TOXICOLOGIA

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3 1 INTRODUÇÃO A ANÁLISES TOXICOLÓGICAS De modo geral, toda e qualquer substância química é tóxica, variando de acordo com as condições e quantidade de exposição. Assim, é possível estabelecer limites de segurança para exposição aos agentes químicos no que se refere à garantia da saúde e integridade física humana, mas podendo se excluir os agentes potencialmente carcinogênicos e mutagênicos, que são extremanente nocivos, independentemente do nível de exposição. Desta forma, existem níveis máximos permitidos para a exposição humana aos agentes químicos, às quais devem ser mantidas sempre em condições seguras de uso e manuseio. Caso não seja possível manter o devido controle dos níveis de exposição dos agentes, o recomendado é que esses produtos químicos não sejam utilizados. É possível avaliar os níveis de toxicidade das substâncias químicas através de experimentos em animais, porém a seguridade da avaliação só poderá ser constatada com fidelidade quando aplicados em organismos humanos. Existem diretrizes éticas e regulamentadoras que restringem as substâncias que oferecem potencial perigo à saúde humana, sendo necessário, então, se guiar pelas recomendações e informações fornecidas por estudos clínicos e epidemiológicos especializados. No entanto, nem sempre essas informações estão disponibilizadas, principalmente no que diz respeitos a produtos químicos desenvolvidos

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toxicologia para o curso de farmácia

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1 INTRODUÇÃO A ANÁLISES TOXICOLÓGICAS

De modo geral, toda e qualquer substância química é tóxica,

variando de acordo com as condições e quantidade de exposição. Assim, é

possível estabelecer limites de segurança para exposição aos agentes

químicos no que se refere à garantia da saúde e integridade física humana,

mas podendo se excluir os agentes potencialmente carcinogênicos e

mutagênicos, que são extremanente nocivos, independentemente do nível de

exposição. Desta forma, existem níveis máximos permitidos para a exposição

humana aos agentes químicos, às quais devem ser mantidas sempre em

condições seguras de uso e manuseio. Caso não seja possível manter o devido

controle dos níveis de exposição dos agentes, o recomendado é que esses

produtos químicos não sejam utilizados.

É possível avaliar os níveis de toxicidade das substâncias químicas

através de experimentos em animais, porém a seguridade da avaliação só

poderá ser constatada com fidelidade quando aplicados em organismos

humanos. Existem diretrizes éticas e regulamentadoras que restringem as

substâncias que oferecem potencial perigo à saúde humana, sendo necessário,

então, se guiar pelas recomendações e informações fornecidas por estudos

clínicos e epidemiológicos especializados. No entanto, nem sempre essas

informações estão disponibilizadas, principalmente no que diz respeitos a

produtos químicos desenvolvidos recentemente, sendo necessário fazer testes

e constatações de toxicidade prioritariamente em animais, garantindo a coleta e

maior seguridade dos resultados da exposição aos agentes químicos em fase

experimental.

A confiabilidade pode ser estimada a partir dos testes em animais,

porém realizados com uma determinada frequência e avaliando-se diferentes

condições de aplicação e quantidade de exposição à substância submetida ao

experimento e pesquisa, evitando possíveis riscos e danos à saúde humana.

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1.2 Conceito

A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos dos agentes

químicos em interação com os organismos vivos, com a finalidade principal de

prevenir o aparecimento deste efeito, ou seja, estabelecer o uso seguro destas

substâncias químicas.Desta forma, essa área de estudo se ocupa da natureza

e dos mecanismos das lesões tóxicas e da avaliação quantitativa do espectro

das alterações biológicas produzidos pela exposição aos agentes químicos.

Os agentes tóxicos podem ser definidos como:

a) veneno, quando proveniente de animais que produzem a

substância para autodefesa ou caça; b) droga, diante da indefinição da

composição do agente, mas que causa efeitos no organismo; c) farmaco,

quando se possui estrutura química definida; d) antídoto, que possui o efeito de

anular ou minimizar os efeitos dos agentes tóxicos no organismo; e) ação

tóxica, em que se avalia os efeitos que os agentes produzem no organismo; f)

intoxicação, como efeito patológico resultante da atuação da substância no

organismo; g) xenobióticos, se apresentando como um elemento estranho ao

organismo, porém podem oferecer efeitos benéficos ou nocivos

1.3 Historico

Pode- se afirmar, que a cada época histórica teve seu agente tóxico

específico, e que os venenos desempenharam um importante papel na história,

seja com os fins positivos (caça, extermínio de pragas, medicamentos, etc.) ou

com fins criminais, o qual fez com que seu estudo, dos tóxicos, tenha se

desenvolvido gradual e paralelamente a estas práticas.

Desde o homem primitivo, ao longo da experiência acumulada do

contato humano com as elementos presentes no ambiente natural, já havia a

observação dos efeitos das substâncias no organismo, distinguindo-se o que é

nocivo ou o que poderia trazer efeitos benéficos. Com base no acumulo de

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conhecimento acerca dos efeitos das substâncias químicas sobre o organismo,

se foi atribuindo especifidades para seu uso em diversas finalidades.

Na Idade Antiga e Média, os agentes tóxicos eram utilizados para

fins religiosos, médicos, legais (punitivas) e criminais. Passando pelo período

da renascença, começou-se os experimentos com os agentes tóxicos, dando

origem à exploração científica dessas substâncias. Posteriormente, com a

Revolução Industrial, deu-se origem aos estudos toxicológicos no ambiente de

trabalho.

Com o passar do tempo, mais precisamente após a Segunda

Grande Guerra, os efeitos dos componentes tóxicos tomaram uma dimensão

relevante no ambiente do trabalhado, nas diversas áreas dos saberes humanos

e da sociedade em geral. Essa época se experimentou notável

desenvolvimento, deixando de ser apenas a ciência envolvida com o aspecto

forense, e sim uma ciência voltada também para o desenvolvimento das

tecnologias.

Hoje a ênfase é voltada a avaliação da segurança e risco na

utilização de substâncias químicas, como também à aplicação de dados

gerados em estudos ligados aos agentes químicos como base para o controle

regulatório de substâncias químicas nos alimentos, no ambiente das

residências, nos locais de trabalho entre outros. No Brasil, a resolução 1/88 do

Conselho Nacional de Saúde estabeleceu normas a serem seguidas para os

ensaios pré-clínicos e clínicos. A obrigatoriedade de ensaios de substâncias

químicas que trazem danos à saúde é válida também para substâncias

pertencentes a outras categorias tipo agrotóxicos, domissanitários e aditivos

alimentares, com as quais o homem entra em contato como usuário ou durante

o processo de fabricação, ou no manuseio dessas substâncias em seu

ambiente de trabalho, como no caso em estudo dos postos de combustíveis.

Sua regulamentação é feita principalmente pelo Ministério da Saúde, Ministério

da Agricultura e IBAMA.

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1.4 Áreas

A toxicologia é abordade por especialistas de diferentes áreas de

formação profissional, cada um oferecendo as contribuições peculiares de

acordo com as respectivas especialidades, permitindo, dessa forma, o

aprimoramento constante dos conhecimentos e avanços com contribuição

mútua das diversas áreas de atuação como:

Química Toxicológica – aplicada ao estudo dos componentes

químicos dos agentes tóxicos; Toxicologia Farmacológica – que se ocupa do

estudo dos níveis de toxidade dos medicamentos; Clínica - dedicada ao estudo

de identificação dos sinais clínicos sobre os efeitos da intoxicação, orientando

os devidos tratamentos; Forense – relativo aos estudos de intoxicação no seu

aspecto “médico-legais”, identificando e apresentando a causa mortis para a

justiça e eventuais motivações criminais; Ocupacional – dedicada ao estudo

dos riscos de intoxicação no ambiente de trabalho; Veterinária – dedicada ao

estudo dos efeitos dos agentes tóxicos sobre os animais; Ambiental

(Ecotoxicologia) – que estuda os impactos ambientais causados pela emissão

dos agentes tóxicos no ambiente e como elas afetam o organismo humano;

Aplicada a Alimentos – que avalia os efeitos adversos produzidos por agentes

químicos, contaminantes ou naturais, presentes nos alimentos; Genética –

indentificando os efeitos tóxicos sob o material genético do organismo;

Analítica – dedicada à análise dos agentes tóxicos, coletando dados sobre sua

toxicidade, sua concentração tóxica e efeitos no metabolismo; Experimental e

outras áreas.

1.5 Objetivos

Os objetivos dos estudos toxicológicos podem variar de acordo com

a área de atuação em que essa ciência está sendo utilizada, por ser um tema

de abrangência multidisciplinar. Porém, de modo geral, essa ciência tem como

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foco de estudo a observação dos diversos efeitos das substâncias químicas

sobre os organismos vivos, sendo eles humanos, animais ou do reino vegetal,

de acordo com o foco de atuação.

A interação conjunta dos diversos campos de estudos em torno da

toxicologia são essenciais para se poder atingir os objetivos de previnir,

diagnosticar e tratar os efeitos tóxicos sobre os organismos.

1.6 Elementos Básicos

Existem 3 elementos básicos a serem considerados na toxicologia,

são eles:

1) o agente químico (AQ), ou seja, a substância capaz de produzir um

efeito sob o organismo, causando alterações no regimento ou seu

funcionamento;

2) o sistema biológico (SB), ou seja, a espécie do organismo ou os

órgãos específicos do bioma afetado, com o qual o AQ interage, produzindo um

efeito determinado;

3) os resultados dos efeitos dos agentes químicos sob o sistema

biológico, como elemento final para se verificar as diversas especificidades

características do tóxico em contato o organismo.

1.7 Classificação Dos Agentes Tóxicos

Os agentes tóxicos (AT) são definidos como quaisquer substâncias

que produzam efeitos tóxicos nos organismo diante do seu contato, isto é, que

cause alteração funcional ou óbito. A maior parte das substâncias químicas

consideradas como AT são de origem exógenas e identificadas por sua

xenobióticidade.

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A variar de acordo com critérios utilizados, é possivel se apresentar

uma diversidade de modos de classificação dos agentes tóxicos. Pode-se

classificar os Ats de acordo com suas características físicas, químicas ou pelo

tipo de ação tóxica que a substância proporciona.

As características físicas dos agentes tóxicos podem estar

manifestada nos estados: a) gasoso, como fluídos disformes sob condições

normais de temperatura e pressão, a exemplo do CO, NO, NO2, O3, etc.; b)

vapores, que possuem as mesmas características das substâncias gasosas,

porém que assumem o estado sólido ou líquido em condições ambientais

normais, como os produzidos pela volatização de solventes orgânicos a

exemplo do benzeno, tolueno, xileno, entre outros; c) em partículas ou

aerodispersóides, caracterizados por serem fragmentos microscópicos em

estado sólido ou líquido, como a poeira e fumaça.

A respeito das características químicas, a referência para a

classificação dos agentes tóxicos é sua estrutura química, destacando-se como

exemplo os halogêneos, produtos alcalinos, hidrocarbonetos alifáticos ou

aromáticos, metais, entre outros.

A classificação da ação tóxica, é destacado o modo que a

substância atua sob o organismo ou em algum órgão ou sistema funcional

específico. Neste caso, os critérios de classificação verifica se o agente

químico é, por exemplo: Nefrotóxico (que afeta os rins), Neurotóxico (ataca o

sistema nervoso), Hepatotóxico (atua sob o fígado), Hematopoiético (age no

sangue), ou ainda, se é carcinogênico (AS), mutagênico (Aflatoxina) e

teratogênico (Isotretinoina).

1.8 Fases De Intoxicação

É um conjunto de efeitos nocivos representado pelos sinais e

sintomas que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação de

agente químico com o sistema biológico.

Fase de Exposição: corresponde ao contato do agente tóxico com o organismo;

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Fase de Toxico-cinética: consiste no movimento do AT dentro do organismo;

Fase Toxico-dinâmica: corresponde à ação do AT no organismo;

Fase Clínica: corresponde à manifestação clínica dos efeitos resultantes da

ação tóxica no organismo.

1.9 Divisão

A toxicologia pode ser dividida nas categorias analítica, clínica e

experimental, em que:

a toxicologia analítica é responsável por detectar o agente químico ou

seus meios de propagação, seja ele através da água, ar, através dos

alimentos, etc.;

a toxicologia clínica se ocupa com a detecção dos sintomas dos agentes

tóxicos no organismo e com a aplicação dos devidos procedimentos

terapêuticos para tratamento para combater os danos causados pela

substância específicada;

a toxicologia experimental se encarrega de estudar os mecanismos de

atuação dos agentes tóxicos sobre o organismo.

Esses três setores possuem relativa autonomia de estudo, de acordo

com suas próprias especificações, mas se interelacionam por sua

complementariedade mútua, sendo essa dinâmica fundamental para o

desenvolvimento dos estudos gerais em toxicologia, possibilitando um contínuo

avanço nas descobertas, desenvolvimento de tecnologias e aprimoramentos

teóricos e técnicos.

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CONCLUSÃO

Considerando que todos as substâncias existentes são toxicas em

determinadas condições e quantidades, a toxicologia se mostra de fundamental

importância por ser a área que se ocupa de estudar e identificar as

características gerais dos agentes tóxicos, possibilitando o desenvolver

tratamentos adequados para combater ou minimizar os sintomas de

intoxicação.