Trab Africa

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Introdução | O tráfico de escravos | O comércio triangular | A luta pela abolição da escravatura | A partilha da África | O Congresso de Berlim | A reação dos africanos | A descolonização | Os partidos e movimentos africanos | Dificuldades africanas | Principais países, líderes, movimentos e partidos africanos | Bibliografia África Negra (colonização, escravidão e independência) Introdução O Continente africano limita-se ao Norte pelo Mar Mediterrâneo, ao Oeste pelo Oceano Atlântico e ao Leste pelo Oceano Índico. De uma maneira simplificada podemos dividi-lo em duas zonas absolutamente distintas: o centro- norte é dominado pelo imenso deserto do Saara (8.600.000 de km2), enquanto que o centro-sul, depois de percorrer-se as savanas, é ocupado pela floresta tropical africana. Esta separação geográfica também refletiu-se numa separação racial. No Norte do continente habitam os árabes, os egípcios, os berberes e os tuaregues (sendo que esse dois últimos são os que praticam o comércio transaarino). No centro-sul, ao contrário, habitam mais de 800 etnias negras africanas. Atribui-se ao atraso da África meridional ao isolamento geográfico que a população negra encontrou-se através dos séculos. Afastada do Mediterrâneo - grande centro cultural da Antigüidade - pelo deserto do Saara, e longe dos demais continentes pela dimensão colossal dos dois oceanos, o Atlântico e o Índico. Apartados do resto do mundo, os africanos se viram vítimas de expedições forâneas que lhes devoravam os filhos ao longo da história. Mesmo antes da chegada dos traficantes de escravos europeus, os árabes já praticavam o comércio negreiro, transportando escravos para a Arábia e para os mercados do Mediterrâneo oriental, para satisfazer as exigências dos sultões e dos xeques. As guerras tribais africanas, por sua vez, favoreciam esse tipo de comércio, visto que a tribo derrotada era vendida aos mercadores.

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Introdução | O tráfico de escravos | O comércio triangular | A luta pela abolição da escravatura | A partilha da África | O Congresso de Berlim | A reação dos africanos | A descolonização | Os partidos e movimentos africanos | Dificuldades africanas | Principais países, líderes,

movimentos e partidos africanos | Bibliografia

África Negra(colonização, escravidão e independência)

Introdução

O Continente africano limita-se ao Norte pelo Mar Mediterrâneo, ao Oeste pelo Oceano Atlântico e ao Leste pelo Oceano Índico. De uma maneira simplificada podemos dividi-lo em duas zonas absolutamente distintas: o centro-norte é dominado pelo imenso deserto do Saara (8.600.000 de km2), enquanto que o centro-sul, depois de percorrer-se as savanas, é ocupado pela floresta tropical africana.

Esta separação geográfica também refletiu-se numa separação racial. No Norte do continente habitam os árabes, os egípcios, os berberes e os tuaregues (sendo que esse dois últimos são os que praticam o comércio transaarino). No centro-sul, ao contrário, habitam mais de 800 etnias negras africanas. Atribui-se ao atraso da África meridional ao isolamento geográfico que a população negra encontrou-se através dos séculos. Afastada do Mediterrâneo - grande centro cultural da Antigüidade - pelo deserto do Saara, e longe dos demais continentes pela dimensão colossal dos dois oceanos, o Atlântico e o Índico. Apartados do resto do mundo, os africanos se viram vítimas de expedições forâneas que lhes devoravam os filhos ao longo da história.

Mesmo antes da chegada dos traficantes de escravos europeus, os árabes já praticavam o comércio negreiro, transportando escravos para a Arábia e para os mercados do Mediterrâneo oriental, para satisfazer as exigências dos sultões e dos xeques. As guerras tribais africanas, por sua vez, favoreciam esse tipo de comércio, visto que a tribo derrotada era vendida aos mercadores.

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O tráfico de escravos

Durante os primeiros quatro séculos - do século 15 a metade do 19 - de contato dos navegantes europeus com o Continente Negro, a África foi vista apenas como uma grande reserva de mão-de-obra escrava, a “madeira de ébano” a ser extraída e exportada pelos comerciantes. Traficantes de quase todas as nacionalidades montaram feitorias nas costas da África. As simples incursões piratas que visavam inicialmente atacar de surpresa do litoral e apresar o maior número possível de gente, foi dando lugar a um processo mais elaborado.

Os mercadores europeus, com o crescer da procura por mão-de-obra escrava, motivada

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pela instalação de colônias agrícolas na América, associaram-se militarmente e financeiramente com sobas e régulos africanos, que viviam nas costas marítimas, dando-lhes armas, pólvora e cavalos para que afirmassem sua autoridade numa extensão a maior possível. Os prisioneiros das guerras tribais eram encarcerados em “barracões”, em armazéns costeiros, onde ficavam a espera da chegada dos navios tumbeiros ou negreiros que os levariam como carga humana pelas rotas transatlânticas.

Os principais pontos de abastecimento de escravos, pelos menos entre os séculos 17 e 18 eram o Senegal, Gâmbia a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. O delta do Níger, o Congo e Angola serão grandes exportadores nos séculos 18 e 19. Quantos escravos foram afinal transportados pelo Atlântico? Há muita divergência entre os historiadores, alguns chegaram a projetar 50 milhões, mas R. Curtin (in The Atlantic slave trade: A census, 1969) estima entre 9 a 10 milhões, a metade deles da África Ocidental, sendo que o apogeu do tráfico ocorreu entre 1750 a 1820, quando os traficantes carregaram em média uns 60 mil por ano. O tráfico foi o principal responsável pelo vazio demográfico que acometeu a África no século 19.

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O comércio triangular

Desta forma inseriram a África Negra no comércio triangular basicamente como fornecedora de mão-de-obra escrava para as colônias americanas e antilhanas. O destino dos barcos negreiros eram os portos da Jamaica, Baamas, Haiti, Saint- Eustatius, Saba, Saint-Martin, Barbuda e Antigua, Guadalupe, Granada, Trinidad & Tobago, Bonaire, Curaçao e Aruba. Das Antilhas partiam outras levas em direção às Carolinas e à Virgínia nos Estados Unidos. Outras dirigiam-se ao Norte e Nordeste do Brasil, à Bahia e ao Rio de Janeiro. Os escravos eram empregados como “carvão humano” nas grandes plantações de açúcar e tabaco que se espalhavam do Leste brasileiro até as colônias do Sul dos Estados Unidos: do Rio de Janeiro até a Virgínia.

Enquanto a Europa importava produtos coloniais, trocava suas manufaturas (armas, pólvora, tecidos, ferros e rum) por mão-de-obra vinda da África. Os escravos eram a moeda com que os europeus pagavam os produtos vindos da América e das Antilhas para não precisar despender os metais preciosos, fundamento de toda a política mercantilista. Tinham pois, sob ponto de vista economico uma dupla função: eram valor de troca (dinheiro) e valor de uso (força de trabalho).

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A luta pela abolição da escravatura

Um dos capítulos mais apaixonantes, polêmicos e gloriosos, da história moderna foi o que conduziu à abolição do trafico negreiro e a total supressão da escravidão no transcorrer do século 19. A primeira reação contra a escravidão ocorreu no século 18, partindo de uma seita protestante radical, os Quakers. Eles consideravam-na um pecado

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e não podiam admitir que um cristão tirasse proveito dela. Enviaram, em 1768, ao parlamento de Londres uma solicitação pedindo o fim do tráfico de escravos. Pouco depois, John Wesley, o fundador do movimento metodista, pregou contra a escravidão (Thoughts upon Slavery, 1774) afirmando que preferia ver a Índias Ocidentais (como eram denominadas as colônias antilhanas inglesas) naufragarem do que manter um sistema que “violava a justiça, a misericórdia, a verdade”.

Economistas ilustrados também entraram na luta. Tanto os Fisiocratas franceses como Adam Smith, o pai do capitalismo moderno, (in Wealth os the Nations, 1776) afirmaram que a escravidão era deficitária na medida que empregava uma enorme quantidade de capital humano que produzia muito aquém daquele gerado por homens livres. Viam-na como parte de um sistema de monopólio e privilégio especial, onde um homem desprovido de liberdade não tinha nenhuma oportunidade de garantir a propriedade do que quer que fosse e que seu interesse em trabalhar era o mínimo possível. Assim a escravidão só podia sobreviver pela violência sistemática do amo sobre o cativo. Anterior a ele, nas colônias americanas, Benjamin Franklin foi o primeiro homem moderno a submeter a instituição da escravidão a uma analise contábil, concluindo também que um escravo era muito mais caro do que um trabalhador livre (The Papers of B.Franklin, 1751). Alexis de Tocqueville, o grande pensador liberal francês, que visitou os Estados Unidos, deixou páginas memoráveis no seu A Democracia na América, de 1835, ao fazer a comparação entre os estados escravistas (povoados por brancos indolentes e negros paupérrimos) e aqueles que mantinham o trabalho livre, ativos e industriosos.

No plano filosófico ela foi repudiada na obra de Montesquieu (L’esprit de les Lois, livro. XV,1748), onde afirmou que “a escravidão, por sua natureza, não é boa: não é útil nem ao senhor nem ao escravo: a este porque nada pode fazer de forma virtuosa; aquele porque contrai dos seus escravos toda a sorte de maus hábitos... porque se torna orgulhos, irritável, duro, colérico, voluptuoso e cruel. (...) os escravos são contra o espirito da constituição, só servem para dar aos cidadãos um poder e um luxo que não devem ter.”

Mais radical do que ele foi o pensamento de J.J. Rousseau (in Le Contrat Social, 1762) para quem “os homens haviam nascido livres e iguais” e que a renuncia da liberdade eqüivalia a renúncia da vida. Como a escravidão repousava sempre a força bruta “...os escravos não tinham nenhuma obrigação ou dever para com os seus amos”.

Apesar de Condorcet lamentar que só uns poucos filósofos “atreveram-se de vez enquanto a soltar um grito a favor da humanidade”, a soma das pressões religiosas, econômicas, filosóficas e morais começaram a surtir efeito. O Século das Luzes, como o século 18 foi chamado, terminou por condenar a escravidão como atentatória à dignidade do homem, A Revolução Francesa de 1789 aboliu com a escravidão nas colônias francesas por acreditá-la incompatível com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Napoleão, porém, mais tarde, restaurou-a. Mas em 1848 ela foi finalmente reafirmada.

Na Inglaterra o abolicionismo encontrou respaldo num grupo militante chamado de “Os Santos” (The Saints), que organizaram, em 1787, sob liderança de William Wilberforce, a Sociedade anti-escravista (Anti-slavery Society). Graças as suas batalhas parlamentares contra os interesses escravistas das cidades portuárias de Liverpool e

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Bristol, Wilberforce conseguiu fazer aprovar a lei de 1807 que proibia o tráfico negreiro.

Depois de uma série de leis intermediárias, a abolição completa da escravidão nas colônias ingleses ocorreu em agosto de 1834 (Slavery Abolition Act) que libertou 776 mil homens, mulheres e crianças. Nesse ínterim a Inglaterra havia declarado guerra aberta ao tráfico. Nenhum barco negreiro poderia mais singrar os oceanos sem ser vistoriado (Aberdeen Act). Se fosse capturado os escravos deveriam ser devolvidos. Por pressão inglesa, o Brasil finalmente concordou em abolir com o tráfico pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Mesmo assim continuou recebendo, em desembarques clandestinos, braços contrabandeados, o que gerou sérios atritos com a marinha inglesa.

Na verdade, a razão material primeira da abolição foi a emergência da sociedade industrial, surgida pelos efeitos sócio-econômicos provocados pela introdução da máquina a vapor no processo produtivo.. Essa sociedade, que se expanda a partir do século 18, produzia mercadorias em série para consumo em massa. Uma comunidade de escravos não consome pois não ganha salários. Houve então um conflito estrutural e ideológico entre a crescente e poderosa sociedade industrial, que requeria mercados livres e trabalho assalariado, com a política mercantilista de mercados cativos e mão-de-obra escrava.(*)

(*) Esta abordagem, que afirma ser a escravidão anti-econômica sob prisma moderno, continua gerando polêmica. Historiadores econômicos conservadores norte-americanos, como R.W.Fogel, insistem em afirmar que a escravidão não era incompatível com a industrialização. Apresentando uma série de abordagens pontuais demonstrando a prosperidade de certos setores industrias sulistas.

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A partilha da África

A partir do momento que o continente africano não podia mais fornecer escravos, o interesse das potências colônias inclinou-se para a sua ocupação territorial. E isso deu-se por dois motivos, O primeiro deles é que ambicionavam explorar as riquezas africanas, minerais e agrícolas, existentes no hinterland, até então só parcialmente conhecidas. O segundo deveu-se à competição imperialista cada vez maior entre elas, especialmente após a celebração da unificação da Alemanha, ocorrida em 1871. Por vezes chegou-se a ocupar extensas regiões desérticas, como a França o fez no Saara (chamando-a de França equatorial), apenas para não deixa-las para o adversário.

Antes da África ser dominada por funcionários metropolitanos, a região toda havia sido dividida entre várias companhias privadas que tinham concessões de exploração. Assim a Guiné estava entregue a uma companhia escravista francesa. O Congo, por sua vez, era privativo da Companhia para o Comércio e Industria, fundada em 1889, que dividia-o com a companhia Anversoise, de 1892 .O Alto Níger era controlado pela Companhia Real do Níger, dos britânicos. A África Oriental estava dividida entre uma companhia alemã, dirigida por Karl Peters, e uma inglesa, comandada pelo escocês W.Mackinnon. Cecil Rhodes era o chefe da companhia sul-africana que explorou a atual Zâmbia e

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Zimbawe, enquanto o rei Leopoldo II da Bélgica autorizava a companhia de Katanga a explorar o cobre do Congo belga.

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O Congresso de Berlim

Atendendo ao convite do chanceler do II Reich alemão, Otto von Bismarck, 12 países com interesse na África encontraram-se em Berlim - entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885 -, para a realização de um congresso. O objetivo de Bismarck é que os demais reconhecessem a Alemanha como uma potência com interesses em manter certas regiões africanas como protetorados. Além disso acertou-se que o Congo seria propriedade do rei Leopoldo II da Bélgica (responsável indireto por um dos mais terríveis genocídios de africanos), convertido porém em zona franca comercial. Tanto a Alemanha, como a França e a Inglaterra combinaram reconhecimentos mútuos e acertaram os limites das suas respectivas áreas. O congresso de Berlim deu enorme impulso à expansão colonial, sendo complementado posteriormente por acordos bilaterais entre as partes envolvidas, tais como Convênio franco-britânico de 1889-90, e o Tratado anglo-germânico de Heligoland, de 1890. Até 1914 a África encontrou-se inteiramente divida entre os principais países europeus (Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal e Alemanha). Com a derrota alemã de 1918, e obedecendo ao Tratado de Versalhes de 1919, as antigas colônias alemãs passaram à tutela da Inglaterra e da França. Também, a partir desse tratado, as potências comprometeram-se a administrar seus protetorados de acordo com os interesses dos nativos africanos e não mais com os das companhias metropolitanas. Naturalmente que isso ficou apenas como uma afirmação retórica.

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A reação dos africanos

A conquista da África foi entremeada de tenaz resistência nativa. A mais célebre delas foram as Guerras Zulus, travadas no século 19 pelo rei Chaka (que reinou de 1818 a 1828) na África do Sul, contra os ingleses e os colonos brancos boers. Entrementes, os colonizadores começaram a combater as endemias e doenças tropicais que dificultavam a vida dos europeus através do saneamento e da difusão da higiene. A África era temida pelas doenças tropicais: a febre amarela, a malária e a doença do sono, bem como da lepra. O continente, igualmente, ocupado por missões religiosas, tanto católicas como protestantes. Junto com o funcionário colonial, o aventureiro, o fazendeiro, e o garimpeiro branco, afirmou-se lá, em caráter permanente, o padre ou o pastor pregando o evangelho.

Essa ocupação escancarada provocava amargura entre os africanos que se sentiam inferiorizados e impotentes perante a capacidade administrativa, militar e tecnológica, do colonialista europeu. Já na metade do século 19, o afro-americano Edward W. Blyden, que emigrara para a Libéria em 1850, descontente com a perda da auto-estima

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dos negros, proclamava a existência de uma “personalidade africana” com méritos e valores próprios, contraposta a dos brancos. E, imitando James Monroe, lançou o slogan “África para os africanos!”.

Em 1919 reuniu-se em Paris, o 1º Congresso Pan-africano, organizado pelo intelectual afro-americano W.E.B. Du Bois. Reivindicou ele um Código Internacional que garantisse, na África tropical, o direito dos nativos, bem como um plano gradual que conduzisse à emancipação final das colônias. Conquanto que, para os negros americanos, era solicitado a aplicação dos direitos civis (que só foram finalmente aprovados pelo congresso dos E.U.A. em 1964!).

O último congresso Pan-africano, o 5º, reuniu-se em Manchester, na Inglaterra, em 15-18 de outubro de 1945, tendo a presença de Du Bois, Kwane Nkurmah, futuro emancipador da Ghana, e Jomo Kenyatta, o líder da Quênia. Trataram de aclamar a necessidade da formação de movimentos nacionalistas de massas para obterem a independência da África o mais rápido possível.

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A descolonização

 A descolonização tornou-se possível no após-1945 devido a exaustão em que as antigas potências coloniais se encontraram ao terem-se dilacerado em seis anos de guerra mundial, de 1939 a 1945. Algumas delas, como a Holanda, a Bélgica e a França, foram ocupados pelos nazistas, o que acelerou ainda mais a decomposição dos seus impérios no Terceiro Mundo. A guerra também as fragilizou ideologicamente: como podiam elas manter que a guerra contra Hitler era uma luta universal pela liberdade contra a opressão se mantinham em estatuto colonial milhões de asiáticos e africanos?

A Segunda Guerra Mundial se debilitou a mão do opressor colonial, excitou o nacionalismo dos nativos do Terceiro Mundo. Os povos asiáticos e africanos foram assaltados pela impaciência com sua situação jurídica de inferioridade, considerando cada vez mais intolerável o domínio estrangeiro. Os europeus, por outro lado, foram tomados por sentimentos contraditórios de culpa por manterem-nos explorados e sob sua tutela, resultado da influencia das idéias filantrópicas, liberais e socialistas, que remontavam ao século 18. Haviam perdido, depois de terem provocado duas guerras mundiais, toda a superioridade moral que, segundo eles, justificava seu domínio.

Quem por primeiro conseguiu a independência foram os povos da Ásia (começando pela Índia e Paquistão, em 1946). A maré da independência atingiu a África somente em 1956. O primeiro pais do Continente Negro a conseguí-la foi Ghana, em 1957. Em geral podemos separar o processo de descolonização africano em dois tipos. Aquelas regiões que não tinham nenhum produto estratégico (cobre, ouro, diamantes ou petróleo) conseguiram facilmente sua autonomia, obtendo-a por meio da negociação pacífica. E, ao contrário, as que tinham um daqueles produtos, considerados estratégicos pela metrópole, explorados por grandes corporações, a situação foi diferente (caso do petróleo na Argélia e do cobre no Congo belga). Neles os colonialistas resistiram aos movimentos autonomistas, ocorrendo movimentos de guerrilhas para expulsá-los.

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Os partidos e movimentos africanos

Apesar da existência de 800 etnias e mais de mil idiomas falados na África, podemos encontrar alguns denominadores comuns entre os partidos e movimentos que lutaram pela descolonização. O primeiro deles é de que todos eles ambicionavam a independência, conquistada tanto pela vertente de radicalismo revolucionário ou através do reformismo moderado, que tanto podia implantar uma republica federativa como uma unitária.

Em geral, os partidos optaram pelo centralismo devido a dificuldade em obter consenso entre tribos rivais. Esse centralismo é geralmente assumido pelo próprio líder da emancipação, (como Nkrumah em Ghana) pelo partido único (ou “partido dominante” como definiu-o Leopold Senghor, do Senegal) ou ainda, por um ditador militar (como Idi Amin Dada em Uganda, ou Sese Seko Mobuto no Zaire). A negritude (movimento encabeçado por Aimé Césaire, um poeta martinicano, e pelo presidente senegalês Leopold Senghor) foi também um ponto em comum, marcadamente entre os países afro-francofônicos, que exaltavam as qualidades metafísicas dos africanos. Finalmente todos manifestavam-se a favor do pan-africanismo como uma aspiração de formar governos “por africanos e para africanos, respeitando as minorias raciais e religiosas”.

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Dificuldades africanas

Na medida em que em toda a história da África anterior ao domínio europeu, desconhecia-se a existência de estados-nacionais, segundo a concepção clássica (unidade, homogeneidade e delimitação de território), entende-se a enorme dificuldade encontrada pelas elites africanas em constituí-los em seus países. Existiam anteriormente na África, impérios, dinastias governantes, milhares de pequenos chefes e régulos tribais, mas em nenhuma parte encontrou-se estados-nacionais. O que havia era uma intensa atomização política e social, um facciosismo crônico, resultado da existência de uma infinidade de etnias, de tribos, quase todas inimigas entre si, de grupos lingüísticos diferentes (só no Zaire existem mais de 40), e de incontáveis castas profissionais. O fim da Pax Colonialis, seguida da independência, provocou, em muitos casos, o afloramento de antigos ódios tribais, de velha rivalidades despertadas pela proclamação da independência, provocando violentas guerras civis (como as da Nigéria, do Congo e, mais recentemente, as da Angola, Moçambique, Ruanda, Burundi, Serra Leoa e da Libéria).

Essas lutas geraram uma crônica instabilidade em grande parte do Continente que contribuiu para afastar os investimentos necessários ao seu progresso. Hoje a África, com exceção da África do Sul, Nigéria e o Quênia, encontra-se praticamente abandonada pelos interesse internacionais. Os demais parecem ter mergulhado numa interminável guerra tribal, provocando milhões de foragidos (na África estão 50 % dos refugiados do globo) e um número incalculado de mortos e feridos. É certamente a parte

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do mundo onde mais guerras são travadas. Como um incêndio na floresta, encerra-se a luta numa região para logo em seguida arder uma mais trágica ainda logo adiante.

De certa forma todos os povos pagam pelos seus defeitos culturais. Neste sentido o arraigado tribalismo africano é o grande impedimento para concretizar a formação de um estado-nacional estável. Enquanto as massas negras não conseguirem superar as rivalidades internas dificilmente poderão formar regimes sólidos, íntegros, que superem a dicotomia entre ditadura ou anarquia tribal. A grande geração que conseguiu a independência, homens como K.Nkrumah, Jomo Kenyatta, Agostinho Neto, Samora Machel, Kenneth Kaunda, Julius Nyerere, Leopold Senghor ou Nelson Mandela estão mortos ou envelheceram. Nenhum dos sucessores desses grandes homens, têm conseguido o respeito da população e o carisma necessário para manter seus respectivos países unidos. Em muitos casos eles foram substituídos por chefes dominados por interesses localistas e familiares, de visão estreita, sem terem o sentido de abrangerem o restante dos seus cidadãos. É hora pois dos líderes africanos pararem de jogar pedras sobre o passado colonial e assumirem a responsabilidade pelo destino dos povos que ajudaram a emancipar.

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Principais países, líderes, movimentose partidos africanos (*)

País Líder Movimento/PartidoData da

Independência

Angola Agostinho NetoMovimento p/libertação de Angola (MPLA)

1975

África do Sul Nelson MandelaAfrican National Congress (ANC)

1994

Costa do Marfim

Pelix Houphouet-Boigny

Reunião democratica africana 1957

Ghana Kwame Nkrumah Convention Peopel’s Party 1957

Guiné Sekú TuréPartido Democrático da Guiné (PDG)

1958

Madagascar TsiaranaMovimento democrático da renovação malgache

1960

MalawiHastings Kamuzu Banda

Malawi Congress Party 1961

Moçambique Samora MachelFrente de libertação de Moçambique(FRELIMO)

1975

Nigéria Benjamin N. Azikiwé National Concil of Nigeria and 1960

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Camerun

Quênia Jomo KenyattaMau-mau/ Kenya central association

1963

Senegal Leopold SenghorBloque democratique senegalien

1948

Tanzânia Julius NyerereTanganica African National Union/Zanzibar

1964

ZaireJoseph Kasavubu/Patrice Lumumba

Movimento “Abako” 1960

Zimbawe Robert MugabeZimbawe African NationalUnion (ZANU)

1980

(*) A África independente compõem-se de 48 países

África Negra(colonização, escravidão e independência)

Bibliografia

Coquery-Vidrovitch, C. - Moniot, H. - Africa Negra, de 1800 a nuestros dias, Nueva Clio, Barcelona, 1985

Bertaux, Pierre - Africa: desde la préhistoria hasta los Estados atuales - Siglo XXI, México, 1978, 4ª ed.

Davidson, Basil - Mãe negra. África, os anos de provação - Livraria Sá Costa editores, Lisboa, 1978.

Davis, David Brion - El problema de la esclavitud en la cultura Occidental - Editorial Paidós, Buenos Aires, 1968

Ferro, Marc - História das Colonizações - Companhia das letras, São Paulo, 1996

Fieldhouse, David K. - Los imperios coloniales desde el siglo XVIII - Siglo XXI, México, 1984, 2ª ed.

Fontes, M - Evan-Pritcherd, E.E. - Sistemas políticos africanos - Fundação Caloustre Gulbenkian, Lisboa, 1981

Freitas, Décio - Escravos e senhores-de-escravos, Universidade de Caxias do Sul- Escola Superior S.Lourenço de Brindes,1977

Genovese, Eugene - A economia política da escravidão - Pallas, editora, Rio de Janeiro,

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1976

Gorender, Jacob - O escravismo colonial - Editora Ática, São Paulo, 1978

Hochschild, Adam - King Leopold’s Ghost - Houghton Mifflin co. Boston,1998http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/africa.htm fonteee

BantosQuem são os bantos, história dos bantos, línguas

dos bantos, onde habitam

Bantos: diversos subgrupos étnicos-linguísticos africanos que habitam ao sul do deserto do Saara

 

Introdução

Os bantos formam um grupo étnico africano que habitam a região da África ao sul do Deserto do Saara. A maioria dos mais de 300 subgrupos étnicos é formada por agricultores, que vivem também da pesca e da caça. Estes subgrupos possuem em comum a família linguística banta.

História dos bantos

Conhecem a metalurgia desde muito tempo, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de povos vizinhos. Os bantos chegaram a constituir o Reino do Congo, que envolvia grande parte do noroeste do continente africano. 

No passado, os bantos viveram em aldeias que eram governadas por um chefe. O rei banto, também conhecido como manicongo, recolhia impostos em forma de objetos, mercadorias e alimentos de todas as tribos que constituíam seu reino.

As pessoas que habitavam o reino acreditavam que o maniconco tinha poderes sagrados e que podia influenciar nas colheitas, guerras e saúde do povo.

Principais línguas bantas:

- Lingala- Luganda- Quicongo

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- Cinianja- Xichona- Ndebele- Zulu- Suazi- Xhosa

História da ÁfricaCultura africana, povos, história, Bérberes,

Bantos, Império de Gana, civilizações antigas, economia, arte, religião, trabalho e sistemas de

produção, alimentação, saúde, comércio

Bérberes: os nômades do deserto

 

Introdução

Nas escolas e nos livros, costumamos estudar apenas a história de um povo africano: os egípcios. Porém, na mesma época em que o povo egípcio desenvolvia sua civilização, outros povos africanos faziam sua história. Conheceremos abaixo alguns destes povos e suas principais características culturais.

O povo Bérbere

Os bérberes eram povos nômades do deserto do Saara. Este povo enfrentava as tempestades de areia e a falta de água, para atravessar com suas caravanas este território, fazendo comércio. Costumavam comercializar diversos produtos, tais como : objetos de ouro e cobre, sal, artesanato, temperos, vidro, plumas, pedras preciosas etc. 

Costumavam parar nos oásis para obter água, sombra e descansar. Utilizavam o camelo como principal meio de transporte, graças a resistência deste animal e de sua adaptação ao meio desértico.

Durante as viagens, os bérberes levavam e traziam informações e aspectos culturais. Logo, eles foram de extrema importância para a troca cultural que ocorreu no norte do continente.

Os bantos

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Este povo habitava o noroeste do continente, onde atualmente são os países Nigéria, Mali, Mauritânia e Camarões. Ao contrário dos bérberes, os bantos eram agricultores. Viviam também da caça e da pesca.

Conheciam a metalurgia, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de povos vizinhos. Chegaram a formar um grande reino ( reino do Congo ) que dominava grande parte do noroeste do continente. 

Viviam em aldeias que era comandada por um chefe. O rei banto, também conhecido como manicongo, cobrava impostos em forma de mercadorias e alimentos de todas as tribos que formavam seu reino.

O manicongo gastava parte do que arrecadava com os impostos para manter um exército particular, que garantia sua proteção, e funcionários reais. Os habitantes do reino acreditavam que o maniconco possuía poderes sagrados e que influenciava nas colheitas, guerras e saúde do povo.

Os soninkés e o Império de Gana

Os soninkés habitavam a região ao sul do deserto do Saara. Este povo estava organizado em tribos que constituíam um grande império. Este império era comandado por reis conhecidos como caia-maga.

Viviam da criação de animais, da agricultura e da pesca. Habitavam uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro para trocar por outros produtos com os povos do deserto (bérberes).  A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área de intenso comércio.

Os habitantes do império deviam pagar impostos para a nobreza, que era formada pelo caia-maga, seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção das terras e do comércio que era praticado na região. Além de pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e lavradores, que trabalhavam nas terras da nobreza.

Arte AfricanaCaracterísticas da arte africana, exemplos, influências, obras de arte, elementos artísticos e culturais, máscaras de madeira, obras em ouro e marfim, as esculturas e pinturas, influências e

arte afro-brasileira

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Máscara de Madeira

Introdução 

A arte africana é um conjunto de manifestações artísticas produzidas pelos povos da África subsaariana ao longo da história.

História e características da arte africana 

O continente africano acolhe uma grande variedade de culturas, caracterizadas cada uma delas por um idioma próprio, tradições e formas artísticas características. O deserto do Saara atuou e continua atuando como uma barreira natural entre o norte da África e o resto do continente. Os registros históricos e artísticos demonstram indícios que confirmam uma série de influências entre as duas zonas. Estas trocas culturais foram facilitadas pelas rotas de comércio que atravessam a África desde a antiguidade. 

Podemos identificar atualmente, na região sul do Saara, características da arte islâmica, assim como formas arquitetônicas de influência norte-africana. Pesquisas arqueológicas demonstram uma forte influência cultural e artística do Egito Antigo nas civilizações africanas do sul do Saara. 

A arte africana é um reflexo fiel das ricas histórias, mitos, crenças e filosofia dos habitantes deste enorme continente. A riqueza desta arte tem fornecido matéria-prima e inspiração para vários movimentos artísticos contemporâneos da América e da Europa. Artistas do século XX admiraram a importância da abstração e do naturalismo na arte africana. 

A história da arte africana remonta o período pré-histórico. As formas artísticas mais antigas são as pinturas e gravações em pedra de Tassili e Ennedi, na região do Saara (6000 AC ao século I da nossa era).

Igbo-Ukwu: arte africana em bronze

Outros exemplos da arte primitiva africana são as esculturas modeladas em argila dos artistas da cultura Nok (norte da Nigéria), feitas entre 500 AC e 200 DC. Destacam-se também os trabalhos decorativos de bronze de Igbo-Ukwu (séculos IX e X) e as magníficas esculturas em bronze e terracota de Ifé (do século XII al XV). Estas últimas mostram a habilidade técnica e estão representadas de forma tão naturalista que, até pouco tempo atrás,

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acreditava-se ter inspirações na arte da Grécia Antiga.   

Os povos africanos faziam seus objetos de arte utilizando diversos elementos da natureza. Faziam esculturas de marfim, máscaras entalhadas em madeira e ornamentos em ouro e bronze. Os temas retratados nas obras de arte remetem ao cotidiano, a religião e aos aspectos naturais da região. Desta forma, esculpiam e pintavam mitos, animais da floresta, cenas das tradições, personagens do cotidiano etc. 

Chegada ao Brasil 

A arte africana chegou ao Brasil através dos escravos, que foram trazidos para cá pelos portugueses durante os períodos colonial e imperial. Em muitos casos, os elementos artísticos africanos fundiram-se com os indígenas e portugueses, para gerar novos componentes artísticos de uma magnifíca arte afro-brasileira. 

Cultura material e HistóriaFormas de Humanidade, Museu de Arqueologia e Etimologia, USP

Para compreender a cultura material das sociedades africanas, a primeira questão que se impõe é a imagem que até hoje perdura da África, como se até sua "descoberta", fosse esse continente perdido na obscuridade dos primórdios da civilização, em plena barbárie, numa luta entre Homem e Natureza.

De fato, a história dos povos africanos é a mesma de toda humanidade: a da sobrevivência material, mas também espiritual, intelectual e artística, o que ficou à margem da compreensão nas bases do pensamento ocidental, como se a reflexão entre Homem e Cultura fosse seu atributo exclusivo, e como se Natureza e Cultura fossem fatores opostos entre si.

E é isso que fez com que a distorção da imagem do continente africano, atingisse também os povos que ali habitavam. De acordo com as ciências do século XIX, inspiradas no evolucionismo biológico de Charles Darwin, povos como os africanos estariam num estágio cultural e histórico correspondente aos ancestrais da Humanidade. Dotados do alfabeto como instrumento de dominação não apenas cultural, mas econômica também, os europeus estavam em busca de suas origens, sentindo-se no vértice da pirâmide do desenvolvimento humano e da História. Vem daí as relações estabelecidas entre Raça e Cultura, corroborando com essa distorção.

Por isso, a história da África, pelo menos antes do contato com o mundo ocidental, em particular antes da colonização, não pode ser compreendida tomando-se como referência a organização dominante adotada pelas sociedades ocidentais. Normalmente fica no esquecimento, dado ao fato colonial, que não existe uma África anterior, a que se convencionou chamar África tradicional, diversa e independente, com suas particularidades sociais, econômicas e culturais.

As sociedades ocidentais, assim chamadas por oposição às não-ocidentais (não-européias), se estruturaram fundamentalmente sob o modo de produção capitalista.

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Além disso, o modo de produção dominante (não existe apenas um) numa sociedade pode dizer muito sobre a vida dessa sociedade, mas certamente não comporta explicações de todas as dimensões de como os homens que a constituem compreendem sua vida e modelam sua existência.

A degeneração da imagem das sociedades africanas, de suas ciências, e de seus produtos é resultado do projeto do Capitalismo, que difundiu a idéia de que o continente africano é tórrido e cheio de tribos perdidas na História e na Civilização. É resultado também do etnocentrismo das ciências européias do século XIX. É necessário, pois, ver de que História e de que Civilização se trata. E do ponto de vista histórico-econômico, o imperialismo colonial na África é meio e produto do Capital, uma das grandes invenções que vem desde a era dos Descobrimentos reforçada ainda mais pela consolidação do Liberalismo.

O viés econômico da História é um importante instrumento da Ideologia do Desenvolvimento, tipicamente ocidental. Dentro dessa linha de raciocínio, o Capital emerge de fora das sociedades de que se trata para regrar suas atividades econômicas de modo diferente, conforme interesses externos aos dessas sociedades produtoras e dos povos que as constituem, modificando as relações sociais e impondo um novo modelo de pensar e agir.

As sociedades africanas tradicionais (ou pré-coloniais) tinham em suas atividades econômicas uma das formas de sobrevivência, de acordo com o meio ambiente em que viviam, de suas necessidades materiais e espirituais, e de toda uma tradição anterior de várias técnicas e tipos de produção. Havia muitos povos nômades, que precisavam se deslocar periodicamente, e havia povos sedentários, que fundando seus territórios, chegaram a constituir grandes reinos, desenvolvendo atividades econômicas produtivas, tanto de bens de consumo como de bens de prestígio (em que se destacam várias de suas artes de escultura e metalurgia).

Dois exemplares da cerâmica de NokO que a história oficial procurou velar é que os africanos desenvolveram várias formas de governo muito complexas, baseando-se seja em uma ordem genealógica (clãs e linhagens), seja em processos iniciáticos (classes de idade), seja, ainda, por chefias (unidades políticas, sob várias formas). Algumas grandes chefias, consideradas Estados tradicionais, são conhecidas desde o século IV (como a primeira dinastia de Gana), mesmo assim posteriores a grandes civilizações, cuja existência pode ser testemunhada pela arte, como a cerâmica de Nok (Nigéria), datada do século V a.C. ao II século d.C. Aliás, ela é uma das produções mais atingidas pelo tráfico do mercado negro das artes na África que coloca em risco toda uma história ainda não completamente estudada.

Os impérios de Gana, Mali e outros se sucederam na África ocidental durante toda a Idade

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Média européia; reinos da África oriental e central (como os Lunda e Luba) se disputam entre os séculos XVI e XIX, sendo considerados semelhantes aos estados de modelo monárquico ou imperial. Outros estados centralizados marcam relações de longa data com o exterior, como o reino Kongo (a partir do século XIII). Então, é importante relativizar o peso conferido ao continente africano enquanto um dos territórios das "descobertas", como também é o caso das Américas. Em ambos os casos, a história dos povos que lá e aqui habitavam era considerada como inexistente pelos europeus, como se a história fosse resultado de uma cultura - a européia.

Normalmente se esquece de pensar que a "ação civilizadora" européia era para tirar suas elites da emergência de sua própria falência econômica: os europeus precisavam se apropriar de novas terras e mercados para alcançar hegemonia. E fizeram isso na perspectiva da exploração, sob pretexto de "descobrir" o que estava "perdido", tanto no globo terrestre (como se fosse seu quintal) como na história (como se ela fosse um produto acabado), sendo eles os sujeitos, no presente, do tempo e do espaço - passado e futuro. Ignoraram que os africanos já mantinham contatos seculares (provavelmente milenares) com outras civilizações: a egípcia, por exemplo, é africana, apesar das relações estabelecidas, e reconhecidas historicamente, com o Mediterrâneo antigo.

Deve-se ainda lembrar que a penetração árabe no território africano vem do século VII, enquanto os primeiros contatos dos europeus com os africanos foram estabelecidos a partir do século XV. E tais contatos foram de viajantes e mercenários, do lado ocidental, e chefias bem estruturadas, do lado africano, resultando, em alguns casos, e durante alguns séculos, num comércio ativo, dada a força de grandes estados tradicionais na África, num clima muito diferente da situação colonial que sobreveio apenas no fim do século passado. Essa exploração teve o apoio da Etnologia da época, mas tornou-se um dos fundamentos da Antropologia, cujo desenvolvimento, através de várias teorias sobre as relações do Homem com a Natureza e a Cultura, permite-nos perceber as diferenças como características e valores fundamentais para a permanência e dinâmica da Humanidade.

É através dela que se permitiu reconhecer que os estados tradicionais africanos não foram apenas instrumentos de governo eficazes e agentes da história, mas estimularam a produção de grandes patrimônios materiais.É o caso das artes de Ifé e Benin, bem como das artes luba e kuba.

Terracota de ifé cuja réplica já foi exposta no Brasil

Figura de rei, arte de Benin, Nigéria, acervo MAE-USP

Estatueta do tipo chamada "de ancestral", arte

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luba-hemba, República Democrática do Congo, acervo MAE-USP

Há muitas outras modalidades da arte africana que dominam, junto com essas, a gênese de uma história da arte africana, mesmo que sempre apartada da história universal da arte.

Pesos de latão para medição de pó de ouro, arte ashanti, acervo MAEO fato de não terem escrito sua história anteriormente, não quer dizer que os africanos, bem como os povos autóctones das Américas e da Oceania, não tinham história, muito menos que não tinham escrita. Objetos de arte considerados apenas decorativos estão plenos de mensagens codificadas por signos e símbolos que podem ser "traduzidos", ou interpretados verbalmente, como é o caso de muitos objetos proverbiais, como é o caso dos pesos de latão.

Além disso, na tradição oral, ou no registro oral da história dos povos africanos, podemos constatar que o tempo é marcado pelo evento, e que esse evento não se situa num vazio: ele supõe um lugar exato, um instante único (p. ex., a queda de um cometa célebre, uma enchente inusitada, marcando feitos de um governo determinado, de um chefe conhecido e nominado). Do mesmo modo, pode-se pensar na revalidação da informação histórica em objetos que expressam, através de mesclas de estilo ou da própria iconografia, deslocamentos das comunidades africanas, formando grandes correntes migratórias pelo continente, seja de caráter cultural, comercial ou outro.

Esses contatos, determinando combinações de elementos originais de um povo com outro(s), promoveram um dinamismo externo e explicam a unidade cultural da África. Por outro lado, a história desses povos pelo continente é uma história de conquistas, de legitimação do território a ser habitado e cultivado, explicando a diversidade cultural existente.

A mudança social provocada pelo fato colonial faz parte dessa história, mesmo que a intenção da colonização era acabar com ela. O período colonial africano é recente, durando de 1883-1885 até pouco mais da metade do século XX. Nesse período, os governos europeus dividiram e reagruparam as sociedades tradicionais da África em colônias, cujas fronteiras não correspondiam aos seus territórios originais.

Nas décadas de 1950 e 1960, depois das independências conquistadas individualmente, mas num grande movimento de solidariedade entre nações, as linhas de divisa colonial

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foram de modo geral absorvidas na configuração dos países atuais, a partir de então com seus próprios governos. Mesmo assim, até hoje são países que lutam com dificuldade, tentando recuperar suas origens ancestrais, e prosseguir suas vidas dentro do quadro da globalização imposto mundialmente. As lutas civis, e a presença de ditadores compactuados com potências estrangeiras na África atual refletem ainda os problemas que a exploração européia e a ideologia do desenvolvimento causaram aos povos africanos, esgotando seus minérios e suas florestas, degradando seu meio ambiente, alterando seu ecossistema, estabelecendo uma ordem completamente diferente sobre uma experiência secular de vida.

É evidente que a exploração da África não se deu apenas na sua colonização, esta já tão truculenta em si mesma, lembrando que durante esse período os africanos não foram apenas usurpados em suas economias e territórios, mas em seus modos de existência e de pensamento, principalmente através de ações missionárias. Sabe-se como a Igreja manipulou o Cristianismo sob pretexto de uma ação civilizatória compactuada com países europeus.

Aqui está se falando apenas daqueles que permaneceram no continente e não dos que foram seqüestrados para a industria da escravidão que durou pelo menos quatro séculos. Pode-se dizer que se o futuro de alguns africanos (os que foram feitos escravos) continuou aqui no Brasil (e nas Américas), e o passado de povos africanos na África ficou na memória coletiva e no silêncio da cultura material, tem-se muito a repensar sobre a nossa história em comum, encontrando valores para o futuro.

Por isso, não se pode admitir nada de primitivo na história e na cultura material dos povos africanos, vez que se trata de sociedades que têm atrás de si mesmas existência milenar. Tem-se testemunhos plásticos e iconográficos do séculos V, VI e até VII a.C. nos países do Mediterrâneo antigo, que demonstram não apenas a presença da civilização egípcia, como também das civilizações da África sub-saariana, esta chamada de África negra. Vê-se aqui a antigüidade das culturas africanas, bem como sua dinâmica, alimentada não apenas por fluxos internos, mas também externos, desde longa data. Ao lado de tudo isso, lembrar que descobertas arqueológicas vêm demonstrando a precedência da espécie humana e de suas indústrias no continente africano, antes dos seus vestígios em território europeu, como o caso do exemplar mais antigo do homo sapiens sapiens descoberto no Quênia, datado de 130 mil anos atrás.

É importante, portanto, ter sempre em vista que o continente africano é imenso, com centenas de grupos étnicos ou sociedades, que não devemos chamar de tribos, pois o sistema de parentesco, além de não ser a única forma de organização, manifesta-se em grande diversidade e complexidade na composição dos grupos culturais. Hoje as sociedades africanas são sociedades modernizadas, o que não quer dizer que antes elas não tinham organização. Com uma hierarquia de obrigações e direitos, e com uma tecnologia própria ditada pela sua economia, seja ela de subsistência ou de comércio, algumas sociedades tradicionais voltavam-se mais para a agricultura, outras para a caça e pesca, e não raro, essas atividades eram mescladas. Não há conhecimento de grupos africanos sem um tipo de organização, seja em pequenas chefias a grandes repúblicas e reinos, até que as grandes potências ocidentais invadiram e colonizaram o território africano.

Em contrapartida, se devemos também estar alerta para não se valer do que, entre nós, é

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tido como premissa de civilização, achando que com isso chega-se à compreensão de outros povos. Ao lado de técnicas de metalurgia ou cultivo, ao lado de chefias ou de um comércio ativo, cada sociedade, cada cultura tem um sistema de categorias próprias de pensamento e existência, sendo ele o que a diferencia das outras, e o que lhe dá real relevância perante a Humanidade. A cultura material e a arte, pelo seu caráter concreto (de "coisas", objetos), podem ser veículos eficientes para que tais categorias não fiquem tão vulneráveis à ação destruidora do etnocentrismo, desde que sejam enfocadas como produtos de sociedades diferentes e não desiguais.Todos os artigos de ÁfricaAs artes plásticas da África que se vê nos livros e coleções são produtos desenvolvidos ao longo de séculos. Sejam esculpidos, fundidos, modelados, pintados, trançados ou tecidos, os objetos da África mostram a diversidade de técnicas artísticas que eram usadas nesse continente imenso, e nos dão a dimensão da quantidade de estilos criados pelos povos africanos.

Tais estilos são a marca da origem dos objetos, isto é, cada estilo ou grupo de estilos corresponde a um produtor (sociedade, ateliê, artista) e localidade (região, reino, aldeia). Mesmo assim, deve-se lembrar que os grupos sociais não podem ser considerados no seu isolamento, e, portanto, é natural que a estética de cada sociedade africana compreenda elementos de contato. Além disso, cada objeto é apenas uma parte da manifestação estética a que pertence, constituída por um conjunto de atitudes (gestos, palavras), danças e músicas. Isso pode determinar as diferenças entre a arte de um grupo e de outro, tendo-se em vista também o lugar e a época ou período em que o objeto estético-artístico era visto ou usado, de acordo com a sua função.

Portanto, a primeira coisa a reter é que, na África, cada estátua, cada máscara, tinha uma função estabelecida, e não eram expostas em vitrines, nem em conjunto, nem separadamente, como vê-se dos museus. Outra coisa deve ser lembrada: a arte africana é um termo criado por estrangeiros na interpretação da cultura material estética dos povos africanos tradicionais, diferente das artes plásticas da África contemporânea que se integram no circuito internacional das exposições.

Se hoje ainda há uma produção similar aos objetos tradicionais, ela deve-se no maior das vezes às demandas de um mercado turístico, motivado pela curiosidade e exotismo.

Com referência aos objetos muito semelhantes aos tradicionais ainda em uso em rituais religiosos ou festas populares há, assim como no Brasil, na África atual, uma cultura material, que, apesar de sua qualidade estética, é considerada, também pelos africanos de hoje, "religiosa" ou "popular" nos moldes ocidentais, onde o antigo e moderno são historicamente discerníveis. Isso não quer dizer, no entanto, que, através de conteúdos e símbolos, a arte africana atual não esteja impregnada do tradicional, ainda que se manifestando em novas formas. Ao contrário, as especificidades da estética tradicional africana é visível também, nos dias atuais, nas produções artísticas dos países de fora da África, principalmente daqueles, como o Brasil, cuja população e cultura foram formadas por grandes contingentes africanos.

Neste texto tratar-se-á sempre dessas produções realizadas pelos africanos antes da ruptura entre tradição e modernidade. Daqui para frente, deve-se relativizar o uso do tempo verbal, e lembrar que a expressão arte africana é, queira-se ou não, um reducionismo inventado por estrangeiros, mas que está cristalizada entre nós, relativa a

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toda produção material estética da África produzida antes e durante a colonização, até meados do século XX, trazida à Europa por viajantes, missionários e administradores coloniais.

Não seria difícil encontrar nessa arte africana alguns elementos de aproximação com os de correntes da arte ocidental, do naturalismo ao abstracionismo. Mas esse tipo de comparação não é capaz de desvendar o verdadeiro sentido da arte africana tradicional, porque esta não foi feita para ser realista ou cubista, isto é, ela não era um exercício de reflexão sobre a forma, ou sobre a matéria, como nas artes plásticas entre nós. Apesar disso, pode-se identificar na arte africana os elementos que permitiram a artistas, como Picasso, a revolucionar a arte ocidental.

O cubismo, portanto, é uma invenção intelectual dos europeus, que nada tem a ver com a intenção dos africanos: enquanto no cubismo a representação do objeto se dá de diversos pontos de vista, em diversas de suas dimensões formais ao mesmo tempo, a estética africana busca, ao contrário, uma síntese do objeto ou do tema construído materialmente, plena de objetivo, inspiração e conteúdo.

Uma estátua não representa, normalmente, um Homem, mas um Ser Humano integral, que tem uma parte física e espiritual - do passado e do futuro. Tem, por isso, um lado sagrado, ligado às forças da Natureza e do Universo. Uma máscara ou uma estátua concentram forças inerentes do próprio material de que são constituídas, ou que comportam em seu interior ou superfície, além de sua própria força estética. Elas não têm, portanto, uma função meramente formal.

Porta de celeiro, arte dogon, Mali, acervo MAE-USPAinda assim, pode-se observar que algumas produções são mais realistas ou mais geométricas. O realismo ocorre com frequência nas estátuas, talvez por seu caráter representativo (de uma figura humana, da imagem onírica de um antepassado), enquanto que o geometrismo aparece muito nas máscaras, principalmente naquelas que representam espíritos e seres sobrenaturais, melhor dizendo, o desconhecido (mas existente no plano consciente e inconsciente). Mesmo assim, nada disso permite dizer ou não é isso que determina haver uma linha divisória clara entre uma forma e outra, ou um estilo e outro.

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Mas pode-se distinguir uma arte produzida na África ocidental e a produzida na África central. E dentro dessas grandes áreas geográficas, pode-se distinguir estilos seja pelos detalhes, seja pelo tema ou tipo do objeto produzido. Por exemplo, as produções artísticas dos Dogon e Bambara são muito distintas embora situadas, por alguns autores, dentro de uma mesma faixa estilística (chamada de "sudanesa"), já que elas apresentam uma certa continuidade formal ou temática, além do fato de que tais sociedades ocupam territórios contíguos permeados por identidades históricas, geográficas e ambientais. No entanto, as portas de celeiro são renomadas entre os Dogon, e o tema do antílope é mais reconhecido, embora não exclusivo, na arte Bambara.

Topo de máscara "tyi-wara", arte bambara, Mali, acervo MAE- USPEsse tipo de objeto (porta de celeiro) e esse tema (antílope) celebram a arte dos Dogon e dos Bambara respectivamente não apenas porque foram encontrados em abundância entre eles, mas também porque são considerados por esses povos como signos específicos de sua cultura em circunstâncias dadas na sua tradição oral.

É oportuno lembrar que a distinção entre os estilos só pode ser determinada por uma série de estudos interdisciplinares que apoiam a análise morfo-estilística. Entre essas disciplinas estão a arqueologia e etno-história, que, apesar de suas especificidades, estão intimamente ligadas à etnografia e à Antropologia.

Os procedimentos técnicos e a matéria-prima usados na produção material podem "falar" muito sobre o estilo, assim como sobre o meio ambiente em que determinadas sociedades vivem. A madeira era muito usada nas regiões de floresta. É por isso que a estatuária africana está concentrada na chamada África ocidental e na África central, regiões onde predominava a floresta equatorial e tropical, e onde se conservam apenas partes dela hoje em dia.

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Ilustração das etapas da fundição de um par de "edan" pela técnica da cera perdida, arte ogboni/ioruba, Nigéria, acervo MAE-USPO uso do metal, embora tenha sido corrente em todo o continente, caracterizou as produções artísticas da savana, onde floresceram grandes reinos, tanto na África ocidental quanto na central, onde a arte era fundamentalmente ligada à organização social e política, a serviço de mandatários, através de ateliês oficiais - caso da chamada "arte de côrte" de Ifé e Benin ou da escultura da associação Ogboni feita pelo sofisticado processo de fundição pela cera perdida.

Junto a essas produções de metal devemos mencionar a escultura em marfim, renomada não apenas entre povos do Golfo da Guiné e do Benin (como os ioruba) mas também entre os da embocadura do Rio Congo (como os Bakongo), que desde o século XV era requerida pelos "gabinetes de curiosidade" da Europa. Bruto ou trabalhado, o marfim, assim como o cobre, era considerado precioso em todas as sociedades africanas, desde muito antes do tráfico (desde a antiguidade, pelo Vale do Nilo e pelo Saara), mas é certo que o contato com o mundo ocidental, desde o Renascimento europeu, promoveu um desenvolvimento de uma arte africana em marfim já voltada para o comércio e turismo como a da atualidade.

Montagem de objetos utilitários com decoração típica, arte kuba, Republica Democrática do Congo, acervo MAE-USPOutras artes, como a cerâmica, cestaria, adornos corporais, eram feitas tradicionalmente por todas as sociedades, respondendo às necessidades cotidianas e rituais, sendo que podemos destacar algumas em que essas técnicas eram mais usadas do que a escultura, de acordo com o modelo de organização social e as formas de expressão estética. Nesses casos, os recursos gráficos eram mais aplicados do que os recursos representativos da escultura. Aqui podem ser compreendidos, particularmente, os produtos de sociedades situadas em regiões semi-áridas, que, em busca periódica de novos territórios, não podiam transportar com facilidade bens móveis de grande porte. Mas às vezes esses modelos de análise se mostram arbitrários, pois a arte decorativa

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pode imperar também onde as figurativas e realistas são muito destacadas, e onde a produção estética está voltada à legitimação de um poder monárquico e centralizado como dos Bakuba, e que também comporta uma importante estatuária.

Assim, o material nem sempre era usado por sua abundância ecológica e a escolha do material não era arbitrária: como o objeto que iria ser produzido, o material tinha um valor simbólico em cada centro de produção. Algumas máscaras e estátuas deveriam ser esculpidas em madeira de árvores determinadas; a confecção de adornos implicava no uso de determinadas fibras e sementes, e, em alguns casos, de tipos diferentes de contas, se não de um tipo de liga metálica, de marfim e outros materiais de origem inorgânica e animal.

Certos detalhes morfológicos dos objetos, como a posição, o tamanho, a distribuição de cores, entre outros, são características diferenciais do estilo com que cada sociedade representa uma forma e um tema. Mas existe uma série de características culturais comuns entre os povos da África e diversas das de sociedades de outros continentes que permeiam suas artes tradicionais de uma forma singular: seus sistemas de pensamento e de crenças.

Antes de mais nada, deve-se lembrar que a dissociação entre Religião e outras esferas da Cultura existente no Ocidente, e na Modernidade, não faz parte da natureza da Humanidade. E, como já visto, as sociedades da África pertencem a complexos culturais muito antigos, reciclando valores arraigados pela Tradição, caracterizando-se por uma maneira de produzir bens espirituais e materiais de acordo com sua história e com o meio ambiente onde se formaram.

Para se compreender os sistemas de pensamento e de crenças das sociedades africanas, deve-se ter sempre em mente a dinâmica tradição-modernidade, e, como fez-se com respeito à arte, relativizar o que pertenceu ao passado e o que, e sob que forma, permanece no presente.

Cada cultura africana tinha, antes da ruptura social, sua forma de conceber o mundo, de explicar suas origens e de formular o que lhes convêm, conforme mostram os mitos e lendas, bem como o discurso das pessoas mais antigas, que viveram antes ou durante a situação colonial. Isso demonstra a grande diversidade cultural no continente, correspondente à diversidade de formas e estilos na arte tradicional.

Apesar disso, no plano filosófico, pode-se assinalar um aspecto que dá unidade aos povos da África tradicional: o indivíduo é considerado vivo porque tem um ascendente (é filho, neto de alguém), e quem vai lhe garantir a finalidade e memória de sua vida e existência é a perspectiva de seu descendente (seu futuro filho e neto). Portanto a noção de morte está concretamente ligada à de vida: morrer significa não procriar. Sem filhos, a linhagem familiar se extingue - vida e morte não são apenas biológicas, mas sociais principalmente. A existência do indivíduo se traduz através do seu ser-estar (o que implica em tempo e espaço ou lugar) no mundo, através do cotidiano, no trabalho ou no lazer, sempre conectado ao universo social, cósmico, natural e sobrenatural ao mesmo tempo, sendo impossível separar o que é concreto e espiritual, ou determinar o que é sagrado ou profano, na vida desses povos.

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Nesse contexto, o exercício da existência volta-se para questões que vão além do poder econômico, o que não exclui a preocupação social e individual com o status (disputado e atribuído a indivíduos de prestígio como sábios e dirigentes), já que ele é uma das chaves para que o grupo tenha uma estrutura para permanecer unido e forte visando ao advento de futuras gerações.

Daí, a profusão de imagens antropomórficas esculpidas a que se chama de "ancestrais", já que normalmente, mas nem sempre como se divulga através de publicações, eram relacionadas, e usadas, no culto de antepassados. Os chamados "fetiches", aí colocados em oposição aos "ancestrais", são objetos, esculpidos ou não, constituídos de vários materiais agregados. O conceito de fetiche é discutível, pois, significando "coisa feita", é relacionado sempre à magia e a feitiçaria num sentido distorcido.

Estatueta "buti", do tipo chamada de "fetiche", arte teke, Republica Democrática do Congo, acervo MAE-USP

Na verdade, os materiais dos "fetiches" entre os quais são também classificadas estatuetas dos Bateke, simbolizam partes dos mundos animal, vegetal e mineral, aludindo uma idéia de totalidade construída pelos africanos, baseada em seu conhecimento sobre as forças da Natureza (muitas vezes relacionados à cura medicinal) e do Cosmo. Isso explica porque muitas das estatuetas chamadas de "fetiches", em contrapartida, tinham relações diretas com o culto de antepassados, fundado na idéia de acúmulo de forças através de gerações sucessivas e da apropriação do território.

Outras duas características nos sistemas filosófico e de crenças das sociedades africanas tradicionais é a consciência de periodicidade e infinitude, isto é, a idéia de que o descendente vem do ascendente e a idéia, que vem em decorrência disso, de que o passado está intimamente ligado ao futuro, passando pelo presente.

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Um indivíduo vivendo em sociedade em um determinado período histórico supõe a existência de outro ou outros indivíduos (filho, neto, bisneto, etc) em períodos subsequentes, graças à existência daqueles que vieram antes dele, e criaram regras para que seus contemporâneos e conterrâneos pudessem seguir vivendo, articulando-se conforme as condições de sobrevivência. Há um provérbio de origem africana em que pode-se constatar essa característica de infinitude, de que a vida é infinita: "uma vez que é dia, depois noite, qual será o fim deles?".

Esse tipo de pensamento comporta uma perspectiva dinâmica que não corresponde à idéia de que esses povos não teriam história antes dos europeus chegarem, e que eles viviam sempre do mesmo modo que seus avós e bisavós. Outro provérbio africano nos permite constatar essa característica de periodicidade, de que a vida é periódica - e histórica: "as coisas de amanhã estão na conversação das pessoas de amanhã".

Vê-se aqui uma preocupação em regrar o que acontece no presente, o que é uma responsabilidade dos que vivem para garantir a existência do futuro, e que não há nada de estático nisso, ao contrário, há uma previsão de mudança, uma consciência de que há um dinamismo na vida, na existência, não apenas por modificações ambientais naturais, mas também modificações técnicas e filosóficas determinadas pela sucessão de gerações.

Desse modo, os africanos preservavam regras de sua Cultura, modificando-as quando necessário, sem precisar de outras normas vindas de fora, coisa que os Europeus não podiam entender, pois eles se consideravam superiores a todos os povos não-europeus.

Esse sentimento de superioridade vem da constatação da diferença. Na visão judaico-cristã, por exemplo, os africanos foram tidos como povos animistas, isto é, aqueles que atribuem vida às coisas e seres inanimados, e acreditando que plantas e animais são dotados de "alma", sendo portanto capazes de agir como seres humanos. Isso não é verdade e deturpa as formas autênticas de concepção do mundo dos africanos, colocando-os como inferiores, ou "primitivos".

O que ocorre, na verdade, é que na África tradicional a concepção de mundo é uma concepção de relação de forças naturais, sobrenaturais, humanas e cósmicas. Tudo que está presente para o Homem tem uma força relativa à força humana, que é o princípio da "força vital", ou do axé - expressão ioruba usada no Brasil. As árvores, as pedras, as montanhas, os astros e planetas, exercem influência sobre a Terra e a vida dos humanos, e vice-versa. Enquanto os europeus queriam dominar as coisas indiscriminadamente, os africanos davam importância a elas, pois tinham consciência de que elas faziam parte de um ecossistema necessário à sua própria sobrevivência. As preces e orações feitas a uma árvore, antes dela ser derrubada, era uma atitude simbólica de respeito à existência daquela árvore, e não a manifestação de uma crença de que ela tinha um espírito como dos humanos. Ainda que se diga de um "espírito da árvore", trata-se de uma força da Natureza, própria dos vegetais, e mais especificamente das árvores. Assim, os humanos e os animais, os vegetais e os minerais enquadravam-se dentro de uma hierarquia de forças, necessária à Vida, passíveis de serem manipuladas apenas pelo Homem. Isso, aliás, contrasta com a idéia de que os povos africanos mantinham-se sujeitos às forças naturais, e, portanto, sem cultura. Os povos da África tradicional admitem a existência de forças desconhecidas, que os europeus chamaram de mágicas, num sentido pejorativo. Mas a "mágica", entre os africanos, era, na verdade, uma forma inteligente -

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de conhecimento - de se lidar com as forças da Natureza e do Cosmo, integrando parte de suas ciências e sobretudo sua Medicina.

Estatueta "akua-ba", arte ashanti, Gana, acervo MAE-USPEsses elementos filosóficos podem ser vistos expressados graficamente nas decorações de superfície de esculturas, na tecelagem e no trançado, e na própria arquitetura, através de figuras geométricas (zigue-zagues, linhas onduladas, espirais - contínuas e infinitas), de figuras zoomorfas (cobras, lagartos, tartarugas - que, além de sua forma, estão associadas à idéia de vitalidade e longevidade).

Trata-se de uma linguagem gráfica simbólica, equivalente a da figura antropomórfica em estátuas e estatuetas, onde se ressaltam cabeça, mãos e pés, seios, ventre, orgãos sexuais (todos considerados, de um modo geral, centros de força vitais). Elas expressam, do mesmo modo que os grafismos, aspectos relacionados ao tema da reprodução humana e à capacidade de produção do conhecimento necessário à perpetuação da espécie humana, mesmo que individualmente, venham a desempenhar funções e a expressar significados específicas.

Temas como a fertilidade da mulher e fecundidade dos campos são freqüentes e quase que indissociáveis na expressão artística, estabelecendo a relação entre a abundância de alimento e a multiplicação da prole, um fator concreto em sociedades agrárias. O tema do duplo remete à relação de fatores complementares ou antagônicos (dia-noite, homem-mulher). Todas essas formas gráficas e representativas são um recurso para apresentar, sob forma material, um conjunto de idéias sobre a existência concebida visando ao equilíbrio e à perpetuação biológica e espiritual do grupo social.

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Topo de máscara, arte senufo, Costa do Marfim, acervo MAE-USPDizem que os africanos não tinham Deus, ou que tinham vários deuses, o que não parece ser muito preciso. Em quase todas as populações da África foram registrados depoimentos da criação do mundo, em que existe apenas um único "Deus". Trata-se de uma força primordial, um Criador que criou o Mundo e os Homens, colocou-os na Terra, e deixou-os ao seu Destino.

Essas histórias de origem podem ser chamadas de mitos porque se trata de seres não conhecidos em vida (que estão na memória coletiva), sendo por isso míticos, sem que se caia no erro de desconsiderá-los, como fizeram os ocidentais, como idéias sem valor científico e histórico. Tais mitos de origem comportam freqüentemente o relato de pares primordiais, de gêmeos ou duplas, que vieram para cultivar e povoar o mundo, e, muitas vezes, seres zoo-antropomorfos que, dotados da tecnologia (instrumentos agrários ou de caça), vieram para ensinar os Homens a produzir e obter alimento, para se multiplicarem, zelando, eles - os Homens -, pela sua própria permanência em vida.

Uma das diferenças dessas idéias com relação às idéias de mundo cristãs é a consciência de que cada ser que está presente no mundo tem seu papel, e que a força dos Homens é humana, e não divina. Daí a necessidade de uma relação constante com os antepassados, visando às futuras gerações. Esse pode ser apontado como um significado substantivo das várias formas de culto de ancestrais.

É por isso que a vida dos povos africanos é tida como muito mais ritualizada que no mundo cristão. O mundo material e o espiritual são concebidos juntos, quase que inseparáveis, o que implica em modelos de culto e religião completamente diferentes do que se adotou no Ocidente, que por sua vez serviu de modelo para outros povos formados na modernidade, como é o caso brasileiro.

Os Candomblés (são várias as formas como essa religião brasileira de origem africana se apresenta) conservam formas de culto muito próximas às de cultos tradicionais da África ocidental (sobretudo dos Fon e dos Ioruba), adotando emblemas, nomes e outras características de suas divindades (e, às vezes, das divindades dos povos de línguas bantu, ou dos chamados Bantos, da África central), bem como a hierarquia de poder iniciático.

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Colar de babalaô, arte nagô, República Popular do Benim, acervo MAE-USP

Estátua de Iemanjá, arte afro-brasileira, Salvador/Brasil, acervo MAE-USP

Opaxorô, arte afro-brasileira, Salvador/Brasil, acervo MAE-USP.

Mas, numa aproximação ainda que a grosso modo, eles teriam uma estrutura de panteão, como a das religiões grega e cristã. Isso quer dizer que existe um Criador e uma porção de outras divindades articuladas em camadas subalternas. Os cultos tradicionais da África, por sua vez, voltavam-se, em linhas gerais, aos antepassados ou a divindades da Natureza. Neste último caso, poderia ser enquadrado o Culto de Orixás - apelação dada às divindades de origem ioruba ou nagô (os voduns, inquices e caboclos são divindades de povos africanos de outras origens) -, em que se baseiam a maioria dos candomblés, muito embora muitas dessas divindades celebram chefes políticos sacralizados, com uma qualidade divina, de uma localidade (ou reino) determinado, onde são considerados como antepassados.

Para concluir, grande parte da escultura antropomórfica seja da África ocidental, seja da central, é uma "presentificação" desses personagens míticos ou mesmo conhecidos em vida - antepassados fundadores de territórios, chefes de linhagem ou chefes eleitos renomados por feitos realizados durante seus governos. Em peças desse tipo transparece a grande relação entre política e religião, motivo pelo qual estátuas, bustos e cabeças, tendo uma força acumulada de vários níveis, não podiam ser vistas por todas as pessoas, se não os altos iniciados nos cultos, ou seja, aqueles que tinham status social e religioso, sendo que em muitas sociedades, o chefe político era também o sacerdote supremo.

E, neste final, resta a contradição: grande parte da arte africana, que tanto mobiliza o olhar pelo impacto estético, era feita, antes de ser tirada de seu contexto, para não ser vista, a menos que houvesse uma ocasião precisa para isso. Está aí está a demonstração da grandeza e do poder de uma cultura material, depositária não de segredos, mas de fundamentos, a serviço da história e cultura dos povos africanos, que dentro e fora de seu território original, continuam sua existência, formando novos valores, como acontece entre nós, no Brasil.

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África subsariana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Mapa da África destacando a região subsaariana (verde).

A África subsariana (português europeu) ou subsaariana (português brasileiro) corresponde à região do continente africano a sul do Deserto do Saara, ou seja, aos países que não fazem parte do Norte de África.

A palavra subsariana deriva da convenção geográfica eurocentrista, segundo a qual o Norte estaria acima e o Sul abaixo (daí o prefixo latino sub).

Efetivamente, o Deserto do Saara, com os seus cerca de 9 milhões de quilômetros quadrados, forma uma espécie de barreira natural que divide o continente africano em duas partes muito distintas quanto ao quadro humano e econômico. Ao norte encontramos uma organização sócio-econômica muito semelhante à do Oriente Médio, formando um mundo islamizado. Ao sul temos a chamada África Negra, assim denominada pela predominância nessa região de povos de pele escura.

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Índice[esconder]

1 Diversidade étnica 2 Línguas

3 População

4 História

5 Doenças da região

6 Caracterização política

7 Ambiente

o 7.1 Hidrografia

o 7.2 Clima

o 7.3 Fauna e flora

8 Notas e Referências

[editar] Diversidade étnica

A diversidade étnica desta região de África é patente nas diferentes formas de cultura, incluindo as línguas, a música, a arquitetura, a religião, a culinária e a indumentária dos diferentes povos do continente.

A grande maioria da população pertence a etnias anteriormente classificadas na "raça negra".

[editar] Línguas

A África é provavelmente a região do mundo onde a situação lingüística é a mais diversificada (com 1000 línguas) e a menos conhecida.[1] A classificação estabelecida por Joseph Harold Greenberg, um famoso lingüista norte-americano, em 1955, distingue quatro grandes conjuntos:

A família khoin ao sul, constituída essencialmente pelas línguas de cliques dos bosquímanos e dos hotentotes;

A família camito-semítica (dita também afro-asiática) ao norte, constituída pelo semítico (árabe, hebraico, etíope e outras), o berbere, o egípcio, o cuchítico e o chadiano (haúça),

A família nilo-saariana, que se estende sobre uma zona descontínua do Chade ao Sudão e ao Zaire, e compreende o songai, o maban, o koma, o fur e o nilo-chadiano, este dividido em sudanês central (sara, mangbetu) e sudanês oriental (línguas núbias);

A família nígero-congolesa, que ocupa a maior parte da África Negra, é dividida em seis grupos: o oeste-atlântico (peul, uolof, diola), o mandé ou mandinga (bambara,

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malinque, mende), o voltaico ou gur (mossi), o kwa (iorubá, iba, akan, ewe, kru), o grupo de Adamaua Oriental e o grupo benuê-congolês, essencialmente constituído pelas línguas bantas, que ocupam todo o sul do continente. Para fazer face a essa diversidade lingüística, foram desenvolvidas línguas de relação, faladas como segundas línguas nos conjuntos geográficos mais vastos: o árabe, a língua mais falada do continente; o suaíle (a leste da África), primeira língua banta a utilizar a forma escrita; o lingala (oeste do Zaire); o bambara (Mali, Guiné, Costa do Marfim); o haúça (norte da Nigéria) e outras. Finalmente, as línguas européias herdadas da colonização (inglês, francês, português) são faladas pelas classes cultas e continuam a ser o alicerce lingüístico de numerosos países.[1]Essa imensa diversidade cultural é, em parte, explicada pela preservação, até tempos recentes, de uma organização social tribal. A tribo é uma das mais antigas e elementares formas de organização social, sendo caracterizada pela presença de um território comunitário e pela unidade da língua e das tradições. Dessa maneira, cada tribo é um verdadeiro universo cultural, com suas particularidades bem definidas, que se mantêm enquanto não são expostas a culturas externas.

[editar] População

O continente africano tem hoje cerca de 780 milhões de habitantes, dos quais 500 milhões vivem na África subsariana. Essa população tem um crescimento populacional na ordem dos 2,5% ao ano.

Esse crescimento elevado da população tem criado duas preocupações muito sérias:[carece de fontes?]

1. a predominância de jovens na população determina a necessidade de elevados investimentos sociais em escolas, alimentação e tratamento médico;

2. a pressão demográfica, aliada ao baixo nível técnico da produção agropecuária, à introdução de culturas de rendimento para exportação e à urbanização no século XX, tem gerado graves desequilíbrios económicos e sociais.

De forma geral, a população da África Negra apresenta os piores indicadores sócio-econômicos do mundo. Enquanto nos países desenvolvidos a população morre, em média, com uma idade superior a 70 anos, nessa parte do mundo raramente a média ultrapassa os 45 anos. Essa expectativa média de vida tão baixa é explicada por inúmeros fatores, tais como a má nutrição, falta de assistência médica e ausência de saneamento básico nos meios rurais.

[editar] História

A teoria mais aceite entre os antropólogos e arqueólogos diz que a "África é o berço da humanidade", mas o "homem negro" talvez tenha sido o último a surgir entre os representantes das grandes etnias. Na Antigüidade, a Núbia e a Abissínia foram as primeiras regiões a receber influências externas, principalmente egípcias, a partir do III milênio a.C.. O território a oeste do Chade permaneceu mal conhecido, e passou lentamente do Neolítico à Idade do Ferro. Existiram grandes impérios: Gana, Mali, Songai, Bornu. A partir do século VIII, os Estados sudaneses sofreram a influência dos muçulmanos e tornaram-se fortemente islamizados. O império de Gana, entre o Senegal e o Níger, desenvolveu-se a partir do século IX e foi destruído em 1076-1077 pelos

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almorávidas. Seu território controlado no início do século XIII pelo Reino de Sosso, passou em 1240 à dominação do Império de Mali, que herdeiro de sua riqueza, se estendeu por uma zona bastante extensa no Sudão ocidental. Esse império entrou em lento declínio a partir do século XV e foi perdendo terreno para o império Songai, que cresceu às suas custas a partir de então. O golpe final do império de Mali foi dado pelo Reino de Segu, por volta de 1670.

O islamismo, introduzido pelos almorávidas, durante muito tempo atingiu somente as classes dirigentes. Ao redor do Chade, sucederam-se ou coexistiram diferentes reinos: Baguirni, Uadai e Kanen-Bornu, islamizados superficialmente. O Islã deu origem também à reinos teocráticos, no vale do Senegal e no Futa-Djalon, onde ocorreram conversões massa no século XIX. Na costa do golfo de Benin formaram-se reinos animistas, menores, porém, muito centralizados, como Achanti e Daomé. A leste do deserto da Líbia, o reino cristão da Núbia passou, pouco a pouco ao controle do Islã, o da Etiópia, refugiado nas montanhas após a ruína de Aksum por volta do século VI, sobreviveu - apesar de uma história tumultuada - até a sua reorganização, na segunda metade do século XIX, sob uma dinastia igualmente abissínia. Na costa oriental surgiu uma série de sultanatos fundados pelos árabes, que prosperaram até a chegada dos portugueses, no século XVI. Madagascar povoou-se de indonésios desde uma data desconhecida até perto do século XIII.

A chegada dos portugueses no século XV trouxe grandes mudanças, pois o comércio português, em breve seguido pelo de outras nações européias como os Países Baixos, Dinamarca, Grã-Bretanha e França, por intermédio de companhias autorizadas, baseava-se essencialmente no tráfego de escravos. Do século VII ao XX, cerca de 14 milhões de escravos foram levados para o mundo árabe pelo Saara e pelos portos da costa oriental. A eles se devem somar os que, do século XV ao XIX, foram para a América: de 15 a 20 milhões, mais os que morreram durante a viagem. Os chefes das regiões costeiras, foram, no decorrer do século XIX, substituindo a "mercadoria humana" por produtos tropicais (óleo de coco), que eram trocados por tecidos e armas.

A partir de 1815, a França tentou lentamente extrair recursos do Senegal, que ocupou em 1658. A Grã-Bretanha se instalou na Costa do Ouro (Golden Coast) a partir de 1875 e na Nigéria desde 1880, ano em que a França desencadeou a "corrida do ouro", com a Marcha do Níger. A Conferência de Berlim (novembro de 1884-fevereiro de 1885) não decidiu a partilha da África, mas acelerou a instalação territorial das potências européias e a constituição de grandes impérios coloniais: inglês, holandês, italiano, belga e alemão, junto aos restos do império espanhol e português. Até a Segunda Guerra Mundial, a África subsaariana evoluiu em ritmos diversos, em função do meio e dos recursos, da precariedade das vias de comunicação, da densidade das populações e da urbanização. Por toda parte a massa camponesa (90% da população) sofreu com o domínio colonial. Entretanto a urbanização, acentuada após a Segunda Guerra Mundial, e a formação de de elites letradas desenvolveram a consciência da identidade africana.

Após a Segunda Guerra Mundial o prestígio da etnia branca diminuiu (derrota de 1940, lutas intestinas entre franceses, rivalidade franco-inglesa), fato acentuado com a propaganda dos movimentos pan-africanistas, que já existiam desde antes da guerra. Essa evolução foi geralmente pacífica, salvo a rebelião malgaxe de 1947, as sublevações kikuyus (mau-mau) do Quênia, de 1952 a 1956, e a revolta da União das populações de Camarões (1955-1958), O processo de descolonização iniciado em 1944 (Conferência

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de Brazzaville), acelerou-se após 1960, ano em que muitos países africanos conquistaram a independência. Apesar disso continuaram com graves problemas econôomicos e políticos, a despeito do apoio das antigas metrópoles. A África tornou-se, por outro lado, território de disputa entre os dois blocos então dominantes na política mundial, acentuada pela assistência militar que a União Soviética, China, Cuba, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outras potências forneciam a governos africanos sob sua influência.

A fragilidade econômica de muitos países africanos levou-os a buscar ajuda nas antigas metrópoles, das potências que apoiaram os novos governos pós-independência, ou sob forma multilateral, dos organismos internacionais como a ONU ou a Comunidade Econômica Européia. Para superar suas fraquezas os países africanos formaram a Organização da Unidade Africana (OUA), criada em 1963 em Adis-Abeba. A África negra hoje atravessa uma crise política e econômica que se caracteriza pela rejeição aos partidos únicos, pelo aumento das tensões tribais e por um desastre econômico sem precedentes. Desde o início dos anos 80 a recessão vem se ampliando, com a queda das matérias-primas e o aumento da dívida externa e do desemprego num continente onde a pupulação cresce num ritmo inédito na história. Tais dados demográficos, no entanto, podem transformar-se profundamente com a evolução da Aids: em 1991, metade dos 5 a 8 milhões de indivíduos portadores do vírus eram africanos.

Até o final dos anos 80, a maioria dos dirigentes se manteve no poder graças a partidos únicos que garantiam os privilégios de uma minoria, apoiada na corrupção generalizada. A crescente pressão dos direitos humanos, no entanto, tem obrigado vários países a se justificarem perante a comunidade internacional. Nesse contexto, em 1990 a África negra passou por mudanças políticas fundamentais, caracterizadas pela implosão dos sistemas vigentes: pluripartidarismo e democracia tornaram-se as palavras de ordem. O Benim renunciuou ao marxismo-leninismo, a Costa do Marfim legalizou os partidos de oposição após 3 anos de autoritarismo e Gabão, Zaire, Tanzânia, Camarões, Zâmbia e Congo por sua vez, se abriram ao pluripartidarismo. Na África do Sul as leis que regiam o apartheid foram abolidas em 1991, e a maioria dos países da África austral caminha para a democratização, adotando o pluripartidarismo, novas constituições e eleições livres, na esperança de atingir a estabilidade política indispensável ao desenvolvimento ecônomico.[1]

[editar] Doenças da região

*Doença do Sono : A doença do sono ameaça mais de 60 milhões de pessoas em 36 países da África subsaariana. Menos de quatro milhões destas pessoas têm acesso a um centro de saúde.

Na República dos Camarões, nos anos 20, um médico chamado Jamot implementou uma estratégia de controle eficaz, enviando equipes móveis às aldeias para diagnosticar e tratar o máximo de pacientes possível. O programa do Dr. Jamot obteve sucesso no bloqueio da transmissão da doença do sono, esvaziando a reserva humana de tripanossomas. Mas, recentemente, as guerras civis desestruturaram sistemas de saúde e forçaram pessoas a migrar, permitindo que tais reservas fossem reconstruidas.

*Malária: A malária está presente em mais de 100 países e ameaça 40% da população mundial. A cada ano, 500 milhões de pessoas são infectadas, a maioria delas na África

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subsaariana (Estima-se que 90% dos casos mundiais e 90% de toda a mortalidade por malária ocorram na África subsaariana. A doença também ocorre nas Américas Central e do Sul, sobretudo na região amazônica, e em países da Ásia), e 2 milhões de pessoas morrem dessa doença. As vítimas são principalmente crianças de áreas rurais. A malária é a primeira causa de morte de crianças menores de 5 anos na África, e mata uma criança a cada 30 segundos no mundo.

*AIDS: Desde que os primeiros casos da síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) foram detectados, em 1981, a África é o continente que mais sofre com a doença, especialmente a região subsaariana, segundo o último relatório publicado pelo Programa das Nações Unidas contra a Aids (Unaids) em maio de 2006.

Embora os dados sobre a incidência do vírus estejam sofrendo uma "desaceleração", segundo o relatório, as proporções epidêmicas ainda são graves na África subsaariana. As taxas de infecção per capita de alguns países da região continuam subindo. Com pouco mais de 10% da população mundial, a África subsaariana abriga cerca de 24,5 milhões de infectados, quase dois terços dos portadores de HIV em todo o mundo. Cerca de três quartos dos 25 milhões de pessoas que morreram em decorrência do HIV desde o início da epidemia, nos anos 80, eram do continente africano.

[editar] Caracterização política

Esta região da África é marcada, em geral, por governos autoritários e corruptos que não se preocuparam em melhorar as condições econômicas dos seus países. Nos últimos anos, no entanto, verifica-se uma tendência democratizadora em toda a região, com eleições multipartidárias realizadas regularmente.

[editar] Ambiente

Os principais aspectos do relevo são, na região do Maghreb, a cordilheira do Atlas, cujo pico é o Tubkhal (4165 m); o grande planalto desértico do Saara, com as depressões de Qattara (Egito) e Bodelê (Tchad); a bacia do rio Níger e as cadeias vulcânicas de Ahaggar (Argélia) e de Tibesti (Tchad); a sul do planalto do Sudão, destacam-se a bacia do Congo, o monte Cristal e o planalto dos Grandes Lagos Africanos, com os pontos culminantes do continente, os montes Kilimanjaro (5895 m), Quênia (5199 m), Ruwenzori (5119 m) e Elgon (4321 m); no nordeste do Vale do Rift, o maciço da Abissínia.

[editar] Hidrografia

A maior bacia hidrográfica da África e segunda do mundo, apenas superada pela do rio Amazonas, é a do rio Congo, com 3 680 000 km2. O rio Nilo, com 6690 km, é o segundo mais longo do mundo. O Zambeze e o Limpopo correm para o oceano Índico. O Orange, o Níger, o Gâmbia e o Senegal desembocam no Atlântico.

Os principais lagos africanos são o Vitória, segundo do mundo em superfície, com 69 485km², o Tanganica, o Rodolfo, o Alberto, o Eduardo e o Niassa.

[editar] Clima

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O clima tropical predomina na maior parte da África, tanto na zona tropical, úmida no verão e seca no inverno, quanto na zona equatorial, com temperaturas elevadas e chuvas abundantes.

Nos grandes desertos, como o Saara e o Kalahari, as temperaturas são altas de dia e baixas à noite. Nos extremos norte e no sul do continente encontram-se estreitas regiões de clima ameno, de tipo mediterrâneo.

[editar] Fauna e flora

Ao norte e ao sul da selva equatorial, estendem-se as savanas, com sua vegetação herbácea e árvores de grande porte, como o baobá. Nos desertos, a cobertura vegetal é escassa, exceto nos oásis, onde crescem palmeiras. Nas zonas temperadas há bosques baixos de pinheiros e carvalhos e vegetação de arbustos (maquis).

A fauna é uma das mais ricas do mundo. Na floresta equatorial há muitas aves, símios (chimpanzés e gorilas), répteis e anfíbios. Na savana, rinocerontes, girafas, elefantes, hipopótamos, leões, leopardos e hienas. No deserto, chacais, insetos e répteis. Na zona mediterrânea, lebres, cabras, raposas e aves de rapina.

Notas e Referências

↑ a b c Grande Enciclopédia Ilustrada Larousse Cultural, Editora Nova Cultural Ltda.

Índice

A história da África é conhecida no Ocidente por escritos que datam da Antiguidade Clássica. No entanto, vários povos deixaram testemunhos ainda mais antigos das suas

civilizações. Para além disso, os mais antigos fósseis de hominídeos foram encontrados na África com cerca de cinco milhões de anos. O profissional que estuda a história da África é conhecido como africanista

O Egito foi provavelmente o primeiro estado a constituir-se na África, há cerca de 5000 anos, mas muitos outros reinos ou cidades-estados se foram sucedendo neste continente, ao longo dos séculos. Para além disso, a África foi, desde a antiguidade, procurada por

Índice[esconder]

1 Proto-história de África 2 Pré-história

o 2.1 Norte de África

3 Antiguidade

4 História recente de África

o 4.1 Colonização europeia

4.1.1 Apartheid

o 4.2 Descolonização da África

5 Referências

6 Bibliografia

7 Ver também

8 Ligações externas

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povos doutros continentes, que buscavam as suas riquezas, por vezes ocupando partes do "Continente Negro" por largos períodos. A estrutura actual de África, no entanto, é muito recente – meados do século XX – e resultou da colonização europeia.

[editar] Proto-história de África

De acordo com as descobertas mais recentes de fósseis de hominídeos, a África parece ter sido o "berço da humanidade", não só onde, pela primeira vez, apareceu a espécie Homo sapiens, mas também grande parte dos seus antepassados, os Australopithecus (que significa "macacos do sul"), os Pithecanthropus (que significa "macaco-homem") e, finalmente, o género Homo (ver Swartkrans, por exemplo).[1]

[editar] Pré-história

[editar] Norte de África

No deserto da Líbia encontraram-se gravações em rochas (ou "petroglifos") do período Neolítico, e megalitos, que atestam da existência duma cultura de caçadores-recolectores nas savanas secas desta região, durante a última glaciação. O atual deserto do Saara foi um dos primeiros locais onde se praticou a agricultura na África (cultura da cerâmica de linhas onduladas). Outros achados arqueológicos demonstram que, depois da desertificação do Saara, as populações do Norte de África passaram a concentrar-se no vale do rio Nilo: os "nomas", cuja cultura ainda não conhecia a escrita, e que, por volta de 6000 a.C., já tinha uma agricultura organizada.

[editar] Antiguidade

Mapa das civilizações africanas antes da colonizção europeia.

Pode dizer-se que a história recente ou "moderna" da África, no sentido do seu registro escrito, começou quando povos de outros continentes começaram a registrar o seu conhecimento sobre os povos africanos – com exceção do Egito e provavelmente dos antigos reinos de Axum e Meroe, que tiveram fortes relações com o Egito.

Assim, aparentemente, a história da África oriental começa a ser conhecida a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" ou negros

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africanos. No entanto, outras partes do continente já tinham tido início a islamização, que trouxe a estes povos a língua árabe e a sua escrita, a partir do século VII.

As línguas bantu só começaram a ter a sua escrita própria, quando os missionários europeus decidiram publicar a Bíblia e outros documentos religiosos naquelas línguas, ou seja, durante a colonização do continente, pelo menos, da sua parte subsaariana.

As primeiras civilizações surgiram na África na Antigüidade:

História do Egipto História da Etiópia

Fenícia

Axum

Meroe

Grande Zimbabwe

Paisagem Cultural de Mapungubwe

África Subsaariana

[editar] História recente de África

Pode dizer-se que a história recente ou "moderna" de África, no sentido do seu registo escrito, começou quando povos de outros continentes começaram a registar o seu conhecimento sobre os povos africanos – com excepção do Egipto e dos antigos reinos de Axum e Meroe, que tiveram fortes relações com o Egipto e já tinham a sua escrita própria.

Assim, aparentemente, a história da África oriental começa a ser conhecida a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante actividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" ou negros africanos. No entanto, noutras partes do continente já tinha tido início a islamização, que trouxe a estes povos a língua árabe e a sua escrita, a partir do século VII.

As línguas bantu só começaram a ter a sua escrita própria, quando os missionários europeus decidiram publicar a Bíblia e outros documentos religiosos naquelas línguas, ou seja, durante a colonização do continente, pelo menos, da sua parte subsaariana.

[editar] Colonização europeia

Ver artigo principal: História da colonização de África

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Mapa de África Colonial em 1913.

██ Bélgica██ França██ Alemanha██ Grã-Bretanha██ Itália██ Portugal██ Espanha██ Estados independentes (Libéria e Etiópia)

No período da expansão marítima européia, no século XV, os portugueses tentavam contornar a costa africana para chegar nas Índias em busca de especiarias. Muitas áreas da costa africana foram conquistadas e o comércio europeu foi estendido para essas áreas.

Na África existiam muitas tribos primitivas (segundo a visão etnocentrista européia) que viviam em contato com a natureza e não tinham tecnologia avançada. Havia guerras entre tribos diferentes, a tribo derrotada na guerra se tornava escrava da tribo vencedora.

No período de Colonização da América, ocorria o tráfico negreiro, em que eram buscados negros da África para trabalhar como escravos nas colônias como mão-de-obra, principalmente nas plantações. Os escravos eram conseguidos pelos europeus por negociações com as tribos vencedoras, trocando os escravos por mercadorias de pouco valor na Europa, como tabaco e aguardente, e levados para América como peças (mercadorias valiosas).

Após a Revolução Industrial e a independência das colônias do continente americano, no século XVIII, as potências européias começaram a dominar administrativamente várias áreas da África e da Ásia para expandir o comércio, buscar matérias-primas e mercado consumidor, e deslocar a mão-de-obra desempregada da Europa.

Na colonização, a África foi dividida de acordo com os interesses europeus, que culminou com a partilha do continente pelos estados europeus na Conferência de Berlim, em 1885. Tribos aliadas foram separadas e tribos inimigas unidas. Após a Segunda Guerra Mundial, as colônias na África começaram a conquistar a independência, formando os atuais países africanos.

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[editar] Apartheid

Placa na praia em Durban que indica "área de banho para integrantes do grupo branco", em Inglês, em Africaner e Zulu (1989).

A questão racial assumiu uma forma radical na África do Sul: embora os negros, mestiços e descendentes de indianos constituíssem 86% da população, eram os brancos que detinham todo o poder político, e somente eles gozavam de direitos civis.

A origem desse sistema, denominado apartheid, data de 1911, quando os africânderes (descendentes de agricultores holandeses e franceses que emigraram para a África do Sul) e os britânicos estabeleceram uma série de leis para consolidar seu domínio sobre os negros. Em 1948, a política de segregação racial foi oficializada, criando direitos e zonas residenciais para brancos, negros, asiáticos e mestiços.

Na década de 1950, foi fundado o Congresso Nacional Africano (CNA), partido político contrário ao apartheid na África do Sul. Em 1960, o CNA foi declarado ilegal e seu líder Nelson Mandela, condenado à prisão perpétua. De 1958 a 1976, a política do apartheid se fortaleceu com a criação dos bantustões, apesar dos protestos da maioria negra (vide Massacre de Soweto).

Diante de tal situação, cresceram o descontentamento e a revolta da maioria subjugada pelos brancos; os choques tornaram-se frequentes e violentos; e as manifestações de protesto eram decorrência natural desse quadro injusto. A comunidade internacional usou algumas formas de pressão contra o governo sul-africano, especialmente no âmbito diplomático e econômico, no sentido de fazê-lo abolir a instituição do apartheid.

Finalmente, em 1992, Frederik de Klerk aboliu as leis discriminatórias e libertou Mandela. Em 1994, tiveram lugar as primeiras eleições multirraciais na África do Sul,

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em que o CNA ganhou a maioria, embora dando o lugar de Vice-presidente a De Klerk; o CNA continuou a ganhar as eleições até 2009, continuando a governar.

[editar] Descolonização da África

Mapa de África com as várias datas de independência

Ver artigo principal: História da descolonização de África

As duas grandes guerras que fustigaram a Europa durante a primeira metade do século XX deixaram aqueles países sem condições para manterem um domínio econômico e militar nas suas colônias. Estes problemas, associados a um movimento independentista que tomou uma forma mais organizada na Conferência de Bandung, levou as antigas potências coloniais a negociarem a independência das colônias, iniciando-se a descolonização.

Este processo foi geralmente antecedido por um conflito entre as "forças vivas" da colónia e a administração colonial, que pode tomar a forma duma guerra de libertação (como foi o caso de algumas colónias portuguesas e da Argélia). No entanto, houve casos em que a potência colonial, quer por pressões internas ou internacionais, quer por verificar que a manutenção de colónias lhe traz mais prejuízos que benefícios, decide por sua iniciativa conceder a independência às suas colónias, como aconteceu com várias das ex-colónias francesas e britânicas. Nestes casos, foi frequente o estabelecimento de acordos em que a potência colonial tem privilégios no comércio e noutros aspectos da economia e política.

Referências1. ↑ Foley, Jim (2004) "Hominid species" no site The TalkOrigins Archive (em inglês)

acessado a 30 de julho de 2009

[editar] Bibliografia WALDMAN, Maurício ; SERRANO, Carlos. Memória D'África - A Temática Africana em

Sala de Aula. 1ª. ed. São Paulo, SP: Cortez Editora, 2007. v. 01. 327 p.

[editar] Ver também Lista de ex-colônias européias na África

Page 41: Trab Africa

1. (1993)

Descrição do ficheiro

ISO 3166-1

BE DE ES FR GB IT PT

DanskBelgien

Tyskland Spanien FrankrigStorbritannien

Italien PortugalUafhængige lande

Deutsch

Belgien

Deutschland

SpanienFrankreich

Großbritannien

Italien PortugalUnabhängig Staaten

EnglishBelgium

Germany Spain France Great Britain Italy PortugalIndependent States

Español

Bélgica

Alemania España Francia Reino Unido Italia Portugal Estados independie

Page 42: Trab Africa

ntes

Français

Belgique

Allemagne

Espagne FranceGrande-Bretagne

Italie PortugalÉtats indépendants

MagyarBelgium

Németország

Spanyolország

Franciország

Nagy-Britania

Olaszország

Portugália

Független

Polski Belgia Niemcy Hiszpania FrancjaWielka Brytania

WłochyPortugalia

Niepodległe kraje

Portugais

Bélgica

Alemanha Espanha FrançaGrã-Bretanha

Itália PortugalEstados independentes

Русский

Бельгия

Германия Испания ФранцияВеликобритания

ИталияПортугалия

Независимые государства

Suomi Belgia Saksa Espanja Ranska Iso-Britannia ItaliaPortugalia

Itsenäiset valtiot

Svenska

Belgien

Tyskland Spanien FrankrikeStorbritannien

Italien PortugalSjälvstandiga stater

TürkçeBelçika

Almanya İspanya FransaBüyük Britanya

İtalya PortekizBağımsız Devletler

ISO 3166-1

BE DE ES FR GB IT PT

Page 43: Trab Africa

Copa do Mundo FIFA de 2010

Candidatos

O processo oferecendo a primeira Copa do Mundo FIFA sob a rotação continental (o processo de girar hospedando a Copa a cada confederação por vez) era a Copa do Mundo FIFA de 2010. Será o maior evento ostentado neste continente, que como as Olimpíadas, ainda não tinha sido organizado no continente africano. Assim, candidataram-se a África do Sul, o Marrocos, o Egito e a candidatura binacional Líbia-Tunísia.

Em 15 de maio de 2004, em Zurique, Suíça, a África do Sul derrotou Marrocos por 14 votos a 10. O Egito não recebeu nenhum voto e Líbia e Tunísia retiraram-se em 8 de maio de 2004 depois de oferecerem sua junção, que não foi permitida.

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Preparativos

A África do Sul construiu cinco novos estádios de futebol em preparação para a Copa do Mundo FIFA de 2010. Será a primeira vez da história do país que a região terá estádios especialmente dedicados ao futebol. Sob o antigo governo do apartheid, os estádios eram construídos exclusivamente para o rúgbi e o críquete.

A África do Sul tem pouca tradição no futebol, em 2002 participou da Copa da Coreia e Japão no grupo B, sendo eliminada na 1.ª fase da copa num grupo em que participavam as seleções da Espanha, da Eslovênia e do Paraguai, participou também da Copa de 1998, na França.

Uma delegação da FIFA completou uma primeira visita à África do Sul depois que o país foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 2010. Os dirigentes disseram em seguida que vários aspectos técnicos e legais foram debatidos antes de os membros da FIFA deixarem o país.

"A FIFA está procurando cumprir todo o processo do país-sede o mais rápido possível e vai montar um escritório na África do Sul no início do ano que vem", disse Danny Jordaan, que encabeça o comitê local.

Um comitê de quatro homens, do qual Jordaan é um dos integrantes, foi composto para acertar a organização local.

Em meados de 2010 na verdade é 2008, em virtude dos atrasos nos preparativos com a possibilidade da África do Sul não terminar a tempo as obras necessárias, especulou-se sobre a troca da sede da Copa. Foram cogitadas a Alemanha [1] que possuía toda a estrutura montada para a Copa do Mundo 2006,além da Espanha e Austrália.

Uma greve foi iniciada pelos operários sul-africanos no dia 8 de julho de 2009. Obras nos estádios, rodovias, ferrovias, aeroportos e hospitais chegaram a ser interrompidas. Os operários pediam algo em torno de 15% de aumento salarial.[2] Os atrasos, que já eram evidentes ficaram mais complicados com a greve. Representantes da organização do torneio chegaram a admitir que o cronograma das obras poderia sofrer alterações.[3]

MascoteVer artigo principal: Zakumi

Em 22 de setembro de 2008, foi apresentado o mascote oficial da Copa: o leopardo Zakumi. O nome vem dos termos "ZA" (abreviação de África do Sul) e "Kumi" ("dez", o ano da Copa).[4]

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Bola oficial

Jabulani, a bola oficial do torneio.

Ver artigo principal: Adidas Jabulani

Chamada Jabulani, a bola oficial é produzida pela Adidas. A bola possui 11 cores diferentes, cada uma representando os dialetos e etnias diferentes da África do Sul. O nome da bola signifca "Trazendo alegria para todos", em IsiZulu.

TelevisãoVer artigo principal: Transmissão dos jogos da Copa do Mundo FIFA de 2010

No Brasil

A Rede Globo e a Rede Bandeirantes, que são canais de TV aberta já adquiriram os direitos de transmissão da Copa do Mundo FIFA de 2010. As redes de TV por assinatura SporTV, ESPN Brasil e BandSports, também já adquiriram os direitos de transmissão do evento.

Em Portugal

A RTP, a SIC e a Sport TV irão transmitir o mundial.

Países classificadosVer artigo principal: Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 2010

Assim como nos últimos mundiais, este ano a competição também terá a presença de 32 seleções, que foram classificadas através do processo eliminatório iniciado em 25 de agosto de 2007 e finalizado em novembro de 2009.

As vagas estão distribuídas pela confederação africana com seis vagas (incluindo o país-sede), asiática com quatro, norte-americana, centro-americana e caribenha com três, sul-americana com quatro e europeia com treze. A oceânica disputou uma vaga de repescagem com o quinto colocado das eliminatórias asiáticas. Há uma outra vaga de

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repescagem, que foi disputada entre o quinto colocado das eliminatórias sul-americanas e o quarto colocado das eliminatórias norte-americana, centro-americana e caribenha.

Neste mundial, as duas Coreias disputarão, pela primeira vez, uma mesma Copa do Mundo. Destaca-se também, a 19ª participação do Brasil no torneio, mantendo seu recorde de ser a única seleção a participar de todas as edições.

Sedes

Em 2005, os organizadores liberaram uma lista provisória de treze cidades-sedes a serem usadas para esta Copa do Mundo, a quais foram: Bloemfontein, Cidade do Cabo, Durban, Joanesburgo (duas), Kimberley, Nelspruit, Orkney, Polokwane, Porto Elizabeth, Pretória, e Rustenburgo.

Entre os estádios, quatro foram sedes da Copa do Mundo de Rugby de 1995 (Free State Stadium, Ellis Park Stadium, Loftus Versfeld Stadium e Royal Bafokeng Stadium).

Em 17 de março de 2006, a FIFA anunciou oficialmente a lista de sedes da Copa da África do Sul:

Bloemfontein Cidade do Cabo Durban Joanesburgo

Free State Stadium

Capacidade: 48.000

Green Point Stadium

Capacidade: 70.000

Moses Mabhida Stadium

Capacidade: 70.000

Soccer CityCapacidade:

95.000

Ellis Park StadiumCapacidade:

61.000

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Nelspruit Polokwane Porto Elizabeth Pretória Rustenburgo

Mbombela Stadium

Capacidade: 43.000

Peter Mokaba Stadium

Capacidade: 46.000

Nelson Mandela Bay StadiumCapacidade:

50.000

Loftus Versfeld Stadium

Capacidade: 52.000

Royal Bafokeng Stadium

Capacidade: 42.000

CuriosidadesSeções de curiosidades são desencorajadas sob as políticas da

Wikipédia.Este artigo pode ser melhorado integrando-se itens relevantes e

removendo-se os inapropriados.

É o primeiro mundial sediado no continente africano. A Copa do Mundo de 2010 na África do Sul terá todos os campeões mundiais, algo que

não ocorreu na edição da Alemanha. Sendo assim, o pentacampeão Brasil, a tetracampeã Itália, a tricampeã Alemanha, os bicampeões Argentina e Uruguai, e ainda os campeões França e Inglaterra participarão desta Copa. A última vez que isto ocorreu foi em 2002, quando todos os vencedores de um Mundial estavam presentes. Além de 2010 e 2002, nos Mundiais de 1990, 1986, 1970, 1966, 1962, 1954 e 1950 todos os campeões mundiais de então estiveram presentes. O contraponto é a Copa de 1958, na Suécia, quando somente a Alemanha Ocidental (campeã mundial da época) estava presente, contra as ausências de Uruguai e Itália e a Copa do Mundo de 1930 e 1934 sem campeões mundiais presentes.

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Pela primeira vez na história das Copas, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte vão competir simultaneamente. Na única vez em que a Coreia do Norte competiu, em 1966, a Coreia do Sul não estava presente.

Pela primeira vez duas seleções da Oceania disputam a mesma Copa, é o caso de Austrália (disputou a vaga pela Ásia) e Nova Zelândia.

As seleções de Honduras e Nova Zelândia haviam disputado a Copa de 1982 e retornaram, curiosamente, para a Copa 2010, após ficarem de fora da grande festa do futebol durante longos 28 anos.

Portugal e Alemanha (respectivamente 4º e 3º lugares na Copa de 2006) ao se classificarem quebraram um tabu que durava desde 1986: toda seleção europeia que fica em 3º ou em 4º lugares no mundial anterior ficava de fora da Copa seguinte. Aconteceu com a França 3º em 1986, Inglaterra 4º em 1990, Suécia 3º em 1994, Holanda 4º em 1998 e Turquia 3º em 2002.

Primeira copa do Mundo a ter 6 seleções do continente africano.

Pela primeira vez desde a sua estreia em Copas do Mundo, a Arábia Saudita fica fora de um mundial.

Na África do Sul, G1 mostra as cidades com maior desigualdade social do mundo

Joanesburgo, Ekurhulen e Buffalo City lideram ranking da ONU. Quem tem dinheiro não faz cerimônia na hora de ostentar.

Marta Reis Do G1, em Joanesburgo

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Foto: Marta Reis/G1

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Mansão em Joanesburgo (Foto: Marta Reis/G1)

Menos de dez quilômetros separam duas realidades completamente distintas de Joanesburgo. De um lado, o bairro de Sandton, com suas luxuosas mansões, imponentes shoppings e sofisticadas BMWs. Do outro, Alexandra, uma comunidade que vive à beira do colapso – a maioria das casas não tem água encanada ou esgoto, o desemprego beira os 40%, o que acaba sendo um trampolim também para a violência. 

 

Foto: Marta Reis/G1

Soweto, distrito no subúrbio de Joanesburgo (Foto: Marta Reis/G1)

De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no último dia 19, a África do Sul tem as três cidades mais desiguais do mundo no quesito distribuição de renda. São elas: Joanesburgo, Ekurhulen e Buffalo City. As duas primeiras ficam em Gauteng, a província mais rica do país, e a última na Província do Cabo Oriental.

O estudo, intitulado O Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido, também destacou Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília como as mais desiguais do Brasil. 

 

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Foto: Marta Reis/G1

Em Tokosa falta quase tudo (Foto: Marta Reis/G1)

Entre as três cidades sul-africanas, Joanesburgo tem a desigualdade mais flagrante, justamente por ser a mais rica. Quem tem dinheiro aqui não faz cerimônia na hora de ostentar. Não é raro encontrar mansões que ocupam meio quarteirão e milionários desfilando em carros conversíveis.

Em contrapartida, suas townships (espécie de favela) impressionam pela precariedade. A maioria dos barracos é feita de telha de zinco sem qualquer isolamento térmico, ou seja, viram um forno durante o verão e um congelador durante o rigoroso inverno da cidade.

Na vizinha Ekurhule, fica a comunidade de Tokosa, uma das mais pobres do país, que protagonizou em junho do ano passado uma onda de protestos violentos por melhores condições de vida. Em Tokosa falta quase tudo.

“Não temos água encanada, eletricidade ou habitações dignas. Esse lugar não pode ser chamado de casa, está num estado tão ruim que nem porcos podem viver aqui”, reclama o morador Betwell Khatlade.

 

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Ricos de Joanesburgo fazem questão de ostentar (Foto: Marta Reis/G1)

Foto: Marta Reis/G1

Em Alexandra, casas não têm água encanada ou esgoto (Foto: Marta Reis/G1)

Em Buffalo City, o panorama é parecido. Enquanto uma pequena porcentagem da população enriqueceu a partir das indústrias automobilística e farmacêutica que são fortes na região, mais de 70% das pessoas vivem com pouco mais de R$ 300 por mês. Na township de Mdantsane, a segunda maior do país depois de Soweto, um em cada três adultos está desempregado e vive em habitações precárias.

Apesar de ter a economia mais pujante do continente, a África do Sul tem pelo menos 40% da população abaixo da linha da pobreza, vivendo com menos de dois reais por dia. Um milhão de sul-africanos ainda moram em barracos sem água nem eletricidade.

A desigualdade de renda no país ganhou força principalmente durante o Apartheid, quando menos de 10% da população - leia-se brancos - detinha toda a riqueza do país.

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Além de não terem direito à propriedade, os negros não podiam ocupar cargos importantes no governo ou em empresas privadas. Além disso, eram removidos dos bairros nobres para as periferias – as townships.

 

 

Casas pobres de Soweto (Foto: Marta Reis/G1)

 

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A eleição de Nelson Mandela em 1994 significou liberdade, mas não necessariamente melhores condições de vida para a maioria da população. Ao invés de diminuir a diferença de renda entre negros e brancos, a África do Sul democrática aumentou a desigualdade entre os próprios negros.

A situação preocupa tanto que a principal promessa de campanha do atual presidente Jacob Zuma foi levar serviços básicos, como água, eletricidade e esgoto às comunidades mais pobres. No entanto, como pouco foi feito nos meses seguintes às eleições, o país foi tomado por uma onda de protestos que se desdobram até hoje.

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“O governo deve nos dizer por mais quanto tempo vamos viver deste jeito. Já faz 15 anos que esperamos por esses serviços e nada acontece. Não dá mais”, critica Sipho Duma, líder comunitário de Tokosa.