Toponímia de Miranda Do Corvo

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António Manuel Carvalho Rodrigues TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

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António Manuel Carvalho Rodrigues

TOPONÍMIA

DA VILA DE

MIRANDA DO CORVO

C Â M A R A M U N I C I P A L D E M I R A N D A D O C O R V O

2006

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INTRODUÇÃO

Quem calcorreia as ruas da nossa vila há vários anos, deteve-se já por certo a

pensar em duas questões. Primeiro: porque tem determinada rua este nome e,

sendo este o de uma personalidade, qual a relação desta com a vila. Por outro

lado, a percepção das mudanças que, a nível urbanístico, certas artérias

sofreram na última trintena de anos. É, por demais, evidente.

Se quisermos ir mais longe, temporalmente, que os anos oitenta do século

passado e nos apoiarmos nos prestimosos contributos de quem melhor – e há

mais tempo - do que nós conhece a sua terra socorrendo-nos dos escritos de

personalidades como Belisário Pimenta, Prof. Augusto Paulo ou Dr. Armindo

Rodrigues, nos seus prestáveis artigos nos jornais “Alma Nova” e “Diário de

Coimbra” aquele e “Mirante”, estes, mais espantados e convencidos ficaremos

com as alterações urbanísticas e de infraestruturas por que esta quase milenar

vila passou nas últimas décadas, fruto da sua localização próxima da cidade do

Mondego e do impacto trazido por diversos factores, de que a introdução do

caminho de ferro, no dealbar do século passado, não será o de somenos

importância. São, pois, enormes as mutações e urgem ser conhecidas e

divulgadas sob pena de que a história mirandense possa ser esquecida.

Assim, coligimos documentação dispersa, relemos artigos das personalidades

citadas e ouvimos as pessoas, sobretudo os menos jovens, na rua. O trabalho é

o que se publica, certamente não isento de erros e imperfeições. De algumas

personagens não conseguimos mesmo obter nenhum dado biográfico que fosse

comprovadamente válido. Pretendemos, pois, sobretudo dar a conhecer a todos

os mirandenses – novos e velhos – as suas artérias, o modo como surgiram e se

desenvolveram, as personalidades que elas simbolizam e o seu contributo para

o desenvolvimento da vila, no fundo, a nossa memória colectiva.

O Autor

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TOPONÍMIA

DE

MIRANDA DO CORVO

Índice das designações actuais:

Alameda Prof. Lídio Alves Gomes

Avenida e Praça José Falcão

Avenida Pe. Américo

Bairro Francisco Sá Carneiro

Beco do Correio

Ladeira do Calvário

Ladeira do Carvalhal

Largo dos Balaustres

Largo do Carvalhal

Largo da Cruz Branca

Largo da Feira dos Bois

Largo da Fonte dos Amores

Largo Manuel Pereira Batalhão

Largo Tenente Romãozinho

Praça da Feira da Sardinha

Praça da Liberdade

Praceta Levy Maria Jordão

Praceta Luís de Camões

Rua 25 de Abril

Rua do Alto dos Barreiros

Rua Arménio da Costa Simões

Rua da Associação

Rua Belisário Pimenta

Rua das Amoreiras

Rua da Casa do Gaiato

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Rua dos Combatentes da Grande Guerra

Rua da Coutada

Rua da Cova da Ponte

Rua do Cruzeiro

Rua D. Afonso Henriques

Rua Dr. Carlos da Mota Pinto

Rua Dr. Fausto Lobo

Rua Dr. Mário de Almeida

Rua Dr. Rosa Falcão

Rua das Escadas da Sra. da Boa Morte

Rua da Estação

Rua Fausto Branco

Rua da Filarmónica

Rua das Fontaínhas

Rua João Paulo II

Rua José Carlos Pereira de Carvalho

Rua José Firmino Ribeiro da Cunha

Rua Lucinda Rosa de Jesus Quintas

Rua Maria Emília G. de Almeida

Rua da Moita

Rua da Nossa Senhora da Conceição

Rua dos Oleiros

Rua Pe. Fernando Coimbra

Rua Pe. Horácio Azeiteiro

Rua da Quinta das Barriguinhas

Rua do Quebra-Costas

Rua da Ribeira dos Vicentes

Rua de Santa Catarina

Rua de S. Silvestre

Rua de São Mateus

Rua Sebastião da Cruz Lopes

Quelha dos Malmequeres

Travessa dos Alhos

Travessa da Fonte dos Amores

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Travessa do Mercado

Travessa do Quebra-Costas

Bibliografia

Alameda Prof. Lídio Alves Gomes

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Delimitada pela Avenida Pe. Américo (Noroeste)

e Rua 25 de Abril (Sudeste)

O Professor Lídio Alves Gomes exerceu vários cargos na autarquia de Miranda

do Corvo. Foi eleito Presidente da mesa para a eleição da Comissão

Administrativa da Câmara Municipal, após o 25 de Abril. Foi eleito em 1976

como vereador e reeleito em 1979 e 1982. De 1982 a 1985 foi Vice-Presidente

da Câmara e no mandato de 1985 a 1989 exerceu o cargo de presidente da

Assembleia Municipal.

O Sr. Prof. Lídio Alves Gomes foi um mirandense que sempre manifestou grande

dedicação pelo interesse público, exercendo também vários cargos

associativos, nomeadamente na Associação para o Desenvolvimento e

Formação Profissional, Bombeiros Voluntários, Clube Atlético Mirandense,

Cooperativa Mirante e Centro Hípico.

Actualmente era Vice-Presidente da ADFP, da qual foi sócio fundador. Fazia

também parte da direcção do jornal Mirante, da Dueçeira e foi confrade

fundador da Real Confraria da Cabra Velha.

Era residente em Vila Flor e foi professor na Escola Avelar Brotero de 1960 até à

sua aposentação em 1997.

No exercício dos vários cargos sempre mostrou enorme empenho e dedicação

aos outros. Exerceu-os sempre com um espírito alegre, competente e de forma

totalmente gratuita. O seu espírito afável e cordial contagiava todos aqueles

que tiveram o privilégio de com ele privar e o seu exemplo cívico perdurará

certamente na memória de todos os mirandenses.

Para além de um dedicado dirigente autárquico e associativo, foi sem dúvida

um grande ser humano que espalhava alegria por onde passava.

Como forma de agradecimento a Câmara Municipal, por iniciativa da sua

Presidente, Fátima Ramos, foi-lhe atribuída a Medalha Municipal de Dedicação

Pública.

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Avenida e Praça José Falcão

Delimitada pelo Largo Tenente Romãozinho (Sudoeste)

e Rua D. Afonso Henriques (Nordeste)

José Joaquim Pereira Falcão foi Lente de Matemática na Universidade de

Coimbra e político. Nasceu no lugar da Pereira, concelho de Miranda do Corvo

em 1 de Junho de 1841 e morreu em Coimbra a 14 de Janeiro de 1893.

Matriculou-se em 1858 nas faculdades de Matemática e Filosofia, doutorando-se

em Matemática a 31 de Julho de 1865. Em 8 de Setembro de 1870 foi nomeado

lente substituto de Matemática e ajudante do Observatório Astronómico; em 7

de Maio de 1874 foi promovido a lente catedrático; em 13 de Março de 1888

ascendeu a primeiro astrónomo e nomeado director interino do Observatório

em 28 de Julho de 1890. Depois do seu doutoramento, foi nomeado sócio

efectivo do Instituto de Coimbra. Espirito liberal, apaixonou-se pelas ideias

republicanas, colaborando assiduamente nos jornais republicanos do país,

especialmente sobre assuntos de ensino. A ferocidade com que foi reprimida a

insurreição comunista de Paris, deu origem a que escrevesse um opúsculo

sobre o assunto, com o título: A comuna de Paris e o governo de Versalhes

(Coimbra, 1871), que foi impresso na imprensa da Universidade, sem o nome do

autor e que lhe valeu um processo. Em 1878, com Alexandre da Conceição e

Augusto Rocha, fundou o semanário republicano A Justiça. Sem nome de autor,

publicou a Cartilha do Povo (Coimbra, 1884), que foi um dos escritos mais

notáveis da propaganda republicana. A primeira cadeira que regeu na

Universidade foi Mecânica Celeste e à data do seu falecimento regia

Astronomia. Depois de malograda a revolta de 31 de Janeiro, foi encarregado de

reorganizar o partido republicano no Porto, para o que escreveu artigos políticos

na Voz Pública e reuniu ali uma assembleia de que saiu o Manifesto, que ele

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próprio redigira. Proposto deputado em 23 de Outubro de 1892, não tardou que

a morte viesse cortar a sua carreira profissional e política.

1 de Junho, data de nascimento de José Falcão, foi também a data escolhida

para a comemoração do feriado municipal no nosso Município.

Centro nevrálgico da vila principalmente em termos políticos, se tivermos em

conta que aqui se situam os Paços do Concelho, estas artérias são como que o

bilhete de identidade de Miranda, embora nos últimos anos tenhamos vindo a

assistir a uma natural descentralização.

A Casa da Câmara, outrora existente, situava-se junto ao rio a poente da actual,

sensivelmente em frente da actual Pensão Caracol – igualmente um símbolo da

vila – tendo o alçado principal virado a Norte. Teve uma vida útil de 90 anos:

desde 1828, ano em que ficou concluída, até 1918 ano em que foi demolida

para dar lugar à actual.

«O Pelourinho da Vila, obra do primeiro quartel do séc. XVI, existia já ali no local

onde foi erigida a antiga Casa da Câmara, conforme nos dá nota o Dr. Virgílio

Correia num artigo publicado na «Rajada», (Coimbra, 1912, nº4, p. 1), donde

transcrevemos: «Banham-lhe os alicerces de velha Câmara, agora renovada, -

junto à qual um pelourinho ficara mostrando as suas figuras delicadamente

cortadas na pedra alva de Ançã, - as águas...do Alhêda;...». Este monumento

(classificado) que simbolicamente se liga à justiça do passado, encontra-se

guardado nos actuais Paços do concelho; neste edifício está exposto também o

Escudo Real que encimava a porta principal da velha Câmara e que em 1910,

aquando da proclamação da República, foi dali retirado. Aquele símbolo da

monarquia deposta foi apeado por um republicano dessa época, o Sr. António

Quaresma (...)». Aqui se realizou a feira semanal das quartas-feiras até 1982,

ano em que mudou de lugar não sem o desagrado de muitos mirandenses. O

espaço entre a actual Câmara e a Rua D. Afonso Henriques é ainda chamado

por algumas pessoas mais idosas «Cimo da Feira».

«(...) existe à entrada desta mesma rua uma casa digna de referência.

Interiormente podem admirar-se pinturas de algum valor artístico executadas

directamente nas paredes e inspiradas em motivos ligados à actividade

comercial por via marítima. No exterior, o seu alpendre levantado sobre colunas

de pedra é outro motivo que desperta a nossa atenção. Este alpendre foi

inicialmente varanda, já que essa casa dispunha de 1º andar e rés-do-chão;

este encontra-se exteriormente soterrado devido às sucessivas subidas do

pavimento envolvente. As obras da ponte actual foram talvez as que mais

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ajudaram a efectivação deste fenómeno e que igualmente deixaram soterrados

os restos dum arco em pedra que em tempos recuados teria servido à estrutura

da ponte. Por esta rua se fazia o acesso ao «Buraco»; existe ainda ali essa

abertura em arco românico com cerca de dois metros de vão e altura regular,

mas hoje difícil de precisar já que se encontra parcialmente obstruída. Essa

passagem servia de ligação à parte alta da vila, principalmente à Igreja; era

continuada por uma escadaria que terminava no local onde foi construída a

Casa Paroquial e que deixou de ser transitável a partir da data em que essa

construção se efectivou. Seria em tempos recuados a porta principal que levava

ao interior da antiga muralha? Talvez, mas temos de ficar no campo das

suposições. Tido como certo é que a passagem por aquele local era um direito

consuetudinário (tradicional), das gentes da vila e arredores e, como tal,

deveria ter sido preservado; (...)» O Sr. Professor Augusto Paulo acrescenta,

ainda: «A Rua do Buraco, como sempre foi conhecida, ostenta desde há alguns

anos uma placa toponímica dando-lhe o nome de 13 de Outubro. Esta

designação derivou do facto de alguns moradores quererem assinalar a data da

conclusão do saneamento e pavimentação desta rua. Contudo parece não haver

qualquer reconhecimento oficial deste facto por parte da Câmara e da Junta de

Freguesia e o povo continua a chamar-lhe Rua do Buraco, como

tradicionalmente o vinha fazendo.» (PAULO, Augusto S., RODRIGUES, Armindo,

Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, Miranda

do Corvo).

Parece-nos também importante dedicar

alguma atenção a uma zona que se

estende desde a Feira da Sardinha até

ao rio Dueça, conhecida antigamente

por Relego e, mais recentemente, por

Volta da Costa. O Relego, tomado no

sentido de lagar, adega ou celeiro em

que o senhor das terras recolhia os

seus frutos, parece querer significar o imóvel pertença do senhorio da vila e

utilizado para arrecadar o vinho, cereais e demais produtos provenientes das

rendas a que tinha direito. Foi também esta zona, no entender de Belisário

Pimenta , um dos pólos de localização da indústria artesanal da olaria quando

ela ainda se situava dentro do aro da vila.

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Avenida

Pe. Américo

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Sudoeste)

e E.N. 17-1 (Este)

A 16 de Julho de 1956 faleceu no Hospital de Sto. António, Américo Monteiro de

Aguiar, o bondoso Pe. Américo, na sequência de um acidente de viação. Alguns

mirandenses tê-lo-ão conhecido pessoalmente, mas a grande maioria conhecê-

lo-á apenas pela Obra que nos deixou

a todos, e que, nascendo nesta terra,

se espalhou por esse mundo fora.

Américo Monteiro de Aguiar nasceu

em Galegos, Penafiel, em 23 de

Outubro de 1887. Entre os 17 e os 36

anos viveu em África, onde logrou

alcançar grande desafogo e bem-

estar. Tomou o hábito de S. Francisco

em Vilarinho, Tuy (Espanha) a 14 de Agosto de 1924. Entrou para o Seminário

de Coimbra em 1925, celebrando missa pela 1ª vez no dia 29 de Julho de 1929.

Fundou a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo, em 7 de Janeiro de

1940 e a Casa do Gaiato das Ruas do Porto em 1943. Começou com o

Património dos Pobres no ano de 1951. Inaugurou a Capela do Calvário, em

Beire (Paredes), no dia 12 de Julho de 1956. Quatro dias depois, como já ficou

dito, faleceu no Porto e a seu pedido foi sepultado em cova rasa no cemitério de

Paço de Sousa. Actualmente os seus restos mortais encontram-se na capela da

Casa do Gaiato de Paço de Sousa.

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Bairro

Francisco Sá Carneiro

Antiga Quinta das Barriguinhas

Delimitado pela Rua dos Oleiros (Sudeste)

Político e advogado português, nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934 e morreu

em Camarate, Loures, a 4 de Dezembro de 1980. Foi um dos fundadores da

Cooperativa Cultural Confronto e director da Revista dos Tribunais. Foi deputado

independente da conhecida Ala Liberal entre 1969 e 1973. Após a Revolução de

25 de Abril de 1974, Sá Carneiro foi um dos fundadores do Partido Popular

Democrático (PPD), ficando a presidir aos seus destinos. Fez parte do governo

provisório entre Maio e Junho de 1974. Líder do Partido Social Democrata (PSD),

nova designação do PPD, e em conjunto com o Centro Democrático Social (CDS)

e o Partido Popular Monárquico (PPM), constituiu, em 1979, a Aliança

Democrática (AD), que venceu as eleições intercalares, ascendendo por esse

motivo a chefe do Governo. Sá

Carneiro obteve a maioria absoluta

nas eleições de 1980, vindo a falecer

nas vésperas das eleições

presidenciais, num desastre de

aviação. Este desastre ainda não está

esclarecido. Subsistem duas

hipóteses: uns defendem a tese de

atentado, outros defendem a de

acidente. Publicou, entre outras obras, Uma Constituição para os Anos 80,

Contributo para um Projecto de Revisão (1979).

Beco do

Correio

Delimitado pela Rua da Filarmónica (Nordeste)

Sito na actual Rua da Filarmónica, do lado direito da actual sede do Clube

Recreativo Mirandense, antiga Casa dos Melos. Deriva o seu nome da casa onde

funcionou a tipografia de Manuel Caetano da Silva, avô de Belisário Pimenta e o

Posto dos Correios.

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Ladeira do

Calvário

(ou Ladeira do Cemitério)

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Nordeste)

Toma o seu nome pelo acesso que dá

ao conjunto monumental inaugurado

nos anos 60 por intercessão do Pe.

Coimbra, do Sr. Fausto Branco e de um

benemérito mirandense radicado no

Brasil, o Comendador Mário Antunes,

altura em que decidiram reurbanizar

aquele espaço no cimo do monte.

Ladeira do

Carvalhal

Delimitada pelo Largo do Carvalhal (Sul)

Largo dos

Balaustres

Delimitado pela Ladeira do Calvário (Sudoeste)

e Rua do Cruzeiro (Nordeste)

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Largo do

Carvalhal

Delimitado pela Rua das Amoreiras (Oeste)

Largo da

Cruz Branca

Delimitado pela Rua 25 de Abril e Rua Dr. Fausto Lobo

Tanto a cruz branca como a cruz trevada que se situa em frente à capela do

Calvário estão datadas de 1871. Numa

época em que ainda não se falava em

caminho-de-ferro, nem veículos

automóveis, o entroncamento da

estrada que segue para o Espinho

situava-se naquele local. A Cruz estava

no meio do largo e a procissão

torneava-a. Só quando as estradas se

tornaram estreitas para o movimento é

que a cruz se colocou ao lado tal como ainda hoje permanece. A terceira cruz

erguia-se em Vila Sêca e era apelidada de Cruz do Cabo, conforme informação

prestada pelo Sr. Prof. Paulo.

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Largo da

Feira dos Bois

Delimitado pela EN 342 (Sul)

Local onde se realizava o mercado de

venda de animais vivos, quando a feira

semanal se espalhava pelas várias

artérias da vila, antes de se vir a

centrar na actual Praça José Falcão.

Largo da

Fonte dos Amores

(ou Largo do Chafariz)

Delimitado pela Rua Combatentes da Grande Guerra (Oeste)

e Rua Mário de Almeida (Este)

O nome advém-lhe do fontanário que a

centra, antigo local de encontro de

apaixonados que aí vinham matar a sua

“sede”. O fontanário ou chafariz

encontrava-se antes no Largo Serpa

Pinto (actual Praça José Falcão), tendo

sido dali retirado aquando da construção

do edifício da Câmara; foi reconstruído e

colocado no actual recinto em 1915.

Largo

Manuel Pereira Batalhão

Outeiro

Delimitado pela Rua do Cruzeiro (Norte)

e Rua Mário Almeida (Sul)

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Manuel Pereira Batalhão foi comerciante com habitação e loja na rua que,

actualmente, ostenta o nome deste

antigo republicano, de família com

alguma tradição na vila e conhecido

amigo de Belisário Pimenta.

Também nessa rua existiu em tempos

uma Estalagem (no imóvel da antiga

Barbearia), pois a zona era local de

chegada de carruagens de passageiros

e mercadorias, fruto da sua localização, sensível, no cruzamento das rotas que

vinham de Condeixa com as vindas de Sul.

«Resultante da confluência de três arruamentos (Rua dos Combatentes da

Grande Guerra, Rua Dr. Mário de Almeida e Rua da Sra. da Conceição) e

ladeada ainda pela Rua do Cruzeiro, surge-nos este espaço de magra dimensão

que se foi formando a partir de sucessivas modificações das habitações que o

rodeiam. À actual configuração deste Largo, ajudou também a abertura da

Estrada Distrital nº108, actual E.N. 342. (...) No ano de 1839, a Câmara então

presidida por António Pedro da Silva Basto nomeou para boticário do partido da

Vila de Miranda, Manuel Rodrigues Baptista, ao tempo Alferes da Guarda

Nacional e, que tinha sido no ano antecedente vereador da Câmara. Este

Manuel Rodrigues aceitou o cargo e passou a exercê-lo na sua botica de que

ainda hoje as pessoas idosas da Vila se lembram: era ao Outeiro numa casa

fronteira ao Largo da Sra. da Boa Morte; subia-se para ela por uma escada

exterior, redonda, de uns três degraus – coisas que desaparecem com a

abertura da Estrada distrital nº108» (PIMENTA, Belisário, O Partido de Boticário

na vila de Miranda do Corvo, 1926).

«Da análise deste pormenor (...) concluímos que há sensivelmente um século,

atrás, o limite urbano da Vila era muito mais reduzido já que a zona onde se

explorava o comércio tradicional era ainda predominantemente aqui à volta do

que poderemos chamar a parte velha deste pequeno burgo. Só mais tarde

essas actividades foram procurando horizontes mais amplos e assentaram

arraiais na baixa Mirandense.

Ali existiu também, sensivelmente no local hoje ocupado pelo snack-bar

«CANIÇO», uma estação de diligências e o respectivo posto de trocas de

cavalos, propriedade do Sr. José Dias Moita, tio do nosso conterrâneo Sr. José

Maria Moita. As diligências, de passagem por Miranda em viagens de transporte

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de passageiros, mercadorias, correio, etc., ali mudavam os animais cansados

por outros já refeitos do cansaço a que tinham sido submetidos em viagens

anteriores.

Com o declínio desta actividade a estação de diligências foi reconstruída e

adaptada a outros fins. Nessas novas instalações funcionou o Centro

Republicano da Vila, no tempo da primeira República, colectividade vocacionada

à divulgação dos ideais republicanos e subsidiariamente ao entretenimento das

gentes do burgo, incluindo também funções didácticas nomeadamente o ensino

da arte musical.

Nessa casa estava já afixada uma placa toponímica onde constava inscrição

igual à que hoje ali figura, mas que desapareceu aquando das obras que deram

a esse imóvel a fisionomia actual. Recentemente foi oposta no mesmo local

nova placa toponímica em substituição da anterior, facto a que não foi alheio o

interesse de alguns Mirandenses desejosos de que fosse perpetuada a tradição.

Defronte, no local ocupado pela Barbearia «JOTARRICAR», do popular Jaime

Miranda Ricardo e, onde o Sr. J. Maria Moita explorou igual actividade desde

cerca de 1930 até há anos atrás, funcionaram no início deste século os serviços

do registo Civil da Vila sendo Conservador o Dr. Henrique de Carvalho, pai de

Henrique de Carvalho, o célebre «Bochechas» de quem a maioria dos

Mirandenses se recorda como uma figura que a partir de dado momento da sua

vida começou a evidenciar leves sinais de demência.

O espaço ocupado pelo Registo Civil bem como a parte restante desse imóvel,

funcionou o que hoje chamamos uma unidade hoteleira. Usou o nome de

«Estalagem Moderna» a qual, na época, e atendendo a que estava inserida num

meio rural, podia já considerar-se de capacidade razoável. Foi explorada pelo

Sr. Manuel Pereira Batalhão o qual era igualmente proprietário dum estanque

de tabacos que à data existia na casa que forma gaveto entre a Rua da Sra. da

Conceição e a Rua dos Combatentes da Grande Guerra. (...)

Assim, justifica-se sem dúvida que a Edilidade Mirandense tenha atribuído a

este recanto da Vila o nome do republicano fervoroso que foi Manuel Pereira

Batalhão, dado que a sua vida pública está intimamente ligada a actividades

desenvolvidas neste Largo. Sobre a genealogia dos «Batalhões» fez Belisário

Pimenta variadas investigações cujo produto publicou de Setembro de 1924 a

Janeiro de 1925, no jornal «Alma Nova» da Lousã.

Segundo esse trabalho, aquele historiador, recuando em linha recta na

ascendência de Manuel Pereira Batalhão, chegou até um seu avoengo de nome

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Manuel Lopes, nascido na Vila no ano de 1684 e aqui falecido em 1753 com 69

anos de idade, depois de nesta terra ter exercido alguns cargos de destaque.

Foi Manuel Lopes o primeiro membro desta família a usar o apelido de

«Batalhão» apelido que aliás não lhe vinha do berço já que só em 1717 o

utilizou pela primeira vez no assento de baptismo de um seu filho, pelo que a

sua proveniência é hoje difícil de esclarecer.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia

Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo).

Largo

Tenente Romãozinho

Delimitado pela Rua José Falcão (Este)

Administrador do concelho, o equivalente ao presidente de Câmara, natural de

Castelo Branco e que desenvolveu a sua actividade neste concelho na primeira

metade do séc. XX.

Praça da

Feira da Sardinha

Delimitada pelo Largo Tenente Romãozinho (Nordeste)

Quando a feira semanal se realizava na actual praça José Falcão, facto que

aconteceu até ao ano de 1982, o mercado do peixe cingia-se a este lugar à

beira rio. O peixe – sobretudo a sardinha - trazido principalmente a partir da lota

da Figueira da Foz foi sempre um produto grandemente procurado,

principalmente porque antes o seu preço era consideravelmente mais baixo que

o da carne. Inclusivamente havia todo um comércio paralelo feito por pequenos

comerciantes que acorriam a esta praça com burros de carga abastecer-se de

sardinha em quantidade procedendo posteriormente à sua revenda pelas serras

mais afastadas do concelho. Igualmente mulheres mirandenses se dedicaram à

revenda da sardinha ao domicilio nos outros dias da semana em que não havia

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mercado de caixa à cabeça e soando pregões. Armindo Rodrigues acresce que

aqui funcionou também o Talho Municipal. Este mesmo autor refere-se ainda à

Casa do Teatro ali situada: «No topo poente, um portal de verga em arco, dá

acesso a um edifício hoje abandonado mas que durante alguns anos funcionou

como Teatro. É uma casa que pelas suas dimensões e porque situada num

plano superior à Praça, domina de certa forma o local. Uma abertura alta

«gradada» e uma série de pequenos óculos laterais são pormenores a reter».

Nos anos 30 funcionou aqui um grupo de teatro amador dinamizado sobretudo

por José Ferreira, Lucinda Quintas e José Camilo Bastos.

Na Rua do Buraco permanece ainda uma casa de fachada imponente como foi

descrita por Virgílio Correia no Inventário Artístico – Distrito de Coimbra. Possui

abertura de vergas direitas e cornijas podendo ser datável da centúria de

seiscentos, possivelmente ligada à nobreza concelhia. Augusto Paulo recorda

que: «Foi nesta casa, também chamada o “Lar dos Ritas” que a antiga

filarmónica teve a sua sede. Segundo o Sr. José Maria Moita, a Filarmónica

extinguiu-se por volta de 1920, devido a uma zaragata que originou a prisão de

alguns dos seus elementos. Esta zaragata aconteceu no regresso de uma festa

da Senhora do Pranto por motivo da rivalidade que existia entre alguns dos seus

elementos e os da Filarmónica da Lousã. Por essa razão a filarmónica viu-se

obrigada a interromper a sua actividade o que originou a sua extinção. O Sr.

Moita ainda se recorda do boné que era um tipo de capacete azul com uma

barra vermelha e com um penacho branco.»

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Praça da

Liberdade

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Sul)

Praceta

Levy Maria Jordão

Delimitada pela Rua de Sta. Catarina (Sul)

O Barão Levy Maria Jordão, possivelmente

de origem judaica, foi Visconde de Paiva

Manso por decreto de 13 de Outubro de

1869. Era filho de Abel Maria Jordão de

Paiva Manso. Foi o 1º Barão de Paiva

Manso, descendente da família que

habitava na Tróia. É o autor da primeira

reforma penal profunda, em Portugal, da

qual saiu o Código Penal.

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Praceta

Luís de Camões

Antigos Quintais

Delimitada pela Rua Belisário Pimenta (Noroeste)

Rua

25 de Abril

Delimitada pela Avenida Pe. Américo (Este)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sudoeste)

Revolução que, em 1974, derrubou o regime autoritário concebido por Salazar

e, na época, conduzido por Marcello Caetano, pondo fim a quarenta e oito anos

de ditadura e abrindo o caminho para a democracia em Portugal.

Apesar do seu carácter fechado e repressivo, o regime corporativo fora

profundamente afectado pela década

de 1960. Depois da campanha

oposicionista do general Humberto

Delgado (assassinado pela polícia

política em 1965), a contestação social

e política atingira níveis nunca vistos,

ultrapassando os círculos intelectuais e

alastrando aos meios operários e ao

movimento estudantil. À medida que se

avançava na década, a Guerra Colonial entretanto iniciada (1961) tornava-se o

alvo especial da oposição - consumia os esforços e as vidas do país e revelava-

se como um combate longo, sangrento e inútil.

Entretanto, aumentara a pressão externa contra Salazar. O afastamento deste

último e a liberalização que se lhe seguiu, liderada por Marcello Caetano, não

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pôs fim ao problema da guerra, acabando mesmo, na óptica do governo, por se

revelar prejudicial à sua condução. Enquanto a pressão à sua volta crescia, o

regime voltava a fechar-se, entrando nos anos 70 sem perspectivas de se

modificar.

A solução acabou por vir do lado de quem fazia a guerra: os militares. No ano

de 1973, um dos mais mortíferos da Guerra Colonial, nascia uma conspiração

de oficiais de patente intermédia, descontentes com a duração e as condições

do conflito. Começava o «Movimento dos Capitães», depois designado por

Movimento das Forças Armadas (MFA). Este movimento politizou-se

rapidamente, concluindo pela inevitabilidade do derrube do regime em Portugal

para se poder chegar à paz em África. Depois de um golpe falhado nas Caldas

da Rainha (16 de Março), em que não teve intervenção, o MFA decidiu avançar:

o major Otelo Saraiva de Carvalho elaborou o plano militar e, na madrugada de

25 de Abril, a operação «Fim-regime» tomou conta dos pontos estratégicos da

cidade de Lisboa, em especial do aeroporto, da rádio e da televisão. Lideradas

pelo capitão Salgueiro Maia, as forças revoltosas cercaram e tomaram o quartel

do Carmo, onde se refugiara o chefe do governo, Marcello Caetano.

Rapidamente, o golpe de Estado militar foi aclamado nas ruas pela população

portuguesa, cansada da guerra e da ditadura, transformando-se o movimento

numa imensa explosão social e numa revolução pacífica, que ficou conhecida no

estrangeiro como a «Revolução dos Cravos».

Certamente que em Miranda, como em outros lugares, se fizeram sentir as

limitações à liberdade do regime fascista e igualmente aqui se terá conspirado

em silêncio para o seu derrube. Após a vitória, perpetuou-se tal momento

deixando a sua recordação através da toponímia.

Rua do

Alto dos Barreiros

Delimitada pela Rua da Filarmónica (Norte)

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Rua

Arménio da Costa Simões

Antigo Ramalhão

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sudoeste)

Filho de António Simões e de Camila Jesus Costa, Arménio da Costa Simões foi

casado com Lucília de Jesus Fernandes, união de que resultaram dois filhos:

António Manuel Fernandes Simões e Emídio Fernandes Simões.

Este ilustre mirandense nasceu a 6 de

Abril de 1928 e faleceu no dia 19 de

Julho de 1970, um período curto de vida

para alguém que desenvolveu uma

intensa actividade profissional em prol

da sua terra.

Começou por ser comerciante tendo

com o pai e com o irmão criado uma

loja de mercearias e ferragens. Foi só

mais tarde, em 1955, que avançou para a criação da “Cerâmica Mirandense”,

unidade industrial dedicada ao fabrico de telhas e tijolos na sua fase inicial. A

cerâmica situada no coração da vila de Miranda do Corvo empregava inúmeras

pessoas contribuindo para a sustentabilidade económica desta vila do interior

nos difíceis anos da segunda metade do século passado.

Quando o industrial faleceu já fabricavam vigotas pré-esforçadas. Instalou ainda

os “Pavimentos Beira”, unidade de fabrico semi-automática, mas infelizmente o

incansável Arménio da Costa Simões já não viu funcionar a unidade de vigotas

pré-esforçadas completamente automatizada.

Rua da

Associação

Delimitada pela Praça da Liberdade (Sul)

A Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do

Corvo (A.D.F.P.), nasceu de uma iniciativa na área da Formação Profissional

para Deficientes do Presidente da Câmara Municipal de Miranda do Corvo, Dr.

Jaime Ramos na qual contou com o apoio organizacional, executivo e

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

pedagógico, respectivamente, da Associação para a Recuperação de Cidadãos

Inadaptados da Lousã (ARCIL), de Carlos Torres das Neves e do Prof. Aires

Caetano. A escritura de constituição teve lugar em 6 de Novembro de 1987 e os

primeiros Corpos Gerentes foram eleitos a 27 do mesmo mês. É uma I.P.S.S.

(Instituição Privada de Solidariedade Social), sem fins lucrativos, desde

Setembro de 1989, reconhecida como de Utilidade Pública e com Sede em

Miranda do Corvo. Possui valências sociais no Concelho de Miranda e na cidade

de Coimbra e serviços culturais – Biblioteca Itinerante, em vários municípios

(Miranda, Penela, Lousã, Gois, Penacova e Coimbra) e cerca de 2.000 sócios.

Serão cerca de 3.400, as pessoas que com regularidade utilizam os seus

serviços. Este conjunto integra as 200 pessoas (idosos, deficientes, doentes

crónicos, mulheres mal tratadas e crianças) que vivem nas residências. A

A.D.F.P. tem como principal objectivo apoiar deficientes, doentes crónicos e

inadaptados, crianças, jovens e idosos pelo propósito de dar expressão ao dever

de solidariedade entre as pessoas, bem como pela completa integração do

indivíduo na sociedade, com uma filosofia de inclusão social. Não é um “gueto”

de pessoas com carências. Possuí valências sociais, serviços de saúde, secções

culturais, recreativas e desportivas. Nestas, salienta-se um Clube da Mulher,

uma Associação Juvenil (AJA), um Departamento Cultural com Biblioteca, com

trinta mil livros, secções de columbofilia, atletismo, centro hípico, ginásio e

health club com piscina aquecida. Possui um cinema e estão a iniciar a

construção de um museu onde se procurará preservar os valores patrimoniais e

culturais, nomeadamente o artesanato regional.

Numa lógica de desenvolvimento regional, para criar riqueza, postos de

trabalho e combate à pobreza, tem desenvolvido trabalho na área da habitação,

com criação de um pequeno bairro, e está a desenvolver um projecto no sector

do turismo. O seu objectivo último visa promover a qualidade de vida (física,

psíquica, económica e social) de vários grupos sociais – crianças, jovens,

adultos desfavorecidos, deficientes, doentes e idosos. Os princípios de

integração e de combate à exclusão traduzem-se na existência de um leque

variado de valências de acção social, formativa e educativa: regime de

externato, regime Porta a Porta e regime Residencial.

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Page 24: Toponímia de Miranda Do Corvo

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Rua

Belisário Pimenta

Antigo Areal e zona da Levada

Delimitada pela Rua Dr. Rosa Falcão

(Sudoeste)

e Rua D. Afonso Henriques (Nordeste)

Belisário Maria Bustorf da Silva Pinto

Pimenta, nasceu em Coimbra aos 3 de

Outubro de 1879 no 2º andar do prédio

nº11 da Praça Velha. Frequentou o

colégio externato do padre Ricardo

Simões dos Reis, na Avenida Sá da

Bandeira, e depois transitou para o

Liceu, que estava instalado no edifício

de São Bento. Tinha 14 anos de idade

quando começou a formar a sua biblioteca pessoal, que ultrapassava, no

momento do seu falecimento, oito mil obras. Seguiu depois a carreira militar

ingressando como cadete na Escola Prática de Infantaria de Mafra. Casou em

1908 com Amélia Possidónio da Silva de cujo matrimónio nasceu a sua única

filha, Maria Helena. Em 1903 foi promovido a alferes e em 1910 passou a ser

Comissário da Polícia em Coimbra. A sua vida militar decorreu ainda por

Valença, Portalegre, Castelo Branco, Lagos, Porto, Penafiel, Abrantes e Leiria.

No ano de 1913 publica o seu primeiro artigo sobre um tema histórico “O

Combate de 24 de Julho de 1828 na Cruz de Morouços”. Neste mesmo ano,

publicou também o seu primeiro trabalho sobre Miranda do Corvo, tema que foi

uma das suas predilecções e que cultivou até ao fim da vida. Os

acontecimentos políticos de 1926 determinaram, por alguns anos, o seu

afastamento do serviço activo, o que acarretou vários dissabores e prejuízos

financeiros. Teve, no entanto, a compensação de poder dispor de mais tempo

para os seus trabalhos de investigação, nomeadamente sobre a nossa vila.

Privou com figuras ilustres da cultura dos séculos XIX e XX como sejam Eugénio

de Castro, António Nobre, António José de Almeida, Vitorino Nemésio, António

Nogueira Gonçalves ou Álvaro Viana de Lemos. Possuía como condecorações a

medalha de ouro de comportamento exemplar e era grande-oficial da Ordem

Militar de Avis. Às 17 horas do dia 11 de Novembro de 1969, no n.º 41 da Rua

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de Santo Amaro, à Estrela, em Lisboa, após uma nevrite, falecia Belisário

Pimenta.

«Este arruamento inicia-se junto da Ponte do Meio, no final da Rua Dr. Rosa

Falcão e estendendo-se paralelo ao rio Alhêda, pela retaguarda dos Paços do

Concelho, vai entroncar na Rua D. Afonso Henriques junto à Ponte de Cima. A

ponte sobre o Alhêda, ainda hoje conhecida por Ponte do Meio, era no final do

séc. XIX, chamada Ponte de Cima. Com a abertura da estrada para Tomar foi

construída outra ponte que o povo chamou durante anos «Ponte da estrada

nova». (PIMENTA, Belisário, Cancioneiro de Miranda do Corvo, p. 19). Trata-se

de uma área recuperada ao rio quando foi construído o paredão na margem

esquerda em 1935, conhecida por Areal. Antes de ser construído, o rio corria

caprichosamente através dele, ou seja entre o muro da margem direita e a

levada que conduzia a água para fazer mover os moinhos e o lagar de azeite

situados ao fundo da rua. O terreno do Areal recuperado com a construção do

paredão esteve subaproveitado sendo o estendal da roupa que provinha do

lavadouro público que existia do lado esquerdo da levada. Servia também para

acampamento de caravanas de ciganos e até para secar cereais. Por volta dos

anos 60 a Câmara acordou com os proprietários da levada, os irmãos Baetas, na

limitação da parte pública, tornando-se então um lugar de estacionamento de

veículos que nos dias de feira (que se realizava em frente à Câmara) se

deslocavam a Miranda. Só a partir de 1973 foi pedido o arranjo urbanístico e a

construção dos dois pontões sobre o rio para a ligar à Avenida José Falcão. Este

projecto só foi concretizado em 1978. Deparamo-nos nesta rua com um imóvel

de considerável dimensão, construído na década de 40, onde em tempos se

produziu tapeçaria regional e alcatifas dando emprego a dezenas de pessoas

maioritariamente do sexo feminino; referimo-nos à fábrica «Baetas Irmãos».

Baeta era o nome dado a uma variedade de pano felpudo de lã. A família Baeta,

proprietária da referida fábrica é oriunda do concelho da Castanheira de Pêra,

zona com longa tradição no campo da indústria têxtil – produção de tecidos

diversos, entre os quais as célebres Baetas, o Sr. José Alves Baeta, natural do

Gondramaz, pai de Manuel Alves da Silva (Baeta) de Godinhela, foi comerciante

ambulante de tecidos, além de possuir estabelecimentos de venda em Miranda,

Espinhal e Vila Nova, onde residiu. (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia

Mirandense – subsídios para a sua história).

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Rua do

Canto das Amoreiras

Delimitada pela Rua das Amoreiras (Oeste e Sul)

Rua da

Casa do Gaiato

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Sudoeste)

A primeira casa da “Obra do Pai

Américo” foi fundada nos Bujos, aldeia da freguesia de Miranda do Corvo, no dia

7 de Janeiro de 1940. Trata-se, sem dúvida, da primeira grande obra de

solidariedade social sediada no concelho e que, felizmente, teve continuidade

em outras. Desde a sua fundação, a Obra da Rua dedica-se ao acolhimento de

rapazes em regime de abandono ou vindos de famílias carenciadas. Vivem

seguindo os preceitos cristãos como uma grande família, cada qual com a sua

função, em regime de internato aberto. O seu lema é “Obra de rapazes, para

rapazes, pelos rapazes”. A partir desta primeira Casa, inaugurada pelo Pe.

Américo e mais três rapazes, a obra disseminou-se pelo país e antigas colónias:

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actualmente existem outras casas em Paço de Sousa, Lisboa, Porto, Setúbal,

Angola e Moçambique.

Decidimos aqui incluir o artigo do Prof. Carlos Manuel Trindade, antigo gaiato,

publicado no jornal “Mirante” de Janeiro de 1978: «Sendo “Mirante” um órgão

regionalista, parece ter nele inteiro cabimento a efeméride que agora ocorre.

Trata-se da criação da Obra da Rua, mais precisamente, da fundação, da Casa

do Gaiato. Foi isto, com efeito, há 38 anos. Mais exactamente a 7 de Janeiro de

1940.

Naquela data, Padre Américo trouxe, das ruas de Coimbra, três pequenitos,

fundando assim a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo, consagrando-

a ao Santíssimo Nome de Jesus. Em 1939, depois de muitas buscas, encontrou,

finalmente, o que desejava: uma casa com pequena quinta, que, ao tempo,

custou 46.100$00, quantia que alguém lhe deu, pois, nessa altura, já nada de

seu possuía. Tudo havia distribuído pelos pobres, por quem há muito se

apaixonara.

As velhas casas que rodeavam as primitivas instalações, foram dando lugar a

edificações novas, adequadas às necessidades de uma família que foi

crescendo sempre. A Família, aliás, foi e continua a ser o padrão da Casa do

Gaiato, enquanto que a Pobreza é o seu fundamento.

Inicialmente a Casa do Gaiato foi designada por Casa de Repouso, dadas as

precárias condições de saúde de que eram portadores os seus primeiros

habitantes. Hoje o objectivo primordial é o amparo da criança abandonada,

sobretudo «as mais repelentes, as mais difíceis, as mais viciosas». «A Obra

nasceu com este espirito e assim, tem de continuar, para ser, através dos

tempos, uma palavra nova». Proféticas palavras do fundador, pois, não

obstante, os 38 anos decorridos, a Obra da Rua continua a ser,

verdadeiramente, uma palavra NOVA e VIVA no meio do verbalismo estafado e

caduco a que vimos assistindo e que a nada conduz.

A sua máxima – Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes – é um dos

princípios educativos fundamentais, pois nas várias Casas, espalhadas pelo país

e em Angola, alberga, actualmente, cerca de 800 rapazes e em todas elas há

deles mais velhos, responsabilizados e comprometidos na continuidade duma

Obra que Deus continua a abençoar.

Por esta Casa do Gaiato, ao longo destes 38 anos, já passaram cerca de 600

rapazes que hoje se espalham, praticamente, por todo o mundo, quase todos

singrando na vida, como homens dignos, cidadãos conscientes. Esta meritória

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obra de promoção social é atestada pelo testemunho de vida de muitos dos

filhos desta Casa do Gaiato. Aqui receberam formação escolar e profissional,

preparando-se para a vida. A título exemplificativo, uma breve referência aos

oito professores do Ensino Primário saídos desta Casa do Gaiato, alguns dos

quais se têm alcandorado a níveis académicos de grau superior.

Desde há 27 anos, dirige esta Casa do Gaiato, de que faz parte o Lar do mesmo

nome, em Coimbra, o reverendo Padre Horácio que, de alma e coração, se tem

dado, em prol do bem desta Obra que directamente herdou de Padre Américo,

uma vez que com ele lidou de muito perto. A evolução desta Casa do Gaiato,

tem-se feito lenta e serenamente, sem grandes oscilações. Quanto à situação

actual, ela pode ser constatada por quem a visita.

Mas a Obra do Padre Américo, que teve em Miranda do Corvo o seu berço, não

se limita à Casa do Gaiato, aqui nascida. Outras casas dela nasceram depois,

em vários pontos do país: Paço de Sousa, em 1943; Santo Antão do Tojal,

Loures, em 1947; Setúbal e Beire (Paredes), em 1955, e Lares em Coimbra,

Porto, Lisboa e Setúbal. Em 1963, fundam-se as Casas do Gaiato de Malange e

Benguela, em Angola e, em 1967, a de Lourenço Marques, em Moçambique.

O Padre Américo (para os seus, Pai Américo), foi um homem da Igreja e, como

ela, projectado à escala universalista. Daí que a sua Obra não tivesse conhecido

barreiras, não obstante a pequenez do seu nascimento, ocorrido nessa

simpática e acolhedora terra mirandense. Assim, em 1952, no sentido de dar

uma casa aos sem abrigo, surge o Património dos Pobres que Miranda, através

de alguns dos seus filhos, também conheceu e acarinhou. Esta extraordinária

iniciativa deu, depois, origem à Auto-Construção, modalidade actualmente

muito em voga.

Finalmente, o canto de cisne de Pai Américo, foi o Calvário, destinado aos

doentes incuráveis e abandonados, situado no concelho de Paredes. Esta obra

surgiu em 1955 e Pai Américo, a 16 de Julho de 1956, com 69 anos de idade,

devido a acidente de aviação, deixou o nosso convívio, sem que a sua presença

se deixasse de sentir. Ao contrário do que pensariam alguns cépticos, a Obra

não morreu com o seu fundador. Pelo contrário, ela continua bem viva, porque

Deus assim o quer. E, quando «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce» - diz

o poeta. E nasce, não para morrer, mas para crescer e viver, enquanto for essa

a vontade do Alto.»

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Rua dos

Combatentes da Grande Guerra

Antigo Rua do Estanque e Rua da Botica

Delimitada pelo Largo Manuel Pereira Batalhão (Norte)

e Largo Tenente Romãozinho (Sul)

Também a vila de Miranda dedicou na sua toponímia uma artéria a louvar os

combatentes portugueses que serviram na Primeira

Guerra Mundial (1914-1918) e onde se contavam

também militares aqui nascidos mas de que hoje é

difícil elaborar a listagem completa. Ainda assim

Armindo Rodrigues refere-nos: «(...) dum memorial

existente à entrada do antigo Regimento de

Infantaria 23, em Coimbra (...) colhemos os nomes

dos militares daquele Regimento mortos em

combate: em França apenas um nome, António

Maria Rosa (soldado); em Moçambique, 7 baixas,

Bernardino A. Fernandes, Joaquim Carvalho,

Joaquim dos S. Oliveira, Joaquim Rodrigues, José

Augusto, Manuel Fernandes e Manuel João, (todos soldados)». Outros houve

com mais sorte e que regressaram à sua terra para junto das suas famílias.

Destacamos para o nosso concelho José Quaresma, da vila; Adelino Marques, do

Poisão e António Roque dos Reis do Porto Rio.

Um outro ponto de interesse desta rua prende-se com a chamada «Fonte dos

Amores», antigo chafariz que se encontrava no Largo Serpa Pinto, actual Praça

José Falcão, lembrando os tempos em que não havia água canalizada nas casas

e ir à fonte fazia parte das necessidades do quotidiano, aproveitada pelos

jovens para também “matar” a sua sede de conversa com os seus desejados.

Em frente do chafariz, fazendo esquina com a Travessa da Fonte dos Amores

para poente, podemos admirar uma casa cujo aspecto actual é o resultado de

uma remodelação levada a cabo no início do século passado, outrora pertença

da família Ferrer. A ela se refere Belisário Pimenta: «Pelo que dizem os velhos

julgo ser construção, talvez, do séc. XVII e a que andava ligada a tradição

curiosa de ter sido o solar da família nobre dos Coelhos, família que existiu até

meados daquele século no lugar do Corvo e que depois, por questão de

casamento, passou para o concelho de Penela. A tradição vai mesmo ao ponto

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de afirmar que na casa a que me refiro, residiu Pêro Coelho, um dos assassinos

de Inês de Castro...». PIMENTA, Belisário, O Partido do Boticário na Vila de

Miranda do Corvo (Notas Históricas). Armindo Rodrigues refere-nos que esta rua

teve anteriormente o nome de Rua da Botica devido ao facto de na casa antes

por nós referida ter ali existido a botica de António Pedro da Silva Basto

detentor do partido do Boticário de 1825 a 1852. Desempenhou ainda as

funções de administrador do Correio e foi também Presidente da Câmara em

1839. Ainda no rés-do-chão daquele edifício esteve instalado o Cartório Notarial

até cerca de 1940. A casa ao lado desta, propriedade da família Rosa, foi sede

dos Correios até à sua transferência para o actual edifício em 1956.

Ainda antes de se chamar Rua da Botica esta rua teve o nome de Rua do

Estanque que significa «Armazém de géneros cuja compra e venda se faz por

monopólio; loja em que se vende tabaco». Por esta última acepção se conclui

que semelhante estabelecimento deve ter existido nesta rua. Por último importa

ainda referir que por volta de 1936, a Comissão Administrativa da Câmara

liderada por José Firmino Ribeiro da Cunha procedeu ao alargamento da rua,

removendo os balcões exteriores de acesso aos prédios.

Rua da

Coutada

Delimitada pela Rua João Paulo II (Sul)

A coutada é, por definição, uma zona

de caça. Se levarmos em consideração

que na Idade Média, e mesmo na Época

Moderna, esta zona estava fora do aro

da vila e tendo em conta as

potencialidades ao nível da flora que

apresentava antes das últimas

urbanizações, é de crer que o topónimo

possa ser bastante antigo. Pode,

igualmente, tratar-se de uma antiga grande propriedade. Os pequenos trechos

ainda visíveis da sua configuração original parecem deixar adivinhar a sua

ligação à Estrada Real.

De salientar, igualmente, que esta rua que se inicia perto do Montoiro, não

termina na confluência da Rua Mota Pinto mas sim vai desembocar já à Rua

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Page 31: Toponímia de Miranda Do Corvo

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João Paulo II. Com efeito ela atravessa a Rua José Carlos Pereira de Carvalho,

passa junto ao stande de automóveis do Sr. António da Cruz Francisco e daí

segue em direcção à estrada real. É, pois, com toda a certeza, uma das vias

mais antigas da vila.

Rua da

Cova da Ponte

Delimitada pela E.N. 342 (Sul)

São normalmente referidas na

documentação duas pontes principais:

a Ponte do Corvo, sobre o Alhêda,

acima referido; e a “velha ponte do

Dueça por detraz do castelo”. Esta

ponte foi feita em 1666, de alvenaria,

depois de porfiadas diligências e, já no

séc. XVIII, ainda era chamada “Ponte

Nova”. Foi substituída pela actual

quando se construiu a Estrada Distrital n.º 108.

Rua do Cruzeiro

Parte da antiga Rua dos Linhares e do Outeiro

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Nordeste)

«Esta Rua utiliza em toda a sua extensão, uma pequena parte do leito da E.N.

342, desde a Ponte do Dueça até ao início da Rua Arménio Simões, no sítio

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conhecido por Curva do Lagar. Vem a propósito fazer um pequeno historial

sobre esta estrada, até por ser a mais importante que atravessa a Vila.

Ao abrigo da classificação de 1889, que agrupava as estradas do continente em

estradas reais e distritais, coube-lhe a designação de Estrada Distrital 108. A

partir de 1927, data em que entrou em vigor uma nova classificação das

estradas nacionais, é-lhe atribuído o número de 52 – 2ª classe. Na vigência

desta designação, o troço entre Condeixa e Lousã foi objecto de grande

beneficiação, tendo os trabalhos sido empreitados pela Firma Antero Andrade e

Silva de Mosteirô, Vila da Feira. Os citados trabalhos que se iniciaram em

21/7/38 e terminaram em 25/4/40, previam o revestimento betuminoso entre

Lamas e Miranda do Corvo, inclusive, facto que acontecia pela primeira vez. A

última classificação das estradas nacionais, presentemente a sofrer a erosão

resultante da construção dos IP e dos IC (Itinerários Principais e Itinerários

Complementares), data de 1945 e é a partir desse ano que a estrada que

estamos a referir usa a designação de E.N. 342, a qual tem o seu início em

Carriço (cinco quilómetros a sul de Marinha das Ondas), e termina em Avô,

sendo a sua extensão de 117 Km.

Ladeando a Rua do Cruzeiro encontramos a capela da Sra. da Boa Morte. A

edificação actual data da segunda metade do séc. XVIII, merecendo especial

atenção o seu interior onde podem admirar-se três belos retábulos em talha

dourada, ao gosto setecentista final.

Esta capela, só a partir do último terço do séc. XVIII tem como padroeira a Sra.

da Boa Morte; antigamente era S. Cristóvão o seu orago, como nos atesta

Belisário Pimenta na seguinte passagem dum seu trabalho: «Esta ermida ou

capela, estava edificada no local onde hoje se vê a capela da Sra. da Boa Morte.

Não sei ainda quando foi construída e talvez o não venha a saber; sei que já

existia em 1576 e que na sua frente, no adro, havia um cruzeiro que tinha o

nome do mesmo santo e junto do qual se enterravam aqueles que de fora da

freguesia, tinham a sorte de vir morrer a ela» (Jornal Alma Nova, Lousã, ano 4,

nº108, 16/4/1925).

Mas o monumento que está na base do topónimo atribuído a esta Rua é um

Cruzeiro situado num pequeno Largo, que a margina e onde muitos de nós

Mirandenses brincámos quando aprendíamos as primeiras letras nos bancos das

antigas Escolas Primárias, que lhe ficavam vizinhas.

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(...) não achamos de mais recordar o significado das quatro datas (1136, 1140,

1640 e 1940), gravadas na pedra e distribuídas pelas quatro faces da parte

superior do Cruzeiro, na base do conjunto artístico que encima a coluna:

1136, evoca o ano em que D. Afonso Henriques, (que apesar de apelidado de

«Príncipe» governava de facto o Condado Portucalense, como Rei, desde 1128),

concedeu a Miranda o foral que lhe conferia existência como concelho e

regulava a sua administração e limites.

1140, pretende assinalar o ano de Portugal como nação. Na verdade, do

Recontro de Valdevez, travado em 1140, torneio do qual os Portugueses saíram

vencedores, resultou um acordo que seria o primeiro passo para a efectivação

de um tratado de paz entre D. Afonso Henriques e o Rei de Leão. Esse acordo

conduziu ao Tratado de Samora, firmado em 1143, pelo qual D. Afonso VII de

Leão, reconheceu, pelo menos implicitamente, a independência de Portugal.

1640, é outra data importante na história pátria, já que marca o fim do domínio

Espanhol sobre os portugueses, que durava desde 1580, consubstanciado na

dinastia dos Filipes.

1940 é a data de inauguração do Cruzeiro, padrão semelhante a tantos outros

que os portugueses ergueram pelas sete partidas do mundo, principalmente

durante a época gloriosa dos descobrimentos. A cerimónia da inauguração foi

conduzida pelas individualidades mais importantes da Vila, daquela data, tendo

a abrilhantá-la a Filarmónica Mirandense (...)» (RODRIGUES, Armindo,

Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história, artigo no jornal “Mirante”

de Miranda do Corvo).

Rua

D. Afonso Henriques

Antiga Rua dos Correios

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Noroeste)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sul)

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Page 34: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Monarca português (c. 1108-1185), foi o primeiro rei de Portugal, governando

entre 1128 e 1185. Era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa de

Aragão. Em 1128, no campo de S. Mamede (Guimarães), venceu os partidários

de sua mãe e assumiu o governo. Em defesa do trono, conquistou Santarém

(1147) e, com a ajuda dos cruzados, a cidade de Lisboa no mesmo ano. Alargou

depois as suas conquistas a Évora e a Beja. A edilidade mirandense dedica-lhe

uma rua, pois foi este monarca que concedeu foral à vila em 18 de Dezembro

de 1136.

Este arruamento desenvolve-se na sua totalidade utilizando o troço da E. N. 17-

1 que, proveniente de Semide, atravessa Miranda em direcção ao Espinhal. Tem

o seu início frente à entrada para o antigo Dispensário anti-tuberculoso e

termina na chamada «Curva do Frutuoso» outrora situada no termo da actual

Rua do Cruzeiro. Como afirma Armindo Rodrigues na sua importante e já várias

vezes citada “Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história”, aqui se

localizava a vivenda da família Fachada onde funcionou desde a década de 30

até à década de 70 do século passado um estabelecimento dedicado ao

comércio de vinhos e comidas, explorado por Frutuoso Fachada. Antes do

entroncamento desta rua com a avenida José Falcão encontrava-se a Vila Glória,

construção cuja parte mais elevada lembrava um castelo com respectivas

ameias. Esta casa serviu durante algum tempo de residência fixa ao capitão

Franco que foi opositor ao regime salazarista. Seguindo ainda o estudo do nosso

conterrâneo, o Sr. Armindo Rodrigues, no local da actual discoteca Teia

funcionou no início do século passado um lagar de azeite; mais tarde esse lagar

serviu de sala de projecção de cinema; após o ano de 1926 foi transformado em

serralharia passando depois a serração de madeiras; antes da utilização actual

funcionou como armazém de frutas. Após a discoteca existe uma casa onde

habitou e morreu a professora e poetisa D. Lucinda Rosa Quintas, dedicada

mirandense e ardorosa defensora dos direitos da mulher, falecida em 1946. Por

fim destacamos, no fim da rua, a vivenda da família Marques Ferrer.

Rua

Dr. Carlos da Mota Pinto

Delimitada pela Rua José Carlos Pereira de Carvalho (Sul)

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Page 35: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Político, académico e jurisconsulto português

(1936-1985). Foi professor catedrático da

Universidade de Coimbra. Filiando-se no

Partido Social Democrata (PSD), que liderou

entre 1983 e 1985, desempenhou diversos

cargos governativos, entre os quais o de

Primeiro Ministro em 1978-1979 e o de Vice

Primeiro Ministro e Ministro da Defesa (no

chamado Bloco Central) a partir de 1983.

Rua

Dr. Fausto Lobo

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Norte)

e Rua João Paulo II (Norte)

Médico, Fausto Ferreira Lobo, nasceu em Coimbra em 9 de Novembro de 1895 e

morreu em 1952. Formou-se em Medicina, em 1919, na Universidade de

Coimbra. No cumprimento do serviço militar, foi destacado para exercer

medicina em Estarreja, Mira e Miranda do Corvo, no combate à terrível epidemia

que ficou conhecida como pneumónica. E foi Miranda que o cativou e ao passar

à disponibilidade fixou aqui residência. Foi médico municipal e delegado de

saúde. Republicano convicto aderiu ao regime do Estado Novo. Nesse tempo um

dos maiores flagelos era a tuberculose que espalhava a mortandade por toda a

parte. O governo encetou então uma campanha de luta anti-tuberculosa criando

dispensários para debelar tão terrível mal. Foi, então assim, o fundador do

Dispensário Anti-tuberculoso na vila, cujo antigo edifício ainda se encontra na

rua que ostenta o seu nome.

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Page 36: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Muito interessado pelos problemas da lavoura procurou resolvê-los dentro de

um espirito colectivo. Estava-se então em plena 2ª guerra mundial. Com

decisão avança com a ideia de constituição, no final de 1942, do Grémio da

Lavoura. Coincidindo com a guerra também uma terrível seca assolou o País

durante dois anos o que gerou escassez e fome. Através do Grémio, vários

contingentes de milho colonial foram distribuídos o que veio atenuar a

dramática situação. Nesse tempo, o concelho de Miranda do Corvo era um

grande centro produtor de azeitona. Os velhos lagares não tinham capacidade

de resposta, nem condições de higiene e de rentabilidade para a extracção do

azeite. Era necessário dotar Miranda de um lagar moderno. E assim surgiu a

Cooperativa de Olivicultores em 1950. Fez parte do Conselho Superior de

Transportes Terrestres e da Junta Autónoma de Hidráulica Agrícola.

Rua

Dr. Mário de Almeida

Delimitada pelo Largo Manuel Pereira Batalhão (Norte)

e Travessa dos Alhos (Sul)

Mário Augusto de Almeida foi advogado

e professor e nasceu em Miranda do Corvo, a 28 de Junho de 1885, falecendo

em Coimbra em 1929. Formara-se em Direito no ano de 1912 na Universidade

de Coimbra. Em 1913 foi eleito presidente da Câmara Municipal de Miranda do

Corvo para o triénio de 1914 a 1916. Transferindo a sua residência para a

cidade de Coimbra, aí abriu escritório de advocacia, dedicando-se a assuntos

administrativos. Em 1919, criada a Escola Comercial de Coimbra, foi nomeado

seu professor e director, e mais tarde foi igualmente nomeado professor do

Instituto Industrial e Comercial de Coimbra. Conhecida a sua acção na Câmara

Municipal de Miranda do Corvo, na qual avulta a construção do edifício dos

Paços do Concelho, foi eleito em 1922 presidente do município de Coimbra,

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Page 37: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

tendo sido reeleito em 1925. Dos livros que publicou realce para “Elementos de

Economia Política”; “Código Administrativo Prático” e o incompleto “Forais e

Municípios”.

«Nesta rua residiram o Dr. Aurélio Augusto de Almeida, irmão do Dr. Mário, Dr.

Francisco Augusto da Costa e Silva. Bacharel em Teologia, e seu sobrinho José

Camilo da Silva Bastos que foram presidentes da Câmara de Miranda e ainda o

Dr. Fausto Lobo, médico, político e fundador do Grémio da Lavoura e da

Cooperativa de Olivicultores. Na rua que estamos tratando, na casa onde hoje

funciona o Café Central, existiu durante vários anos e até meados da década de

trinta, um estabelecimento da família Almeida que se dedicava à

comercialização de artigos diversos, especialmente ferragens, cimento, ferro e

outros materiais para a construção, tabacos, cabedais, etc.,etc. Segundo as

informações que colhemos este estabelecimento era o único no seu género o

mais bem surtido das redondezas ocupando-se inclusivamente na região da

venda por atacado, às casas suas congéneres de projecção inferior.

Na esquina que esta casa faz com a Rua José Firmino da Cunha existe um

marco que se supõe estar relacionado com demarcações conventuais relativas

ao «senhorio» de Miranda e que remonta ao séc. XVII. A sua história e finalidade

constam certamente das inscrições que ostenta e cuja leitura se torna difícil,

senão impossível, mesmo a especialista da matéria dado que a acção

destruidora do tempo danificou já a maioria dos caracteres.

Uma particularidade desta rua que se mantém ainda hoje nos nossos dias,

prende-se com o facto de a ela estar ligada a festa religiosa mais importante do

concelho, a «Solenidade dos Passos do Senhor»; a imagem da Virgem,

previamente guardada numa casa desta artéria, dali sai através da Rua José

Firmino da Cunha para o célebre encontro na Praça José Falcão com a imagem

do Senhor quando esta, em procissão, percorre as ruas da Vila pelo itinerário

tradicional.» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a

sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo).

Rua

Dr. Rosa Falcão

Antiga Rua Coronel Vicente de Freitas e/ou Rua d’ Além

Delimitada pela Rua da Filarmónica (Noroeste)

e Rua Dr. Fausto Lobo (Sudeste)

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Page 38: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

O jurisconsulto Francisco Fernandes da Rosa Falcão nasceu em Miranda do

Corvo em 4 de Janeiro de 1879 e morreu em Lisboa a 14 de Junho de 1931. Está

sepultado no cemitério da freguesia do Espirito Santo de Lamas onde jaz em

campa rasa com lápide, ao lado da Quinta da Sobreira (Toca de Lamas como ele

lhe chamava) que em vida comprara. Tendo perdido os pais muito cedo, foi seu

tio e seu tutor o Dr. Clemente Fernandes Falcão, que tomou a seu cargo a sua

educação. No ano lectivo de 1895-96, aos 17 anos de idade, matriculou-se na

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, concluindo a sua formatura

em 1900. Casou com D. Arminda Simões da Silva Rêgo, sobrinha do Dr.

Francisco Vieira de Sousa Rêgo, que o encaminhou na vida prática quando,

fixando-se no Avelar, começou a exercer a advocacia em Ansião e nas comarcas

vizinhas. Quando faleceu era subdirector do Supremo Tribunal de Justiça.

Exerceu a advocacia em Coimbra, de cuja Relação foi também secretário, foi

governador civil daquele distrito e de Leiria, devendo-se-lhe o Código do

Processo Penal, o Estatuto Judiciário e outros diplomas saídos do Ministério da

Justiça. Conhecida e realçada a sua actividade docente achou-se por bem dar o

seu nome à antiga Rua d’ Além, onde se situa a Escola Básica de 1º Ciclo.

«O nome do Dr. Rosa Falcão foi incluído na toponímia da vila no ano de 1935

sob proposta dos autarcas que nessa data dirigiam os destinos do nosso

município, sendo presidente José Firmino Ribeiro da Cunha. No final da rua que

em Miranda lhe foi dedicada, no edifício da (antiga) Padaria Flor encontra-se

uma placa toponímica que ostenta o seu nome. As características desta placa

são bem diferentes das que observamos naquelas que recentemente foram

afixadas na vila para servirem fins semelhantes; trata-se de um motivo

toponímico trabalhado, apresentando na parte superior, lado a lado, em alto-

relevo, as Armas de Miranda do Corvo e as Armas de Portugal. Esta via foi

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Page 39: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

anteriormente conhecida como «Rua de Além» nome ainda hoje utilizado pelos

mirandenses pertencentes ao grupo etário mais idoso. «Rua de Além» foi uma

designação popular, um topónimo que a voz do povo criou e manteve e deve-se

certamente ao facto de este arruamento se estender para além do rio, em

relação à parte velha ou núcleo tradicional da Vila. (...)». Nesta rua situa-se a

capela de S. Sebastião, pequena construção encastrada por habitações, de

fundação antiga mas restaurada modernamente. (RODRIGUES, Armindo,

Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história).

O Sr. Prof. Augusto Paulo enriquece mais os nossos dados afirmando: « (...)

Antes de lhe ser atribuído o nome do Dr. Rosa Falcão, a rua tinha por patrono o

Coronel Vicente de Freitas, segundo parece um oficial de origem madeirense.

(...) Nesse tempo era uma típica rua de aldeia em que o acesso às habitações se

fazia pelo exterior por meio de balcões e de patins, que tornavam estreita a

passagem. (...) Firmino da Cunha mandou proceder à demolição desses balcões,

dando à vila um aspecto urbano mais moderno. (...) Alargada e pavimentada, a

rua foi então rebaptizada com o seu nome actual».

Rua das

Escadas da Sra. da Boa Morte

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sudeste)

e Ladeira do Carvalhal (Noroeste)

A Capela de Nossa Senhora da Boa Morte encontra-se isolada num adro na vila.

Anteriormente terá lá existido a capela de S.

Cristóvão, de que subsiste documentação provando

a sua existência em 1576. Houve igualmente, à sua

frente, um adro com um cruzeiro com o nome do

mesmo santo. Lá se enterravam os que, sendo de

fora da freguesia, nela pereciam, o que levou a que

chamassem àquele adro “pátria dos peregrinos”.

As paredes laterais do corpo acusam, pela cornija,

reaproveitamentos de uma obra do séc. XVII.

Foi nesta capela que se instituiu, em 1732, a

Irmandade de Nª. Sª. da Boa Morte, a requerimento

de vários eclesiásticos e civis. Pelas suas dimensões era, nesta altura, a maior

capela da vila e por este motivo, quando na igreja paroquial não era possível

celebrar o culto, vinham temporariamente as funções paroquiais para S.

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Page 40: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Cristóvão. Assim em 1709, havendo a necessidade de levar a cabo obras na

Matriz, as missas diziam-se em S. Cristóvão. Em 1767, pensou-se em construir

uma nova igreja matriz, porque a que existia estava muito arruinada. Chegou a

elaborar-se um projecto de alargamento da capela de S. Cristóvão, para a sua

transformação em matriz, mas a ideia não foi, porém, avante.

Em 1785 quando se demoliu a velha igreja matriz, a capela de S. Cristóvão

voltou a ter funções paroquiais, até se fazer a nova igreja matriz que

actualmente existe. Estas razões da sua importância serviram até para que se

retirasse do adro e das proximidades, a feira semanal que aí se fez até 1775:

nesse ano a Câmara e os moradores forçaram para que fosse mudada para a

praça sobranceira ao rio; e, entre as alegações, aparece a da « indecência

considerável» que o mercado representava para a celebração do culto na

capela, especialmente nas primeiras quartas-feiras do mês, em que a afluência

de gente e o burburinho correspondente se contrapunham à seriedade e

compostura dos actos religiosos. Depois de queimada pelos franceses, esteve

sem arranjo até 1838, ano em que se fez novo compromisso com a irmandade,

por ter ardido o anterior, e se pediu aprovação régia. A construção actual

pertence à segunda metade do séc. XVIII, altura em que muda de patrono.

O espaço contíguo à capela é curioso, acreditando alguns que os muros

envolventes relembram, intencionalmente, uma barca. Tal facto poderá estar

ligado à invocação actual da construção – a Boa Morte - relegando-nos para a

travessia que é necessário fazer após a morte, facto bastante retratado, por

exemplo, no teatro vicentino (cf. Auto da Barca do Inferno). A fachada é bem

proporcionada, existindo pilastras nos cunhais, cimalha de cantaria que segue

traçado mistilínio, porta e óculo quadrilobado, com molduras e formando uma

só composição; duas janelas do coro, de aro moldurado, e abaixo, ao lado da

porta, dois rótulos concheados. No interior existem três retábulos de gosto

setecentista final: no principal, de quatro colunas reempregaram muitas talhas

do princípio do século. Existem ainda esculturas de madeira do séc. XVIII:

Senhora da Boa Morte à esquerda e S. João Baptista à direita, movido e

gracioso; um S. Cristóvão de pedra do séc. XVII, no retábulo lateral direito, que

foi o orago da mesma capela até ao último terço do séc. XVIII.

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Page 41: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Rua da

Estação

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Oeste)

Rua

Fausto Branco

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Oeste)

«Fausto Branco nasceu em Barbens, da freguesia de Vila Nova, em 19 de Julho

de 1921, e apesar de ser uma pequena

aldeia, tirou o curso de contabilidade da

Escola Brotero, em Coimbra, passando a

trabalhar na antiga Livraria Atlântida.

Após o seu casamento com Maria da Luz

Parreira ficou ligado à firma do sogro,

Joaquim Parreira Novo, da qual mais

tarde se tornou um dos gerentes quando,

com o seu cunhado Manuel dos Santos,

assumiu a direcção da fábrica de serração de madeira.

Uma vida que parecia talhada para a felicidade plena ficou ensombrada pela

morte precoce da esposa em 14 de Julho de 1952. (...) O seu empenho e

competência ficaram bem demonstrados nas colectividades e instituições para

que foi solicitado, tanto civis como religiosas. No Grémio da Lavoura, na

Cooperativa de Olivicultores, como vereador e vice-presidente da Câmara, na

fundação da Santa Casa da Misericórdia, nos Bombeiros Voluntários (com

destaque para a construção do quartel na Praça José Falcão), nas irmandades,

nas manifestações religiosas, no embelezamento do Caramito, na acção socio--

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Page 42: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

caritativa através das conferências de S. Vicente de Paulo e do Património dos

Pobres, desenvolveu uma notável e eficiente acção ao serviço da comunidade.

Homem religioso vivia com fervor e aprofundamento os mistérios da sua fé de

que dava público testemunho. A prática religiosa era evidenciada no apoio aos

pobres e desprotegidos que lhe mereciam um carinho especial. A sua acção não

se limitava ao auxílio material, mas estendia-se ao conforto espiritual, através

da palavra amiga e da esperança com que tentava minorar o sofrimento e o

isolamento que atormentam os desfavorecidos.

Na administração do Lar da Pereira desenvolveu, durante muitos anos, um

profundo labor sempre despido de qualquer interesse. Norteado pelas palavras

de Cristo e pelo exemplo do Padre Américo, duas figuras de referência deste

devotado servidor da Igreja, fundou em Miranda do Corvo o Património dos

Pobres. Através desta obra ia distribuindo, não só o seu dinheiro, mas também

o daqueles que lho confiavam, na procura de solução para os problemas

habitacionais dos sem lar ou na melhoria das casas degradadas e sem

condições de habitabilidade, não falando na ajuda a situações de apuro dos que

constantemente acorriam à sua porta. Esta obra foi a “menina dos seus olhos”

que acarinhou apaixonadamente.

Quando a paróquia de Lamas ficou sem padre, Fausto Branco assumiu a sua

orientação e passou a presidir aos serviços religiosos que o bispo lhe confiou,

numa experiência única na diocese.» (artigo evocativo do Sr. Professor Augusto

Santos Paulo publicado no jornal “Mirante” por ocasião do falecimento deste

distinto mirandense).

Rua da

Filarmónica

Antiga Rua dos Correios

Delimitada pela Rua Dr. Rosa Falcão (Sudeste)

e Largo Tenente Romãozinho (Noroeste)

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Page 43: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

O Grupo Recreativo Mirandense, ao qual pertence a Filarmónica Mirandense, foi

fundado em 27 de Julho de 1931 devido à acção de uma Comissão

Organizadora constituída por José Camilo da Silva Bastos, Alexandre Ribeiro São

Miguel, Jaime Cordeiro, Isaac Almeida (Costa), Henrique Fernandes Bastos e

Augusto dos Santos. Poucos meses depois, mais precisamente a 5 de Outubro

do mesmo ano, era reorganizada a Filarmónica Mirandense «...para o que havia

já decidido criar uma escola de música aberta aos sócios, determinando em

regulamento a possibilidade de aprendizagem daquela arte por parte dos filhos

e irmãos dos sócios, menores de dezasseis anos. Na mesma data ficou decidido

convidar os antigos filarmónicos da vila. O Grupo Recreativo Mirandense foi

inaugurado, conforme noticia o “Diário de Coimbra” na sua edição de 9 de

Janeiro de 1932, no primeiro dia daquele ano. O jornal louva, em particular, a

acção relevante do Sr. Carlos Batalhão, como um dos principais impulsos para

aquele desfecho. São igualmente aventados outros nomes: “...Henrique

Fernandes, Augusto, Alexandre (...) Sr. Carlos e do Arlindo...”. A inauguração

deu-se assim, como foi dito, pelas 20 horas do dia 1 de Janeiro de 1932 com

uma homenagem a José Falcão. Discursaram o Dr. Carlos Batalhão e ainda o

capitão Franco e Henrique Fernandes. No fim foi servido um “Carrascão de

Honra” aos sócios e um “Porto de Honra” às famílias. O Grupo Recreativo

contava no seu início com 130 sócios e teve como propósito inicial reorganizar a

antiga Filarmónica Mirandense, sob o impulso de Arlindo d’Almeida. A

inauguração oficial da Filarmónica foi realizada a 1 de Janeiro de 1933. Ainda

hoje a sede deste grupo é no antigo Paço dos Melos situado nesta rua. Este

designado «Palácio dos Melos», antiga casa senhorial é pois desde há mais de

meio século a sede histórica do Grupo Recreativo Mirandense e, por inerência,

da própria Filarmónica Mirandense. «Essa continuidade – como afirma Armindo

Rodrigues – somente foi interrompida recentemente durante o curto período

necessário às obras de restauração do referido Palácio, concluídas no início de

1981».

Nesta mesma rua situou-se no período de 1845 a 1867, uma tipografia pertença

do avô materno de Belisário Pimenta, de seu nome Manuel Caetano da Silva,

que exerceu na vila as funções de escrivão da Administração e escrivão da

Câmara. No Opúsculo de Belisário Pimenta, Uma Tipografia Ignorada, pode ler-

se: «Instalou-a na mesma casa onde nascera e que era sua, à Ponte de Baixo,

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Page 44: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

quási à esquina do caminho dos Barreiros, logo a seguir à casa senhorial da

família Cabral Arnaut. Ainda existe essa casa um bocado alterada no seu

aspecto geral e bastante soterrada devido ao assoreamento da ribeira do

Alhêda e à substituição da velha ponte de pedra pela actual que fizeram altear

o pavimento da rua a ponto de o antigo 1º andar ser hoje um rés-do-chão para

o qual se sobe três degraus». Devido a desavenças políticas Manuel Caetano da

Silva viu-se obrigado a mudar, sorrateiramente, a sua tipografia para Coimbra

na noite de 31 de Março de 1867. A mesma casa serviu também no início do

século passado para sede dos Correios o que levou a que também tivessem

chamado a esta artéria Rua dos Correios.

Rua das

Fontaínhas

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Sul)

Rua

João Paulo II

Delimitada pela Rua José Carlos Pereira de Carvalho (Oeste)

Papa (1920-2005) nascido em Wadowice, na Polónia, de seu nome Karol Wojtila,

exerceu a função desde 1978. Foi o primeiro papa não italiano a ser eleito em

456 anos. A sua influência em várias

línguas permitiu-lhe ser embaixador da

Igreja por todo o mundo. Nas questões

sociais defendeu as ideias tradicionais

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Page 45: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

católicas manifestando-se contra o aborto, o uso de contraceptivos e o divórcio.

Devoto de Nossa Senhora de Fátima, deslocou-se ao Santuário de Fátima, em

Portugal, por duas vezes. Realizou a sua segunda visita com o propósito de

presidir à beatificação de Jacinta e Francisco Marto, os dois pastorinhos ali

sepultados desde 1951 e cujo processo de beatificação foi iniciado em 1948.

Faleceu já no decorrer deste ano, após o sofrimento provocado por várias

complicações respiratórias e pela Doença de Parkinson que já o afectava há

vários anos. Deu um exemplo de sofrimento e renuncia que comoveu católicos

e mesmo não católicos.

Rua

José Carlos Pereira de Carvalho

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Este)

Rua

José Firmino Ribeiro da Cunha

Antiga Travessa do Rio

Delimitada pela rua Dr. Mário de Almeida (Norte)

e Avenida e Praça José Falcão (Sul)

«Este pequeno arruamento que liga a Rua Dr. Mário de Almeida à Praça José

Falcão, era conhecido há muitos anos pela Travessa

do Rio, talvez por vir dar ao rio Alhêda, quando

este, sem curso definido, vagueava livremente pelo

extenso areal que é hoje a bela praça, em frente

aos Paços do Concelho.

A regularização do leito do rio terá começado com a

construção do paredão na margem direita, e a

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Page 46: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

partir daí a praça tem vindo a embelezar-se até ao estado em que actualmente

se encontra.

Foi na antiga Travessa do Rio que viveu e se estabeleceu José Firmino Ribeiro

da Cunha com uma farmácia que teve o seu nome e que ainda hoje existe sob a

denominação de Farmácia Antunes. José Firmino Ribeiro da Cunha nasceu em

Lufreu, concelho de Penacova, em 1881, e casou com D. Camila Bastos Ribeiro

da Cunha, em 1907. Datará mais ou menos desta altura o seu estabelecimento

em Miranda do Corvo.

Os seus conhecimentos e a prática devidamente registada valeram-lhe o

diploma da Real Escola de Farmácia do Porto. Pessoa muito activa e

empreendedora, interessou-se também pelo progresso e desenvolvimento de

Miranda do Corvo, tendo feito parte dos corpos administrativos do município

mirandense.

De 1914 a 1917, fez parte da Comissão Administrativa presidida pelo Dr. Mário

de Almeida, (...) Em 8 de Dezembro de 1934, tomou posse de membro da

Comissão Administrativa, substituindo Manuel Lopes Godinho, que havia sido

exonerado pelo Governador Civil. (...)

A acção desenvolvida por Firmino da Cunha foi grande e só desfolhando as

actas da Câmara desse tempo se poderá Ter uma ideia da sua obra, pois não

faltam referências a obras de reparação e construção de fontes, pontes,

estradas e escolas por todo o concelho e que seria impossível descrever aqui.

A Vila de Miranda sofreu uma enorme transformação com o alargamento de

ruas Vicente de Freitas (hoje Rosa Falcão), dos Combatentes, da Igreja (hoje

Calvário, o arranjo do largo das antigas escolas com os balaústres, a pérgola e o

jardim onde hoje está instalado o parque infantil.

Por sua iniciativa a Câmara adquiriu um rádio com altifalantes (uma novidade

na época) para dar vida à Praça José Falcão e proporcionar um pouco de cultura

aos ouvintes. Insistiu junto da Administração dos Correios para que a estação

dos correios instalada no edifício da Câmara fosse transferido para instalações

próprias. Mandou executar os projectos para a construção do paredão na

margem esquerda do rio Alhêda, os esgotos, de um mercado para o peixe,

abastecimento de água à vila, e outros.

Muitos destes projectos já não foram executados por ele e outros nem sequer

foram elaborados, por ter sido demitido catorze meses depois de ter tomado

posse.

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Minado por implacável doença, veio a falecer em 30/10/1940, com 59 anos. Mas

a sua maior batalha travou-a contra o Professor Bissaya Barreto, poderoso

político que então pontificava em Coimbra, por causa da construção do

Dispensário Antituberculoso em Miranda do Corvo. A anterior Comissão

Administrativa tentara directamente junto da Assistência Nacional aos

Tuberculosos a sua construção à revelia do Professor. Firmino da Cunha não

desistiu da pretensão e ainda deu maior incremento. O Professor não gostou...e

não perdoou: demissão, pura e simples, foi o castigo que motivou a carta

dirigida aos seus concidadãos e que prova bem a determinação e a

verticalidade deste Homem que amou Miranda, servindo-a com dedicação e

com inteligência. (...)» (PAULO, Augusto, Toponímia Mirandense, Subsídios para

a sua História, artigo, jornal Mirante).

Rua

Lucinda Rosa de Jesus Quintas

Delimitada pela Rua Pe. Fernando Coimbra (Este)

A imagem não engana: olhar acutilante, aspecto determinado, silhueta

elegante. Falamos de LUCINDA ROSA DE JESUS QUINTAS. Quem? - perguntarão

os leitores mais incautos.

Esta figura incontornável da vida cultural mirandense da primeira metade do

século passado nasceu nesta vila a 9 de Fevereiro de 1887 numa casa da actual

Rua Rosa Falcão que era, aliás, seu irmão. Os seus pais foram Maria das Dores e

António Francisco Quintas. Deixou este mundo a 20 de Setembro de 1946 com

59 anos de idade e uma vida cheia.

A melhor síntese biográfica existente sobre esta Mirandense, que poderá,

eventualmente, ainda estar na retina de alguns mirandenses menos jovens, é

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

da autoria de uma outra grande mulher e outra grande mirandense, que

igualmente dedicou a sua vida à docência e à intervenção social, Maria Emília

Gameiro de Almeida. Foi publicada na edição de Outubro de 1978 do Jornal

“Mirante”, da qual tomamos a liberdade de transcrever alguns parágrafos:

“Em 20 de Setembro de 1946, faleceu na vila de Miranda do Corvo, com 59

anos de idade, e após grande sofrimento, D. Lucinda Rosa de Jesus Quintas. (...)

Dotada de espirito culto e inteligente, simples, franca e expontânea no seu trato

amigo, sabia captar a simpatia daqueles com quem contactava.

Exerceu impecavelmente durante anos, a profissão de professora na escola de

Lamas. Forte e corajosa nos seus compromissos, constante e perseverante, não

afrouxava nem desistia dos planos que tomava.

Dedicava especial interesse e simpatia pelo canto, música, festas escolares e

até extra-escolares. Apresentou várias récitas em Lamas e Miranda do Corvo,

com fins beneficentes e educativos. Por vezes fez interessantes poesias,

musicadas por Arlindo de Almeida, pessoa das suas relações de amizade.

Consagrou grande estima, protecção e apoio ao Grupo Recreativo Mirandense e

à sua Filarmónica, que a tomou como sua (primeira) Madrinha. Nesta

colectividade em 15 de Maio de 1942, a convite do presidente da direcção, Dr.

Carlos Batalhão, também já falecido, pronunciou uma conferência subordinada

ao tema “Mulher”, em que exaltava a figura da mulher como membro da família

e da pátria.

Alegre e espirituosa, era grande animadora dos serões que nessa altura as

senhoras de Miranda realizavam, confeccionando roupas para os mais

desprotegidos. Apaixonada por Miranda, bairrista 100%, aproveitava todo o

ensejo para exaltar a sua beleza e se interessar pelo seu progresso. No jornal

“Alma Nova” que se publicou na Lousã, colaborou assiduamente na defesa e

exaltação da sua terra.”

Escreveu sonetos, comunicações, artigos de jornal, peças de teatro dos quais

destacamos “Miranda do Corvo”, “As Duas Senhoras da Piedade”, “Mulher”, “As

Feiticeiras”, “Hino de Miranda”, “A Caridade”, entre outros.

O seu inegável apego à terra fez com algumas vezes tivesse entrado em

conflito mais acérrimo pela defesa da sua vila como aquela disputa que

manteve, em fins de 1935, no jornal “Alma Nova” com o professor Figueiredo

Franco sobre uma visita por este efectuada à nossa vila em que o universitário

sublinha “...a sua imundície” devido ao lixo acumulado pelas ruas.

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Page 49: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Lucinda Quintas insurgiu-se frontalmente contra o professor acusando-o de só

ter sublinhado aspectos negativos e nada ter referido de positivo da “Linda

Miranda das Beiras” ao não falar, por exemplo, das diversas melhorias então em

curso na vila levadas a cabo pela Câmara gerida por Firmino da Cunha e Fausto

Lobo, outros dois distintos mirandenses.

Segundo apontava Lucinda Quintas ao professor ”...a montureira não era para

alí chamada, quando muito deveria ser arrumada noutro lugar, bem longe, e

depois lançar nela não sòmente o que viu em Miranda, mas também o que não

deixou de ver nas outras vilas por onde passou e até na própria cidade donde

partiu.” Devido aos imensos artigos de resposta e contra resposta entre os dois

o jornal viu-se obrigado a encerrar a contenda deixando de publicar tais artigos.

D. Lucinda Quintas era irmã do Dr. Francisco Rosa Falcão, que foi secretário do

ministro Dr. Manuel Rodrigues.

No primeiro aniversário do seu falecimento, um grupo de amigos prestou-lhe

sentida homenagem, conforme atesta a inscrição gravada na sua campa. (...)

filarmónicos e elementos do rancho do Grupo Recreativo Mirandense, juncaram-

lhe o túmulo de flores, numa romagem de saudade.”

Acrescente-se ainda um outro pequeno episódio que pode ajudar a atestar,

mais ainda, a abrangência da sua personalidade e o efeito que provocou

naquelas que com ela conviveram: talvez devido ao facto de Lucinda Quintas

não ser católica ou não demonstrar publicamente a sua fé, houve algum litígio

aquando da sua morte entre os inúmeros amigos que lhe queriam prestar uma

última homenagem.

O então pároco da vila, recusou que se prestasse um enterro católico a Lucinda

Quintas, situação esta que provocou um ligeiro conflito com os amigos e

admiradores da Senhora Professora. A situação só foi ultrapassada pela

cedência do dito pároco perante a imensa pressão de todos aqueles que se

juntaram para prestar uma última homenagem a Lucinda Quintas.

Como remata também essa outra grande mirandense que foi Maria Emília

Gameiro de Almeida: “Se todos os mirandenses residentes ou nascidos em

Miranda, fossem da rija têmpera desta senhora, teríamos sem dúvida uma terra

mais progressiva e atraente. Miranda do Corvo tem para com Lucinda Quintas

uma dívida de gratidão.”.

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Page 50: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Rua

Maria Emília G. de Almeida

Delimitada pela Rua Pe. Fernando Coimbra (Este)

Nasceu na freguesia de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa, no dia 11 de

Novembro de 1906, filha de José Gameiro e de Carolina Malho Gameiro.

Ainda criança, veio viver para Miranda do Corvo e depois para Bruscos onde sua

mãe leccionou durante muitos anos. Tal como sua mãe, fez estudos com vista

ao exercício do magistério primário. Com apenas 18 anos iniciou-se no

professorado, tendo feito da sua vida um sacerdócio em prol do ensino das

crianças, com a responsabilidade de o fazer na fase que consideramos mais

difícil e que é a de transformar um campo inculto num terreno propício a

receber a semente.

Durante o seu longo magistério leccionou em escolas de várias localidades,

algumas bem distantes do nosso concelho, numa época em que as distancias se

venciam a pé ou, na melhor das hipóteses, utilizando animais de tiro ou

bicicleta.

Iniciou a sua profissão de professora na escola de Mega de S. Domingos, no

concelho de Góis, onde esteve apenas um ano lectivo, tendo passado depois

sucessivamente pelas escolas de Matas, concelho da Lousã; Espinho, concelho

de Miranda do Corvo; Cumieira, concelho de Penela; Rio Fundeiro, Dornes,

concelho de Ferreira do Zêzere (quatro anos); Lamas (seis anos); e Pereira

(vinte e oito anos); estas últimas no concelho de Miranda do Corvo.

Empreendedora, não se confinava ao ensino das matérias curriculares,

conseguindo ainda tempo para dinamizar entre os seus alunos a prática de

actividades lúdico/culturais. Com esses pequenos actores, levou à cena várias

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Page 51: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

récitas e peças de teatro infantil, sendo a apresentação da grande maioria

levada a efeito no salão de festas do Grupo Recreativo Mirandense e em

benefício dessa colectividade.

Como prémio de uma vida dedicada ao ensino, foi condecorada pelo Sr.

Presidente da República com a medalha da Ordem da Instrução Pública, no dia

10 de Junho de 1970. Depois de uma existência cheia de momentos dedicados

ao ensino e paralelamente à beneficência, mormente por imperativo das suas

convicções religiosas, a vida extinguiu-se-lhe em 8 de Dezembro, com 83 anos

de idade. Nesta data a Filarmónica Mirandense perdia uma madrinha dedicada

e Miranda do Corvo uma figura que muito amou esta nossa terra.

Rua da

Moita

Delimitada pela Rua D. Afonso Henriques (Oeste)

Rua da

Nossa Senhora da Conceição

Delimitada pela Rua de S. Mateus (Sudoeste)

e Largo Manuel Pereira Batalhão (Nordeste)

«Com início no Outeiro, no Largo Manuel Pereira Batalhão, esta rua prolonga-se

em direcção à Igreja Matriz até ao entroncamento com a Rua Quebra Costas. O

nosso roteiro conduz-nos assim a descobrir um pouco da zona mais antiga da

Vila e seria agradável dispor de elementos que nos permitissem, por exemplo,

responder à seguinte pergunta: Quando nasceu e

como evoluiu este arruamento até à fisionomia

actual?; a resposta a esta questão torna-se inviável;

esta rua tem certamente como outras do nosso

burgo, um passado muito sugestivo, mas cujos

testemunhos se foram perdendo no tempo,

principalmente em função das sucessivas

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

remodelações das habitações das habitações que a ladeiam, remodelações que

regra geral são feitas indiscriminadamente, sem procurar salvaguardar um

mínimo do que de documental sempre existe e que é de capital importância

para interpretar o passado.

A febre da recolha do material histórico teve a sua expressão mais acabada no

fim do século passado e princípio deste século, com os chamados historiadores

positivistas e foi continuada pelos defensores da denominada «história nova».

Apesar do intenso labor histórico a que se tem assistido, uma pequena

comunidade como a nossa é, regra geral, esquecida e assim as fontes históricas

acabam por se perder.

Miranda, no entanto, contou ainda nesse campo, com a dedicação dum

apaixonado pelos temas históricos, o Coronel Belisário Pimenta o qual procurou

registar tudo quanto em Miranda ainda havia com valor histórico; infelizmente

chegou tarde, quando já muito se tinha perdido. Hoje ao tentarmos recuar no

passado deparamos com o vazio, como ele já em tempo declarou.

Ainda assim, tentaremos adiantar alguns factos novos e recordar outros já

tratados. Este arruamento dá acesso directo ao edifício das antigas Escolas

Primárias (sector feminino), que deixou de servir esse fim depois da entrada em

funcionamento da Escola Primária, sita na Rua Dr. Rosa Falcão. Tem sido

ocupada a título provisório por algumas colectividades da Vila; presentemente

serve de estúdio à jovem Rádio Dueça que dali emite os seus programas.

Surge um pouco desajustado o termo «antigas Escolas Primárias» já que a sua

construção é relativamente recente; data do início do segundo quartel deste

século, sensivelmente entre os anos de 1927 e 1931.

Antes da edificação das Escolas, sobressaía neste local, com frente para a

actual Rua Quebra Costas, a residência do pároco da Vila, natural de Bruscos, o

qual cerca do ano de 1925 foi afastado das suas funções por razões que não

cabem no âmbito deste trabalho.

Dá também para a rua que estamos tratando, a fachada norte de uma das

casas antigas da Vila e já referida quando tratámos a Rua Combatentes da

grande guerra, a qual foi em tempos propriedade da família Almeida. Tem

entrada pela Travessa da Fonte dos Amores e nela residiu um clínico da nossa

terra, o Dr. José de Almeida, que durante vários anos exerceu a sua actividade

em Lavos, localidade do concelho da figueira da Foz

Também nesta artéria, numa casa já antiga, esteve sediado durante vários anos

o posto da Guarda Nacional Republicana, como é do conhecimento de todos os

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Page 53: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Mirandenses. Defronte era a enxovia ou cadeia, segundo o termo actual,

instalada numa parte da casa que outrora foi hospital.

Propositadamente, deixamos para último lugar a referência que queremos

dedicar ao velho hospital que existiu nesta nossa Vila de Miranda do Corvo e

cuja construção remonta ao ano de 1550 aproximadamente, data aferida a

partir dos nomes das pessoas que constam da inscrição existente na fachada

dessa casa, já que dela desapareceu a linha onde estava gravado o ano da sua

erecção «por terem caído faíscas da pedra», conforme afirmava já em 1721 o

Juiz ordinário desta Vila aquando do envio à Academia Real das Ciências, da

lista relativa ao que em Miranda existia com valor histórico. Como ficou dito na

fachada do respectivo hospital, pode ver-se o que ainda existe daquela

inscrição e que diz o seguinte: «Esta: casa: he do Espi(tal) (d)esta: Vila: de

Mira(n)da a/: qual: se fez p(ar)a os (con)frades: e home(n)s bo(n)s:

dela/: da q(ua)l: foy: vedor: d(iog)o arnao: escud(eir)o: e vassa/llo: e

ouvidor: do Sr. andre: de Sousa/: e(m) esta: sua: vila: de miranda: e

pode(n)/tes.......: no anno de myll/...... d(iog)o al(ve)s.»

O hospital teve como padroeiros a Sra. da Conceição, cujo nicho pode admirar-

se no alto da frontaria, donde provém o nome desta rua; para que melhor

pudesse cumprir a sua missão foi criada junto dele uma albergaria para «prover

os pobres miseráveis que trazem cartas de sua pobreza». Estas instituições

revelaram-se de grande utilidade pelos serviços prestados ao longo dos tempos

e que vêm sintetizados num artigo de Belisário Pimenta publicado no «Diário de

Coimbra» em 05 de Janeiro de 1950: «Quanto à albergaria, as notícias são

muito escassas e, possivelmente, haverá nelas certa confusão com o hospital;

Miranda era atravessada por uma estrada que vinha dos altos de Chão de

Lamas (onde cruzava com a estrada Coimbra-Podentes) e seguia para a Lousã

juntando-se na vizinha povoação do Corvo com a estrada real que, vinda de

Lisboa pelos Cabaços, atravessa o concelho desde a Sandoeira ao Padrão e

seguia por Foz do Arouce para a Mucela e daqui para a Beira Alta.

Era, pois, ponto de passagem forçada da Estremadura para a Beira; e assim se

justificava a instituição que tinha por principal finalidade (como disse) prover os

pobres miseráveis que trazem cartas de sua pobreza – isto é, dar-lhes cama e

sustento para poderem continuar o seu caminho.

Do hospital porém há mais notícias, pois esses viandantes nem sempre vinham

de saúde e o obituário da freguesia dá conta de muitos deles que não resistiram

ao cansaço da jornada ou às doenças contraídas assim como também acusa

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Page 54: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

gente do concelho que, certamente por miséria e abandono, ali ia acabar os

tristes dias.

É até emocionante o encontro de certos assentamentos paroquiais que, na

simplicidade com que os párocos os lançaram deixam antever os sofrimentos

desses caminhantes e miseráveis.

Num dia de Dezembro de 1585 (o primeiro encontrado), lá morreu “uma pobre

que dizia ser da Lousã”; noutro de 1591, certa Maria Pires a bispa de alcunha,

quem sabe se mendiga perseguida pelas chufas do rapazio; oitenta anos

depois, outra pobre sem nome; passados mais uns anos, em 1613, lá ficou um

vagabundo vestido de romeiro; mais anos passados um homem do lugar do

Lapão e quase ao mesmo tempo, em 1658, por alturas da guerra de Espanha,

um soldado que se dizia ser de perto de Viseu e pouco depois um estrangeiro

chamado Raimundo.

Por esta época há maior número de óbitos: em 1662 uma mulher de Alvares;

dois anos depois outra que disse ser da Covilhã; mais dois anos passados, “hum

mosso” que disse ser de Alfarelos; e mais adiante um homem de Mangualde e

ainda uma criança de 9 anos, de Guimarães, que ia em trânsito com a mãe...E

assim sucessivamente.

Que soma de miséria e sofrimento nos dá o longo obituário, até fins do séc.

18.º! Depois novas ideias e novas leis vieram. E o velho hospital acabou.»

(RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história,

jornal “Mirante”, Miranda do Corvo).

Rua dos

Oleiros

Delimitada pela Rua Arménio da Costa Simões (Oeste)

“O mayor trato desta Villa são oleyros (...)” afirma o Pe. Carvalho da Costa,

autor da “Corografia Portugueza”, no início de setecentos. A indústria da olaria

de barro vermelho, de remota origem,

teve largo incremento nos sécs. XVI e

XVII. Na segunda metade do séc. XVII,

verifica-se que os núcleos residuais dos

oleiros na vila eram principalmente no

Relego (a poente); nos Linhares (a

noroeste); no Outeiro e Carvalhal (a

norte), locais na periferia da povoação

como era natural. A partir do séc. XVIII,

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

a «indústria» começou então a decair; os oleiros deixaram a vila onde de início

a indústria floresceu para se abrigarem nos arrabaldes – Bujos, Espinho e

Carapinhal. Os homens que exerciam esta indústria e que naqueles séculos a

documentação dá como elementos de alguma proeminência social, decaíram

até à modesta condição que gozavam já no séc. XX. E, para mais, como

Coimbra era o principal centro de venda dos artefactos e como eles tinham - e

ainda têm – um certo cunho artístico, a olaria ficou conhecida como sendo da

cidade e daí vem que o asado – atributo indispensável da imagem corrente da

Tricana -, o cântaro, o púcaro de Coimbra, celebrados pelos artistas e

etnógrafos, perderam a sua verdadeira origem. Os moringues, bilhas, talhas,

cabaças são de uma elegância tal que alguém já comparou a esbeltez destas

peças à escultura grega. O nome dado a esta rua justifica-se porque, partindo

esta da vila, orienta-se na direcção do Carapinhal, actual única aldeia onde

ainda subsistem, em actividade, oleiros do barro vermelho.

Rua

Pe. Fernando Coimbra

Delimitada pela Rua da Casa do Gaiato (Oeste)

Após 12 anos de sofrimento faleceu a 3 de Fevereiro de 1990, com 74 anos de

idade, o Pe. Fernando dos Santos Coimbra, natural da freguesia de Almalaguês,

onde nasceu a 27 de Janeiro de 1916.

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Page 56: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

«Ordenado em Coimbra a 29 de Junho de 1941, foi a seguir nomeado pároco de

Tavarede e em 2 de agosto de 1943 colocado pároco de Mortágua, até 2 de

Agosto de 1948, data em que assumiu a paroquialidade da freguesia de

Miranda do Corvo que exerceu durante 29 anos, até cair gravemente doente em

17 de Setembro de 1977.

A partir desta data recolheu-se ao Lar Dr. Clemente de Carvalho e aí terminou a

sua vida neste mundo, rodeado de conforto e muito carinho não só das duas

empregadas – Maria dos Anjos e Isabel Ferreira – que o acompanharam

praticamente desde o início do funcionamento do Lar, mas também dos

próprios utentes mais antigos, a quem sempre deu abundantes provas de

amizade, resignação e humildade.

O trabalho de evangelização do Pe. Coimbra na paróquia de Miranda foi sempre

orientado no princípio da construção de uma comunidade cristã autêntica. A sua

preocupação constante era o preparar pessoas capazes de praticar um

cristianismo incarnado na vida concreta de cada uma. Nas suas conversas havia

sempre um sentido apostólico e a sua pregação era profunda. Por vezes notava-

se que o seu entusiasmo o fazia esquecer o nível intelectual do auditório.

Pairava muito alto em relação aos horizontes dos seus ouvintes.

Foi um sacerdote piedoso que orava e ensinava a orar. Dizia que durante as

suas caminhadas, tanto a pé como de bicicleta, pela paróquia, a sua mente ia

constantemente mergulhada na oração e até atribuía a esta prática a graça da

abundância de ideias que sempre lhe ocorriam quando tinha de falar das coisas

de Deus.

O Pe. Coimbra foi um grande amigo da Igreja e, já bastante doente e com

imenso sacrifício, ainda concretizou o sonho de publicar um livro, a que chamou

“A Igreja e a Democracia” onde expõe o seu pensamento, sempre de acordo

com a doutrina da Igreja. Foi um grande amigo dos pobres do concelho e um fiel

cumpridor do seu múnus sacerdotal que sempre executou com seriedade e

amor.

As pessoas que melhor o conheceram viam nele o carisma do “Conselho”,

através do qual muitas pessoas e famílias encontraram o rumo certo para as

suas vidas.

O autor destas linhas tem dado muitas graças a Deus pelos conselhos recebidos

do Pe. Coimbra durante muitos anos e por vezes em situações de ansiedade. Foi

uma pessoa duma modéstia impressionante e sempre adoptou um teor de vida

que não se afastava do nível geral da vida dos seus paroquianos. Mesmo depois

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da sua doença viveu e conviveu com os pobres do Lar a quem deu belos

exemplos de humildade.

Miranda teve também no Pe. Coimbra um grande amigo, apaixonado pelo

progresso da nossa terra e, no jornal inter paroquial por ele fundado juntamente

com o então pároco da Lousã, a “Voz da Paróquia” defendeu com visão de

futuro na coluna “Miranda quer viver” posições sobre o progresso de Miranda

que ele adoptou como sua terra.

Um outro modo de motivar e mobilizar a opinião pública no caminho do

progresso muito usado pelo Pe. Coimbra com sucesso, consistia em entusiasmar

as pessoas amigas que ele julgava mais influentes a compreenderem e a

aceitarem determinadas ideias por ele concebidas para o bem do povo. Ao fim

de algum tempo estas ideias tinham fermentado o suficiente e as obras

apareciam.

Foi assim a construção da residência paroquial (que era um repositório de lixos

e silvas), das casas para os pobres e do “Património dos Pobres”, as obras do

Calvário, a fundação e funcionamento do Lar Dr. Clemente de Carvalho e a

construção ou reparação de diversas capelas e outras obras de carácter social.»

Relativamente ao Alto do Calcário – ou Caramito - o pároco Fernando dos Santos

Coimbra apercebeu-se da beleza daquele local. Após mandar construir a

residência paroquial no local actual, pensou o pároco em aproveitar aquele local

para algo aprazível e acolhedor. Pediu então a colaboração do Sr. Fausto

Branco, da Fábrica da Igreja e do Sr. Mário Antunes, um emigrante endinheirado

do Brasil. Procedeu-se ao levantamento topográfico do local e fez-se um

projecto.

«A Câmara de Miranda soube reconhecer o valor e a obra do Pe. Coimbra e

atribuiu-lhe a medalha de mérito do concelho, imposta numa cerimónia em

Miranda a que presidiu o então Presidente da República, General Ramalho

Eanes.

Com a morte do Pe. Coimbra todos temos a consciência da perda de um grande

amigo, e a melhor homenagem que podemos prestar à sua memória é sermos

dignos continuadores daquilo que sempre esteve no seu pensamento: o amor a

Deus e à Sua Igreja e o amor aos irmãos, particularmente aos mais pobres e

desprotegidos (...)» (excertos de um artigo do Sr. Fausto Branco, publicado no

jornal “Mirante” em Março de 1990).

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Rua

Pe. Horácio Francisco Azeiteiro

Delimitada pela Rua da Casa do Gaiato (Oeste)

O Padre Horácio Azeiteiro, antigo director da Casa do Gaiato de Miranda do

Corvo, faleceu no dia 6 de Maio de

2000, em Setúbal, onde se encontrava

de visita àquela casa da Obra da Rua.

Horácio Francisco Azeiteiro era natural

de Lentisqueira, Mira, e nasceu no dia

28 de Janeiro de 1924, tendo-se

ordenado em 17 de Setembro de 1950,

altura em que passou a dirigir a Casa

do Gaiato de Miranda do Corvo.

A sua vida ficou bastante ligada a esta terra, não só por ter estado à frente da

instituição durante muitos anos, mas pela acção social e pastoral que exerceu

junto da população do concelho. Os pobres e doentes tiveram nele um visitador

frequente não lhes faltando com a esmola acompanhada de palavras de

conforto e de esperança.

No campo espiritual desenvolveu uma acção importante junto dos que o

procuravam, participando nos actos religiosos da freguesia ou substituindo os

párocos nos seus impedimentos. Presidiu ainda à mesa da assembleia da

Cooperativa de Olivicultores de Miranda do Corvo.

Quando deixou a directoria da Casa do Gaiato, após a trombose que o atingiu,

dedicou-se à visita dos doentes e pobres, não só de Miranda mas também dos

concelhos limítrofes. O seu falecimento foi bastante sentido pelas pessoas que

acompanhavam de perto a sua acção em prol dos desprotegidos. Mesmo na sua

morte não quis deixar de dar um exemplo de humildade ao pedir para ser

levado na urna mais barata que houvesse. O corpo deste bondoso sacerdote foi

trasladado para a Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, onde ficou em câmara

ardente, sendo posteriormente sepultado na sua terra natal.

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Rua da

Quinta das Barriguinhas

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Norte)

Rua do

Quebra-Costas

Antiga Rua da Ermida

Delimitada pelo Largo dos Balaustres (Noroeste)

e Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Sudeste)

«Junto ao último lanço de escadas da rua Quebra Costas, pode ainda admirar-se

um portal que dá acesso à conhecida “Casa do

Jardim” a qual, principalmente entre as gentes da

Vila é conhecida igualmente como a sede histórica

do Clube Atlético Mirandense.

O referido portal encontra-se mencionado num rol

em folhas avulso, referente a vários monumentos e

Casas antigas do concelho de Miranda do Corvo,

donde transcrevemos a seguinte passagem: “Na

Rua da Ermida, vê-se ainda um portal, de friso,

cornija, dominado de óculo quadrilobado, dum

edifício já do séc. XVIII.”

O óculo quadrilobado que encimava o referido portal já ali se não vê, a sua

estrutura foi retirada ou encoberta aquando das obras a que essa casa foi

sujeita e que foram levadas a efeito pelo pai do nosso conterrâneo Sr. Lídio

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Brás, por volta de meados do segundo quartel deste século, das quais resultou

a fisionomia que apresenta actualmente.

Transpondo esse portal vamos encontrar a já referida “Casa do Jardim” citada

igualmente no rol acima mencionado, nos termos seguintes: “Na vertente com

entrada pela rua que leva à Igreja, outra (casa antiga) se destaca, conservando

a imponente varanda, que se levanta em arco simples, sendo dois na frente,

aos quais correspondem em cima quatro vãos, separados por colunas toscanas

e pilares angulosos, aqueles e estes levantando-se em parapeito”.

Vem a “talho de foice” dizer que habitou esta casa Manuel Fernandes Cosme,

avô dos senhores Alexandre e Arnaldo Cosme, figuras que gozam fama dum

peculiar sentido de humor. Estas características fazem deles dignos

representantes do seu avô, o qual, segundo apurámos, era também um

indivíduo que brincava com as palavras, construindo ditos jocosos, cheios de

espirito e oportunidade.

Foi uma figura de certa projecção local tendo desempenhado na Vila alguns

cargos importantes tais como o de Administrador do Concelho, Juiz de Paz e Juiz

de Águas. (...)» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a

sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo).

Rua da

Ribeira dos Vicentes

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Noroeste)

e Rua da Casa do Gaiato (Sul)

Belisário Pimenta alude à, enfim, remota possibilidade de haver alguma relação

entre este local e a família do maior comediógrafo medieval e moderno

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

português, exactamente, Gil Vicente, cuja localidade de nascimento ainda não é

hoje de todo consensual entre os investigadores portugueses.

Rua de

Santa Catarina

Delimitada pela Rua João Paulo II (Oeste)

Rua de

S. Silvestre (ou Rua do Santo)

Delimitada pela Rua dos Oleiros (Oeste)

Padroeiro da aldeia do Carapinhal.

Rua de

S. Mateus

Delimitada pela Rua da Nossa Senhora da Conceição (Nordeste)

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« (...) Ainda no início deste século (passado) funcionava na casa que é hoje do

Sr. Arnaldo Cosme, a chamada “Recebedoria”, termo ainda utilizado pela

população mais idosa para designar a actual repartição da Tesouraria da

Fazenda Pública. Achamos interessante também recordar a data da construção

das actuais escadas que levam à Igreja. Essa data, 1907, encontra-se

desenhada a vidraço e basalto, no primeiro lanço, ao fundo da escadaria.

Também nesta rua, a última casa à direita de quem sobe, merece talvez ser

referida em função da sua fisionomia equilibrada e que foi residência do Dr.

João Pimenta, mirandense que serviu nas forças armadas como médico militar.

Com a fachada norte para a Rua do Calvário, mas com entrada pela Rua Quebra

Costas, situa-se na encosta ao alto, uma casa já antiga que nos anos quarenta

serviu de sede ao Clube União Mirandense.

Também conhecido depreciativamente pelo nome de “CUIA”, esta colectividade

foi formada por um grupo de mirandenses dissidentes do Grupo Recreativo

Mirandense os quais se propuseram fundar uma colectividade em alternativa

àquele Grupo Recreativo e cuja finalidade era também proporcionar à

população, motivos recreativos tais como bailes, programas de variedades, etc..

Da sua Direcção fizeram parte nomes de conhecidos mirandenses que nos

permitimos recordar: Afonso Baptista, Lucas Pedro (Lobazes), José Camilo

(Bilote), Jaime Cordeiro, entre outros.

Sem pretender ferir a sensibilidade de ninguém, vem a propósito recordar um

episódio algo cómico, que tem a ver com a vida das duas colectividades.

O Clube União Mirandense, programou com grande propaganda, um baile a

realizar pelo Carnaval com uma orquestra surpresa.

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Essa orquestra era, nem mais, nem menos que os gaiteiros de Espinho que

deveriam fazer a sua “entrada” em Miranda, a tocar, desde a Cruz Branca até à

Praça José Falcão onde seriam recebidos pomposamente ao som de foguetes.

Sabedores da encenação, os adeptos do Grupo Recreativo organizaram um

conjunto antecipando-se aos gaiteiros.

Ao som da música estralejaram os foguetes e... imagine-se a cara com que os

da União receberam os seus rivais...» (RODRIGUES, Armindo, Toponímia

Mirandense – subsídios para a sua história, jornal “Mirante”, Miranda do Corvo).

Rua

Sebastião da Cruz Lopes

Delimitada pela Rua Dr. Fausto Lobo (Este)

e Rua da Estação (Oeste)

A 25 de Novembro de 2000 faleceu nos Hospitais da Universidade de Coimbra,

vítima de enfarte do miocárdio, Sebastião da Cruz Lopes, de 64 anos, solteiro,

natural e residente em Miranda do Corvo. Escriturário da Cooperativa Agrícola

de Miranda do Corvo, foi também um elemento prestimoso nas colectividades

de Miranda do Corvo, tendo feito parte dos corpos gerentes de quase todas

elas. Foi ainda vereador da Câmara Municipal e membro da Assembleia

Municipal e correspondente do “Diário de Coimbra” e do jornal “República” até

à sua extinção. Destacado lutador da oposição ao regime salazarista deu a cara

em todas as campanhas eleitorais que se fizeram. Após o derrube da ditadura

filiou-se no Partido Socialista de que foi dirigente nas estruturas locais e

regionais, onde desempenhou uma intensa actividade política e cívica, tendo

sido também candidato a deputado. Era uma pessoa muito prestável quer na

sua actividade profissional, quer como sócio da sua casa comercial. Por isso, na

hora do adeus, para além dos seus conterrâneos, estiveram a apresentar

condolências à família muitos amigos de vários pontos da região centro,

especialmente da Lousã, Coimbra e Soure, e figuras gradas daquele partido,

tendo o seu funeral constituído uma grande manifestação de pesar. Era irmão

de Abel da Cruz Lopes e de José da Cruz Lopes, comerciantes, e cunhado de

Altina Bingre de Sá e de Deonilda da Piedade Lopes da Cruz.

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Quelha dos

Malmequeres

Delimitada pela Ladeira do Carvalhal

(Sudoeste)

Travessa dos

Alhos

Delimitada pela Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Oeste)

e Rua Dr. Mário de Almeida (Este)

Travessa da

Fonte dos Amores

Delimitada pela Rua do Cruzeiro (Noroeste)

e Rua dos Combatentes da Grande Guerra (Sudeste)

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_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

Travessa do

Mercado

Delimitada pela Praça da Liberdade (Oeste)

e Rua 25 de Abril (Este)

Travessa do

Quebra-Costas

Delimitada pela Rua do Quebra-Costas (Sudoeste)

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Page 66: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

BIBLIOGRAFIA

ALARCÃO, Jorge, Introdução ao Estudo da História e do Património Locais,

Coimbra, Instituto de Arqueologia - FLUC, 1987

CAPÃO, António Tavares Simões, As Cartas de Foral de Miranda do Corvo,

Miranda do Corvo, Cooperativa Mirante, 1989

CORREIA, Vergílio, Oleiros de Miranda, Rajada, nº4

GONÇALVES, Pe. António Nogueira, Inventário Artístico – Distrito de Coimbra,

Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1952

LEAL, Augusto Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. V, Lisboa, Livraria Editora

de Mattos Moreira & Companhia, 1875

PIMENTA, Belisário, Miranda do Corvo: a sua paisagem e um pouco da sua

história, Coimbra, Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra, 1959

PIMENTA, Belisário, Oleiros de Miranda do Corvo, Coimbra, Imprensa da

Universidade, 1933

PIMENTA, Belisário, Uma Epidemia em 1811. Capítulo da história do concelho

de Miranda do Corvo, sep. da “Coimbra Médica”, Coimbra, 1942

PIMENTA, Belisário, “A Campanha de Massena em Portugal - capítulos duma

monografia local”, in Revista Militar, vol. LXXXIII, Lisboa, 1931

PIMENTA, Belisário, Miranda de Outros Tempos (Notas para a História Local),

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RODRIGUES, António Manuel Carvalho, Da Arte de Miranda – Subsídios para

uma monografia artística dos principais monumentos do concelho de Miranda

do Corvo, C.M.M.C., Coimbra, Ediliber, 2003

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Page 67: Toponímia de Miranda Do Corvo

_________________________________________________________________TOPONÍMIA DA VILA DE MIRANDA DO CORVO

RODRIGUES, Armindo, Toponímia Mirandense – subsídios para a sua história,

jornal “Mirante”, 1988

Artigos nos jornais “Mirante” de Miranda do Corvo, “Alma Nova” da Lousã,

“Diário de Coimbra” e “Diário de Notícias” de Coimbra.

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PROJECTO CO-FINANCIADO

INICIATIVA COMUNITÁRIA LEADER+ PROGRAMA LEADER+ELOZ. ENTRE LOUSÃ E ZÊZERE

FEOGA Orientaç ão

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MIRANDA DO CORVO – 2006

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