Toda mãe pode dar à luz naturalmente

1
Aprovada, a lei 712/2013 assegura o direito ao parto humanizado nos es- tabelecimentos públicos de saúde do Estado e, em 23 de dezembro de 2013, também foi aprovada, no município de São Paulo, as diretrizes para a criação do Programa Centro de Parto Normal - Casa de Parto. Outro Projeto de Lei, o 359/13, de maio do mesmo ano, prevê a inclusão de obstetrizes nos serviços de saúde destinados à promoção e atenção à saúde da mulher e à assistência durante a gestação, parto e pós-parto. “As obs- tetrizes atuam de forma autônoma e em equipes multidisciplinares”, afirma o artigo 3º do Projeto de Lei. Mesmo com a aprovação destas leis, devido ao grande número de usuários de planos de saúde no Brasil, o número de cesá- rias chega a 88% dos partos em insti- tuições de saúde privadas, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que este número não ultra- passe os 15%. 14 | Reportagens e Atualidades | 11 a 17 de fevereiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 11 a 17 de fevereiro de 2015 | Reportagens e Atualidades | 15 Quando Paula Ferreira Nas- cimento Nunes, 30, mãe da An- tonella Nunes e esposa do Felipe Nunes descobriu que estava grá- vida foi uma mistura de felicida- de e insegurança. Ela ainda esta- va se recuperando porque havia perdido um bebê com 6 semanas. Nessa fase já começou a procurar um médico que a ajudasse a ter um parto natural. Foi então que Paula conheceu Fabiola de Souto, professora de yoga, advogada e doula (auxiliar da gestante antes, durante e após o parto). Fabiola promove rodas de gestantes gratuitas sobre parto humanizado. “Participei de uma destas rodas e me apaixonei pela ideia de ter um parto natural. Al- gumas vezes, cheguei a discutir com quem me chamava de louca por isso, inclusive meu marido”, contou Paula. Mas Felipe entendeu a impor- tância do parto humanizado após assistir o filme “O renascimento do parto”. Ele repetia sempre à es- posa: “se der pra fazer como você quer, tudo bem, mas se for neces- sário de outro jeito...”. A mãe ca- tarinense não gostava dessa frase, pois havia escutado de três médi- cos pelos quais passou. Foi então que ela decidiu ir de Tubarão para Florianópolis (SC) e lá conseguiu um médico. A experiência vivida por Pau- la acontece com muitas mães brasileiras. Segundo a pesquisa “Nascer no Brasil: inquérito na- cional sobre o parto e nascimen- to”, primeiro estudo nacional de Melania Amorim, médica ginecologista obstetra, pesqui- sadora, professora e ativista pela humanização do parto e nasci- mento é referência para o assun- to no País e alimenta um blog re- gularmente levantando o debate sobre o tema. Para ela, não existe cesariana humanizada. “Isso é balela para vender a cesariana como uma alternativa válida e equivalente ao parto normal. A cesariana pode ser linda, – ah, como é linda! Uma cesariana necessária e salvadora! Pode ser respeitosa e a assistência ao nas- cimento pode ser humanizada e baseada em evidências, mas o procedimento em si, nada tem a ver com o conceito de humani- zação do parto, por isso evito o termo. Também não falo em ce- sariana natural ou minimamente invasiva, prefiro falar de técnica de cesárea baseada em evidên- cias e humanização da assistên- cia ao nascimento na cesariana”. A médica e pesquisadora Me- lania já utilizou procedimentos como episiotomia de rotina (um corte que se faz entre a vagina e o ânus da mulher para, em tese, facilitar a saída do bebê durante o parto) e fórceps de alívio em primíparas (mães de primeira viagem), mas não recorre mais a esses métodos nos partos que acompanha. “A gente evolui e se transforma. Felizmente. Eu tam- bém fazia. Eu mudei. Só nunca fui cesarista. Questão semântica, puramente? – Não acho”, afirmou em um texto que escreveu para sua página na internet. Violência obstétrica Outro tema defendido por Melania é o de que a violência obstétrica está entre um dos principais tipos de violência contra a mulher, praticada em diferentes países. Ela compar- tilha essa opinião de Fabiana Dal’Mas Rocha Paes, promotora de Justiça do Ministério Públi- co do Estado de São Paulo. “No meu entendimento, a violência obstétrica é um termo relati- vamente novo para descrever problemas antigos, que pos- suem três aspectos inter-rela- cionados. Os direitos de gênero, o direito à saúde e os direitos humanos. Pode caracterizar- se de distintas formas: recusa à admissão ao hospital (Lei nº 11.634/2007), impedimento de entrada de acompanhante (Lei nº 11.108/2005), violência psi- cológica, cesariana desnecessá- ria e sem consentimento, impe- dimento de contato com o bebê e o impedimento ao aleitamento materno”, explicou Fabiana. Ela informou também que o sistema jurídico brasileiro já possui legislação genérica pro- tetiva para tratar da violência obstétrica, mas que a questão não pode ser tratada de forma superficial, necessitando um amplo debate com a participa- ção da sociedade civil, das auto- ridades e dos médicos. Geiza Nhoncanse, médica formada pela Universidade Federal de São Carlos recomenda que todo casal grávido assista ao filme “O Renascimento do Parto”. Disponível no site www.orenascimentodoparto.com.br, o filme trata sobre os benefícios do parto normal para o bem da mãe e do bebê. Medo da dor A dor é pessoal e suportável, em casos de maior di- ficuldade, pode-se utilizar a anestesia; Medo de alterar o períneo (a entrada da vagina e do ânus) Esta questão está relacionada ao colágeno da fa- mília e à quantidade de filhos que a mulher terá na vida – pode-se fazer massagens e utilização de aparelho; Cesariana é mais segura Ao contrário, há mais riscos para a mãe pois é uma cirurgia, a cicatriz uterina traz riscos em outras ges- tações e para o bebê há risco da prematuridade; Idade avançada Não há limite de idade, as condições podem apare- cer sim, mas dependem de cada mulher; O primeiro filho foi com cesárea O ideal é que haja dois anos entre uma gestação e outra, mas há segurança no parto espontâneo, mesmo depois da cesárea; Bebê com circular de pescoço 30% dos bebês tem circular no pescoço, durante o trabalho de parto reconhece-se se a criança está ten- do diminuição de vitalidade, mas isso não é impedi- mento; Bebê muito grande ou bacia estreita Sempre é importante passar pela prova do trabalho de parto. É muito difícil numa gestação saudável que o bebê seja feito de uma maneira incapaz de passar pela bacia da mãe; Parto de gêmeos Podem nascer de parto normal na maioria dos casos. *Informações de Ana Fialho, ginecologista obstetra, no programa “Parto Normal Medos e Mitos”, apresentado na Tv FioCruz em 28/10/2013. Mitos e verdades do parto normal * Dica Acolhida e segurança na hora de dar à luz EM 2014, O AMPARO MATERNAL REALIZOU 7.407 PARTOS, NUMA MÉDIA DE 617 POR MÊS, SENDO 70 % NORMAIS Rodeadas de verde, muitas mamães em São Paulo encontram no Amparo Maternal, instituição privada e filantrópica de saúde na zona sul de São Paulo, um lugar seguro na hora do parto. Isso porque “as decisões sobre a conduta a ser tomada diante de cada parto estão embasadas nas premissas insti- tucionais de acolhimento, humanização e segurança para a saúde da mãe e do bebê, bem como todos os demais detalhes que ga- rantam o seu vínculo neste momento que é um dos mais importantes para o ser huma- no”, afirmou Júnia Cordeiro, Diretora Exe- cutiva do Amparo Maternal. Sueli Regina Maria Barbosa, 38, teve no Amparo, o segundo filho de parto normal. Ou melhor, a segunda filha, Alita Mariana Barbosa de Souza nasceu no dia 5 de feverei- ro e estava com apenas algumas horas quan- do sua mãe foi entrevistada para esta repor- tagem. O pai, Ailton Antônio de Souza, 41, acompanhou o parto da filha e participou deste momento tão importante na vida da família. “Nunca pensei em outra forma de ter meus filhos. Desde que eu quis engravidar, comecei a ler muitas coisas e sempre achei muito interessante esses partos naturais. Quando entrei na 39ª semana, a médica per- guntou se queria fazer uma cesariana e eu não quis. Todo mundo falou que eu estava doida, pois deveria fazer a cirurgia. Hoje co- mecei a sentir as contrações, vim pra cá e foi rapidinho”, contou Sueli. A mãe de Alita teve 13 irmãos e foi a única filha que não nasceu de parto normal. “Hoje, quando fiquei sozinha no quarto, pensei na minha mãe. Ela teve filhos com parteiras e até sozinha. Eu trabalhei até on- tem e hoje comecei a sentir contração. Na hora do parto, a ajuda da equipe é muito importante e das doulas ou obstetrizes tam- bém. Ao invés de pensar na dor, eu pensei na força que deveria fazer”, contou a mãe, que sempre recomenda às amigas o parto normal, mas constata que a maioria prefere a cesárea, e concluiu “Isso não é estranho?”. Colaborou nesta reportagem Marcelle Machado, do Amparo Maternal Cesárea humanizada? Uma questão de linguagem? Direitos da mãe PARTO NORMAL PARA NASCER DE MODO MAIS HUMANO NO BRASIL PREVALECE A CULTURA DA CESARIANA E MUITAS MÃES TÊM DIFICULDADE QUANDO OPTAM POR TER SEUS FILHOS SEM INTERVENÇÃO CIRÚRGICA NAYÁ FERNANDES [email protected] como um anjo e acordei profun- damente apaixonada pelo meu marido. Enquanto me arrumava para sair com os amigos, senti que a bolsa estourou.” Paula, com o apoio do Felipe começou a fazer as posições que havia treinado para aliviar as con- trações e tentava respirar e man- ter a calma. “Este controle respi- ratório aliviava as contrações, e a cada contração, não falava nada. Somente estalava os dedos, res- pirava forte. Senti que a boa hora havia chegado! Mal conseguia me movimentar até o carro pela fre- quência das contrações, e confes- so que cheguei a pensar: porque escolhi isto pra mim e não uma cesárea? Pensava na minha mãe, que é um símbolo de força para mim.” Ao chegar à maternidade, Paula foi para a banheira. “Ali assumi a posição de cócoras que era como gostaria de parir. De repente, senti uma vonta- de incontrolável de fazer força. Chamaram o médico, que teve que subir na banheira para me examinar. Continuava fazendo força a cada contração e pensei: Agora ela vem! O médico disse: ‘Corre pai, entra na banheira que a cabeça já esta ali’. A sen- sação de tocá-la juntos e sentir aquele cabelinho bem macio foi indescritível. Naqueles poucos minutos senti uma ansiedade tremenda. E assim, senti ela des- lizar aparando-a em meus bra- ços junto com o Felipe. Puxei-a para o meu peito rapidamente e o médico pediu que eu descesse um pouco, pois ela tinha uma circular de cordão no pesco- ço. Calmamente ele desenrolou com um dedo. Depois, pediu que eu baixasse um pouco mais e cobrisse o corpo dela com água. Ficamos os três ali, com aquele chorinho gostoso dela, cobertos pela água quentinha, extasiados de emoção.” E foi o pai, Felipe que cortou o cordão umbilical da filha. A mãe já partilhou essa experiência em várias mídias e na própria página no Facebook. base epidemiológica que descreve a atenção ao parto, 66% das mu- lheres preferiram o parto normal no início da gravidez, só que de- pois acabam mudando de ideia ou sendo convencidas dos supos- tos benefícios da cesariana. A pesquisa, disponível no site www6.ensp.fiocruz.br/nas- cerbrasil, acompanhou 23.984 mulheres e seus bebês em esta- belecimentos de saúde públicos, conveniados ao SUS ou privados, que realizaram mais de 500 par- tos por ano, entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012. Foram coletados dados em 266 hospi- tais de 191 municípios, incluindo as capitais e algumas cidades do interior de todos os estados, das cinco regiões do País. Um dos objetivos da pesquisa é o de analisar a atenção à gesta- ção e ao parto e seus principais desfechos, além de descrever a motivação das mulheres para op- ção pelo tipo de parto, a estrutura das instituições hospitalares e a relação com os desfechos obsté- tricos e neonatais. Dentro da água Paula decidiu pelo parto nor- mal e encontrou um médico em Florianópolis que orientava o parto dentro d’água. A gravidez aconteceu de forma tranquila e, com 34 semanas, ela começou a massagem perineal ensinada na roda de gestantes de Tubarão. “Sentia uma conexão incrível com aquele serzinho que habita- va meu corpo. No fim da gestação meu marido pegou férias e fomos para ‘Floripa’ esperar nossa prin- cesa dar o ar da graça”, contou Paula. O grande dia: 24 de maio de 2014 chegou. Começou com uma caminhada na praia e uma feijo- ada ao meio dia. “À tarde, dormi Em Santa Catarina, Paula e Felipe optaram pelo parto humanizado no nascimento da primeira filha, Antonella Sueli com a filha nascida há apenas algumas horas de parto normal em São Paulo Marcelle Machado/Amparo Maternal Arquivo pessoal

description

A decisão não é fácil. Fazer um parto normal ou cesárea? Cerca de 88% dos partos realizados em instituições privadas são por meio de intervenção cirúrgica, quando a OMS recomenda máximo de 15%. Quais são os mitos e verdades em torno do parto humanizado?

Transcript of Toda mãe pode dar à luz naturalmente

Page 1: Toda mãe pode dar à luz naturalmente

Aprovada, a lei 712/2013 assegura o direito ao parto humanizado nos es-tabelecimentos públicos de saúde do Estado e, em 23 de dezembro de 2013,

também foi aprovada, no município de São Paulo, as diretrizes para a criação do Programa Centro de Parto Normal - Casa de Parto.

Outro Projeto de Lei, o 359/13, de maio do mesmo ano, prevê a inclusão de obstetrizes nos serviços de saúde

destinados à promoção e atenção à saúde da mulher e à assistência durante a gestação, parto e pós-parto. “As obs-tetrizes atuam de forma autônoma e em equipes multidisciplinares”, afirma o artigo 3º do Projeto de Lei. Mesmo com a aprovação destas leis, devido ao

grande número de usuários de planos de saúde no Brasil, o número de cesá-rias chega a 88% dos partos em insti-tuições de saúde privadas, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que este número não ultra-passe os 15%.

14 | Reportagens e Atualidades | 11 a 17 de fevereiro de 2015 | www.arquidiocesedesaopaulo.org.br www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 11 a 17 de fevereiro de 2015 | Reportagens e Atualidades | 15

Quando Paula Ferreira Nas-cimento Nunes, 30, mãe da An-tonella Nunes e esposa do Felipe Nunes descobriu que estava grá-vida foi uma mistura de felicida-de e insegurança. Ela ainda esta-va se recuperando porque havia perdido um bebê com 6 semanas. Nessa fase já começou a procurar um médico que a ajudasse a ter um parto natural.

Foi então que Paula conheceu Fabiola de Souto, professora de yoga, advogada e doula (auxiliar da gestante antes, durante e após o parto). Fabiola promove rodas de gestantes gratuitas sobre parto humanizado. “Participei de uma destas rodas e me apaixonei pela ideia de ter um parto natural. Al-gumas vezes, cheguei a discutir com quem me chamava de louca por isso, inclusive meu marido”, contou Paula.

Mas Felipe entendeu a impor-tância do parto humanizado após assistir o filme “O renascimento do parto”. Ele repetia sempre à es-posa: “se der pra fazer como você quer, tudo bem, mas se for neces-sário de outro jeito...”. A mãe ca-tarinense não gostava dessa frase, pois havia escutado de três médi-cos pelos quais passou. Foi então que ela decidiu ir de Tubarão para Florianópolis (SC) e lá conseguiu um médico.

A experiência vivida por Pau-la acontece com muitas mães brasileiras. Segundo a pesquisa “Nascer no Brasil: inquérito na-cional sobre o parto e nascimen-to”, primeiro estudo nacional de

Melania Amorim, médica ginecologista obstetra, pesqui-sadora, professora e ativista pela humanização do parto e nasci-mento é referência para o assun-to no País e alimenta um blog re-gularmente levantando o debate sobre o tema. Para ela, não existe cesariana humanizada. “Isso é balela para vender a cesariana como uma alternativa válida e equivalente ao parto normal. A cesariana pode ser linda, – ah, como é linda! Uma cesariana necessária e salvadora! Pode ser respeitosa e a assistência ao nas-cimento pode ser humanizada e baseada em evidências, mas o procedimento em si, nada tem a ver com o conceito de humani-zação do parto, por isso evito o termo. Também não falo em ce-sariana natural ou minimamente invasiva, prefiro falar de técnica de cesárea baseada em evidên-cias e humanização da assistên-cia ao nascimento na cesariana”.

A médica e pesquisadora Me-

lania já utilizou procedimentos como episiotomia de rotina (um corte que se faz entre a vagina e o ânus da mulher para, em tese, facilitar a saída do bebê durante o parto) e fórceps de alívio em primíparas (mães de primeira viagem), mas não recorre mais a esses métodos nos partos que acompanha. “A gente evolui e se transforma. Felizmente. Eu tam-bém fazia. Eu mudei. Só nunca fui cesarista. Questão semântica, puramente? – Não acho”, afirmou em um texto que escreveu para sua página na internet.

Violência obstétricaOutro tema defendido por

Melania é o de que a violência obstétrica está entre um dos principais tipos de violência contra a mulher, praticada em diferentes países. Ela compar-tilha essa opinião de Fabiana Dal’Mas Rocha Paes, promotora de Justiça do Ministério Públi-co do Estado de São Paulo. “No

meu entendimento, a violência obstétrica é um termo relati-vamente novo para descrever problemas antigos, que pos-suem três aspectos inter-rela-cionados. Os direitos de gênero, o direito à saúde e os direitos humanos. Pode caracterizar- se de distintas formas: recusa à admissão ao hospital (Lei nº 11.634/2007), impedimento de entrada de acompanhante (Lei nº 11.108/2005), violência psi-cológica, cesariana desnecessá-ria e sem consentimento, impe-dimento de contato com o bebê e o impedimento ao aleitamento materno”, explicou Fabiana.

Ela informou também que o sistema jurídico brasileiro já possui legislação genérica pro-tetiva para tratar da violência obstétrica, mas que a questão não pode ser tratada de forma superficial, necessitando um amplo debate com a participa-ção da sociedade civil, das auto-ridades e dos médicos.

Geiza Nhoncanse, médica formada pela Universidade Federal de São Carlos recomenda que todo casal grávido assista ao filme “O Renascimento do Parto”. Disponível no site www.orenascimentodoparto.com.br, o filme trata sobre os benefícios do parto normal para o bem da mãe e do bebê.

Medo da dorA dor é pessoal e suportável, em casos de maior di-ficuldade, pode-se utilizar a anestesia;

Medo de alterar o períneo (a entrada da vagina e do ânus)Esta questão está relacionada ao colágeno da fa-mília e à quantidade de filhos que a mulher terá na vida – pode-se fazer massagens e utilização de aparelho;

Cesariana é mais seguraAo contrário, há mais riscos para a mãe pois é uma cirurgia, a cicatriz uterina traz riscos em outras ges-tações e para o bebê há risco da prematuridade;

Idade avançadaNão há limite de idade, as condições podem apare-cer sim, mas dependem de cada mulher;

O primeiro filho foi com cesáreaO ideal é que haja dois anos entre uma gestação e outra, mas há segurança no parto espontâneo, mesmo depois da cesárea;

Bebê com circular de pescoço30% dos bebês tem circular no pescoço, durante o trabalho de parto reconhece-se se a criança está ten-do diminuição de vitalidade, mas isso não é impedi-mento;

Bebê muito grande ou bacia estreitaSempre é importante passar pela prova do trabalho de parto. É muito difícil numa gestação saudável que o bebê seja feito de uma maneira incapaz de passar pela bacia da mãe;

Parto de gêmeosPodem nascer de parto normal na maioria dos casos.

*Informações de Ana Fialho, ginecologista obstetra, no programa “Parto Normal Medos e Mitos”, apresentado na Tv FioCruz em 28/10/2013.

Mitos e verdades do parto normal * Dica

Acolhida e segurança na hora de dar à luzEm 2014, o AmpAro mAtErnAl rEAlizou 7.407 pArtos, numA médiA dE 617 por mês, sEndo 70 % normAis

Rodeadas de verde, muitas mamães em São Paulo encontram no Amparo Maternal, instituição privada e filantrópica de saúde na zona sul de São Paulo, um lugar seguro na hora do parto. Isso porque “as decisões sobre a conduta a ser tomada diante de cada parto estão embasadas nas premissas insti-tucionais de acolhimento, humanização e segurança para a saúde da mãe e do bebê, bem como todos os demais detalhes que ga-rantam o seu vínculo neste momento que é um dos mais importantes para o ser huma-

no”, afirmou Júnia Cordeiro, Diretora Exe-cutiva do Amparo Maternal.

Sueli Regina Maria Barbosa, 38, teve no Amparo, o segundo filho de parto normal. Ou melhor, a segunda filha, Alita Mariana Barbosa de Souza nasceu no dia 5 de feverei-ro e estava com apenas algumas horas quan-do sua mãe foi entrevistada para esta repor-tagem. O pai, Ailton Antônio de Souza, 41, acompanhou o parto da filha e participou deste momento tão importante na vida da família.

“Nunca pensei em outra forma de ter meus filhos. Desde que eu quis engravidar, comecei a ler muitas coisas e sempre achei muito interessante esses partos naturais. Quando entrei na 39ª semana, a médica per-guntou se queria fazer uma cesariana e eu não quis. Todo mundo falou que eu estava

doida, pois deveria fazer a cirurgia. Hoje co-mecei a sentir as contrações, vim pra cá e foi rapidinho”, contou Sueli.

A mãe de Alita teve 13 irmãos e foi a única filha que não nasceu de parto normal. “Hoje, quando fiquei sozinha no quarto, pensei na minha mãe. Ela teve filhos com parteiras e até sozinha. Eu trabalhei até on-tem e hoje comecei a sentir contração. Na hora do parto, a ajuda da equipe é muito importante e das doulas ou obstetrizes tam-bém. Ao invés de pensar na dor, eu pensei na força que deveria fazer”, contou a mãe, que sempre recomenda às amigas o parto normal, mas constata que a maioria prefere a cesárea, e concluiu “Isso não é estranho?”.

Colaborou nesta reportagem marcelle machado, do Amparo maternal

Cesárea humanizada? Uma questão de linguagem?

Direitos da mãe

PArto normAl PArA nAsCer De moDo mAis hUmAnono BrAsil prEvAlECE A CulturA dA CEsAriAnA E muitAs mãEs têm difiCuldAdE quAndo optAm por tEr sEus filhos sEm intErvEnção CirúrgiCA

Nayá [email protected]

como um anjo e acordei profun-damente apaixonada pelo meu marido. Enquanto me arrumava para sair com os amigos, senti que a bolsa estourou.”

Paula, com o apoio do Felipe começou a fazer as posições que havia treinado para aliviar as con-trações e tentava respirar e man-ter a calma. “Este controle respi-ratório aliviava as contrações, e a cada contração, não falava nada. Somente estalava os dedos, res-pirava forte. Senti que a boa hora havia chegado! Mal conseguia me movimentar até o carro pela fre-quência das contrações, e confes-so que cheguei a pensar: porque escolhi isto pra mim e não uma cesárea? Pensava na minha mãe, que é um símbolo de força para mim.”

Ao chegar à maternidade, Paula foi para a banheira. “Ali assumi a posição de cócoras que era como gostaria de parir. De repente, senti uma vonta-de incontrolável de fazer força. Chamaram o médico, que teve que subir na banheira para me examinar. Continuava fazendo força a cada contração e pensei: Agora ela vem! O médico disse: ‘Corre pai, entra na banheira que a cabeça já esta ali’. A sen-sação de tocá-la juntos e sentir aquele cabelinho bem macio foi indescritível. Naqueles poucos minutos senti uma ansiedade tremenda. E assim, senti ela des-lizar aparando-a em meus bra-ços junto com o Felipe. Puxei-a para o meu peito rapidamente e o médico pediu que eu descesse um pouco, pois ela tinha uma circular de cordão no pesco-ço. Calmamente ele desenrolou com um dedo. Depois, pediu que eu baixasse um pouco mais e cobrisse o corpo dela com água. Ficamos os três ali, com aquele chorinho gostoso dela, cobertos pela água quentinha, extasiados de emoção.” E foi o pai, Felipe que cortou o cordão umbilical da filha. A mãe já partilhou essa experiência em várias mídias e na própria página no Facebook.

base epidemiológica que descreve a atenção ao parto, 66% das mu-lheres preferiram o parto normal no início da gravidez, só que de-pois acabam mudando de ideia ou sendo convencidas dos supos-tos benefícios da cesariana.

A pesquisa, disponível no site www6.ensp.fiocruz.br/nas-cerbrasil, acompanhou 23.984 mulheres e seus bebês em esta-belecimentos de saúde públicos, conveniados ao SUS ou privados, que realizaram mais de 500 par-tos por ano, entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012. Foram coletados dados em 266 hospi-

tais de 191 municípios, incluindo as capitais e algumas cidades do interior de todos os estados, das cinco regiões do País.

Um dos objetivos da pesquisa é o de analisar a atenção à gesta-ção e ao parto e seus principais desfechos, além de descrever a motivação das mulheres para op-ção pelo tipo de parto, a estrutura das instituições hospitalares e a relação com os desfechos obsté-tricos e neonatais.

Dentro da águaPaula decidiu pelo parto nor-

mal e encontrou um médico em

Florianópolis que orientava o parto dentro d’água. A gravidez aconteceu de forma tranquila e, com 34 semanas, ela começou a massagem perineal ensinada na roda de gestantes de Tubarão. “Sentia uma conexão incrível com aquele serzinho que habita-va meu corpo. No fim da gestação meu marido pegou férias e fomos para ‘Floripa’ esperar nossa prin-cesa dar o ar da graça”, contou Paula.

O grande dia: 24 de maio de 2014 chegou. Começou com uma caminhada na praia e uma feijo-ada ao meio dia. “À tarde, dormi

Em Santa Catarina, Paula e Felipe optaram pelo parto humanizado no nascimento da primeira filha, Antonella

Sueli com a filha nascida há apenas algumas horas de parto normal em São Paulo

marcelle machado/Amparo maternal

Arquivo pessoal