Trabalho Debret 2

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Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Curso de História Disciplina: Debret e a formação da cultura afro-carioca Professor: arcos !lvito ! "#P"#$#%&!'() D) %#*") # D#+"#&: #$+)')$ P!"! U! &#)"I! D# &"!,#&"I!$ Apresentado por: DOUGLAS COUTINHO DIAS %iterói 01/01/16

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Universidade Federal FluminenseInstituto de Ciências Humanas e FilosofiaCurso de História

Disciplina: Debret e a formação da cultura afro-cariocaProfessor: arcos !lvito

! "#P"#$#%&!'() D) %#*") # D#+"#&: #$+)')$ P!"!U! &#)"I! D# &"!,#&"I!$

Apresentado por:

DOUGLAS COUTINHO DIAS

%iterói01/01/16

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INTRODUÇÃO

 Neste presente trabalho, pretendemos analisar a representação de negras e negros naobra de Jean-Baptiste Debret, especialmente as litogra!ras reprod!"idas nos tomos de s!a

#amosa obra Viagem Pitoresca e Histórica do Brasil $ % est!do ser& pa!tado em tr's grandes

(!est)es, #orm!ladas pelo historiador da arte Albert Boime, acerca das #ormas de se retratar o

negro para !m p*blico e!rope! no s+c!lo $ Dentro dessa proposta, e inspirados na isita .

eposição sobre o a!tor no entro !lt!ral dos orreios, propomos !m est!do (!e, assim

como Debret, responde aos (!estionamentos centrais mais na seleção de imagens do (!e na

#orm!lação de tetos em si$ plicaremos melhor$

A primeira (!estão leantada por Boime di" respeito . des!mani"ação imposta pelo

sistema escraista sobre ambos o senhor e o escrao$ 2 poss3el encontrar nas imagens e

tetos do #ranc's tais re#er'ncias cr3ticas 45im78 5e sim, o (!e deemos concl!ir a partir da

an&lise de alg!ns desses eemplos8 nteressante tentar identi#icar 9& neste momento a relação

dial+tica imagem-teto, apontando o pincel debochado (!e por e"es acompanha a pena

c3nica$ esmo (!e o liro tenha sido preparado por !m #ranc's, ori!ndo de !m pa3s (!e 9&

haia abolido a escraidão, + not;rio obserar poss3eis cr3ticas eladas ao modelo social

 basilar da sociedade brasileira no $

m seg!ida, disc!tiremos a (!estão da compet'ncia dos negros e s!a capacidade de

integrar-se na sociedade dominante$ m relação . compet'ncia, cabe citar ar< =arasch, em

con9!gação ao est!do de imagens$ 2 percept3el a >participação social? intensa de

escrai"ados e libertos no @io de Janeiro do $ Diersidade de #!nç)es e atiidades (!e

eidenciam !ma inserção c!lt!ral ineit&el, sem d*idas$ as tal inserção, o! participação,

não pode ser 9amais plena, considerando os signos de dominação do regime escraista$

 Necess&rio problemati"ar$ omo poder3amos #alar de integração social en(!anto debatendo o

 papel de negras e negros nessa sociedade8 B!scamos inspiraç)es te;ricas dentre historiadores

e antrop;logos para desenoler melhor essa (!estão, s!bstit!indo o conceito de >integração?

 por algo (!e soe mais correto do ponto de ista te;rico$ Adaptação, tale"$

inali"ando nosso trabalho, b!scamos resoler a *ltima (!estão, concernente ao

>potencial eol!tio? dos atores s!pracitados$ 2 poss3el (!e negras e negros alcancem !m

n3el de esclarecimento >espirit!al?8 Debret b!sca #ortalecer a mensagem da raça in#erior em

se!s tetos, mas tal erdade + reprod!"ida em s!as pint!ras8 ntra a(!i a eortação te;ricasobre o papel de espelho o! lanterna do artista, bem como a consagração de nossa proposta

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inicial$ om a seleção de imagens por n;s e#et!ada, b!scamos responder essa *ltima (!estão

atra+s do olhar do leitor$ A eemplo do #ranc's, (!e pinta !ma tra9et;ria negra eidente,

 passando desde o >est&gio "ero?, a chegada dolorida e a ecl!são social, . #elicidade da

integração / adaptação, cond!"imos o leitor a perceber (!e as imagens br!tas das primeiras

(!est)es são agora s!bstit!3das pela eleação$ leação imag+tica, intencional, como

eidenciado pela seleção c!idadosa de Debret, e pela di#erença em relação a se!s esboços

iniciais$ Da re!nião de imagens 4não de departamento7, a concl!são de (!e, na(!ele sistema

de opress)es, tale" estiesse no oprimido o grande s!stent&c!lo da nascente Nação$

 

DOS EFEITOS DESUMANOS DO SISTEMA

ale" !ma das caracter3sticas mais marcantes da obra de Debret se9a o retrato

 pintado sobre as agr!ras da escraidão$ m geral, (!ando mencionamos o nome do pintor 

#ranc's para o p*blico em geral, a primeira imagem a ser lembrada + a retratação dos diersos

castigos impostos aos negros$ Cm dos diersos artistas #ranceses (!e chegaram ao Brasil em

116, como part3cipe do pro9eto da Academia de Belas Artes de D$ João E, Jean-Baptiste

Debret #oi !m dos po!cos (!e por a(!i permanece! mesmo com o #racassso do pro9eto$

Eiendo por (!in"e anos no pa3s, retrato! com #idelidade 4aparente7 e bele"a 4eidente7 arealidade da(!ela noa nação, se!s principais marcos e capacidades de eol!ção$ !rioso (!e

o a!tor tenha selecionado para tais prop;sitos pint!ras tão >cr!as?$ Cma das grandes cr3ticas

#eitas pelo nstit!to Fist;rico e Geogr&#ico Brasileiro era, de #ato, . #orma como o #ranc's

teria retratado a escraidão tão intensamente, (!ase (!e insistentemente$ Harecia, aos olhares

dos estimados intelect!ais, (!e a imagem brasileira seria pre9!dicada, marcada (!e seria pela

 predominIncia negra, e pela #orma como os ciili"ados brancos eram representados$ m geral

displicentes, preg!içosos, arrogantes$ Dentre as epress)es corporais, o relapso da(!eles (!enão dominam a eti(!eta, a pretensa s!perioridade da(!eles (!e parecem mais !ma caricat!ra

do (!e dese9ariam ser do (!e a(!ilo (!e são de #ato$

A primeira gra!ra est!dada representa os e#eitos des!manos da escraidão de #orma

mais ;bia, eidente$ rata-se da pint!ra  Feitores castigando negros  4$K7$ m se! teto

introd!t;rio, Debret >agrada? ao estabelecer o >direito de castig&-los?, (!e pertenceria aos

#eitores, em geral port!g!eses, encarregados da #iscali"ação do trabalho$ Não demora m!ito,

no entanto, a demonstrar s!as erdadeiras opini)es sobre a (!estão$ >rasc3eis e rancorosos?

seriam os brancos, tomados de direito$ % negro8 De acordo com o pr;prio, >so#ria com

resignação?$ nteressante a escolha de palaras$ Al+m de posicionar-se !ma e" mais sobre a

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cena 4chama o negro de >3tima?7, Debret ep)e !m so#rimento resignado, termo (!e re#ere-

se (!ase (!e imediatamente a !ma ideia de serenidade, etremamente cristã$ 5im, h& a(!i em

nossa isão !ma grande proocação e desa#io$ % escrao (!e so#re as ma"elas do castigo

 posiciona-se de cabeças baias, demonstrando so#rimento mas tamb+m s!bseri'ncia$ % #eitor 

 branco, por o!tro lado, posiciona-se como (!e em ata(!e, c!rado, animalesco$ 2 !m

 predador (!e ataca a presa 9& abatida, imobili"ada$ al (!al !ma hiena, o! !m ab!tre$ %

escrao, de epressão so#rida, mas resignada, encontra-se amarrado como !m porco caçado,

ag!ardando a hora do #im iminente$ magem por demais poderosa$ cheia de signi#icados$

m com!m entre as d!as #ig!ras, apenas o #ato de (!e ali não se obsera mais h!manidade,

mas sim !ma cena da Nat!re"a, impiedosa, animal$

Destaca-se no trecho escrito por Debret a descrição s!postamente #iel do (!e eleobsero!$ % #eitor >sacia s!a c;lera? en(!anto o escrai"ado cala$ Hermite-se apenas !ns

gritos de miseric;rdia (!ando parece não s!portar mais, no (!e + repelido pelo ciili"ado:

>cala a boca, negro? @emontei-me imediatamente a alg!mas #ig!ras cristãs$ Não #oi

rancisco de Assis (!e chamo! a dor de >s!a irmã?8 Ha!lo de arso não eorto! em s!a

 primeira ep3stola aos or3ntios (!e transbordaa de 9*bilo no meio das atrib!laç)es8 omo

não lembrar de J;, (!e tentado pela pr;pria #ig!ra de personi#icação do mal, resisti! aos

so#rimentos e compreende! (!e eram necess&rios para s!a eleação 9!nto a De!s8 % negro pintado por Debret assemelha-se a !m dos bem-aent!rados do sermão mais belo da crença

cristã, manso, (!e chora mas 9!stamente por isso ser& recompensado$ m !ma sociedade

constr!3da sob os signos do ristianismo, h& sem d*idas nessa gra!ra !ma mensagem clara$

% (!anto o sistema escraista des!mani"a se!s >adeptos?, senhores e escraos 4retratado

como !m animal caçado, contra a s!a ontade7, e a proocação pont!al de (!e, dentre os dois,

o mais pr;imo da salação não tem a te" mais clara$

A seg!nda imagem analisada + !m po!co mais s!til em se!s prop;sitos$ rata-se deO jantar no Brasil  4$L7$ De in3cio 9& podemos perceber a #orma como os >negrinhos? são

tratados por s!a dona$ @ecebendo as sobras da re#eição, comportam-se e são retratados como

cães dom+sticos, alo de distração para a dona do lar$ Debret chega a compar&-los no teto

aos dog!e"inhos parisienses, seg!ndo o pr;prio 9& #ora de moda por a(!ela +poca$ Al+m de

ac!sar a animali"ação de meras crianças, o #ranc's ai al+m, mesmo (!e de #orma elada$

ece !ma cr3tica social ao associar o t+rmino dos >priil+gios? desses in#antes, e s!a

conse(!ente entrega aos ma!s-tratos (!e são base do sistema ne#asto, . propensão dos

mesmos pela pr&tica da iol'ncia$ ssas >pobres crianças?, re#eridas assim pelo pr;prio,

tornariam-se então ladr)e"inhos, b!scando sempre oltar a partilhar das del3cias de o!trora$

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M!e coment&rio ecelente De !ma s; tacada c!lpabili"a o sistema escraista pela criação de

seres iolentos, al+m de remediar a #ala ao reconhecer (!e a dona os cedia priil+gios, dignos

de s!as mãos carinhosas e caridosas$ Cma leit!ra recheada de !m cinismo enolente,

impercept3el ao olhar mais d!ro$

Al+m de tais s3mbolos de des!mani"ação, atentamos tamb+m para a post!ra do

senhor, relaado e sem modos . mesa, parecendo !ma #ig!ra esta#ada, esgotada, desagrad&el

ao olhar$ 5em dirigir !ma *nica palara o! mesmo manter !m m3nimo contato is!al com s!a

esposa, 9anta a(!ela comida simples por+m inspirada nos l!os e!rope!s$ esmo (!e o teto

 preoc!pe-se em identi#icar as inspiraç)es #rancesas e italianas (!e enri(!eceram as mesas

 brasileiras na(!ela +poca, a imagem ealta seres (!e parecem estranhos, deslocados$ Não h&

na gra!ra o m3nimo eemplo de contato h!mano$ Desde os negros dog!e"inhos, tratadoscomo meros cães, aos re(!intados senhores, (!e parecem ter es(!ecido completamente as

s!tile"as de !m >erdadeiro? 9antar #amiliar$ F& a(!i, dessa #orma, mais !ma demonstração de

!m sistema des!mani"ante, tanto para senhores (!anto escraos$ Da eibição mais eidente,

na primeira #ig!ra, . !ma obseração mais c!idadosa e impl3cita na seg!nda$

DA COMPETÊNCIA E INTEGRAÇÃO SOCIAL

omo 9& en!nciado em nossa introd!ção, a (!estão da compet'ncia dos negros +#acilmente eri#ic&el, tanto nas obras de Debret (!anto na literat!ra abrangente sobre o

 per3odo$ itamos ar< =arasch, (!e em se!  A vida dos escravos no Rio de Janeiro

eempli#ica com clare"a tal (!estão, demonstrando a diersi#icação das atiidades

empenhadas pelos escraos no @io de Janeiro do s+!lo $ ram, sem sombra de d*idas,

a base do #!ncionamento social e econmico da capital do pa3s$ De acordo com a a!tora, Oda

 perspectia dos senhores de escraos do @io de Janeiro, haia apenas !m papel apropriado

 para os catios: reali"ar todas as atiidades man!ais e serir de bestas de carga da cidade$ leseram não somente as m&(!inas e PcaalosP da capital comercial-b!rocr&tica, mas tamb+m a

#onte de ri(!e"a e do capital de se!s donos$ odos tentaam inestir em pelo menos !m

escrao, (!e #orneceria s!porte #inanceiro e mão-de-obra$O 4=A@A5F 000:KQ7$ rabalhos

(!e não seriam apenas os braçais, como com!mente pensamos$ stes tamb+m eram

desempenhados pelos negros, como o seriço de remadores o! carregadores de ca#+$ Horem,

em adição a tais trabalhos, não raro se obseraam escraos trabalhando como artesãos,

m*sicos, bailarinos$$$ At+ mesmo contadores, caso #ossem considerados capa"es e con#i&eis

o s!#iciente$ Cma imagem de Debret (!e representa !m trabalho braçal + representado em

 Negros serradores de tábua  4$17$ >ontr&rios .s inoaç)es?, os propriet&rios desses

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escraos rec!saam-se a instalar serrarias mecInicas, deiando o trabalho &rd!o com a

madeira nas mãos competentes de se!s escraos$ 5entado no caalete, !m negro eperiente no

trabalho, aparentemente h&bil e seg!ro em s!as aç)es rotineiras$ A Pequena moenda ortátil 

4$L7 tamb+m dee serir para eempli#icar esse tipo de trabalho braçal, eec!tado por mãos

h&beis, mesmo (!e #orçadas$

M!anto .s compet'ncias para o!tros tipos de seriço, + (!ase obrigat;rio #alar dos

 barbeiros, representados por Debret em  Barbeiros ambulantes  4$117 e  !oja de barbeiros

4$17$ A habilidade demonstrada com a naalha e a teso!ra #a"em de se!s especialistas

#ig!ras de alor e >in#l!'ncia?$ 5e9a atrib!indo elementos identit&rios nos estilosos cortes dos

negros e negras de ganho, o! at!ando como aplicadores de sang!ess!gas e m+dicos

improisados$ >Dono de mil talentos, ele tanto + capa" de consertar a malha escapada de !mameia de seda como de eec!tar, no iolão o! na clarineta, alsas e contradanças #rancesas, em

erdade arran9adas a se! 9eito$? m contraposição . #ig!ra habilidosa e competente do

 barbeiro, percebemos na prancha 1 a #ig!ra relaada e preg!içosa do branco, (!e entret+m-se

 breemente com a negra endedora de doces 4o!tro tipo de trabalho7, perg!ntando >#o#ocas?

sobre se!s patr)es, para em seg!ida enot&-la, entediado com os r!mos da conersa$

sses eemplos prop)em !ma certa integração social desses negros e negros, !ma

e" (!e introd!"idos de #orma completa na sociedade carioca$ Eitais para o #!ncionamento damesma, m!ito embora não reconhecidos por isso, + #&cil assimilar tais imagens e relatos .

concl!são de escraos e libertos seriam tão parte da sociedade (!anto se!s senhores e e-

senhores$ omplicad3ssimo no entanto aplicar tal conceito sem o c!idado necess&rio$ omo

#alar de >integração? em meio . iol'ncia cotidiana da escraidão8 2 poss3el ser plenamente

integrado a !ma sociedade (!e te energa como rec!rso, mercadoria8 abe a

 problemati"ação$

5idne< halo!b, em se! ecelente "ac#ado de Assis #istoriador , ser& nossa primeiraa9!da na resol!ção do problema$ % a!tor identi#ica nas obras do grande literato a an&lise

 precisa da ideologia senhorial do s+c!lo , e, especialmente para n;s, as #ormas de

reprod!ção e man!seio dessas relaç)es de poder dentre dominantes e dominados$ m Helena,

 por eemplo, a personagem-t3t!lo + !ma erdadeira maestra na arte de se !tili"ar dos signos

de poder senhorial para obter antagens e #a"er do >poderoso senhor? st&cio 4ot&rio, na

ling!agem carioca de meados e #ins do 7 !ma erdadeira criança ing'n!a e manip!l&el$

!lher em !ma sociedade patriarcal, Felena sabe o (!e #alar e como #alar$ Hretende-se

s!bmissa en(!anto conence o poderoso >irmão? a satis#a"er-lhe as ontades$ 2 claro (!e não

 podemos comparar a sit!ação social de escraidão com as caracter3sticas de !ma relação

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 paternalista entre senhores, por+m a analogia pode nos ser *til$ F& na mesma obra a #ig!ra de

Eicente, pa9em de Felena e se! seg!idor de todas as horas$ De acordo com 5halo!b, >h& !m

importante elemento em com!m nas pol3ticas de dom3nio eercidas sobre escraos e

dependentes: em ambos os casos, e permanecendo sempre na ;tica da classe dos senhores e

 propriet&rios, as relaç)es sociais de dominação estão assentadas no press!posto da

iniolabilidade da ontade senhorial$? 4FAR%CB 00S:S7$ A tra9et;ria de Eicente nos

 permite obserar a s!bseri'ncia do escrao (!e parecia por e"es não ter ontades pr;prias,

como (!e ciente de (!e não poderia reali"&-las, mas (!e em determinado momento o!sa

#!mar o char!to haan's do senhor na #rente da moça, e!ltando a con#iança de (!em sabe

(!e não ser& ded!rado por saber demais$ Cm eemplo bree da ecepcional obra, (!e nos

a!ilia na concl!são de (!e !ma integração social completa se #a"ia imposs3el, emboraalg!ns signos de dominação social tenham sido man!seados com habilidade por a(!eles (!e

so#riam tais dominaç)es$

li##ord Geert" tamb+m pode contrib!ir ao nosso debate, (!ando nos ensina (!e toda

ação h!mana + c!lt!ralmente in#ormada para (!e possa #a"er alg!m sentido dentro de !m

determinado conteto social 4A@D%5% T EANA5 1QQL:K7$ % conteto hist;rico e

social da escraidão prod!"i! #ormas de relação al+m das ;bias relaç)es coercitias (!e são

a base do sistema$ A pro#essora Febe attos + !mas das (!e melhor demonstram a>proimidade? entre lires e escraos imp!lsionada pelo trabalho, re#orçando hierar(!ias e

 propondo laços de sociabilidade ao mesmo tempo$ @osilene osta ardoso, em se! artigo

>@elaç)es 5ociais na 5ociedade scraista Brasileira?, relembra (!e >% escrao iia em

sociedade como (!al(!er o!tro indi3d!o social, dentro de !ma rede de relaç)es sociais, no

(!al agia dentro de s!as possibilidades e obrigaç)es$?$ echando essa bree eortação te;rica,

&lido lembrar o conceito de laços de sociabilidade de Norbert lias, demonstrando (!e as

relaç)es entre indi3d!o e sociedade s; podem ser compreendidas a partir de relaç)es e#!nç)es, permeadas por tomadas de decis)es dentro de espaços sociais poss3eis$ ais

decis)es dependem da posição oc!pada pelo indi3d!o na l;gica social$ m s!ma, >todas as

 press)es, restriç)es e con#litos so#ridos pelos escraos, prod!"iram atores sociais (!e agiram

dentro de !m espaço de s!9eição, mas (!e tamb+m lhe #ornece! as bases para l!tar e negociar 

atra+s das relaç)es sociais estabelecidas$?$ omo obserado em Debret, no (!al + percept3el

!ma esp+cie da adaptação social, representada na presença e in#l!'ncia dos escraos no

#!ncionamento social, por+m 9amais !ma !ma integração completa, !ma e" (!e não

abandonado o estat!to social cr!el da escraidão$

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DO POTENCIAL DE ELEVAÇÃO E ESCLARECIMENTO

J& se encontra desmisti#icada, a essa alt!ra do est!do, a isão de (!e Debret

energaa no negro escrai"ado meramente !ma raça in#erior$ !ito embora se!s escritos

assim o digam, as imagens eocam !m sentido contr&rio$ omo o negro resignado analisado

na primeira (!estão$ as como a an&lise de imagens + !m trabalho por demais s!b9etio, e

n;s, en(!anto historiadores #ormados o! em #ormação, adoramos a magia das letras, #a"-se

necess&rio #alar e demonstrar !m po!co mais sobre a (!estão$ ale" a eid'ncia mais clara

das intenç)es do pintor #ranc's se9am as escolhas e#et!adas por ele na p!blicação do liro$

ais de mil a(!arelas pintadas, !m po!co mais de tre"entas imagens escolhidas, e dentre elas

a prima"ia absol!ta do retrato da escraidão en(!anto selageria$ Ee9a bem: a escraidão +

selagem, não o negro$ % negro, descrito como in#erior, + a(!ele (!e trabalha com dignidade

em Os re$rescos do !argo do Palácio 4$Q7, se9a tentando ender a &g!a #resca b!scada com

todo o so#rimento e es#orço 4e agora sendo bebida sem ed!cação o! pagamentos pelo branco

ab!sado7, se9a o#erecendo os deliciosos doces para adoçar os paladares mais amargos$

2 o negro retratado em diersas imagens ealando sa*de e #orça$ orpos em geral

 bem desenhados, com post!ra atl+tica e imponente, e epress)es #aciais (!e (!ase n!nca

eortam o ;dio, (!e seria 9!sti#icado$ % negro, o!trora animali"ado e bestiali"ado, (!e pode

casar-se, e9am s; is a(!i !ma das gra!ras (!e epitomi"am com mais intensidade a

resposta do terceiro problema$ @e#iro-me . %asamento de negros escravos de uma casa rica

4$1K7$ % teto de descrição + r&pido ao deiar claro (!e o casamento de negros seria !ma

concessão senhorial 4releia o debate do t;pico anterior, se dese9ar7, !ma tentatia de controle

de Inimos e pai)es$ % rit!al, m!ito cat;lico, consagra nos signos c!lt!rais igentes a

o#iciali"ação da relação, (!e poder& at+ prod!"ir crio!los #eli"es, org!lhosos de terem nascido

sob os a!sp3cios de cerimnia tão dese9ada 4a ironia de Debret a(!i s; não + maior (!e a

minha7$ Heço licença para !ma e" mais eocar a relação dial+tica entre teto e imagem$ Cmasingela obseração da gra!ra nos di" m!ito mais$ A negra, sempre sens!al e incontrol&el em

se!s dese9os, + pintada a(!i com not&el re(!inte$ % est!&rio, a ling!agem corporal, a

 post!ra$$$ asa-se como !ma senhora, comporta-se como !ma senhora, sorri timidamente

como !ma senhora$ Dentre todas as #ig!ras da imagem, a *nica (!e não eprime elegIncia

eagerada + a do pr;prio padre, pintado de #orma respeitosa por+m de #ormas largas, na certa

res!ltado de 9antares grat!itos o#ertados pelos #i+is dese9osos de garantirem-se no para3so$

Dentre os negros, apenas a #idalg!ia de (!em alme9a mais do (!e +$ A mão posta por dentroda 9a(!eta, s3mbolo de nobre"a e aristocracia, + o to(!e #inal (!e a imagem precisaa$ F&

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a(!i, a certe"a de (!e os oprimidos do sistema tamb+m são gente$ Não apenas isso, mas o

alerta de (!e + poss3el sim, para eles, a eleação do estado selagem$ A #idalg!ia mais bem

representada do (!e por (!al(!er branco em (!al(!er o!tra gra!ra de Debret$

5e o leitor me permite a diagação, não me #arei de rogado$ A tra9et;ria a (!e nos

 propomos >pintar? + consagrada na alegria do semblante do negro (!e sorri e brinca em %ena

de %arnaval  4$SS7$ Ainda trabalhando, dierte-se, sem o rec!rso . selageria da iol'ncia,

sem as agress)es esperadas de !ma diersão concedida a !m poo in#erior$ Na #elicidade

emocionante dos rostos s!ados, a solidi#icação de !ma 9ornada (!e se inicia na iol'ncia e

 pode por ela terminar a (!al(!er seg!ndo$ mposs3el não perceber o potencial de eleação

em tais signos$

oncl!3mos nosso est!do com !ma imagem emblem&tica, (!e in#eli"mente nãoconseg!i encontrar as re#er'ncias$ on#esso (!e não me recordo se a a(!arela 9amais #oi

selecionada para o liro, o! se e! de #ato #!i apenas inapto a encontr&-lo, o (!e não seria

abs!rdo conceber rata-se da Negra tatuada vendendo caju$ n(!anto ao #!ndo d!as negras

conersam liremente, il!strando a (!estão das redes de sociabilidade por n;s abordada no

t;pico anterior, no centro do (!adro encontra-se !ma #ig!ra espetac!lar$ De bele"a 3mpar, !ma

negra tat!ada para nas escadarias para descansar se!s ca9!s e p)e-se a re#letir$ rata-se de !ma

das *nicas imagens pintadas por Debret na (!al o negro + representado com triste"a no olhar$elanc;lica, ela obsera o hori"onte como (!e sentindo as dores da sa!dade dos se!s$ omo

(!em imagina a data #inal de se!s so#rimentos$ omo (!em se perg!nta as ra")es para a s!a

realidade$ F&, em minha isão ainda limitada, !ma proposta de aproimação sentimental

 poderosa nessa a(!arela$ ale" a b!sca da empatia do obserador$ 2 como se Debret

dissesse, sem di"er: >Hare !m po!(!inho para contemplar os impactos da escraidão$ Herceba

(!e obseras !ma m!lher Nada mais do (!e !ma m!lher$$$ F!mana, so#rida, in9!stiçada$$$?

!ito proaelmente minha #ala não tem a menor eri#icação #act!al, mas isso + preoc!pação para o!tros momentos$ Debret eoca nos (!adros citados nessa *ltima (!estão a

erdade d!ra (!e ele tanto conseg!i demonstrar de #orma impl3cita$ Não importa o (!e digam

oc's, eles são seres h!manos$ 5eres (!e s!stentam a Nação, resignados, respons&eis pla

eol!ção da mesma$ Não somente pass3eis de salação e eleação da selageria, como (!ase

sempre m!ito menos selagens do (!e se!s senhores ciili"ados$ % Debret (!e se pretende

espelho da realidade, demonstra-se lanterna de l!" #!lg!rante, a eibir a erdadeira realidade,

a(!ela (!e não se ia, !ma e" (!e baseada no olhar de !ma l;gica preiamente e(!iocada$

M!em seria h!mano a#inal8$$$

7/23/2019 Trabalho Debret 2

http://slidepdf.com/reader/full/trabalho-debret-2 10/10

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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