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A revista evangélica do Brasil ENTREVISTA Pastor José Wellington: Todo Poder a Alá Manifestações no mundo Manifestações no mundo árabe, eixo das religiões árabe, eixo das religiões monoteístas, podem levar monoteístas, podem levar radicais islâmicos ao poder radicais islâmicos ao poder Os motivos das revoltas Os motivos das revoltas e as consequências para e as consequências para o cristianismo o cristianismo BOLA DE NEVE Justiça confirma liberdade aos ENCHENTES A fé que reconstrói Ano 15 • Edição 147 • R$ 9,90 Portugal 4,90 € Eclesia147_Capa_2_3_4_1.indd 5 3/3/2011, 04:07:36

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A revista evangélica do Brasil

ENTREVISTA Pastor José Wellington:

TodoPodera Alá

•• Manifestações no mundo Manifestações no mundo árabe, eixo das religiões árabe, eixo das religiões

monoteístas, podem levar monoteístas, podem levar radicais islâmicos ao poderradicais islâmicos ao poder

•• Os motivos das revoltas Os motivos das revoltas e as consequências parae as consequências para

o cristianismo o cristianismo

BOLA DE NEVE Justiça confi rma liberdade aos

ENCHENTES A fé que reconstrói

Ano 1

5 •

Ediç

ão 1

47 •

R$ 9

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Port

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E P Í S T O L A D A R E D A Ç Ã O

Eixo das religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o

islamismo –, historicamente o mundo árabe sempre foi considerado

um barril de pólvora, tanto que há anos a região tem sido foco de

constantes conflitos desencadeados entre judeus e muçulmanos, e fomentados

ainda mais por regimes ditatoriais que perduram por décadas e mais décadas.

Enquanto isso, os cristãos, em minoria, estão longe de desempenhar o

papel de meros coadjuvantes; pelo contrário, também são perseguidos e

discriminados, e muitas vezes pagam com a própria vida o preço por anunciar

a Palavra de Deus. Não que antes tenham deixado de ser notícia, mas desde

o início do ano que o Norte da África e o Oriente Médio se tornaram o centro

das atenções mundiais. Inspirado no levante que derrubou Zine El Abidine

Ben Ali, então presidente da Tunísia, os egípcios também saíram às ruas

para exigir a renúncia de Hosni Mubarak que, como um faraó dos tempos

modernos, mandava e desmandava no país há longas três décadas. Como

efeito cascata, do Egito a crise se estendeu pela Jordânia, Iêmen, Mauritânia,

Sudão, Omã, Líbia, enfim, por muitos países que compõem o bloco árabe,

tão próximos geograficamente mas tão distantes quando o assunto é religião

e interesses econômicos. Com a colaboração de fontes locais, a revista

ECLÉSIA garimpou uma grande quantidade de informação, apontando

– inclusive com opiniões de especialistas –, os motivos que fizeram com que

essa crise eclodisse de vez e os reflexos que pode acarretar no lado ocidental

do planeta. Reflexos que já podem ser sentidos, como o posicionamento dos

norte-americanos, que sempre tiveram no Egito o principal aliado entre as

nações árabes. Talvez, hoje, eles não pensem mais que “é melhor um ditador

com petróleo do que um islâmico com bomba”, como apontou Arnaldo Jabor

numa de suas crônicas. Para os cristãos, não somente os que vivem e fazem

missões no epicentro do conflito, um alerta dos mais tenebrosos: em vez de

ditadores, é possível que os radicais islâmicos assumam o poder? Acompanhe

tudo isso nas páginas que seguem...

No Brasil, o ano também não começou nada bem, especialmente para os

cariocas da região serrana, vítimas da maior tragédia natural da história do

país. Só que, em meio à lama e ao desespero, um sinal de fé e esperança,

transmitido por muitos evangélicos que, como voluntários, demonstraram

que tão importante quanto o alimento espiritual é o “próprio” espírito da

solidariedade.

E mais: entrevista, curiosidades, cinema, música, literatura, enfim, uma

grande gama de informação para deixar os leitores muito bem antenados com

o que acontece no meio evangélico.

Uma ótima leitura a todos!

JD Morbidelli

A REVISTA EVANGÉLICA DO BRASIL Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec)

Ano 15 – Número 147(11) 3346-2000

www.eclesia.com.br

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Diretor ExecutivoElias de Carvalho

Conselho Editorial

Elias de Carvalho Junior, Maria da Graça Rêgo Barros, Percival de Souza, Roseli de Carvalho, Samuel Medeiros

Jornalista ResponsávelMarcos Stefano Couto

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REDAÇÃO

(11) 3346-2033

Editor José Donizetti Morbidelli

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Repórteres Filipe Albuquerque, José Carlos Moura, Karen Rodrigues

José Donizetti Morbidelli, Marcos Stefano Couto

Colunistas Bráulia Ribeiro, Emerson Menegasse, Lourenço Stelio Rega,

Luiz Leite, Maria de Fátima M. de Carvalho, Patrícia Guimarães, Percival de Souza, Romney Cruz

Apoio Editorial Sandra Frazão

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Editor de ArteEmerson de Lima

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Assistente de ArteFernando Jorge Baptista

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ECLÉSIA é uma publicação da Editora Eclésia Ltda

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não representam necessariamente a opinião da revista.É proibida a reprodução total ou parcial de reportagens, entrevistas, artigos, seções, fotos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares de direitos autorais.

A crise no mundo árabe e os refl exos para o cristianismo

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18 ENTREVISTAJosé Wellington Bezerra da Costa, pastor-presidente da AD Ministério Belém, em São Paulo, esclarece divergências ocorridas na CGADB e fala dos preparativos para o centenário da denominação

30 IGREJA Niterói (RJ): discursos de despedida, desafios ambientais, testemunhos e união de bases missionárias marcam a 91ª Assembleia da CBB 34 TRAGÉDIA Moradores da região serrana do Rio buscam na fé cristã um novo alento para reconstruírem suas vidas depois da maior catástrofe natural das últimas décadas

38 INTERNACIONAL Manifestações populares e consequentes quedas de ditadores em países árabes podem colocar radicais islâmicos no poder e acirrar ainda mais as divergências com o judaísmo e o cristianismo

48 LIDERANÇA Evento realizado nos Estados Unidos reúne centenas de pastores e reacende a chama da motivação nas igrejas locais

54 EVENTO UniFMU E COPESP: parceria entre instituição de ensino e entidade cristã prevê educação de melhor qualidade para pastores

58 JUSTIÇA Em 2ª instância, Igreja Bola de Neve vence Conselho Paulista da OMB, que criou departamento para fiscalizar músicos durante os cultos

66 EVANGELISMO Ministério Dança Pelas Nações, de Minas Gerais, faz das manifestações artísticas instrumento de evangelização

S UMÁR I O

“O Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ver quem passa correndo”

(Habacuque 2.2)

ECLÉSIA • A revista evangélica do Brasil • Ano 15 – Número 147

SEÇÕES

4 Epístola da Redação8 Epístola dos Leitores12 Em Foco80 Agenda

COLUNAS

32 Opinião 52 Lugar de Mulher56 Observatório62 Pastoral64 Contexto 68 Missões76 Louvor e Adoração 82 Percival de Souza

MULTIMÍDIA

72 Cinema 74 Música78 Literatura

FO

TO

: KH

ALE

D D

ES

OU

KI/A

FP

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E P Í S T O L A S D O S L E I T O R E S

Por questão de espaço disponível ou clareza de texto, ECLÉSIA se reserva o direito de publicar os textos das cartas que seleciona na íntegra ou resumidos, eventualmente editados

HISTÓRIA

Citar uma investigação

de historiadores dos

próprios envolvidos

no episódio é querer

nos enfiar goela abaixo

uma visão totalmente

parcial do acontecido,

como uma das fontes

da matéria De Quem

é a Culpa: Mórmons

ou Paiutes? [edição

141]. Brigham Young

é tido como tirano na história

política americana, e tudo o

que acontecia passava pelo seu

crivo. É óbvio que ele estava

envolvido, pois, com a morte de

Joseph Smith, ele passou a ser

o líder supremo da seita; caso

contrário seria visto como “um

pastor que não sabia pastorear

seu rebanho”. O que dá para

perceber é que os mórmons

querem simplesmente “jogar a

sujeira para debaixo do tapete” e

fazer com que o acontecimento

caia no esquecimento. Reflitam

comigo: se a Igreja Mórmon

não tem responsabilidade pelo

acontecido, por que então tentou

comprar o Monte Meadows em

1999, isso após a descoberta de

ossadas numa escavação com

marcas de tiro na cabeça?

Jorge Raymond

VIA INTERNET

Acabei de ver o filme Setembro

Negro. Independente de quem

seja a responsabilidade pelo

incidente, foi uma das cenas mais

revoltantes que já assisti.

Hilton Gorresen

JOINVILLE SC

Muito esclarecedora a matéria O

Holocausto do Século 16 [edição

118]. Já li sobre as cruzadas orga-

nizadas pelos papas na época, ou

seja, uma cor-

rida imensa

em busca de

novas terras e

povos. Em mi-

nha opinião,

essa corrida

continua até

hoje, princi-

palmente nas

igrejas: quem

tem mais fiéis,

quem atrai

mais pessoas,

quem opera

mais milagres,

quem tem

mais poder. Uma corrida que não

leva a nada, pois não adianta depo-

sitar todo o amor numa determina-

da igreja sem deixar ao menos um

pouquinho na própria casa, ou na

casa do vizinho.

Inácio de Lima

VIA INTERNET

Com uma leitura

mais profunda,

percebe-se que o

que incomoda não

é a nova filosofia

cristã e sim a

perda de poder,

tanto por parte

do clero como

pela nobreza. Na

época, a Igreja

Católica usava a

Palavra de Deus

da maneira que

queria para obter riquezas e poder.

Vale salientar que esse episódio

foi uma maneira do inimigo de

Deus tentar impedir a propagação

da verdadeira mensagem do

Evangelho, tal como aconteceu

com os apóstolos. Infelizmente

milhares de pessoas perderam suas

vidas, mas tenho certeza de que

todas serão recompensadas com a

coroa da vida eterna.

Toni

VIA INTERNET

EXORCISMO

Tive a oportunidade de participar

como ator figurante do filme

Expulsos, objeto da matéria

Exorcizando Demônios no Sul

[seção Multimídia Cinema, edição

145], e a experiência foi ótima.

Tenho certeza de que o resultado

será muito bom, pois esse tema

sempre desperta interesse público.

Outra coisa que deve chamar a

atenção é o cenário que a cidade de

Aratiba, no Rio Grande, oferece.

Muito verde, um lago, enfim,

paisagens lindas. Não deixem de

assistir.

Mauro Lucas

VIA INTERNET

RÁDIOS VIRTUAIS

A matéria Nas Ondas das Rádios

Webs [edição

146] tem todo o

meu apoio. Sou

membro da Igreja

Presbiteriana do

Brasil, e aqui todos

somos gratos a Deus

pela maneira com

que ele tem agido

sobre nós e por nós.

Alberico Gaspar

POSTADO NO SITE

DA IPB

VIDA

ESPIRITUAL

Paz do Senhor a todos os leitores.

A reportagem 10 Caminhos para

Melhorar sua Vida Espiritual

[edição 122] é uma benção de

Deus para que possamos refletir

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e, com toda a nossa verdade,

tentarmos nos redimir de nossas

falhas como servos e irmãos em

Cristo. Particularmente, confesso

que já me empenhei muito mais

em prol do Reino de Deus e do

próximo no chamado que me

foi confiado como evangelista.

O tempo e a ansiedade têm nos

roubado o bem mais precioso, que

é a maravilhosa comunhão com o

nosso Senhor e Salvador.

Carla

BELO HORIZONTE (MG)

CARNAVAL

Sobre a matéria Samba no Pé,

Jesus no Coração [edição 133],

quero dizer que pertenço ao Projeto

Vida Nova e participo de uma ala

chamada Ilusão, do

Bloco Cara de Leão, normalmente

composta por membros vinculados

ao ministério de artes que encenam

fatos típicos e corriqueiros do

carnaval – drogas, prostituição,

violência – para,

depois, serem

salvas pelas

poderosas

mãos dos anjos

do Senhor. A

finalidade disso é

mostrar ao povo

que a alegria do

carnaval dura

apenas quatro

dias, mas a de

Jesus é para a vida

inteira. Não temos

qualquer pacto com

as trevas e nem

mesmo pulamos

carnaval; ao contrário, vamos ao

terreno inimigo para salvar vidas.

E muitas têm sido salvas graças

a esse evangelismo estratégico.

Portanto, os que nos criticam estão

redondamente enganados em seus

conceitos em relação ao nosso

trabalho.

Gisele

VIA INTERNET

FAMÍLIA

A matéria A Vida Começa aos 60

[edição 125] foi de extrema valia

para mim, pois

sou estudante de

Serviço Social

e fui convidada

pela Assembleia

de Deus para

ministrar uma

palestra voltada

para idosos. Gostei

muito do conteúdo

e vou aplicá-la, não

somente no evento

como também

na minha vida

acadêmica.

Abgail Oliveira

Nunes

SALVADOR (BA)

PROFISSÃO: PASTOR

Fui pastor de uma igreja evangélica

brasileira durante vinte anos, mas

terminei o ministério por não

aceitar os rumos

que alguns líderes

têm tomado nos

últimos anos. Deixei

a denominação sem

receber um centavo

como indenização ou

ajuda, e a situação

ficaria complicada

se não tivesse outro

trabalho; afinal, tenho

família e muitos

compromissos. A

respeito da matéria

Entre a Lei e a Fé

[edição 123], os

megalomaníacos

que vivem a explorar a mão de

obra pastoral ficam desesperados

quando se fala em reconhecimento

do trabalho profissional dos

pastores, e ao mesmo tempo vão se

enriquecendo de maneira cósmica

à custa dessa e de outras situações.

Afinal, que patrão não que pagar

pouco aos trabalhadores, com

horário integral e sem direito à

reclamação? E eles usam meios

políticos, fazem lobby, atacam,

esculacham, inventam, acusam

até levantam falsos

testemunhos contra

os pastores que

procuram seus

direitos. No fundo,

o que os patrões

não querem mesmo

é abrir precedentes

que possam

comprometer

seus impérios

financeiros.

Enquanto isso,

os outros que

se danem. Por

indignação, decidi

tomar novos rumos

profissionais, arcando com os

prejuízos de anos de trabalho

e dedicação. Não vale a pena

brigar com pessoas que, em vez

do coração, trazem um cofre no

peito.

Moacir Melo Morais

BELO HORIZONTE (MG)

O ministro do Evangelho ou líder

religioso que dedica integramente

seu tempo para cuidar de

um rebanho – ensinando,

aconselhando e administrando

a organizaçao – deveria ser

valorizado com os mesmos

direitos que qualquer outro

trabalhador, mesmo porque a

atividade não se restringe somente

a defender uma crença religiosa,

mas também a ações sociais, visita

às comunidades e ajuda a quem

até mesmo não processa a mesma

fé. Sem contar nas questões

administrativas, como finanças,

patrimônios, funcionários etc.

Clesio de Lima

SERRA (ES)

COMPORTAMENTO

Sobre a reportagem E Agora,

Papai? [edição 130], quero dizer

que o amor a Deus não exime a

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pessoa de sentir atração sexual, e

muito menos a afasta da prática

sexual. A própria Bíblia traz o

exemplo de Davi que teve um

caso amoroso e

sexual fora de

seu casamento;

contudo, ele

reconheceu o erro

e não deixou de

amar ao Senhor.

Então, se o

próprio Davi, que

é considerado o

“homem segundo o

coração de Deus”,

deixou-se levar

pela necessidade

sexual, como é que

um adolescente

pode evitar a

prática antes do casamento,

principalmente estando com

a cabeça constantemente

bombardeada pela mídia? Não

podemos estabelecer parâmetros

com uma época totalmente

diferente. Ou seria uma opção

melhor casar sem amor do que

fazer sexo antes do casamento?

Essas questões precisam ser vistas

e deliberadas pelos líderes das

igrejas, pais e demais setores da

sociedade.

Dig

VIA INTERNET

SAÚDE

Muito bons os ensinamentos

apresentados na matéria Com

Cristo à Mesa [edição 125],

questões que sabemos, mas

raramente aplicamos. Com mais

informações e questionamentos,

certamente iremos melhorar

muito as nossas condições de vida

e saúde. Que Deus os abençoe

enormemente. Saibam que, de

agora em diante, estarei colocando

em prática essas maravilhosas

dicas no meu dia a dia.

Regina Mendes

VIA INTERNET

LENDAS URBANAS

Depois de ler a matéria Estão Dizendo

por Aí [edição 132], resolvi relatar

algo extraordinário que aconteceu

comigo quanto eu tinha

6 anos de idade – hoje

eu tenho 38. Lembro-

me nitidamente de

cada detalhe, quando

fui dormir na casa

dos meus padrinhos,

sozinha. Ao apagar a

luz, subitamente algo

se sentou na cama e

começou a me empurrar

de encontro à parede,

ao mesmo tempo

em que garrafas de

um engradado eram

quebradas. Eu passava

a mão e não sentia

nada, mas aquilo se repetiu durante

a noite toda.

Chamei meus

padrinhos, que

acenderam a luz

e não encontram

absolutamente

nada fora de

ordem. Mesmo

assim resolvi

dormir na sala, e

no dia seguinte

encontramos os

móveis do quarto

complemente

revirados, garrafas

quebradas, roupas

rasgadas, como

se um furacão tivesse passado por ali.

Depois disso, minha madrinha se tornou

evangélica e eu fui batizada novamente,

tamanha a complexidade do ocorrido.

Simone

VIA INTERNET

LUIZ SAYÃO

Que artigo sensacional, divertido e

informativo o Quando a Tradução Vira

Complicação [coluna E a Bíblia Tinha

Razão, edição 130]. Sei que existem

textos difíceis de entendimento, e

eu sempre tive o desejo – e espero

concretizá-lo – de estudar a Bíblia

pelo original. Mas, para isso preciso

aprender os idiomas. Que esse

desejo cresça, não somente no meu,

mas em todos os corações para que

compreendamos a Palavra de Deus

da maneira como o Senhor nos quer

transmitir.

Daniela Lucas

RIO DE JANEIRO (RJ)

NEALE DONALD WALSCH

Muito boa a matéria Gato por Lebre

[seção Multimídia Vídeo, edição 128],

só que eu fico muito triste ao ver que

muitas livrarias evangélicas vendem

esse livro e o filme nele baseado. Um

livro que fala mal de Jesus, que é

contra a Bíblia em diversos momentos

e que sempre se contradiz. Até mesmo

a própria entidade que conversa com

o autor diz não ser Deus

em várias ocasiões.

Precisamos abrir mais os

olhos e não aceitar tudo

que vem com o nome

do Senhor estampado na

capa. Vejo muitos crentes

dizendo que há coisas

boas no livro, e o pior:

descobri recentemente

que uma das frases que

minha mulher me fala e

que me deixa irritado saiu

exatamente dele. Mas não

se deixem enganar, pois é

uma leitura em que nada

se aproveita. Onde já se

viu o mal se misturar com o bem?

Marcelo Caetano

BRASÍLIA (DF)

PARA COMENTAR AS

MATÉRIAS DE ECLÉSIA:

1 – Pelo site: www.eclesia.com.br

2 – Por carta: Revista Eclésia

(Rua Pedro Vicente, 90 –

01109-010 – São Paulo SP

3 – Por e-mail:

[email protected] /

[email protected]

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12

ele teria realizado pactos malignos para

obter sucesso. Em entrevista ao portal

Guia-me, o cantor classifi cou o assunto

como “uma maldade” contra sua vida

ministerial. “Eu fi z um pacto com Jesus

Cristo quando entreguei minha vida

para ele, e selei esse pacto quando me

batizei. Uma música que está curando,

salvando e trazendo libertação não

pode servir de maldição. A Palavra de

Deus é bem clara, e uma fonte não pode

jorrar água doce e salgada”, defende-

se, ciente de que os comentários não

atrapalham o propósito da composição.

“Faça você mesmo uma pesquisa

na sua igreja para descobrir quantas

pessoas foram abençoadas por meio

dessa canção. A Palavra de Deus está

sendo pregada para quem realmente

precisa ouvir”, sacramenta. Com ou

sem pacto, o álbum Compromisso

vendeu mais de 1 milhão de cópias, um

número estratosférico para o mercado

gospel, e a polêmica canção, proibida

de ser executada em muitas igrejas, caiu

defi nitivamente no gosto do consumidor

secular. (José Donizetti Morbidelli)

E M F O C O

Pacto ou milagre? A exemplo de Abbey Road, dos

Beatles, que até hoje intriga fãs e estudiosos do assunto, sucesso gospel traz de volta à tona discussão sobre

mensagens subliminares

REGIS DANESE SE DEFENDE DE ACUSAÇÃO sobre mensagem subliminar na canção Faz um Milagre em Mim

DIVULGAÇÃO

Mensagens subliminares

podem ser defi nidas como

aquelas não captadas

diretamente pelos sentidos humanos.

Complicado? Melhor, então,

exemplifi car: a famosa capa do álbum

Abbey Road, dos Beatles, traz os

quatro rapazes em fi la, o que, para

os estudiosos das mensagens ocultas

simboliza a procissão de um enterro

– John, de branco, como o padre;

Ringo, de preto, o agente funerário;

Paul, sem sapatos, o morto; e George

Harrison, o coveiro. A certa distância

um carro se movimenta em direção a

Paul, mas como os ingleses dirigem

na mão esquerda a impressão é de

que o veículo já o atingiu. E mais:

uma viatura de polícia parada entre

John e Ringo parece atender a uma

ocorrência de trânsito, enquanto que

a placa LMW 28IF do fusca branco à

esquerda pode simbolizar a abreviação

de “Linda McCartney Widow”

– traduzindo, Linda McCartney viúva

–, e a idade do astro na época. Tal

tentativa de explicação subliminar só

ganha força diante da hipótese pouco

verossímil de que Paul McCartney

teria morrido em 1966 num acidente

de carro e, para ocultar o fato, a

gravadora Capitol convocou um sósia

para assumir seu lugar no quarteto – o

inglês Willian Campbell.

A exemplo dos Beatles, Regis

Danese, que não é nenhum astro de

Liverpool, também tem sido acusado

de divulgar mensagem subliminar por

meio de sua música Faz um Milagre

em Mim – se tocada de trás para frente

–; e o pior: de conteúdo satânico, um

prato cheio para crentes na eterna

discussão acerca do bem e o mal. De

acordo com uma série de blogs e sites,

DIVULGAÇÃO

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Sem censura e censurado Enquanto o SBT abre sua grande de programação

para quadro evangélico, a MTV boicota videoclipe por considerá-lo extremamente gospel

De acordo com pesquisas recentes,

quase 25% dos brasileiros se

declaram evangélicos. Se o crescimento

continuar no mesmo ritmo, a tendência

é que essa porcentagem dobre em

menos de uma década. Provavelmente

devido a esse aumento, os executivos

do SBT decidiram romper certos

tabus e abrir as portas da emissora

aos artistas cristãos. Prestes a estrear

no programa Eliana, levado ao ar nas

tardes de domingo, o quadro Deus é

com Ela terá convidados de destaque

da música gospel e que, além de

apresentarem seus trabalhos, também

poderão falar sobre suas experiências –

não faltarão testemunhos. Ao contrário

novo videoclipe da banda Catedral

– Tudo Pode Mudar – por considerar

a música com “muito teor gospel”.

“O que eu acho mais pesado nisso

tudo é alguém boicotar frases como

‘tenha fé em Deus, tenha fé no amor’.

Se eu fosse adepto de um baseado ou

uma fi gura totalmente estereotipada,

certamente teria fácil lugar nesse circo

musical de horrores”, desabafa Kim,

líder do grupo. O boicote, no entanto,

tem causado indignação em muitos

fãs e seguidores da banda. “Num país

liberal e democrático como o Brasil e,

principalmente vindo de uma emissora

que se diz voltada para a juventude,

está claro que é prova de preconceito

religioso”, declarou o estudante

paulista Valmir Santos para o site

Amigo de Cristo. Para quem tem fé e

acredita na letra da canção, fi ca aí uma

esperança: “tudo pode mudar”. (JDM)

“SE EU FOSSE UMA FIGURA estereotipada, certamente teria espaço nesse circo musical de horrores”, acusa o líder da banda Catedral

DIVULGAÇÃO

Decadência moral Game polêmico traz Jesus Cristo como personagem principal, usando roupa de

guerrilheiro e disparando tiros de metralhadora

MORAL DECAY, OU DECADÊNCIA MORAL: apesar das modifi cações, atração da Apple ainda causa polêmica no meio religioso

É possível imaginar Jesus Cristo

usando roupa de guerrilheiro e

fazendo uso de seus poderes divinos

e de uma metralhadora para aniquilar

os inimigos que ameaçam o mundo

– criminosos, corruptos, adoradores

do diabo e demais aberrações? Na

cabeça do engenheiro de software

Tim Omernick, sim. É esse o enredo

de Moral Decay – game em 2D com

gráfi cos que remetem aos consoles

dos anos 1980 para iPhone, iPod

touch e iPad –, enviado cinco vezes

para a aprovação da Apple, feito

que o produtor só conseguiu após

uma série de mudanças no projeto.

“Eu queria criar um game com uma

ideia que ninguém havia usado

antes, testando os limites do que é

apropriado ou não”, conta o presidente

da Infi nite Lives, insatisfeito com a

versão fi nal e claramente arrependido

por ter, preferencialmente, tentado

lançar o título numa plataforma mais

conservadora do que as concorrentes.

Pela política da empresa, a Apple

costuma barrar aplicativos com

conteúdos eróticos e que tendem a

ofender a grupos religiosos, como

uma medida preventiva contra

eventuais ações judiciais movidas

pelos usuários. Entre as mudanças do

projeto original para a versão que está

sendo comercializada por cerca de

US$ 2,00 pela iTunes Stores – maior

loja de entretenimento digital do

mundo –, está a alteração do nome e da

aparência do herói: em vez de Jesus,

entra o Chris T; e no lugar de sandálias

e um manto branco, o personagem

ganhou calça camufl ada, botas e

uma fi ta no cabelo – bem ao estilo

Sylvester “Rambo” Stallone. Além

disso, Chris T é louco por pizza e está

sempre ressuscitando. Talvez essa

“ressurreição” seja a única verdade

bíblica do brinquedinho. (JDM)

DIVULGAÇÃO

da rede paulista, a MTV, principal canal

de música do país, “ainda” prefere

manter distância do meio gospel,

tanto que recentemente censurou o

DIVULGAÇÃO

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País dividido Separação do Sudão causa preocupação nas igrejas do norte

do país, região predominantemente

muçulmana

Durante mais de duas décadas,

o Sudão – a maior nação do

continente africano – foi palco de

uma guerra civil que fez milhões de

vítimas e, aliada à seca, deixou quase

metade da população abaixo do nível

de pobreza. Até a formação de um

governo de união nacional, em 2005,

foram anos de batalhas protagonizadas

pelas tropas muçulmanas, cuja

maioria se concentra no norte, com os

esquerdistas do sul, onde se fi xam os

cristãos e adeptos de outras religiões.

Agora, a história do país deve ganhar

um novo capítulo – promissor para

muitos, preocupantes para outros

– com a realização do plebiscito

popular para aprovação da divisão

do território e a criação de um novo

Estado independente: o Sul do Sudão,

ou Sudão do Sul – mais de 99% dos

eleitores sulistas votaram a favor da

separação. O período de transição

política ocorre no dia 9 de julho, mas a

nova lei permite aos sudaneses do sul

que retornem às suas casas de origem,

já que eles foram forçados a abandonar

os lares antes da independência do país,

em 1956. Diante do referendo popular,

quem tem se mostrado um tanto quanto

preocupados são os cristãos do norte,

que temem perseguições por parte dos

muçulmanos – a região setentrional

vive sob a lei islâmica desde 1983.

“Se houver apenas uma esquerda

cristã no norte, estaremos aqui porque

o pastor não pode abandonar o seu

rebanho”, garantiu Quintino Okeny

Joseph, vigário geral da Arquidiocese

da capital Cartum. Mesmo antes

da divulgação do resultado ofi cial

da votação, Salva Kiir Mayardit,

presidente da “região autônoma”,

comemorou o resultado. Segundo

ele, os números representam uma

vitória para povo do sul. Pelo menos

lá os cristãos poderão evangelizar à

vontade. (JDM)

CRISTÃOS SUDANESES TEMEM PERSEGUIÇÃO após plebiscito popular para divisão do território

DIVULGAÇÃO

Fé na ponta dos pésSônia Hernandes vira passista de escola de samba em site de humor e entretenimento

cristão

Apesar de se tornar alvo

de chacota do Genizah

Virtual – site de informação,

sátira e entretenimento cristão

– que a transformou numa

passista de escola de samba, a

bispa Sônia Hernandes, da Igreja

Renascer, parece ter levado a

brincadeira – ou provocação – bem

na esportiva. “Já me falaram,

mas eu não vi. Fiquei bonitinha

pelo menos?”, indagou, com bom

humor, durante passagem por

uma cidade do interior de São

Paulo. Tudo começou quando

a agremiação carnavalesca

Pérola Negra definiu seu samba-

enredo para o Carnaval paulista:

Abraão, o Patriarca da Fé. Por

coincidência, o casal Hernandes

também homenageará o patriarca

durante os eventos e celebrações

ao longo de 2011, definido

pela denominação como o

Ano Apostólico de Abraão. “A

gente não pode se engasgar

com todas as coisas que vemos

por aí, senão perdemos o foco

e o propósito. Quando se é

uma pessoa pública, temos

que estar preparados para esse

e outros tipos de situação”,

justificou a bispa, afirmando

não se sentir incomodada

com a liberdade de expressão

garantida por lei que permite

aos meios de comunicação

publicações desse tipo. (JDM)

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“Os últimos serão os primeiros” Pesquisa realizada com membros das mais variadas

religiões aponta os evangélicos como os menos satisfeitos com a vida

Primeiro vêm os judeus como o

grupo religioso mais satisfeito

com a vida; em segundo, acredite, os

ateus; seguidos pelos que se intitulam

agnósticos; depois os católicos,

muçulmanos e, por fi m, os evangélicos.

É o que aponta uma análise baseada

numa amostra aleatória com quase 400

mil entrevistas realizadas nos Estados

Unidos entre membros de todas as

crenças e religiões. A pesquisa, fruto de

uma parceria entre o instituto Gallup

e a empresa Healthways, focada em

questões relacionadas à saúde, foi

realizada entre janeiro de 2009 e julho

de 2010, e os resultados divulgados

recentemente. Como metodologia,

os pesquisadores dividiram os

entrevistados em três grupos: muito

religiosos, religiosos moderados e não

religiosos. A importância da religião e a

frequência da participação em reuniões

foram alguns dos quesitos abordados.

O estudo aponta ainda que os norte-

americanos mais ligados em religião,

independente da doutrina, desfrutam

de maior bem-estar pessoal e social.

Um analista foi além e disse estar claro

o aumento no nível de satisfação dos

que frequentam com mais assiduidade

a sinagoga/igreja/mesquita e podem

capitalizar os aspectos sociais dessa

participação. Não dá para mensurar

a efi ciência do resultado divulgado e

se isso refl ete também o que acontece

na sociedade brasileira, mas o difícil

mesmo é acreditar que os protestantes

estejam em último lugar. Se vale um

consolo para os crentes, nada melhor

do que aquela máxima popular: “os

últimos serão os primeiros”. (JDM)

Mais polêmica à vista Projeto de lei

anti-homofobia, prestes a ser desarquivado,

deve novamente criar polêmica e discussão no meio evangélico

Com o fi m dos mandatos e a

“dança” das cadeiras na Câmara e

no Senado Federal, todas as propostas

que tramitavam há mais de duas

legislaturas foram arquivadas no fi m

do ano passado. Na lista aparece o PLC

122/06 da ex-deputada federal petista

Iara Bernardi – mais conhecido como

lei da homofobia – já aprovado na

Câmara e pela Comissão de Direitos

Humanos e Legislação Participativa

do Senado (CDH). Para indignação

dos evangélicos – entre eles o senador

Magno Malta (PT-ES) que teme

pela instauração de um “império da

homossexualidade” no país –, o motivo

do arquivamento se deu por uma

questão regimentar em vez de política,

e o projeto poderá tramitar novamente

por mais uma legislatura caso um terço

dos senadores apoiem o requerimento

de abertura, que deve ser apresentado

em até 60 dias após o início do ano

legislativo. E é exatamente isso o que

“costura” nos bastidores a senadora

Marta Suplicy (PT-SP), uma das mais

ferrenhas defensoras da instauração

da lei. Quem também não vê a hora

de rever o projeto é a relatora do texto

original, a senadora Fátima Cleide

(PT-RO). Em entrevista à Rádio

Senado, ela afi rmou estar confi ante

com a nova composição da casa e que

espera que o projeto seja desarquivado

e levado adiante nos próximos anos. As

discussões não param por aí. Também

no fi m do ano passado, Augustus

Nidodemus Gomes Lopes, chanceler da

Universidade Presbiteriana Mackenzie,

uma das mais tradicionais de São Paulo,

criou a maior polêmica ao publicar o

artigo Manifesto Presbiteriano sobre a

Lei da Homofobia no site da instituição.

Embasado por citações bíblicas e frases

do tipo “nossa cultura está mais e mais

permeada pelo relativismo moral e

cada vez mais distante de referenciais

que mostram o certo e o errado”, o

reverendo se posiciona totalmente

contrário à lei anti-homofobia. Para

limpar a barra, o Mackenzie tratou

logo de tirar o texto do ar, afi rmando,

por meio de sua assessoria de

imprensa, que o artigo refl ete somente

a opinião da Igreja Presbiteriana.

Pelo jeito, os embates recomeçaram

quentes, e o assunto tende a ganhar

muitos capítulos – prós e contras – no

decorrer de 2011. (JDM)

ALEGRIA PARA OS HOMOSSEXUAIS e indignação aos evangélicos: segundo eles, lei da homofobia distorce o que

regem os princípios cristãos

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MARCOS STEFANO COUTO

“Costume vira regraPresidente da AD Ministério Belém,

em São Paulo, o pastor José

Wellington Bezerra da Costa esclarece

divergências ocorridas na

CGADB e fala dos preparativos para o centenário da denominação

MA

RC

OS

ST

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CO

UT

O

E N T R E V I S TA

Em outubro ele

completará 77 anos, mas

ainda apresenta uma

disposição de causar inveja a

muitos adolescentes, tamanha

é a correria e as atribuições

ministeriais de um dos mais

importantes e fundamentalistas

líderes evangélicos do país,

o pastor José Wellington

Bezerra da Costa. Nascido

no interior cearense, mais

precisamente na longínqua São

Luis do Curu, quando a vilinha

ainda nem era emancipada

– o que só aconteceu em

1951 –, José Wellington se

converteu ao Evangelho na AD

de Fortaleza, ainda menino,

sem imaginar a guinada que

aquele ato acarretaria à sua

vida profissional e religiosa.

Transferiu-se para a capital

paulista na juventude, onde

se tornou comerciante bem-

sucedido, até largar tudo para

se dedicar à vida ministerial:

primeiramente como presbítero;

depois, evangelista autorizado;

pastor – inclusive no Estado

do Mato Grosso –; vice e,

finalmente, presidente da

Assembleia de Deus Ministério

Belém, em São Paulo. E mais:

desde 1990 ele praticamente

não se afastou da presidência

da Convenção Geral das

Assembleias de Deus no

Brasil (CGADB), se bem que

a última eleição, realizada há

dois anos em Vitória (ES),

foi marcada por polêmica. Na

ocasião, membros da Convenção

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gra e regra vira lei”

“É uma responsabi-

lidade enorme [presidir a

Assembleia de Deus Ministério Belém, em São

Paulo], e eu me sinto muito limitado diante de uma igreja tão grande”

da Rua Azusa, em Los Angeles;

chama essa que perdura por

mais de um século e que mudou

vertiginosamente a maneira de

se praticar a fé cristã.

Casado com Wanda Freire da

Costa, presidente da União

Nacional das Esposas de

Ministros das Assembleias

de Deus (UNEMAD) e pai de

seis filhos – entre eles, três

pastores e uma vereadora – José

Wellington garante levar uma

vida bastante comum em família,

exercendo o papel de esposo e

pai dedicado, e sem deixar de

paparicar os netos e bisnetos.

“Tenho uma vida absolutamente

normal, pois venho de uma

família bastante humilde. Só que

eu trabalho muito em virtude da

grandiosidade da Assembleia

de Deus do Belém, e do cargo

que exerço na Convenção

Geral”, salienta, dando início a

uma entrevista em seu próprio

gabinete pastoral, ocasião em

que não deixou de falar sobre as

preocupações com o futuro da

denominação influenciadas pelos

usos e costumes de diferentes

ministérios; os entraves de

Interestadual das Assembleias

de Deus do Seta – Serviço de

Evangelização Tocantins e

Araguaia (CIADSETA) –

obtiveram, por meios judiciais,

direito à participação no pleito

até, posteriormente, terem seus

votos desconsiderados.

Sediada no Rio de Janeiro,

um dos desafios da CGADB,

principalmente nas últimas três

décadas, tem sido agregar os

diferentes ministérios – alguns

puramente conservadores,

outros com uma visão

mais contemporânea – que

compõem a denominação

assembleiana. Atualmente,

a entidade conta com mais

de 3,5 milhões de filiados, e

tem no trabalho missionário

um dos sustentáculos para a

implantação de novas igrejas

em várias partes do planeta.

“Temo que determinados

costumes possam contribuir

para o esfriamento espiritual

das pessoas”, alerta o pastor-

presidente, referindo-se às

práticas pós-modernas de

evangelismo adotadas pelas

igrejas neopentecostais. No

intuito de deixar antenados os

milhões de assembleianos com

uma visão bíblica puramente

genuína, a CGADB mantém

sua própria editora, a Casa

Publicadora das Assembleias

de Deus (CPAD), uma das

mais importantes do segmento

no país. Lá, as máquinas não

param e, mensalmente, dezenas

de publicações nacionais e

internacionais são despejadas

no mercado editorial, com o

propósito de evangelizar e

manter viva aquela chama de fé

e fogo iniciada no número 312

MA

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OS

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ordem editorial envolvendo

a Bíblia de Estudo Dake, que

foi praticamente achincalhada

no livro Cristianismo em

Crise, de Hank Hanegraaff,

distribuído no Brasil pela

própria CPAD; as mudanças na

diretoria da CGADB ocorridas

no ano passado, que quase

desencadearam uma crise

administrativa fomentada,

principalmente, por divergências

internas e práticas disformes

de evangelismo adotadas por

alguns de seus líderes mais

proeminentes; e, sobretudo,

sobre as comemorações do

centenário da denominação, que

já tiveram início há mais de dois

anos e que devem continuar,

pelo menos, até o final de 2011,

quando as obras do novo templo

na capital paulista deverão estar

finalizadas; ou bem adiantadas.

ECLÉSIA – Primeiramente,

qual é o tamanho da

responsabilidade de presidir a

Assembleia de Deus Ministério

Belém, em São Paulo?

JOSÉ WELLINGTON – Faz

mais de 48 anos que eu estou

na diretoria desse ministério.

Fui secretário durante dez

anos, vice-presidente por sete e

sou presidente há mais de três

décadas. É uma responsabilidade

enorme, e eu me sinto muito

limitado diante de uma

igreja tão grande. Sozinho,

dificilmente daria cobertura a

tantas atribuições, mas o Senhor

tem sido muito misericordioso

comigo. Ele me deu uma boa

equipe e eu sou extremamente

dedicado a um trabalho realizado

em conjunto, pois sei que posso

contar com a colaboração de

todos os envolvidos.

Na época em que assumiu,

pela primeira vez, a

presidência da CGADB, em

decorrência do falecimento

do pastor Alcebíades Pereira

de Vasconcelos, o senhor

escreveu o livro Como ter

um Ministério Bem-Sucedido

(CPAD). Estar à frente de uma

das maiores denominações

evangélicas do país foi como

colocar em prática as ideias

expostas no livro?

Não restam dúvidas de que

a experiência ministerial me

ajudou muito a escrever o

livro. Entretanto ali não diz

tudo, mesmo porque a vida

de um pastor que administra

uma igreja do tamanho da

Assembleia de Deus, e que

preside a CGADB, exige muito

mais do que está exposto em

algumas páginas.

Em meados do ano passado,

quando o pastor Silas

Malafaia renunciou à vice-

presidência e comunicou seu

desligamento da CGADB,

ventilou na imprensa

evangélica que a entidade

passava por uma crise

administrativa. O que o

senhor pode falar a respeito?

O Silas Malafaia esteve comigo

na diretoria da Convenção Geral

durante três anos. Nós sempre

nos respeitamos muito, tivemos

um bom relacionamento e uma

boa amizade, mas ele disse que

tinha tido uma revelação de

Deus e que deveria fazer outra

coisa. Como já estava muito

envolvido com as comunidades,

o espaço dele na Assembleia

de Deus foi se restringindo um

pouco e ele sentiu que poderia

ter uma dificuldade maior;

então, tirou o time de campo.

Sinceramente, eu considerei

uma atitude bastante honesta.

Afinal, o Brasil tem quase 200

milhões de habitantes e como

nós atingimos somente uma

“Ele [Silas Malafaia] é um

evangelista nato. Deus tem

abençoado sua vida, e ele ganhou muito

espaço na mídia. Agora, uma coisa é

barulho, outra é igreja”

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pequena fração desse montante,

ainda há alma à vontade para

ganhar por aí.

Portanto, a saída dele não teve

nada a ver com suas práticas

evangelísticas, que encontram

restrições por parte de muitos

assembleianos?

Ele é um evangelista nato. Deus

tem abençoado sua vida, e ele

ganhou muito espaço na mídia.

Agora, uma coisa é barulho,

outra é igreja. Não há dúvidas

de que o Silas é um homem

direito, uma boa pessoa, mas

ministerialmente falando,

dentro do âmbito assembleiano

ele sofria muitas restrições por

causa do comportamento.

Na época, por meio de um

comunicado, Malafaia

afirmou que um dos

principais motivos a

influenciarem sua decisão foi

o que ele mesmo chamou de

“desmandos administrativos”.

Como o senhor recebeu essa

crítica? Isso também teve a

ver com o desligamento do 1º

tesoureiro, o pastor Antonio

Silva Santana?

Eu não creio que ele pense

assim, porque a área financeira

também era responsabilidade

dele. Acredito que o que

realmente o motivou foi o

fato do estatuto da CGADB

proibir aquilo que chamamos

de “invasão de campo”,

ou seja, alguém ser de São

Paulo e abrir igreja no Rio de

Janeiro. E como a visão dele

é ter igreja em todo o Brasil,

então não havia alternativa

senão deixar a associação.

Na última Convenção Geral

– que aconteceu em Vitória

(ES), em abril de 2009 –, o

tesoureiro eleito foi indicado

pela chapa opositora, um

homem muito simples e que

teve muitas dificuldades na

questão administrativa. Depois

de eleito, ao se aproximar de

“Não sou um aventureiro e tenho atrás de mim um

trabalho bem feito, e quem

quiser me conhecer é só seguir minhas pegadas que vai conseguir me encontrar”

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nós, ele acabou perdendo um

pouco a confiança do lado de

lá. Houve muitos pagamentos, e

eu não sei se propositadamente

ou não, os cheques não tiveram

cobertura. Posteriormente,

todos foram devidamente pagos.

Contudo, ele se mostrou muito

nervoso ao ser chamado para

prestar contas e apresentar o

relatório, e isso bastou para que

a oposição jogasse muita pedra

para cima do coitado. Depois

disso, veio o pastor Santana,

nosso companheiro aqui de São

Paulo, um homem de Deus,

mas que também encontrou

muitas dificuldades e ficou meio

desgostoso com as cobranças,

especialmente pela sede da

CGADB ser no Rio de Janeiro.

É por isso que a diretoria sempre

conta com dois tesoureiros,

justamente para que um possa

assumir tranquilamente no caso

do outro se afastar.

Como o senhor, na ocasião,

reagiu em relação ao texto

do pastor Geremias do

Couto que, numa espécie de

alerta, argumentava que se

a Mesa Diretora da CGADB

não assumisse o controle da

situação e promovesse uma

autoria independente, as

demandas judiciais poderiam,

no futuro, liquidar com a

associação?

O Geremias é um moço muito

inteligente, mas ele tem uma

veiazinha meio revolucionária.

Ele foi funcionário da casa

durante muitos anos e, até

então, sempre tinha sido uma

pessoa muito próxima da gente.

Sobre esse texto, eu fiz um

esclarecimento para uma das

edições do Mensageiro da Paz,

mas com muito cuidado para não

ferir a sensibilidade de ninguém,

mesmo porque sou avesso a

discussões. Tudo o que devo fazer

é mostrar resultados no trabalho,

e é isso o que tenho feito até aqui.

da atitude do pastor Oscar

Domingos de Moura, que

assumiu a vaga deixada por

Silas Malafia por meio de uma

liminar, numa situação até

então inédita na história da

entidade?

Interessante que o nosso

estatuto prevê tanta coisa, mas

o pessoal da área jurídica nunca

pensou na renúncia de um

vice-presidente. Passamos por

um pouco de dificuldade por

não haver suplência, e teríamos

que fazer uma nova eleição,

tanto para a vaga de vice-

presidente como também para

a de tesoureiro. E, embora não

houvesse nenhum acordo nesse

sentido, uma alternativa seria

copiar o que faz o Tribunal

Regional Eleitoral (TRE), ou

seja, convocar o próximo mais

votado (em posterior entrevista

a CPAD News, o pastor José

Wellington afirmou: “Nós

colocamos no seu verdadeiro

lugar o primeiro vice-

presidente, o pastor Moura,

“Deus também tem nos

abençoado nesse sentido,

e hoje a editora [CPAD]

é uma das maiores do segmento evangélico

no país”

Não sou um aventureiro e tenho

atrás de mim um trabalho bem

feito, e quem quiser me conhecer é

só seguir minhas pegadas que vai

conseguir me encontrar.

Como presidente da CGADB,

o que o senhor tem a dizer

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que estava aguardando por uma

decisão, e o recebemos em nossa

Mesa Diretora”).

Em 2011, a CPAD está

completando seu 71°

aniversário. O que isso

representa, em termos

evangelísticos e até comerciais,

para a Assembleia de Deus?

A CPAD é um órgão da

Convenção Geral que tem como

objetivo único editar materiais

de evangelização. Portanto não

há um foco comercial, embora as

vendas sejam necessárias para que

ela possa subsistir. Deus também

tem nos abençoado nesse sentido,

e hoje a editora é uma das maiores

do segmento evangélico no país.

E o mais importante é que não

perdemos, de maneira nenhuma, o

foco evangelístico, tanto que todo

o resultado é revertido para as

obras da igreja.

No livro Cristianismo em Crise,

que leva o selo da CPAD,

Hank Hanegraaff faz severas

críticas à Bíblia de Estudo

Dake. Segundo o autor, ao se

enveredar pelas ideias heréticas,

restrições. Diante desse

problema, eu reuni o

conselho de doutrina e

a comissão que analisa

os pontos heréticos, e

pedi para que fizessem

uma revisão de ponta

a ponta na Bíblia.

Procurei também o

primeiro contrato, e em

tudo que nos compete

nós vamos mexer

para que o material

fique exatamente de

acordo com aquilo que

pregamos.

Em 18 de junho de 2011

a Assembleia de Deus

estará completando seu

100° aniversário. Como

estão os preparativos

para a comemoração?

Como a nossa querida pátria é

muito grande, um verdadeiro

continente, eu entendi que

deveríamos comemorar o

centenário em cada uma das

regiões brasileiras. Portanto, já

iniciamos as festividades há cerca

de dois anos; primeiro em Cuiabá,

no Centro-Oeste; depois em

Curitiba, no Sul; a terceira foi em

Natal, no Rio Grande do Norte;

enfim... Se Deus permitir, em 18

de junho de 2011 estaremos lá

onde a nossa história teve início,

em Belém do Pará. Por fim,

encerraremos as comemorações

com uma bonita festa em São

Paulo, provavelmente no mês de

novembro quando a construção

do novo templo deverá estar

concluída.

O senhor tem a intenção de,

como no passado, organizar

um evento em algum estádio ou

local para grande aglomeração

pública?

À luz da verdade, não existe um

auditório ou local fechado para

comportar tantos assembleianos.

Então, nós já falamos com o

prefeito Gilberto Kassab, que nos

“A Bíblia de Estudo Dake é formidável,

tem muita coisa boa e,

comercialmen-te falando, é

um fi lé mignon”

Dake contraria muitos

conceitos defendidos pelos

próprios assembleianos. Como

o senhor recebeu e como tem

acompanhado essas críticas?

A Bíblia de Estudo Dake é

formidável, tem muita coisa boa

e, comercialmente falando, é

um filé mignon. Havia algumas

restrições quando o contrato

de lançamento foi assinado e,

como o diretor de publicações

da CPAD passou dois meses

afastado do trabalho por motivos

de saúde, seu substituto não

considerou ou não viu essas

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garantiu o estádio do Pacaembu

para as comemorações em São

Paulo. Só espero que dê certo, pois

temos que nos limitar a fazer tudo

dentro daquilo que nos seja possível

realizar. Não sei se teria coragem

de organizar um evento como o II

Congresso Mundial das Assembleias

de Deus, quando, em 1997, levamos

aproximadamente 1

milhão de pessoas ao

Campo de Marte. Foram

inúmeros os obstáculos

para conseguir aquele

espaço. Na semana do

evento o Aeroclube de

São Paulo embargou

a reunião com uma

liminar expedida em

Brasília, uma vez que

aquela área é federal.

Eu tive que me dirigir

até a capital federal para

falar com o ministro da

Aeronáutica, um homem

muito educado que me

recebeu muitíssimo bem.

Contudo, ele apontou

alguns empecilhos, mas

disse que iria fazer o

possível e me daria a

resposta o quanto antes.

Eu me prontifiquei a

orar para que Deus

falasse ao coração dele,

e ele acabou cedendo.

Com isso, derrubamos a

liminar e realizamos uma grandiosa

reunião. Contamos também com

o apoio do governador do Estado

– na época, Mário Covas –, que

contribuiu com toda a logística

necessária em relação ao trânsito,

policiamento e até água para matar

a sede do povo. Por fim, tudo

funcionou perfeitamente, mas o

trabalho foi muito árduo.

E deu para apurar alguns

resultados evangelísticos durante

o congresso?

Não deixou de ter resultados

positivos, pois houve uma

grande propagação de fé. Mas,

particularmente, eu faço parte

daquele grupo que acredita mais

no evangelismo pessoal, na

abordagem frente a frente. Creio

que esse seja o melhor caminho

para a salvação de almas. As

grandes concentrações populares

são, digamos, uma demonstração

de força – às vezes, até política.

Para se ter uma ideia, só aqui na

nossa igreja, mais de 1700 novos

membros são batizados a cada

dois meses.

Como o senhor analisa o

surgimento, dentro da própria

doutrina assembleiana, de igrejas

um pouco menos conservadoras?

Há algum tipo de restrição

por parte desse ministério?

Em sua opinião, no que o

neopentecostalismo pode agregar

à causa evangelística?

Evangelho é o poder de Deus para

a salvação de todo aquele que crê.

Com relação à igreja em si, ela tem

sua doutrina que é a Bíblia; para

isso não há emendas, nada se pode

mudar. Porém, existem costumes e

tradições. Os costumes são locais,

temporários, e a tradição vem do

passado. Alguns companheiros

dessa ala mais moderna optaram

por fazer uma verdadeira abertura,

especialmente em relação aos

costumes. Particularmente eu

não sou radical, mas pertenço

à área conservadora. Entendo

perfeitamente que vivemos num

mundo moderno, mas também

me recordo de que quando cursei

a faculdade de Direito, um dos

primeiros mandamentos que me

ensinaram foi que “costume vira

regra e regra vira lei”. Se a pessoa

se colocar acima do calor ela

sente mais quentura, mas quando

o crente gela na fé ele se afasta

de Deus e se aproxima do mundo.

Daí o surgimento de tantas igrejas

que caminham por essa vereda

do liberalismo. Eu não costumo

proibir ninguém, procuro apenas

ensiná-los a viver de acordo com

as práticas cristãs. A Assembleia de

Deus tem uma identidade formada,

e eu acho que depois de tanto

tempo de existência não se pode

ou se deve mudar coisa alguma.

Afi nal, Deus tem abençoado e as

coisas têm dado muito certo.

O senhor tem alguma

preocupação de que no

futuro o crescimento do

“Particular-mente, eu faço parte daquele

grupo que acredita mais

no evangelismo pessoal, na abordagem

frente a frente”

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na década de 1950, no tempo do

evangelista Manoel de Mello,

quando chegaram alguns irmãos

da América do Norte e abriram

aquelas tendas, deixando alguns

pastores meio perdidos no espaço.

Esses modismos que estão

surgindo por aí são temporários.

São como chuva, vêm e passam;

entretanto, quando não há alicerce

doutrinário também não há

bênçãos de Deus.

Mas o impacto não foi mais

ou menos parecido com

1911, quando chegaram os

assembleianos para disputar

espaço com os batistas?

É verdade. Só que naquele tempo

era uma doutrina bíblica, ao

passo que hoje estão distorcendo

o que diz a Bíblia. Essa é a

diferença. A Assembleia de Deus

está completando um século de

história, e se a novas gerações

que vêm por aí preservarem

essa mesma concepção e ensino

bíblico, a igreja vai continuar

forte até a volta de Jesus.

neopentecostalismo, sobretudo

pelos princípios da teologia da

prosperidade, possa afetar as

bases doutrinárias da Assembleia

de Deus?

A igreja é sólida e, como disse

o próprio Jesus Cristo, nem as

portas do inferno prevalecerão

contra ela (Mt 16.18). Nós tivemos

algumas experiências desse tipo

“Quando cursei a faculdade

de Direito, um dos primeiros mandamentos

que me ensinaram foi que ‘costume vira regra e

regra vira lei’”

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I G R E J A

Discursos de despedida, desafi os ambientais, testemunhos e união de bases missionárias marcam a 91ª Assembleia da

Convenção Batista Brasileira

A “calorosa” conv e

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

Raramente o Complexo Es-

portivo Caio Martins é usado

para atividades esportivas

– o estádio, então, praticamente não

recebe partidas oficiais de futebol

desde que o Botafogo começou a

mandar seus jogos no João Have-

lange, o popular Engenhão. Desde

então, o ginásio, apesar de pecar

pela falta de infraestrutura, tem

sido usado para realização de outros

eventos, inclusive religiosos, como a

91ª Assembleia da Convenção Batis-

ta Brasileira, que aconteceu entre os

dias 21 e 25 de janeiro. Pela quarta

vez, os batistas se reuniram em Nite-

rói (RJ) – as outras foram em 1965,

1969 e 1991, num encontro marcado

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por desafios, discursos de posse e

despedida, e pela união de organi-

zações missionárias mantidas pela

igreja. “Certas fraquezas da deno-

minação batista não são tão visíveis

ao grande público ou detectáveis

por meio de relatórios ou discursos

triunfalistas. Elas, contudo, estão aí

presentes minando o nosso testemu-

nho como filhos de Deus”, discur-

sou, em tom de pregação e “quase”

como um desabafo, o presidente

Josué Mello Salgado, pouco antes

das eleições que definiram a nova

diretoria da entidade. Com bom uso

do tema do encontro – Desafiados

a ser Padrão no Cuidado do Meio

Ambiente – o pastor fez menção à

tragédia acarretada pelas chuvas na

região serrana do Rio de Janeiro,

lembrando às autoridades compe-

tentes que as causas do episódio

estão relacionadas a diversas situa-

ções, como a construção de mora-

dias em áreas impróprias, aliadas a

ações insuficientes dos governantes

e o desgaste natural pela ocupação

irregular do solo. “A maior contri-

buição ecológica que podemos fazer

é corresponder e superar a ardente

expectação da criação. Que nós

pensemos, falemos e ajamos como

legítimos filhos de Deus; e que haja

coerência de vida com o nome que

levamos”, pregou. Por fim, o pastor,

homenageado com hinos de louvor

entoados pelo Coro da Igreja Batis-

ta Memorial de Niterói, agradeceu

a todos os membros da diretoria e

suas respectivas igrejas.

BATISTAS OCUPAM DEPENDÊNCIAS do ginásio Caio Martins, para a convenção anual da denominação PASCHOAL PIRAGINE JÚNIOR:

“Eu sonho que Deus vai derramar alguma coisa boa”

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v enção dos batistas

No lugar de Josué Mello Salga-

do, quem assume a presidência da

CBB é o pastor Paschoal Piragine

Júnior, doutor em Ministério pela

Faculdade Teológica Sul America-

na, de Londrina (PR), e titular da

Primeira Igreja Batista de Curitiba

há mais de duas décadas. “Primei-

ro devemos crescer para o alto,

buscar a face de Deus, crer na gra-

ça e no milagre. Depois devemos

crescer para fora, sair e falar do

amor de Deus. Em terceiro lugar é

necessário crescer para dentro, na

direção dos outros, e estar atento

para auxiliar o irmão. Em quarto

lugar devemos crescer para frente,

em direção ao futuro, às deman-

das do nosso tempo”, disse, com

aquele otimismo inerente a quem

sempre está diante de um novo

desafio. No caso dele não tão novo

assim, já que o pastor presidiu a

entidade em 2007. “Eu sonho que

Deus vai derramar alguma coisa

boa”, concluiu. Compõem ainda a

diretoria que, pelos próximos dois

anos, irá representar a comunidade

e as igrejas batistas brasileiras: a

professora Nancy Dusilek, e os

pastores Vanderlei Marins e Eli

Fernandes, como 1º, 2º e 3º vices-

presidentes, respectivamente; a

professora Daisy Santos Correia de

Oliveira, os pastores Lécio Dornas

e Edgard Barreto Antunes, além da

diaconisa Damares de Luna Rodri-

gues, como secretários.

Missões unidas – Além da preo-

cupação ambiental e do calor sufo-

cante de quase 40 graus, a 91ª CBB

teve, ainda, um capítulo à parte: a

participação conjunta das duas ver-

tentes missionárias batistas – a Jun-

ta de Missões Nacionais (JMN) e a

Junta de Missões Mundiais (JMM),

numa atitude que demonstra, ao

menos para quem não faz parte

do dia a dia das organizações, que

elas jogam no mesmo time e, em se

tratado de evangelismo, estão até

falando a mesma língua apesar de

atuarem em regiões distintas. Líde-

res e membros das duas entidades

participaram do culto, recheado

com muita música, descontração

e desafios propostos aos fiéis. “A

obra missionária no Brasil tem sido

um desafio permanente”, enalteceu

Fernando Brandão, diretor-executi-

vo da JMN. Na mesma linha, Luiz

Cláudio Marteletto, gerente de co-

municação da JMM, mandou o seu

recado: “Eles também precisam da

graça do Pai. Devemos olhar para

esses povos com o coração de Deus,

entendendo que Jesus também mor-

reu por eles”.

Quase como uma regra em

celebrações evangélicas, não fal-

taram testemunhos. Dessa vez,

no entanto, com uma diferença,

proposta pelo pastor Fernando

Brandão: não de missionários, mas

de pessoas que tiveram suas vidas

transformadas devido ao trabalho

de missões. Por isso também que

uma das quentes e abafadas noites

do evento foi chamada de “Noite

de Missões”.

NOVA DIRETORIA DA CBB: primeiro contato com os batistas brasileiros aconteceu em Niterói NA DESPEDIDA DA PRESIDÊNCIA DA CBB,

o pastor Josué Mello Salgado agradeceu aos membros da diretoria e suas respectivas igrejas

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Romney Cruz é consultor em Marketing e Administração, e pastor no Ministério Gilearde em Vila Velha (ES) (www.pregandoapalavra.com.br)

O P I N I Ã O

O povo não quer mais chorar

“Pecado é o recipiente

que contém todo processo autodestrutivo na qual está

contida a política brasileira.

Pecado signifi ca errar

o alvo, e a possibilidade do erro só é real quando há um alvo”

“A justiça exalta

os povos, mas

o pecado é a

vergonha das nações.” (Pv 14.34)

Um opróbrio, uma grande

desonra pública, degradação

social, ignomínia, vergonha,

vexame... é o que todos nós

brasileiros, principalmente

os cariocas, sentimos após os

desastres ocorridos na região

serrana do Rio de Janeiro.

Tantas vidas ceifadas, famílias

e sonhos destruídos em poucas

horas. Faltam palavras no

vocabulário para expressar

nosso sentimento ao ouvir

cada relatório, ao assistir a

cada reportagem apresentada

pelas emissoras de todo o

país. Entretando, o ocorrido

nesse princípio de 2011 não é

nenhuma novidade para nós;

pois, ano após ano estamos

vendo e ouvindo notícias

semelhantes.

A repetição de

circunstâncias adversas nos

processos da vida evidenciam

que algo está errado. Quando,

repetidas vezes, sentimos o

mesmo lugar do corpo doer,

é sintoma de doença. Somos,

então, submetidos a exames

que irão detectar o problema,

muitas situações erradas – e até

perversas – estão inseridas nas

bases de pilotagem das instâncias

do Poder Público. Falta justiça,

responsabilidade, equidade,

honestidade, dignidade,

generosidade, enfim, vai longe

a lista de deficiências reais na

gestão daqueles que com aval

público se assentam nas cadeiras

do poder.

Pecado é o recipiente

que contém todo processo

autodestrutivo na qual está

contida a política brasileira.

Pecado significa errar o alvo, e

a possibilidade do erro só é real

quando há um alvo. Resumindo:

existe um alvo para a política,

ou seja, trabalhar pelo bem

comum e para o desenvolvimento

da sociedade. Contudo, o

que sabemos e vemos todos

os dias em nossos meios de

comunicação, tão eficientes no

mundo globalizado, é uma busca

insana por prazeres pessoais.

Muitos têm se perdido no

tenebroso caminho da corrupção,

tornando-se reféns de um sistema

corrompido e pecaminoso, que

torna homens bons alvos fáceis

de perseguição. E por quê? Por

eles se recusarem a fazer parte do

sistema.

Regidos pelo bel-prazer e não

para que tenhamos um tratamento

proposto que possa sanar o mal

presente.

Em se tratando dos processos

de administração pública no

Brasil, há tempos sabemos que

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nao o é. Antes de tudo, é a única

forma de não vermos mais o que

temos visto todos os anos em

nossa Pátria amada mãe gentil, a

qual chamamos de Brasil.

no dia que se levantar uma nova

estirpe de homens e mulheres

apegados à justiça, nossa nação

será exaltada. Tal conceito pode

até parecer utópico; entretanto,

pelo senso de responsabilidade

social para o qual foram eleitos,

os representates do legislativo e

execultivo ignoram a seriedade

das ações que precisam compor

e realizar para que sociedade

viva e sobreviva. Eles pecam por

permitirem que bairros inteiros

sejam construídos em áreas de

extremo risco, culminando em

desgraças irreparáveis. Depois

discursam e se defendem,

dizendo que não é possível

administrar a crise. Tudo isso

é fruto de um círculo vicioso

de mandatos, que começam

e terminam executados por

homens e mulheres que não

sabem mais qual é o alvo de seu

trabalho publico-administrativo.

Simplesmente, tudo o que

querem é estar no poder.

Enquanto nossos líderes

depositarem na prática do

pecado sua realidade de vida,

o povo sofrerá o opróbrio. Mas

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T R A G É D I A

Depois da maior catástrofe natural das últimas décadas, moradores da região serrana do Rio buscam na fé um novo alento para reconstruírem suas vidas

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

“Eu orei muito, e cavava can-

tando um hino de louvor a

Deus”, conta o gerente de

hotel Wellington Guimarães, que como-

veu o país inteiro ao relatar a maneira

heroica de como conseguiu salvar o

pequeno Nicolas, de apenas sete meses,

que permaneceu soterrado por mais de

quinze horas – juntos, pai e fi lho sobre-

viveram a dois deslizamentos de terra

ocasionados pelas fortes e intermitentes

chuvas que devastaram a região serrana

do Rio, no mês de janeiro. Em poucos

chorava, mas eu não tinha como fi car

perto dele por estar com as pernas pre-

sas. Então, comecei a gritar por socorro

até que um rapaz ouviu e foi chamar o

bombeiro.” Logo em seguida, um se-

gundo monte de terra desabou sobre o

que restava da casa, soterrando-os ainda

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dias, a geografi a de uma das mais belas

áreas verdes do Estado se modifi cou

completamente, e a exuberância ecoló-

gica de antes cedeu lugar a um cenário

de dor e destruição. Justamente por

causa das chuvas, Wellington havia

decidido passar a noite na casa da sogra,

com a mulher e o fi lho. Todos dormiam

no mesmo quarto quando o morro veio

abaixo. “De repente tudo parou, foi

coisa de segundos e nem deu tempo de

gritar. A Renata e a Fátima – esposa e

sogra, respectivamente – faleceram na

hora; inclusive, uma perna minha estava

meio presa nela”, relembra. “Nicolas

IMAGENS DA TRAGÉDIA: catástrofe alterou a geografi a de uma das mais

belas regiões do Estado

Rio: um século marcado por enchentes e deslizamentos

Março de 1906 Em vinte e quatro horas choveu o equivalente a um mês inteiro, fazendo transbordar o Canal do Mangue – maior obra de saneamento construída na época do Império – e causando inundações em praticamente toda a capital. Houve também desmoronamentos com mortes nos morros de Santa Tereza, Santo Antônio e Gamboa.

Abril de 1924 Novamente o Canal do Mangue transborda, provocando inundação

em diversos bairros, incluindo a Praça da Bandeira. Barracos desabaram no Morro São Carlos, causando mortes e deixando muitos feridos.

Janeiro de 1940 Chuvas causam alagamentos em quase toda a cidade, além de mortes por desabamentos no bairro de Santo Cristo.

Janeiro de 1942 Inundações, mortes e desabamentos no Morro do Salgueiro, deixando várias pessoas soterradas.

Fé que Fé que reconstróireconstrói

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Janeiro de 1962 Temporal faz novamente o Canal do Mangue transbordar e alagar diversos pontos da cidade. No saldo, dezenas de mortes e centenas de desabrigados.

Janeiro de 1966Enchentes e deslizamentos em vários pontos do Estado, incluindo a região serrana, fazem 250 mortos e deixam mais de 50 mil desabrigados.

Janeiro de 1967Deslizamento no bairro das Laranjeiras faz mais de 200 vítimas fatais, e deixa centenas de feridos.

Uma casa e dois edifícios são soterrados entre as ruas Belizário Távora e General Glicério. Além da capital, outras cidades do Estado são atingidas, deixando, entre feridos e desabrigados, mais de 25 mil pessoas.

Dezembro de 1982 Transbordamento do Rio Faria-Timbó causa inundações em várias ruas, além de deslizamentos e mortes no Morro Pau da Bandeira.

Março de 1983 Forte temporal durante a madrugada provoca desabamento de casas e

mais e os homens que tentavam resgatá-

los. Cavando, ele conseguiu chegar até

Nicolas e, para manter sua boquinha

molhada, juntava saliva na própria boca

para, depois, passar ao fi lho. Ao perce-

ber o barulho produzido pela equipe de

resgate e um feixe de luz reluzir sobre

a madeira, fi nalmente ambos foram

salvos. “Ele saiu feliz. E, dentro da

ambulância, estava conversando”, sorri

o pai, um sorriso de celebração à vida.

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Mesmo tendo que carregar para sempre

as cicatrizes de uma tragédia familiar,

ele não deixa de agradecer a Deus. “O

Senhor é bom em todas as coisas, e a

gente sempre tira algo de positivo em

tudo o que acontece. Para quem confi a,

esse é o mistério da fé”, resume.

O episódio aconteceu em Nova Fri-

burgo, uma das principais cidades da

região fl uminense, mas também poderia

ter sido em Teresópolis, Petrópolis, Su-

midouro, São José do Vale do Rio Preto,

enfi m, em qualquer dos municípios

atingidos por uma das maiores, senão

a maior, catástrofe natural da história

do país. Somados, os dados impressio-

nam: de acordo com a Defesa Civil, até

o fechamento dessa edição, o número

de mortos na região ultrapassava 900

– quase metade em Nova Friburgo. Isso

sem contar o “ainda” grande número de

desaparecidos, mais de 400 conforme

balanço elaborado pelo Programa de

Identifi cação de Vítimas (PIV), divul-

gado pelo Ministério Público Estadual,

que espera, dentro de um mês, fechar

seu relatório e zerar a lista .

Diferente de fi lmes catástrofes pro-

duzidos aos montes pelo cinema norte-

americano que sempre coloca o homem

em confl ito com a natureza, ali nada

havia de fi cção; pelo contrário, tratava-

se de uma realidade brasileira, concreta,

sem maquiagens e efeitos especiais, e

com milhares de personagens também

reais. Diante disso, uma comoção gene-

ralizada tomou conta do povo brasileiro

que, durante semanas, acompanhou o di-

fícil trabalho de resgate aos sobreviven-

tes – algumas áreas fi caram totalmente

isoladas – e acomodação dos milhares

de desabrigados. “Foi algo totalmente

fora do normal, vários deslizamentos de

terra em lugares diferentes e numa mes-

ma madrugada. Alguns bairros foram

varridos do mapa, num cenário de hor-

SOLIDARIEDADE: DEZENAS DE VOLUNTÁRIOS trabalham na distribuiçãode mantimentos na região serrana

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ror, com as pessoas ‘perdidas’ nas ruas,

gente chorando por todos os cantos,

bombeiros, ambulância e helicópteros”,

conta José Barbosa Junior, estudante de

Teologia e membro da Primeira Igreja

Batista em Teresópolis.

Confl itos de interesse e ajuda hu-

manitária – Liberação do Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),

e criação de uma espécie de benefício

social no valor de R$ 500 a ser pago em

12 prestações a cerca de 7 mil famílias

que perderam suas casas, são algumas

das medidas tomadas pelos órgãos pú-

blicos em favor das vítimas das enchen-

tes na região serrana. Soma-se a isso a

ajuda internacional – o Banco Mundial,

por exemplo, propôs-se a conceder um

empréstimo de US$ 485 milhões ao go-

verno carioca, dinheiro que deverá ser

destinado às áreas de habitação e geren-

ciamento de desastres.

A dúvida, no entanto,

é se essa dinheirama

toda, oriunda dos co-

fres públicos e orga-

nismos internacionais,

será mesmo bem ad-

ministrada e repassada

a quem realmente

necessita. “Ainda há

uma suspeita de que

o Poder Público esteja

encobrindo o número

de mortos para que as

prefeituras continuem administrando

as verbas destinadas às vítimas. Pois,

quem visita os locais afetados como eu

visitei pessoalmente, sabe que aquilo

que o Brasil viu na televisão não chega

a 10% do que, de fato, aconteceu”, acu-

sa o jornalista Leandro Rufi no Marques,

membro da Igreja Missionária Evan-

gélica Maranata, do Rio de Janeiro. A

população de Teresópolis também fi cou

com um pé atrás com o prefeito, que

é evangélico, depois de divergências

desencadeadas entre a prefeitura e o

voluntariado, justamente num momen-

to em que sociedade mais precisava

da união de esforços. De acordo com

um grupo de voluntários, os entraves

aconteceram depois que o prefeito pas-

sou a exigir autorização para a saída de

carregamentos do galpão montado pela

Cruz Vermelha, enquanto que a entida-

de tentava driblar certas burocracias,

julgando-se preparada para realizar um

trabalho mais direcionado. A prefeitura

nega.

Brigas à parte, a maior ajuda veio

mesmo do povo brasileiro que, sempre

solidário com as causas dos menos

favorecidos, mais uma vez ensinou

ao mundo o verdadeiro signifi cado da

palavra “solidariedade”. Enquanto que

caminhões e mais caminhões carrega-

dos de alimentos, roupas e mantimen-

tos de higiene pessoal não paravam

de chegar aos postos de redistribuição

improvisados pelas prefeituras locais,

dezenas de voluntários se juntavam

às equipes ofi ciais de socorro; entre

eles, muitos evangélicos também ar-

mortes em Santa Tereza. Rios e canais em Jacarepaguá transbordam, deixando dezenas de desabrigados.

Fevereiro de 1987 Enchentes na região serrana – Petrópolis e Teresópolis –, e na capital resultam na morte de quase 300 pessoas e deixam 20 mil desabrigadas.

Fevereiro de 1988Dia 1ºEnchentes em Petrópolis e na baixada fl uminense. No saldo: 277 mortos e 2 mil desabrigados. Dia 12 Uma semana de chuvas causa deslizamento no Morro Dona Marta, destruindo barracos, causando mortes e deixando centenas de desabrigados.

Dia 19 Enchente e deslizamentos no Rio de Janeiro fazem 289 mortos, além de centenas de feridos e milhares de desabrigados.

Janeiro de 1999A capital e vários municípios da região serrana sofrem com as enchentes. Foram registradas 41 mortes, além de dezenas de feridos e centenas de famílias desabrigadas.

Janeiro de 2000Enchente atinge as cidades de Petrópolis, Teresópolis, Casimiro de Abreu e Barra Mansa. No total: 22 mortes, e mais de uma centena de feridos.D

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DIVERSOS BAIRROS, COMO O CALEME, fi caram completamente devastados pela força das águas

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cer ao ter parte da casa arrancada pela

violência das pedras que rolavam num

dos distritos da cidade. “Ele disse que

o que mais lhe doía era não ter o corpo

da mãe para enterrar”, continua, des-

crevendo-o como um senhor de mãos

calejadas e pele marcada pelo sol, e

que chorava feito uma criança. “No

Natal, a mãe havia reunido os fi lhos e

falado que o dia de sua morte se apro-

ximava. Contudo, sabia que estava

nas mãos de Deus e de Jesus Cristo,

em quem acreditava desde a mocida-

de”, acrescenta. O que parecia uma

“mensagem” de despedida acabou se

confi rmando algumas semanas mais

tarde. Aquela foi a última vez que Seu

Joel viu a mãe com vida. “Para mim

o maior milagre são os vivos. Olhar

para os fi lhos e a mulher todos os dias

se tornou um verdadeiro milagre coti-

diano”, conclui Leandro Marques.

regaçavam as mangas, demonstrando

que tão importante quanto o alimento

espiritual defendido nas igrejas são as

questões de ordem mais práticas, como

o compromisso social e a ajuda huma-

nitária. “Desde o primeiro dia após

a tragédia, nós nos empenhamos em

socorrer o povo serrano, lançando mão

de toda estrutura de nossa igreja, como

transporte, funcionários, espaço para

armazenamento e recursos fi nanceiros”,

enumera Leandro Marques. Integrante

da Missões Urbanas, ministério focado

em evangelização e que engloba inú-

meras atividades socioculturais, ele só

lamenta pelas igrejas demonstrarem

maior empenho evangelístico somente

em situações mais trágicas. “Triste é

verifi car que é preciso uma catástrofe

de dimensões escatológicas para que

a igreja se volte de forma empenhada

para aqueles que deveriam ser sempre

seu maior alvo de interesse: os perdidos,

a comunidade à volta, o indivíduo; pre-

ponderantemente o indivíduo em toda a

sua complexidade e em todas as suas

difi culdades”, ressalta.

O milagre da vida – Enquanto uns,

indiretamente, defendem o proseli-

tismo, outros preferem não agregar a

causa evangelística à social. Especial-

mente em Teresópolis, onde mais se

concentrou seu trabalho voluntariado,

José Barbosa Junior não classifi cou

como proselitista o papel das entida-

Fevereiro de 2003 Novamente uma enchente atinge municípios da região serrana e da baixada fl uminense, causando mortes e deixando milhares de desabrigados.

Janeiro de 2010 Encosta de terra na Praia do Bananal, na Ilha Grande, cede e deixa mais de 40 mortos – a maioria, turistas que passavam o reveillon em Angra dos Reis. Deslizamento também no Morro da Carioca, localizando nas proximidades do centro histórico da cidade, onde 11 pessoas morreram e centenas fi caram desabrigadas.

Janeiro de 2011Diversos municípios da região serrana foram devastados pela pior de todas as catástrofes naturais registradas no Estado. Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis foram as cidades mais atingidas. Entre mortos e desaparecidos, o número deve passar de 1300, de acordo com a Defesa Civil; milhares de desabrigados começam a reconstruir suas casas e recomeçar suas vidas.

Fonte: Departamento do

Corpo de Bombeiros do

Rio de Janeiro

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des evangélicas na ajuda

aos necessitados. Segundo

ele foi um trabalho de amor

ao próximo, visando cuidar

das pessoas sem a intenção

clara de “ganhá-las” para

a igreja. “Não sei bem o

que foi abordado nos cul-

tos pelo meu pastor, pois

passei muitos domingos

auxiliando e guiando voluntários. Só

sei que muitas igrejas aqui serviram

como abrigo para os desalojados, além

de funcionarem como postos de arre-

cadação e distribuição de donativos.

Visitei alguns desses abrigos e tes-

temunhei o bom trabalho realizado”,

atesta. Apesar de seu bairro, Barra do

Imbuí, não ter sido atingido, a não ser

por dois deslizamentos sem vítimas e

o desabamento da casa de um diáco-

no batista, o evangélico ainda traz na

lembrança detalhes de histórias tristes

e de superação, como a do Seu Joaci:

“No terreno onde ele morava havia

cinco casas, todas da mesma família.

Somente uma fi cou de pé e, como úni-

co meio de se salvarem, todos – inclu-

sive um de seus irmãos, de pernas am-

putadas – tiveram que fi car no telhado,

debaixo de água. O esforço para subi-

rem o defi ciente ao telhado, no escuro

e sob fortes chuvas, foi enorme, mas

lhe valeu a vida”, relata. Junior conta

também que Seu Joel, fi lho de uma se-

nhora de 90 anos, viu a mãe desapare-

O GINÁSIO PEDRÃO, EM TERESÓPOLIS: abrigo seguro para

centenas de desabrigados

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I N T E R N A C I O N A LN T E R N A C I O N A L

À sombra do chadorÀ sombra d38

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À sombra do chadora do chadorMARCOS STEFANO COUTO

Movimentos populares se alastram Movimentos populares se alastram pelos países árabes e desafi am antigos pelos países árabes e desafi am antigos regimes ditatoriais, com consequências regimes ditatoriais, com consequências imprevisíveis e o medo de que, em vez imprevisíveis e o medo de que, em vez de democracia, produzam ditaduras de democracia, produzam ditaduras

comandadas por radicais islâmicos nos comandadas por radicais islâmicos nos mesmos moldes do Irãmesmos moldes do Irã

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LIBERDADE E VITÓRIA DA DEMOCRACIA, pelo menos na visão ocidental: nova conjuntura social e política no mundo árabe ainda está

longe de ser consolidada PE

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“Livre! Finalmente, livre! O

Egito está livre!” Os gri-

tos que tomaram conta da

multidão que ocupava a Praça Tahrir,

no Cairo, na noite daquela sexta-feira,

11 de fevereiro de 2011, denotavam um

misto de euforia e alívio. Não era para

menos. Há quase três semanas, cerca

de 1 milhão de pessoas se reuniam

diariamente ali, exigindo mudanças

no governo e no país. Nesse tempo,

enfrentaram grupos contrários, pe-

dras, bombas incendiárias, disparos

de armas de fogo. Mas mantiveram-

se fi rmes. Algumas vezes, apareciam

homens montados em cavalos ou ca-

melos. Com chicotes e pedaços de pau,

partiam para cima dos manifestantes,

que tentavam derrubá-los. Quando

conseguiam, davam o troco, espancan-

do-os. Temia-se a todo o momento que

se repetisse o desfecho dos protestos

da Praça da Paz Celestial, ocorridos na

China em 1989, quando manifestações

pacífi cas contra o regime comunista

terminaram em um banho de sangue.

Como no passado, agora também o

nome do local em que estavam soava

de modo apreensivamente paradoxal:

tahrir é “liberdade”, em árabe. Só que

dessa vez, a história seria diferente. E

mudou no momento em que se anun-

ciou a notícia de que Hosni Mubarak, o

ditador que controlava a nação há três

décadas, fora substituído provisoria-

mente pelos militares.

A empolgação popular justifi cava-

se plenamente. Pelo menos dois terços

dos 84 milhões de egípcios nunca havia

vivido sob outro regime. Sem falar nas

eleições já marcadas para setembro,

prenúncio de uma tremenda vitória

da democracia. Foi dessa maneira que

grande parte da imprensa do Ocidente

recebeu as novas. E logo tratou de

anunciar que se tratava de um episódio

histórico, capaz de mudar a conjuntura

social e a geopolítica de todo o Norte

da África e Oriente Médio, região nor-

malmente retratada como um verdadei-

ro barril de pólvora prestes a explodir,

berço do terrorismo religioso do século

21. Houve até quem falasse em um

processo lento mas inevitável, e citasse

outros casos na história para prever a

abertura. Será possível?

Caso aconteça, tal qual uma alvis-

sareira profecia que se cumpre, terá

um signifi cado de revolução sem pre-

cedentes. Desde que Moisés livrou os

israelitas da opressão do faraó, liberda-

de e Egito são palavras que raramente

combinam. E agora tal mudança pode

se tornar a melhor resposta para o cla-

mor de 11 milhões de cristãos egípcios,

trazendo maior liberdade de expressão

e de religião, mesmo a quem queira

mudar de crença, algo impensável

atualmente. O problema é que eleger

um governo pelo voto majoritário é

realmente possível no Egito – o que

não signifi ca democrático. Passadas

as comemorações, mesmo os mais oti-

mistas analistas passaram a admitir que

enquanto o fi m das ditaduras se dá num

ritmo parecido em diversos lugares, o

nascimento de novos governos varia

de acordo com cada país ou região.

MANIFESTAÇÃO SILENCIOSA: em meio a tanques de guerra e

repressão militar, egípcios oram pela saída de Mubarak do poder

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E hoje, no Egito, a mais evidente e

imediata alternativa de poder é o fun-

damentalismo islâmico.

Revolução de Jasmim – Essa conclu-

são choca mais quando se sabe que as

primeiras manifestações não tiveram

fanáticos brandindo o Alcorão nas ruas

e gritando palavras de ordem contra o

Grande Satã, modo como normalmente

alguns religiosos tratam os Estados Uni-

dos. O estopim das revoltas foi o gesto

trágico do jovem Mohamed Bouazizi,

de 26 anos, no último dia 17 de dezem-

bro, em Sidi Bouzid, região central da

Tunísia. Pequeno comerciante, o rapaz

sustentava a família vendendo frutas e

verduras na rua, até o dia em que teve

seus vegetais confi scados por policiais

que queriam ganhar propina. Ignorado

em suas reclamações pelas autoridades

e desesperado, ateou fogo ao próprio

corpo como forma de protesto.

Ao que tudo indica, não houve ne-

nhuma motivação ideológica por trás

do ato, mas um grito de dor contra as

difi culdades de se ter uma vida digna;

ou, a autoimolação de um entre milhões

de desempregados tunisianos. Gente

que se sentia sem perspectivas de fu-

turo diante do fracasso econômico e de

um regime despótico e extremamente

corrupto. Na região, países controlados

há anos por autocracias têm metade de

suas populações com menos de 30 anos.

Mas desses jovens, 56% acessam diaria-

mente a internet. Facilitados pelas novas

tecnologias, as primeiras manifestações

de indignação ganharam corpo. Boua-

zizi tornou-se um mártir e, com apoio

de sindicatos e intelectuais, milhões

ganharam as ruas da capital Túnis e de

outras cidades pedindo trabalho, justiça

e liberdade. “Se a revolta tivesse caráter

estruturado, provavelmente seria esma-

gada pelo regime. Mas os governantes

não previram que os insurgentes usassem

a internet como fator de comunicação e

mobilização, apesar do mesmo recurso

ter dado certo já no Movimento Verde,

um conjunto de manifestações contra a

teocracia no Irã, em 2009”, explicou El

Alaoui Hicham Ben Abdallah, do Insti-

tuto de Pesquisas e de Estudos sobre o

Mundo Árabe e Muçulmano, ao jornal

Le Monde Diplomatique. Em poucas

semanas, o movimento conhecido como

Revolução de Jasmim apeou do poder o

ditador Zine El Abidine Ben Ali. E suas

faíscas atearam fogo sobre a região já

superaquecida.

“A história se constrói a cada dia, mas

há momentos especiais e estamos diante

de um deles. Nas insurreições das nações

árabes, a juventude está contestando

de algum modo o sistema religioso e

político. Espero que essas bandeiras de

liberdade sejam fi ncadas sobre o sistema

centralizador e autoritário. E nós, oci-

dentais, não podemos fi car indiferentes.

Devemos exigir igrejas autônomas em

estados autônomos”, analisa o professor

Jorge Pinheiro, doutor em Ciências da

Religião pela Universidade Metodista de

São Paulo. De acordo com ele, os movi-

mentos que tomaram as ruas são autênti-

cos, mas só trarão resultados práticos se

realmente mudarem os governos e não

apenas trocarem seus governantes.

No Egito, esse processo teve início

quando o faraó Mubarak começou a

virar múmia com o apoio virtual dos

tunisianos. Ao divulgarem as manifes-

tações na nação vizinha, as redes sociais

impulsionaram a juventude e se trans-

formaram numa das principais formas

de mobilização para levar as massas às

ruas do Cairo. Publicando mensagens e

fotos pelo Twitter e pelo Facebook ou

postando vídeos no Youtube, a moçada

enviava notícias das manifestações para

os amigos e marcava seus próximos

compromissos. Logo após um dos pri-

meiros protestos na Praça Tahrir, gru-

pos pró-Mubarak investiram contra os

manifestantes e iniciaram uma batalha

de quase seis horas, com direito a pedra-

das, disparos de bombas incendiárias e

tiros. Não demorou muito, os internautas

passaram a trocar experiências sobre

como proceder em confl itos violentos

e incentivos para que ninguém faltasse

no próximo ato do movimento. Quando

percebeu o que estava acontecendo, o

governo tentou bloquear as conexões de

internet no país. Não adiantou. Com o

apoio de computadores estrangeiros, até

europeus, as informações espalhavam-se

como vírus.

Entre os milhares de manifestantes

que exigiam mudanças, havia muitos

cristãos. O Egito possui a maior Igreja

cristã entre as nações árabes, que conta

com mais de 11 milhões de fi éis, mas

pouca liberdade religiosa. Para eles, a

questão não era apenas depor um ditador,

mas lutar por uma democracia em todas

as suas expressões. Democracia que não

impeça as igrejas de construírem seus

templos com portas voltadas para a rua, e

O XEQUE YUSUF AL QARADAWI, à direita, ao lado do ex-primeiro ministro

malasiano Anwar bin Ibrahim: “O Islã vai conquistar a Europa e a América”

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permita que um muçulmano conheça em

praça pública a mensagem evangélica,

não pagando com prisão, com a expulsão

de casa ou com a própria vida, caso quei-

ra mudar de lado. “A princípio, fi quei

surpreso com o movimento. Estive lá em

novembro e não havia qualquer indício

de ebulição. Trata-se de uma revolução

tecnológica e acredito que não haverá

volta”, diz o pastor Carlos Alfredo de

Sousa, secretário-geral do escritório bra-

sileiro da Missão Portas Abertas.

Em outras palavras, a própria história

do Oriente Médio está sendo reescrita.

Sousa confi rma que o processo não é

simples. Muito menos pode ser com-

parado superfi cialmente com a queda

dos países comunistas da Cortina de

Ferro em fi ns dos anos 1980 e começo

de 90. Se existem coincidências com o

que houve às ex-repúblicas soviéticas,

como a insatisfação com as difi culdades

econômicas, as injustiças sociais e a

concentração de riquezas nas mãos de

poucos, fatores capazes de fazer com

que os cristãos formassem cordões de

isolamento na Praça Tahrir para proteger

seus colegas muçulmanos que oravam,

também há enormes diferenças. A pri-

meira, boa, é o grau de desenvolvimento

que os países árabes alcançaram após o

início maciço da exploração do petróleo

e que torna a juventude mais bem es-

clarecida. A segunda, péssima, é que ao

contrário da Europa Oriental, onde uma

ideologia caía, na África e no Oriente

Médio, uma ideologia surge com toda

a força na pregação dos grupos radicais

de que é tempo de implantar as leis islâ-

micas em toda a região. “Alguns desses

grupos aproveitaram o movimento para

fazer ataques pontuais aos cristãos.

Nossa base foi um dos alvos e também

algumas igrejas no interior. Acredito que

os egípcios precisam se mobilizar hoje

para defender um estado laico. Essa é a

oportunidade”, completa o líder da Por-

tas Abertas. Se dará certo ou não é uma

grande incógnita.

Lawrence da Arábia – Antes mesmo

que descobrissem o ouro negro escon-

dido sob a fi na areia dos desertos ára-

bes, as grandes potências ocidentais já

cometiam o pecado de cobiçar a região.

Na época da I Guerra Mundial (1914 a

1918), os europeus precisavam garantir

o domínio inglês sobre o Canal de Suez,

construído em 1869 e que permitiu a

navegação entre Europa e Ásia sem a

necessidade de contornar a África. A

estratégia utilizada foi unir as diversas

Atentados, sequestros, amea-ças de morte, assassinato de

missionários e nativos que abra-çam o cristianismo. Perigo para quem guarda a fé existe em todos os lugares, mas em nações onde há perseguição religiosa, é muito maior. Isso fi ca claro para quem acompanha o trabalho da agência missionária Portas Abertas. No último dia 5 de janeiro, a entidade publicou sua nova Classifi ca-

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PELO FUTURO DO EGITO: gritos eufóricos de liberdade ecoaram da multidão que tomou conta da Praça Tahrir, no Cairo

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ção de Países por Perseguição, um ranking de 50 países que mais perse-guem os cristãos. A surpresa fi cou por conta da presença das nações muçul-manas. Dos primeiros colocados no ranking, oito são de maioria islâmica. Se forem analisados os 30 que mais perseguem, em 23 deles a crença em Maomé é majoritária.

O maior perseguidor ainda é a comunista Coreia do Norte, no topo do ranking há nove anos. Depois

1. Coreia do Norte

2. Irã

3. Afeganistão

4. Arábia Saudita

5. Somália

6. Maldivas

7. Iêmen

8. Iraque

9. Uzbequistão

10. Laos

11. Paquistão

12. Eritreia

13. Mauritânia

14. Butão

15. Turcomenistão

16. China

17. Catar

18. Vietnã

19. Egito

20. Chechênia

21. Comores

22. Argélia

23. Nigéria (norte do país)

24. Azerbaijão

25. Líbia

26. Omã

27. Mianmar

28. Kuweit

29. Brunei

30. Turquia

31. Marrocos

32. Índia

33. Tadjiquistão

34. Emirados Árabes Unidos

35. Sudão (norte do país)

36. Zanzibar (ilha da Tanzânia)

37. Tunísia

38. Síria

39. Djibuti

40. Jordânia

41. Cuba

42. Belarus

43. Etiópia

44. Palestina

45. Barein

46. Quirguistão

47. Bangladesh

48. Indonésia

49. Sri Lanka

50. Malásia / Rússia

Perseguição severa Opressão Limitações severas Algumas limitações Alguns problemas

1

2

4

5

3

7

13 10

930

19

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31 37

22

34

23

35

43

12

26

17

84438

24 15

25

36

49

11

46

33

32

16

4727 18

48

29

39

21

14

650

4028

Onde seguir as palavras do Senhor Jesus pode custar a própria vida

Países em que cristãos mais sofrem perseguição

50

45

20

pe rseguição religiosa no mundo muçulmanovem o Irã, cujo governo infl uenciado pelos aiatolás tem como principal meta barrar o crescimento das igre-jas domésticas. No terceiro lugar, o Afeganistão, onde a prática da fé sobremodo difi cultada só acontece de forma clandestina. Já na quarta colocação, a Arábia Saudita. Assim como em outras nações árabes, quem nasce no país é proibido de mudar de religião. Não pode se converter ao cristianismo.

Outro caso alarmante é o do Ira-que, que saltou da 17ª posição para a oitava. Um dos piores massacres de cristãos em todo o mundo no ano de 2010 aconteceu por lá, quando radicais invadiram uma catedral em Bagdá e assassinaram 58 fi éis. Restam pouco mais de 300 mil cris-tãos no país, e suas famílias são duramente perseguidas por milícias que não aceitam o fato deles não praticarem a fé islâmica.

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tribos contra um inimigo comum, o Im-

pério Turco-Otomano, ao qual os árabes

estavam submissos desde o começo do

século 16. Com a ajuda do lendário di-

plomata, militar e arqueólogo Thomas

Edward Lawrence – o Lawrence da

Arábia –, admirador confesso do deser-

to e do estilo de vida beduíno, consegui-

ram o elo que faltava para aproximar os

rebeldes árabes das forças britânicas,

derrotar os turcos e, claro, dividir o que

sobrasse entre ingleses e franceses.

Desde então, ética não foi uma das

conquistas da política externa das gran-

des potências. Não dá para esquecer

que, apesar dos constantes pronuncia-

mentos públicos do presidente norte-

americano Barak Obama, prometendo

sanções econômicas em conjunto com

a União Européia e saudando a queda

de ditadores, as autocracias só sobrevi-

veram durante tantas décadas na região

graças à colaboração de seu país. Dés-

potas árabes com tons mais laicos, de

terno, gravata ou farda, foram cultiva-

dos a partir da segunda metade do sécu-

lo passado pelos ocidentais com repas-

ses bilionários e troca de tecnologias,

tanto na agricultura quanto em apoio

para desenvolvimento de armamentos.

Ofi cialmente, tudo é negado. Na teoria,

o objetivo é produzir governos simpáti-

cos ao Ocidente e conter o radicalismo

islâmico. Na prática, o alvo é impedir

que chegue fogo aos barris. Nesses

tempos de revoltas nas nações árabes, o

petróleo tem alcançado seu valor mais

alto em todos os tempos, ultrapassando

os 114 dólares por barril.

Os generais que tomaram o poder

no Egito, após a queda de Mubarak,

ainda são em boa medida infl uenciados

pelos Estados Unidos. Para as minorias

religiosas isso é um alento. A dúvida é

o que acontecerá ao país daqui a seis

meses, quando acontecerem as eleições.

Para desgosto de quem acha que Face-

book não combina com intolerância, as

palavras do líder supremo do Irã, Ali

Khamenei, em recente discurso, soam

preocupantes: “Os inimigos estão afi r-

mando que os movimentos populares

no Egito, na Tunísia e em outras nações

não são islâmicos. Claro que são e pre-

cisam se consolidar”.

Não se trata de uma bravata. Apesar

das ruidosas manifestações das últimas

semanas terem começado de forma

espontânea e sem bandeiras religiosas,

em geral, têm chegado ao seu término

com outros tipos de heróis. Um exem-

plo emblemático vem do próprio Egito.

Dias após a queda de Mubarak, na festa

de comemoração da vitória, na mesma

Praça Tahrir, um palco foi armado para

discursos. Esperava-se que o principal

nome do dia fosse o do executivo do

Google, Wael Ghonim, autor de twe-

ets e de páginas nas redes sociais que

mobilizaram muita gente durante os

protestos, mas ele foi barrado por segu-

ranças. O único a falar foi o xeque Yusuf

Al Qaradawi, líder islâmico e membro

da Irmandade Muçulmana, que voltava

ao país de um exílio de 50 anos. Sem

meios termos, ele infl amou ali cerca de

1 milhão de pessoas.

Pode parecer um abuso, mas está

longe de ser um episódio isolado. Cria-

da em 1928 com a meta de instalar um

estado regido pela lei islâmica, a sharia,

a Irmandade Muçulmana é atualmente a

principal alternativa de poder no

Egito. E não deverá desperdiçar

essa oportunidade, já que desco-

briu nos mecanismos democráti-

cos um ótimo instrumento para

implantar sua agenda liberticida.

Com milhões de seguidores,

sobretudo entre os pobres, que

representam metade dos egípcios, os

fundamentalistas islâmicos tentam

desestabilizar o regime há tempos. Proi-

bidos em 1954, nos últimos tempos, ha-

viam sido apenas tolerados e muito bem

controlados. Mas nas eleições de 2005,

seus seguidores foram autorizados a se

candidatar de forma independente para

cargos legislativos. Na época, elegeram

88 dos 453 parlamentares da Assem-

bleia Nacional.

À sociedade, a Irmandade garante ter

abandonado a violência armada desde

o fi nal dos anos 1970. Só que continua

usando do expediente em atentados,

confrontos de rua e sabotagens, como

a tentativa de destruir trechos de gaso-

dutos que levam combustíveis a Israel e

a Jordânia, ocorrida no começo de 2011.

Uma duplicidade que também pode ser

vista em seu discurso. Diante das lentes

e câmeras ocidentais, a entidade se ven-

de como democrata e reformista, conde-

nando ataques terroristas e falando em

diálogo entre as religiões. Em particular,

rejeita esse verniz moderno para estimu-

lar os 25 milhões de seguidores que diz

ter, para “tomar o poder” e “aterrorizar

os inimigos”. Caso vençam a próxima

batalha, a das urnas, pode-se esperar

tempos de difi culdades e perseguições

contra os cristãos. E que se cuide, Israel.

Profecias bíblicas – Até a queda de

Mubarak, Israel tinha no Egito um de

seus principais parceiros no Oriente

Médio e uma das poucas nações da

região a manter uma política amistosa e

de paz. Se controlado, a partir de agora,

pela Irmandade Muçulmana, grupo con-

trário ao Estado judeu e um forte apoia-

dor dos terroristas Hamas e Hezbollah,

é de se esperar uma volta a um passado

não distante. Desde a fundação de Is-

rael, ainda na década de 1940, o Egito

foi um de seus mais ferozes opositores.

Em 1948, foi um dos líderes da Guerra

Árabe-Israelense; em 67, da Guerra dos

Seis Dias; e, em 73, da Guerra do Yom

Kippur. A beligerância só foi abandona-

da em 78, com um acordo de paz costu-

rado com a ajuda dos Estados Unidos.

Diante da nova mudança, que pare-

ce ser quase inevitável, alguns evan-

gélicos recorrem às profecias bíblicas

A REVOLUÇÃO DE JASMIM que derrubou o ditador tunisiano (foto) fomentou as manifestações populares no Egito e em outras nações árabesD

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para explicar esse tempo de incertezas.

Segundo interpretações de passagens

como Zacarias 12.2-3, 14.2 e Ezequiel

38, no fi m dos tempos haverá um mo-

vimento anti-Israel, envolvendo inclu-

sive os povos islâmicos. Essa aliança

seria inevitável, um prenúncio da volta

de Jesus Cristo. É a tese de que Israel

seria uma espécie de relógio divino ou

uma fi gueira – para usar um exemplo

do próprio Filho de Deus – que permi-

tiria aos leitores da Bíblia identifi car

os sinais dos tempos. As Escrituras

não mencionam o Egito fazendo parte

dessa aliança, mas o mesmo não pode

ser dito do Iêmen. Controlado há 31

anos pelo ditador Ali Abdullah Saleh,

um dos mais fortes aliados norte-ame-

ricanos, o país tem uma das principais

bases de recrutamento de terroristas

da Al-Qaeda e seria o esconderijo de

Osama Bin Laden. Nem pode ser dito

também do pequenino mas riquíssimo

Bahrein, onde o controle da minoria

sunita é seriamente contestado pela

maioria xiita, mesmo grupo que detém

o poder no radical Irã.

Karl Marx já dizia que a história só

se repete como farsa. Para o bem de Is-

rael e do mundo, tomara que seja ver-

dade. Pois o que acontece hoje no Egi-

to e em outras nações islâmicas lembra

muito o que houve no Irã, em fevereiro

de 1979. Até aquele ano, o país era um

dos principais aliados de Israel e dos

norte-americanos. Mas, como agora,

uma forte onda de protestos populares

derrubou o xá Mohamed Reza Pahlevi.

Naquele tempo, o movimento ganhou

destaque por resistir à opressão ofi -

cial e ser formado por organizações

de esquerda e grupos trabalhistas.

“Foi um tempo em que todas as

esquerdas do mundo, da França

ao Brasil, saudaram a ditadura

corrupta e sangrenta do xá, aliado

do Ocidente”, conta a historiadora

e jornalista Márcia Camargos, uma

das autoras do livro O Irã Sob o

Chador – Duas Brasileiras no País

dos Aiatolás (Editora Globo).

Não demorou muito, no entanto, para

que logo se tornasse conhecida como a

revolução traíra. Enquanto o exército

assumia o poder e o xá e seus aliados

deixavam o país, o aiatolá Ruhollah

Khomeini voltava do exílio. Aos pou-

cos, ele foi ganhando força e formando

uma nova liderança com o apoio da

Guarda da Revolução Islâmica, milícia

religiosa ligada ao clero xiita. Em pouco

mais de dois meses, o Irã foi declarado

ofi cialmente uma república islâmica,

a primeira do tipo em todo o mundo.

As mudanças foram radicais: escolas e

universidades fecharam por dois anos

para adaptar seus currículos às leis islâ-

micas, os movimentos sociais passaram

a ser dominados e quem discordasse era

duramente perseguido. A ditadura pas-

sou a ser teocrática e, em pouquíssimo

tempo, o chador, tradicional véu negro

muçulmano, passou a ser obrigatório

para todas as mulheres que andassem

pelas ruas.

Basta ler jornais e revistas nas últi-

mas semanas para se pensar que essa

visão é muito pessimista. Afi nal, todos

não estão falando em democracia? O

grande erro aí é querer entender uma

sociedade islâmica pensando com a ca-

beça de um ocidental. “Não existe es-

tado laico para os muçulmanos. A ideia

de que algum grupo de pessoas, algum

tipo de atividade, alguma parte da vida

humana está em qualquer sentido fora

da esfera da lei e da jurisdição religio-

sa é estranha para um muçulmano”,

explica o professor Bernard Lewis,

especialista em Estudos Orientais na

Universidade de Princeton e autor do

livro O Que Deu Errado no Oriente

Médio? (Jorge Zahar Editor).

Essa explicação consegue deixar

muito claro porque as nações árabes,

mesmo com enormes manifestações

populares e sob uma aura de demo-

cracia, vêm rejeitando o secularismo

exportado pelo Ocidente. Diferente

dos países cristãos, que há tempos

separaram o direito canônico do direito

civil, a lei da Igreja da lei do Estado, o

islamismo não faz nenhuma distinção

entre um e outro. “Para qualquer jovem

muçulmano só existe uma única lei, a

sharia, aceita como de origem divina

MUAMAR KADAFI, O “CACHORRO LOUCO” LÍBIO: “Que crise? Meu país está tranquilo, em paz”

PRINCIPAL ALTERNATIVA DE PODER no Egito, a Irmandade Muçulmana representa uma grande ameaça a Israel, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu

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1) MarrocosPopulação: 32,4 milhõesMuçulmanos: 98,9%Cristãos: 0,1%Situação: As manifestações foram reprimidas e proibidas pelo rei Mohammed VI, que tenta negociar uma abertura com a oposição. Mas as pessoas continuam saindo às ruas, com esparadrapos vermelhos à boca.

2) ArgéliaPopulação: 35,4 milhõesMuçulmanos: 97,9%Cristãos: 0,2%Situação: Na tentativa de suprimir as revoltas populares, o presidente Abdelaziz Butefl ika, no poder há 11 anos, suspendeu o estado de emergência em vigor desde 1992. Mas as manifestações continuam.

3) LíbiaPopulação: 6,5 milhõesMuçulmanos: 96,6%Cristãos: 3%Situação: O coronel Muamar Kadafi está por um fi o. A oposição se aproxima da capital Trípoli e domina boa parte do

país. O governo reage com violência e já há milhares de mortos.

4) SíriaPopulação: 22,5 milhõesMuçulmanos: 92,8%Cristãos: 5,2%Situação: O presidente Bashar Al Assad diminuiu impostos sobre alimentos básicos e produtos importados. Ao mesmo tempo, tenta cercear as redes sociais e reforçar suas tropas de segurança.

5) TunísiaPopulação: 10,4 milhõesMuçulmanos: 99,5%Cristãos: 0,2%Situação: O ditador Zine El Abidine Ben Ali foi o primeiro a cair, ainda em janeiro. O governo interino de Mohammed Ghannouchi, que servia a Ben Ali desde 1999, prometeu eleições para julho.

6) EgitoPopulação: 84,5 milhõesMuçulmanos: 87,1%Cristãos: 12,2%Situação: O presidente Hosni Mubarak foi deposto em fevereiro. Uma junta militar assumiu o governo,

está realizando reformas constitucionais e promete eleições para daqui a seis meses. O perigo é a articulação de radicais islâmicos.

7) Arábia SauditaPopulação: 26,2 milhõesMuçulmanos: 93%Cristãos: 4,3%Situação: Para impedir que os protestos alcancem o país, o rei Abdullah liberou um pacote de US$ 35 bilhões em investimentos sociais e aumentou o salário dos funcionários públicos em 15%.

8) BahreinPopulação: 791 milMuçulmanos: 83,6%Cristãos: 8,9%Situação: Os protestos são conduzidos pela maioria xiita, que representa 70% da população. Depois de reagir com força, o rei Hamad bin Isa recuou e negocia.

9) OmãPopulação: 2,9 milhõesMuçulmanos: 88,1%Cristãos: 4,4%Situação: Manifestações pacífi cas pedem reformas políticas e aumento salarial, mas não questionam a autoridade do sultão Qaboos, no poder desde 1970.

10) IêmenPopulação: 24,3 milhõesMuçulmanos: 99,1%Cristãos: 0,05%Situação: O ditador Ali Abdullah Sahel, há 32 anos à frente do país, reprimiu manifestações e provocou mortes. Deputados governistas têm renunciado como protesto por causa da violência.

Fontes:

Intercessão Mundial, de Patrick

Johnstone e Jason Mandryk (Missão

Horizontes)

Fundo de População das Nações

Unidas (Fnuap).

World Christian Encyclopedia /

World Christian Database

O mapa das revoltas

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e capaz de regular todos os aspectos

da vida, seja civil, comercial, criminal,

constitucional e as matérias religiosas

num sentido cristão, mais limitado des-

se termo”, completa Lewis.

Cachorro louco – O efeito dominó

que tomou conta do Oriente Médio e

do Norte da África nos últimos meses

não se resume aos levantes populares. A

prova de que os radicais islâmicos estão

dispostos a ocupar todo vácuo de poder

vem do Líbano, uma das poucas demo-

cracias da região. Lá, no fi m de janeiro,

o Hezzbolah, um dos grupos islâmicos e

terroristas mais conhecidos e que agora

é um partido político, reuniu as alianças

necessárias para assumir o poder. Para

isso, retirou-se da coalizão que sustenta-

va o governo do primeiro-ministro Saad

Hariri, sunita, em boicote a um relatório

da Organização das Naçoes Unidas

(ONU) que pode indiciar membros do

Hezzbolah pelo assassinato do pai de

Saad, Rafi k Hariri, em 2005.

Um dos últimos países a serem sa-

cudidos por ondas de protestos foi o

Marrocos. Mesmo com a proibição e

a tentativa de abertura política do rei

Mohammed VI, as pessoas voltaram às

ruas, dessa vez com fi ta vermelha sobre

a boca. As manifestações foram pacífi -

cas, mas a repressão, como em outros

locais, foi dura, deixando mais de uma

centena de mortos. Mesmo assim, não

conseguiu tirar os holofotes que estão

há algum tempo sobre a Líbia. Existe

um consenso de que o governo do ge-

neral Muamar Kadafi , que a si mesmo

deu o título de “cachorro louco” e que

ocupa o poder desde 1969, está muito

próximo do fi m.

Não que o excêntrico Kadafi e suas

túnicas coloridas e gostos duvidosos

faça falta. Apontado como um dos

mais terríveis tiranos da atualidade e

responsável por atentados e genocídios

em massa, sua saída seria um favor

à humanidade e ao povo líbio, que

realizou protestos e foi bombardeado

a mando do tirano como retribuição.

Mas sem Forças Armadas fortes, teme-

se que aconteça no país o que houve no

Afeganistão após a retirada soviética,

em 1989, quando o Talibã assumiu o

poder. Ou que tenha o mesmo destino

do Iraque, depois da queda de Saddam

Hussein, em 2003. Milícias transfor-

maram a nação em um campo de trei-

namento de terroristas.

Vocação para o terror não falta para

os líbios. O leste do país, onde começou

a atual revolução, é um berço de terro-

ristas. Gente que não apenas tem expe-

riência em combate e conhecimentos

em técnicas de fabricação de explosivos,

mas uma queda para encarar o martírio

como um ato heroico. Dali vem a maior

parte dos recrutas da Al Quaeda no país

– vários dos quais dispostos a morrer

como homens-bomba. Nesse território

também nasceu o Grupo Islâmico de

Combate Líbio, conhecido por lutar ao

lado do Talibã contra os soviéticos. A

presença dos jihadistas e, mais uma vez,

o petróleo e o gás líbios fi zeram com que

as potências ocidentais fossem bastante

comedidas ao comentar e condenar os

atos de Kadafi , mesmo sabendo que o

cachorro louco já matou mais de mil ma-

nifestantes pelas ruas de diversas cidades

e que comentou em entrevista: “Que cri-

se? Meu país está tranquilo, em paz”.

Na encruzilhada da história, o mundo

transita entre o pessimismo e o otimismo

enquanto aguarda o desfecho das novas

manifestações. Nas nações árabes, uma

autocracia não consegue sobreviver sem

a presença de seus pares. Isso é certo e

por isso as mudanças vão continuar.

Diante de tantos desmandos, corrup-

ção e abusos, são bem-vindas. Apenas

espera-se que sejam para melhor. E que

a sombra do chador não obscureça o

entendimento daqueles que hoje pedem

mudanças. Na Faixa de Gaza, infeliz-

mente, não foi esse o resultado. Em

2006, o grupo radical Hamas venceu as

eleições palestinas e assumiu o controle

da região. Hoje as mulheres não saem

mais de casa sem o obrigatório véu islâ-

mico. E esse, dos males, ainda pode ser

o menor. Pior se a mais nova fi gura do

movimento egípcio, o xeque Yusuf Al

Qaradawi, conseguir levar a Irmandade

Muçulmana ao poder. Como já declara-

va ele em 1995: “Depois da libertação

do Iraque, faltará conquistar Roma. Isso

signifi ca que o Islã vai retornar à Europa

pela terceira vez. Vamos conquistá-la.

Vamos conquistar a América”. A pri-

meira ameaça está se concretizando. A

segunda parece ser questão de tempo. E

a terceira, com o novo Oriente Médio,

pode não ser mais um delírio.

INSPIRADOS NO LEVANTE QUE DERRUBOU o presidente tunisiano, egípcios redescobrem o signifcado da palavra liberdade e saem às ruas para comemorar

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MUITO LOUVOR, ORAÇÕES E MINISTRAÇÕES de encorajamento marcam encontro de pastores e líderes evangélicos em Connecticut

L I D E R A N Ç A

Evento realizado nos Estados Unidos reúne centenas de pastores e reacende a chama da motivação nas igrejas locais

Um novo começo

JOSÉ CARLOS MOURA E

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

Um culto com o Ministério

de Louvor da Primeira

Igreja Batista de Nova

York marcou o início da Conferên-

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cia para Pastores e Líderes do Idio-

ma Português nos Estados Unidos

e Canadá, realizada entre os dias

8 e 10 de fevereiro em Stamford,

Connecticut, evento que venceu as

barreiras geográficas e denomina-

cionais e contou com a presença de

mais de 400 participantes – líderes

de igrejas tradicionais e neopen-

tecostais da Califórnia, Flórida,

Carolina do Norte, Massachusetts,

New Jersey, Connecticut e regiões

próximas. Entre os preletores bra-

sileiros, um grupo de pastores de

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impor respeito: Márcio Valadão, da

Igreja Batista da Lagoinha de Belo

Horizonte (MG); Jeremias Pereira,

da 8ª Igreja Presbiteriana, também

de Belo Horizonte; Carlito Paes,

da Primeira Igreja Batista de São

José dos Campos (SP) e Paschoal

Piragine Júnior, da Primeira Igreja

Batista de Curitiba (PR) e novo

presidente da Convenção Batista

Brasileira (CBB).

A conferência teve como pro-

pósito reunir, num mesmo espa-

ço, pastores e líderes de igrejas

evangélicas norte-americanas e

canadenses, brasileiros na grande

maioria, motivando-os em suas

atribuições ministeriais. De acor-

do com Elias Dantas, presidente

do Center for Studies in Global

Christiany, a iniciativa do evento

partiu da necessidade de encorajar

os pastores e líderes, já que muitos

deles se encontravam desmoti-

vados em função de dificuldades

financeiras e do trabalho exercido

pelos membros em suas congre-

gações. Nada mais apropriado,

portanto, do que o tema adotado:

“Encorajamento”.

“Muitas vezes como pastor

a gente dá muito e não recebe,

e temos a tendência de olhar

sempre para as dificuldades.

Para mim, foi como uma re-

ciclagem. A ideia do evento

foi muito boa e, com certeza,

será uma renovação”, opina

um dos participantes, o pas-

tor Sérgio Itamorai, da Igreja

Celebração Elizabeth, de

New Jersey. Faz coro à opi-

nião do colega o pastor José

Ribamar Monteiro, da Igreja

Brasileira de Bay Area,

Califórnia. “No passado

eu tive problemas de rela-

cionamento com um ami-

go, e durante as ministra-

ções partimos para a cura

espiritual. Pudemos ver

também pastores abrindo

seus corações, contando

suas experiências e di-

ficuldades”, acrescenta.

Já, para o pastor Francis-

co Izidoro, da Primeira

Igreja Batista Brasileira

de Nova York, o encontro

quebra uma série de pa-

radigmas, provando que,

independente da denomi-

nação que cada um faça

parte, todos podem se

relacionar perfeitamen-

te bem e em harmonia.

“Podemos conviver com

o diferente, mas focados sempre

no que é essencial e que nos une

– Jesus Cristo, e sua obra missio-

nária. Podemos aprender com esses

pastores mais experientes, sejam

presbiterianos, metodistas, batistas

e neopentecostais”, salienta, res-

saltando também as dificuldades

enfrentadas por muitos imigrantes

brasileiros ao chegarem aos Esta-

dos Unidos em busca de melhores

condições de vida. “Geralmente

são pessoas que vinham sendo

excluídas do contexto cultural de

sua terra e, quando chegaram aqui,

confrontaram com uma realidade

talvez ainda mais cruel”, compa-

PRELETORES BRASILEIROS USAM EXPERIÊNCIA MINISTERIAL para encorajar pastores de igrejas norte-americanas e canadenses

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FRANCISCO IZIDORO: “Podemos conviver com o diferente, mas focados

sempre em Jesus Cristo”ANA PAULA VALADÃO E ASAPH BORBA

também prestigiaram a conferência

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Unidos, trazendo, em meio a

tanta crise, mais comunhão

entre lideranças de todas

as denominações. Quando

a gente chega aqui ou até

mesmo em outros países em

situações piores, valorizamos

mais o ajuntamento do povo

de Deus, seja numa igreja ou

num congresso. Na verdade,

reunir quase 450 pastores,

entre homens e mulheres,

representa uma multidão de

milhares e milhares. No Brasil

a gente costuma ver muita gente

reunida, mas aqui houve um

verdadeiro milagre.”

Asaph Borba

Ministério Life

“Precisamos estar de olho nos

irmãos brasileiros que vivem nas

nações no mundo. Creio que os

ministérios devem ter uma visão

da igreja na própria localidade,

mas também precisamos

entender que temos um número

grande de irmãos brasileiros que

precisam ser atendidos tanto

aqui em Stamford como pelo

mundo afora. Se antes eram

milhares, hoje são milhões de

imigrantes. A Palavra diz ‘ide e

fazei discípulos’, e nada melhor

como ter a identidade da língua,

da cultura e atentarmos na fé.”

ra. Via de regra, tais sofrimentos

valem também para muitos missio-

nários. “Conheço muitos pastores

que vieram para cá iludidos, encan-

tados, mas que passaram por priva-

ções e voltaram endividados e sem

desenvolver nenhum ministério”,

finaliza. Talvez, para esses religio-

sos, o evento tenha acontecido um

pouco tarde demais.

Abaixo, o depoimento de alguns

preletores e participantes que via-

jaram aos Estados Unidos espe-

cialmente para a conferência:

Pr. Márcio Valadão

Igreja Batista da Lagoinha de

Belo Horizonte (MG)

“Não sei quais serão os

desdobramentos, mas o que

aconteceu aqui foi algo maravilhoso,

um encontro com mais de 400

pastores e líderes de várias

denominações. São igrejas de

características próprias, mas ao

mesmo tempo com a mesma paixão.

Creio que esse fogo que começa

a ser aceso não deve apagar,

principalmente porque agora os

irmãos daqui terão a oportunidade de

colocar lenha e continuar mantendo-

o aceso. Eu vejo pelo semblante de

cada um que eles não querem que

isso termine, e creio que daqui a um

ano teremos o dobro de pastores,

pois eles puderam perceber que o

nosso propósito é honrá-los e dizer

que não estão sozinhos. A bandeira

e o ideal são os mesmos, e fazemos

parte do mesmo exército. A única

diferença é que o nosso batalhão está

no Brasil e o deles aqui.”

Pr. Carlito Paes

Primeira Igreja Batista de São

José dos Campos (SP)

“O tema escolhido foi muito feliz,

pois a palavra que o pastor mais

precisa hoje é ‘encorajamento’.

Eu acredito que toda nuvem de

tempestade passa, e aqui nos

Estados Unidos ela também já está

passando. Enquanto isso, é muito

oportuno um congresso desse

tipo, que pode ser considerado

um marco, uma conferência sem

barreira denominacional realizada

fora de uma igreja, com pastores

tradicionais, pentecostais e um

público bem eclético. Essa é a

beleza do Reino de Deus.”

Ana Paula Valadão

Ministério Diante do Trono

“Posso perceber que Deus está

começando algo novo no âmbito

da igreja brasileira nos Estados

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Maria de Fátima M. de Carvalho é escritora, advogada, mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba e membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de João Pessoa

L U G A R D E M U L H E R

Quem escreveu o Quarto Evangelho?

(Parte 1)

“O fato de seu nome

não constar no Quarto Evangelho

signifi ca, tão somente, uma

humildade assumida

pelo desejo incontido

de mostrar a glória do

seu mestre à semelhança

do sentimento que o

envolveu”

O Quarto Evangelho

– ou Evangelho

Segundo João

– é também chamado de o

evangelho do amor, porque

evidencia o amor de Deus por

cada pessoa, manifesto no

sacrifício e ressurreição de

Jesus, conforme sintetizado

em João 3.16, e considerado

o texto áureo da Bíblia. Só

ele declara que Jesus amava

a Lázaro, a quem ressuscitou;

amava a Marta, sua irmã;

amava individualmente a

cada discípulo, e amará e

ressuscitará todo aquele que

guardar a sua Palavra.

Nele há menções de

um personagem anônimo

identificado como um

discípulo a quem Jesus

amava, o qual, no último

capítulo, declara-se autor

daquele livro e testemunha

verdadeira de tudo quanto

escreveu. Foi o discípulo

a quem Jesus confiou a

guarda de sua mãe, e que

acompanhou Pedro ao

sepulcro após a ressurreição,

autodenominando-se o outro

discípulo. Apesar do anonimato,

desde a Igreja Primitiva

esse personagem tem sido

identificado como o apóstolo

João. Irineu de Lião (c. 130-202

d.C.), cujo mestre Policarpo foi

discípulo do próprio apóstolo

João, afirmou que o Evangelho

de João foi escrito por

aquele apóstolo. Uma análise

sistemática do texto aponta para

evidências que confirmam a

autoria joanina:

O autor assistiu a

transfiguração de Jesus: o

fenômeno foi relatado apenas

nos evangelhos sinópticos.

Mas, no capítulo primeiro do

Quarto Evangelho, o autor

afirma literalmente: “E o

verbo se fez carne, e habitou

entre nós, e vimos a sua glória,

como a glória do unigênito

do Pai, cheio de graça e de

verdade” (Jo 1.14). E no

capítulo final ele revela que

foi testemunha de tudo quanto

escreveu. Assim, aquela

citação é o seu testemunho

pessoal da transfiguração

de Jesus, quando esse ficou

resplandecente como o

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lhes que eles não sabiam a que

espírito pertenciam. Entretanto,

o diálogo entre Jesus e

Nicodemos, e transcrito no

Quarto Evangelho, é um forte

indício de que João passou por

uma transformação interior.

Certamente se autoanalisou

e percebeu o quanto fora

insensato nas reivindicações.

Ao escrevê-lo, ele já não

queria mais ser o primeiro,

mas sim, o outro. E por isso

se coloca no anonimato,

como o outro discípulo que

acompanhou Pedro ao sepulcro

para constatar o fenômeno

da ressurreição. Mas era

também o outro discípulo a

quem Jesus amava. Não que

ele entendesse que Jesus não

amasse a Pedro ou o amasse

menos, mas porque, refletindo

sobre si mesmo, entendeu o

quanto era falho, e o quanto

Jesus o amava para lhe permitir

tantos privilégios, como o

de constatar o fenômeno da

ressurreição, cuidar da mãe

do mestre, e ter sido chamado

como testemunha ocular e

narrador de tantas maravilhas.

Então, ele se eclipsou na sua

narrativa, e a ninguém chamou

de apóstolo. O fato de seu

nome não constar no Quarto

Evangelho não significa sua

inexistência, ou que o autor

fosse outro, mas tão somente

uma humildade assumida pelo

desejo incontido de mostrar

a glória do seu mestre à

semelhança do sentimento que

o envolveu, conforme citado

no mesmo Evangelho: “É

necessário que ele cresça e que

eu diminua” (Jo 3.30).

Encontramos, na atualidade,

vertentes de pensamentos

que colocam em dúvida a

autoria joanina. Alguns a

atribuem a Maria Madalena,

enquanto outros a Lázaro. Bem,

abordaremos esse assunto no

próximo artigo.

família pela ausência do pai,

entregou ao seu primo, João,

a responsabilidade de cuidar

de Maria, sua mãe, após a sua

morte, uma vez que seus irmãos

ainda não criam nele.

Pelo parentesco, foi pedido a

Jesus que sentasse Tiago e João

ao seu lado, no reino: o estreito

vínculo familiar existente entre

Jesus, Tiago e João, encorajou

Salomé, a mãe dos dois, a pedir

a Jesus que sentasse seus filhos

na instauração do reino, um

à sua direita e o outro à sua

esquerda. E ambos também

fizeram a mesma reivindicação.

O pedido de nepotismo

provocou indignação entre

os discípulos e inspirou Da

Vinci: o favoritismo pedido a

Tiago e João deixou os demais

apóstolos indignados contra

os filhos de Zebedeu, e Jesus

respondeu-lhes, entre outras

coisas, que quem quisesse ser

o primeiro dentre eles, seria

servo de todos. Essa discussão

foi lembrada após a celebração

da última Páscoa, conforme

relato em Lucas 22.20-38, e

captada por Leonardo da Vinci

e muito bem reproduzida em

sua famosa tela a Última Ceia,

inclusive quanto à ausência de

cálices e presença de espadas.

Após a ressurreição de

Jesus, João foi alvo de uma

transformação interior: finda

a última ceia veio a prisão,

morte e ressurreição de Jesus.

Passados cinquenta dias, a

Igreja é fundada. Até aquele

dia, João fora um jovem

como tantos outros, intrépido,

vaidoso e intempestivo. Jesus

havia chamado a ele e a seu

irmão de Boanerges, que quer

dizer filhos do trovão. Houve

dia em que eles reivindicaram

poder para fazer descer fogo

do céu e matar os samaritanos,

porque esses não queriam

receber o seu mestre. Mas

Jesus os repreendeu, dizendo-

sol, e apareceu-lhes Elias e

Moisés, e eles ouviram “uma

voz que dizia: Este é o meu

amado Filho; a ele ouvi” (Mc

9.7). Segundo os evangelhos

sinópticos apenas Pedro, Tiago

e João assistiram ao fenômeno.

E como na época em que o

Quarto Evangelho foi escrito,

João era o único vivo, então,

o texto é realmente de sua

autoria.

Os nomes dos apóstolos

Tiago e João são totalmente

omitidos no Quarto Evangelho:

sobre eles há apenas uma

referência indireta na pesca

do último capítulo, onde

são citados Simão Pedro,

Tomé, Natanael e os filhos de

Zebedeu. Esses, segundo os

sinópticos, são Tiago e João.

Eles não são mencionados,

nem mesmo como discípulos

de Jesus, embora os sinópticos

afirmem que foram chamados

André e Simão Pedro, Tiago

e João, e depois Filipe de

Betsaida e outros. Por que as

omissões, se Tiago e João são

muito citados nos evangelhos

sinópticos e em Atos?

Há indícios de que a mãe de

Tiago e João era irmã de Maria,

a mãe de Jesus: “E junto à cruz

estavam a mãe de Jesus, e a

irmã dela, e Maria, mulher de

Cleofas, e Maria Madalena”

(Jo 19.25). Observa-se que os

nomes da mãe de Jesus e de sua

irmã também foram omitidos.

Um estudo sistemático do

texto, associado aos relatos

paralelos em Mateus e Marcos,

revela que a irmã da mãe de

Jesus era Salomé, a mulher de

Zebedeu e mãe de Tiago e de

João. Assim, Jesus e o apóstolo

João eram primos.

Foi o parentesco que levou

Jesus a confiar sua mãe aos

cuidados de João: por causa

do vínculo familiar que Jesus,

na qualidade de primogênito,

e como tal, cabeça da

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E V E N T O

Discursos ufanistas, declamação

de poema e apresentação de

coral marcaram a cerimônia

que selou a parceria entre o Centro

Universitário das Faculdades Metropo-

litanas Unidas (UniFMU) e o Conselho

de Pastores do Estado de São Paulo

(COPESP), realizada no dia 17 de ja-

neiro num dos campus da instituição,

localizado na região central de São Pau-

lo. “Talvez essa seja a mais importante

parceria fi rmada nos últimos anos e o

início de uma caminhada muito longa”,

discursou o vice-reitor Arthur Speran-

déo de Macedo. Um dos propósitos

essenciais do acordo é proporcionar

uma melhor qualifi cação educacional

aos pastores. “As projeções indicam

que metade da população brasileira

professará a fé evangélica até 2020.

Essa união com a univer-

sidade demonstra nossa

preocupação de orientar e

educar esses evangélicos

que crescem numa velo-

cidade impressionante”,

ressaltou o bispo Carlos

de Castro, presidente do

COPESP.

Presidente da Aca-

demia Paulista Evangélica de Letras

(APEL), o professor Irland Pereira de

Azevedo falou sobre a importância da

igreja no desenvolvimento da educação,

fazendo menção a instituições de ensi-

no mundialmente reconhecidas, como

Oxford e Harvard. “Desejo que daqui

também saiam pessoas bem preparadas,

com capacidade de refl exão e cientes

dos valores que transformam homens e

mulheres na construção de um mundo

novo”, acrescentou. Participaram tam-

bém da cerimônia o secretário munici-

pal do Trabalho, Marcos Cintra, repre-

sentando o prefeito Gilberto

Kassab; e o cônsul-geral de

Israel Illan Sztulman, que

enalteceu o fortalecimento

da comunidade evangélica no país.

“Como o Brasil é muito amigo de

Israel, eu fi co ainda mais contente à

medida que situações como essas vão

acontecendo.”

A noite também rendeu homenagens

a Gióia Jr, um dos mais ilustres

personagens da poesia cristã nacional

e que ganhou fama como apresentador

do SBT com o bordão E chega de

prosa! Na voz do jornalista e pastor

Fausto Rocha, todos ouviram atentos

um de seus mais proeminentes poemas:

Eu Sei Que o Meu Redentor Vive. Para

encerrar, 16 músicos evangélicos do

Coral Metropolitano de São Paulo

entoaram o hino Os Homens Sábios

o Reconhecem. Bastante apropriado;

afi nal, sabedoria também tem tudo a

ver com ensino e aprendizado.

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

AUTORIDADES RELIGIOSAS, políticas e acadêmicas discursaram durante a cerimônia

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

Parceria entre instituição de

ensino superior e entidade

cristã prima por educação de

melhor qualidade para futuros

pastores

Pastores mais sábios

MUITOS CONVIDADOS ACOMPANHARAM o evento, realizado num dos auditórios do complexo da UniFMU, em São Paulo

APRESENTAÇÃO DE EVANGÉLICOS do Coral Metropolitano de São Paulo marcou o fi m da cerimônia

DIVULGAÇÃO

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O B S E RVAT Ó R I O

O Evangelho esfarrapado

“O Evangelho esfarrapado

pelo salvacionismo

focaliza apenas o lado

jurídico e o escatológico. O Evangelho

integral focaliza o todo”

Ultimamente tenho

notado que a essência

do Evangelho tem sido

empobrecida, em pelo menos

quatro movimentos:

1 – Salvacionismo: centralizar o

signifi cado do Evangelho na

salvação;

2 – Ocupacionismo: redução do

Cristianismo em atividade

eclesiástica;

3 – Religião de mercado:

transformação do Evangelho

em mercadoria;

4 – Adoracionismo de

entretenimento: transformação

do culto em aeróbica gospel e

entretenimento.

Vamos falar hoje apenas do

primeiro movimento.

Não desprezo a salvação, nem

a obra missionária. Aliás, penso

que nossa ação missionária

necessita ser mais profunda e

envolvente. O salvacionismo

procura centralizar toda

signifi cação da vida na salvação

do pecado e da queda, de modo

a tornar toda estrutura teológica,

atividade cristã e eclesiástica

centralizada na soteriologia

– parte da Teologia que trata da

salvação. Nossa Teologia passa a

ser soteriocêntrica.

Após ser salva a pessoa deverá

investir seu tempo em pregar o

Evangelho para salvar os outros,

que depois de salvos deverão

fazer o mesmo. Tudo na igreja

– seus hinos, agenda de prioridades

etc – é centralizado na pregação da

salvação, como se a própria salvação

fosse um fi m em si mesma, como

se tivéssemos nascidos para sermos

simplesmente salvos, mesmo que

isso traga uma tremenda contradição

com a natureza de Deus, que não

nos criou para a queda só para que

pudéssemos ser salvos.

Recuperando o motivo pelo

qual fomos criados – para a

glória e alegria de Deus (Is 43.7)

– encontramos na queda o desvio

desse caminho (Rm 3.23). A

redenção por meio de Jesus Cristo

não é um fi m em si mesma, mas

a recuperação para o caminho do

qual nos desviamos em Adão (2Co

5.15). Portanto, somos salvos

não simplesmente para sermos

salvos, mas para vivermos para

a glória e alegria de Deus (1Co

10.31). A salvação, então, foi

como um conserto de pneu para

que pudéssemos continuar nossa

jornada de vida aos pés de Deus.

Em outras palavras, ao sermos

salvos fomos reposicionados

na ordem das coisas criadas

de modo que nos tornamos

posicionalmente “novas criaturas”

(2Co 5.17) para vivermos em

novidade de vida (Rm 6.4).

O Evangelho esfarrapado pelo

salvacionismo acaba paralisando

a grande obra redentora de

Cristo apenas na cruz. “Tomar

a cruz” e seguir a Jesus é fi car

dependurado no madeiro. Jesus

foi crucifi cado, morreu, foi

sepultado, mas ressuscitou nos

dando uma nova vida. Ele foi

reconhecido como Filho de Deus

pela sua ressurreição (Rm 1.4).

O salvacionismo focaliza apenas

o lado jurídico – perdão dos

pecados – e o lado escatológico

– temos uma “apólice” contra o

incêndio do inferno. O Evangelho

integral focaliza o todo – fomos

criados para a glória de Deus,

caímos, Jesus nos salvou e

recuperou para voltarmos à

condição de vivermos para o fi m

ao qual fomos criados, motivados

pela sua graça e pelo poder da

ressurreição.

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J U S T I Ç A

Livres para louvar

MARCOS STEFANO COUTO

Justiça determina que ministros de louvor da Igreja Bola da Neve não são obrigados a se fi liarem à OMB, e entidade

desativa a polêmica Delegacia Cristã de Música

O louvor é o modo pelo qual

adoramos e nos encontra-

mos com o Criador. Uma

resposta cheia de admiração diante

da santidade, majestade e poder

divinos e que nos permite com-

partilhar de sua presença e glória.

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Afinal, “Deus é entronizado nos

louvores de seu povo”. Poucas de-

finições são tão profundas e belas

quanto a do louvor e da adoração

na Bíblia. Por isso, o simples fato

de pensar que o ato litúrgico possa

ser impedido por interesses finan-

ceiros é de causar arrepios. Agora,

imagine essa cena: você está exal-

tando a Deus em sua igreja, micro-

fone em punho e mão levantada. O

templo está cheio e muitos seguem

seu exemplo. Alguns choram de

emoção. De repente, surge uma

figura, não se sabe bem de onde,

trazendo uma caderneta na mão

e dando ordens para tudo aquilo

parar. Com a autoridade de um

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delegado, brada ameaças como

multas e duras punições. Para

cantar, tem que pagar e se en-

quadrar numa obscura lei.

Não, isso não é ficção, muito

menos um culto invadido por

radicais islâmicos no Oriente

Médio. Trata-se, nos últimos

tempos, de algo corriqueiro

para muitas igrejas brasileiras,

como a Bola de Neve, da zona

oeste da cidade de São Paulo.

Fiscalizadas pela Ordem dos

Músicos do Brasil (OMB) e

sua Delegacia Musical Cristã,

várias igrejas tiveram seus mú-

sicos e líderes de louvor impe-

didos de cantar e tocar caso não

estivessem inscritos e com os

pagamentos em dia com a enti-

dade. Além da discussão sobre

liberdade de expressão, a dis-

puta rendeu confusões, brigas

judiciais e muita polêmica: os

que ministram o louvor nos cul-

tos, ainda que de forma volun-

tária, podem ser caracterizados

como músicos profissionais? E

como tal só podem tocar ou cantar

se estiverem filiados à organiza-

ção? Muitos ainda discutem essas

questões, mas o veredicto já foi

dado. Por um lado, com a decisão

do Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, desobrigando aqueles que

tocam e cantam nas igrejas da ne-

cessidade de pertencerem à OMB.

Por outro, com a consequente deci-

são da própria entidade, de por um

fim à Delegacia Musical Cristã. “A

vitória é definitiva e representa à

igreja o direito de manter seu gru-

po de louvor com o propósito de

anunciar o Evangelho com liberda-

de. Seus levitas não serão tratados

como músicos que procuram ativi-

dade comercial, obrigados a pagar

as diversas taxas para exercer seu

chamado”, comemora a advogada

da Bola de Neve, Taís Amorim

Piccinini, especialista em Direito

Eclesiástico.

A decisão da Justiça, que rati-

ficou em 2ª Instância, beneficia

diretamente apenas a Bola de

Neve. Porém, como manda a tra-

dição no direito, servirá de base

para todos os outros casos. Igrejas

com problemas semelhantes que

recorram aos tribunais não deverão

ter dificuldade em ter seus direitos

reconhecidos. E provavelmente a

decisão inibirá novas tentativas de

fiscalização e aplicação indevida

de multas.

Lei sob suspeita – A origem de

toda essa contenda é bem mais

antiga e tem amparo na Lei 3.857,

de 22 de dezembro de 1960. Criada

até com a boa intenção de valorizar

o músico, ela garante o exercício

da profissão somente para quem

estiver registrado na Ordem dos

Músicos do Brasil, uma autarquia

federal com poder de fiscalização.

Assim, de acordo com a OMB só

pode trabalhar como músico quem

for aprovado em teste

vocacional, aplicado

pela própria instituição,

e que esteja com as anui-

dades pagas em dia. Des-

sa forma, o músico pode

ter sua carteira e o passe

livre para o mundo dos

shows e apresentações.

Acontece que o uni-

verso das notas musicais

é muito maior. Entende-

se como músico profis-

sional todo aquele que

participa da gravação de

um CD ou DVD, faz exi-

bições em público, dá au-

las de música ou mesmo

divulga sua arte por meio

de anúncios e panfletos.

Com isso, ignora-se que

muita gente seja apenas voluntária,

tocando e cantando sem interesses

comerciais ou de ganhar dinheiro.

É nessa segunda categoria, não

profissional, que se enquadram os

ministros de louvor das igrejas e

os que fazem da arte apenas um

edificante hobby.

Essa dificuldade de entendimen-

to reflete-se também na esfera das

leis. Para muitos juristas, a própria

atuação da OMB não respeita prin-

cípios legais. Segundo eles, a lei

de meio século atrás, que instituiu

a autarquia, não foi acolhida pela

Constituição brasileira, de forma

que não haveria legitimidade para

a sua atuação. Por conta disso, tra-

mita no Supremo Tribunal Federal

(STF) uma Arguição de Descum-

primento de Preceito Fundamental

(ADPF), proposta pela procura-

dora-geral da República Deborah

Duprat, em julho de 2009. Nela,

Duprat pede apenas que essa não

recepção de vários dispositivos da

Lei 3.857/60 seja oficialmente re-

conhecida pela lei máxima do país.

PRIMEIRA A GARANTIR NA JUSTIÇA liberdade para seus músicos, Bola de Neve pode abrir precedentes para ações de outras igrejas

TAÍS AMORIM PICCININI, advogada da Bola de Neve,

comemora a decisão da Justiça: “Eles [fi scais da OMB] foram impositivos”

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Na prática, fará com que a atuação

da OMB torne-se inconstitucional

e provocará o fim ou uma total re-

forma da entidade. “Numa demo-

cracia, não cabe ao Estado policiar

a arte, nem existe justificativa

legítima que ampare a imposição

de quaisquer requisitos para o

desempenho da profissão de mú-

sico”, destaca a procuradora-geral.

Dessa maneira, qualquer punição

imposta pela OMB seria uma vio-

lação da liberdade de expressão.

O mesmo entendimento teve o

desembargador federal Marcio

Moraes, ao votar a favor da Bola

de Neve e contra a Ordem dos Mú-

sicos. “A profissão de músico não

representa perigo ou prejuízo para

a sociedade. Diferente do médico,

advogado ou engenheiro que, sem

controle rigoroso, podem por em

risco bens jurídicos de extrema

importância, como a liberdade, a

saúde, a segurança, o patrimônio

e a vida. Nesses últimos tempos

estabeleceu-se um ciclo vicioso

sem razão. A OMB fiscaliza tão

somente se os músicos estão re-

gularmente inscritos e com paga-

mento em dia, o que só tem sentido

para manter sua própria estrutura”,

explica ele, em seu voto.

Quitutes e ameaças – A Delegacia

Musical Cristã foi oficializada

somente no dia 12 de março de

2009. Sob a batuta do presidente

do Conselho Regional Paulista da

OMB, maestro Roberto Bueno, e

do delegado Milton José de Souza,

responsável pelo departamento

evangélico, a ordem era buscar

em igrejas, shows e apresentações

gospel um número cada vez maior

de filiados. Quem não estivesse

em dia com a instituição seria

multado. A responsabilidade

pelas diligências ficaria a cargo

de fiscais com bom trânsito nas

igrejas, vários deles, pastores e

líderes de ministérios de música.

Esses fiscais teriam metas a

cumprir e seriam comissionados

com uma parte dos lucros vindos

da taxa de filiação e da emissão da

carteira, um valor que totalizaria

cerca de R$ 240. Disso, R$

100 seriam pagos em forma de

anuidade. Eles também receberiam

parte das multas aplicadas.

As confusões não tardaram.

Logo na premiação do Troféu

Talento, realizada no primeiro

semestre daquele ano, pelo menos

dez ficais da OMB furaram a fila,

passaram pelos camarins e, em

meio a discussões, aproveitaram

os quitutes oferecidos aos artistas

cristãos. Pouco depois, em julho,

mais truculência durante um show

em comemoração ao aniversário de

sete anos de uma rádio evangélica

da cidade de São Paulo. A confusão

entre cantores, fiscais e os direto-

res da rádio só foi aplacada com a

chegada de policiais para conter os

ânimos acirrados.

Na época, o delegado Milton

José de Souza disse que não havia

nenhuma determinação para que os

fiscais visitassem também igrejas

MO

ISÉ

S F

ILHO

MILTON JOSÉ DE SOUZA E ROBERTO BUENO, DA OMB: fi scais são acusados de tentar impedir cultos, brigar com diretores de rádio e comer quitutes nos camarotes

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atrás de músicos não habilitados

pela OMB. Apesar disso, a Bola

de Neve foi uma das surpreendidas

durantes seus cultos. “Eles foram

impositivos. Disseram que a igreja

deveria apresentar a carteira de to-

dos os músicos que tocam no lou-

vor e a nota contratual, sob pena de

ser multada. Como não tinha nada

disso, a penalidade foi aplicada e a

direção da igreja orientada a pagar

à OMB a tal nota contratual sem-

pre que houvesse novas apresenta-

ções, ou seja, em todos os cultos”,

recorda a advogada Taís Amorim,

chamada às pressas para resolver

a situação. A advogada foi à sede

da OMB na tentativa de cancelar

administrativamente a punição.

Apresentou suas razões ao dele-

gado, inclusive de que os músicos

eram todos voluntários, mas não

houve acordo. “Ele disse que se

não pagasse a multa, outra seria

aplicada e o valor dobraria, pois

éramos reincidentes”, conta ela.

A solução foi ingressar na Justiça

com um mandato de segurança.

A liminar foi deferida no mesmo

dia e, além de suspender a multa,

impedia a OMB de tomar qualquer

atitude coercitiva contra a igreja e

seus músicos. Julgado no fim de

2010, em 2ª Instância, dando um

parecer definitivo sobre o assunto,

esse mandato não foi a única der-

rota da OMB. Nesse curto espaço

de tempo, diversas igrejas pediram

e ganharam liminares que impe-

diam a ação dos fiscais.

Aprovada na Assembleia Legis-

lativa de São Paulo, a Lei 12.547/

2007, do então deputado estadual

Alberto Hiar – o Turco Loco –, já

dispensava a apresentação da car-

teira da OMB na participação de

músicos em shows e espetáculos.

No meio musical evangélico, a

recepção às ações da Ordem foi

a pior possível, provocando inú-

meras reclamações e protestos

contrários.

Diante de tamanha

confusão, não houve al-

ternativa para a autarquia

senão fechar sua Delega-

cia Musical Cristã. Em

meio à batalha com as

igrejas, ECLÉSIA pro-

curou o maestro Roberto

Bueno. Numa atitude dig-

na dos tempos da ditadura

militar e da censura, foi

informada que ele só daria

entrevista se a OMB fosse

a única a ser ouvida pela

reportagem, sem contra-

pontos ou opiniões “con-

trárias” ao seu trabalho.

Ainda acrescentou que só

autorizaria a publicação

se pudesse ver o texto

final, antes da revista ir à

gráfica, para aprovar ou

não seu conteúdo. Dessa

vez, no entando, a con-

versa com a instituição

foi bem diferente. Milton José de

Souza foi quem informou que a

Delegacia Cristã fora desativada,

desculpando-se por não poder dar

outras declarações. Diante disso,

a revista procurou novamente o

maestro Roberto Bueno na sede do

Conselho Regional de São Paulo,

até ser informada que ele estava

em viagem. Ligou para seu celular:

desligado. Finalmente, foi atendida

por Elder Silveira, advogado que

trabalha no departamento jurídico

da OMB, que prestou o seguinte

esclarecimento: “Temos a humil-

dade de reconhecer nossos erros.

Em muitas igrejas é difícil separar

o que é voluntário do trabalho pro-

fissional. E a realidade é que num

culto, em que se oferece o louvor

a Deus, há algo espontâneo e não

uma apresentação com fins comer-

ciais. Quando a Delegacia Cristã

foi criada, partiu-se para a fisca-

lização antes da conversa. Agora,

o maestro Bueno decidiu fechá-la

para tentar conversar melhor com

músicos e igrejas”.

CULTOS SEMPRE LOTADOS: a música, na Bola de Neve, atrai milhares de jovens

“NÃO CABE AO ESTADO POLICIAR A ARTE”, garante a procuradora-geral Deborah Duprat, autora de ação que tramita no STF e pede a revisão da Lei 3.857/60

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Luiz Leite é escritor,

conferencista, administrador de empresas e psicanalista. Preside a International Fellowship Network e pastoreia a Igreja Vida com Cristo, em Belo Horizonte (MG)

P A S T O R A L

Antes de irmosao púlpito

“A mensagem central do

Evangelho é o arrepen-dimento.

Arrepender-se é mudar de mentalidade, voltar atrás

na prática do erro qualquer

que seja”

Dia desses recebi

um daqueles

muitos emails

repassados que diariamente

enchem nossas caixas de

correio eletrônico, e que

nem sempre abrimos por

serem tantos e por não

termos tempo para dar

atenção a todos. Trazia

um título explosivo:

Troque um parlamentar

por 665 professores! As

razões apresentadas no

panfleto eram suficientes

para justificar o brado de

revolta. Lembrei-me da

antiga canção do Vandré,

convidando a juventude para

uma revolução...

Essa não é a primeira

“campanha” que vejo

circulando por aí nesse

imenso fórum virtual

que a internet propõe. É

decepcionante observar

que, apesar de denunciarem

práticas que suscitam

indignação e repúdio,

logo os revoltosos deixam

a causa pra lá e, como

desertores, abandonam a

luta e vão cuidar de sua

própria vida.

Lembro-me de que

em viagem do Rio a

funcionário; e ele, diretor da

multinacional alemã onde

trabalhava naqueles dias.

Resolvi romper a barreira e

iniciar uma conversação. O

“Fritz” entrou na conversa.

Quando deixei transparecer a

orgulhosa veia patriótica ao

afirmar que o Brasil seria

uma superpotência, o alemão

respeitosamente disse

que duvidava; e pior, ou

melhor, com a fria franqueza

germânica apresentou um

rosário de motivos que atingiu

minha jovem e afogueada

pretensão. “Vocês não têm

disciplina”, dizia ele em seu

português claudicante.“Nem

disposição para brigar!”

Calei-me diante daquela

terrível opinião. Pensei

comigo: “Então é assim

que nos veem?” Fiquei

remoendo, ressentido com

as palavras do branquelo,

e a partir daquele dia tomei

antipatia por ele (é mesmo

assim que costumamos fazer

quando alguém ousa nos dizer

verdades que incomodam).

A conversa logo tomou outro

rumo com a intervenção

do piloto que anunciava os

procedimentos de pouso;

dentro de alguns minutos

Salvador no início dos anos

80, quando mergulhados

em uma das muitas crises

econômicas pelas quais

passamos, mantive uma

discussão acalorada sobre

política e economia com

um alemão que viajava ao

meu lado; na verdade, eu

viajava do lado dele. Eu,

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erro qualquer que seja. Dois

textos em especial me vêm

à memória. Primeiro aquele

encontrado no livro do

profeta Jeremias: “Assim diz

o SENHOR: Ponde-vos nos

caminhos, e vede, e perguntai

pelas veredas antigas, qual é

o bom caminho, e andai por

ele; e achareis descanso para

as vossas almas; mas eles

dizem: Não andaremos nele”

(Jr 6.16). O estado do povo

de Israel era tão grave que

medidas cosméticas apenas

não resolveriam. Precisavam

de uma revolução! A solução

está em perguntar pelas

veredas antigas. Do mesmo

modo o Senhor adverte os

crentes de Éfeso, sugerindo

a revolução como escape:

“Lembra-te, pois, de onde

caíste, e arrepende-te, e volta

a pratica das primeiras obras;

quando não, brevemente a ti

virei, e tirarei do seu lugar

o teu castiçal, se não te

arrependeres” (Ap 2.5).

Quem sabe faz a hora,

não espera acontecer... Se

sabemos que as coisas não

estão bem, precisamos fazer

alguma coisa a respeito disso.

A pergunta é se teremos

disposição suficiente para

arcar com o preço que as

mudanças demandam. Se

não estamos dispostos a

fazer algo, então é melhor

pararmos de ficar criticando

pessoas e instituições. Não

existe entidade problemática,

quer seja família, empresa

ou igreja; existem indivíduos

problemáticos. Precisamos

escolher o nosso papel.

Podemos fazer parte do

problema ou compor o time

da solução. Como o problema

passa sempre pelo nível

do indivíduo, bom seria se

iniciássemos essa revolução

lá em casa, antes de irmos ao

púlpito ou à tribuna!

preço que geralmente

não estamos dispostos a

pagar: sacrifício. De algum

modo sabemos que não existe

revolução sem desgaste,

desconforto, cansaço,

riscos...

Se pensarmos bem,

necessitamos de revoluções

em vários aspectos. Nossa

vida pessoal, ministerial,

familiar, nacional... Se

quisermos ver mudanças

reais em qualquer dessas

áreas teremos que articular

os elementos necessários,

mobilizar esses elementos

e permanecer firmes no

propósito de execução das

decisões tomadas. Tudo

isso dá muito trabalho.

Diante dos desafios, não

raras são a desistência e

deserção. Voltamos para o

enganoso conforto oferecido

pela mediocridade e nos

entregamos à resignação

comum aos vencidos.

Adotamos a filosofia da

indolência que se traduz por

algo do tipo “vamos deixar

como está para ver como é

que fica”. Protelamos.

O termo revolução

compreendido em seu sentido

original traz uma explicação

surpreendente. Revolução, do

latim revolvere, de onde temos

a palavra revolutio, é o ato de

re-volver, ou seja, voltar atrás,

retornar ao ponto de origem,

ao lugar a partir do qual as

coisas perderam o rumo.

Não constitui, portanto, um

movimento para frente. Isso

envolve o duro exercício de

nadar contra o fluxo. A Bíblia

nos apresenta em vários textos

um convite à revolução no seu

sentido mais original.

A mensagem central

do Evangelho é o

arrependimento. Arrepender-

se é mudar de mentalidade,

voltar atrás na prática do

estaríamos aterrissando

em Salvador. Quando o

comandante mencionou o

calor que fazia na capital

baiana, desejando aos

turistas uma excelente

estadia, comecei a sentir

uma “leseira” só de pensar

nos dias de trabalho duro

que teria pela frente. Apertei

o cinto e pensei comigo

mesmo: “O alemão tem

razão, nós não queremos

tomar a bastilha coisa

nenhuma...Vamos adiar a

revolução...”.

Às vezes ouço pessoas

inconformadas dizerem que

estão cansadas desse país,

como se houvesse alguma

coisa de errado com nossa

querida terra brasilis.

Garanto que não há! Se

alguém quiser sustentar

o argumento de que esse

país não é maravilhoso,

vai fracassar pateticamente

diante das provas arrasadoras

reunidas por qualquer um

que atue como advogado

de defesa. O problema

nunca foi o Brasil! Esse

país é abençoado demais!

Os convites ao levante não

surtem efeito porque os

brasileiros parecem seguir

uma lógica brasileira que

opta sempre pela lei do menor

esforço.

Somos explorados da

maneira mais vexatória,

submetidos a uma carga

tributária abusiva, pagamos

caríssimo por itens que, não

fora a rapinagem legal do

Estado, sairiam por muito

menos. Juros abusivos,

impostos abusivos, serviços

de péssima qualidade, direitos

descaradamente

desrespeitados e ultrajes

sem fim; e ainda assim nos

calamos. Reconhecemos que

precisamos de uma revolução,

mas revolução requer um

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Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante 30 anos e hoje se envolve em projetos internacionais de desenvolvimento nas ilhas do Pacifi co e da Ásia, morando em Kailua-Kona com sua família

C O N T E X T O

Por uma igreja horizontal

“Os amigos encontraram a benção de existir além

de si mesmos. Eu existo nos

amigos, na comunidade esdrúxula da

graça”

A sala de estar lilás – A

teologia de Friends e a

horizontalização da Jocum

Há algum tempo comecei

a escrever textos de teologia

baseados na série televisiva

Friends. Meu propósito era

duplo: ter uma desculpa

racional para continuar a

assistir insaciavelmente a

série, e comunicar na língua

entendida pelo grupo de

consumidores da cultura pop.

Não fui muito longe,

cansei-me da desculpa, assumi

o meu desavergonhado vício

pelo pop e parei de escrever.

Mas lamentei a preguiça ao

visitar uma livraria americana,

quando encontrei toda uma

série de livros de filosofia

baseada nas séries de TV e

nos filmes hollywoodianos

mais populares. Aqui tenho

comigo o 30 Rock and

Philosophy: We Want to go to

There, que trata as piadas de

Tina Fey com a seriedade de

um livro de Michael Foucault.

Tem a filosofia do House, do

Mad Man, do Harry Potter;

então, por que não a teologia

de Friends?

Permitam-me retomar

a teologia de Friends para

o grupo de amigos acaba sendo

uma espécie de epítome da

igreja.

Como na igreja de Paulo,

cada um tem um dom, uma

contribuição. Eles não são iguais

e nem acham que devem ser. O

valor não é definido pelo que

deveriam ser, mas pelo que são.

Os amigos encontraram a benção

de existir além de si mesmos.

Eu existo nos amigos, na

comunidade esdrúxula da graça.

O que impede a igreja de

ser assim? Sugiro que muitos

dos nossos problemas internos

na igreja derivam da noção de

cristianismo hierarquizado.

Interpretamos de maneira

vertical a diversidade de dons e

ministérios da igreja. A “escada”

da espiritualidade deve ser

galgada pelos escolhidos. Essa

escada torna pastores mais

importantes que administradores

e professores, profetas mais

excelentes que pastores,

e apóstolos praticamente

semideuses. Quando essa

hierarquia espiritual encontra

terreno fértil na cultura,

então o dano é irreparável. A

doença do clericalismo está

enraizada na América Latina.

A espontaneidade dos dons

espirituais é esmagada nessa

quase todos os dias, e dividem

os detalhes de suas vidas. Não

há hierarquia entre eles, que

formam uma comunidade, fruto

da desfuncionalidade da família

pós-moderna. Entre eles, nada

além da graça. As confissões

são esperadas e os erros

também, assim como os acertos.

Excluídas as escapadas sexuais,

explicar, em algumas linhas, um

milagre organizacional realizado

recentemente na Jocum. Seis

amigos vivem em Nova York,

moram próximos uns dos outros

e algumas vezes compartilham

apartamentos. Eles se encontram

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os cargos na maior organização

missionária do mundo. Não

existe mais presidente, mas

diretor internacional ou nacional,

coordenador acima da liderança

dos centros locais. Cada país vai

encontrar uma forma de diálogo

entre os centros missionários

e internacionalmente vamos

nos reunir num fórum. Amigos,

acadêmicos, administradores,

visionários, vamos nos servir

com nossos dons sem aspirações

hierárquicas e posturas clericais.

Se alguém for ouvido é porque

tem alguma coisa a dizer, e não

por carregar uma listra no ombro.

Se vamos continuar existindo

com sucesso só o tempo dirá.

No momento, acho que nos

basta saber que estamos perto

do modelo que Deus planejou

para sua igreja. Friends, unidos

pela graça. Como na sala lilás da

Mônica, estaremos no lugar onde

tinham estabelecido. Os títulos

e organogramas induziam

pessoas ao erro e mantinham

a noção de hierarquia vertical.

Tentaram mudar por alguns anos,

redefinindo títulos e atribuindo

menos responsabilidade aos

cargos, mas depois de muito se

discutir, orar e tentar encontrar

uma forma estrutural que

representasse o que a missão é

ao redor do mundo, a liderança

internacional concluiu o

óbvio: impossível organizar o

inorganizável ou hierarquizar a

grama. Grama é grama, corpo

é corpo, membros pertencem

um ao outro. Não existe um

organograma que nos convença

da importância de se amputar

a perna saudável, e mesmo se

um dia a doente for cortada,

ainda assim irá doer como se

continuasse lá.

Aos 50 anos, a Jocum se

horizontalizou. Acabaram-se

estrutura hierárquica, junto

com o conceito essencial

ao cristianismo de valor

inerente. Seu valor acaba se

condicionando à posição que

você ocupa na estrutura.

De uma forma, nem tão

Friends e não tão clerical como

na maioria das igrejas, na

Jocum se vive em comunidade,

pela graça e não pelas regras,

entende-se o corpo como

um organismo e não uma

instituição, e missões como

um movimento humano e não

como um empreendimento

capitalista. Conhecendo o braço

internacional da missão, entendi

porque o Loren é simplesmente

o Loren e não o pastor ou o

reverendo Loren. O Jimmy é

Jimmy – até Dime para uma

grande parte não muito letrada.

Em 2002, Deus levou

a equipe de liderança a se

arrepender pela estrutura que

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E VA N G E L I S M O

Do clássico ao contemporâneo,

todos podem dançar: basta que sejam cristãos e façam parte do

Ministério Dança Pelas Nações

Dança pela fé

KAREN RODRIGUES

Desde as civilizações antigas,

a dança é usada como for-

ma de expressão cultural.

Diferentes povos, etnias, costumes e

culturas buscavam – e ainda buscam

– por meio dela um significado para

manifestar seus sentimentos, seja de

alegria, tristeza, agradecimentos pela

colheita, pela caça, ou um ritual de

adoração aos seus deuses. Até mes-

mo no Antigo Testamento há relatos

de dança, como o fez o salmista Davi

para expressar sua fé em louvor a

Deus. Depois de tantos séculos, é

claro que o mundo se transformou,

mas a dança ainda faz parte do uni-

verso coletivo. E, nos últimos anos,

definitivamente essa prática se ade-

riu ao louvor evangélico, tornando-se

bastante comum nas cerimônias rea-

lizadas pelas igrejas neopentecostais.

Com o propósito de evangelizar por

meio da arte, além de treinar equipes

e ministérios, inclusive que atuam no

exterior, é que surgiu o Ministério

Dança Pelas Nações, idealizado pelo

pastor Oziel de Matos e sua esposa

Gisela Matos, no seio da Igreja Pres-

biteriana de Colatina (ES). Na época

do surgimento do grupo, em 1998,

COREOGRAFIAS NÃO FALTAM ao grupo, que tem se apresentado em todo o país e até no exterior

DIVULGAÇÃO

Gisela trabalhava com um grupo de

adolescentes, quando recebeu um

convite para se apresentarem num

congresso anual; surgia ali a ideia de

montar uma coreografia, e com ela a

semente de um ministério de dança.

“Foi bem inovador, rompemos bar-

reiras naquele ano”, relembra a líder.

Há sete anos, o casal se mudou para

Contagem (MG), dando prossegui-

mento ao projeto, agora pela Igreja

Batista.

Além de ministro de louvor, Oziel

também é responsável pelas questões

burocráticas do ministério: é ele

quem cuida das contas, da agenda,

da produção de eventos e materiais

de divulgação – DVDs, CDs e li-

vros lançados pelo grupo. A esposa

não fica atrás e também tem uma

vida bastante agitada: ela atua como

bailarina, coreógrafa e escritora, e

ainda dirige a Academia Profetas da

Dança, a primeira do gênero voltada

para cristãos em Belo Horizonte. No

espaço são oferecidas aulas de ballet

clássico, jazz contemporâneo, dança

moderna, condicionamento físico,

sapateado americano, dança de sa-

lão, teatro, música, além de cursos

extracurriculares como maquiagem

artística, composição coreográfica,

anatomia aplicada à dança, enfim...

Juntos com a equipe, composta por

oito integrantes na dança e cinco no

louvor, o casal ministra em todos os

estados brasileiros; não raros tam-

bém sãos os convites para apresenta-

ções no exterior. “Onde Deus abrir as

portas”, resume a coreógrafa.

Todo mês de julho, durante duas

semanas o ministério realiza uma

espécie de oficina num sítio nas

proximidades da capital mineira, reu-

nindo membros da equipe e ministros

de louvor de todas as partes. Na

ocasião, são ministradas dezenas de

atividades, sempre focadas na prática

evangelística. “Já recebemos mais de

3 mil alunos e temos tido resultados

excelentes de pessoas que participa-

ram e hoje vem rendendo frutos em

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suas cidades”, orgulha-se Gisela. Em

2011, o evento já tem data marcada:

de 15 a 29 de julho. As coreografias,

segundo ela, são definidas conforme

a orientação divina. “A inspiração

e tudo o que é mais perfeito vem

sempre de Deus. Muitas vezes as co-

reografias são resultados de situações

que vivemos ou alguma ministração

da Palavra, e as usamos para ilustrar

a mensagem”, conta. Geralmente,

também, os integrantes realizam

movimentos espontâneos durante o

louvor, com o intuito de expressar a

mensagem que é ministrada por meio

da música.

Apesar de vender produtos rela-

cionados à dança e ao ministério, o

que ajuda mesmo o grupo a manter

as contas em dia são as ofertas vo-

luntárias dos “irmãos”. Mas o que

mais importa para os idealizadores

são as mensagens transmitidas e os

resultados alcançados, tanto que a

líder não titubeia ao afi rmar que tem

testemunhado muitas pessoas sendo

desafi adas, curadas e, principalmente,

transformadas espiritualmente – con-

vertidas. “Esse é nosso maior retorno,

ver pessoas receberem o toque do

Espírito Santo e terem suas vidas res-

tauradas”, enfatiza.

Embora a proposta do ministério

tenha como foco principal a salvação

e libertação, ainda assim o grupo é

alvo de olhares desconfiados e pre-

conceituosos, inclusive de muitos

que se dizem cristãos mas que não

entendem, ou não aceitam, um cha-

mado profético por intermédio de

uma manifestação artística. “A dan-

ça, para nós, não é apenas uma arte e

sim um chamado de Deus. Levamos

muito a sério e cremos que ele tem

honrado esse chamado”, defende-se

Gisela.

Identifi cação – Não basta ape-

nas gostar de dança para fazer

parte do ministério; o essencial

é, primeiramente, ser cristão, e

depois estar disposto a traba-

lhar como voluntário, abrindo

mão do que for necessário e

até mesmo pagar o preço pelo

chamado. Complicado? Não, segundo

a diretora, mas é preciso ser indicado,

e por alguém muito especial. “As pes-

soas que entram aqui são direcionadas

por Deus”, ressalta.

Tais quesitos não foram nenhum

grande obstáculo para a paulista Carla

Char Melo Sampaio, que se aderiu ao

ministério há cerca de três anos. “Deus

é quem mostra as pessoas para nossa

liderança e normalmente as testifi cam

no coração dos demais integrantes”,

atesta. Lidar com diferentes tempera-

mentos é, segundo ela, uma das maio-

res difi culdades que a equipe enfrenta;

porém, todos acabam aprendendo e,

juntos, são moldados pelo Senhor.

Natural do interior de São Paulo, ela

afi rma, convicta, que seu único objeti-

vo em fazer parte do grupo é cumprir

um chamado divino, e aproveita para

deixar um conselho para os futuros

adeptos: “Orem! Se for da vontade

de Deus, ele irá encontrá-los também

assim como me encontrou”.

Mesmo em meio a muitas lutas,

Letícia Souza Barros não desistiu da

caminhada, e já se vão quase oito

anos desde que a mineira se juntou ao

grupo. “Nenhum obstáculo e nenhuma

das minhas fraquezas foram sufi ciente

para que Deus não me alcançasse”,

diz, como um louvor poético. Para ela,

a dança se defi ne como uma canção de

amor, uma oração de fé, um clamor

por salvação de almas e uma conversa

mais viva com o Criador. “Estudar

dança com um coração de servo”,

conclui ela, com a mesma desenvol-

tura nas palavras com que realiza os

movimentos no palco.

OZIEL MATOS: mais de uma década de dedicação ao ministério

DIVULGAÇÃO

GISELA MATOS: “Nosso maior retorno é ver pessoas terem suas

vidas restauradas”

DIVULGAÇÃO

“ESTUDAR DANÇA COM UM CORAÇÃO de servo”,

receita Letícia Souza Barros, em tom poético

DIVULGAÇÃO

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Emerson Menegasse

é teólogo, fi lósofo, psicoanalista e missionário no Nepal, onde coordena o Projeto Nepali

M I S S Õ E S

A metáfora do coelho, da raposa, do lobo e do leão

“Não adianta lutarmos

contra nossos adversários sozinhos, achando que com

inominável esforço vamos

conseguir alguma coisa, pois continua-

remos fracassando a cada intento, derrubados no primeiro

round da luta”

Há algum tempo eu

participei de um

congresso missionário,

e foram dias abençoados

que possibilitaram troca de

experiências e ampliação de

relacionamentos. Hospedamos

num hotel maravilhoso, daqueles

que fazem a diferença quando o

casal decide deixar as crianças

com os amigos para ter um

tempo somente para si – leva

apenas o “rapa de tacho” que,

devido à pouca idade, não tem

como fi car para trás. Engraçado,

mas aqueles dias foram como

férias, embora tal sensação se

restringisse somente ao quarto

do hotel, pois as intensas

atividades não permitiam muitas

regalias.

Voltando ao congresso,

sempre há algo que se destaca

para nós, missionários

transculturais, nessas ocasiões.

Mesmo acostumados com o

linguajar missioneiro, o evento

acabou se transformando num

discurso pouco ortodoxo e

metafórico, com destaque para

um conto com nuances de fábula

narrado por um dos palestrantes,

e com fortes signifi cantes.

Segundo ele, essa historinha é

comumente contada para os calouros

nas universidades canadenses como

uma espécie de estimulante para a

jornada acadêmica que se inicia.

Vou adaptá-la aqui, sem modifi car a

sua essência.

Um pequeno coelho passeava

pelo jardim hortífero das redondezas

de sua morada quando se deparou

com uma raposa. No momento em

que ela se preparava para degustar

seu almoço, de súbito o coelhinho a

interpelou:

–– Você não pode me comer,

dona raposa; afi nal, eu ainda não

terminei a minha tese!

Com ar de surpresa, ela

perguntou:

–– Sobre o que você está

escrevendo, ou melhor, qual a defesa

da sua tese?!

–– Estou dissertando sobre

a superioridade dos coelhos em

relação às raposas – respondeu o

bichinho.

–– Mas como?! Isso é

impossível!!!

O coelho, então, perguntou se ela

gostaria de conhecer melhor o seu

trabalho. E a raposa, cordialmente,

aceitou o convite e adentrou à sua

toca, de onde nunca mais saiu.

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Enquanto explicava, o doutor

coelho abriu uma cortina e

mostrou-lhe um leão forte e vistoso

descansando, muito bem alimentado.

Moral da história: muitas vezes

canalizamos esforços desmedidos, e

infrutíferos para alcançarmos certos

objetivos, ou seja, nadamos muito

e acabamos morrendo na praia!

Não adianta lutarmos contra nossos

adversários sozinhos, achando que

com inominável esforço vamos

conseguir alguma coisa, pois

continuaremos fracassando a cada

intento, derrubados no primeiro

round da luta. Entretanto, se

contarmos com um bom orientador

– tipo o Leão da Tribo de Judá

–, nosso doutorado da vida estará

garantido. O que conta, afi nal, é

o orientador e não as técnicas de

pesquisa e capacidades cognitivas.

Se o doutor coelho compreendeu

isso, vamos fazer valer também o

nosso patamar de “coroa da criação”

e tomar posse de nosso título!!!

–– Claro que sim; é só me

acompanhar – respondeu.

O ambiente na toca do doutor

coelho era típico de um estudante

de doutorado: livros espalhados

pelo chão e outros empilhadas

pela sala, computador, provas

de textos, inúmeros materiais de

pesquisas, enfi m... O convidado

fi cou deslumbrado, mas estranhou

ao perceber ossos de raposas e

lobos amontoados num canto. Não

se conteve e perguntou o que era

aquilo tudo.

Pacientemente, o doutor coelho

explicou:

–– Não importa o título da

tese que você pretende defender,

a disposição ou facilidade de

conteúdo, o material de pesquisa, a

tecnologia disponível etc. O mais

importante para que seja bem-

sucedido numa tese de doutorado é o

seu orientador, que faz valer todo o

esforço para que alcance o objetivo

fi nal da dissertação.

Ninguém também jamais ouviu

falar dela. A mesma cena se repetiu

em outra feita, na mesma linha

de abordagem e diálogo, apenas

com a contextualização do título

da tese e com o consequente

desaparecimento de outro animal:

o senhor lobo. Ninguém também

nunca mais ouviu falar dele. E

os boatos sobre o coelho corriam

soltos, bem como de sua tese e

do sumiço de raposas e lobos da

vizinhança.

Passados muitos meses lá estava

o pequeno coelho degustando sua

cenoura, até que apareceu outro

coelho, desinquieto e notadamente

curioso. Depois de alguns minutos,

ele puxou conversa com o

companheiro que, imponente, disse:

–– Dirija-se a mim como doutor

coelho, pois eu já concluí a minha

tese de doutorado!

–– Então, o doutor poderia me

mostrá-la! Pois não se fala de outra

coisa!

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72

C I N E M AM U LT I M Í D I A

Muito antes de Linda

Blair, no papel de

Regan MacNeil em O

Exorcista (1973), virar a cabeça

para trás devido a uma possessão

demoníaca, o cinema já se

relacionava com o maligno. Desde

os clássicos Nosferatu, de1922,

e Fausto, de 1926 (baseado

na peça homônima de Johann

Wolfgang Goethe), ambos do

diretor F.W. Murnau, passando

pelos dráculas dos atores Bella

Lugosi e Boris Karloff, até o

assustador O Bebê de Rosemary

(Roman Polansky, 1968), ou

Bruxas à solta

o ícone do cinema classe Z, A

Morte do Demônio (Evil Dead,

1981), referências à influência

maligna e ao sobrenatural de

algum modo fascinam diretores e

espectadores. Dois títulos recém-

chegados às salas de cinemas

do país reacendem o espectro da

curiosidade sobre o tema.

Estrelado por Nicolas Cage,

Caça às Bruxas (Season of the

Witch) liderou as bilheterias no

Brasil no primeiro mês do ano.

Foram mais de R$ 3 milhões

em ingressos vendidos, e quase

300 mil espectadores em telas

nacionais entre os dias

28 e 30 de janeiro.

Na trama, dirigida

por Dominic Sena – o

mesmo de Kalifornia,

A Senha: Swordfish e

Terror na Antártida –,

Cage encarna Behmen.

Acompanhado do amigo

Felson (Ron Perlman),

alista-se nas Cruzadas

e se torna um cavaleiro,

com objetivo de obter

perdão pelos pecados

cometidos. A onda de

saques e assassinatos

realizados pelo suposto

exército divino o

incomoda a ponto de

fazê-lo retroceder e

pular fora das fileiras

adotadas. A dupla decide, então,

retornar à terra natal, na Europa;

mas, capturados e presos, eles

se veem obrigados a aceitar uma

missão em nome de Deus: levar

uma garota acusada de bruxaria

a um monastério, para que seja

julgada por sua ligação com o mal.

Behmen quer sua espada de

volta e um julgamento justo para

a menina, enquanto que Felson

quer evitar ser visto como um

desertor. O aval do cardeal é o

ponto de partida para a formação

de um grupo cujo objetivo é

fazer o transporte da garota até o

monastério.

A travessia por florestas

e desfiladeiros sombrios de

algum canto europeu sinistro

da Idade Média é salpicada de

efeitos especiais, como forma de

NICOLAS CAGE, O ASTRO DE CAÇA ÀS BRUXAS: sucesso garantido de bilheteria

DIVULGAÇÃO

Filipe Albuquerque

Filmes que trazem novamente o diabo em suas tramas comprovam o fascínio exercido

pelas forças do mal sobre o ser humano

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possessão – evento sobrenatural ou

fruto da fragilidade humana? Ou as

duas coisas, e além?

A fórmula anti-herói cético/

jornalista beldade destemida pronta

a mergulhar no mais sinistro dos

mundos em busca da “verdade”

traz certa sensação de déjà vu. Mas

a exploração do exorcismo como

premissa e a relação voluntária ou

não do homem com o diabo e suas

intervenções no mundo dos vivos,

gera arrepios na espinha até dos

adeptos mais fervorosos dos filmes

de terror.

“Um ladrão acende as luzes

quando está roubando a sua casa?

Não. Ele prefere que você ache que

ele não está lá. Como o diabo”,

informa o padre Lucas ao avaliar

as investidas malignas e explicá-

las ao seminarista. As imagens

de uma possessa expondo uma

língua pontuda como a de uma

cobra lembram as mirabolices de O

Exorcista. Detalhes que sinalizam

a presença do inimigo – a mão

trêmula do padre Lucas indicando

que o diabo está ao seu

redor, e cruzes que aparecem

surpreendentemente de

ponta cabeça – e a não

rara impotência humana

diante de uma manifestação

demoníaca, são elementos

que compõem um dos

possíveis novos fi lmes sobre

o tema que podem fazer

história, como fi zeram seus

semelhantes anteriores. A

empatia – talvez, natural – do

ser humano pelo sinistro, ou

o desejo macabro do homem

de lidar com seus próprios

medos também devem

colaborar para fazer de O

Ritual o thriller de horror da

temporada. Pague para entrar

e ore muito para sair.

apresentar os poderes paranormais

da menina a ser julgada por sua

suposta proximidade com as

forças inimigas. A presença de

Christopher Lee, marinheiro velho

acostumado a tramas assustadoras

é mais um ingrediente no

longametragem, que volta no

fim da “Idade das Trevas” para

remexer no mito das bruxas e

suas ligações com a escuridão e o

lado mais sombrio possível de ser

compreendido pela mente humana.

Sustos e orações – O Ritual (The

Rite), estrelado por Anthony

Hopkins e a brasileira Alice

Braga, sobrinha de Sônia Braga,

retoma o tema exorcismo para

contar a história de Michael

Kovak (Colin O’Donoghue),

filho de um proprietário de uma

casa funerária que decide deixar

o emprego no estabelecimento

comercial do pai para estudar

em um seminário às custas da

Igreja Católica. Cético, a ideia

do seminarista é pular fora do

ministério antes mesmo de começá-

lo, mas o convite para ir a Roma

estudar exorcismo dá um nó em

suas ambições nada convencionais.

Uma demanda crescente por

rituais faz o Vaticano decidir

por reensinar o modus operandi

da atividade ao clero. Kovak é

enviado para o intensivo e, por seu

ceticismo, passa um período com

o padre Lucas (Hopkins), famoso

por contabilizar mais de mil

exorcismos no currículo.

A trama toma como base o

livro The Making of a Modern

Exorcism, de Matt Baglio, e se

inspira em um caso real. A direção

do sueco Mikael Håfström trouxe

certa sutileza a uma história cujo

tema não parece muito afeito a

suavidades. Ainda que a visão

de um diretor “estrangeiro” não

signifique a exclusão de lugares

comuns presentes a filmes dessa

linha – sustos provocados pela

soma de cena inesperada mais

música alta –, O Ritual retoma a

discussão que paira sobre o tema

O RITUAL, COM ANTHONY HOPKINS, reabre discussão sobre rituais de exorcismo: evento sobrenatural ou fruto da fragilidade humana?

DIVULGAÇÃO

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M Ú S I C AM U LT I M Í D I A

Boicotada por público cristão, Katy Perry critica o uso de referências bíblicas em apresentações musicais

Na adolescência Katy Perry

costumava cantar em igrejas,

muito mais por incentivo

dos pais do que, propriamente,

vocação ministerial. Filha de pastor

evangélico, muito natural que a cantora

e compositora norte-americana, que

completou 26 anos em outubro passado,

seguisse o mesmo caminho trilhado

pela família; entrentanto, nao foi nada

disso que aconteceu, e sua trajetória

cristã se restringe ao lançamento de um

único álbum – Katy Hudson –, e uma

discreta participação como backing

vocal na música Goodbye for Now,

da banda de rock P.O.D. “Meus pais

eram muito rígidos, e algumas pessoas

são fascinadas com a ideia de uma

grande história: ‘boa menina, com pais

cristãos, vai para o caminho errado’”,

revelou, durante entrevista à revista

britânica Q Magazine.

Com várias músicas nas paradas

de sucesso e um estilo que mescla

conservadorismo – a moda retrô – com

Sucesso nas paradas, fracasso na igreja

ousadia, a cantora se tornou um dos

ícones do pop rock adolescente e um

fenômeno de popularidade, a ponto

de chamar a atenção de celebridades

como Miley Cyrus e Madonna.

Só no Facebook ela soma cerca de

17 milhões de fãs, e recentemente

postou uma foto ao lado do badalado

Mark Zuckerberg – o criador da

famosa rede de relacionamentos – no

Twitter, onde conta com mais de 5

milhões de seguidores, números que

devem aumentar por aqui já que a

participação dela está confi rmada

para o Rock in Rio, que acontece em

setembro.

Hoje, casada com o ator e

comediante inglês Russell Brand, Katy

Perry colhe os frutos de seu trabalho

no meio secular. Só que, na contramão

de todo esse sucesso, ela tem sido

praticamente boicotada por grande

parte dos crentes, que não compactuam

com seu comportamento um tanto

quanto desregrado para quem provém

de uma família cristã e que, num

passado recente, esteve com os dois

pés na igreja evangélica. Músicas como

I Kissed a Girl – ou, eu beijei uma

garota, em bom português – tornaram-

se alvos de críticas, justamente por

transgredirem os princípios religiosos

apregoados pelos cristãos. No entanto,

apesar de toda essa distância que

parece afastá-la da igreja, a cantora

costuma separar muito bem a religião

da profi ssão e, em suas declarações à

imprensa, não tem poupado os artistas

que fazem uso de referências bíblicas

durante seus shows. Além do próprio

marido, alertado para que diminua

as piadas de teor religioso, a cantora

Madonna também não escapou de suas

alfi netadas por, segunda ela, recorrer

de “forma abusiva” à religião para

“dramatizar e gerar polêmica durante

suas digressões internacionais”. “Eu

não entendo quando artistas usam isso,

como quando a Madonna subiu em uma

cruz para cantar”, cutucou, referindo-

se à turnê Confessions, de 2006. Na

ocasião, a popstar se postou à frente de

uma cruz de espelhos usando uma coroa

de espinhos. “Para mim, espiritualidade

é uma coisa importante e eu não gosto

quando as pessoas não levam isso a

sério”, conclui.

KATY PERRY: “EU NÃO GOSTO QUANDO as pessoas não levam a espiritualidade a sério”

DIVULGAÇÃO

José Donizetti Morbidelli

EXPOSIÇÃO ABUSIVA DA RELIGIÃO: cantora contesta performance de Madonna

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Patrícia Guimarães

é mestre em Musicologia, bacharel em Canto Lírico, e regente e professora de Canto em Juiz de Fora (MG)

L O U V O R E A D O R A Ç Ã O

Entre fábulase parábolas

“Mas o outro levita, carente de

mãos amigas, abraços

calorosos e olhares misericor-

diosos, não conseguiu encontrar

afi nação ao caminhar sozinho”

Num palácio, dois

compositores retiraram-

se para compor – Mozart

e Salieri. Na época, reinava em

Viena o Imperador José II da

Áustria. Salieri já era compositor

ofi cial da Corte de José II,

quando Mozart surgia com uma

genialidade inesperada para sua

idade. Enquanto Mozart queria

lançar a ópera alemã, Salieri

defendia a ópera italiana, sucesso

na época. Embora rumores

em Viena afi rmassem que os

compositores eram rivais, Salieri

participava de apresentações das

obras de Mozart e o considerava

um gênio, chegando assim a se

referir ao compositor alemão:

“Você é Deus!”. Na Corte em que

fábulas sobre a rivalidade entre eles

eram constantes, um compositor

admirava o trabalho do outro.

O Imperador José II, que

tinha o hábito de fomentar

estranhas competições musicais,

encomendou a cada um deles uma

pequena ópera para ser apresentada

no palácio. O público se colocaria

entre as duas apresentações, sendo

preciso somente se virar de um

lado para outro para acompanhar

as óperas, à medida que fossem

apresentadas. Mozart apresentou

a ópera Der Schauspieldirektor

(O Empresário), falada em

Mesmo com o “fracasso” de Mozart,

esse acontecimento marcou a origem

da criação da ópera alemã, e isso

só foi possível graças ao decreto do

Imperador José II. Era o início de

um novo gênero musical operístico

que se tornaria admirável em todo

o mundo. Apesar de receberem

reconhecido mérito em honoráveis

pagamentos a suas composições,

Salieri e Mozart tiveram destinos

diferentes. O primeiro ocupou cargos

importantes na Corte em Viena e teve

uma vida tranquila, enquanto que

Mozart gastou todo o seu patrimônio;

ele não sabia administrar o talento e

viveu seus últimos anos na mais dura

pobreza.

Numa outra época e em “reinos”

diferentes, vi dois levitas que saíram

para compor. Tinham talento e muita

disposição para adorar e servir ao

seu rei. Sabiam que para desenvolver

um trabalho musical e técnico de

forma primorosa, era preciso traçar

objetivos e despreender muito

esforço para alcançá-los. Defi niram,

então, o repertório para seu grupo

musical, tempo para ensaios, períodos

de oração, preparação vocal e

instrumental, datas para seminários

e encontros de aperfeiçoamento... O

trabalho tanto era prazeroso quanto

árduo o caminho a seguir. Pensaram

nos detalhes e se dispuseram a

executá-los. Os músicos foram se

alemão e, portanto, completamente

fora dos padrões da época. Salieri

apresentou Prima la Musica, poi le

Parole (Primeiro a Música, depois as

Palavras), em italiano. O Imperador

esperava a vitória da genialidade de

Mozart. Contudo, Salieri comprovou

a preferência do público pela ópera

italiana a que estavam acostumados.

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estariam seus irmãos e parceiros

na música? Sentiriam alegria em

cantar deixando seu líder fora do

grupo? Consideraram caducas as

maneiras do antigo levita tocar seu

instrumento? Socorreriam o cansado

e abatido levita que se desgastou no

esforço do ensino? O apóstolo Paulo

bem nos recomenda: “Amai-vos

cordialmente uns aos outros com

amor fraternal, preferindo-vos em

honra uns aos outros. No zelo, não

sejais remissos (...). Compartilhai

as necessidades dos santos (...).

Alegrai-vos com os que se alegram

e chorai com os que choram. Tende

o mesmo sentimento uns para

com os outros; em lugar de serdes

orgulhosos, condescendei com o

que é humilde; não sejais sábios

aos vossos próprios olhos” (Rm 12:

10). Quem tem “antigos” mestres de

música, entenda essa pobre tentativa

de parodiar as parábolas do nosso

mestre. Quem tem ouvidos para

“fazer música”, ouça!

uns dos outros. Ignoraram que para

soarem num mesmo falar, num só

agir, num só sentir era preciso cuidar

dos relacionamentos. Estenderam

mãos de louvor ao dono do reino,

mas as encolheram na disposição de

servir o outro. Perderam a harmonia

da vida, o desafi o de, mesmo em

caminhos diferentes, manterem seus

corações próximos. Eles podiam

ler e compreender as tablaturas

musicais, mas não enxergavam a

necessidade de seus antigos mestres!

Um dos levitas prosseguiu com

sua canção, ainda que em outros

tempos e lugares. Mas o outro levita,

carente de mãos amigas, abraços

calorosos e olhares misericordiosos,

não conseguiu encontrar afi nação

ao caminhar sozinho. Necessitava

da polifonia que ressoa de corações

amigos. O primeiro conseguiu,

em meio aos acordes dissonantes

de sua trajetória, seguir louvando

o rei com novos sons. O outro

emudeceu seu instrumento... Onde

aperfeiçoando e o nível técnico

da equipe era visível. Todos que

chegavam de longe queriam

tocar com esses músicos. Eram

considerados os bambas do reino.

Talvez se Salieri e Mozart tivessem

vivido nesse reino, também pudessem

ser seus admiradores.

O tempo foi passando e uma

nova geração de levitas foi-se

levantando. Os dois “antigos”

levitas formaram suas famílias. E,

assim como Salieri e Mozart, suas

vidas tomaram caminhos diferentes.

Vieram os fi lhos, novas necessidades

a se priorizar e sua equipe musical

foi mudando de sonoridade. Os

“lendários” levitas transmitiram toda

sua técnica, cuidaram da performance

coletiva do grupo e atentaram para o

relacionamento individual com seu

rei. Contudo, esqueceram-se de que

para ter um cordão forte, que não

rebente com facilidade, era necessário

três dobras – eles e o próximo.

Esqueceram-se das necessidades

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Marcos Stefano Couto

L I T E R AT U R AM U LT I M Í D I A

O segredo de Benny Hinn

vezes, em conversões. Foi o que

houve há poucos anos, quando Hinn

visitou a Índia e teve que deixar o país

ameaçado por hindus inconformados

com milhares de fi éis perdidos para

o cristianismo após seus cultos. O

segredo desse sucesso sempre foi fonte

de acirrados debates. Seus adversários

falam em charlatanismo, enquanto

que os apoiadores têm certeza de que

se trata da unção divina. O ministério

carismático também abriu as portas

para o lado escritor do pregador. Quase

todos os seus livros são dedicados a

contar milagres ou explicar a origem de

tal poder. Bom Dia, Espírito Santo, o

primeiro e mais famoso deles, já vendeu

mais de um milhão de exemplares, em

diversas línguas. Ainda assim, sempre

parece faltar algo. A mais nova tentativa

de preencher essas lacunas e apontar

o caminho da benção aos leitores está

chegando ao Brasil. Mergulho Profundo

no Espírito Santo, lançado pelo selo

Holy Bible, promete ser uma verdadeira

aula sobre o mover de Deus.

A obra faz parte de um pacote

O pastor e evangelista Benny

Hinn ganhou fama mundial

graças ao sobrenatural. Até

hoje, mesmo com muita polêmica

e escândalos envolvendo sua vida e

ministério, multidões comparecem às

suas cruzadas de milagres. Em ginásios

e estádios lotados, o que não faltam são

testemunhos de cura de enfermidades

e cenas impressionantes de dezenas,

mesmo centenas, “caindo no poder do

Espírito”. Dá para perceber o efeito

disso nas expressões de espanto de

inúmeros rostos na plateia e, algumas

Mergulho Profundo no Espírito Santo é um estudo bíblico sobre o poder divino, sempre

pontuado por 30 anos de experiências

sobrenaturais do evangelista

de títulos do autor que acaba de ser

lançado pela editora. Além dele, fazem

parte do acervo O Maior Milagre,

Promessas de Deus para Provisão

e Cordeiro de Deus. Desses, os dois

primeiros são livros menores. Cordeiro

de Deus fala sobre a obra redentora

de Jesus, citando profecias bíblicas,

os principais acontecimentos de sua

vida, o simbolismo das festas de Israel

e debatendo a missão do Cristo. Mas,

tanto pela familiaridade de Hinn com

o tema quanto pelo provocativo título,

o mais instigante é mesmo Mergulho

Profundo no Espírito Santo. Apesar

da primeira parte ser dedicada a uma

análise do Espírito e de sua relação

com Deus Pai, com Jesus e com o ser

humano, e a segunda tratar da obra do

Consolador, na prática essa separação

não existe. O livro traz uma análise

sequencial do operar divino no Antigo e

no Novo Testamento, sempre permeada

pelas experiências de 30 anos de

ministério do autor.

Uma das histórias por ele contadas,

por exemplo, diz respeito ao começo de

seu ministério, ainda no Canadá. “Era

difícil, mas pedia silêncio ao auditório,

tal como tinha visto Kathryn Kuhlman

fazer. Fechava meus olhos, mas não

sentia nada. Às vezes, batia o medo: o

que estava fazendo? Mas depois ouvia

um barulho. Quando abria os olhos,

quem não tinha ido ao chão, estava

quebrantado, chorando”, escreve. Como

ele próprio insiste, o quebrantamento

e a rendição à vontade de Deus são as

chaves que abrem as portas do poder

sobrenatural. Nesse sentido, o livro

tem características parecidas com o de

outro título do evangelista: A Unção.

Com a diferença de que segue por

outro caminho, o do estudo bíblico.

E aí, mostra que o falar em línguas é

apenas o primeiro passo para uma nova

vida de transformação. Pena que se

concentre mais na autoridade do que na

santidade de vida.

DIVULGAÇÃO

“FECHAVA MEUS OLHOS, MAS NÃO SENTIA NADA. Batia o medo: o que estava fazendo? Mas depois ouvia um barulho. Quem não tinha ido ao chão, estava quebrantado, chorando”, conta Benny Hinn em sua mais nova obra

DIVULGAÇÃO

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A G E N D A

para todos os estados do país. Diversos

missionários, pastores e ministros de

louvor estarão presentes no evento,

que acontece na Primeira Igreja Batista

(Praça Abrantes, S/N – Centro). As

vagas são limitadas, e informações

adicionais podem ser obtidas pelo site

www.vemcomoquiser.com.br.

Entre os dias 8, 9 e 10 de abril,

a cidade de Camaçari (BA) irá

sediar a segunda edição do Vem Como

Quiser, conferência de louvor, adoração

e missões idealizada pelo Ministério

Arca – a primeira aconteceu no ano

passado, em Jundiaí SP, e a intenção

dos organizadores é estender o encontro

2° Congresso Nacional de Casaisnaturais e históricas do litoral

baiano. Entre os preletores, estão

confi rmadas as presenças do pastor e

terapeuta familiar Josué Gonçalves;

Estevam Fernandes, líder da 1ª

Igreja Batista de João Pessoa (PB);

Claudio Duarte, pastor da 1ª Igreja

Batista de Campo Grande (RJ), entre

outros. Para mais informações, os

interessados podem acessar o site

www.amofamilia.com.br.

Entre os dias 14 e 17 de abril,

será realizado no Náutico Praia

Hotel em Porto Seguro (BA), o

2º Congresso Nacional de Casais,

ocasião em que os participantes

poderão refl etir sobre a importância

do relacionamento conjugal e da

família. Se a primeira edição do

evento aconteceu em Caldas Novas

(GO), dessa vez os casais terão a

oportunidade de conhecer as riquezas

Vem Como Quiser Assembleia Estadual da Convenção

Será realizada em Campinas (SP),

nos dias 29 e 30 de abril, a 42ª

Assembleia Estadual da Convenção

das Igrejas O Brasil para Cristo no

Estado de São Paulo, evento que tem

como propósito oferecer aos pastores

e obreiros as ferramentas adequadas

para a realização de seus trabalhos

missionários e evangelísticos. O en-

contro acontece no Hotel Nacional

INN, mas um culto para consagração

de pastores também será realizado no

dia 30 de abril às 15 horas, no Grande

Templo da Pompéia (Rua Carlos Vica-

ri, 124 – São Paulo). Para inscrições e

informações sobre hospedagens, o te-

lefone é (11) 2090-1288. Os interessa-

dos também poderão enviar um e-mail

para [email protected].

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P E R C I VA L D E S O U Z A

A terrível perda da fé

“Rubem é culto, erudito, mas equivocou-se e sofreu uma perda terrível

– a perda de fé”

No famoso Eu Acuso,

Émile Zola, escritor

francês, é peremptório:

Mon devoir est de parler, je ne

veux pas être complice. Sinto-me

compelido a repetir, aqui e agora:

Meu dever é falar. Não quero ser

cúmplice.

Não quero acusar, como Zola,

na defesa do militar Dreyfus.

Prefi ro pensar. Essa sensação, um

pouco angustiante, emerge ao ler

uma surpreendente entrevista no

jornal Valor Econômico, em que o

renomado Rubem Alves, teólogo,

fi lósofo e psicanalista, ex-pastor

protestante, afi rma que Deus

é apenas uma nostalgia. Autor

de mais de 100 livros, ideias

fascinantes para seminaristas

e pastores que se acham “de

vanguarda”, Alves estrutura seu

pensamento detonador na tragédia

fl uminense, nas inundações e

desabamentos que ceifaram

centenas de vidas na região

serrana do Rio de Janeiro. Diz o

ex-pastor: “Não estou com raiva

de Deus, porque Ele não existe. Se

existisse, ia fazer alguma coisa”.

E desafi a: “Se é onipotente,

onisciente e onipresente, por que

nada fez? Estava dormindo?” A

autora da entrevista, a espantada

Marília de Camargo César, tentou

em vão a defesa do Altíssimo:

Alves não estaria mirando o

alvo errado? Não são os seres

humanos os responsáveis pela

tragédia, por causa de decisões

erradas? Mas Rubem prosseguiu,

tão implacável que o galo nem

precisou cantar: “Se Deus amasse

realmente o mundo, tomaria uma

providência. Em primeiro lugar, ele

mataria as pessoas certas. Ele está

com a pontaria péssima – se fosse

meu empregado, já estaria demitido

há muito tempo – e incompetência

administrativa”.

O nosso nostálgico – porque

evoca apenas uma lembrança – leva

o nome de um dos irmãos de José,

que sugeriu colocá-lo numa cisterna

para livrá-lo da morte, antes da

decisão de vendê-lo por vinte siclos

de prata para uma caravana de

ismaelitas que vinha de Gileade em

direção ao Egito. Leio na entrevista

que Alves enfrentou um ano de 2010

difícil. Graves problemas de saúde.

A matéria assinala: “Nem todo

esse sofrimento fez com que ele se

voltasse para o Deus dos cristãos,

que um dia seguiu”. Tolstoi, autor

de Guerra e Paz, recomendou: “Vai

ao lugar que desconheces e traze-

me o que não sabes”. Não parece

Provérbios 25.2? Vale lembrar:

Leon Tolstoi, o escritor, considerado

“o maior de todos os tempos”

(The Guardian), rompeu com as

estruturas ofi ciais da Igreja Ortodoxa

e, deslumbrado com o Sermão da

Montanha, tornou-se semeador dos

ensinos de Cristo.

Talvez o antropólogo Roberto

DaMatta possa ajudar Rubem:

“Os fl agelos subtraem a nossa

onipotência tecnocientífi ca e nos

nivelam às humanidades ditas

primitivas, atrasadas ou arcaicas”.

Mais: “Deixamos de ordenar o

mundo humanamente, não quando

abrimos mão do que não podemos

controlar, mas quando deixamos

de lado o que é nossa obrigação:

prevenir”. Sabemos que é assim,

como já foi revelado em estudo da

ONU sobre desastres no mundo:

populações sujeitas a riscos similares

em gravidade sofrem danos

signifi cativamente mais graves e

extensos se morarem em países

pobres e com governos corruptos e

inefi cientes. Devo, por isso, chamar

Rubem de ex-irmão? Ou irmão

separado, como eram designados os

primeiros protestantes? Não. Rubem

é culto, erudito, mas equivocou-

se e sofreu uma perda terrível – a

perda de fé. Está precisando da

ajuda de quem sabe, vive e sente

que Deus não é mera lembrança ou

nostalgia – é a concretude que nos

faz meditar profundamente porque

sabemos em quem temos crido,

como diz a Palavra, que – e disso

Rubem aprendeu e já ensinou muito

bem – sempre aponta caminhos,

rumos e direções.

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