Trabal. de c.a. de veronica

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INSTITUTO PIAGET ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CAMPUS DE ALMADA Curso de Animação Sociocultural Disciplina de Trabalho de Campo Antropológico Observação sobre Idosas com a Patologia de Alzheimer Docente Sra. Professora Dra. Cristina Granado

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INSTITUTO PIAGET

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CAMPUS DE ALMADA

Curso de Animação Sociocultural

Disciplina de Trabalho de Campo Antropológico

Observação sobre Idosas com a

Patologia de Alzheimer

Docente – Sra. Professora Dra. Cristina Granado

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Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010

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Discente – Verónica Patinho

Nº de Aluna – 43445

2 º Semestre do Ano Lectivo 2009/2010

ÍNDICE

1 - INTRODUÇÃO PÁG . 5

2- CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA PÁG. 6

3 - ENTREVISTA À DRA ANA PAULA PÁG. 8

4 - CARACTERIZAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO PÁG. 16

5 - CARACTERIZAÇÃO DOS TÉCNICOS PROFISSIONAIS PÁG. 18

6 - CARACTERIZAÇÃO DOS IDOSOS PÁG. 19

7 - PROGRAMAS QUE A INST. OFERECE PÁG. 25

8 - A SITUAÇÃO FAMILIAR DOS UTENTES PÁG. 25

9 - METODOLOGIA PÁG. 27

10 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS PÁG. 29

10.1 - CARACTERIZAÇÃO DAS AUXILIARES PÁG. 37

11 - ENTREVISTAS ÀS AUXILIARES PÁG. 37

12 - ENTREVISTAS AOS TÉCNICOS E PROFISSIONAIS PÁG. 41

13 - ENTREVISTAS AOS FAMILIARES DOS UTENTES PÁG. 43

14 - ENTREVISTA AO DR. CARLOS ARAÚJO PÁG. 46

CONCLUSÃO PÁG. 48

BIBLIOGRAFIA PÁG. 49

ANEXOS

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AGRADECIMENTOS

Tenho de agradecer a todos aqueles que me ajudaram ao longo da Observação realizada

na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza. Em primeiro que tudo, ao Dr. Carlos Araújo e Dra.

Graciete Araújo, pelos seus preciosos conselhos e críticas ao longo da elaboração deste Trabalho.

Às Auxiliares Ana Almeida, Manuela Sota, Ana Isabel e Fernanda Oliveira, que se

predispuseram para entrevistas e opiniões.

Devo muito aos colegas que aceitaram ler, criticar e corrigir o meu Trabalho de Campo

Antropológico, em particular Catarina Justo e Anabela Marques.

Agradeço também a todos os familiares dos Utentes respectivos, que colaboraram com

depoimentos e histórias de vida passadas e que são vividas actualmente.

Gostaria por fim de agradecer a todos os técnicos profissionais, que trabalham na

Instituição como a Médica, o Enfermeiro, o Osteopata e o Fisioterapeuta, que por numerosas

conversas, sugestões e críticas com que me quiseram cumular, me ajudaram a concluir o meu

trabalho.

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“ O bem mais precioso do ser Humano é o seu espírito, sem desejo de viver, sem

sentido de dignidade, sua personalidade. Embora possamos ser descritos em termos de

tendões, ossos e terminações nervosas, jamais devemos perder de vista a pessoa que

estamos a tratar”.

Paul Brand

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INTRODUÇÃO

O tema do presente trabalho é sobre a doença de Alzheimer. Entre 50 a 70 por cento de

todas as pessoas com demência têm a doença de Alzheimer.

A demência é uma decadência progressiva da capacidade mental em que a memória, a

reflexão, o juízo, a concentração e a capacidade de aprendizagem estão diminuídas e pode

produzir-se uma deterioração da personalidade. A demência pode aparecer subitamente em

pessoas jovens, no entanto a demência habitualmente desenvolve-se de forma lenta e afecta as

pessoas com mais de 60 anos. Apesar de tudo, a demência não faz parte do processo normal de

envelhecimento, à medida que a pessoa envelhece, as alterações do cérebro causam uma certa

perda de memória e uma deterioração na capacidade de aprendizagem. Estas alterações não

afectam as funções normais. A demência é uma deterioração muito mais grave da capacidade

mental e piora com o tempo. A causa mais comum da demência é a doença de Alzheimer.

A doença de Alzheimer pode ter várias causas tais como: sexo, factores genéticos,

hereditariedade, traumatismos cranianos, e outros factores.

Elaborou-se um perfil neuropsicológico do doente com Alzheimer e a nível de intervenção

com estes doentes, constatamos que esta deve ser multidisciplinar, preventiva e sintomático.

A intervenção faz-se a nível psicossocial, terapia comportamental, reestruturação

cognitiva e o respectivo tratamento medicamentoso.

Enfatizamos também o papel da nutrição e a importância da actividade física, bem como

alguns conselhos para a família destes doentes.

As demências são incuráveis, e urge uma intervenção bem estruturada de maneira a

proporcionar alguma qualidade de vida digna para estes doentes.

Para a realização do meu trabalho de Observação, para a disciplina de Trabalho de Campo

Antropológico, que tem como docente a Professora Dra. Cristina Granado, foi necessário primeiro

escolher um tema que iria trabalhar e posteriormente travar contactos com a Instituição em

causa para a realização do mesmo.

Decidi observar sobre uma questão que hoje em dia as pessoas têm muito pouco

conhecimento, a Doença de Alzheimer, tal como já foi referido anteriormente, esta patologia tem

vindo a aparecer cada vez mais.

Uma vez que trabalho diariamente com Idosos, achei que seria deveras interessante

realizar um trabalho desta natureza.

Tendo de admitir que foi complicado tomar uma decisão acerca de que doença iria falar,

pois numa Residência para Idosos/Lares de Idosos, deparamo-nos com uma variedade de

patologias diferentes.

Exerço a função de Animadora Sociocultural na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza, de

onde tomei o meu ponto de partida para construir o meu Diário de Bordo.

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O meu interesse neste Trabalho concerne-se com o facto de lidar com este público – alvo

todos os dias e através da Observação perceber melhor os seus comportamentos.

Tem como objectivo teórico a Valorização dos idosos numa idade avançada e que apesar

de sofrerem de determinadas doenças, nomeadamente o Alzheimer, devemos de intervir com

variadíssimas actividades, tendo como objectivo de quebrar a monotonia dos idosos, mantê-los

activos, dar-lhes mais conforto, criando momentos de alegria e de conforto, quer com as

funcionárias, quer com os familiares na hora de visita, quer no convívio entre Idosos nas horas

de refeições ou noutros tempos livres, que apesar de serem momentos simples, se tornem

memoráveis para estes Idosos.

A principal preocupação deste trabalho, é que a minha intervenção enquanto observadora

sobre este caso específico, incentive uma continuidade do projecto quer pelos familiares, quer

pela direcção do Lar, uma vez que a estas pessoas e cada vez mais estão constantemente a

aparecer na nossa Sociedade, e infelizmente cada vez mais novas; talvez grande parte das

pessoas não sabe como lidar com este tipo de doença.

Com a realização deste Trabalho pretendo ter um contacto mais profundo com a

realidade, que possivelmente irei encontrar num Futuro próximo, ou seja, aperfeiçoar o

conhecimento sobre o que é a Doença de Alzheimer, quais são as características principais da

doença de Alzheimer, quais os principais estádios de desenvolvimento da doença de Alzheimer,

em que idades aparecem, como se diagnostica esta doença e como obter ajuda.

Tudo isto irá verificar através da observação participante e da observação directa, bem

como através das entrevistas aos familiares, técnicos, auxiliares e donos da Instituição.

Segundo o autor Ladislas Robert, do Livro “o Envelhecimento”, caracteriza a Doença de

Alzheimer da seguinte forma:

1 - Caracterização da Doença

Doenças que mais afectam os Idosos

Como se sabe os idosos são a faixa etária que mais vulnerável está a doenças, inclusive

existem doenças que só surgem a partir de determinada idade.

Alzheimer

É uma doença degenerativa, até agora sem cura e terminal;

Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer;

Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única mas existem pontos em

comum, como a perda de memória.

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A evolução da doença está dividida em quatro fases:

Predemência, com a perda de memória a curto prazo, perda a flexibilidade no pensamento

e de dar atenção a algo;

Demência inicial, em que as memórias mais antigas são as menos afectadas, há

dificuldade na execução de movimentos e há um desleixo na execução de actividades;

Demência moderada, em que o paciente vai perdendo a capacidade de fazer as mais

simples tarefas diárias;

Demência avançada, em que a sua linguagem está reduzida, a sua massa muscular e a

sua mobilidade degeneram-se e fica Acamado.

Alguns concelhos para lidar com doentes de Alzheimer

Como se comunica com o doente de Alzheimer?

Olhe olhos nos olhos, quando conversam;

Permaneça calmo e fale pausadamente;

Evite ruídos (TV, rádio...)

Vaguear, deambular e andar sem rumo é um perigo. O que fazer para o minimizar?

Previna os vizinhos e comerciantes próximos do estado do doente;

Se o doente quiser sair de casa, não deve impedi-lo de o fazer, vigiando-o à distância.

O que fazer quando o doente se mostra agressivo?

Procure compreender o que originou a reacção agressiva;

Evite discutir ou ralhar;

Procure manter-se calmo.

Como prevenir que surjam crises de agressividade?

Não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente;

Deixe que o doente faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo;

Existem práticas que podem ajudar a manter a qualidade de vida do doente:

A medicação não trata por completo a doença, mas permite ao paciente manter as suas

actividades diárias;

Praticar actividades físicas regularmente contribui para manter a mobilidade nas pessoas

afectadas pela doença de Parkinson;

A fisioterapia e as ajudas mecânicas (como as cadeiras de rodas) apoiam a autonomia do

doente;

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É importante uma dieta rica em fibras, para combater a obstipação (prisão de ventre) que

pode ocorrer devido à inactividade, à desidratação e ao uso de alguns medicamentos.

Local de Intervenção

Para o meu trabalho escolhi a observação num Lar de Idosos.

Mas porquê um lar de idosos?

Ajudar um lar de idosos chamou especialmente a minha atenção, isto porque normalmente

os idosos são os mais esquecidos pela nossa sociedade, além disso o facto de interagir e conviver

com eles sensibiliza-nos e ajuda-nos a compreender outra realidade com a qual não estamos

habituados a lidar e que só nos trás sabedoria e nos mostra a verdadeira escola, a Escola da

Vida!

Foi realizado no dia 26 de Junho, uma entrevista à médica responsável da instituição com

o objectivo de esclarecer os sintomas e desenvolvimento da doença de Alzheimer.

2 - Entrevista à Dra. Ana Paula (Médica da Instituição)

O que é uma Demência?

O termo “demência” refere-se a um sindroma, portanto, a um conjunto de sintomas e

sinais que se manifestam em pessoas com doenças cerebrais. O dano cerebral altera as

capacidades mentais – memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, etc. –

produzindo uma deterioração intelectual que se repercute na capacidade funcional e no

comportamento do doente.

As causas mais habituais de demência são as denominadas doenças neurodegenerativas,

das quais a mais comum é a Doença de Alzheimer. Chamam-se degenerativas porque não têm

mecanismo causal conhecido, têm manifestações neurológicas previsíveis (sistematizadas) para

cada uma delas, cursam com agravamento progressivo e têm, muitas vezes, carácter familiar.

Numa percentagem de casos as doenças que estão na origem do sindroma demencial são

tratáveis e o processo de deterioração mental pode ser interrompido ou mesmo revertido; estes

doentes devem, por isso, ser diagnosticados e tratados precocemente. Deve referir-se, no

entanto, que mesmo nas formas degenerativas, o perfil de agravamento da doença, ou seja a

forma como os sintomas referidos acima vão evoluindo, pode variar de doente para doente e,

nalguns casos, o estado da pessoa pode melhorar ou estabilizar por um determinado período de

tempo.

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O que é a Doença de Alzheimer???

Cerca de 50 a 70% das pessoas com demência sofrem de Doença de Alzheimer. Esta

designação vem de Alois Alzheimer, um psiquiatra e neuropatologista alemão que em 1906

descreveu pela primeira vez as alterações neuropatológicas características da doença – morte de

neurónios em determinadas áreas do cérebro, tranças neurofibrilhares e placas senis.

Como já referido, a doença manifesta-se por alteração da memória e de outras faculdades

mentais – orientação no tempo e no espaço, linguagem, cálculo, desenho, raciocínio – e

acompanha-se frequentemente de perturbações psicológicas, como por exemplo alterações do

humor ou da personalidade. Apesar da variabilidade individual da expressão e evolução dos

sintomas, o quadro clínico é relativamente típico. Inicialmente os sintomas, tais como as falhas

de memória e a desorientação no tempo podem ser tão subtis que podem passar despercebidos à

família e aos amigos; no entanto, à medida que a doença progride, os sintomas tornam-se cada

vez mais notórios e começam a interferir com o trabalho de rotina e com as actividades sociais.

Em fases mais adiantadas os doentes começam a apresentar dificuldades em tarefas diárias

simples como a higiene pessoal e o vestir, e, com o tempo, ficam completamente dependentes.

A doença de Alzheimer não é infecciosa nem contagiosa, mas é uma doença crónica,

progressiva e actualmente incurável. Nas fases adiantadas o doente fica acamado, perde peso, o

sistema imunitário fica debilitado e os doentes acabam por falecer, em geral de complicações

infecciosas. No passado, a designação de Doença de Alzheimer era utilizada somente para

denominar as formas com início precoce (com limite estabelecido arbitrariamente abaixo dos 65

anos), em oposição à demência senil, mais frequente e mais conhecida. Na sequência dos

estudos de Alois Alzheimer, verificou-se que as alterações neuropatológicas consideradas

características da doença eram comuns às formas pré-senis e senis, passando a utilizar-se a

designação comum de Doença de Alzheimer, independentemente da idade de início.

Quais são as características principais da Doença de Alzheimer?

Perda de Memória:

Um defeito grave da capacidade de memória, como o que existe na Doença de Alzheimer,

pode ter repercussões em múltiplas actividades e funções. Citam-se as dificuldades de

comunicação, riscos de segurança, alteração nas actividades de vida diária e alterações de

comportamento. É importante considerar as diversas componentes ou tipos de memória para

compreender como esta função está comprometida na demência.

Memória Episódica

Refere-se à capacidade de recordar eventos que ocorrem na vida das pessoas, desde os

mais mundanos, aos mais pessoais e significativos. A memória episódica pode ainda ser

classificada em memória recente – referente a acontecimentos que ocorreram nos últimos

minutos ou horas – e memória remota – eventos mais distantes no tempo.

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Uma característica notória para todos os que lidam com doentes com Alzheimer, é a de

que nas fases iniciais da doença as pessoas parecem não ter dificuldades em lembrar

acontecimentos distantes, ao mesmo tempo que são incapazes de recordar o que fizeram cinco

minutos antes.

Além disso, e precisamente porque as memórias antigas estão relativamente conservadas

e existe um defeito muito grave da memória recente, aquelas tendem a interferir com o presente

de uma forma activa. Por exemplo, as pessoas podem como que recuar no tempo e executar

rotinas do passado, que, como é óbvio, são perfeitamente desadequadas no tempo presente.

Memória Semântica

Esta forma de memória refere-se à capacidade de conhecer o significado das palavras,

como por exemplo flor ou cão. Assim, e ao contrário da memória episódica, é comum a todos os

que falam a mesma língua, agindo como elo de ligação e permitindo a comunicação entre as

pessoas. Além disso, estes dois tipos de memória utilizam circuitos ou redes neuronais próprios

e com localizações cerebrais diferenciadas, sendo por isso afectadas de uma forma não

homogénea.

Na Doença de Alzheimer a memória episódica é mais precocemente e mais severamente

atingida que a memória semântica, enquanto que em determinadas formas de demência fronto-

temporal se verifica o contrário.

Memória de Procedimentos

Corresponde à memória e conhecimento consciente ou inconsciente das diversas etapas,

em termos de processo físicos e mentais, que conduzem aos actos. Como exemplos citamos o uso

de uma faca ou andar de bicicleta. A alteração da memória de procedimentos pode resultar em

dificuldades em efectuar rotinas, tais como o vestir, lavar ou cozinhar.

Esta forma de memória é a mais poupada nas situações demenciais, e o seu perfil de

afectação é semelhante ao verificado com outras funções: primeiro os actos mais complexos e

por fim as actividades designadas como automáticas, ou seja, as coisas muito bem aprendidas e

que nos habituamos a fazer sem ter de pensar.

A dissociação temporal entre o comprometimento da memória semântica (afectada mais

precocemente) e a memória de procedimentos (a mais resistente) permite compreender a

capacidade dos doentes para cantar correctamente e com fluência, quando são incapazes de

nomear objectos ou manter uma conversa.

Apraxia

É o termo usado para descrever a incapacidade para executar gestos aprendidos, apesar

da integridade da força muscular, da sensibilidade e coordenação. Em termos práticos implica a

perda de capacidade para abrir uma torneira, abotoar botões, ligar o rádio ou fazer adeus.

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Afasia

Refere-se à dificuldade ou mesmo perda de capacidade para falar ou compreender o

código linguístico, quer na forma de comunicação oral, quer escrita. Exemplos de perturbações

precoces habituais na Doença de Alzheimer são a anomia (dificuldade em dizer o nome de um

objecto) e a troca de palavras ou parafasias. A troca pode verificar-se entre palavras associadas

pelo significado (tempo em vez de relógio), entre palavras que têm uma sonoridade parecida

(barco em vez de marco), ou o doente utilizar uma palavra completamente diferente e sem

relação aparente com a que deveria ser correctamente escolhida. No seu conjunto, estas

alterações e os defeitos de compreensão, prejudicam de uma forma significativa a capacidade de

comunicação do doente.

Nas fases mais avançadas o discurso fica habitualmente restringido à repetição

involuntária de palavras ou frases ditas pelo interlocutor (ecolália), ou à repetição,

eventualmente compulsiva, de uma palavra ou fragmentos de palavras. O defeito da escrita e da

leitura acompanham a alteração da linguagem falada, pelo que é frequente, em fases avançadas,

que o doente seja incapaz de identificar (por leitura) ou escrever o seu próprio nome.

Agnosia

É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer a informação

captada pelos sentidos o que conduz a comportamentos bizarros. Por exemplo, uma pessoa com

agnosia pode utilizar uma faca como uma caneta, ou um sapato como se fosse uma chávena. No

que diz respeito às pessoas, esse facto pode implicar que as não reconheça pelas suas

características faciais individuais, ou seja, sem que isso se deva à perda de memória, mas como

resultado de dificuldades em interpretar as suas percepções ou impressões visuais.

Alterações da personalidade

As pessoas com Doença de Alzheimer podem mudar as características básicas da sua

personalidade: uma pessoa calma, afável e educada pode passar a comportar-se de uma forma

agressiva, impaciente e egoísta.

São também frequentes as mudanças bruscas de humor.

Alterações da actividade ou do comportamento

A manifestação mais frequente neste domínio é, talvez, a deambulação diurna e nocturna.

A deambulação pode ter muitas causas, nomeadamente a necessidade fisiológica de movimento,

ou a insónia, mas a identificação dessas causas é habitualmente dificultada pelos problemas de

comunicação apresentados pelos doentes. São exemplo de outras perturbações afins, a

agressividade e as alterações do comportamento alimentar.

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Problemas físicos

Na Doença de Alzheimer a perda de peso pode ocorrer apesar de uma ingestão adequada

de alimentos. Também pode ser uma consequência de uma dieta desequilibrada (sobretudo em

doentes que vivem sozinhos e já não sabem cozinhar), ou, nas fases tardias, por problemas de

deglutição. Uma outra consequência da doença é a redução da massa muscular, que predispõe

ao desenvolvimento de escaras de decúbito em doentes acamados.

O acamamento e o envelhecimento tornam estes doentes também especialmente

vulneráveis a infecções, nomeadamente a pneumonias e infecções urinárias. As pneumonias são

aliás as intercorrências mais frequentemente fatais na Doença de Alzheimer.

Quais os principais aspectos nos três estádios de desenvolvimento da Doença de

Alzheimer?

As pessoas com Doença de Alzheimer não apresentam todas os mesmos sintomas, nem os

sintomas aparecem exactamente pela mesma ordem ou com a mesma gravidade em todos os

casos. Apesar disso, existe um padrão geral de evolução da doença que pode ser organizado em

três principais estádios de gravidade. A descrição que apresentaremos em seguida, apesar de

não ser exaustiva, fornece uma orientação sumária da evolução da doença, permitindo aos

cuidadores antecipar as dificuldades e problemas futuros e prepara-se física e psicologicamente

para as etapas subsequentes

Estádio 1

O primeiro estádio caracteriza-se por alterações da memória, tais como o esquecimento de

nomes, números de telefone, mensagens e tarefas que foram ou deveriam ter sido executadas.

Inicialmente estas alterações são subtis e podem passar relativamente despercebidas. Quando os

problemas de memória se tornam mais notórios, o doente pode, por constrangimento ou por

receio, tentar evitar que os outros se apercebam disso.

Também é frequente que os familiares e amigos subestimem essas alterações, atribuindo-

as ao processo natural do envelhecimento. Nos doentes mais jovens as perturbações da memória

raramente passam despercebidas devido à sua interferência marcada e óbvia nas actividades

profissionais. Outra função afectada neste estádio é a capacidade de atenção.

A combinação de alterações da memória e da atenção tem repercussões práticas na

execução de tarefas seriadas, ou seja, tarefas que impliquem várias etapas, como acontece na

grande maioria das actividades profissionais, procedimentos sociais e actividades domésticas

mais complexas. Mais ou menos concomitantemente, muitos doentes começam a apresentar

dificuldades de linguagem; as alterações mais precoces desta esfera de sintomas, são

habitualmente a dificuldade de compreensão de frases mais complexas, a pessoa tem dificuldade

em acompanhar uma conversa, pois torna-se difícil evocar os nomes ou as palavras exactas para

descrever os objectos, pessoas ou situações (anomia).

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O discurso dos doentes fica assim mais limitado, podendo consistir essencialmente em

frases simples e curtas, ou, pelo contrário, em frases muito longas, redundantes e de difícil

compreensão devido à omissão das palavras-chave (nomes). Alguns doentes mais conscientes

das suas dificuldades isolam-se, evitam conversar e ficam deprimidos. A orientação no tempo e

no espaço encontram-se também frequentemente afectadas neste estádio: os doentes

desconhecem ou cometem erros na sua localização no tempo (dia da semana, mês, ano, estação

do ano, etc.) e perdem-se – primeiro em locais menos conhecidos, e depois na sua localidade e na

própria residência.

Nesta fase quase todas pessoas apresentam dificuldades mais ou menos severas em

compreender e representar material simbólico e abstracto; o cálculo, sobretudo o cálculo mental

mais complexo, a interpretação de linguagem simbólica e o desenho tridimensional, são tarefas

comuns em que a abstracção é fundamental, e exemplos das consequências práticas destas

dificuldades são a incapacidade de fazer trocos ou utilizar o dinheiro, compreender provérbios e

desenhar um cubo.

Referimos previamente que alguns doentes ficam deprimidos; hoje sabe-se que a

depressão pode ser reactiva à frustração experimentada pelo doente e ao isolamento, mas

também uma forma de expressão (sintoma) da própria doença e anteceder o aparecimento dos

sintomas cognitivo-mnésicos demenciais. Outra perturbação psicológica notória e frequente

neste estádio é a apatia; os doentes perdem a iniciativa para executar tarefas, ficando

progressivamente mais parados e inactivos.

Menos frequentemente os doentes desenvolvem gostos estranhos, nomeadamente em

relação à roupa (preferência por cores berrantes) ou à alimentação (doces, por exemplo). As

alterações enunciadas podem ser mais ou menos notórias, dependendo de um número de

factores, tais como actividade profissional do doente, a família, o estilo de vida e a personalidade

prévia. Acrescenta-se mais uma vez que este estádio pode tornar-se muito desgastante e

frustrante para os doentes que se apercebem da sua incapacidade progressiva.

Estádio 2

O agravamento progressivo dos sintomas determina que neste estádio os doentes sejam

incapazes de manter a sua actividade profissional; outras actividades complexas, como por

exemplo a condução de veículos e a administração das finanças estão severamente

comprometidas, conduzindo a uma dependência cada vez maior de terceiras pessoas.

Relativamente às perturbações cognitivas, salientam-se mais uma vez as alterações da memória,

da linguagem e da orientação no espaço e no tempo.

Neste estádio, o defeito de memória mantém as características genéricas já enunciadas,

ou seja, uma perturbação marcada da memória para factos recentes, com conservação parcial da

memória para factos distantes.

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No dia-a-dia, algumas das consequências práticas desta dissociação são a incapacidade

em reconhecer os elementos mais jovens da família – netos, por exemplo – esquecerem-se das

visitas dos familiares próximos, ou mesmo confusões mais perturbadoras – transposição de

familiares falecidos para o presente, falsos reconhecimentos e incapacidade global para

reconhecer a família. Os defeitos de linguagem tornam-se também mais salientes, tanto em

termos de compreensão da linguagem oral ou escrita como da produção de palavras – falar e

escrever. Neste estádio não é invulgar que os pacientes repitam constantemente as mesmas

palavras ou frases. A alteração grave na orientação temporal e espacial, associada a um

compromisso emergente da interpretação de estímulos (tacto, paladar, visão e audição),

provocam uma desorganização dos horários e ritmos biológicos, como por exemplo, nos horários

das refeições, nos ritmos de sono-vigília (insónia ou troca parcial do sono nocturno por períodos

de sonolência diurna).

Neste estádio surgem também frequentemente dificuldades no controlo dos movimentos

finos, na coordenação da postura corporal e no controlo esfincteriano; as suas consequências

práticas são a impossibilidade de executar de uma forma autónoma as actividades simples da

vida diária (higiene, alimentação, vestir), as quedas ou acidentes e a incontinência nocturna. As

alterações psicológicas típicas deste estádio são as previsíveis num doente que apresenta

dificuldades de percepção, de memória, incapacidade para reconhecer os seus familiares e o

ambiente que o rodeia e que, alem disso, muitas vezes não tem crítica para o seu estado de

doença.

Os pacientes são irritáveis, sofrem mudanças bruscas do humor, podem apresentar-se

extremamente apáticos ou, pelo contrário, muito agitados repetindo incessantemente os mesmos

movimentos ou actos, podem apresentar alucinações visuais ou auditivas, podem ficar egoístas e

agressivos e, como dissemos, muitas vezes têm perturbações do apetite e do sono.

Estádio 3

No estádio 3 os doentes apresentam uma demência grave. Em termos cognitivos, pode

dizer-se que perderam quase todas as funções mentais. Perderam, por exemplo, a capacidade

para entender e utilizar palavras, restringindo-se o seu discurso à repetição do final das frases

do interlocutor (ecolália) ou à repetição de sons; perderam a capacidade para andar, sentar-se,

sorrir, engolir e controlar os esfíncteres.

Os doentes ficam acamados, rígidos e sem movimentos dirigidos, tornando-se

extremamente vulneráveis a infecções ou escaras de decúbito e necessitando apoio permanente.

Apesar da severidade do defeito cognitivo, provavelmente quase todos os doentes mantêm

alguma ressonância afectiva, sendo sensíveis ao contacto físico e à voz suave dos seus

familiares. Mantenha este laço!

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Idade

O número de casos de Doença de Alzheimer e com demência em geral, aumenta

exponencialmente com a idade – o número duplica cada 5 anos; assim, no grupo etário superior

aos 65 anos, cerca de uma em cada vinte pessoas desenvolve Doença de Alzheimer enquanto que

o número de casos em cada mil pessoas com idades inferiores aos 65 anos é inferior a um. Como

a esperança de vida tem aumentado sucessivamente nos últimos anos, ou seja, as pessoas vivem

mais tempo do que no passado, o número absoluto de pessoas com Doença de Alzheimer e com

as outras formas de demência tem aumentado, e vai continuar a aumentar no futuro.

Não deve depreender-se do que foi dito, que a demência é um resultado inevitável da

idade ou que é a idade a causa da perda de capacidades intelectuais e de demência; a maioria

das pessoas com mais de 80 anos permanece mentalmente lúcida e existem outros factores de

risco genéricos e ambientais que se conjugam para determinar este aumento crescente da

doença com a idade.

Sexo

A maioria dos estudos populacionais indica que a doença é mais frequente nas mulheres;

inicialmente pensou-se que se tratava de um risco artificial porque as mulheres vivem mais

tempo que os homens e, como foi dito, o número de casos aumenta com o envelhecimento. No

entanto actualmente existe um consenso de resultados apontando para um risco real acrescido

no sexo feminino, pelo menos após a menopausa.

Esta relação da doença com a menopausa, ou mais propriamente com a baixa dramática

de hormonas femininas – os estrógenios – que ocorre nesta fase da vida das mulheres, justifica a

importância actual da investigação destas substâncias na fisiopatologia da Doença de Alzheimer

e do seu interesse como terapêutica protectora (prevenção da doença).

Traumatismos cranianos

Alguns estudos epidemiológicos mostraram que os traumatismos cranianos com perda do

conhecimento aumentam a probabilidade de desenvolvimento ulterior de Doença de Alzheimer

mas esta conclusão é ainda controversa.

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3 - Caracterização do Objecto de Estudo

Caracterização da Instituição

A Santa Rita Geriátrica é a mais recente Casa de Repouso no centro de Cascais. A Casa

Santa Rita foi concebida de raiz para a valência de Lar de Idosos e Casa de Repouso, pelo que

está licenciada pelo Instituto de Segurança Social I.P.

Infelizmente a maior parte de nós tem uma vida muito atarefada, o que não nos permite

dispor de tempo e de pessoal qualificado para dar a atenção devida aos nossos pais, sogros ou

avós, quando a sua situação de independência se torna problemática.

E quantas vezes isso também acontece com outro tipo de parentes ou amigos, que por

uma infelicidade ou fatalidade, necessitam temporariamente que olhem e tratem deles, minuto a

minuto, por exemplo num pós-operatório?

Por muito que nos custe não podemos retribuir os cuidados que nos deram na infância.

Os tempos são outros. Os nossos filhos precisam de crescer com pais dedicados e presentes, a

família alargada é um caso raro, a profissão é cada vez mais exigente, as ajudas são poucas e as

distâncias enormes.

E se a melhor opção for arranjar uma Casa de Repouso, onde tratem os nossos Queridos

com toda a excelência que a particular situação de cada um exija? Se for essa a opção, que seja

numa Instituição vocacionada de origem para lhes proporcionar todo o carinho, o conforto e o

cuidado que merecem!

São 1000 m2 de construção, divididos em 4 pisos, que obedecem ao normativo legal em

vigor sobre a edificação de estruturas de género. A Santa Rita Residência Geriátrica, foi

acompanhada desde a fase do projecto, por todas as entidades oficiais que regulam e fiscalizam

esta actividade, nomeadamente: Instituto de Segurança Social, Autoridade Nacional de Protecção

Civil, Direcção Geral de Saúde e Câmara Municipal de Cascais.

O ambiente genuinamente familiar, os equipamentos novos, o pessoal experiente e

qualificado, os enfermeiros e os médicos de serviço garantem o nível de profissionalismo exigido

pelas pessoas que não abdicam de um tratamento gentil, personalizado e de qualidade.

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Fotos da Instituição

Entrada para a Instituição com contactos na Parede

Logótipo da Instituição da Casa Geriátrica de Santa Rita

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4 - Caracterização dos Técnicos Profissionais

Dr. Carlos Araújo

Com formação de base em Gestão e Economia e com Mestrado em Unidade Hospitalar e

Geriatria. Exerce o seu poder como dono da Instituição e apoios a nível económico que o lar

necessite, realizando toda a gestão do mesmo.

Dra. Graciete Araújo

Com formação de base em Sociologia e com Mestrado em Enfermagem e Geriatria e

Gerontologia. Exerce a função de Directora Técnica, tratando de toda a documentação

relacionada com as idosas e dando de certa forma algum apoio psicológico às Idosas e familiares.

Dra. Ana Paula

Com formação de base em Medicina Geral e com Mestrado em Patologias Neurológicas.

Exerce a função de Médica na Instituição, vindo regularmente ao Lar (todos os dias), a fim de

efectuar uma consulta a todos os Utentes e observar os comportamentos e reacções, feridas e

medicação que seja necessária passar ou alterar.

Sr. Pedro Oliveira

Com formação de base de Osteopata, exerce a função de exercício e

movimentação/reabilitação dos músculos e artérias que estejam mais paradas. Vem ao Lar duas

vezes por semana, realizando diversos exercícios e massagens tentando que as pessoas que não

andam ganhem forças para voltar a andar.

Sr. José Barrinha

Com formação de base em Fisioterapia e reabilitação, exerce a função de Fisioterapeuta

na Instituição, três vezes por semana, com pessoas que sofrem das mais diversas patologias.

Realizando ginástica, nas passadeiras, no espaldar, nas bicicletas e outros recursos de apoio.

Dr. Hélio Canastra

Com formação de base em Enfermagem geral e ortopedia com mestrado em reabilitação

física, exercendo a função cinco dias por semana na Instituição, realizando todo o tipo de

trabalho relacionado com medicação, pensos, feridas, escaras, etc.

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5 - Caracterização dos Idosos

Sra. D. Lurdes Carriço

Esta idosa está internada na Casa Geriátrica Santa Rita, através da Segurança Social,

devido a maus tratos por parte da filha, que sofre de uma patologia chamada: esquizofrenia.

Esta senhora esteve sempre lúcida, (2º indicação de familiares), até à data em que começou a

sofrer graves espancamentos, ao ponto de ficar com uma deficiência no pescoço e continuação

da coluna, que a cabeça da senhora não está direccionada na posição de frente correctamente.

Após queixas diversas de familiares e vizinhos às autoridades e Segurança Social, foi

levada de imediato ao Hospital, afim de realizar vários exames para que os Médicos pudessem

detectar outras fracturas antigas ou até mesmo doenças, que pudessem estar a aparecer com o

avanço da idade e com o tipo de vida que estava a levar. Foi então diagnosticado, após vários

exames neurológicos que sofria da Patologia de Alzheimer.

É uma senhora extremamente meiga e muito, muito carente de mimos, pois chega ao

ponto de nos chamar para pedir Beijos e abraçar-nos. Não é uma Idosa agressiva no que diz

respeito a algo que lhe seja imposto. Com muitas perdas de memória. Ex/ pede-nos imensas

vezes para comer e diz-nos que está cheia de fome, quando acabou de almoçar há apenas 5

minutos. Ex/ pergunta-nos diversas vezes onde se apanha o comboio para ir para casa, para ir

dar de jantar à sua mãe que está acamada e ao pai que foi trabalhar. Ou seja, identifica-se

muito com o passado – Juventude, sem se aperceber que já teve filhos, sem se aperceber do sítio

onde está, até mesmo da sua própria aparência, pois não se reconhece ao espelho.

Pode-se considerar que esta senhora está numa fase da doença já muito avançada.

A Sra. D. Lurdes, tem neste momento 82 anos.

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Sra. D. Ana Rúbio

A senhora D. Ana Rúbio, é uma Utente em que a doença foi diagnosticada desde muito

cedo (aproximadamente com 70 anos), os sintomas foram aparecendo com esquecimentos

pequenos, ex/ o fogão que ficava aceso, a luz do quarto que ficava acesa, por fim não conseguia

regressar a casa. São sintomas que à partida, podem nos parecer de envelhecimento prematuro

– o esquecimento, perda de memória são palavras-chave, que são associadas à 3ª idade. Por

grande vontade dos dois filhos desta Idosa, foi levada ao médico por precaução, afim de perceber

se seria apenas esquecimento ou algo mais.

Verificou-se através de diversos exames que a Sra. D. Ana sofria da doença de Alzheimer,

à qual se estava a começar a desenvolver, e que graças às novas Tecnologias foi medicada a

tempo. No entanto, esta Utente já tem neste preciso momento 86 anos, mas a doença encontra-

se estacionada no momento.

É uma Utente que está sempre bem-disposta, com um lindo sorriso nos lábios, sempre

pronta a beijar-nos; com os seus velhos ditados antigos e com os seus versos, nos elogia

deixando-nos “derretidas” com a sua forma carinhosa de nos afagar.

É uma senhora que se lhe pedirmos para fazer algo, ex/ cortar um desenho, ao fim de 10

minutos já não se recorda que foi ela que recortou esse mesmo desenho. Acontece exactamente o

mesmo quando os filhos a levam para passear, quando regressa e lhe perguntamos onde foi

passear com os filhos, simplesmente não se recorda, embora saiba que foi sair com eles.

No entanto, é capaz de se lembrar de músicas tradicionais portuguesas que cantava

quando era mais nova, e participava na Feira da Flor de Campo Maior. Tudo isto, porque a sua

mente apenas recorda a sua juventude e os momentos agradáveis que passou com as suas

amigas.

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Sra. D. Lurdes Barradas

A Sra. D. Lurdes B. é uma Utente que está instalada na Casa Geriátrica Santa Rita, há

relativamente pouco tempo. Esteve durante cerca de 8 anos a viver na sua casa com o respectivo

esposo, juntamente com uma dama de companhia, que lhe ajudava na sua Higiene diária e

pessoal. Foi-lhe diagnosticada a doença de Alzheimer, também com aproximadamente 75 anos,

detectada pelo marido, devido à forma como conversava, pois as frases não faziam anexo, nem

conseguia completar o raciocínio.

No entanto, acerca da caracterização podemos dizer que logo no início foi muito difícil

lidar com esta senhora, ao chegar às instalações do Lar, devido à adaptação e à falta de

medicação, pois a família não lhe conseguia dar a medicação que supostamente deveria tomar ao

longo do dia. Estava muito agressiva, inclusive bateu numa das auxiliares, enquanto lhe davam

banho /higiene pessoal.

Hoje, é uma Utente calma, integrada no local onde se encontra, apesar de não saber que

está numa Casa de Repouso. Reconhece o marido nas horas das visitas, mas não consegue

realizar frases completas. Com a falta de medicação, ficou totalmente descompensada e a doença

evolui imenso.

A Sra. D. Lurdes, tem boas recordações daquilo que viveu, é uma senhora da Alta

Burguesia com bastantes posses financeiras. É extremamente meiga, e sempre nos agradece

quando lhe atendemos a algum pedido seu, ex/ quando nos pede um simples copo de água, ou a

levamos à casa de banho, agradece-nos, dizendo “obrigada” e pergunta se nos pode dar um beijo

como forma de agradecimento.

Actualmente tem 85 anos.

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6 - Programas que a Instituição Oferece

Internamento Prolongado ou Temporário

Os serviços de Internamento Prolongado estão preparados para receber os Utentes na sua

fase mais delicada e são efectuados por profissionais formados na área de Geriatria.

O Internamento Prolongado conta com o seguinte quadro técnico:

- Médico de Medicina Interna e Oncologia

- Equipa de Enfermagem

- Auxiliares de acção Médica

- Animadora Sociocultural

- Terapeuta da Fala

- Pessoal administrativo

- Pessoal de limpeza, de apoio e de serviços gerais

7 - A situação Familiar dos Utentes

Sra. D. Lurdes Carriço

Acerca dos Familiares desta Utente não me foi possível realizar entrevista, pois foi

internada através da Segurança Social, e permanece internada ao abrigo da mesma. Recebe

pouquíssimas visitas, sendo o meu período de observação resignado apenas a conversas

mantidas entre outros Utentes/convívio, com as auxiliares e com os donos da Instituição. Não

podendo assim realizar uma caracterização dos familiares responsáveis da Idosa, pois a filha

actualmente está internada no Hospital Júlio de Matos.

Sra. D. Ana Rúbio

Dr. Rui Rúbio (Filho responsável)

A utente tem dois filhos, sendo que um dos filhos o Dr. Luís Rúbio, encontra-se com

problemas graves de saúde não podendo vir visitar a mãe à instituição, como tal, não me foi

possível entrevistar e manter uma observação participante com esta pessoa.

No entanto, consegui realizar observação directa por diversas vezes com o Dr. Rui, que

aos fins-de-semana vem sempre buscar a sua Querida Mãe para passear, ou simplesmente ir

dormir à sua casa.

É um familiar muito presente, muito atencioso com a mãe, que ao fim ao cabo existe um

elo de ligação muito forte entre eles, porque a D. Ana, quando chega ao sábado e ao Domingo, já

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começa a ficar impaciente dizendo: “ os meus Anjos de Guarda devem estar por aí a aparecer”,

ou seja, que são só filhos/noras que a vêem buscar.

Foto de alguns Familiares da D. Ana Rúbio

Sra. D. Lurdes Barradas

Sr. Engenheiro José Barradas (Marido)

Esta Idosa – a Sra. D. Lurdes é visitada todos os dias pelo marido das 15.00 horas até às

18.00 horas. É um esposo muito presente, muito meigo e carinhoso para com a sua cara-

metade. Não há nenhum dia que não venha ver a sua “Princesa”. Como forma de amor, traz-lhe

sempre algo diferente, tais como: um pequeno lanche ex/ bolos de salões de chá que

antigamente frequentavam os dois; perfumes; lindos lenços; água; chocolates, etc. Este Homem,

não é capaz de vir visitar a sua querida Mulher sem lhe trazer algo simbólico. Homem muito

Generoso, como personalidade que tem.

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8 - Metodologia

Este trabalho de observação realizou-se por fases, fases essas, que se revelaram bem

distintas umas das outras.

Após um contacto directo com os Donos da Instituição onde exerço a Função de

Animadora Sociocultural, consegui marcar uma reunião para o dia 21de Maio de 2010, reunião

que durou cerca de 30 minutos, onde expressei os meus objectivos para este Trabalho e onde me

foram dadas algumas informações acerca da Instituição, do seu funcionamento e das Utentes a

serem observadas.

Terminada a reunião, marquei na minha agenda quais os dias em que seriam feitas as

Observações e a sua hora respectiva.

O meu primeiro dia de Observação foi no dia 22 de Maio.

Estive na Instituição, no período das Visitas, durante 3 horas, nas quais fiz uma

observação participante.

No dia 28 de Maio, foi realizado um passeio à rua, juntamente com as funcionárias.

No dia 5 e 12 de Junho, foi feita novamente a observação participante, com a duração

também de 3 horas, pois colide com o período da visita.

No dia 19 de Junho, mais uma vez realizei observação participante às 3 Utentes, com a

duração também de 3 horas.

No dia 20 de Junho, foram realizadas as entrevistas às auxiliares, ficando eu na

Instituição o período de aproximadamente 6 horas. As auxiliares mostraram-se receptivas às

questões respondendo a todas elas com visível sinceridade.

No dia 26 e 27 de Junho, voltei novamente à Instituição a fim de realizar algumas

entrevistas com os Técnicos, nomeadamente: os Donos da Instituição, Dr. Carlos Araújo e Dra.

Graciete Araújo, a Médica: Dra. Ana Paula, o Osteopata: Dr. Pedro Oliveira e o Fisioterapeuta:

Sr. José Barrinha, que durante estes dois dias totalizei um numero de 8 horas.

No decorrer de todo o trabalho de observação propriamente dito desenrolou-se durante 29

Horas e 30 Minutos, distribuídas por 6 semanas, sendo que o contacto directo com os familiares

das Idosas e com as Utentes, foram realizados nas primeiras semanas, só nas últimas duas

semanas foi realizado o contacto com o pessoal técnico e auxiliares.

Para realizar este Trabalho, para além da Observação no qual se revelou o mais

importante, primeiramente foram necessárias várias horas de pesquisa que também

demonstraram ser preciosas ao longo de todo o trabalho.

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Grelha de Observação

Dia Horas Tipos de Observação

21 de Maio 30mn. Reunião com o Dr. Carlos e Dra. Graciete

22 de Maio 3 Horas Observação participante

28 de Maio 3 Horas Observação participante

05 de Junho 3 Horas Observação participante

12 de Junho 3 Horas Observação participante

19 de Junho 3 Horas Observação participante

20 de Junho 6 Horas Entrevista às Auxiliares de Acção directa

26 de Junho 4 Horas Entrevista aos Técnicos da Instituição

27 de Junho 4 Horas Entrevista aos Donos da Instituição

No início da observação, aquando das visitas dos familiares aos Utentes, tive alguma

dificuldade, pois as pessoas viam-me escrever muito, e perguntavam o que escrevia. Percebi que

alguns familiares não estavam muito receptivos a este tipo de trabalho e de Observação.

Ao longo das semanas, a minha opinião foi mudando e hoje agradeço a compreensão e

ajuda que estas pessoas nos deram para a realização deste trabalho. Compreendo que deve ser

extremamente difícil de repente, no horário da visita termos uma pessoa a observar-nos e a

efectuar registos enquanto conversam, pois os Utentes tinham tendência a ficarem calados e

envergonhados, pela nossa presença, até que ao longo do tempo, simplesmente habituaram-se

com a minha presença.

As Auxiliares mesmo sabendo que sou Animadora Sociocultural e que naquele momento

estava a desempenhar uma função totalmente diferente, no caso de “Observadora”, mostraram-

se grandes pilares de apoio, intervindo com as Utentes e com as famílias enquanto eu fazia a

Observação.

Em relação ao Dr. Carlos Araújo, o dono da Instituição e à Directora Técnica, Dra.

Graciete Araújo, só tenho a agradecer, pelo facto de me terem permitido realizar este trabalho na

hora da visita e sempre aos fins-de-semana.

Para além de já trabalhar com este tipo de público – alvo, a 3ª Idade, apercebo-me do tipo

de atitudes, conversas, comportamentos, das pessoas que sofrem desta patologia, no entanto ao

nos ser dado uma proposta desta categoria, ou seja, de realizar um trabalho de Observação, logo

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me surgiu a ideia de observar pessoas com este tipo de patologia, pois sempre tive muita

curiosidade em saber o passado, destas pessoas e como eram antes de serem afectadas por esta

doença.

9 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Observação das utentes

Comportamento durante hora da visita (dia 22 de Maio)

Lurdes

Carriço

Neste dia a Sra. D. Lurdes não teve visita, no entanto fiz observação

participante durante uma hora, em que conversei com a Idosa. Em que

realizei o registo de diversas frases: “Menina, gosto tanto de a ter ao pé de

mim, não gosto de me sentir sozinha”, “… menina, pode me dar água? ,

Obrigada” “… sabe a que horas passa aqui o comboio para eu ir para casa? É

que eu tenho de ir fazer o jantar para a minha mãe que está acamada e o meu

pai deve estar quase a regressar do trabalho, eu não posso ficar aqui muito

mais tempo.” “… Menina, preciso de ir à casa de banho, será que pode ir

comigo ou me dizer onde é?”. Durante a hora do lanche, a auxiliar trouxe à

idosa, Torradas com doce de morango e chá verde. “Obrigada, como é que

você sabia que eu estava com fome?”

Ana Rúbio Observei a D. Ana Rúbio durante 60 minutos, dia esse que a Idosa sabia que

era fim-de-semana e esperava ansiosamente pelos seus “Anjos da Guarda”-

que são os seus queridos filhos. Olhou diversas vezes ao relógio, ansiosa que

eles aparecessem para a vir buscar para sair. Verifiquei numa das suas

conversas de convívio com a Idosa do lado: “Você também está à espera de

alguém da sua família? Olhe, eu estou à espera dos meu anjinhos da guarda,

que devem estar mesmo por aí a aparecer”. Por volta das 16.00 horas

apareceu o Dr. Rui, para vir buscar a sua mãe. Em que assim que ela o viu

sorriu de alegria e agarrou imediatamente na sua mala. De imediato

perguntou ao filho: “meu anjinho, onde vamos nós hoje passear?” o filho

respondeu que iriam tomar um lanche até à beira mar e apanhar ar fresco.

Saiu de braço dado com o seu filho e toda Feliz. No regresso à Instituição,

passada aproximadamente 2 horas, a D. Ana dá novamente entrada na

Instituição em que logo lhe perguntei onde tinha ido, “fui passear com os

meus anjos da guarda, andámos por aí vendo flores, passeando e andando”.

Lurdes

Barradas

Observei a D. Lurdes durante também uma hora, em que recebeu a visita do

Sr. Engenheiro Barradas. Assim que chegou ao pé da sua esposa, deu-lhe

dois beijinhos na face, ela sorriu e disse: “estás cá hoje meu amor?”. Ou seja,

ela reconhece-o, mas ainda é das poucas pessoas que reconhece, pois

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vinham mais duas vizinhas e grandes amigas, em que ela olhou para elas e

lhes disse: “quem são vocês”? O marido disse-lhe que trazia um colar muito

bonito, que estava lá em casa no seu guarda-jóias, e perguntou-lhe:

“Lembras-te meu amor, de usares este colar em que te comprei numa viagem

que fomos a África?” a D. Lurdes respondeu: “não, não me lembro”, o marido

voltou a insistir novamente para que ela avivasse a sua memória e disse-lhe:

“lembras-te que me disseste na altura que era um colar feito de ossos dos

animais?” e a D. Lurdes, mesmo assim não se conseguiu lembrar. A Auxiliar

trouxe-lhe o lanche, ao qual o Esposo lhe deu á boca com todo o carinho. E

conversaram durante bastante tempo, mas que na maior parte das vezes a

D. Lurdes, não compreendia o que diziam.

O comportamento das três idosas é diferente na medida em que a D. Lurdes Carriço, por

ter recebido maus tratos da filha, sente-se muito carente, e sempre quer estar com alguém por

perto para lhe fazer companhia, observei que apesar da demência é uma senhora com muita

dignidade e respeito, acima de tudo muito educada, pois logo agradeceu quando lhe enchi a

garrafa com água para lhe dar. Sente-se só, porque vê que as outras pessoas têm visitas e ela

nunca tem ninguém que a venha visitar, talvez por esse motivo e pelo seu passado amargo, nos

diz que gosta de sentir acompanhada e que não gosta de estar sozinha.

Nós percebemos logo que a sua conversa não faz muito sentido quando nos diz que tem de

ir apanhar o comboio para ir fazer o almoço para o pai e para a mãe, pois a sua memória apenas

reteve o passado da sua juventude, na sua mente imagina que ainda é uma jovem, ao ponto de

nem se lembrar que já casou, teve filhos; a D. Lurdes não se consegue aperceber que necessita

sempre de uma terceira pessoa para sua cuidadora, nem sabe que está num Lar internada.

Quando me pediu para levá-la à casa de banho, percebemos também o grau de avanço da

doença, tal como vimos em cima na explicação dada pela Dra. Ana Paula, a memória de

procedimentos, que é uma rotina, o caminho que tem de levar para ir à casa de banho e já se

encontra internada há cerca de um ano, e não consegue elaborar sozinha esse caminho, nem se

lembra sequer de como faze-lo.

A auxiliar ao trazer o lanche, diz-lhe que traz algo que ela gosta muito, pude observar que

ela ficou feliz, por se lembrarem que ela poderia ter fome, e observei que logo se esqueceu do

lugar onde estava, nem nunca mais tornou a falar que tinha de ir apanhar o comboio para ir

fazer o jantar para os pais, aqui verificamos a tal perda de memória, que é um dos principais

sintomas desta doença, tal como foi dito no inicio do trabalho pela Dra. Ana Paula.

No caso da D. Ana Rúbio, consegui observar que tinha noção do tempo, pois sabe ver as

Horas e usa um relógio, constantemente olhava ao relógio para ver as horas, porque a auxiliar

disse-lhe que o filho tinha telefonado a dizer para ela estar preparada que por volta das 16:00

horas, estaria no Lar para vir buscá-la para irem passear e lanchar juntos. Tomei registo que

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tinha noção do tempo – relógio e noção do tempo – dias, pois ela sabia perfeitamente que era um

dia de fim-de-semana.

Ao longo da observação, observei que a D. Ana gosta muito de conversar com as outras

pessoas, não consegue estar calada durante muito tempo, arranjando sempre um pretexto ou

tema de conversa para falar com a Senhora que está ao seu lado. Onde perguntou a senhora que

estava ao seu lado se também tinha visitas ou estava à espera de alguém. Pelo nome que ela

aplica aos seus filhos – “os meus Anjos da Guarda”, percebemos que existe uma certa afinidade

e um grande carinho por eles, pois não tem mais ninguém, isto para dizer que não tem netos de

ambos os filhos e sente uma grande necessidade de estar com eles, visto que perdeu o seu ente

querido, o marido muito cedo.

A D. Ana logo se aprontou para sair com o Filho e com a sua Mala, que nunca a larga,

pronta para ir passear. No seu regresso à Instituição observei que ao lhe perguntar onde tinha

ido, não me conseguiu responder, ou seja, sabia que tinha ido passear com os seus ente

queridos, mas não se conseguia lembrar onde. Percebemos aqui um dos estádios da doença, tal

como a Dra. Ana Paula explicou na entrevista, existe a perda de memória e possivelmente a D.

Ana estará entre o 1º estádio de desenvolvimento, ou na passagem para o 2º estádio, isto porque

se vê que a Doença está estacionada e não teve mais evoluções.

Nos registos efectuados à D. Lurdes B. verifiquei que há o reconhecimento do seu marido

– Sr. Engenheiro Barradas, ao qual conviveu durante anos na mesma casa, onde não acontece o

mesmo com as sua vizinha/amigas, em que também conviveu diariamente mas de uma forma

um pouco mais afastada, pois estas senhoras ao cumprimenta-la, a Lurdes B. não as

reconheceu. Verificamos novamente a perda de memória.

O Marido trouxe-lhe um colar lindíssimo, que tinha guardado em casa das suas inúmeras

viagens que fizeram em conjunto, uma delas a África, tentou relembrá-la de onde o tinham

comprado, e voltou novamente a insistir mas a D. Lurdes não conseguiu entender o que o

marido lhe tentava dizer.

Neste dia, foi uma Observação deveras interessante, porque as Idosas saíram em conjunto

com as auxiliares até à rua a fim de dar um passeio, entre as 14.00 e as 17.00 horas.

As 3 Idosas saíram juntamente com outros Utentes da Instituição.

E lá fui eu, com o meu caderno de registos atrás, o que fiquei muito surpreendida com

esta Observação.

Comportamento durante hora da visita (dia 28 de Maio)

Lurdes

Carriço

Durante o passeio a D. Lurdes C. admirou as flores de campo que estavam à

beira da estrada e disse: “estas flores são tão bonitas que parecem as do meu

Quintal..” Virou-se para uma das auxiliares e disse: “menina sabe onde é a

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minha casa? Gostava muito que fosse um dia lanchar comigo em minha casa,

aproveitava e via o meu quintal”. A D. Lurdes disse para uma das auxiliares:

“ai filha, está tanto calor”

Ana Rúbio Na caminhada a D. Ana observava as Flores e dizia várias vezes repetidas: “

estas Flores fazem-me lembrar as flores da festa de Campo Maior, em que eu

participei tantas vezes enfeitando as ruas e casas, nunca falhei…” e disse para

uma das Utentes: “você conhece a Festa da Flor de Campo Maior?” Em

conversa com a D. Lurdes C., a D. Ana respondeu: “tanto calor, e nós com a

cabeça ao sol, mas não faz mal, porque assim também apanhamos este ar

puro, que sabe tão bem”.

Lurdes

Barradas

No passeio realizado, a D. Lurdes B. permaneceu quase sempre calada,

observei que não conseguia efectuar construções de frases, no entanto,

registei uma das suas frases que com algumas perguntas intervenientes da

auxiliar, conseguimos perceber e concluir o que nos queria dizer: “Quando eu

era pequena e o meu pai me mandava para o campo guardar as Ovelhas,

também havia muitas flores de campo e eram lindas como estas”.

Neste passeio à rua, em que as 3 Idosas foram passear juntamente com outras Utentes e

com as auxiliares percebi que estavam muito satisfeitas, por alguém as trazer à rua para dar

uma caminhada, que acima de tudo estavam acompanhadas com alguém, pois observei que

todas elas iam de braço dado umas com as outras, mais uma vez observávamos aqui o

aconchego e o carinho que as pessoas que sofrem desta patologia quase sempre se verifica.

Percebi que ao longo da caminhada todos se queixavam com o calor, tanto na cabeça,

como o próprio vento que corria que era bastante quente. A d. Lurdes C. e a D. Ana sempre

conversavam ao longo do passeio sobre algo, ainda que a D. Ana, tinha noção daquilo que dizia,

enquanto que a D. Lurdes C. apenas se limitava a responder em sequencia à conversa, tal como

ela nos falou de ir visitar a casa dela e ir lanchar na casa dela, conseguimos perceber aqui a

perda de memoria mais uma vez e a doença mais avançada que a D. Ana. No entanto, a D.

Lurdes B. uma vez que já está com a doença no estádio 3, como pudemos ver na explicação da

Dra. Ana Paula na entrevista, já não consegue realizar construções de frases, apenas consegue

dizer algumas palavras, pois ela apontava também para as flores, percebíamos que queria dizer

algo, mas não conseguíamos perceber, e a única forma foi fazer varias perguntas, ela ir

respondendo, para conseguirmos perceber o que ela nos queria transmitir. Tal como já foi

referido na entrevista com a Dra. Ana Paula, verificámos aqui a afasia.

O comportamento das três idosas é diferente na medida em que apesar de sofrerem da

mesma patologia, os estádios estão mais avançados que outros.

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Comportamento durante hora da visita (dia 5 de Junho)

Lurdes

Carriço

Neste dia, o comportamento da L.C. foi interessante na medida em que

observei a interacção de uma auxiliar com a Idosa. Uma vez que esta Utente

nunca tem visitas, a auxiliar foi ter com ela e propôs-lhe se queria jogar

dominó, o que ela logo aceitou, apesar de ter respondido: “mas há algumas

coisas que já não me lembro”... Estava bastante participativa, sorriu diversas

vezes, e perguntava repetidamente: “agora é a minha vez de jogar?”. Durante

uma hora ela esteve entretida com a funcionária.

Ana Rúbio Não pude realizar observação directa e participante à D. Ana pois tinha

saído com o filho para passar o fim-de-semana fora.

Lurdes

Barradas

Mais uma vez, recebeu a visita do seu querido esposo, que assim que chegou

a cumprimentou com dois beijos na cara, como sempre faz, observei que a

L.B., conforme ele a beijou, logo de imediato o reconheceu e lhe passou a

mão no rosto, como gesto de afecto e ao mesmo tempo sorriu. O Sr.

Engenheiro trazia um ramo de flores lindíssimo com flores da Madeira, que

conforme lhe ofereceu ela disse: “são para mim, estas lindas Flores?”, ele

respondeu-lhe que sim, e de logo respondeu: “são lindas, não precisavas de

incomodar”. Enquanto conversavam, os olhos da L.C. estavam sempre

postos nas flores, foi um dos momentos únicos da sua lucidez, porque ao

longo da visita a idosa não conseguiu realizar mais construções de frases, e

tão completas, apenas dizia palavras soltas, e muitas delas nem

correspondiam aquilo que queria dizer.

Nesta observação concluí que a D. L. C. apesar de muitas vezes solicitar para ir embora e

dizer que tem de ir fazer o almoço para os pais, neste dia nem referiu tal coisa. Estava

extremamente calma, tranquila. Quando a auxiliar de Geriatria lhe propôs para jogar dominó,

logo lhe respondeu que sim, mas ao mesmo tempo disse que já não se lembrava muito bem. O

mais interessante é que apesar da sua perda de memória, ela conseguia identificar as peças que

tinha de colocar na mesa, o que fazia com que estimulasse a parte cognitiva, ou seja, algo que

lhe ficou gravado e que nunca mais esqueceu.

No caso da D. Ana Rúbio, infelizmente não pude realizar a Observação, pois quando

cheguei à Instituição e vi que não estava sentada no seu lugar como de costume, de imediato

perguntei às auxiliares de acção directa, onde ela estava, onde me disseram que tinha saído com

o filho e só regressava no dia a seguir ao final do dia.

A D. Lurdes Barradas, recebeu mais uma vez a visita do seu querido marido, como de

costume que todos os dias a vem visitar. Assim que o viu logo o reconheceu e sorriu ao beijá-lo.

E foi dos poucos momentos em que esteve lúcida e conseguiu construir frases, foi precisamente

no momento em que o marido lhe ofereceu um lindo ramo de flores da Madeira, e que ela

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Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010

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pergunta se eram para ela. Algo lhe fez lembrar, o que não consegui perceber porquê, porque ao

longo dos 60 minutos de observação, ela não conseguiu fazer mais frases completas.

Comportamento durante hora da visita (dia 12 de Junho)

Lurdes

Carriço

A L.C. não teve visitas no entanto observei-a durante 60 minutos. Foi um dia

em que estava muito irrequieta, pois não parava no lugar e dizia várias vezes:

“menina não sabe onde é a porta para eu sair? Tenho de me ir embora que os

meus pais estão à minha espera, e tenho de ir fazer o almoço”.

Ana Rúbio Foi um dia muito calmo para a D. Ana Rúbio, pois ela já sabia à partida que o

filho não a viria buscar para sair ou ir lanchar, pois ele ligou e as auxiliares

avisaram a D. Ana, o que não fez com que ela ficasse nada ansiosa.

Conversou com a idosa que estava ao seu lado onde fiz registo: “Já viu como

aquelas gaiatas que estão a dançar na TV se mexem tão bem e estão tão

despidas? No meu tempo não era nada assim, até para ir ao baile, tínhamos de

levar um vestido que não estivesse mais do que um palmo acima do joelho..

Esta geração de agora é muito diferente do que era antigamente”. Ao lhe

trazerem o lanche a D. Ana R. logo respondeu: “ai, obrigada amiga..”

Lurdes

Barradas

Foi visitada pelo Sr. Engenheiro Barradas e por uma sobrinha. Como sempre

costuma acontecer, reconheceu o seu querido marido, mas não consegui

identificar a menina que era sua sobrinha e que segundo me foi dito pelo

E.B., ela até cuidou desta menina logo quando nasceu. Como habitual o

marido trouxe-lhe algo, desta vez foram uns bolinhos de um Salão de Chá,

que era costume irem ao fim de semana. Ao lhe oferecer os bolinhos,

perguntou-lhe: “lembras-te destes bolinhos que costumávamos comer à beira

mar, naquele salão de chá chamado: “Doce e Creme”? A L.B. respondeu-lhe:

“não, não me lembro”… o marido tentou novamente insistir para que ela se

lembrasse e ela por fim respondeu: “sim… parece que já me lembro”.

Nos meus registos de Observação deste dia, observei que a D. Lurdes Carriço estava muito

inquieta, durante os 60 minutos andou sempre a vaguear pelo lar a abrir portas e a fechar, a

abrir luzes e a fechar, a compor as toalhas que estavam em cima das mesas de refeições, e por

diversas vezes passava por familiares de outros utentes, pelas auxiliares e até mesmo a mim, e

perguntava, onde era a porta de saída, pois queria ir para casa para dar de jantar aos seus

queridos e amados pais. A mãe, porque a esperava numa cama e o pai porque tinha ido

trabalhar e quando viesse queria comer. Registei que foi um dos dias mais agitados da D. Lurdes

C., em que concluí, que nem sempre são dias calmos, existem dias em que doentes desta

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patologia se podem tornar agressivos; aqui consegui perceber a tal mudança de comportamento

que a Dra. Ana Paula me falou na entrevista, em que se podem tornar agressivos, mudar o seu

comportamento ou personalidade.

A D. Ana Rúbio neste dia não recebeu visitas dos filhos, isto porque o filho sabendo que a

mãe ainda tem a noção das horas, logo de manha ligou para a Instituição para avisar a sua

querida mãe de que não viria buscá-la para passear, pois não fosse ela ficar ansiosa. A auxiliar

avisou a D. Ana, o que ela não ficou ansiosa, nem se importou com tal situação, compreendeu e

aceitou perfeitamente aquilo que lhe fora dito.

Enquanto observei esta idosa, apercebi-me de que ela presta atenção aos mínimos dos

pormenores de que vê na TV, pois tal como registei na grelha, ela meteu conversa com a senhora

que estava ao seu lado, dizendo que as meninas que estavam a dançar na TV estão quase

despidas e se mexiam com rapidez a dançar, fazendo uma comparação com a sua juventude, em

que sempre que iam para os bailes e festas da aldeia, tinham de ir bem tapadas para os rapazes

não verem nada, de preferência com vestidos ou saias que não estivessem muito acima do

joelho. Observei também a sua delicadeza e educação que apesar da doença não se deixou de

verificar, pois quando a funcionária lhe trouxe o lanche e lhe colocou no colo, ela agradeceu logo.

Em relação à D. Lurdes B., como sempre reconhece o seu querido marido mas desta vez

também não reconhecer uma menina à qual era a sua sobrinha, e a qual ela criou deste muito

bebé. O marido traz-lhe sempre um miminho e desta vez foram bolinhos de um salão de chá a

que costumavam ir, do qual ela não conseguiu se lembrar, apesar da insistência para que se

lembrasse, ela acabou por responder que parecia que se lembrava.

Comportamento durante hora da visita (dia 19 de Junho)

Lurdes

Carriço

Neste dia em que observei a L.C. também não teve visitas como é habitual,

uma vez que está ao abrigo da instituição, por ter recebido maus tratos da

filha, não consegui perceber onde se encontra a restante família? Amigos?

Sobrinhos? Primos? Irmãos? Foi algo que observei ao longo dos dias que

estive a realizar participação directa. Foi um dia em que as auxiliares lhe

deram banho à tarde, antes das 15.00 horas, que é quando começa a visita.

Observei que não é uma pessoa agressiva durante a Higienização pessoal e

até colabora no banho. Gosta imenso de se lavar, enquanto lhe colocam o

champô no cabelo e o gel de duche no corpo. Algumas das suas frases que

registei: “eu tinha um cabelo tão bonito e agora estou cheia de cabelos

brancos”.(…) “humm.. A água está tão quente e sabe tão bem a bater nas

costas”.

Ana Rúbio A D. Ana teve uma visita inesperada que foi a do filho mais velho, pois ele

tinha sido internado para uma operação e há muito tempo que não o via.

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“Querido Anjo da Guarda, há tanto tempo que não te via, pensei que te tinhas

esquecido de mim.. Tinha tantas saudades tuas”. Logo de seguida perguntou:

“e hoje onde vamos meus queridos?”

Lurdes

Barradas

A D. Lurdes Barradas teve a visita do seu marido, que neste dia lhe trouxe

uns rebuçados de mentol e alguns de fruta. Trouxe um pequeno saco. – “Isto

é para mim, meu querido?” (…) hum.. São tão bons estas coisas que me deste”.

Neste meu último dia de observação, em que como sempre é costume eu fazer, reparti as

3 horas pelas 3 idosas, sendo que 60 minutos para cada Idosa de Observação directa e

participante.

A D. L.C. não teve visitas, o que me deixou bastante intrigada e curiosa, pois mesmo

sabendo que sofria maus tratos por parte da filha, tive conhecimento que foram as próprias

vizinhas e alguns familiares que fizeram queixa na polícia e na Segurança Social de que a

senhora sofria maus tratos, no entanto em nenhum dos dias em que fiz observação, pude contar

com a participação da família, pois nem sobrinhos, nem irmãos, nem vizinhos, simplesmente é

uma senhora que nunca tem ninguém para falar com ela e que lhe dê algum carinho e afecto e

juntamente com ela reparta alguns momentos de alegria que já tenham sido vividos.

Foi um dia que pude observar a sua Higienização pessoal, à qual não consegue realizar

sozinha, foi também um dos pontos mencionados pela Dra. Ana Paula em que deparamos com o

factor de Apraxia, em que não sabe como faze-lo nem o consegue fazer sozinha. Mostrou-se uma

senhora muito calma, sem nenhuma agressividade, falou durante o banho e também disponível

para com o desempenho da auxiliar.

A D. Ana teve uma visita inesperada. Aos fins-de-semana normalmente os filhos vêem

sempre busca-la para dar um passeio. No entanto, já há algum tempo que um dos filhos estava

internado para uma cirurgia e que há algum tempo que não via a mãe. Quando ele entrou na

Instituição juntamente com o irmão, os seus olhos ficaram vidrados e logo sorriu e correu para

os abraçar, os seus queridos anjos da guarda, como ela lhes chama. Ela sabia que tinha muitas

saudades deste filho, mas a sua perda de memória não a deixava perceber porquê, até que o

filho mais novo, lhe disse e lhe fez relembrar que outrora o irmão tinha estado internado e por

esse motivo não veio visitar a mãe mais vezes.

Ao invés de saírem para passear como é habitual, ficaram sentados num sofá a conversar

e “matar saudades”.

A D. Lurdes Barradas recebeu mais uma vez a visita do seu marido, que lhe trouxe um

saco com rebuçados de mentol e de fruta, em que observei que mais uma vez ela não conversou

muito, apenas olhava para o seu ente querido e não conseguia construir frases, e das poucas

frases que conseguiu construir foi dizer-lhe ou tentar transmitir que os rebuçados eram bons,

mas não conseguiu dar o nome correcto aos rebuçados, não fez associação.

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10 - Caracterização das Auxiliares

→ Humanas

→ Generosas

→ Simpáticas

→ Meigas

→ Bem-dispostas

10.1 - Entrevistas às Auxiliares

A formação é um dado importante, mas na minha singela opinião não é o mais revelante,

porque por vezes a experiencia é que determina o à vontade que as auxiliares de Geriatria e

Gerontologia se relacionam com os Idosos.

A Teoria, por vezes, na prática não funciona.

Temos que constatar, mesmo como futuros licenciados que seremos, ou Animadores Sócio

Culturais, que por vezes a prática passa à frente de qualquer formação, é bom por um lado, mas

preocupante por outro. Será que todo o esforço que estamos a ter ira ter valor? Na verdade,

infelizmente, uma auxiliar por vezes acaba por completar o trabalho de uma Animadora

Sociocultural, ou de uma Enfermeira, ou Sociólogo, entre outros.

Na Casa Geriátrica de Santa Rita, constatei que o facto de alguma auxiliares, não terem

formação necessária não as impede de desempenhar as mesmas funções que as auxiliares com

Formação adequada.

A Formação é um factor com alguma importância, mas não o mais relevante é a

experiência que determina a vontade e o carinho com que as Auxiliares se relacionam com os

idosos.

Podemos então concluir que a experiencia e a formação complementam-se mesmo que não

sejam ambas as características de uma única pessoa, ou seja, neste caso por exemplo os idosos,

que têm de ter os seus cuidadores, uma terceira pessoa sempre disponível para os ajudar

naquilo que for preciso, juntamente com a formação de outros técnicos profissionais

harmonizam-se e obtém bons resultados, porque no fundo todos trabalham em Equipa e para o

mesmo fim, que é o bem-estar de cada Idoso/Utente.

Entrevistadas Formação das entrevistadas

Ana Almeida “ Não tenho formação específica em Geriatria, mas fiz algumas formações

na Cruz Vermelha, sobre o levante e posicionamento de idosos, e trabalhei

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como encarregada num lar durante algum tempo”.

Manuela Sota “Não tenho nenhuma formação com idosos, tudo o que aprendi até hoje, e

o que sei hoje devo ao Enfermeiro Hélio e à Dra. Graciete, em conjunto com

as colegas de trabalho que tenho ao meu lado a trabalhar como equipa”.

Ana Isabel

“Fiz um curso de geriatria / gerontologia e saúde do idoso no centro de

Formação Profissional de Lisboa”.

Fernanda Oliveira “Não tenho formação específica em Geriatria, mas ao longo dos anos fui

fazendo várias formações, na Misericórdia do Lisboa”.

A importância do trabalho de um auxiliar de Geriatria/Gerontologia

num Lar de Idosos

Ana Almeida “No meu ponto de vista, o trabalho de auxiliar é muito importante, porque

cada vez mais existe uma população mais envelhecida e é fundamental,

haver alguém que goste do que faz e se preocupe com estas pessoas que

tantas vezes nem família têm, ou seja, nós somos tudo para eles, é

connosco que eles convivem todos os dias e os últimos dias da vida

deles”.

Manuela Sota “Com o nosso trabalho e com os cuidados que temos ajudamos a

melhorar a qualidade de vida do idoso, promovendo a sua auto-estima e o

convívio com os outros utentes”.

Ana Isabel “Dado que a população esta cada vez mais envelhecida e existem mais

pessoas dependentes, que não têm pessoas que cuidem delas, pois por

motivos de força maior, muitas das vezes o trabalho e filhos não lhes

permite ajudar nas necessidades básicas e que acabam por ser

totalmente preenchidas pelo meu tipo de serviço: alimentação, higiene

pessoal, acompanhamento ao médico, higiene habitacional, tratamento de

roupas, socialização, abrangendo cada individuo”.

Fernanda Oliveira “Eu já tive várias formações na Santa Casa da Misericórdia em Lisboa, o

que me dá um grande alento para trabalhar com idosos, penso que nós

somos mais do que a sua família por vezes, porque convivemos com eles

24 horas sobre 24 horas com eles, mesmo que não queiramos, acabamos

por ganhar algum afecto com eles.”

Em que sentido o trabalho de uma Auxiliar melhora a qualidade de

vida dos Idosos com Patologia de Alzheimer

Ana Almeida “A partir do meu trabalho tento a cada dia melhorar a vida dos idosos,

que estão sozinhos, principalmente aqueles cujas famílias, não

correspondem como devia, pois temos casos de maus tratos, como o da D.

Lurdes Carriço. Muitas das vezes é com as auxiliares, que se sentem

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acompanhados e acarinhados”.

Manuela Sota “O meu trabalho, para além do cuidado base, que é melhorar a qualidade

vida do idoso, ajudamos na parte da auto-estima e na área emocional ou

seja ajudamos a superar a solidão, a depressão, com que muitos utentes

vivem diariamente. Transmitindo carinho afecto e solidariedade”.

Ana Isabel “Em vários sentidos, podemos sempre ajudar aqueles que dependem

totalmente da ajuda do auxiliar de geriatria como: acamados, semi-

acamados, pessoas com patologias de Alzheimer e que se sentem muitas

vezes perdidas, dentro do próprio lar, perdem o sentido, utentes que

necessitam de uma pequena ajuda para realizarem a sua higiene e

tarefas diárias. Em todas estas vertentes é necessário ter sempre a

preocupação de manter o indivíduo o mais confortável possível e quando

esse trabalho é assim realizado dentro do tempo disponível para cada

utente como pessoa a sua qualidade de vida aumenta sempre que se alia

o carinho e afecto o sofrimento destes pode ser minimizado”.

Fernanda Oliveira “Para além de proporcionar os cuidados de higiene essenciais, ajudamos

o idoso a reaprender a sua independência e sempre que possível

conversamos um pouco com eles e damos a atenção devida que eles

precisam e merecem”.

Fotos de algumas Auxiliares

Ana Isabel, Manuela Sota, Fernanda Oliveira, eu e Dra. Graciete

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Fernanda Oliveira, Manuela Sota, Beatriz e Ana Almeida

Todas as Funcionárias da Instituição, juntamente com o Dr. Carlos e Dra. Graciete

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11 - Entrevistas aos Técnicos e Profissionais

Na medida em que são todos profissionais e trabalham em áreas diferentes, mas na

Instituição trabalham todos para o mesmo fim, que é o bem-estar dos Utentes, cada um tem

uma opinião diferente, ou seja, uma perspectiva diferente.

Recomendações para quem cuida de um doente de ALZHEIMER

Dra. Ana Paula (Médica) “Esteja próximo e olhe bem para o seu doente, olhos nos olhos, quando

conversam; Permaneça calmo e quieto. Fale clara e pausadamente, num tom de voz nem demasiado alto nem demasiado baixo; Evite ruídos (rádio, televisão ou conversas próximas); Se for possível, segure na mão do doente ou ponha a sua mão no ombro dele. Demonstre-lhe carinho e apoio. Em todas as fases da doença, é necessário manter uma atitude carinhosa e tranquilizadora, mesmo quando o doente parece não reagir às nossas tentativas de comunicação e às nossas expressões de afecto”.

Sr. Pedro Oliveira

(Osteopata)

“Há que ter também em atenção que o doente, dependendo do grau de incapacidade em que se encontra, tem o direito de optar se quer ou não ser informado sobre a sua situação clínica e de falar ou não sobre ela com familiares ou amigos. O desejo de confidencialidade deve ser respeitado. O doente de Alzheimer, como todos os doentes, para além da fase da doença em que se encontra e dos sintomas que apresenta, é sempre sensível à forma como é tratado reagindo positivamente ao afecto (voz suave, toque, beijo) e reagindo negativamente ao facto de o ignorarem e/ou demonstrarem comportamentos de agressividade”.

Sr. José Barrinha (Fisioterapeuta)

“A maior parte dos doentes com Alzheimer passa a viver no passado, uma vez que já não se conseguem lembrar do que fizeram ontem, dos nomes das pessoas com quem habitualmente lidam, números de telefone ou conversas recentes. Por norma, a memória de longa duração não é afectada, ou só o é já em fases adiantadas da doença, o que significa que o passado do doente passa a ser o seu presente, sendo que os eventos recentes são pura e simplesmente esquecidos. Será mais fácil, para todos, adaptar-se ao doente e não ao contrário, ou seja, fazer um esforço para viver a realidade actual da pessoa, mesmo que seja uma época da sua vida de há 20 anos atrás. Pelo menos assim há a possibilidade de recordar e conversar, aproveitando o facto de o doente continuar atento e comunicativo”.

Sr. Hélio Canastra (Enfermeiro)

“Sem querer tornar a sua casa numa prisão e o doente num prisioneiro, promova um ambiente seguro: retire da casa de banho pequenos electrodomésticos como secadores ou máquinas de barbear; feche à chave armários com produtos perigosos ou quartos onde o doente corre algum risco de se magoar; coloque barreiras de segurança nas escadas; muitos doentes já não reconhecem o seu próprio reflexo e, por isso, os espelhos ou vidros podem confundir ou assustar uma pessoa com Alzheimer – se isso acontecer, opte por arruma-los ou cobri-los. Disponibilize um espaço amplo, limpo e tranquilo onde ele possa estar à vontade; rodei-o de objectos familiares, como fotografias ou outras lembranças pessoais”.

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Dr. Carlos Araújo (gerente)

“A comunicação ou falta dela pode ser um grande desafio. Muitos doentes têm dificuldade em formular frases completas, outros deixam de falar por completo. Fique atento à linguagem corporal e às suas expressões faciais e não se esqueça que conhece bem esta pessoa. Se sempre gostou de música clássica, ponha um CD a tocar; se é um apaixonado por futebol, ligue a televisão na altura de um jogo; mime o doente com carinhos e afectos, um forte abraço ou apenas a sua companhia podem fazer maravilhas. Não é o Alzheimer em si que provoca a morte, mas sim as infecções e doenças que podem surgir em sequência desta. Há que ser rigoroso: estabeleça e cumpra os horários da toma da medicação e de ir à casa de banho; certifique-se que o doente beba muita água; se verificar alterações nos hábitos alimentares ou de sono vá ao médico; as mudanças de comportamento e de estado de espírito – como ansiedade, querer estar sozinho ou tristeza – também devem ser vigiadas”.

Dra. Graciete Araújo (Direct. Técnica)

“Manter a mente e o corpo activos é fundamental. Tarefas de reduzida dificuldade, como apanhar ou dobrar a roupa, mantêm as pessoas ocupadas, sem as frustrar ou aborrecer. Existem muitas actividades que podem e devem realizar-se com um doente de Alzheimer, até para estimular os sentidos: dançar, cantar, jardinar, pintar, caminhar, conviver com crianças, cozinhar, fazer a manicure ou tratar do seu cabelo, são apenas alguns exemplos.”

Quando o doente de Alzheimer é agressivo

Dra. Ana Paula (Médica) “Pacientes com transtornos psicóticos prévios, e que começam a

apresentar prejuízo progressivo da cognição (integração da consciência), evoluem muito mais rapidamente para a demência. Havendo alguma doença mental anterior à Doença de Alzheimer, principalmente doenças do tipo psicose, fará com que o paciente apresente muito maiores alterações comportamentais, tais como delírios, alucinações, agressividade, agitação, furor, mudanças de personalidade, alterações sexuais e perda das noções de higiene, no caso de se tornar um doente agressivo, há que lhe mostrarmos que não temos medo dele, pois ele pressente isso, falar com ele, olhando-o nos olhos”.

Sr. Pedro Oliveira (Osteopata)

“A terapia deve também ajudar o doente a habilitar a sua memória utilizando métodos específicos, tais como utilização de agendas adaptadas ao doente e outras coisas práticas que o ajudem na sua vida quotidiana. Outras técnicas de habilitação cognitiva, consistem em utilizar exercícios que permitam “desenvolver” a linguagem, a memória, a atenção e concentração, a leitura, a escrita, a orientação e a coordenação motora.”

Sr. José Barrinha (Fisioterapeuta)

“ Sinceramente lido com idosos, mas na minha área particularmente não lido muito com doentes de Alzheimer, como tal sei como reagiria no caso de um doente se tornar mais agressivo, mas não sei muito bem os termos técnicos. No entanto, sei que deverei manter a calma e mostrar ao doente aquilo que realmente quero fazer é correcto e para o bem dele, tentando não contrariá-lo muito”.

Sr. Hélio Canastra (Enfermeiro)

“Além da memória, também a capacidade de localização no tempo e no espaço é afectada. E, de um dia para o outro, os doentes deixam de conseguir encontrar caminhos. Perdem-se na própria casa, na

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vizinhança. E desenvolvem comportamentos estranhos como a deambulação errática. O risco de desaparecerem ou de terem a vida em perigo é, pois, elevado, mas pode ser minimizado. Assim, os doentes devem andar sempre identificados, os vizinhos e comerciantes próximos devem ter conhecimento do seu estado, a possibilidade de saírem de casa sozinhos deve ser reduzida. A confusão não afecta apenas os passos dos doentes: eles escondem objectos e depois esquecem-se de onde os deixaram, comportam-se como se estivessem sempre à procura de alguém ou de algo. Em qualquer uma destas circunstâncias carecem de ajuda: para voltar a casa ou para encontrar o que perderam. Mas, por mais difícil que seja, há que resistir à tentação de os recriminar: fazê-lo aumenta a insegurança e pode estimular a agressividade. A agressividade espreita nestes doentes, o que é, desde logo, explicado pelo facto de não reconhecerem a nova realidade nem saberem lidar com ela. Não ser capaz de realizar tarefas banais e rotineiras, não conseguir identificar pessoas e lugares, não se recordar de acontecimentos e rostos familiares, ter dificuldade em comunicar é, afinal, razão mais do que suficiente para que os doentes de Alzheimer se sintam confusos, frustrados, reagindo com oscilações do humor, instabilidade e agressividade. É um tumulto de emoções ao assalto dos doentes e dos seus cuidadores, para quem o Alzheimer é um fardo muito pesado. Também eles precisam, pois, de ajuda.”

Dr. Carlos Araújo (gerente)

“É possível que em algumas fases da doença, o doente se torne agressivo. A agressividade pode ser tanto verbal como física. Procure perceber o que levou o doente a ficar agressivo; Evite ralhar, discutir ou colocar o doente de castigo; Evite o contacto físico e dê espaço ao doente; Não mostre medo ou ansiedade; Tente manter um ambiente calmo; Fala tranquilamente com o doente e tente chamar-lhe a atenção para outra coisa. Procure ajuda e aconselhamento médico caso seja necessário e não consiga lidar com a situação. Deve recordar-se que não está sozinho. Algumas sugestões para evitar as crises de agressividade…Ajude o doente, mas evitar dar ordens; Não seja demasiado exigente nas rotinas do doente; Faça elogios ao doente (não exagerando), e evite críticas; Se o doente ainda conseguir fazer algumas actividades, deixe-o fazer ao seu ritmo; Sugira actividades físicas que o doente goste; Procure actividades que o doente aprecie; Esteja a atento a sinais que possam indicar que uma crise se aproxima e tente desviar-lhe a atenção.”

12 - Entrevistas aos Familiares dos Utentes

Informação clínica dada pelo Médico, confirmada em como sofre da Patologia de Alzheimer

Dr. Carlos e Dra. Graciete (Cuidadores

da Idosa Lurdes Carriço)

“No caso da D. Lurdes, nós recebemos a Utente na nossa Instituição através da Polícia e da Segurança Social. Quando chegou até nós, as Assistentes Sociais já traziam toda a informação clínica e exames realizados no Hospital, onde lhe foi detectado esta patologia, que já existia, mas com o agravamento de maus tratos por parte da filha. É uma senhora que raramente tem visitas, nós somos os cuidadores principais dela, a família que apareceu cá na Instituição foram apenas uma sobrinha e uma irmã, mas a utente já está connosco há cerca de 1 ano e essas pessoas só apareceram cá uma única vez. Podemos dizer

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que a nível familiar está quase como ao que o “abandono”, não está porque cuidamos dela todos os dias e damos-lhe tudo o que ela necessita. Nunca foi uma idosa agressiva, apesar dos maus tratos que teve por parte da filha, mas está num estado da doença já muito avançado, uma vez que se perde no caminho para a casa de banho, não sabe onde está e pensa que vive numa geração de há 20 ou 30 anos atrás.”

Dr. Rui (filho da D. Ana Rúbio)

“ A minha mãe ficou doente desde muito nova, aproximadamente pelos 70 anos, em que se esquecia de muita coisa, como apagar o fogão, não conseguia abotoar os botões das camisas, entre muitas outras coisas. Foi levada ao médico ao qual constatamos definitivamente que sofria da patologia de Alzheimer. A minha mãe anda bem sozinha, não necessita de cadeira de rodas, tem uma boa estabilidade funcional e um equilíbrio dinâmico e estático. Tem uma capacidade de raciocino num ambiente controlado. Demonstra maior desenvoltura nas actividades diárias, participando activamente delas. No entanto desde que está internada aqui no lar é que começou a manifestar total vontade de fazer a sua higiene matinal autonomamente e demonstra períodos de grande tensão emocional e ansiedade quando vai a casa ou passear connosco. Come pela sua mão própria, é uma pessoa semi-autónoma, porque precisa de ajuda para ir à casa de banho ou nos banhos. Começou por apresentar os sintomas normais da doença: como a falta de memória, agnosia ou falta de reconhecimento de certos objectos, pessoas, sons e formas”.

Eng. Barradas (Marido da Lurdes Barradas

“A minha esposa começou a mostrar sinais da patologia de Alzheimer com as vizinhas, pois fazia conversas sem anexo nenhum, e não conseguia acabar de construir as frases, foi levada ao médico ao qual a analisou e disse que ela estava com uma deficiência cognitiva e com uma depressão profunda que se agravou com a morte do meu filho há 4 anos. O quadro clínico era compatível com depressão em favorável demência vascular. E dado ao estado do deficiência cognitiva da minha mulher estar tão avançado, já não conseguias se guiar a si própria nem os seus próprios bens, não estava no seu juízo perfeito face à doença que sofria, e precisava de uma terceira pessoa em acompanhamento constante. Esteve comigo em casa com uma dama de companhia durante alguns anos, até que fiquei também doente a nível psicológico, pois é bastante cansativo cuidar de pessoas assim. Trouxe-a para esta instituição onde cuidam muito bem dela, com os profissionais adequados”.

Na medida em que as pessoas não estavam muito receptíveis para falar, decidi não

realizar mais perguntas, ao qual me parece bastante esclarecedor por parte dos familiares tudo

aquilo que foi observado ao longo de todo o trabalho.

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Algumas fotos das Utentes na Instituição

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13 - Entrevista ao Dr. Carlos Araújo

Comentário acerca dos Idosos

Dr. Carlos Araújo “A Terceira Idade está a tornar-se uma preocupação que importa olhar

“com olhos de ver”, com vista à resolução dos problemas que a mesma

acarreta. Nem sempre é fácil ao idoso deixar a casa e recolher-se num lar,

porque não tem ninguém ou foi esquecido pelos seus. Para uns, os dias são

um verdadeiro pesadelo, enquanto outros se vão adaptando a novas vidas e

novas experiências. Todos sabemos que, infelizmente, ser idoso, na nossa

sociedade, significa, não raras vezes, ser votado ao esquecimento e conviver

com o nevoeiro da vida. “Só te peço para que cuides de mim quando

envelhecer! Não me ponhas num lar ao abandono!…” – são palavras de

homens e mulheres que estão no limiar da velhice e pedem aos filhos para

cuidarem deles”.

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Ainda temos muitos idosos a olhar para a janela para ver se a família

aparece?

Dr. Carlos Araújo “Ainda temos muitos idosos nestas circunstâncias e nós não conseguimos

resolver esse problema. Podemos atenuá-lo, criando uma certa dinâmica,

pensando até em contratar uma técnica vocacionada, cujo trabalho vai ser

apenas articular os aspectos lúdicos das duas casas, ocupando-se disso 24

horas dia. Isso tem em vista atenuar todos os aspectos de solidão e um certo

abandono em que algumas pessoas se encontram, mas não podemos fazer

tudo, porque ninguém consegue superar a falta da sua própria família.

Podemos atenuar mas não resolver”.

Acha que é importante cada vez mais as pessoas prepararem-se

para a velhice?

Dr. Carlos Araújo “È fundamental. Penso que a minha geração deve começar a pensar nisso

urgentemente, porque é errado pensar que os nossos filhos nos vão resolver

o problema. Este é um conceito muito radical, tendo em conta a forma como

fomos educados a ver esta situação. Os nossos pais nunca pensaram assim,

pelo que hoje, infelizmente, ainda existem pessoas que estão muito

enganadas, porque nós somos os velhos de amanhã. Não podemos esperar

que o Estado faça alguma coisa por nós porque não vai fazer. O Estado está

muito pobre”.

Os idosos hoje em dia nos lares …

Dr. Carlos Araújo “Bom, já existe o estatuto do idoso e também a Delegacia do Idoso - no caso

de maus tratos deve-se denunciar. Creio que não é uma questão de fazer

alguma coisa, mas sim sentir algo maior como respeito e amor por quem

passou uma vida trabalhando e cuidando de filhos e até mesmo de netos. A

palavra mágica sempre será AMOR”.

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CONCLUSÃO

Com todo o trabalho de Observação realizado e por meio de diversos meios de recolha de

informação, como as entrevistas e as grelhas de observação, foi possível verificar os

comportamentos das idosas nos seus mais variados estádios.

Os Idosos são inseridos nos Lares por muitos motivos, mas são os seus próprios filhos,

em sua maioria, que determinam essa condição.

Regularmente, os profissionais de Instituições referem-se às famílias de Idosos de forma

extremamente negativa, no entanto depois desta observação devemos pensar que nem todas as

famílias sentem afecto e senso de responsabilidade pelo idoso. Alem disso, pode haver problemas

de relacionamento familiar nunca resolvidos.

Talvez, a circunstância de levar ou não o idoso para viver num Lar, pode vir a ser a

oportunidade de colocar avante o empreendimento de compreender significados mais profundos,

muitas vezes, esquecidos pela comodidade de não querer significar sentimentos que nos trazem

desconforto e que parecem não ter jamais um bom fim.

O estatuto do Idoso propõe melhorias para a Socialização do Idoso, e suas condições de

vida, sendo respeitado em suas atitudes e vivencia. Entretanto, os conhecimentos desenvolvidos

por movimentos de terapia familiar, e particularmente, sobre terapia e orientação da família, isto

é, aspectos de suporte psicológico, podem ser muito úteis para todos aqueles que lidam com

esses problemas no seu dia-a-dia.

Faz-se necessário, portanto, o conhecimento, por parte de todos, do quadro geral da

doença : sintomas, evolução e tratamento; tudo para que o sofrimento do paciente (e daqueles

que a ele dirigem cuidados) seja minimizado, ao menos. Informação é vantagem, em se tratando

de Doença de Alzheimer. Ainda mais em tempos (como o nosso) de crescente preocupação com

questões ligadas à bioética e, consequentemente, ao biodireito.

Concluo a minha Observação, dizendo que foi um trabalho com o qual aprendi muito, que

apesar de já estar familiarizada com esta patologia, pois trabalho como Animadora Sociocultural

e com idosos há cerca de 8 anos, não tinha ideia desta doença no seu mais profundo contexto.

Toda a pesquisa realizada, as entrevistas fizeram-me compreender melhor os comportamentos

de cada pessoa.

Pergunto-me a mim própria se toda a população tem noção do que é esta doença, como se

cuida de pessoas com esta patologia, lidar com a morte de pessoas que sofrem desta patologia,

porque afinal de contas, estas pessoas ao estarem a ser cuidadas por profissionais em Lares de

Idosos, e com o mais alto nível, apenas estão esperando pelos seus últimos dias de vida, e somos

nós que estamos com eles, aguardando por esse ultimo dia, e enquanto tal não acontece,

devemos saber lidar com estas pessoas, dando-lhes o maior conforto, paciência, carinho e

compreensão, ainda que por muitas vezes todos estes afectos e comportamentos nos faltem.

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Bibliografia

Robert, Ladislas. “ O Envelhecimento”, Edições Instituto Piaget, 1994

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