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TODA POESIA Eder Ferreira

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TODA POESIA

Eder Ferreira

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Eder Ferreira

TODA POESIA

1º Edição

Clube de Autores

2011

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Editora: Clube de Autores

Edição, diagramação e revisão final: Eder Ferreira

Capa: Eder Ferreira

Ferreira, Eder

Toda Poesia: Eder Ferreira;

Siqueira Campos – 2011

1. Literatura. 2. Literatura nacional. 3.

Poesias. 4. Antologia

Eder Ferreira. 2011. Todos os direitos reservados

Contato: [email protected]

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ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação

Antes de mais nada, quero avisar meus mui honrosos leitores que esse livro não nasceu por acaso. Seu parto foi rápido, mas sua concepção um tanto quanto meticulosa.

Isso porque ele tem uma missão de grande importância: reunir todas as poesias que, porventura, publiquei até este momento. Para ser mais exato, os poemas que aqui se encontram foram publicados originalmente nos livros “Palavras vazias” e “O Exterminador de Sonetos”, além de textos inéditos.

Com essa obra, quis reunir todos os meus devaneios poéticos em um único tomo, como forma de propiciar uma leitura mais completa.

Por tanto, aproveite. Aqui está toda a minha poesia. Que venham mais (e virão, pode acreditar!)

Eder Ferreira

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Sobre o autorSobre o autorSobre o autorSobre o autor

Nascido em 27 de dezembro de 1980, na cidade de Siqueira Campos, no estado do Paraná, Éder Carlos Ferreira sempre se interessou pelo universo dos livros. Desde muito cedo, demonstrou interesse em áreas tão diversas como romance, ficção científica, poesia, filosofia, contos, dentre vários outros temas recorrentes na literatura. Apesar

de ter se formado em licenciatura na disciplina de matemática, de ser funcionário público municipal em sua cidade natal, e de exercer a função de professor de informática e secretariado, nunca se desviou da paixão pelos livros. Começou sua caminhada como escritor na poesia, aperfeiçoando-se na criação de sonetos brancos. Não demorou muito, e iniciou-se também na criação de contos para, logo em seguida, dedicar-se também às crônicas.

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SumárioSumárioSumárioSumário Poemas

Ego .......... 19

Singular .......... 20

Relógio de parede .......... 21

Origem .......... 22

Queda (livre) .......... 23

Um rosto na multidão .......... 24

Oito passos para uma vida santa .......... 25

Pseudo-devaneio literalmente contido.......... 26

As ilusões achadas .......... 27

O tempo rouge .......... 28

Página manchada .......... 29

Minha dor .......... 31

Paraíso .......... 32

Vida: meu único vício .......... 34

Urbano .......... 35

Adjuntos .......... 36

Anti-herói .......... 37

Concílio .......... 39

Parto .......... 41

Enforcado .......... 43

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Véu .......... 44

O morto e o tempo .......... 45

Um sonho literário .......... 46

O vento .......... 47

Palavras vazias .......... 48

Mortos-vivos .......... 49

Versos irreais .......... 50

Anti-o-quê?! .......... 51

Arquivo morto .......... 52

Imperfeita trova com o maior

e mais inútil título que um

poeta sem nada melhor para

fazer poderia criar numa

tarde de segunda-feira "braba" .......... 54

Amor poente .......... 55

O sonho perfeito .......... 56

Haikaos I .......... 57

Haikaos II .......... 58

Haikaos III ......... 59

Haikaos IV.......... 60

Haikaos V .......... 61

Haikaos VI .......... 62

Haikaos VII .......... 63

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Haikaos VIII .......... 64

Virgem de pedra – Haikai I .......... 65

Virgem de pedra – Haikai II .......... 66

Virgem de pedra – Haikai III .......... 67

Virgem de pedra – Haikai IV .......... 68

Virgem de pedra – Haikai V .......... 69

Virgem de pedra – Haikai VI .......... 70

Virgem de pedra – Haikai VII .......... 71

Virgem de pedra – Haikai VIII .......... 72

Sonetos

Soneto de Introdução I .................... 75

Soneto de Introdução II .................... 76

Dedicatória .................... 77

Aventura poética .................... 78

O Exterminador de Sonetos ....................79

Sonetificação .......... 80

Sexologia .......... 81

Face oculta .......... 82

Ao amor ou ao ódio .......... 83

Pecados mortais .......... 84

Vozes humanas .......... 85

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Chacais .......... 86

A última noite de um poeta .......... 87

Sombras na parede .......... 88

Sintético .......... 89

Mãos do destino .......... 90

Alienígena .......... 91

Artista do céu .......... 92

Almas explosivas .......... 93

Nostalgia .......... 94

O poema perfeito .................... 95

A nuvem .................... 96

Sinestesia .................... 97

Sonetóide trovadoristico-

poetrixzado-haikaidológico .................... 98

Cosmos .................... 99

Invencionice .................... 100

Como escrever um Soneto .................... 101

Acidez .................... 102

Contemplação .................... 103

A rosa assassina .................... 104

Altar .................... 105

Copo de cerveja .................... 106

Soneto com uma só rima .................... 107

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Ego perverso .................... 108

Microsoneto .................... 109

Coma .................... 110

Soneto de desorganização .................... 111

Máscara negra .................... 112

Ciclo infinito .................... 113

Musicalidade .................... 114

Releitura .................... 115

Diálogo gramatical .................... 116

As dores do mundo .................... 117

Soneto de Ruptura .................... 118

Tempo esgotado .................... 119

Poesia eterna .................... 120

Inverso .................... 121

Soneto de falta de inspiração .................... 122

A Árvore da Vida .................... 123

Heroísmo .................... 124

Nas Trevas .................... 125

Eterno .................... 126

Uma palavra .................... 127

A Máquina .................... 128

Soneto modernista .................... 129

Sanguinolência .................... 130

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Enterro de mágoas .................... 131

Mitologia .................... 132

Pedagogia Selvagem .................... 133

Espectros carentes .................... 134

Vida eterna .................... 135

Correntes da miséria .................... 136

Musa .................... 137

Soneto à Mulher-melancia .................... 138

Desabafo .................... 139

Memória caipira .................... 140

Via Sacra .................... 141

Tributo I .................... 142

Tributo II .................... 142

Tributo II .................... 144

O último soneto.................... 145

...o fim! .................... 146

Anexo

O Micro-Soneto ......... 150

Fuga .......... 151

Reencarnação .......... 151

Minha senhora .......... 151

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Oráculo .......... 152

Invisível .......... 152

Ilha .......... 152

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POEMAS

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Ego

Sou eu quem me quer quem me deseja nesta fria terra

neste veio vazio

Eu, que me tolero e me vejo

todos os dias semi-nu

num espelho que nada reflete

Eu, que me amo

e me odeio me venero

e me enveneno

Sou eu, e ninguém mais que a cada dia vive

como se fosse outra pessoa

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Singular

eu

monossílabo atônito

monobloco

de incertezas

desconstruído pela gramática do verbo errar

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Relógio de parede

Meus olhos te veem mas meu coração não Os segundos passam

mas não passa a saudade

O tempo flui e meus minutos se vão

Tudo em vão

No pulsar das horas pulsa forte meu coração

Sigo a linha

do tempo que vai

Te vejo mas não te toco

não te sinto

Você, estática na parede lisa

Retrato marcado Selado como o fluxo

Inércia rara

do tempo infindável que nunca para

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Origem

Não há vida sem a morte Nem passado sem futuro

A dor não resiste ao açoite Não há luz sem ter o escuro

Os pássaros não migram ao norte

Se não houver o lado sul O céu não enegrece a noite

Se o dia não for azul

A loucura não é o bastante Se a mente está cansada Não surge a aurora rubra Sem o ocaso e a alvorada

E na origem tão distante

D’um amor que me queira amar Não há um abraço que me cubra

Não há um beijo a me afagar

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Queda (livre)

Subiu a escada Desceu a escada

Como sempre, tudo muito normal

Subiu a escada

Desceu a escada

Como sempre, tudo muito comum

Subiu a escada Desceu a escada

Como sempre, tudo muito trivial

Subiu a escada Caiu da escada

E nunca mais subiu a lugar nenhum

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Um rosto na multidão

Tenho a face da vida Tenho fases da morte

Em momentos ambíguos Fragmentos de sorte

Tenho a face do riso

Tenho fases de agonia Em momentos longínquos

Pedaços de monotonia

Tenho a face do mal Tenho fases do bem

Em momentos antigos Estilhaços do além

Tenho a face do medo Tenho fases corajosas Em momentos retidos

Frações perigosas

Tenho fases atadas Tenho a face perdida Tenho fases erradas Tenho a face da vida

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Oito passos para uma vida santa

Vomitei minha gula Ignorei minha inveja

Castiguei minha luxúria Agitei minha preguiça

Perdoei minha ira Doei minha avareza

Escondi minha vaidade Chorei em vão

(mas o resto do mundo

continuou em festa)

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Pseudo-devaneio literalmente contido

Querem que eu escreva algo. Mas como, se sou maneta?

Se sou perneta? (mesmo que não escreva com os pés)

Se sou cabeceta? (seja lá isso o que for)

Se não sei nada? Se não sei tudo?

Analfabeticamente genial! Um universo contido de vazio... Uma sombra sem luz própria...

Um prodígio da inequação ortográfica... Um... desconcordância verbo-qualquer coisa-

nominal...

Querem que eu escreva? Beleza!

Mas, não precisam se compadecer. Não preciso de pena. Prefiro caneta mesmo.

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As ilusões achadas

Se Balzac as perdeu Quem sou eu para achá-las Quero mesmo escravizá-las

Acorrentadas em meu eu

Neste mundo desigual Sem culpa, nem pudor

Iludo-me, ao me transpor Em mero provençal

Busco em minha alma O reflexo da imagem

Transformado em miragem Sem pressa, na calma

Em balzaquiana devoção

Perco um tempo inútil Na busca sempre fútil

De encontrar minha ilusão

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O tempo rouge

Sob escombros de incertezas o tempo se vai a longos passos

e o passado fica finca suas raízes

como uma faca sangrenta na terra inerte da curvatura espacial

Especial viagem

onde virgens morrem impuras assassinos viram santos

e sangue é derramado em vão

Largas horas que oram à divindades estáticas

paralisadas no tempo que ainda flui

como um rio escarlate

Viagem sinestésica Sentidos vermelhos manchados de ódio

(A lá Voltaire)

O tempo é como um quadro pintado por uma criança

assustada demais para rir

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Página manchada

Caiu uma lágrima sobre um livro empoeirado

Ao molhá-lo, uma mancha surgiu Ao surgir a tal mancha, uma letra se foi

A lágrima, que dum olho caiu fez uma palavra mais triste

sem um pedaço de sua existência

Palavras só têm letras Estas são seus membros

são suas mentes são tudo o que elas têm

Letras só formam palavras Sozinhas, não valem nada

As lágrimas são tristes

e espalham tristeza onde caem

Palavras sem letras são como olhos sem lágrimas

Livros sem palavras são como cabeças sem cérebros

Corações sem amores são como frases sem palavras

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Está tudo ligado na eternidade da existência sem explicação

As lágrimas caem

e com elas caem as palavras derramadas de bocas trêmulas

Caem as letras, de palavras já manchadas e caem também corações

sem palavras para dizer uma única frase de conforto

Caiu a pálpebra do olho

As palavras não mais serão manchadas pelas lágrimas derramadas em vão

e também não mais serão lidas pelo olhar aflito de quem ainda não foi capaz de ler

as palavras que saem dum coração manchado de ilusões

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Minha dor

Não discuto com minha dor já que ela me quer bem

Me avisa dos males

que a vida me impõem Me mostra a verdade na mentira mais trivial

Me deixa sempre atento quando meus olhos nada veem

Me explica o mundo quando não há mais respostas

Minha dor é o sinal maior

de que não vim à vida a passeio

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Paraíso

Piso sobre um chão de puro húmus onde nada germina, nada vive

Uma terra fértil como uma puta seca

que já não aguenta mais nada um pedaço de qualquer lugar

perdido na imensidão desse planeta

Fixo minhas raízes apodrecidas numa rocha de pura lama

Meu mundo é aqui, nesse fragmento de lar

Minha alma aqui jaz, nessa semi terra

Meu corpo entorpecido se confunde

com a vermelhidão da planície que se espalha sob meus pés

Este é meu lugar

não o seu

Vá embora, vagabundear pelo mundo enquanto revivo o meu

com uma tempestade de lágrimas

Retransformo minhas origens

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e me faço um sedentário

Porque ser nômade é ser vazio por mais que haja chão pela frente

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Vida: meu único vício

Meu cigarro é de loucura mas nem por isso é uma droga Nem vou a nenhuma tabacaria

a não ser a Pessoana Tenho apenas um vício louco

de liberar fumaça ao vento poluindo a atmosfera

que crio a cada nova fútil ação Sinto meus pulmões inchados

cheios de falta de ar Não tenho nenhum enfisema já problemas, tenho muitos

Em cada nova tragada trago um pouco mais de rancor

Inspiro tudo o que há de mal e, aos poucos, perco minha inspiração

Ainda bem que não aprendi a fumar

Um mal a menos

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Urbano

Outra vez os cães ladraram Os felinos miaram

Os pássaros voaram

Mais uma vez, um morto nasceu Uma vida sorriu para a morte

e uma brisa de loucura soprou em meu rosto

Outra vez a cidade pulsa sob as horas que não cessam em correr

como as doidas criaturas urbanas

Novamente, senti em mim um frio Um vento gelado que me corta em dois Duas almas em constante ressonância

Mais uma vez as ruas estão vazias

preenchidas pelo cheiro semi-humano exalado por milhões de vidas inteligentes

Novamente essa cidade vibra

Mais uma vez esse labirinto se reconstrói Outra vez estou perdido

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Adjuntos

Meu gênero quer o teu e meu presente te quer agora sob uma chuva de interjeições

e adjetivos pecaminosos

Minhas palavras escorregam e meus fonemas se remontam

na ousadia de nomeá-la a mais-que-perfeita ilusão

Nossos corpos substanciais

unem-se em conjunção para mais uma vez conjugarem

as delicias do verbo amar

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Anti-herói

Em meu peito Uma insígnia pulsa Uma dor fortalece Inerte e convulsa

Em minha mente Uma voz é ouvida

O grito da alma Mais vil e perdida

Em minhas mãos

O sangue coagulado Escorre bem lento

Já frio, gelado

Em minha coragem Que surge do nada

Minha vontade É livre, é alada

Em meu heroísmo

Surgido agora A dor enaltece A agonia aflora

Em meu peito

Que pulsa, que dói

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Já pode ser lido: “Aqui jaz um herói”

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Concílio

Quem espera que seja um pecado, a morte talvez seja um forte

talvez nada veja

ou ainda espere que o perdão lhe venha

mesmo sem senha que ninguém confere

A fé que se alastra nessa alma crente se faz de demente Na vida, já basta

Se é bem ou é mal

se é fé ou descrença não vem a presença duma réplica divinal

Mas se sou eu a pecar

já me fitam inteiro Preso num mosteiro esqueço até de rezar

Um mero entrave

Uma mera aparência

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Profana indulgência No peito, um conclave

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Parto

Dentre os vários despertares da vida escolhi o que menos me alucina

Nasci, das brumas da inexistência para o amanhecer da matéria inexata

Acaloradamente, minha mente surgiu

Sob um sol reinante e estático me fiz servo, sem saber a causa dessa escravidão chamada vida

Dentre as várias almas que nasceram

só a minha sou eu só uma me fez humano

apenas uma me fez nascer

Dentre tantos amanheceres somente um me despertou

para o óbvio sonho desgarrado para a vida obscuramente clara

Do ventre de uma vida maior

ressurgi de um abismo cheio de vazio moldado pela mesma matéria trágica

que molda a tragédia cotidiana

Sou eu, um ser cheio de nada Resolvi ser isso, dentre tanta opções

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Dentre as várias histórias inacabadas Dentre os vários despertares da vida

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Enforcado

Acordo E vejo minha vida

Pendurada Perdurada

Olho para cima E vejo a corda

A balançar Como um fio de vida

Que se estica Até o inevitável fim

Durmo

Com o pescoço em risco Aguardando a sentença final

Sonho que estou sem ar Que estou sem tempo

Novamente acordo

E lembro-me que a hora chegará Que a corda da existência

Também tem seu nó

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Véu

Rasgo o véu, e vejo o céu Azul, sem brilho, sem sol Olho o espaço noturno Sem lua, sem estrelas

Vejo as nuvens transparentes A refletirem uma luz Que nada ilumina Posso sentir o frio

Causado por um eclipse Ocultamento fantasioso

Sem sol, sem lua, sem explicação... Segredos! Apenas segredos...

...que se escondem onde a visão não pode ver!

Dentro de mim Dentro de alguém Em algum lugar

Onde a luz não entra Tapada por um véu

Que ninguém pode rasgar...

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O morto e o tempo

Fluiu o tempo

O relógio badalou às zero horas

Badalou às seis horas

Badalou meio-dia

Ninguém para se importar com a caminhada lenta do tempo

Cadáveres ainda não sabem ver horas

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Um sonho literário

Corri pelos vales Pela estrada que me aparecia

Num sonho quixotesco Onde a névoa e o fogo

Dantescamente surgiam

Vaguei sem rumo Pelas terra de Polífilo

E, ao acordar Me ví como Tartufo

Rindo dos costumes aparentes

Foi só um sonho Que me pareceu tão real Literalmente imaginário

Na loucura que me abateu Vi o sorriso da pobre Ismália

Mas não foi nada em vão

Nem um sonho como outros Percebi que minha vida Finalmente se ascendeu

E, olhando para mim mesmo Vi meu corpo flutuar Na longinqua lucidez

Que faz dos poetas e seresteiros Os mais felizes dos mortais

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O vento

O vento sopra São as incertezas da vida

Que se chocam em meu rosto São meus pecados que me retornam

Em reles brisas despretensiosas

São inconseqüências de uma vida Solta ao vento

Mas presa em um sentimento

São lamentos São vendavais de dúvidas

De quem respira o ar desse mundo Vivendo ao sabor do vento

São lufadas de paixão

Que perpetuam nossa saga Nosso amor

Pois essa é a única certeza que tenho

A única coisa que o vento não pode levar

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Palavras vazias

Não me diga nada... nem tudo! Não me diga não, nem sim!

Não diga palavras desconectas, Coloquiais ou eruditas,

Tão pouco triviais.

Diga-me asneiras, Loucuras e devaneios...

Não me fale da vida,

Muito menos da morte. Fale-me incerteza,

Pensamentos e inverdades...

Diga bobagens! Recite versos sem rimas;

Declame crônicas poéticas; Cante letras sem sons.

Só não diga o que você sempre diz, Ou seja, nada!

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Mortos-vivos

Psicossomáticas visões Maneirismos fantasmagóricos

Reles aparições Almas penadas, perdidas

Almas raras, sem abstrações Ralos ectoplasmas

Escorrendo pelas paredes Sob gritos assustadores Sobre corpos sem vida

Sem qualquer medo ou fobia Psicoses metaforizadas Espíritos rejuvenescidos Sentimentos encarnados

Ódio imaculado Amores lúgubres

Espectros perdidos Almas raras

Escondidas sob a fina pele da vida

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Versos irreais

Tanta dor, tanta emoção, tanto amor Onde estão minhas vestes?

Talvez no ventre seco duma deusa martirizada Tanta penúria, tantos momentos tediosos

Milagres sem favores Pedaços de santidade

Minúcias, adventos e palavras Sangue negro jorrando de sentimentos ígneos

Folhas amareladas... ramagens Árvores de tronco úmido

São devaneios, fissuras mentalizadas Cérebros em êxtase, talvez meras alucinações

Ou, quem sabe, nada, nem uma explicação Nem uma singela resposta para as orações

perdidas Palavras, são só palavras Signos, sinais, símbolos

Sanguessugas endeusadas Onde estão minhas vestes?

Talvez em meu corpo envelhecido De tantas manias, de tantas inconsequências

De tanta alienação... Talvez seja só loucura!

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Anti-o-quê?!

Anti-guerra Anti-trégua Anti-ciência

Anti-demência Anti-droga Anti-prova

Anti-nazismo Anti-eufemismo

Anti-gente Anti-crente Anti-morte Anti-sorte Anti-fada

Anti-mudo Anti-nada Anti-tudo

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Arquivo Morto

Olhei para meus escritos, já empoeirados, e vi rastros de inquietude e impaciência.

Pude observar meus sentimentos obsoletos e minhas manias exacerbadas.

Olhei bem fundo, dentro de minhas idéias, e não hesitei em fitar as lamúrias

que regurgitei a cada letra desenhada Não consegui fechar os olhos

para as inverdades mal arranjadas sobre a mesa apodrecida. Tapei sim meus ouvidos,

para não ouvir os gritos e berros dos loucos que faziam de tudo

para atrapalhar minha concentração. Me coloquei como o mais fiel dos leitores,

a frente de minhas palavras reorganizadas, afim de sentir a podridão exalada por minhas desmedidas sinopses

e ideologias bem calcadas. Olhei para mim mesmo,

e vi minha literatura se desmanchando em formas avulsas e ignotas.

Vi meu passado, presente e futuro. Me vi descrito em letras sobrepostas.

Me vi sozinho, escrevendo bobagens poéticas

e ensaios sobre a ignorância humana.

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Só não vi minh'alma. Essa está guardada

em alguma pasta amarelada, dentro de um velho arquivo enferrujado,

no escuro porão de minhas lembranças perdidas.

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Imperfeita trova com o maior e mais inútil título que um poeta sem

nada melhor para fazer poderia criar numa tarde de segunda-feira

"braba"

Quando falta a inspiração Quando o tédio enfim ataca Surge uma rima de sopetão

Em meio a mais uma ressaca

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Amor poente

Vai embora o Astro-Rei. Aquele que um dia girou. Que um dia foi menor. Que um dia foi deus. Que todos os dias faz o dia acontecer. Que espanta o frio. Que ilumina vidas obscuras.

Vai para longe. Segue o caminho espacial. Vê as estrelas, suas irmãs, ao longe, apenas para relembrar de quando pertenciam ao tudo.

Vai o sol, o onipresente encalorado. Vai recordar de um aluado amor, já quase esquecido, na outra metade da esfera terrestre.

Vem a Lua, a singela prateada. Aquela que um dia foi deusa, mas que ainda é poderosa. Que puxa as águas para si. Que encanta mentes e corações. Que enamora seres noturnos. Que surge no horizonte azulado para reinar na fria noite.

Surge cheia de esperança, nova e sublime, crescente em seu amor, mas minguante pela lembrança de alguém tão quente quanto distante.

Vai o Sol, vem a Lua. Vai o dia, vem a noite.

Vai o amor, fica a saudade...

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O sonho perfeito Quem me dera sonhar, e ao acordar recordar de meus noturnos devaneios. Quem me dera chorar neste sonho, a acordar ainda banhado em lágrimas. Quem me dera amar, e no sonho amoroso que vislumbro, poder recordar-me dos beijos e das carícias da mulher amada. Quem me dera beijar a boca mais suave e sonolenta, a mais doce e suculenta, a mais sublime e noturna... Quem me dera poder saber em que sonho meu destino se esconde. Quem me dera ver, no sonho mais amável, uma saída para minhas sombrias dúvidas. Quem me dera ter, numa calma noite de sono, o sonho ideal, onde ninguém morre, ninguém nasce, ninguém sofre... Quem me dera renascer em um sonho, e ser eterno, para sempre sonhando, com o mais perfeito dos sonhos...

Quem me dera... poder sonhar acordado...

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Haikaos I

meu mundo caiu coitado!

tropeçou na lua

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Haikaos II

quando o "kai" cai e não volta mais

entristece o pobre "hai"

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Haikaos III

fugi retornei à minha pátria do monte fuji ao Chuí

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Haikaos IV

água corrente na fenda do rio

presa eternamente

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Haikaos V

no monte que neva o calor se despede

vendo o frio beijar a terra

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Haikaos VI

na esfera anil vi o sol se esconder

de medo do frio

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Haikaos VII

no calor do sol que se derramava o frio da solidão

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Haikaos VIII

a última gota de orvalho tentando se equilibrar

sobre a última folha de outono

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Virgem de pedra – Haikai I

numa pedra, a virgem coração de diamante

e alma de granito

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Virgem de pedra – Haikai II

queria, eu, tê-la mas, na imensidão rochosa

a perdi ao vento

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Virgem de pedra – Haikai III

virgem paralisada com a beleza natural

por mim desejada

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Virgem de pedra – Haikai IV

deusa solitária queria eu lapidá-la

como uma pedra preciosa

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Virgem de pedra – Haikai V

mulher sempre bela virgem de rara pureza

linda, mas inerte

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Virgem de pedra – Haikai VI

porque és assim nessa beleza estática

tão desolada?

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Virgem de pedra – Haikai VII

não sei dizer a razão de nessa pedra

descansar seu ódio

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Virgem de pedra – Haikai VIII

o mesmo ódio que em mim petrificou-se

por não poder tê-la

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SONETOS

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Soneto de Introdução I

Eis que esse livro tem seu inicio E para introduzi-lo, venho agora

Em versos (nada mais propício...) Espalha-los pelo mundo afora

E nessa introdução, irei ressaltar Da forma mais simples e sintética

Minha maneira de escrever e recitar Essa obra tão literária e poética

Portanto, leitor, preste muita atenção

Nas palavras que vem do coração Mesmo que pareçam meio melosas

Poesia á assim mesmo, rasa, abstrata

E com sua loucura a vida retrata Usando as palavras mais honrosas

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Soneto de Introdução II

Continuando, pois, essa introdução Venho, nessas frases poderosíssimas Escrever sobre a majestosa inspiração

A mãe de todas as artes belíssimas

Ela, que magnífica sempre aparece Seja em um soneto, trova ou proesia E em suas estrofes e rimas agradece Seus admiradores, com muita cortesia

Mesmo quando a arte não lhe convém, Com seu lirismo puro, com seu talento, Com todo seu poético ardor, ela vem

Cantarolando, declamando, recitando... Aos ouvidos ávidos, a noite, ao relento Matar a dor de quem está amando...

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Dedicatória

Dedico esses versos, primeiramente À consciência primordial, o tal Deus

Que mesmo sem saber os planos seus Exalto em dedicar-me inteiramente

Dedico, também, o verso mais puro

A todos àqueles que vivem ao meu lado E que no presente momento, e no futuro

Me desviam de tudo o que é errado

E nessa minha dedicatória poetizada Não poderia me esquecer dos poetas Que, como eu, declamam a revoada

Revoada do tempo, que não há de parar

Até que um dia, nas palavras corretas Alguém, os seus versos, a mim dedicar

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Aventura poética

O que é a tal linguagem poética Senão um emaranhado de emoções? Tentando imitar a afamada fonética E a voz suave das vãs tentações...

Com suas hipérboles quase irônicas Devaneios, loucuras e inverdades

Que se misturam, frágeis e atônitas Às mentiras da falsa realidade...

É essa linguagem que a todos comove

E talvez, com ela, alguém renove As bases fracas da tímida literatura

Imortalizando em versos finos Volúpias, mágoas e desatinos

Siga poeticamente esta aventura

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O Exterminador de Sonetos

Nestes dias tão aguados

De arte simples, sem encanto Me coloco aqui, no entanto A citar versos deliberados

Esqueço as regras de antemão

Más deixo as rimas bem cunhadas Palavreando as alvoradas

Com ódio, sangue e paixão

E estas rimas sorridentes Alvos pasmos, sem correntes

Que ecoam por entre os guetos

Sentimentos precoces, fingindo Correm, para sempre, fugindo Do Exterminador de Sonetos

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Sonetificação

Entre palavras soltas e inacabadas Formam-se, aos poucos, alguns versos Meio clássicos, modernos, simbólicos...

Ou um soneto, daqueles, bem feitos!

Cheios de riminhas, regrinhas, coisinhas... “Poema romântico, coisa de mulher...” Uma trova consignada, pura estética...

Bem escrita, declamada... O que quiser...

Mas logo esses versos se transformam E viram pérolas literárias deslumbrantes Com o tempo, obras de arte de tornam...

Não importando a temática, sempre serão (Apaixonados, tristonhos ou angustiantes)

Filhos de um inspiradíssimo coração...

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Sexologia

No fluxo esgotante da perfeita simetria Dos corpos semicarnais, paralisados

No tempo, na alcova, seres endeusados A breve tempestade flui a calmaria

Mentes ligadas em sanguínea perfeição Ardentes sonhos louvados, pecaminosos

Sentidos confusos, arrepios porosos De Adão e Eva, à mera fornicação

O súbito, o púlpito, a mescla de dor Com o prazer latente, alimentado

Da beleza honrosa, à morte da flor

Algemas; cárcere; símbolo retido O chicote letal, o sentimento açoitado

No tronco ruge o amor pervertido

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Face oculta

Lua branca, de prata, iluminada Que faz toda noite sua viagem Livre, a contemplar a paisagem

Brilhante, mágica, quão afamada

Ao redor de tudo para sempre gira No vazio longínquo, exorbitante Aparece sempre, a todo instante

mostrando uma face; nunca de vira

Talvez por isso seja tão majestosa Em sua viagem, tão bela, formosa

Sem nunca se mostrar inteiramente

Invejo-te muito, senhora enluarada Pois gostaria de ocultar na madrugada meus erros, como fazes eternamente

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Ao amor ou ao ódio

Ecoou o grito desesperado da esperança E, ao soar, suas ondas curtas de alongaram

Imitando os gritos dos que não amaram Mas, no ódio, encontraram a vingança

Retaliação essa que se fez merecida Quando a voz da loucura pairou no ar

E, todo aquele que não pôde amar Viu perplexo o reflexo de sua vida

Que entre lágrimas alguém ouça meu canto

Pois nem o amor e o ódio podem resistir Ao sentimento que nasce de um pranto

E que, ao chorar à vida, eu possa dizer,

Ao amor ou ao ódio, ou a quem me ouvir: - Amando ou odiando, ainda posso viver...

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Pecados mortais

No cemitério que habita em meu coração A vida e a morte se fazem vis crianças

Pendendo uma noutra, como uma balança Sobre o peso de um pecado sem perdão

Nesta terra sempre fria, deito em minha cova Na escura e inerte noite que se refaz em mim

Procurando um inicio mais próximo do fim Recitando uma necromantica e vil trova

A loucura que me abrasa, no túmulo atroz

Vem como uma seta, pungente, mortal, veloz Libertando meus devaneios sepultados

Já morto, meio vivo, metade semi-humano Canto um lamento singelo, porém profano Na esperança amarga de esquecer meus

pecados

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Vozes humanas

Somente um barulho... nítidas vozes me cercam, em eco, em sons triunfais.

Convergem em mim, como setas velozes só ouço um som; sonatas descomunais

São gritos da noite, percalços sonoros Fragmentos audíveis em êxtase puro

que se adentram em meus eloquentes poros e me fazem um vil ouvidor obscuro

Estas vozes, estes sons, são mágoas que viajam pelos ares, pelas águas

e acabam se voltando sempre em mim

Vozes que escapam de malditas bocas Surgindo de becos, mórbidas, loucas Tortura audível, meu sangue, meu fim

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Chacais

Derrubei meus muros de concreto tosco E despi-me de infortúnios desejáveis Para entregar-me a pecados amáveis

E a algum sentimentalismo fosco

Suprimi meus desejos mais que reais Na bravura dum horror mais corrompido

Dum medo vão, detestável, reprimido Para fugir de humanizados chacais

Na verdade, tirei minha carapuça

Olhei para minh’alma sempre convulsa E vi-me num espelho; um pobre plebeu

E o que nunca veria, então percebi

Com os olhos da alma, finalmente vi O pior dentre todos os chacais era eu

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A última noite de um poeta

Sob o sol da noite quente, que queima Sob a lua de prata pura, sem valor Sobe uma angústia, sem sentir dor Desce uma tristeza que ainda teima

São madrugadas, escuras e silenciosas Onde minha pena se faz solene escrava

E na frieza da letárgica e vil palavra Sou um autor sem letras pretensiosas

A solidão, descrevo em um vil soneto

Em minha pele, grudado, um manto preto Se misturando à sombra que me domina

E nesta noite, na qual me peguei a ler Os últimos escritos, filhos de meu ser O conto de minha vida enfim termina

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Sombras na parede

Na fria e inerte parede branca Onde a escuridão gélida fica

A brisa sórdida e mórbida brinca Um riso rijo, da parede arranca

E nesta lisa e patética muralha

Onde lágrimas jorram na fria noite A solidão se faz como um açoite

A penumbra se torna uma mortalha

Movo minhas mãos, olho na parede Vejo sombras se movendo, numa rede

Entrelaçadas, emoções e tristezas

Crio figuras, seres solitários Vis, sombrios, escuros, arbitrários

Reflexos de minhas vãs estranhezas

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Sintético

Roboticamente falando, eu em minha mecânica existência Apaziguo minha vil paciência

sonhando em ter o que não é meu

A cinza visão de meus olhos de vidro e minha voz tão áspera e tremida

Fazem de mim uma máquina ferida Um ser de lata, frio e denegrido

A estranheza dessa minha imagem

(Um LED, um botão, uma engrenagem) me faz sentir um elétrico trauma

Nenhuma das três leis podem fazer

com que eu tenha o que não posso ter Meu lado humano, meu ego, minh’alma

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Mãos do destino

Nos calos de minhas mãos tão servis O frio cai como se fosse pura neve Calejando, gélida, assim, de leve

Desgastando-as como um pó de giz

Mãos sujas, ásperas, de tanta surra Esperançosas em descansar um dia

De tanto encararem a vil noite fria Que, eterna, me cai como uma luva

Mãos que apalparam belíssimos corpos

Agora só levantam vazios copos Cheios de uma aleivosa vaidade

Embriagado, de mãos tão vazias

Tento agarrar o que me sobra de dias Socando o que me resta de sanidade

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Alienígena

Voo, por este universo afora, vou Em busca de um sinal inteligente De uma prova óbvia, contundente

Para explicar o que vejo e o que sou

Mando um sinal ao céu, a procura Não sei do que, nem importa o que seja

Num alento qualquer talvez eu veja Uma saída para essa infinita tortura

Quem sou eu? Filho da Terra, da lua...

Estou perdido, como uma fera nua Longe de seu ambiente campestre

E ao procurar uma razão para viver

Confronto a verdade, de só poder ser Um Alien humano, um Extraterrestre

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Artista do céu

Risco o grande céu com meu dedo Desenho belas e cintilantes estrelas

Sem culpa alguma, sem nenhum medo Na esperança de, talvez, um dia tê-las

Apago os quasares, crio nebulosas Pinto de vermelho os aglomerados

Desviando as distâncias numerosas Dos tempos e espaços acelerados

A aquarela celeste, a azulada pintura

Plagiando e recriando as constelações Do leste ao oeste, a galáctica moldura

Misturando as tintas nesse negro gel

Retas, sentimentos, curvas e emoções Torno-me o astronômico artista do céu

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Almas explosivas

A quimera em teu olhar me fez assim Um louco a sonhar em falso e em pranto

Calejado e castigado, mas que no entanto Despede-se a cada madrugada do fim

Imortal, em minha caminhada sangrenta Na escuridão que perpetuou em meu ser Olho para teus olhos, e posso então ver

O brilho refletido, que sempre te afugenta

Esta luz que sai de tua branca retina Surge de uma misteriosa e vil sina

De não podermos nos tocar na eternidade

Como um grande sol, irradio minha loucura E, como uma eterna e irresistível fagulha

Queimo esse amor, em forma de insanidade

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Nostalgia

Tempos velhos... momentos eternos D’onde surgem as letras garrafais

Que centram-se, e fixam-se aos anais Do passado ao futuro... tempos modernos

Vem daí a ideia, no tempo infindável

A dialética da poesia desgarrada Da nostálgica inércia sempre atada

À liberdade mais amável e detestável

Volta a rima, o soneto, a poesia... A brancura dos versos e dos temas

Sem qualquer santificação ou heresia

Em toda obra, todo sinal, todo lugar Muito além de quaisquer lemas

Sempre haverá um louco a rimar

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O poema perfeito

Quero, nessa página, algo supremo Um poema mais que perfeito, irreal Só não posso cometer o erro fatal

De ser mal visto; é só o que temo...

Sou um poeta como outro qualquer Apenas acredito em minha literatura E, para qualquer verso que eu fizer Sei os limites da poética conjectura

Escrever um poema exato... será?

Se ninguém ainda o fez, quem o fará? D'onde posso tirar versos tão perfeitos?

Talvez esse poema apareça um dia

E o poeta genial cegamente ria Sem perceber os inerentes defeitos...

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A nuvem

Nuvens de poeira, de cinzas; nuvens rasas Esvoaçadas nuvens, como a aura de inimigos Que dos pássaros e morcegos, agora amigos

Atrapalham o vôo, no bater de suas asas

Confundem a visão, na fétida e vil cortina Delineadas na escuridão; nas sombras

desenhadas Das asas dos condores, ruflantes, esvoaçadas Consomem as penas, o bico, a língua e a retina

Não há visão, não há vôo, não há mais nada

Só um pedaço de asa, solta, na revoada Pérfida nuvem, maldita, a confundir e a cegar

Na visão humana, também há uma nuvem assim

Que surge a qualquer um; a tu, a nós e a mim Ofuscando os olhos de quem ainda quer amar

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Sinestesia

Vejo o que meus olhos não conseguem ver Sinto meus dedos tocarem o inexistente

Escuto o som de um brilho reluzente Posso, então, pegar o que nunca pude ter

Coloco-me a sentir o cheiro de minh'alma

E o gosto suavizante do ar suavizado Meus sentidos afoitos, agora unificados

Capazes de curar qualquer dor ou trauma

Libero todo o meu ser em puro sentimento Para experimentar essências ao relento

Mesmo que meu corpo ainda seja contido

Imagens, sons, cheiros, gostos e texturas Voando bem longe, elevando-se às alturas Mostrando a mim mesmo, um novo sentido

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Sonetóide trovadoristico-poetrixzado-haikaidológico

Mato meus momentos sem sentido Num soneto que de mim agora sai Mescla de trova, poetrix e haikai

Intitulado: “Nas letras estou perdido”

[Trova] Contar sílabas, ninguém merece Foram nove, das tais poéticas

Pelo menos acho (vis heréticas) Em mim tais coisas não apetecem

[Poetrix]

De que vale rimar em concordância Se nem há regras que me forcem Mas vou forçar, com discordância

[Haikai]

No jardim das letras As sílabas são como flores

Um dia elas murcham

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Cosmos

Átomo; nano-existência complexa Milionésima parte da menor parte

Que se renova toda manhã e tarde Nos corpos dessa gente perplexa

Mistério universal, pleno, imenso

Números que mandam e desmandam Leis cosmológicas que comandam

Energia residual; cataclismo intenso

Químico-fisicamente, tão poderosa Peça fundamental de toda existência Com sua força extrema e cautelosa

Onipresente ordenamento elementar (Do Big-Bang, à total convergência) Que faz de mim um “ser molecular”

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Invencionice

Estou sonetificante por escrever Tantos versos e tantas poetilezas

Quiçá as riméticas não sejam coezas Libertináveis, sim, é certo de saber

Invento palavriações inexoráveis

Vocábulos eternófilos, demasiados E, nesses vérsicos tão desolados

Redesposeciono as frases amáveis

Ao reinventar todas essas coisélas Talvez sobre uma inspiracinalização

Que eu consiga furtificar delas

Transpalavriando, na volta ou na ida No caminho da febril inventalização Quem sabe, eu reinvento minha vida

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Como escrever um Soneto

Não escrevo Sonetinhos métricos Para quê; as letras se desfazem

"Cheios de vida..."; prefiro os tétricos Os poemas (como nós) se refazem

Parnasiano ou (pós-) modernista De versos em versos, uma obra

Experimental, como um Alquimista Mortífero, como veneno de cobra

Poucas páginas, muitas formas Assassinando as belas normas

O bom poema é o que vem de cima

Do céu, d'um plano, do universo afora No mundo da lua; o que vem agora? Sem inspiração! (completo a rima...)

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Acidez

Na cáustica vivência do poderoso ácido Ninguém mergulha em sua vil corrosão

Num toque único, acelera a reação Da efervescência, surge o plácido

O básico silêncio, a alquímica paz

Sulfúrico, Iodídrico, bórico Em qualquer melodrama teórico

Na alcalina terra, fúnebre, jaz

Meu corpo esfria, perante o mistério Depósito radioativo, (vão) cemitério

Derreto, só, sob o olhar estático

Será esse ácido poderoso o bastante Para queimar o ódio deteriorante

Que reage em meu peito pragmático?

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Contemplação

Sou um visionário; vigia, vigilante... Um contemplador, observador nato

Sigo vendo, com minha visão delirante Cada evento, cada cena e cada fato

Olho para a terra e para o céu Tentando ver algo mais vistoso

À noite, observo o enegrecido véu De dia, vislumbro o chão terroso

E, quando me pego a contemplar

Vejo os amantes que não puderam se amar Que nunca se entregaram aos carinhos

Acima, o céu chora... suavemente

Abaixo, a terra grita... austeramente Contemplando-se, um ao outro, sozinhos

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A rosa assassina

Novamente, o cravo brigou com a rosa E mais uma vez a espancou, covardemente

Da forma mais violenta e desonrosa Destruiu suas pétalas... cravo indolente

Isso aconteceu por que o cravo a traiu Com a linda tulipa, atrás duma moita

O relacionamento tão bonito ruiu Quando a rosa descobriu afoita

Mas, ela tomou uma drástica atitude E, à noite, no total silêncio e quietude Com um espinho, o cravo ela matou

Agora, a rosa é a flor mais temida

Com sua face desolada e carcomida Tudo graças a um amor que a magoou

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Altar

Prostrado de joelhos em meu altar pessoal Me vejo orando, em lamúrias pobres De certa forma, uma oração nobre

Relatando meus erros, em toque divinal

De pecados em pecados, monto meu retrato Relutante em me declarar com ardor Visto que sou um mórbido pecador

Sujeito-me ao martírio de meu contrato

Pacto selado! Acorrentado e desolado Enxugo meu rosto cheio de lágrimas Sigo o sonho, de um dia ser exaltado

E, fugindo da vil maldade humana

Ouvindo minha voz e minhas lastimas Mergulho na luz que meu altar emana

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Copo de cerveja

Transparência cheia de conteúdo Olho pelo vidro amarelado

Na cevada líquida, extasiado Tomo um gole, sempre mudo

O álcool que se adentra em mim Já esteve em algum belo campo

Colhido, transformou-se tanto Agora sou eu seu triste fim

Dentro de um mero copo

Fixo minha mente, em foco Vidro frágil, como minh'alma

Sempre e agora, bebo esse karma

Esta delícia em forma de sarna Que me estressa e também acalma

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Soneto com uma só rima

Da forma mais resplandecente Escrevo esse poema tão envolvente Dando-me o direito, deliberadamente

De rimar, cada verso, igualmente

Sei que parece meio indecente Liberar-me da rima inerente

E redigir um poema, solenemente Criando palavras, desajustadamente

Eis que, nesse poema, profundamente

Me entrego de corpo, alma e mente No caminho árduo, displicente

Nesses poucos versos, sobriamente

Mostro meu dom, poeticamente Como a luz duma estrela cadente

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Ego perverso

Meu ego se faz de vítima, e somente Ás vezes se coloca a me contemplar

E não casualmente, a me torturar Deleitando sobre meu corpo doente

Meu cérebro, cansado de pensar E de buscar soluções inexistentes Olhando essas tristezas aparentes

Não mais tolera; flui lento e devagar

Minha sorte, já sem fôlego de seguir Adiante, em frente, em sentido reto Não me faz valente na hora de ir

Minhas dúvidas, insolentes questões Prendem-se, ao subirem, lá no teto Para precipitarem em vis emoções

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Microsoneto

Ao olhar no microscópio Aparece-me uma bactéria

Que se alimenta só de ópio Desvairada viva matéria!

E, como um ser unicelular Da maneira mais etérea

Escrevo um soneto similar!

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Coma

Na longínqua distância entre a mente E a contemplação da epífise materialista Surge um tempo e um espaço inerente A tudo o que a inteligência conquista

Intelectual processo bem organizável

Que a existência projetada nos mostra Da imagem, da ilusão mais confiável

Contemplativamente a quem se prostra

Cerebral, neural, astral, quase desumano O tempo se esconde em um mês, ou ano No epicentro da Hipófise descontrolada

E nesses espaços atemporais relapsos

Surgida entre explosões e colapsos Encontra-se essa mente despedaçada

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Soneto de desorganização

Que poema é esse, sem nenhuma estética? É um soneto, ou uma loucura sem fim?

Talvez seja fruto de uma louca dialética

Mas, não é nada de mais, não para mim... É apenas um soneto, como outro qualquer

Com versos normais, só meio elitista Apenas diferente; ou para quem quiser, Um poema ultra-mega-hiper-modernista!

Sei que pode até parecer um insulto

Contra todas as regras tão valorizadas

Digam de tudo! (Exceto que é inculto...)

São só algumas palavras irracionais Meio esquisitas, mas bem intencionadas

Confrontando essas leis convencionais...

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Máscara negra

Escondo todos meus medos sob ela A máscara negra, pronta a me salvar Em sua escuridão, no frio que gela Deleito-me em sua sombra circular

Máscara escura... profundamente...

Onde qualquer brilho é ofuscado Na noite mágica, estática e envolvente

Finjo também ser um mascarado

Óh, máscara! Máscara afagável... Faça de ti a pele de meu rosto

E oculte esta minha face inconsolável

Mas, ao ocultar-me, virá o ardor Sentirá o eterno e amargo gosto

Que consome a boca dum pecador

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Ciclo infinito

...e na imensidão, permaneço viajando! Deleitando-me pelo universo grandioso Descobrindo o vão mistério miraculoso

O tempo e o espaço desarranjando!

Infinitamente, no ciclo envolvente Na Via Látea percorro as vielas

Com as nebulosas danço, e com elas Me completo sempiternamente

No ciclo perfeito, do fim ao começo Pela eterna via, sem nenhum tropeço Sigo, no caminho da universalização

Na circunferência circunscrita circular Metafisicamente, na geometria linear Retorno ao início; e na imensidão...

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Musicalidade

Simples sonata, simbólica, musical D'onde vem o som tão envolvente? Vem de um instrumento reluzente Ou de um canto celeste-angelical?

Eleva-se o volume, a nota, o tom... Da lira bem feita, que enfeita o ar

Que nos ouvidos ávidos, põe-se a soar Um maestro, um talento, um dom...

Vem, esse som, d'uma nuvem, vem

Encantar-me, agora, nesses instantes Fazer-me ouvir os cânticos do além

Canta o instrumentista, toca o cantor Tocando os sentimentos angustiantes Cantando as angustias do lírico amor

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Releitura

Leio o soneto, o soneto releio Relendo o soneto, o soneto eu leio

Releio e leio, leio e releio Lendo o soneto, o soneto que veio

E relendo o soneto, aquele mesmo

Que li e reli, o soneto que lia Leio o soneto, mesmo que a esmo Vi o soneto, o soneto que eu via

Veio o soneto, o que li a esmo

Que mesmo lendo, voltei a reler Vi, reli, li, lendo assim mesmo

E ao ler tanto esse soneto (o que li!) Retomei a leitura... recomecei a ler

O mesmo soneto que eu li, (vi!) e reli...

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Diálogo gramatical

A virgula olhou para o ponto e falou: - Porque és mais poderoso que eu?

O ponto, com outra pergunta, respondeu: - Quem te disse que mais forte eu sou?

A virgula, triste, falou novamente:

- Foi a exclamação, com aquela afobação. - Não acredite! - respondeu ele então.

E o ponto foi resolver isso, rapidamente:

- Tu disseste que sou mais forte que a pobre virgula - disse o ponto -

e agora, a coitada, só deseja a morte!

- Tu não gosta de ser mais forte, então? - Disse a exclamação - não seja tonto!

E o ponto virou uma interrogação.

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As dores do mundo

Pobre mundo, sofrido; gemendo... Com a boca seca, mundo desolado Para sempre, agora e no passado Segue a sina; as dores contendo...

Alegrias, emoções; desgraças, aflições... Perversos sinais, reles vícios culposos

Falsos contentamentos, sempre amorosos Que se entregam a todas as tentações

Miseráveis sentimentalismos capitais... Moedas que compram a vida e a morte Orações fervorosas, pecados carnais

Nesse pedaço de mundo, e em cada parte

No prazer, na dor, no azar e na sorte Vive o evoluído, o sapiente, o covarde...

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Soneto de Ruptura

Não obstante, mais uma vez cá estou Nas entrelinhas dum mero poemeto

Execrando as juras que enfim prometo Exagerando no que digo e no que sou

Alimentando a descrença nesta febre Que regurgita cada boca poetizada Tais logros que na poesia execrada Me fazem como uma fugitiva lebre

Não rio desses infortúnios regrados

Onde sílabas são medidas ao extremo Já que meus sonhos são bem fixados

Somente observo, como um ser alado

Nada me afugentará, nada temo Pois as letras me querem ao seu lado

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Tempo esgotado

O tempo não para, só passa devagar Arrastando-se perene, pela eternidade

Ocultando a mentira, enganando a verdade Na montaria temporal, sempre a galopar

Tão solene, só, em recato, desolado

Um relógio quebrado, tênue, perpétuo Desfragmentado no silêncio, quieto

Seu advento já foi cronometrado

Os ponteiros, inertes, logo paralisam Segundos, minutos, horas, enfim

As cicatrizes óbvias não cauterizam

Ser atemporal, desses tempos devassos Já sinto pulsar aqui dentro de mim

Como o relógio, meu coração em pedaços

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Poesia eterna

Meu lápis quebrou, não posso escrever Sou um poeta morto-vivo, sem sossego

Vivo eternamente, em meu solene apego Relutante em viajar, nego em perecer

Assoviando, pleno, entre erros e acertos Uso meu talento em forma de sinfonia Cantarolando alto, em minha poesia

Os alentos serenos em breves concertos

Livre de qualquer tênue reticência Ressuscito páginas, mortas, na ausência

Das frases rústicas, faço as modernas

Cintilando meu lápis; brilho letrado O pobre lápis, que agora quebrado

Se faz meu amigo, nessas noites eternas

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Inverso

Olho no espelho e lhe pergunto De onde vem meu reflexo pálido? Sem resposta, mudo de assunto

Vejo, então, minha sombra torta

Contra a luz, no chão árido E lhe pergunto se é viva ou morta

Pensamentos sórdidos, perplexos

Que loucura é essa, afinal? Conversa enlouquecida, banal

Entre um Homem e seus reflexos?

Se em seus sonhos o Homem está perdido Na maldade, no caos e na destruição

Olhando no espelho do coração Que sonhos terá o Homem invertido?

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Soneto de falta de inspiração

Sem saber o porquê, escrevo esse poema Sem direção; sem começo, meio e fim E, talvez, não por orgulho, é para mim O que melhor se apega a esse tema

Que tema, se ainda não foi esclarecida Para tu, leitor, a temática desse soneto? Pois bem, eu sei, é um erro que cometo

Mas, até o final, não será esquecida

Leia com atenção essas linhas estranhas Que tirei lá de minhas internas entranhas

Forçando (eu sei) a rima de vez em quando

Recito versos, glorificando a gramática... Ops! Me lembrei daquela maldita temática Logo agora que o poema esta acabando...

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A Árvore da Vida

Cresce, aceleradamente, a ávida semente Transforma-se, logo, em uma grande planta Cheia de espinhos; mas que logo encanta Aqueles, que a árvore olham, fixamente

Com seus frutos coloridos e suculentos

Folhagens verdes, vermelhas e amarelas As fortes raízes, donde apegam-se a elas As raízes d'outros troncos tão opulentos

Cresce, cresce... mais, mais, e muito mais... A arvore, em sua ganância, nunca, jamais Deixará que algo lhe interrompa em vão

Alcança, então, o tamanho máximo possível E, como nunca poderá chegar ao inatingível Desaba, tão rápido quanto cresceu, ao chão

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Heroísmo

Que dirá o que sou, senão um louco

Por transgredir regras sem sentido Dirá me vendo fraco, abatido

Definhando, lento, pouco a pouco

Heroicamente, ergo a espada Solto um brado, ordeiro sinal

No alto de minha coragem fatal Aerofóbico, desço a escada

Más não é o medo que me derrota

Nem mesmo as pedras em minha rota Guerreiro que sou, sigo o caminho

São as vítimas desse mundo fútil Que atrapalham meu destino inútil Salvo a todos, más pereço sozinho

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Nas Trevas

Estou eu, preso, louco, relutante Neste veio de mortandade fria

Sujando os pesadelos de quem me cria Entre cegos, tetro, delirante

Na eminência lisa, a pensar forte Descubro mistérios eloqüentes

Acreditando em sonhos ardentes Versos proclamados, cheiro de morte

E, certo, como se fosse de contra-senso Me desespero em falso, sempre tenso Nos semblantes, me deleito, esvaído

Em plena loucura, um pueril torto

Inerente, dilacero meu corpo Escaveirado, me sinto traído

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Eterno

Oriundo de antigas eras, aqui estou eu Viajante da longínqua linha temporal Inebriado por terem me dado o aval

Para observar o cosmos em seu apogeu

Vi perplexo cada transformação astral Melancólico pelas insanidades soltas Por esse mar onde a Terra é envolta Girando em falso entre o bem e o mal

Nasci numa época de pouquíssima luz

E pude perceber claramente que faz jus Essa escuridão que segue a humanidade

Sou eterno em minha louca existência Mas, como eu, também faz resistência Esse vicio tão humano pela maldade

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Uma palavra

Mundo Destrutível

Incompatível Imundo

Sonho

Indecente Decadente Enfadonho

Liberdade Falsidade

Mídia

Compaixão Enganação

Perfídia

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A Máquina

O cheiro metálico se espalhando No ar inebriante; puro, amargo

O som latente; infinito, largo Eterna moda, vai girando

Energia pura, magnética

Inconseqüente movimentação Age, ao pressionar de um botão

Dinâmica, ágil, cinética

Engrenada, a máquina vivente Moderna, velada amargura

Em concreta arte, de alma ausente

Parafusos frouxos, deturpação Na existência elétrica, não se cura

Condenada a auto-destruição

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Soneto modernista

Vangloriando o legado Andradino Nas austeras poetizações... Sigo o formado Petrarquiano

Sem nenhum lampejo rimático

Invento palavras absurdas Machadinamente, converso contigo

O leitor iliterário... Canibal devorador de versos

Se Camões, Bocage e tantos outros

Fizeram dessas rimas suas vidas Quem sou eu para irrompê-los?

Visto a camisa modernista

Para (nesta rima intrometida!) Escrever um poema maniqueísta...

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Sanguinolência

Sangue escuro; plasmática sangria Que sangra agora este plasma grudento

A grudar os pecados do advento Ser corporal, cadavérico, que esfria

O sangue antigo, novo, velho, eterno

Afagável, o fluxo sanguinolento, mágico Correndo, pelo venoso aurículo trágico

Sedento, vampírico, sugante, materno...

Espectral, sanguíneo, o pulso latente Do corpo e da alma, da vida corrente Cortante, a navalha... o mal, o trauma

Ao entrar a lâmina da covardia plena

Encontra este sangue a dor mais serena Escorre, no sangue, um pouco da alma

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Enterro de mágoas

Pobre homem, o insípido coveiro A enterrar corpos, no chão mortal

Destino cruel, fatídico, fatal Muito diferente do seresteiro

Esse sim, dança, canta e declama

Poesias, anedotas, cantigas ao luar Pelas ruas, emoções ávidas a recitar

As mágoas, dos ouvintes, ele derrama

Vidas opostas, que assim se fazem Sentimentos ambíguos, a si, trazem

Ambos na vida, sem rumo, sem norte

Não tão diferentes esses homens são Se um enterra as mágoas do coração O outro enterra as mágoas da morte

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Mitologia

Brilha o olhar claro da pérfida Sereia A fitar o Minotauro, preso, temerário No labirinto, guardando o relicário

Do semideus decaído, que ali vagueia

Realçada a beleza do eterno grego O súbito grito das sonatas Harpias Sob o eclipse, no clamor dos dias A relíquia perdida; o fogo negro

E Ícaro voando, no ruflar das asas

A Atena plena, protegendo as casas Assessorada pelo Hades benigno

Essa relíquia é a liberdade humana

Concedida pelo grande deus da gana Pisoteada pelo Hércules maligno

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Pedagogia Selvagem

Discípulos Ferais! Brutais ativistas... Defendam sua caça e seu legado Na pele escamosa impregnado

O selvagem discurso construtivista

Evolutivos Sapiens devoradores... Com cérebros e presas; À Guerra! Arranhando os sentidos da Terra

As formas, as superfícies, os odores...

O Leviatã poderoso, no mar atroz Nada forte (ferozmente!) e veloz Na sapiência rígida da calmaria

E neste meio aquoso, irregular

Surge sempre um monstro a nadar No oceano plausível da sabedoria

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Espectros carentes

Nas lembranças mórbidas, aluadas Sombrias, mortíferas, recorrentes Momentâneos espectros carentes Atormentando vidas desalmadas

No sistema lúdico, destrutivo

Conectado ao meu ego perverso Encontro minha alma ao reverso

Presa em meu corpo introspectivo

Lamentando esse devaneio sagaz Na lápide estagnada onde jaz

O fantasma de minha consciência

Me destruo aos poucos e eternamente Semelhante ao descaso de tanta gente

Fingindo um momento de carência

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Vida eterna

Que homem, insolente, e tão ousado Saberá, no futuro, a grande sepultura

Que se eleva, e o eleva, solene, a altura Dos céus, a subir alto, glorioso, alado?

Nem os anjos, com seus corpos ínfimos Ou os demônios, escravos insolentes

Recebem de seus mestres, quando doentes Alívio aos seus desejos mais íntimos

Donde vêm, então, este sonho louco De alçar-se, de subir mais um pouco

E alcançar, sublime, as hastes do céu?

O Homem, em sua cega ancia de poder Engolirá seco, nesta ancia, ao morrer

Sentirá, na cova, o gosto amargo do fel

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Correntes da miséria

Quantas almas estão ainda presas No calabouço angustiante, sofrível?

Sentindo este cheiro tão horrível De lágrimas, lamentos e tristezas...

Escravidão, servidão, enganação...

Momentos de prazer e liberdade Enforcados pela insana maldade

Como um réu em sua condenação

Sem mais pecados, sem mais culpa Servas da boca suja que as insulta

Aos grilhões, abandonadas as traças

A ferros, escravas dessa vã miséria Tendo que se sujeitar a face séria

De quem só se liberou por trapaças

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Musa

Como já dizia o grande Modernista Amar não passa de um simples verbo E, na idealização que ainda conservo

Sobra uma idéia Clássica ou Humanista

Se os Realistas só pisaram no sentimento E os Parnasianos só pensaram na arte

Talvez ainda não seja muito tarde Para um novo e triunfal renascimento

Mas, as musas já não existem mais

E a inspiração perdeu-se, para jamais Voltar a brilhar, reluzente, douradora

Se não há nenhuma musa esperançosa

Escrevo eu, uma poesia amorosa Pois tenho minha musa inspiradora

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Soneto à Mulher-melancia

Quando liguei minha televisão, Deparei-me com algo grandioso.

Era o que muitos chamam "popozão" Dançando de um jeito harmonioso.

Confesso que, como homem que sou,

Gostei do "talento" da dançarina. Mas logo uma idéia se lançou:

"Seguia o Brasil sua triste sina!"

A bela moça rebolava muito, Descia até o chão (quase que o afunda!).

Seria isso arte ou indecência?

Não vou julgar, não é meu intuito. Mas o Brasil prefere mais uma bunda,

Do que valorizar a inteligência!

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Desabafo

Quem dera me ver, todo despido No mote da loucura que apavora E ver minh’alma em cada aurora

Ouvindo o som breve dum gemido

Sentir em mim o insano sonho A mão fugaz da liberdade plena

Solto como uma pluma, uma pena A voar pelo ar puro e enfadonho

Não falhar com minhas responsabilidades

Nem negar essa pérfida realidade De ser um ser que erra a cada ação

Nadar na fonte de minha insensatez

E olhar para mim mais uma vez Sem ter que me envergonhar em vão

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Memória caipira

Foi-se um tempo muito distante Que me desperta uma saudade E vou lhes dizer com verdade

Do que ainda me lembro bastante

Lembro do nosso grande cavalo E duma imensa e bela carroça De como o nosso dia lá na roça

Começava cedo, ao canto do galo

Lembro ainda daquela bicharada E como minha mãe ficava danada

Quando as "galinha fugia" do cercado

É essa vida que hoje me inspira E quando escuto música caipira

É como se eu voltasse ao passado

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Via Sacra

Condenado ao suplício, à dor, à morte No peso da cruz, carrega o mundo

Caído ao chão, por mais que seja forte Sob o olhar materno, que vê ao fundo

Auxiliado por um homem, o tal Cirineu

E, enxugado, na face, por Verônica Novamente, pela cruz, ao chão cedeu É ele quem consola... Imagem icônica

Pela Terceira vez, desaba por terra São tiradas suas vestes. Já é a hora

Na cruz pregado, sem ódio, sem guerra

A morte então vem. O sofrimento tem fim Nos braços da mãe, que, àvida, chora

Para o sepulcro vai, por você e por mim

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Tributo I

No trêmulo rio do tempo incansável Surge o mestre das letras, o senhor O parnasiano perfeito, o insuperável Declarando à poesia todo seu amor

O ouvinte das estrelas e do impossível Debruçava-se na janela para vivenciar

Toda noite, sua obra intransponível Que nunca, em seus versos, a de acabar

O poeta erudito, de febril literatura Amante fiel da sublime conjectura

E das pérolas poéticas que construía

Através dos tempos, e sempre mais Não a de se apagar, nunca, jamais O brilho estrelado de sua maestria

A Olavo Bilac

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Tributo II

Talvez os violões chorem eternamente Ou, talvez, enlouqueçam de uma vez Como a Monja, em sua negra avidez Pervertida pela Múmia... solenemente

Se o poeta enlouquecer, maldita sorte Terá que satisfazer seu sonho amável

Para ser, como nos versos, Invulnerável Cantando, bem alto, a Música da Morte

Na liberdade negra de sua inteligência Confundida, muitas vezes, com destino Resta uma dose de talento e opulência

Se a loucura espreitou-lhe no derradeiro

Terá a sorte de no eterno confino Ser afagado pelo Cristo verdadeiro

A Cruz e Souza

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Tributo III

Assisti, agora, o formidável, o enterro Não da quimera, mas daquele verme

Aquele, que nos versos, no cerne Vangloria-se, feroz, no funesto aterro

E, agonizante, o filósofo me contou

Que morcegos não mais lhe incomodam Só voam, voam... giram, giram e rodam

E, que apenas um (o do tempo) lhe atacou...

Mas, mesmo que seja velha a sua obra Algum verso perdido, sei que sobra

No caos, nos descontroles e desarranjos

Seu lirismo necrófilo ninguém esqueceu Apenas, talvez, alguém não o entendeu

Pois a de enlouquecer até mesmo os anjos

A Augusto dos Anjos

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O último soneto

Soneto branco... soneto feio... soneto vil... Dentre as páginas acaloradas, a epopéia

De sinopses americanas e formas européias Da rima portuguesa ao poético Brasil...

Um soneto, uma poesia, uma trova...

Mesmices rimadas, com sentido duvidoso Das mãos do insano escritor ocioso

Surge uma imprudente lira nova

Leia e desfrute. Veja que "cousa" linda O último soneto que vem agora

A rimar em falso, na ida e na vinda

Forçando essas rimas sem luxúrias Na bravura poética, logo aflora

O temerário Soneto das injúrias...

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...o fim!

Caro leitor, esse é o último poema Nessa obra lírica, tão literária Letras soltas; forma arbitrária

Uma rima, um verso, um dilema

Lembranças, amores e devaneios Saltitando pelas páginas afora

Vivendo o ontem, o amanhã e o agora Libertando, de súbito, seus anseios

Más, não tardio, o tempo se vai

Como a alma de um corpo se esvai - “Fazer o que, a vida é assim...”

Numa mescla de alegria e tristeza

Fecho os trabalhos dessa obra coeza Decretando, determinantemente, o fim!

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ANEXO

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O Micro-Soneto

As artes mudaram. A literatura mudou. O

lirismo mudou. E o soneto, o maior representante da poesia clássica também mudou. Assim, surgiu o soneto branco e o soneto sem métrica, onde as sílabas poéticas não fazem diferença. Não quero ser um revolucionário, e sei que algumas críticas virão, mas percebo que novos rumos devem ser seguidos. Sendo assim,apresento-lhes o Micro-Soneto. A regra básica para a construção é a seguinte: São duas estrofes. A primeira formada por dois versos, e a segunda por apenas um. Porém, cada verso é dividido em dois sub-versos. Os dois sub-versos que compõem o primeiro verso não rimam entre si, e nem com o primeiro sub-verso do segundo verso. Já o segundo sub-verso do segundo verso rima com o primeiro sub-verso do primeiro verso. É colocado um espaço entre a primeira estrofe e a segunda, que contém o terceiro verso. O primeiro sub-verso do terceiro verso rima com o segundo sub-verso do segundo verso, e o segundo sub-verso do terceiro verso rima com o segundo sub-verso do primeiro verso. Os dois sub-versos de cada verso devem ser separados por ponto-e-vírgula. Sobre a métrica, cada sub-verso é composto por cinco sílabas poéticas.

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A seguir, alguns Micro-Sonetos para o deleite de todos.

Fuga

Fugi de meus sonhos; singela escapada Na fria escuridão; risos enfadonhos

Em meu coração; fizeram morada

Reencarnação

Amores sórdidos; sem culpa ou pudor Paixões tão sofridas; pecados mórbidos

Por várias vidas; escravos da dor

Minha senhora

Perfeita criação; senhora só minha Dona do ar, da lua; sonho e emoção

Minh’alma é tua; e contigo caminha

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Oráculo

Alucinação; signos provençais Talvez nada seja; um sonho, ou visão

Ou talvez eu veja; futuros sinais

Invisível

Fé intransponível; sorte de quem não ama Pois no desamor; fica invisível

E longe dessa dor; a vida se derrama

Ilha

Nesses secos mares; nessa terra vil Onde nada se cria; sem ruas ou lares

Lugar que me guia; local morto, senil

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Para conhecer outros livros do escritor

e poeta Eder Ferreira, acesse o site www.eder.prosaeverso.net