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Trabalho de Conclusão de Curso Hospital Federal de Bonsucesso Residência Médica de Anestesiologia Anafilaxia Perioperatória Autora: Dra. Bruna Santos Mesquita, Rio de Janeiro, 2018

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Trabalho de Conclusão de Curso

Hospital Federal de Bonsucesso

Residência Médica de Anestesiologia

Anafilaxia Perioperatória

Autora: Dra. Bruna Santos Mesquita,

Rio de Janeiro, 2018

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HOSPITAL FEDERAL DE BONSUCESSO

SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA

DE: CENTRO DE ENSINO E TREINAMENTO EM ANESTESIOLOGIA

PARA: CENTRO DE ESTUDOS DO HOSPITAL FEDERAL DE BONSUCESSO

Apresento o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ensino e

Treinamento em Anestesiologia do Hospital Federal de Bonsucesso, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do Título de Especialista em Anestesiologia e conclusão da

Residência Médica em Anestesiologia entitulado "Anafilaxia Perioperatória" pela médica em

especialização de terceiro ano Bruna Santos Mesquita, sob orientação de Estevão Luiz

Carvalho Braga e Angelo Jorge Queiroz Rangel Micuci.

Rio de Janeiro, 31 de Março de 2018.

Armin Guttman

Responsável pelo CET Hospital Federal de Bonsucesso

Estêvão Luiz Carvalho Braga

Ãngelo Jorge Queiroz Rangel Micuci

Corresponsáveis pelo CET do Hospital Federal de Bonsucesso

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Trabalho de Conclusão de Curso

Título: Anafilaxia Perioperatória

Autor: Bruna Santos Mesquita

Rio de Janeiro, RJ

2018

Nota descritiva

Sob orientação dos Doutores Estêvão Braga e Angelo Micuci, venho por meio deste trabalho

detalhar os mecanismos envolvidos na anafilaxia perioperatória, bem como os fatores de

risco e tratamento adequado desta complicação que é um desafio na prática da

anestesiologia.

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Agradecimentos

Agradeço à minha família pelo amor, incentivo e apoio incondicional durante a minha

jornada profissional;

Agradeço aos meus amigos e companheiros de residência por dividirem as alegrias e

tristezas desse período e por tornarem o dia-a-dia leve e agradável;

Agradeço a meus professores pelo convívio e por terem me ensinado a arte da

anestesiologia. Em especial, agradeço aos Drs. Eduardo Monte e Lilian Sequeira por me

concederem a oportunidade de compartilhar o caso clínico referente ao tema que escolhi

como trabalho de conclusão e aos Drs. Armin Guttman, Paulo Alípio e Américo Salgueiro não

apenas pela responsabilidade sob o CET do Hospital Federal de Bonsucesso, como também

por toda dedicação na formação de novos anestesiologistas ao longo dos anos;

E, por fim, agradeço ao meu orientador, Dr. Estêvão Braga, pela incessável luta para nos

tornar grandes profissionais.

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Resumo

A Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica define a anafilaxia como uma

reação de hipersensibilidade generalizada ou sistêmica grave que pode ser ameaçadora da

vida e desencadeada tanto por mecanismos imunológicos como não-imunológicos.

A prevalência e incidência de reações anafiláticas peroperatórias apresentam grande

divergência na literatura, mas estima-se que as reações anafiláticas estejam presentes em

uma a cada 1.000 a 20.000 anestesias. Os principais agentes etiológicos envolvidos na

anafilaxia perioperatória são os bloqueadores neuromusculares, seguidos pelo látex e

antibióticos. É importante ressaltar que a reatividade cruzada entre algumas drogas e

alimentos já foi descrita na literatura e deve ser amplamente conhecida pelos

anestesiologistas.

O reconhecimento da reação anafilática no período intraoperatório representa um

grande desafio diagnóstico, pois vários sistemas podem ser acometidos com ocorrência

variável. Os sinais e sintomas podem incluir rash cutâneo, urticária, angioedema,

manifestações gastrintestinais, broncoespasmo, taquicardia, hipotensão.

O objetivo do tratamento é atingir ou manter a estabilidade cardiopulmonar e, para

tal, a medida mais importante consiste na suspensão imediata das drogas anestésicas com o

objetivo de cessar o estímulo. Além disso, é necessário manter a patência das vias aéreas,

administrar oxigênio a 100%, expandir a volemia com o uso de cristalóides e administrar

epinefrina nos casos mais graves.

O objetivo desse trabalho é revisar os mecanismos imunológicos envolvidos na

anafilaxia perioperatória, bem como os principais desencadeantes desse processo,

juntamente com as possíveis reações cruzadas entre eles. Além disso, visa discutir os sinais

e sintomas, diagnóstico e manejo dessa condição que são conhecimentos essenciais à

prática da anestesiologia.

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Sumário

Introdução.................................................................................................

5

O Sistema Imune.......................................................................................

6

Reações de Hipersensibilidade.................................................................

7

Anafilaxia................................................................................................... Clínica .......................................................................................................

8 11

Tratamento ................................................................................................

12

Diagnóstico ................................................................................................

13

Reações Cruzadas: Desafio Anestésico .....................................................

14

Conclusão ..................................................................................................

18

Bibliografia ..................................................................................................

19

Apêndice 1 ..................................................................................................

20

Anexo 1 ...................................................................................................... 21

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Lista de Figuras:

Figura 1.................................................................................................. 09

Lista de Tabelas:

Tabela 1................................................................................................. 11

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Introdução

As reações anafiláticas representam uma importante causa de morbimortalidade

perioperatória. A anafilaxia corresponde a 9-19% de todas as complicações durante o

período perioperatório e seu risco de ocorrência é de aproximadamente 1-3% para a maioria

das drogas 1. Estima-se que 5% dos adultos americanos apresentam alergia a uma ou mais

drogas2. É importante destacar que muitos pacientes consideram os efeitos adversos de uma

determinada substância como sinônimo de alergia. Portanto, essa distinção é essencial para

o manejo anestésico adequado 3.

A Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica define a anafilaxia como uma

reação de hipersensibilidade generalizada ou sistêmica grave que pode ser ameaçadora da

vida e desencadeada tanto por mecanismos imunológicos como não-imunológicos4,5. Sua

ocorrência tem maior prevalência durante a idade adulta do que durante a infância2.. Mais

de 90% das reações alérgicas provocadas por drogas intravenosas ocorrem em 5 minutos

após a administração. No paciente anestesiado a manifestação mais fatal é o colapso

circulatório, secundário a vasodilatação e redução do retorno venoso 2. O diagnóstico desse

evento no período intraoperatório representa um grande desafio, pois a única manifestação

pode ser hipotensão refratária 2.

A prevalência e incidência de reações anafiláticas peroperatórias apresentam grande

divergência na literatura, possivelmente causada pela natureza retrospectiva dos estudos

em que se baseiam e pelo caráter opcional de notificação desses eventos 6. Estima-se que as

reações anafiláticas estejam presentes em uma a cada 1.000 a 20.000 anestesias, mas pelos

motivos expostos anteriormente, esse número pode ser subestimado7.

O risco de anafilaxia aumenta com a frequência, a administração parenteral e com o

tempo de exposição ao antígeno específico. Além disso, várias comorbidades e

medicamentos aumentam a gravidade dos sintomas e diminuem a resposta ao tratamento,

como, por exemplo, as cardiopatias, doença pulmonar crônica, cirurgia intracraniana recente

e hipertireoidismo5. Os principais agentes etiológicos envolvidos na anafilaxia perioperatória

são os bloqueadores neuromusculares, seguidos pelo látex e antibióticos 1,3,4,5,6,7.

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O Sistema Imune

O sistema imune protege o organismo da invasão de substâncias estranhas,

chamadas antígenos, que são estruturas moleculares geralmente compostas de carboidratos

ou proteínas. A resposta imune inclui tanto a imunidade mediada por células quanto a

imunidade humoral. Na primeira, as células são diretamente responsáveis pela destruição e

eliminação do organismo invasor enquanto que na segunda, há participação de diferentes

anticorpos e proteínas (como as do complemento) que podem agir isoladamente ou em

conjunto com a imunidade celular2.

Como parte da resposta imune humoral, mediadores químicos chamados são

liberados para atrair ao sítio de inflamação/infecção as células imunes causando, então, uma

resposta inflamatória e febre, além de aumento da permeabilidade capilar que permite a

migração das células em questão2.

O início da resposta imune é bastante variável e pode ocorrer imediatamente, como

na anafilaxia, ou após dias, e gera a chamada memória imunológica que pode durar por

muitos anos, especialmente após imunização2.

1) Os componentes do sistema imune:

Antígenos – são moléculas que estimulam o sistema imune. Somente algumas drogas

usadas na anestesia são antígenos completos: protamina e dextrans. A maioria das

drogas é um composto orgânico simples que precisa se ligar a proteínas circulantes

ou tecidos para transformar-se em um antígeno2.

Linfócitos T e B – Os linfócitos T são células que ao se ligar a antígenos secretam

mediadores que regulam a resposta imune. Apresentam os seguintes subtipos que

desenvolvem diferentes funções na resposta imune: células T helper, células T

supressoras, células T citotóxicas e células T natural killer2.

Os linfócitos B são células capazes de se diferenciar em células

plasmáticas específicas que sintetizam anticorpo (proteínas específicas chamadas

também chamadas imunoglobulinas que reconhecem e se ligam a antígenos

específicos)2.

Imunidade Celular: monócitos, neutrófilos e eosinófilos representam as células

efetoras que migram para as áreas inflamatórias em resposta à liberação de

mediadores químicos2.

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Reações de Hipersensibilidade (Alergia):

Tipo 1: são anafiláticas ou reações de hipersensibilidade do tipo imediato. Ou seja,

mediadores são liberados a partir da ligação do antígeno com IgE presente na

membrana de mastócitos e basófilos. Essas reações incluem anafilaxia, asma e

rinite2.

Tipo 2: são conhecidas como reações de hipersensibilidade citotóxicas mediadas por

células dependentes de anticorpos. São mediadas por IgM ou IgG contra antígenos

na parede das células. Exemplos de reações tipo 2 incluem incompatibilidade ABO,

anemia hemolítica imune induzida por drogas, trombocitopenia induzida por

heparina2.

Tipo 3: caracterizada por presença de complexos antígeno-anticorpo insolúveis que

se depositam sobre superfícies endoteliais. O sistema complemento é ativado e os

polimorfonucleares se deslocam até o local da injúria. Exemplos de reações tipo 3

incluem a doença do soro clássica, produzida por soros heterólogos e a doença do

soro símile por drogas como penicilinas, sulfonamidas, hidantoína, estreptomicina,

tiouracil, ácido aminossalicílico2.

Tipo 4: são conhecidas também como reações de hipersensibilidade tardia e resultam

da interação de linfócitos sensibilizados previamente com os antígenos. A junção

antígeno-anticorpo estimula a produção e proliferação de linfócitos e geração de

células T-citotóxicas, atraindo macrófagos e outras células inflamatórias. Geralmente,

se manifestam em 18-24 horas, com pico de 40-80 horas, e desaparecimento em 72-

96h. Exemplos dessa reação são as que ocorrem nas rejeições teciduais, reações de

enxerto contra hospedeiro e na dermatite de contato2.

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Anafilaxia:

Mediadores químicos da Anafilaxia:

Histamina: estimula os receptores H1, H2 e H3. O receptor H1 induz a liberação de

fatores com óxido nítrico que produzem aumento da permeabilidade capilar,

contração da musculatura lisa das vias aéreas e vasos. A ativação do receptor H2

causa aumento da secreção gástrica, inibe ativação de mastócito, e contribui para

vasodilatação2.

Leucotrienos e Prostaglandinas: Liberados após a ativação dos mastócitos a partir do

metabolismo do ácido aracnoide. Os Leucotrienos produzem broncoconstrição (mais

intensa do que a produzida pela histamina), aumento da permeabilidade capilar,

vasodilatação, vasoconstrição coronariana e depressão miocárdica. Já as

Prostaglandinas produzem vasodilatação, broncoespasmo, hipertensão pulmonar e

aumento da permeabilidade capilar. Concentrações plasmáticas elevadas de

tromboxano B2 (metabólito do tromboxano A2), prostaglandina também sintetizada

pelos mastócitos, bem como pelo polimorfonucleares, tem sido demonstradas após

reação à protamina associada a hipertensão pulmonar2.

Quininas: pequenos peptídeos chamados quininas são sintetizados nos mastócitos e

basófilos e produzem vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e

broncoconstrição. Quininas podem estimular o endotélio vascular a liberar fatores

vasoativos que incluem prostaciclinas e óxido nítrico2.

Fator ativador de plaquetas: lipídio liberado pelos mastócitos ativados responsável

pela agregação e ativação de plaquetas e leucócitos para liberação de produtos

inflamatórios. O nível de fator ativador de plaquetas tem sido relacionado à

gravidade da anafilaxia2.

Fisiopatologia das reações anafiláticas mediadas por IgE:

A exposição prévia ao antígeno ou a uma substância similar é necessária para

produzir sensibilização, porém muitas vezes a história de alergia é desconhecida pelo

paciente. Na reexposição, a ligação do antígeno aos anticorpos IgE imunoespecíficos na

superfície dos mastócitos e basófilos, libera mediadores como histamina, triptase e fatores

quimiotáxicos. Leucotrienos, prostaglandinas, quininas, citocinas são liberados em resposta

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à ativação celular. Esses mediadores produzem broncoespasmo e edema de vias aéreas

superiores, vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, além de urticária2,4.

Fig.1: Durante a anafilaxia (reação de hipersensibilidade imediata do tipo I), (1) o antígeno

entra no paciente através da via parenteral. (2) Há ligação nos dois anticorpos IgE na

superfície de mastócitos ou basófilos. Em um processo dependente de cálcio e de energia, as

células liberam várias substâncias - histamina, fator quimiotático eosinofílic, leucotrienos,

prostaglandinas e quininas. (3) Estes mediadores produzem os efeitos característicos nos

diversos sistemas. Adaptado de [1].

Reações não-mediadas por IgE:

Outros mecanismos imunológicos e não-imunológicos liberam muitos dos

mediadores discutidos independentemente da IgE, levando ao aparecimento de uma

síndrome clinicamente idêntica à anafilaxia2,4.

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Ativação do Complemento:

A ativação do complemento segue tanto pela via imunológica quanto não-

imunológica culminando na liberação de fragmentos de complemento biologicamente

ativos: C3 e C52.

C3a e C5a são chamadas anafilatoxinas porque liberam histamina a partir de

mastócitos e basófilos, levam à contração de músculo liso, síntese de interleucina e

aumentam a permeabilidade capilar. C5a interage com alta afinidade com receptores

específicos nos polimorfonucleares e plaquetas, causando quimiotaxia de leucócitos,

agregação e ativação2.

Os leucócitos agregados embolizam para vários órgãos, produzindo oclusão

microvascular e liberação de produtos inflamatórios como os metabólitos do ácido

aracnoide, radicais livres de oxigênio e enzimas lisossomais. Anticorpos da classe IgG dirigida

contra determinantes antigênicos ou superfícies de granulócitos também podem produzir

agregação de leucócitos. Esses anticorpos são chamados leucoaglutininas2.

As pesquisas tem associado a ativação do complemento e agregação de

polimorfonucleares na produção da expressão clínica de reações de transfusão,

vasoconstrição pulmonar após uso de protamina, síndrome de dificuldade respiratória do

adulto e choque séptico2.

Angioedema pode ocorrer tanto secundário a reações alérgicas como secundário a

deficiência de complemento. Angioedema hereditário é um exemplo de estado de

deficiência do complemento que pode levar a situações ameaçadoras da vida com edema de

vias aéreas superiores ou do trato gastrointestinal2.

Liberação não-imunológica de histamina:

Muitas substâncias administradas no período perioperatório liberam histamina de

maneira dose-dependente. Esse mecanismo não é completamente elucidado, mas

representa ativação seletiva de mastócitos, mas não de basófilo2.

Os mastócitos cutâneos dos humanos são as únicas células que liberam histamina em

resposta a drogas e estímulos endógenos (neuropeptídios). A administração de anti-

histamínico antes do uso de drogas que sabidamente liberam histamina não previne essa

liberação. Porém, competem pelo receptor de histamina e podem atenuar a redução da

resistência vascular sistêmica2.

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Clínica:

O início e a gravidade da reação estão relacionados aos efeitos dos mediadores

químicos nos órgãos-alvo. A reação é geralmente imediata nos indivíduos previamente

sensibilizados, mas o aparecimento pode demorar de 2-20 minutos4,5.

O enigma da anafilaxia reside na imprevisibilidade de acontecimento, gravidade da

reação, e ausência de historia prévia de anafilaxia4. A reação pode incluir alguns ou todos os

sintomas relatados na tabela a seguir:

Tabela 1: Classificação a partir da Escala de Ring e Messmer:

Tratamento:

O objetivo do tratamento é atingir a estabilidade cardiopulmonar. Reações severas

necessitam de terapia agressiva e podem ser prolongadas, com hipotensão persistente,

hipertensão pulmonar, broncoconstrição ou obstrução laríngea que podem persistir de 5-32

horas, apesar do tratamento adequado 1,2.

Todos os pacientes que apresentaram reação anafilática devem ser admitidos no CTI

por 24 horas após o evento para monitorização, pois pode haver recorrência dos sintomas

mesmo após tratamento bem sucedido 1,4.

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o Terapia Inicial:

A primeira e mais importante medida é parar a administração de todas as drogas

anestésicas, se possível 4. Além disso, as seguintes medidas devem ser adotadas:

I. Preservar a patência das vias aéreas e administrar oxigênio a 100%: anormalidades

na relação ventilação-perfusão produzindo hipoxemia podem ocorrer durante as

reações anafiláticas4,5,8.

II. Expansão de volume: a anafilaxia cursa com uma perda de até 40% do volume

intravascular para o espaço intersticial2. Inicialmente, 2–4 litros de solução cristaloide

ou colóide devem ser administrados associados e epinefrina. Bolus adicionais de

volume de 25-50ml/Kg podem ser necessários se a hipotensão for mantida4,8.

Hipotensão refratária após essas medidas requer monitorização adicional, como o

uso de ecocardiograma transesofágico, por exemplo4. Edema pulmonar fulminante

não-cardiogênico pode ocorrer após reação anafilática. Essa condição requer

repleção do volume intravascular com monitorização hemodinâmica cuidadosa até

que o defeito capilar melhore2.

III. Administração de Epinefrina: droga de escolha nos pacientes com choque

anafilático. Suas vantagens consistem no seu efeito de vasoconstrição alfa-

adrenérgico para reversão da hipotensão; broncodilatação através do estímulo dos

receptores beta-adrenérgicos, além da inibição da liberação de mediadores pelo

aumentando do AMPc nos mastócitos e basófilos. Em pacientes com hipotensão,

doses de 5-10 microgramas devem ser administradas por via venosa, além de doses

incrementais tituladas para restaurar a estabilidade hemodinâmica. Se houver

colapso hemodinâmico/ parada cardiorrespiratória, a dose administrada deve ser de

0,1-1 mg. Pacientes com edema laríngeo sem hipotensão devem receber epinefrina

subcutânea4.8.

o Tratamento Secundário

I. Anti-histamínicos: Anti-histamínicos não inibem a reação anafilática, nem a liberação

de histamina, mas competem pelo receptor de histamina nos sítios efetores. Como

os receptores H1 são mediadores da maior parte dos eventos adversos da histamina,

a administração de 0,5-1 mg/kg de um antagonista H1, como difenidramina, pode ser

útil e estão indicados em todos os tipos de anafilaxia. A administração de

antagonistas H2 não tem comprovação científica de eficácia2,8.

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II. Catecolaminas: Epinefrina ou Noraepinefrina em infusão contínua pode ser

necessária em pacientes com hipotensão ou broncoespasmo refratários ao

tratamento inicial2.

III. Broncodilatadores: Agentes beta-adrenérgicos inalatórios como albuterol e

terbutalina são úteis se broncoespasmo for a característica principal. Ipratropio

inalado pode ser especialmente útil em pacientes betabloqueados8.

IV. Corticosteróides: Apesar da utilidade não comprovada no tratamento das reações

agudas, os corticoides são usados como adjuvantes quando há broncoespasmo ou

choque refratário após a terapia de ressuscitação. A dose recomendada é 0,25-1g de

hidrocortisona nas reações mediadas por IgE. Os corticóides têm efeitos anti-

inflamatórios mediados pela alteração da ativação e migração de células

inflamatórias após a reação aguda, bem como atenuam a fase tardia que pode

ocorrer de 12-24h após o evento8.

V. Bicarbonato: acidose metabólica se desenvolve rapidamente em pacientes com

hipotensão mantida. Essa acidose reduz o efeito da epinefrina no coração e

vasculatura sistêmica. Portanto, na hipotensão refratária ou acidose, está indicado o

uso de bicarbonato (0,5-1 mEq/kg) repetido a cada 5 minutos2.

VI. Avaliação da VA: edema laríngeo importante pode ocorrer e, portanto, a extubação

deve ser cuidadosa. Edema facial persistente sugere edema de vias aéreas. Nesse

caso, os pacientes devem ser mantidos intubados até que o edema regrida. Se

houver dúvida sobre presença de edema, uma laringoscopia direta deve ser realizada

para melhor avaliação8.

Diagnóstico:

O diagnóstico inicial é clínico e presumido, mas pode ser confirmado por uma

variedade de testes, incluindo níveis de histamina/triptase sérica, detecção de anticorpo

específico (IgE) por meio de radioimunoensaio (ELISA) ou teste cutâneo (teste intradérmico

ou prick) que é o método mais comumente utilizado1,2,3,4,9. Os pacientes que se apresentam

com anafilaxia perioperatória devem ser encaminhados a um alergologista e

cuidadosamente investigados após o evento, a fim de evitar a reexposição ao medicamento

implicado, o que poderia levar a resultados potencialmente fatais1,4.

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Reações Cruzadas: Desafio Anestésico

A reatividade cruzada alergênica é uma característica da resposta da IgE e reflete as

relações filogenéticas entre os organismos. Reações cruzadas já foram descritas com

bloqueadores neuromusculares, antibióticos, agentes de contraste iodados e certos

alimentos, e refere-se aos alérgenos com semelhanças estruturais (isto é, um alto grau de

homologia) na estrutura primária da sequência de aminoácidos que podem ser reconhecidos

por um único anticorpo. Ou seja, a sensibilização a um alérgeno pode sensibilizar o paciente

para o outro sem exposição direta3.

É importante que o anestesiologista tenha a confirmação de que a reatividade

cruzada entre diferentes medicamentos e/ou alimentos realmente existe, uma vez que

falsos pressupostos quanto à reatividade cruzada (por exemplo, frutos do mar) são

frequentemente evocados na prática clínica e inadequadamente considerados como fator de

risco para reações alérgicas perioperatórias. Além disso, muitas alergias alimentares são

consideradas erroneamente como uma contraindicação para alguns medicamentos,

tornando o plano anestésico mais desafiador3.

Bloqueadores Neuromusculares:

Bloqueadores Neuromusculares estão envolvidos com anafilaxia mediada por IgE

perioperatória em 50-70% dos casos de acordo com estudos epidemiológicos realizados na

Austrália e na Europa. Todos os bloqueadores neuromusculares podem provocar anafilaxia,

porém os agentes mais envolvidos nesse tipo de reação são o rocurônio e a succinilcolina4.

Mesmo com uma história de anafilaxia induzida por bloqueadores neuromusculares

documentada, os agentes que apresentam teste cutâneo negativo podem ser utilizados de

forma segura, como relatado em várias diretrizes sobre anafilaxia perioperatória3.

O grupo de amônio quaternário é a molécula sensibilizante presumida nas reações

envolvendo os agentes bloqueadores. É importante ressaltar que não há evidência na

literatura de conexão dessas reações a alergias alimentares específicas10.

Na literatura, alguns relatos de casos publicados descrevem o uso eficaz de

sugammadex na atenuação do choque anafilático induzido por rocurônio11,12. A

fisiopatologia dessa atenuação permanece incerta, mas a principal hipótese é que o

sugammadex, além de formar um complexo com a molécula de rocurônio/vecurônio,

também é capaz de encapsular alérgenos de amônio quaternário. A dose de sugammadex

utilizada foi bastante variável entre os relatos, porém as doses maiores e as administradas

mais precocemente apresentaram melhor resultado final11,12.

No entanto, ainda faltam na literatura dados consistentes que sustentem a indicação

formal do uso de sugammadex durante choque anafilático induzido por

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rocurônio/vecurônio. Por isso, deve-se ter cautela ao utilizar o sugammadex nessas

situações porque ele também pode levar à anafilaxia, como já foi relatado em outros

trabalhos 13,14,15.

Antibióticos:

A anafilaxia perioperatória induzida por antibióticos envolve principalmente a

penicilina e as cefalosporinas. A reatividade cruzada entre essas famílias é menor do que a

frequentemente citada 8-10% e é atribuída ao seu anel betalactâmico comum e às cadeias

laterais3.

As cefalosporinas de primeira geração compartilham uma cadeia lateral estrutural

similar com penicilina e amoxicilina. Assim, os pacientes alérgicos a penicilina ou amoxicilina

têm maior incidência de reações alérgicas a cefalosporinas de primeira geração, o que não

se aplica a cefalosporinas de segunda ou de terceira geração3.

Alergias Alimentares e Propofol:

O propofol é frequentemente usado para indução e manutenção de anestesia geral e

também é um sedativo comumente usado para procedimentos curtos e em unidades de

terapia intensiva. É comercializado como uma emulsão contendo óleo de soja, lecitina de

ovos e glicerol. Inicialmente, não houve contraindicações na bula do produto, mas nos

últimos anos surgiram em muitos países contraindicações contra o seu uso em indivíduos

alérgicos a lecitina de soja, amendoim e ovo. As reações alérgicas ao propofol são raras, com

uma incidência previamente estimada de 1: 60,00016,17.

Existem seis relatos de casos publicados de suspeita de alergia ao propofol em

indivíduos alérgicos a ovos, soja ou amendoim. No entanto, faltam provas confirmatórias,

pois os testes cutâneos ou provocações intravenosas com propofol não foram realizados ou

os resultados foram negativos, exceto em um caso16,17.

A alergia a ovos é mais comum durante a infância e, geralmente, desaparece na idade

adulta. Não há relato de anafilaxia induzida por propofol, que tenha sido confirmada por

teste de alergia, em pacientes com alergia a ovos. Portanto, não há motivos para

contraindicar o uso dessa substância nesses pacientes16,17.

A formulação do propofol também contém óleo de soja. A alergia à soja é uma das

alergias alimentares mais comuns na infância, afetando aproximadamente 0,4% das crianças

em idade pré-escolar. O óleo refinado de soja, como o presente no propofol, é considerado

seguro para pessoas com alergia à soja porque as proteínas alergênicas são removidas

durante o processo de refinação3.

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Em relação à reatividade cruzada sugerida entre amendoim e soja, um artigo de

revisão publicado em 2000 na revista Allergy relatou uma baixa taxa de reatividade cruzada.

Considerando a falta de notificações de reação alérgica ao propofol nos EUA, onde a alergia

ao amendoim é comum, é improvável que a relevância clínica no que diz respeito à alergia

ao propofol10,16.

Embora os guidelines britânico e francês afirmem que não há evidências de que o

propofol deve ser evitado em pacientes alérgicos ao ovo ou à soja, eles ainda sugerem

cautela no manejo desses pacientes3.

Alergia a Frutos do Mar, Iodo e Protamina:

Os frutos do mar (peixes, crustáceos e moluscos) estão entre os alimentos mais

comuns que provocam anafilaxia grave3.

O risco de administração de iodo em pacientes com alergia a frutos do mar é um

equívoco que há muito tempo ronda a prática médica. Porém, a Academia Americana de

Alergia, Asma e Imunologia esclarece que: (1) as reações a contrastes iodados são mediadas

por um mecanismo anafilactoide que não envolve IgE e, portanto, não é evidência de alergia

ao iodo; (2) a dermatite de contato para os anti-sépticos iodados não é uma resposta

mediada por IgE desencadeada pelo iodo e (3) os componentes proteicos de frutos do mar,

incluindo a parvalbumina e a tropomiosina, são os verdadeiros responsáveis pela

hipersensibilidade aos frutos do mar e não o iodo19.

Infelizmente, os dados relativos à protamina e a potencial sensibilidade cruzada com

alergia a peixe são menos diretos. Embora não haja na literatura nenhum estudo que tenha

comprovado esta associação, é concebível que a sensibilização prévia aos peixes possa

resultar em uma reação mediada por IgE à protamina, que é uma medicação feita a partir de

uma proteína derivada de peixe. Portanto, não podemos excluir definitivamente essa

possível conexão19.

É prática bastante comum usar medicação pré-anestésica em pacientes com alto

risco de reação imediata aos meios de contraste radiográfico. Corticosteróides e anti-

histamínicos H1 e H2 são os agentes mais frequentemente utilizados. No entanto, vários

estudos já relataram a ocorrência de reação grave a essas substâncias apesar da pré-

medicação. Portanto, não há na literatura qualquer evidência de eficácia dessa medida na

prevenção de reações alérgica aos meios de contraste8,18.

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Látex:

A alergia ao látex é uma reação de hipersensibilidade imediata dependente de IgE às

proteínas do látex. O primeiro caso de reação alérgica por látex foi relatado em 1979 e

manifestado por urticária de contato. Em 1989, os primeiros relatos de anafilaxia intra-

operatória secundária à exposição ao látex foram relatados2.

Trabalhadores da saúde e crianças com espinha bífida, anormalidades urogenitais ou

certas alergias alimentares foram reconhecidas como pessoas com risco aumentado de

anafilaxia ao látex. Pacientes alérgicos a bananas, abacates e kiwis e castanha também

foram relatados como tendo anticorpos que reagem de forma cruzada com látex, o que é

conhecida como Síndrome do Látex-Frutos, primeiramente definida por Carlos Blanco em

19942,3,20.

A medida preventiva mais eficaz no manejo do paciente com alergia ao látex durante

o período peroperatório é evitar sua exposição ao antígeno, mantendo o ambiente livre do

látex (ambiente látex free). Além da identificação do paciente como alérgico ao látex, é

necessário agendar a cirurgia, nos casos não emergenciais, para o primeiro horário do dia.

Toda a equipe deve estar atenta ao uso de materiais isentos de látex, como luva cirúrgica,

garrotes, equipos, tubo endotraqueal, circuito do ventilador, sondas vesicais, cateteres,

seringas, frascos de cristaloides. Usar preferencialmente medicações que sejam

acondicionadas em ampolas de vidro, porque os frascos possuem tampa de látex20.

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Conclusão:

A anafilaxia, apesar de rara, representa um grande desafio na prática anestésica, pois

é condição ameaçadora da vida e necessita de rápido diagnóstico e tratamento. A história de

reação de hipersensibilidade prévia é o principal fator de risco para novo evento e, portanto,

deve ser investigada ativamente pelos anestesiologistas.

O conceito de reatividade cruzada, seja entre medicamentos ou entre medicamentos

e alimentos, merece a atenção dos especialistas, uma vez que muitas dessas interações,

apesar de consolidadas na prática, não são respaldadas pela literatura. Outro conceito

importante é que a pré-medicação com corticoides e anti-histamínicos não impede o

desenvolvimento de anafilaxia perioperatória.

Todos os pacientes que apresentem sinais de anafilaxia peroperatória devem ser

encaminhados ao alergologista com o objetivo de confirmar a natureza da reação, o

medicamento responsável e as recomendações para estudos posteriores.

Nesse trabalho apresentamos uma revisão da literatura sobre as reações de

hipersensibilidade, com foco na anafilaxia perioperatória. A abordagem desse tema é

importante, pois permite esclarecer alguns conceitos errôneos que tangem esse assunto,

bem como sistematizar os sinais e sintomas clínicos e o tratamento dessa condição, o que

pode impactar diretamente a sua morbimortalidade.

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Apêndice 1 – Relato de caso

Paciente feminino, 16 anos, sem comorbidades, candidata a mamoplastia redutora.

Paciente com relato de alergia alimentar não especificada e sem qualquer tipo restrição.

Sem uso de medicamentos regulares. Foi admitida no centro cirúrgico e após monitorização

hemodinâmica (PNI, cardioscopia, oximetria) e foi medicada com Midazolam 2mg IV e

cefazolina 2g IV profilática. Após pré-oxigenação, a indução foi realizada com fentanil 250

mcg IV, propofol 120 mg IV, vecurônio 6 mg IV e manutenção da hipnose com sevoflurano

2%. A intubação orotraqueal sob laringoscopia direta ocorreu sem intercorrências. Após

aproximadamente 5 minutos da administração das medicações, houve aparecimento de rash

cutâneo e aumento progressivo das pressões de vias aéreas. Após o diagnóstico de reação

anafilática, foram administrados 10 mcg de adrenalina em bolus (2 doses), porém houve

queda progressiva da saturação arterial de oxigênio e hipotensão arterial. A dose de

adrenalina foi aumentada para 250 mcg IV em bolus, realizada administração de salbutamol

spray através do TOT e hidrocortisona 1g IV. Após essas medidas houve melhora da

ventilação, do rash cutâneo e da pressão arterial sistêmica. Porém, 20 minutos depois, a

paciente apresentou novo rash, com progressiva piora da ventilação e PCR em assistolia por

hipóxia. Iniciado protocolo de ressuscitação cardiopulmonar com sucesso após 9 minutos de

PCR. Após estabilização hemodinâmica, a paciente foi encaminhada ao centro de terapia

intensiva para observação clínica e evoluiu sem sequelas. Após alta hospitalar, foi realizado

teste cutâneo para atestar causa da reação anafilática peroperatória, sendo o mesmo

positivo para vecurônio (anexo 1).

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Anexo 1