TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - … · 2 A internet está mudando o nosso modo de conhecer o...

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WILLIAM KIST SANTANA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CANOAS, 2015

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WILLIAM KIST SANTANA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CANOAS, 2015

AS INFLUÊNCIAS DA CIBERTEOLOGIA NA IGREJA CATÓLICA

William Kist Santana

RESUMO

Este artigo apresenta uma reflexão sobre a Ciberteologia com o objetivo de entender sua

definição e suas implicações diretas no posicionamento da Igreja Católica. A cultura digital é

uma realidade irreversível, pois as pessoas são cada vez mais dependentes desta, tornando-se

uma realidade indissociável da vida. Diante desta situação atual, surge uma nova tendência de

viver a religiosidade. É neste contexto que ganha força o termo Ciberteologia, criado pelo

teólogo italiano Antonio Spadaro, que o compreende como a inteligência da fé no tempo de

rede. Por isso procura-se identificar o posicionamento e as medidas de adequação da Igreja

frente a realidade da cultura digital.

Palavras-Chaves: Ciberteologia. Cultura digital. Igreja Católica.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo do Curso de Teologia muitas temáticas despertaram-me o interesse e também

provocaram-me a fazer ligações com questões práticas. Em outras palavras a Teologia

despertou o interesse de ligar o que era estudado com a vida. Entre estas questões destaco a

relação da teologia com novas tecnologias. Se hoje estamos vivendo uma cultura midiática e

digital, a dimensão religiosa é impactada diretamente por esta. E assim surgem diversas

provocações e desafios para lidar com esta situação. Na minha prática apostólica tanto na

catequese como nas aulas de ensino religioso pude confrontar com questões que agora procuro

aprofundar nesta pesquisa.

Se hoje, mais precisamente no século XXI, estamos vivendo uma cultura midiática e

digital, a dimensão religiosa é impactada diretamente por esta. E assim surgem diversas

provocações e desafios para lidar com esta situação.

As novas tecnologias estão revolucionando cada vez mais nosso modo de ser e de fazer.

Estamos imersos num mundo virtual, vivendo uma verdadeira revolução digital. Cada vez mais

as pessoas estão conectadas à Internet através de seus notebooks, iPads, smartphones. Ela tomou

conta da nossa vida, facilitando muitas situações.

Artigo apresentado ao Centro Universitário La Salle como requisito parcial para obtenção do título de bacharel

em Teologia. Orientador: Prof. Renato Ferreira Machado. E-mail: [email protected].

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A internet está mudando o nosso modo de conhecer o mundo, de nos relacionarmos com

as pessoas e com a realidade. Está mudando o nosso modo de pensar. E esta situação não seria

diferente no campo da religiosidade, pois está influenciando e criando um novo modelo de fazer

experiência com o sagrado.

O homem atual tende a ler sobre religião na rede, a falar de temas religiosos, a baixar

textos religiosos e documentos, comprar objetos religiosos, fazer pesquisas indexadas

nos textos sagrados, visitar igrejas virtuais, encontrar centros religiosos, assistir a

vários tipos de preces e cultos, escutar música religiosas, homilias, sermões,

testemunhos, discursos. (SPADARO, 2012, p. 47-48).

É neste contexto que surge o termo Ciberteologia, criado pelo teólogo italiano Antonio

Spadaro. Ele compreende a ciberteologia como a inteligência da fé no tempo da rede, isto é, a

reflexão sobre a conceptibilidade da fé à luz da lógica da rede.

Diante desta situação atual, se faz necessário uma pesquisa que possa abordar os

impactos da Ciberteologia, o posicionamento e as mudanças que a Igreja Católica está fazendo

diante das recentes tecnologias digitais e desta nova tendência de viver a religiosidade.

A Metodologia da pesquisa utilizada foi de caráter bibliográfico, desenvolvida com base

em material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos e periódicos.

Os materiais foram coletados através de dois modos básicos: manualmente, a partir da

Biblioteca do Unilasalle e do Postulado La Salle, e eletronicamente através de busca na Web,

principalmente em sites de revistas acadêmicas de Teologia. Além desse procedimento

metodológico, foram coletadas outras informações através de visitas on line em capelas virtuais,

blogs, sites e redes sociais (facebook e twitter) da Santa Sé.

A base teórica desta pesquisa fundamenta-se principalmente nos estudos de Antonio

Spadaro1 e Moisés Sbardelotto2. Estes autores se destacam nos recentes estudos sobre cultura

digital e religião. Além destes autores, foram considerados artigos, dissertações, entrevistas e

notícias que tratam deste assunto.

2 ERA DIGITAL

A tecnologia sempre esteve presente na vida do ser humano. Com sua inteligência ele

procurou vencer os obstáculos impostos pela natureza criando técnicas que o ajudasse a

sobreviver. No início das civilizações essas técnicas foram sendo produzidas e aperfeiçoadas

ao longo do tempo. A descoberta do fogo, a invenção da roda e o desenvolvimento da escrita

foram elementos determinantes no desenvolvimento da humanidade e no desencadeamento de

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muitas outras técnicas. Em cada fase da história encontramos descobertas e invenções que

provocaram profundas transformações.

Segundo Veraszto et al. (2008), as palavras técnica e tecnologia têm origem comum na

palavra grega techné que consistia muito mais em se alterar o mundo de forma prática do que

compreendê-lo. O significado original do termo techné tem sua origem a partir de uma das

variáveis de um verbo que significa fabricar, produzir, construir, dar à luz; e teuchos significa

ferramenta, instrumento. A palavra tecnologia provém de uma junção do termo tecno, do grego

techné, que é saber fazer, e logia, do grego logus, razão. Portanto, tecnologia significa a razão

do saber fazer. Em outras palavras o estudo da técnica. O estudo da própria atividade do

modificar, do transformar, do agir.

As tecnologias de informação e comunicação foram desenvolvidas no século XX através

do avanço das telecomunicações, do uso dos computadores e da internet.

Estamos imersos num mundo virtual, vivendo uma verdadeira revolução digital, cada

vez mais as pessoas estão conectadas à rede através de seus notebooks, iPads, smartphones. Ela

tomou conta da nossa vida, facilitando muitas situações. Cada vez mais estamos dependentes

dela, o que de fato influencia no ritmo da nossa vida, mesmo não fazendo uma adesão pessoal

por estar conectado à rede, ela acaba interferindo na vida das pessoas independente se a

localidade é do centro urbano ou rural. Todos acabam sendo prejudicadas, perdendo tempo e

paciência, quando a conexão de internet caiu. Quem nunca ouviu estas frases numa fila de

banco, lotéricas ou correios: o “sistema caiu”, o “sistema está em manutenção”, o “sistema está

fora do ar”. Até parece uma desculpa banal ou mesmo uma falta de compromisso com os

clientes. Isto apenas para ilustrar, a partir de uma cena do cotidiano, a dependência da rede

digital a partir dessa experiência negativa.

A interação com os equipamentos eletrônicos proporciona uma experiência incrível e

sensacional. A tecnologia touch confirma o começo de uma virada táctil, ligada ao sentido

imediato do tato. “Tanto é assim que para indicar que uma coisa é evidente, se diz que se pode

“tocar com a mão”. De fato ao “usar” o iPad é justamente o tato que me confirma o que vejo na

tela, unificando, integrando e sincronizando as outras experiências sensíveis que tenho no

“tablet”. (SPADARO, 2012, p. 131, grifos do autor)

Desta forma destaca Castro (2013),

Os dedos passaram a ser a extensão do pensamento e o contato direto com as máquinas

e dispositivos. A resposta tátil e instantânea após alguma ação é uma experiência que

encanta desde os mais jovens até os idosos. Escutei uma vez que o primeiro teste a se

fazer com qualquer novo dispositivo ou aplicativo, deve ser feito com uma criança.

Se ela conseguir manusear e entender o objetivo, ele está pronto para ir para o

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mercado. Por isso, ultimamente se fala muito na “Geração T” ou “Geração Touch”.

Além de já nascerem “conectadas”, são avessas aos botões. (CASTRO, 2013, on line).

Por ocasião da morte de Steve Jobs, criador da Apple e de produtos como o Macintosh,

iPhone e o iPad, diversas imagens circularam na Internet homenageando o empresário. Entre

estas chamam atenção fotomontagens com a célebre obra de Michelangelo, Criação de Adão,

numa tentativa humorística de mostrar o nascimento da tecnologia touch na visão destes

criadores.

Figura 1: Fotomontagem Criação de Adão3.

Figura 2: Fotomontagem Criação de Adão4.

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Figura 3: Fotomontagem Criação de Adão5.

Há sinais de tecnologia digital por toda parte, mesmo que alguns não estão diretamente

ligados na rede, não deixa de ser uma expressão real deste novo tempo. Poderíamos citar os

inúmeros aparelhos convencionais que se tornam cada vez mais funcionais e sofisticados

através da tecnologia touch: tvs, fogões, máquinas de lavar, geladeiras, caixas eletrônicos...

Cada vez com menos botões e mais funções, tudo através de toques. E no mundo dos games, as

facilidades já estão mais avançadas, onde superam os toques. Aparelhos como Xbox 360

Kinect e Play Station Move já interpretam os movimentos dos jogadores. Os gestos estão

eliminando toques favorecendo jogar interagindo diretamente com elementos da tela.

Guardadas as devidas proporções a invenção da Internet foi tão revolucionária quanto a

criação da imprensa. A invenção de Gutenberg no século XV foi fundamental para mudanças

significativas na civilização do século XV e causa influência até os dias atuais. A tecnologia da

impressão desencadeou uma revolução nas comunicações, alargando consideravelmente a

circulação da informação, alterando os modos de pensar e as interações sociais. (RIBEIRO;

CHAGAS 2007, p. 3).

A invenção da imprensa é o maior acontecimento da história. É a revolução mãe... é

o pensamento humano que larga uma forma e veste outra... é a completa e definitiva

mudança de pele dessa serpente diabólica, que, desde Adão, representa a inteligência”.

(VICTOR HUGO apud RIBEIRO; CHAGAS 2007, p. 5).

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Antes o livro era escrito a mão e copiado de outro, o que demorava até dois anos para

ser terminado. Durante séculos, o livro manuscrito foi ofício exclusivamente monástico, pois

eram os monges copistas que faziam as cópias dos manuscritos. Quando desejavam obter várias

cópias, os monges ditavam a vários copistas simultaneamente, o que ocasionava os erros,

principalmente em citações gregas. (RIBEIRO; CHAGAS 2007, p. 4).

Segundo Chaves citado por Ribeiro e Chagas (2007, p. 3), com a invenção de Gutenberg

tornou-se possível transmitir informações de um para milhares/milhões. Houve a disseminação

da informação de forma mais democrática, quando o conhecimento deixou de ser de poucos,

para abranger um número maior de pessoas. A informação ganhou novas fronteiras e o

pensamento alastrou-se por áreas ou regiões a que antes não tinham acesso, mesmo sendo a

alfabetização um privilégio de poucos. Houve, nesse sentido, uma quebra do modo de reter o

conhecimento, antes limitado a poucos.

Se a criação da imprensa já proporcionou um salto enorme na propagação das

informações, muito mais eficiente faz a internet, em que a velocidade é muito mais rápida e

num volume muito maior. O número de informações foi multiplicado de maneira gigantesca.

De acordo com Gasino6, atualmente “uma pessoa pode ter acesso num só dia a um número

equivalente de informações que um sujeito teria a vida inteira na Idade Média”. Isso só possível

através da Internet, rede mundial de computadores que possui alcance global.7

Segundo Vid al e Maia, (2011, p. 1), a Internet foi criada durante a Segunda Guerra

Mundial com fins militares e depois estendida às universidades americanas, com fins

científicos. Em 1989, a criação do protocolo www (World Wide Web) permitiu o

desenvolvimento de interfaces (sites) integrando textos, imagens, sons e ligações (links) com

outras interfaces. Tais recursos, apesar de poderosos e revolucionários, eram limitados a alguns

pesquisadores no mundo. Somente a partir de 1993, com a criação e a disseminação de

mecanismos de navegação na rede (browsers como o Mosaic, o Netscape e o Explorer) a

internet realmente popularizou-se no mundo − e de modo vertiginoso − envolvendo atualmente

milhões de pessoas, centenas de instituições e empresas em toda parte do globo.

De acordo com números divulgados pela União Internacional de Telecomunicações8,

em 2014, cerca de 3,2 bilhões de pessoas estão usando a Internet, em todo o mundo, dos quais

dois bilhões vivem em países em desenvolvimento. No ano 2000, quando os líderes mundiais

estabeleceram as Metas de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas (ODM), eram

apenas 400 milhões de pessoas com acesso à internet. Entretanto, mesmo que estes números

sejam otimistas, esta pesquisa também aponta que mais de 4 bilhões de habitantes do planeta

ainda não possuem acesso a internet9. Diante deste quadro, inúmeras iniciativas já estão sendo

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implementadas ao redor do mundo que buscam soluções para levar internet às regiões mais

isoladas.

A internet deixou de ser apenas uma rede de computadores, difusora de informações

com páginas e mais páginas isoladas. “Antes do facebook e de outras plataformas semelhantes,

a internet era essencialmente uma rede de páginas e de conteúdo, não de pessoas.” (SPADARO,

2012, p. 17). Ela se transformou numa rede mundial de pessoas comuns desejosas de se

comunicarem. Desta forma “está sempre se desenvolvendo cada vez mais resolutamente e se

transformando numa rede de contatos sociais, uma plataforma relacional”. (SPADARO, 2013,

p. 10).

O termo Web 2.010 se tornou conhecido amplamente a partir de 2004, para descrever a

significativa mudança com relação a Internet. Ela deixou de ser apenas uma ferramenta de

armazenamento de informações, transformando-se num espaço interativo e participativo.

Spadaro defende em seu livro Web 2.0: redes sociais que a rede foi transformada numa rede de

contatos sociais, local de participação e compartilhamento pelos usuários (2013, p. 5).

A rede, em termos estruturais, consiste num sistema de pontos ou nós interligados.

Cada ponto dessa rede é uma pessoa, e cada pessoa possui conexões próprias com

diferentes outros nós. Então, cada pessoa é uma rede social. Por isso, quando se fala

na rede se remete ao conjunto dessas redes, a rede de redes que compartilham dados

entre si. A força da internet está na sua descentralização. Por ter milhões de

interconexões, não existe um ponto crítico único. Se um caminho fica indisponível,

seus dados seguem por outro segmento. Na cooperação mútua, todos os internautas

fazem a rede acontecer. Sendo assim, a internet é um acontecimento humano. (SILVA,

2015, p. 18).

As relações sociais eram quase invisíveis na Internet antes das redes sociais. Havia uma

comunicação bem diferente através de troca de e-mails, não havia uma comunicação interativa

e instantânea. Tecnologia e relações humanas pareciam que não combinava. Era um mundo de

domínio dos técnicos. As informações eram cumulativas e não havia lugar para a interatividade.

Figura 3: Mundo conectado11.

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Mas com as redes sociais as relações sociais começam a mudar. As pessoas estabelecem

mais contatos e constroem mais interatividade, diminuindo distancias e fortalecendo afinidades.

Para Spadaro (2013, p. 11) uma rede social liga pessoas comuns, não por técnicos ou peritos,

dispostas a compartilhar pensamentos, conhecimentos e, também parcelas de suas vidas.

Hoje a Web é cada vez mais um local de participação e de compartilhamento. Uma

rede social é constituída por um grupo de pessoas abertas a compartilhar pensamentos,

conhecimentos, mas também momentos de suas vidas. Em resumo, as redes sociais

são compostas de pessoas comuns, que distribuem conteúdos relativos aos próprios

interesses ou própria existência. (SPADARO, 2013, p. 144).

A tecnologia é de certa forma humanizada, atendendo o incessante desejo de

comunicação do ser humano. Spadaro (2013, p. 7), afirma que as tecnologias satisfazem o

desejo fundamental das pessoas de formarem relacionamentos umas com as outras; elas

correspondem a um desejo de comunicação e amizades que está enraizado em nossa própria

natureza de seres humanos.

As pessoas se conhecem, se encontram e mantêm vivas as relações também se ver

nem se ouvir, até mesmo sem se encontrar de verdade. Essa mudança tem certamente

aspectos muito interessantes e positivos: as famílias podem ficar em contato mesmo

que separados por enormes distancias; os estudantes e pesquisadores podem trabalhar

em equipe em locais diversos; os amigos podem compartilhar sua vida mesmo que a

vida os tenha separado por exigências de trabalho ou estudo. (SPADARO, 2013, p.

145).

É comum se falar que a tecnologia atrapalha as relações presenciais, “distancia quem

estar perto e aproxima quem está longe”, que as pessoas valorizam mais as amizades virtuais

em detrimento das presenciais. Porém, Castells citado por Silva (2015, p. 19) desmitifica essa

ideia de que, na sociedade a interação face a face vai terminar e crescerá o isolamento dos

indivíduos diante do computador. Suas pesquisas em diferentes nações revelam que a maioria

das pessoas que navegam na internet são mais sociáveis, possuem mais amigos e são ainda mais

ativos na política e na sociedade do que os que rejeitam a rede. A geração net quanto mais

interage pela web, mais realiza encontros face a face.

Figura 4: Comunicação compartilhada12.

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Segundo Spadaro (2013) a tecnologia não é contrária às verdadeiras relações, mas pode

estar a favor e ser a melhor aliada. “Todavia, é preciso aprender a integrá-la no contexto a vida.

Não é uma tarefa fácil e requer paciência, especialmente dos pais. De fato exige uma decisão

sobre o que fazer e como ficar nas plataformas de rede social”. (SPADARO, 2013, 145).

Este mesmo autor faz outro alerta para que a rede não se transforme num local de

compartilhamento de palavras e imagens que degradem o ser humano, e de mensagens que

alimentem o ódio e a intolerância, ou que explorem os fracos e indefesos. Para ele é preciso

haver um esforço para o diálogo entre as pessoas de diferentes países, culturas e religiões,

inspirado na compreensão e tolerância.

O admirável mundo novo, fruto das novas tecnologias, é tratado como uma nova

realidade, um ambiente chamado de ciberespaço, assim definido por Pierre Lévy:

[...] o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e

das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de

comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas

clássicas), na medida em que transmitem informações. Consiste de uma realidade

multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por

computadores que funcionam como meios de geração de acesso. (LÉVY 1999, p. 92).

Para Spadaro (2012), esta realidade do ciberespaço gerado pela rede não é um mundo a

parte, separado da vida diária e muito menos apenas um instrumento utilitarista a serviço da

pessoa. Para este autor,

A rede é um espaço de experiência que cada vez mais está se tornando parte integrante,

de maneira fluida, da vida diária: um novo contexto existencial. Portanto, a rede não

é na verdade um simples instrumento de comunicação que se pode ou não usar, mas

evoluiu num espaço, um ambiente cultural que determina um estilo de pensamento e

cria novos territórios e novas formas de educação, contribuindo para definir também

um novo modo de estimular as inteligências e de estreitar os relacionamentos;

efetivamente é um modo de habitar o mundo e de organizá-lo. (SPADARO, 2012, p.

17).

Este novo contexto existencial citado acima é denominado por Gomes13 (2011) como

uma nova ambiência que caracteriza a sociedade atual.

Hoje, com o advento da tecnologia digital, essas inter-relações se complexificaram e

ampliaram, criando uma nova ambiência. No mapa sistêmico apresentado, todos os

inter-relacionamentos comunicacionais bem como os processos midiáticos ocorrem

no caldo cultural da midiatização. Portanto, a realidade da sociedade em midiatização

supera e engloba as particulares dinâmicas que a sociedade engendra para se

comunicar. O meio social é modificado. A tela de fundo, o marco dentro dos quais

interagem as dinâmicas sociais, é gerado pela assunção da realidade digital. A

virtualidade digital traz como conseqüência a estruturação de um novo modo de ser

no mundo. As inter-relações recebem uma carga semântica que as coloca numa

dimensão radicalmente nova, qualitativamente, em relação ao modo de ser na

sociedade até então. (GOMES, 2011, on line).

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A rede não é apenas um emaranhado de cabos, fios, modens e computador.

Definitivamente deixa de ter essa conotação de rede de computadores e passa ser a uma rede de

pessoas comuns. “A rede é necessariamente uma realidade que cada vez mais diz respeito à

vida do crente e influi em sua capacidade de compreensão da realidade, e portanto, da fé e de

seu modo de vivê-la”. (SPADARO, 2012, p. 22). Também não é um lugar específico no qual

se entra em algum momento para “viver online e do qual se sai para entrar novamente na vida

offline”. A internet é uma realidade que agora faz parte da vida cotidiana. “É um lugar a se frequentar

para estar em contato com os amigos que moram longe, para ler notícias, para comprar um livro ou

marcar uma viagem, para compartilhar interesses e ideias”. (SPADARO, 2012, p. 61).

Essa interação e conectividade não fomenta apenas os relacionamentos pessoais. Todos

esses aparelhos dão poder de informação às pessoas. Notícias não dependem apenas de órgãos

oficiais de jornalismo. Qualquer pessoa pode postar informação muito mais rápido que os

profissionais. Os acontecimentos ganham uma visibilidade muito maior.

O ciberespaço oferece a pessoas “comuns”, sem grande poder aquisitivo, político ou

midiático, a liberdade de expressão e canais de divulgação de suas mensagens que

podem ser recebidas e compartilhadas por milhares de pessoas. Como consequência

deste ‘empoderamento’ social, os detentores dos quatro poderes sentem-se

vulneráveis aos indivíduos possuidores do quinto poder, ou seja, qualquer pessoa que

tenha acesso à internet e certos conhecimentos de informática. (Silva, 2015, p.24,

grifos do autor).

De acordo com Sbardelotto (2012, p. 79-80), surge uma nova configuração

sociocomunicacional. A midiatização é um fenômeno que transcende e ultrapassa o campo

midiático, inserindo-se em processualidades cujas dinâmicas ocorrem a partir de suas próprias

lógicas. Surge uma nova ambiência sócio-comunicacional. Trata-se de uma nova forma de

ambiente da informação e da comunicação, que opera mediante tecnologia, dispositivos e

linguagens que tensionadas pela prática social, dão origem a dispositivos comunicacionais em

que novas linguagens sobre o religioso passam a surgir.

Além de benefícios e facilidades a Internet traz também muitas inúmeras mazelas e

consequências. Silva (2015), aborda em sua dissertação de mestrado, inúmeras consequências

desta nova ambiência. Essa pesquisadora denomina essas más implicações como pecado

estrutural cibernético.

Neste mar de infinitas possibilidades, o ser humano ferido pelo pecado e fragilizado

pelos sofrimentos da vida pode com muita facilidade naufragar, se desviar do

caminho, aportar em ilhas de conteúdo que o levem a vícios, a apegos, à perdição.

Novas doenças surgiram do mau uso da internet. A comunidade médica já oficializou

oito novos transtornos mentais causados pelo abuso das tecnologias digitais. (SILVA,

2015, p. 58).

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Há também inúmeros crimes disseminados e facilidades pela internet. Na verdade é

reflexo da sociedade, onde se encontra coisas boas e coisas ruins. Segundo Spadaro citado por

Silva (2015, p. 64), “se a rede expressa a vida, ela exprimirá a vida como ela é. Se uma pessoa

não é integrada, tem problemas, doenças, isso será manifestado na rede. A rede mostra também

todos os limites da humanidade”.

Mercado negro, tráfico de drogas, de armas, de órgãos, de seres humanos: a internet

veio também facilitar a comunicação e articulação mundial do crime organizado e de

outros males que o ser humano cego pelo pecado é capaz de causar ao seu semelhante.

Diante de tantas atrocidades, o pensamento de que a rede é boa e faz parte da criação

e do plano salvífico de Deus parece uma ingenuidade utópica. Como podemos pensar

em comunhão nos tempos da rede e a internet como dom de Deus?

É neste contexto de rede que passa a existir o recente termo Ciberteologia.

3 O QUE É CIBERTEOLOGIA?

A Ciberteologia que ainda não tem um significado epistemológico definido, criado pelo

Padre Antônio Spadaro. O site de busca Google traz aproximadamente, numa rápida pesquisa,

(31.03.2015), 31.700 resultados para a palavra escrita nesta grafia: ciberteologia. E

aproximadamente 16.100 resultados na outra forma escrita, cyberteologia. A palavra na versão

inglesa “cybertheology” aparece com aproximadamente 440.000 resultados. Apesar de parecer

expressivos, estes números ainda são tímidos diante de outros assuntos, por exemplo, “teologia”

que surge com aproximadamente 15.700.000 resultados.

Desde 2013 a Ciberteologia se tornou uma disciplina do currículo teológico da

Universidade Gregoriana de Roma, La Cyberteologia: pensare il cristianesimo al tempo della

rete14, lecionada pelo teólogo Antônio Sparado15.

Diversos outros sites e blogs estão surgindo para divulgar e debater sobre o assunto:

Figura 5: Capa do Blog Ciberteologia Cristã16.

12

Desde 2005, existe a Ciberteologia: a Revista de Teologia & Cultura, uma publicação

trimestral on line da Paulinas Editora. A mesma promove a divulgação e a discussão das novas

tendências na pesquisa da área de teologia, em suas interfaces com os estudos de filosofia,

literatura e ciência da religião.

Figura 4: Capa do site Revista de Ciberteologia17.

O próprio Antonio Spadaro mantém um blog dedicado ao tema:

Figura 5: Site CyberTeologia18.

Spadaro compreende que a realidade da cultura digital é uma oportunidade para fazer

uma reflexão sobre a interação entre a rede e o pensamento cristão, entendida como inteligência

de fé.

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Talvez tenha chegado a hora de dar um passo adiante, buscando um novo status mais

precioso para esta disciplina que parece tão difícil de ser definida. É necessário

considerar a ciberteologia como inteligência de fé em tempos da rede, isto é, a reflexão

sobre a pensabilidade da fé à luz da lógica da rede. A ciberteologia não é uma reflexão

sociológica sobre a religiosidade na internet, mas resultado da fé que liberta de si

mesma um impulso cognitivo num tempo em que a lógica da rede assinala o modo de

pensar, conhecer, comunicar e viver. (SPADARO, 2012, p. 40-41).

Segundo Sbardelotto (2014), a intenção de Spadaro é desafiar seus leitores e os teólogos

de hoje a compreender as mudanças do mundo contemporâneo a partir dos desdobramentos

tecnológicos e como essa mudança demanda um reposicionamento da ação e da reflexão sobre

a vida de fé, ou seja, repensar o significado da fé na nova realidade gerado pelas mídias e pela

consequente “mudança antropológico”.

Estas profundas transformações impactam do mesmo modo sobre a dimensão religiosa,

criando um novo modelo de fazer experiência com o sagrado. Deus se faz digital, a religiosidade

passa a ser vivida de modo online, o fiel se conecta com o sagrado mediado pela internet: a fé

praticada nos ambientes digitais aponta para uma mudança na experiência religiosa do fiel e da

manifestação do religioso. (SBARDELOTTO, 2012, p. 5) Forma-se, portanto, uma nova

identidade individual, comunitária e até mesmo religiosa a partir de uma religiosidade

midiatizada moldada por um conjunto de práticas cômodo, terapêutico e personalizado. Assim

convergindo, ambos os sistemas sociais – comunicacional e religioso – moldam e caracterizam

o mundo cotidiano da experiência vivida do indivíduo e das instituições, influenciando em suas

formas de comunicar e de se inter-relacionar. (SBARDELOTTO, 2012, p. 18).

Os impactos das novas tecnologias criaram novos hábitos na sociedade,

principalmente quando se trata de religiosidade. Atualmente, a internet se tornou

realidade para muitas pessoas, apesar de ainda vivermos num processo de inclusão

digital. No mundo pós-moderno, o real e o virtual fazem parte da vida contemporânea

de várias instituições sociais, inclusive da Igreja Católica. O virtual se tornou um novo

espaço para a evangelização. (SOUSA, 2011, p. 9).

Assim, a fé digital traz consigo uma materialidade totalmente própria, numérica, de

dígitos, que podem ser alterados, deletados, recombinados de acordo com a vontade do sistema.

O fiel se depara com novas intermediações com o sagrado: agora o sistema e seus protocolos

se colocam como novas camadas “intermediatórias” entre o fiel e o sagrado. Se antes o fiel

fazia uso de uma vela, de um templo e dos protocolos da instituição para fazer seu ritual de

oração, hoje se acrescentam novas camadas tecnocomunicacionais (aparatos como computador,

teclado, mouse, interfaces, fluxos de interação comunicacional etc.) e acionadas pelo próprio

fiel, por seu próprio interesse e desejo, a partir de uma oferta do sistema.

14

Desta forma, o ser humano, simbolicamente, substituiu o sentido do sagrado pelo fogo,

do fogo pela vela, e da vela pela “vela virtual” hoje. Criando esses novos símbolos,

ressignificando outros símbolos tradicionais para o ambiente online, busca-se uma nova

“mediação” entre ele e o mundo, para poder dar-lhe sentido. (SBARDELOTTO, 2012, p.28-

29).

Sbardelotto (2012) aprofunda o tema da comunicação e da experiência religiosa na

internet, no livro E O VERBO DE FEZ BIT19 referente a sua pesquisa acadêmica em nível de

mestrado realizada entre 2009 e 2011, fruto de reflexões acerca do tema da comunicação e da

experiência religiosa na internet. Buscando aprofundar questionamentos oriundos de sua

pesquisa, tais como: Deus pode manifestar-se na internet? Ou Deus pode se fazer bit? E ainda,

se o Verbo se fez carne, como diz o Evangelho de João, por que ele não poderia se fazer bit?

O autor, que tem como pano de fundo o cenário complexo do mundo das novas tecnologias de

informações e, sua conseqüente recepção e apropriação por parte das Igrejas cristãs, dedicando-

se especialmente a compreender como a Igreja Católica tem-se se utilizado destas tecnologias

frente a novidade e complexidade trazidas pelas mesmas.

Mencionado os relatos evangélicos nos quais Jesus envia seus discípulos a evangelizar,

Sbardelotto (2012) afirma que a comunicação pertence à essência da Igreja. Além disso, fala da

tensão e relação de amor e ódio que ao longo dos anos a Igreja Católica estabeleceu com o

mundo da comunicação, mas não deixa de alertar para a necessidade de um novo olhar sobre

as mídias digitais como potenciais novas formas de evangelização. Para o autor, que parte do

princípio de que desde a iconografia cristã, aos manuscritos e iluminuras e mesmo as primeiras

bíblias, foram instrumentos e ponto de partida para a evangelização. Posteriormente estes

instrumentos foram transpostos e pelos meios de comunicação de massa, como foi o caso do

rádio e da televisão, na tentativa de responder ao apelo evangelizador de Cristo.

De fato, podemos dizer que Sbardelotto (2012) mostra-nos as nuances de um novo modo

do fiel relacionar-se com o sagrado a partir da virtualidade, considerando que vivemos na

contemporaneidade numa sociedade da comunicação generalizada, caracterizada pelo

fenômeno da midiatização e pelo uso cada vez mais recorrente destas novas tecnologias, mesmo

no cenário religioso católico. O autor trata ainda, em termos de atualização da mensagem

evangélica, de uma nova encarnação do Verbo, isto é, do estabelecimento de novas relações

com o transcendente a partir dos dispositivos digitais e das novas tecnologias de informação.

Com a internet, Sbardelotto (2012), parece despontar uma possibilidade de as Igrejas

cristãs expressarem toda a comunicabilidade do Verbo. É nesse sentido e frente esta nova

realidade que ele fala do surgimento de uma nova ambivalência social, ocasionada pelas mídias

15

digitais e para as quais as Igrejas vão se posicionando a respeito. Portanto, podemos dizer que

pouco a pouco estas instituições religiosas vão buscando lidar, aceitar e experimentar o

funcionamento destas novas tecnologias, já que este novo mundo comunicacional, tem-se

configurado uma nova fronteira para a evangelização na cultura midiatizada de nossos tempos.

Segundo Villasenor (2013, p. 5) uma grande polêmica dos estudos sobre religião no

ciberespaço é a questão da autenticidade das experiências religiosas nas redes digitais. Para este

autor mesmo o uso do ciberespaço não seja reconhecido propriamente pelas instituições como

meio de exercício das práticas religiosas que possa substituir as práticas presenciais. Os

indivíduos têm criado de forma independente recursos interativos que permitem a realização de

algumas práticas religiosas, independente da instituição religiosa. Tais recursos oferecem

comodidade, pois possibilitam a expressão da crença religiosa e a realização de práticas

religiosas a partir de qualquer lugar onde haja um computador conectado à rede, apropriando-

se do ambiente virtual.

Embora seja questionada a prática por algumas instituições, através do ciberespaço

continua sendo possível assistir missas e cultos, pedir consultas espirituais, acender velas

virtuais, encomendar e fazer orações, e até pedir aconselhamento religioso. As opções são

variadas e mobilizam internautas religiosos de todas as crenças, ampliando as ofertas religiosas

e a competição entre as diferentes religiões, fenômeno que gera uma busca para assegurar os

espaços de representação no ciberespaço.

Burity (2001) citado por Villasenor (2013, p. 8) considera que a prática religiosa dentro

do ciberespaço aparece tanto de maneira institucionalizada quanto fora das instituições

religiosas. Para ele as novas tecnologias abrem novas possibilidades para as pessoas religiosas,

desligadas das instituições, mas que encontram no ciberespaço uma nova maneira de

relacionamento com o transcendental e divino, sendo suficiente apenas à visitação online de

espaços sagrados, sem o controle das instituições religiosas.

As barreiras geográficas ou institucionais são praticamente eliminadas e anuladas. O

efeito mais marcante é o de que o aprofundamento da experiência religiosa como algo pessoal,

individual, íntimo acontece em sintonia com uma desprivatização do religioso no uso do

ciberespaço como nova fronteira para manifestar a própria religiosidade desligada das

instituições religiosas.

Desta forma, conclui Villasenor (2013), se antes as instituições eram as responsáveis

por estabelecer a relação entre o indivíduo e o transcendente, atuando como mediadoras, agora

a relação com o divino acontece independentemente da presença da instituição. Os internautas,

para expressar sua religiosidade, não precisam ter vínculo com alguma comunidade ou

16

instituição religiosa específica, nem deslocar-se no espaço físico para encontrar a comunidade

de crença e realizar seus rituais.

A religião virtual é visivelmente desinstitucionalizada. Há uma ressignificação de novas

práticas sociais e religiosas, permitindo a participação em tempo real em rituais religiosos ou

práticas virtuais; isso significa que as práticas virtuais afetam as práticas sociais e religiosas,

desligadas da instituição e deslocando as fronteiras. Para manifestar a sua religiosidade, o

internauta não precisa ter vínculo com nenhuma instituição religiosa específica, ou deslocar-se

no espaço físico, sendo suficiente apenas um dispositivo ligado à internet.

Sbardelotto (2012) longe de pretender discutir questões filosóficas ou teológico-

litúrgicas, quer ainda debruçar-se sobre uma situação que na sua perspectiva expõe uma nova

realidade para as Igrejas cristãs a partir do processo de uma nova midiatização, estabelecendo

uma nova relação entre o fiel e a instituição eclesial em seu papel de mediação entre o divino e

o humano. O fiel, segundo Sbardelotto não abre mão totalmente da presença institucional da

Igreja, mas confere a ela um novo sentido, uma nova atribuição por meio da virtualidade que o

televisivo oferece fugindo a realidade espaço-temporal regulada pelos cânones eclesiais.

A dúvida levantada pelo fiel internauta encontra uma resposta no padre-online que no

diálogo com o fiel o conclama precursor de uma nova realidade, com base na percepção e leitura

dos sinais dos tempos que o sacerdote vê na ação para litúrgica do fiel. De fato, podemos dizer

que o autor atesta a incidência virtual de fieis cada vez mais crescente e aponta para o fato de

que cada vez mais fieis praticam sua fé no âmbito digital online, a fé expressa deste modo vai

se caracterizando pouco a pouco por uma religiosidade convertida em bits e pixels. Tal

constatação remete-nos ainda a perspectiva de um novo vínculo que se tece, mais rápido do que

se supõe, entre o fiel e a Igreja a partir do “mundo virtual’. Este novo vínculo com o sagrado

extrapola as barreiras do físico e constitui-se num desafio a ser interpretado e quem sabe até

enfrentado pelas instituições religiosas.

Assim, analisando os serviços religiosos disponibilizados por sites de identidade

católica, Sbardelotto (2012) mapeia a recorrência das chamadas “Capelas Virtuais”, espaço no

qual os fieis desenvolvem suas práticas religiosas. Uma vez que vivemos numa sociedade

fortemente marcada pelo progresso tecnológico e, por isso mesmo, caracterizada por um forte

apelo midiatizador, a internet torna-se assim, a ambiência social de vivência de uma nova forma

de expressar a religiosidade, fora do âmbito tradicional do templo. Nestas capelas virtuais

inúmeros serviços, existentes também no modo convencional, são oferecidos, como as velas,

terço, leituras.

17

Sbardelotto (2012) analisa na sua pesquisa quatro sites que disponibilizam estes

serviços: CatolicaNet20, Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus – Província do Paraná21,

A12, do Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida22, padre Reginaldo Manzotti23. Estes

foram selecionados por ele por terem grande número de acesso e facilidade de acesso as

informações, serem atualizados e por ofertarem diversos serviços religiosos.

Figura 5: Capela Virtual Padre Reginaldo Manzotti24.

Figura 6: Santuário Nacional25.

18

Figura 7: Capela Virtual site Apóstolas26.

É nesse sentido que podemos afirmar parafraseando o autor que Deus ou o sagrado é

codificado, relido, reapresentado, ressiginificado em uma processualidade de operações de

sentido sócio-computacional-comunicativas. Logo o autor trata da nova forma de midioteofania

e midio-hierofania, ou seja, das manifestações do sagrado no meio midiatizado da internet.

Portanto, constata-se que independente dos meios utilizados a relação com o sagrado, com Deus

acontece, desenvolve-se e expande-se nos diferentes mecanismos das novas práticas religiosas.

Segundo Sbardelotto (2012), o fiel participa, vive, age e interage em uma ambiência

comunicacional religiosa digital que o remete, independente dos meios disponíveis, para Deus

e, aí está o fulcro da questão. Daí surge a necessidade de compreender como Deus manifesta-

se e faz-se presente nas realidades virtuais, imiscuindo-se nesta nova realidade, encarnando-se

em linguagem virtual, fazendo-se bit, pixels. Em síntese, dirá o autor “a grandeza, a magnitude,

a vastidão de Deus, do sagrado, do transcendente se “encolhem”, se compactam, se codificam

em bits e depois – decodificadas, relidas, ressignificadas, reapropriadas pelo usuário – voltam

a se “expandir” e a gerar sentido na vida e nas ações do fiel, por meio de complexas estratégias

comunicacionais medidas pelas tecnologias digitais”. (Sbardelotto 2012, p. 30).

Para este mesmo autor, essas novas modalidades midiatizadas de experiência religiosa,

instauram novas materialidades, novas narrativas e novas operações de construção de sentido

religioso. Desta forma a ciberteologia encontra um amplo sentido de atuação, fazendo uma

reflexão sobre a experiência de fé em tempos de rede.

19

4 A POSTURA DA IGREJA CATÓLICA DIANTE DA REDE

É imprescindível a comunicação na Igreja. Está na sua essência e origem o ato

comunicar e anunciar a boa nova, cumprindo o próprio mandamento de Jesus de anunciar: Ide

por todo mundo e pregai o evangelho. (Mc.16, 15).

A Igreja utilizou os meios de comunicação ao longo dos anos em diversas fases. Mas não

no mesmo ritmo da sociedade. Depois de muito relutar, resistir, ela acaba cedendo e vendo os

benefícios que os meios de comunicação podem proporcionar. De uma estranheza inicial passa

para uma visão mais moderada, e inclusive usando ao seu favor. E assim vai incorporando estes

meios na sua ação de evangelização. Desta forma foi com o livro imprenso, com o televisão,

rádio e jornal. E agora com as atuais tecnologias da comunicação. (Sites, YouTube, Facebook,

Twitter, Blogs)

Para Gomes (2009, p. 13) a Igreja não acompanhou a reflexão sobre esse fenômeno, que

transcende os meros dispositivos tecnológicos e aponta para a constituição de uma nova

ambiência da sociedade. A Igreja não discute as consequências para ela do uso indiscriminado

da mídia como se ela fosse neutra. Existem leis e processos que distinguem, substancialmente,

o espaço religioso do midiático.

Segundo Spadaro o desafio da Igreja, não deve ser de que forma “usar” bem a rede, mas

como “viver” bem nos tempos de rede. Diante desta situação “é necessário repensar o próprio

imaginário tecnológico da Igreja, embebido ainda por uma visão não sintonizada com o avanço

dos tempos. (SBARDELOTTO, 2014, p. 24 grifos do autor) Para este autor as mídias digitais

não são apenas dispositivos técnicos ou suportes tecnológicos de comunicação. Ele entende que

estas mídias são “dispositivos sociotécnicos e sociossimbolicos”, dos quais a sociedade se

apropria, por meio de usos e práticas sociais diversos, para a produção de sentido simbólico.

Esses dispositivos midiáticos incluem elementos materiais, técnicos, empresariais,

mercadológicos, organizacionais, conteudísticos inter-relacionais, mas, não existem

independentemente e não ganha, sentido isolados das práticas sociais. Por isso, as

mídias são justamente as interfaces, as conexões e as interconexões sociotécnicas que

passam a estabelecer redes complexas de circulação comunicacional, não possíveis

mais de serem fragmentadas em produtor, produção, conteúdo, veículo, público,

receptor. (SBARDELOTTO, 2012, p.75).

Sbardelotto (2012a)27 faz uma análise de documentos oficiais da Igreja a partir de 2002

que tratam do tema da Internet. Segundo ele foi em 2002 que pela primeira vez na história um

pontífice faz uma abordagem especificamente da Internet em um documento oficial, através da

Mensagem para o 36° Dia Mundial das Comunicações Sociais, do Papa João Paulo II.

Progressivamente a Igreja vai assumindo uma nova postura frente ao contexto das mídias. A

20

partir deste estudo pode-se destacar diferentes concepções ou fases desta aproximação da Igreja

com a Internet.

a) Visão utilitarista: Inicialmente a Internet é vista como um instrumento e suplemento

de apoio para muitas atividades e programas da Igreja. “Embora reconhecendo as “mudanças

fundamentais nos modelos” sociais, a Igreja continua percebendo as mídias apenas como

utilitários à sua disposição, não reconhecendo a nova ambiência social que delas nasce. Assim,

dentro desse caráter utilitarista de um simples instrumento, os conteúdos são a peça-chave”

(SBARDELOTTO, 2012, p. 10).

b) Polarização entre ambientes: Há uma polarização entre ambientes, o virtual

conturbado pelo excesso de informação, e o da realidade da encarnação dos sacramentos e a

liturgia.

c) Territórios separados por uma fronteira: “A Igreja analisa a internet como um

mundo à parte, que precisa ser domado e catequizado para atender à moral cristã dois territórios

(“fronteiras”) a Igreja ainda não percebia que a internet estava perpassando todas as realidades

sociais, não podendo mais ser analisada como um “extra” à vida social. (SBARDELOTTO,

2012, p.9).

d) Ambiente separado por uma porta: [...] “porta aberta para um mundo maravilhoso

e fascinante, dotado de uma poderosa influência formativa; não obstante, nem tudo o que se

encontra do outro lado desta porta é seguro, sadio e verdadeiro” (SBARDELOTTO, 2012, p.

10).

Um dos últimos documentos oficiais da Igreja voltado exclusivamente sobre as mídias

digitais foi a mensagem de Bento XVI por ocasião do 45º Dia Mundial das Comunicações

Sociais, em 2011, intitulada Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital28 (Bento

XVI, 2011, online). Na visão de Sbardelotto (2012, p. 11), o texto aponta para um novo tom do

discurso, mais aberto às profundas transformações sociais que as mídias digitais fomentam,

afastando- se de um discurso meramente utilitarista de meios enquanto aparatos tecnológicos.

As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria

comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla

transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos,

está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de

estabelecer relações e de construir comunhão. (Bento XVI, 2011, online).

O tema do 45º Dia Mundial das Comunicações de 2011 revela o pensamento da Igreja

em seguir e inculturar-se na sociedade contemporânea, apontando caminhos e reflexões seguras

em tempos de incerteza, que caracterizam o viver das pessoas no mundo atual.

21

(...) o reconhecimento da Igreja pelas transformações sociais culturais provocadas

pelas novas tecnologias, que introduzem não somente um modo novo de comunicar,

mas nos fazem olhar a “mudança” da “própria comunicação em si mesma”. Daí a

decorrência de que não se trata somente de “novidades” das tecnologias, mas que “está

a nascer uma nova maneira de aprender e pensar”. É como se estivéssemos vivendo

uma nova civilização. Aprender e pensar, ousamos dizer, necessita absorver uma

modalidade nova, nos sistemas de educação, de elaboração do pensamento, entre

outros. A consequência pode ser óbvia, como entendimento, mas, como prática,

requer a mudança de métodos de ensino, de informar, de comunicar, de evangelizar.

(PUNTEL, JOANA T, 2011, online).

A compreensão da Igreja, nas palavras de Bento de XVI, reconhece no mundo digital

uma nova dinâmica na comunicação, deixando de ser só uma troca de dados, tornando-se cada

vez mais uma partilha.

Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada

primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações

positivas. Por outro lado, isto colide com alguns limites típicos da comunicação

digital: a parcialidade da interação, a tendência a comunicar só algumas partes do

próprio mundo interior, o risco de cair numa espécie de construção da autoimagem

que pode favorecer o narcisismo. Sobretudo os jovens estão a viver esta mudança da

comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de

quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida. (Bento

XVI, 2011, online).

A Igreja acredita que as novas tecnologias permitem que as pessoas se encontrem para

além dos confins do espaço e das próprias culturas, inaugurando deste modo todo um novo

mundo de potenciais amizades. Mas alerta para que o contato virtual não pode nem deve

substituir o encontro humano direto com as pessoas.

Esta é uma grande oportunidade, mas exige também uma maior atenção e uma tomada

de consciência quanto aos possíveis riscos. Quem é o meu “próximo” neste novo

mundo? Existe o perigo de estar menos presente a quantos encontramos na nossa vida

diária? Existe o risco de estarmos mais distraídos, porque a nossa atenção é

fragmentada e absorvida por um mundo “diferente” daquele onde vivemos? Temos

tempo para refletir criticamente sobre as nossas opções e alimentar relações humanas

que sejam verdadeiramente profundas e duradouras? É importante nunca esquecer que

o contato virtual não pode nem deve substituir o contato humano direto com as

pessoas, em todos os níveis da nossa vida. Também na era digital, cada um vê-se

confrontado com a necessidade de ser pessoa autêntica e reflexiva. Segue-se daqui

que existe um estilo cristão de presença também no mundo digital: traduz-se numa

forma de comunicação honesta e aberta, responsável e respeitadora do outro. (Bento

XVI, 2011, online).

A presença no mundo digital, para a Igreja, além de autenticidade requer-se testemunho

com coerência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar, escolhas, preferências, juízos

que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala

explicitamente dele. “O compromisso por um testemunho do Evangelho na era digital exige

22

que todos estejam particularmente atentos aos aspectos desta mensagem que possam desafiar

algumas das lógicas típicas da web”. (Bento XVI, 2011, online).

Em síntese, a mensagem do Papa Bento XVI, mostra um olhar positivo da Igreja e

convida todos os cristãos a exercerem uma criatividade consciente e responsável na rede de

relações que as possibilidades da era digital proporciona, porque ela se tornou parte integrante

da vida humana.

5 IMPACTOS DA CIBERTEOLOGIA NA IGREJA

Spadaro (2012) reconheceu o quanto é difícil definir este fenômeno que surge a partir da

vivência da fé na era digital, para esta situação ele está chamando de ciberteologia considerando

a como inteligência de fé em tempos da rede, isto é, a reflexão sobre a pensabilidade da fé à luz

da lógica da rede. Mas enfatiza que esta reflexão não é sociológica, mas resultado da fé que

liberta de si mesma um impulso cognitivo num tempo em que a lógica da rede assinala o modo

de pensar, conhecer, comunicar e viver (SPADARO, 2012, p. 40-41).

A Ciberteologia mostra uma série de situações novas que tende a impactar com a prática

pastoral da Igreja. Mas cabe lembrar que várias questões não são consequências dessa nova

cultura digital, muitos destes impactos já vinham ocorrendo em função da globalização dos

diferentes meios de comunicação. Questões como aversão as instituições tradicionais,

pluralismo religioso, relativismo da fé, esvaziamento das igrejas tradicionais e o surgimento de

novas igrejas são temas decorrentes antes mesmo da popularização da Internet. Tais questões

só aumentaram ou geraram no contexto de cultura cibernética.

Traçando um paralelo entre a importância do surgimento da imprensa para a Reforma

Protestante, Sbardelotto (2012b, p. 32), fala da importância da midiatização digital online para

a Igreja Católica, no sentido de uma “reforma digital” que traz consigo novos questionamentos

à concepção e a prática da religião, especialmente na atualidade.

Segundo Sbardelotto (2014, p. 33) para religiões tradicionais como a Igreja Católica,

enraizadas em culturas e origens agrárias e pastoris, são necessárias mudanças realmente

profundas em seus sistemas simbólicos para que possam ser capazes de responder a todos esses

desafios na compreensão de uma nova forma de ver e de viver o mundo que vai nascendo com

as mídias digitais. Para estes mesmo autor (2014, p.69), essa mudança epocal em curso,

fomentada pelas tecnologias digitais, fortalece e amplia cada vez mais o processo de

midiatização das sociedades e também das religiões.

Noções como tempo, espaço, comunidade, autoridade, presença, participação etc. vão

sendo deslocados, reconstruídos e readaptados a uma nova configuração social que, por vezes,

23

são mal entendidas ou até combatidas pela Igreja. Todas estas questões impactam diretamente

na organização paroquial e na celebração dos sacramentos.

Se o conceito de paróquia já era abalado pelo contexto da realidade urbana em que a

maioria das pessoas já não se limita a frequentar uma paroquia definida, muito mais ainda será

impactado na nova ambiência que não tem barreiras ou demarcações geográficas. Neste novo

contexto a localização geográfica não são critérios para a formação de uma comunidade.

O conceito de paróquia ou comunidade que toma como referência a dimensão geográfica

(que nasceu em razão da proximidade das moradias das pessoas) sofre alteração; o mundo

das novas tecnologias exige uma mudança neste conceito meramente pastoral. A rede não

se caracteriza pela dimensão geográfica, mas pelos laços que se formam entre as pessoas.

Uma paróquia será uma rede eclesial na medida em que um determinado grupo vive a fé

e compartilha esta mesma fé com os demais membros da rede. E o padre ou o Bispo e

agentes de pastoral precisam levar em consideração esta nova realidade. (CAVALIERI,

2013, online).

Sbardelotto (2014), também confirma esta tendência na formação de novas

comunidades:

As novas comunidades já não se estruturam por uma localização geográfica, em que

seus membros são definidos pela sua coexistência em um mesmo determinado espaço

físico, mas sim por uma ambiência fluida em que só faz parte dessa comunidade quem

a ela tem acesso. E são comunidades instauradas comunicacionalmente: ou, vice-

versa, é a interação comunicacional que cria novas comunidades ao tornar comum

entre os fiéis o que social, política, existencial e religiosamente não pode nem deve, a

seu ver, ficar isolado. (SBARDELOTTO, 2014, p. 31).

E nestas novas experiências, onde o fiel é estimulado a intensificar sua fé na internet,

“as pessoas passam a encontrar uma oferta da experiência religiosa não apenas em igrejas de

pedra, nos padres de carne e osso e nos rituais palpáveis, mas também na religiosidade existente

e disponível em bits e pixels da rede”. (SBARDELOTTO, 2012, p. 108).

O Documento 100 da CNBB29, “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”,

propõe uma reflexão e ações práticas para uma conversão pastoral da paróquia. Nesta análise

da realidade paroquial os Bispos destacam que a territorialidade é considerada, há séculos, o

principal critério para concretizar a experiência eclesial. Essa concepção está ligada a uma realidade

mais fixista e estável.

Para eles, atualmente, o território físico não é mais importante que as relações sociais. A

transformação do tempo provoca uma nova noção de limites paroquiais, sem delimitação

geográfica. Habitar um determinado espaço físico não significa, necessariamente, estabelecer

vínculos com aquela realidade geográfica. A mobilidade, especialmente urbana, possibilita muitos

fluxos nas relações. Neste novo contexto a vivência religiosa também está, cada vez mais,

midiática e que a experiência religiosa emerge com menor senso de pertença comunitária.

24

Apesar de se constatar muita religiosidade, especialmente por via midiática,

evidencia-se uma adesão parcial à fé cristã. Está em crise o sentimento de pertença à

comunidade e o engajamento na paróquia. Afetivamente, há pessoas mais ligadas a

expressões religiosas veiculadas por mídias católicas. Efetivamente, muitos preferem

colaborar com campanhas televisivas do que participar do dízimo paroquial, por

exemplo. Embora seja indispensável o trabalho de religiosos católicos nas mídias,

entra em questão o vínculo e o pertença possibilitados por essa nova modalidade de

viver a fé. (DOC. 100, CNBB, n.27).

Os Bispos não menosprezam a experiência religiosa conhecida pelos meios midiáticos

e virtuais que influenciam pessoas, disseminam informações e formam opinião sobre temas

religiosos. Eles reconhecem nestes um papel importante de difusor da fé. A principal

preocupação dos Bispos é que seja garantida a comunhão e a participação das pessoas na vida

de uma comunidade. E neste ponto a rede não garante isso. Consideram que seria um grave

problema eclesiológico e pastoral se um site ou uma televisão possibilitasse que o fiel se

vinculasse apenas aos meios de comunicação com celebrações, doações e vínculo associativo

prejudicando a participação na comunidade paroquial. Essa tentação, que muitos fiéis sofrem,

de interagir mais com o meio do que com a sua comunidade presencial há de ser uma

preocupação especial e constante de quem conduz a programação midiática. Neste sentido a

programação midiática há de estimular o vínculo da pessoa à comunidade paroquial. (cfe.

DOC.100, CNBB, n. 315-316).

Segundo Spadaro (2012), a Igreja Católica insiste no fato de que é impossível e

antropologicamente errado considerar a realidade virtual “capaz” de substituir a experiência

real, tangível e concreta da comunidade cristã visível e histórica, e o mesmo vale para os

sacramentos e as celebrações litúrgicas. (SPADARO, 2012, p. 126).

Para esclarecer as dúvidas sobre esta questão se existe sacramentos no mundo digital,

Spadaro (2012) cita o documento La Chiesa e internet do Pontifício Conselho das

Comunicações Sociais:

A realidade virtual não pode substituir a real presença de Cristo na Eucaristia, a

realidade sacramental dos outros sacramentos e o culto assistido no seio de uma

comunidade humana de carne e osso. Na internet não existem sacramentos. Mesmo

as experiências religiosas que são possíveis ali pela graça de Deus são insuficientes,

se separadas da interação do mundo real com os outros fiéis. (apud SPADARO, 2012,

p. 126-127).

Neste sentido, para Spadaro (2014b), a Igreja é categórica. O sacramento, qualquer que

seja, requer o ambiente físico, tangível e concreto de uma comunidade cristã feita de carne e

osso. Não há, portanto, sacramento pela internet. Isso não exclui uma forma de participação.

Assim como os primeiros cristãos se encontravam juntos num mesmo lugar, hoje milhões de

25

fiéis conectados encontram-se em torno do sucessor de Pedro. Mas a experiência virtual não

pode substituir a presença real do Cristo na Eucaristia, nem os outros sacramentos.

De fato, a liturgia “trabalha” sempre no corpo, organizando as esferas das emoções, da

sensibilidade, da ação, de modo que tais esferas sejam a presença do sacro, do mistério de

Cristo. (Spadaro, 2012, p. 133). Aqui está incluído o impacto que a tecnologia tem imposto ao

livro impresso, pois já uma tendência que o livro digital seja substituto definitivo do livro

tradicional. Há quem diga que o fim do livro impresso em papel. E como ficaria isso na liturgia,

a Bíblia e o Missal seriam substituídos pela técnica digital? Segundo o mesmo autor, a liturgia

tende ainda a pensar a página sacra como um ícone.

A página do Evangelho, mesmo não sendo mais ricamente em iluminuras como

antigamente, permanece parte integrante da ação ritual da comunidade cristã. Não é

imaginável, cá entre nós, que se leve um Ipad ou um computador na procissão. Não é

imaginável que numa liturgia um monitor seja solenemente beijado e incensado. ‘Para

o monge o livro é um objeto sacro que durante a liturgia se circula com grande

solenidade, se glorifica com o incenso, se ilumina com um círio especial e do qual se

beijam as letras capitulares em iluminuras antes e depois da leitura da passagem

assinalada por tais imagens.’ (SPADARO, 2012, p. 143).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ciberteologia impõe vários desafios pastorais. A Igreja reconhece as grandes

mudanças provocadas pelas tecnologias digitais. Contudo, ainda se percebe, a partir dos estudos

de Spadaro e Sbardelotto, que predomina na Igreja uma visão da internet como uma realidade

paralela, separada do cotidiano e sendo apenas como instrumentos e meios de divulgação de

mensagens. O que deveria ser considerado como uma nova ambiência que move a sociedade

atual, interferindo em todos os seguimentos da sociedade, gerando novos hábitos e práticas,

inclusive na religiosidade. A ciberteologia impõe vários desafios pastorais.

A Igreja se encontra diante de uma “encruzilhada” de desafios da cultura midiática.

Esses desafios ultrapassam o “uso” da tecnologia e tocam a esfera da cultura e da questão

ética, uma vez que o uso meramente funcional das novas tecnologias desconhece os caminhos

mais profundos para entender a emergência dos signos de uma nova cultura, de modos de

compreensão e interação de sensibilidades, conhecimentos, informações. Portanto, a educação

e o treinamento devem constituir uma parte dos programas de formação a respeito dos meios

de comunicação. (PUNTEL, 2011, p. 236).

É fato que existe um novo modo de viver a fé neste contexto e uma nova relação fiel-

igreja se torna mais presente. Há uma ruptura com modo tradicional a partir do momento que

a pessoa deixa de ir no templo e passa a utilizar esses serviços religiosos disponíveis na rede.

26

Diversas possibilidades sugiram na Internet aliados com o desejo pela transcendência. Desta

forma surgiram novas práticas religiosas e manifestações divergentes com o esquema

tradicional. Com apenas um clique o fiel entra numa capela virtual ou acende uma vela virtual.

Essas experiências não são substitutas das práticas tradicionais. Não se quer criar uma

divisão entre mundo virtual e mundo presencial. Sbardelotto (2012, p. 144), explica que o

termo virtual no seu sentido filosófico mais profundo, é “o que está predeterminado e contém

todas as condições essenciais à sua realização”, mas que não existe concretamente. E isto não

pode ser aplicado à Igreja que se encontra na internet, pois esta não existe como “potência ou

faculdade”. O que o autor reflete é o conceito de digital ou online (em linha, em rede,

conectado). Digital porque existe essa tentativa de informatizar o sagrado, torna-lo dígito,

código, número, dados.

Para Sbardelotto (2012, p. 139), o fiel, conectado à internet, pode vivenciar sua

experiência religiosa e estabelece seu vínculo com a Igreja onde que quer ele esteja e a

qualquer momento. Isto só irá fortalecer seu senso de pertença.

Esses recursos de acesso e instantaneidade próprios da internet são aliados para a

comunicação e vivência da fé. As pessoas não podem esperar o próximo horário da missa, em

muitos casos até o próximo domingo, para obter informações.

A internet permite interações sociais de maior alcance, através das conexões entre fiéis

e comunidades. Se internet permite a conectividade com o maior número de pessoas porque

não usar a favor dos objetivos da Igreja?

A rede leva as pessoas a encontros reais, presenciais. Essa interação comunicacional

através da mídia sustenta as comunidades eclesiais tornando comum entre os fiéis as

experiências que não pode ficar isoladas.

Sbardelotto (2012, p. 327) afirma que a internet gera novos modos de percepção, de

expressão, de prática, de vivência e de experimentação da fé, mas não substitui os suportes

materiais e simbólicos das práticas de fé tradicionais. As mídias digitais também não são um

canal direto com o sagrado. Existe uma série de intermediações entre o fiel e o sagrado:

computador, tela, teclado, mouse, interfaces, regras, liturgias acionadas pelo próprio fiel.

Também não se pode afirmar que a internet é o ambiente para uma fé individualizada que já

não precisa de uma comunidade real. Na internet, as interações sociais e religiosas adquirem

um novo suporte que passa a ser conatural a tais interações, um ambiente fundamental para o

estabelecimento dessas interações. Por isso, não é necessário temer um desaparecimento do

corpo, pois, mesmo na era digital, o corpo continua sendo um intérprete e um emoldurador

central dos sentidos ofertados.

27

Desta forma a Ciberteologia, desafia a Igreja a vencer temores e a provoca a viver

conectada nesta nova ambiência, ao do ciberespaço.

ABSTRACT:

This article presents a reflection about the Cybertheology with the objective of understanding

its definition and its direct implications in the Catholic Church position. The digital culture is a

irreversible reality because people are more and more dependent of this, becoming a inseparable

reality of life. In light of the current situation, it comes a new inclination of living the

religiousness up. And in this context the term Cybertheology gains a strong meaning, created

bey the Italian theologian, Antonio Spadaro, who is known as the as the faith intelligence in the

web time. Wherefore, it has been searching to identify the position and the appropriate actions

from the Church against the digital culture reality.

Keywords: Cybertheology. Digital Culture. Catholic Church.

NOTAS EXPLICATIVAS

1 Padre jesuíta, escritor e teólogo. É consultor do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e também do

Pontifício Conselho para a Cultura. Atual editor da revista italiana La Civiltà Cattolica e professor de literatura

da Universidade Gregoriana, em Roma. Formado em filosofia, teologia e comunicação social, é mestre em

teologia pela Universidade Lateranense e doutor na mesma área pela Gregoriana. Consultor do Pontifício

Conselho para as Comunicações Sociais e também do Pontifício Conselho para a Cultura. Autor dos livros Web

2.0 e Ciberteologia, ambos publicados pela Editora Paulinas, que ajudarão a sustentar a base teórica. Cfe.:

http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4659&secao=403. 2 Mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), na

linha de pesquisa Midiatização e Processos Sociais. É autor de "E o Verbo se fez bit: A comunicação e a

experiência religiosas na internet" (Editora Santuário, 2012). É colaborador do Instituto Humanitas Unisinos

(IHU) e membro da Comissão Especial para o Diretório de Comunicação para a Igreja no Brasil, da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase na interface mídia

e religião.

Cfe.: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4438348J9>. 3 Fonte: <https://static-ssl.businessinsider.com/image/54465ad369bedd1a463ecd67-960/iphone-miracle-1.jpg>. 4 Fonte: <https://buzzsp.files.wordpress.com/2014/08/steve_jobs_michelangelo3.jpg>. 5 Fonte: http://g1.globo.com/vc-no-g1/noticia/2011/10/internautas-homenageiam-steve-jobs-fundador-da-

apple.html. 6 Disponível em http://www.hottopos.com.br/videtur9/esquece.htm. 7 Internet é um sistema global de redes de computadores interligadas que utilizam o conjunto de protocolos padrão

da internet (TCP/IP) para servir vários bilhões de usuários no mundo inteiro. É uma rede de várias outras redes,

que consiste de milhões de empresas privadas, públicas, acadêmicas e de governo, com alcance local e global e

que está ligada por uma ampla variedade de tecnologias de rede eletrônica, sem fio e ópticas. A internet traz uma

extensa gama de recursos de informação e serviços, tais como os documentos inter-relacionados

de hipertextos da World Wide Web (WWW), redes peer-to-peer e infraestrutura de apoio a e-mails. Cfe:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet.

28

8 Disponível em <http://nacoesunidas.org/em-15-anos-numero-de-usuarios-de-internet-passou-de-400-milhoes-

para-32-bilhoes-revela-onu/>. 9 Disponível: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/11/1553088-internet-ja-tem-quase-3-bilhoes-de-usuarios-

no-mundo-diz-onu.shtml>. 10 Web 2.0 é um termo popularizado a partir de 2004 pela empresa americana O'Reilly Media para designar uma

segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo wikis,

aplicativos baseados em folksonomia, redes sociais, blogs e Tecnologia da Informação. Embora o termo tenha

uma conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas suas especificações técnicas,

mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e desenvolvedores, ou seja, o ambiente de

interação e participação que hoje engloba inúmeras linguagens e motivações.

Alguns especialistas em tecnologia, como Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web (WWW), alegam

que o termo carece de sentido, pois a Web 2.0 utiliza muitos componentes tecnológicos criados antes mesmo do

surgimento da Web. (Cfe. http://pt.wikipedia.org/wiki/Web_2.0) Acesso em 01/04/2015. 11Fonte: <http://www.ecopag.com.br/blog/estudo-revela-que-20-da-populacao-mundial-esta-nas-redes-

sociais/#.VkgW4GeFPIW>. 12 Fonte: <http://comunycarte.blogspot.com.br/2011/02/comunicacao-compartilhada-no-forum.html>. 13 Disponível em:

<http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3769&secao=357>

Acesso em: 20 de março de 2015. 14 Disponível em: <http://www.unigre.it/struttura_didattica/teologia/specifico/dipartimento_tm_licenza_it.php>.

(Licenza - Dipartimento di Teologia Morale) 15 Cfe.: <http://blog.airtonjo.com/2013/11/ciberteologia-comeca-ser-estudada-na.html>. 16 Fonte: <http://ciberteologiacrista.blogspot.com.br/>. 17 Fonte: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/index.php/expediente/o-que-e-ciberteologia/>. 18 Fonte: <http://www.cyberteologia.it/>. 19 E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet" (Editora Santuário, 2012). 20 Disponível em: <http://www.catolicanet.com.br/>. 21 Disponível em: <http://www.apostolas-pr.org.br/>. 22 Disponível em: <http://www.a12.com/santuario-nacional>. 23 Disponível em: <http://www.padrereginaldomanzotti.org.br/>. 24 Disponível: <http://www.padrereginaldomanzotti.org.br/capela_virtual/>. 25 Disponível em: <http://www.a12.com/santuario-nacional/santuario-virtual/>. 26 Disponível: <http://www.apostolas-pr.org.br/capela/capela.htm>. 27 SBARDELOTTO, Moisés. Deus digital, religiosidade online, fiel conectado: Estudos sobre religião e internet.

Disponivel em: Acesso 28 Disponível em: http://www.cnbb.org.br/component/docman/doc_download/1294-45o-dmc-verdade-anuncio-e-

autenticidade-de-vida-na-era-digital. 29 CNBB. Comunidade de comunidades: a conversão pastoral da paróquia. 52ª Assembleia Geral da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil. Aparecida - SP, 30 de abril a 9 de maio de 2014.Versão On line. (Documentos

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