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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁINSTITUTO DE TECNOLOGIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ANA BEATRIZ SOARES DA SILVA
ELIAS SOARES CARVALHO
FERNANDA DE MIRANDA AMORIM
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
BELÉM2013
ANA BEATRIZ SOARES DA SILVAELIAS SOARES CARVALHO
FERNANDA MIRANDA DE AMORIM
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Trabalho avaliativo apresentado a ( o ) Professor ( a ) Cecília Basile da disciplina Introdução ao Conhecimento Científico da Universidade Federal do Pará.
BELÉM2013
3
Sumário Contextualização histórica 4
Conceituação 14
Características 28
Relação com o conhecimento tecnológico 34
Relação com a Arquitetura 36
Conclusão 37
Referências38
4
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Não existe uma única concepção de ciência. Podemos dividi-la em períodos
históricos, cada um com modelos e paradigmas teóricos, diferentes a respeito da concepção de
mundo, de ciência e de método. O que era conhecimento verdadeiro para o sábio da
Antiguidade, já não o era para o cientista do Renascimento; e o que foi verdadeiro para o
cientista do século XVIII pode já não o ser para o cientista em nossos dias. Assim, diz-se
também que a ciência é falível, ou seja, pode ser exata apenas para determinado período. O
conceito científico que o homem tem do mundo é cada vez mais amplo, mais profundo, mais
detalhado e mais exato. Mas está ainda muito longe de ser completo. Assim, considerando-se
o desenvolvimento histórico da ciência, é lógico pressupor que o cientista do final do século
XXI disporá de conhecimentos muito mais desenvolvidos e exatos do que os de hoje.
Podemos dividir em quatro fases: a ciência primitiva, a ciência grega, que abrange o período
que vai do século VIII a.C. até o final do século XVI, a ciência moderna, do século XVII até o
início do século XX, e a ciência contemporânea que surge no início deste século até nossos
dias.
1. “Ciência” Primitiva
Os homens denominados primitivos viviam sob a ameaça das forças da natureza
(tempestades, raios trovões, animais ferozes) e carentes de recursos (alimento, vestuário,
etc...). Mediante essas condições e tomados de sentimento de medo, impotência e terror
chegaram ao seguinte dilema: Desenvolver poder sobre as forças naturais ou submeter-se a
elas. Assim nasce a ciência: compreender para controlar, ter poder. Surge, portanto de
determinada “necessidade” e servindo a algum interesse.
2. Ciência Grega (Século VII AC até final do século XVI)
Conhecida como filosofia da natureza tinha como preocupação a busca do saber a
compreensão da natureza das coisas e do homem. Conhecimento este desenvolvido pela
filosofia, que hoje é distinta da ciência. Os pré-socráticos começaram a substituir a concepção
do mundo caótico concebido pela mitologia, na qual os fenômenos ocorriam devido a forças
espirituais e sobrenaturais (Deuses), pela ideia do cosmos de que existe uma ordem natural no
universo não influenciado pelos “Deuses”. O método usado pelos filósofos é o da especulação
racional: O que são, de que são feitas, como são feitas e de onde vêm as coisas que são
percebidas? Por julgar que a experiência - que utiliza o testemunho dos sentidos - é fonte de
erros, preocuparam-se em elaborar teorias racionais. Segundo eles, os princípios ordenadores
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da natureza das coisas, por estarem debaixo das aparências, não podiam ser percebidos pelos
sentidos, mas apenas pela inteligência. Cabia à inteligência a tarefa de elaboração e
esclarecimento da possível ordem que havia por trás da aparente desordem dos fenômenos
sensíveis e perceptíveis. São duas as principais correntes do pensamento grego: Abordagem
Platônica e Abordagem Aristotélica.
A abordagem platônica:
Platão estabeleceu uma distinção entre a "doxa" (opinião) e a "episteme" (ciência).
Ele dizia que uma pessoa comum, não educada para a ciência, ficava limitada em seus
conhecimentos por suas percepções sensoriais e suas paixões. Pois aquilo que os sentidos
percebem muitas vezes não corresponde à realidade, pode ser somente uma ilusão criada pela
forma de olhar. Já o filósofo é aquele que poderia atingir o verdadeiro conhecimento, que
seria a ciência, pois aprende a lidar com o mundo das ideias. Para Platão, o conhecimento da
verdade seria um conhecimento perfeito e, por isso, imutável. Uma vez atingida a verdade, ela
valeria para todo o sempre. Platão preocupa-se em utilizar a razão para descobrir, em um
mundo de aparências e em constante mudança, aquilo que pertence ao mundo perfeito e
imutável das ideias. Para ele o real não está na experiência adquirida (empiria), e nos fatos e
fenômenos adquiridos pelos sentidos. Para ele o verdadeiro mundo é o que está nas ideias, que
contêm os modelos e as essências de como as aparências devem se estruturar, e o que nos
fornece o que são as coisas é a inteligência conseguida através da busca da verdade com o
diálogo, ou lógica desenvolvida por teses. Nesta interpretação, de desvalorização dos sentidos,
a percepção sensorial apenas tem a função de confundir, de proporcionar as sombras da
realidade.
Figura 1 - Conhecimento para Platão, como crença verdadeira e justificada.
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A abordagem aristotélica:
Já o modelo aristotélico propõe uma ciência (episteme) que produz um conhecimento
que pretende ser um fiel espelho da realidade, por estar sustentado no observável e pelo
caráter de necessidade e universalidade. Desenvolve um conhecimento da essência das causas,
respondendo às perguntas O que é? E porque é?
Para Aristóteles, a ciência é produto de elaboração do entendimento em íntima
colaboração com a experiência sensível. No primeiro momento, devia-se iniciar pelo que
vinha em primeiro lugar no conhecimento, que seriam os fatos percebidos pelos sentidos
(nada é introduzido no intelecto sem antes passar pelos sentidos) e, depois agrupar as
observações, pelo processo de indução, em uma generalização que proporcionasse a forma
universal, isto é a substância, a identidade inteligível e real que permaneceria independente
das mudanças.
Na ciência grega não há destaque ao processo de descoberta. Havia um processo de
demonstração, de justificação dos princípios universais. Conhecimento científico era o
demonstrado como certo e necessário através de argumentos lógicos. A ciência grega era uma
ciência do discurso, em que não havia o tratamento do problema que desencadeia a
investigação, e sim a demonstração da verdade no plano sintático. Sob esse enfoque é que
nasceram e se desenvolveram a física, a biologia, a aritmética, a metafísica, a estética, a
política, a lógica, a cosmologia, a antropologia, a medicina e tantas outras ciências.
3. Ciência Moderna (Século XVII até início do século XX)
Na Europa dos séculos XVI, XVII e XVIII acontecia uma grande mudança social e
política, uma revolução, que tinha como principal causa o desenvolvimento de uma nova
classe social, a burguesia. Os burgueses se opunham aos interesses da aristocracia, e
desejavam governar-se independentes do poder dos reis e de seus herdeiros. Os reis
absolutistas caem, na Inglaterra, em 1688; e em 1789, na França, com a revolução francesa. O
século XVIII fica conhecido como o Século das Luzes. O Iluminismo propaga uma visão de
mundo na qual os seres humanos não dependem mais do desígnio da divina providência, mas
devem traçar seus próprios destinos, tendo o conhecimento científico como ferramenta.
Durante o século XIX, a ciência passa por um enorme desenvolvimento. A Física, a
Biologia, a Geologia e a Astronomia passaram a apresentar descobertas e teorias cada vez
mais surpreendentes. O uso do microscópio e do telescópio possibilitou novas e
revolucionárias descobertas, como os seres vivos microscópicos e suas relações com a saúde
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humana, e os novos corpos celestes como as nebulosas e os planetas Urano e Netuno,
invisíveis a olho nu.
No século XVII, durante o Renascimento a chamada revolução científica moderna
introduz a experimentação científica, modificando radicalmente a compreensão e concepção
teórica do mundo, da ciência, conhecimento e método. A Partir do século XIII, por influência
do uso da matemática, da observação e da experimentação na tecnologia latente na Idade
Média, e a exigência de métodos precisos de investigação e explicação no campo das ciências
naturais conduziu à tentativa de uso de métodos matemáticos e experimentais.
Opondo-se à ciência grega e ao dogmatismo religioso que imperava na época, os
renascentistas, principalmente Galileu (1564-1642) e Bacon (1561-1626), rejeitaram o modelo
aristotélico. Bacon propôs a necessidade de se inventar um novo instrumento, um método de
investigação. Para isso seriam necessárias a observação sistemática e a experiência dos
fenômenos e fatos naturais. Cabia à experiência confirmar a verdade. Defendia, portanto, o
método empírico para a obtenção do conhecimento científico e propôs o método indutivo
como forma de se chegar a novas teorias. Mas não na forma entendida por Aristóteles, como a
enumeração simples da observação de diversos casos e da criação de uma regra geral com
base nesses casos. Para Aristóteles, por exemplo, se forem observadas diversas araras e todas
elas forem vermelhas, podemos chegar à conclusão por indução de que todas as araras são
vermelhas. Para Bacon a coleta simples de informações como as das araras podem nos levar
ao erro, pois a informação seguinte pode ser o conhecimento de uma arara azul. Sua reflexão
filosófica busca um método para o conhecimento da natureza que possa ser definido como
científico e que possa ser repetido.
A solução para prevenir essas falsas conclusões é a criação de uma metodologia que
exclua os caracteres não essenciais dos fenômenos observados. A indução deve nos levar ao
conhecimento da lei que rege esses fenômenos, deve descobrir a natureza, a causa e a essência
do que está sendo estudado. Bacon busca a origem do fenômeno, sua constituição, estrutura e
desenvolvimento. As explicações dos fenômenos estão contidas também nos aspectos
qualitativos e não somente nos quantitativos. Esse método é, de forma geral, o que os
biólogos usam para estudar as araras hoje, por exemplo. O método de Bacon pressupõe os
seguintes fatos:
o Experimentação
o Formulação de Hipóteses
o Repetição da experimentação por outros cientistas
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o Repetição do experimento para testagem das hipóteses
o Formulação das generalizações e leis.
Já para Galileu, a certeza da validação da explicação não poderia ser fornecida
através da simples demonstração, utilizando argumentos lógicos, de acordo com o modelo
aristotélico, mas pelas provas construídas e elaboradas de forma matemática com as
evidências quantitativas dos fatos produzidos pela experimentação. Galileu estabeleceu um
nexo indissolúvel entre ciência e matematização da natureza. As matemáticas, segundo o
pensador, aproximariam a nossa razão do entendimento divino, numa retomada da via mística
dos pitagóricos e do neoplatonismo. No entanto, tanto em Galileu como posteriormente em
Newton, as matemáticas estavam também inseridas numa exigência epistemológica diferente
da cultuada na Antiguidade: se bem esse tipo de conhecimento nos aproximasse da
Inteligência Divina, no entanto, elas permitiam a tradução exata dos fenômenos naturais
apreendidos pela experiência.
Em relação a essa valorização do conhecimento matemático, Galileu frisava: “O
intelecto humano compreende algumas proposições tão perfeitamente e tem tão absoluta
certeza, quanto pode ter a própria natureza; e isso ocorre nas ciências matemáticas puras das
que o intelecto divino sabe, não obstante, infinitas proposições a mais, pois as sabe todas; mas
das poucas entendidas pelo intelecto humano, creio que o seu conhecimento iguala-se à
certeza objetiva divina, porque chega a compreender a necessidade, sobre a qual não parece
poder existir segurança maior” [Galileu, citado por Rodolfo Mondolfo, in: Figuras e idéias da
filosofia na Renascença, tradução de Lycurgo Gomes da Motta, São Paulo: Mestre Jou, 1967,
p. 130].
Rodolfo Mondolfo destacou, por sua vez, o caráter de exatidão que as matemáticas
possuem segundo Galileu, insistindo em que nesse aspecto, bem como na possibilidade de
todos os homens terem acesso a esse tipo de conhecimento, consiste propriamente a
“divindade” postulada. A respeito disso, afirma Mondolfo: “Ao privilégio atribuído pelos
místicos aos poucos eleitos que podem chegar ao arroubo do êxtase, substitui-se (...) uma
possibilidade aberta a todos os que submetem a sua mente aos processos e métodos do
pensamento científico” [Mondolfo, ob. cit., p. 130].
Galileu foi responsável pela chamada revolução científica moderna, ao fundamentar
o método científico. Este teria, no sentir do pensador, quatro passos básicos, que seriam:
o A observação dos fenômenos, tal como estes são apreendidos pelo observador,
afastados os preconceitos extracientíficos;
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o A formulação da hipótese, como explicação tentativa que deveria ser
confirmada;
o A experimentação, em virtude da qual toda afirmação sobre fenômenos
naturais deveria ser verificada, mediante a produção do fenômeno em determinadas
circunstâncias, ou mediante a observação sistemática dos fatos objeto da ciência;
o A formulação da lei, que seria possível graças à identificação de regularidades
matemáticas na natureza.
O estudioso brasileiro José Américo Motta Peçanha sintetizou, da seguinte forma, o
alcance da contribuição galileana, no terreno da ciência e da filosofia: “Formulando esses
princípios, Galileu estruturou todo o conhecimento científico da natureza e abalou os alicerces
que fundamentavam a concepção medieval do mundo. Destruiu a ideia de que o mundo possui
uma estrutura finita, hierarquicamente ordenada, e substituiu-a pela visão de um universo
aberto, indefinido e até mesmo infinito. Em lugar de conceber o mundo como dividido em
duas partes, uma superior, constituída pelo Céu, e outra inferior, a Terra em que vive o
homem, mostrou que todos os objetos físicos devem ser concebidos como sendo da natureza e
tratados de modo idêntico, pelo menos por aqueles que desejam conhecer cientificamente o
Universo. Pôs de lado o finalismo aristotélico, segundo o qual tudo aquilo que ocorre na
natureza ocorre para cumprir desígnios superiores; e mostrou que a natureza é,
fundamentalmente, um conjunto de fenômenos mecânicos. Demonstrou o engano do espírito
puramente lógico e dedutivo da filosofia aristotélica, quando aplicado à explicação dos
fenômenos físicos. E mostrou, finalmente, que o livro do universo está escrito em caracteres
matemáticos e que sem um conhecimento dos mesmos, os homens não poderão compreendê-
lo” [José Américo Motta Peçanha, “Galileu, vida e obra”, in: Galileu, O Ensaiador, tradução
de Helda Barraco et alii, São Paulo: Nova Cultural, 1987, pg. VIII-IX].
Outra abordagem para o método científico foi defendida inicialmente por René
Descartes, sendo denominada de método dedutivo. Este decorre de princípios estabelecidos a
priori que explicam casos particulares.
Ex: Se A = B e B = C, logo, A = C
Para Descartes, a linguagem da natureza era matemática e somente a razão poderia
levar á verdade. O conhecimento é obtido a partir da certeza absoluta e inquestionável
(evidência); da análise; da síntese e da enumeração, em outras palavras: receber as
informações examinando sua racionalidade e boa procedência daquilo que se investiga,
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dividir o assunto em tantas partes quanto possível e necessário, elaborar progressivamente
conclusões (ordenadas a partir de objetos mais simples até os mais complexos) e enumerar e
revisar minuciosamente as conclusões.
Newton unifica as duas vertentes de métodos científicos: o indutivo, proposto por
Bacon, e o dedutivo, proposto por Descartes. Segundo CAPRA (2006, p.59): “Antes de
Newton, duas tendências opostas orientavam a ciência seiscentista: o método empírico,
indutivo, representado por Bacon, e o método racional, dedutivo, representado por Descartes.
Newton, em seus Principia, introduziu a combinação apropriada de ambos os métodos,
sublinhando que tanto os experimentos sem interpretação sistemática quanto a dedução a
partir de princípios básicos sem evidência experimental não conduziriam a uma teoria
confiável. Ultrapassando Bacon em sua experimentação sistemática e Descartes em sua
análise matemática, Newton unificou as duas tendências e desenvolveu a metodologia em que
a ciência natural passou a basear-se desde então. Assim, estava montado o modelo de ciência
que vigora até o presente momento, que foi um dos grandes responsáveis pelos avanços e
retrocessos, pelas descobertas e esquecimentos, pelos benefícios e malefícios que a sociedade
moderna atual vive até o presente momento. Sem a contribuição desses pensadores, é possível
que o mundo fosse parecido com o que é hoje, mas é improvável que fosse o que ele é”.
Dando uma interpretação diferente, afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos
fatos, sem interferência da especulação hipotética. Esse seria o método ideal, através do qual
se poderia submeter à prova, uma a uma, as hipóteses científicas. Assim criou-se o método
científico Indutivo-Confirmável, com pequenas variações, no seguinte formato:
o Observação dos elementos que compõem o fenômeno.
o Análise da relação quantitativa existente entre os elementos que compõem o
fenômeno.
o Introdução de hipóteses quantitativas.
o Teste experimental das hipóteses para verificação confirmabilista.
o Generalização dos resultados em lei.
Galileu incluiu o requisito da comprovação experimental entre os fundamentos da
pesquisa científica. Newton foi além. Ao pesquisar a queda e o movimento dos corpos, mais
do que descrever as observações e experimentações, codificou-as matematicamente em um
sistema de equações capazes de representar os fenômenos em um quadro analítico de onde
conclusões exatas podiam ser tiradas.
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O sucesso das aplicações de Newton no decorrer de três séculos gerou uma
confiabilidade cega neste tipo de ciência que fez com que, não apenas as ciências naturais,
mas também as sociais e humanas, procurassem esse ideal científico e o aplicassem para ter
os mesmos resultados.
É nesse contexto, durante o século XIX, que se desenvolve o pensamento positivista.
Seu principal representante é o filósofo Augusto Comte (1798-1857). O positivismo radicaliza
o papel da razão no estabelecimento de relações necessárias e permanentes. Daí a ideia de
"determinismo", ou seja, à ciência cabe estabelecer as leis gerais, aquelas que determinam o
que necessariamente sempre irá ocorrer.
Essa concepção de ciência está fortemente influenciada pela Física. Se um gás que se
encontra em um recipiente de volume constante (de vidro, por exemplo) tem sua temperatura
elevada, então, sua pressão irá, necessariamente, se elevar também. Essa é uma lei geral.
Comte considera que qualquer cientista, seja ele, físico, biólogo ou sociólogo, deve ter como
meta estabelecer "leis gerais" como as leis das transformações gasosas, por exemplo.
De acordo com esse modelo, o sujeito do conhecimento deveria ter a mente limpa,
livre de preconceitos, para que recebesse e se impregnasse das impressões sensoriais
recebidas pelos canais da percepção sensorial. As hipóteses seriam decorrentes do processo
indutivo, da meticulosa observação das relações quantitativas existentes entre os fatos, e o
conhecimento científico seria formado pelas certezas comprovadas pelas evidências
experimentais de alguns casos analisados. Essa pregação positivista foi considerada como o
ideal do conhecimento.
Pierre Duhem (1861 - 1916). Foi um dos primeiros a denunciar o dogmatismo e a
certeza da ciência. Para ele, o cientista constrói instrumentos, ferramentas e teorias, para se
apropriar da realidade, estabelecendo com ela um diálogo permanente. A aceitação da
validade dos instrumentos de observação e quantificação bem como a seleção das observações
de manifestações empíricas e sua interpretação, dependem da aceitação da validade ou não
dessas teorias. Dessa forma, Duhem desmistifica o positivismo, calcado no empirismo e na
indução do método newtoniano.
4. Ciência contemporânea
Durante todo o século XX, a ciência e a tecnologia, passaram a ter um
desenvolvimento acelerado, como nunca houve na história. Grande parte desse
desenvolvimento ocorreu a partir da 2ª Grande Guerra, que terminou, em agosto de 1945, com
a explosão de duas bombas atômicas em território japonês. Essa guerra foi vencida por
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aqueles que ganharam a corrida científica, chegando a controlar a energia dos núcleos
atômicos. A partir daí, praticamente todos os países mais desenvolvidos e aqueles em busca
de desenvolvimento, passaram a investir parte de seus orçamentos em construção de
conhecimentos científicos.
Durante esse período, e principalmente com o advento da mecânica quântica, com
Einstein e Popper, damos início à ciência contemporânea. Quebra-se o mito da objetividade
pura, isenta de influências das ideias pessoais dos pesquisadores, ou seja, a partir deles
desmistificou-se a concepção de que método científico é um procedimento regulado por
normas rígidas que o investigador deve seguir para a produção do conhecimento científico.
Demonstrou-se que, mais que uma simples descrição da realidade, a ciência é a proposta de
uma interpretação. Os princípios tidos com incontestáveis no século passado foram cedendo
seu lugar à atitude crítica. Não existe um modelo com normas prontas, definitivas pelo
simples fato que a investigação deve orientar-se de acordo com as características do problema
a ser investigado, das hipóteses formuladas, das condições conjunturais e da habilidade crítica
e capacidade criativa do investigador. Praticamente, há tantos métodos quantos forem os
problemas analisados e os investigadores existentes.
Na ciência contemporânea, a pesquisa é resultado decorrente da identificação de
dúvidas e da necessidade de elaborar e construir respostas para esclarecê-las. A investigação
científica desenvolve-se porque há necessidade de construir uma possível resposta ou solução
para um problema, decorrente de algum fato ou conjunto de conhecimentos teóricos.
A razão apela de modo reiterado, à experiência e à observação. Ainda assim, ela não
copia ou apenas retrata o universo, o real; ela cria, tece redes conceituais que servem como
urdiduras de referência, de coordenadas, para que se possa agir em dada circunstância. O
poder construtivo da razão é salientado por Albert EINSTEIN (1879-1955):
“Os conceitos da física são criações do espírito humano e, não, como possam
parecer, determinadas pelo mundo externo. Em nosso esforço para compreender a realidade, a
nossa posição lembra a de um homem que procura adivinhar o mecanismo de um relógio
fechado. Este homem vê o mostrador e os ponteiros, ouve o tique-taque, mas não tem meios
de abrir a caixa que esconde o maquinismo. Se é um homem engenhoso, pode fazer ideia de
um mecanismo responsável por tudo que ele observa exteriormente, mas não poderá nunca ter
certeza de que o maquinismo que ele imagina seja o único que possa explicar os movimentos
exteriores. Não poderá nunca comparar a ideia que forma do mecanismo interno com a
realidade desse mecanismo – nem sequer pode imaginar a possibilidade ou a significação de
tal comparação. Mas realmente crê que, à medida que o seu conhecimento cresce, a sua
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representação da realidade se torna mais e mais simples e explicativa de mais e mais coisas.
Ele pode ainda crer na existência de limites para o conhecimento, e admitir que o espírito
humano aproxima-se destes limites. Esse extremo ideal será a ‘verdade objetiva’.”
A ciência atual reconhece que não existem regras para uma descoberta, assim como
não há para as artes. A atividade do cientista é semelhante a do artista. Os pesquisadores
podem seguir caminhos diversos para chegar a uma conclusão.
Analisando a história da ciência, constata-se que muito de seus princípios básicos
foram modificados ou substituídos em função de novas conjeturas ou de novos padrões.
Aconteceu quando Galileu modificou parte da mecânica de Aristóteles e Einstein fez o
mesmo com Newton.
A concepção contemporânea da ciência está muito distante das visões aristotélica e
moderna, nas quais o conhecimento era aceito como científico quando justificado como
verdadeiro. O objetivo da ciência ainda é o de criar um mundo cada vez melhor para vivermos
e atingir um conhecimento científico sistemático e seguro de toda realidade. A ciência
demonstra ser uma busca, uma investigação, contínua e incessante de soluções e explicações
pra os problemas propostos.
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CONCEITUAÇÃO
Conhecimento
O conhecimento é o ato de adquirir informações e dados sobre um determinado
assunto. Ele pode ser motivado pela necessidade de conhecer algo ou saber sobre ele, bem
como por curiosidade de conhecer o procedimento, as características, o funcionamento de um
fato e entre outras coisas. Assim, conhecimento “É um processo de reflexão crítica cujo
objetivo é o desvelamento de um objeto.” (BARROS; LEHFELD, 2000).
Todos os dias “vivemos” o conhecimento: uma palavra nova para enriquecer nosso
vocabulário, um novo sentido para uma palavra que utilizamos corriqueiramente, um novo
utensílio que facilita nossa vida prática, um caminho mais curto para chegar aonde queremos.
Sempre que conhecemos, nos apropriamos destes conhecimentos em prol de novos
conhecimentos, sem sequer nos darmos conta disso, sem sequer teorizarmos sobre isto.
Quando conhecemos, já o fazemos de modo a lidar com as coisas que encontramos no mundo
sempre de maneira pré-temática, ou ainda, de modo pré-teórico, antecedendo qualquer
compreensão deste processo.
O conhecimento e seus modos são alvo de preocupação de muitos autores em
diversas áreas do saber ao longo da história. O filósofo Aristóteles talvez tenha sido um dos
primeiros a propor algo substancial sobre o tema, quando afirma: “Todos os homens têm sua
gênese afim ao conhecer”. Com esta frase o autor grego expressa o parentesco do homem com
o conhecimento; fazendo, mesmo, que compreendamos o conhecimento como algo próprio a
este. Deste modo, podemos pensar o conhecimento como o ato a partir do qual o homem
constrói a si mesmo, dando gênese a novas possibilidades de sua realização na medida em que
conhece novos meios para tal, nascendo e renascendo em cada novo conhecimento apropriado
e utilizando-os no mundo; alterando e reconstruindo, com isto, suas relações com os outros
homens, com as coisas deste mundo, com sua cultura, sua sociedade, sua história.
Portanto, nesta prática de reflexão e descoberta, é necessário o envolvimento de dois
segmentos: sujeito e objeto. O sujeito é o indivíduo capaz de conhecer (desvelar), ou seja, é o
pesquisador, o aluno, o professor, enquanto o objeto é tudo que pode ser conhecido (refletido,
criticado), podendo ser algo físico/tangível, como um acontecimento, um produto, um
fenômeno, etc.
É nesta relação do sujeito com o objeto que se estabelece a busca pelo conhecimento.
Em termos mais específicos, é nesta relação que se dá a pesquisa, a busca pelo conhecimento.
O ser humano busca o conhecimento ao problematizar o mundo vivido, sua relação com o
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meio e com os seus semelhantes. O conhecimento possibilita representar a realidade de
maneira que o sujeito possa se situar e agir no mundo.
O conhecimento é uma forma de representação da realidade. Ao produzir/buscar
conhecimento, se cria uma representação possível da realidade. A realidade, sendo uma
construção do sujeito que conhece, é elaborada com base nos referenciais do sujeito.
São muitas as variáveis da relação entre sujeito e objeto do conhecimento. Para
conhecer, o sujeito utiliza os referenciais que estão a sua disposição. Em função dos
elementos utilizados pelo sujeito, de sua visão de mundo, da realidade, do resultado e dos
procedimentos adotados, tem-se a geração de um tipo de conhecimento mais ou menos
específico.
Muito embora seja necessário levar em conta o caráter sistêmico e complexo do
conhecimento, para fins didáticos e reflexivos, é comum uma separação entre os tipos de
conhecimento. A tipologia do conhecimento, de forma simplificada, pode ser entendida como
o resultado da utilização, pelo sujeito, de diferentes tipos de referências para a construção do
conhecimento.
Convencionalmente, o conhecimento é tipificado em: conhecimento
popular/empírico, filosófico, religioso/teológico e científico. Contudo, levando-se em conta
outros referenciais e procedimentos possíveis, ainda é viável encontrar outros tipos para essa
divisão. Um cientista voltado para o estudo da biologia, por exemplo, pode ser praticante de
uma religião, ter afinidades com um sistema filosófico e ter como guia de sua vida cotidiana
conhecimentos provenientes do senso comum.
Além disso, vale salientar que esses tipos de conhecimento podem ter um mesmo
objeto de estudo, como por exemplo, a existência da vida no nosso planeta. Mas, cada um dos
tipos de conhecimento pode apresentar a sua versão para tal fato.
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Ciência
A palavra ciência etimologicamente tem sua origem do latim, scientia, que significa
“aprender ou alcançar conhecimento”, e grega, scirem, “conhecimento criticamente
fundamentado”, porém devido ao estágio atual de desenvolvimento da ciência, essa definição
passou a ser considerada inadequada, uma vez que existem outras formas de conhecimento
que não são científicas. Ao longo do tempo, a palavra foi adquirindo outros sentidos, de
acordo com diversos estudos, tornando-se um conceito bastante controverso.
Diversos autores tentaram definir o significado do entendimento sobre “o que é
ciência”. Os conceitos mais comuns, mas, incompletos sobre a visão de Marconi; Lakatos
(1992, p. 18), são:
• Acumulação de conhecimentos sistemáticos.
• Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas
aplicações.
• Conhecimento certo do real pelas suas causas.
• Corpos de conhecimentos consistindo em percepções, experiências, fatos certos
e seguros.
• Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo.
• Estudo de problemas solúveis, mediante métodos científicos.
• Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem,
obtido através da investigação, pelo raciocínio e pela experimentação extensiva.
• Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros
enunciados.
• Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas
e relacionadas com objeto determinado.
Na história da ciência, várias são as conceituações, nem todas aceitas ou coerentes,
nesse sentido, é possível encontrar diversas definições sobre o termo “ciência” dadas por
diversos especialistas nesse assunto:
Para Gil (2006, p. 20):
Uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante linguagem
rigorosa e apropriada - se possível com auxílio da linguagem matemática, leis que regem
fenômenos.
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Para Ruiz (1996, p.129):
A palavra ciência pode ser assumida em duas acepções: em sentido amplo, ciência
significa simplesmente conhecimento, como na expressão tomar ciência disto ou daquilo; em
sentido restrito, ciência não significa um conhecimento qualquer, e sim um conhecimento que
não só apreende ou registra fatos, mas também os demonstra pelas suas causas determinantes
ou constitutivas.
Para Fachin (2003, p. 14):
O ser humano, diante da necessidade de compreender e dominar o meio, ou o mundo,
em benefício próprio e da sociedade da qual faz parte, acumula conhecimentos racionais sobre
seu próprio meio e sobre as ações capazes de transformá-lo. A essa sequência permanente de
acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis da realidade denominamos ciência.
Devido à constante busca da verdade científica, a evolução da ciência tornou-se
presente, ampliando, aprofundando, detalhando e, por vezes, invadindo conhecimentos
anteriores. Dessa maneira, pode-se colocar que a ciência é exata por tempo determinado, até
que ela passe por novas transformações, sendo, portanto, falível.
Para Ferrari (1982, p. 22), “[...] A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades
racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido
à verificação.”.
Para Ander-Egg (Marconi; Lakatos, 1992, p. 19):
A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos e prováveis, obtidos
metodicamente sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma
natureza.
• Conhecimentos racionais - Exigem métodos e se constituem de conceitos,
hipóteses.
• Certos ou prováveis - Não se pode atrair a ciência à certeza indiscutível.
• Obtidos metodicamente - Saber ordenado através de regras lógicas e
procedimentos técnicos.
• Sistematizador - Conhecimento ordenado logicamente, constituindo um
sistema de ideias (teoria).
• Verificáveis - Devem ser comprovados pela observação.
• Objetos de uma mesma natureza - Guardam entre si caracteres de
homogeneidade.
18
Para Trujillo (Marconi; Lakatos, 1992, p. 20):
A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação.
Para Japiassi e Marcondes (1996, p. 43 apud RODRIGUES, 2006, p. 125).
A ciência é um saber constituído por um conjunto de aquisições intelectuais cuja
finalidade é propor uma explicação racional e objetiva da realidade.
De acordo com Ruiz, algumas das características das ciências são:
• Conhecimento pelas causas – a ciência se caracteriza por demonstrar as razões
dos enunciados, relacionando as suas causas.
• Profundidade e generalidade das conclusões – a ciência exprime suas
conclusões em enunciados gerais que traduzem a relação constante do binômio causa/efeito;
generalizando o porquê, atinge a constituição íntima e a causa comum a todos os fenômenos
da mesma espécie, conferindo à ciência a prerrogativa de fazer prognósticos seguros;
• Finalidade prática e teórica – da pesquisa fundamental e da descoberta da
verdade decorrem inúmeras consequências práticas;
• Objeto formal – é, de maneira particular, o aspecto e o ângulo sob os quais a
ciência atinge seu objeto material (realidades físicas), com o controle experimental das causas
reais próximas (evidências dos fatos, e não das ideias);
• Método e controle – é uma investigação rigorosamente metódica e controlada,
derivando-se daí a razão da confiança nas conclusões científicas;
• Exatidão – a ciência pode demonstrar, por via de experimentação ou evidência
dos fatos objetivos, observáveis e controláveis, o mérito dos seus enunciados; e.
• Aspecto social – a ciência é uma instituição social, com os cientistas membros
de uma sociedade universal para a procura da verdade e melhoria das condições de vida da
humanidade.
Podemos destacar além das características da ciência, as tarefas básicas para se fazer
ciência. Segundo Demo (1985, p. 35):
a) Definir os termos com precisão, para não dar margem à ambiguidade;
cada conceito deve ter um conteúdo específico e delimitado; não pode virar durante a
análise; embora a dose de imprecisão seja normal, o ideal é reduzi-la ao mínimo possível,
produzindo o fenômeno desejável da clareza da exposição;
19
b) Descrever e explicar com transparência, não incorrendo em complicações,
ou seja, em linguagem hermética, dura, inteligível; para bem explicar, é mister simplificar,
mas é preciso buscar o meio-termo entre excessiva simplificação e excessiva complicação;
c) Distinguir com rigor as facetas diversas, não emaranhar termos, clarear
superposições possíveis, fugir da mistura de planos da realidade; não cair na confusão,
no sentido de confundir uma coisa com a outra, de obscurecer regiões distintas no
mesmo objeto, de trocar termos destacáveis;
d) Procurar classificações nítidas, bem sistemáticas, de tal sorte que objeto
apareça recortado sem perder muito a sua riqueza;
e) Impor certa ordem no tratamento do tema, de tal modo que seja claro o
começo ou o ponto de partida, a constituição do corpo do trabalho, e a sequência inconsútil
das conclusões.
Mesmo com um amplo leque de conceituações acerca do tema ciência, das suas
características e das tarefas para se construí-la, podemos destacar que, para fazer ciência, é
necessário uma atenção especial com a formação do cientista/pesquisador. Nada vale
métodos aceitáveis, se o pesquisador/cientista não estiver fundamentado de um espírito
científico, ou seja, a uma disposição subjetiva adequada à nobreza e à seriedade do trabalho
científico. Acima de tudo, o pesquisador/cientista deve estar apto a enfrentar críticas e
sustentar o seu parecer sobre o fenômeno que estuda.
De acordo com Cervo e Bervian (1983), o espírito científico nada mais é do que
uma consciência crítica, objetiva e racional. A objetividade implica romper com posições
subjetivas, mal formuladas e possíveis a enganos ou expressões, como “acho que” ou “pode
ser”, pois, para a ciência, não vale o que o cientista pensa, imagina ou “acaha”, mas o que de
fato é.
[...] o espírito científico age racionalmente. As únicas razões explicativas de
uma questão só podem ser intelectuais ou racionais. As razões que a razão desconhece,
as razões da arbitrariedade, do sentimento e do coração nada explicam, nem justificam no
campo da ciência. (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 19).
Espírito científico, mentalidade científica ou atitude científica é um estado de
espírito, é uma disposição subjetiva adequada à nobreza e à seriedade do trabalho
científico. Esse estado subjetivo resulta do cultivo de uma constelação de virtudes morais e
intelectuais; não bastará, pois, conhecê-las; é preciso vivê-las, reduzi-las à prática, cultivá-
las. (RUIZ, 1996).
20
Muitas são as conceituações de ciência e as posições sobre quais características
esta deve ter, mas isso depende de época para época, de autor para autor e dos instrumentos
investigativos disponíveis que são usados pelos cientistas de um determinado contexto, apesar
da ciência ter recebido várias definições a mais aceita pela comunidade científica é a da
UNESCO, que propõe: “a ciência é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os
mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos
fenômenos empíricos”.
O termo ciência pode ser compreendido em dois sentidos: lato sensu, com a acepção
de “conhecimento” e stricto sensu, aludindo apenas ao conhecimento que se obtém através da
“apreensão” e do registro dos fatos, com a demonstração de suas causas constitutivas ou
determinantes.
Pode-se conceituar o aspecto lógico da ciência como o método de raciocínio e de
inferência acerca dos fenômenos já conhecidos ou a serem investigados, objetivando dessa
maneira, uma descrição, interpretação, explicação e verificação mais precisas.
A lógica da ciência manifesta-se através de procedimentos e operações intelectuais:
1. Possibilitam a observação racional e controlam os fatos;
2. Permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos;
3. Contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela observação ou
pela experimentação.
Nos seus primórdios, quando a Ciência era completamente empírica, não utilizava a
lógica. A lógica veio com a sua maturidade, à medida que os fatos observados isoladamente
se aproximaram e interpenetraram, permitindo generalizações que deveriam ter lógica
intrínseca. A Ciência está disposta a sacrificar tudo pela coerência, sem deixar, no entanto, de
questioná-la. Os pesquisadores envidam incessantes esforços para detectar eventuais
contradições e põem constantemente à prova os limites de seus conhecimentos. A Ciência
aceita a sua vulnerabilidade e faz dela um fator de crescimento. As incoerências quando
detectadas servem para fazê-la avançar.
É uma condição essencial da natureza científica de um conhecimento o que Karl
Popper chamou de critério da refutabilidade: “Um enunciado, enquanto enunciado científico,
deve poder ser refutado pela experiência”.
A ciência, portanto, se apresenta como um conjunto de preposições e enunciados,
hierarquicamente ligados, de maneira ascendente e descendente, indo gradativamente de fatos
particulares para os gerais e vice-versa, comprovados pela pesquisa cientifica. Já o aspecto
21
técnico da ciência corresponde ao instrumento metodológico e ao arsenal técnico que indica a
melhor maneira de se operar em cada caso especifico.
As ciências possuem como principais componentes:
1. Objetivo ou finalidade - Distinguir a característica comum ou as leis gerais que
regem determinado evento.
2. Função - Se aperfeiçoar através da crescente gama de conhecimento, da relação
homem e o seu mundo.
3. Objeto – Subdividido em:
• Material: Aquilo que se pretende estudar, analisar, verificar ou interpretar, de
um modo geral.
• Formal: O enfoque especial, em virtude das diversas ciências que possuem o
mesmo objeto material.
A complexidade do universo e a diversidade de fenômenos que nele se manifestam,
aliadas a necessidade do homem de estudá-los para depois entende-los e explicá-los, levaram
ao surgimento de diversos ramos de estudos e ciências específicas. Estas necessitam de uma
classificação, de acordo com sua complexidade e conteúdo.
A principal e fundamental diferença que se apresenta entre as ciências diz respeito às
ciências formais - geralmente voltadas ao estudo das ferramentas necessárias para se fazer
ciência - a citar-se a linguagem matemática como o exemplo imediato - e às ciências factuais,
estas voltadas ao estudo dos fatos e fenômenos naturais em si - incluso o homem em sua
integridade.
o Ciências formais:
• Objeto - Preocupam-se com enunciados;
• Enunciados - Relações entre símbolos;
• Método – Lógica;
• Suficiência em relação ao conteúdo e método de prova - São suficientes em
relação a seus conteúdos e métodos de prova;
• Coerência para se alcançar a verdade - Através da coerência lógica de um
sistema. A verdade não é absoluta, mas relativa a este sistema. Os axiomas podem ser
escolhidos à vontade e somente as conclusões (teoremas) terão de ser verdadeiras;
• Resultado alcançado - Demonstram ou provam.
o Ciências Factuais:
• Objeto - Tratam de objetos empíricos, de coisas e processos;
22
• Enunciados - Referem-se a fenômenos e processos;
• Método - Observação e experimentação;
• Suficiência em relação ao conteúdo e método de prova - Dependem do fato no
que diz respeito a seu conteúdo, e do fato experimental, para sua convalidação;
• Coerência para se alcançar a verdade - A coerência lógica é necessária, mas
não suficiente, não garante, por si só, a obtenção da verdade. Somente depois que uma
hipótese passa pelas provas de verificação empírica é que poderá ser considerada adequada a
seu objetivo, isto é, verdadeira e, mesmo assim, a experiência não pode garantir que seja a
única verdadeira;
• Resultado alcançado - Verificam hipóteses que, em sua maioria, são
provisórias.
A divisão em ciências formais e factuais leva em considerações algumas
características:
a) O objeto ou tema das respectivas disciplinas – As formais preocupam-se com
enunciados; as factuais tratam de objetos empíricos, de coisas e de processos.
b) A diferença de espécie entre enunciados – Os enunciados formais consistem em
relações entre símbolos; os factuais referem-se a fenômenos e processos.
c) O método pelo qual se comprovam os enunciados – As formais não empregam a
experimentação para a demonstração de seus teoremas, pois ela decorre da dedução; as
factuais procuram, sempre que possível, alterar deliberadamente os objetos, fenômenos ou
processos, para verificar até que ponto suas hipóteses ajustam-se aos fatos.
d) O grau de suficiência em relação ao conteúdo e método de prova – As formais são
suficientes em relação a seus conteúdos e métodos de prova; as factuais dependem do “fato”,
no que diz respeito ao seu conteúdo ou significação, e do “fato experimental”, para sua
convalidação.
e) O papel da coerência para se alcançar a verdade – Nas formais os axiomas podem
ser escolhidos à vontade, somente as conclusões (teoremas) terão que ser verdadeiras, sempre
respeitando as leis da lógica; nas factuais ocorre exatamente o contrário, somente depois que
um enunciado (hipótese) passa pelas provas de verificação empírica é que poderá ser
considerado adequado a seu objetivo, isto é, verdadeiro.
f) O comprovam ou refutam) hipóteses que, em sua maioria, são provisórias.
23
Conhecimento Cientifico
O conhecimento científico procura desvelar os fenômenos: suas causas e as leis que
os regem. Considera-se, assim, que o objeto da ciência é o universo material, físico,
perceptível pelos órgãos dos sentidos ou pelos aparelhos investigativos. De acordo com
Fachin (2003, p.12), “[...] a literatura metodológica mostra que o conhecimento científico é
adquirido pelo método científico e, sem interrupção, pode ser submetido a testes e
aperfeiçoar-se, reformular-se ou até mesmo avantajar-se mediante o mesmo método”.
Por meio da classificação, da comparação, da aplicação dos métodos, da
analise e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios e leis
que estruturam um conhecimento rigorosamente valido e universal. O conhecimento científico
procura desvelar os fenômenos: suas causas e as leis que os regem. Considera-se, assim, que o
objeto da ciência é o universo material, físico, perceptível pelos órgãos dos sentidos ou pelos
aparelhos investigativos. De acordo com Fachin (2003, p.12) “[...] a literatura metodológica
mostra que o conhecimento científico é adquirido pelo método científico e, sem interrupção,
pode ser submetido a testes e aperfeiçoar-se, reformular-se ou até mesmo avantajar-se
mediante o mesmo método”.
De maneira geral, o conhecimento cientifico se prende aos fatos, isto é, tem uma
referencia empírica e, embora parte deles, transcende-os. Vale-se da testagem
empírica para formular respostas aos problemas e apoiar suas próprias afirmações.
Normalmente, exige constante confrontação com a realidade e procura dar forma de problema
mesmo ao que já é aceito. Suas formulações são gerais, abrangendo o objeto particular
ou o fato singular quando pertençam a uma classe ou lei.
Contudo, sempre se pressupõe que todo fato ou objeto seja classificável e para
estudo.
Os eventos históricos apontam inúmeras descobertas cientificas. Como exemplo,
podemos mencionar, na área das ciências medicas, o medico e o cientista brasileiro Vital
Brasil, que desenvolveu um antídoto para a picada de cobras venenosas. O soro
antiofídico que conseguiu preparar tornou-se conhecido e aplicado em todo o mundo.
O conhecimento cientifico procura alcançar a verdade dos fatos (objetos),
independentemente da escala de valores e das crenças dos cientistas; resulta de
pesquisas metodológicas e sistemáticas da realidade. Como o objeto da ciência é o universo
material, físico, naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante
ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento cientifico é verificável na pratica,
seja por demonstração, seja por experimentação. Além disso, como tem o firme
24
propósito de desvendar os segredos da realidade, explica-os e demonstra-os com clareza
e precisão, descobre suas relações de predomínio, igualdade ou subordinação com
outros fatos ou fenômenos. Assim, conclui leis gerais, universalmente validas para todos os
casos da mesma espécie.
O conhecimento cientifico existe porque o ser humano tem necessidade de
aprimorar-
se constantemente e não assumir uma postura simplesmente passiva, observando os
fatos ou objetos, sem poder de ação ou controle sobre eles. Compete ao ser humano, usando
de seu intelecto, desenvolver formas sistemáticas, metódicas, analíticas e criticas da missão de
inventar e comprovar novas descobertas cientificas.
Como o conhecimento descreve e explica-nos a realidade, ele faz parte do
nosso
mundo. Não temos conhecimento que vá além da experiência, mais não
podemos em hipótese alguma considerar que a experiência seja complexa. Dessa
maneira, o conhecimento, mesmo em seu grau mais elevado, nada mais nos
proporciona que um segmento do mundo existente. E a realidade é, em si, parte de uma
realidade mais ampla.
A literatura metodológica mostra que o conhecimento cientifico é
adquirido pelo método cientifico e, sem interrupção, pode ser submetido a teste
e aperfeiçoar-se, reformular-se ou até mesmo avantajar-se mediante o mesmo
método. Para melhor entendimento, segue exemplo da evolução cientifica na área da
genética, especificamente a clonagem, que é o processo da copia idêntica de outro
ser vivo produzido artificial e assexuadamente.
O cientista Jan Wilmut, embriologista do Instituto Roslin, instituição de
pesquisa agropecuária de Edimburgo, Escócia, por meio da clonagem copiou uma
ovelha em laboratório e deu-lhe o nome de Dolly. Tal evolução cientifica inaugura o século
XXI, dando origem á era dos clones. A engenhosa invenção não deixou de provocar
discussões éticas e morais.
O conhecimento ocorre uma retomada constante de novas descobertas ou
ampliações, do passado para o presente, por meio dos procedimentos
metodológicos e científicos.
O conhecimento científico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado,
sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos
científicos.
25
Para que um conhecimento adquira o status de científico, deve seguir alguns critérios
internos:
1. Coerência – significa sua propriedade lógica, ou seja: falta de contradição;
argumentação bem estruturada; corpo sistemático e bem deduzido de enunciados;
desdobramento do tema de modo progressivo e disciplinado, com começo, meio e fim;
dedução lógica de conclusões.
2. Consistência – significa a capacidade de resistir a argumentações contrárias;
difere da coerência porque esta é estritamente lógica, enquanto a consistência se liga também
à atualidade da argumentação.
3. Originalidade – significa produção não tautológica, ou seja, inventiva, baseada
na pesquisa criativa, e não apenas repetitiva.
4. Objetivação – significa a tentativa – nunca completa – de descobrir a realidade
social assim como ela é, mais do que como gostaríamos que fosse. Como não há
conhecimento objetivo, não existe o critério de objetividade, que é substituído pelo de
objetivação.
5. Relevância - espera-se que traga alguma contribuição ao conhecimento
acumulado pela comunidade científica.
26
Método Cientifico
A origem da palavra método é grega e significa um conjunto de etapas e processos a
serem seguidos na apreensão ordenada da realidade na busca da verdade sobre os
fenômenos/fatos investigados. Nesse caminho de conhecer há uma série de etapas (fases) para
se tentar resolver um problema, tornado objeto de investigação. Quando se fala em método,
busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu determinados
caminhos e não outros.
Diante disso, se compreende que o método, no sentido geral, é um conjunto de ações,
procedimentos e atividades sistemáticas que permitem o ordenamento e alcance de um
objetivo no processo de construção do conhecimento na ciência. E que a questão do método
diz respeito a pressupostos que fundamentam o modo de pesquisar e são anteriores a coleta de
dados na realidade.
É possível destacar de forma resumida as principais etapas do método cientifico:
o Observação: Como o próprio diz, é a visualização de um fato (ou fenômeno).
Essa observação deve ser repetida várias vezes, buscando obter o maior número possível de
detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão possível. Deve-se tomar o cuidado
com os “vícios” para ocorra uma observação correta do fato; em muitos casos, a pessoa ver o
que deseja ver, e não o que está ocorrendo de fato.
o Problematização: Corresponde à execução de questionamentos sobre o fato
observado. E para essas perguntas, o pesquisador vai à busca de respostas. Um problema bem
formulado é mais importante para a ciência do que a sua solução, pois, abrir caminho para
diversas outras pesquisas.
o Formulação da hipótese: A hipótese nada mais é do que uma possível
explicação para o problema. No jargão científico, hipótese equivale, habitualmente, à
suposição verossímil, depois comprovável ou denegável pelos fatos, os quais hão de decidir,
em última instância, sobre a verdade ou falsidade dos fatos que se pretende explicar. "A
hipótese é a suposição de uma causa ou de uma lei destinada a explicar provisoriamente um
fenômeno até que os fatos a venham contradizer ou afirmar." (Cervo & Bervian, 1974:29).
o Experimentação: Etapa em que o pesquisador realiza experiências para provar
(ou negar) a veracidade de sua(s) hipótese(s). Se, após a execução por repetidas vezes da
experiência, os resultados obtidos forem os mesmos, a hipótese é considerada verdadeira.
O pioneiro a tratar do método na ciência foi Galileu Galilei com o método
experimental que consiste numa “indução experimental, chegando-se a uma lei geral por
27
intermédio da observação de certo número de casos particulares” (LAKATOS; MARCONI,
2000, p. 47). Essa concepção de método vem contribuir com a consolidação da Ciência
Moderna, conforme Alves (op. cit., p. 81) “[...], frequentemente se ouve dizer que, em
oposição aos filósofos metafísicos da Idade Média, a ciência moderna se caracteriza por seu
amor aos fatos [...]”.
Se o método, o caminho de conhecer da ciência, de Kepler tivesse sobressaído é bem
provável que o olhar da ciência estivesse voltado para contemplação mística, andando de
mãos dadas com músicos, teólogos e artistas, ao invés das possibilidades criadas com os
códigos matemáticos de Galileu em tecnologias e técnicas que promoveram revoluções
trazendo também implicações sociais questionáveis em seus resultados.
28
CARACTERÍSTICAS
• O conhecimento cientifico é racional e objetivo
As ciências que se ocupam com os fatos da natureza e da sociedade apresentam dois
traços característicos que lhes são absolutamente essenciais e estão presentes em todas as suas
demais características: a racionalidade e a objetividade. Ou seja, seu conhecimento é racional
e objetivo.
Conhecimento científico racional é aquele que:
1. É constituído por conceitos, julgamentos e raciocínios, não por sensações,
imagens, modelos de conduta etc. É evidente que o cientista sente; forma imagens mentais de
seres e fatos, portanto, depende do conhecimento sensível. Mas quando trabalha com o
conhecimento racional, tem como ponto de partida e ponto de chegada apenas ideias
(hipóteses) e não fatos.
2. As ideias que compõem o conhecimento racional podem combinar-se de acordo
com algum tipo de conjunto de regras lógicas, com o propósito de produzir novas ideias
(proposição dedutiva). Do ponto de vista do conhecimento, tais ideias podem ser consideradas
novas na medida em que expressam conhecimentos sobre os quais não se tem consciência até
o momento em que a dedução é efetuada.
Por seu turno, conhecimento científico objetivo é aquele que:
1. Concorda com seu objeto, isto é, alcança a exatidão da realidade, segundo o nível
dos meios de observação , investigação ou experimentação de sua época.
2. Verifica a adaptação das ideias (hipóteses) aos fatos, recorrendo para isso à
observação e à experimentação de atividades controláveis e, pelo menos até certo ponto,
reproduzíveis.
Estes dois traços básicos, a racionalidade e a objetividade, encontram-se intimamente
interligados no conhecimento obtido pelas ciências fáticas.
• O conhecimento científico atem-se aos fatos:
A Ciência tem o propósito de desvendar a realidade. Para atingi-lo, atém-se aos fatos.
O cientista, seja qual for o objeto do seu estudo, sempre começa por estabelecer os fatos.
Estes constituem o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada à investigação. Durante o
processo de conquista do conhecimento da realidade, porém, nem sempre é possível, ou
desejável, respeitar a integridade dos fatos. Muitas vezes é necessário interferir nessa
integridade para se obter dados significativos das propriedades reais dos fatos. Por exemplo: a
29
fim de melhor conhecer a função de um órgão, o biólogo pode interferir, e até matar o
organismo que está estudando; o físico nuclear pode perturbar deliberadamente o
comportamento do átomo que está analisando para melhor conhecer sua estrutura e assim por
diante.
É necessário, porém, que a interferência seja claramente definida e controlável, isto
é, passível de avaliação com certo grau de exatidão. Caso contrário, o desvio provocado pela
interferência artificial pode deturpar o fato e induzir a um conhecimento falso da realidade.
Assim, diz-se que o conhecimento científico parte dos fatos, pode interferir neles, mas sempre
retorna a eles.
• O conhecimento científico transcende os fatos:
O conhecimento vulgar, comum, registra a aparência dos fatos e fixa-se nela.
Frequentemente limita-se ao fato isolado e esforça-se pouco para explicá-lo ou para
estabelecer suas relações com outros fatos. Com o conhecimento científico não se dá o
mesmo. Ao analisar um fato, o conhecimento científico não apenas trata de explicá-lo, mas
também busca descobrir suas relações com outros fatos e explicá-las trata de conhecer a
realidade além de suas aparências.
Por não se contentar em descrever as experiências, a Ciência sintetiza-as, compara-as
com o que já sabe sobre outros fatos, descobre suas correlações com outros níveis e estruturas
da realidade e trata de explicá-las através de hipóteses.
Quando consegue comprovar a verdade das hipóteses, estas transformam- se em
enunciados de leis gerais. Portanto, os cientistas também levam seu conhecimento além dos
fatos observados, presumem o que pode haver por trás deles. A existência do átomo, por
exemplo, foi predita muito antes que dela houvesse qualquer comprovação objetiva. Apesar
disso, habitualmente o conhecimento científico rejeita as novas hipóteses que sejam
incompatíveis com o que já conhece e recebeu comprovação fidedigna.
• O conhecimento científico é analítico
Quando estuda um fato, a Ciência trata de analisá-lo. Para isso decompõe o todo em
partes não necessariamente nas menores partes em que o todo admite divisão. Tal
decomposição tem o propósito de descobrir os elementos da totalidade e as interligações que
justificam sua integração, a unidade da totalidade.
A Ciência ocupa-se de problemas circunscritos e vale-se de sua análise mais como
um instrumento para construção de sínteses teóricas. Sua investigação começa pela
decomposição do objeto para tentar descobrir qual é a estrutura "mecânica" do objeto
observado. Mas a análise não termina com a descoberta e a análise dos elementos
30
componentes do "mecanismo" ela prossegue na observação da inter-relação das partes.
Finalmente, ao sintetizar seu exame, a Ciência trata de reconstruir o todo, mas o faz em
termos das partes interligadas. Por essa razão não aceita a pretensão de que uma síntese pode
ser obtida sem a prévia realização da análise.
• O conhecimento científico requer exatidão e clareza
O conhecimento vulgar é habitualmente obscuro e pouco preciso. O científico, por
seu turno, esforça-se ao máximo para ser exato e claro. Como suas formulações estão
constantemente sendo submetidas à prova da experiência e da verificação, a exatidão e a
clareza são requisitos indispensáveis. Por exemplo, não se comunica uma investigação
científica em termos vagos, nem com linguagem obscura, pois isso poderá confundir ou
anular sua experimentação ou sua verificação.
Obviamente isto não exime o conhecimento científico de qualquer inexatidão ou
erro. Mas como a Ciência dispõe de métodos para descobrir erros, a própria presença de erro
lhe é útil, porque a exposição do erro conduz novamente ao estabelecimento da exatidão. O
conhecimento do inexato é, em si, exato. Assim, o conhecimento científico tira proveito
também de suas eventuais falhas.
• O conhecimento científico é comunicável
O conhecimento científico é propriedade de toda a humanidade e sua linguagem deve
informar a todos aqueles seres humanos que tenham sido instruídos para entendê-la. Sua
maneira de expressar-se é, sobretudo, informativa, e não expressiva.
Seu propósito é o de comunicar, não o de seduzir. A comunicabilidade do
conhecimento científico é particularmente possível graças à exatidão e à clareza com que tem
de ser formulando condições indispensáveis para a comprovação e a verificação dos seus
dados e hipóteses.
Em princípio, embora admita-se reservas à comunicação por motivos de segurança
nacional, todas as investigações, descobertas, novas técnicas e hipóteses da atividade
científica devem ser comunicadas, a fim de que se multipliquem as possibilidades de sua
confirmação ou refutação . Só assim o resultado de um trabalho pode ser reconhecido como
científico.
Entre cientistas não pode haver segredo em matéria de conhecimento científico. A
divulgação do conhecimento é a mola propulsora do progresso da Ciência.
• O conhecimento científico e verificável
O conhecimento científico é válido quando passa pela prova da experiência ou da
demonstração. A comprovação é que o torna verdadeiro. Enquanto não são comprovadas, as
31
hipóteses deduzidas da investigação não podem ser consideradas científicas. Há, porém,
ciências fáticas que não possibilitam a experimentação. E o que ocorre, por exemplo, com
certos ramos da Astronomia. Tais ciências, no entanto, alcançam suficiente exatidão em suas
formulações, de forma que dispensam a necessidade de se recorrer à comprovação
experimental. Por isso diz- se que a ciência fática é objetiva (ou empírica), no sentido de que a
comprovação de suas formulações envolve a experimentação; mas isso não quer dizer que
toda ciência fática seja necessariamente experimental.
A norma segundo a qual as hipóteses científicas devem ser aprovadas ou refutadas
mediante a prova da experiência tem sua aplicação dependendo do tipo do objeto da ciência,
do tipo da formulação em pauta e dos meios de experimentação disponíveis. Precisamente por
esse motivo é que as ciências requerem uma grande quantidade de técnicas de verificação
objetiva. A essência do conhecimento científico reside no fato de ser verificável. Se assim não
fosse, não se poderia afirmar que as ciências buscam obter conhecimento objetivo.
• O conhecimento cientifico depende de investigação metódica
O cientista planeja o seu trabalho, sabe o que procura e como deve proceder para
encontrar o que deseja. É claro que o planejamento não exclui o imprevisto, o casual, mas, ao
prever sua possibilidade, trata de aproveitar a interferência do acaso, quando esta ocorre, e de
submetê-la a controle.
O conhecimento científico não resulta da invenção isolada de um cientista. Toda
investigação efetuada pelas ciências baseia-se no conhecimento anterior, particularmente nas
hipóteses já confirmadas, nas leis e princípios já estabelecidos o que representa o resultado do
trabalho de inúmeros outros investigadores.
Além disso, o processo das investigações segue etapas, normas e técnicas, cuja
aplicação obedece a um método preestabelecido. Em verdade, tais normas e técnicas podem
ser continuamente aperfeiçoadas à medida que se dispõem de novos instrumentos de
verificação, efetuam-se novas experiências bem sucedidas etc. E vale a pena recordar que as
ciências fáticas não se distinguem entre si apenas pelo objeto de sua investigação, mas
também pelos métodos específicos que utilizam para investigá-lo.
• O conhecimento científico é sistemático
Toda Ciência é constituída de um sistema de ideias interligadas logicamente. Um
sistema de ideias que se apresenta como um conjunto de princípios fundamentais, adequados
a uma classe de fatos, compõe uma teoria. Assim, cada Ciência em particular possui sua
própria teoria ou grupo de teorias.
32
Pode-se considerar que a inter-relação das ideias que compõem o corpo de uma
teoria é orgânica. Ora, aceitando-se a organicidade dessa inter-relação pode-se compreender
que a substituição de qualquer um dos princípios básicos produz uma transformação radical
na teoria. Por isso diz-se que o conhecimento científico é sistemático, ou seja, constitui um
sistema.
• O conhecimento científico busca e aplica leis
A Ciência busca as leis da realidade e aplica-as. O conhecimento científico insere os
fatos isolados em normas gerais denominadas "leis naturais" ou "leis sociais”. Para a Ciência,
não basta a descoberta das características singulares dos fatos individuais o conhecimento
científico requer o que eles possuem de universal.
Ao procurar descobrir os traços comuns aos indivíduos (seres, fenômenos, etc.) que
são únicos, e encontrar as relações constantes entre eles, o cientista tenta expor o que existe de
essencial no universo real. Ou seja, não se detém nas qualidades essenciais dos fatos, mas
busca sempre sua universalidade, as leis que determinam a constância de sua interligação. E
quando se apossa dessas leis, aplica-as na busca de outras leis.
• O conhecimento cientifico e explicativo
A Ciência trata de explicar os fatos reais em termos de leis, e as leis da realidade em
termos de princípios. Os cientistas não se limitam a descrever detalhadamente os fatos, tratam
de encontrar suas causas, suas relações internas e suas relações com outros fatos. Seu objetivo
é oferecer resposta às indagações, aos por quês. Antigamente acreditava-se que explicar
cientificamente era expor a causa dos fatos.
No entanto, hoje se reconhece que a explicação causal dos fatos é apenas um dos
tipos de explicação científica. Como a explicação científica se efetua sempre em termos de
leis e há diversos tipos de leis científicas, há também diferentes tipos de explicação, tais como
dinâmicas, morfológicas, dialéticas, cinemáticas, de associação, de composição etc.
• O conhecimento cientifico pode fazer predições
Baseando-se na investigação dos fatos e no acúmulo das experiências, o
conhecimento científico pode predizer o que foi o passado e o que será o futuro. Mas a
predição científica nada tem a ver com a profecia. Ao contrário desta, ela se baseia em suas
leis já estabelecidas e em informações fidedignas sobre o estado e o relacionamento dos seres
ou fenômenos. Por isso, quando faz suas predições sempre às subordina a determinadas
condições. Por exemplo, prediz: "acontecerá F toda vez que ocorrer M, porque toda vez que
ocorre, M é seguido por ou está associado a F”.
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Mas a predição científica, com justa razão, não é infalível. Como depende de leis e
de informações, pode falhar na medida em que essas leis e informações apresentem
imperfeições. Contudo, mesmo quando falha continua sendo útil, pois sua falha pode permitir
a correção das leis ou das informações em que se baseou.
• O conhecimento científico é aberto
Como a investigação científica depende das circunstâncias de sua época, dos
conhecimentos acumulados e dos instrumentos de investigação' disponíveis, seus resultados
não são definitivos ou imutáveis. A observação pode aprofundar- se com a aplicação de novos
instrumentos e técnicas; o meio natural ou social pode sofrer modificações significativas, já
que a ação da natureza e do homem permanece em constante movimento. Sempre é possível
imaginar-se o surgimento de uma nova situação na qual nossas ideias, por mais firmemente
comprovadas e estabelecidas que estejam, revelem-se de algum modo inadequadas.
Por conseguinte, o conhecimento científico não é dogmático. Ao contrário, é aberto
precisamente porque reconhece ser falível. Essa condição permite que ele se renove: a uma
nova situação na qual as leis existentes se mostrem inadequadas, ele se propõe a novas
investigações que resultarão na correção ou na total substituição das leis incompatíveis. Os
sistemas de conhecimento científico são como organismos vivos em permanente crescimento:
enquanto estão vivos se modificam. E isso assegura o progresso da Ciência.
• O conhecimento cientifico e útil
Como busca incessantemente a realidade não se aferra a dogmas, o conhecimento
científico proporciona ao homem um instrumento valioso para o domínio da natureza e a
reforma da sociedade, em benefício do próprio homem.
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RELAÇÃO COM O CONHECIMENTO TECNOLÓGICO
O conhecimento científico, na prática, define-se como o sujeito e o objeto. Contudo,
identificam-se outras definições, como por exemplo, a ideia de que esse conhecimento baseia-
se na necessidade humana de tentar compreender e/ou explicar o que lhe parece
incompreensível. No entanto, essa conceituação torna-se um pouco mais característica do
conhecimento mítico, sem deixar de fazer parte do conhecimento científico.
De maneira geral, o conhecimento científico é aquele que consiste na apropriação do
objeto pelo pensamento, por metodologia apropriada, a obtenção de uma percepção clara, de
representação completa, de definição e análise de fenômenos naturais, de acordo com o ponto
e vista filosófico.
O conhecimento tecnológico vem a ser a junção entre ciência e engenharia,
abrangendo desde as ferramentas e processos simples, até as ferramentas e processos mais
complexos já criados pelo ser humano. Sendo, a forma aplicada, da ciência desenvolvida em
determinado estudo.
Desde os primórdios da civilização ocidental, de maneira mais ou menos intensa,
técnica e ciência estiveram sempre vinculadas.
No século XXI, com o advento da ciência moderna, surge a tendência progressiva de
colocar as forças da natureza ao serviço da técnica, na medida em que os conhecimentos
fornecidos pelas novas ciências poderiam explicar como e por que um determinado
dispositivo técnico funcionava.
A partir desse princípio, entende-se que essa interação na relação desses dois
conhecimentos abriu caminho para a Revolução Industrial do século XVIII, em busca de uma
eficácia mais elevada, advinda da produção em série. A partir dessa nova conceituação do
trabalho, a indústria assumiu as tarefas de artes utilitárias, como a do sapateiro, a do alfaiate,
do carpinteiro, entre outras.
Com a ciência em busca do conhecimento para o aperfeiçoamento da técnica passa a
ser possível que as máquinas tornem-se cada vez mais sofisticadas, gerando benefícios em
vários setores, como a medicina e o setor de pesquisas interplanetárias, abrindo-se
possibilidades infinitas, em âmbitos jamais imaginados.
A partir de outro ponto de vista, percebe-se que o advento da técnica gerado pela
ciência pode ser entendido como um menosprezo pela capacidade criadora do homem sem o
uso de máquinas, além dos males que são decorrentes do uso indevido de tecnologias.
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A ciência moderna e contemporânea transforma a técnica em tecnologia, passa da
ideia de máquina-utensílio para máquina como instrumento de precisão, fazendo com que o
conhecimento científico seja concebido como lógica da invenção e da construção.
Essa relação de comunhão entre ciência e tecnologia possibilitou e abriu caminhos
para que a primeira fizesse parte das forças produtivas da sociedade, além de também
introduzir-se no poder político.
Com relação ao conhecimento científico, entende-se que de maneira geral, todo
pensamento se baseia em uma representação. É assim que a nossa percepção traduz o mundo,
e a memória que temos dele resulta dos sinais que se fixam no intelecto. A partir dessa
conceituação entende-se conhecimento tecnológico como uma forma de representação do
conhecimento científico, como um meio de tradução das pesquisas elaboradas através da
ciência.
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RELAÇÃO COM A ARQUITETURA
Na arquitetura, o conhecimento científico aplicado, ou seja, relacionado ao fazer
arquitetura, é usado a partir de pesquisa científica, realizada por exigência de um trabalho
concreto, trabalhos que exigem cautela, relacionados ao que é histórico, ao que já é
consolidado, ou ao que exige uma atividade específica, de maneira geral, voltada para a
resolução de um problema em si, sem se deter a uma teoria ou a construção de uma tese,
muito embora ao se usar da pesquisa contribui-se para a construção do conhecimento, que é
incorporado ao todo, possibilitando que o estudo efetuado contribua para estudos futuros.
Já no campo da pesquisa científica, que é a que busca a comprovação de uma tese, a
arquitetura se manifesta através da área teórica, abrangendo o conhecimento da profissão, a
arquitetura como arte, como obra humana ligada a outras manifestações da sociedade.
Com base nos conceitos apresentados anteriormente observa-se que o arquiteto, no
ato de criação, busca o conhecimento acumulado ao longo de sua história, o que irá servir de
matéria-prima para a sua arte.
Com relação à história da arquitetura vê-se a presença do conhecimento científico na
metodologia gerada e aplicada na construção de um habitat, tanto individualizado como
moradia, quanto generalizado enquanto urbanística. Além de ter a observação de construções
históricas, a fim de definir a função no tempo em que foi construída, através do método.
Após as pesquisas feitas em prol de um determinado projeto, faz-se a sua análise
sobre os pontos abrangidos, sobre o que foi colhido. Essa análise é aplicada a metodologia,
buscando definir o método a ser usado na elaboração do projeto arquitetônico.
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CONCLUSÃO
Pudemos constatar, ao elaborar e desenvolver tópicos de diversos assuntos
relacionados ao conhecimento científico, que este influenciou, influencia e continuará
influenciando os métodos de pensamento e interpretação da natureza e de seus respectivos
fenômenos, quer seja pela experiência, quer seja pelo cálculo. Além disso, este tem sua
influência em outros aspectos, como Arquitetura. Abordada no presente trabalho.
O conhecimento científico e produção de ciência são assuntos sempre presentes. É
muito comum, por exemplo, em sala de aula, encontrarmos alunos mobilizados por um filme
de ficção científica, levado ao ar no domingo, e que provoca discussões sobre a possibilidade
de se construir uma nave espacial (meio de transporte para as estrelas), ou sobre a forma como
uma doença foi tratada. Notícias sobre viagens de naves como a Columbia e os acidentes que
às vezes ocorrem com essas naves são ótimas oportunidades para colocar em jogo
conhecimentos científicos presentes em nossos currículos de Física, Química ou Biologia.
Além disso, as crianças e os jovens vivem experiências que se ligam diretamente à
ciência, particularmente em relação aos cuidados com a saúde. O que o médico sabe, que lhe
possibilita tratar da nossa saúde? Por que ele faz perguntas sobre se estamos sentindo dor, se
temos febre? Por que devemos tomar vacinas? Por que é importante lavar o arranhão na perna
com água e sabão? Essas perguntas ilustram algumas problematizações que os professores
podem fazer para seus alunos das séries iniciais, com o propósito de tratar da presença da
presença da ciência em nossas vidas.
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REFERÊNCIAS
Site:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/ciencias/historia-da-ciencia-3-a-
contribuicao-de-newton-ao-mundo-tecnologico.htm
Site:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/ciencias/historia-da-ciencia-2-com-
galileu-tem-inicio-a-experimetacao-metodica.htm
Site:http://pensadordelamancha.blogspot.com.br/2010/05/galileu-galilei-1564-1642-
metodo.html
Site: http://energiasolar2012.wordpress.com/introducao/o-conhecimento-cientifico/
Site: http://projetoepesquisa.blogspot.com.br/2010/07/ciencia-contemporanea.html
Site:http://jararaca.ufsm.br/websites/deaer/download/SUBPASTA01/Froehlich/
Cienconheccient.pdf
Site:http://www.academia.edu/559770/
CONHECIMENTO_CIENTIFICO_VERDADE_E_METODO
Site: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAFzAAJ/papel-ciencia-conhecimento
Site: http://portal.virtual.ufpb.br/biblioteca-virtual/files/pub_1291081139.pdf
Site:http://www.histeo.dec.ufms.br/aulas/teoria%20geral/02%20Metodo%20e
%20Objetivos.pdf
OLIVEIRA, Valéria Rodrigues de. Desmistificando a pesquisa científica. Belém:
EDUFPA, 2008.
ARTIGAS, Vilanova. Caminhos da Arquitetura. Editora COSACNAIFY, São Paulo,
2004.
LAKATOS e MARCONI, Eva Maria e Marina de Andrade. Metodologia Científica.
São Paulo: EDITORA ATLAS, 1992.