Trabalho Dragao Baleia

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ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE ARTETERAPIA TURMA 652 O TEMA MÍTICO DO DRAGÃO-BALEIA Trabalho N° 3 Capítulo 6 André Bertolino Rodrigues Elen Santoro Sirleni Walquiria de Souza São Paulo 2015

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Trabalho em Grupo relizado para a pós graduação em Arteterapia pelo IJEP-FACIS.

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ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE ARTETERAPIA

TURMA 652

O TEMA MÍTICO DO DRAGÃO-BALEIA

Trabalho N° 3 Capítulo 6

André Bertolino Rodrigues

Elen Santoro

Sirleni Walquiria de Souza

São Paulo

2015

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................3

1.1 Mito e Símbolo ..................................................................................................................... 3 1.2 A Jornada do Herói ............................................................................................................. 4

1.3 O Tema Mítico do Dragão-Baleia ........................................................................................ 5 2. ANÁLISE MITOLÓGICA - AMPLIFICAÇÃO SIMBÓLICA ..........................................................7

2.1 Os Símbolos no Mito ............................................................................................................ 7

2.2 Exposição do Caso Clínico: O Dragão – Baleia ...................................................................8 2.3 Análise Mitológica do Caso ............................................................................................... 10

CONCLUSÃO .............................................................................................................................11

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................11

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1. INTRODUÇÃO

A base Junguiana para utilização em Arteterapia permite que se ofereça suportes materiais

coerentes para que a energia psíquica através do cliente e com ele, plasme criações que

representam símbolos que retratam a psique em múltiplos estágios, permitindo a comunicação

entre o inconsciente e o ego.

A criação, portanto, colabora e faz parte deste processo que amplifica o desenvolvimento

da personalidade. A simbologia presente nessas criações também pode estar presente nos

sonhos e como sintomas, além de poder ser encontrada em momentos da vida onde ocorre a

sincronicidade. Exigem um olhar atento do arteterapeuta, para que possa, junto ao cliente

encontrar os caminhos indicativos de desenvolvimento.

A relação entre o consciente e o inconsciente exige em determinados momentos que se

realize uma jornada heroica, um mergulho e um retorno das entranhas daquele que pode engolir

e digerir. Esse trabalho objetiva analisar de forma amplificada o tema mítico do dragão-baleia.

Para tanto, foram utilizados os autores como Carl G. Jung, Nise da Silveira, Fayga Ostrower,

Junito de Souza Brandão e as informações das aulas.

1.1 Mito e Símbolo

Para realizar a análise que propomos é necessário que observemos o que é mito e o que é

símbolo, uma vez que trata-se de um tema arquetípico cuja elaboração remonta à maioria dos

povos ao longo da história.

O mito representa o mundo e a realidade humana, tem em sua base primordial

característica de representação coletiva, desdobrando-se ao longo da história através de várias

gerações. O mito é ilógico e irracional, pois pretende explicar a elaborada realidade do homem.

Permite todas as interpretações por ser de natureza abrangente.

Em nossa sociedade o mito é tido como fantasia, subestimando o poder que tem em si.

Assim como na antiguidade, por esta condição de abrangência, o mito tem em si todas as

verdades, onde uma verdade compreende outra verdade. O mito encerra a cada um a verdade

que lhe faz viver, e muitos somente o consideram como signos interpretando alguma de suas

infinitas possibilidades baseados na própria capacidade de discernimento, excluindo todas as

outras possibilidades. Deveríamos ser ensinados e estar dispostos a aprender o que há de

profundo, no abstrato significado de todas as manifestações, quiçá mitológicas. Poderíamos

pensar, dentro da psicologia Junguiana, o mito, como a conscientização dos arquétipos do

inconsciente coletivo, ou seja, a ponte que permite a ligação entra o inconsciente coletivo e a

consciência.

Jung traz muito bem a importância prática dos mitos e símbolos:

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O indivíduo é a realidade única. Quanto mais nos afastamos dele para nos aproximarmos de idéias abstratas sobre o homo sapiens mais probabilidades temos de erro. Nesta época de convulsões sociais e mudanças drásticas é importante sabermos mais a respeito do ser humano, pois muito depende das suas qualidades mentais e morais. Para observarmos as coisas na sua justa perspectiva precisamos, porém, entender tanto o passado do homem quanto o seu presente. Daí a

importância essencial de compreendermos mitos e símbolos. (JUNG, 2011, p. 58)

O símbolo funciona como objeto de revelação e integração do eixo ego-self, entre o que é

desconhecido (inconsciente pessoal e coletivo) e a consciência. A energia psíquica se concentra

no símbolo de forma que este a aglutina e corporifica, permitindo à pessoa entrar em contato com

o que há de profundo e desconhecido em si próprio, favorecendo o crescimento. O símbolo

expresso com a ajuda dos materiais plásticos, permitem a estruturação e transformação dos

afetos de origem.

Símbolo é uma palavra originaria do grego, resultante da combinação de SYM + BOLON,

significando “aquilo que é colocado junto”. (Cf. BRANDÃO, 1986, p. 38).

As religiões, a alquimia, os mitos e os contos de fada, registram através de símbolos, a

aventura da humanidade, na busca de autoconhecimento e aperfeiçoamento espiritual. Jung

observou em diversas culturas, as etapas do processo de individuação simbolizados e com temas

comuns, como representações do inconsciente coletivo, repetindo em mitos, contos de fadas,

tratados alquímicos e ritos. Os elementos recorrentes na humanidade são observados em

sonhos, pinturas, esculturas e nas imagens produzidas através da imaginação ativa. A produção

simbólica pode ser orientada pelo entendimento universal contido no símbolo e serve de guia ao

arteterapeuta, junto com o criador do símbolo, contextualizar seus significados.

1.2 A Jornada do Herói

Histórias. Uma das melhores e mais usadas formas de ensinar e transmitir conhecimentos

desde o início das civilizações. Um mito, um símbolo, inserido numa história causa comoção e

interligação do ouvinte com os elementos transmitidos. Assim vemos o mito do herói sendo

contado e atualizado ao longo do tempo, por gerações e gerações.

Jung lembra:

A origem dos mitos remonta ao primitivo contador de histórias, aos seus sonhos e às emoções que a sua imaginação provocava nos ouvintes. (JUNG, 2011, p. 90)

O mito do herói, desde sempre se mostrou presente na vida do ser humano. Podemos

encontra-lo em cada fase histórica e em todas as civilizações. Nos sonhos também aparece das

mais diversas maneiras. O mito aparece de forma muito variada, mas mantém sua estrutura, o

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que nos leva a crer na sua natureza universal, independente do indivíduo, cultura, tradição, etnia,

credo. Esta estrutura foi reconhecida por Jung:

Ouvimos repetidamente a mesma história do herói de nascimento humilde, mas milagroso, provas de sua força sobre-humana precoce, sua ascensão rápida ao poder e à notoriedade, sua luta triunfante contra as forças do mal, sua falibilidade ante a tentação do orgulho (hybris) e seu declínio, por motivo de traição ou por um ato de sacrifício "heróico", onde sempre morre. (JUNG, 2011, p. 110)

Sempre temos neste esquema heroico o surgimento de tutores, mentores ou guardiões

que sustentam e complementam as necessidades do herói. Essas figuras fortalecem as

deficiências do protagonista que pode, então realizar proezas que até então não poderiam. A

psique total é, portanto representada por essas personagens divinas que fortalecem o ego para

enfrentar as dificuldades da vida. A morte do herói é simbólica, uma vez que evidencia a entrada

na fase de maturidade da vida, onde a jornada do herói já realizou sua tarefa e nova jornada em

outro mito se inicia. A estrutura aqui evidenciada é o esqueleto do mito, de cada fase, desde seu

nascimento até a sua morte. A imagem do herói, portanto, evolui, como Jung deixa claro:

Isto é, a imagem do herói evolui de maneira a refletir cada estágio de evolução da personalidade humana. (JUNG, 2011, p. 110)

Em cada história heroica e na vida essa estrutura adquire contornos e preenchimentos

próprios, tornando o mito mais rico e capaz de se adequar à necessidade de cada indivíduo,

comunidade ou estrutura que dele necessite.

1.3 O Tema Mítico do Dragão-Baleia

Os complexos pessoais, assim como os complexos culturais tem força e fascínio

característicos, uma vez que se elaboram ao redor de arquétipos que por sua vez são dotados de

energia psíquica. Esta pode ser observada e medida através dos afetos, e enquanto os

complexos individuais somente refletem posturas individuais, em termos mais abrangentes, a

sociedade é influenciada, quiçá guiada pelos arquétipos, os quais geram mitos, religiões e

filosofias.

Os complexos individuais são compensações da consciência do ego, buscando compensar

a atitude unilateral do mesmo. Assim como também os complexos sociais, em cujo centro se

encontra um arquétipo, também realizam uma espécie de terapia em relação à unilateralidade

das condições de vida, como quando há fome, guerras, destruição.

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Assim, o mito do herói, traz uma solução à destruição, à morte, na figura de alguém

poderoso que vence o mal, enfrenta dragões, serpentes, monstros e resgata a esperança no ciclo

da vida. A identificação das pessoas com o herói acontece de forma ritualística, através de hinos,

danças, cerimônias e mais recentemente filmes de alta comoção, gerando e ativando o tema

mítico em seu interior, promovendo a história e ativando a elaboração psíquica.

É fácil observar isto na mitologia, onde, em geral, o herói ganha do monstro. Já em outros

casos como em Jonas e a baleia, o herói se mantém numa espécie de morte, pois é transportado

do durante a noite até o amanhecer, do oeste ao leste. Como diz Jung:

A batalha entre o herói e o dragão é a forma mais atuante deste mito

e mostra claramente o tema arquetípico do triunfo do ego sobre as tendências regressivas. Para a maioria das pessoas o lado escuro ou negativo de sua personalidade permanece inconsciente. O herói, ao contrário, precisa convencer-se de que a sombra existe e que dela pode retirar sua força. Deve entrar em acordo com o seu poder destrutivo se quiser estar suficientemente preparado para vencer o dragão — isto é, para que o ego triunfe precisa antes subjugar e assimilar a sombra. (JUNG, 2011, p. 120)

As aventuras do herói na busca pela sua própria força e qualidades, esbarra em impactos

de intensos afetos fazendo com que o ego corra o grande risco de ser engolido pelo inconsciente.

Ao invés de uma peregrinação sem fim, o herói é devorado pelo monstro onde terá que enfrentar

grandes desafios, não sabendo se conseguirá sair ileso. Assim também o ego, dragado pelo

inconsciente terá que enfrentar inúmeros desafios para conseguir escapar. Esta situação é

perigosa e deve ser cuidada para que o ego não sofra consequências irreversíveis.

A figura a seguir mostra o monstro engolindo o herói:

Figura 1 Sem título, óleo sobre papel, 32,5 cm x 43 cm / Olívio Fidélis (1967). Fonte: http://museuimagensdoinconsciente.org.br/expos/arqueologia/baleia.htm. Acesso em: 26/02/2015

Segundo Jung o mito do herói parece ser a primeira etapa na diferenciação da psique. (Cf.

JUNG, 2011, p. 129). A consciência parece percorrer inicialmente a jornada do herói numa busca

pela condição madura do ego estruturante, no entanto não é garantia de sucesso no

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desenvolvimento desta consciência que continuará com o desafio de alcançar e manter esta

condição ao longo do tempo e em seu meio social.

2. ANÁLISE MITOLÓGICA - AMPLIFICAÇÃO SIMBÓLICA

Os símbolos são base importante da elaboração da abordagem junguiana, uma vez que

através deles observamos e se se realizam transformações rumo ao autoconhecimento. Eles

emanam das profundezas do inconsciente, do SELF, a totalidade psíquica, a essência, a

plenitude de potencial de cada ser. A integração de tais elementos pelo ego através do eixo ego-

self, proporciona equilíbrio, harmonia e compreensão de si próprio a dos outros.

2.1 Os Símbolos no Mito

O herói representa a união das forças celestes e terrestres, por isto em muitas histórias

mitológicas é filho de um(a) imortal e um(a) mortal. No entanto ele não é imortal, devendo provar

seu valor e assim poder conquistar a imortalidade. Representa a essência da função guerreira,

onde tem como base a bravura, em alguns casos a astúcia, mantendo sua estratégia a nível

individual. É caracterizado geralmente pela força física, destreza e coragem, que o acompanham

em seus singulares combates. Está ligado à força espiritual que destaca a conquista de si mesmo

como sendo sua primeira e grande vitória.

O monstro simboliza o guardião de um tesouro, como a imortalidade. É o conjunto das

dificuldades a serem vencidas, sejam físicas, mentais ou espirituais. Ele aparece para criar a

possibilidade de se vencer os desafios e medos, convocando ao heroísmo. É preciso vencer o

dragão, a serpente, plantas venenosas e cheias de espinhos, também a si mesmo. Uma vez que

é o guardião do sagrado, onde está o monstro está o tesouro. A transformação interior passa por

ele que representa a possibilidade de regeneração, através de suas entranhas, uma viagem

interior edificante e transformadora. Simboliza a passagem, mas também as forças irracionais que

podem devorar o herói e não mais soltá-lo, no entanto também simboliza a ressurreição, o

renascimento de um novo ser que revive diferente e mais forte.

A viagem está ligada à paz, à imortalidade e pela busca pelo centro espiritual. Não se pode

ter sucesso numa viagem que seja uma fuga de si mesmo. As viagem seguem como provas

preparatórias, a uma iniciação, rumo à progressão espiritual.

A viagem exprime um desejo profundo de mudança interior, uma necessidade de experiências novas, mais do que de um deslocamento físico. Segundo Jung, indica insatisfação que leva à busca e à descoberta de novos

horizontes. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2009, p. 952)

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O dragão é o monstro, o guardião dos tesouros profundos que antigamente era tido como a

serpente, o adversário a ser vencido para que se alcance o presente representado pela

imortalidade. Sua natureza não desenvolvida é representada pelo uroborus. É também o símbolo

da vida, da manifestação, do verbo que cria. Há muitos aspectos para a simbologia do dragão, o

que aqui nos importa é que representa um potencial profundo, oculto, um verdadeiro tesouro se

integrado à personalidade e também um grande potencial destrutivo, principalmente se negado e

relegado às sombras profundas da alma.

O simbolismo da baleia advém da interligação da figura do peixe e da iniciação, onde

entrada e saída das entranhas profundas da caverna simbolizam a viagem interior. Como

psicopompo pode ser considerada a baleia, que leva os que nela adentram à terra prometida, à

possibilidade de renascimento.

2.2 Exposição do Caso Clínico: O Dragão - Baleia

O objetivo do terapeuta através do teatro é que possa ajudar na assimilação das imagens,

apelando para a parte da consciência poupada. Dando apoio para renascer. Experiência

conduzida por Nise da Silveira. O mito polinésio de Rata foi o tema escolhido para a dramatização

por ser desconhecido dos atores e desenvolve-se numa sequência de ações coordenadas.

Nise narrou para Fernando (esquizofrênico) o mito, e solicitado que ele se imaginasse

fazendo uma viagem parecida e dramatizasse. Fernando seria o herói Nganaoa. Margarida

(monitora) a concha, Clóvis (monitor) o polvo. A goela da baleia foi simulada pelos monitores de

mãos dadas. Uma experiência não para tirar conclusões. Os dados principais foram agrupados.

a) O INICIO DA VIAGEM: Na 1ª e 2ª sessões Fernando repete a narração e recusa o papel

de herói. Como em outras sessões raramente se identifica com o herói refere-se ao herói

quase sempre na 3º pessoa. Diz que “agir é mais fácil”. Faz movimentos de remar e lança

o arpão contra a concha e o polvo de lado. Refere-se ao arpão como instrumento de

ataque, compara a seta dos índios. Na sexta sessão utiliza o arpão para imobilizar a

mandíbula da baleia. Na outra não se defende, faz movimentos de recuo, ou pequenos

avanços. Na quinta sessão avança cerca de dois metros.

b) NO VENTRE DA BALEIA: primeiro o objetivo foi enumerado de acordo com os

conhecimentos escolares, livros famosos, armas antigas, etc. Como suas pinturas que

representavam séries de letras do alfabeto, instrumentos musicais ou trabalho, animais,

flores, frutas. Segundo, coisas boas e más, espirituais e materiais, religião e tesouros.

Riqueza e coisa má, Santo vai para o céu sem tesouro e tem a felicidade garantida.

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Preocupa-se com valores morais. Ele não encontra pares e conhecidos na baleia. Terceiro,

no desenvolver da dramatização o inconsciente se reativa. Surge reminiscências da

infância, sonhos, fantasias.

c) SAÍDA DO VENTRE DA BALEIA: Na 1ª sessão ele não queria sair daqueles sonhos tão

bons. Diz “é muito perigoso mas é bom”, “fora também é perigoso o sonho bom também é

perigoso.” Depois diz “geralmente é bom andar para frente”. O herói sai para várias

cidades a procura de liberdade talvez a encontre em algum lugar pequeno. Mas ninguém

sabe o que é liberdade.

Na dramatização Fernando sai do ventre passando sob os braços dos monitores que estão

de mãos dadas. Compara ao nascimento: “por um milagre que se carrega a criança para fora

como de dentro da barriga da baleia”. (5ª sessão).

O tema foi o tesouro embora o mito de Rata não faça nenhuma alusão ao tesouro. Para

Fernando o tesouro difícil de alcançar (self)? Ou compensação para sua existência de oprimido?

A partir da 2ª sessão, leva o tesouro e não a sereia que representa o amor. Leva mas opõe

a riqueza aos bens espirituais, fala de mosteiros: “e a coisa mais bonita que tem de valor vale

mais que dinheiro é a coisa maior do mundo”. Na 3º sessão traz o tesouro para comprar palácios,

será rei e terá escravos, construirá sua cidade com organização social. “Bastava ter dinheiro para

aparecer tudo que era candidato”. Construirá uma cidade eletrônica no ar ou mar. No fundo do

mar existe uma cidade misteriosa. A moça que está lá guarda segredos e os revela para poucos.

Ela diz: Você não tem nada que tirar coisas da baleia. Relata Fernando (5ª sessão).

Na 8ª sessão leva o tesouro. Repete que comprará uma cidade. Não levará nenhum

amigo: “o bom bandeirante anda sozinho”.

Na cidade imaginária não há fraternidade ou espiritualidade. A construção é para desfrutar

do melhor. Como o rei. Terá escravos, embora na 3ª sessão haja dito com amargura que os

nobres caçavam escravos por diversão e concluiu: “nascer assim para ser sacrificado”.

Fernando é massacrado pela sociedade. Mulato pobre sempre foi humilhado. Mesmo

inteligente a sociedade o excluía. Sonhava estudar engenharia e casar-se com Violeta, menina

branca e rica, filha da patroa de sua mãe que era costureira e faleceu deixando Fernando ainda

criança. No 2º grau, pensando no vestibular soube que Violeta tinha se casado. A luta no mundo

real, tão difícil, perdeu o súbito sentido.

A compensação enérgica do inconsciente. Desprezando também os outros valores,

apossa-se do tesouro para construção de sua própria cidade onde ele era o único senhor. A

necessidade de compensação e tão grande que não ultrapassa o nível da sociedade que o

oprimiu e continua a oprimi-lo.

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Na cidade do fundo do mar Fernando toca o inconsciente. A cidade misteriosa e uma

mulher (o princípio feminino) guarda segredos que o repreende por tirar coisas da baleia.

Na 5ª sessão” a alma da criança é o berço quando vai para a escola a alma passa a ser o

livro se for um mosteiro é a Bíblia aquilo que se está fazendo é a alma da pessoa”.

Na 6ª sessão Fernando narra três sonhos.

- Ao pular o muro encontra a rainha da boemia” a imagem era a do mundo todo, o mundo das

imagens mudei para o mundo das imagens, mudou a alma para outra coisa, as imagens tomam a

alma”. Pulou caiu noutra região psíquica, na esfera onde habitam as rainhas, mães, deusas.

- Outro sonho está num “cosmo tudo estrangeiro. Todas as religiões antigas e todas as coisas do

futuro”. “Pensavam que eu e estava num caixão igual o da Branca de Neve”, “todo o povo ali e eu

nada de ver”. O cosmo é o imenso inconsciente coletivo. Em um caixão de luxo e não morte ele

desperta. O povo ali mas não via ninguém. O povo é a realidade externa que ele não vê,

mergulhando no sono e no sonho.

- Sonho de ir para casa. Vê múmias cobertas de ouro. Uma delas o cumprimenta mais de cem

vezes e diz “a história desse rapaz dava para fazer um livro”. “E prêmio Nobel” comentou outra

múmia. A múmia simboliza o princípio feminino (anima) imobilizado no inconsciente. A anima

mesmo na condição de múmia o estimula a escrever o livro. Isso o confrontaria com fatos

dolorosos, mas seria o único caminho de volta. Parece que para ele escrever significaria ficar

parado numa cadeira de rodas, sem viver seu destino. Mas não dispõe de forças para viver esse

destino. E permanece sob o fascínio do imaginário.

Na 4ª sessão fala sobre o sonho. “Cada palavra tem um sonho cada coisa que existe,

carnaval, natal, ano novo. “Para tudo as palavras tem um sonho nos outros sonhos se repetem”.

(5ª sessão). “Para cada lágrima há um sonho” (4ª sessão).

2.3 Análise Mitológica do Caso

A difícil tarefa do encontro com o monstro demonstra a periculosidade da situação, a

possibilidade do indivíduo ser engolido pelo inconsciente, onde este último é a baleia devoradora.

O ego consciente pode submergir à inconsciência uma vez que é atingida por tão poderosa

força de afetos, que o submetem de maneira intensa e avassaladora. As imagens arquetípicas de

monstros devoradores surgem como que guiando nosso ego à compreensão de todos esses

fatores. Descendo às entranhas do monstro, isto é, ao substrato psíquico, este escuro reino do

desconhecido exerce atração fascinante que se torna tanto mais perigosa quanto mais o herói

penetra em seus domínios. Ele corre o perigo de ficar prisioneiro no mundo subterrâneo do fundo

do mar exposto a toda espécie de terrores.

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Tal experiência psicológica o impelirá e dará novas forças para que o herói consiga vencer

o monstro e alcance seus tesouros. Alguns não conseguem, não têm forças e acabam por ter a

personalidade desintegradas, transitoriamente ou até mesmo a nível de esquizofrenia.

CONCLUSÃO

Todos em todos os tempos vivem esta jornada do herói que deve atravessar seu próprio

caos e assim poder ter seu ego estruturante, ou seja, capaz de lidar com as adversidades da

vida. A dificuldade de compreensão dos outros não se compara aos desafios de compreensão de

si mesmo, das forças irracionais e inconscientes que a todos submete ao incontrolável, que

possui suas próprias regras.

Todo ser humano tem em si seus próprios monstros, com os quais deve lutar sempre, afim

de manter-se equilibrado e íntegro. No entanto o monstro espalha terror e incompreensão por

onde passa, fazendo com que tenhamos que lutar constantemente. Aceitar seus tesouros e saber

a força que têm pode ser transformador, afinal a entrada nas profundezas terríveis e

assombrosas precede a luz da consciência maior, onde a compreensão, a harmonia e a

integridade se fazem presentes.

REFERÊNCIAS

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JUNG, Carl Gustav (org.). O Homem e Seus Símbolos. Ed. Nova Fronteira, 2ª Edição, São Paulo,

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_____. Fundamentos de Psicologia Analítica: As conferências de Tavistock. Petrópolis: Vozes, 1972. v. 1. OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação, 25ª Edição. Petrópolis, Ed. Vozes,

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SILVEIRA, Nise da. Imagens do Inconsciente. Brasília, Alhambra, 1981.

_____. Jung: vida e obra. Rio e Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1981.

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CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: (mitos, sonhos, costumes,

gestos, formas, figuras, cores, números). Trad: Vera da Costa e Silva, 23ª Edição. Rio de Janeiro,

Ed. José Olympio, 2009.