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Uma abordagem sobre a natureza humana de Cristo

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  • Tocado por Nossos SentimentosUma pesquisa histrica do conceito adventista

    sobre a natureza humana de Cristo

    Publicado originalmente pelaReview and Herald Publishing Associationsob o ttulo Touched With Our Feelings

    Pr. Jean R. Zurcher, Ph. D.Presidente da Comisso de Pesquisa Bblica da DivisoEuro-Africana da IASD Secretrio da Mesma Diviso

    Tradutor: Csar Lus Pagani

  • ndice

    Prefcio por Kenneth H. Wood 6Desaado pelos Crticos 7Dilogo e Mudana 8

    Introduo 11Os apstolos enentam as primeiras heresias 11A Cristologia atravs dos sculos 12Cristologia contempornea 13Os precursores da Cristologia contempornea 15A Histria da Cristologia adventista 16

    PARTE I A NATUREZA DIVINO-HUMANA DE JESUS CRISTO 18

    Captulo 1. A Divindade de Cristo 18James Springer White (1828-1881) 18Uriah Smith (1832-1903) 19Joseph H. Waggoner (1820-1889) 20Ellet J. Waggoner (1855-1916) 21Ellen Gould White (1827-1915) 23

    Captulo 2. A Natureza Humana de Cristo 27A encarnao, um mistrio 28Os fundamentos bblicos de Cristologia 28Os primeiros testemunhos adventistas 30A primeira declarao ocial 31A natureza humana em estado decado 32

  • PARTE II A CRISTOLOGIA DOS PIONEIROS DA IGREJAADVENTISTA 35

    Captulo 3. A Cristologia de Ellen G. White (1827-1915) 35A humanidade de Jesus Cristo 36A natureza de Ado antes ou depois de queda? 37A natureza humana em estado decado 38Tentado em tudo, como ns... 39... mas sem pecado. 41Divino e humano 42Participante da natureza divina 43Concluso 44

    Captulo 4. Ellet J. Waggoner (1855-1916) 47Primeiras declaraes feitas entre 1884 e 1888 47Deus manifesto em carne 49Waggoner comprova sua Cristologia 52Concluso 53

    Captulo 5. Alonzo T. Jones (1850-1923) 55A mensagem de Jones ainda digna de conana? 56A Cristologia de Jones 58

    1. A decada natureza humana de Cristo 592. O pecado condenado na carne 603. A natureza de Ado: antes ou depois da queda? 604. A vitria possvel atravs de Jesus Cristo 62

    Concluso 64

    Captulo 6. William Warren Presco (1855-1944) 67Um ardoroso partidrio da mensagem de 1888 68

    1. A encarnao, uma verdade fundamental 682. Humanizado em carne pecaminosa 693. A carne de Ado aps a queda 694. Cristo em ns, a esperana da glria 70

  • Ellen G. White aprova a Cristologia de Presco 71Presco comprova sua Cristologia 72

    1. Jesus participou do sangue e da carne humanos 732. Uma carne semelhante do pecado 733. Enviou-O para condenar o pecado na carne 744. Para poder participar de Sua natureza divina 74

    Uma mensagem verdadeiramente cristocntrica 75Concluso 77

    Captulo 7. O movimento da carne santa 78Haskell informa Ellen G. White 79Ellen G. White responde a Haskell 80Um vigoroso protesto 81Waggoner refuta a doutrina da carne santa 81Ellen G. White rejeita a doutrina da carne santa 83Condenada a doutrina da carne santa 84Concluso 85

    PARTE III EXCERTOS DAS PUBLICAES OFICIAISDA IGREJA (1895-1952) 87

    Captulo 8. Excertos das publicaes ociais (1895-1915) 87Excertos dos peridicos da igreja 87Excertos das lies da escola sabatina 89Excertos de vrios livros 91

    1. Olhando para Jesus, de Uriah Smith 922. Perguntas e respostas, de Milton C. Wilcox 923. Estudos bblicos para o lar 92

    Captulo 9. Excertos das publicaes ociais (1916-1952) 96Excertos dos peridicos da igreja 96Excertos da literatura adventista europia 99Excertos das lies da escola sabatina 103

  • Excertos de livros selecionados 1041. A doutrina de Cristo, de W. W. Presco 1042. Vida vitoriosa, de Meade MacGuire 1043. Fatos da f, de Christian Edwardson 1054. O vinho da Babilnia Romana , de Mary E. Walsh 1065. Respostas a objees , de F. D. Nichol 1066. A expiao e o drama dos sculos, de W. H. Branson 108

    Concluso 109

    PARTE IV CONTROVRSIA CRISTOLGICA NO SEIO DA IGREJA ADVENTISTA 112

    Captulo 10. O novo marco histrico adventista 112A primeira data memorvel de uma mudana radical 112

    A rejeio das errneas idias do passado 114

    O manifesto da nova Cristologia 115

    Humano, mas no carnal 116

    O novo marco histrico adventista 117

    Questes doutrinrias 118

    A carta de Ellen G. White a William L. H. Baker 120

    Captulo 11. As primeiras reaes ao livro Questes Sobre Doutrina 123A Cristologia tradicional autenticada pelo Comentrio Bblico

    Adventista do Stimo Dia 124O Patrimnio White publica Mensagens Escolhidas 126M. L. Andreasen e o seu Cartas s Igrejas 126Propostas para a reviso do livro Questes Doutrinrias 130Uma votao esclarecedora 130A publicao do volume 7A do Comentrio Bblico Adventista do

    Stimo Dia 131Roy Allan Anderson, O Deus-homem, Sua natureza e obra 132LeRoy Edwin Froom aprova a nova Cristologia 133

  • Captulo 12. Reaes nova Cristologia (1970 a 1979) 138A reao da Review and Herald 138A reao do Instituto de Pesquisa Bblica 140Herbert E. Douglass reage atravs das lies da Escola Sabatina 141A Cristologia da comisso da justicao pela f 142As dissertaes de Ford na Conferncia de Palmdale 143Herbert E. Douglas rearma a Cristologia tradicional 144Kenneth H. Wood conrma a Cristologia tradicional 146A Cristologia de Edward Heppenstall 148A posio de J. R. Spangler sobre a Cristologia, enquanto ainda editor do

    peridico O Ministrio 151omas A. Davis, Foi Jesus realmente como ns? 152O ponto de vista de William G. Johnsson 154Edward W. H. Vick, Jesus, o Homem 155

    Captulo 13. O auge da controvrsia 160Um zeloso defensor da Cristologia tradicional 160A nova Cristologia nas lies da Escola Sabatina 162A voz da Verdade Presente 164Correntes conitantes na Cristologia adventista 167As duas Cristologias face a face 169

    1. Gulley: A natureza humana antes da queda 1702. Douglass: A natureza humana aps a queda 171

    Reviso recproca das teses e antteses 174Crticas e perguntas dos leitores do O Ministrio 176O ponto de vista alternativo de omas A. Davis 177

    Captulo 14. Em busca da verdade histrica 181Um sculo de Cristologia adventista 181 O Patrimnio White solicitado a posicionar-se 182O ponto de vista de Robert Olson 183Discusso sobre Cristologia no Patrimnio White 185Tim Poirier e as fontes da Cristologia de E. G. White 185D. A. Delaeld apia a Cristologia de Ellen G. White 187

  • George R. Knight conrma a Cristologia dos pioneiros 188Uma exposio bblica no Nisto Cremos 189Roy Adams busca reacender o debate 191A situao europia 193Georges Stveny na esteira dos pioneiros 194William G. Johnsson tenta harmonizar 195Jack Sequeira e o problema do pecado 197A derradeira declarao de Ellen G. White sobre a natureza humana de

    Cristo 199

    PARTE V. UM RETORNO S FONTES DA CRISTOLOGIA BBLICA E ADVENTISTA 206

    Captulo 15. Avaliao e Crtica 206Isso realmente essencial? 206Sumrio das trs interpretaes atuais 207

    1. A Cristologia histrica ou tradicional 2082. A nova Cristologia ou a posio pr-lapsariana 2093. A Cristologia alternativa 209

    Erros de avaliao 210Uma doutrina condenada pela igreja 211Mtodos tendenciosos 212Um argumento ctcio, uma expresso desencaminhadora 213Pontos fortes e acos da Cristologia alternativa 215

    Captulo 16. Dados bblicos sobre Cristologia 218Evidncias neotestamentrias 218O conceito bblico de pecado 220

    1. Pecado como poder e pecados como aes 2212. Somente os que pecam so culpados 222

    Em semelhana de carne pecaminosa 223Razes para a encarnao 225

    1. Para ser uma oferta pelo pecado 2262. Para condenar o pecado na carne 227

  • 3. Para libertar o homem da lei do pecado e da morte 2284. Para que a justia da lei se cumprisse em ns 228

    Vitria por meio do Esprito de Vida em Cristo Jesus 2291. Cristo justicado no Esprito 2292. Transformado pelo Esprito de Cristo 230

    Concluso 231

    Eplogo 233

    ndice Remissivo 235

    Uma palavra dos patrocinadores 237

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    PREFCIO

    Desde que eu era um menino pequeno, no incio de 1920, meus pais me ensinaram que o Filho de Deus veio a este mundo com a herana fsica semelhante ao de qualquer outro beb humano. Sem destacar Sua linha de ascendncia de pecadores, eles me contaram de Raabe e Davi, e enfatizavam que, a despeito de Sua herana fsica, Jesus viveu uma vida perfeita como criana, jovem e adul-to. Eles me diziam ainda que Cristo compreendia minhas tentaes, pois foi tentado como eu, e que desejava conferir-me poder para vencer como Ele o fez. Isso me impressionou profundamente, pois me ajudou a ver Jesus no apenas como meu Salvador, mas como exemplo, e a crer que por Seu poder eu poderia viver uma vida vitoriosa.

    Em anos posteriores aprendi que o ensino de meus pais com respeito a Jesus estava bem alicerado na Bblia, e que Ellen G. White, a mensageira do Senhor igreja remanescente, deixou clara essa verdade em numerosas declaraes, como as que abaixo seguem:

    Que as crianas tenham em mente que o menino Jesus tomou sobre Si mesmo a natureza humana, em semelhana de carne pecaminosa, e foi tentado por Satans como todas as crianas o so. Ele foi capaz de resistir s tentaes de Satans atravs da dependncia do divino poder de Seu Pai celestial, enquanto era sujeito Sua vontade e obediente a todos os Seus mandamentos. Youths Intructor, 23 de agosto de 1894.

    Jesus teve a idade de vocs. As circunstncias e os pensamentos que vocs tm nesse perodo de vida, Jesus tambm os teve. Ele no pode pass-los por alto nessa fase crtica. Cristo compreende os riscos que os envolvem. Ele est relacio-nado com as tentaes de vocs. Manuscript Releases, vol. 4, pg. 235.

    Uma das principais razes pelas quais Cristo entrou na famlia humana para viver uma vida de conquistas, desde o nascimento at a maturidade, foi o exemplo que Ele deveria dar queles a quem viera salvar. Jesus tomou a na-tureza humana, passando pela infncia, meninice e juventude, para que pudesse saber como simpatizar com todos, e deixar um exemplo para todas as crianas e jovens. Ele est relacionado com as tentaes e as aquezas das crianas. Idem,

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    1 de setembro de 1873.Em meus anos de curso mdio e faculdade, continuei a ouvir de pro-

    fessores adventistas e pastores que Jesus tomou a mesma natureza carnal que cada ser humano tem carne afetada e inuenciada pela queda de Ado e Eva. Destacava-se que os catlicos no criam nisso, porque sua doutrina do pecado original exige que afastem Jesus da carne pecaminosa. Eles zeram isso ao criar o dogma da imaculada conceio, a doutrina em que Maria, a me de Jesus, embora concebida naturalmente, estava desde o momento de sua concepo, livre de qualquer mancha do pecado original. Assim, uma vez que ela era diferente de seus ancestrais e do restante da raa decada, podia prover seu Filho com carne semelhante de Ado antes da queda. Embora alguns protestantes rejeitem a doutrina catlica, a maioria ainda debate so-bre a diferena entre a humanidade de Cristo e a da raa qual veio Ele sal-var. Sobrenaturalmente, dizem eles, Ele foi privado da herana gentica que poderia ter recebido de Seus degenerados antepassados, da estar isento de certas tendncias contra as quais os seres humanos, como um todo, precisam batalhar.

    Desaados Pelos CrticosPorque os adventistas, desde o incio, sustentam que Jesus tomou a na-

    tureza humana aps 4.000 anos de pecado, ministros e telogos de outras igrejas tm distorcido essa crena e a utilizado para desviar o povo da verdade do sbado e das trs mensagens anglicas. Com a doutrina do pecado original em sua ordem de referncia, eles declaram que se Jesus tomou um corpo em semelhana da carne do pecado (Rom. 8:3), Ele teria sido um pecador e, con-seguintemente, teria Ele mesmo necessidade de um salvador.

    No princpio de 1930, um artigo desaando trs ensinos adventis-tas, inclusive a natureza de Cristo, apareceu no Moody Monthly (Mensrio Moody). Francis D. Nichol, editor da Review and Herald (hoje Revista Ad-ventista), respondeu s acusaes escrevendo uma carta ao editor do Moody. Com referncia ao ensino de que Cristo herdou uma natureza decada e pecaminosa, ele disse: A crena dos adventistas do stimo dia sobre esse assunto est claramente fundamentada em Hebreus 2:14-18. Na medida em que tal pas-

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    sagem bblica ensina a real participao de Cristo em nossa natureza, assim ns pregamos. Mais tarde, num editorial em que comentava a resposta crtica sua declarao, ele escreveu:

    Concordamos plenamente que para algum dizer que Cristo herdou uma natureza pecaminosa e decada, poderia, na ausncia de qualquer outra declarao qualicativa, ser mal-interpretado, signicando que Cristo era um pecador por natureza, como ns. Essa seria, realmente, uma doutrina estarrecedora. Mas, tal ensino no crido por ns. Ensinamos completamente que embora Jesus fosse nas-cido de mulher, partilhava da mesma carne e do mesmo sangue que ns, feito to verdadeiramente semelhante a Seus irmos, que Lhe era possvel ser tentado em todos os pontos como ns, todavia sem pecado. Ele no conheceu pecado.

    A chave de todo o assunto, de fato, a ase contudo, sem pecado. Cremos ir-restritamente nessa declarao dos Escritos Sagrados. Cristo era, verdadeiramente, sem pecado. Cremos que Aquele que no conheceu pecado, foi feito pecado por ns. Do contrrio, Ele no poderia ter sido nosso Salvador. No importa em que lin-guagem qualquer adventista se esforce por descrever a natureza que Cristo herdou do lado humano e quem pode esperar fazer isso com absoluta preciso e livre de qualquer possvel mal-entendido? cremos implicitamente, como j declarado, que Cristo era sem pecado. Review and Herald, 12 de maro de 1931.

    A posio colocada pelo Pr. Nichol era precisamente a crena que a igreja, bem como muitos respeitveis estudiosos no-adventistas da Bblia, mantiveram atravs das dcadas. Esse era o ponto de vista sustentado por Ellen White. Ela escreveu: Tomando sobre Si a natureza humana em seu estado decado, Cristo no participou, no mnimo que fosse, do seu pecado... Ele foi tocado com a sensao de nossas aquezas, e em tudo foi tentado como ns. E todavia no conheceu pecado... No devemos ter dvidas acerca da perfeita ausncia de pecado na natureza humana de Cristo. Mensagens Escolhidas, vol. 1, pg. 256.

    Dilogo e MudanaImagine minha surpresa ento, quando, como um dos editores da

    Review nos anos cinqenta, ouvi alguns lderes de igreja dizerem que esse no era um ponto de vista correto que essa era apenas a viso de uma ala luntica da igreja. O dilogo foi tomando espao entre uns poucos ministros

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    evanglicos, que estavam comprometidos com um ponto de vista sobre a na-tureza do homem, o qual inclua o erro da imortalidade da alma. Foi-me dito que nossa posio sobre a natureza humana de Cristo estava sendo elucida-da. Como resultado desse dilogo, muitos lderes da igreja que haviam estado envolvidos nas discusses, declararam que Cristo tomou a natureza de Ado antes da queda e no aps ela. A mudana foi de 180 graus: ps-lapsarianos e pr-lapsarianos.

    Essa dramtica alterao compeliu-me a estudar a questo com uma intensidade que beirou obsesso. Com toda a objetividade que pude reunir, examinei as Escrituras e li os escritos de Ellen White. Tambm li as declaraes de pensadores adventistas feitas nos ltimos cem anos. Examinei estudos e livros de telogos contemporneos, adventistas e no-adventistas. Tentei compreender que efeito essa mudana de crena poderia ter sobre: 1) o sim-bolismo da escada de Jac, que alcanava Terra e Cu; 2) o propsito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relao de Sua humanidade para ser qualicado como nosso Sumo Sacerdote (Heb. 2:10; cf. O Desejado de Todas as Naes, pg. 745, e Vida de Jesus, pg. 155); 4) a relativa diculdade de lutar contra o adversrio em carne imaculada, em lugar de carne pecaminosa; 5) o profundo signicado do Getsmani e do Calvrio; 6) a doutrina da justi-cao pela f; e 7) o valor da vida de Cristo como exemplo para mim.

    Por quarenta anos continuei esse estudo. Em conseqncia, cheguei a compreender melhor no somente a importncia de sustentar uma correta viso da natureza humana de Cristo, como tambm dois comentrios de Ellen White sobre o porqu de verdades simples serem algumas vezes aparente-mente confusas: 1) Professos telogos parecem ter prazer em tornar misterioso aquilo que claro. Eles revestem os ensinos simples da Palavra de Deus com seus prprios arrazoados obscurantistas, e assim confundem as mentes daqueles que ouvem suas doutrinas. (Signs of the Times, 2 de julho de 1896). 2) Muitas passagens da Escritura, que homens doutos consideram mistrios ou passam por alto como merecendo pouca importncia, esto cheias de conforto para aquele que aprender na escola de Cristo. Uma das razes por que muitos telogos no tm melhor compreenso da Bblia que eles fecham os olhos para as verdades que no lhes convm praticar. A boa compreenso da Bblia no depende tanto da fora intelectual posta ao servio do seu estudo, quanto da singeleza de propsito,

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    do sincero desejo de conhecer a verdade. (Conselhos Sobre a Escola Sabatina, pg. 38)

    Durante as recentes dcadas, certo nmero de escritores tm tentado provar sua crena de que Cristo tomou a natureza de Ado antes da queda. Seus textos bblicos de prova parecem robustos apenas quando interpreta-dos de acordo com suas pressuposies. Ocasionalmente utilizam-se de uma abordagem ad hominem, isto , para confundir quem os ouve ou l, na qual se empenham em desacreditar respeitabilssimos professores e ministros adventistas, que mantm o ponto de vista ps-queda. Entendo que suas ten-tativas foram moldadas segundo um advogado a quem se atribui as seguintes palavras: Se voc tem um caso difcil, tente confundir a questo. Se voc no tem nenhum caso, ralhe com o jri.

    Estou amplamente convencido de que antes de a igreja poder proclamar com poder a ltima mensagem divina de advertncia ao mundo, deve unir-se em torno da verdade da natureza humana de Cristo. Tenho esperado longa-mente que algum com credenciais espirituais e acadmicas impecveis colo-casse em forma sucinta e legvel a completa Cristologia baseada na Bblia (e no Esprito de Profecia), e expusesse como a igreja se apartou dessa verdade 40 anos atrs.

    Este livro atendeu a essa esperana. Conheo seu autor j h muitos anos. Ele um el adventista do stimo dia, um erudito que procura a ver-dade com objetividade incomum. Aproximadamente h trs dcadas ele fez uma excelente contribuio teologia contempornea, escrevendo a obra e Nature and Destiny of Man (A Natureza e o Destino do Homem), publicada pela Philosophical Library, de Nova Iorque, em 1969. Com clara compreenso da natureza humana, Jean Zurcher tem tido o discernimento necessrio para examinar a doutrina da natureza humana de Cristo. No presente volume ele apresenta cuidadosamente a verdade acerca da natureza humana de Cristo, e mostra que a glria da bem-sucedida misso do Salvador a este mundo aumentada, e no diminuda, pelo fato dEle haver triunfado a despeito de as-sumir os riscos da carne pecaminosa.

    Creio que este livro meticulosamente pesquisado e bem escrito, ser entusiasticamente recebido por todos aqueles que amam a verdade e desejam compreender melhor quo ntima a relao entre Jesus e a famlia humana.

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    Verdadeiramente, a humanidade do Filho de Deus tudo para ns. a corrente de ouro que liga nossa alma a Cristo, e por meio de Cristo a Deus. Mensagens Escolhidas, vol. 1, pg. 244.

    Kenneth H. Wood, presidenteConselho Curador do Patrimnio de Ellen G. White10 de agosto de 1996.

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    INTRODUO

    Atravs da histria da Igreja Crist, o assunto da Cristologia, que trata de Cristo, Sua pessoa e obra1, foi o centro de muitas disputas teolgicas. As mais danosas heresias e mais dramti-cos cismas tiveram suas origens na diversidade de teorias con-cernentes pessoa e obra de Cristo.Em razo da helenizao da f (conformar a f ao carter e cultura gre-

    gos) e do surgimento de doutrinas herticas, os apstolos e seus sucessores foram forados a contender em funo da questo da natureza divino-humana de Cristo. Isso deu em resultado criao de uma Cristologia no estrito sentido do termo, ou uma expressa doutrina da pessoa de Jesus Cristo.2

    Hoje, a natureza humana de Cristo ainda permanece como um srio problema para o Cristianismo, e vrias denominaes tentam resolv-lo con-forme uma variedade de modos. Esse um importantssimo tpico. Desse ponto dependem no apenas nossa compreenso da obra de Cristo, como tambm o entendimento do modo de vida esperado de cada um de ns, en-quanto seguimos a verdade que em Jesus. (Efs. 4:21)

    Os apstolos enfrentam as primeiras heresias interessante notar que nos primrdios do Cristianismo, a questo

    da pessoa de Cristo no foi: O que foi a Sua natureza?, mas Quem Ele?Quando Jesus perguntou a Seus discpulos: Quem, dizem os homens, ser o Filho do homem? Eles responderam: Uns dizem que Joo, o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vs, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que Eu Sou? Simo Pedro respondeu: Tu s o Cristo, o Filho do Deus vivo. (Mat. 16:13-16).

    medida que a evangelizao do mundo greco-romano progredia, a

    1. Oscar Cullman, Christologie du Nouveau Testament (Cristologia do Novo Testamento) (Neuchtel: Delacroix et Niestl, 1968), pgs. 9 e 11.2. Karl Barth, Dogmatics (Dogmticos) (Edimburgo: T&T Clark, 1956), vol. 1, parte 2, pg. 123.

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    questo deixou de ser uma simples matria sobre quem Jesus era. Agora o problema mudou de rumo: Como Jesus Se referia a Deus? Era Ele verdadei-ramente divino, ou apenas um homem? Se ambos, como podemos explicar o relacionamento entre Sua divina natureza e Sua humana natureza? A igreja, ao confrontar-se com a heresia, foi obrigada a considerar essas questes e ten-tar respond-las.

    Paulo e Joo foram os primeiros a refutar os falsos ensinos sobre a natu-reza de Cristo, em resposta a dvidas que surgiram acerca de Suas divindade e humanidade. Na epstola aos Filipenses, depois de enfatizar a igualdade de Cristo com Deus, Paulo diz que Jesus veio a este mundo e tornou-Se semelhanteaos homens, e achado na forma de homem... (Fil. 2:7 e 8) Igualmente, tendo escrito aos romanos que Deus enviou Seu Filho em semelhana de carne do pecado... (Rom. 8:3), ele declara enfaticamente aos colossenses que Cristo imagem do Deus invisvel, e que nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade. (Col. 1:15; 2:9)

    Alm disso, Joo foi compelido a armar em seu evangelho que o Verbo era Deus, e que o Verbo Se fez carne ( Joo 1:1 e 14) Ento, confron-tado com as alegaes dos gnsticos, ele decidiu que era necessrio advertir a igreja contra aqueles que negavam a humanidade de Cristo: Nisto conheceis o Esprito de Deus: todo esprito que confessa que Jesus Cristo veio em carne de Deus; e todo esprito que no confessa a Jesus, no de Deus; esse o esprito do anticristo. (I Joo 4:2 e 3)

    A Cristologia atravs dos sculosDesde o incio do segundo sculo, os sucessores dos apstolos foram

    atrados para os inexorveis argumentos que tratam da pessoa de Cristo, e em particular de Sua natureza. Defrontado com o desenvolvimento do arianismo, que negava a divindade de Cristo, o Conclio de Nicia (325 a. D.) resolveu o problema armando a divindade de Jesus. Permaneceu ainda o problema das duas naturezas, humana e divina, que foi solucionado pelo Conclio de Caldednia (451 a. D.), e esse dogma tornou-se a declarao de f da Igreja Catlica.

    Os reformadores no foram, em realidade, inovadores cristolgicos;

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    eles estavam mais preocupados com os problemas referentes natureza da f e da justicao, do que com aqueles da Cristologia. Em termos gerais, todos eles aceitaram o dogma fundamental da essencial divindade de Cristo, com a unidade da pessoa e a dualidade de naturezas.3 Apenas uns poucos telogos protestantes na Sua de fala francesa abandonaram a doutrina das duas naturezas.4

    Entretanto, muitos telogos do sculo vinte seguiram suas pegadas. Oscar Culmann, por exemplo, considera que a discusso relativa s duas natu-rezas , essencialmente, um problema grego e no judeu ou bblico.5

    Emil Brunner garante que o complexo conjunto dos problemas suscitados pela doutrina das duas naturezas o resultado de uma questo equivocadamente apresentada, de um problema que deseja conhecer algo que ns simplesmente no podemos saber, ou seja, como a divindade e a humanidade esto unidas na pessoa de Cristo.6

    Essa notvel retirada do dogma de Calcednia por parte desses telogos, jaz na base da nova tendncia em Cristologia. A vasta maioria dos telogos, hoje, tanto catlicos como protestantes, reconhecem que o estudo do mis-trio de Cristo no pode mais estar separado de seu signicado para a hu-manidade. Em outras palavras, uma caracterstica das Cristologias contem-porneas que elas esto mais estreitamente ligadas antropologia.

    Naturalmente, essa nova relao conduz alguns telogos a uma con-siderao muito mais profunda da natureza humana de Cristo. O conceito de que o Filho do homem tomou a natureza humana reconhecido por todos os cristos. Mas a questo sobre que espcie de natureza humana Ele assumiu: aquela afetada pela queda ou a originalmente criada por Deus? Em outros termos, a natureza de Ado antes ou depois da queda?

    3. M. Getaz Op, Les variations de la doctrine christologique chez les thelogiens de la Suisse romande au XIXe sicle (As variaes da doutrina cristolgica nos telogos da Sua Romanda, no sculo 19) (Friburgo: Edies da biblioteca da universidade, 1970), pg. 18.4. Idem, pg. 27.5. Cullman, pg. 12.6. Emmil Brunner, Dogmatics (Dogmticos) (Filadla, Westminster Press, 1952), vol. 2, pg. 352.

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    Cristologia contemporneaAtravs dos sculos passados, atrever-se a sugerir que a natureza hu-

    mana de Cristo era a de Ado aps o pecado, teria sido considerado uma grave heresia. Hoje, muitos consideram que essa questo ainda discutvel.7

    No obstante, devemos certamente reconhecer que os mais eminen-tes telogos protestantes da segunda metade do sculo vinte, tais como Karl Barth, Emil Brunner, Rudolf Bultmann, Oscar Culmann, J. A. T. Robinson e outros, tm-se abertamente declarado em apoio natureza humana afetada pela queda.

    Karl Barth foi o primeiro a declarar seu apoio a essa explanao, num artigo publicado j em 1934.8 Porm, sua mais abrangente anlise encontra-da em Dogmatics (Dogmticos), sob o ttulo Truly God and Truly Man (Ver-dadeiramente Deus e Verdadeiramente Homem).9 Tendo armado sua crena de que Jesus Cristo era verdadeiramente Deus, ele considera pormenoriza-damente como o Verbo Se fez carne. Para ele no havia nenhuma possvel dvida sobre a decada natureza humana de Jesus. Com certeza ele armou: Ele (Jesus) no era um pecador. Mas interior e exteriormente Sua situao era de um homem pecador. Ele nada fez do que Ado praticou, mas viveu na forma em que precisou assumir como base o ato de Ado. Ele suportou inocentemente tudo aquilo de que temos sido culpados Ado e todos ns em Ado. Espontaneamente, Ele Se solidarizou conosco e entrou em necessria associao com nossa perdida existncia. Apenas desse modo poderia a revelao de Deus a ns e nossa reconciliao com Ele, manifestamente tornar-se um evento nEle e por Ele.10

    Tendo justicado suas concluses com versos de Paulo e a epstola aos Hebreus, Barth acrescenta: Mas no deve haver qualquer debilitao ou en-sombrecimento da salvadora verdade de que a natureza que Deus assumiu em Cristo idntica nossa natureza, como ns a entendemos luz da queda. Se isso fosse diferente, como poderia Cristo ser realmente semelhante a ns? Que relao

    7. Henri Blocher, Christologie (Cristologia), srie Fac. Etude, Vaux-sur-Seine: 1984), vol. 2, pgs. 189-192.8. Karl Barth, Oenbarung, Kirche, Theologie (Teologia Eclesistica da Revelao), em Theologische Existenz Heute (Existncia Teolgica Hoje) (Munique: 1934).9. Barth, Dogmatics, vol. 1, parte 2, pgs. 132-171.10. Idem, pg. 152.

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    teramos com Ele? Estamos diante de Deus caracterizados pela queda. O Filho de Deus no apenas assumiu nossa natureza, mas Ele penetrou na concreta forma de nossa natureza, sob a qual estamos perante o Senhor como homens amaldioados e perdidos. Ele no criou ou estabeleceu essa forma diversamente da nossa; embora inocente, Ele Se tornou culpado; a despeito de ser sem pecado, Ele Se tornou peca-do. Mas essas coisas no devem levar-nos a diminuir Sua completa solidariedade conosco e desse modo afast-Lo de ns.11

    Emil Bruner, em seu Dogmatics, chega mesma concluso. Ele no hesita em declarar que o fato dEle ter nascido de mulher, assim como ns, mos-tra que Ele era verdadeiramente homem.12 Bruner indaga: Foi Jesus de fato um homem como ns e assim, um pecador? A resposta vem da Escritura: O aps-tolo Paulo, falando da humanidade real de Jesus, vai at onde possvel quando diz que Deus enviou Seu Filho em semelhana de carne pecaminosa (Rom. 8:3). A epstola dos Hebreus acrescenta: Um que, como ns, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Hebreus 4:15.13 Enquanto Brunner concorda que Ele era um homem como ns, tambm reconhece que Ele no um homem como ns mesmos.14

    Apoiando-se nos mesmos versos, Bultmann e Culmann, concordam inteiramente. Em seu comentrio sobre Filipenses 2:5-8, Culmann escreve: A m de assumir a forma de servo, foi necessrio antes de mais nada, tomar a forma de homem, vale dizer, um homem afetado pela decadncia humana. Esse o signicado da expresso tornando-se semelhante aos homens (verso 7). O sentido de homoiomati perfeitamente justicado. Ainda mais, a seguinte ase enfatiza que ao encarnar-Se, Jesus, homem, aceitou completamente a condio dos homens. Aquele que, em essncia, foi o nico Deus-homem... tornou-Se pela obedincia ao Seu chamado, um Homem celeste, de forma a cumprir Sua obra expiatria, um Homem encarnado em carne pecaminosa.15

    Seria lastimvel deixar de mencionar aqui a posio do bispo anglicano J. A. T. Robinson, que em seu estudo sobre o conceito de corpo na teologia paulina, expressou-se mais claramente do que qualquer outro sobre a natu-

    11. Idem, pg. 153.12. Brunner, vol. 2, pg. 322.13. Idem, pg. 323.14. Idem, pg. 324.15. Cullmann, pg. 154.

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    reza humana de Jesus: O primeiro ato no drama da redeno, escreveu ele, a auto-identicao do Filho de Deus at o limite, todavia sem pecado, com o corpo carnal em seu estado decado.16

    necessrio acentuar essas palavras, detalha ele, porque a teologia crist tem sido extraordinariamente relutante em aceitar corajosamente as audaciosas e quase rudes ases que Paulo usa para demonstrar o agravo do evangelho nesse ponto. A tradicional ortodoxia catlico-protestante sustenta que Cristo encarnou-Se numa natureza humana no-decada.17

    Mas, se a questo for rearmada em seus termos bblicos, no h razo para temor e realmente so eles os terrenos mais importantes a pesquisar a imputao a Cristo de uma humanidade sujeita a todos os efeitos e conseqncias da queda.18

    Alm disso, o problema foi objeto de uma proposta de Thomas F. Torrance, numa sesso da Comisso F e Constituio do Conclio Ecumnico Mundial, ocorrida em Herrenalb, Alemanha, em julho de 1956. Necessitamos considerar mais seriamente o fato de que o Verbo de Deus assumiu nossa sarx, isto , nossa humanidade decada (e no uma imaculadamente concebida), para assim santic-la. A doutrina da igreja necessita ser pensada em termos do fato de que Cristo Jesus assumiu nossa humanidade e Se santicou. A igreja santa na santicao de Cristo.19

    omas Torrance ainda mais explcito: Talvez a mais fundamental verdade que temos aprendido da igreja crist, ou antes, reaprendida, uma vez que a suprimimos, que a encarnao foi a vinda de Deus para nos salvar no cerne de nossa decada e depravada humanidade, quando ela est em seu ponto mais alto de inimizade e violncia contra o reconciliante amor divino. Quer dizer, a encar-nao deve ser compreendida como a vinda de Deus para tomar sobre Si mesmo nossa cada natureza humana, nossa real existncia carregada de pecado e culpa, nossa humanidade enferma de mente e alma, em sua alienao do Criador. Essa a doutrina encontrada em toda parte na igreja primitiva, nos primeiros cinco

    16. J. A. T. Robinson, The Body, a Study in Pauline Theology (O Corpo: um Estudo da Teologia Paulina) (Londres: SCM Press, Ltd., 1952), pg. 37.17. Idem, pgs. 37 e 38.18. Idem, pg. 38.19. Citado por Harry Johnson em The Humanity of The Saviour (A Humanidade do Salvador) (Londres: Epworth Press, 1982), pg. 172.

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    sculos, e expressa-se eqentemente em termos de que o homem total teve de ser assumido por Cristo, para que o homem total pudesse de ser salvo, e para que o no-assumido se perca, ou seja, o que Deus no assumiu em Cristo no seja salvo... Assim a encarnao devia ser entendida como o envio do Filho de Deus na con-creta forma de nossa prpria natureza pecaminosa e como sacrifcio pelo pecado, no qual Ele julgou o pecado em sua verdadeira natureza, de forma a redimir o homem de sua mente carnal e hostil.20

    O rol de telogos que hoje esto comungando com esse pensamento poderia ser estendido. Mas esses homens tiveram precursores, dentre os quais esto pioneiros da Igreja Adventista do Stimo Dia.

    Os precursores da Cristologia contemporneaSeria equivocado pensar que os telogos do sculo vinte foram pionei-

    ros em sua posio com respeito natureza humana de Cristo. Karl Barth cita muitos autores do sculo dezenove em seu Dogmatics, os quais defenderam a crena da natureza decada.21

    De maneira ainda mais pormenorizada, Harry Johnson, um valoroso defensor da natureza ps-queda de Cristo, refere-se a Gregory de Nazianzus (329-389), que falou convincentemente acerca de Cristo: Pois aquilo que Ele no assumiu, Ele no pode salvar; mas aquilo que est unido Sua divindade, est tambm salvo.22 Ento Johnson dedica um captulo inteiro ao ensino de doze precursores, desde o dcimo stimo at o dcimo nono sculo; desde Antoinee Bourignon at Edward Irving; todos armaram que Cristo tomou a natureza de Ado tal qual ela era aps a queda.

    Com Johnson, conclumos o sumrio histrico dos testemunhos dos telogos contemporneos. A partir de 1850, a Cristologia dos pioneiros ad-ventistas seguiu as mesmas linhas de interpretao. Nesse tempo, essa posio era ainda inslita e foi considerada hertica pelo cristianismo tradicional e radical. Quo interessante que a Cristologia desses pioneiros agora conr-

    20. Thomas F. Torrance, The Mediation of Christ (A Mediao de Cristo), pgs. 48 e 49, citado por Jack Sequeira em Beyond Belief (Alm da Crena) (Boise, Idaho: Pacic Press Pub. Assn., 1993), pgs. 44 e 45.21. Ver Barth, Dogmatics, vol. 1, parte 2, pgs. 153-155.22. Ver Johnson, pgs. 129-189.

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    mada por alguns dos melhores telogos contemporneos!Segue-se que a Cristologia desenvolvida pelos pioneiros do movimen-

    to adventista entre 1852 e 1952, poderia bem ser considerada a vanguarda da Cristologia contempornea. Tal avanada posio, ento, merece ser exami-nada em detalhes para benefcio daqueles que esto buscando pelos funda-mentos cristolgicos.

    A histria da Cristologia adventistaMuitos autores ingleses tm, em anos recentes, se expressado sobre o

    assunto, a maioria dos quais assume a posio da pr-queda ou pr-queda modicada. Todavia, at agora, no h nenhuma obra que examine a histria da crena da Igreja Adventista sobre o assunto.Alguns autores tm generosamente provido obras particularmente teis neste projeto. Elas incluem, 1) de Herbert E. Douglass, A Condensed Sum-mary of the Historic SDA Positions on the Humanity of Jesus (Um Sumrio Condensado das Posies Histricas dos Adventistas do Stimo Dia Sobre a Humanidade de Jesus); 2) William H. Grotheer, An Interpretative History of the Doctrine of the Incarnation as Taught by the SDA Church (Uma Histria In-terpretativa da Doutrina da Encarnao, Como Ensinada Pela Igreja Advent-ista do Stimo Dia; 3) Bruno W. Steinweg, e Doctrine of the Human Nature of Christ Among Adventists Since 1950 (A Doutrina da Natureza Humana de Cristo Entre os Adventistas, Desde 1950). Esses autores devem ser especial-mente reconhecidos.

    A histria da Cristologia apresentada nestas pginas dividida em cinco sees. A parte I inicia com um captulo dedicado divindade de Cristo, uma doutrina que no foi aceita sem argumentao por muitos lderes adventistas. No segundo captulo, so apresentados os fundamentos bblicos nos quais foi baseada a interpretao da natureza ps-queda de Cristo, unanimemente aceita entre 1852 e 1952.

    A parte II dedicada a um pormenorizado estudo da Cristologia como entendida pelos pioneiros adventistas, enquanto que a parte III contm uma coleo de testemunhos extrados da literatura ocial da igreja. Na parte IV, perlamos o esquema histrico da controvrsia surgida por volta de 1950,

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    seguindo uma nova interpretao. Essa seo est fundamentada essencial-mente nos escritos de Ellen G. White.

    Espero que o leitor compreenda o signicado e a magnitude da atual controvrsia. Talvez a discusso dos correntes pontos de vista inclusos na parte V, ajude um pouco a unicar o pensamento da igreja sobre o assunto da natureza humana de Cristo.

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    Parte 1

    A NATUREZA DIVINO-HUMANA DE CRISTO

    Captulo 1

    A DIVINDADE DE CRISTO

    Desde o incio do movimento adventista, em 1844, a divindade de Jesus Cristo sempre foi uma de suas crenas fundamentais. Apresentada pela primeira vez em 1872, e muitas vezes desde ento, foi especicada novamente nos seguintes termos, pela sesso da Associao Geral de 1980: Deus, o Eterno Filho, en-carnou-Se em Jesus Cristo. Atravs dEle todas as coisas foram criadas, o carter de Deus revelado, a salvao da humanidade consumada e o mundo julgado. Desde a eternidade, sendo verdadeiramente Deus, Ele tambm Se tornou verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo.23

    Isso no significa que no comeo do movimento os crentes notinham nuanas de opinio acerca da divindade de Jesus. Dos pastores que se uniram ao movimento adventista em 1844, 38 criam na Trindade, enquanto cinco eram semi-arianos, incluindo James (Tiago) White, Joseph Bates, Uriah Smith e, posteriormente, Joseph H. Waggoner todos pilares da nova f. Al-guns deles vieram da Conexo Crist, um movimento que negava a igualdade do Pai e do Filho.24

    Esses homens no negavam a divindade de Cristo ou que Ele no fosse o Criador dos cus e da Terra, o Filho de Deus, Senhor e Salvador, mas ques-

    23. Seventh-day Adventists Believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines (O Que Crem os Adventistas do Stimo Dia Uma Exposio Bblica Das 27 Doutrinas Fundamentais)- (Haggerstown, Md.; Review and Herald Pub. Assn., 1988), pg. 36.24. Ver LeRoy Edwin Froom, Movement of Destiny (O Movimento do Destino) (Washington, D.C. Review and Herald Pub. Assn., 1971), pgs.148-182.

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    tionavam sobre o signicado das palavras: Filho e Pai, armando que o Filhotivera um comeo no innito passado uma posio semi-ariana.

    Quando se tornaram adventistas do stimo dia, esses pastores retiveram as crenas semi-arianas por um tempo. Isso visto aqui e acol em seus es-critos. Seu desaparecimento foi marcado por pequena desavena. Esse litgio poderia ter posto em perigo a unidade do novo movimento, mas os pioneiros expressaram abertamente suas diferenas de opinio e as discutiram em es-prito de orao, descobrindo solues atravs de diligente estudo da Palavra de Deus.

    James (Tiago) Springer White (1821-1881)25James White foi co-fundador da Igreja Adventista do Stimo Dia, junta-

    mente com Ellen G. White e Joseph Bates. Ele nasceu no dia 4 de agosto de 1821, em Palmyra, no Maine. Seu pai era descendente de um dos peregrinos do Mayower. Aps ouvir Guilherme Miller pregar sobre a segunda vinda de Cristo, James engajou-se no movimento milerita e passou pelo Grande Desa-pontamento de 1844. Enquanto muitos dos que haviam esperado a vinda de Jesus em glria no dia 22 de outubro de 1844, renunciaram f, James White formou o ncleo de um grupo que acabou sendo pioneiro do movimento adventista.

    Ele era um brilhante pregador e escritor fecundo. Grandemente encorajado por Ellen Harmon, com quem se casou em 1846, James deu incio a vrias revistas: Present Truth (A Verdade Presente), em 1849, Advent Re-view and Sabbath Herald (Revista do Advento e Arauto do Sbado), em1850, Youths Instructor (Instrutor da Juventude), em 1852, e Signs of the Times (Si-nais dos Tempos), em 1874. Entre 1853 e 1880, ele publicou quatro livros e muitos panetos.

    Em artigos publicados na Advent Review and Sabbath Herald (Revista Adventista e Arauto do Sbado), James White expressou seus pontos de vista acerca da divindade de Jesus. De incio, ele rejeitou totalmente o que descre-

    25. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia (Enciclopdia Adventista do Stimo Dia) (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1976), pgs. 1598-1604.

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    via como o velho despropsito trinitariano, que favorecia a idia de que Jesus Cristo verdadeiramente o Deus Eterno.26 Todavia, aps 1853, ele armou sua crena na divindade de Cristo.27

    Vinte e trs anos depois, James escreveu que os adventistas do stimo dia crem na divindade de Cristo da mesma forma que os trinitarianos28 Em 1877, ele publicou um artigo intitulado Cristo igual a Deus29 . Pouco tempo antes de sua morte, ele declarou mais uma vez que o Filho era igual ao Pai na Criao, na instituio da lei e no governo das criaturas inteligentes.30 Enquanto a posio de James White era moderada, tal no se dava com Uriah Smith.

    Uriah Smith (1832-1903)31Uriah Smith nasceu em New Hampshire, em 1832, pouco aps

    Guilherme Miller iniciar sua pregao sobre o iminente retorno de Cristo. Ele tinha apenas 20 anos de idade quando se tornou adventista, em 1852. J em 1855, ele foi indicado como editor-assistente da Review and Herald, onde esteve em estreita associao com James White. Logo se tornou editor-chefe, uma posio que manteve at quase o dia de sua morte.

    Uriah Smith possua uma personalidade dominante e mantinha vigoro-samente suas posies. Seus livros e artigos exerciam forte inuncia sobre as convices doutrinrias da igreja. Smith bem conhecido principalmente em razo de seus livros sobre profecias bblicas: Daniel and the Revelation (Daniel e Apocalipse), e United States in Prophecy (Os Estados Unidos na Profecia), e Looking Unto Jesus (Olhando Para Jesus).

    Como James White, Joseph Bates e outros, Uriah Smith abandonou sua postura semi-ariana, mas no sem diculdade. Em seu primeiro livro, oughts on the Revelation (Reexes Sobre o Apocalipse) (1867), ele decla-

    26. James S. White, na Review and Herald (Revista e Arauto), 5 de agosto de 1852. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pgs. 286-288.27. James S. White, em Review and Herald, 8 de setembro de 1853.28. Idem, 12 de outubro de 1876.29. Idem, 29 de novembro de 1877.30. Idem, 5 de julho de 1880.31. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pgs. 1355, 1356.

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    rou abertamente seus pontos de vista antitrinitarianos.32 Ele no apenas nega-va a existncia do Esprito Santo, como tambm considerava que a eternidade absoluta... s pode ser atribuda a Deus, o Pai.33 Esse atributo, dizia ele, nunca pode ser aplicado a Cristo.

    Em seu comentrio sobre Apocalipse 3:14, Uriah Smith especica que Cristo no reconhecido como o iniciador, mas como o incio, da criao, e o primeiro ser criado.34 Pouco tempos aps, ele moderou suas armaes anti-trinitarianas. No tempo da publicao de Daniel and the Revelation, em 1882, ele explicou que Seu Filho unignito, de Joo 3:16, dicilmente poderia ser aplicado a um ser criado no sentido comum.35

    Em 1898, em seu ltimo livro, Looking Unto Jesus, Uriah Smith aban-donou a idia de Cristo como um ser criado. Mas, sustentou que em algum ponto no tempo, Jesus apareceu e que, conseqentemente, Ele teve um comeo. Unicamente Deus no tem princpio. Na mais remota poca, quando pde haver um comeo um perodo to longnquo que para mentes nitas essencialmente eternidade apareceu a Palavra. No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. ( Joo 1:1) A Palavra incriada era o Ser que, na plenitude dos tempos, tornou-Se carne e habitou entre ns. Seu princpio no foi semelhante ao de muitas outras coisas no Universo.36

    Considerando a posio de Cristo antes da encarnao, Smith armava que ela era igual a do Pai. No entanto, nenhuma obra da criao foi reali-zada at Cristo ter-Se tornado um ativo agente em cena.37 Ento, traz a pblico esta declarao estranha: Com o Filho, a evoluo da Deidade, como divindade, cessou.38 Em outras palavras, Smith advogava o conceito de que Cristo no foi criado, mas derivado de Deus.39

    Esse ponto de vista tambm era defendido por Joseph H. Waggoner.

    32. Ver Froom, pgs. 158, 159.33. Uriah Smith, Thoughts on the Revelation (Reexes Sobre o Apocalipse) (n.p., 1867), pg. 14.34. Idem, pg. 59.35. Sal. 2:7; Atos 13:33; Joo 1:14; 3:16; Heb. 1:5; 5:5.36. Looking Unto Jesus (Olhando Para Jesus) (Battle Creek, Mich.: Review and Herald Pub. Assn., 1898) (e reimpresso por Payson, Ariz.: Leaves of Autumn Books, 1986), pg. 10.37. Idem, pg. 12.38. Idem, pg. 13.39. Idem, pg. 17.

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    Joseph H. Waggoner (1820-1889)40Joseph H. Waggoner foi um zeloso defensor da posio semi-ariana, es-

    pecialmente quanto divindade de Cristo. Ele tambm se opunha doutrina da Trindade e considerava o Esprito Santo como meramente uma inuncia impessoal.41

    Waggoner parece no ter pertencido Conexo Crist, mas essa com-preenso era partilhada por muitas denominaes daquela poca. Antes de unir-se ao crescente movimento adventista, ele era membro da igreja batista e trabalhava como editor-assistente de um jornal poltico de Wisconsin. Mui rapidamente ele rmou posio ao lado dos pioneiros adventistas e exerceu cargos de inuncia, como editor da Signs of the Times, sucedendo a James White. Posteriormente, Waggoner editou o American Sentinel (Sentinela Americana), e nalmente, Pacic Health Jornal ( Jornal da Sade do Pacco). Foi autor de vrios artigos e livros, inclusive o e Atonement (A Expiao) e, From Eden to Eden (Do den Para o den), em 1886.

    Joseph H. Waggoner no pde assistir sesso da Conferncia Geral de Minepolis, em 1888, por causa de seu precrio estado de sade. Ele faleceu em 1889. A questo da divindade de Jesus estava na agenda da Conferncia de 1888. Nessa ocasio, o lho de Joseph, Ellet J. Waggoner, refutou os ltimos argumentos semi-arianos remanescentes na igreja, e denitivamente estabe-leceu o fundamento bblico necessrio ao estabelecimento da plena e com-pleta divindade de Jesus Cristo.

    Ellet J. Waggoner (1855-1916)42Ellet J. Waggoner foi o primeiro telogo adventista a apresentar a Cris-

    tologia sistemtica referente divindade e humanidade de Jesus Cristo.Nascido em Baraboo, Wisconsin, Ellet J. Waggoner estudou no Col-

    gio de Bale Creek, Michigan. Prosseguiu seus estudos no Bellevue Medical

    40. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pg. 1563.41. Ver Froom, pgs. 167-175.42. Ver Eric Claude Webster, Crosscurrents in Adventist Christology (Contracorrentes na Cristologia Adventista) (New York: Peter Lang, 1984), pgs.157-247.

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    College, New York, para a obteno do grau em medicina. Iniciou sua carreira como mdico no Sanatrio de Bale Creek, mas descobriu que preferia pre-gar e assim entrou para o ministrio evanglico.

    Depois de revelar talento para escrever, foi ele chamado a trabalhar como editor-assistente da revista Signs of the Times,43 em 1884, sob a direo de seu pai. Dois anos mais tarde, tornou-se editor-chefe, cargo que manteve at 1891. De 1892 at 1902, Waggoner trabalhou na Inglaterra, primeira-mente como editor da Present Truth, e depois como primeiro presidente da Associao do Sul da Inglaterra. Aps retornar aos Estados Unidos por causa de seu divrcio e novo casamento, despendeu os anos restantes de sua car-reira parte da igreja, como professor de teologia no Colgio de Bale Creek, nessa poca dirigido por John Harvey Kellogg.44 Waggoner era um telogo muito fecundo. Escreveu vrios e importantes livros,45 numerosos panetos e centenas de artigos para revistas. No entanto, cou mais conhecido pelo pa-pel que desempenhou na sesso da Conferncia Geral de 1888, em Minepo-lis, juntamente com seu colega Alonzo T. Jones. Juntos deixaram sua marca na histria da igreja adventista, pelas apresentaes sobre justicao pela f. Para Waggoner, o assunto somente poderia ser compreendido atravs das lentes da Cristologia.

    J em 1884, Waggoner publicou uma srie de artigos na Signs of the Times, nos quais armava sua f na divindade de Cristo, Criador de todas as coisas, a quem os anjos adoram exatamente como fazem a Deus, o Pai. Ele (Deus) deu Seu Filho Unignito por quem todas as coisas foram feitas e a quem os anjos adoram com reverncia igual rendida a Deus para que o homem pudesse ter vida eterna.46

    Na sesso da Conferncia Geral de Minepolis, em 1888, Waggoner apresentou uma srie de palestras sobre a divindade de Cristo, um assunto que estava na agenda da Conferncia. Embora no tenha deixado verses

    43. Inicialmente essa revista foi chamada de The Signs of the Times, mas posteriormente Signs of the Times.44. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, vol. 10, pg. 1563.45. Os principais livros so: Fathers of the Catholic Faith (Pais da F Catlica), (Oakland: Pacic Press Pub. Co., 1888); The Gospel in the Book of Galatians (O Evangelho na Epstola aos Glatas) (Oakland: Pacic Press Pub. Co., 1890); The Gospel in Creation (OEvangelho na Criao),Battle Creek, Mich.: International Tract Society, 1895); The Glad Tidings (Felizes Novas) (Oakland: Pacic Press Pub. Co., 1900); The Everlasting Covenant (O Concerto Eterno) (Londres: International Tract Society, 1900).46. Ellet J. Waggoner, em Signs of the Times, 28 de agosto de 1884.

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    escritas de suas apresentaes, Waggoner publicou uma srie de quatro ar-tigos sobre o assunto, imediatamente aps a sesso.47 Isso sugere que eles fo-ram relatos de suas palestras. Eles tambm foram vistos nas primeiras quatro sees do livro Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justia), publicado em 1890. Esse livro contm a maioria das idias prevalecentes na Cristologia de Waggoner.48

    Nesse tempo, muitos lderes da igreja ainda acalentavam conceitos semi-arianos ou adocianistas, concernentes natureza divina de Cristo, da a importncia da questo levantada por Waggoner: Cristo Deus?

    Para provar que Ele realmente era Deus, Waggoner citou muitos ver-sos nos quais Cristo era chamado Deus.49 Para benefcio daqueles que ainda negavam isso, ele explicou que o nome de Deus no foi dado a Cristo em conseqncia de alguma grande realizao, mas Seu por direito hereditrio.50

    Cristo a expressa imagem da pessoa do Pai (Heb. 1:3)... Conquanto Filho do Deus auto-existente, Ele tinha por natureza todos os atributos da divindade.51

    O prprio Cristo ensinou de maneira categrica que Ele era Deus ( Joo 14:8 e 9; 10:33; 8:58)52 Waggoner enfatizava a importncia da declarao de Paulo em Col. 1:19: Porque aprouve a Deus que nEle habitasse toda a plenitude. E 2:9: Porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade.Waggoner qualica isso como o mais absoluto e inequvoco testemunho53, noo que foi repetida quinze vezes em seu estudo.

    No basta simplesmente dizer: Jesus Cristo Deus. Os apstolos descrevem-nO tambm como Criador. Waggoner cita Colossenses 1:15-17, armando que no h coisa alguma no Universo que deixou de ser criada por Cristo... Tudo depende dEle para existir ... Ele sustm todas as coisas pela palavra do Seu poder.54

    Em Hebreus 1:10, o prprio Pai diz ao Filho: Tu, Senhor, no princpio fun-

    47. Idem, 25 de maro de 1889; 1, 8 e 15 de abril de 1889.48. Ver Jean Zurcher, Ellet J. Waggoners Teaching on Righteousness by Faith (O Ensino de Ellet J. Waggoner Sobre a Justia Pela F) (ensaio apresentado na reunio dos Depositrios White, Washington, D.C., em janeiro de 1988).49. Waggoner, Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justia), pgs. 9-16.50. Idem, pgs. 11 e 12.51. Idem, pg. 12.52. Idem, pg. 13-15.53. Idem, pg. 16.54. Idem, pg. 17.

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    daste a Terra e os cus so obra das Tuas mos.55

    Quem, ento, pode se atrever a negar a divindade de Cristo e o fato de que Ele o Criador de todas as coisas.56 Insistir, como muitas pessoas fazem, que Cristo um ser criado, baseando-se em um nico verso, como Apocalipse3:14, simplesmente negar Sua divindade.57 O mesmo vlido quando algumse apia na expresso de Paulo, declarando que Cristo era o primognito de toda a Criao (Col. 1:15). O seguinte versculo, observa Waggoner, mostra claramente que Ele o Criador e no a criatura.58

    Porm, mesmo Waggoner cria que houve um tempo quando Cristo de-rivou e saiu de Deus, do seio do Pai ( Joo 8:42; 1:18), mas que esse tempo vai to distante nos dias da eternidade, que para a nita compreenso ele praticamente sem princpio.59 Finalmente, Waggoner enfatizou que uma vez que Ele o Unignito Filho de Deus, da mesma substncia e natureza de Deus, e possui, por nascimento, todos os atributos de Deus... Ele tem imortalidade por direito prprio, e pode conferi-la a outros.60 Isso porque, Waggoner conclui: Ele apropriada-mente chamado Jeov, o Eu Sou.61

    A insistncia de Waggoner sobre o fato de ser Cristo da mesma substn-cia de Deus e possuir vida em Si mesmo, no era, indubitavelmente, uma novidade aos olhos de muitos dos delegados na sesso de Minepolis. Sua posio sobre a natureza divina de Cristo era, provavelmente, parte da razo para a oposio de muitos delegados sua mensagem sobre a justicao pela f. Ele, evidentemente, achou que era essencial armar a igualdade de Cristo com Deus, pois somente a vida de Deus em Cristo tinha o poder de salvar pecadores, justicando-os por Sua graa.

    Sua contribuio nesse ponto, como tambm a respeito da natureza hu-mana de Cristo, foi decisiva. Froom reconhece isso prontamente: Em 1888, Waggoner estava sendo pioneiro, e sem os benefcios das muitas armaes posteriores dela [Ellen White], no apenas sobre a eterna preexistncia de Cristo, como

    55. Idem, pg. 18.56. Idem, pg. 19.57. Idem, pgs. 19-21.58. Idem, pg. 21.59. Idem, pgs. 21-25.60. Idem, pg. 22.61. Idem, pg. 23.

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    tambm de Sua existncia individual e Sua innitude, igualdade e onipotncia.62

    Ellen White assim se expressou aps ouvir Waggoner: A plenitude da divindade em Jesus Cristo foi-nos mostrada com beleza e encanto.63 Para ela, isso demonstrava que Deus estava operando entre eles. A interpretao de Waggoner foi, mormente, uma prova teolgica do que ela sempre creu e declarou em seus escritos para aquele tempo.

    Ellen Gould White (1827-1915)64Educada na f metodista, Ellen White nunca teve problema em tratar

    da divindade de Cristo, Sua preexistncia e igualdade com o Pai. , em larga medida, graas a ela e a seus escritos que a doutrina da Trindade foi deniti-vamente estabelecida. No iniciada nas complexidades da teologia, ela cuida-dosamente evitava cair na armadilha das controvrsias cristolgicas anteriores. Igualmente, ela nunca tomou parte em confrontaes diretas com seus as-sociados mais chegados que mantinham errneas idias sobre a pessoa de Cristo. Isso no impediu que sua inuncia fosse decisiva.

    Nascida em 26 de novembro de 1827, em Gorham, Maine, Ellen cresceu no seio de uma famlia temente a Deus. Com a idade de 12 anos, ela foi batizada por imerso na Igreja Metodista. No encerramento de uma srie de sermes de Guilherme Miller sobre a breve volta de Jesus, toda a famlia uniu-se ao movimento milerita e passou pelo Grande Desapontamento de 22 de outubro de 1844.

    Em dezembro de 1844, ainda atordoada por aqueles acontecimentos, Ellen teve sua primeira viso durante uma reunio de orao. Com o passar do tempo, cou evidente que o Senhor lhe havia concedido o dom de pro-fecia, falando-lhe atravs de sonhos e vises. Como mensageira do Senhor, ela serviu de conselheira no prprio seio da igreja. Em agosto de 1846, Ellen Harmon casou-se com James White. Juntos se tornaram colunas do movi-mento adventista.

    62. Froom, pg. 296.63. Ellen G. White em Review and Herald, 27 de maio de 1890.64. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pgs. 1584-1592; Webster, pgs. 82-88.

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    No podemos enfatizar sucientemente como o Senhor usou Ellen White para guiar, desde seu incio, a pequena comunidade adventista Bblia como a Palavra de Deus, e atravs dela, a Jesus Cristo. Se j houve um escritor ou escritora que honrou, adorou e exaltou a Cristo, Seu carter, vida e obra, essa foi Ellen White. Para comprov-lo algum s precisa ler os livros que ela escreveu com relao Sua vida e ensinos.65 Com certeza, em todos os seus livros o Filho de Deus o tema central.

    Em Minepolis, Ellen White sustentou o princpio da Sola Scriptura, promovido por Waggoner, para resolver o problema enfrentado pelos delega-dos sobre a divindade de Cristo, a justicao pela f e a lei em Glatas. Ellen no fora capaz de encontrar um manuscrito anterior que havia escrito para J. H. Waggoner sobre a matria, e sugeriu que isso poderia ter sido providen-cial: Deus tem um propsito nisso. Ele deseja que vamos Bblia e tomemos a evidncia escriturstica.66 Em sua palestra de encerramento, intitulada A Call to a Deeper Study of the Word (Um Chamado ao Estudo Mais Profundo da Pala-vra), Ellen White promoveu um exemplo do prprio mtodo de Waggoner.

    O Dr. Waggoner, ela disse, apresentou seus pontos de vista de maneira clara e direta, como um cristo deve fazer. Se ele estiver em erro, vocs deveriam, de modo calmo, racional e cristo, buscar mostrar-lhe pela Palavra de Deus onde ele est em desarmonia com seus ensinos... Tomemos nossa Bblia e com humilde orao e esprito suscetvel de ensino, vamos ao grande Mestre do Mundo... A ver-dade precisa ser apresentada tal qual ela em Jesus... Devemos pesquisar as Es-crituras a m de obter evidncias da verdade... Todos os que reverenciam a Palavra de Deus tal qual ela se apresenta, todos que fazem Sua vontade segundo o melhor de suas capacidades, conhecero se a doutrina procede de Deus.67

    Por ter seguido esse mtodo desde o comeo, Ellen White nunca teve problemas com a divindade de Jesus. Ela armava a igualdade de Cristo com

    65. Os mais conhecidos: Steps to Christ (Caminho a Cristo) (New York: Fleming H. Revell, 1892); Thoughs From the Mount of Blessing (O Maior Discurso de Cristo) (Battle Creek, Mich.: International Tract Society, 1896); Christ Our Saviour (Cristo, nosso Salvador) (Battle Creek, Mich.: International Tract Society, 1896); The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Naes) (Mountain View, Calif.: Pacic Press Pub. Co., 1898); Christs Object Lessons (Parbolas de Jesus) (Battle Creek, Mich.: Review and Herald Pub. Assn., 1900).66. Ellen G. White, Manuscrito 15, 1888. Citado em A. V. Olson, Through Crisis to Victory (Da Crise Vitria) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1966), pg. 293.67. Idem, pgs. 294-302.

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    Deus.68 Descrevia-O como a Majestade do Cu... igual a Deus69, Soberano do Cu, um em poder e autoridade com o Pai70, de uma s substncia, possuindo os mesmos atributos do Pai71 o Unignito Filho de Deus, que estava com o Pai desde as eras eternas72, O Senhor Deus... revestido das vestes da humanidade73, Innito e Onipotente; Eterno e auto-existente Filho74.

    Em sua maior obra, O Desejado de Todas as Naes, publicado primeira-mente em 1898, Ellen White escreve nas linhas iniciais do livro: Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era a imagem de Deus, a imagem de Sua grandeza e majestade, o resplendor de Sua glria. Foi para mani-festar essa glria que Ele veio ao mundo... para ser Deus conosco75. Escreveu mais: Em Cristo h vida original, no emprestada, no derivada... A divindade de Cristo para o crente a segurana da vida eterna.76

    Num artigo publicado em 1900, Ellen White insistiu: Cristo o pre-existente, auto-existente Filho de Deus... Falando de Sua preexistncia, Cristo con-duz a mente para as eras sem m do passado. Ele nos garante que nunca houve tempo em que no estivesse em ntimo companheirismo com o Deus Eterno. Aquele cuja voz os judeus ento ouviam, havia estado com Deus como Algum convivente com Ele.77

    Semelhantemente, em outro artigo datado de 5 de abril de 1906, Ellen White armou pela ltima vez aquilo que se tornou a crena ocial da Igreja Adventista sobre o assunto da divindade de Cristo: Cristo era essencialmente Deus, e no mais alto sentido. Ele estava com Deus desde toda a eternidade... uma

    68. Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pg. 287.69. Ellen G. White, Manuscrito 4, 1863, citado em Selected Messages (Mensagens Escolhidas) (Washington, D.C..: Review and Herald Pub. Co., 1958), volume 1, pg. 69.70. Ellen G. White, The Great Controversy Between Christ and Satan (O Grande Conito) (Moutain View, Calif.: Pacic Press Pub. Assn., 1888), pg. 459.71. ______, em Signs of the Times, 27 de novembro de 1893.72. ______, Fundamentals of Christian Education (Fundamentos da Educao Crist) (Nashville: Southern Pub. Assn., 1895), pg. 382.73. Idem, pg. 379.74. Ellen G. White, Manuscrito 101, 1897, citado em EGW, Evangelim (Evangelismo) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn, 1946), pg. 615.75. Ellen G. White, The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Naes) (Nashville: Southern Pub. Assn., 1964), pg. 19.76. Idem, pg. 530.77. ______, em Signs of the Times, 29 de agosto de 1900.

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    Pessoa distinta, todavia um com o Pai.78

    A inuncia de Ellen White foi decisiva para ajudar a dissipar as crenas semi-arianas que ainda remanesciam entre alguns membros da igreja. Ela foi apoiada por Ellet J. Waggoner e mais tarde por William W. Presco79 e Arthur G. Daniells80.

    78. ______, em Review and Herald, 5 de abril de 1906.79. William W. Prescott (1855-1944), editor da Review and Herald (1902-1909) e vice-presidente da Associao Geral, publicouem 1920 The Doctrine of Christ (A Doutrina de Cristo), uma srie de estudos bblicos contendo 18 lies. Esse foi, realmente, o primeiro ensaio adventista em teologia sistemtica sobre a pessoa de Cristo. Ver nosso captulo 6.80. Arthur G. Daniells (1858-1935), presidente da Associao Geral de 1901 a 1922, publicou em 1926, Christ Our Righteousness(Cristo, Nossa Justia) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.). Esse livro exerceu notvel inuncia cristocntrica sobre o corpo ministerial.

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    Captulo 2

    A NATUREZA HUMANA DE CRISTO

    Tem sempre sido um desao compreender a natureza humana de Cristo, repto talvez maior do que entender Sua natureza divina. A humanidade de Cristo tem sido o ponto crucial da controvrsia, desde os primeiros sculos da Era Crist at agora, ao ponto de a Cristologia estar hoje connada maiormente ao seu estudo. A questo crtica se a carne de Cristo era a de Ado antes da queda ou de-pois dela. Em outras palavras, estava a carne de Cristo livre das inuncias do pecado ou sujeita ao seu poder e morte?

    Esse um problema de magna importncia. Se errarmos acerca da na-tureza humana de Jesus, arriscamo-nos a cometer erros sobre cada aspecto do plano da salvao. Podemos malograr na compreenso da realidade redentiva da graa concedida por Jesus aos seres humanos, ao defendermos Sua hu-manidade como estando livre do poder do pecado.

    Ellen White salientou essa fundamental verdade: O triunfo e a obedin-cia de Cristo so os de um ser humano. Em nossas consideraes, podemos cometer muitos erros em razo de equivocados pontos de vista sobre a natureza humana do Senhor. Quando conferimos Sua natureza humana um poder que no possvel ao homem possuir em seus conitos com Satans, destrumos a inteireza de Sua humanidade.81

    A Encarnao Um MistrioInegavelmente, a encarnao do Filho de Deus um mistrio. O apstolo Paulo declarou: E, sem dvida alguma, grande o mistrio da piedade: Aquele que Se manifestou em carne, foi justicado em esprito, visto dos anjos, pregado entre os

    81. Ellen G. White Manuscrito 1, de 1892. Citado em Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1953-1957) Ellen G. White Comments, vol. 7,. Pg. 929.

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    gentios, crido no mundo, e recebido acima na glria. (I Tim. 3:16).Esse mistrio diz respeito a todos os aspectos do plano da salvao, e

    no apenas encarnao. No admira que Ellen White houvesse declarado: O estudo da encarnao de Cristo, de Seu sacrifcio expiatrio e obra mediadora, ocupar a mente do diligente estudante enquanto o tempo durar.82 A respeito da encarnao, ela semelhantemente escreveu: Ao contemplarmos a encarnao de Cristo na humanidade, camos atnitos diante de to insondvel mistrio que a mente humana no pode compreender. Quanto mais reetimos sobre ele, mais espantoso nos parece.83

    O fato de ser um insondvel mistrio no implica que seja assunto proibido e posto de lado como incompreensvel. No fala Paulo do mistrio que esteve oculto dos sculos e das geraes, mas agora foi manifesto aos seus san-tos... que Cristo em vs, a esperana da glria? (Col. 1:26 e 27) Ele tambm falou do mistrio da piedade que foi pregado entre os gentios, crido no mundo(I Tim 3:16). Isso implica numa progressiva revelao de verdades que Deus deseja partilhar com a humanidade, cujo propsito conduzi-la salvao.

    Embora ela arme que a encarnao de Cristo seja um mistrio, Ellen White nos convida a estud-la em profundidade. E d boa razo de sua im-portncia: A humanidade do Filho de Deus tudo para ns. a corrente de ouro que liga nossa alma a Cristo e por meio de Cristo a Deus. Isto deve constituir nosso estudo. Ela, porm, faz uma advertncia: Quando abordamos este assunto, bem faremos em tomar a peito as palavras dirigidas por Cristo a Moiss, junto sara ardente: Tira as sandlias dos ps, porque o lugar em que ests terra santa.(xo. 3:5) Devemos aproximar-nos deste estudo com a humildade de um discpu-lo, de corao contrito. No encerramento do pargrafo, ela diz: E o estudo da encarnao de Cristo campo utfero, que recompensar o pesquisador que cave fundo em busca de verdades ocultas.84

    O problema ao buscarmos sua compreenso no tanto o mtodo da encarnao como a divina natureza foi capaz de unir-se natureza humana

    82. Ellen G. White, Gospel Workers (Obreiros Evanglicos) (Washington, D.C. Review and Herald Pub. Assn., 1915), pg. 21.83. ________, em Signs of The Times (Sinais dos Tempos), 30 de julho de 1896. Citado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pg. 1130.84. ________, Selected Messages (Mensagens Escolhidas) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1958), livro 1, pg. 244.

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    em Cristo. Esse um mistrio que jaz muito alm de nossa compreenso. O problema que a Cristologia busca resolver o porqu da encarnao, e em que espcie de carne Jesus realmente Se manifestou. Eis o cerne do problema. A esse respeito, o Novo Testamento no tem carncia de informao clara.

    O Fundamento Bblico da CristologiaO nico jeito pelo qual os pioneiros conseguiram se desvencilhar da

    inuncia de suas tradies semi-arianas, foi conar inteiramente no ensino das Escrituras. Em virtude disso, eles abriram o caminho para uma Cristolo-gia a qual os melhores exegetas do sculo 20 somente vieram vericar recen-temente em seus estudos.

    parte do Novo Testamento, difcil especicar que fontes esto por trs da primeira atribuio adventista de carne pecaminosa a Jesus. Por outro lado, fcil rememorar as referncias bblicas usadas pelos primeiros escritores adventistas, para denir a natureza da carne na qual o Senhor Jesus venceu o poder do pecado.

    O texto mais citado e mais explcito Rom. 8:3. Nenhuma outra pas-sagem parece explicar melhor a razo para a encarnao, e em que espcie de carne ela foi realizada: Deus, enviando Seu Filho em semelhana da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado.

    Os primeiros telogos adventistas interpretavam com naturalidade a expresso da King James Version em semelhana da carne do pecado como a denio paulina da carne de Jesus ao tempo de Sua encarnao. Eles con-sideravam que a palavra semelhana devia ser usada precisamente no mes-mo sentido dado em Filipenses 2:7, que diz que Jesus, aps ter-Se despo-jado da forma de Deus e de Sua igualdade com Ele, tomou a forma de servo, tornando-Se semelhante aos homens. Que equivale dizer que Jesus no teve simplesmente uma aparncia humana, mas de fato uma natureza com carne pecaminosa sarko hamartias, como Paulo declara em Rom. 8:3. Isso no era entendido como implicando que Jesus houvesse sido um pecador, ou que Ele houvesse participado, no mnimo que fosse, do pecado do homem.

    A expresso Deus ... condenou o pecado na carne foi interpretada como signicando que Jesus, tendo vivido uma vida sem pecado, em carne pecami-

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    nosa, havia realmente condenado o pecado na carne (Rom. 8:3). Dessa ma-neira, veio a ser autor de eterna salvao para todos os que Lhe obedecem (Heb. 5:9). Assim, desde o incio, a Cristologia dos pioneiros foi desenvolvida em direta relao sua Soteriologia, sendo a ltima uma funo da primeira.

    Entre outros textos amide citados, tambm encontramos Rom. 1:3, que dene a natureza de Jesus atravs de Seus ancestrais: [Cristo] que nasceu da descendncia de Davi segundo a carne Hebreus 2:16 tambm foi citado: Pois, na verdade, no presta auxlio aos anjos, mas sim descendncia de Abrao.Um escritor fez meno de alguns dos menos louvveis da descendncia de Abrao, e comentou: Um rpido olhar nos ancestrais e na posteridade de Davi, mostra que a linha da qual Cristo descendeu era tal que tenderia a concentrar nEle todas as aquezas da humanidade.85

    Muitas outras passagens da epstola aos Hebreus foram citadas, as quais enfatizavam a identidade da natureza humana de Jesus com aquela de Seus irmos humanos. Por exemplo: Pois tanto o que santica, como os que so santicados, vm todos de um s. (Heb. 2:11) Portanto, visto como os lhos so participantes comuns de carne e sangue, tambm Ele, semelhantemente, participou das mesmas coisas (verso 14). Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a Seus irmos. (verso 17). E ainda outra: Porque no temos um sumo sacerdote que no posa compadecer-Se das nossas aquezas; porm um que, como ns, em tudo foi tentado, mas sem pecado. (Heb. 4:15).

    A declarao de Paulo em Glatas 4:4 e 5, freqentemente citada como implicando numa completa e real participao na decada humanidade, como condio para a salvao do homem: Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a m de recebermos a adoo de lhos. Semelhante-mente, em II Corntios 5:21: Aquele que no conheceu pecado, Deus O fez pecado por ns; para que nEle fssemos feitos justia de Deus.

    A esto algumas passagens-chave em que se apoiaram os telogos e escritores adventistas anteriormente a 1950, para denir a natureza humana de Jesus. De fato, as primeiras armaes na literatura ocial da igreja mos-travam que o signicado dado s expresses bblicas referentes natureza de

    85. Ellet J. Waggoner, em Signs of The Times, 21 de janeiro de 1889.

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    Jesus foram rme e claramente estabelecidas.

    Os Primeiros Testemunhos AdventistasDe acordo com Ellen White, a natureza humana de Cristo foi denida

    no incio pelos pioneiros adventistas, juntamente com outras crenas funda-mentais. Aps o grande desapontamento... a verdade foi desdobrada ponto por ponto, e entrelaada com suas mais santas lembranas e simpatias. Os pesquisa-dores da verdade sentiam que a identicao de Cristo com sua natureza e interesses foi completa.86

    A primeira referncia natureza humana de Jesus sada da pena do editor James White se encontra na Review and Herald de 16 de setembro de 1852. No editorial da revista, ele escreveu: Como Aaro e seus lhos, Ele [Je-sus] tomou sobre Si carne e sangue, a semente de Abrao.87 No ano seguinte, num artigo intitulado Um Autor Ingls, lemos: Jesus Cristo, declara a voc ser Ele o Filho de Deus, um com o Pai... o que tomou sobre Si a semente de Abrao, nossa natureza, e a preservou sem pecado.88

    Em 1854, J. M. Stephenson, escreveu uma srie de artigos sobre a natu-reza humana de Jesus. Dizer que Deus enviou Seu prprio Filho em semelhana de carne do pecado, equivale a armar que o Filho de Deus assumiu nossa natureza.89

    Para responder pergunta: Que sangue foi derramado para a remisso dos pecados?, Stephenson retorque: No foi ele o sangue idntico ao que ua nas veias de Maria, Sua me, e que veio atravs de toda a sua ancestralidade desde Eva, a me de todos os viventes? Por outro lado, Ele no era a semente da mulher de Abrao, Isaque, Jac e Davi?90

    Fora esses trs autores, ningum mais escreveu sobre a natureza hu-mana de Jesus na dcada de 1850, com exceo de Ellen G. White. Sua pri-meira declarao, datando de 1858, aparece na descrio de um dilogo entre Jesus e Seus anjos, discutindo o plano da salvao. Tendo-lhes revelado que

    86. Ellen G. White, Selected Messages, livro 2, pgs. 109, 110 (itlicos supridos).87. James S. White, Review and Herald, 16 de setembro de 1852.88. Idem, 18 de outubro de 1853.89. J. M. Stephenson , Review and Herald, 9 de novembro de 1854.90. Idem, 15 de julho de 1854.

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    abandonaria Sua glria celestial, encarnaria na Terra, humilhar-Se-ia como um homem comum, e seria tentado como homem, para poder prestar as-sistncia queles que fossem tentados, Jesus lhes disse que eles teriam uma parte a desempenhar...; Ele tomaria a natureza decada do homem, e Sua fora no seria nem mesmo igual a deles [anjos].91

    No mesmo relato, Ellen White diz que no nal da revelao de Jesus, Satans disse a seus anjos que quando Jesus assumisse a decada natureza do homem, ele poderia sobrepuj-Lo e impedir a realizao do plano da salvao.92

    Para Ellen White todo o plano da salvao dependia da natureza hu-mana de Cristo. Estava nos planos de Deus, escreveu ela em 1864, que Cristo tomasse sobre Si mesmo a forma e a natureza do homem cada.93 Para ela, a grande obra da redeno deveria ser levada a efeito no apenas com o Reden-tor tomando o lugar do decado Ado... O Rei da glria Se props humilhar-Se a Si mesmo na degenerada humanidade... Ele tomaria a natureza do homem corrompido.94

    A Primeira Declarao OcialAs primeiras testemunhas expressavam no apenas seus pontos de

    vista pessoais, mas tambm as convices de toda uma comunidade. Eis por que suas opinies foram inclusas na Declarao dos Princpios Fundamentais Ensinados e Praticados Pelos Adventistas do Stimo Dia, publicada em 1872.

    O prembulo desse documento declarava explicitamente que os artigos de f no constituam um credo, mas simplesmente uma resumida declarao daquilo que , e foi, com grande unanimidade, mantido por eles.95 Sabemos, de fato, que James White, j em 1847, mostrava-se contrrio a qualquer idia de

    91. Ellen G. White, Early Writings (Primeiros Escritos) (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1945), pg. 150 (itlicossupridos).92. Idem, pg. 152 (itlicos supridos).93. _________, Spiritual Gifts (Dons Espirituais) (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1945), vol. 4, pg. 115 (itlicos supridos).94. _________, Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874 (itlicos supridos).95. Review and Herald, 2 de janeiro de 1872. Ver P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission (Fundamentos da Mensagem e Misso dos Adventistas do Stimo Dia) (Grand Rapids: W. B. Eerdmans Pub. Co., 1978), pgs. 301-305.

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    connar as crenas fundamentais da igreja num credo inexvel. A Bblia uma perfeita e completa revelao. nossa nica regra de f e prtica.96

    No se pretendia proibir qualquer declarao de f. Pelo contrrio, a igreja via-se obrigada a declarar suas crenas to claramente quanto possvel, para o benefcio dos membros bem como para os de fora. Mas a Bblia e a Bblia s, deve ser nosso credo... O homem falvel, mas a Palavra de Deus no falha jamais.97

    Dos 25 artigos de f nessa primeira declarao doutrinria ocial da igreja, o segundo acerca da pessoa e obra de Jesus Cristo. Ele proclama que h um Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai Eterno, o nico por quem Deus criou todas as coisas, e por quem elas subsistem; que Ele tomou sobre si a natureza da semente de Abrao, para a redeno de nossa cada raa; que Ele habitou entre os homens, cheio de graa e verdade.98

    Essa declarao no especica como os adventistas daquele tempo compreendiam a expresso a natureza da semente de Abrao. Todavia, te-mos as interpretaes daqueles que usaram essa frase antes e depois de 1872. No satisfeito em citar simplesmente o texto bblico, James White escreveu que Jesus tomou sobre Si carne e sangue, a semente de Abrao.99 Essa j uma explicao de espcie. Como veremos, a maioria das declaraes daque-les que usaram a expresso deu-lhe o mesmo signicado que Ellen White: Como qualquer lho de Ado, aceitou os resultados da operao da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na histria de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentaes, e dar-nos o exemplo de uma vida impecvel.100

    interessante notar que a declarao ocial de 1872 sobre a natureza humana de Cristo, permaneceu intocada at 1931. Nessa poca, ela foi mu-dada para expressar com palavras diferentes a mesma convico bsica. Con-quanto retendo Sua divina natureza, Ele tomou sobre Si a natureza da famlia

    96. James S. White, A Word to the Little Flock (Uma Palavra ao Pequeno Rebanho), pg. 13. Citado em Seventh-day Adventist Encyclopedia, pg. 358.97. Ellen G. White, Selected Messages, vol. 1, pg. 416.98. Review and Herald, 2 de janeiro de 1872 (itlicos supridos).99. James S White, Review and Herald, 16 de setembro de 1852 (itlicos supridos).100. Ellen G. White, The Desire of the Ages (O Desejado de Todas as Naes), pg. 49. Ver interpretaes similares em nossas pginas adiante.

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    humana, e viveu na Terra como um homem.101 Posta no contexto dos escritos desse perodo, essa nova formulao conrma o que foi o ensino unnime da igreja at 1950, isto , que a carne de Jesus era em semelhana da carne do pecado.

    A Natureza Humana em Estado DecadoA declarao ocial de 1872 sobre a natureza humana de Jesus con-

    stitui a pedra angular da Cristologia Adventista anterior a 1950. De acordo com Ralph Larson, ela foi rearmada mais de 1.200 vezes pelos escritores e telogos adventistas, das quais cerca de 400 so da prpria Ellen White.102

    Por volta de 1950, todavia, inuenciada por consideraes extrabbli-cas, outra interpretao surgiu nos meios adventistas, armando que a natu-reza humana de Cristo era a de Ado antes da queda. Esse foi um indisputvel retorno aos credos dos primeiros sculos. Essa mudana constituiu-se, de to-das, a mais surpreendente porque, ao mesmo tempo, os mais eminentes telogos protestantes da segunda metade do sculo vinte emanciparam-se das tradi-cionais posies e inconscientemente conrmaram a interpretao que havia prevalecido at ento na igreja adventista.

    Algum pode car espantado ante essa sbita mudana de interpre-tao dentro da igreja, especialmente aps apresentar uma frente unnime por um sculo de consistente ensino sobre o assunto. De fato, desde o incio do movimento, a natureza cada de Cristo nunca havia sido objeto de qualquer controvrsia, distintamente do acontecido com outros pontos doutrinrios como a divindade de Cristo. Uma nota manuscrita por William C. White, bem como outros documentos emitidos pela sesso da Conferncia Geral de Minepolis, conrma que a Cristologia no foi o ponto de atrito em 1888.103

    101. Ver Crena Fundamental n 3, Seventh-day Adventista Yearbook (1931). Essa mesma declarao foi adotada pelo Conclio Outonal de 1941, e includa no Manual da Igreja (1942), onde permaneceu inaltervel atravs de vrias edies, at 1980.102. Ralph Larson, The Word Was Made Flesh, One Hundred Years of Seventh-day Adventist Christology 1852-1952 (O Verbo Se Fez Carne, 100 anos de Cristologia Adventista do Stimo Dia 1852-1952), (Cherry Valley, Calif.: Cherrystone Press, 1986), pgs. 220, 245. Larson levantou um censo cronolgico das declaraes referentes natureza humana de Cristo contidas na literatura denominacional.103. Ver Eric Claude Webster. Crosscurrents in Adventist Christology (Contracorrentes na Cristologia Adventista), pg. 176, nota 56.

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    Atravs de toda a dcada de 1890, a Cristologia tornou-se o assunto favorito entre os pregadores adventistas. Ellen White, em particular, con-tinuamente insistia sobre a importncia do tema em todos os seus escritos, enfatizando a natureza cada de Cristo. A razo patente. Primeiramente, ele servia ao propsito de armar a realidade da humanidade de Cristo, mesmo mais enfaticamente do que outros cristos, que tendiam a advogar a natureza imaculada de Jesus, isto , a de Ado antes da queda.

    Como nosso estudo constatar, a obra da redeno pode ser explicada unicamente com a compreenso apropriada da pessoa divino-humana de Je-sus Cristo. Enganar-se na Cristologia errar sobre a obra de salvao realizada nos seres humanos por Cristo, atravs do processo de justicao e santicao.

    Finalmente, esse tpico provou-se importante na instruo dos novos conversos ao adventismo. Ele era totalmente contrrio s suas crenas, que representavam para muitos um srio desao. No espanta que muitas pergun-tas tenham sido feitas a Ellen White e aos editores das vrias publicaes da igreja. Suas respostas contm uma riqueza de informaes valiosas.

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    Parte 2

    A CRISTOLOGIA DOS PIONEIROS DA IGREJA ADVENTISTA

    Captulo 3

    A CRISTOLOGIA DE ELLEN G. WHITE (1827-1915)

    Ellen G. White desempenhou um importante papel durante a formao das crenas fundamentais da Igreja Adventista. Ela foi a primeira lder e realmente a nica que, anteriormente a 1888, expressou-se por escrito sobre a posio da natureza hu-mana de Jesus, a qual foi nalmente adotada por toda a jovem comunidade.

    Aps suas primeiras declaraes sobre o assunto, em 1858, Ellen con-tinuou a expressar seus pensamentos concernentes ao tema com crescente clareza, em artigos publicados na Review and Herald, e mais tarde em seus livros. Em 1874, uma srie de artigos tratando da tentao de Cristo apresen-tou a essncia de sua Cristologia.104 Em 1888, na sesso da Conferncia Geral de Minepolis, onde Ellet J. Waggoner tornou a divindade e a humanidade de Cristo o fundamento da justicao pela f, todos os elementos de sua Cris-tologia haviam j sido expressos nos escritos de Ellen White.

    A pessoa e a obra de Jesus foram sempre o centro do interesse de Ellen White. A humanidade do Filho de Deus era tudo para ela. Ela a chamava a cadeia de ouro que liga nossas almas a Cristo, e atravs de Cristo a Deus.105 Esse assunto o mago de seus escritos, at sua morte em 1915. Apenas seis meses antes de depor a pena, ela escreveu: Ele [Cristo] fez-Se de nenhuma reputao,

    104. Ellen G. White Mensagens Escolhidas, vol. 1, pgs. 242-289.105. Idem, pg. 244.

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    tomou sobre Si a forma de servo, e feito em semelhana da carne do pecado... Imacu-lado e exaltado por natureza, o Filho de Deus consentiu em tomar as vestes da humanidade, para tornar-Se um com a raa decada. O Verbo Eterno permitiu tornar-Se carne. Deus tornou-Se homem.106

    Infelizmente, Ellen White nunca tratou o assunto como um todo e de modo sistemtico. Essa uma fonte de diculdade. Entre suas 120.000 pginas manuscritas107, as declaraes sobre a natureza humana de Jesus se contam s centenas. Alm disso, dependendo das circunstncias e do ponto especco em considerao, os mesmos conceitos so algumas vezes tratados de modo to diferente, que podem parecer contraditrios. Por essa razo, importante colocar as declaraes em seu devido contexto, e evitar a tentao de nos armos em armaes isoladas, pois isso pr-requisito fundamental de uma exegese idnea. Esforar-nos-emos em seguir essas regras na sntese seguinte da Cristologia de Ellen G. White.

    A Humanidade de JesusComo vimos, Ellen White atestava convictamente a divindade de Cris-

    to. Ela enftica sobre esse ponto. Todavia, fala da humanidade de Cristo com a mesma convico. No h qualquer trao de docetismo em seus es-critos. O triunfo do plano da salvao dependia inteiramente da encarnao, do Verbo feito carne, e do Filho de Deus revestir-Se da humanidade.

    Cristo no aparentou tomar a natureza humana; Ele realmente a assumiu. Jesus, em realidade, possua a natureza humana. Portanto, como os lhos so par-ticipantes comuns de carne e sangue, tambm Ele semelhantemente participou das mesmas coisas... (Heb. 2:14). Ele era o lho de Maria; Ele era a semente de Davi, conforme a descendncia humana. Declara-se ser Ele um homem, o Homem Cristo Jesus.108

    Ellen White acentua a humana realidade de Jesus: Ele no tinha uma

    106. _______, em Signs of the Times, 5 de janeiro de 1915.107. Quando Ellen White faleceu, em 1915, suas obras incluam 24 livros publicados e traduzidos em vrios idiomas, com dois outros prontos para publicao, 4.600 artigos e numerosos panetos sobre vrios assuntos, e cerca de 45.000 pginas manuscritas. Desde sua morte, muitos livros foram publicados em forma de compilaes.108. _______, em Review and Herald, 5 de abril de 1906, citado em Mensagens Escolhidas, vol. 1, pg. 247.

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    mera semelhana de um corpo; Jesus tomou a natureza humana, participando da vida da humanidade.109 Ele voluntariamente assumiu a natureza humana. Fez isso por Sua prpria iniciativa e consentimento.110 Ele veio como um desam-parado beb, possuindo a mesma humanidade que ns.111

    No satisfeita em declarar sua opinio de maneira geral, Ellen no hesi-tou em especicar: Quando Jesus tomou a natureza humana e assumiu a forma de homem, possua um organismo humano completo.112 Suas faculdades foram reduzidas ao prprio nvel das dbeis faculdades do homem.113 Embora Cristo tenha assumido a natureza humana com os resultados da operao da grande lei da hereditariedade, todavia estava livre de qualquer deformidade fsica.114

    Sua estrutura fsica no estava manchada por qualquer defeito; Seu corpo era forte e saudvel. E atravs de toda a Sua vida, Ele viveu em conformidade com as leis da natureza. Fsica bem como espiritualmente, Ele foi um exemplo do que Deus deseja que toda a humanidade seja por meio da obedincia s Suas leis.115

    Repetidamente Ellen White explica que no houvesse Cristo sido plena-mente humano, no poderia ter sido nosso substituto.116 Sobre esse ponto em particular, no h qualquer divergncia entre os telogos adventistas. Os pon-tos de vista diferem, mas apenas com respeito espcie de natureza humana com a qual Cristo foi revestido. Era ela a de Ado antes ou depois da queda?

    Nota do tradutor O docetismo era um ensino ligado aos gnsticos, armando que Jesus no possua realmente um corpo humano; que apenas pareceu ter morrido na cruz.

    A Natureza de Ado Antes ou Aps a Queda?Essa realmente uma questo preeminente. Os proponentes das duas

    109. Carta 97 de Ellen G. White, 1898.110. E. G. White, em Review and Herald, 5 de julho de 1887.111. Manuscrito 210 de Ellen G. White, 1895.112. Carta 32 de Ellen G. White, 1899. Citada em The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, Comentrios de E.G.White, vol. 5, pg. 1130.113. Ellen G. White, em Review and Herald, 11 de dezembro de 1888.114. _______, O Desejado de Todas as Naes, pgs. 49 e 50.115. Idem, pgs. 50 e 51.116. _______, em Signs of the Times, 17 de junho de 1897.

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    Tocado por Nossos Sentimentos

    interpretaes discordam vigorosamente desde 1950. surpreendente que a questo devesse surgir anal. Obviamente, ningum insinuaria que Ado antes