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1 André Luiz Moreira Nunes TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II RELEITURAS MITOLÓGICAS NO VIDEOCLIPE GOD IS A WOMAN, DE ARIANA GRANDE Santa Maria, RS 2019

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André Luiz Moreira Nunes

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II

RELEITURAS MITOLÓGICAS NO VIDEOCLIPE GOD IS A WOMAN, DE ARIANA

GRANDE

Santa Maria, RS

2019

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André Luiz Moreira Nunes

RELEITURAS MITOLÓGICAS NO VIDEOCLIPE GOD IS A WOMAN, DE ARIANA

GRANDE

Trabalho Final de Graduação II apresentado ao

Curso de Publicidade e Propaganda, Área de

Ciências Sociais, da Universidade Franciscana -

UFN, como pré-requisito para aprovação da

disciplina de TFG II.

Orientado (a): Profª. Dra. Michele Kapp Trevisan

Santa Maria, RS

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Universidade Franciscana - UFN

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o artigo

RELEITURAS MITOLÓGICAS NO VIDEOCLIPE GOD IS A WOMAN, DE ARIANA

GRANDE

Elaborado por

André Luiz Moreira Nunes

Como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda

_____________________________________________

Profª. Dra. Michele Kapp Trevisan

Orientadora (Universidade Franciscana)

_____________________________________________

Prof. Me. Carlos Alberto Badke

(Universidade Franciscana)

_____________________________________________

Prof.ª Me. Angélica Moreira Pereira

(Universidade Franciscana)

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AGRADECIMENTOS

Parando para pensar, quatro anos passaram voando... Quando olho para trás percebo

tudo o que passei até aqui e vejo o antigo André. Percebo o quanto tudo isso me fez melhor,

enfrentei medos, conheci pessoas novas, me apaixonei, chorei, sorri, mas sempre tive pessoas

muito especiais na minha vida que me ajudaram em momentos que muitas vezes queria

desistir de tudo e que, sem elas, eu não teria chegado até onde cheguei.

Em primeiro lugar, quero agradecer a minha mãe Marly, que sempre esteve ao meu

lado, me apoiando e sendo minha rocha em todos os momentos, não me deixando afundar em

tristezas e sempre me alegrando. Eu não tenho palavras para expressar o quão grato eu sou por

tê-la em minha vida.

Ao meu pai Neri, que sem ele nunca teria chegado até aqui, sempre me permitindo

realizar meus sonhos e me possibilitando voar.

A minha amiga Potira, uma segunda mãe para mim, que sempre me apoiou, me ajudou

e me deu dicas para poder superar os perrengues da vida, enquanto tomávamos nossos mates

que duravam horas.

Aos meus amigos Matheus e Pâmela, que me ajudaram quando eu estava perdido,

sozinho e sem vontade nenhuma de continuar. Estenderam-me a mão e me ajudaram a chegar

até aqui. Agradeço também à Bruna e a Nadine que, por mais que tenhamos nos afastado,

sempre serei grato por todos os momentos que vivemos.

Agradeço aos professores do curso de Publicidade e Propaganda por todo o

conhecimento que me foi passado. Em especial, minha gratidão às professoras Pauline,

Graziela e Claudia, que sem elas, provavelmente, não teria feito metade das coisas que fiz

dentro do curso, me dando oportunidade de crescer e me ajudando sempre que era preciso.

A minha orientadora Michele Kapp, imprescindível para que esse trabalho fosse

possível; ela acreditou no meu potencial e sempre me estimulou quando entrava em

“momentos de surto”.

Obrigado a todos. Sem vocês, eu realmente não estaria concluindo esta etapa essencial

para minha vida pessoal e profissional.

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“Eu vejo música. É mais do que apenas o que eu ouço”.

(Beyoncé)

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RELEITURAS MITOLÓGICAS NO VIDEOCLIPE GOD IS A WOMAN, DE ARIANA

GRANDE

André Luiz Moreira NUNES1

Michele Kapp TREVISAN 2

Universidade Franciscana, Santa Maria, RS

RESUMO

O presente artigo retrata um estudo do videoclipe God is a Woman, da cantora Ariana Grande,

divulgado em 2018, sob a ótica das análises propostas por Joly (2004), baseadas na teoria das

mensagens icônica, linguística e plástica. Neste estudo de natureza qualitativa, bibliográfica e

exploratória, objetiva-se identificar os elementos que representam a releitura mitológica deste

videoclipe que tem como base a utilização de referências a obras de arte, com as quais se

propõe estabelecer uma comparação – videoclipe x original. Quer-se, assim, estudar a questão

da mitologia, entender a construção linguística do videoclipe e identificar quais foram as

figuras ou lendas usadas como referência para a realização do videoclipe, observando e

considerando a abrangência deste tipo de divulgação.

PALAVRAS-CHAVE: Videoclipe; Mitologia; Releituras de obras de arte; Ariana Grande.

ABSTRACT

This presents article a study of the music video God is Woman by singer Ariana Grande,

published in 2018, from the perspective of the analysis by Joly (2004), in the session of

iconic, linguistic and plastic messages. The study of qualitative, bibliographical and

exploratory, objective-to identify the elements of present releaming mitological this music

video base to use the references of articles, with which they used seen a comparison -

videoclipe x original. The aim is to study the mythology, to understand a linguistic

construction of the video clip and to identify the figures or logics used as reference for the

making of the video clip, observing and considering the extent of this type of dissemination.

KEY WORDS: Videoclip; Mythology; Rereading Works of art; Ariana Grande.

1 Acadêmico do oitavo semestre do Curso de Publicidade e Propaganda – Universidade Franciscana. Santa Maria

– RS. E-mail: [email protected]. 2 Orientadora. Publicitária. Doutora. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda, da Universidade

Franciscana. Santa Maria – RS. E-mail: [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Como divulgadores potenciais de artistas e de seus trabalhos (como também daqueles

que os produzem), os videoclipes passaram a ser a demonstração de uma importante

expressão cultural e estética de seu tempo. Concentram-se, neste gênero, distintos tipos de

cultura e de encantamento do público, como o filme, a arte, a pintura, a literatura, a

publicidade. Seu impacto mobiliza a técnica, a estética, os vários mundos que o tornam

realidade, as estratégias narrativas utilizadas e os focos que estão entre o mundo real e o

visual (KEAZOR; WÜBBENA, 2010).

Para Castro (2003, p. 48), os primeiros rudimentos de videoclipes começaram a surgir

nos anos 1960. A grande influência da época era o rock’n roll, que despontava como força da

expressão das vontades e retrato dos problemas da sociedade. Entretanto, ainda que surgisse

na década de 1960, o termo videoclipe só passou a ser utilizado 20 anos depois, na década de

1980.

Conforme Castro (2003) foi entendido como um tipo de produção voltada à construção

audiovisual, correspondendo a uma representação, sendo uma versão filmada de uma música,

com a função de vender um produto musical de qualidade – no padrão de seu tempo.

Soares e Xavier (2012) apontam que o mercado musical passou por várias

transformações neste espaço de tempo. Para os autores, os videoclipes eram considerados

animações de vanguarda3, e assim permanecem até hoje, trazendo novos ares para uma

diferente forma de fazer cultura. Nesse sentido, Castro (2003, p. 47) comenta que, “como um

gênero representativo e complexo, o videoclipe traz como característica principal a seleção de

imagens e é composto por planos em uma alta velocidade, sem precisar respeitar o enredo

linear (com início, meio e fim)”.

Nesse contexto, os videoclipes permitem a utilização de ilimitadas temáticas,

mantendo ou não uma relação com a letra da música ou a persona assumida pelo artista no

momento da divulgação de seu trabalho, buscando a identificação com sua audiência.

Abrigando várias linguagens, a estética do videoclipe é estruturada para atingir pessoas com

diferentes perspectivas e experiências, tendo no cinema e na publicidade o alicerce para a

expansão em outras áreas – como a cenografia, o figurino, as artes plásticas, etc. (CORRÊA,

2007).

3 Videoclipes criativos, como animação, sendo efeito visual ou com soluções criativas. Alguns exemplos são o

stopmotion (SOARES E XAVIER, 2012).

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Segundo Kamitani (2009) expressão artística que é desencadeada pelo videoclipe,

unindo suas técnicas de produção e as mensagens que carrega, é essencial para a formação do

senso crítico. Como parte importante da arte como um todo, e abrigando várias delas, é capaz

de esculpir a moral de uma época e, assim, provocar e instigar alguns questionamentos em

relação à condição humana. Diz o autor (KAMITANI, 2009), que, ao interligar os videoclipes

com arte, os sentidos e as lembranças remetem a efeitos particulares para quem assiste ou

observa, não se restringindo, sendo aberto um diálogo com experiências e capacidades

cognitivas do indivíduo.

Já a mitologia é uma temática bastante explorada em obras audiovisuais. Uma vez que

com o passar do tempo (e até os dias atuais), os mitos foram utilizados para dar sentido aos

comportamentos, fundamentar valores básicos, estando presentes nas diferentes religiões, no

âmago dos posicionamentos éticos e nos costumes. Passaram a fazer parte de vários aspectos

culturais, dando segurança, ao mesmo tempo em que influenciam no coletivo, dando destaque

a algumas celebridades, nações e empresas (XAVIER, 2015).

Entre alguns artistas atuais que exploraram a temática, destaca-se o videoclipe de

Ariana Grande, God is a Woman, por sua peculiar releitura4 de lendas e figuras mitológicas,

trazidas para a atualidade a partir de recursos estéticos do audiovisual. O site de resenhas

Miojoindie (2018) traz uma biografia sobre a cantora, feita pelo resenhista Facchi; segundo

ele (MIOJOINDIE, 2018), Ariana Grande-Butera ou somente Ariana Grande como é

conhecida, já tem cinco álbuns de estúdio, sendo que Sweetener como foi chamado o seu

quarto álbum foi lançado em 2018, possui uma estética diferente de seus outros álbuns, no

meio termo de R&B da década de 90 e início de 2000. É um álbum trabalhado na emoção e

nos sentimentos mais profundos da cantora. Uma das músicas mais relevantes deste trabalho é

God is a Woman, o seu segundo videoclipe do álbum.

Sendo assim, pode-se afirmar que a criatividade assinalada nos videoclipes, inter-

relacionada com as mensagens que seus produtores e artistas pretendem imprimir, constroem

referenciais que aguçam a apreciação estética da música. Percebe-se, deste modo, que a

indústria fonográfica, através de vídeos musicais, expõe ideias e produtos à venda, colocando-

os para a apreciação do público (para o consumo ou não). Ao promover a liberdade na criação

e na construção de um universo simbólico, promove a expressão do artista mostrando, assim,

sua personalidade e dando sentido à canção (BRANDINI, 2006).

4 A palavra releitura vem do que se refere a ler novamente, “reler”. É importante interpretar uma obra, em uma

visão particular. Uma nova visão da obra original, onde pode criar novos olhares a respeito da obra (AS

LINGUAGENS DA ARTE, 20 de junho de 2011).

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Para o presente artigo, foi identificada a seguinte problemática: como foi feita a

releitura de figuras mitológicas no videoclipe God is a Woman? Assim, o objetivo geral foi

identificar os elementos que representam a releitura da mitologia no videoclipe God is a

Womam. Os objetivos específicos são estudar a mitologia, entender a construção da

linguagem do videoclipe e identificar quais figuras ou lendas mitológicas foram utilizados

como referência do videoclipe God is a Woman, comparando-as com as obras originais.

Holzbach e Nercolini (2009, p. 56) acreditam que:

o videoclipe é um audiovisual injustiçado. Apesar de fazer parte da cultura do

entretenimento mundial há mais de 30 anos, ainda são poucos os estudos que se

dedicam a ele. É verdade que há alguns anos, novos pesquisadores vêm

demonstrando tentativas de compreender esse gênero audiovisual, mas ainda

contemplando poucas perspectivas.

No entendimento de Machado (2009), é preciso dar mais atenção aos videoclipes,

porque eles não são mais um gênero meramente audiovisual, com peças de um formato sem

estratégia nem objetivo definido a ser alcançado (que não o lucro). Ao contrário: sintetiza

mais do que um conjunto de peças promocionais que se deseja vender, atendendo a objetivos

prévios produzidos a partir de eficientes estratégias de marketing que, entre outros, moldam o

caráter e geram lucro.

Neste gênero, as imagens tornaram-se essencialmente elementos narrativos, nem

sempre estruturados, sem deixar de refletir o movimento da canção, sem perder o foco nem

sua linha inicial (SÁ; COSTA, 2012).

Para justificar a escolha do tema abordado, temos visto muitos artistas inovando em

seus trabalhos, lançando álbuns visuais nos quais todas as faixas de músicas tenham

videoclipe, ou usando outros artistas em suas obras, como uma colaboração, lançando um

álbum com faixas em diferentes idiomas, ou até releituras de obras mitológicas em

videoclipes, como é o exemplo deste, escolhido para ser trabalhado.

O videoclipe é muito mais do que só um artificio para divulgação da música do artista;

muitas vezes, é assim, através do visual, que eles podem transmitir emoções, sentimentos,

desejos. Alguns artistas tentam inovar cada vez mais, em cada lançamento para promoção de

suas músicas, como banners em avenidas, outdoors, entre outras formas. Já outros, usam o

videoclipe para que isso ocorra, contando uma história que ligue as suas faixas ou como

performances exclusivas, refazer o videoclipe no palco ou trazer para o palco as suas

releituras.

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2 APONTAMENTOS SOBRE MITOLOGIA

Para Campbell (2007), a mitologia mostra o homem como alguém comparado a

deuses, capazes de agir com corpo e mente humana, mas mexendo com o imaginário, com

poderes ilimitados, superstições, crenças, unindo o popular e o divino.

Percebe-se, nestas breves palavras, que a presença do mito se formula a partir de

termos emocionais, psicológicos, uma vez que não necessita de comprovação para ser

verdade. O mito, como bem lembra Rocha (1996, p. 08), é baseado em especificidades, nas

quais se mostram várias narrativas, com falas e discursos humanos. Assim, os mitos passam a

ser marcas humanas para sistematizar símbolos que se tornam códigos articulados; com isso,

o mito é, então, uma narrativa única, que é capaz de ser distinguida de outras narrativas

humanas (ROCHA, 1996, p. 08).

Ainda conceituando o tema abordado, toma-se o que pensa Brandão (1988).

o mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente

uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. E, na

medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do

real, o mito não pode ser lógico [...]. Abre-se como uma janela a todos os ventos;

presta-se a todas as interpretações. (BRANDÃO, 1988, p. 36)

A partir dos recortes apresentados, pode-se afirmar que, atualmente, os mitos não

conseguem cumprir seu papel de gerenciadores do coletivo, a não ser a partir de uma vasta

gama de informações que lhe deem sentido. Segundo Perez (2004, p. 142), tais sentidos

coletivos são possíveis de se construir e se estabelecer por meio da publicidade.

Podemos usar como exemplos a marca Good Year, que usou um deus olímpico,

Hermes, para representa-la. A sandália com asas representa a velocidade e a agilidade, que

são as características de Hermes. Outro exemplo é a propaganda do portal Terra, onde

podemos ver uma clara referência à Medusa, tal qual ocorre com outro comercial da OLX

(figura 1).

Figura 1: Exemplos de marcas que utilizam a mitologia

Fonte: Universia 2017; Adeevee 2005; Canal Blog da propaganda, comercial OLX - Medusa desapega 2014.

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Cassirer (1985) aborda que o sentido coletivo se dá com base em influências

recíprocas, tendo a linguagem – verbal e não verbal – como um dos seus possíveis pontos de

partida. Nesse sentido, Sampaio (2003, p. 233) explica que cada pessoa recebe

constantemente uma grande quantidade de informação, o que se torna cada vez maior do que

se viu na história da humanidade; esta situação induz os indivíduos, a seu modo, a elaborarem

sua própria ideia sobre o mito e o que a ele se relaciona. Ainda para o mesmo autor

(SAMPAIO, 2003), tanto a imprensa escrita quanto o rádio e a televisão, bem como todas as

manifestações da indústria cultural, vêm servindo de suporte nessa elaboração, como fontes

de alterações da percepção social, cultural e política de todas as pessoas.

Este inconsciente coletivo se torna um patrimônio que é compartilhado por todos, o

que explica a razão de utilizar publicitariamente vários mitos, em realidades e sociedades

distintas, tendo, ao mesmo tempo, características semelhantes, criando padrões (arquétipos).

Rocha (1996) enfatiza que tais arquétipos funcionam como uma marca, como uma imagem,

uma impressão psíquica que domina um grupo, imprimindo-lhe sentido e simbologia.

Os autores Cassirer (1985) e Vogler (2015) expõem que o que une o coletivo, o

individual, o mito e a linguagem são os pensamentos metafóricos, que geram arquétipos.

Martins (2007, p. 31) explica que “os arquétipos são padrões emocionais comuns a toda

cultura humana, criados dentro do inconsciente coletivo.” Ao serem acionados quando surgem

elementos simbólicos (como, por exemplo, as imagens), são considerados estados de espírito

ou formas de percepção de mundo, como explica Martins (2007).

Perez (2004, p. 47) defende que este “espaço imaginativo é a marca de um conteúdo

psicológico que toma a mente dos consumidores e equivale a entidade perceptual, com um

conteúdo psíquico anteriormente definido, mas que é absolutamente dinâmico, flexível e

orgânico”.

A publicidade utiliza todas essas nuances para produzir os sentidos desejados e

implementar a ideia ou a imagem/símbolo que lhe convém, acessando a mente do consumidor

e promovendo a criação de um estoque de imagens, de símbolos, de pensamentos, de

posicionamentos, de ações. Consequentemente, esses itens ficam vinculados ao produto ou

personalidade sobre com os quais o sujeito se relaciona para que sirva como um gatilho a ser

disparado cada vez que o tema for o da marca ou da pessoa em questão (PEREZ, 2004).

Os filmes publicitários são bons exemplos destas características. Para Barreto (2004,

p. 18), todo filme possui uma ação com começo, meio e fim, direcionada à venda de uma

ideia, de uma imagem, de um artista ou de um produto. Como bem sublinha Brandão (1988),

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o mito atrai uma parte irracional do pensamento, podendo ser, por natureza própria,

relacionada à arte e todas as criações.

Lupetti (2003) afirma que esse conjunto de conceitos faz com que a

marca/imagem/personalidade crie uma fidelidade, diferenciando-a dos demais, gerando uma

série de simbologias e promovendo o surgimento de mapas conceituais. É interessante

lembrar que o videoclipe também deve ser entendido como um formato publicitário, em que,

ao invés de divulgar somente marcas ou produtos, é o artista e sua música que acabam usando

desse artifício.

Camargo (2016), ao relacionar estas características aos filmes publicitários, assinala

que, ao surgir um mito, são mobilizados sistemas sociais, artísticos, psíquicos e míticos que,

ao serem mencionados, produzem um texto elaborado a partir de outros, desencadeados por

signos e códigos.

Kellner (2001, p. 307) afirma que:

a cultura da mídia põe imagens e figuras com as quais seu público possa identificar-

se, imitando-as. Portanto, ela exerce importantes efeitos sociabilizantes e culturais

por meio de seus modelos e papéis, sexo e por meio de várias posições de sujeito

que valorizam certas formas de comportamento e modo de ser enquanto

desvalorizam e denigrem outros tipos.

Assim, retoma-se as palavras de Campbell (1990) e de Schuler (2004), quando

asseguram que o uso do mito como forma de expressão indica que há a intenção de torná-lo

atraente, aceito, relevante perante a cultura de certo grupo. Deste modo, faz-se participante de

um determinado contexto com uma finalidade, impulsionado pela criatividade das empresas.

Pode-se perceber a eficácia destas medidas quando a população ou seu segmento alvo se

apropriam do mito, o repetem e o conduzem a outros sujeitos que, deste modo, multiplicam

seu alcance (COSTA, 2009).

Na ótica de Camargo (2016, p. 167),

o mito não é apenas uma narrativa antiga, ancestral, em relação às narrativas

midiáticas atuais. O mito é um sistema formado pelo conjunto equilibrado entre

narrativa, ritual, totem, tempo e magia, um sistema mítico. Esse conjunto, ou partes

dele, se manifesta na mídia em diferentes suportes, linguagens, gêneros, discursos,

storytellings, narrativas.

Reside nestas explanações, as justificativas para um dos focos do presente trabalho de

conclusão: a relação entre o mito e os indivíduos se dá mediante a intervenção das mídias,

principalmente as audiovisuais, como a televisão, o cinema e as (sempre em expansão) redes

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sociais, que dão maior visibilidade. Esses artifícios narrativos ou estilísticos, embora sejam

amplamente identificáveis, pois fazem parte de um imaginário cultural já difundido, podem

ser expressos e compreendidos de maneiras diferentes, como nos videoclipes.

3 O VIDEOCLIPE E SUA ESTÉTICA

Ao unificar as experimentações visuais ao mundo da música pop, o videoclipe provoca

uma diferente concepção estética de consumo das produções musicais. No desenrolar da

sequência, são observados os resultados das linguagens e dos conteúdos produzidos,

mostrando, assim, como é possível fundir elementos de cada mídia (como cinema, TV e

propaganda, além da música). Ao mesmo tempo, a referida mídia alia as características e

condições técnicas do vídeo com a computação gráfica em plena expansão no momento

(TREVISAN, 2011).

É inegável que os vídeos musicais são formas de exposição de um produto que está à

venda, ou um apelo ao consumo; porém, o videoclipe tornou-se um novo referencial para o

olhar estético da música, a fim de oferecer um produto ao consumo, ao mesmo tempo em que

permite questionar e transmitir/provocar reflexões no espectador. A estética une as técnicas da

publicidade e do cinema, a liberdade de criação de film makers e um universo simbólico, que

visa a expressão do sentir da canção e da personalidade de cada artista (BRANDINI, 2006).

Segundo Machado (2009) uma das direções da atual produção de videoclipe é a

abdicação total das regras do bem fazer, herdadas do cinema comercial e da publicidade.

Vale, então, a energia que resulta do fluxo audiovisual, a fúria voluptuosa e desconstrutiva

que dissolve e sacode as formas bem ajustadas, impostas pelo aparato técnico.

Para construir o referencial visual do videoclipe, técnicas antigas foram se associando

aos novos saberes. Na concepção de Conter e Kilpp (2008), o videoclipe passou a ser uma

esponja, absorvendo incessantemente os mais distintos efeitos, diversas variações técnicas e

de montagem. Clipes em plano-sequência, transições suaves, montagens vertiginosas, tudo se

tornou relevante e aplicável no gênero, trazendo sempre a música como pilar. Para Castro

(2003), as misturas levaram à construção de um novo recurso estilístico controlado pela

indústria fonográfica e pelos canais musicais.

Unindo cada passo evolutivo, os videoclipes começaram a migrar da plataforma

televisiva para a mídia eletrônica, e a internet tornou-se o berço de uma revolução estética –

até mesmo o formato ao vivo, aliado a uma nova linguagem aberta, se tornou parte de

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estratégia eficiente de divulgação. Pode-se afirmar, portanto, que a cultura contemporânea é

extremante visual (PELLEGRINI, 2003).

Para Joly (2004, p. 133), as imagens e palavras podem substituir, completar, interagir e

esclarecer com uma energia fortalecedora, nutrindo e exaltando, assim, umas às outras. O

próprio carro-chefe da mensagem dos videoclipes – a música – proporciona o alargamento das

perspectivas relacionadas ao tema. Janotti (2003, p. 60) contribui com as afirmações recém

assinaladas quando diz que:

de todo o complexo que envolve a cultura midiática, o consumo da música se

diferencia pela grande conexão que estabelece com todas as mídias, especialmente

com a televisão, a partir da utilização do videoclipe como um dos formatos mais

populares de divulgação das canções.

Hamburger (2014) define a direção de arte como uma concepção de um ambiente

plástico de um filme, assinalando que ele é composto tanto por características formais quanto

por objetos e por um espaço, quanto pelas figuras em cena. Com o roteiro pronto, o diretor de

arte limita suas escolhas entre a arquitetura e os outros elementos cênicos, conduzindo os

trabalhos de cenografia, maquiagem, efeitos visuais e figurinos. Existe uma colaboração com

o diretor de fotografia, para dar um ar particular a cada filme gravado e sua impressão de

significados visuais, que podem extrapolar a história.

Segundo Barnwell (2004), o designer de arte pesquisa e prepara um conjunto de

elementos que atuam e fazem sentido junto a um roteiro, o que faz com que o produto final

seja fortalecido. O conceito pode variar muito, e não tem um modo certo ou errado de

conceituar apenas trabalha a percepção de alguma coisa entendida com êxito maior e que

pode vir a ser aquilo que o cliente recorda e o leva a consumir/visualizar.

Ribeiro (2009) fala que o videoclipe tem caminhado para a evolução desde o seu

nascimento, por conta das fortes influências tecnológicas, artísticas e mercadológicas, e isso

fez com que ele se tornasse muito mais do que televisivo, evoluindo significativamente para

outras mídias.

Ribeiro (2009, p. 37)

A atratividade do videoclipe deve ser encarada como uma isca imprescindível, que,

tendendo a gerar maior disponibilidade do produto para o espectador, dá mais

chance a que se efetive a dinâmica de compreensão, comoção e/ou fruição. É preciso

esclarecer que o termo atratividade não se restringe aqui à apresentação de beleza ou

cuidado estético, mas especialmente à possibilidade de colocar em relevo

experimentações e estratégias para programação de efeitos, que sejam reconhecíveis

pela introdução de novidades frequentes e demarcação de singularidades, estilos

individuais e marcas autorais nos clipes.

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Machado (2000) diz que não se usam mais os videoclipes como meras peças

audiovisuais, que servem apenas para promover uma música nova ou um novo álbum. Os

artistas reformularam sua forma de pensar e fazer um videoclipe: não fazem meros clichês

publicitários, mas sim uma redefinição desse gênero, substituindo a imagem do cantor por

paisagens vagas ou até mesmo algumas imagens abstratas.

Nesse contexto, uma artista que está cada vez mais se encaixando nessa visão de

videoclipes artísticos é a cantora Ariana Grande. Conforme o site Ariana Grande Brasil (s.d.),

a cantora, nascida em Boca Raton, na Flórida, em 26 de junho de 1993, ficou conhecida pelo

seu papel de Cat Valentine, no seriado americano Victorius e pelo seriado Sam e Cat – ambos

da Nickelodeon.

Figura 2: Apresentação de Ariana Grande no VMA 2018 com referência a obra A Última

Ceia.

Fonte: Canal Ariana Grande – Ariana Grande God is a Woman ( Live on The MTV VMAs/2018); Jornal Ibia

2017.

Ariana Grande se empenhou tanto em promover a música após o lançamento do

videoclipe de God is a Woman, que em uma apresentação no VMA 2018 (Video Music

Award)5 ela recriou A Última Ceia no palco da premiação (figura 2); porém, diferente da obra

de Leonardo Da Vinci, somente mulheres estavam presentes no palco, dando assim, mais

força à música e ao tema da mesma.

4 PROCESSOS METODOLÓGICOS

O objetivo geral proposto neste trabalho compreende identificar os elementos que

representam a releitura da mitologia no videoclipe God is a Woman. Para isso, foram traçados

os seguintes objetivos específicos: estudar a questão da mitologia, entender a construção da

5 O VMA foi criado nos EUA, em 1984, como uma versão do Grammy Awards, e veio para premiar os melhores

videoclipes do ano (TREVISAN, 2011).

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linguagem do videoclipe e identificar quais figuras ou lendas mitológicas foram utilizados

como referência na releitura de God is a Woman, comparando-as com as obras originais.

Diante dessa tarefa, quanto à natureza, a pesquisa se caracteriza por ser qualitativa,

bibliográfica e exploratória. Sobre os procedimentos qualitativos, os aspectos analisados têm

como base dados do texto e imagem que possuem passos únicos em análises de dados e

utilizam estratégias de investigação (CRESWELL, 2007). Tal perspectiva permite que o

pesquisador conduza a observação e reflexões acadêmicas sob a ênfase interpretativa,

examinando o todo, contextualizando, gerando informações mais detalhadas a respeito dos

objetivos traçados ou dos itens a serem esclarecidos.

Creswell (2007, p. 186-187) esclarece que a visão destes estudos é ampla e, com isso,

possibilita – ao invés da falta de exatidão – a efetivação de pequenas análises, nas quais o

pesquisador utiliza um raciocínio complexo, multifacetado, interativo e simultâneo,

observando em pequenas partes.

Para abrir espaço para a construção de um maior conhecimento sobre a área e o tema

pesquisado, cabe enfocar a pesquisa como estudo bibliográfico, trazendo um registro

disponível, consecutivo de pesquisas, em documentos impressos, como livros, artigos, teses

(SEVERINO, 2007). Para Treinta et al (2012), a representatividade de uma proposta

bibliográfica se alicerça em possibilitar o contato com os mais distintos trabalhos

provenientes da elaboração científica mundial, destacando-se a relevância do assunto.

Ao buscar entender as inúmeras fontes, caracteriza-se o trabalho como pesquisa

exploratória por levar informações a respeito de determinado objeto, delimitando o campo de

trabalho (SEVERINO, 2007).

Para Gil (2010, p. 27),

as pesquisas exploratórias têm como propósito proporcionar maior familiaridade

com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Seu

planejamento tende a ser bastante flexível, pois interessa considerar os mais variados

aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado. Pode-se afirmar que a maioria das

pesquisas realizadas com propósitos acadêmicos, pelo menos num primeiro

momento, assume o caráter de pesquisa exploratória, pois é pouco provável que o

pesquisador tenha uma definição clara do que irá investigar.

Para aprofundar a compreensão das possíveis releituras de obras de arte identificadas

no objeto de estudos desse artigo, será utilizada a análise descritiva, tendo como embasamento

o modelo proposto por Joly (2004), onde possui três partes da análise visual: mensagem

linguística, plástica e icônica. A mensagem plástica (denotativa) se define pela exorbitância

no vídeo. É formada por atributos estéticos, como decoração, figurinos, cenários, cores,

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outros. A mensagem icônica (conotativa) é constituída por significados; por meio de análise,

podemos identificar o que o vídeo quer passar, com uma simbologia por trás do que se fala. Já

a mensagem linguística (textual) passa do visual, diz respeito aos significados, comunicação.

Por exemplo, em videoclipes, ela pode ser vista pela letra da música, por letterings ou outros

textos nela presentes. Esse método possibilita explorar vários tipos de linguagens em

videoclipes.

O videoclipe proposto como objeto de estudo deste trabalho é intitulado God is a

Woman, lançado no dia 13 de julho de 2018 na plataforma do Youtube, sendo também

veiculado em canais de música, como MTV, e apresentado no Video Music Awards em 2018.

Dirigido por Dave Meyers, produzido por Nathan Scherrer e editado por Nick Gilberg, o

videoclipe tem como foco o empoderamento da mulher, que é passado através de várias

reinterpretações de obras artísticas feitas por Ariana em momentos onde há substituição da

figura masculina por uma feminina, mostrando a artista caracterizada em vários cenários que

remetem a referências de obras artísticas conhecidas, como, por exemplo, Loba Capitolina, O

Pensador, Criação de Adão e Cérbero.

No videoclipe, a cantora Ariana Grande mostra várias faces de como ser uma mulher

na sociedade, como por exemplo, o julgamento de homens para mulheres empoderadas, que

não têm medo de falar o que pensam, nem de se impor perante a sociedade. Ariana mostra em

imagens coloridas referências de distintas concepções de ser mulher, como símbolos

femininos, sempre direcionando para a mulher que carrega no ventre um novo ser, com o

poder de gerar algo novo.

Para o presente artigo, foram selecionadas as imagens que apresentam mais claramente

figuras e lendas da mitologia, que serão comparadas com as obras mais conhecidas

representadas por artistas, para então, identificar os elementos que foram utilizados na

construção da releitura dessas no videoclipe.

5 DESCRIÇÃO ANALÍTICA

O vídeo God is a Woman foi dirigido por Dave Meyers, produzido por Nathan

Scherrer e editado por Nick Gilberg, tendo como foco a mulher e o empoderamento, passados

através de várias obras e reinterpretações feitas pela artista Ariana Grande em momentos onde

há substituição da figura masculina por outra feminina. O trabalho mostra a artista

caracterizada em vários cenários que remetem a referências de obras artísticas conhecidas,

como, por exemplo, Loba Capitolina, O Pensador, Criação de Adão e Cérbero.

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Conforme explica Joly (2004), existem três partes de uma análise visual, sendo elas:

mensagem plástica (denotativa), formada por atributos estéticos que incluem figurinos, cores,

cenários, decorações, entre outros; mensagem icônica (conotativa), que constitui os

significados, por meio de uma análise, onde pode identificar a mensagem e o que o vídeo quis

passar; e mensagem linguística (textual), podendo ser composta por letterings ou textos nela

presentes, dizendo respeito aos significados, à comunicação.

Para isso, nesse tópico serão descritas as cenas selecionadas, buscando suas

semelhanças com as obras artísticas mais conhecidas que representam tais figuras ou lendas

descritas no videoclipe, para que nessa comparação seja possível interpretar os elementos da

releitura feita no trabalho da cantora.

Ao observar a figura 3 A, conforme Joly (2004) retrata a mensagem plástica, vemos

que Ariana Grande está em cima de uma pedra, aparentando estar em um lugar alto, com

grandes quantidades de nuvens no céu, com tons em branco e variações de azul. Ariana está

ajoelhada com as mãos no chão, vestindo um macacão bege, dando ideia de que estaria nua.

Seu cabelo está arrumado como um rabo de cavalo, óculos e bota overknee6 que demonstram

a identidade da cantora, pois são adereços que ela usa frequentemente em suas performances.

Em sua vestimenta, podemos perceber alguns relevos na barriga, como se fossem glândulas

mamárias, e nelas vemos três homens de roupa preta, que aparentemente estão se

amamentando da cantora.

Figura 3: Análise comparativa do videoclipe x obra Loba Capitolina.

A B

Fonte: Canal Ariana Grande – God is a Woman; Google imagens

Nessa cena, podemos identificar referência à obra de arte Loba Capitolina, que se

encontra no Museu Capitolino, em Roma, na Itália Figura 3 B. A obra possui dimensões

quase naturais, “trata-se de uma figura em bronze, de 75 cm de altura e 1,14 m de

comprimento, à qual, em 1941, se acrescentaram as esculturas das crianças Rômulo e Remo

6 O termo traduzido significa bota acima do joelho.

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sendo amamentadas pelo animal para representar a lenda da criação de Roma” (COSTA,

2012). Sob o ponto de vista da mensagem icônica, lembramo-nos da lenda da criação de

Roma, que traz como personagens principais os gêmeos Rômulo e Remo.

Segundo o site Mundo e Arte (2015), a lenda retrata o nascimento dos gêmeos,

Rômulo e Remo, que foram abandonados no Rio Tibre, onde o cesto que os bebês estavam

acabou ficando atolado nas margens, onde uma loba encontra os irmãos, os cuida e os

amamenta. Anos depois, foram encontrados por um casal e retornaram para sua cidade de

origem para vingar sua mãe, que teve que os abandonar ainda bebês. Eles resolvem ir juntos

para a cidade onde foram abandonados para fundarem uma nova cidade. Remo queria chamá-

la de Remora enquanto Rômulo queria nomeá-la como Roma. Por conta da discordância e

discussões, Rômulo mata seu irmão e funda Roma (MUNDO E ARTE, 2015).

Para complementar a história, ainda “dizem que a loba que amamentou Rômulo e

Remo foi sua mãe adotiva humana, já que o termo loba, em latim lupa, também era utilizado,

em sentido pejorativo, para as prostitutas da época” (TUDO SOBRE ROMA, s.d.).

Ao analisar o videoclipe e a imagem de Ariana, pode-se perceber a semelhança entre a

cantora e a obra da Loba Capitolina; neste contexto, a artista usou a lenda da criação de

Roma, focada nos irmãos Rômulo e Remo, trazendo a personagem secundária da história, a

loba, que os achou e os amamentou. Sem ela, os irmãos não teriam sobrevivido, mostrando a

importância da loba para a criação de Roma, ainda que, por ser uma figura feminina e não tão

relevante na história, tenha ficado em segundo plano.

Observando o contexto musical do videoclipe associado à letra da música,

percebemos, através da mensagem linguística (textual), que Ariana mostrou a importância da

figura feminina no universo, com a loba amamentando seus filhotes assim como uma mãe

amamenta o seu bebê, destacando que acabam sendo esquecidas neste papel e muitas vezes

deixadas de lado, tendo somente a referência masculina como o centro do mundo.

Na próxima análise, na figura 4 A, que está presente no frame 0’45’’, observa-se a

mensagem plástica (denotativa) com a cena em preto e branco; em uma pedra, aparentemente

de mármore, Ariana encontra-se sentada, com uma perna apoiada na pedra e a outra no chão,

um dos braços apoiados em uma perna e a outra mão apoiando o queixo. Sua roupa não é

perceptível para poder dar alusão à nudez. Ela encontra-se olhando para baixo; nesta posição,

observa-se seis homens em escala menor que a cantora, com expressão de raiva, que jogam

palavras de ódio na cantora, como “fake7” e “bitch8”. No fundo, há várias formas brancas que

7 O termo traduzido significa falsa. 8 O termo traduzido significa vadia.

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parecem remeter a uma cidade, pelo formato e disposição das peças. Abaixo deles, podemos

perceber um livro com aspecto de velho, aberto, com as páginas na cor branca e com escritas.

E embaixo do livro, o chão parece ser outro livro.

Figura 4: Análise comparativa do videoclipe x obra O Pensador.

A B

Fonte: Canal Ariana Grande – God is a Woman; Musée Rodin

A imagem presente, figura 4 B, tem sua origem em uma obra intitulada “A Divina

Comédia”, escrita pelo autor Dante Alighieri (1265-1321); é um clássico da literatura

mundial, escrito durante o Renascimento. Ela se divide em três partes: Inferno, Purgatório e

Paraíso, e cada uma possui 33 cantos, exatamente. A obra escrita no início do século XIV, fez

uma análise científica e filosófica da Idade Média (FUKS, s.d.).

Com uma linguagem rebuscada, o autor mostra a sua história, sendo o narrador

principal e um dos personagens, fazendo Dante falar diretamente com o leitor. A obra “[...]

reúne 100 cantos com aproximadamente 140 versos cada um. Os versos foram escritos em

tercetos de decassílabos, com o esquema de rimas alternadas e encadeadas (ABA BCB CDC)”

(TODA MATÉRIA, s.d.).

Auguste Rodin fez grandes obras e uma das mais conhecidas e lembradas é a “Porta

do Inferno”, que foi encomendada pelo Museu de Artes Decorativas de Paris, em agosto de

1880, e demorou 37 anos para ser finalizada. A mesma foi baseada na obra de Dante

Alighieri, “Divina Comédia”, tendo algumas representações específicas da mesma, como o

adultério, o romance entre Paolo e Franccesca Rimini, o resultado do conflito político em que

o pai come os próprios filhos e a figura de Dante (A PORTA DO INFERNO, s.d.).

A partir das definições de Joly (2004) sobre mensagem icônica (conotativa), “O

Pensador”, antes chamado de “O Poeta”, que representa Dante Alighieri, em 1880, com 70cm

de altura, se localiza na parte de cima da “Porta do Inferno”, que observa os círculos do

inferno e medita sobre sua vida e sua obra. A mudança do nome se deu porque os

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trabalhadores viram que a mesma apresentava traços similares a algumas esculturas de

Michelangelo, como Lorenzo de Medici (1526-1531) (FUKS, s.d.).

Segundo o site do Museu de Rodin (s.d.) “[...] O Pensador era, portanto, inicialmente

tanto um ser com um corpo torturado, quase uma alma condenada, quanto um homem livre,

determinado a transcender seu sofrimento através da poesia”.

Em 1904, Rodin resolveu expandir sua obra num tamanho de homem real, com 1,80m

de altura, em bronze. Neste sentido, a escultura retrata um homem que pondera e calcula,

oposto do homem físico ao homem-músculo, banal e primitivo (ARTE E ARTISTAS, 2016).

A mensagem linguística presente no videoclipe em conjunto com a letra, remete à

força feminina diante do machismo, dos problemas que as mulheres enfrentam no dia a dia e a

dificuldade de buscar seu espaço. Percebe-se que o videoclipe passa isso com os homens que

jogam palavras de ódio na cantora, fazendo referência à história da obra “O Pensador”,

representando um corpo torturado, com a alma condenada, observando o inferno diante de

seus olhos.

Na figura 5 A (frame 0’40’’), conceituada por Joly (2004), analisada sob a ótica da

mensagem plástica (denotativa) definida pela estética, Ariana encontra-se em um lugar

totalmente branco, com uma luz que irradia ao fundo. Ela está em cima de uma cama, como

se estivesse suspensa no ar, está usando um body da cor da sua pele, dando ideia de nudez, e

está em cima de um lençol branco. Podemos ver que em cima da cama encontram-se homens,

como se estivessem nus e com espumas em volta de seus corpos. A cama é totalmente branca

e possui uma cabeceira com arabescos. A cena é limpa, sem muita cor, dando relevância para

o branco e para os tons de pele de quem está em cena. Ariana está em destaque entre as

demais pessoas.

Figura 5: Análise comparativa do videoclipe x obra O Nascimento de Vênus.

A B

Fonte: Canal Ariana Grande – God is a Woman; Google Imagens

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Sandro Botticelli foi um pintor italiano que criou a obra “O Nascimento de Vênus”,

que revolucionou como a primeira pintura renascentista com um tema mitológico; segundo a

mensagem icônica (conotativa) de Joly (2004), a lenda retrata Vênus, nascida através de

espuma e que flutua em direção à praia dentro de uma concha, onde Zéfiro carrega a ninfa

Clóris enquanto sopra o vento que guia Vênus a Pomona, que a recebe com um manto em

mãos. Botticelli teve como inspiração para obra o poema de Angelo Poliziano, “Stanze per la

giostratorneio” (RENAUX, 2017).

Poliziano (apud RENAUX, 2017) relata em sua obra:

No tempestuoso Egeu, o membro genital é visto sendo recebido no colo de Tetis,

para derivar sobre as ondas, envolvido em espuma branca, sob as várias voltas dos

planetas; e dentro, com gestos adoráveis e felizes, uma jovem mulher com

fisionomia não humana, é trazida numa concha, levada à praia por zéfiros

brincalhões; e parece que os céus se regozijam com seu nascimento. Poderíamos

dizer que a espuma era real, o mar real, real a concha e real o vento que soprava;

podíamos ver as faíscas nos olhos da deusa, o céu e os elementos rindo em volta

dela. Poderíamos jurar que a deusa havia emergido das ondas,/segurando seus

cabelos com a mão direita, cobrindo com a outra seu doce monte púbico; e lá onde a

terra estava impressa com seus passos sagrados e divinos, havia se coberto de flores

e grama;/ depois, com fisionomia feliz, mais que mortal, ela foi recebida no seio de

três ninfas e coberta com um manto estrelado.

A obra de Botticelli descreve o conceito de amor como uma força da natureza, com

cores claras e puras, refletindo nas formas nítidas, com linhas elegantes que fazem harmonia

na obra como um todo, podendo ver o horizonte e os mantos que se movem com a força do

vento, a movimentação marinha que se unem para mostrar a castidade e a nudez da deusa

Vênus, exaltando a beleza e a pureza da alma (PERISCÓPIO CIDADÃO, 2010).

O “Nascimento de Vênus” teve muitas releituras como Vênus (Di Cavalccante, 1940),

“O Nascimento de Vênus” (de William-Adolphe Bouguereau, 1879) e, entre outras, ressalta-

se a obra de Jean Honoré Fragonard (1775), descrita na figura 5 B.

A figura 5 A, sob o ponto de vista da mensagem linguística (textual) de Joly (2004),

mostra a comparação da letra da música com a lenda, enfatizando o poder feminino, a

glorificação da beleza com a mulher no centro e em destaque (envolta em espumas brancas,

tanto na obra quanto no frame do videoclipe) e a pureza da alma (representada no videoclipe

pelos tons de branco e na pintura com tons claros de verde e rosa).

Nessa última cena (figura 6 A), analisando pelos pontos dados por Joly (2004), quanto

à mensagem plástica (denotativa), vemos Ariana com outras mulheres em uma pose que ficou

conhecida pela pintura, como “Nascimento de Adão”. Ela está com uma roupa dourada e

percebemos sete mulheres ao seu redor, todas com vestes mais simples que a dela, mas com a

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mesma cor de roupa. Elas estão olhando em direção à outra mulher, que está mais distante.

Ariana se mantém com o braço esticado em direção a essa mulher, como se quisesse tocar na

mesma. A mulher está sentada com uma folha tapando sua parte íntima, e a mesma está com

seu braço esticado apontando para a cantora. Percebemos, também, lenços na cor verde

musgo e um vermelho puxando para um tom alaranjado. O frame tem cores verde musgo e

tons de bege, azul, amarelo e vermelho. No lugar, podemos ver rachaduras e outras pinturas

que não estão tão em destaque, como a cena principal.

Figura 6: Análise comparativa do videoclipe x obra Criação de Adão.

A B

Fonte: Canal Ariana Grande – God is a Woman; Google Imanges

A Criação de Adão e foi pintada por Michelangelo Bounarotti, em 1511, possuindo

280 x 570 cm, e localiza-se no teto da Capela Sistina, no Vaticano. O Afresco de

Michelangelo, mostra pela mensagem icônica (conotativa), como Deus criou o primeiro

homem, que fora Adão, e simboliza um episódio do Livro Gênesis. Conforme a imagem 3,

Deus é identificado como um homem mais velho barbudo que está coberto em um grande

manto, junto a alguns anjos; pode-se observar uma mulher ao lado de Deus, normalmente

interpretada como Eva (que ainda não havia sido criada). Deus está com o braço direito

esticado para um homem, criando o poder da vida com o próprio dedo para Adão. Os dedos

estão quase se tocando, sendo separados apenas por uma pequena distância.

Neste sentido, a pintura do braço direito de Deus é muito semelhante, se não igual, à

do braço esquerdo de Adão. Tal visão, vai ao encontro da ideia que Gênesis 1:27 já

propagava, de que “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”. Já o dedo indicador de

Adão, uma das mais famosas obras, não faz parte dos trabalhos que foram produzidos por

Michelangelo, pois o mesmo foi alterado após um acidente, no século XVI, e, portanto,

precisou ser repintado por um profissional do Vaticano encarregado de restaurar a obra. Em

outro ponto de vista, estudantes de Artes acreditam, e até comentam, que a mensagem da obra

está implícita ou até mesmo é subliminar. Neste sentido, a forma de enxergar e interpretar a

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obra provêm de perspectivas. Quando vista de uma certa ótica, é possível identificar que Deus

estaria representado dentro de um cérebro e indo ao encontro de Adão a fim de tocá-lo (REDE

SINA, 2017).

Para finalizar, volta-se a análise para a pintura bem conhecida, feita por Michelangelo,

que se encontra no teto da Capela Sistina, com o nome “Criação de Adão”. Observou-se, pela

mensagem linguística (textual) descrita por Joly (2004), que praticamente todas as figuras ali

encontradas, são masculinas, exceto uma mulher que está ao lado de Deus. Já no frame do

videoclipe, Ariana está no lugar de Deus, fazendo referência à sua canção God is a Woman; as

cores continuam as mesmas, exceto as tonalidades. A figura de Adão, agora substituída por

uma mulher negra, faz uma releitura da obra original, e no trecho, Ariana canta “[...] It

lingers when we're done/ You'll believe God is a woman”. Traduzindo, têm-se “[...] Ele

permanece depois que acabamos/Você acreditará que Deus é uma mulher”, mostrando o

poder feminino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a realização desta pesquisa, foi preciso estudar os conceitos e características do

videoclipe e a sua importância para os artistas divulgarem seu trabalho, seja como uma forma

de se expressar culturalmente, como uma publicidade ou contando alguma história, assim

como é usado na televisão, em programas, propagandas ou no cinema, entre outros. O

videoclipe é uma forma de se expressar artisticamente, usando desde estéticas mais simples

até as mais complexas, como é o caso do objeto aqui estudado. God is a Woman, de Ariana

Grande, nos leva a refletir sobre aspectos contemporâneos, com releituras de obras de arte

mitológicas.

Nesse sentido, foi cumprido o objetivo geral deste artigo, que era identificar os

elementos que representam a releitura da mitologia no videoclipe God is a Woman, através

dos conceitos propostos por Joly (2004), em três partes da análise visual: mensagem

linguística, plástica e icônica. Para isso, através da mensagem linguística, foi identificado que

a cantora trouxe aos dias atuas as obras, colocando um pouco de si nelas, como adereços que a

mesma usa em seus shows e no seu dia a dia (por exemplo, como as botas overknee e o rabo

de cavalo, respectivamente).

Os objetivos específicos foram estudar a mitologia, entender a construção da

linguagem do videoclipe e identificar quais figuras ou lendas mitológicas foram utilizados

como referência no videoclipe God is a Woman, comparando-as com as obras originais. Com

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isso, vimos que a mitologia sempre traz algo consigo, uma reflexão, uma ideia a mais que a

própria lenda nos mostra, dando possibilidades de várias interpretações, o que permite aos

artistas fazerem releituras das obras originais, de domínio público.

Para compreender melhor as releituras que faziam referência a obras de arte e lendas

mitológicas presentes no videoclipe God is a Woman, foi necessário entender a construção de

ideias através de lendas e mitos, pesquisar obras derivadas de figuras lendárias e/ou mitos

para poder chegar ao videoclipe. Sendo assim, selecionamos as cenas que mais exploraram as

relações entre essas figuras e buscamos as referências mais conhecidas no campo das Artes.

Pela observação e comparação das cenas e das figuras lendárias, foi utilizada a análise

proposta por Joly (2004). Com isso, foi identificado que a mitologia se fez muito presente no

videoclipe, mas não só nesse caso, uma vez que também encontramos tais referências em

propagandas, marcas, filmes, músicas, roupas, outros videoclipes e contam alguma história

através delas, mostrando o que oferecem – uma marca usando um ser mitológico, como citado

no trabalho, faz com que ele a represente, através de sua história ou de seus feitos, e esta é a

ideia, a mensagem que se deseja passar no final.

Sendo assim, foi possível perceber que o formato videoclipe evoluiu com o passar do

tempo, podendo mostrar cada vez mais as características que o artista pretende imprimir e/ou

gosta de destacar, como por exemplo, divulgar um álbum inteiramente visual, ou seja, todas

as faixas possuem videoclipe, ou fazer um videoclipe que conta a própria história do cantor e,

além disso, muitas vezes, este gênero pode dar voz a problematizações sociais, como abordar

questões feministas.

Por fim, é interessante lembrar o que Machado (2009) comenta sobre os videoclipes,

quando afirma que eles ainda compõem um dos formatos mais abertos para a criatividade e a

experimentação em um espaço em que o audiovisual muitas vezes se apresenta entregue à

repetição de modelos clichês. Com isso, Ariana Grande pode usar este gênero a seu favor e

fugir dessa mesmice, propondo diferentes intepretações através das releituras feitas em seu

videoclipe para além da simples beleza estética.

Após o estudo, o pesquisador percebeu que o videoclipe além de uma estética

diferente de outros trabalhos da cantora, esse foi além, mostrando algo a mais, como o

empoderamento feminino, usando artifícios que se encontram no nosso dia a dia como a

mitologia já que por mais que não percebemos, ela encontra-se presente em sua vida, a

exemplo do que descreveu em propagandas, como da OLX com a Medusa, marcas de roupas

como a Versace que também utiliza a Medusa, filmes e livros como Percy Jackson que

abordam assuntos mitológicos como os deuses do Olimpo, criaturas místicas, videoclipes

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(como da Lady Gaga em G.U.Y.), músicas como as da própria Ariana, entre outras referências

nítidas destas representações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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