Trabalho - Dimensão das embalagens

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1 Universidade da Beira Interior Faculdade de Ciências da Saúde “A Dimensão das Embalagens e a Racionalização da Quantidade de Medicamento.” Introdução às Ciências Farmacêuticas II Steven Casteleiro Ciências Farmacêuticas

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Dimensão das Embalagens e Racionalização do uso do Medicamento; Introdução às ciências farmacêuticas II - UBI

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Universidade da Beira Interior Faculdade de Ciências da Saúde

“A Dimensão das Embalagens e a Racionalização da Quantidade de Medicamento.”

Introdução às Ciências Farmacêuticas II

Steven Casteleiro Ciências Farmacêuticas

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Índice

1. Introdução 3 2. Objectivo 3 3. Materiais e Métodos 4 4. Resultados

4.1. Princípios Activos 4 4.2. Resultados – Gráficos 6

5. Discussão dos Resultados 7 6. Conclusões 8 7. Bibliografia 9 8. Anexo - Portaria no 1471/2004 de 21 de Dezembro

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1. Introdução O aumento da esperança média de vida aliado a um maior poder económico das

sociedades pertencentes ao mundo desenvolvido tem levado a um crescimento no consumo de recursos naturais. A apetência da população por medicamentos tem vindo a aumentar ao longo dos anos mas a existência de uma maior disponibilidade de medicamentos para tratamentos de curta duração em particular, pode levar a um consumo excessivo e desnecessário.

Os dados estatísticos têm demonstrado essa maior vontade da população pelo consumo de medicamentos, evidenciada pelo crescimento nas vendas nos últimos anos. No período entre 2000 e 2004, para o mercado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) as vendas, em termos do número de embalagens, registaram um aumento de 5,7%, de 117.739.548 em 2000 para 124.408.494 embalagens vendidas em 2004. [1]

Outro dado importante está relacionado com o envelhecimento da população que tem como consequência a acumulação de pessoas com incidência de doenças crónicas que devem ser acompanhadas no sentido de lhes possibilitar melhor qualidade de vida.

A experiência do quotidiano de cada um dos consumidores de medicamentos revela que a acumulação nos lares, de embalagens com conteúdo terapêutico é uma realidade, principalmente para aqueles medicamentos utilizados em tratamentos de curta duração.

Este trabalho utiliza como ponto de partida uma lista de seis medicamentos por DCI (Denominação Comum Internacional) e respectivos nomes comerciais alguns pertencentes ao grupo dos apelidados campeões de venda [2] como alguns antibióticos, utilizados no tratamento de infecções bacterianas, anti inflamatórios utilizados principalmente na inibição da síntese das prostaglandinas com efeitos antipiréticos, anti-inflamatórios e analgésicos, utilizados em inúmeras situações terapêuticas, como episódios súbitos de dor, (dentes, cabeça, ouvidos, etc.) e outros medicamentos como antieméticos (contra vómitos) e psicofármacos, que, devido à sua especificidade, não devem ser comercializados em quantidades que possam comprometer a sua eficácia.

2. Objectivo

O presente trabalho aborda a dimensão das embalagens nos medicamentos

referidos anteriormente, utilizados em tratamentos de curta duração, cuja forma de administração é a oral sólida e que sejam administrados a adultos.

Pretende-se, após pesquisa de legislação acerca das regras de dimensionamento das embalagens de medicamentos, a quantificação do possível desperdício na medicação de curta duração, para medicamentos cuja administração é a oral sólida. [1] http://www.valormed.pt/ (consultado em 07/03/2007) [2]http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/20070304+O+perigo+de+medicamentos+campeoes+de+vendas.htm (consultado em 14 de Março de 2007)

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3. Material e Métodos

A legislação que regula a dimensão das embalagens corresponde à Portaria n.º 1471/2004, de 21 de Dezembro que refere que “a dimensão das embalagens dos medicamentos deve adequar-se em função dos seguintes aspectos: a) Duração da terapêutica; b) Necessidade de vigilância clínica; c) Forma farmacêutica.”

Por um lado a legislação deve reflectir a prática clínica e consequente prescrição médica, por outro estas situações determinam também o teor legislativo.

Foi entrevista uma médica de clínica geral, Dra. Eugénia Santos Silva, que entre outros cargos, exerce funções no Centro de Saúde da Covilhã e é ainda, professora na Faculdade de Ciências da Saúde, na UBI.

Perante a problemática que se pretende estudar, a médica indicou um grupo de doenças agudas que podem ser tratadas recorrendo a medicação específica de curta duração. Foi utilizado um Prontuário Terapêutico (distribuído regularmente pelo Infarmed – Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento) para consulta das indicações terapêuticas dos respectivos princípios activos, posologia, nome dos medicamentos disponíveis e respectivo tamanho das embalagens comercializadas.

Tendo em conta a posologia indicada e os dias de duração do tratamento, ambas informações fornecidas pela médica, efectuou-se a comparação entre o número de comprimidos efectivamente necessários ao tratamento e a quantidade presente em cada embalagem de medicamentos, para se concluir, se a dimensão das embalagens estudadas, nas doenças em causa, têm ou não o conteúdo adequado em termos quantitativos, existindo ou não desperdício medicamentoso. 4. Resultados 4.1. Princípios Activos (DCI), Indicações Terapêuticas e Posologia

Para a obtenção dos resultados foi necessário ter em conta para cada um dos grupos terapêuticos considerados, a indicação terapêutica assim como a posologia a seguir, tendo como orientações a informação médica. Os medicamentos disponíveis no mercado em forma sólida foram obtidos através de consulta do Protuário Terapêutico (Fevereiro de 2006) do Infarmed.

Os dados obtidos encontram-se na tabela 1 que se segue:

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Denominação (DCI)

Metoclopramida

Domperidone

Amoxicilina

+Acido clavulânico

Zolpidem

Diclofenac

Nimesulida

Grupo Terapêutico

Modificadores da

motilidade intestinal

(Anti-vómito)

Modificadores da motilidade

intestinal

(Anti-vómito/náusea)

Antibacteriano

(associações de penicilinas com inibidores das

lactamases beta)

Psicofármaco (tratamento de sintomas de ansiedade

primários ou secundários e/ou indução

ou manutenção do sono)

Anti-inflamatório não esteróide

Anti-inflamatório não esteróide

Indicação terapêutica estabelecida para o estudo

Antiemético; gastroparesia

diabética; para fins diagnósticos na preparação de

exames digestivos. Modificadores da

motilidade gástrica ou procinéticos

Antiemético; gastroparesia

diabética, para fins diagnósticos

na preparação para exames digestivos.

Modificadores da motilidade

gástrica ou procinéticos

Infecções respiratórias;

bronquite crónica; otite

média; sinusite; infecções urinárias; gonorreia;

infecções por salmonella

Insónias

(tratamentos

de curta duração -

10mg)

Dor e inflamação em

doenças reumáticas e

outras afecções

musculoesqueléticas.

Dor ligeira a moderada.

Para o estudo em questão será apenas

considerada a sua utilização em situações de dor aguda

(SOS)

Para situações de dor aguda. Tratamento

sintomático da artrose.

Dismenorreia primária.

Para o estudo em questão será

apenas considerada a sua

utilização em situações de dor

aguda (SOS)

Posologia

3/dia durante 3 a

5dias (Antes das

refeições ou 15 a 20 minutos antes

do início dos sintomas)

2 a 3/dia durante

3 a 5 dias (Antes das

refeições ou 15 a 20 minutos antes

do início dos sintomas)

8 h em 8 h

(adulto normal) ou 6 em 6

(adulto compleição

forte) durante 10 dias

10mg

15 a 30 minutos antes

deitar, durante 3 a 7

dias

50 ou 75 mg 1 vez/dia

durante 3 dias

50 a 100mg 1a 2 vezes /dia

durante 3 dias.

Forma Sólida

10mg

Metoclopramida Labesfal (20 e 60

unidades) Priperan (20 e 60

unidades)

10mg

Cinet lab. Medinfar (10 e

60 unidades) Motilium

Janssen (20 e 60 unidades)

500mg e 125mg.

Augmentin GSK, 500mg e

125mg. (12, 16 e 30 unidades)

Clavamox 500 (12, 16 e 30 unidades)

Zolpidem Alpharma , 10mg (14 unidades) Zolpidem Bexal, (14 unidades) e Zolpidem

Generis (10 unidades)

50mg Voltaren Novartis

Farma: 10,30 60 unidades.

75 mg Voltaren 75, 10, 30 e 60 unidades.

Aulin Angelini (14, 30 e 60 unidades)

Donulide Wyeth Ledule,( 14, 30 e

60 unidades) Nimed Aventis,

(14, 30 e 60 unidades)

Nº de comprimidos max.

15

15

30

7

3

6

Tabela 1. Princípios activos (DCI), Indicações tera pêuticas, posologia dos respectivos medicamentos e formas sólidas dispo níveis no mercado.

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0

10

20

30

40

50

60

Posologia 3X5 MetoclopramidaLabesfal

Primperan

Qunatidade utilizada Quantidade excedentária

-20

0

20

40

60

Posologia3X5 dias

Cinet(Medinfar)

Motilium(Janssen)

Quantidade utilizada Quantidade excedentária

-20

-10

0

10

20

30

Posologia8em 8 hdurante10 dias

Augmentin(GSK)

Clavamox500

Clavamox500

Quantidade utilizada Quantidade em falta

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

Posologia6 em 6hdurante10 dias

Augmentin(GSK)

Clavamox500

Clavamox500

Quantidade utilizada Quantidade em falta

4.2. Resultados - Gráficos

Os gráficos 1 e 2 comparam a quantidade de medicamento necessária para a posologia prescrita e a quantidade efectivamente utilizada no tratamento com metoclopramida (gráfico 1) e o domperidone (gráfico 2) medicamentos antieméticos.

Verifica-se que em ambos os casos e para situações agudas de saúde consideradas na utilização destes dois medicamentos, a quantidade presente nas embalagens é sempre superior à efectivamente utilizada. Gráfico 1 – Quantidade utilizada e quantidade excedentária para a metoclopramida

Gráfico 2 – Quantidade utilizada e quantidade excedentária para o domperidone

Saliente-se que para o domperidone, se for utilizada uma carteira de 10 comprimidos, e se o tratamento se estender pelos cinco dias no máximo, existe um défice de medicamento (são necessários 15 comprimidos), o que implica a compra de mais uma caixa, pois são necessários mais cinco comprimidos. Surge assim uma situação que passa a ser de excesso de medicamentos, o que se traduz também numa maior despesa monetária para o doente. Nas restantes situações existe sempre quantidade excedentária independentemente do nome comercial.

Na categoria dos antibióticos, foi tido em conta uma posologia diferenciada para um adulto de compleição dita normal e para um adulto de compleição mais forte. A substância activa considerada é uma associação entre a amocicilina e o ácido clavulânico. Apenas para as carteiras de 30 unidades e em adultos de peso normal a quantidade presente na caixa se encontra ajustada ao tratamento. Nas restantes situações verifica-se um défice de medicamento, quer para o Augmentin GSK quer para o Clavamox 500, situação que leva à compra de nova caixa e ao desperdício da restante quantidade não utilizada. As carteiras de 30 unidades constituem uma situação ideal pois neste caso não há falta nem sobra de medicamento (gráfico 3). No caso de um adulto de compleição forte (gráfico 4) a situação é diferente pois neste caso até as carteiras de 30 unidades se revelam insuficientes em termos de quantidade necessária aos problemas de saúde considerados. Gráfico 3 –Utilização de amocicilina e o Ácido clavulânico para um adulto normal (posologia 8/8h)

Gráfico 4 – Utilização de amocicilina e o ácido clavulânico para um adulto forte (posologia 6/6h)

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0

10

2030

40

50

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Posologia2/dia

durante 3dias

Aulin Donulide Nimed

Quantidade utilizada Quantidade excedentária

0

10

20

30

40

50

60

1/dia Novartis Farma Novart is Farma Novartis Farma

Posologia Voltaren Voltaren Voltaen

Quantidade ut ilizada Quantidade excedentária

02468

101214

Posologia1X 3 a 7

dias

Zolpidem(Bexal)

Quantidade utilizada Quantidade excedentária

Na categoria de psicofármacos e para o zolpidem, (gráfico 5) tendo como referência a posologia recomendada, os medicamentos vendidos, Zolpidem Alpharma, Zolpidem Bexal e Zolpidem Generis apresentam-se sempre com quantidades excedentárias de comprimidos, apesar da marca Generis apresentar uma quantidade mais próxima da utilizada.

Gráfico 5 - Quantidade utilizada e quantidade

excedentária para o zolpidem

Na categoria dos anti inflamatórios não esteróides, os resultados obtidos para o Diclofenac e Nimesulida encontram-se expressos nos gráficos 6 e 7 respectivamente:

Gráfico 6 – Quantidade utilizada e quantidade excedentária para o diclofenac

Gráfico 7 – Quantidade utilizada e quantidade excedentária para a nimesulida

Verifica-se nesta categorias, um elevado excesso de medicamento por embalagem, tendo em consideração as indicações terapêuticas previamente definidas. Refira-se que as carteiras com 60 unidades se tornam bastante desajustadas quanto à quantidade efectivamente utilizada para tratamentos de curta duração. Para o diclofenac, a marca Voltaren Novartis apresenta carteiras de 10 comprimidos que se revelam bastante suficientes para cumprir a posologia, apresentando uma menor quantidade desperdiçada. 5. Discussão dos Resultados

Nos medicamentos utilizados como antiemético (metoclopramida e domperidone) verifica-se desperdício de medicamento em relação à quantidade necessária para tratamentos de curta duração. A excepção é dada pela utilização de domperidone em carteiras de 10 comprimidos, pois se o tratamento se estender por cinco dias passa a existir um défice de medicamento (necessários 15 comprimidos). Este facto leva a compra de nova caixa de medicamento. Em termos monetários e a título de exemplo, uma carteira de 10 comprimidos da marca Cinet custa 2,88 €. Uma vez que não é suficiente para o tratamento, deverá ser adquirida outra de 10 ao mesmo preço, levando ao dobro do gasto. A marca Janssen apresenta carteiras de 20 comprimidos, ao preço de 4,65, que apesar do desperdício, torna a compra mais económica em termos monetários.

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Para a amocicilina em associação com o ácido clavulânico verifica-se uma tendência contrária; neste caso, a quantidade de antibiótico disponível revela falta de medicamento suficiente para fazer cumprir a posologia recomendada no tratamento das situações de saúde descritas, com excepção das carteiras de 30 comprimidos, utilizadas por adultos de peso ideal. Para não ocorrer compra de várias carteiras com menor conteúdo e portanto insuficientes, deverá ser adquirida no início do tratamento as de 30 comprimidos, quantidade necessária para fazer cumprir a posologia recomendada.

Em tratamento com Zolpidem (psicofármaco) existe nas três marcas disponíveis, medicamento excedentário. A especificidade deste medicamento não permite no entanto, uma venda em grandes quantidades, pelo que a marca Generis apresenta o conteúdo da embalagem melhor dimensionado.

Na categoria dos anti inflamatórios não esteróides, diclofenac e nimesulida, tendo como indicações terapêuticas as dores agudas e passageiras (dentes, cabeça, etc), a quantidade presente encontra-se sempre em excesso, relativamente aos comprimidos necessários. Para tratamentos com diclofenac é recomendável a compra de embalagens de 10 comprimidos da marca Voltaren Novartis. 6. Conclusões

Para a situação previamente considerada, tratamentos de curta duração em adultos, utilizando comprimidos no tratamento prescrito, verificou-se existir desperdício de medicamento na utilização de Metoclopramida (antiemético), Domperidone (antiemético) para carteiras de 10 comprimidos, Zolpiden (psicofármaco), Diclofenac e Nimesulida (anti inflamatórios).

A falta de comprimidos suficientes para respeitar a posologia recomendada revelou-se na utilização do antibiótico (Amoxicilina e Ácido Clavulânico) e no caso das carteiras de 10 comprimidos para tratamentos com Domperidone.

Estas conclusões permitem supor que a dimensão das embalagens se encontra mal ajustada pelo menos, às situações tidas em conta neste estudo.

Apesar do universo do estudo ser circunscrito, pode afirmar-se que o redimensionamento das embalagens disponíveis no mercado deve ser efectuado com alguma regularidade, num trabalho conjunto entre classe médica, indústria farmacêutica e entidades governamentais. Os critérios subjacentes a esse dimensionamento das embalagens deverão ser fundamentalmente de índole médico e terapêuticos.

A legislação em vigor, prevê duas dimensões para as formas orais sólidas, a pequena e a grande, sendo estas ajustadas em função da terapêutica. Por outro lado o dimensionamento das embalagens é o mesmo entre medicamentos genéricos e de referência.

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Bibliografia

• [1] http://www.valormed.pt/ (consultado em 07/03/2007)

• [2] “O perigo de medicamentos campeões de vendas”, está online, disponível em http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/20070304+O+perigo+de+medicamentos+campeoes+de+vendas.htm (consultado em 14 de Março de 2007)

• INFARMED, “Prontuário Terapêutico”, Ministério da Saúde, Fevereiro de 2006

• “Portaria n.º 1471/2004, de 21 de Dezembro” está online disponível em:

http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_IV (consultado em 22 de Abril de 2007)

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ANEXOS

Portaria no 1471/2004 de 21 de Dezembro