitui, para todos os efeitos, a fórmula da salvação para o homem já antes apontada em Isaías 8:16, 20; este prémio – a salvação por Yeshua –, será dado a todos aqueles que, em qualquer tempo, nação, raça ou língua se entreguem a YHWH e abraçem o Seu concerto através de Yeshua, O Messias.

“Andar” nos caminhos do Eterno YHWH é praticar a Sua vontade nas nossas vidas, não sendo somente ouvintes mas praticantes. Tomemos o exemplo de alguns reis de Israel que andaram nos caminhos do Senhor com fidelidade:

1.Reis 3:6 – “E disse Salomão [falando de seu pai David]: De grande beneficência usaste tu com teu servo David, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em rectidão de coração, perante a tua face”.

1.Reis 3:14; 9:4 – “E, se andares nos meus caminhos, guardando os meus estatutos, e os meus mandamentos, como andou David teu pai… E se tu andares perante mim como andou David, teu pai, com inteireza de coração e com sinceridade, para fazeres segundo tudo o que te mandei, e guardares os meus estatutos e os meus juízos…”.

Malaquias 2:6-7 – “A Lei da verdade esteve na sua boca, e a iniquidade não se achou nos seus lábios [referindo-se a Levi]; andou comigo em paz e em rectidão, e da iniquidade converteu a muitos. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a Lei porque ele é o mensageiro de YHWH dos Exércitos”.

O contrário de não “andar” nos caminhos de YHWH vem referido em Provérbios 5:22-23 – “Quanto ao ímpio, as suas iniquidades [transgressão da Lei/Torá] o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido. Ele morrerá, porque desavisadamente andou, e pelo excesso da sua loucura se perderá”. Loucura perante O Altíssimo é o homem seguir o seu próprio conselho e os caminhos da sua auto-suficiência. Não nos restem dúvidas, loucura perante YHWH é não andar segundo a Sua vontade, i.e. em todos os Seus preceitos, porque são preceitos de vida eterna. Tal loucura terá sempre um mau fim/resultado. Mas, se continuarmos a ler Malaquias 2, agora nos versículos 8 e 9, encontramos palavras de condenação para os que foram chamados a dirigir um povo que busca ao Altíssimo Elohim mas que é enganado no seu intento por pastores e dirigentes religiosos que não cuidam em “ouvir” e “atender” à voz de YHWH (tais pastores são comparados a “cães gulosos em Isaías 56:10-11): “Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na Lei; corrompestes a aliança de Levi, diz YHWH dos Exércitos. Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na Lei”.

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Quando é que tais dirigentes se humilham e se arrependem dos seus pecados? Não têm eles consciência da responsabilidade que assumiram perante O Elohim eterno quando procuraram “ensinar” outros? Ao levarem o seu rebanho pelo caminho da mentira e da desobediência estão a cavar a sua própria condenação eterna. Ao lermos o Capítulo 11 do livro de Hebreus vamos ali encontrar o exemplo de muitos que, no passado, pela fé, também abraçaram esse mesmo concerto com YHWH, mesmo os que viveram antes do advento do Messias Yeshua. Também eles esperam uma pátria celestial, a Nova Jerusalém, que dos céus há-de descer como esposa (a Israel de YHWH), adereçada para O seu marido (Yeshua, O Rei Eterno). Nem só ali encontramos exemplos de fé. Lembremos as palavras de Job em Job 19:25: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra”. São palavras que revelam uma fé inabalável e que constituem um exemplo para qualquer ser humano, em qualquer tempo. Toda a Palavra de YHWH, a Bíblia no seu todo (Tanach + Brit Hadashah), está centrada em dois temas capitais: a Lei de YHWH dada através de Moisés, cujo fim (propósito, objectivo) era O Cristo e no próprio Salvador Yeshua. A Lei escrita é o alicerce deste grande edifício que é a Sua Palavra. Falando do edifício construído sobre a Rocha (Lei de YHWH/O Messias, a Lei viva), lembremos as palavras do Messias Yeshua em Mateus 7:24-27: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa [as tribulações desta vida], e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”. Aquele pois que não baseia a sua vida nos ensinamentos do Elohim Todo-Poderoso, na Sua Palavra feita homem (O Cristo), na Sua Lei/Torá, é um homem insensato. A Lei é assim o ponto de partida, a instrução directa de YHWH ao Seu povo. De tal maneira que todos os profetas, Yeshua e os apóstolos fazem constantes referências à Lei de YHWH e às palavras que Ele nos deu através dos profetas. Todos eles viveram de acordo com todos os estatutos, juízos, testemunhos e mandamentos de YHWH, i.e. a Sua Lei escrita. Esta é o centro de todo o ensinamento bíblico, como iremos ver neste trabalho. São esses mesmos preceitos que o povo de Israel prometeu cumprir mas dos quais se desviou. Tomemos como exemplo alguns excertos de passagens que estão em Neemias nas quais o profeta lamenta os desvios de Israel:

9:13 – “E sobre o monte Sinai desceste, e dos céus falaste com eles, e deste-lhes juízos rectos e Leis verdadeiras, estatutos e mandamentos bons”.

9:16 – “Porém eles e nossos pais se houveram soberbamente, e endureceram a sua cerviz, e não deram ouvidos aos teus mandamentos”.

9:29 – “E testificaste contra eles, para que voltassem para a tua Lei; porém eles se houveram soberbamente, e não deram ouvidos aos teus mandamentos, mas pecaram contra os teus juízos, pelos quais o homem que os cumprir viverá; viraram o ombro, endureceram a sua cerviz, e não quiseram ouvir”.

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9:34 – “E os nossos reis, os nossos príncipes, os nossos sacerdotes, e os nossos pais não guardaram a tua Lei, e não deram ouvidos aos teus mandamentos e aos teus testemunhos, que testificaste contra eles”.

10:29 – “Firmemente aderiram a seus irmãos os mais nobres dentre eles, e convieram num anátema e num juramento, de que andariam na Lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos de YHWH nosso Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos”.

Veja-se também o grande testemunho que Daniel nos dá na oração que dirige a YHWH, onde roga o perdão para os desvios do seu povo em relação aos preceitos divinos (eternos) que foram dados a Israel: Daniel 9:3-19. Meditemos nas palavras do profeta, o “amigo de Deus”. Os profetas que falaram em Nome de YHWH, passaram as suas vidas a chamar o povo de Israel ao arrependimento para que regressassem à Torá (pecado1 é iniquidade e transgressão da Lei, como nos diz em 1.João 3:4). João, o Baptista, Yeshua e todos os apóstolos (incluindo Paulo) fizeram exactamente o mesmo, bem como a Igreja dos Nazarenos dos primeiros séculos que em tudo obedeciam à Lei/Torá: Actos 15:21 – “Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas”. Não só nas sinagogas dominadas pelos fariseus como nas que depois foram fundadas pelos que seguiam a Yeshua (como O Messias há muito anunciado), após terem sido expulsos das primeiras. A mensagem do Altíssimo veiculada através dos profetas antigos, de João o Batista, de Yeshua e dos apóstolos é sempre iniciada com a palavra “Arrependei-vos”. Arrependei-vos de quê? 1.Pedro 1:18 – “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue do Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós”. A leitura e estudo da Lei foi sempre uma prática comum desde tempos imemoriais, não só nas congregações dos primeiros séculos da era cristã como em muitas outras hoje em dia. Eis o exemplo de Paulo: Actos 13:15-16a – “E, depois da lição da Lei e dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da sinagoga: Homens irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai. E, levantando-se Paulo, e pedindo silêncio com a mão, disse...”. Eis a prova inequívoca que a Lei e os profetas eram lidos, estudados e observados tanto nas sinagogas dos Judeus como entre as comunidades cristãs dos primeiros tempos, na chamada Igreja dos Nazarenos.

1 Existem principalmente dois tipos de pecado ou iniquidade: 1) o da ignorância (quando o crente pratica

coisas contrárias à Lei/Torá de Deus porque ainda não a conhece) e 2) o da rebeldia. Neste caso, o crente depois de conhecer a Verdade fica indesculpável se lhe desobedecer. Passa então para um pecado de grande gravidade aos olhos do Eterno porque rejeita a Sua vontade. Depois de conhecer a Verdade não se pode continuar a praticar actos que antes praticava quando era ignorante.

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A Lei eterna é o texto fundamental das Escrituras pois foi o primeiro a ser dado ao homem, e, como tal, sempre serviu de base a toda a revelação posterior de Elohim para os homens. Esta revelação é progressiva, daí o papel dos profetas e de todo o chamado Novo Testamento que surge como um comentário à Lei, bem como a revelação do próprio Adonai Yeshua, cf. a Salmo 40:7-11. Sem um bom entendimento da Lei como é que podemos ter um bom entendimento das restantes partes da Bíblia? Como é que podemos entender adequadamente sequer aquilo que Cristo veio fazer por nós? Nos Profetas já vamos sabendo muito mais pormenores mas ainda assim há muitas coisas em aberto – os mistérios. Essa revelação atinge o seu expoente máximo com Yeshua HaMashiach e os escritos dos apóstolos. É aqui que essa revelação se enche (o mesmo sentido de ‘pleroo’) e mesmo assim há muitas coisas que permanecem ocultas até à segunda vinda do Cristo. Não esquecer que a Torá era e é uma sombra das coisas futuras. Por isso é impossível entendê-la adequadamente se O Espírito Santo de YHWH não estiver presente. Só à luz de toda a revelação de YHWH que veio depois (Profetas e NT). Mas por outro lado é practicamente impossível entender o NT sem ser à luz do que vem de trás, o “Tanach”. Exemplo simples: se não fosse a Torá que sentido é que faríamos daquilo que João Baptista disse acerca do Cristo ser O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo? E, no entanto, qual era o fundamento dos profetas e dos apóstolos? Em que é que assentam as palavras destes obreiros do Senhor? Resposta: na Lei (Torá) claro – no fundamento! O Messias como pedra de esquina é o nosso fundamento e o centro da nossa pregação, pois Ele é a Torá-viva. Porém, onde é que aprendemos Dele? Na Lei, com o complemento da revelação dada aos profetas e aos apóstolos. O centro da mensagem do Cristo era a Lei, pois Dele falavam as Escrituras. O que é o sermão da montanha e o apelo ao arrependimento? O que é que Ele próprio disse perante Pilatos? João 18:37 – “Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade [da Lei, cf. a Salmo 40:7-11; 119:142]. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. E Pilatos pergunta a Yeshua “E o que é a verdade?”. A resposta está em Salmos 119:142 – “A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua Lei é a verdade”. Salmos 119:151 – “Tu estás perto, ó YHWH, e todos os teus mandamentos são a verdade”. Salmos 119:160 – “A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre”. Eis assim a correspondência entre “a Tua Palavra”, “a Verdade” e os juízos e preceitos eternos de YHWH contidos na Sua Lei. De resto, toda a gente sabe que a verdade dói/fere. Às vezes dói no mais íntimo de cada um porque vem abalar as nossas convicções ou ideias pré-estabelecidas. Vem abalar tudo aquilo que antes assumíamos como “verdade” mas que o não era. Quando a Palavra de Deus nos diz em Apocalipse 1:16 – “e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios”, perguntamos: que espada é esta? A resposta a esta questão é-nos dada em Hebreus 4:12 – “Porque a palavra de Deus [a Lei – Cristo] é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”.

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Esta espada é a Verdade da Palavra de YHWH que pode abalar as nossas convicções mais enraizadas mas que, ao mesmo tempo, produz salvação nos nossos corações. É a espada da repreensão de YHWH que os santos aceitam mas os rebeldes rejeitam. É caso para perguntar: então a verdade é a Torá de Israel ou é O Cristo? Tanto faz, pois Yeshua é a Torá viva. Aliás “verdade”, “caminho” e “vida” também são sinónimos de Torá, Lei de YHWH, da mesma maneira que significam O Messias. O que Ele está a dizer é: “Eu Sou o Caminho, a Verdade (a Torá viva) e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. O Messias é indissociável da Torá e a Torá do Messias! Por isso a conclusão é óbvia: todos os que dizem que seguem a Cristo têm de andar como Ele andou: por fé e obediência em todos os preceitos de vida do Pai. Assim, o propósito primário da Torá é revelar O Messias: Romanos 10:4 – “Porque o fim [propósito, objectivo, alvo, meta] da Lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”. Por tudo isto, ao darmos primazia à Torá estamos a dar primazia ao Messias de Israel e vice-versa, pois eles são indissociáveis. Ao servo fiel é impossível ter um sem ter o outro pois Yeshua HaMashiach é a Torá viva, e a Torá por seu lado testifica Dele. Andam de mãos dadas. Na realidade, a Torá é a chave (os fundamentos - Salmos 11:3) para entendermos todas as Escrituras, os Profetas, os Salmos, os Evangelhos sinópticos, as palavras do Cristo e as cartas dos Apóstolos. Elaborando um pouco mais sobre os propósitos da Lei (Torá), podemos dizer:

A Lei aponta e condena o pecado e instrui na justiça de Elohim – Romanos 7:7; 1.João 3:4.

Que ela nos revela O Messias – Lucas 24:25-27; João 5:46; Romanos 10:1-13; Deuteronómio 18:15, ensinando-nos a andar como Ele andou.

Que nos revela a justiça de Deus no próprio Filho, quando este habita no nosso coração/mente, espelhando as boas obras através da nossa fé e obediência à Sua vontade – 1.Coríntios 11:1; 1.Pedro 2:21.

Não podemos nem devemos continuar a caminhar num caminho eivado de erros e desvios doutrinais introduzidos ao longo de quase 2.000 anos por aqueles que sempre se opuseram à fé e ao conhecimento de raiz hebraica (que hoje não compreendemos inteiramente, tantas têm sido as apostasias e heresias que foram sendo introduzidas e que chegaram até nós). Vamos compreender melhor o que acabámos de dizer, não esquecendo que Ele próprio enquanto Verbo Divino, era O Legislador: Lucas 24:27, 44-45 – “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”... “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras”. YHWH é O Deus Único, O Legislador, O Redentor de Israel, O Juiz Supremo, O Salvador: Tiago 4:12a – “Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir”.

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 10

Continuemos nesta análise em: João 5:39, 46 – “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”... “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele”. O significado de crer em Moisés é não só crer Naquele de Quem Moisés falava que havia de vir, mas também, crer em tudo aquilo que Moisés divinamente inspirado escreveu (i.e. a Torá dada a Israel), e que foi ditado pelo próprio Adonai YHWH quando Moisés esteve com Ele no Monte Sinai durante 40 dias e 40 noites (Levítico 26:46). O próprio Verbo Divino falando acerca Daquele Messias que haveria de vir diz em Salmos 40:7-8 – “Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua Lei está dentro do meu coração”. Poderá alguém dizer: “eu pensava que tinha de seguir a Cristo, somente?”. Mas como poderemos seguir a Cristo se não andarmos como Ele andou, em obediência a todos os preceitos do Pai? Se na realidade estivermos a seguir a Cristo estaremos a seguir todos os preceitos que YHWH nos legou através dos Seus profetas. Em todo o Seu ensino, Yeshua confrontou os ensinos dos falsos mestres do seu tempo e de todos os tempos. Ele foi mais além do que estava escrito na letra da Lei, revelando-nos o seu verdadeiro significado – e.g. Mateus 5:21-22. Yeshua veio dar o verdadeiro significado da Lei de YHWH/Moisés sem nunca a contrariar ou anular. Tal como Yeshua disse em: João 14:6 que Ele era “o caminho, e a verdade e a vida e que ninguém chega ao Pai, senão por Ele”, Yeshua está a dizer-nos que Ele é a personificação da própria Lei, O próprio Legislador, pois:

O caminho é também a Lei de YHWH – Deuteronómio 5:33; 6:7; 9:12b; 11:28; 13:5; 31:29; Juízes 2:17; 2.Samuel 22:31; 1.Reis 2:4; 8:25, 36; 2.Reis 21:22; 22:2; 2.Crónicas 6:16, 27; Job 23:11; Salmos 18:30; 25:8-9; 27:11; 37:23, 34; 67:2; 77:13; 86:11; 101:2; 119:9, 14, 27, 30, 32-33, 37, 104; Provérbios 4:11; 8:20; 9:6; 10:17, 29; 15:24; 21:16; 23:19; Isaías 30:21; 48:17; 59:8; 62:10; Jeremias 5:4-5; 6:16; 7:23; 21:8; 32:39; Ezequiel 18:25, 29; 33:17; Malaquias 2:8; Mateus 21:32; 22:16; Marcos 12:14; Lucas 1:79; 20:21; Actos 18:25-26; 19:9, 23; 2; 24:22.Pedro 2:2, 21.

A verdade é também a Lei de YHWH – Salmo 119:142; Malaquias 2:6; João 17:17. Uma vez que o papel do Espírito Santo é fazer-nos andar em toda a verdade (João 16:13) então fará todo o sentido o ensino de Ezequiel 36:27.

A vida é também a Lei de YHWH – na Sua Lei dada a Israel Ele propõe a todo o ser humano dois caminhos: a vida e a morte. A vida para os que andarem segundo a Sua Lei, a Sua Verdade; mas a morte para os rebeldes e desobedientes – Deuteronómio 30:15-16; 19-20; 32:46-47. Falando da sabedoria do Altíssimo, o livro de Provérbios fala-nos figurativamente da Sua Lei como vida: Provérbios 3:17-18; 21-24; Eclesiastes 7:12. Provérbios fala-nos ainda da instrução de YHWH (i.e. a Sua Lei) como vida: Provérbios 4:13; 20-23; 6:23; 8:33-36; 10:17; 12:28; 16:22; 19:23.

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 11

Mas, como devemos encarar o impacto e a confusão que perdura até aos nossos dias causados pelos escritos de alguns apóstolos (particularmente Paulo), quando, aparentemente, pela letra, parece indicar que a “Lei” e as “obras da Lei” já não interessam para os que estão em Cristo? Estará Paulo a falar-nos da Lei eterna, da Lei de YHWH/Moisés? Ou estará antes a falar de outra “lei” baseada na tradição dos homens (o Talmude; a Mishna), acerca da qual também Yeshua entrou em choque com os escribas e fariseus do seu tempo? Mais adiante analisaremos estes aspectos. É evidente que tanto Yeshua como os apóstolos apontaram erros aos escribas e fariseus porque estes se estribavam no ensino e na tradição dos homens, i.e. na lei oral farisaisa, por eles construída através dos tempos e que não constituam mais do que interpretações pessoais de rabis à própria Lei eterna de YHWH. E foi aqui que muitos caíram e distorceram a intenção do Todo-Poderoso. A importância que os fariseus davam à lei oral (tal como o Judaísmo continua a fazer nos dias de hoje – os dois Talmudes (o de Babilónia e o de Jerusalém) e outros escritos dos homens) era de tão grande importância, que chegavam a colocá-la à frente da própria Lei do Todo-Poderoso YHWH. Vamos pois ver alguns aspectos que ajudam a compreender esta lei oral.

A lei oral

Quando no tempo de Esdras e Neemias os de Judá voltaram do cativeiro de Babilónia para reconstruir as muralhas de Jerusalém e o Templo, quem é que regressou? Uma pequena parte dos que tinham sido levados cativos 70 anos antes e sua descendência ali nascida entretanto. A resposta está em Neemias 10:28 – “E o restante do povo, os sacerdotes, os levitas, os porteiros, os cantores, os servidores do templo, todos os que se tinham separado dos povos das terras para a lei de Deus, suas mulheres, seus filhos e suas filhas, todos os que tinham conhecimento e entendimento…”. Precisamente, voltaram todos aqueles que viviam pela fé e obediência à Lei de YHWH/Moisés, i.e. todos os que tinham “conhecimento e entendimento”!

2.Coríntios 4:2-4

“Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus,

pela manifestação da verdade [da Torá]. Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos

quais o deus deste século [Satanás] cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

do Cristo, que é a imagem de Deus”.

Malaquias 4:4

“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, que lhe mandei em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos”.

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Provérbios 1:5 diz-nos: “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento [i.e. na Minha Lei], e o entendido adquirirá sábios conselhos”. Muitos há, que ainda hoje, odeiam o conhecimento e o temor e a correcção de YHWH, i.e. a Sua Lei/Torá, como nos diz também em Provérbios 1:9. Não é isto que YHWH nos diz através do Seu profeta, em Oséias 4:6 – “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da Lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos”. Mais alguma dúvida? Do ponto de vista histórico, convém recordar que a Lei de Moisés (do Heb.: Torá, que significa “ensino”, “instrução”) ao tempo de Yeshua, se apoiava em duas grandes escolas ou correntes interpretativas da Lei escrita, lideradas por dois iminentes rabis: Hilel e Shammai. Em muitos aspectos, estas duas escolas interpretavam a Lei de YHWH/Moisés de forma diferenciada, tendo Yeshua feito oposição a ambas, em muitas ocasiões, dando a Sua verdadeira e única interpretação – a divina (pois Ele era O próprio Legislador). No entanto, estas duas escolas eram a base da interpretação que era feita pelos escribas e fariseus do seu tempo e daqueles que já haviam sido antes deles, deixando as suas interpretações no chamado Talmude. Porém, é neste mesmo Talmude que, a par de muitas coisas boas, também podemos encontrar muitas “interpretações” e “tradições” dos homens que são contrárias à santa Lei de YHWH/Moisés. E é também no Talmude que O Messias de há 2.000 anos não é reconhecido como “O Ungido” ou “O Cordeiro de Deus”, “Aquele que foi sacrificado antes da fundação do mundo”! Será motivo para perguntar: por que razão se opunha Yeshua a alguns dos ensinamentos dos fariseus e dos saduceus? A resposta é esta: a lei oral não é mais do que um repositório de preceitos de homens, que reflectem as suas interpretações da Torá, impondo tradições humanas, muitas das quais se opõem à Lei/Torá escrita por YHWH/Moisés! Precisamente porque o homem veio “acrescentar” ou “retirar” e, por vezes, “alterar” a seu gosto, os preceitos e as palavrasde YHWH, o que Ele condena em Deuteronomio 12:32. Tal ensino é dos homens e não do Elohim Eterno.

Deste modo, nalguns meios judaicos, a chamada Torá oral superou em respeito e valor a própria Torá de YHWH, o que é confirmado por testemunhos históricos e pelos estudiosos da questão. Na Mishnah lê-se: "Maior obrigação se aplica à (observância) das palavras dos escribas do que às palavras da Lei (escrita)" (Mishnah, Sanhedrim, XI, 3). Não é pois de espantar que Yeshua tenha condenado o ensino dos homens.

A respeito da Torá escrita e da Torá oral diz G.G. Scholem: "De acordo com o uso comum nas fontes talmúdicas, a "Torá escrita" é o texto do Pentateuco. A Torá oral é a soma total de tudo o que foi dito por eruditos ou sábios a título de explicação deste corpus escrito, pelos comentadores talmúdicos da Lei e por todos os demais que interpretaram o texto. A Torá oral é a tradição da Congregação de Israel, ela desempenha o papel necessário de completar a Torá escrita e torná-la mais concreta. De acordo com a tradição rabínica, Moisés recebeu, ao mesmo tempo, ambas as Torás, no monte Sinai, e tudo quanto um erudito subsequente encontra na Torá ou legitimamente dela deduz, já estava incluído nesta tradição oral fornecida a Moisés.

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Assim, no judaísmo rabínico, as duas Torás são uma só. A tradição oral e a palavra escrita completam-se mutuamente, uma não é possível sem a outra" (G.G. Scholem, A cabala e seu simbolismo, Perspectiva, São Paulo, 1978, p.61) (in: www.monfort.org.br). Diga-se porém que este site veícula ensinos católico-romanos.

Isto é o que dizem os homens. Porém, Adonai Yeshua veio dizer coisa bem diferente desta, pois Ele, O Legislador, veio dar a correcta interpretação da Lei eterna, santa, justa e boa, a mesma que Ele escreve já hoje no coração dos fiéis e escreverá no futuro quando Ele vier reinar sobre todas as nações...”de Sião sairá a Lei”. Sim, biblicamente, a Torá escrita nos corações/nas mentes dos homens é o “Novo Concerto” ou o “Concerto Renovado” que Ele establecerá após a Sua vinda gloriosa: Jeremias 31:31-34; Hebreus 8:10; 10:16.

Um pouco de História: a lei oral foi sendo transmitida de geração em geração e só foi compilada entre os anos 70 d.C. e 200 d.C. Desta compilação nasceu o “Talmude” (na forma da “Mishna” ou Talmude primitivo, e dos escritos complementares “Tosefta”). Mais tarde ainda, foi-lhe adicionado a “Gemara” (comentários rabínicos) que foi escrita entre os anos 200 e 500 d.C. Depois do ano 500 d.C. todos estes escritos foram compilados numa única obra: o Talmude Enciclopédico que contém 5.894 páginas, havendo ainda outros escritos posteriores que são igualmente considerados parte desta obra. Apesar de tudo, existem ainda dois Talmudes algo diferentes entre si: o Talmude de Jerusalém e o de Babilónia. Este contém o ensino dos rabinos que ficaram em Babilónia ao tempo de Esdras e Neemias, e que não regressaram a Jerusalém para a reconstrução do segundo Templo. Há quem considere que o Talmude de Babilónia é o mais importante, porque em caso de dúvida é o ensino deste que prevalece entre a comunidade judaica ortodoxa. Como sabemos, O Messias condenou estes ensinamentos e tradições dos homens por serem contrários, em muitos aspectos, à própria Lei de YHWH/Moisés. Essa condenação ainda hoje deve ser aceite. Basta para tal lembrar uma passagem que se encontra escrita no Talmude (Erubin 21b – edição Soncino) que diz: “meu filho, sê mais cuidadoso na observação das palavras dos escribas do que nas palavras da Torá”. Quando um livro como o Talmude que pode até conter muitos ensinamentos bons, vem declarar palavras deste tipo, fácil é fazermos a nossa escolha: Actos 5:29 – “Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Um exemplo muito claro nos dias de hoje é precisamente o dos Karaítas, Judeus que não se regem pelo ensino do Talmude mas aceitam unicamente o que está escrito na Lei de YHWH/Moisés e no resto do Antigo Testamento, não aceitando, porém, O Messias de há 2.000 como O Ungido de YHWH. Este é um grupo que é odiado e perseguido pelo Judaísmo tradicional. Neste estudo vamos ainda ver que Yeshua não veio isentar o homem do cumprimento da Lei, cumprimento que é devido pelo amor ao Altíssimo Elohim e pela obediência à Sua vontade. Ele, como Servo, deu-nos o exemplo, porque veio obedecer e dar-nos o verdadeiro sentido que os responsáveis de Israel haviam distorcido ao longo do tempo.

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Se Yeshua desrespeitasse um só preceito da Torá, estaria a ser desobediente à Vontade do Pai, pelo que não poderia ser visto como O Cordeiro sem mancha que O Pai enviou para nos resgatar do pecado/iniquidade/transgressão da Torá. Como seguidores de Yeshua HaMashiach aceitamos toda a Bíblia como sendo a Palavra inspirada por YHWH, do Génesis ao Apocalipse. Rejeitarmos ainda que seja uma só parte da Bíblia (por exemplo parte do Antigo Testamento) será mutilar a Palavra de YHWH, pois o Novo Testamento em tudo completa o Antigo e dele depende para que se possa entender todo o intento de YHWH. Também acreditamos que o cumprimento da Lei por si só não salva (se assim fosse seria inútil o sacrifício do Cristo), mas ela é necessária para a nossa vida como manifestação da nossa obediência à vontade do Eterno, como padrão de vida santificada e para que nos vá bem a nós e aos nossos filhos, como nos ensina a Sua Palavra. A graça de YHWH e a fé de Yeshua (com as obras da fé) é salvífica, quando consubstanciada na aceitação do sangue precioso e redentor de Yeshua, i.e. a nossa esperança da glória, andando, ao mesmo tempo, na Sua Lei, no Caminho (também sinónimos do próprio Filho). Lembramos que a graça de Elohim é a misericórdia e perdão que Ele derrama sobre os Seus filhos, os que Lhe são obedientes, os chamados, eleitos e fiéis (os que abraçaram o Concerto com Ele através do sangue do Seu Filho), como se demonstra pela visão dos mártires/salvos na glória que nos é dada em Apocalipse 12:17; 14:12; 17:14, como de resto já o era sobre os fiéis no Antigo Concerto, e.g. Noé: Génesis 6:8 – “Noé, porém, achou graça aos olhos de YHWH”. Não se compreenderia, nem se poderia aceitar, que O Todo-Poderoso pudesse derramar a Sua graça sobre aqueles que não são obedientes aos Seus preceitos, aos Seus juízos, aos Seus mandamentos e aos Seus testemunhos, i.e. à Sua Lei. Os filhos da desobediência serão julgados e castigados à luz dos preceitos da Lei/Torá pela qual rejeitaram viver. A graça que salva tem de estar intimamente ligada à fé, à humildade e à obediência à vontade e à justiça de Deus: Salmo 119:172 – “A minha língua falará da tua palavra, pois todos os teus mandamentos são justiça”. Só assim se compreende que os pais de João, o baptista, tenham sido chamados de justos em Lucas 1:5-6. Ainda do ponto de vista histórico, lembremos que a lei oral só podia ser ensinada e interpretada pelos instruídos, os “iluminados”, o que desde logo criava uma verdadeira barreira entre esta elite e o povo. É claro que essa classe sacerdotal se aproveitava desse ascendente para socialmente e não só, adquirir posição e domínio sobre o povo. Daí que os escribas e fariseus se interrogassem, de onde Lhe vinha a autoridade com que Yeshua ensinava: Lucas 4:32 – “E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade”. E, noutra passagem: Mateus 7:29 – “Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas”. Os fariseus admiravam-se, perguntando como é que Ele conhecia as Escrituras não tendo sido “ensinado", “educado”, nas escolas rabínicas da época: João 7:15 – “E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?”, i.e., não tendo aprendido aos pés de um rabi (mestre), como foi o caso de Paulo.

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Segundo o conceito farisaico, “educado” ou “instruído” só era aquele que estudava a Lei à luz da lei oral, na forma em que era ensinada nas escolas rabínicas (como Paulo aprendeu aos pés de Gamaliel). A resposta a esta questão é dada pelo próprio Adonai Yeshua nos dois versículos seguintes: “Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina [a LEI escrita] não é minha, mas daquele que me enviou [Deuteronómio 18:15-18]. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória [a lei oral, farisaica, rabínica]; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Não vos deu Moisés a Lei [escrita]? E nenhum de vós observa a Lei [devido às suas abusivas “reformas” e “tradições”, os fariseus invalidavam a Lei escrita]. Por que procurais matar-me?” – João 7:16-19. Ao criarem esta barreira, os responsáveis religiosos procuravam afirmar a sua própria autoridade, arrogando-se a si próprios poderes e direitos sobre os demais para daí retirarem privilégios. Foi a todo este sistema perverso que Yeshua e os apóstolos se opuseram, pondo em causa um “status” que só interessava a esta elite. Resta acrescentar que os fariseus vinham desde há muito a fazer um esforço de centralização desse poder e dessa autoridade (rabínica), esforço que só veio a ser coroado de êxito pela nomeação de um “rabi chefe” no Séc. II d.C., o rabi Akiva. Veja-se também a oposição que Pedro lhes fez em Actos 15:10-11 – “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo [preceitos e tradições dos homens – a lei oral] que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também”. Oposta a estes preceitos e tradição dos homens temos a Lei da liberdade, que é O Messias: Mateus 11:30 – “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Esta é a Lei do amor de Yeshua que já deve estar gravada nos nossos corações/mentes, para por ela vivermos, com fé/fidelidade. Paulo reafirma o mesmo princípio em Gálatas 5:1 – “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou [do pecado, do erro] e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão [da carne, do pecado, da lei oral]” (i.e. das leis dos homens e das suas tradições). Este “jugo da servidão” de que nos fala o Livro de Actos não é, de forma alguma, a Lei do Eterno porque essa é suave e leve como disse Yeshua. Certamente que O Elohim Todo-Poderoso não iria dar ao Seu povo uma Lei que esse mesmo povo não pudesse cumprir. A Lei do Eterno é aquela que Ele deu desde o princípio, tal como nos diz em Deuteronómio 30:10-14 – “Quando deres ouvidos à voz de YHWH teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da Lei, quando te converteres a YHWH teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma [como também nos ensinou Yeshua]. Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?

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Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração [mente], para a cumprires”. Irmos contra esta Palavra e ensino é entrarmos num caminho que descarta todo o ensino hebraico que nos foi e será transmitido por YHWH. Comparemos aquela passagem com o que nos é dito em 1.João 5:2-3 – “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados”. Porquê? Porque o Seu fardo é suave e leve. É a incapacidade que muitos cristãos manifestam em fazer separação entre a Lei eterna do Altíssimo, guardando-a e vivendo por ela, e os ensinamentos e tradições dos homens (nestes incluídos a lei oral que ainda hoje perdura no Talmude judaico) que deixa muitos crentes fora do verdadeiro Caminho. Esse Caminho verdadeiro que é Yeshua, a Lei Viva, combina e completa a fé nas promessas e no testemunho de Yeshua com a obediência à Lei do Pai, a todos os Seus mandamentos, juízos, testemunhos e estatutos. Apesar da evidência, vemos que mesmo no ensino dos que já então se haviam convertido ao Cristo ainda apareciam resquícios dos preceitos dos homens – da lei oral, farisaica que, em muitas circunstâncias colocava o ensino dos homens à frente do ensino do Eterno. Isso mesmo nos é relatado em Actos 21:17-24 (1º Concílio de Jerusalém). Aqui se manifestou que alguns ainda estavam demasiado influenciados pelas tradições e preceitos farisaicos dos homens, levando a que os restantes apóstolos pedissem a Paulo para que confirmasse que não era verdade que ele tivesse andado ensinando que já não era preciso guardar a LEI de YHWH/Moisés, precisamente ele que era um devoto servidor do Altíssimo. Paulo desmentiu esses rumores, confirmando que ele próprio guardava a Lei, fazendo até um voto de nazireu e indo ao Templo a sacrificar, conforme à Torá. Também os apóstolos confirmaram que “milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da Lei [de YHWH/Moisés]”. Este foi o momento em que, conforme lhe tinha sido pedido, Paulo deu testemunho que guardava a Lei de seus pais, a Lei de Moisés ao aceitar fazer voto de nazireu, conforme à Lei de Moisés: versos 23 e 24 – “Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a Lei”. E Paulo cumpriu o voto de nazireu como lhe havia sido pedido. Yeshua foi implacável com o ensino dos escribas e fariseus, chegando a chamar-lhes hipócritas, condutores cegos, raça de víboras e sepulcros caiados por fora mas cheios de imundícia por dentro. Podemos ler as Suas palavras em João 5:44-47 – “Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei-de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” Porquê?

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Porque todas as Escrituras apontavam para O Salvador Yeshua que haveria de vir para “recuperar o que se havia perdido” – Lucas 19:10. Yeshua condenou vivamente muitos dos ensinamentos dos escribas e fariseus (ou dos que ainda hoje se colocam debaixo desse ensino e tradições humanas, muitas delas eivadas de erros e, até, de desobediência à Verdade). Também Paulo condena o ensino dos homens que os afasta da Lei de YHWH/Moisés: Colossenses 2:20-23 – “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo [i.e. os preceitos dos homens], por que vos carregam ainda de ordenanças [humanas], como se vivesseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; a quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”. Agora atentemos para as palavras dos versículos seguintes: Colossenses 3:1-2 – “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima [a Lei dada por YHWH a Moisés, a esperança no reino eterno por Yeshua], onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima [Lei, vontade de YHWH, pátria celestial], e não nas que são da terra [os preceitos e doutrinas de homens]”. Enquanto nos deixarmos conduzir pelos preceitos e doutrinas dos homens, sejam elas baseadas nos ensinamentos rabínicos ou noutros, não estamos a dar espaço para que a Verdade de YHWH (cf. a Salmo 119:142) se manifeste nos nossos corações. Yeshua diz-nos em Mateus 5:20 – “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”. Como podemos entender estas palavras de Yeshua? Já sabemos que os escribas e fariseus davam mais importância aos seus próprios preceitos e tradições, à sua lei oral, do que à Verdade, a Lei de YHWH. Qual era a justiça daqueles homens senão aquela que eles próprios haviam criado para seu benefício? Deste modo eles anulavam a justiça de YHWH que a Torá nos revela. Yeshua critica-os por colocarem fardos sobre os outros com os preceitos criados por eles, fardos esses que eles não estavam dispostos a levar nem com um só dedo. Yeshua advertiu-nos contra a hipocrisia destes homens, ontém como hoje! Não é pois difícil compreender as palavras de Yeshua. Agora que de forma breve pudemos fazer a distinção entre a Lei de YHWH/Moisés, a Lei escrita nos nossos corações/mentes, que é eterna, e a lei oral (baseada em preceitos e tradições de homens), vamos ver como esse conjunto de preceitos humanos se encontra dividido no Talmude e noutros escritos judaicos:

a. (Heb.) “Halacha” – interpretações rabínicas da Lei de YHWH/Moisés, construídas a partir de um conjunto de regras hermenêuticas, interpretativas, criadas por:

Hilel – 7 regras

Ismael – 13 regras

Eliezer – 32 regras

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 18

As regras delineadas pelos rabis Ismael e Eliezer são derivações das 7 regras de Hilel

b. (Heb.) “Minhagim” – tradições e costumes instituídos como leis c. (Heb.) “Takanot” e “Gezerot” – ordenanças e decretos instituídos pelos rabis,

sem que os mesmos tenham suporte nas Escrituras, o que contraria os preceitos do Eterno – ver Deuteronómio 4:2 e 12:32.

d. (Heb.) “Ma’asim” – obras e acções de sábios e rabis justificando a forma como

a tradição deve ser observada. Também estas não têm suporte escritural. No entanto, elas constituem-se como fonte de novas leis humanas.

Depois desta breve explicação acerca da lei oral, dos homens, podemos compreender melhor as palavras de Yeshua e dos apóstolos (incluindo Paulo), bem como as palavras dos profetas. Veja-se o que nos relata Mateus 15:1-14 – “Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim; esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe, e assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens. E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram? Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada. Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova”. Isto dizia Yeshua acusando os escribas e fariseus de estarem sentados na cadeira de Moisés (Mateus 23:2), sem contudo ensinarem segundo a verdade da Lei de YHWH/Moisés. Eles deveriam ser os intérpretes do significado dessa Lei. Porém, para além de intérpretes, eles também deviam viver de acordo com os preceitos da Torá de YHWH/Moisés, o que obviamente não sucedia: Marcos 7:13 – “Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas”. Ora se eles quebravam a Lei, cometiam iniquidade (“anomia”), pecado – 1.João 3:4. Os fariseus foram culpados por “alterar” a Lei, acrescentando-lhe os seus próprios preceitos, desvirtuando-a, portanto. O mesmo fez a “igreja” católica-romana quando modificou a Lei dos X Mandamentos para suprimirem a condenação do culto de imagens e o Sábado santo.

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 19

Na realidade, aqueles responsáveis religiosos regiam-se pelas leis e preceitos que eles próprios criaram – a lei oral, humana, atribuindo a si próprios uma autoridade que na realidade não possuiam aos olhos de YHWH: Romanos 10:1-4 – “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus [a Torá], e procurando estabelecer a sua própria justiça [os preceitos dos homens], não se sujeitaram à justiça de Deus [i.e. à Sua Torá eterna]. Porque o fim [propósito, objectivo] da Lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”. As palavras de Yeshua confirmam as palavras do profeta em Isaías 29:13 – “Porque O Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído”. A Palavra do Elohim Todo-Poderoso não deve nem pode ser “mexida”, “alterada”, “acrescentada” ou “diminuída” – Deuteronómio 4:2; 12:32; Provérbios 30:6. Quem tal fizer, diz a Sua Palavra, YHWH retirará o seu nome do livro da vida (Apocalipse 22:18-19). Como fomos ensinados, o homem não deve viver só de pão material mas de toda a palavra que sai da boca de YHWH (o pão espiritual). “A tua palavra é a verdade”, disse Yeshua (João 17:17) e a Sua verdade é a Lei/Torá, cf. a Salmo 119:142. Assim, o homem não tem autoridade para modificar, de forma alguma, a Sua Palavra pois é eterna, nem usar de rebuscadas filosofias para a interpretar segundo critérios humanos. A Palavra de Deus interpreta-se e explica-se a si própria, quer pelo contexto das passagens quer pela concordância com outras. A Palavra de YHWH não se contradiz. Se, porém, nos parecer que há contradição, então roguemos ao Altíssimo para que Ele nos revele a Sua intenção e nos faça conhecer a Sua Verdade, pois a contradição aparente não está na Sua Palavra mas no nosso fraco entendimento/compreensão. Eis assim, de forma resumida, a explicação que nos pareceu essencial ser dada para que possamos estudar, com cuidado e reverência, a Palavra do Eterno que veio até nós na figura do Filho Yeshua, de forma a podermos separar o que é divino, eterno (e que provém de YHWH, a Sua LEI), daquilo que é passageiro, pois provém dos homens e das suas tradições. Inúmeras vezes Yeshua e os apóstolos citam o conteúdo das Escrituras e em muitas dessas citações aparece o conceito de Lei expresso na mensagem que nos é dada. Quando o apóstolo João nos escreve em 1.João 2:7 – “Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo [i.e., a Torá de YHWH], que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes”, o que pretende o apóstolo dizer senão que o mandamento antigo era a própria Lei? Entendemos, assim, que, genericamente, toda a instrução ou ensino de YHWH deve ser entendido como instrução, conselho para todo o Israel (e desta nação para todas as outras), podendo o mesmo estar contida na Lei (Torá), nos Profetas ou nos Escritos.

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A LEI/TORÁ DE YHWH – PT. 2 20

Porque A Palavra (Yeshua) diz-nos que “o homem não viverá somente de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Se hoje mesmo, a nossa consciência messiânica e o conhecimento que já temos da Palavra de YHWH nos leva a considerarmos sermos parte integrante da Israel de YHWH, já enxertados na boa oliveira que é Israel, então temos de reconhecer também que, como cidadãos desta Israel santa, toda a Lei (Torá) tem de estar gravada no nosso coração (Torá = mandamentos, juízos, estatutos e testemunhos): Efésios 2:12-13 – “Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue do Cristo chegastes perto”. Por este facto inquestionável, tornámo-nos, igualmente, filhos de Abraão pela fé em Yeshua: Gálatas 3:7, 26-29. Para além de Abraão ter crido no Todo-Poderoso pela fé e isso lhe ter sido imputado como justiça, há um outro aspecto que adquire particular importância para este trabalho. Diz-nos a Palavra em Génesis 26:5 – “Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas Leis”. Esta passagem reforça o nosso entendimento que as Leis de YHWH eram conhecidas desde o princípio da Criação, muito tempo antes da Lei escrita ter sido dada a Israel através de Moisés no Monte Sinai, razão pela qual Abraão e outros servos do Deus Altíssimo já viviam por elas. Por isso YHWH chamou e separou para Si um povo: Israel. Isto reforça a nossa certeza que Abraão obedeceu e praticou as Leis de YHWH pela fé. E ele não teve somente fé. Ele obedeceu ao seu Criador. Poderíamos pois nós hoje viver somente pela fé sem as obras da fé (ver Tiago 2 e Efésios 2:10)? Claro que não, pois a fé implica uma prática de obediência e humildade. Tal como outros homens fiéis a Deus na antiguidade, Enoque, Noé e tantos mais, também Abraão sentiu o chamamento de YHWH e andou segundo as Suas Leis. A mesma Lei que foi compilada por Moisés após ter permanecido na presença de YHWH no Monte Sinai durante 40 dias e 40 noites aprendendo Dele as Suas instruções, ao ponto Dele declarar a Israel: Deuteronómio 4:8 – “E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta Lei que hoje ponho perante vós? Estas são as leis (instruções, conselhos) pelas quais todo o Israel deve viver, ensinando-as aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos, como se lê no versículo 9.

Ora vem Adonai Yeshua. Vem já hoje reinar em nós e aperfeiçoar os nossos caminhos. Prepara-nos já hoje para irmos ao Teu encontro na Tua vinda gloriosa.

AlleluYAH

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