TÍTULO: EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL … · 2013-09-06 · perspetiva resumida da...
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TÍTULO:
EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA
PENÍNSULA IBÉRICA
AUTORES:
Maria de Fátima Travassos Conde
Docente no ISCAC – Instituto Politécnico de Coimbra
Doutoranda na Universidade da Extremadura
(fconde @iscac.pt)
Dolores Gallardo Vázquez
Profesora Titular de Economía Financiera y Contabilidad.
Universidad de Extremadura.
e-mail: [email protected]
Maria da Conceição da Costa Marques, PHD
Professora Coordenadora do Instituto Superior de Contabilidade e
Administração de Coimbra
e-mail: [email protected]
Área Temática: Responsabilidade Social Corporativa
Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Portugal, Espanha
Metodologia de investigação: M8) Other
2
Abstract
As empresas de todos os países, incluindo Portugal e Espanha, enfrentam cada vez mais
novos desafios impostos pelas necessidades dos consumidores, pela pressão dos grupos
de pressão e pela legislação. Grande parte destes desafios está relacionada com a
Responsabilidade Social e Empresarial (RSE). O nosso trabalho pretende dar uma
perspetiva resumida da evolução do papel da RSE nos países da Península Ibérica, nas
últimas décadas. Verificámos que esta evolução foi semelhante ao nível de conceitos
teóricos, mas quando analisamos alguns indicadores relacionados com a aplicação das
práticas de RSE, concluímos que Espanha apresenta melhores resultados.
1. Introdução
A sociedade é abundante em problemas sociais e ambientais que variam no tipo e na
magnitude. Dois grandes problemas mundiais são a pobreza generalizada e a
degradação do meio ambiente. A pobreza é uma ameaça para a sobrevivência das
gerações atuais, enquanto a degradação do meio ambiente é uma ameaça para a
existência saudável não somente da presente geração, mas mais ainda para as gerações
futuras (Aguilera et al. 2007; Bhattacharyya et al, 2008).
A divulgação da sustentabilidade corporativa, a nível académico, é uma linha de
investigação atual e em crescente desenvolvimento (Dias, 2009), mas também, em
termos empresariais, cada vez mais os relatórios publicados são importantes para
reduzir a assimetria de informação entre a empresa e as partes interessadas (Cheng et al,
2012). Hoje em dia, considera-se que as empresas têm a obrigação de pensar nas
necessidades e desejos da sociedade a longo prazo, o que significa que elas se devem
dedicar a atividades que promovam os benefícios e minimizem os efeitos negativos das
suas ações, (Branco e Robinson, 2007; Martinez, 2010; Alniacik et al, 2011; Cheng et
al, 2012; Yakovleva e Vazquez-Brust, 2012). A divulgação da Responsabilidade Social
Empresarial (RSE) também se veio incrementando na Península Ibérica, contudo,
existem pequenas diferenças entre Portugal e Espanha. O objetivo do nosso trabalho é
verificar a evolução da RSE em ambos os países, tanto ao nível da aplicação das
práticas da RSE nas empresas, como ao nível de publicações de artigos.
3
2. O Papel da RSE na Península Ibérica
2.1 Em Portugal
Em todos os países, incluindo Portugal, as empresas enfrentam cada vez mais novos
desafios impostos pelas necessidades dos consumidores, pela pressão dos grupos de
interesses e pela legislação das empresas, por exemplo, a proteção do meio ambiente, os
produtos mais seguros e menos prejudiciais para a natureza e o cumprimento das
normas éticas e do trabalho em toda a cadeia de produção (Cerin y Karlson, 2002;
Gauthier, 2005; Haigh y Jones; 2007; Branco y Rodrigues, 2008; Bhattacharya et al,
2008; Yakovleva y Vazquez-Brust, 2012).
Segundo o relatório - Management Soluctions – A maioria das empresas portuguesas1
“… já estão conscientes da importância do desenvolvimento sustentável e está claro
que trabalham para melhorar o desempenho ambiental e a segurança e, em muitos
casos também o rendimento social, mas não se encontrou uma forma realmente eficaz
para pôr em prática e integrar este conceito na gestão global da empresa”.
Em Portugal, o que contribuiu para a adoção crescente do conceito de RSE pelas
empresas e para o seu desenvolvimento ao nível do ensino, foi a realização Cimeira
Europeia de Lisboa em Março de 2000 e a publicação do Livro Verde sobre a RSE, no
ano 2001. A prova de que na realidade se começou a dar importância à RSE é que em
Dezembro de 2002, a Novadelta foi a primeira empresa portuguesa a obter a
Certificação de Responsabilidade Social SA80002. A DHL Portugal obteve a
Certificação SA8000 em Junho de 2004, tornando-se a primeira empresa certificada no
1 Realizado pela Deloite en Diciembre de 2003.
2 Certificação pela norma de RSC, que deve abarcar também os fornecedores e os subcontratantes
4
sector dos serviços e na segunda em Portugal. DHL Portugal é uma filial da Deutsche
Post World Net (DPWN).
De referir que o crescimento expressivo ocorreu depois de 2003 como resultado de uma
combinação de fatores, dos quais se destacam (Vistas, A.; 2008):
- O surgimento de novas organizações relacionadas com esta questão;
- A publicação de um parecer pelo Conselho Económico e Social;
- Aparecimento de diversos eventos relacionados com o tema;
- Aumento de empresas de marketing, aumento do número de relatórios de RSE
das empresas, e a divulgação do tema nos meios de comunicação;
- Melhoria da regulamentação governamental das empresas cotadas;
- O aparecimento de empresas de consultadoria que oferecem serviços nesta
área.
O tema RSE começou a ser debatido por organizações representantes de diferentes
sectores, e neste sentido surgiram algumas associações de empresas interessadas na
divulgação do referido assunto, de salientar:
- GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial, foi criado
em 2000, e tem como missão “divulgar o conceito de cidadania e
responsabilidade social empresarial, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir
os seus negócios de forma socialmente responsável, caminhando na
construção de uma sociedade sustentável e justa”3.
- BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento
Sustentável, criado em 2001, tem como objetivo principal “conseguir que a
liderança empresarial seja catalisadora de uma mudança no sentido do
3 http://www.grace.pt/sobreograce.php (consultado em 14/03/2011)
5
desenvolvimento sustentável e fomentar a eco-eficiência, inovação e
responsabilidade social nas empresas”.4
- RSE Portugal5 – Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das
Empresas, criada em 2003, tendo como missão “ser a referência nacional na
RSE; dar maior visibilidade às empresas com práticas socialmente
responsáveis; fomentar, dinamizar e divulgar projetos empresariais a nível
nacional e europeu”. Esta organização está ligada à CRS Europe.6
- APEE7 – Associação Portuguesa de Ética Empresarial, criada em 2002, tem
como missão “Promover a ética e a Responsabilidade Social nas empresas e
em outras organizações, com o objetivo de estimular a correspondente
definição e a implementação de politicas e modelos de governo
organizacional para aumentar a competitividade e rentabilidade através das
boas práticas de gestão dentro do âmbito da sustentabilidade humana,
ambiental y económica do modelo de desenvolvimento adotado”.8
Durante muito tempo não havia orientações, a não ser algumas para o meio ambiente ou
as recomendações da CMVM, que exigissem às empresas que implementassem e
comunicassem as práticas: éticas, económicas, ambientais e sociais em termos
empresariais. No entanto, hoje em dia há um importante desenvolvimento, tanto na
aplicação da RSE, como na sua divulgação (Branco e Rodrigues, 2008).
No desenvolvimento do projeto da norma internacional ISO 26000, a partir de 2004
propôs-se que cada país prepare-se uma resposta em conformidade com a sua realidade,
para que as organizações podessem adotar localmente instrumentos para a definição e
aplicação da responsabilidade social. Aparecendo assim, neste âmbito, uma norma
portuguesa - NP 4469-1:2008 do Instituto Português da Qualidade (IPQ). O objetivo
geral desta Norma é fomentar e guiar as organizações para uma maior responsabilidade
social no contexto dos desafios de desenvolvimento sustentável. No entanto, a
certificação e a eventual aplicação do sistema de gestão da responsabilidade social, em
4 4 http://www.bcsdportugal.org/apresentacao/82.htm (consultado em 14/03/2011)
5Em 2010, formalizou-se publicamente o protocolo entre GRACE e a RSE Portugal, que une as duas associações nacionais mais
importantes na Responsabilidade Social Corporativa, uma entidade única com os órgãos diretores e a equipa de trabalho conjunta. 6 http://www.csreurope.org/pages/en/focus_rseportugal.html (consultado em 14/03/2011)
7 Esta associação ajudou na preparação da ISO 26000.
8 http://www.apee.pt/portal (consultado en 14/3/2011)
6
conformidade com os requisitos desta norma, não implica que a organização em si
mesma seja socialmente responsável, mas através destes mecanismos tem a
possibilidade de o vir a ser.
Em 2008, a KPMG Internacional9 desenvolveu um estudo para analisar a informação à
disposição do público, em 22 países, pelas 100 maiores empresas em cada um deles
(N100). E descobriu as tendências históricas e emergentes dos relatórios de
responsabilidade corporativa nas maiores empresas do mundo.
Em Portugal os resultados mostram um aumento significativo no número de relatórios
de RSE das N100, em comparação com 2006, ano em que foi realizado outro estudo
pela KPMG Portugal. Nesse ano somente 10% das N100 divulgaram o relatório de
sustentabilidade ou de um capítulo sobre a RSE no relatório anual, uma percentagem
muito menor que na atualidade. Em 2008, aproximadamente 61% das N100 portuguesas
publicam, separadamente ou integrado, no relatório anual, informação sobre RSC. Este
aumento da informação é o resultado do aumento de consciência e do compromisso com
os temas de sustentabilidade entre as empresas portuguesas (KPMG Internacional,
2008).
Somente cerca de 32% das N100 publicam um relatório de responsabilidade corporativa
separadamente. A restante percentagem integra nos relatórios anuais, esta é a opção
preferida devido à falta de recursos para a comunicação e à perceção, entre as empresas,
que o esforço não compensa o custo de publicação de um relatório em separado.
Saliente-se, também, que são poucos os relatórios de responsabilidade social, em
Portugal, que contêm observações de auditores externos, mas as empresas começam a
entender os benefícios deste processo, especialmente no que respeita à materialidade
(KPMG Internacional, 2008).
Os sectores principais são empresas com alto impacto ambiental, e destes mais de 50%
divulgam informação sobre o seu desempenho em temas de sustentabilidade. Outra
mudança notável desde o último estudo (2006) é que em finanças, seguros e valores,
mais de 60% das empresas revelam informação sobre sustentabilidade.
9 KPMG International Survey of Corporate Responsibility Reporting 2008
7
Em termos académicos também são muitos os trabalhos que têm surgido, em Portugal
na última década, sobre RSE. Apenas como exemplo apresentamos os seguintes:
AUTOR/ANO TÍTULO RESUMO
Sarmento y
Duarte (2004)
“Environmental
Strategies of
Polluting Industries”
Analisa o comportamento das organizações e o meio
ambiente das empresas que são potenciais contaminadoras, e
conclui que as empresas que investem na proteção do meio
ambiente são as que têm causado acidentes e são estas que
incluem factos ambientais nas suas contas. No entanto,
conclui que ainda existe um grande número de empresas que
consideram que não têm nenhuma obrigação com a
responsabilidade social. Apesar de tudo isto, a empresas
estão geralmente preocupadas com o ambiente, defende o
autor. Outra das conclusões deste estudo é que os esforços
ambientais se relacionam positivamente com o tamanho da
empresa.
Abreu et al,
(2005)
“Corporate social
responsibility in
Portugal: empirical
evidence of corporate
behaviour”
O objetivo desta investigação é analisar RSE, sobretudo a
experiência e a prática das empresas em Portugal. Defende-
se que o relatório social da empresa é a comunicação e o
objeto de medição. Os autores analisam e apresentam os
resultados interessantes na área da RSE. Os autores
desenvolveram uma análise dos componentes principais para
ordenar e agrupar os dados originais. A análise preliminar
gerou três componentes da RSE: a influência externa, a
influência do mercado e a influência operativa das empresas
em Portugal. Esta investigação mostra as diferenças
culturais e ajuda a realçar a importância da investigação
neste âmbito na comunidade europeia. Também põe em
relevo a relação entre a atividade da RSE, a imagem
corporativa e o desempenho.
Branco y
Rodrigues
(2006) “Communication of
corporate social
responsibility by
Portuguese banks: A
legitimacy theory
perspective”
Os autores analisam se os bancos portugueses utilizando os
seus sites como um meio para divulgar informação sobre a
responsabilidade social e determinar que tipos de
informação revelam, comparando a dita revelação com a
divulgação similar nos relatórios anuais. Chegaram à
conclusão que os bancos com maior visibilidade entre os
consumidores parecem mostrar uma maior preocupação por
melhorar a imagem corporativa através da divulgação de
informação de responsabilidade social. Os resultados
sugeriram que a teoria da legitimidade pode ser uma
explicação da divulgação da responsabilidade social pelos
bancos portugueses.
Saraiva y
Serrasqueiro
“Corporate
Sustainability in the
Os autores estudam a sustentabilidade, RSE, e os
investimentos socialmente responsáveis, com o argumento
que existem claros benefícios para as empresas e para as
8
(2007) Portuguese Financial
Institutions”
instituições financeiras. O objetivo empírico deste trabalho é
mostrar um marco teórico para a existência e o fornecimento
de informação não financeira sobre os produtos financeiros
dos bancos em Portugal. Geralmente, as conclusões apontam
no sentido de que as instituições financeiras inquiridas estão
muito atrás deste novo marco e das ferramentas
relacionadas, comparado com instituições financeiras
semelhantes fora de Portugal. Há algumas instituições que
divulgam, mas em comparação com outros países europeus e
não europeus, a diferença é enorme. Chegou-se à conclusão
que ainda existe muito para fazer neste campo, a partir de
uma definição clara dos benefícios e custos da prestação da
informação não-financeira.
Carreira y
Abreu (2008)
“Es relevante la
responsabilidad
social corporativa en
el análisis del valor
de la organización”
Assinalam que a relevância da RSE deve ser percebida
através de variáveis explicativas do Desempenho Financeiro
Corporativo e do Desempenho Social Corporativo.
Branco y
Rodrigues
(2008)
“Factors Influencing
Social Responsibility
Disclosure by
Portuguese
Companies”
Compara-se a internet e os relatórios anuais como meios de
comunicação de responsabilidade social e analisa-se o que
influencia a sua divulgação. Examina-se a divulgação da
responsabilidade social pelas empresas portuguesas nos anos
2003 e 2004. De acordo com o marco adotado as empresas
divulgam informação sobre a responsabilidade social para
apresentar uma imagem de empresas responsáveis e
poderem legitimar a sua conduta perante os grupos de
interesses, e influenciar a precessão externa da sua
reputação.
Monteiro y
Guzmán (2009) “Determining factors
of environmental
strategic positioning
adopted by
Portuguese large
companies”
Os autores analisam o posicionamento da estratégia
ambiental adotada por uma amostra de grandes empresas
que operam em Portugal, para identificar os principiais
fatores que podem ter influência significativa na adoção de
uma estratégia pró-ativa para o ambiente. Os resultados
indicam que existe uma relação positiva entre a existência
nas empresas de um departamento dedicado ao ambiente e
adoção de uma posição proactiva no ambiente. No entanto,
não existe uma relação significativa entre a adoção de uma
estratégia ambiental e três características específicas de uma
empresa (sócios da empresa, tipo de controle de capital e o
tamanho da empresa).
Abreu y
Carreira (2010);
“Relevance Of Social
Responsibility For
The Firm Value: The
Problem Of
Stakeholders Theory”
Analisa-se a informação publicada pelas empresas com
valores cotados na bolsa Euronext de Lisboa e mediante de
estudos de caso, durante o período 2004-2008 (Euonext
Lisboa, 2010). Estuda a aplicação de práticas responsáveis
de desenvolvimento social, relacionando-as com o valor da
empresa e com a sustentabilidade com o fim de identificar
processos para minimizar os riscos e criar oportunidades que
9
impliquem a ampliação da reputação.
Eugénio y
Morais (2010)
“An examination of
social responsibility
on the web and on the
annual reports: a
Portuguese case
disclosure”
Examinam o uso da internet para a divulgação da
informação da responsabilidade social da Secil, uma das
maiores empresas de cimento português. Os resultados
permitiram concluir que a internet é uma poderosa
ferramenta utilizada por esta empresa para a divulgação de
informação.
Estes trabalhos são somente alguns exemplos, porque cada vez aparecem mais artigos
que abordam estes temas, atualmente este assunto suscita o interesse de um público
bastante heterogéneo.
2.2 Em Espanha
Em Março de 2002, em Barcelona, foi apresentado o Código de Bom Governo para a
empresa sustentável, promovido pelo IESE, a Fundação Entrono y
PricewaterhouseCoopers e onde participaram representantes de 60 empresas. As
empresas espanholas quiseram-se juntar ao movimento impulsionador da RSE e em
Abril de 2002, 93 empresas e 34 organizações entregaram em Madrid ao Secretário das
Nações Unidas as suas cartas de adesão ao Global Compact, instrumento que promove a
adoção pelas empresas de vários princípios universais no âmbito dos direitos humanos,
normas laborais e meio ambiente (Benbeniste, 2002).
As empresas mais admiradas do mundo segundo o ranking de Pricewaterhousecoopers
(PWC, 2002) desenvolvem práticas de RSC e difundem-nas para aproveitar os efeitos
positivos que geram: a transparência informativa. Em Espanha produziu-se um
fenómeno semelhante, há uma tendência crescente no fornecimento de dados genéricos
e qualitativos, que são dificilmente verificáveis, dificultando a comparabilidade da
informação, e diminui a fiabilidade e a relevância (Moneva y Llena, 2004).
Ainda que os relatórios da RSE tenham melhorado nos últimos anos, o aspeto social
continua a ser difícil de quantificar. Para Gallardo e Castilla (2005), a importância do
10
conteúdo qualitativo dentro deste tipo de comunicações justifica a relevância de
procedimentos alternativos aos puramente contáveis para comunicar o estado e o
desenvolvimento das políticas sociais no âmbito empresarial.
Para o desenvolvimento da RSE em Espanha, muito tem contribuído as iniciativas que a
seguir apresentamos.
O governo espanhol publicou em junho de 2006 o Livro Branco de RSE, com o objetivo
de potenciar e promover estas matérias em Espanha, e foi o primeiro deste género a ser
aprovado na Europa por um parlamento nacional. De seguida, em 2008, se criou o
Conselho Estatal de RSE (CERSE) adstrito ao Ministério do Trabalho e Assuntos
Sociais, cuja função principal é ser o órgão assessor e consultivo do Governo, que
identifique e promova as melhores práticas em matéria de responsabilidade social,
propondo as possíveis políticas a desenvolver, neste âmbito, pelo Governo.
A sua característica principal é a sua composição quadripartida, na qual estão
representadas a administração pública, as organizações sindicais, as organizações
empresariais e as instituições de referência no âmbito da RSE.
Além disso, a Lei da Economia Sustentável de 201010
inclui propostas específicas sobre
a RSE em algumas cláusulas:
Promoção pública da RSE: as empresas públicas e administrações,
devem manter uma política de promoção pública de RSE, mediante a
elaboração de relatórios de RSE para sua autoavaliação de acordo com as
principais normas internacionais.
Comunicações ao CERSE: as organizações com mais de 1000
trabalhadores comunicam expressamente ao Conselho Estatal da RSE os
seus relatórios de RSE, com o objetivo que o CERSE possa acompanhar
o desenvolvimento da RSE em Espanha.
Identificação como empresa socialmente responsável: aquelas
organizações que assim o desejem poderão solicitar ser reconhecidas
como empresas socialmente responsáveis de acordo com os critérios
estabelecidos pelo CERSE.
10
http://noticias.juridicas.com/base_datos/Admin/l2-2011.html
11
Também, as empresas formaram associações profissionais para unir os seus esforços em
matéria de RSE. De referir, ainda, a existência de uma colaboração estreita entre
empresas e académicos para fomentar a investigação e a inovação na envolvente da
RSE e da sustentabilidade. Neste sentido, constituíram-se várias entidades e iniciativas
nacionais especializadas nestas matérias, que estão contribuindo para a criação e difusão
de uma cultura responsável no tecido empresarial espanhol: Fundación Ecología y
Desarrollo (ECODES), Asociación Española de Normalización e Certificación
(AENOR), Fundación Entorno, Forética e o Observatorio de RSC.
A Fundación Ecología y Desarrollo (ECODES)11
é uma organização sem objetivo do
lucro e independente que atua a favor do desenvolvimento sustentável na sua dimensão
económica, social e meio ambiental. A sua missão é ajudar os que querem atuar a favor
da sustentabilidade: pessoas, empresas, meios de comunicação, entidades não lucrativas,
e administrações públicas que querem praticar ou praticam a sustentabilidade em
Espanha e América Latina, mediante o desenvolvimento de alternativas ecologicamente
sustentáveis, socialmente justas e economicamente viáveis.
Em 1995, apareceu a Fundación Entorno12
-Consejo Empresarial Español para el
Desarrollo Sostenible que é uma organização privada sem fins lucrativos, cuja missão
é trabalhar com os líderes empresariais abordando os desafios do desenvolvimento
sustentável como oportunidades de negócio. O seu programa de trabalho aborda
diferentes aspetos de desenvolvimento sustentável, com o fim de cumprir os seguintes
objetivos: Liderança empresarial, Desenvolvimento de programas, Melhores práticas e
Alcance global.
Temos ainda, a Asociación Española de Normalización y Certificación (AENOR)13
,
criada em 1986, igualmente sem fins lucrativos. A sua atividade contribui para melhorar
a qualidade e a competitividade das empresas, dos seus produtos e dos seus serviços,
ajudando desta forma as organizações a gerar um dos valores mais apreciados na
economia atual: a confiança.
11
http://www.ecodes.org/quienes-somos/ 12
http://www.fundacionentorno.org/Fundacion/Trayectoria,37.htm 13
http://www.aenor.es/aenor/normas/buscadornormas/buscadornormas.asp#.UTeNLRwwz_M
12
A RS10: 2009 promovida pela AENOR e de âmbito estatal, é especificamente de
certificação. Esta norma estabelece os requisitos para um sistema de gestão de SER,
inspirado nos princípios estabelecidos no guia da ISO 26000 (que no momento da sua
publicação estava em fase de projeto) e na norma experimental UNE 165010:2009 EX
Ética.
Também, a Forética é uma associação constituída, em 1999, por um conjunto de
empresas e profissionais da RSE, e tem como objetivo fomentar a cultura da gestão
ética e a responsabilidade social, dotando as organizações de conhecimentos e
ferramentas úteis para desenvolver com êxito um modelo de negócio competitivo e
sustentável. Esta associação promove o Sistema de Gestão Ética e Socialmente
Responsável (SGE 21), é uma norma certificável em matéria de responsabilidade social
de âmbito espanhol e latino-americano.
Esta norma é composta por seis capítulos, sendo o capítulo seis o que desenvolve os
requisitos certificáveis, subdividindo-se ainda em nove áreas de gestão (alta direção,
clientes, fornecedores, pessoas que trabalham para a organização, meio social,
envolvente ambiental, investidores, concorrência, administrações públicas),
estabelecendo para cada uma delas os requisitos que deve cumprir uma organização
para ser considerada ética e socialmente responsável e poder obter esta certificação.
Por fim, com o objetivo de reunir opiniões, conceitos e iniciativas e criar uma entidade
de referência capaz de impulsionar a educação e a divulgação necessárias sobre RSE
nasceu, no ano 2004, o Observatorio de Responsabilidad Social Corporativa14
da
mão de um conjunto de organizações representativas da sociedade civil. Esta
organização trabalha com o fim de criar consciência e dar a conhecer o efeito positivo
da implementação da RSE na empresa e as formas de potencia-lo, realizando um
acompanhamento exaustivo das iniciativas politicas nesta matéria e suas aplicações
práticas.
Cada vez mais em Espanha, as empresas que produzem relatórios valorizam, também, a
sua certificação. Segundo o relatório KPMG Internacional (2008) Espanha ocupa o
segundo lugar, tendo em conta a percentagem de relatórios auditados. No entanto, a
14
http://www.observatoriorsc.org/index.php?option=com_content&view=article&id=12&Itemid=27&lan
g=es
13
integração de informação de responsabilidade corporativa nos relatórios anuais não é
norma em Espanha: um terço das empresas inquiridas não informa nada sobre
responsabilidade corporativa, enquanto cerca de outro terço somente publica um
relatório de responsabilidade corporativa, separadamente do relatório anual.
No trabalho realizado pela KPMG (2008) em Espanha chegaram à conclusão que a
difusão dos relatórios sobre responsabilidade social é superior á média em todos os
sectores menos no florestal, celulose e papel. Setores que contribuem significativamente
para o PIB, como a construção, as finanças, seguros, têm algumas das taxas mais altas
de comunicação, mais de 80% destas empresas estão empenhadas na responsabilidade
empresarial.
Os relatórios de RSE, em Espanha, são na sua maioria fiáveis, contudo, 51% das
empresas N100, ainda não são avaliadas por um auditor externo competente e
independente.
Também o Serviço de Segurança geral da KPMG de Espanha e a Fundação
Alternativas, realizou um inquérito entre os especialistas em responsabilidade
corporativa. O objetivo da investigação foi avaliar o nível de confiança nas empresas
espanholas, assim como a compreensão de como as práticas de responsabilidade
corporativas são apreendidas pela opinião pública. Mais de 80% dos inquiridos pensam
que nos últimos anos alguns dos compromissos com a responsabilidade corporativa tem
um efeito positivo sobre como as empresas espanholas são governadas e administradas,
no que diz respeito às questões sociais, éticas e ambientais (KPMG Internacional,
2008).
De acrescentar, também que Espanha em 2007, foi o país que mais relatórios GRI (34%
do total) apresentou a qualificação “in accordance” (Rivero, 2007).
A Fundacão Alternativas, desde o seu nascimento, que se tem dedicado à cultura
empresarial da RSE. Desde 2007 que elabora Relatórios Anuais sobre RSE em Espanha.
Em 2010, o relatório15
presta atenção à RSE e ao futuro da empresa, numa conjuntura
em que o debate económico centra-se, sobretudo, na saída da crise, ainda que as
organizações centrem a sua atenção em modelos de gestão que sejam sustentáveis no
15 Para a realização deste Relatório a Fundação Alternativas designou uma equipa de investigadores
académicos da Universidade de Alcalá de Henares, para colaborar com a KPMG.
14
futuro. O objetivo deste trabalho foi conhecer o perfil da função de RSE nas empresas
que formam o Ibex 35, vejamos os resultados:
ASSUNTO PERCENTAGE DE EMPRESAS CONSULTADAS
Departamento RSC
75% possui um departamento denominado “Departamento de RSC”,
12,5% inclui as funções de RSC na Direção de Medio Ambiente e
desenvolvimento Sustentável
6,25% dentro da Direção de Inovação e Direção de Recursos, através da
Direção de Organização e Qualidade
Pessoas trabalhando
nas políticas de
RSC
12,5% tem mais de 10 pessoas,
50% tem entre 1 e 3 trabalhadores,
25% (mais 15% que em 2009) declara ter entre 5 e 10 empregados no
departamento.
Contribuição do
Governo para uma
estratégia soc.
responsável
75% está parcial ou totalmente de acordo com o facto do governo facilitar o
desenvolvimento por parte das empresas espanholas de uma estratégia
socialmente responsável,
25% tem opinião contrária.
Relatórios
50% pensa que deveriam ser obrigatórios para todas as empresas,
43,75% argumenta que a elaboração destes relatórios devia voluntária.
6,25% defende que a elaboração destes relatórios é recomendável, pois são
importantes para manter informados os grupos de interesses.
Certificação em
matéria de RSC
37,5% tem utilidade relativa, mas devia desenvolver-se,
31,25% não tem nenhuma utilidade,
25% pensa que esta certificação seria muito útil,
6,25% declara não conhecer o suficiente o projeto.
Relação entre la
RSE e os negócios
56,25% está parcial ou completamente de acordo que os desenvolvimentos de
RSC, que não são importantes, se encontrem desvinculados do negocio,
43,75% está em desacordo.
Fonte: Elaboração própria
15
As iniciativas empresariais, neste campo, têm evoluído em paralelo com a intensificação
do interesse académico pela RSC. Têm sido publicados diversos artigos sobre este tema,
destacamos apenas alguns mais recentes:
AUTORES/ANO CONTEÚDO DO TRABALHO
Escobar y González
(2005)
Analisa a legitimação das atuações empresariais perante os seus
stakeholders, no setor elétrico espanhol (Grupo Endesa).
Somoza y Vallverdú
(2006)
Os autores defendem que a RSE está envolvida no resultado da empresa, a
partir da perspetiva de benefício do negócio pode-se aumentar a
rentabilidade da empresa.
Puerta (2007) É uma descrição da situação atual da RSE em Espanha, indicando a
complexidade do processo de execução e seu diagnóstico da situação.
Alonso (2009) Analisa o papel dos códigos de bom governo e a responsabilidade social
corporativa, sob a influência das novas tecnologias.
Tirado, Ruiz e Bustos
(2008)
Sintetizam alguns critérios e diretrizes para a implementação do princípio da
transparência em RSE, normalmente através das memórias de
sustentabilidade, enfatizando os aspetos mais exigentes, decorrentes deste
princípio: porquê informar, sobre, o quê e como?
Cegarra-Navarro e
Martínez-Martínez
(2009)
Desenvolveram um estudo empírico para entender por que é que as
organizações empresariais, cada vez mais, estão ligadas às questões de
RSE. Os resultados indicam que os benefícios da RSE caem em cinco
categorias, ou seja: qualidade de produtos e serviços, negócios, inovação,
cultura empresarial e obrigações éticas. Os autores verificaram que a RSE
teve um efeito significativo sobre a solidez financeira.
Gessa Perera, e Jiménez
Jiménez (2011)
Este trabalho tem como objetivo principal identificar, de forma exploratória
e contextualizada através de um estudo de caso, os aspetos mais relevantes
da gestão das relações com as partes interessadas, no sector hoteleiro.
De los Ríos Berjillos et
al (2012)
Este trabalho mostra um modelo de regressão explicativo que permite
verificar a existência de uma relação direta entre a informação sobre
responsabilidade social orientada para o cliente fornecido pelas principais
instituições financeiras espanholas, e a reputação corporativa.
Fonte: Elaboração própria
Verificamos que o tema RSE tem merecido a atenção da sociedade em geral, no entanto,
como os anos em estudo no nosso trabalho se consideram anos de crise financeira
(Brunnermeier, 2009), de seguida vamos ver como se comportam alguns indicadores de
sustentabilidade, neste período, em Portugal e Espanha.
16
2.3 Alguns indicadores de desenvolvimento sustentável da última década16
-
análise comparativa entre Portugal e Espanha
De acordo com a Comissão Europeia (2009a), o impacto da crise financeira nos países,
a nível individual, depende em grande medida das condições iniciais – antes da crise,
das economias e suas vulnerabilidades. Por isso, pensamos que é importante apresentar
comparativamente alguns indicadores de desenvolvimento sustentável durante a última
década, em ambos os países. Tendo em conta que existe uma variabilidade imensa de
indicadores, apresentamos apenas alguns para exemplificar a evolução da realidade
económica, ambiental e social.
a) Indicadores Económicos
Produto interno bruto (PIB)
O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia para avaliar a atividade
económica de um país. Representa o valor de todos os bens e serviços produzidos num
país, durante um determinado período. Para as avaliações mais consistentes, o mais
adequado é o uso do PIB real (calcula-se a preços constantes), que tem em conta
somente as variações nas quantidades produzidas dos bens e não nas alterações dos
preços de mercado inflação). Este indicador utiliza-se muitas vezes para avaliar a
prosperidade de um país, já que é uma medida de rendimento real médio de um país. O
PIB real per capita calcula-se mediante a relação entre o PIB real e a população media
de um ano em particular.
No gráfico 1A observamos que, na última década, o PIB real per capita tem valores
muito diferentes, em Portugal e em Espanha. Este indicador, no país vizinho, apresenta
valores muito superiores aos de Portugal. Com o início da crise, em 2007, os valores do
16 Esta parte do trabalho foi baseada na consulta, em março de 2013, do site
http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/sdi/indicators
17
indicador também caíram e, neste caso, em Espanha a descida foi mais pronunciada. Em
2010, o PIB em Portugal, aumentou 1,4%, contrariamente ao que tinha acontecido no
ano anterior, este crescimento está associado com a evolução positiva da procura interna
e das exportações (AEP, 2010, p.29). De salientar que a média do PIB real na Europa é
superior à dos dois países em estudo.
Gráfico 1A - Evolução do PIB real per capita (2000-2011)
Fonte: Eurostat
Produtividade
A produtividade laboral por hora trabalhada é um indicador de competitividade da
economia da União Europeia e da capacidade para assegurar a prosperidade do seu povo
no tempo. Os fatores que conduzem ao crescimento da produtividade laboral são a
inovação tecnológica, a melhoria da qualificação dos trabalhadores e a organização do
trabalho.
No que diz respeito a este indicador os valores apresentados por Portugal e Espanha
(gráfico 1B), são muito diferentes, desde 2000. Em ambos os países tem havido uma
tendência, na última década no crescimento deste indicador. Em 2007, Portugal diminui
ligeiramente a diferença, relativamente a Espanha, mas nos anos seguintes, a distância
entre os valores apresentados nos dois países, para este indicador, cresceu. Podemos
também observar que Espanha apresenta valores muito próximos da média europeia,
contrariamente a Portugal.
0
5000
10000
15000
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20
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20
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20
11
Euro
s p
or
hab
itan
te
EU27
Port
ESP
18
Gráfico 1B – Produtividade (euro por hora trabalhada) em Portugal e Espanha
Fonte: Eurostat
De acordo com os indicadores económicos apresentados, a economia espanhola cresce
mais que a economia portuguesa nos anos anteriores à crise de 2007-2009, mas nos anos
seguintes a diminuição foi um pouco mais acentuada também em Espanha. Sobre a
evolução da produtividade laboral, os trabalhadores portugueses mostram tendência a
ser trabalhadores menos produtivos.
b) Indicadores Ambientais
De seguida expomos, comparando sempre os dois países da Península Ibérica, alguns
indicadores de desenvolvimento sustentável na área do meio ambiente: produção de
resíduos não minerais, emissões de gases de efeito estufa, custo das energias renováveis
no consumo final bruto de energia, e o número de organizações registadas no EMAS
(Eco-Management and Audit Scheme).
0
5
10
15
20
25
30
35
EU27 Port ESP
19
Produção de residuos não minerais
A produção de resíduos não minerais (kg por habitante) define-se como todos os
resíduos gerados num país por habitante e ano (excluindo os resíduos minerais, lamas
de dragagem e solos contaminados). Num plano comparativo (gráfico 2A) a nível
europeu, verificamos que, entre 2004 e 2008, a produção de resíduos per capita tem
aumentado em Portugal, destacando-se o ano 2008. Em 2009, nota-se uma diminuição
significativa nos valores deste indicador. De sublinhar, que Espanha apresenta valores
para este indicador, entre 2004 e 2010, sempre com tendência decrescente e sempre
inferior à média europeia.
Gráfico 2A – Produção de resíduos não minerais
Fonte: Eurostat
Emissões de gases com efeito estufa
No que diz respeito ao indicador das quantidades de emissões de gases com efeito
estufa, o mesmo inclui: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O),
e os chamados gases F (hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre
(SF6)). Estes gases são agregados em uma única unidade usando gás específico
potencial de aquecimento global (GWP) e são expressos em unidades equivalentes de
CO2. O indicador não inclui as emissões e remoções relacionadas ao uso da terra,
mudança do uso da terra e silvicultura (LULUCF); nem incluem as emissões da aviação
0
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1000
1500
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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
KG
pe
r ca
pit
a
EU27
Port
ESP
20
internacional e o transporte marítimo internacional. Na tabela seguinte verificamos que
os valores apresentados pelos dois países para este indicador são idênticos, de sublinhar
de uma forma positiva, que em 2010, os referidos países conseguiram obter o valor mais
baixo, respectivamente, da última década.
Tabela - Emissões de gases com efeito estufa (equivalente de CO2)
Países 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Port 137 139 146 137 141 144 136 132 130 124 118
Esp 135 135 141 143 149 154 151 154 143 130 126
Fonte: Eurostat
Percentagem das energias renováveis no consumo final bruto de energia
O indicador “Quota das energias renováveis no consumo final bruto de energia” é
calculado com base em estatísticas da energia, abrangidos pelo Regulamento de
Estatísticas de Energia (pode ser considerado uma estimativa do indicador descrito na
Directiva 2009/28/CE). Ao observarmos o gráfico 2B averiguamos que Portugal
conseguiu percentualmente, nos últimos anos produzir/consumir, em relação ao seu
consumo total, mais energias renováveis do que Espanha. De realçar que, em ambos os
países, a produção de energias renováveis tem vindo a aumentar, o que em termos de
sustentabilidade é muito positivo.
Gráfico 2B – Percentagem de energias renováveis no consumo final bruto de energia
Fonte: Eurostat
0 5 10 15 20 25
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Esp
Port
21
Número de organizações registadas no Eco-Management e Audit Scheme (EMAS)
Este indicador representa o número de organizações registadas no EMAS (Eco-
Management e Audit Scheme) e sites. O EMAS é um sistema de gestão ambiental
voluntário implementado por empresas e outras organizações de todos os sectores da
actividade económica, incluindo as autoridades locais, com o objectivo de avaliar,
informar e melhorar o respectivo desempenho ambiental. A Comissão Europeia
começou a coletar o número de sites com o número de organizações em março de 2004
para dar uma imagem mais precisa do desenvolvimento EMAS. Mesmo sabendo que
espanha é um país muito maior, a todos os níveis, verificamos através da observação do
gráfico 2C que Portugal, a discrepância no número de organizações existente em nos
dois países é enorme. É ainda de salientar que, em Espanha, ao longo dos anos o
número das organizações registadas evoluiu de uma forma acentuada, ao contrário de
Portugal que teve uma evolução muito ténue até 2009, tendo em 2010 e 2011 até
diminuído o número de organizações registadas no EMAS.
Gráfico 2C – Número de organizações registadas no EMAS e sites
Fonte: Eurostat
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
2002 2004 2006 2008 2010 2012
Port
Esp
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c) Indicadores sociais
Pessoas em risco de pobreza ou exclusão social
Agora numa vertente mais social, sublinhe-se que a estratégia Europa 2020 promove a
inclusão social, nomeadamente através da redução da pobreza com o objetivo de tirar,
pelo menos 20 milhões de pessoas, do risco de pobreza e exclusão social. O indicador
que analisamos agora corresponde à soma das pessoas que estão: em risco de pobreza
ou severamente privadas materialmente ou vivendo em domicílios com intensidade
muito baixa de trabalho17
. Ao observarmos o gráfico 3A verificamos que só em 2010 e
2011 é que Espanha apresentou um rácio de pessoas em risco de pobreza ou exclusão
social, relativamente ao total da respectiva população, superior ao de portugal. Como
seria de prever, com a crise, os valores deste indicador têm tendência a agravar-se.
Grafico 3A – Pessoas em risco de pobreza ou exclusão social
Fonte: Eurostat
17 Pessoas em risco de pobreza são pessoas com rendimento monetário equivalente abaixo do limiar de
risco de pobreza, que é fixado em 60% do rendimento equivalente mediano nacional disponível (após
transferências sociais). Privação material abrange indicadores relativos a pressão económica e duráveis.
Pessoas com condições de vida severamente limitadas pela falta de recursos são as que têm, pelo menos
4, das 9 privações seguintes: não podem pagar i) o aluguer ou contas de serviços, ii) manter a casa
adequadamente quente, iii) enfrentar despesas inesperadas , iv) comer carne, peixe ou um equivalente de
proteína a cada segundo dia, v) uma semana férias longe de casa, vi) um carro, vii) uma máquina de lavar
roupa, viii) TV a cores, ou ix) um telefone. As pessoas que vivem em domicílios com intensidade de
trabalho muito baixo são aquelas que vivem em domicílios 0-59 idade onde os adultos (com idade entre
18-59) trabalham menos do que 20% do seu potencial total de trabalho durante o ano passado. (Eurostat)
0 5 10 15 20 25 30
2004
2005
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2009
2010
2011
Esp Port
23
Novos casos de infrações
Por último, apresentamos o indicador “novos casos de infrações” que inclui as novas
ações apresentadas ao Tribunal de Justiça, que dizem respeito às falhas de cada Estado-
Membro em cumprir as suas obrigações. Verificamos, pelos dados apresentados (gráfico
3B), que no ano 2003, Espanha atingiu o número mais elevado de casos (28) de
infração. De 2005 a 2007, o valor deste indicador, nos dois países foi crescendo. Nos
anos 2008 a 2010, houve uma diminuição do número de infrações, em Espanha. Em
2009 e 2010, Portugal diminui o número de situações, contudo, continuou a cometer
mais infrações em termos de sustentabilidade, do que Espanha.
Gráfico 3B – Novos casos de infrações
Fonte: Eurostat
Desta análise resumida de alguns indicadores de sustentabilidade, obtidos pelos países
da peninsula Ibérica, concluimos que Espanha nesta matéria, apresenta melhores
resultados. Nos últimos anos verifica-se que ambos os paises enveredaram esforços no
sentido de melhorarem os resultados dos indicadores, e assim alcançarem paises mais
sustentáveis.
0
5
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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Port
Esp
24
3.Conclusão
RSE é um desafio que atravessa fronteiras em constante evolução e deve estar presente
em todas as áreas da empresa. Mas a legitimidade da empresa perante a sociedade,
depende da divulgação de suas informações financeiras e não financeiras.
Verificámos que a evolução do papel da RSE, em Portugal e Espanha, tem sido
semelhante, tanto ao nível das práticas implementadas nas empresas, como ao nível das
organizações criadas com o objetivo de impulsionar a aplicação destas mesmas práticas.
Ao nível dos indicadores que apresentamos concluímos que ambos os países têm
evoluído positivamente, embora sendo Espanha quem alcança melhores resultados
globais nesta área.
Contudo, para terminar esta comparação de dados relacionados com RSE, entre
Portugal e Espanha, note-se que a iniciativa anual "Ranking - companhias mais éticas
do mundo em 2012" de americana Ethisphere18
, Portugal é representado pela Sonae,
EDP - Energias de Portugal e Portugal Telecom, em contraste não existe nenhuma
empresa espanhola incluída neste ranking.
18
Mais informações http://ethisphere.com/worlds-most-ethical/wme-faq/
25
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