Tópicos em Ergonomia e Segurança do Trabalho · dividido em vinte capítulos, nos quais são...

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Nelson Ferreira Filho

(organizador)

Tpicos em Ergonomia e

Segurana do Trabalho

Volume 1

1 Edio

Belo Horizonte

Poisson

2017

Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial

Dr. Antnio Artur de Souza Universidade Federal de Minas Gerais Dra. Cacilda Nacur Lorentz Universidade do Estado de Minas Gerais Dr. Jos Eduardo Ferreira Lopes Universidade Federal de Uberlndia

Dr. Otaviano Francisco Neves Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Dr. Luiz Cludio de Lima Universidade FUMEC Dr. Nelson Ferreira Filho Faculdades Kennedy

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) T674

Tpicos em Ergonomia e Segurana no Trabalho

volume 1/Organizador Nelson Ferreira Filho

Belo Horizonte (MG: Poisson, 2017)

219 p.

Formato: PDF

ISBN: 978-85-93729-24-9 DOI: 10.5935/978-85-93729-24-9.2018B001

Modo de acesso: World Wide Web

Inclui bibliografia

1. Ergonomia. 2. Segurana do Trabalho

3.Administrao da Produo. 4. Engenharia da

Produo I. Ferreira Filho, Nelson II. Ttulo

CDD-658.8

O contedo dos artigos e seus dados em sua forma, correo e confiabilidade so de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

www.poisson.com.br

[email protected]

http://www.poisson.com.br/mailto:[email protected]

Apresentao As marcas do desenvolvimento econmico, das inovaes tecnolgicas somadas s novas

exigncias do mercado, a partir da dcada de 90 do sculo passado, trouxeram muitas opes, as quais incidiram sobre as exigncias de transformaes nas formas e no comportamento dos gestores atuarem nas organizaes, quer sejam elas privadas ou pblicas.

Hoje, a realidade deste cenrio de exigncias prticas e rpidas nas resolues de problemas que esto interconectados com a economia, modernidades tecnolgicas, mercado e nas relaes do comportamento com o mundo do trabalho.

A otimizao dos processos e o aumento da produtividade so preocupaes constantes nas organizaes, requerendo cada vez mais a aplicao de ferramentas e mtodos que permitam atingir nveis mais elevados de desempenho nesses aspectos. Em paralelo a isso, crescente a preocupao das empresas e dos pesquisadores com os efeitos do trabalho na sade, satisfao e segurana dos operadores.

Essas aes de mudanas de ordem tecnolgica conduzem suas aplicaes s relaes de complexidade do trabalho, as quais tendem a aumentar, tornando indispensvel para os gestores das organizaes e pesquisadores repensarem novos estilos dos processos de trabalho. Assim, compete aos gestores das organizaes e pesquisadores refletirem sobre as formas de processos de trabalho quando do desenvolvimento de projetos, onde a cada dia so agregadas novas definies de informaes e de controle, repercutindo, diretamente nos trabalhadores e nas suas aes tanto fsicas, organizacionais como cognitivas na atividade real de trabalho.

A Ergonomia e Segurana do Trabalho busca a compreenso desses fatores atravs da utilizao de ferramentas adequadas para identificar problemas em situaes de trabalhos e implementar melhorias.

Pesquisas em Ergonomia e Segurana do Trabalho tem se ampliado de forma volumosa, desde seu incio, nos primrdios da Revoluo Industrial. Este crescimento notrio de verificao tanto pelo aumento no nmero de programas de ps graduao stricto e lato sensu, quanto pelo elevado nmero de eventos e congressos que apresentam trabalhos relacionados ao tema.

O livro Tpicos em Ergonomia e Segurana no Trabalho, em seu primeiro volume, aborda investigaes dos pesquisadores da rea, procedente das diversas regies do Brasil. O livro dividido em vinte captulos, nos quais so comtemplados as trs grandes reas da Ergonomia, a saber: Ergonomia Fsica, Ergonomia cognitiva e Ergonomia organizacional, juntamente com as reflexes sobre Segurana do Trabalho.

Isto posto, os captulos do livro so compostos por temas que abrangem pesquisas, tais como: na Ergonomia fsica, onde anlises apontam s caractersticas da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecnica em sua relao a atividade fsica, alm de assuntos relevantes que incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distrbios msculo-esqueletais relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurana e sade.

H captulos de afirmaes de anlises da Ergonomia cognitiva: na qual se refere aos processos mentais, como percepo, memria, raciocnio e resposta motora conforme afetem as interaes entre seres humanos e outros elementos de um sistema, acrescido de estudo da carga mental de trabalho e tomada de deciso.

Existem tambm captulos que comtemplam a Ergonomia organizacional: onde so compartilhados estudos de pesquisas referentes otimizao dos sistemas sciotcnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, polticas e de processos, bem como, projeto de trabalho, organizao temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional e gesto da qualidade.

Por fim, espero que os contedos apresentados sejam inspiradores para continuidade e futuras anlises de produes cientficas na rea ergonmica e, que possam ser aplicados em organizaes privadas, pblicas e de prestaes de servios, bem como nos cursos de graduao e ps-graduao.

Os temas apresentados falam por si sobre sua relevncia. Desejo, portanto, que a leitura seja proveitosa e que os conceitos aqui abordados, por alunos de graduao, graduados, mestres, mestrandos, doutores, doutorados, bem como ps-doutores e renomados pesquisadores, possam servir de base e repercutir de modo positivo em futuras pesquisas da rea.

Nelson Ferreira Filho

Captulo 1: MTM e ergonomia na anlise do trabalho de um operador de soldagem de placas eletrnicas de uma empresa de comunicao digital de Florianpolis-SC ............................. 7 (Alexandre Tsuyoshi Kobayashi , Wellington Renan Holler, Lizandra Garcia Lupi Vergara, Mirna de Borba)

Captulo 2: Produtividade e avaliao de desempenho do trabalho a partir da perspectiva da anlise da atividade. Um estudo de caso no setor de suprimentos de uma grande empresa ........................................................................................... 17 (Juliana Giglio de Andrade, Thales da Silveira Paradela , Francisco Jos de Castro Moura Duarte)

Captulo 3: Avaliao de postura corporal em uma operao logstica ....................................... 26 (rsula Berion Rei, Camila Aparecida Maciel da Silveira, Priscilla Barbosa SantAna, Caio Lopes Gonalves)

Captulo 4: Avaliao dos nveis de risco ocupacional associados ao manejo de medicamentos antineoplsicos numa central de abastecimento hospitalar ............................ 37 (Leonardo de Lima Moura, Ronaldo Ferreira da Silva, Fernando Sergio Ferreiro da Silva, Andr Teixeira Pontes)

Captulo 5: Cargas de trabalho na rotina de operadores de caixa de um supermercado ............................................................................................................................... 47 (Eva Bessa Soares),

Captulo 6: Conhecimento tcito: o processo de transferncia do saber-fazer na atividade metal-mecnica ......................................................................................................... 56 (Jose Portugal Renn Neto, Maria Fernanda Leonardi, Joao Victor Coelho Mendes, Vitor Guilherme carneiro Figueiredo)

Captulo 7: Ergonomia cognitiva e a importncia do fluxo de informao dentro de um posto de trabalho de uma empresa moveleira do estado de Sergipe ............................... 65 (Felipe Augusto Silva Lessa, Gabriel Santana Vasconcelos, Allan dos Anjos Costa Dantas, Simone de Cassia Silva),

Captulo 8: Princpios de usabilidade no transporte pblico ......................................................... 74 (Evaldo Cesar Cavalcante Rodrigues, Ivo Almeida Costa, Paulo Henrique da Silva Costa, Mrio Lopes Condes, Jos Matsuo Shimoishi)

Captulo 9: Avaliao de higiene industrial e segurana do trabalho em uma indstria metalrgica de Campina Grande-PB ............................................................................................... 85 (Danielle Freitas Santos, Thatiana Silva Janurio)

Captulo 10: Anlise ergonmica das condies de trabalho em um restaurante universitrio .................................................................................................................

94

(Andr Duarte Lucena, lamo Carlos de Oliveira Lima, Annyelly Virginia Brito, Cryslaine Cinthia Carvalho Nascimento)

http://transportes.unb.br/?p=discentes&secao=detalhes_alunos_mestrado&id=94

Captulo 11: aplicao de mtodos ergonmicos no supermercado de medianeira Paran ......................................................................................................................... 103 (Marilia Neumann Couto)

Captulo 12: Anlise da atividade de trabalho em uma padaria: as causas e efeitos da sobrecarga fsica e da privao de sono ...................................................................... 111 (Larissa Sousa Campos , Monise Viana Abranches , Thales Fernandes Morais , Jean Patrik Boro Rodrigues, Michelly Patrcia de Oliveira)

Captulo 13: Anlise das medidas de controle de riscos qumicos - estudo de caso em um laboratrio de anlise de gua .................................................................................. 121 (Rosse Carla de Lima Diniz , Diogo Sergio Cesar de Vasconcelos , Maria do Socorro Marcia Lopes Souto , Helena Thmara Aquino dos Santos , Denise Dantas Muniz)

Captulo 14: Anlise de perigos e riscos na manuteno eltrica no ramo sucroalcooleiro ............................................................................................................................... 133 (Hebert Roberto da Silva)

Captulo 15: Medidas ativas e passivas de preveno e combate a incndios - estudo de caso em uma casa noturna de so jos do egito/pe .................................................... 142 (Lucas Vitorino Alves , Diogo Sergio Cesar de Vasconcelos Maria , Bernadete Fernandes Vieira de Melo , Jose Wagner Ferreira De Souza, Matheus Albuquerque Lucena de Figueiredo)

Captulo 16: Anlise ergonmica do trabalho em uma serraria .................................................... 153 (Aline Menardi Culchesk, Paulo Fernando Soares, Aline Lisot, Isabel Cristina Moretti, Franciely Velozo Arago)

Captulo 17: Acidentes de trabalho na indstria da construo civil no estado do Tocantins, Brasil: estudo descritivo (2007-2012) ...................................................................... 162 (Onsima Aguiar Campos Barreto, Luciane de Paula Machado, Antonelli Santos Silva)

Captulo 18: Diagnstico ergonmico de trs diferentes postos de trabalho ............................... 170 (Alessandro da Silva Barbosa, Danieli Biagi Vilela, Laura Okishima Duarte, Luana de Carvalho dos Santos, Marina Gutierrez Bispo da Silva)

Captulo 19: Anlise ergonmica de trs postos de trabalho em um supermercado ................................................................................................................................ 182 (Danielli da Silva Batista, Karina Sayumi Gomes Sato, Amandha Kurokawa da Silva, Lucas Perez Moraes, Joo Batista Sarmento dos Santos Neto)

Captulo 20: Segurana do trabalho na construo civil - um estudo de caso mltiplo em cidades do interior de So Paulo ............................................................................... 193 (Amanda Castro Pinto, Glauco Fabrcio Bianchini, Vvian Karina Bianchini, Diego Fernandes Neris, Marlia Giselda Rodrigues)

Autores .................................................................................................................................... 203

Tpicos em Ergonomia e Segurana do Trabalho - Volume 1

CAPTULO 1 MTM E ERGONOMIA NA ANLISE DO TRABALHO DE UM OPERADOR DE SOLDAGEM DE PLACAS ELETRNICAS DE UMA EMPRESA DE COMUNICAO DIGITAL DE FLORIANPOLIS-SC

Alexandre Tsuyoshi Kobayashi

Wellington Renan Holler

Lizandra Garcia Lupi Vergara

Mirna de Borba

Resumo: O presente artigo prope uma aplicao integrada da Avaliao

Ergonmica e de MTM na descrio e avaliao do trabalho de um operador de

soldagem de placas eletrnicas de uma empresa de comunicao digital de

Florianpolis-SC. O objetivo identificar e quantificar os principais fatores de riscos

devido sobrecarga biomecnica dos membros superiores, relacionados aos

trabalhos envolvendo preciso de operaes manuais. Inicialmente foram aplicados

questionrios e o mtodo RULA para identificao de problemas ergonmicos que

possam afetar a sade do operador. Para avaliar o mtodo e o tempo de execuo

da atividade, utilizou-se o mtodo MTM-1. A partir dos resultados da Avaliao

Ergonmica e de MTM, foram propostas melhorias no posto de trabalho analisado,

apresentando os benefcios da aplicao integrada desses mtodos.

Palavras-chave: Ergonomia, MTM, method-time measurement, trabalho de preciso,

RULA.

Tpicos em Ergonomia e Segurana do Trabalho - Volume 1

1. INTRODUO

A otimizao dos processos e o aumento da produtividade so preocupaes constantes na indstria, requerendo cada vez mais a aplicao de ferramentas e mtodos que permitam atingir nveis mais elevados de desempenho nesses aspectos. Em paralelo a isso, crescente a preocupao das empresas com os efeitos do trabalho na sade, satisfao e segurana dos operadores. A Ergonomia busca a compreenso desses fatores atravs da utilizao de ferramentas adequadas para identificar problemas em situaes de trabalhos e implementar melhorias.

Os Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), conforme Couto (2002) constituem-se no principal problema de natureza ergonmica em todo o mundo, ocasionando dor forte associada incapacidade temporria para o trabalho at mesmo podendo resultar em aposentadoria por invalidez. Corresponde a um Distrbio por Sobrecarga Funcional (DSF) das estruturas frgeis dos membros superiores, sem o devido tempo de recuperao de sua integridade.

Os DSF podem acometer todo profissional cuja atividade envolva o uso intensivo das mos enquanto ferramenta de trabalho, tais como digitadores, dentistas, operadores de caixa de supermercado, de linhas de montagem diversas como automveis e componentes eletrnicos pequenos, objeto de estudo deste artigo.

O trabalho de preciso envolve basicamente mos e dedos, requerendo conforme Kroemer e Grandjean (2005) grandes exigncias relativas : regulao rpida e acurada da contrao muscular; coordenao das atividades individuais dos msculos; preciso de movimento; concentrao e controle visual.

Quanto ao trabalho com movimentos repetitivos dos membros superiores, Colombini et al. (2008) afirmam que, para a descrio e a avaliao do trabalho devem-se identificar e quantificar os principais fatores de riscos devido a sobrecarga biomecnica dos membros superiores, dentre eles: frequncia de ao elevada, uso excessivo de fora, posturas e movimentos dos membros superiores inadequados e carncia de perodos de recuperao adequados, atravs dos quais se caracteriza a exposio ocupacional em relao respectiva durao dentro do tempo real de trabalho repetitivo.

As questes de produtividade e os custos humanos devem ser considerados simultaneamente na anlise de desempenho de sistemas produtivos. Mtodos de anlise do trabalho, como o MTM e a ferramenta de anlise ergonmica so utilizados para melhorar as condies de trabalho visando diminuir: riscos relativos fadiga do operador, os tempos de produo e os custos unitrios. Porm, observa-se muitas vezes que esses mtodos no so aplicados de forma complementar na identificao de problemas em situaes de trabalho.

A finalidade da anlise MTM identificar o mtodo e os relativos movimentos elementares para determinar o tempo necessrio de execuo de uma operao, sendo que o material utilizado durante a fase de anlise de MTM, segundo Colombini et al.(2008), torna-se uma fonte preciosa tambm para uma anlise ergonmica, onde a simplificao dos movimentos muito complexos e a reduo de movimentos inteis so, objetivos adequados para se obter uma melhoria, seja de produtividade ou da ergonomia.

A partir deste contexto, o presente artigo prope uma aplicao integrada da anlise ergonmica e de MTM na avaliao do risco e proposio de melhorias em um posto de soldagem de placas eletrnicas em uma empresa do ramo de comunicao digital situada na cidade de Florianpolis-SC.

2. REFERENCIAL TERICO

A ergonomia como disciplina cientfica, relaciona-se ao estudo das interaes entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e aplicao de teorias, princpios, dados e mtodos em projetos, a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. Tambm pode ser definida como a cincia de conceber uma tarefa que se adapte ao trabalhador, e no forar o trabalhador a adaptar-se tarefa. (WALTRICK, 2010).

comum que as indstrias no levem os aspectos ergonmicos em considerao ao otimizar seus sistemas produtivos em relao eficincia e produtividade. Para Lima (2003), a anlise ergonmica um instrumento de essencial importncia num sistema produtivo, no s para proporcionar conforto e segurana ao trabalhador, mas tambm, para extrair deste maior

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produtividade, acarretando no aumento dos lucros e na diminuio das perdas.

Conforme Menezes (1976) apud Gonalves (2003), o layout de uma estao de trabalho deve atender primeiramente a duas premissas: localizao tima dos componentes fsicos e adequao antropomtrica, j que o conforto, bem estar fsico e performance do operador so fortemente influenciados pelo dimensionamento fsico das estaes de trabalho.

J para a adequao do arranjo fsico de um posto de trabalho deve ser considerada a distribuio espacial ou o posicionamento relativo dos diversos elementos que o compem, tais como: tipo de equipamento, controles; agrupamento funcional; sequncia de uso; intensidade de fluxo; ligaes preferenciais, entre outros. A escolha dos critrios mais relevantes a ser aplicado ao projeto vai depender de cada caso, de acordo com o grau de importncia e frequncia de uso. (GUIMARES, 2006).

A Anlise Ergonmica do Trabalho (AET) visa aplicar os conhecimentos da Ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situao real de trabalho categorizando as atividades desenvolvidas pelos indivduos no trabalho e norteando as modificaes necessrias para uma ampla adequao das condies de trabalho (GURIN et al., 1991). Assim ela procura reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando segurana, satisfao, sade aos trabalhadores (IIDA, 2005) e melhorar a qualidade de vida.

Em uma AET muitas ferramentas podem ser utilizadas para avaliar os riscos de se desenvolver leses msculo esquelticas, sendo que a escolha das ferramentas deve ser feita de acordo com o tipo de atividade que est sendo analisada e os objetivos pretendidos.

Para realizar a anlise postural em situaes nas quais o trabalhador utiliza principalmente os membros superiores para executar sua atividade, adequada a utilizao do mtodo RULA (Rapid Upper Limb Assessment). De acordo com Pavani e Quelhas (2006), o mtodo RULA um instrumento gil e veloz que permite obter uma avaliao da sobrecarga biomecnica dos membros superiores e do pescoo em uma tarefa ocupacional. Zuque e Necchi (2007) afirmam que a anlise realizada lanando-se escores na planilha especfica em funo dos

posicionamentos dos membros analisados, considerando tipo de movimentos, carga e postura. Ao final tem-se um valor varivel de 1 a 7, sendo que a maior pontuao pode significar um risco maior. Esta anlise, contudo, deve servir como indicativo, pois o mtodo no definitivo.

J o Method-Time Measurement (MTM) ou sistemas de tempos pr-determinados, um sistema utilizado para organizar a seqncia de movimentos manuais em movimentos bsicos, que correspondem a um valor padro de tempo pr-determinado, de acordo com a influncia de cada movimento (BARALDI E KAMINSKI, 2011).

De acordo com MTM (2009), cerca de 80% a 85% dos movimentos executados em postos de trabalho podem ser decompostos nos seguintes movimentos bsicos: alcanar, pegar, mover, posicionar e soltar. De acordo com Baraldi e Kaminski (2011) no estudo de anlise MTM, possvel observar uma grande quantidade de movimentos que no agregam valor ao produto.

O MTM-1 um sistema MTM preciso e detalhado, baseado em uma anlise minuciosa dos movimentos em que a unidade de estudo o movimento elementar, ou seja, a parte menor e no ulteriormente decomponvel de uma operao manual. O sistema permite uma tima descrio do mtodo de trabalho, sendo til apenas, conforme Colombini et al. (2008), para o clculo do tempo em um posto de trabalho bem organizado.

2.1 CONSIDERAES SOBRE APLICAO CONJUNTA DE ERGONOMIA E MTM

A incorporao de ferramentas para anlises quantitativas sobre ergonomia e MTM, conforme Fritzsche et al (2011) fornece uma avaliao objetiva das mudanas propostas e, assim, os custos de ensaios da produo extensiva pode diminuir consideravelmente.

A vantagem da metodologia MTM que o usurio obrigado a definir o mtodo de trabalho completamente na fase de planejamento para obter o tempo padro. Esse planejamento ajuda a criar um processo padronizado que, tambm, est em conformidade com as normas ergonmicas em estaes de trabalho (BARALDI E KAMINSKI, 2011).

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Almeida (2008) afirma que o aumento de produtividade no pode ser pensado como uma melhoria em curto prazo. Para que a produtividade seja aumentada de maneira consciente, deve-se atentar para a ergonomia dos postos e atividades dos operadores. Assim, importante notar que em muitos casos, os efeitos dos problemas ergonmicos podem ser notados somente no longo prazo. Se no houver anlise ergonmica quando um mtodo de trabalho proposto com base no mtodo MTM, provvel que futuramente os trabalhadores sofram as consequncias, podendo inclusive diminuir a produtividade e acarretar em prejuzos para a organizao.

importante notar que existem diferenas significativas entre as abordagens da ergonomia e do MTM. A respeito do mtodo MTM, Dias e Tavares (2000) ressaltam que:

o executor da tarefa, o trabalhador, introduzido na tarefa a posteriori, isto , primeiro planeja-se a tarefa e depois seleciona-se o trabalhador que ir realiz-la. Como planejar a tarefa se no se sabe quem ir execut-la? A resposta : baseando-se em um homem mdio. A organizao clssica enxerga os trabalhadores, portanto, como um conjunto de homens mdios, sujeitos a uma produo constante, que realizam operaes independentes, as quais podem ser prescritas atravs da observao dos movimentos ou da combinao de movimentos bsicos obtidos das tabelas de MTM.

Por outro lado, movimentos humanos em um ambiente de trabalho no so determinados

apenas pelas habilidades biomecnica e estirpe ergonmico, mas tambm por um nmero de outras influncias (FRITZSCHE et al, 2011).

Apesar das diferenas entre as abordagens, possvel obter grandes benefcios quando as ferramentas so aplicadas de maneira conjunta. Entretanto, deve-se levar em conta os custos envolvidos e esforos necessrios, uma vez que a grande competitividade exige que as organizaes busquem eficincia e eficcia. Laring et al (2002) ressalta que em uma organizao que utiliza o MTM para planejar sua produo, um grande esforo despedido para determinar o tempo necessrio para que determinada tarefa seja realizada pelo operador. Se o esforo extra para realizar uma avaliao ergonmica for pequeno, o incentivo pode ser suficiente para incluir a ergonomia na avaliao geral do processo planejado.

3. PROCEDIMENTO METODOLGICO

A anlise de um posto de trabalho, usando tcnicas de ergonomia e MTM, constitui o tema central deste trabalho. Uma pesquisa exploratria, por meio de estudo de caso foi desenvolvida com o intuito de apresentar uma aplicao integrada destas tcnicas na anlise de um posto de soldagem de placas eletrnicas de comunicao digital. As etapas seguidas so representadas na Figura 1 e detalhadas a seguir.

Figura 1 Etapas da pesquisa de campo

Fonte: Os autores

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A aplicao da proposta foi utilizada na anlise da bancada de soldagem (Figura 2) de placa eletrnica de uma empresa de comunicao digital. Como critrios aplicados para a seleo do posto, verificou-se primeiramente o volume de produo, considerando que as melhorias do processo teriam um maior impacto para a empresa.

O segundo critrio utilizado refere-se aplicabilidade da proposta do artigo, de integrao das anlises ergonmica e de MTM em um posto de trabalho, conciliando os problemas de sobrecarga biomecnica dos membros superiores, relacionados aos trabalhos envolvendo preciso de operaes manuais.

Figura 2 Bancada de soldagem

Fonte: Os autores

3.1. IDENTIFICAO DOS PROBLEMAS

Em conjunto com o gerente do setor, definiu-se analisar a tarefa de soldagem da placa CTS-2501, especificamente. A tarefa consistia em soldar os componentes fibra e resistor em uma placa eletrnica utilizando soldador e estanho. A tarefa exigia movimentos repetitivos e esforos posturais uma vez que eram aplicados doze pontos de soldagem para a fibra e o resistor, por ter dimenses pequenas, precisava ser manuseado com auxilio de pina. Foram realizadas entrevistas e aplicados questionrios com as pessoas envolvidas - desde o dono da empresa, o gerente do setor at os trabalhadores do posto analisado, para identificar os problemas relacionados atividade de trabalho, ou seja, identificao da demanda ergonmica. Algumas queixas foram constatadas relacionadas atividade em questo, obtidas atravs de reclamaes de dores nos membros superiores relatadas por trabalhadores do posto de trabalho, inclusive com um caso de afastamento.

3.2. ANLISE DA TAREFA

As tarefas desempenhadas pelo operador foram analisadas considerando aspectos da ergonomia fsica e organizacional, desde a descrio da tarefa prescrita e avaliao do posto de trabalho, do ambiente fsico (layout, equipamentos, EPIs), condies ambientais (medies de temperatura, rudo e iluminao), alm das caractersticas pessoais, qualificao profissional e demais fatores psicossociais e de organizao de trabalho (entrevistas e check-list AET), baseado na NR 17 Ergonomia.

A aplicao do check-list da AET instrumentou a identificao da relao entre o operador e o ambiente de trabalho, assimcomo, sua satisfao com a direo e os demais funcionrios da empresa.

O ambiente de trabalho se apresenta adequado s atividades desempenhadas no local, desde layout, disposio dos postos de trabalho e mobilirio e equipamentos. A empresa fornece aos trabalhadores EPIs como mscara, culos de proteo e um exaustor adequado para soldagens, pois a soldagem libera fumaa derivada do estanho.

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O rudo e temperatura esto dentro dos limites recomendados em norma. Com relao a iluminncia constatou-se que estava entre 560 e 580 lux, insuficiente para este tipo de atividade. Observou-se que o estanho utilizado liberava compostos qumicos e o operador no utilizava o exaustor.

Com relao ao mtodo de trabalho, percebeu-se que no havia uma padronizao na prescrio da tarefa. O operador no recebia treinamento prvio, mas conhecia o processo e realizava a tarefa da seguinte forma:

Preparar a caixa de fibras (10unidades), abrir e posicionar nabancada de trabalho;

Pegar placa eletrnica e colocar naposio de trabalho;

Pegar fibra e colocar na placa;

Pegar estanho e soldador e soldarprimeiro ponto de fibra para fixao;

Soldar demais pontos de fibra naplaca;

Pegar resistor com pina e soldar;

Colocar placa pronta na bancada detrabalho.

3.3. ANLISE DAS ATIVIDADES DO POSTO DE TRABALHO

A anlise das atividades executadas pelo operador no posto de trabalho na realizao da tarefa de soldagem da placa eletrnica foi feita atravs da avaliao Ergonmica e do mtodo MTM-1.

3.3.1 ANLISE ERGONMICA

Para identificar e quantificar os principais fatores de riscos devido sobrecarga biomecnica dos membros superiores foram aplicados o questionrio nrdico de sintomas

osteomusculares e o mtodo de avaliao postural Rapid Upper Limb Assessment (RULA).

A partir de observaes e filmagens das atividades, foi possvel constatar as seguintes informaes relacionadas etapa de anlise das atividades:

Falta de padronizao na execuoda tarefa pelo operador, visto que emalguns momentos a mesma soldava afibra e o resistor logo em seguida naplaca e, em outros era soldado a fibraem todas as placas e depois oresistor;

Falta de ordenao na disposio dosobjetos na bancada de trabalho;

Grandes distncias de movimentos,em mdia, e fora das recomendaesergonmicas;

Obstruo do movimento do operadorpara alcanar uma fibra, para desviardo estanho com movimento em curva.

A fim de ter uma anlise mais consistente e com maiores critrios em relao aos aspectos fsicos, foram utilizadas algumas ferramentas ergonmicas mais especficas, como o questionrio nrdico de sintomas osteomusculares, no qual o operador relatou sentir dores em determinadas regies do corpo, causadas pela execuo da tarefa, nos ltimos doze meses.

Para utilizao do protocolo RULA, foram analisadas as filmagens da postura assumida pelo operador durante a realizao da atividade de trabalho, classificando-as de acordo com o mtodo de avaliao postural aplicado. O mtodo RULA classifica as posturas por partes do corpo (brao, punho, pescoo, pernas, antebrao, rotao de punho, tronco) e a atividade, em relao postura esttica, aes repetitivas e carga. A Tabela 1 mostra os dados obtidos para a etapa pegar placa eletrnica.

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Tabela 1 - Anlise da etapa pegar placa eletrnica utilizando o mtodo RULA

Fonte: Os autores

3.3.2 ANLISE MTM-1

Para avaliar o mtodo e o tempo de execuo foi utilizado o mtodo MTM-1. Inicialmente foram identificados os componentes e ferramentas utilizados na realizao da tarefa, as faixas de distncias assim como o mtodo

de trabalho com base nas observaes e entrevistas com o operador. A Tabela 2 apresenta os componentes, ferramentas e faixas de distncias em que se encontram.

Tabela 2- Componentes, ferramentas e faixa de distncia

Fonte: Os autores

Em seguida foi feito o desmembramento da sequncia de atividades da tarefa em nove etapas operacionais (Tabela 3). Para auxiliar

nesta etapa foram realizadas filmagens e fotos.

Tabela 3- Etapas operacionais

Fonte: Os autores

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Para cada uma das etapas operacionais foi feita a descrio usando os smbolos dos movimentos bsicos de acordo com a tabela MTM-1. Para cada movimento foi atribudo o valor do parmetro de influncia (extenso dos movimentos) e o valor de tempo obtendo-se dessa foram o tempo de cada etapa operacional. Somando-se os tempos de cada

etapa operacional tem-se o tempo total para realizao da tarefa. O tempo total para a tarefa foi de 1,06 min/placa. A Tabela 4 apresenta, como exemplo, a descrio dos movimentos, parmetros de influncia e o valor de tempo da etapa pegar placa eletrnica.

Tabela 4 Movimentos bsicos para etapa pegar placa eletronica

Fonte: Os autores

3.4. DIAGNSTICO E PROPOSTAS DE MELHORIAS

3.4.1 DIAGNSTICO

Nesta etapa foi realizado um diagnstico baseado na anlise ergonmica e MTM-1, a fim de propor melhorias nas condies de trabalho e sade destes profissionais.

A partir das etapas de anlise da tarefa e das atividades, no foram identificados problemas significativos relacionados aos aspectos da ergonomia fsica, visto que os elementos do posto de trabalho, como bancada, cadeira com regulagem de altura, encosto de costas e braos so adequados para o tipo de atividade realizada.

O operador desempenha suas atividades com segurana e satisfao, porm no utilizava os EPIs como mscara e culos de proteo, por serem incmodos e o exaustor para soldagens, devido ao rudo.

A iluminao do ambiente, no local do posto analisado, deveria adequar-se a norma NBR 5413, visto que a atividade se encaixa na classe C por se tratar de soldagem de eletrnicos com componentes pequenos. Em relao aos aspectos fsicos, no se observou situaes crticas na qual o operador era submetido, sendo assim, no se necessita de uma interveno em curto prazo. Os aspectos cognitivos foram desconsiderados na anlise, considerando apenas a grande experincia do operador no domnio da atividade.

Atravs dos resultados de aplicao das ferramentas ergonmicas de avaliao de riscos biomecnicos, constatou-se que o operador sente dores em determinadas regies do corpo, causadas pela execuo da tarefa, porm aps a aplicao do mtodo de avaliao postural proposto, no foram identificados riscos biomecnicos.

Com relao ao mtodo de trabalho no havia padronizao sendo que o operador alterava a sequencia de atividades na realizao da tarefa. A disposio e distncia dos componentes e ferramentas na bancada de trabalho no estavam adequados fazendo com que muitos movimentos tivessem uma extenso maior do que o necessrio.

3.4.2 PROPOSIO DE MELHORIAS DO POSTO DE TRABALHO

Foram feitas duas propostas de melhorias a fim de obter uma padronizao da atividade de soldagem, assim como, uma melhoria nos aspectos ergonmicos do posto.

Para ambas as propostas propem-se adequao do nvel de iluminao do posto de trabalho analisado, seguindo recomendaes da norma NBR 5413, classe C por se tratar de soldagem de eletrnicos com componentes pequenos. Em relao aos aspectos fsicos, no se observou situaes crticas na qual o operador era submetido, sendo assim, no se necessita de uma interveno em curto prazo. Recomenda-se

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que o operador faa pausas durante a realizao da tarefa.

O mtodo de trabalho foi padronizado e as ferramentas, componentes e materiais auxiliares foram dispostos de forma adequada na bancada. O estanho foi colocado a uma

distncia maior que a fibra e o resistor, pois o mesmo atrapalhava o movimento at a fibra. A pina foi colocada em um local fixo, a uma distncia menor que os componentes. O layout proposto para a bancada de soldagem pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 Proposta de layout da bancada de soldagem

Fonte: Os autores

Na proposta 1, o operador pega da caixa dez placas e coloca na bancada. Pega a placa e faz a soldagem da fibra e resistor, simultaneamente, em cada placa at completar um lote de dez placas.

Na proposta 2, o operador pega da caixa dez placas e dispe na bancada. Pega uma placa, faz primeiro a soldagem da fibra e coloca placa na bancada. Repete isto para as dez placas. A operadora faz a mesma sequncia para a soldagem do resistor.

3.5. AVALIAO E ESCOLHA DAS PROPOSTAS ATRAVS DE MTM

As propostas elaboradas foram avaliadas pelo mtodo MTM-1. Para cada proposta, foi feito o desmembramento da atividade em etapas operacionais, descrio das observaes usando smbolos dos movimentos bsicos, atribuio dos valores aos parmetros de influncia e seus efeitos e atribudos o valor tempos aos movimentos bsicos determinando-se o tempo da tarefa. A proposta 1 resultou num tempo total da tarefa de 0,98 min/placa enquanto a proposta 2 foi de 0,92 min/placa. Dessa forma a proposta escolhida foi a proposta 2.

4. CONSIDERAES FINAIS

A anlise de um posto de trabalho abrange inmeros fatores como operadores, condies de trabalho e organizao geral da empresa os quais so cruciais para a adequao de um posto de trabalho segundo as normas ergonmicas.

Por outro lado o mtodo MTM propiciou uma padronizao da execuo da atividade, e como maior diferencial, foi possvel fazer uma anlise e uma simulao da tarefa isenta de um teste no posto de trabalho e, por fim, obter o tempo final de execuo da mesma.

A aplicao conjunta da anlise ergonmica do trabalho e do mtodo MTM-1 na anlise do posto de soldagem propiciou uma melhoria no mtodo de trabalho, no qual os movimentos desnecessrios foram eliminados, as distncias dos movimentos foram otimizadas e padronizadas respeitando as normas ergonmicas.

Recomenda-se a aplicao conjunta das ferramentas de anlise ergonmica e de MTM, visto que possvel obter melhorias no que tange ao mtodo e tempo de execuo da tarefa, sem deixar de se preocupar com os aspectos ergonmicos da estao de trabalho, os quais alm da eficcia do sistema produtivo priorizam a sade e segurana do trabalhador.

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REFERNCIAS

[1] ALMEIDA, D.L.M. Anlise da aplicao do mtodo MTM em empresas de manufatura: estudos de caso. 2008. 159f (Dissertao de Mestrado em Engenharia Mecnica) Universidade Federal de Santa Catarina. Florianpolis, 2008.

[2] BARALDI, E. C. ; KAMINSKI, P. C. Ergonomic planned supply in an automotive assembly line. HumanFactorsandErgonomics in Manufacturing, v. 21, p. 104-119, 2011.

[3] COLOMBINI, D.; OCCHIPINTI, E.; FANTI, M. Mtodo OCRA para a anlise e a preveno do risco por movimentos repetitivos: manual para a avaliao e a gesto do risco. So Paulo: LTr, 2008.

[4] COUTO, H.A. Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lies. Belo Horizonte: Ergo, 2002.

[5] DIAS, A.V.C.; TAVARES, J.C. Anlise ergonmica do trabalho e a organizao qualificante: sinergias e divergncias. Escola Politcnica USP, 2000.

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[8] FRITZSCHE, L., R. JENDRUSCH, ET AL. (2011). Introducing ema (editor for manual work activities) - A new tool for enhancing accuracy and efficiency of human simulations in digital production planning. 6777 LNCS: 272-281.

[9] GONALVES, E. C. Constrangimentos no posto do motorista de nibus urbano segundo a viso macroergonmica. Dissertao de Mestrado profissionalizante, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003.

[10] GUIMARES, L. B. de M. Design Ergonmico: Postos de Trabalho, Equipamentos e Ferramentas. In: Ergonomia do produto 2. Porto Alegre: Ed. FEENG - PPGEP/ UFRGS, 2006.

[11] KROEMER, K.H.E. e GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Bookman, 2005.

[12] LIMA, J.A.A. Bases tericas para uma metodologia de anlise ergonmica. In: 4 Congresso internacional de ergonomia e usabilidade de interfaces humano-tecnologia: produtos, programas, informao, ambiente construdo, 2004

[13] LIMA, J.A.A. Metodologia de Anlise Ergonmica. Joo pessoa, 2003.

[14] MTM. Apostila do Mtodo Bsico MTM. So Paulo: Associao MTM do Brasil, 2009.

[15] PAVANI, R.A.; QUELHAS, O.L.G. A avaliao de riscos como ferramenta gerencial em sade ocupacional. In: XII Simpsio de engenharia de produo, 2006.

[16] WALTRICK, R.P.. Criao de ferramenta manual para retirada de porcas hidrulicas de grande porte utilizando conceitos de ergonomia, projeto do produto e MTM. In: XVII Simpsio de engenharia de produo, 2010.

[17] ZUQUE, A.L.S.; NECCHI, J.A. Avaliao do risco ergonmico pelo mtodo RULA de funcionrios que usam o computador. Revista Conexo, Trs Lagoas, v. 04, n. 1, dezembro 2007.

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CAPTULO 2 PRODUTIVIDADE E AVALIAO DE DESEMPENHO DO TRABALHO A PARTIR DA PERSPECTIVA DA ANLISE DA ATIVIDADE. UM ESTUDO DE CASO NO SETOR DE SUPRIMENTOS DE UMA GRANDE EMPRESA

Juliana Giglio de Andrade

Thales da Silveira Paradela

Francisco Jos de Castro Moura Duarte

Resumo: A transio da sociedade industrial para a ps-industrial lana desafios importantes organizao do trabalho. No contexto em que parte significativa do trabalho humano se d de forma imaterial, na criao de conceitos, ou mesmo na construo conjunta de significado da atividade de trabalho, como no caso do setor de servios, diminui substancialmente a capacidade do gestor de antecipar o contedo do trabalho, ora complexo, e criar procedimentos padronizados para sua realizao. Com a variao do contedo do trabalho, os tempos de ciclo industriais tem dificuldade em representar a quantidade de trabalho realizado, o que dificulta medir sua eficincia atravs do conceito clssico de produtividade expresso por Volume/unidade de tempo. Nesse contexto, essa pesquisa prope avaliar a adequao, em relao realidade da atividade de trabalho, dos parmetros de desempenho organizacional utilizados na avaliao do trabalho em uma operao da rea de compras. Para tanto, foi lanada mo da Anlise Ergonmica do Trabalho (AET) para, a partir da compreenso da atividade de trabalho, testar premissas utilizadas no projeto organizacional e identificar outros fatores de intervenincia que balizam as estratgias operativas e que teriam sido desconsiderados na elaborao do projeto dos parmetros de desempenho para avaliao do trabalho. Ao final, a pesquisa aponta uma possibilidade de um projeto organizacional com foco na atividade de trabalho de modo a singularizar a aplicao do projeto s caractersticas da rea e incorpora na avaliao de trabalho elementos de desempenho estratgico.

Palavras-chave: Avaliao de desempenho; Produtividade; Projeto Organizacional.

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1. INTRODUO: DESAFIOS DA AVALIAODE DESEMPENHO NA ERA PS-INDUSTRIAL

A moderna sistematizao do controle e avaliao do trabalho humano nos sistemas produtivos encontra a sua origem nos Princpios de Administrao Cientfica de Taylor (1990), num contexto de produo em srie, de produtos industriais padronizados, em sistemas intensivos em mo de obra. Neste contexto, o uso intensivo do fator de produo mo de obra apresenta-se como fator decisivo de aumento de desempenho organizacional. Com o produto e o mtodo de trabalho padronizados, a eficincia organizacional dependia, do ponto de vista da gesto do trabalho, da melhor utilizao do tempo de trabalho, o que significava a maior quantidade de ciclos produtivos por unidade de tempo. Isso justifica a grande fora que o conceito de Produtividade, representado por sua clssica unidade de medida volume / unidade de tempo, ganhasse centralidade na gesto organizacional, quase confundindo-se com o prprio conceito de avaliao do trabalho.

Uma das teses principais de De Masi (1999) que a partir da metade do sculo XX a sociedade teria iniciado uma transio do industrialismo para o ps-industrialismo, enquanto a organizao do trabalho praticada nas organizaes continuaria baseada fundamentalmente nos padres industriais. Do ponto de vista especfico desta pesquisa, destaca-se a primazia da utilizao do conceito de Produtividade, com foco na eficincia, para a avaliao do trabalho em sistemas produtivos no industriais. Chama ateno ainda a relevncia da medio de Volume/unidade de tempo em processos no padronizados, com tempos de ciclos variados, o que do ponto de vista da atividade de trabalho realizada, tenderia a fazer menos sentido. Esta dificuldade mais facilmente percebida nas atividades de trabalho do setor de servios, as quais, ao inserirem a relao com o cliente, requerem uma mobilizao subjetiva por parte do trabalhador em registros invisveis, uma vez que so relacionais e at mesmo intersubjetivos (DEJOURS, 2008, p.62). O que Djours chama de invisibilidade do trabalho efetivo (DEJOURS, 2008, p.75) para o padro industrial de avaliao faz o autor sugerir que no estado atual dos conhecimentos, no se pode avaliar o trabalho porque no se sabe faz-lo devido sua singularidade, tornando o

mtodo de avaliao pelo tempo de trabalho totalmente inadaptados (DEJOURS, 2008, p. 64).

Modernamente, a meritrocracia se institui como uma mobilidade organizacional focada no uso de parmetros de desempenho organizacional para avaliao do trabalho humano. Para Baker & Maddux (2005), no h possibilidade de administrar o que no se entende, em consequncia, o que no medido efetivamente, no se pode entender. Essa perspectiva reduz o contedo sensvel do trabalho s possibilidades de medidas de desempenho organizacional. A despeito disso, trata-se de uma modalidade gerencial que vem ganhando espao na gesto contempornea.

Dentro desta perspectiva, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a adequao, em relao realidade da atividade de trabalho, dos parmetros de desempenho operacionais utilizados na avaliao do trabalho em uma determinada operao da rea de servios. Para tanto, a pesquisa identificou premissas iniciais utilizadas no projeto da avaliao do trabalho e testou a aderncia destas em relao atividade de trabalho real a ser avaliada. Identificada a inadequao destas premissas, a pesquisa utilizou a anlise da atividade de trabalho para identificar elementos concretos que balizam as estratgias operativas e que devessem ser considerados no projeto organizacional de avaliao do trabalho. Ao final, a pesquisa aponta uma possibilidade de reconstruo deste projeto organizacional, com foco na atividade de trabalho e nos objetivos estratgicos da organizao.

2. A IDEIA DA TAREFA E ALGUNS DE SEUSINDICADORES DE DESEMPENHO

A pesquisa (ANDRADE, 2013) estudou uma unidade do setor de suprimentos de uma grande empresa: a mesa de servios (MDS). A criao da MDS se deu como resposta organizacional aos atrasos das requisies de suprimentos. Com o aumento da escala de atividade da empresa, as demandas de suprimentos foram crescendo em volume e variedade de requisitos. A ideia foi concentrar os compradores nas atividades de seleo, negociao e contratao de fornecedores, legando MDS as atividades repetitivas de gesto do contrato j assinado. Assim, a premissa da organizao que a atividade de manuteno contratual de baixa

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complexidade, altamente padronizvel, podendo ser estruturada num setor especializado que utilize operadores de baixa qualificao. Isso liberaria os compradores qualificados para o trabalho mais central da rea de suprimentos, aumento a capacidade do setor.

A atividade principal da MDS a manuteno contratos pr-existentes, com os fornecedores j selecionados, com valor inicialmente acordado e termos contratuais discutidos. As principais tarefas so os aditivos de prazo e valor dos contratos acordados, bem como o reajuste anual dos valores contratados atravs de frmulas paramtricas previstas em contrato.

A avaliao do trabalho na MDS feita de maneira individualizada, principalmente com base nos resultados operacionais de cada operador em relao s metas estabelecidas pelos parmetros de desempenho. Esta avaliao do trabalho determinante para a progresso de carreira e principalmente a remunerao varivel proporcional s metas atingidas.

Dentre os parmetros de desempenhos que so utilizados na avaliao do trabalho da MDS, destaca-se o lead time. Lead time corresponde ao tempo total, em dias, que o processo de tratamento da requisio realizado, desde a aprovao da requisio pelo gerente da rea-cliente at a concluso da manuteno contratual no sistema.

2.1 AVALIAO DE ALGUMAS PREMISSAS ASSUMIDAS NA IDEIA DA TAREFA

A pesquisa buscou avaliar, em relao atividade de trabalho real, a adequao de

duas das premissas centrais usadas no projeto organizacional da MDS: o clculo da produtividade de cada operador e a presumida baixa variabilidade da atividade.

Na MDS a Produtividade individual de cada operador leva em considerao diversos fatores. O mais sensvel atividade real de trabalho o Valor do Contrato. A cada faixa de valor contratual, atribudo um ndice. A produtividade do operador o somatrio de: requisies tratadas por ele dentro do prazo, multiplicadas pelo ndice de cada faixa de valor. De acordo com estes ndices, tratar uma requisio at R$ 4.000.000,00 duas vezes mais produtivo que uma at R$ 500.000,00. Caso esta premissa estivesse correta, seria razovel supor, luz da atividade de trabalho real, que um contrato mais caro d mais trabalho para tratar que um contrato mais barato.

Para avaliar esta premissa comparou-se a mdia dos lead times para o tratamento das resquisies nos principais processos da MDS, para as duas faixas de valor contratual mencionadas acima. Foi usado o mtodo estatstica t de duas amostras com varincias diferentes (TRIOLA 2012, p.473). Caso a premissa estivesse correta, o tempo mdio dos lead times da faixa de maior valor contratual deveria ser maior do que na faixa de menor valor. A hiptese nula afirma que, em mdia, o lead time das requisies de valores de contratao das diferentes faixas de valor contratual so iguais. A hiptese alternativa diz que existe uma diferena entre a mdia do lead time em diferentes faixas contratuais analisadas. O resultado do teste resume-se no quadro 1.

Quadro 1 Resultados da premissa de produtividade

Processo de Tratamento P-value bicaudal

Padro (nivel de confiana) Concluso

Reajuste por frmula

paramtrica

0,65 0,05 P-value>0,05: aceita-

se a Ho

Aditivo de Prazo e valor 0,14 0,05 P-value>0,05: aceita-

se a Ho

Aditivo de Prazo 0,108 0,05 P-value>0,05: aceita-

se a Ho

Fonte: Andrade (2013)

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Com base no teste, aceita-se a hiptese nula e no se pode comprovar estatisticamente que haja diferena entre as mdias do lead time para diferentes faixas de valor contratual. Do ponto de vista da atividade de trabalho, no se justifica o uso de ndices de produtividade diferentes para valores de faixas contratuais distintas.

A outra premissa escolhida para avaliao foi a de baixa variabilidade da atividade da MDS e a consequente possibilidade de padronizao, repetio de ciclos operacionais e seu controle sob a forma de Volume/unidade de tempo. Caso esta premissa estivesse correta, do ponto de vista da atividade de trabalho real, em situao de funcionamento normal, haveria uma baixa

disperso nos tempos de ciclos operacionais, como se d na indstria.

Para avaliar esta premissa, novamente com tcnicas de estatstica descritiva, foi utilizado o grau de curtose. A curtose avalia o grau de disperso de determinada amostra, podendo ser: platicrtica (alta disperso caracterizada por uma curva achatada) ou leptocrtica (baixa disperso caracterizada por uma curva alongada) (BRUNI, 2011, p.80). Foram escolhidos os operadores mais experientes em cada processo de contratao. Para cada comprador, foi calculado a curtose real do conjunto de valores do lead time de tratamento de suas requisies, comparando com o valor terico de classificao da disperso (KTERICO = 0,263).

Quadro 2 Resultados da premissa de baixa variabilidade

Processo de Contratao Comprador Grau de

Curtose

Classificao da distribuio

pelo grau de curtose

Reajuste por frmula parmetrica Comprador 2 0,279 Platicurtica 0,279 > Kterico

Comprador 13 0,308 Platicurtica 0,308 > Kterico

Aditivo de Prazo Comprador 3 0,272 Platicurtica 0,272 > Kterico

Comprador 9 0,267 Platicurtica 0,267> Kterico

Aditivo de Prazo e valor Comprador 14 e 15 0,264 Platicurtica 0,264 > Kterico

Fonte: Andrade (2013)

Diante dos resultados apresentados no se pode afirmar que atividade tenha alta concentrao do valor do lead time (tempo de ciclo). Isso dificulta a percepo de que se trata de tarefa altamente padronizada, com baixa variabilidade dos ciclos de tratamento.

O que a anlise dos resultados acima sugere que as duas premissas de projeto organizacional utilizados na formulao da avaliao do trabalho da MDS no aderem realidade da atividade real de trabalho do setor. Isso indica que estes parmetros de desempenho possuem pouca capacidade de influenciar a atividade real de trabalho e podem mesmo obstruir aes operacionais que concorram para o aumento de desempenho do processo como um todo.

3. A ANLISE DA ATIVIDADE DE TRABALHO PARA COMPREENDER O LEAD-TIME

A possibilidade de sntese entre as Abordagens Organizacionais e a Anlise Ergonmica do Trabalho (GURIN, 1991) defendida por Salerno (2000) como uma possibilidade de enriquecimento analtico no projeto organizacional. Segundo o autor, se por um lado as Abordagens Organizacionais conferem maior facilidade de percepo das partes das organizaes e suas interrelaes, suas interfaces (p.51); por outro lado a AET pode ser um bom instrumento para ajudar a anlise organizacional [...] a voltar a incorporar o trabalho explcita, sistemtica e controladamente [...] em suas consideraes (p.58). A utilizao desta combinao de

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abordagens utilizada por Paradela (1999 e 2005), tendo sido capaz de orientar metodologias concretas de projetos organizacionais. Neste sentido, esta pesquisa buscou utilizar a Anlise da Atividade como suporte metodolgico de investigao dos fatores de intervenincia na atividade de trabalho real da MDS, com vistas ao projeto dos parmetros de desempenho operacionais utilizados na avaliao do trabalho.

A investigao partiu do conjunto de requisies cujos lead times extrapolaram a meta nos 6 meses anteriores pesquisa. O objetivo era identificar fatores de intervenincia sobre a atividade de trabalho da MDS que mais impactavam em seu resultado, devendo, portanto, servir de base para o projeto de avaliao do trabalho da MDS. A histria destas requisies foi reconstruda a partir da perspectiva dos operadores, tendo como base seus prprios registros pessoais.

Esta anlise permitiu identificar trs principais grupos de fatores de intervenincia no considerados na ideia preliminar da tarefa da MDS:

[1] Trabalho Externo (TE) atividades que impactam nos processos da MDS, mas so de responsabilidade de outros setores da empresa;

[2] Trabalho Suplementar (TS) tarefas inicialmente no previstas, mas que foram incorporadas atividade de trabalho da MDS;

[3] Trabalho Bloqueado (TB) condies que impedem que os operadores da MDS realizem atividades de sua responsabilidade.

Em comum, todos estes fatores possuem o fato de influenciar no lead time e terem sido desconsiderados no projeto da tarefa da MDS.

Os principais fatores encontrados para o processo de Reajuste por Frmula Paramtrica foram:

ndices utilizados como referncia de reajuste contratual no divulgados pelos organismos responsveis na data do reajuste do contrato (TB);

Negociao para reduo do valor de reajuste (TS);

Retroagir os reajustes para valores pagos anteriormente (TS).

Neste processo, destaca-se a incluso de etapa de negociao antes desconsiderada. Sofrendo impactos da degradao do cenrio externo de negcios, a empresa orientou o setor de suprimentos a renegociar as bases contratuais de seus fornecedores, incluindo o direito de reajuste anual de contratos de longo prazo j assinados. Essa atividade, no prevista inicialmente, pode gerar economias significativas organizao. Trata-se de atividade complexa e seu tempo de execuo no foi considerado na meta de 21 dias inicialmente prevista para o lead time.

J para o processo de expanso contratual atravs de Aditivos de Prazo/Valor, foram encontrados os seguintes fatores de intervenincia no previstos:

fornecedor bloqueado no sistema (TE);

tempo de resposta do fornecedor para aceite dos termos dos aditivos e para assinatura da minuta do contrato (TE);

Desatualizao do quadro de quantidades e preos que serve de base para clculo dos valores contratuais (TS);

Tratamento e avaliao de exigncias de contrapartidas do fornecedor para aceitar bases de aditivos de contrato (TS);

Tratamento inicial das requisies realizado em outros setores (TB).

Percebe-se que nos casos de Trabalho Externo (TE) e Trabalho Bloqueado (TB) a contagem do tempo de lead time corre em momentos em que o operador da MDS no tem como avanar no tratamento da requisio. Alm disso, nos casos de Trabalho Suplementar (TS), h acrscimo de tarefas na atividade de trabalho sem aumento do tempo previsto para sua realizao na meta de lead time. Segue uma figura que dimensiona o impacto no lead time da MDS destes fatores de intervenincia no previstos e que permite perceber que se a atividade de trabalho do operador fosse apenas o tratamento da requisio, como previsto no projeto organizacional da rea, facilmente todas as requisies teriam sua meta alcanada.

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Figura 1 Impacto dos fatores de intervenincia no lead time

Fonte: Andrade (2013)

O que se depreende da identificao dos fatores de intervenincia acima revelados que no houve uma preocupao em projetar os parmetros de desempenho que avaliam o trabalho na MDS com foco na real atividade de trabalho ali realizada. Isso gera distores severas. Por um lado, no caso de Trabalho Externo ou Trabalho Bloqueado, a impreciso de clculo do lead time incorpora na avaliao do trabalho do operador diversas ineficincias de outros setores da companhia que podem distorcer a percepo de qualidade de seu trabalho. Por outro lado, a desconsiderao dos fatores de Trabalho Suplementar afeta o dimensionamento da meta de 21 dias utilizadas para o lead time, incorporando trabalho atividade do operador sem computar esse acrscimo na meta projetada.

Do ponto de vista do desempenho organizacional, fatores como a negociao de valores de reajustes contratuais no so valorizados na meta. Ao no considerar o tempo de negociao na previso da meta, sugere-se que no importante investir tempo nessa atividade para obter o menor reajuste, pois isso aumentaria o lead time e impactaria negativamente na percepo de valor do trabalho do operador. Um outro aspecto relevante que, diante da impossibilidade de gerenciar os fatores de TE e TB que fazem avanar o lead time, a nica estratgia possvel ao operador da MDS a intensificao da jornada de trabalho. Como o lead time medido em dias, e no em horas, aumentar o tamanho do dia ajuda a reduzir o impacto destes efeitos no lead time. De fato,a pesquisa pde perceber a utilizao sistemtica de hora-extra (no remunerada) no setor, como sugere um operador: a nica maneira realizar hora-extras para tentar

bater o lead time, ou pelo menos no ter um lead time to maior.

4. ALGUMAS INDICAES PARA UMPROJETO ORGANIZACIONAL NA MESA DE SERVIOS

A pesquisa termina por sugerir elementos de orientao de uma reconfigurao do projeto organizacional das medidas de desempenho utilizadas na avaliao do trabalho na MDS. As indicaes permitem avanar o projeto organizacional em dois princpios: 1) Maior adequao das medidas de desempenho (mtrica e meta) em relao realidade da atividade de trabalho na MDS e 2) Ampliao da avaliao do trabalho tambm para itens de Qualidade da tarefa em relao ao desempenho organizacional como um todo.

A primeira proposta baseia-se na ideia de que devem existir dois lead time: a) o lead time final refere-se ao tempo total do processo a partir da criao da requisio at a concluso do tratamento pela rea de compras e b) lead time do operador usado para medir a atividade de trabalho apenas do comprador durante o tratamento da requisio, excetuando-se todos os fatores de Trabalho Externo e Trabalho Bloqueado. Assim, o lead time final, avaliando a velocidade de todo o processo, passaria a ser uma meta conjunta de todas as reas envolvidas. O operador seria medido apenas pelo lead time especfico de seu trabalho.

Com relao incorporao da dimenso da Qualidade na avaliao do trabalho da MDS, este projeto pretendeu interrogar sobre o que seria um BOM resultado do trabalho do operador da MDS. Do ponto de vista da operao, o trabalho deve ser capaz de

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manter a normalidade operacional, sem a interrupo da prestao dos servios contratados. Do ponto de vista estratgico, o operador da MDS, sobretudo nos processos envolvendo negociao de reajustes, pode conseguir economias importantes para a empresa. De certa forma, so dois critrios que juntam diferentes parmetros de desempenho, mas permitem uma abordagem concreta em relao ao funcionamento organizacional como mostra o quadro 3.

As principais contribuies deste quadro de parmetros de desempenho para a avaliao do trabalho da MDS so:

Adaptao realidade do trabalho do operador, tornando mais precisa a percepo de qualidade deste trabalho, ao medir o lead time exclusivo de seus processos, sem incorporar trabalho de outros setores;

Adequao do valor da meta de lead time para processos com negociao, de forma a motivar o investimento de trabalho nesta atividade, gerando reduo do valor dos reajustes e consequente economia monetria para a empresa;

Reduo do nmero de parmetros de eficincia utilizados na avaliao do trabalho, atravs da eliminao de parmetros de eficincia redundantes (aging, sade da carteira...) e imprecises conceituais (Produtividade). A combinao de lead time (mdia dos tempos de ciclo) com SLA (percentual de requisies tratadas no prazo) do conta da percepo de eficincia do processo;

Incorporao de parmetros de eficcia com foco no desempenho global da organizao.

Quadro 3 Quadro de proposies da avaliao

Parmetro Forma de Clculo Valor

Lead time do operador

Mdia dos lead times do operador, excetuando-se os fatores de Trabalho Bloqueado e Trabalho Externo

Processos com negociao: 21 dias

Demais processos: 14 dias

SLA (Service Level Agreement)

Quantidade de requisies entregues no prazo acordado com o cliente/ Quantidade total deRequisies tratadas

85%

% Servios Interrompidas

Percentual de vezes que a prestao dos servios contratados foram interrompidos por problemas na manuteno contratual

0%

Economia Financeira na negociao

% de reajuste economizado com a negociao com o fornecedor 50%

Fonte: Andrade (2013)

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5. CONCLUSES

A avaliao, em relao atividade de trabalho, das premissas utilizadas no projeto organizacional da MDS mostra que no possvel afirmar tratar-se de uma atividade de baixa complexidade. Os testes tambm no logram comprovar que exista uma relao direta entre a quantidade de trabalho e o valor do contrato, de forma a sustentar a metodologia atual de clculo da Produtividade. Conclui-se que o projeto organizacional, no que tange sua concepo e avaliao do trabalho, baseou-se mormente na generalizao de medidas de desempenho em outros setores da empresa e no foram construdos com base na realidade singular da atividade de trabalho da MDS.

Um dos efeitos desta inadequao a dificuldade do operador em construir estratgias operativas eficientes para influenciar na qualidade percebida do seu trabalho. Parte significativa desta qualidade percebida devida a fatores que ele no controla. Por outro lado, estratgias operativas importantes para o desempenho da organizao, como a negociao de reduo de valor dos reajustes contratuais, no aparecem na avaliao de desempenho, no sendo valorizadas em sua medio. Pelo contrrio, para economizar dinheiro nos contratos, o operador, ao empreender maior tempo de negociao, acaba sendo avaliado de forma negativa. Diante da baixa autonomia de possibilidades de influenciar na qualidade percebida de seu trabalho, a estratgia mais comum utilizada pelos operadores a intensificao sistemtica da jornada de trabalho, o que contribui para o aumento da percepo de desgaste dos operadores e alta rotatividade de operadores no setor, alm de encobrir ineficincias sistmicas da organizao.

A avaliao de desempenho do trabalhador, sobretudo em sistemas de remunerao variveis, tende a se constituir num importante balizador de estratgias operacionais. A forma como ser avaliado induzir a forma como o trabalhador desempenha sua atividade. Portanto, o projeto da avaliao do trabalho, bem como dos parmetros

operacionais a serem nela utilizados, constitui parte nevrlgica do projeto organizacional como um todo. A perspectiva de projeto singular desta avaliao, tomando como base objetivos estratgicos da organizao e a especificidade da atividade de trabalho ali desenvolvida, podem constituir fator de importante aprimoramento no desempenho organizacional. Neste caso, a Anlise Ergonmica do Trabalho pode atuar como til suporte metodolgico a fazer emergir a perspectiva da atividade real do trabalho de cada rea a ser projetada.

A pesquisa sugere ainda que a primazia do conceito de Produtividade, sobretudo em sua mtrica Volume/unidade de tempo, no encontra fcil adequao em atividades ps-industriais no padronizadas e de alta complexidade, muitas das quais no setor de servios. Esta perspectiva pode ser encarada por dois ngulos: 1) A necessidade de um esforo terico na busca de adequao de mtricas e conceitos para a aplicao da Produtividade no setor de servio e 2) A prpria perda de prioridade da Produtividade como forma principal de medir o desempenho do trabalho neste setor. De toda forma, duas questes que esta pesquisa no pretendeu exaurir, mas que sugere para reflexo futura.

A proposta de reconfigurao da avaliao do trabalho na MDS apresentada nesta pesquisa, ao mesmo tempo que singulariza o projeto a partir das caractersticas da atividade real de trabalho no setor, incorpora elementos de desempenho estratgicos (economia em negociaes e normalidade operacional). A proposta se mostra ainda como uma simplificao da avaliao, eliminando medidas de desempenho menos adequadas ou redundantes, facilitando tanto o controle de seus resultados por parte da gerncia, como o foco em seu desempenho por parte dooperador. Importante ressaltar que o clculo do valor das metas propostas neste novo formato precisaria ter suporte numa outra pesquisa especfica para dimensionamento das metas com base na atividade de trabalho real. Os valores aqui sugeridos devem ser considerados em carter ilustrativo preliminar, apenas para melhor entendimento conceitual da proposta.

REFERNCIAS

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[3] De MASI, Domnico, 1999. O futuro do trabalho: fadiga e cio na sociedade ps-industrial. 2 ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1999.

[4] DEJOURS, Christophe. Trabalho, Tecnologia e Organizao: Avaliao do trabalho submetido prova real. So Paulo: Blucher, 2008

[5] GUERIN et al. Comprendre le travail pour le transformer. PARIS: ANACT, 1991.

[6] PARADELA, Thales .Alm do contrato: a cooperao e outras estratgias de gesto em uma linha de produo estruturada em rede. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 154p. Tese (Mestre em Engenharia de Produo) Programa de Ps-Graduao e Pesquisa de

Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 1999.

[7] PARADELA, Thales. A transio de comando de uma pequena empresa industrial no Brasil como projeto organizacional segundo uma perspectiva ergolgica. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. 250p. Tese (Doutorado em Cincias em Engenharia de Produo) Programa de Ps-Graduao e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2005.

[8] SALERNO, M. Anlise ergonmica do trabalho e projeto organizacional: uma discusso comparada. In ABEPRO Revista Produo. Nmero especial . p. 45-60, ago. 2000.

[9] TAYLOR, Frederick. Princpios de administrao cientfica. So Paulo: Atlas, 1990.

[10] TRIOLA, M. Elementary Statistics technology update. Boston: Pearson Education, 2012.

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Tpicos em Ergonomia e Segurana do Trabalho - Volume 1

CAPTULO 3 AVALIAO DE POSTURA CORPORAL EM UMA OPERAO LOGSTICA

rsula Berion Rei

Camila Aparecida Maciel da Silveira

Priscilla Barbosa SantAna

Caio Lopes Gonalves

Resumo: Este trabalho consiste num estudo ergonmico de uma operao logstica

em um supermercado de peas de uma montadora. Com o objetivo de melhorar a

produtividade da operao, observando no s oportunidades de reduo de

tempo e aplicao de medidas 5S, mas tambm as questes de sade e

segurana que afetam a produtividade, foi realizado um estudo para avaliar as

condies em que as operaes esto sendo realizadas atualmente e proposto

sugestes de melhorias para reduzir riscos de integridade fsica a que os

operadores esto expostos. As anlises foram realizadas com o auxlio do software

Ergolndia, especialmente desenvolvido para anlises ergonmicas aprofundadas

e diversas, e os resultados foram discutidos ao final, conflitando com as exigncias

da NR 17 e com os conhecimentos adquiridos nas aulas de Ergonomia e na

bibliografia pesquisada sobre o assunto.

Palavras-chave: Ergonomia, postura, operao logstica.

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1. INTRODUO

Inseridas em um mercado cada dia mais globalizado, as empresas do ramo automotivo alm de procurar desenvolver suas atividades da forma mais enxuta possvel aumentando sua competitividade no mercado, devem pensar nas questes crticas que esto envolvidas como qualidade de vida, segurana e ergonomia, considerando que esses fatores tambm esto intimamente ligados a produtividade. A produtividade pode ser considerada como a razo entre a produo e os recursos. Segundo de Oliveira (2012), os recursos humanos esto inseridos no denominador dessa razo e seu desempenho exerce grande influncia sobre os resultados de produtividade. Neste sentido, pode-se destacar que extremamente importante que se realizem estudos e pesquisas sobre a melhor forma de geri-los. Conforme apontado, identifica-se a necessidade do estudo das atividades inerentes ao processo produtivo de forma a melhorar as condies para sua realizao. Alguns tpicos de ergonomia so fundamentais para essa anlise que pode ser voltada tanto para a avaliao da postura corporal como para a do ambiente de trabalho fsico, envolvendo temperatura, iluminao e rudo. Para o presente estudo, as anlises sero voltadas para a avaliao da postura corporal. O termo ergonomia composto por duas palavras gregas: ergon (trabalho) e nomos (normas, regras, leis) que unidas sugerem o estudo da adaptao do trabalho s caractersticas dos indivduos, proporcionando maior conforto, segurana e melhorando o desempenho nas atividades do trabalho (FALZON, 2007). A manuteno da postura ereta, ou seja, controlar os segmentos corporais mantendo a coluna em alinhamento uma tarefa

complexa e que exige oscilaes do corpo para manter o equilbrio, qualquer desvio na forma da coluna vertebral pode prejudicar o funcionamento dos membros, aumentar a fadiga ou gerar leses corporais no decorrer do tempo. O controle postural requer uma complexa interao entre o sistema neural e musculoesqueltico, o que inclui as relaes biomecnicas entre os segmentos corporais. Sendo assim, envolve o controle da posio do corpo no espao com dois propsitos: estabilidade e orientao, onde a estabilidade postural a habilidade de manter o corpo em equilbrio e a orientao postural definida como a habilidade em manter uma relao apropriada entre os segmentos do corpo para a realizao de uma tarefa (Shumway-Cook e Woollacott, 2000). 1.1. OBJETO DE ESTUDO SUPERMERCADO DE PEAS

O conceito de supermercado est inserido na mentalidade enxuta (lean thinking) e, de acordo com Pinto (2012), ele surge como uma das ferramentas de eliminao de desperdcios da cadeia de valor no tocante a logstica interna, principalmente. Em oposio movimentao de lotes, estabelece-se o conceito do fluxo unitrio em funo da necessidade. De uma forma geral, o autor afirma que este elemento facilita a criao de fluxo ao longo de toda a cadeia de valor. Em outras palavras, as peas com caractersticas pr-determinadas, so dispostas em prateleiras, que obedecem aos padres lean, em uma rea dedicada a separao dessas peas de acordo com o produto referente, que sero enviadas para a linha de produo em carrinhos, conhecidos como basket ilustrado na Figura 1, os quais acompanham seus respectivos produtos durante o processo.

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Figura 1: Exemplo de Basket em um supermercado de peas

Fonte: Os autores Observando o posto de trabalho de uma operao logstica em um supermercado de peas de uma montadora de veculos comerciais no sul do estado do Rio de Janeiro, torna-se clara a necessidade da avaliao para ajuste ergonmico da atividade, com o objetivo de aumentar a produtividade e diminuir os riscos a sua integridade e segurana, j que atividades realizadas de forma repetitiva podem prejudicar e limitar as aptides de seus operadores. Portanto, o propsito do presente artigo realizar uma anlise ergonmica da atividade de abastecimento de bandejas de peas de fixao nos baskets de um dos supermercados de peas de uma montadora de veculos comerciais, para avaliar as operaes que a compem e os impactos negativos que podem causar nos operadores, visando promover melhorias que possam amenizar ou sanar esses impactos, alm de aumentar a eficincia do trabalhador no exerccio de suas funes, com base em um estudo de caso. As anlises foram efetivadas com a utilizao do software Ergolndia 3.0 desenvolvido pela FBF SISTEMAS, que destinado utilizao de ergonomistas, fisioterapeutas e empresas para avaliar a ergonomia dos funcionrios, alm de profissionais da rea de sade ocupacional, professores e estudantes com o intuito de aprender e aplicar ferramentas

ergonmicas. Seu objetivo por meio da identificao e anlise de condies inadequadas em postos e trabalho, auxiliar no planejamento e na elaborao de melhorias, de modo a eliminar os riscos fsicos ou mentais aos quais os operrios esto expostos (FBFSistemas 2013). Os resultados obtidos devem ser comparados com os padres estabelecidos na Norma Regulamentadora 17 (NR 17), a qual visa a estabelecer parmetros que permitam a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente. Incluindo aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobilirio, aos equipamentos e s condies ambientais do posto de trabalho e prpria organizao do trabalho (MTE 1990). A seguir sero apresentados os procedimentos metodolgicos utilizados, de forma a possibilitar a compreenso da anlise ergonmica realizada. Aps isso, sero apresentados os dados coletados juntamente aos resultados das anlises executadas com o auxlio do software Ergolndia. Finalizando, sero discutidos os aspectos mais relevantes apontados pelo estudo, bem como sua importncia e a viabilidade da implantao das melhorias propostas e apresentada a concluso.

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2. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

Para o desenvolvimento desse trabalho, primeiramente foi realizado um estudo em diferentes postos de trabalho, para identificar aquele com maior aplicabilidade do estudo. Com o ambiente ideal encontrado, foi possvel realizar a proposta do trabalho por meio das etapas abaixo descritas. Com a finalidade de observar detalhadamente cada elemento da operao e realizar sua cronometragem, foi realizada uma filmagem da atividade. Para a anlise ergonmica da atividade foi necessrio pesquisar sobre as ferramentas oferecidas pelo software em sua extenso, porm somente foram selecionadas aquelas cujas propostas/objetivos esto de acordo com as condies da atividade em questo e com a anlise desejada. A coleta de dados consistiu em mensurar as dimenses dos baskets, prateleira e bandejas de elementos de fixao, os deslocamentos vertical e horizontal e o peso das bandejas, alm de coletar informaes sobre o funcionrio que executa a atividade. Para anlise de postura da atividade em questo, foram escolhidas quatro dentre as vinte ferramentas oferecidas pelo software Ergolndia para avaliao e melhoria dos postos de trabalho, aumentando sua produtividade e diminuindo os riscos ocupacionais.

2.1 FERRAMENTAS DO SOFTWARE ERGOLNDIA

Segue abaixo uma breve explicao das ferramentas utilizadas para o presente artigo.

2.1.1 CHECK LIST DE COUTO

O Check List de Couto utilizado na verificao da existncia de riscos devido a fatores biomecnicos, que so os movimentos e posies realizados pelo corpo. Esta ferramenta composta de 25 perguntas, divididas em seis tpicos: sobrecarga fsica, fora com as mos, postura no trabalho, posto de trabalho, repetitividade e organizao do trabalho e ferramenta de trabalho. De acordo com a resposta, o item recebe uma pontuao que ao final ser somada, gerando o resultado. A interpretao do resultado sed por meio da comparao do valor final com os valores dos intervalos pr-determinados pela ferramenta. Por exemplo o intervalo entre 0 a 3 pontos: ausncia de fatores biomecnicos, ausncia de risco. O Check List de Couto conta com mais dois tpicos, cujas anlises so qualitativas: fator

ergonmico extremo descrio de algum fator de altssima intensidade e, caso haja, este fator deve receber ateno especial na anlise e dificuldade, desconforto e fadiga observados pelo analista durante a avaliao utilizado mesmo na inexistncia de fatorbiomecnico significativo com o objetivo de orientar medidas corretivas.

2.1.2 CLCULO DE FORA

O Clculo de Fora permite verificar a fora necessria para realizar o transporte de uma carga de determinada massa, a ser especificada, em trs diferentes condies: carregar horizontalmente, arrastar sobre um plano horizontal ou arrastar sobre um plano inclinado. No presente trabalho a atividade em questo referente primeira condio. Por no haver contato com superfcies, a intensidade fora a ser aplicada para o transporte, uma vez que a carga j se encontre na altura em que ser movimentada, equivalente fora peso, que corresponde ao da gravidade sobre a carga. O risco ao qual o operador est exposto proporcional, entre outros, ao peso do objeto transportado. Em funo desta fora e de outros parmetros, pode-se avaliar que decises tomar para a reduo dos riscos potenciais.

2.1.3 MTODO DE MOORE E GARG

Proposto em 1995 por Moore e Garg, o mtodo Strain Index utilizado na avaliao de riscos potenciais devido a posturas inadequadas e esforos repetitivos nestas partes do corpo. A repetitividade no se caracteriza apenas pela a execuo de movimentos uniformes, mas tambm pela utilizao dos mesmos msculos e nervos em movimentos similares. Os riscos aos quais os trabalhadores submetidos s atividades repetitivas esto expostos podem ser agravados pela postura inadequada. Uma postura corporal ereta possibilita o equilbrio da ao da gravidade, implicando em um gasto de energia mnimo. Segundo Gonzalez (2005), esse baixo gasto energtico decorrente de uma menor sobrecarga articular que, por sua vez, determina uma atividade muscular menos intensa. O mtodo de Moore e Garg permite analisar a existncia de sobrecarga nos membros superiores atravs da determinao de seis fatores referentes atividade realizada pelo operador. importante ressaltar que o Strain

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Index no permite a avaliao de mltiplas tarefas simultaneamente, devendo estas ser estudadas separadamente. Os seis parmetros utilizados na aplicao da ferramenta foram: Fator de Intensidade do Esforo (FIE), Fator Durao do Esforo (FDE), Fator Frequncia do Esforo (FFE), Fator Postura da Mo e do Punho (FPMP), Fator Ritmo do Trabalho (FRT) e Fator Durao do Trabalho (FDT). Estes fatores,

denominados multiplicadores, so obtidos atravs da converso do parmetro analisado em nmeros decimais atravs da utilizao de tabelas de equivalncia. O resultado final obtido atravs do produto dos seis multiplicadores, conforme demonstrado abaixo na Equao (1), e do confronto com intervalos pr-determinados, que indicam a existncia, ou no, de risco potencial para causar leses

.

2.2 COLETA DE DADOS

Com base nas informaes necessrias para aplicao das ferramentas acima descritas, realizou-se a coleta de dados que consistiu em mensurar as dimenses dos baskets, prateleira e bandejas de elementos de fixao, o deslocamento horizontal e a massa das bandejas, alm de coletar informaes sobre o funcionrio que executa a atividade.

2.2.1 MEDIDAS

Para mensurar as dimenses do carrinho (basket), da prateleira e das caixas, bem como as medidas de deslocamento

horizontal, foi utilizada uma trena de fita de ao. A trena de fita de ao um instrumento de medio cuja fita graduada ao longo de seu comprimento, com traos transversais e acoplada a uma caixa ou suporte dotado de mecanismo para recolhimento manual ou automtico da fita, com sistema de travamento conforme observado na Figura 2 (ABNT 2004).

As dimenses e tolerncias aplicadas para a trena utilizada nesse trabalho esto apresentadas na Tabela 1.

Figura 2 Esquema de uma Trena

Fonte: ABNT (2004)

ndice de Moore e Garg = FIE x FDE x FFE x FPMP x FRT x FDT (1)

Os intervalos e suas concluses so: - 3: trabalho provavelmente seguro; - ]3;5]: duvidoso, questionvel; - ]5;7]: risco de leso de extremidade distal dos membros superiores; - 7: alto risco de leso, to mais alto quanto maior for o resultado da multiplicao.

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Tabela 1 - Dimenses e Tolerncias para a Trena Utilizada

Tipo de fita

Grupo de Comprimento

(m)

Largura (mm) Tolerncia

(mm)

Espessura (mm) Tolerncia

Erro mximo admissvel

(mm) Mn Mx Mn Mx curvada de 2 5 6 13 0,3 0,1 0,2 0,02 6

Fonte: ABNT (2004)

2.2.2 MASSA DAS CARGAS

Para obter a massa aproximada da carga sustentada pelo operador, foram selecionadas duas bandejas, uma de cada nvel da prateleira. Cada um desses nveis contm aquelas relativas a cada uma das famlias de produtos. As massas foram medidas em uma balana digital com capacidade de 5g a 30.000g, com sensibilidade de contagem de 10g, com cujos valores encontrados esto tabelados na sesso resultados.

2.2.3 DADOS SOBRE O OPERADOR

Os dados do operador que realiza a atividade foram obtidos atravs de entrevista direta,

onde foram questionadas informaes como idade, altura e jornada de trabalho.

3. RESULTADOS

3.1 COLETA DE DADOS

Coletando os dados necessrios aplicao das ferramentas, foram obtidos os seguintes resultados.

3.1.1 MEDIDAS

3.1.1.1 DIMENSES

As dimenses das bandejas, dos baskets e das prateleiras esto descritas na Tabela 2.

Tabela 2 Dimenses dos objetos

Objetos Dimenses (mm)

Bandeja 320x535x205

Basket 1290x600x1050

Prateleira 1520x1650x1310

Fonte: Os autores

3.1.1.2 DESLOCAMENTO HORIZONTAL

O deslocamento horizontal ocorre entre 0 e 2800mm, dependendo da posio do basket em relao a prateleira.

3.1.2 MASSAS DAS CARGAS

As massas das bandejas alocadas em cada nvel da prateleira esto descritas na Tabela 3.

Tabela 3 Massas das Bandejas Relativas aos Nveis da Prateleira Nveis Massa 1 Massa 2

Nvel 1 5,090 kg 6,115 kg

Nvel 2 4,265 kg 3,920 kg

Nvel 3 5,995 kg 6,635 kg

Nvel 4 5,715 kg 5,860 kg

Fonte: Os autores

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3.1.3 DADOS SOBRE O OPERADOR

O operador entrevistado era do sexo feminino e possui jornada de trabalho de segunda a

sexta e, ocasionalmente, aos sbados conforme Tabela 4.

Tabela 1: Dados da operadora

Idade Altura Jornada

24 anos 1,59m Incio: 06:30h Trmino: 16:18h

Fonte: Os autores

3.2 APLICAO DAS FERRAMENTAS DO ERGOLNDIA

3.2.1 CLCULO DE FORA

A primeira ferramenta aplicada na anlise do posto de trabalho o Clculo de Fora, pois seu resultado ser uma das bases utilizadas durante a aplicao das demais ferramentas propostas. Ao informarmos a massa da carga a ser transportada pelo operador, o Clculo de Fora retorna a fora necessria para a

execuo desta atividade. O cenrio em questo o Carregar uma Carga, onde a nica direo de esforo a ser aplicado a vertical, em sentido contrrio ao da gravidade. Como o intervalo de possibilidades de massas das caixas de 3,920kg e 6,635kg, sero calculados os limites inferior e superior de fora exigida para manuseio de cargas na atividade em questo. Os resultados encontrados so demonstrados na Figura 3.

Figura 3 Limites de fora inferior e superior, respectivamente, necessrios atividade.

Fonte: Software Ergolndia 3.0 Conforme demonstrado, o esforo despendido pelo Operador Logstico no transporte de uma caixa com peas se concentra entre 38,455N e 65,089N. Para o dimensionamento da representatividade do resultado, a funcionria analisada possui massa de 59kg, que sofrendo os efeitos da gravidade gera uma fora peso de 578,79N. Portanto, esta pessoa transporta cargas cujos

pesos variam entre 6,64% e 11,25% do seu peso. 3.2.2 CHECK LIST DE COUTO

O Check List de Couto foi aplicado com o objetivo de obter uma viso geral da existncia de risco devido a movimentos e posies realizados pelo corpo. O resultado de sua aplicao esta ilustrado na Figura 4.

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Figura 4 Resultado da aplicao do mtodo Check List de Couto

Fonte: Software Ergolndia 3.0 O somatrio dos pontos equivalente a oito indica a improbabilidade de risco, porm no descarta sua existncia. O principal contribuinte para este resultado foi o tpico Postura no Trabalho. A existncia do esforo esttico das mos e do ombro durante a jornada de trabalho j garantiram dois pontos nas duas primeiras perguntas. Alm dos esforos estticos, h o desvio ulnar forado dos punhos no momento de se colocar a bandeja sobre o basket ou de retir-la da prateleira, o que adicionou um ponto ao somatrio. O quarto ponto da Postura de Trabalho foi devido necessidade de se levantar os braos acima da altura dos ombros, esforo que, apesar de no ser exigido em todas os nveis da prateleira, no pode ser desconsiderado por fazer parte da rotina de trabalho da funo, e da frequente abduo do brao acima de 45 graus. Analisando os demais tpicos, a Sobrecarga Fsica contribuiu com um ponto devido massa da caixa com as peas ser superior a 300g. A Repetitividade e Organizao do Trabalho foi o segundo colocado em relao s penalizaes. A no existncia de alternncia de grupamentos musculares e o no estabelecimento de um tempo de descanso superior a cinco minutos por hora renderam mais dois pontos ao somatrio.

Por ltimo, em Posto de Trabalho e Esforo Esttico foi atribuda mais uma penalizao devido falta de regulagem de altura no posto de trabalho, que no caso representado pelas prateleiras e pelo basket. 3.2.3 MOORE E GARG

O mtodo Strain Index foi utilizado porque, devido s caractersticas da atividade analisada, as principais partes do corpo do operador sujeito a riscos ergonmicos so os membros superiores. Devido ao fato da massa da caixa com as peas variar entre 3,920kg e 6,635kg, o Fator de Intensidade do Esforo foi considerado algo pesado. Analisando o resultado encontrado com a aplicao do mtodo Clculo de Fora, a fora necessria para o transporte das cargas entre os limites de massa citados varia entre 38,455N e 65,089N e a classificao da intensidade do esforo levou em considerao a no concentrao de peso das cargas nos limites. O Fator Frequncia do Esforo de quatro a oito minutos, determinado atravs do acompanhamento da atividade e do vdeo gravado em 07/03/2013. Estas medidas tambm foram importantes para a classificao do Fator Durao do Esforo em maior ou igual a 80% do ciclo. O Fator Postura da Mo e Punho, assim como o Fator

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Ritmo de Trabalho, razovel, enquanto o Fator Durao do Trabalho de duas a quatro horas por dia, devido ao fato de esta atividade no ser a nica realizada pelo operador,

respondendo por, aproximadamente, 50% do turno da funo. O resultado obtido com a aplicao do mtodo e dos valores est ilustrado na Figura 5.

Figura 5 Resultado da aplicao do mtodo Strain Index

Fonte: Software Ergolndia 3.0

Um ndice acima de sete, alm de indicar um alto risco, informa que