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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ANTONIO MEDEIROS VENANCIO TOXICIDADE AGUDA E ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DO ÓLEO ESSENCIAL DO Ocimum basilicum L. (MANJERICÃO), EM Mus musculus (CAMUNDONGOS) ARACAJU – SE 2006

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA NCLEO DE PS-GRADUAO EM MEDICINA

    MESTRADO EM CINCIAS DA SADE

    ANTONIO MEDEIROS VENANCIO

    TOXICIDADE AGUDA E ATIVIDADE

    ANTINOCICEPTIVA DO LEO ESSENCIAL DO Ocimum basilicum L. (MANJERICO), EM Mus

    musculus (CAMUNDONGOS)

    ARACAJU SE 2006

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  • ANTONIO MEDEIROS VENANCIO

    TOXICIDADE AGUDA E ATIVIDADE

    ANTINOCICEPTIVA DO LEO ESSENCIAL DO Ocimum basilicum L. (MANJERICO), EM Mus

    musculus (CAMUNDONGOS)

    Dissertao apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao em Medicina da Universidade Federal de Sergipe para obteno do grau de Mestre em Cincias da Sade rea de Concentrao: Estudos Clnicos e Laboratoriais em Sade

    ORIENTADOR: PROF. DR. NGELO ROBERTO ANTONIOLLI

    ARACAJU SE

    2006

  • Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Sade/UFS

    V446t

    Venncio, Antonio Medeiros Toxicidade aguda e atividade antinociceptiva do leo essencial do Ocimum basilicum L. (manjerico), em Mus musculus (camundongos) / Antonio Medeiros Venncio.-- Aracaju, 2006 108 f. Orientador: Prof. Dr. ngelo Roberto Antoniolli Dissertao (Mestrado em Cincias da Sade) Universidade Federal de Sergipe, Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa, Ncleo de Ps-Graduao em Medicina. 1. Ocimum basilicum L.(manjerico) 2. leo Essencial 3. Toxicidade Aguda 4. Farmacologia 5. Plantas medicinais 6. Pesquisa com camundongos (Mus musculus) I. Ttulo CDU 518.949.28: 633.88

  • ANTONIO MEDEIROS VENANCIO

    TOXICIDADE AGUDA E ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DO LEO

    ESSENCIAL DO Ocimum basilicum L. (MANJERICO), EM Mus musculus (CAMUNDONGOS)

    Dissertao apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao em Medicina da Universidade Federal de Sergipe, para obteno do grau de Mestre em Cincias da Sade rea de Concentrao: Estudos Clnicos e Laboratoriais em Sade

    Aprovada em: 07/04/2006

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. NGELO ROBERTO ANTONIOLLI

    ________________________________________________________ 1 Examinador: Prof. Dr. ANTONIO EUZBIO GOULART SANTANA

    ________________________________________________________ 2 Examinador: Prof. Dr. MURILO MARCHIORO

  • Dedico este trabalho a Edna Venancio, minha me, Davino Venancio,

    meu pai (in memoriam), razo de minha existncia.

    A minha querida esposa, Ftima, dedicada companheira.

    A Alisson, Mrcio e Mirela, meus filhos queridos.

    A Alice, a minha primeira netinha.

    Ao prof. Dr. Antonio Garcia Filho (in memoriam), o primeiro mestre a

    me incentivar a lutar por esse ideal e que certamente estaria feliz pelo

    meu xito.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus e minha famlia que permitiram o alcance dessa meta.

    Universidade Federal de Sergipe por esta grande oportunidade.

    Ao orientador Prof. Dr. ngelo Roberto Antoniolli a valiosa contribuio

    cientfica e didtica.

    Ao prof. Murilo Marchioro o incentivo e contribuio nas horas difceis.

    Profa. Dr. Vera e ao prof. Gileno (Departamento de Morfologia) a

    colaborao do uso das dependncias para continuidade dos testes.

    Aos professores Mrcio, Josemar, Humberto, Rogria, Arie Blank, Ftima

    Blank, Cleonice, Flvia, e Rosilene a liberao de seus laboratrios e a ajuda para a

    realizao dos testes. E ao Prof. Dr. Eduardo Garcia a considerao e as palavras

    de incentivo.

    Ao Prof. Pricles Alves, do Departamento de Qumica, a valiosa

    contribuio na anlise qumica do leo Essencial.

    Banca Qualificadora, composta pelos professores Dra. Rosana Cipolotti,

    Dr. Murilo Marchioro e Dr. Alexandre Luna a grande contribuio para que este

    trabalho fosse melhor qualificado, com suas pertinentes observaes e crticas

    construtivas.

    Aos alunos Kelly e Priscila, do curso de Farmcia-UFS, e Thomas, do

    curso de Medicina-UFS a importante colaborao durante a realizao dos testes

    farmacolgicos.

    A amiga Marcly e ao Sr. Osvaldo, responsvel pela manuteno e limpeza

    do biotrio, o zelo e ateno com que tratam os animais.

  • Aos colegas do curso de Mestrado em Cincias da Sade: Aminthas,

    Silvan, Edna, Silvia e Carol, e a todos aqueles que, direta ou indiretamente,

    contriburam para o xito deste trabalho.

  • O Senhor fez a terra produzir os medicamentos:

    O homem sensato no os despreza.

    Uma espcie de madeira no adoou o amargor da gua?

    Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens.

    O Altssimo deu-lhes a cincia da medicina

    Para ser honrado em suas maravilhas;

    E dela se serve para acalmar as dores e cur-las;

    O farmacutico faz misturas agradveis,

    Compe ungentos teis sade,

    E seu trabalho no terminar,

    At que a paz divina se estenda sobre a face da terra.

    (Eclesistico 38, 4-8)

  • RESUMO

    O objetivo deste estudo foi determinar a toxicidade aguda e a ao antinociceptiva

    do leo Essencial (OE) obtido das folhas do Ocimum basilicum L. (LAMIACEAE), PI-

    197442, manjerico maria bonita. O gnero Ocimum apresenta vrias espcies

    usadas na medicina popular como antiespasmdico, sedativo e carminativo, e na

    agricultura, como repelente de insetos. A DL-50 obtida pelo mtodo dos probitos foi

    0,532g/kg de peso de animal. O efeito antinociceptivo foi estudado usando trs

    modelos de nocicepo: Contores abdominais, induzidas pelo cido actico 0,6%

    (i.p.); Placa quente e o Teste da formalina. O OE reduziu o efeito nociceptivo de

    maneira dose-dependente nas concentraes 50, 100 e 200mg/kg em 48,02%,

    64,48% e 77,49%, respectivamente, no Teste das Contores. Na Placa Quente, o

    OE-50 aumentou o tempo de permanncia sob o estmulo trmico nos tempos 0, 15,

    30 e 60 min. A morfina 10mg/kg foi usada como padro de antinocicepo. O

    antagonista opiide, Naloxona, reverteu o efeito do OE-50 em todos os tempos

    testados. No Teste da Formalina, o OE apresentou efeito significativo apenas na 2

    fase. O OE 200mg/kg reduziu o tempo de lambida da pata traseira em 74,66%.

    Estes resultados mostraram que o OE do Ocimum basilicum L. tem alta toxicidade

    (i.p.) e apresenta atividade antinociceptiva perifrica e central.

    Palavras-chave: Ocimum basilicum L.; toxicidade aguda; antinocicepo; dose letal.

  • ABSTRACT

    The aim of this study was to determine the acute toxicity and the antinociceptive

    action, of the Essential Oil obtained from leaves of Ocimum basilicum L.

    (LAMIACEAE), PI-197442, manjerico maria bonita. The Ocimum presents various

    species, used in the folk medicine, like antispasmodic, sedative and carminative, in

    agriculture as repellent of insects. The acute toxicity was determined by probit

    method using 5 groups (N=6) of mice, both genders. The LD50 was 0,532g/kg from

    the animals. The antinociceptive effect was studied by three models of nociception:

    The abdominal writhes induced by acetic acid 0,6% (i.p.), Hot Plate and the Test of

    Formalin. The OE increased the nociceptive effect dependent-dose in the

    concentrations 50, 100 and 200mg/kg in 48,02%, 64,48% and 77,49%, respectively,

    in the Test of Wrighting. In the Hot Plate, the OE increased the time of staying under

    the thermal stimulus in the times of 0, 15, 30 and 60 minutes. In the time of 15 min,

    was obtained the most significant effect. The morphine 10mg/kg was used as

    antinociception pattern. The antagonist Nalaxone opiod, reverted the effect of OE-50

    in all tested times. In the Test of Formalin, the OE presented significant effect just in

    the second phase. The OE-200, in this phase, reduced the licking times of hind paw

    in 74,66%. These results showed that the OE of Ocimum basilicum L. presented high

    toxicity (i.p.) and showed peripherical and central antinociception activities.

    Keywords: Ocimum basilicum L.; acute toxicity; antinociception; LD (lethal dose);

    maria bonita.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ATP

    S.G.

    i.p.

    s.c.

    CPME

    OE

    sP

    GABA

    SCPA

    PGE

    TBX ou TX

    COX

    LOX

    VIP

    HETE

    HPETE

    AINES

    PMN

    EPM

    LT

    DL50

    OMS

    Adenosina Trifosfato

    Substncia gelatinosa

    Intraperitonial

    Subcutnea

    Corno posterior da medula espinhal

    leo Essencial

    Substncia P

    cido gama-amino-butrico

    Substncia cinzenta periaquedutal

    Prostaglandina

    Tromboxano

    Cicloxigenase

    Lipoxigenase

    Peptdeo intestinal vaso-ativo

    cido hidroxieicosatetraenico

    cido hidroperoxieicosatetraenico

    Antiinflamatrios no-esteridais

    Polimorfonucleares

    Erro padro da mdia

    leucotrieno

    Dose letal cinquenta

    Organizao Mundial da Sade

  • SNC

    [s.d.]

    RDC

    MS

    CNS

    ANVISA

    REBLAS

    BPFC

    IASP

    ME

    CG/MS

    CEPA

    ANOVA

    CGRP

    TNF

    SNVS

    IP

    CAS

    IRR

    Sistema Nervoso Central

    Sem data

    Resoluo da Diretoria Colegiada

    Ministrio da Sade

    Conselho Nacional de Sade

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    Rede Brasileira de Laboratrios em Sade

    Boas Prticas de Fabricao e Controle

    Internacional Association for the Study of Pain

    Medula Espinhal

    Cromatografia Gasosa acoplada a Espectometria de Massa

    Comit de tica para Experimentao com Animais

    Anlise de Varincia

    Peptdeo relacionado com o gen da Calcitonina

    Fator de Necrose Tumoral

    Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria

    Identificao de planta

    Chemical Abstract Service

    ndice de Reteno Relativa

  • LISTAS DE FIGURAS

    Figura 01 Estrutura qumica do 2-metil,1,3-butadieno ......................................

    Figura 02 Estruturas isoprnicas .......................................................................

    Figura 03 Estrutura do 1,8 cineol ......................................................................

    Figura 04 Estrutura do Linalol ...........................................................................

    Figura 05 Estrutura do Geraniol ........................................................................

    Figura 06 Estrutura do Acetato de Nerila ..........................................................

    Figura 07 Estrutura do -Trans bergamopteno .................................................

    Figura 08 Lminas de Rexed.............................................................................

    Figura 09 Vias ascendentes da dor....................................................................

    Figura 10 Inflamao neurognica ....................................................................

    Figura 11 Via da Cicloxigenase .........................................................................

    Figura 12 Biossntese dos Leucotrienos, a partir do cido araquidnico ..........

    Figura 13a Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema

    perifrico................................................................ ...............................................

    Figura 13b Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema

    endgeno central................................................... ...............................................

    Figura 13b Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema

    endgeno central................................................... ...............................................

    Figura 14a Foto da espcie Ocimum basilicum L. ............................................

    Figura 14b Foto da espcie Ocimum basilicum L. ............................................

    Figura 15a Aparelho de Clevenger montado em srie ......................................

    Figura 15b Aparelho de Clevenger, em detalhe ...............................................

    Figura 16 Foto do CG/MS Shimadzu ...............................................................

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  • Figura 17a Camundongo Swis Mus musculus ..................................................

    Figura 17b Camundongos Swis Mus musculus na gaiola ................................

    Figura 18a Via intraperitonial ............................................................................

    Figura 18b Contoro abdominal tpica ............................................................

    Figura 19a Placa quente ...................................................................................

    Figura 19b Placa quente com camundongo em teste ......................................

    Figura 20a Aplicao subcutnea .....................................................................

    Figura 20b Aplicao subcutnea .....................................................................

    Figura 20c Aplicao intraplantar ......................................................................

    Figura 20d Lambedura da pata .........................................................................

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  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 - Cromatograma da corrente inica total OE Ocimum basilicum L.

    (CG/MS) ................................................................................................................

    Grfico 02 Representao grfica da DL50 .......................................................

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  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Plantas mais estudadas no territrio brasileiro ..................................

    Tabela 02 Correlao entre o uso popular e a atividade farmacolgica

    confirmada para as principais categorias teraputicas .........................................

    Tabela 03 Principais plantas medicinais ............................... ............................

    Tabela 04 - Condies de anlise do sistema CG/MS do leo de O. basilicum

    L. (Maria Bonita) ....................................................................................................

    Tabela 05 - Constituintes qumicos do OE de Ocimum basilicum L. ....................

    Tabela 06 Efeito do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Maria Bonita) e

    da indometacina no Teste das Contores Abdominais, induzidas por cido

    actico 0,6% e percentual de inibio das contores .........................................

    Tabela 07 Efeito antinociceptivo do OE do O. basilicum e Morfina 10 na dor

    induzida pelo calor em camundongos (Teste da Placa Quente) ..........................

    Tabela 08 Efeito antinociceptivo do leo Essencial do Ocimum basilicum L. e

    Morfina 10, no Teste da Formalina .......................................................................

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  • SUMRIO

    1 Introduo ........................................................................................................

    1.1 Correlao entre o uso popular e a atividade farmacolgica .........................

    1.2 leos Essenciais.............................................................................................

    1.3 Fitoterapia .......................................................................................................

    1.4 Regulamentao dos Fitoterpicos ................................................................

    1.5 Plantas Medicinais ..........................................................................................

    2 Reviso Bibliogrfica.......................................................................................

    2.1 Toxicidade Aguda ...........................................................................................

    2.2 Dor ..................................................................................................................

    2.2.1 Teorias sobre a dor: um breve comentrio .................................................

    2.2.2 Bases antomo-fisiolgicas-bioqumicas da dor .........................................

    2.2.2.1 Receptores sensoriais ..............................................................................

    2.2.2.2 Classificao das fibras nervosas ............................................................

    2.2.2.3 Estrutura do corno dorsal da medula espinhal .........................................

    2.2.2.4 A conduo do impulso nervoso ...............................................................

    2.2.2.5 Vias ascendentes da conduo da dor......................................................

    2.2.2.6 Mecanismos perifricos da dor..................................................................

    2.2.2.7 Vias descendentes controle da dor - analgesia......................................

    2.2.2.8 Receptores opiides .................................................................................

    2.3 Drogas analgsicas ........................................................................................

    2.4 Plantas analgsicas conhecidas .....................................................................

    2.5 O gnero Ocimum Efeitos Farmacolgicos .................................................

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  • 2.6 A espcie Ocimum basilicum L. ......................................................................

    3 Objetivos ..........................................................................................................

    3.1 Geral ...............................................................................................................

    3.2 Especficos .....................................................................................................

    4 Metodologia ......................................................................................................

    4.1 Material botnico ............................................................................................

    4.2 Obteno do leo Essencial ..........................................................................

    4.2.1 Determinao da Densidade do leo ..........................................................

    4.2.1.1 Clculos da Densidade .............................................................................

    4.2.2 Constituio qumica do leo Essencial .....................................................

    4.3 Animais ...........................................................................................................

    4.4 Toxicidade Aguda ........................................ ..................................................

    4.4.1 Mtodo dos Probitos ....................................................................................

    4.4.2 DL50 ..............................................................................................................

    4.6 Modelos de Antinocicepo ............................................................................

    4.6.1 Teste das Contores Abdominais ..............................................................

    4.6.2 Teste da Placa quente a 55 C ....................................................................

    4.6.3 Teste da Formalina ......................................................................................

    4.7 Anlise Estatstica ..........................................................................................

    5 Resultados .......................................................................................................

    5.1 Constituio qumica do leo Essencial.........................................................

    5.1.2 Dose letal mdia (DL50) do leo Essencial do Ocimum basilicum L............

    5.2 Efeitos observados no Teste das Contores abdominais..............................

    5.3 Efeitos observados no Teste da Placa Quente ..............................................

    5.4 Efeitos observados no Teste da Formalina ....................................................

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  • 6 Discusso..........................................................................................................

    7 Concluses ......................................................................................................

    Referncias .........................................................................................................

    Apndices ............................................................................................................

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  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    18

    1 INTRODUO

    Ainda no foi possvel estabelecer exatamente quando o homem, na

    necessidade de diminuir ou curar seus males, usou pela primeira vez as drogas de

    origem natural. H relatos de que desde a Era Crist, Padanius Dioscrides levantou

    e cadastrou mais de 500 drogas de origem vegetal, animal e mineral, no seu tratado

    intitulado De Materia Medica. Antigamente, as plantas eram usadas na forma de p.

    Foi nessa poca que Claudius Galeno (130-200 d.C.), mdico grego, preparou as

    primeiras drogas vegetais, usando-se de solventes como a gua, o lcool e o

    vinagre. Sendo assim, criou a conhecida Farmcia Galnica, cujo nome uma

    homenagem a este grande cientista.

    Foi durante o Renascimento que veio a valorizao da observao e do

    conhecimento, em conseqncia das Grandes Viagens s ndias e Amrica. O

    pioneiro a tentar relacionar as propriedades curativas das plantas s suas

    caractersticas morfolgicas, como a forma, a cor, etc., foi Paracelso no incio do

    sculo XVI, com a teoria dos sinais ou tambm chamada a Teoria da Similitude.

    Paracelso defendia a hiptese de que a doena podia ser curada com aquilo que lhe

    tivesse semelhana e, coincidentemente, este pensamento era tambm defendido

    pelos ndios da Amrica do Sul.

    A evoluo da arte de curar se realizou de forma emprica, em

    processos descobertos por tentativa, ora errando, ora acertando. Nestes processos,

    os povos primitivos contriburam para a identificao de espcies e de gneros, o

    habitat e a melhor poca de colheita desses vegetais, alm de fornecerem

    informaes valiosas sobre quais as partes das plantas continham agentes

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    19

    medicamentosos e seus efeitos (LEVI-STRAUSS, 1989; LOZOYA, 1994; SCENKEL,

    1985 apud GARCIA et al. [s.d.]).

    A partir do sculo XV, houve uma grande preocupao em identificar os

    vegetais de acordo com sua procedncia, sua caracterstica morfolgica e seus

    princpios ativos. Coube a Lineu a primeira classificao sistemtica no ano de 1735,

    em sua publicao Systema Naturae (TESKE; TRENTINI, 2001).

    Os produtos de origem natural desempenham um importante papel na

    pesquisa de novos frmacos, tendo em vista que vrios princpios ativos de plantas

    medicinais, descobertos h dezenas de anos, so at hoje utilizados na teraputica.

    Como exemplo de tal afirmao, cabvel citar a Papaver somniferum, planta usada

    para eliminar a dor visceral. Essa espcie produz, dentre vrias substncias ativas, a

    morfina, a qual foi isolada pela primeira vez em 1803 pelo farmacutico qumico

    Setrner. Posteriormente, em 1925, a frmula estrutural da morfina foi proposta por

    Robinson. Sete anos depois, outra substncia da Papaver foi isolada, a codena,

    pelo cientista Robiquet. Um outro alcalide foi identificado, desta vez por Merck, em

    1948, recebendo a denominao de papaverina.

    Alm da Papaver, podemos citar outras duas espcies tambm relevantes

    no campo da Etnofarmacologia: a Atropa belladona e a Hyoscyamus niger, as quais

    so caracterizadas por apresentarem alcalides com atividade anticolinrgica. O

    princpio ativo da Atropa belladona o alcalide denominado atropina, isolada em

    1883 por Mein. Essa espcie foi estudada por muitos farmacologistas, porm, sua

    sntese s foi realizada por Willstaetter, em 1903. Hoje em dia, tal substncia tem

    amplo uso em exames oftalmolgicos, devido s suas propriedades midriticas e

    cicloprgicas, alm de possuir atividade antiespasmdica. J a Hyoscyamus niger

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

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    possui o alcalide hiosciamina, ismero levgiro da atropina, usada por sua ao

    antiespasmdica e sedativa.

    Ainda exemplificando, temos a espcie Ephedra sinica, planta conhecida

    e utilizada pelos chineses h 2000 a.C., da qual foi isolada a substncia efedrina por

    Nagai, em 1887. Atualmente usada como um potente broncodilatador (YUNES;

    CALIXTO, 2001). Todas essas citaes servem para demonstrar a importncia e a

    utilizao dos produtos de origem vegetal que perduram ao longo da histria.

    Com o reconhecimento dos benefcios da milenar medicina chinesa e os

    importantes avanos da pesquisa, da preparao e da fabricao de produtos

    vegetais com ao teraputica, a Organizao Mundial da Sade (OMS) passou a

    interessar-se pelo assunto. Hoje este mesmo rgo internacional recomenda o uso

    de plantas medicinais e seus ativos pelos Sistemas Pblicos de Sade, como forma

    de reduzir os custos dos programas de Sade Pblica, alm de ampliar o nmero de

    beneficirios destes programas, em especial, nos pases em desenvolvimento onde

    persiste a pobreza, conforme relatos de sanitaristas renomados.

    A OMS estima que 80% da populao deste planeta, de algum modo,

    utiliza plantas medicinais como medicamentos. Estima-se, tambm, que 25.000

    espcies de plantas sejam usadas nas preparaes da medicina tradicional.

    conveniente lembrar que mais de 365.000 espcies de plantas j foram catalogadas,

    o que corresponde a cerca de 60% das existentes. Estes valores tornam-se mais

    significantes na demonstrao da importncia das plantas medicinais e como

    estmulo a sua investigao se os considerarmos frente s estimativas de que

    somente cerca dos 8% das espcies existentes de plantas tm sido

    sistematicamente estudadas em termos de compostos bioativos e que apenas 1.100

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    21

    espcies, das 365.000 espcies de plantas conhecidas, foram estudadas em suas

    propriedades medicinais (GARCIA et al. [s.d.]).

    Os vegetais se apresentam como fonte de princpios ativos com ao

    farmacolgica. H tambm que se destacar o importante papel dos vegetais e frutas

    na nutrio humana e na Sade Pblica, como fornecedores naturais de vitaminas e

    sais minerais elementos indispensveis para a higidez do organismo. Nesse

    sentido, os vegetais e as frutas contm em abundncia substncias fenlicas,

    terpenides e outros antioxidantes naturais que, associados ou no com

    medicamentos, previnem as doenas crnicas do corao e o cncer (WAGNER,

    2003).

    Todas as cinco regies brasileiras so ricas em plantas nativas, com

    destaques para a regio Amaznica e a regio Nordeste, por suas ricas

    biodiversidades. O Brasil reconhecido como um dos pases que possui a mais

    diversificada flora, possuindo um grande potencial a ser desvendado na produo de

    frmacos. Infelizmente, nos tempos atuais, a rica flora e a fauna brasileira tm sido

    progressivamente destrudas, comprometendo a pesquisa etnofarmacolgica nesses

    ltimos 40 anos.

    Na rea da farmacobotnica, pelo menos 402 diferentes espcies de

    plantas tm sido estudadas no territrio brasileiro, entre elas as famlias: Piperaceae,

    Sol+anaceae, Phytolacaceae, Lauraceae, Liliaceae, Crassulaceae, Gramineae,

    Zingiberaceae, Moraceae, Cucurbitaceae, Rubiaceae, Verbenaceae, Anacardiaceae,

    Labiatae, Apocynaceae, Euphorbiaceae, Compositae e Leguminosae, vistas na

    Tabela 1 (BRITO, A.R.; BRITO, A.S., 1993).

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    TABELA 01 Plantas mais estudadas no territrio brasileiro Famlia Espcie Nome popular Partes usadas

    ANACARDIACEAE Astronium urudeuva Engl. Aroeira Cascas do tronco

    APOCYNACEAE Mandevilla velutina (Mart.) Wood. Jalapa Rizomas

    COMPOSITAE Achyrocline satureoides A. DC.

    Stevia rebaudiana Bert.

    Marcela

    Estevia

    Flores

    Folhas

    CRASSULACEAE Kalanchoe brasiliensis Camb. Coirama Folhas

    CUCURBITACEAE Luffa operculata Cogn. Cabacinha Frutos

    EUPHOBIACEAE Crton zenhtneri Pax & Hoffm. Cunha Folhas

    LEGUMISOSAE Canavalia ensiformis A. DC.

    Pterodon polygalaeflorus Benth.

    Feijo

    Sucupira Sementes

    MORACEAE Dorstenia bryoniaeflora Mart. Caiapi Rizomas

    PHTOLACCACEAE Petiveria alliacea L. Tipi Razes

    ZINGIBERACEAE Alpinia speciosa Dietr. Colnia Rizomas

    Fonte: adaptado de Brito, A.R; Brito, A.S.,1993.

    Desse rol de plantas, diversas so as atividades farmacolgicas

    investigadas, podendo ser agrupadas em 13 classes teraputicas: Diurtica,

    Antiulcerosa, Bloqueadora neuromuscular, Antitumoral, Colinomimtica,

    Hipoglicemiante, Depressora do SNC, Espasmoltica, Hipotensoras, Analgsicas,

    Txicas, Antimicrobiana e Antiinflamatria.

    1.1 Correlao entre o Uso Popular e a Atividade Farmacolgica

    O uso de plantas na medicina popular guarda uma estreita relao com os

    efeitos produzidos que so comprovados pela recuperao dos pacientes que usam

    esses medicamentos. A Tabela 02 mostra a percentagem de sucesso das citaes

    do uso popular, comparando-se com o nmero de investigaes positivas (BRITO,

    A.R.; BRITO, A.S., 1993).

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    TABELA 02 Correlao entre o uso popular e a atividade farmacolgica confirmada para as principais categorias teraputicas

    Atividade Nmero de citaes

    de uso popular

    Nmero de

    investigaes

    confirmadas

    Percentagem de sucesso

    Analgsica 59 54 91,5

    Antiinflamatria 93 63 67,7

    Antimicrobiana 116 64 55,2

    Antitumorala 12 09 75,0

    Antiulcerosa 29 15 51,7

    Depressora do

    SNC 28 26 92,8

    Diurtica 26 08 30,8

    Hipoglicemiante 54 39 72,2

    Hipotensora 56 54 96,4

    Espasmognicab 5 5 100,0

    Espasmoltica 55 24 43,6

    Txica 34 34 100,0 Fonte: BRITO, A.R.; BRITO, A.S. (1993). a tambm se refere a cncer; b tambm se refere como abortivo.

    Dentre os gneros estudados na Medicina popular, encontra-se o

    Ocimum, cujas espcies so largamente usadas na medicina tradicional iraniana. O

    estudo qumico desse gnero, to rico em flavorizantes, revelou a presena de

    vrias substncias qumicas de importncia comercial. No tocante s substncias

    encontradas no Ocimum, podemos fazer referncia ao cido rosmarnico, o qual

    um cido fenlico predominante na flor e nos tecidos das folhas (JAVANMARDI et

    al., 2002), constituindo-se um excelente antioxidante.

    O gnero Ocimum est representado por mais de 150 espcies e tem

    uma distribuio geogrfica por todas as regies de clima tropical e subtropical.

    um importante grupo de plantas aromticas que produzem leo essencial rico em

    constituintes como: cidos fenlicos, linalol, geraniol, citral, alcanfor, eugenol, timol,

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    1,8-cineol, acetato de nerila, e outros compostos (GOVIN et al., 2000). Estes

    compostos, por sua vez, apresentam as mais variadas atividades farmacolgicas,

    tais como: bactericida, fungicida, antiparasitria e, at mesmo, como repelente de

    insetos. Sua eficcia como bioinseticida fumigante foi demonstrada por Kita et al.

    (2001).

    Vrias espcies desse importante gnero tm sido largamente estudadas

    em vrios pases. O trabalho de Khanna e Bhatia (2003) demonstrou que o extrato

    alcolico obtido das folhas do Ocimum sanctum (Tulsi) possui propriedades

    antinociceptivas e antiinflamatrias, esta ltima, possivelmente por ao inibitria

    sobre a Cicloxigenase. As espcies Ocimum suave e Ocimum lamiifolium foram

    estudadas quanto as suas possveis propriedades antipirticas, e os extratos

    aquosos e etanicos reduziram a febre em camundongos induzida por leveduras em

    todas as concentraes testadas (MAKONNEN et al., 2003)

    No Brasil, o Ocimum basilicum L., popularmente chamado de manjerico,

    assim como em outros pases do mundo, vem sendo utilizado para os mais

    diferentes fins: erva culinria, inseticida, antiparasitrio, repelente de insetos, e como

    insumo de alto valor para a indstria de perfumaria, cosmticos e na indstria

    farmacutica.

    1.2 leos Essenciais

    So misturas de natureza complexa, compostas por substncias lquidas,

    volteis e lipofilicas geralmente odorferas. So tambm denominadas de leos

    etreos ou essncias. Existem em abundncia nos angiospermas dicotiledonios e,

    dependendo da famlia, os leos essenciais so encontrados nas vrias estruturas

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    25

    secretoras especializadas, tais como: pelos glandulares (LAMIACEAE), clulas

    parenquimticas diferenciadas (LAURACEAE, PIPERACEAE, POACEAE) ou canais

    oliiferos (APIACEAE) (SIMES; SPLITZER, 2004 apud BLANK et al., 2005).

    Conforme a ISO (International Standard Organization), os leos

    Essncias so produtos obtidos de partes de plantas atravs da destilao por

    arraste de vapor dgua e constitudos por misturas complexas de substncias

    volteis lipoflicas e geralmente odorferas (SIMES et al., 2001).

    Os leos Essenciais so produzidos pelo metabolismo secundrio dos

    vegetais e tm como principal caracterstica a volatilidade. Apresentam tambm a

    funo de proteo, principalmente como repelente de insetos.

    A constituio qumica dos leos essenciais varia desde a existncia de

    hidrocarbonetos terpnicos, terpenides, lcoois terpnicos simples, aldedos,

    cetonas, fenis, steres, perxidos, furanos, cidos orgnicos e cumarinas.

    a) Terpenos e Terpenides: so lipdios de origem vegetal que possuem

    em suas estruturas mais de uma unidade isoprnica e so obtidos por

    hidrodestilao, compondo os leos essenciais. Esses compostos tm seu

    isolamento e uso desde a Antigidade, apresentando diversas aplicaes,

    principalmente na produo de perfumes, cosmticos e medicamentos. Com o

    progresso da qumica farmacutica, hoje possvel conhecer as propriedades fsico-

    qumicas, farmacolgica e cosmtica desses compostos.

    Os Terpenos apresentam somente tomos de carbono e hidrognio na

    sua estrutura, sendo chamados Terpenides quando contm o oxignio como

    heterotomo. Mas ambos apresentam em comum o isopreno, que o 2-metil,1,3-

    butadieno. (Figura 01)

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    26

    Figura 01 Estrutura qumica do 2-metil,1,3-butadieno.

    A maioria dos terpenos possui esqueleto carbnico de 10 a 30 unidades.

    So classificados quanto ao nmero de carbonos em:

    Monoterpenos 10 tomos de carbono;

    Sesquiterpenos 15 tomos de carbono;

    Diterpenos 20 tomos de carbono,

    Sesterpenos 25 tomos de carbono, e;

    Triterpenos 30 tomos de carbono.

    Com o avano da Bioqumica, hoje sabemos que os vegetais no

    sintetizam os terpenos a partir do isopreno, mas o fato de que a unidade isoprnica

    faz parte da estrutura dos terpenos foi de grande valia para a elucidao de suas

    estruturas.

    Na biossntese dos terpenos e dos terpenides, a estrutura qumica

    bsica para sua formao o Pirofosfato de 3-metil-3-butenila, que sofre o processo

    de isomerizao enzimtica, formando o Pirofosfato de 3-metil-2-butenila.

    A unio de duas molculas do precursor dos terpenos e terpenides: o

    Pirofosfato de 3-metil-2-butenila, formam o primeiro terpenide que o Pirofosfato

    de geranila, com 10 carbonos, o qual se constitui o precursor dos monoterpenos.

    Estes, por sua vez, formam os sesquiterpernos, os diterpenos e os triterpenos

    (SOLOMONS; FRYHLE, 2002).

    Como exemplos de compostos isoprnicos e isoprenides largamente

    estudados, cuja ao preventiva e curativa j bastante conhecida, podemos citar o

    licopeno, o -Caroteno, a vitamina A e o geraniol; alm de outros compostos

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    27

    recentemente descobertos, a partir do vegetal Taxus sp, cujo princpio ativo um

    diterpenide, o taxol. Os estudos fitoqumicos e farmacolgicos do taxol

    demonstraram ser um potente anti-tumoral. Essa substncia natural age por

    mecanismo de estabilizao dos microtbulos e inibe a despolimerizao da tubulina

    livre (VANHAELEN, 1992).

    Estruturas terpnicas de importncia biolgica (Figura 02):

    Figura 02 Estruturas terpnicas.

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    28

    1.2.1 Os 5 compostos mais abundantes no O.E. do Ocimum basilicum L. (1,8 Cineol, Linalol, Geraniol, Acetato de Nerila e -trans bergamopteno.).

    Os cinco compostos mais abundantes presentes no OE do Ocimum

    basilicum L. que apresentam abundncia relativa maior que 1% e possuem

    estruturas terpnicas so:

    a) 1,8-Cineol (7,47%): um xido terpnico, sendo o principal constituinte

    do leo Essencial do Eucalipto (Eucalyptus globulus habill) (Figura 03).

    empregado na indstria farmacutica nas formulaes medicamentosas, como

    rubefaciante, descongestionante, anti-tussgeno, empregado tambm na

    aromoterapia (SANTOS; RAO, 2000). Foi recentemente mostrado que 1,8-Cineol

    apresenta propriedades irritantes, induz edema local quando injetado de forma

    subplantar na pata traseira do rato e desempenha um papel-chave para os

    mastcitos no efeito edematognico (SANTOS; RAO, 2000). Tambm usualmente

    aplicado para o tratamento de bronquites, sinusites e reumatismos (McGILVERY;

    RIDE, 1993 apud SANTOS; RAO, 2000).

    CAS (Chemical Abstract Service) # 470-82-6

    Nome qumico: 2-oxabiciclo [2,2,2] octano, 1,3,3-trimetil

    Frmula molecular: C10H18O

    Peso Molecular: 154,24

    Sinnimos: cajupol, eucaliptol, terpan

    Usos: rubefaciante, analgsico, antitussgeno e antiinflamatrio

    Figura 03 Estrutura do 1,8-Cineol.

    b) Linalol (69,54%): um lcool monoterpnico, comumente encontrado

    como o maior componente dos leos Essenciais de vrias espcies de plantas

    aromticas, algumas das quais so freqentemente utilizadas na Medicina

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    tradicional, como analgsico e antiinflamatrio (Figura 04). o enantimero (-) linalol

    que ocorre naturalmente (PEANNA et al., 2003).

    CAS # 78-70-6

    Nome qumico: 1,6 octadieno 3-ol, 3,7-dimetil

    Frmula molecular: C10H18O

    Peso Molecular: 154,24

    Sinnimos: lcool linlico

    Usos: analgsico, antiinflamatrio e cosmtico (perfume)

    Figura 04 Estrutura do Linalol.

    c) Geraniol (12,55%): um lcool monoterpnico, sendo o principal

    componente da rosa e da palma-rosa; ocorre tambm em pequena quantidade no

    gernio, no limo e na citronela (Figura 05). utilizado como flavorizante, e tem

    aplicao alternativa como repelente. Em soluo cida, o Geraniol se converte em

    terpeno cclico: o -terpeniol. Recentes estudos mostraram que os monoterpenos

    exercem atividade antitumoral, e sugerem serem estes compostos uma nova classe

    de agentes qumicos preventivos para o cncer (CROWELL, 1999; ELSON; YU,

    1994; KELLOFF et al.,1996 apud CARNESECCHI et al., 2001).

    Mais recentemente, o Geraniol, que encontrado em limes e leos de

    ervas aromticas, mostrou exercer atividade antitumoral in vitro e in vivo, contra

    leucemia murina, hepatoma e clulas de melanoma (BURKE et al., 1997; SHOFF et

    al., 1991; YU et al., 1995 apud CARNESECCHI et al., 2001).

    No estudo dos efeitos do geraniol (400 M) durante o crescimento das

    clulas (Caco2) do cncer do clon humano, houve uma inibio de 70% do

    crescimento celular e ao mesmo tempo a inibio da sntese de DNA. No foram

    detectados sinais de citotoxicidade ou apoptose. O geraniol provocou a diminuio

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    em 50% da atividade da ornitinadexacarboxilase, enzima chave na biosntese de

    poliaminas, a qual a enzima aumentada no crescimento do cncer

    (CARNESECCHI et al., 2001).

    CAS # 106-24-1

    Nome qumico: 2,6-octadieno 1ol, 3,7-dimetil

    Frmula molecular: C10H18O

    Peso Molecular: 154,24

    Sinnimos: rodinol, lcool gernico, guaniol, lemonal

    Usos: na cosmtica, como perfume, antioxidante e

    antitumoral.

    Figura 05 Estrutura do Geraniol.

    d) Acetato de Nerila (3,58%): um ster terpnico muito abundante no

    neroli e na casca da laranja (Figura 06). empregado na indstria de cosmticos e

    em perfumaria. Na literatura pesquisada no foram encontrados estudos

    farmacolgicos.

    CAS # 141-12-8

    Nome qumico: 2,6-octadieno, 1ol 3,7-dimetil-acetatol

    Frmula molecular: C12 H20 O2

    Peso Molecular: 196

    Sinnimos: nerol acetato

    Usos: cosmtico, como perfume Figura 06 Estrutura do Acetato de Nerila.

    e) -Trans bergamopteno (1,17%): um hidrocarboneto terpnico de uso

    no-determinado (Figura 07).

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    CAS # 13474-59-4

    Nome qumico: biciclo [3,1,1] hept-2-eno 2,6-

    dimetil

    Frmula molecular: C15 H24

    Peso Molecular: 204

    Sinnimos: 2-norpireno

    Usos: no-determinados

    Figura 07 Estrutura do -Trans

    bergamopteno.

    1.3 Fitoterapia

    O conceito de Fitoterapia deriva de duas palavras de origem grega:

    (phiton), que significa planta, e (terapea), significando tratamento. Portanto,

    a terapia com plantas. O termo Fitoterapia foi utilizado pela primeira vez pelo

    mdico francs Henri Leclerc (1870-1955), que viveu e trabalhou em Paris. Sendo

    assim, o conceito de Leclerc diz: fitoterapia a cincia que se ocupa do emprego do

    medicamento vegetal para a cura das doenas humanas e dos animais (WEISS,

    1991). As experincias de Henri Leclerc esto registradas no seu livro Lineamento di

    Fitoterapia, Edies Aporie, que se tornou um clssico. A sua vida e a sua obra

    foram ressaltadas na dedicatria de Presse mdicale, de 14 de maio de 1955

    (WEISS, 1991).

    O uso de plantas para a cura dos males to antigo quanto prpria

    humanidade. Tambm era utilizada em cerimnias religiosas para causar um efeito

    mstico. Mais tarde foi descoberto que este efeito era devido a plantas que tinham

    propriedades ansiolticas, e por isso deixavam os adeptos tranqilos e com ares de

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    32

    contentamento. Um exemplo a ser citado o de que os povos das Ilhas Ocenicas

    usavam o kava kava (Piper methysticum) como calmante e relaxante durante

    determinados ritos. Hoje a utilizao das plantas medicinais j se constitui em uma

    alternativa para o tratamento de vrias doenas, podendo ser considerada, portanto,

    um ramo da Medicina. Apesar do Conselho Federal de Medicina no a considerar

    ainda, h uma corrente muito forte de mdicos naturalistas lutando para que a

    Fitoterapia seja oficialmente reconhecida como uma especialidade mdica.

    sempre prudente alertar a populao e os profissionais que lidam com a

    Fitoterapia, sobre a crena popular que propaga o que vem das plantas no faz

    mal. Este no um conceito absolutamente correto, lembra Carlini (1973).

    Os produtos que so originados de plantas so chamados genericamente

    de fitoterpicos, considerados como um importante instrumento na teraputica, pois

    contm princpios biologicamente ativos, e muitos desses so utilizados como

    modelo para sntese de vrios frmacos. Cerca de 200 espcies de plantas

    encontradas no Brasil so empregadas na Medicina popular para o tratamento de

    doenas renais, infeces intestinais e urinrias, diabetes, hepatite, entre outras.

    Vrios constituintes desses vegetais, quando isolados ou em sinergismo com outros

    compostos, tm ao analgsica, antiinflamatria, antiviral, hipoglicemiante,

    antiespasmdica e antialrgica (GUERRA; NODARI, 2001 apud CALIXTO et al.,

    1997). Essas aes parecem ser exercidas por determinados grupos qumicos: os

    flavanides, os taninos, os alcalides, as cumarinas, as lignanas, os terpenos e

    outros presentes nos produtos fitoterpicos.

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    33

    1.4 Regulamentao dos Fitoterpicos

    Os primeiros atos normativos referentes s plantas medicinais do Brasil

    vieram dos regimentos portugueses, por volta dos anos 1520 a 1631. Como no

    havia uma legislao nacional, era utilizado o Codex Medicamentarius Gallicus,

    regulamento de origem francesa, at aproximadamente 1929. Este era o Cdigo

    adotado como o documento oficial brasileiro.

    Porm, com o crescimento do uso indiscriminado dos fitoterpicos no

    Brasil, houve a necessidade de uma regulamentao mais especfica e atualizada

    sobre o assunto. Para tal, foi editada a Portaria n22 de 30/10/1967, elaborada pelo

    Ministrio da Sade, pelo j extinto Servio Nacional da Fiscalizao, da Medicina e

    da Farmcia, que estabeleceu normas para empregos de preparaes fitoterpicas.

    A Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria, na Portaria n 6/MS/SNVS,

    de 31 de janeiro de 1995, institua e normatizava o Registro de Produtos

    Fitoterpicos junto ao Sistema de Vigilncia Sanitria. Esta Portaria legalizava,

    assim, a definio de produto fitoterpico: todo medicamento tecnicamente obtido

    e elaborado, empregando-se exclusivamente matrias-primas ativas vegetais com

    finalidade profiltica, curativa ou para fins de diagnsticos, com benefcio para o

    usurio, e caracterizado pelo conhecimento da eficcia e dos riscos de seu uso,

    assim como pela reprodutibilidade e constncia de sua qualidade. o produto final

    acabado, embalado e rotulado (BRASIL, 1995).

    A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), rgo regulador das

    aes de Sade Pblica editou a Resoluo de Diretoria Colegiada (RDC n 17), de

    24 de fevereiro de 2000, que aprovou o Regulamento tcnico, visando normatizar o

    Registro de Medicamentos Fitoterpicos, remodelando o conceito anterior e

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    ganhando o status de medicamento fitoterpico. A mesma revoga a Portaria

    anterior, trazendo o avano de no mais considerar um fitoterpico aquele produto

    que, na sua composio, contenha substncias ativas isoladas de qualquer origem,

    nem mesmo as associaes destas com extratos vegetais. A nova redao passa a

    ser a seguinte: medicamento farmacutico obtido por processos tecnologicamente

    adequados, empregando-se exclusivamente matrias-primas vegetais, com

    finalidade profiltica, curativa, paliativa ou para fins de diagnstico. caracterizado

    pelo conhecimento da eficcia e dos riscos de seu uso, assim como pela

    reprodutibilidade e constncia de sua qualidade. No se considera medicamento

    fitoterpico aquele que, na sua composio, inclua substncias ativas isoladas, de

    qualquer origem, nem as associaes destas com extratos vegetais (BRASIL, 2000).

    A Portaria supracitada exige, ainda, que sejam apresentados estudos

    cientficos de Toxicologia Pr-Clnica (submetida Resoluo RE n 90 de 16 de

    maro de 2004, que publica o Guia para realizao de estudos pr-clnica de

    fitoterpicos) e Toxicologia Clnica, que comprovem a segurana do medicamento e

    a eficcia teraputica, de acordo com as exigncias estipuladas pelo Conselho

    Nacional de Sade (Resoluo n 196/96).

    Anos aps, em 2004, a ANVISA, avaliando a necessidade de aprimorar a

    legislao especfica, editou uma nova resoluo que aprova o Regulamento

    Tcnico, a fim de atualizar a normatizao do registro de medicamentos

    fitoterpicos. Insere tambm avanos, reconhecendo a importncia da

    Etnofarmacologia e incluindo a obrigatoriedade dos ensaios clnicos de fase III.

    Nesta norma, so regulados ainda os servios de controle de qualidade

    (quando terceirizados), submetendo-os s exigncias da Rede Brasileira de

    Laboratrios em Sade (REBLAS), ou ainda, a instituies que tenham certificado de

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    35

    Boas Prticas de Fabricao e Controle (BPFC) satisfatrio, atualizado e expedido

    pela ANVISA.

    louvvel que nestes 10 ltimos anos, o Ministrio da Sade, atravs do

    seu rgo mximo de fiscalizao e controle, a ANVISA, tenha se preocupado e

    promovido avanos na legislao sanitria geral, em especial concernente

    Fitoterapia. No entanto, esses avanos na legislao no ocorreriam sem a

    realizao dos pressupostos ticos e preceitos tcnico-cientficos sobre os

    medicamentos fitoterpicos, a exemplo do trabalho que aqui proposto.

    1.5 Plantas Medicinais

    As plantas medicinais utilizadas na conhecida Medicina popular

    brasileira tm a sua manipulao realizada de forma artesanal e emprica, sem

    estudo cientfico adequado. Tais produtos eram antigamente manipulados por pajs

    e feiticeiros; hoje em dia ainda pode ser encontrado seu uso por benzedeiras e

    curandeiros, que preparam as chamadas garrafadas em suas prprias casas. So

    os chs, as infuses, as inalaes, os ungentos e os banhos de assento, que se

    constituem como prticas populares, notadamente nas pequenas cidades do Norte e

    do Nordeste brasileiro.

    A ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, percebendo a

    necessidade de normatizar o uso das plantas medicinais, publicou uma relao,

    constante na Resoluo RDC N. 17, das principais plantas da flora brasileira mais

    comumente utilizadas (TABELA 03).

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    36

    TABELA 03 Principais plantas medicinais utilizadas no Brasil

    Nome popular Nome cientfico Parte usada Formas de uso Indicao

    teraputica

    ALCACHOFRA Cynara scolymus Folhas Infuso,

    decoco, tintura (1:5)

    Colertico, hepatoprotetor,

    colagogo

    ALHO Allium sativum Bulbo Bulbo fresco ou

    seco, tintura, leo, extrato seco

    Coadjuvante no tratamento de

    hiperlipidemia e hipertenso arterial leve,

    preveno da aterosclerose

    BABOSA Aloe vera Gel mucilagem

    das folhas Creme, gel

    Tratamento de queimaduras

    trmicas (1 e 2 graus)e radiao

    BOLDO-DO-CHILE

    Peumus boldus Folhas Infuso Colagogo e colertico

    CALNDULA Calendula officinalis

    Flores Infuso, tintura Cicatrizante,

    antiinflamatrio e antissptico

    CAMOMILA Matricaria recutita Captulos florais Infuso, tintura Antiespasmdico,

    antiinflamatrio

    CONFREI Symphytum

    officinale Folhas e razes Infuso, decoco cicatrizante

    ERVA-DOCE Pimpinella anisum Frutos Infuso Antiespasmdico,

    carminativo e expectorante

    GENGIBRE Zingiber officinale Razes Infuso, decoco

    Profilaxia de nuseas

    causadas pelo movimento

    (cinetose), e ps-cirurgias

    HORTEL Mentha piperita Folhas Infuso, tintura

    (1:5) Carminativo, expectorante

    MELISSA Melissa officinalis Folhas Infuso, tintura

    (1:10)

    Carminativo, antiespasmdico,

    sedativo

    MARACUJ Passiflora incarnata

    Folhas Infuso, tintura

    (1:8) Sedativo

    SENE Cssia senna Folhas e frutos Infuso Laxante suave Fonte: RDC-17, ANVISA, 2000.

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    37

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Toxicidade Aguda

    Embasado nos princpios da Toxicologia toda, a substncia pode ser

    considerada um agente toxicante, dependendo das condies da exposio como

    dose, tempo, freqncia da exposio e as mais variadas vias de administrao. Por

    estas razes, imprescindvel conhecer as condies de uso seguro das diversas

    substncias qumicas que podem ser de origem vegetal, animal ou mineral, para que

    no ocorram danos sade humana ou animal, ou mesmo levando ocorrncia de

    agravos ao meio ambiente e de bitos.

    A Toxicidade de uma substncia a ser testada para fins farmacolgicos e

    teraputicos deve ser o primeiro passo que um investigador toxicologista ou

    farmacologista precisa determinar, a fim de que, durante os experimentos, no

    venha a ter surpresas desagradveis com os efeitos nocivos aos animais de

    experimento ou at mesmo a morte deles. Uma substncia altamente txica

    promover um efeito danoso ao organismo vivo e/ou ao ambiente, ainda quando

    empregado em mnimas quantidades, enquanto que as substncias de baixa

    toxicidade precisam de altas doses para promover um efeito txico.

    Define-se como dose a quantidade do xenobitico, de origem qumica,

    biolgica ou at mesmo fsica, administrada a um organismo vivo exposto.

    Um dos fatores de grande importncia a ser considerado nos

    experimentos farmacolgicos ou toxicolgicos a relao dose-resposta (conhecida

    tambm como concentrao-resposta), que representada por uma curva

    gaussiana terica, visto que na prtica raramente encontrada (OGA, 1996). Esta

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    38

    curva amplamente utilizada para calcular a dose letal cinqenta por cento, ou seja,

    a menor concentrao que mata a metade da populao dos animais submetidos ao

    experimento, tendo como sigla DL50.

    O estudo da toxicidade aguda (DL50) deve ser previamente planejado,

    pois sabido que inmeros fatores podem influenciar os resultados, sendo eles

    inerentes s variaes do prprio animal, s substncias, s instalaes e aos

    fatores peridicos (LARINI, 1999), a saber:

    1) Variveis relacionadas aos animais: espcie, idade, linhagem, sexo, estado

    nutricional, estado de higidez;

    2) Variveis relacionadas s substncias: via de administrao, veculo, volume,

    velocidade de administrao, impurezas, estado fsico, concentrao molar,

    solubilidade, etc.;

    3) Variveis relacionadas s instalaes e ao alojamento dos animais: tipo de gaiola,

    temperatura, umidade, aerao, durao do perodo de ambientao dos animais,

    ciclo dia-noite, rao, rudos e outros fatores estressantes.

    2.2 Dor

    Desde os mais remotos tempos, sempre foi uma grande preocupao

    para o ser humano compreender a etiologia da dor e, ao mesmo tempo, tentar

    aliviar-se desse mal. Naqueles tempos, a dor era interpretada como sendo um

    castigo divino ou como uma influncia de espritos do mal que se apoderavam do

    corpo. Eram utilizadas as mais variadas prticas para a supresso da dor: sacrifcio

    aos deuses, prticas de exorcismo ou at a sangria para eliminao dos maus

    fluidos. Eram tambm usados extratos ou sucos das mais diversas ervas, como a

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    39

    papoula, maconha, e outras. Desta forma, j se delineava a importncia das plantas,

    quando manipuladas para aliviar a dor.

    Essa sensao desagradvel e de complexa percepo, indo de um

    pequeno desconforto at um processo destrutivo, com graves danos aos tecidos,

    pode ser expressa por reao orgnica e emocional. Porm, a melhor definio

    aquela proposta pela Associao Internacional para o Estudo da Dor (International

    Association for the Study of Pain IASP): a Dor uma experincia emocional com

    sensao desagradvel, associada leso tecidual presente, potencial ou descrita

    como tal.

    Apesar de ser uma sensao desagradvel aos animais, ela tem um

    importante papel biolgico de denunciar quando algo no vai bem. Portanto, serve

    como sinal de alerta para a preservao da vida.

    Existem casos raros de pessoas que por nascerem com deficincia

    congnita no mecanismo fisiolgico da dor no chegam fase adulta; pois, com a

    falta desse importante sistema de alerta, ficam vulnerveis a acidentes e, por

    conseguinte, a graves leses teciduais. Portanto, a vida cotidiana torna-se um

    constante risco integridade fsica (LENT, 2004).

    2.2.1 Teorias sobre a dor: um breve comentrio

    Vrias foram as tentativas de explicar o fenmeno da dor. Como

    ilustrao so apresentadas, resumidamente, diversas teorias, desde a filosfica at

    a atual, de concepo antomo-bioqumico-fisiolgica. Na literatura sobre o assunto,

    um dos primeiros filsofos a se interessar pelo estudo da dor foi Aristteles, na

    Grcia Antiga, o qual interpretava a dor como sendo uma experincia contrria ao

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    40

    prazer e imputava ao corao como sendo o centro das sensaes. Tal concepo

    perdurou ao longo da histria por mais de 20 sculos. Todavia, foi Descartes que

    evidenciou, atravs de estudos anatmicos e fisiolgicos, a existncia de nervos que

    serviram para receber as informaes sensoriais da periferia e transport-las at o

    crebro (PRADO, 2001).

    Entre 1816 a 1826, Bell e Muller propuseram a Teoria da Especificidade,

    ou seja, a dor seria originada da ativao de receptores e vias condutoras

    especficas perifricas e centrais, tal como nos casos da audio e viso

    (MENEZES, 1999). Essa concepo no perdurou por causa de estudos posteriores

    que afirmavam serem a medula e o crebro partes fundamentais, com suas

    influncias inibidoras e emocionais para o fenmeno da dor.

    Uma outra teoria que teve breve aceitao foi a Teoria da

    Inespecificidade. De acordo com essa idia, a dor seria o produto da ativao de

    vrios receptores inespecficos tais como os receptores de tato, calor e frio que,

    quando estimulados acima de seus respectivos limiares, produziriam a dor.

    No ano de 1965, os autores Melzack e Wall uniram a Teoria da

    Especificidade da Inespecificidade e propuseram a chamada Teoria da Comporta

    ou Teoria do Porto da Dor. Conforme esses estudiosos, haveria a inibio pr-

    sinptica em funo do choque entre os potenciais dos aferentes primrios e os

    potenciais antidrmicos negativos na raiz dorsal. Tais potenciais seriam originados

    nas clulas da Substncia Gelatinosa (S.G.), no corno posterior da medula espinhal

    (CPME). Quando essas clulas so estimuladas, transmitem impulsos inibitrios, ou

    ainda, a ativao das fibras grossas bloquearia a transferncia de informao dos

    aferentes primrios para os neurnios do CPME, assim como as influncias hiper-

    polarizantes dos aferentes de calibre fino. O mrito dessa teoria foi inserir o conceito

  • Toxicidade Aguda e Atividade Antinociceptiva do leo Essencial do Ocimum basilicum L. (Manjerico), em Mus musculus (Camundongos)

    41

    da interao sensorial e levantar a hiptese da participao de um sistema

    modulador especfico no CPME (TEIXEIRA, 2003). Consoante Teoria da

    Comporta, pode-se concluir que o primeiro local do controle dos impulsos

    nociceptivos o CPME, no qual haveria um balanceamento entre os impulsos

    nxicos e no-nxicos para os centros superiores. Assim, os afarentes no-

    nociceptivos desligam (OFF) e os nociceptivos ligam (ON) a via para transmisso

    da dor at o crtex somestsico (PINTO, 2000).

    evidente que a dor produzida por estmulo lesivo funciona como um

    alerta, mas, quando ela permanece por um longo tempo, passa a produzir grande

    sofrimento ao organismo, muitas vezes desnecessrio.

    Do ponto de vista temporal, pode-se classificar a dor em aguda, que

    aquela de durao curta, e que serve como alerta, e a crnica, demorada, que

    quase sempre denota um estado patolgico.

    Outros tipos de dor que possveis de serem citadas so:

    1) Dor por nocicepo ocorre quando existe um traumatismo nos receptores

    nociceptivos, devido a alteraes na sua estrutura antomo-funcional com liberao

    de substncias algognicas nos tecidos.

    2) Dor neurognica aquela que ocorre com o dano diretamente sobre as

    inervaes.

    3) Dor inflamatria caracterizada pela sensibilizao dos neurnios produzida pela

    ativao da cascata de citocinas, as quais so substncias de natureza peptdica,

    liberadas no tecido inflamatrio e de clulas do sistema imunobiolgico (RANG;

    DALE; RITTER, 2001).

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    42

    4) Dor-fantasma ou dor do membro-fantasma aquela que ocorre quando os cotos

    nervosos irritados originam impulsos nervosos, interpretados pelo crebro como se a

    dor ocorresse no membro amputado (MACHADO, 2002).

    5) Dor por desaferentao esta dor caracterizada pela leso das vias nervosas

    sensitivas perifricas e centrais por cirurgias ou traumas, podendo resultar na

    ocorrncia de dor-fantasma.

    6) Dor psicossomtica a dor que ocorre influenciada por um estado psicolgico

    alterado, produzindo uma repercusso somtica.

    7) Dor psicognica aquela que no possui causa orgnica, mas se expressa em

    conseqncias de problemas psicolgicos (MENEZES, 1999).

    8) Dor visceral dor proveniente da leso em fibras viscerais.

    9) Dor referida manifesta-se quando a dor de uma estrutura somtica ou visceral

    sentida em local diferente da sua origem, porm inervada pelo mesmo nervo, isto ,

    quando h convergncia dos neurnios das duas regies para a mesma lmina do

    corno dorsal (MENEZES, 1999). Como exemplo tpico, os autores destacam a dor

    sentida no episdio de um infarto do miocrdio que pode se manifestar no ombro ou

    no brao esquerdo.

    2.2.2 Bases antomo-fisiolgicas-bioqumicas da dor

    Para a melhor compreenso do estudo das bases antomo-fisiolgicas-

    bioqumicas da dor, faz-se necessrio o entendimento de algumas expresses

    importantes.

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    43

    2.2.2.1 Receptores sensoriais

    So clulas capazes de receber o estmulo externo (do ambiente) ou

    interno (em relao ao organismo). Nem sempre so neurnios, podendo ser

    exemplificados os receptores visuais, auditivos, gustativos, etc. Neurnios ou no,

    todos se conectam em sinapses com neurnios, estes so chamados de 2 ordem

    (ou secundrios), que se ligam aos de 3 ordem (ou tercirios), e assim

    sucessivamente. Os receptores sensoriais so classificados de acordo com a forma

    de energia que captada, em: Mecanorreceptores (ou mecanoceptores),

    Quimiorreceptores (ou quimioceptores), Fotorreceptores (ou fotoceptores),

    Termorreceptores (ou termoceptores) e Nociceptores.

    Os mecanorreceptores so sensveis a estmulos mecnicos, contnuos

    ou vibratrios, exemplificando: os receptores auditivos. Os quimiorreceptores so

    receptores de estmulos qumicos, isto , respondem ao de substncias

    qumicas. Exemplo: receptores olfatrios. Os fotorreceptores so aqueles sensveis

    aos estmulos luminosos, sendo ligados diretamente modalidade visual. Os

    termorreceptores so os sensveis diferena de temperatura e muitos esto

    situados na superfcie da pele; outros esto dentro do crebro, principalmente no

    hipotlamo. Enfim, os nociceptores so os receptores sensveis a estmulos de

    grande intensidade das mais diversas formas de energia, estmulos estes que

    colocam em risco a integridade do organismo, causando leses nos tecidos e

    clulas. Geralmente so terminaes livres de fibras dos neurnios ganglionares da

    raiz dorsal da medula espinhal (M.E.) (LENT, 2004).

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    44

    2.2.2.2 Classificao das Fibras Nervosas

    As Fibras Nervosas podem ser classificadas em trs tipos: Fibras A, B e

    C, conforme a categorizao.

    Fibras A subdivididas em:

    a) Alfa () so fibras mielinizadas relacionadas com a funo motora;

    b) Beta () fibras para o tato, presso e vibraes;

    c) Gama () fibras para o tnus do fuso muscular; e,

    d) Delta () so fibras finamente mielinizadas.

    Fibras B so fibras pr-ganglionares simpticas.

    Fibras C so fibras sem mielina, relacionadas com a dor.

    Existem dois tipos de fibras nervosas para o estmulo doloroso: so as

    fibras A e as fibras C. Quanto velocidade e transmisso, a dor pode ser rpida

    (que transmitida pelas fibras do tipo A, cuja velocidade varia de 12 a 30m/s).

    Exemplo: as fibras do trato neo-espinotalmico.

    J a dor lenta, transmitida pelas fibras do tipo C (com velocidade de 0,5

    a 2m/s). Exemplo: as fibras dos feixes pleo-espinotalmico e espino-reticular. Estes

    dois feixes so responsveis pela dor surda e desagradvel, correspondente a 80%

    das fibras que conduzem a dor. Estas fibras liberam peptdeos, dentre eles a

    substncia P (sP), no CPME.

    Assim como os feixes, as vsceras tambm apresentam nociceptores, os

    quais so responsveis pela dor chamada dor visceral (MENEZES, 1999).

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    45

    2.2.2.3 Estrutura do corno dorsal da Medula Espinhal

    Foi Rexed que, em 1954, estudando a medula espinhal do gato, props a

    diviso da substncia cinzenta em lminas ou camadas, numeradas, em algarismo

    romano, de I (um) a X (dez) (Figura 08).

    Segundo Menezes (1999), Roland descreveu a substncia gelatinosa

    (S.G.) nas lminas I e II. Porm, a maioria dos autores citam-na apenas na lmina II.

    A descoberta da SG no CPME de grande importncia no estudo no

    fenmeno da dor, pois nessa lmina que esto presentes os neurnios

    encefalinrgicos e GABArgicos e os receptores opiides.

    As lminas III, IV e V so formadas por neurnios que fazem parte dos

    feixes espino-cervical e espino-reticular, que tambm so vias de conduo do

    impulso doloroso. A lmina V aquela de determinao de fibras A e C, que

    recebem estmulos nocivos das lminas I e II, e tambm os que provm das

    vsceras. As lminas VI, VII e VIII tambm conduzem os estmulos de nocicepo. A

    lmina X fica em torno do canal central, possuindo neurnios encefalinrgicos e

    receptores opiides.

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    46

    Figura 08 Lminas de Rexed (adaptado de ZIGMOND et al., 1999)

    2.2.2.4 A conduo do impulso nervoso

    Os estmulos provenientes do meio externo geram potenciais de ao nos

    corpos celulares dos neurnios sensitivos que se propagam ao longo dos axnios

    que formam as sinapses com outros neurnios, modulando a informao at os

    centros superiores.

    Os impulsos dolorosos saem dos nociceptores localizados nas mais

    diversas estruturas, tais como a pele, os msculos, as articulaes, as vsceras, e

    vm pelos axnios dos neurnios sensitivos primrios, cujos corpos celulares

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    47

    formam os gnglios da raiz dorsal, terminando no CPME e transmitindo a informao

    a neurnios secundrios, tercirios, at o crtex somestsico.

    O estmulo doloroso proveniente dos receptores perifricos conduzido

    pelas fibras que transmitem a dor at as lminas I, II e V do CPME.

    O corpo do neurnio de 1 ordem est localizado no gnglio espinhal da

    raiz posterior dos nervos espinhais ou dos pares cranianos V, VI, VII, IX e X. O

    prolongamento central entra no CPME. Assim, o neurnio sensitivo primrio faz sua

    primeira sinapse nas lminas de Rexed.

    O sinal neuronal salta de um neurnio para o outro atravs da fenda

    sinptica, por meio da liberao das substncias que atuam nos receptores do

    axnio do neurnio subseqente (de 2 ordem), e assim para o de 3 ordem at o

    crtex cerebral.

    2.2.2.5 Vias ascendentes da conduo da dor

    Os estmulos nociceptivos que chegam medula espinhal so

    transferidos estrutura superior cerebral: crtex somestsico, atravs de vrios

    sistemas neurais compostos de fibras nervosas longas que so denominadas vias

    ascendentes da dor. Em relao ao nmero de vias que conduzem dor, existem

    controvrsias entre os mais renomados neuroanatomistas. Alguns consideram

    classicamente duas vias: uma formada pelo tracto neoespinotalmico (a mais nova

    filogeneticamente) e a outra pelo tracto paleoespinotalmico.

    Para melhor detalhamento e compreenso didtica, adotamos a

    classificao que consta na literatura atual de Manoel Jacobson Teixeira et al.

    (2001), a seguir:

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    48

    1) Tracto espinotalmico ainda existe controvrsia a respeito da origem das fibras

    desta via. Alguns estudos mostram que se originam nas lminas I e V, outros se

    referem s lminas I e IV, e ainda h estudiosos que conferem a origem desse tracto

    s lminas I, IV, V, VI e VII do CPME. A maioria destas fibras veicula estmulos

    nxicos e no-nxicos, alm de possurem pequenas quantidades de fibras

    nociceptivas especficas. A maioria delas se distribui contra-lateralmente, ou seja,

    cruza a linha mediana da medula espinhal.

    2) Tracto espinorreticular a exata origem das fibras deste tracto ainda no foi

    definida com preciso. Existem evidncias de que so originadas nas lminas VII e

    VIII da substncia cinzenta da medula espinhal. H fibras espinorreticulares

    homolaterais e contralaterais. Este sistema parece no ser fundamental para o

    processo sensitivo e discriminativo da dor, mas h evidncias que est envolvido

    com o fenmeno do despertar e contribui para manifestaes emocionais, afetivas e

    neurovegetativas associadas dor.

    3) Tracto espinomesenceflico tambm h indcios de que as fibras que compem

    este tracto originam-se nas lminas I e V. A maioria das fibras do tracto

    espinomesenceflico se distribui de forma contralateral.

    4) Tracto espinocervical as fibras deste tracto se originam nas lminas I, III e IV do

    CPME e projetam-se no tlamo e na formao reticular.

    5) Tracto ps-sinptico do funculo posterior e intracornual A origem deste tracto

    no est definida, contudo as fibras deste tracto parecem originar-se nas lminas IV,

    V e VI, ou ainda, III, IV e V do CPME (Figura 09).

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    49

    Figura 09 Vias ascendentes da dor (LENT, 2004)

    2.2.2.6 Mecanismos perifricos da dor

    Como sabido, os receptores da dor so distribudos praticamente por

    todos os tecidos do organismo, exceo feita ao Sistema Nervoso Central que, por

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    50

    mais paradoxal que seja, no h nociceptores neste nobre tecido; no entanto, eles

    esto presentes nos vasos sangneos cerebrais mais calibrosos e nas meninges.

    Existem nociceptores para os diferentes estmulos: mecnicos (ativados por intensa

    presso), termo-receptores (ativados pelo calor), qumicos e os receptores

    polimodais (aqueles que so ativados por estmulos qumicos, trmicos ou

    mecnicos de elevada intensidade).

    Quando um objeto perfurante pressiona a pele sem feri-la possvel

    sentir uma dor aguda e localizada, mas quando esse objeto a lesa, a sua retirada

    no impede que a pessoa sinta um segundo tipo de dor que dura algum tempo, tanto

    mais prolongada quanto maior for o ferimento. O primeiro tipo de dor que ocorreu se

    chama dor rpida ou dor aguda, enquanto que o segundo tipo chamada de dor

    lenta ou dor crnica. O que distingue a dor crnica da dor aguda no apenas a sua

    durao, mas a incapacidade do sistema nervoso em restabelecer a atividade

    neuronal em nveis homeostsicos (LOESER; MELZACK, 1999 apud VALE, 2000). A

    caracterstica da dor rpida consiste na ativao de maior quantidade de

    terminaes livres das fibras A, finas e amielnicas. A ao lesiva no tecido

    provocada por uma agulha, por exemplo, e por substncias qumicas liberadas aps

    a leso ativam ou sensibilizam os nociceptores constitudos por fibras livres do tipo C

    (que so tambm chamadas de receptores polimodais).

    A simples sensibilizao dos nociceptores provoca uma leve

    despolarizao do seu potencial de repouso aproximando do limiar de disparo de

    potenciais de ao. Isto faz com que um leve estmulo que, normalmente, no

    produziria dor, passe a faz-la. A este fenmeno d-se o nome de hiperalgia (LENT,

    2004). Quando um instrumento perfuro-cortante lesa a pele, naturalmente provoca

    sangramento, pois rompe vasos que irrigam o tecido, ocorrendo a anxia nesta

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    regio, conseqentemente leso celular e o aparecimento do processo inflamatrio

    logo aps. A inflamao costuma ser divida em trs fases: inflamao aguda, a

    resposta imune e a inflamao crnica. A inflamao aguda se refere resposta

    inicial; a leso tecidual mediada pela liberao de autacides tambm chamados

    de hormnios locais que so substncias produzidas no prprio local da inflamao,

    que precede o desenvolvimento da resposta imune. So mediadores da inflamao

    aguda so: histamina, Serotonina, Bradicinina, Prostaglandinas e Leucotrienos.

    Mediadores da inflamao crnica: interleucina 1, 2 e 3, Fator de Necrose Tumoral

    (TNF) e interferons (FURST; MUNSTER, 2003).

    Durante a leso, h a liberao de eritrcitos, plaquetas e leuccitos.

    Dentre estes, os leuccitos, encontram-se os mastcitos que so clulas produtoras

    e secretoras de substncias algognicas: a Serotonina, a Histamina, as clulas

    lesadas tambm produzem a Bradicinina (um peptdeo fortemente algognico) e

    substncias irritantes como os autacides (Prostaglandinas, Prostaciclinas e outros

    metablitos produzidos na cascata do cido araquidnico).

    Com a despolarizao dos nociceptores, h a produo, pelas prprias

    terminaes nervosas, de prostaglandinas e de neuropeptdeos, a exemplo da

    substncia P e do peptdeo relacionado com o gen da calcitonina (CGRP), os quais

    provocam vasoditalao local, eritema, com o prolongamento da dor e tambm

    causando edema. Essas aes provocam a reao inflamatria neurognica (Figura

    10).

    Aps a leso e, conseqentemente, o rompimento da membrana celular,

    ocorre a liberao de fosfolipdios.

    A partir desses fosfolipdios liberados e atravs da ao cataltica da

    fosfolipase A, h a formao do cido araquidnico, que o precursor dos

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    mediadores da inflamao, os eicosanides (prostaglandinas, tromboxanos e

    leucotrienos), os quais no so pr-formados nos tecidos, mas produzidos aps a

    ocorrncia da leso.

    Figura 10 Inflamao neurognica (LENT, 2004).

    A fosfolipase apresenta duas formas: uma encontrada no citossol e a

    outra, nos lquidos intracelulares. a forma intracelular que est implicada na

    produo dos mediadores da inflamao.

    Na reao em cadeia para a produo dos eicosanides, o cido

    araquidnico pode sofrer ao enzimtica por duas vias diferentes: a via da

    ciclooxigenase (COX) e a via da lipooxigenase (LOX).

    A Biossntese das Prostaglandinas, Postaciclinas e Tromboxanos a partir

    do cido araquidnico est resumida sob a forma de cascata de reaes

    bioqumicas multienzimticas, apresentada a seguir (Figura 11 e 12):

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    Figura 11 Via da Cicloxigenase: em azul, esto sinalizados os locais de ao dos AINES (adaptado

    de RANG; DALE; RITTER, 2001).

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    Figura 12 Biossntese dos Leucotrienos, a partir do cido araquidnico. Via da Lipoxigenase: em

    azul, est sinalizado o local de ao dos AINES (adaptado de RANG; DALE; RITTER, 2001).

    2.2.2.7 Vias descendentes controle da dor analgesia

    So os exemplos clssicos citados em quase toda a literatura que

    estudam a dor: o soldado ferido em uma batalha sente menos dor do que um

    indivduo com ferimento semelhante, ocorrido em acidente domstico (GUYTON,

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    1988; LENT, 2004), ou ainda, o exemplo do atleta que, em competio, sofre leses

    graves e s as percebe posteriormente (PINTO, 2000). So evidncias que

    comprovam a existncia de vias antinociceptivas ou analgsicas de um controle

    autnomo da dor.

    Estes sistemas endgenos de controle da dor podem ser ativados em

    diversas situaes: estresse, doenas, comportamento cognitivo ou mesmo pela

    prpria dor. O primeiro mecanismo de analgesia simples e atua logo na entrada

    nas fibras nociceptivas da medula; essas fibras formam sinapses com os neurnios

    de 2 ordem que esto no CPME. Esses neurnios recebem tambm sinapses

    inibitrias de interneurnios adjacentes que esto ativados pelas fibras A,

    conduzindo as informaes tteis. A conseqncia dessas ligaes funcionais

    dentro da medula que os impulsos tteis chegam medula ao mesmo tempo que

    os impulsos dolorosos, por suas vias respectivas. E os impulsos tteis podem inibir a

    transmisso sinptica entre o neurnio primrio nociceptivo e o neurnio de 2

    ordem, constituindo-se assim a 1 via do controle da dor (Figura 13a).

    A descoberta deste circuito neural serviu de base para a Teoria de Ronald

    Melzack e Patric Wall, conhecida como a Teoria da Comporta da Dor. Quem j no

    usou na prtica essa teoria, que nada mais do que aliviar a dor de um ferimento ou

    de um pequeno trauma por estimulao ttil, massageando ou comprimindo

    levemente a regio afetada?

    Um segundo mecanismo da dor (Figura 13b) descoberto logo aps a

    Teoria da Comporta, mostra que as sinapses moduladoras da dor no esto

    presentes somente na medula, mas tambm em outros nveis das vias nociceptivas,

    e que os circuitos inibitrios no se constituem apenas em fibras A. Hoje se sabe

    que existem vias descendentes moduladoras da dor que se originam no crtex

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    somestsico e no hipotlamo, projetando-se no mesencfalo, mais precisamente na

    substncia cinzenta periaquedutal (SCPA); e da para os ncleos da rafe, que se

    interligam ao CPME.

    Foi Reynolds que primeiramente demonstrou a participao dos

    mecanismos supra-espinhais, estimulando a SCPA do rato e obtendo uma analgesia

    profunda, fato que possibilitou a realizao de cirurgias abdominais no animal sem

    precisar usar anestsicos qumicos exgenos. Efeito semelhante pode ser obtido por

    estimulao do ncleo da rafe na formao reticular.

    A estimulao eltrica ou farmacolgica desses ncleos tem ao

    inibitria nociceptiva na medula, provocando o bloqueio da dor. Os sistemas

    inibitrios descendentes (cerebrais) caracterizam-se, principalmente, em duas vias

    descendentes: uma utiliza a -endorfina, a Serotonina e a Encefalina como

    mediadoras; enquanto que a segunda via parece ter efeitos inibitrios medulares

    pela estimulao -adrenrgica, que coincide com os efeitos analgsicos da

    clonidina, quando aplicada por via intratecal (BONNET et al., 1990; HAYASHI;

    MAZE, 1993 apud VALE, 2000).

    Os mecanismos inibitrios tambm podem ser segmentares, como ocorre

    no CPME. Neste nvel, a estimulao das terminaes aferentes primrias provoca a

    inibio da liberao dos neurotransmissores, principalmente da substncia P.

    (REISINE; PASTERNAK, 1996 apud VALE, 2000). Nesses casos, a analgesia obtida

    depende de uma ligao entre a substncia cinzenta periaquedutal ao ncleo magno

    da rafe, de onde saem fibras serotoninrgicas, indo pelo tracto espinhal do trigmeo

    e fascculo dorso-espinhal da medula, terminando em neurnios internunciais

    encefalinrgicos situados no ncleo do tracto espinhal do trigmeo e na substncia

    gelatinosa.

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    Os neurnios internunciais encefalinrgicos inibem as sinapses entre os

    neurnios primrios e secundrios da via da dor, atravs do opiide endgeno, a

    Encefalina (MACHADO, 2002).

    2.2.2.8 Receptores Opiides

    So substncias proticas transmembrnicas, nas quais os agentes

    agonistas opiides se acoplam. Pelo menos 4 receptores opiides foram

    descobertos e foram designados pelas letras gregas: (mi), (capa), (delta) e

    (sigma), sendo que este ltimo foi recentemente descoberto. Estudos posteriores

    evidenciaram que os trs primeiros receptores possuem subttulos assim

    descriminados: 1 e 2; 1, 2 e 3; 1 e 2 (MENEZES, 1999).

    Quanto localizao, os receptores so encontrados principalmente

    nas lminas I e II, tambm encontrados nas lminas V e X, sendo concentrados nas

    proximidades da SCPA e do crtex cerebral.

    Os receptores esto espalhados no CPME, em pequena quantidade,

    sem localizao bem definida; tambm esto presentes no hipotlamo e SCPA

    mesenceflica. Os receptores esto localizados principalmente nas lminas V e X,

    mas tambm podem ser encontrados nas lminas I e II, estando em pequena

    quantidade na regio cerebral. Os receptores esto localizados no crebro e em

    pequena quantidade na medula espinhal.

    O antagonista opiide clssico, a naloxona, age nos receptores e . Os

    analgsicos opiceos, que se fixam nos respectivos receptores, recebem a

    denominao de receptores , e , respectivamente. Desses, o mais importante e

    o mais estudado foi a morfina.

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    Para melhor entendimento, faremos um resumo dos receptores com suas

    aes e conseqncias sobre o organismo:

    Quando os receptores so estimulados produzem analgesia supra-

    espinhal, depresso respiratria, hipotermia, bradicardia, euforia, miose e

    dependncia fsica. A estes receptores se ligam as encefalinas, as -endorfinas e a

    morfina.

    Os receptores , por sua vez, quando estimulados, produzem analgesia

    espinhal, miose e sedao. A estes receptores se ligam as dinorfinas.

    Os receptores tambm quando estimulados, produzem analgesia,

    depresso cardaca e respiratria e euforia. A eles se ligam as encefalinas, que

    esto presentes na substncia gelatinosa (SG).

    Uma vez sendo estimulados, os receptores produzem analgesia,

    disforia, psicose e efeitos psicomimticos; ligam-se ainda a eles as substncias

    psicomimticas ou alucingenas.

    Figura 13a Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema perifrico (adaptado de

    CRAVO, 2005).

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    Figura 13b Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema endgeno central (adaptado de CRAVO, 2005).

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    Figura 13b Vias descendentes do controle da dor Analgesia Sistema endgeno central

    (adaptado de CRAVO, 2005).

    2.3 Drogas Analgsicas