TIVO DA CARPA COMUM, Cyprinus carpio 1758) VR. … ESTERCO DE CODORNA, Nothura maculosa L., E MilHO,...

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POllCUl TIVO DA CARPA COMUM, Cyprinus carpio (l., 1758) VR. COMUNNIS, COM MACHO DA TllÃPIA DO NllO, Oreochromis niloticus (L., 1766), ALIMENTADOS COM ESTERCO DE CODORNA, Nothura maculosa L., E MilHO, Zea mays L.1 José William Bezerra e Silva2 José Ribeiro Machado3 Maria Inês da S. Nobre4 Andréa Teixeira Bezerra5 POLICUL TURE OF COMMON CARP, Cyprinus carpio L., 1758., VR. COMUNNIS, ANO MALE NILE TILAPIA, Oreochromis niloticus (L., 1766), FEO WITH MANURE OF SPOTTEO NOTHURA Nothura maculosa L., ANO CORN, Zea mays L. RESUMO Relatam-se os resultados de um policultivo da carpa comum, Cyprinus carpio L., 1758 vr. comun- nis, com macho da tilápia do Nilo, Oreochromis nilo- ticus (L., 1766~, realizado em viveiro, com área inun- dada de 350m. As densidades de estocagem foram 2.500 carpas/ha e 5.000 tilápias/ha, total de 7.500 indivíduos/ha. Os peixes foram alimentados com es- terco de codorna, Nothura maculosa L., e milho, Zea mays L., em partes iguais, fornecidos, até o quarto mês do cultivo, na base de 5% da biomassa dos pei- xes no viveiro, diariamente, diminuída, do quinto mês em diante, para 3%. O viveiro foi, inicialmente, fertili- zado com esterco de bovino (1kg/2m2). A pesquisa durou 11 meses, período de 4 de outubro de 1988 a 4 de setembro de 1989, e, mensalmente, amostrou-se 20% dos indivíduos de cada espécie, dos quais se obteve comprimento total e peso, para determinação de: (a) curvas de crescimento em comprimento e pe- so e de biomassa; (b) ganhos de biomassa e de peso individual; (c) taxas de sobrevivência; (d) conversão alimentar; e (e) produtividade, a fim de se avaliar o potencial das duas espécies para bicultivos comerciais. SUMMARY An experiment to evaluate lhe potential 01 two Ireshwater lishes (common carp, Cyprinus carpio L. vr. comunnis, and male Nile tilapia, Oreochromis niloticus L., 1766) in policulture was carried out at lhe DNOCS Icthyological Research Center "Rodolpho von Ihering" !fentecoste, Ceará, Brazil). Fish were stocked in 350m earthen pond led with manure 01 spotted nothura, Nothura maculosa L., and corn, Zea mays L. The stocking rale were 2,500 carps + 5,000 male Nile tilapia/ha. Monthly 20% 01 lhe lish in pond were sampled for growth curves in length and weight; biomass curve; biomass gain; survival rales; lood conversion indices and productivity determinations were dane. PALAVRAS-CHAVE: Peixe, piscultura, carpa comum tilápia do Nilo, policultivo peixes, codorna, milho. KEY-WORDS: Fish, lishculture, common carp, Nile tilapia, policulture 01lish, spotted nothura, corno INTRODUÇÃO Segundo WOYNAROVICH13 a carpa comum, Cyprinus carpio, e a tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, quando em bicultivo, ajudam-se a elevar a produção de ambas, num fenômeno dito sinergismo. Desde 1970 vêm-se realizando, no Nor- deste brasileiro, pesquisas visando desen- volver tecnologia para o incremento da pis- 1 Trabalho realizado em cumprimento a Bolsas de Pesquisa e de Iniciação Científica do Conselho Na- cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2 Professor Adjunto da Universidade Federal do Cea- rá/Departamento de Engenharia de Pesca e Bolsis- ta do CNPq. 3 Engenheiro de Pesca. 4 Engenheira de Pesca do DNOCS/Centro de Pes- quisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering-Caixa Pos- tal 432-60.000. 5 Estudante de Engenharia de Pesca e Bolsista do CNPa. Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.113-121 - Junho/Dezembro, 1992 13

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POllCUl TIVO DA CARPA COMUM, Cyprinus carpio (l., 1758) VR. COMUNNIS, COMMACHO DA TllÃPIA DO NllO, Oreochromis niloticus (L., 1766), ALIMENTADOS COM

ESTERCO DE CODORNA, Nothura maculosa L., E MilHO, Zea mays L.1

José William Bezerra e Silva2José Ribeiro Machado3Maria Inês da S. Nobre4

Andréa Teixeira Bezerra5

POLICUL TURE OF COMMON CARP,Cyprinus carpio L., 1758., VR.COMUNNIS, ANO MALE NILE TILAPIA,Oreochromis niloticus (L., 1766), FEOWITH MANURE OF SPOTTEO NOTHURANothura maculosa L., ANO CORN, Zeamays L.

RESUMORelatam-se os resultados de um policultivo da

carpa comum, Cyprinus carpio L., 1758 vr. comun-nis, com macho da tilápia do Nilo, Oreochromis nilo-ticus (L., 1766~, realizado em viveiro, com área inun-dada de 350m. As densidades de estocagem foram2.500 carpas/ha e 5.000 tilápias/ha, total de 7.500indivíduos/ha. Os peixes foram alimentados com es-terco de codorna, Nothura maculosa L., e milho, Zeamays L., em partes iguais, fornecidos, até o quartomês do cultivo, na base de 5% da biomassa dos pei-

xes no viveiro, diariamente, diminuída, do quinto mêsem diante, para 3%. O viveiro foi, inicialmente, fertili-zado com esterco de bovino (1kg/2m2). A pesquisadurou 11 meses, período de 4 de outubro de 1988 a4 de setembro de 1989, e, mensalmente, amostrou-se20% dos indivíduos de cada espécie, dos quais seobteve comprimento total e peso, para determinaçãode: (a) curvas de crescimento em comprimento e pe-so e de biomassa; (b) ganhos de biomassa e de pesoindividual; (c) taxas de sobrevivência; (d) conversãoalimentar; e (e) produtividade, a fim de se avaliar opotencial das duas espécies para bicultivos comerciais.

SUMMARYAn experiment to evaluate lhe potential 01 two

Ireshwater lishes (common carp, Cyprinus carpio L.vr. comunnis, and male Nile tilapia, Oreochromisniloticus L., 1766) in policulture was carried out at lheDNOCS Icthyological Research Center "Rodolpho von

Ihering" !fentecoste, Ceará, Brazil). Fish were stockedin 350m earthen pond led with manure 01 spottednothura, Nothura maculosa L., and corn, Zea maysL. The stocking rale were 2,500 carps + 5,000 maleNile tilapia/ha. Monthly 20% 01 lhe lish in pond were

sampled for growth curves in length and weight; biomasscurve; biomass gain; survival rales; lood conversionindices and productivity determinations were dane.

PALAVRAS-CHAVE: Peixe, piscultura, carpa comumtilápia do Nilo, policultivo peixes, codorna, milho.

KEY-WORDS: Fish, lishculture, common carp, Niletilapia, policulture 01 lish, spotted nothura, corno

INTRODUÇÃOSegundo WOYNAROVICH13 a carpa

comum, Cyprinus carpio, e a tilápia doNilo, Oreochromis niloticus, quando embicultivo, ajudam-se a elevar a produçãode ambas, num fenômeno dito sinergismo.

Desde 1970 vêm-se realizando, no Nor-deste brasileiro, pesquisas visando desen-volver tecnologia para o incremento da pis-

1 Trabalho realizado em cumprimento a Bolsas dePesquisa e de Iniciação Científica do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq).2 Professor Adjunto da Universidade Federal do Cea-

rá/Departamento de Engenharia de Pesca e Bolsis-ta do CNPq.

3 Engenheiro de Pesca.4 Engenheira de Pesca do DNOCS/Centro de Pes-

quisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering-Caixa Pos-tal 432-60.000.

5 Estudante de Engenharia de Pesca e Bolsista doCNPa.

Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.113-121 - Junho/Dezembro, 1992 13

cicultura sem i-intensiva e intensiva. Na maio-ria delas foram empregadas rações balan-ceadas, como alimento para os peixes. Istoresultou que as despesas com alimentaçãovariaram de 70 a 85% dos gastos totais,conforme salientam SILVA et alii11, 12 e PI-

NHEIRO et alii7. Disso surge a necessida-de de se buscar alternativas tecnológicaspara a piscicultura regional, mediante o usode fertilizantes e alimentos de baixo custo,tais como grãos e subprodutos da agrope-cuárja e, assim, viabilizar a criação de pei-xes, tornando-a competitiva com atividadescongêneres.

Alguns experimentos foram realizadoscom adubos orgânicos e alimentos suple-mentares para a piscicultura, tais como es-tercos de galinhas (SILVA10), de suínos(SILVA et alii9; LOVSHIN3; MELO et alii4,5;de bovinos CARVALHO et alii1 ,2; PINHEI-RO et alii7,8); torta de babaçu (NOBRE etalii6); e milho (SILVA et alii1 1).

O presente experimento deu continui-dade àquelas pesquisas, pois se constituinum bicultivo de carpa comum com machoda tilápia do Nilo, em viveiro fertilizado comesterco de bovinos, para aumentar a pro-dutividade primária e, conseqüentemente,a disponibilidade de alimento natural paraos peixes, estes recebendo dieta suplemen-tar, esterco de codorna (50%) + milho (50%).Deste modo, pretendeu-se diminuir os cus-tos de produção dos peixes, graças à maiordisponibilidade de alimentos naturais no vi-veiro e a oferta de alimento artificial de bai-xo custo.

janeiro a junho, sendo praticamente secono restante do ano. A pluviosidade média éde 860mm/ano.

Na pesquisa, utilizou-se viveiro esca-vado no terreno natural, com 350m2 de áreainundada e profundidade média de 1,00m.Inicialmente, o viveiro foi esvaziado, limpoe fertilizado com 175kg de esterco de bovi-no, bem curtido, recebendo, em seguida,água até seu nível máximo de repleção.Sete dias após, recebeu 88 exemplares decarpa comum (2.500/ha) e 175 machos datilápia do Nilo (5.000/ha), total de 7.500 pej-xes/ha. Os alevinos foram produzidos noCentro de Pesquisas supracitado.

Quando da estocagem, 20% dos pei-xes foram medidos e todos pesados, se-gundo técnica descrita em SI L V A et alii 11.Eles receberam, como alimento artificial, umamistura de esterco de codorna (50%) e mi-lho desintegrado (50%). Até o quarto mês,a ração foi fornecida, diariamente, na basede 5% da biomassa dos peixes. Daí emdiante, foi diminuída para 3%. O alimentofoi fornecido em duas refeições, uma pelamanhã bem cedo e outra no fim da tarde,seis dias por semana, distribuído a lanço,sempre no mesmo lugar no viveiro.

As amostragens foram mensais, abran-gendo 20% dos indivíduos de cada espé-cie, seguindo metodologia usualmente ado-tada no Nordeste do Brasil, obtendo-se com-primento total e peso médios dos peixes.Na captura destes utilizou-se rede de ar-rasto, medindo 15m de comprimento por2m de altura, confeccionada com tecido denáilon (panagem) e com malhas de 2cm,nó a nó, não seletiva.

No final, esvaziou-se o viveiro e os pei-xes foram capturados, contados e pesa-dos, separadamente por espécie, sendo quede 20% das carpas e 20% das tilápias ob-teve-se o comprimento total.

Com os dados obtidos traçaram-se ascurvas de crescimento (comprimento e pe-so) e de biomassa, conforme SILVA et alii12.

Estimaram-se as biomassas da carpae da tilápia multiplicando-se o peso médiodos indivíduos, obtido nas amostragens, pe-lo número de peixes inicialmente estoca-dos. Em cada mês a biomassa total foi cal-

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi realizado no Centro

de Pesquisas Ictiológicas "Rodolpho von Ihe-

ring" (Pentecoste, Ceará, Brasil), pertencen-te ao Departamento Nacional de ObrasCon-tra as Secas (DNOCS), no período de 4 deoutubro de 1988 a 4 de setembro de 1989

(11 meses).A cidade de Pentecoste posiciona-se

numa longitude de 39°15' W.Gr. e 3°45'de latitude Sul. A temperatura média anualé de 26,8°, máxima de 34° e a mínima de20,2°. O período de chuvas se estende de

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FIGURA 1Curvas de crescimento em comprimento (a) e peso (b) e de biomassa (c), obtidas no policultivode carpa comum, Cyprinus Carpio L., 1758 vr. comunnis, e macho da tilápia do Nilo, Oreochromis

niloticus L.. 1766.

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culada somando-se os valores obtidos pa-ra o ciprinídeo e o ciclídeo.

O ganho de biomassa, em kg/ha/dia,foi obtido dividindo-se o acréscimo de bio-massa no mês, reajustada para 1 ha, pelointervalo amostral em dias. Já o ganho depeso individual, em g/dia, determinou-se pe-la divisão do ganho de peso mensal emgrama (aumento da biomassa) pelos nú-meros de indivíduos e de dias entre duasamostragens consecutivas.

pelho com 701 9 e macho da tilápia do Nilocom 651g. O maior crescimento em pesodos peixes, quando comparado com o ob-tido na presente pesquisa, atribui-se ao ti-po de ração utilizada.

SILVA et alii12, em bicultivo anterior-mente descrito, obtiveram carpa espelho com958g e macho da tilápia do Nilo com 373g.Este maior crescimento em peso dos pei-xes, em relação aos da pesquisa ora ana-lisada, deveu-se à maior taxa de alimenta-ção, aliada aos maiores teores protéico eenergético do esterco de codorna (Tabela2), pois o mesmo se mistura com raçãobalanceada, que cai dos comedouros dasaves, em quantidade considerável, e comsêmen, que os machos deixam cair quan-do copulam.

Na presente pesquisa o peso da carpacomum foi sempre superior ao da tilápia doNilo, fato que se acentuou a partir do oitavomês do cultivo (Figura 1). Notou-se sensí-vel redução no crescimento do ciclídeo apóso sexto mês, talvez em decorrência da di-minuição na taxa de alimentação, de 5 pa-ra 3% da biomassa dos peixes, por dia.

No que se refere ao ganho de pesoindividual, observa-se na Tabela 3, que es-te variou bastante para as duas espécies.A carpa comum apresentou maior ganhode peso individual (2,82 g/dia) no primeiromês e o menor (-0,30g/dia) no sétimo mês.Para a tilápia obteve-se 0,94gidia, no quin-to mês, e 0,13g/dia, no sétimo. As espé-cies em conjunto ganharam 2,07g/dia, noprimeiro mês do cultivo, e 0,01 g/dia no sé-timo.

Os ganhos médios de peso individualforam 1 ,25gidia, para o ciprinídeo; 0,86g/dia,para o ciclídeo e 0,99g/dia, para as espé-cies em conjunto.

PINHEIRO et alii7 referem-se a ganhode peso individual médio de 1,6g/dia, obti-do no policultivo de carpa espelho e machoda tilápia do Nilo.

As tabelas 3 e 4 e Figura 1 mostramque a biomassa inicial da carpa comum foi1,4kg (40kg/ha) e no final 37,Okg(1.057,1 kg/ha). Para o macho da tilápia doNilo a inicial foi 7,4kg (211 ,4kg/ha) e a final56,7kg (1.620,Okg/ha). Para as espécies em

RESULTADOS E DISCUSSÃONa Tabela 1 e Figura 1 vê-se que, na

estocagem o comprimento total da carpafoi 11 ,8cm e da tilápia do Nilo 13,3cm. Nosegundo mês, aquela ultrapassou esta, si-tuação que manteve até o final do cultivo,quando o ciprinídeo mediu 30,6cm e o ci-clídeo 27,Ocm.

PINHEIRO et alii7, após um ano de cria-ção da carpa espelho, C. carpio L., 1758vr. specularis, na densidade de 2.500 pei-xes/ha, em bicultivo com macho da tilápiado Nilo (10.000/ha), obtiveram 34,8cm parao ciprinídeo e 31,3cm para o ciclídeo. Ospeixes foram alimentados com ração ba-lanceada, comercialmente vendida para en-gorda de galináceos, o que explicaria osmelhores resultados alcançados.

SILVA et alii12, partindo de peixes pra-ticamente com o mesmo comprimento totalmédio, obtiveram em 1 ano de cultivo, car-pa espelho com 39,Ocm de comprimentototal e macho da tilápia do Nilo com 28,Ocm.Os peixes foram alimentados com estercode codorna (5% da biomassa/dia) e as den-sidades de estocagem foram de 2.500 e7.500 indivíduos/ha, respectivamente, cipri-nídeo e ciclídeo. Estes resultados superio-res aos da pesquisa ora analisada deve-ram-se à maior taxa de alimentação, aliadaà superioridade protéica e energética doesterco de codorna (Tabela 2).

A Tabela 1 e Figura 1 mostram que, naestocagem, a carpa pesou 16g e o machoda tilápia do Nilo 42g. No final, aquela al-cançou 481g e este 348g.

PINHEIRO et alii 7, em experimento des-crito anteriormente, conseguiram carpa es-

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esperar (Tabela 4). No final foi de 6,8:1. Ovalor de 0,7: 1, observado no primeiro mês,deveu-se ao aproveitamento do alimentonatural pelos peixes.

PINHEIRO et alii7, no bicultivo de car-pa espelho com machos da tilápia do Nilo,nas condições antes referidas, emprega-ram 26. 180kg/ha de ração balanceada, tipoengorda para galináceos. A conversão ali-mentar, após 1 ano, foi de 3,6:1.

SILVA et alii12 relatam conversão ali-mentar de 13,22:1, na utilização do estercode codorna na alimentação de carpa espe-lho e macho da tilápia do Nilo, criados embicultivo.

Da Tabela 1 conclui-se que a taxa desobrevivência da carpa comum foi 87,5% eda tilápia do Nilo 93,1%. Estes valores es-tão de acordo com os obtidos em viveirosna região. SILVA et alii12 relatam sobrevi-vências de 83,3% para a carpa espelho e73,8% para macho da tilápia do Nilo, cria-dos em bicultivo.

Das Tabelas 3 e 4 conclui-se que aprodução de pescado, no final dos 11 me-ses da presente pesquisa, atingiu 93,7kg/vi-veiro, correspondentes a 2.920,5kg/ha/ano,para as espécies em conjunto, sendo37,Okg/viveiro (1. 153,2kg/ha/ano) de carpacomum e 56,7kg/viveiro (1.767,3kg/ha/ano)de macho da tiláfia do Nilo.

SILVA et alii 2 obtiveram 4.113,Okg/ha/ano no bicultivo de carpa espelho com ma-cho da tilápia do Nilo.

CONCLUSÕESDa análise dos resultados, conclui-se o

seguinte:a) Foi aceitável o crescimento em com-

primento e peso das espécies cria-das no presente policultivo, levan-do-se em consideração os alimen-tos artificiais a elas ministrados; acarpa comum cresceu mais rápidodo que a tilápia do Nilo;

b) A produção (biomassa final) e pro-dutividade foram aceitáveis, sendo quealcançou 2.920,5kgiha/ano. A biomas-sa da tilápia do Nilo foi superior à dacarpa, em virtude da maior densida-de de estocagem do ciclídeo; e

conjunto, obtiveram-se no início, 8,8kg(251,4kg/ha) e no término 93,7kg(2.667,1 kg/ha).

A Tabela 3 mostra que os ganhos debiomassa variaram bastante para ambasas espécies. A carpa comum apresentouvalor máximo de 7,1 kg/ha/dia (primeiro mês)e mínimo de -0,7kg/ha/dia (sétimo mês).Este valor negativo deveu-se à morte de11 peixes (Tabela 1). O ciprinídeo apresen-tou ganho médio de biomassa de 3,Okg/ha/dia. Macho da tilápia do Nilo mostrou ga-nho de biomassa máximo de 9,7kg/ha/dia(quinto mês) e mínimo de 0,6kg/ha/dia (sé-timo e nono meses). Em média, 4,2kg/ha/dia. A diminuição da taxa de arraçoamento,de 5 para 3%, parece ter influído nos me-nores ganhos de biomassa para as duasespécies, ocorridos na segunda metade doexperimento.

No que se refere às espécies em con-junto, o ganho máximo de biomassa, ocor-rido no primeiro mês (15,6kg/ha/dia), sen-do o mínimo de -0,04kg/ha/dia (sétimo mês).Em média obtiveram-se 7,3kg/ha/dia.

PINHEIRO et alii7 referem-se ganhosde biomassa de 15,6 kg/ha/dia para machoda tilápia do Nilo e de 4,2kg/ha/dia paracarpa espelho, criados em bicultivo. Isto dá19,8kg/ha/dia para as espécies em conjun-to. Estes valores são superiores aos da pre-sente pesquisa, certamente devido ao usode ração balanceada na alimentação dos

peixes.SILVA et alii12 relatam ganhos de bio-

massa de 6,8kg/ha/dia para a carpa espe-lho e de 7,5kg/ha/dia para macho da tilápiado Nilo, criados em bicultivo. Para as espé-cies em conjunto, eles obtiveram 14,3kg/ha/dia. Estes resultados são também superio-res ao da presente pesquisa, devido ao ali-mento utilizado para os peixes por aquelesautores (esterco de codorna).

Mostra a Tabela 4 que o consumo deração (50% de esterco de codorna + 50%de milho desintegrado) montou em 575,88kg,sendo 287,94kg de milho e igual quantida-de de esterco. Isto correspondeu a 16.453,71kg/ha de ração.

A conversão alimentar diminuiu com oandamento da pesquisa, como era de se

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TABELA 1 - Dados Obtidos no Policultivo de Carpa Comum, Cyprinus carpio L., 1758 vr.comunnis, e Macho da Tilápia do Nilo, Oreochromls nlloticus L., 1766, emViveiro do Centro de Pesquisas Ictiológicas "Rodolpho von Ihering", do DNOCS(Pentecoste, Ceará, Brasil).

Número de indivíduos Peso (g)Comprimentototal (cm)

Tempo decultivo

(meses)

Intervaloamostral

(dias)

Dias dearraço-amento Espécie Espécie Espécie

2 Total 1 2 1 2

o123456789

1011

o3128293428313035272830

o2724253024262430232426

888888888888887777777777

263263263263263263263240240240240240

175175175175175175175163163163163163

111720222426262729293030

13,317,019,420,223,224,424,825,825,926,226,827,0

16103150211236278300334414444471481

4295

137157212266294320325329337348

Obs:. Espécie 1 = Carpa comum.Espécie 2 = Macho da tilápia do Nilo.

TABELA 2 - Dados da Composição Química Elementar do Esterco de Codorna e do Milho

Desintegrado

Produto Proteína Gordura

(%) (%)

ExtratoNão

Nitroge-nado

(%)

Fibra Umidade Cálcio Fósforo Cinzas

(%) (%) (%) (%) (%)

Esterco de codorna

Milho desintegrado33,0

8,03,33,8

34,069,6

2.062,0926,4

9,72,0

5,314,0

1,70,03

0,940,27

14,71,8

088: Dados da composição química do milho fornecidos pelo Departamento de Engenharia de Pesca

e do esterco de codorna fornecidos pelo DNOC8.

118 Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.113-121 - Junho/Dezembro, 1992

,8

,9

,9

,6

,3

,O

,8

,9

,4

,8

,3

,6

EnergiaLíquidatkcal/kg

TABELA 3 - Biomassa e Ganhos de Biomassa e de Peso Individual Obtidos no Policultivode Carpa Comum, Cyprinus carpio L., 1758 vr. Comunnis, e Macho daTilápia do Nilo, Oreochromis niloticus L., 1766, em Viveiro do Centro dePesquisas Ictiológicas "Rodolpho von Ihering", do DNOCS (Pentecoste-Ceará-Brasil).

Biomassa (kg/ha) Ganho de biomassa Ganho de peso individual(kg/ha/dia) (g/dia)

Tempo decultivo

(meses) Espécies

1 2

Espécies

1 2

Espécies

1 2

Total Total Total

o123456789

10

40,0260,0377,1531,4642,9700,0754,3734,3911,4977,1

1.037,11.057,1

211,4474,3685,7785,7

1.060,01.331,41.471,41.490,31.514,31.531,41.568,61.620,0

251,4734,3

1.062,81.317,11.702,92.031,42.225,72.224,62.425,72.508,52.605,72.677,1

7,14,25,33,32,01,8

-0,75,12,4

2,10,7

8,57,53,48,19,74,50,60,70,61,31,7

15,611,78,7

11,411,76,3

-0,045,83,03,42,4

2,1,2,1,O,O,

-O,2,1,O,O,

1,701,510,691,611,940,900,130,140,140,280,37

2,071,561,171,511,560,830,010,830,450,510,35

Obs: Espécie 1 - Carpa comum.Espécie 2 - Machos de tilápia do Nilo.

TABELA 4 - Biomassa, Consumo de Ração e Conversão Alimentar, Obtidos no Policultivode Carpa Comum, Cyprinus carpio L., 1758 vr. comunnis, e Macho deTilápia do Nilo, Oreochromis niloticus L., 1766, em Viveiro do Centro dePesquisas Ictiológicas "Rodolpho von Ihering" do DNOCS (Pentecoste, Ceará,Brasil).

Consumo de ração (kg) Consumo de ração (kg) Biomassa. Conver-

sãoAlimentar

No mês Acumulado Espécie

Tempo de

cultivo

(meses)

E M Total E M Total 1 2 Total

o..

-1,411,8842,7489,24

158,42201,34256,92312,98382,96441,52504,74575,88

7,49,1

13,218,622,524,526,425,731,934,236,337,0

8,89,1

24,027,537,146,651,552,253,053,654,956,7

-5,94

15,4323,2534,5921,4627,7928,0335,0429,2831,6135,57

-5,94

15,4323,2534,5921,4627,7928,0335,0429,2831,6135,57

11,8830,8646,5069,1842,9255,5856,0670,0858,5663,3371,14

5,9421,3744,6279,21

100,67129,46156,49191,48220,76253,37287,94

5,9421,3744,6279,21

100,67128,46156,49191,48220,76253,37287.94

25,737,246,259,671,177,977,984,987,891,293,7

0,7:11,5:12,4:13,1:13,2:13,7:14,5:15,0:15,6:16,1:16,8:1

456

1011

Obs.: E = esterco de codorna; M = Milho.

Ciên. Agron., Fortaleza, 23 (1/2): pág.113-121 - Junho/Dezembro, 1992119

.82

.66

.12

.30

.81

.70

.30

.30

.11

.97

.30

c) Os ganhos de biomassa e de pesoindividual, as taxas de sobrevivên-cia e os índices de conversão ali-mentar, juntamente com os resulta-dos acima apresentados, mostramque é perfeitamente viável o policul-tivo de carpa comum e de machosda tilápia do Nilo, do ponto de vistatécnico, usando-se esterco de co-dorna (50%) + milho (50%) comoalimento para os peixes.

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